Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 24 - Abril/2021

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ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS EDIÇÃO 24

Nº. 24

Abril/2021

Entrevista com os escritores Regina Brito e Newton Nazareth


A edição de abril da EBC traz reflexões sobre a pandemia do Covid-19 e suas consequências em diversos setores da sociedade. Seguimos na esperança de que todo povo brasileiro possa ser vacinado o mais rápido possível! Começamos com o depoimento emocionante da nossa colunista, a poeta Fernanda Luiza, que venceu o Covid-19 com a ajuda da sua fé, dos familiares e amigos. Geraldo Nunes discute as semelhanças entre a pandemia do Coronavírus e a Revolta da Vacina de 1904, ocorrida no Rio de Janeiro. Por outro lado, uma história de amor aconteceu durante a pandemia: a união dos escritores Regina Brito e Newton Nazareth, nossos entrevistados. O Coletivo São Paulo de Literatura participou com destaque da programação da 10a. Semana de Leitura e Estudo 2021, evento totalmente virtual. Mari Vieira traz a segunda parte de Um teto para encontrar sua voz. A dra. Gisele Luccas traz-nos reflexões sobre o “Mundo Virtual”. Thais Matarazzo na sua coluna Um dia por vez... faz uma homenagem à bibliotecária Norma Haru, da “Mário de Andrade”, que nos deixou recentemente. Muita poesia, contos e crônicas percorrem a página da EBC nas palavras e versos de: Aparecida de Sousa Castro, Atilio Ciraudo, Cris Arantes, Glafira Menezes Corti, Luiz Negrão, Marcinha Costa, Maria Aparecida da Silva, Nazareth Ferrari, Newton Nazareth, Sandra Regina Alves, Regina Brito, Ricardo H. Baba. Boa leitura!

Edição 24 - Nº 24 Ano II - Abril/2021. A opinião e conceitos emitidos em matérias e colunas assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista Escritores brasileiros contemporâneos. Contatos www.editoramatarazzo.com.br www.editoramatarazzo.com Facebook: @editoramatarazzosp Instagram: @editoramatarazzo

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Revista pertencente à Editora Matarazzo. Email: versejandocomimagens@gmail. com Telefone: (11) 3991-9506. CNPJ: 22.081.489/0001-06. Distribuição: São Paulo - SP. Diretora responsável: Thais Matarazzo - MTB 65.363/SP. Depto. Marketing: Ana Jalloul (11) 98025-7850 Depto. Jurídico: Tatiane Matarazzo C. Campos. Periodicidade: mensal. Formato: digital. Capa: os escritores Regina Brito e Newton Nazareth.

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EDITORIAL

Escritores brasileiros contemporâneos

EXPEDIENTE

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SUMÁRIO Prosa poética, 5 Um dia por vez... Norminha, 39 Thais Matarazzo

Voz- Levante: Um teto para encontrar sua voz II, 23 Mari Vieira

Minha história de superação, 7 Enfermeira troca a fralda, 8 Fernanda Luiza

Tempestade de Verão, 29 Atilio Ciraudo

Andanças, 8 Maria Aparecida da Silva Semelhanças entre a pandemia do Coronavírus e a Revolta da Vacina de 1904, 9 Geraldo nunes Concurso Literário Zezé Macedo, 12 Quando a vida e a literatura se encontram - entrevista com os escritores Regina Brito e Newton nazareth, 14

Poesias Nazareth Ferrari, 13 Cris Arantes, 22 Sandra Regina Alves, 25 Aparecida de Souza Castro, 27 Ricardo h. baba, 31 Marcinha Costa, 32 Luiz Negrão, 33 Poemas das Mãos, 38 Zezé Macedo Nunca deixei de sonhar, 42 Regina Brito Eles não usam máscara, 44 Newton Nazareth

10a. Semana de Estudo e Leitura 2021, 18

Direito

As forças da Vida, 21 Glafira Menezes Corti

O Desafio do Mundo Contemporâneo - o “mundo virtual”, 34 Gisele Luccas


Na

próxima edição traremos uma entrevista com a atriz

Íris B ustamante! Iniciou sua carreira em 1990 ao interpretar a personagem F lor V ioleta na telenovela “A na R aio e Z é T rovão ” (TV Manchete). A seguir, vieram mais trabalhos na televisão, teatro e cinema . C uriosidades , memórias e projetos, Irís nos contará em breve .

Aguarde!


Arte: Alexandre De Morais

Se asas eu tivesse, partiria para bem distante. Pousaria em um lugar sonhado, talvez o encontrasse dentro de mim, dentro do que trago de mais puro no coração. Se asas eu tivesse voaria sem cessar. Flanaria por aqui, por acolá. Voaria pelos meus sonhos, como é bom sonhar! Thais Matarazzo



Eu gostaria de dizer que, na verdade, quem realmente venceu o covid-19 não fui eu. Quem venceu o covid foi minha família, meus amigos e minha fé! Todos eles venceram por mim! Enquanto eu estava hospitalizada, sentia muita dor, muita dor, uma dor que não consigo descrever. Algo que nunca senti na minha vida. Eu queria morrer o tempo todo! A minha vontade era que Deus me levasse. Era dor! Era dor! Era tamanha dor que eu só queria morrer!

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Fernanda Luiza

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história de superação

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Minha

Eu pedia pra Deus: “Por favor, senhor, me leve! Por favor, senhor, me leve! Não aguento mais!”. Em alguns momentos, em minhas orações, cheguei a dizer que Deus preparasse uma boa esposa para o meu marido, para que juntos pudessem cuidar das minhas filhas. Mas depois tudo mudou: quando eu vi as pessoas acreditarem na minha recuperação, tinham certeza que eu ficaria boa, dizendo o quanto eu era importante em suas vidas, minha família rezando por mim, meu nome em oração na Rede Vida, em vários meios, uma grande corrente de oração... Foi então que percebi que, talvez, eu devesse ficar. Comecei a lutar para ficar! Olhei os rostos das minhas filhas, olhei meu marido rezando por mim, meu mestrado por terminar, meus amigos em corrente pedindo pela minha recuperação. Decidi arranjar forçar para poder vencer o covid! O meu sacrifício foi um sacrifício de fé, porque entendi que eles estavam se sacrificando por mim. Então chegou a minha vez. Prometi à Virgem Maria que se ela levasse embora aquela dor dilacerante, eu rasparia meus cabelos. E foi isso que eu fiz após sair do hospital. Hoje eu posso dizer que eu venci o covid, eu não, tenho certeza que quem venceu foram minha fé, minha família, meus amigos. Uma pessoa é incrivelmente feliz quando tem fé, família e amigos!

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Enfermeira - Fralda trocada*

Andanças * Maria Aparecida da Silva

Fernanda Luiza

* Poema de uma paciente que precisou de uma fralda trocada.

A vida se faz nova... Com a esperança a reinar... De dias cheios de bonança... E vamos seguindo juntas... Neste caminhar pela nova estrada.

* Poema da enfermeira que ajudou nossa querida poeta Fernanda Luiza no caminho até sua volta a vida!

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Um afeto no olhar Numa fralda trocada Num gesto de amor gratidão O caminho da ressurreição

Em cuidar de ti... Aprendi...

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O ar faltante doía No mar de fluídos afogada Venha morte, carregue tua filha Um corpo já não é morada

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Na cama o desejo da morte Largada a própria sorte Faltou esperança viva Para contemplar a vida

Alguns caminhos novos... Nos trazem pessoas... Nos trazem emoções... Que abranda nossos corações... As pegadas das histórias... Vamos deixando no tempo... Os grandes encontros.

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São Paulo

de todos os tempos

Geraldo Nunes

pandemia do coronavírus e a

R evolta

da

Vacina

de

1904

O Brasil sempre foi um país cheio de crendices, pajelanças, curandeiros e benzedeiras a ocupar o lugar que caberia aos médicos e à ciência. Quando ainda éramos colônia de Portugal, boticários vindos da Europa traziam poções mágicas, vendidas a peso de ouro, capazes de curar a população de todos os males. Foram inúmeras as epidemias de varíola e febre amarela até a chegada da família real, em 1808. Para atender as necessidades da corte que logo sentiu a falta de médicos, Dom João VI determinou a criação de duas escolas de medicina. Surgiram assim, o Real Hospital Militar de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. Acredite, foram essas as únicas medidas governamentais voltadas à saúde pública até a Proclamação da República. Em 1904, a situação no Rio de Janei-

ro estava insustentável pela grande proliferação de doenças, entre elas novamente, a febre amarela, além da peste bubônica e da renitente varíola. A razão para tantos males já se sabia, estava na falta de saneamento básico e na grande quantidade de ratos transmissores de várias doenças. O povo desconhecia os modos de prevenção. Se já não bastasse tamanha ignorância, a população ainda foi vítima de uma medida bem intencionada, colocada em prática de maneira errada.

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entre a

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S emelhanças

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Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

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Em novembro de 1904, o povo saiu às ruas do Rio de Janeiro para um protesto que deu início ao episódio que entrou para a história como A Revolta da Vacina. Rui Barbosa, então deputado federal, ocupou a tribuna para defender os revoltosos e se posicionou contrário à vacinação. “Não tem nome na categoria dos crimes do poder, a tirania de se envenenar com a introdução no sangue, de um vírus sobre o qual existem os mais bem fundados receios de que seja um condutor ainda maior dessa moléstia e da morte”, bradou o futuro “Águia de Haia”. Após o discurso inflamado, o médico Oswaldo Cruz foi afastado do cargo pelo presidente Rodrigues Alves, apesar de sua comprovada competência. Ainda assim, o sanitarista conseguiu convencer parte dos congressistas de que as doenças só diminuiriam se houvessem ações que levassem ao aprendizado de noções de higiene por parte de todos.

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O então presidente da República, Rodrigues Alves, contratou o médico sanitarista Oswaldo Cruz para resolver o problema das doenças no então distrito federal. Para acabar com os ratos, o renomado cientista sugeriu oferecer dinheiro ao povo como recompensa para quem matasse o maior número de roedores. A medida surtiu efeito contrário porque muita gente passou a criar ratos para depois matá-los e assim ganhar mais dinheiro nas recompensas. Se decidiu então convocar cerca de 1.500 funcionários públicos que sem nenhum aviso prévio começaram invadir casas para retirar delas e depois queimar, os colchões, móveis e roupas velhas considerados infectados. Não houve por parte do governo nenhum plano de reposição desses utensílios queimados e as famílias ficaram sem ter o que vestir e onde dormir. A situação piorou quando uma ordem estabeleceu que haveria uma vacinação pública e obrigatória contra a varíola. Muitos desconheciam o que era uma injeção e entre os moradores passou a circular a informação que a picada da agulha era muito dolorida. Devia ser mesmo, porque naquele tempo uma mesma agulha de injeção servia a centenas de pacientes.

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jetivo principal é preservar vidas, daí o crescente número de mortes causadas pela covid-19. Continuamos como no início do século 20, carentes na distribuição de água potável, no tratamento de esgotos e sem uma coleta eficiente de lixo capaz de eliminar resíduos sólidos. Nada impede que outras epidemias surjam em curto espaço de tempo. Motivo: Um povo que não conhece seu passado tende a repetir os mesmos erros.

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Durante a Revolta da Vacina bondes chegaram a ser tombados no Rio de Janeiro e agora, no Brasil de hoje, algumas pessoas ainda desconfiam da eficácia das vacinas contra o coronavírus. Outras continuam saindo às ruas sem colocar em prática as medidas preventivas, como o uso de máscaras cirúrgicas e o tão necessário distanciamento social. Assim como em 1904, parte da população não entende que o ob-

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P A R T I C I P E D O C O N C U R S O

Z E Z É M A C E D O


Nazareth Ferrari Natural de Taubaté, SP. É pintora, escultora, escritora, professora, Pós-Graduada em História da Arte, Engenheira Civil e Membro Titular da Academia Valeparaibana de Letras e Artes. Conquistou inúmeros prêmios em literatura e artes visuais, possuindo obras na Alemanha e na França.


se

Encontram

Entrevista com os escritores Regina Brito e Newton Nazareth A pandemia do Coronavírus causou uma reviravolta no mundo inteiro, mudanças de comportamentos, hábitos e muitas outras situações. Sem poder sair de casa e com as atividades de lazer e entretenimento restritas, as pessoas voltaram suas atenções para a prática da leitura de livros impressos e digitais. E, por falar em literatura, em meio a tantos acontecimentos tristes que temos assistido ultimamente, graças à literatura aconteceu uma história de amor muito inspiradora como leremos a seguir nesta entrevista!

Newton, como surgiu a ideia de escrever o seu primeiro livro CONFINADOS?

Nos últimos anos compus muitas obras de longa duração, como óperas contemporâneas, onde toda a história é contada através do libreto ou das letras das músicas. Então a transição para a Literatura deu-se de forma natural. Decidi escrever sobre a temática do confinamento humano e da atual pandemia para ir na contramão do noticiário. Enquanto este busca impressionar pelo medo, procurei usar uma linguagem leve para ilustrar a

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Literatura

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e

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Quando Vida

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QUANDO OS GATOS CONVERSAM COM VOCÊ - trata-se de um primeiro volume que conta a minha história de vida com os felinos Lica e Jamil, os quais inventam as mais diversas artimanhas para chamar a atenção. Sempre enfatizando a minha preocupação com a defesa dos direitos dos animais. No próximo volume, a ser lançado em breve, eles se mudarão para uma nova casa e conhecerão seus sete priminhos. Aguardem!

Com a necessidade de fazer uma revisão no texto original de CONFINADOS procurei a Regina para trabalharmos juntos. Nosso encontro presencial revelou que ainda ardia a chama de um romance que já havia existido entre nós, em tempos idos. Então foi um reencontro. E dispensada uma natural fase inicial de conhecimento, partimos logo para uma vida a dois, que está se revelando cada dia mais interessante, com amor e objetivos em comum. Como a nossa paixão pelos gatos, por exemplo. Regina, discorra um pouco sobre os seus livros solos.

São diversos lançados, desde há muito tempo. Mais recentemente destaco os lançamentos pela Editora Matarazzo, ambos de cunho infantil mas que atingem um públi-

De quem partiu a iniciativa para que vocês escrevessem TRILOGIA PANDEMIA a quatro mãos? Por que escolheram o gênero teatro?

Newton Nazareth: A partir de uma ideia minha para encenar um supermercado no palco de um teatro, convidei a Regina para que escrevêssemos a história juntos, enfatizando a linguagem teatral. O enredo, inicialmente bem-humorado, evoluiu para uma trama poli-

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Conte-nos como aconteceu o encontro com a Regina Brito durante a pandemia?

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co mais amplo, de qualquer faixa etária: POR QUE A GARÇA ESTÁ TRISTE? - conscientiza o leitor sobre os problemas advindos da ocupação humana do meio ambiente, os quais entristecem o protagonista levando-o ao isolamento social.

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mudança da rotina na vida das pessoas comuns, que precisam tocar a vida no atual contexto. Creio que o texto, quase sempre bem-humorado, é uma profilaxia eficaz contra a depressão e poderá efetivamente contribuir para a imunidade natural do público leitor.

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Newton Nazareth

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cial com desfecho em aberto, onde o leitor é questionado pela coautora a decidir se está representando ou vivendo a própria vida.

Para adquirir os livros dos escritores, escreva para: newtonnazareth2@gmail.com Instagram @ reginamfbrito Facebook @ regina.brito.16

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Quais são os planos futuros no mundo da literatura?

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Newton Nazareth: De minha parte já tenho pronto um romance de ficção científica aguardando o momento propício para editá-lo: PROFESSOR MESBLA. E estou terminando uma outra novela, RUDÁ, com temática ambientalista e com trilha sonora, já gravada, para acompanhar o texto. Enfim, as ideias são muitas, pois gostamos de passar grande parte de nosso tempo escrevendo juntos ou incentivando o outro nos trabalhos individuais.

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Regina Brito: Além do já citado QUANDO OS GATOS CONVERSAM COM VOCÊ - Vol. II, estamos trabalhando em uma novela literária de época chamada Memórias de Um Pinto Calçudo passada no Rio de Janeiro do início do século XX, tendo como pano de fundo as epidemias da época. Em paralelo, estou escrevendo crônicas quase diariamente para reuni-las em um só volume.

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Regina Brito


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B.B e Rajah

Ilha de Paquetá Jamil e Lica nº.24

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Fotos: Regina Brito e Newton Nazareth

Ilha de Paquetá

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As

forças da vida

Glafira Menezes Corti Chamou para a roda de conversa com uma sineta dourada, cujo som nos inspirava a sentar nas almofadas coloridas e respirar centrados nos ísquios. Inicializou o guru uma reflexão com o grupo, ainda um pouco apreensivo, de certa forma desconfortável com o distanciamento social, acostumados que eram à troca de abraços efusivos e três beijinhos estaladinhos. Esses nossos dias, preenchidos por constantes surpresas, favorecem o reconhecimento de cada um de si mesmo, através de um mergulhar mais assíduo, cuidadoso e envolvedor nas severas incompreensões que estamos vivenciando. Como caminhantes com desejos focados, deixando de lado a infantilização da

consciência, somos alertados a não permitir que o Ser seja desbancado pelo Ter. Ser é enxergar que a esperança num novo porvir vem da percepção, da compreensão e aceitação de que somos um todo. A qualidade de vida leva um capote e como tal a má partilha, que gera desigualdades sociais e impede que a felicidade seja uma boa-venturança, torna-se uma disciplina analógica obrigatória. Nesse novo tempo de igualdade pandêmica apostamos nas forças da vida. Nossos desejos ficam à mercê da vontade de todos e na esperança de que haja transhumanização. O humano universal descobre que não sabe utilizar as ferramentas para servir à vida, restaurar a dignidade nem contaminar positivamente. Desfazer o consumismo de ideias preconcebidas e fazer a faxina interna corrobora para a aceitação de que o paraíso não é material.


Num piscar de olhos Cris Arantes @ @crisarantesvaraldepoesias

Pedagoga, poeta, cantora, musicista, artista “mambembe”. Possui um CD, doze Antologias, revistas físicas e digitais, etc, Postagens dos poemas em redes sociais e apresentações em Saraus Literários e Musicais. Possui um varal de poemas, que distribui em eventos. Tem poemas em áudios e vídeos, nas redes sociais. Membro titular da Academia Contemporânea de letras, a ACL, cadeira 12: patronesse: Florbela Espanca.

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Maria Cristina Arantes (Cris Arantes)

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quantos passeios deixamos de fazer com os nossos filhos em nome do tempo. quantas visitas a parentes deixamos de fazer em nome do trabalho. no final vamos fazer um balanço, quanto tempo nós perdemos, com medo de perder tempo.

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A vida passa num piscar de olhos quando estamos trabalhando, para ganhar o pão, não valorizamos os momentos simples com a família. são tantas as atribulações e as emergências da vida, que fazemos tudo correndo. quando chega o final, percebemos que a vida passou num piscar de olhos, e não fizemos o que gostaríamos. não restabelecemos amizades que se quebraram por bobagens, numa Pandemia, que ficamos isolados em casa por medida de segurança. começamos perceber quantas coisas deixamos de fazer por pressa, quantos papos deixamos de bater com os nossos amigos por falta de tempo.

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VOZ-LEVANTE Mari Vieira

encontrar sua voz

- II

Inúmeras mulheres sofrem sistematicamente violência doméstica no Brasil. Não necessitamos de precisão estatística para sabermos que o país assiste quase inerte à violência de gênero. As notícias deste 2021 dão conta de que despencamos no ranque mundial de igualdade de gênero. São milhares de mulheres empobrecidas e enclausuradas sofrendo muitas vezes em silêncio. O silêncio gerado pelo medo impede as denúncias e de levar adiante a busca por proteção e justiça. Dentre os fatores que silencia as mulheres a crise econômica que as tornaram ainda mais empobrecidas durante a

pandemia é uma delas. Segundo dados do IBGE a crise financeira atingiu como navalha afiada na vida das mulheres, mais grave ainda é a situação das negras. O medo e a pobreza somam-se a outros elementos importantes: a fragilidade e a incompetência dos órgãos governamentais que deveriam defender e proteger as vítimas e a cultura de violência de gênero que tem raízes profundas na sociedade brasileira. Nenhuma mulher sofre calada porque quer, mulheres sofrem caladas por falta de opção. E isso há séculos. Abri essa coluna citando Carolina Maria de Jesus e seu livro publicado em 1960. A data de publicação da obra cria um nó na garganta quando percebemos que nas últimas seis

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teto para

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Um

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Instagram: @amarivieira Facebook: Mari Vieira

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publicado em seu livro Morada de 2019 pela editora Feminas. (des)Amor Confiada a ele, Descobriu-se Confinada. Todo desamor que paira sobre a vida das mulheres no Brasil (e no mundo) me faz pensar que a pobreza e o silêncio imposto são apenas alguns deles.

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Continua na próxima edição.

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décadas quase nada mudou, nem mesmo a sanção da lei Maria da Penha em 2006, foi suficiente para minorar aspectos da cultura que insiste em continuar violentando sistematicamente parte da população feminina do país. A pandemia, ao confinar vítimas e agressores, talvez, apenas, tenha jogado luz a enorme poça de sangue que é regada, muitas vezes, pelos companheiros que elas escolheram para amar. Essa realidade me lembra um poema da escritora Catita,

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Vivendo um filme Sandra Regina Alves Poeta, cantora e compositora @sandraamoura5@gmail.com

O medo veio junto açoitar Envaidecer-se e dissimular Ceifar sonhos, plantar pesadelos Nas noites sem o brilho do luar

A religião do momento é o amor, Amar ao próximo e se amar Da fé, vale se aproximar Orar, rezar, amém, axé, namastê, meditar

Emudecida flor da madrugada Fechou-se, silenciou Não desabrochou aurora Já não se sabe mais nada Na terra de Nosso Senhor

Porque, na realidade esse filme Está bem longe de acabar Desconhecida a cura O verbo do momento é esperançar Se cuidar e vacinar!

Nublados amanheceres

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Chove mistérios e assombros Sobre a terra e o mar Dores, prantos e desencantos Por todo canto à desabar

Inserido na vida o distanciar Para o invisível não se alojar Visitas, não mais Chamadas de vídeo pelo celular Para saudade matar

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Não se abraça e nem se beija Mascarados semblantes Pelos olhos, sorrisos encenam Um novo modo de viver

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O firmamento logo se fechou Para a noite se achegar Um filme de longa duração estreou Sem data marcada para terminar

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SALVE D. IVONE LARA Gratidão pela existência Sandra Regina Alves

Manteve sempre acesa Na mais perfeita harmonia Luz do amor e da ancestralidade Em letras e melodias D. Ivone Lara

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Rainha! Grande Dama do Samba Mulher forte, referência Seus melódicos laralaiás Vem nos envolver Marca da sua persistência

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Salve Dona Ivone Lara! Sinônimo de respeito e resistência Meus simples versos Vem agradecer a sua existência

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Dona Ivone Lara Dama da canção Grande voz declara Em suas poesias O que traz a alma E o coração

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Aparecida de Sousa Castro

III

Geração XX / XXI 1 (24/2/2021)

Imersão em que somos o próprio objeto de estudo Nunca antes, a geração do SEC XX ou início do XXI, pensaria em confinamento como possibilidade. Tempo para essa turma tem um nome: liberdade. Entretanto, liberdade virou um tanto que absurdo... Rascunho que jamais passaremos a limpo. Afinal, se assim fosse e pelo menos a limpo viesse de volta entes queridos que se foram. Ç, afirmação como essa, abaixo da linha, ninguém merece, mesmo assim tem o que desobedece... Ã em afirmação, para união, força e esperança na interação para si e para com o universo. O momento gente, é daquele que se anima e põe os demais “pra cima” ... 1 Obs.: Criação do poema parte de uma solicitação contendo as palavras interação, união, força, esperança para animar um grupo de rede social.

de um

confinamento

IV

(26/05/2017) O poema abaixo encontrado em uma de minhas gavetas poéticas, cabe bem à série confinamento.

Obra Viva

Eis que pelo caminho fui por uma outra via Na verdade, nem via, nem ida, nem vinda. Travessia Encontros, confrontos, cenários prontos. Gustavo, eu, tu, eles, nós... Gente, uma soma tanta, anda! Vislumbre outra... Outra via, outra sensação... Luz uivante imitando zelo Zelo do dia para que acalme os ponteiros Mude a sua via para uma obra viva de seu dia.

Obra Viva II

(Abril/2021) Da gaveta também outro dia Velho poema, dizia eu a Bruno Velho mas, para meu eu hoje disse ele. Seus poemas são intuitivos Hoje ao Bruno eu responderia Os poemas em alguém são vivos Como obra viva de seu dia.

Abril/2021

confinamento

C oreografia

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de um

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C oreografia

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Tempestade de Verão Atilio Ciraudo* “Ai. Saudade é uma coisa azul e amarga, com carne por fora e espinho por dentro”. Caio Fernando Abreu em carta a Hilda Hilst. Como uma tempestade de verão, você vem, tumultua todos os meus sentimentos e me enche, como água barrenta, tudo que os anos assentaram cordialmente para que as tristezas não viessem tomar conta do que já é e foi determinado. O tempo levou o que antes ainda estava imaturo e indefinido, que interrompido por impulsos levianos não deixou evoluir o que antes eram doces ilusões, juventude que despertava. Mesmo conflituados os desejos vinham como ânsias do novo, impróprios ou não, eram vividos e sentidos sem consequências externas. Diversas tempestades vieram e foram, como sempre é. Umas anunciadas outras repentinas.

Mas, o incomodo da última, a atual, não cala a sua intenção; buscar no passado as respostas que num único e simples momento ter sido consequentes para o ato derradeiro: o rompimento definitivo da amizade. Busquei abrigo e encontrei na saudade, na tristeza e na solidão


do o que se fazia isolado e esquecido, rompem partes, mantem intactos os mais puros e reais sentimentos que organizados suavemente por uma leve brisa anunciando que esta, por fim, esta tempestade passou. E como diz a canção “...qualquer dia amigo eu volto a te encontrar”. E assim será, mesmo que seja somente em mim, dentro, guardado como já está.

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atiliociraudo@gmail.com, apesar dos giros e ausências que a vida dá, o sol sempre volta, brilha e aquece.

Escritores brasileiros contemporâneos

Foto: @atiliociraudo

aliados que me nutriam, confortando-me e fazendo-me crer que o passado já tão longe ia e que nada traria de volta, restando minúcias do que estava perdido. E perdido me encontro agora, sem abrigo e dúvidas me assaltam. Tenho realmente consciência do que posso encontrar? Buscar somente na impulsividade, o que é fato, é o caminho mais propício? As referências já não existem e não sei qual foi o trato que recebeu da vida, se conserva o doce do olhar, o carinho da entrega, o afeto na compaixão, o afago na dor, o sorriso na alegria de amar, a tudo e a todos. A fúria dos ventos que arrancam minhas raízes desenterra do profun-

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I nclusão Ricardo Hidemi Baba

Viva a vida, viva a diversidade! Valor é solidariedade, é equidade! Valor promove a união Já há tantos motivos para chorar! A inclusão só pode nos ajudar!

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A diferença traz inspirações e amores!

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Doenças, perdas, dores!

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Para preconceitos, não há razão!

A diferença soma quando destemida! Por que tantas lágrimas escondidas? Se todos temos os mesmos tormentos na vida!

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Escola

dos

Ancestrais

M arcinha C osta Sou mestra em matéria de ancestralidade meus mais velhos muito de ensinaram professores da vida do ontem do agora e do que virá

Escrevo e reescrevo a tarefa com caneta de tinta preta dos meus antepassados não rasuro e nem apago o papel que conta a história do meu passado. Marcinha Costa: professora da Ed. Básica do Município de Feira de Santana, atriz e mestra em Estudos literários com ênfase em literatura africana de língua portuguesa (UEFS). marcianeide@gmail.com / Instagram: @marcinha1407

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O conhecimento vem de longe e o aprendizado é constante

Escritores brasileiros contemporâneos

Minha comunidade é minha escola e na aula de oralidade me inspiro e sou sempre aprovada

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Faço e refaço a lição diariamente aprendo um ensinamento novo e carrego comigo o exercício de cumprir uma grande missão

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P oemas

PAUSA DO CAFÉ Quentinho ou geladinho, O café anima a gente. Pode ser bebido e até comido E bem acompanhado!

Luiz Negrão: Especialista em Direito Público pela Escola Paulista de Direito (EPD), publicou os textos históricos: “125 do Café Jardim”, “Homenagem do Dia do Patrono do Fórum de Artur Nogueira e “A atuação do Ministério Público no Caso Emeric Levai”.

VIDA SEM LIMITES* Por uma vida digna Não mais solitária Emoções e experiências consigna Busca controle ao redor da pituitária Polímata, interage com diversas áreas “Savant” ou não, à solidão não se resigna Em qualquer faixa etária Junto às pessoas que o amam e assim designa Ilimitado e abençoado, com bela indumentária E uma personalidade benigna Construindo uma sociedade livre, justa e solidária! * Homenagem a José Paulino Negrão, Tio Zezinho (1948-1989).

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BONS PARA CRIANÇAS Brincadeiras, adivinhas, Cantigas de roda e ler livro junto Ajudam a vida.

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MÁQUINA DO TEMPO E DO ESPAÇO As cores vivas na parede fria da caverna Mostram para todos heroicas e tristes histórias Delicadas tiras de bambu e duros cascos de tartaruga, Finas folhas de papiro e grossas de couro As elaboradas imagens e letras de copistas Acolhiam obras a poucas pessoas que sabiam ler De obras sagradas e outras muitos aprenderam Passando de uma página a outra com as mãos Com que, ao lado de expressões, e gestos se falavam Entre as gerações próximas e distantes Convivem os impressos no papel com os das telas Que tornam inigualável criação humana: o Livro.

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L uiz N egrão

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A Pandemia mundial causada pelo COVID-19 não apresenta somente um número infindável de mortos, perda expressiva no poder econômico, desgaste emocional e vários relacionamentos familiares desfeitos em razão da necessidade, quase que obrigatória, na convivência diária e ininterrupta entre pessoas, que não tinham esse hábito, visando a contenção dos efeitos nefastos nesta pandemia. Este panorama nos impôs viver no mundo virtual, onde os afagos e os sorrisos sinceros foram

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Dra. Gisele Luccas

se esvaindo, sem que percebêssemos. Pior neste contexto todo, é admitir a imprecisão do retorno à normalidade, que muitos de nós não valorizávamos. Embora a tecnologia, em muitos casos, se apresente potencialmente eficaz, em outros, gera um transtorno sem precedentes. O conhecimento e domínio tecnológico não é a realidade de toda nossa população. Mesmo sem qualquer consulta ou pesquisa neste sentido, foi imposto um dever de conhecimento. Um exemplo primoroso são as audiências on-line. A grande maioria das pessoas com demanda judicial em andamento, sequer sabem o significado de “ acesse o link para participar”, assine no “chat para sua anuência”, baixe o aplicativo “Microsoft Teans”, local ciber-

Escritores brasileiros contemporâneos

O Desafio do Mundo Contemporâneo - o “mundo virtual”

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É Advogada, Especialista em Direito Médico, Pós Graduada em Perícia Criminal e Ciências Forenses, Capacitação em Psicopatologia Forense, Mediadora Judicial e Privada cadastrada no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Palestrante, Colunista, Mestranda em Psicologia Criminal / Especialização Psicologia Forense (Universidad Europeia Del Atlântico - Espanha).

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Dra. Gisele Luccas

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nético onde estarão Juiz, as partes, testemunhas, advogados, cada qual em lugares distintos. Como se a plataforma pudesse se comparar a uma sala de reunião. Percebese pessoas perdidas, que sentemse ignorantes tecnologicamente e amedrontadas, diante de uma realidade que não dominam, mas lhes foi imposta. Nesse mundo virtual que descrevo, não existe a sensibilidade pelo problema alheio e suas aflições, tão pouco o “olho no olho” que muitas vezes traduzem mais que mil palavras. Não existe a emoção e a paixão, sentimentos exclusivos dos seres humanos, pois jamais uma máquina com inteligência artificial será capaz de traduzir com fidelidade algo que não sente. A praticidade e a economia, com o uso exclusivo da tecnologia, em muitos casos, é inegável. Ocorre, que para obter-se esse sucesso é imprescindível o “conhecimento” e “domínio” na área, realidade esta, muito distante para a maioria da nossa população. Que o novo MUNDO VIRTUAL, único meio viável diante do atual panorama, se torne acessível a todos, mas que essa acessibilidade origine-se de um “LINK” repleto de caracteres de “amor” e elaborado como se fosse uma FLOR!

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Biblioteca Municipal Mário de Andrade, 2017. Foto: Thais Matarazzo


Arte: Camila Giudice


Zezé Macedo De minha mãe: Aquelas mãos suaves e macias. Aquelas mãos tão frias. Foram na minha vida, dois poemas... Plantaram rosas, desenhando esquemas. E a minha fronte ungiram, só de luz Quando traçaram o sinal da cruz. De meu filho: Aquelas mãos franzinas, miudinhas, Aquelas mãos quentinhas. Que apontavam estrelas do sol-por. Aquelas mãos que eu vi em cruz unidas. Tão pálidas, tombadas e feridas Foram dois marcos para a minha dor. Do meu amor: Aquelas mãos violentas, poderosas, Aquelas mãos formosas. Que me deram carícias de ninar. Aquelas mãos que me traziam rosas. E tocavam baladas fervorosas. Aquelas mãos fizeram-me sonhar. De meu pai: Aquelas mãos morenas e tão brandas. Quais duas velas pandas.

Colocadas no mar da minha vida; Foram sempre uma âncora querida Salvando-me do abismo de mil mortes. (Abençoadas mãos brandas e fortes)... Aquelas mãos que um dia como prendas De luar, me trouxeram oferendas. Aquelas mãos Que a todo mundo mostram o caminho De rosas e espinhos. Aquelas mãos piedosas já no fim Da sua caminhada dessa vida. Eu hei de encontrar como guarida Esperando por mim. Meu Breviário, editora Catedra, Rio de Janeiro, 1981.

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Mãos

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das

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Poema

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Foto: Eli K. Hayasaka

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Terça-feira, manhã nublada de outono: estou preparando o roteiro para a live Histórias de superação através da Literatura, da 10ª. Semana de Estudo e Leitura 2021, da qual o Coletivo São Paulo de Literatura está participando. A live acontecerá hoje no final da tarde, participaremos Ricardo Hidemi Baba e eu. Vou falar sobre o meu novo livro Alegria e Gratidão: palavras de um coração, onde conto como descobri o diagnóstico de um câncer de mama metastáti-

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(13/4/2021)

co, e como a literatura e a poesia me auxiliam a enfrentar o tratamento oncológico. Estava finalizando o texto de apresentação da live quando recebi uma mensagem via Whatsaap do Laercio Cardoso de Carvalho, ele avisava sobre o falecimento da querida Norminha. Poxa, que triste notícia! Conheci a Norminha na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, ela era bibliotecária e lá trabalhava há tempos, sendo responsável pela sala “Coleção São Paulo”. Pessoa generosa e atenciosa atendia os consulentes com muita competência. Comprometida com o seu trabalho, dava todas as diretrizes para pesquisadores que a adoravam. Ela era a “alma” daquele acervo. Leitora voraz e memória prodiga. Diversos livros de minha autoria e da Editora Matarazzo foram dedicados à capital paulista, fiz doação de todos para o acervo da “Mário”. A Norma sempre contava que os leitores procuravam as obras para pesquisa. Isso me deixava satisfeita e contente.

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N orminha

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amigos, entretanto, atualmente a “Caminhada” é virtual por conta da pandemia do coronavírus. Quero recordar de dois tours inesquecíveis que fizemos e tivemos a companhia da Norminha: o primeiro foi quando lancei o livro “Giro Noturno: fragmentos das noites paulistanas” em junho de 2017, fizemos um passeio pelas ruas da Vila Buarque, território dos anos dourados das boates paulistanas e da boa música se fazia nessas casas. O Laercio batizou o tour como “Vila Boate”. A rua que mais “deu o que falar” foi a Major Sertório, local de reminiscências musicais e de luxúria. Foi divertidíssimo! O segundo aconteceu em fevereiro de 2018, quando visitamos a igreja de Santa Cecília, o Museu da Santa Casa, a Biblioteca Municipal Infanto-juvenil Monteiro Lobato e o Centro Histórico e Cultural do Mackenzie. Quatro pontos históricos e de importância relevante para São Paulo. Cerca de 30 pessoas (ou mais) participaram. Que aula de história e banho de conhecimento! Quando a Tatiana Belinky fez 100 anos, em março de 2019, a “Caminhada” fez uma homenagem à escritora, me convidaram para também contar algumas histórias. A Norminha levou de presente para sortear uma biografia da Tatiana

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Conheci-a melhor depois que passei a participar da Caminhada Noturna pelo Centro, idealizada e promovida pelo Carlos Beutel, do APFEL restaurante vegetariano. Os encontros semanais aconteciam às quintas-feiras, às 20 horas, na escadaria do Theatro Municipal, comandado pelo guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho. Dificilmente Norminha faltava a uma edição da “Caminhada”, foi uma grande divulgadora e incentivadora. Também nos encontrávamos nos tours de sábado e feriados que o Laercio organizava. Alguns dos roteiros foram baseados em livros que escrevi, o Laercio sempre me convidava para lançar os títulos com um passeio, uma ideia genial, literalmente “passeávamos pela história”! Norminha sempre estava conosco. Risonha e observadora, não era muito de falar, mas nunca deixava de fazer comentários com informações e curiosidades paulistanas, ah, e sempre indicando uma bibliografia. Como era gostoso andar pelas ruas da cidade com um grupo de pessoas apaixonadas por memórias e boas histórias! Faz muita falta não poder estar nos eventos presenciais com os

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frequência, enviavam presentes e comidinhas. A notícia muito me sensibilizou, pois fui diagnosticada com a mesma doença. Desde então trocamos várias mensagens pelo Whatsaap. Depois soube que a Norma havia contraído a covid-19. O coração apertou. E como registrei no começo da crônica, soube hoje do seu falecimento. Vou lembrar sempre com carinho da Norminha. Seu nome completo é Norma Shizue Haru. Tenho certeza que ela descansou e sua alma está em paz após a longa enfermidade, sempre foi uma excelente pessoa e estimada por todos que a conheceram. Hoje a live Histórias de superação através da Literatura será dedicada à sua memória.Deixo aqui meus sentimentos à sua família e amigos!

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lançada pela coleção Aplauso da Imprensa Oficial. Um dos pontos visitados foi a Praça da República, no livro tem uma foto de 1931 com a Tatiana, sua mãe e os dois irmãos que foi tirada junto à ponte do lago da praça. Norminha que nos mostrou e acabamos tirando uma fotografia do grupo ali também. No começo deste ano, o Laercio me convidou para participar de uma “Caminhada” virtual. Em conversa com a Cecília Oka, membro da equipe que organiza as lives, soube que a nossa querida bibliotecária e amiga estava vivendo na Hospedaria de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Municipal, na Aclimação. Afastada do trabalho há mais de um ano, estava em tratamento oncológico devido a um câncer de mama. A família e os amigos a visitavam com

Tour “Vila Boate”, 6/6/2017

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N unca

deixe de sonhar

Regina Brito

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a ambrósia dos deuses... Ah! E não dispensava o café com leite quentinho que vinha servido na famosa caneca da casa com os seguintes dizeres: “NUNCA DEIXE DE SONHAR”. Ao sair do trabalho, antes de chegar a casa, dirigia-se ao seu lugar predileto, mas naquele dia alguém chegara antes. Estava sentado um cavalheiro de bigodes com uma bengala de cabo de prata e exalava um perfume suave. Este, vendo-a indecisa, ofereceu-lhe a cadeira gentilmente e se apresentaram: Viviane e Artur. Pareciam velhos conhecidos, assunto é o que não faltava. Ela disse que era secretária e ele engenheiro. Ambos solteiros, solitários e de meia idade. Ela morava em um quarto de pensão com uma proprietária que a acolhera com carinho. E ele com seus pais idosos, ambos no bairro do Flamengo. A amizade entre os dois fora se fortalecendo, até que um dia ele pediu para ela aceitar um anel de compromisso, simples e delicado com uma pedra ametista. Ele sabia que ela gostava das ametistas. Viviane ruborizou-se. Ela não esperava: fora uma surpresa. Mas aceitou, contendo as lágrimas. Seu Zé, dono da padaria, não se conteve: pediu licença, sentou-se à mesa e fez parte daquele momento mágico.

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Sonhar: verbo. Sonho: substantivo e verbo. Pensando gramaticalmente, Viviane vivia a vida entre estes dois universos. Nunca pensara em desistir de sonhar. Sua vovó sempre dizia: “Sonhe, minha flor, sonhe. Mesmo que demore, sonhe sempre. Com fé tudo acontecerá”. Enquanto sonhava saboreava seu doce predileto: o sonho da PADARIA DO SEU ZÉ. Hummm, que delícia, dissolvia na boca! E o creme? Amarelinho como

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Brindaram o noivado com a caneca da casa juntamente com o famoso sonho. Sonhar nos leva a acreditar que a vida nos prepara belas surpresas. Sonhe sempre!

REGINA BRITO

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. Recebeu vários prêmios literários em São Paulo. . Participou da Bienal do Livro (Taubaté, Rio de Janeiro e AACLIPA Paquetá). . Premiação: Os Melhores Escritores Lusófonos – Lisboa – Portugal. . Conselheira Fiscal e Acadêmica da APALA (Academia Pan Americana de Letras e Artes do Rio de Janeiro). . Artilheiro da Cultura no Museu do Exército no Forte de Copacabana. . Coordenadora do Coletivo Cultural Borboletas Voadoras ( saraus e arte em geral) . Participa do Coletivo São Paulo de Literatura. . Participa da revista mensal “Escritores Brasileiros Contemporâneos” da Ed. Matarazzo / SP. Últimos lançamentos: “QUANDO OS GATOS CONVERSAM COM VOCÊ” (ed. Matarazzo) “TRILOGIA PANDEMIA” (ed. Matarazzo), em coautoria com Newton Nazareth.

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Trabalhos ( professora): . Prefeitura de Maricá . Prefeitura do Rio de Janeiro. . SENAC. . FAETEC. . GIMK. . Universidade Santa Úrsula.

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Formação: . UFRJ ( faculdade de letras. Literaturas e línguas: Português/ Espanhol) : Bacharelado e Licenciatura. . UERJ (curso: formação / PEJA e EJA. . FAHUPE: pós graduação. .UIMP - Universidad Internacional Menéndez Pelayo- España / Santander.

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E les

não usam máscara

Newton Nazareth é carioca e está lançando dois livros pela Ed. Matarazzo: “CONFINADOS” e “TRILOGIA PANDEMIA” (este em co-autoria com Regina Brito).

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Eles não usam máscara. Ela e ele assim, tão pertinho um do outro, falando o tempo todo em frente às câmeras do estúdio. Os apresentadores do telejornal interpretam as últimas notícias para nos manter informados sobre a pandemia. Mas não usam máscara. E será que precisava? Sim. Há também uma equipe de apoio na emissora de televisão. Ah, mas pelo menos na hora da maquiagem todos devem usar máscara, ninguém duvida. Mesmo que a edição final não inclua o making of. Os números provam, comprovam e reprovam. Mas os jornalistas que nos informam não usam máscara. Não dão o exemplo. Sem comentários. “Faça o que eu digo. Não faça o que eu faço”. Bem que este poderia ser o texto de boa noite. A gente quase que ouve. E o que se vê, ainda que em meio à penumbra de encerramento dos números gigantes, é que os profissionais da comunicação não usam máscara.

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N ewton N azareth

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