Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 21 - fevereiro/2021

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O esquisito do terceiro andar

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e nenhum amor. Vivia só. A vizinhança o tinha como “aquele esquisito do terceiro andar”. Mas essa figura estoica era um folião inveterado que se preparava com antecedência para a grande folia de Momo. Já no mês de outubro/novembro começava a armazenar tecidos, fitas, plumas, lantejoulas, e pacotes de serpentinas, confetes e caixas de lança perfume. Da minha janela eu avistava seu apartamento e o via abrindo tais pacotes, ficando horas pensativo admirando todos aqueles produtos como que imaginando o que faria com eles. Também nos finais de semana ele ficava debruçado numa antiga máquina de costura a lidar com os tecidos coloridos, alguns com muito brilho numa concentração que o impedia de constatar a minha intromissão. Talvez não fosse correta essa

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Ele era um grande contraste, tímido e fechado em si mesmo, era um homem de meia idade que não gargalhava, econômico no sorriso, limitado nos abraços, econômico nos cumprimentos sempre a esboçar um ar de expectativa. A pesar do sorriso contido, eu sentia que ele trazia no peito a necessidade de expandir uma alegria que não conseguia transformar em gestos e palavras As crianças não se acercavam dele, quiçá por seu semblante fechado, ou por aquelas roupas estranhas e fora de moda com que ele cobria o corpo. Retornava todos os dias às dezesseis horas e impreterivelmente saia pela manhã as seis, sempre com um cachecol envolto no pescoço quase a cobrir-lhe o queixo, fizesse frio ou calor. Ninguém sabia sua profissão de onde vinha, nem para onde ia. Não tinha família, alguns raros amigos

Fevereiro/2021

Neide Ciarlariello Sabichi

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