4 Revisão da literatura
Nas últimas décadas, houve um aumento da produção literária em torno das estratégias de redução de danos para o uso não injetável de drogas estimulantes. A maioria dos estudos é local, focando em um programa ou estratégia específica. Outros focam em regiões específicas ou cobrem regiões mais amplas, mas focam em estimulantes específicos. Além destas, poucas, mas valiosas revisões de estratégias de redução de danos para drogas estimulantes já se encontram disponíveis. Grund e colaboradores (2010), por exemplo, revisaram 91 estudos acadêmicos sobre os ETA e a cocaína entre 1990 e 2018. Estes foram, em sua maioria, publicados em inglês, mas os autores também incluíram alguns estudos alemães e franceses. Os autores descobriram que a maior parte da literatura disponível em torno do uso de estimulantes ainda foca nos danos dos estimulantes, ao invés de nas estratégias que visam reduzir os danos ou os riscos de usar estimulantes. Da literatura focada nos danos, a maioria dos artigos foca primariamente nas consequências médicas à saúde (vírus transportados pelo sangue e outras complicações de infecção, problemas neurológicos, complicações cardíacas e pulmonares, overdose e gravidez). A saúde mental e outros problemas associados com o uso de estimulantes são abordados muito brevemente. Algumas estratégias recomendadas pelos autores para reduzir os danos do uso de estimulantes incluem: “kits de crack” (kits para fumar crack com maior segurança), salas de consumo supervisionado, limitação de mistura
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de substâncias, oferta de intervenções breves e suprimentos para proteção de doenças sexualmente transmissíveis (GRUND et al., 2010). Fischer e colaboradores (2015a) focaram no uso e dependência de crack. Eles realizaram uma revisão sistemática dos estudos acadêmicos sobre a eficácia de intervenções secundárias de prevenção e tratamento para crack. Os autores consideraram os estudos entre 1990 e 2014, somente na língua inglesa. Eles observam que revisões abrangentes sobre o estado das intervenções para o uso de crack estão em falta, e que as medidas dirigidas de prevenção e tratamento visando especificamente o uso de crack têm, ainda, disponibilidade limitada. As agências internacionais e regionais também produziram revisões valiosas sobre as intervenções dirigidas ao uso de estimulantes. A Organização Mundial de Saúde (WHO, 2011) fornece uma visão geral de intervenções relacionadas aos ETA, focando nos usuários não problemáticos. A revisão declara que a maioria das pessoas que usam ETA (em torno de 90%) não exigem intervenções de tratamento intensivas, uma vez que seu uso é casual ou experimental. Neste contexto, as informações e o aconselhamento são as melhores medidas para ajudar as pessoas a considerarem os riscos em potencial do uso dos ETA e criarem suas próprias estratégias para reduzir os danos. As estratégias de intervenções de crise são ferramentas úteis para lidar com os momentos críticos de paranoia ou os sintomas de abstinência.