Zezé Macedo De minha mãe: Aquelas mãos suaves e macias. Aquelas mãos tão frias. Foram na minha vida, dois poemas... Plantaram rosas, desenhando esquemas. E a minha fronte ungiram, só de luz Quando traçaram o sinal da cruz. De meu filho: Aquelas mãos franzinas, miudinhas, Aquelas mãos quentinhas. Que apontavam estrelas do sol-por. Aquelas mãos que eu vi em cruz unidas. Tão pálidas, tombadas e feridas Foram dois marcos para a minha dor. Do meu amor: Aquelas mãos violentas, poderosas, Aquelas mãos formosas. Que me deram carícias de ninar. Aquelas mãos que me traziam rosas. E tocavam baladas fervorosas. Aquelas mãos fizeram-me sonhar. De meu pai: Aquelas mãos morenas e tão brandas. Quais duas velas pandas.
Colocadas no mar da minha vida; Foram sempre uma âncora querida Salvando-me do abismo de mil mortes. (Abençoadas mãos brandas e fortes)... Aquelas mãos que um dia como prendas De luar, me trouxeram oferendas. Aquelas mãos Que a todo mundo mostram o caminho De rosas e espinhos. Aquelas mãos piedosas já no fim Da sua caminhada dessa vida. Eu hei de encontrar como guarida Esperando por mim. Meu Breviário, editora Catedra, Rio de Janeiro, 1981.
Abril/2021
Mãos
nº.24
das
Escritores brasileiros contemporâneos
Poema
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