Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 24 - Abril/2021

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deixe de sonhar

Regina Brito

nº.24 Escritores brasileiros contemporâneos

a ambrósia dos deuses... Ah! E não dispensava o café com leite quentinho que vinha servido na famosa caneca da casa com os seguintes dizeres: “NUNCA DEIXE DE SONHAR”. Ao sair do trabalho, antes de chegar a casa, dirigia-se ao seu lugar predileto, mas naquele dia alguém chegara antes. Estava sentado um cavalheiro de bigodes com uma bengala de cabo de prata e exalava um perfume suave. Este, vendo-a indecisa, ofereceu-lhe a cadeira gentilmente e se apresentaram: Viviane e Artur. Pareciam velhos conhecidos, assunto é o que não faltava. Ela disse que era secretária e ele engenheiro. Ambos solteiros, solitários e de meia idade. Ela morava em um quarto de pensão com uma proprietária que a acolhera com carinho. E ele com seus pais idosos, ambos no bairro do Flamengo. A amizade entre os dois fora se fortalecendo, até que um dia ele pediu para ela aceitar um anel de compromisso, simples e delicado com uma pedra ametista. Ele sabia que ela gostava das ametistas. Viviane ruborizou-se. Ela não esperava: fora uma surpresa. Mas aceitou, contendo as lágrimas. Seu Zé, dono da padaria, não se conteve: pediu licença, sentou-se à mesa e fez parte daquele momento mágico.

Abril/2021

Sonhar: verbo. Sonho: substantivo e verbo. Pensando gramaticalmente, Viviane vivia a vida entre estes dois universos. Nunca pensara em desistir de sonhar. Sua vovó sempre dizia: “Sonhe, minha flor, sonhe. Mesmo que demore, sonhe sempre. Com fé tudo acontecerá”. Enquanto sonhava saboreava seu doce predileto: o sonho da PADARIA DO SEU ZÉ. Hummm, que delícia, dissolvia na boca! E o creme? Amarelinho como

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