!1 Yi Jing
YI JING ORÁCULO CHINÊS INTERPRETADO
Elisabete Araujo Leonetti
Florianópolis, 2011 Elisabete Araujo Leonetti
18/06/2014
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Dedico esta obra à minha filha Clarissa, com todo o meu amor.
Elisabete Araujo Leonetti
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Conteúdo AGRADECIMENTOS 5 PREFÁCIO 7 INTRODUÇÃO 8 TABELA HEXAGRAMAS 19 HEXAGRAMA 1: A INICIATIVA 20 HEXAGRAMA 2: A CONFORMIDADE 27 HEXAGRAMA 3: COMEÇANDO COM CONTRATEMPOS 34 HEXAGRAMA 4: SUPERANDO IGNORÂNCIA41 HEXAGRAMA 5: ESPERANDO SEM INQUIETAR-SE 48 HEXAGRAMA 6: DISPUTANDO INUTILMENTE 55 HEXAGRAMA 7: LIDERANDO COM EXPERIÊNCIA 61 HEXAGRAMA 8: APROXIMANDO-SE MUTUAMENTE 67 HEXAGRAMA 9: CONTIDO PELO PEQUENO72 HEXAGRAMA 10: ANDANDO COM CUIDADO 78 HEXAGRAMA 11: FLUINDO HARMONICAMENTE 84 HEXAGRAMA 12: PARALISADO PELA INCOMPATIBILIDADE 89 HEXAGRAMA 13: INTEGRANDO PESSOAS COM SUAVIDADE HEXAGRAMA 14: MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA 100 HEXAGRAMA 15: CEDENDO COM MODÉSTIA 106 HEXAGRAMA 16: PREVENINDO EXCESSOS111 HEXAGRAMA 17: ACOMPANHANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS 115 HEXAGRAMA 18: ENDIREITANDO O DETERIORADO 120 HEXAGRAMA 19: OBSERVADO DE PERTO 125 HEXAGRAMA 20: OBSERVADO DE LONGE129 HEXAGRAMA 21: MORDENDO PARA UNIR134 HEXAGRAMA 22: ENFEITANDO COM REQUINTE 139 HEXAGRAMA 23: DESGASTANDO-SE PERIGOSAMENTE 146 HEXAGRAMA 24 : RESSURGINDO POSITIVAMENTE 150 HEXAGRAMA 25: AGINDO SEM SE ESFORÇAR 155 HEXAGRAMA 26: CONTIDO PELO GRANDE 159 HEXAGRAMA 27: NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE 163 HEXAGRAMA 28: EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE 170 HEXAGRAMA 29: TREINANDO NO ABISMO175 HEXAGRAMA 30: ADERINDO COMO O FOGO 181 HEXAGRAMA 31: ESTIMULANDO-SE MUTUAMENTE 187 HEXAGRAMA 32: NAVEGANDO NA TORMENTA 194 HEXAGRAMA 33: RECOLHENDO-SE NUM REFÚGIO 200 HEXAGRAMA 34: FORTALECENDO O GRANDE 204 HEXAGRAMA 35: PROGREDINDO PAULATINAMENTE 209 HEXAGRAMA 36: ABAFANDO SUA LUZ 215 HEXAGRAMA 37: ORGANIZANDO UMA FAMÍLIA 220 HEXAGRAMA 38: DIVERGINDO CONSTRUTIVAMENTE 227 HEXAGRAMA 39: OBSTRUÍDO PELAS DIFICULDADES 235 HEXAGRAMA 40: LIBERANDO TENSÕES 239 HEXAGRAMA 41: DIMINUINDO O SUPÉRFLUO 243 HEXAGRAMA 42: AUMENTANDO AS RESPONSABILIDADES 250 HEXAGRAMA 43: AFASTANDO COM DETERMINAÇÃO 256 HEXAGRAMA 44: ESBARRANDO NA TENTAÇÃO 261 HEXAGRAMA 45: AGRUPANDO PELO EXEMPLO 267 HEXAGRAMA 46: CRESCENDO SUAVEMENTE 275 HEXAGRAMA 47: OPRIMIDO PELA CONJUNTURA 280 HEXAGRAMA 48: SUSTENTANDO COMO UM POÇO 286 HEXAGRAMA 49: RENOVANDO RADICALMENTE 292 HEXAGRAMA 50: TRANSFORMANDO-SE PROFUNDAMENTE 299 HEXAGRAMA 51: ASSUSTADO POR UM ABALO 304 HEXAGRAMA 52: CONTROLANDO SEUS IMPULSOS 309 HEXAGRAMA 53: DESENVOLVENDO-SE GRADUALMENTE 314 HEXAGRAMA 54: COMPROMETENDO-SE PRECIPITADAMENTE HEXAGRAMA 55: LIDANDO COM A ABUNDÂNCIA 325 HEXAGRAMA 56: VIAJANDO PELO EXÍLIO331 HEXAGRAMA 57: OBEDECENDO DOCILMENTE 335 HEXAGRAMA 58: SATISFAZENDO-SE POSITIVAMENTE 341 HEXAGRAMA 59: DISPERSANDO A RIGIDEZ348
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HEXAGRAMA 60: LIMITANDO EQUILIBRADAMENTE 354 HEXAGRAMA 61: CONFIANDO INTIMAMENTE 360 HEXAGRAMA 62: EXCEDENDO-SE SENDO PEQUENO HEXAGRAMA 63: APÓS TER ATRAVESSADO369 HEXAGRAMA 64: AINDA NÃO ATRAVESSADO 375 BIBLIOGRAFIA 380
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AGRADECIMENTOS Muitas pessoas, ao longo dos anos, contribuíram para que este livro fosse idealizado e concretizado. Delas, nenhuma foi ou é mais atuante e influente do que meu amigo Jorge Vulibrun, que repetidas vezes, ao longo de décadas, desde os meus 21 anos, senta -se a discutir o Yi Jing comigo, comentar consultas, estudar os conceitos do livro e o significado e estrutura dos hexagramas. E me presenteou com várias versões e traduções do livro. Por várias vezes ele organizou grupos de estudo do Yi Jing, reunindo pessoas que, como nós, tinham a curiosidade pelo oráculo, se sentiam fascinadas pela possibilidade de um livro, escrito há milhares de anos, poder dar a resposta pertinente às dúvidas de cada um, hoje. Coroando seu intenso e extenso estudo do Yi Jing, Jorge aprendeu chinês e elaborou uma nova tradução do texto oracular original, e é nesta tradução que apoiei a minha interpretação porque, sem sombra de dúvida, apresenta mais coerência com os significados do desenho das linhas e com todo o simbolismo do Yi Jing do que todas as demais traduções que conheço. Ao Jorge, pelo que me ensinou, pelo estímulo e, principalmente e especialmente pela amizade e companheirismo, o meu muito, muitíssimo obrigada. E a quem mais está do meu lado nesta vida, sempre interessada, sempre apoiando e completando todos os momentos de pesquisa, de dúvida, de satisfação, de pressa de terminar o trabalho, minha filha Clarissa Araujo Cassol, minha maior incentivadora e assídua utilizadora da minha interpretação do Yi Jing, meu agradecimento profundo. Agradeço a minha mãe, Layr Joselita Araujo Leonetti, sempre compreendendo e valorizando meu esforço na elaboração deste livro. Minhas irmãs Helena e Suzana, meus irmãos Pedro Paulo e Carlos Araujo Leonetti, cada um deles tem o seu papel na minha trajetória. Meu irmão Pedro Paulo introduziu o Yi Jing em minha vida, presenteando-me com um exemplar do livro quando eu tinha 19 anos. Alguns anos depois Helena me presenteou com o Yi Jing da famosa tradução e interpretação de Richard Wilhem, do qual me utilizei preferencialmente até que a minha própria interpretação tivesse ficado pronta. Minha tia Lucinda Maria Araujo de Oliveira sempre valorizou minhas investigações através do Yi Jing e os ensinamentos do livro. Minha tia Lia Dalva Araujo Porto sempre me deu força em tudo. Minha prima Kátia Bittencourt Borges, abriu as portas da sua escola para que pudéssemos lá nos reunir para estudar o Yi Jing.
Elisabete Araujo Leonetti
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E, finalmente, os meus queridos amigos, a “Turma do I Ching”, aquele grupo que se reuniu todas as quartas-feiras às 7 horas da noite, de 5 de setembro de 1995 a 4 de dezembro de 2002, nas dependências da Escola da Praia do Riso, em Coqueiros, Florianópolis, para, sob a direção do Jorge, ler e discutir, linha por linha, hexagrama por hexagrama, desde o 1° até o 64º, sempre com interesse e ânimo. Meus amigos Maria de Fátima Ferreira, Nilce Maria Pereira, José Augusto de Carvalho Rosa, Norberto Lucio Rozenfeld e, mais uma vez, Jorge: é muito bom ter vocês, muito obrigada por estarem junto. Jamais esquecerei dos chopes e pizzas, caipirinhas e camarões à milanesa entremeados nas mutações do yin e do yang.
Elisabete Araujo Leonetti
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PREFÁCIO
A intenção de um oráculo é orientar as pessoas que o procuram, fornecendo-lhes um conhecimento que elas desejam e não possuem, seja porque esse conhecimento está oculto por trás do véu das aparências da realidade, seja porque ainda está envolvido nas dobras das sementes do futuro. A intenção do Yi Jing, como oráculo, não é, porém, desvelar ante o consulente um futuro claro e definido, ou um destino inexorável: o que ele faz é mostrar o rumo que os acontecimentos tendem a tomar, partindo da posição atual das pessoas e coisas envolvidas, e, geralmente, ainda se determinados ajustes forem feitos. O Yi Jing não ignora o livre-arbítrio humano: são as decisões e ações das pessoas, por sua vez influenciadas pelas mudanças no meio externo, que definirão, dentre as possibilidades existentes, qual se irá realizar. O papel do Yi Jing, como oráculo, é, portanto, mais de revelação e orientação do que de previsão, embora, ao orientar, ele indique o provável resultado de a pessoa fazer isto ou aquilo. Assim, em termos de previsão, o Yi Jing não revela o futuro nem direta nem claramente, porque sempre deixa espaço para o livre-arbítrio. Porém, em termos de revelação da verdade latente na realidade presente, ele é muito eficaz. As pessoas procuram os oráculos com a intenção de saber a que verdade ater-se numa determinada situação. Os oráculos são mais um meio de que se servem para mitigar sua ignorância e consequentes dúvidas, buscando sempre acertar, ou errar o mínimo possível, sofrer o mínimo possível. Quando comecei a consultar o Yi Jing, não entendia suas respostas. Por isso ficava confusa e, às vezes, tomava o caminho oposto àquele que seria o mais acertado. Não conseguia ver o que ele me mostrava, a verdade subjacente às circunstâncias internas ou externas a mim, prevenindo-me contra ações ou situações negativas. A minha intenção, ao fazer uma interpretação dos enunciados do Yi Jing, é simplesmente entendê-lo. Não tenho a intenção de fazer um estudo técnico, histórico ou filosófico do Yi Jing, como faz, de forma magistral, Jorge Vulibrum. Existem excelentes e numerosos tratados sobre isso, dos quais conheço alguns. A minha abordagem é eminentemente prática, visando o uso do Yi Jing como oráculo, e só. Não obstante, o caudal de sabedoria, história, filosofia, etc., que o Yi Jing carrega nos seus enunciados, inevitavelmente esteve presente em minha mente quando elaborei as interpretações. Este livro levou 15 anos sendo redigido. É uma tentativa bemintencionada de evitar o mal da desorientação para alguns daqueles que, daqui para frente, vierem a consultá-lo. Que encontrem a orientação esperada e tenham a sabedoria de segui-la! Elisabete Araujo Leonetti
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INTRODUÇÃO 1. INSTRUÇÕES 1.1 COMO CONSULTAR
Sendo o Yi Jing estruturado em 64 hexagramas, e sendo os hexagramas desenhos de 6 linhas cada um, abertas ou fechadas, ordenadas de baixo para cima, o primeiro passo do processo de consulta, após a formulação da questão ou pergunta, consiste em determinar 6 linhas para formar um hexagrama para ler, em resposta à questão formulada. Esse hexagrama, se contiver linha mutante, gerará um segundo hexagrama, ou hexagrama derivado, porque deriva do primitivo. Tanto o primeiro quanto o segundo hexagramas, e as linhas mutantes, ou móveis, compõem a resposta oracular. Não havendo linhas mutantes, não haverá linhas a ler, nem segundo hexagrama. As linhas recebem, tradicionalmente, os números 6, 7, 8 e 9. As linhas de nº 6 e 8 são abertas: As linhas de nº 7 e 9 são fechadas: As linhas de nº 7 e 8 não mudam, são fixas. As linhas de nº 6 e 9 são mutantes: elas viram para o seu contrário, formando o desenho de um segundo hexagrama. As linhas de nº 6 comparecem na composição do 1º hexagrama como abertas e, no 2º, como fechadas. As linhas de nº 9 figuram fechadas - ou inteiras - no 1º hexagrama, e abertas - ou partidas - no 2º. À medida que se vão obtendo as linhas, por um dos métodos descritos a seguir - ou ainda outros - se as vai desenhando, de baixo para cima, com o número correspondente ao lado, que é para que se saiba quais são as mutantes, as quais devem ser lidas, e viradas. Exemplo: 1º hexagrama 6ª linha
6-
5ª linha
8-
4ª linha
8-
3ª linha
9-
2ª linha
7-
1ª linha
7-
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2º hexagrama
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Dessa resposta dever-se-iam ler, do 1º hexagrama, as partes gerais e a 3ª e 6ª linhas. Do 2º hexagrama, apenas as partes gerais. As partes gerais não compõem o desenho do hexagrama, e são o nome, o Julgamento e a Imagem. Cada hexagrama é tradicionalmente dividido em dois trigramas, o inferior e o superior, compostos, respectivamente, pelas três linhas de baixo e pelas três linhas de cima do hexagrama. A maneira mais prática de localizar o número de um hexagrama é através da junção dos trigramas, numa tabela do tipo da apresentada após esta introdução.
MÉTODO DAS CARTAS DE BARALHO Este método me foi ensinado por Jorge Vulibrun, que passou a adotálo por ser o sistema que reproduz as probabilidades do método das varetas, o primitivamente usado pelos consulentes, na China. De um baralho qualquer, separam-se 2 cartas de copas, 6 cartas de ouros, 10 cartas de paus e 14 cartas de espadas. Para a obtenção de cada linha do hexagrama, embaralham-se as cartas e puxa-se uma do monte, sem escolher. A correspondência entre naipes e tipos de linha é a seguinte: Copas corresponde a uma linha aberta mutante, linha de nº 6. Ouros corresponde a uma linha fechada mutante, linha de nº 9. Paus corresponde a uma linha fechada que não muda, linha de nº 7. Espadas corresponde a uma linha aberta que não muda, linha de nº 8. Em vez de cartas de baralho, a pessoa também pode usar cartões fáceis de manusear, de quatro cores, vermelhos, verdes, azuis e brancos, por exemplo. O importante é respeitar a correspondência entre o número de cartões de cada cor e os tipos de linha, a fim de não alterar a probabilidade de sair cada tipo de linha, uma vez que essa probabilidade é a fixada pela tradição, através do mais antigo dos métodos de consulta, o das varetas. O método das cartas é um dos mais recentes de todos, tendo-se originado na década de 1980, a partir da aplicação da ciência estatística à consulta ao Yi Jing. MÉTODO DAS MOEDAS Tomam-se três moedas pequenas e iguais. A um dos lados das moedas atribui-se o valor 2 e, ao outro, o valor 3. Com as mãos, sacodemse as moedas e se as jogam sobre uma superfície plana. Quando elas param, contam-se os números das faces que caíram voltadas para cima, Elisabete Araujo Leonetti
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somando o total de pontos, que só poderá ser 6, 7, 8 ou 9. O resultado da primeira jogada indica a linha inferior do hexagrama da resposta; o da segunda jogada, indica a segunda linha de baixo para cima, e assim por diante, até a 6ª. Ao lado de cada linha obtida, o consulente escreve o número a partir do qual ela se originou. Se houverem linhas de número 6 ou 9, linhas mutantes, portanto, deve ser desenhado também o hexagrama derivado da mutação delas, que passa a fazer parte da resposta. O método das moedas é bastante antigo, e muito simples de executar. MÉTODO DAS VARETAS Tomam-se cinqüenta varinhas de aproximadamente 40 centímetros de comprimento. Tradicionalmente essas varinhas eram da planta Achillea millefolium, também chamada mil-folhas, ou aquiléia. Das cinqüenta varinhas tira-se uma, que não participa mais da manipulação, ficando o consulente com quarenta e nove hastes. Dividem-se as quarenta e nove hastes rapidamente em dois montes, colocando-os um ao lado do outro. O consulente procede a três manipulações das quarenta e nove varinhas para a obtenção de cada linha do hexagrama da resposta. Repete seis vezes as três manipulações para obter as seis linhas do hexagrama da resposta. Ao total são dezoito manipulações. 1ª manipulação: Do monte da direita o consulente tira uma varinha e a coloca entre os dedos mínimo e anular, da sua mão esquerda. Separam-se as varinhas do monte da esquerda, de quatro em quatro, até sobrarem quatro ou menos varinhas. O consulente coloca essas varinhas restantes entre os dedos anular e médio da sua mão esquerda. Separam-se as varinhas do monte da direita, de quatro em quatro, até sobrarem quatro varinhas ou menos. O consulente coloca essas varinhas restantes entre os dedos médio e indicador da sua mão esquerda. Agora o consulente soma todas as varinhas seguras na sua mão esquerda, obtendo um total de cinco ou de nove. Se o total for cinco, ele lhe atribui o valor 3; se o total for nove, o valor atribuído é 2. É conveniente anotar esse valor, para não esquecê-lo nem confundi-lo. Deixam-se essas varinhas de lado. 2ª manipulação:
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Os dois montes de varinhas são juntados num só e este é, novamente, sem reflexão, dividido em dois. Do monte da esquerda separam-se as varinhas, de quatro em quatro, até sobrarem só quatro ou menos. O consulente coloca as varinhas que sobraram entre o dedo anular e o dedo médio da sua mão esquerda. Do monte da direita separam-se as varinhas, de quatro em quatro, até sobrarem só quatro ou menos. O consulente coloca as varinhas que sobraram entre os dedos médio e indicador da sua mão esquerda. Somam-se as varinhas dos dois grupos seguros na mão esquerda, e o resultado será oito ou quatro. Se o total for oito, o consulente lhe atribui o valor 3. Se o total for quatro, o valor atribuído será 2. Novamente, é bom anotar o valor obtido. Também se deixam essas varinhas de lado. 3ª manipulação: Os dois montes de varinhas são novamente reunidos e separados, e repete-se todo o processo da 2ª manipulação, até que se tenha, mais uma vez, o valor 3 ou 2. Formação da linha: Somam-se os valores finais das três manipulações, e obtém-se um resultado igual a 6, 7, 8 ou 9, que indica o tipo de linha que deve ser desenhada. Após a formação de cada linha, reúnem-se as quarenta e nove varinhas e reinicia-se o processo das manipulações, até que se tenham as seis linhas formadas. O consulente escreve, ao lado de cada linha, o valor numérico que a originou. Se, no hexagrama formado, houver linhas de número 6 ou 9, linhas mutantes, o consulente deve efetuar a sua mutação a fim de obter o segundo hexagrama, que também passa a fazer parte da resposta. O método das varetas é o mais antigo depois do método de provocar rachaduras em cascos de tartarugas (ou talvez examinar rachaduras naturalmente formadas). É também o mais complexo e demorado. 2.2 COMO ENTENDER A RESPOSTA: Uma vez formulada a pergunta - ou proposta a questão ao oráculo preferencialmente por escrito, da forma mais objetiva e clara possível; e realizada a consulta através de um dos métodos disponíveis, a saber, das varetas, das moedas, das cartas de baralho ou outro, e obtido um ou dois hexagramas como resposta, chega o momento de ler a resposta –
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hexagramas e linhas mutantes - e entendê-la, aplicando-a ao caso específico da consulta. O objeto da consulta é justamente o assunto da pergunta ou questão. Indica qual é a preocupação do consulente, a dúvida ou incerteza que ele quer esclarecer, a explicação que ele deseja obter. A pergunta gera a resposta. Uma pergunta específica gerará uma resposta igualmente específica para aquele caso. Uma pergunta muito ampla, ou a ausência de pergunta - o jogar em branco - gerará respostas talvez tão amplas que o consulente poderá ter dificuldades para encaixá-la na sua situação pessoal, para aplicá-la a alguma coisa em particular. Perguntas com duas ou mais hipóteses possíveis tornam confusa a resposta, pois pode não se saber a qual das hipóteses a resposta se refere. O melhor é formular perguntas sem alternativas, fazendo tantas consultas quantas forem necessárias para esclarecer um assunto. Em qualquer dos casos, não devemos esquecer que o oráculo revela, de uma dada realidade, aquilo que sabemos e aquilo que não sabemos, que não vemos, mas que está lá, latente, e influenciando a situação. Assim, ao não entendermos uma resposta, lembremo-nos de conectá-la à pergunta e aventemos a possibilidade de que a realidade da questão não seja exatamente aquela que imaginávamos. Ainda pode ocorrer que se pergunte uma coisa e o Yi Jing responda outra, que, embora não formulada, é a questão mais importante no momento, que deve ser resolvida prioritariamente. E convém observar que, se para um assunto negativo, obtivermos uma previsão positiva, isso significa um desenvolvimento do negativo, significa que o mal tende a progredir. Definido o objeto da consulta, dois elementos fundamentais devem ser levados em conta para a interpretação da resposta: a situação atual do sujeito da consulta em face daquele assunto, e as pessoas envolvidas na questão, com suas respectivas posições em face do assunto. O sujeito da consulta é a pessoa sobre quem se faz a consulta; pode ser o próprio consulente ou não. Geralmente, uma parte da resposta é a descrição da situação do sujeito da consulta. Por exemplo, se o sujeito está hesitante, inseguro, sobre o assunto da consulta, e o Yi Jing dá uma linha onde a tônica é a indecisão e o medo, provavelmente está, nessa linha, apenas refletindo a situação do sujeito, não se tratando, ainda, de uma previsão. Do mesmo modo, muitas vezes uma parte da resposta se refere ao sujeito da consulta e outra parte se refere a quem interage com ele, as pessoas envolvidas na situação ou que serão atingidas pela ação que se pretende realizar ou ver acontecer. Havendo várias linhas mutantes, e havendo várias pessoas envolvidas na questão, cada linha, provavelmente, diz algo sobre cada uma dessas pessoas. Certas indicações das linhas poderão ajudar a identificar de quem se trata, e, normalmente, não é muito difícil saber que linha descreve o nosso próprio comportamento e que linha fala do outro: o difícil é aceitá-lo.
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Ao ler a resposta, a seqüência correta é a seguinte: O consulente deve começar pelo primeiro hexagrama obtido e ler dele: o nome, que é muito importante porque dá a característica principal da situação; o Julgamento, que dá o panorama geral da situação como um todo; a Imagem, que dá os conselhos básicos para quem se encontra naquela situação; e as linhas mutantes (as que saíram com número 6 ou 9), que fornecem explicações, alertas, recomendações, tendências ou previsões específicas para os vários aspectos da realidade enfocada ou para as várias pessoas abrangidas pela questão. Por fim, deve verificar qual o hexagrama derivado da mutação das linhas mutantes obtidas e ler, desse segundo hexagrama, apenas o Julgamento e a Imagem. O segundo hexagrama complementa a resposta, geralmente apresentando um quadro amplo do desfecho, dos resultados, das consequências, do que resultará, enfim, dos movimentos apresentados pelo primeiro hexagrama. Ao falar do segundo hexagrama obtido, tem-se que considerar o fator tempo, tempo a que se refere a resposta. O tempo da resposta é definido pelo tempo a que se refere a pergunta. Não há, na língua chinesa, declinação temporal para os verbos, portanto é o consulente que, através da questão formulada, determina a época a que se reportam os enunciados do oráculo: o texto original do Yi Jing em geral não indica passado, presente ou futuro. Assim, se a consulta versa sobre um assunto do presente, o mais comum é que o primeiro hexagrama mostre a situação atual e o segundo mostre o provável futuro dessa situação, ou o futuro posicionamento do sujeito da consulta, face ao assunto. Mas também pode ocorrer que os dois expliquem o presente, dando informações sobre diversos aspectos da questão, por exemplo. Se, porém, a pergunta indaga sobre as causas de uma determinada situação do presente, e forem obtidos dois hexagramas, é possível que um explique a situação presente, e outro, as suas causas, reportando-se, portanto, ao passado. Aí somente o consulente é quem pode posicionar os fatos no tempo. Se a pergunta for toda sobre acontecimentos do passado, obviamente algum elemento da resposta deverá remeter ao passado e, do mesmo modo, se a pergunta for totalmente voltada para o futuro, deve-se ler a resposta como previsões ou conselhos para o futuro. Nada disso, porém, é rigidamente assim: pode acontecer, por exemplo, que numa pergunta sobre o futuro a pessoa receba como resposta recomendações claras para se ocupar de algum aspecto do presente. Se a pessoa tirou mais de uma linha mutante, os significados das várias linhas não se entrecruzam. Cada linha tem o seu significado, podendo mostrar um outro lado da questão, uma outra alternativa de ação ou uma ação complementar, mostrar o ponto de vista ou a condição dos outros participantes da situação, etc. Além desses significados básicos, cada linha deve ser entendida segundo seu próprio modo, ditado pelo seu conteúdo e por todo o contexto da consulta. Assim haverá linhas que devem ser entendidas como descrição do que acontece, outras como revelação, conselho, aviso, etc. Neste livro não é feita nenhuma tentativa Elisabete Araujo Leonetti
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de interpretação apriorística de cruzamento de linhas, pois isso, no meu entendimento, proporcionaria mais confusão do que utilidade. Entretanto, algumas considerações podem ser feitas. Por exemplo: várias linhas móveis contraditórias entre si podem estar mostrando vários rumos possíveis de ação ou as ações de várias pessoas; linhas complementares entre si podem estar indicando uma provável evolução ou gradação do assunto, tanto no tempo quanto no amadurecimento; e linhas com conteúdos diferentes podem simplesmente estar informando aspectos diferentes do assunto, ou do comportamento das pessoas, conforme afirmado acima. Uma coisa parece ser verdadeira quanto às linhas: se uma ou mais linhas mutantes contradizem aquilo que está dito no Julgamento, o consulente deve entender o Julgamento como o pano de fundo geral da situação, e as linhas como a indicação da sua situação específica naquele panorama geral; portanto, deve prestar mais atenção ao que dizem as linhas, e seguir as recomendações que elas trazem. Assim, se o Julgamento apresenta uma perspectiva positiva, e a linha apresenta uma perspectiva negativa, significa que, embora a situação seja, em princípio, boa, o sujeito da consulta tende a sofrer reveses ou dificuldades. Se, ao contrário, a linha é positiva, em contraposição a um quadro geral negativo, significa que o sujeito tem condições de se sair bem, apesar das dificuldades inerentes à situação em que se encontra. Qual das tendências se irá concretizar depende, normalmente, da atuação do sujeito da consulta na sua vida real. Quanto ao conteúdo da resposta, como um todo, acredito que, normalmente, o Yi Jing descreve o que e como as coisas são, o modo como o sujeito está agindo, e a que resultado isso tende a levar. Em resposta a pedidos de orientação, pode ocorrer, e freqüentemente ocorre, que o oráculo diga como as coisas deveriam ser posicionadas e como o sujeito deveria agir para atingir um determinado resultado. Mas, mesmo nesse tipo de questão, é usual vir, antes de tudo, um panorama da situação real, presente, e depois a tendência atual de evolução dos acontecimentos. E - é importante saber - nas suas descrições, panoramas, apanhados gerais ou indicações específicas, o Yi Jing raramente é neutro: geralmente ele é crítico, julga o que está ocorrendo. Por isso mesmo é que o enunciado declaratório inicial se chama Julgamento. Os critérios do Yi Jing para avaliação de uma situação são muito particulares. O ponto de referência principal é a adequação das coisas com as exigências e as possibilidades das circunstâncias em que se inscrevem, do momento: quanto mais de acordo com o momento, mais corretas são as coisas. Outro ponto de referência importantíssimo é o comportamento humano ideal: o mais nobre, o mais sábio, o mais equilibrado, o mais sensato, o mais educado, o menos arrogante, o menos teimoso, o menos bruto, entre outros, que exista, esse é o comportamento correto. Ao ser humano de comportamento ideal - correto, nobre, justo, virtuoso, sensato,
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equilibrado, civilizado, etc. - é que se indica com a denominação de pessoa sábia, cavalheiro ou homem superior. Também importantíssimo é o consulente ler o texto oracular original traduzido - que, neste livro, vem em negrito, logo após o subtítulo Julgamento - antes de ler a interpretação que ofereço, em seguida ao enunciado; pois, afinal, aquelas frases são, efetivamente, a resposta do oráculo à sua consulta. Muitas vezes poderá entender diretamente a mensagem contida nos enunciados originais, sem precisar reportar-se à interpretação. Outras vezes não a compreenderá, porque a linguagem oracular é, essencialmente, ambígua, enigmática e cifrada, apesar da excelente tradução feita por Jorge Vulibrum. A tradução de Jorge Vulibrum, aqui utilizada, parte das imagens implícitas nos traços do hexagrama e do seu ideograma correspondente, em chinês. Surge daí uma idéia coerente do rumo de significação que os diversos enunciados daquele hexagrama devem tomar, e cada enunciado – o Julgamento, a Imagem e as linhas – é traduzido levando em consideração as palavras e seu sentido literal, e o contexto da frase e do hexagrama em que aquele enunciado se insere. É tarefa do consulente aplicar os enunciados oraculares ao seu caso específico, utilizando minhas interpretações para ajudá-lo. De qualquer modo, os consulentes sempre têm que se esforçar para aplicar as respostas aos seus casos, seja entendendo diretamente os textos originais, seja usando as interpretações aqui propostas, adaptandoas às suas condições particulares. O Yi Jing abrange uma variedade e quantidade enorme de realidades, aplica-se a praticamente qualquer coisa que possa ser respondida discursivamente ou imageticamente e, portanto, é natural que seus enunciados sejam abertos e gerais. A interpretação que apresento também é o mais neutra possível. 2. LINHAS E CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO Nos seus primórdios, quando existiam apenas os riscos feitos nos cascos das tartarugas e os nomes dos desenhos assim formados, com algumas indicações sumárias, o Yi Jing devia atender ao homem comum e responder satisfatoriamente, pela boca dos adivinhos, a questões de toda espécie. Ao ser codificado pelo Rei Wen e pelo seu filho, o Duque de Chou, por volta de 1.100 a.C., segundo atestam os estudiosos, o texto oracular foi cristalizado, mas manteve a característica de ser aberto a múltiplas interpretações, dependendo do enfoque e do contexto, devido à ambiguidade e amplitude das suas sentenças. Como, aliás, convém aos oráculos.
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A partir daí,porém, começaram a manifestar-se os comentaristas do Yi Jing e a linha de interpretação que se firmou, vindo desde os antigos intérpretes chineses, dentre os quais destaca-se Confúcio, em aproximadamente 500 a.C., até Richard Wilhem, alemão, em meados do século XX, foi a de interpretação sob o ponto de vista do estadista, do indivíduo participante do governo de uma nação, que arma entendimentos políticos, outorga honrarias e privilégios, debela ou insufla rebeliões, comanda ou se engaja em revoluções, guerreia contra os inimigos, decide processos judiciais e disputas, aconselha-se com ministros ou com os espíritos dos ancestrais, atua como ministro, emissário, conselheiro, soldado, general, funcionário; governa, lidera, ergue templos, faz alianças, etc. Justifica-se tal direcionamento em épocas em que os livros eram escritos quase que exclusivamente para os detentores do poder, para uma camada muito pequena da população que sabia ler e escrever e tinha tempo para isto. Ao longo dos séculos o Yi Jing também tem interessado eruditos chineses que buscaram ver nele a linha do pensamento filosófico jacente por trás das instruções práticas que, como disse ao início, devem ter primeiramente interessado o homem comum. A partir do século XX dois caminhos têm-se mostrado os preferidos dos comentaristas: A linha do uso do Yi Jing como instrumento de autoconhecimento, que vai desde as reflexões de Carl Gustav Jung, às mais arbitrárias e delirantes viagens mentais de comentaristas norteamericanos, brasileiros e provavelmente outros, que desconheço, os quais, em meio a alguma interpretação corretamente baseada no texto oracular, colocam como “verdades” do Yi Jing crenças particulares suas, algumas bem pessoais. E a linha de uso do Yi Jing como oráculo de amplas aplicações, onde se destaca positivamente Jean-Philippe Shlumberger, francês que, combinando análise técnica com intuição interpretativa, realiza um trabalho de peso que se aproxima mais do entendimento puramente teórico do que da aplicabilidade à vida prática, à linha do uso do Yi Jing como conselheiro, principalmente para assuntos matrimoniais, amorosos. Dentre estes últimos há trabalhos mais ou menos sérios, mais ou menos originais, mais ou menos bons. Há tantas edições no mercado que citar algumas aqui seria, talvez, insinuar um preferência que não existe, porque nenhum chegou a me fornecer uma orientação clara e segura em qualquer assunto. Elisabete Araujo Leonetti
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Não como comentaristas, mas como tradutores, destacam-se Wilhem, já citado, James Legge e John Blofeld, ingleses. Não são os únicos, mas são talvez os mais sérios tradutores do Yi Jing diretamente da língua chinesa, e que apresentaram trabalhos confiáveis. Mais recentemente, hoje, Jorge Vulibrun, argentino radicado no Brasil e naturalizado brasileiro, inconformado com as discrepâncias encontradas entre as traduções existentes, bem como com a falta de sentido de muitas das sentenças do Yi Jing, iniciou uma pesquisa do significado literal das palavras chinesas utilizadas em cada hexagrama, no nome e no texto. O resultado dessa pesquisa foi uma nova tradução do Yi Jing, livre, tanto quanto possível, de tendências interpretativas. Foi esta tradução que adotei para a elaboração do meu livro de interpretação do Yi Jing. Aqui, portanto, os textos oraculares são os originais chineses traduzidos por Jorge, e a interpretação deles é minha. Por incrível que pareça, o texto oracular, assim depurado de séculos de indicações dos comentaristas sobre o sentido em que as palavras deveriam ser tomadas, tornou-se mais acessível, adquiriu, em muitos momentos, uma limpidez tal que permite o entendimento direto. Em outros momentos a complexidade dos conceitos abarcados pelas palavras ou o caráter enigmático das frases não permitem um penetração tão rápida no sentido. De qualquer forma, a tradução de Jorge Vulibrun é, para mim, a mais confiável de todas, por respeitar diferenças sutis entre vocábulos e traduzir por palavras diferentes em português coisas que foram nomeadas por palavras diversas em chinês, mesmo que o seu significado seja tão parecido que possa até ser confundido. E também por construir, em português, sentenças inteligíveis, logicamente aceitáveis, quando possível e cabível, mas não o fazer quando isto implicaria um aumento ou diminuição ou distorsão do que havia sido dito originalmente em chinês. Acompanhei de perto o trabalho de tradução e sei que em nenhum momento o conteúdo foi sacrificado em função do aspecto formal. A interpretação que ora apresento baseia-se em alguns critérios: O primeiro critério adotado foi o da fidelidade ao texto original traduzido: toda a interpretação partiu antes do texto do que dos desenhos, embora, na seqüência, estes fossem considerados: linhas, trigramas e hexagramas como um todo. A tradução adotada, de Jorge Vulibrum, foi respeitada na íntegra. Elisabete Araujo Leonetti
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O segundo critério foi o da neutralidade: procurei ao máximo não emitir opiniões nem conceitos pessoais; tudo o que é dito baseia-se no Yi Jing, não no que eu penso. Fui tão impessoal quanto possível. Ao emitir algum parecer individual, entretanto, deixei claro que se tratava do meu entendimento pessoal, não misturando as coisas. O terceiro critério foi o de considerar, na interpretação de cada linha, a linha para a qual ela mudaria, se fosse mutante. Esse conceito me foi introduzido por Jorge Vulibrum que, em seus estudos do Yi Jing, detectou a estreita relação existente entre as linhas mutantes e as suas derivadas. Assim, não há necessidade de o consulente ler, de cada linha mutante obtida, a sua viração: na interpretação da linha tirada já está incluído o significado da linha para a qual ela mudaria, na forma de um complemento de alerta, confirmação, admoestação, resultados, etc. A mensagem mais forte é a da linha originalmente obtida, naturalmente; a da linha virada é complemento, muitas vezes reforço do significado da primeira. O quarto critério foi o de considerar, na interpretação de cada linha: o fato de ela ser aberta ou fechada, a sua posição dentro do hexagrama e dentro dos trigramas em que se insere, o seu relacionamento com as demais linhas do mesmo hexagrama, as características das linhas com que se relaciona e os significados tradicionais dos trigramas a que pertence e dos trigramas a que não pertence, e tudo isso de novo após a mutação da linha. No entanto, não coloquei neste trabalho a explicação de todos esses pormenores, a fim de não complicar a interpretação com um excesso de informações que, via de regra, não interessam ao consulente: basta-lhe saber que todos esses fatores - e ainda alguns outros, esporadicamente foram considerados. O quinto critério foi o de redigir um texto claro e fluente. (Motivo pelo qual, aliás, foram suprimidas as infindáveis explicações técnicas mencionadas acima.) Procurei compensar a complexidade e dificuldade do conteúdo com alguma simplicidade na redação, que pudesse resultar em facilidade na leitura.
Elisabete Araujo Leonetti
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TABELA HEXAGRAMAS
1
34
5
26
11
9
14
43
A Iniciativa
Fortalecen do o grande
Esperando sem inquietarse
Contido pelo grande
Fluindo harmonica mente
Contido pelo pequeno
Manifestan do-se com grandeza
Afastando com determinaç ão
25
51
3
27
24
42
21
17
Agindo sem se esforçar
Assustado por um abalo
Começand o com contratemp os
Nutrindo-se adequada mente
Ressurgind o positivame nte
Aumentand o as responsabil idades
Mordendo para unir
Acompanh ando as circunstânc ias
6
40
29
4
7
59
64
47
Disputando inutilmente
Liberando tensões
Treinando no abismo
Superando ignorância
Liderando com experiência
Dispersand o a rigidez
Ainda não atravessad o
Esgotado pela conjuntura
33
62
39
52
15
53
56
31
Recolhend o-se num refúgio
Excedendo -se sendo pequeno
Obstruído pelas dificuldade s
Controland o seus impulsos
Cedendo com modéstia
Desenvolv endo-se gradualme nte
Viajando pelo exílio
Estimuland o-se mutuament e
12
16
8
23
2
20
35
45
Paralisado pela incompatibi lidade
Prevenindo excessos
Aproximan do-se mutuament e
Desgastan do-se perigosam ente
A Conformida de
Observado de longe
Progredind o paulatinam ente
Agrupando pelo exemplo
44
32
48
18
46
57
50
28
Acolhendo o inesperado
Navegando na tormenta
Sustentand o como um poço
Endireitand oo deteriorado
Crescendo suavement e
Obedecend o docilmente
Transforma ndo-se profundam ente
Excedendo -se sendo grande
13
55
63
22
36
37
30
49
Integrando pessoas com suavidade
Lidando com a abundância
Após ter atravessad o
Enfeitando com requinte
Abafando sua luz
Organizand o uma família
Aderindo como o fogo
Renovando radicalment e
10
54
60
41
19
61
38
58
Andando com cuidado
Comprome tendo-se precipitada mente
Limitando equilibrada mente
Diminuindo o supérfluo
Observand o de perto
Confiando intimament e
Divergindo construtiva mente
Satisfazen do-se positivame nte
♦= 8 ♣ = 7 ♦ = 9 ♥ = 6
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 1: A INICIATIVA
JULGAMENTO: “A INICIATIVA é primordial e influente, é conveniente insistir.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing revela que estamos numa situação em que o empreendimento de uma ação é necessário, útil ou desejado. Trata-se de um momento denso de possibilidades, de potencialidades. Não é dito, porém, que a ação vá acontecer, ou que, acontecendo, tenha resultado positivo: isso vai depender de haver capacidade promotora no sujeito da consulta e de haver receptividade no meio. Se o meio e as circunstâncias não estiverem conformes com a ação gerada pela iniciativa, ela permanecerá apenas como potencialidade, não terá efetividade. Se o sujeito da consulta não estiver pronto para agir, ou não estiver à altura das qualidades requeridas pelo ambiente ou pela própria matéria da consulta, não conseguirá os resultados desejados. Se a ação empreendida for inadequada para os fins propostos, ou se o sujeito da consulta simplesmente abdicar de agir, também não se chegará ao ponto almejado. A iniciativa é o impulso que dá origem aos processos. Ela modifica o que se lhe apresenta. No momento da iniciativa são lançadas as sementes, muitas vezes diminutas e invisíveis, das coisas que virão a acontecer, que ainda não aparecem, mas já estão ali, sendo geradas e influenciando o futuro. Estando o sujeito capacitado e o meio, receptivo, então é conveniente agir. Empreendida a ação, seus efeitos terão duração dinâmica no tempo, com evolução de padrões. Há, na situação como um todo, tendência ao movimento e à transformação. Para o empreendimento da ação, requer-se, do sujeito da consulta, soberania nas decisões. Mesmo que se aconselhe com outros, mesmo que atue em equipe, com ajuda e solidariedade de colaboradores, ele deve ser o verdadeiro autor e mentor daquilo que empreende. Isso não quer dizer que a pessoa não tenha que se conformar com determinados fatores, mas sim que ela pode ou virá a poder provocar
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mudanças radicais na conjuntura existente na matéria da consulta. A tendência da pessoa dotada de iniciativa é mexer com o que está aí. Havendo dificuldades ou opositores no percurso da ação, a pessoa deve enfrentá-los. Essa é a previsão básica para quem obteve este hexagrama sozinho, sem linhas mutantes, ou como segundo, caso em que a situação aqui descrita é a provável conseqüência do desenrolar da situação do hexagrama primitivo. Havendo-se obtido este hexagrama como primeiro, com linhas mutantes, a previsão das linhas modifica a previsão geral, restringindo-a ou complementando-a. Geralmente, as linhas indicam a oportunidade, a correção e outras especificações da ação pretendida, bem como suas fases e as condições particulares das pessoas envolvidas, principalmente do sujeito da consulta. IMAGEM: "A ação do Céu é vigorosa. Assim, a pessoa sábia se fortalece a si mesma sem parar." A ação do céu são os atos divinos, que criam todas as coisas e a vida, e regulam a existência de todos os seres e de todos os processos. Ao obter, na consulta ao Yi Jing, o hexagrama A Iniciativa, o consulente sabe que está diante de uma situação de grande potencial criativo; uma situação que requer, agora ou mais adiante, uma ação determinada e criadora, não uma ação hesitante e repetidora. O conselho da Imagem é de que a pessoa, para exercer a ação criadora, se inspire no modelo da ação divina. Para tanto, deve tornar-se forte, cheia de energia, porque sem força, sem competência, não poderá empreender o que quer. A capacidade de resistência é uma decorrência da própria força adquirida. 1ª LINHA (9): “Dragão submerso não é eficiente.” Em princípio, a pessoa representada por esta linha, no momento focalizado pela consulta, possui todas as qualidades básicas necessárias para a ação que pretende empreender ou que lhe é solicitada: é correta, autêntica, modesta (no sentido de não ser arrogante nem exibida), autosuficiente e perfeitamente inserida no seu ambiente, no seu meio. Com relação à matéria da consulta, ela é ela mesma, plenamente, e tem um grande potencial de realização. No entanto, não deve ou não pode agir como gostaria. Por enquanto, não poderá fazer o que pretende, seja por não estar suficientemente preparada e disponível para todos os desdobramentos que a ação Elisabete Araujo Leonetti
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produziria, seja porque o meio não corresponde às suas expectativas, ou por ambos os motivos e talvez ainda outros. De qualquer modo, há uma desarmonia, um descompasso, entre a pessoa e as circunstâncias vigentes, de forma que a ação, ou não ocorrerá ou, se ocorrer, será ineficiente, não provocará os resultados e mudanças desejadas. Se a pessoa agisse assim mesmo, não poderia avançar muito, pois logo encontraria oposição e seria detida: como as circunstâncias não estão prontas ou não são adequadas para a sua atuação, esta seria mal recebida, podendo até ser considerada como algo nocivo que ameaçasse o modo como as coisas estão estabelecidas. Sua capacidade de influência sobre o meio (incluindo os outros) ainda é praticamente nula. A pessoa, neste momento, tem que se conformar com as circunstâncias, não pode fazer com que as circunstâncias se conformem à sua vontade. Apesar de ser jovem, ou de ser incipiente na matéria da consulta, ela tem consciência desse fato e não se deixa abater. Se saíram outras linhas mutantes, é provável que esta 1ª linha indique apenas a etapa inicial da atuação do sujeito da consulta, quando nem ele está completamente pronto para agir, nem o meio estaria pronto para corresponder satisfatoriamente à sua ação, caso ele agisse. 2ª LINHA (9): “Vê-se o dragão de novo no campo, é conveniente ver o grande homem.” Aqui a pessoa se dispõe a empreender uma ação, provavelmente já não pela primeira vez. Apesar de já possuir todas as qualidades básicas necessárias para o empreendimento que intenta, ela ainda não está totalmente preparada para o que tem pela frente. Pode ocorrer que ocupe uma posição subalterna ou de não muito prestígio, e, por isso, é recomendado que busque aconselhamento, orientação e, talvez, treinamento. Trata-se de uma pessoa que, pelo menos com relação à questão da consulta, é correta, equilibrada, sincera, cautelosa, e que não se deixa corromper para atingir seus objetivos. Sua influência sobre o seu meio é benéfica, mas ela, modestamente, não se vangloria disso e procura o próprio aperfeiçoamento. Por tudo isso ela é bem recebida, tanto pelos seus superiores quanto pelos seus pares, quando se apresenta para participar de alguma atividade ou quando se propõe a dar início a algum processo. Por enquanto, só deve procurar empreendimentos que seguramente não ultrapassem as suas capacidades e possibilidades e, mesmo assim, buscando orientação de pessoas mais sábias e experientes ou inspirandose em modelos comprovadamente bem sucedidos na matéria da consulta, pois o momento ainda não é adequado para grandes vôos. A pessoa pode Elisabete Araujo Leonetti
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almejar e até planejar grandes feitos agora, mas ainda não é chegada a hora de realizá-los. Há, na pessoa desta linha, uma tendência à expansão, à bondade e à generosidade, que ela deve desenvolver. Se decidir fechar-se com um grupo restrito, ou ficar atuando só entre os seus parentes e familiares, não conseguirá nada do que pretende: desperdiçará suas qualidades - que são muitas e boas - e perderá oportunidades de realmente progredir na matéria da consulta. Esta linha mostra o momento de iniciar a agir, de ir à luta, procurar novos campos de ação, expandir-se, aconselhar-se, sempre de uma forma aberta, procurando unir-se a pessoas e unir pessoas a si de uma maneira não exclusivista. 3ª LINHA (9): “A pessoa sábia mantém uma forte iniciativa até o fim do dia, mas à noite parece alarmada; sendo prudente não erra.” A atuação da pessoa indicada pela 3ª linha se caracteriza por iniciativa e ação desenfreada. Ela se apresenta completamente imersa em atividades. No seu agir se manifestam as suas qualidades: lealdade, sinceridade, senso de justiça, confiabilidade e infatigabilidade. Tanto faz se está em posição de comando ou subalterna: trabalha da mesma forma, sem se vangloriar nem se lastimar. No entanto, com relação à questão específica da consulta, toda essa atividade pode não representar avanço, seja porque lhe falte objetividade, seja porque os seus próprios excessos a esgotem, deixando-lhe pouca energia para aplicar à questão. Também pode ocorrer que ela utilize a absorção total no trabalho ou em atividades várias como um artifício, provavelmente inconsciente, para encobrir sua insegurança e temores com relação à matéria da consulta, evitando, assim, enfrentá-la diretamente. A falta de medida na atividade pode levar a pessoa a cometer excessos em alguns pontos e falhas em outros, por isso ela deve ser prudente, tomando cuidado no sentido de evitar erros de desvio ou desequilíbrio. Também deve cuidar para não atrair inveja e rivalidade no seu meio. E, ainda, deve cuidar para que a urgência e a voracidade não a levem a atropelar-se, prejudicando toda a situação.
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O conselho para essa pessoa é que, para evitar reveses, tenha mais prudência ao agir e não superestime suas capacidades que, embora muitas, não são ilimitadas. 4ª LINHA (9): “Duvidando em pular está nas profundezas, mas não erra.” A ação da pessoa a quem se refere esta linha é caracterizada pela dúvida, incerteza e insegurança. Isso se deve ao fato de que a situação não apresenta regras fixas. A conjuntura onde a ação da pessoa da 4ª linha deveria se inscrever é de tal modo instável e frouxa que a decisão sobre que conduta tomar depende inteiramente dela, e falta-lhe chão onde se apoiar. Ela mesma, por outro lado, não está numa posição que lhe permita agir com independência e/ou poder sobre as circunstâncias. Provavelmente está muito no início da ação e ainda não vê claramente nem o entorno nem as perspectivas futuras do empreendimento. A cautela, aí, é um poderoso recurso, pois evita que cometa erros e a ajuda a aproveitar as oportunidades. Apesar disso tudo, a pessoa deve avançar, deve agir, superando sua desconfiança e dúvida. Se o conseguir, tanto o rumo da sua atuação quanto a sua posição na matéria da consulta deverão sofrer uma alteração significativa. O oráculo recomenda que, na falta de outros pontos de apoio, a pessoa se apegue ao seu grupo e às normas da conduta correta. Se esta foi a única linha mutante obtida, e a pessoa optar por não pular para o estágio seguinte, deve considerar se não está se deixando deter por algum elemento pequeno, algum fator que, em princípio, não deveria ter o poder de refrear o seu desenvolvimento. Mas também tem-se que considerar que, embora inferior e pequeno, o tal fator bloqueador existe, e, se o caminho estiver realmente fechado, a pessoa acaba se salvando pela sua dúvida e falta de confiança, não investindo onde não adianta investir. Uma análise objetiva de si mesma e do meio mostrará se o bloqueio está dentro ou fora da pessoa, e qual a atitude certa a tomar. Como já foi dito, não há regras fixas para este caso. O que fica como declaração desta linha é que as dúvidas existentes, e a conseqüente insegurança e cautela, são fundamentadas e úteis, mas não devem, sem uma análise mais apurada, deter o avanço da pessoa: avançar não está errado. 5ª LINHA (9): “Dragão voando no céu, é conveniente ver o grande homem.” Esta linha mostra a pessoa dominando a situação enfocada pela consulta.
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Sua ação é extremamente profícua, gerando processos que tendem a crescer e elevar-se. Exerce influência sobre tudo em redor. Age de acordo com o tempo e em harmonia com o meio e as circunstâncias, de modo que não encontra oposição, mas sim novas oportunidades de se expandir, podendo se manifestar com grandeza. Assim, se a pergunta ao oráculo foi sobre a conveniência ou a oportunidade de alguma ação ou associação, e só esta linha foi obtida, ou foi obtida juntamente com outras também de prognóstico favorável, a resposta é afirmativa: sim. De um modo geral, os outros confiam tranqüilamente na pessoa da 5ª linha, porque ela é franca quanto às suas intenções e objetivos, é de fácil convívio e não é manipuladora. Para associar-se ou para aconselhar-se, deve procurar alguém de nível elevado, pois ela mesma já é uma grande pessoa, e deve unir-se a quem lhe seja afim, em termos de energia e desenvolvimento pessoal. 6ª LINHA (9): “Dragão que se excede sentirá remorso.” O sujeito da 6ª linha, pelo exercício das suas excelentes qualidades, corre o risco de tornar-se orgulhoso, arrogante, exigente demais ou crítico demais com relação aos outros, ambicioso e confiante demais com relação a seus próprios projetos. Isso levaria a um isolamento ou um afastamento do sujeito, pois tais atitudes não encontrariam correspondência com o meio. Esta linha contém uma clara advertência contra os excessos, avisando o consulente de que não conduzirão a bom termo, alertando-o de que não será desse modo que a questão da consulta terá - e conservará bom desenvolvimento. A pessoa deverá agir com energia, decisão e veemência para evitar os excessos que ameaçam se impor. Se permitir o descontrole, o transbordamento de iniciativa e energia criadora, virá a se arrepender, porque aí a situação não durará muito tempo, esgotar-se-á logo. PARA TODAS AS LINHAS: “Ver um bando de dragões sem cabeça é benéfico.” Todas as linhas deste hexagrama revelam que existe a semente da iniciativa, no sujeito ou no objeto da consulta. Porém, a iniciativa e a energia criadora não se devem transformar unicamente em autoritarismo na emissão de idéias e projetos: o sujeito deve atuar em colaboração e harmonia com os outros e com o meio. Obter todas as linhas mutantes indica uma forte tendência a uma ação equilibrada, que busca conformar-se ao momento e ao meio e, assim, ser conduzida até o fim. Elisabete Araujo Leonetti
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Nem sempre isso será possível. Muitas vezes a pessoa terá que esperar por circunstâncias mais convenientes. Mas a disposição de agir, de efetuar mudanças, dentro do princípio do equilíbrio, está aí presente, e só isso, segundo o Yi Jing, já é positivo.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 2: A CONFORMIDADE
JULGAMENTO: “A CONFORMIDADE é primordial e influente, é conveniente a insistência de uma égua. A pessoa sábia tem aonde ir, ainda que desordenadamente, porque primeiro duvida e depois encontra um mestre. É conveniente encontrar camaradas no sudoeste e perdê-los no nordeste. Insistir com calma é benéfico.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing revela que estamos numa situação em que o estabelecimento de uma condição é útil, desejável, necessário ou inevitável. O estabelecimento da condição se dá a partir da ação gerada por uma iniciativa qualquer, geralmente vinda de fora ou de antes, à qual se dá sustentação e apoio. Essa condição, uma vez estabelecida, deverá ter duração estática no tempo, configurando-se numa continuidade com repetição de padrões. Há, na situação como um todo, uma tendência à imobilidade e ao congelamento. A conformidade aceita o que se lhe apresenta. De um modo geral, a ação só é requerida para a manutenção de uma condição, se esta já existir. Se ela ainda não estiver instalada, não o será unicamente pela decisão e ação do sujeito da consulta, por mais que este se empenhe e tome iniciativas. Geralmente, as associações ou empreendimentos novos pretendidos não se desenvolverão: discretamente, sem grandes alardes ou abalos, congelarão, não passarão de um certo ponto. Por outro lado, aqueles empreendimentos e associações que já estão consolidados e em andamento tendem a prosseguir por um tempo indefinido, de forma meio indeterminada, mais ou menos mesmamente, sem grandes alterações estruturais. Se a questão envolver definição de local ou posição, a indicação é de que o sul ou o oeste, ou o sudoeste, ou o mais para baixo é o mais conveniente, em oposição ao norte, leste, nordeste ou o mais para cima. Obtido como segundo na consulta, geralmente indica, com relação aos processos desencadeados anteriormente, ou a sua conclusão - na Elisabete Araujo Leonetti
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maior parte das vezes negativa, o congelamento - ou a sua manutenção do jeito em que estão, sem que seja preciso promover nenhuma ação específica, ou seja, uma espécie de estagnação. Também pode indicar que os movimentos do primeiro hexagrama, se realizados, não modificarão substancialmente a realidade enfocada pela consulta; tudo continuará basicamente como antes. De um modo geral, se o sujeito da consulta se conforma com o quadro que se apresenta, a questão chega a um ponto em que, se ele quiser, não precisará mais se preocupar com aqueles assuntos: é só abandoná-los ou deixá-los seguir como são. Em resumo, obter o hexagrama 2, como primeiro ou como segundo, tanto faz, exige do sujeito da consulta uma conformidade com o estado em que as coisas estão, pois indica que elas continuarão mais ou menos como estão. Nossos esforços para efetuar mudanças podem ocorrer, mas geralmente não darão em nada. Se quisermos mudanças radicais, teremos que buscar outro caminho, que não o da conformidade. Se a pergunta ao oráculo versou sobre uma pessoa ou entidade, este hexagrama nos revela que aquela pessoa ou entidade possui uma tendência à aceitação passiva das circunstâncias vigent es. Mesmo sem ser servil, costuma acatar a ordem imperante sem se revoltar de fato; age de acordo com as exigências do momento, e não de forma soberana (pelo menos no que diz respeito ao assunto da consulta); desenvolve grandes tarefas pela terra, quase sem limites, mas não se alça ao céu. Sem conseguir modificar o meio e as pessoas, busca neles o que mais lhe convém e utiliza-o, de forma persistente. Confrontada com uma possibilidade nova ou a necessidade de uma decisão, não decide nem age imediatamente e com segurança, embora tivesse capacidade para fazê-lo, mas duvida e aguarda uma orientação. Para o estabelecimento da condição prevista por este hexagrama, requer-se, do sujeito da consulta, conformidade com uma direção vinda de fora, que tanto pode ser de uma pessoa, um mestre, quanto de um modelo qualquer que seja confiável. Mesmo que tenha capacidade de, uma vez iniciado o processo, desenvolvê-lo ativa e eficientemente, por um longo tempo, ele não pode decidir soberanamente, nem pode atuar sozinho: há dependência da decisão e da ação de outros para o bom desenvolvimento da questão da consulta. O momento não é adequado para se tomar a iniciativa e exercer a liderança; ao contrário, a pessoa agirá sabiamente, nesta ocasião, se se dispuser a seguir, ou seja, a continuar no rumo em que já está, ou se se dispuser a aceitar que outras pessoas mais capazes, ou as próprias circunstâncias, lhe determinem o rumo a tomar. Isso não quer dizer que a pessoa não tenha iniciativa, mas sim que a sua possibilidade de iniciativa está condicionada a uma conjuntura sobre a qual a ela não tem poder de exercer mudanças radicais: ou aceita ou sai fora.
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Na hora da ação, da execução das tarefas, a pessoa deve procurar associar-se com aqueles que se assemelham a ela, no sentido de terem afinidades para trabalhar juntos, com produtividade e companheirismo. Mas na hora do planejamento e da avaliação das ações, a pessoa deve reservar um tempo e um espaço para estar só consigo mesma e com seus dirigentes ou parceiros mais próximos, na quietude e no recolhimento, para receber a orientação necessária ao andamento do processo. No caso de se tratar de um indivíduo apenas, solitário, ele deve tentar calar as diversas vontades conflitantes dentro dele, a fim de poder distinguir aquilo que expressa a conduta certa a seguir. Nesses encontros e reflexões é que a pessoa acha a verdadeira recompensa pela sua atuação, pois o trabalho em si, o movimento, a ocupam, mas não a realizarão se não estiverem vinculados a um significado maior. Havendo dificuldades ou opositores no percurso da ação, a pessoa deve evitá-los ou defender-se. Segundo a minha experiência, dependendo das expectativas do consulente, a obtenção deste hexagrama pode ser um pouco frustrante, uma vez que ele desencoraja a ação enérgica e recomenda, para o bom desenvolvimento da situação em geral, insistir com calma, com dedicação e maleabilidade. As linhas móveis obtidas acrescentam um detalhamento, um encaminhamento, uma advertência ou uma limitação à previsão geral. IMAGEM: "A tendência da Terra é a Conformidade; a pessoa sábia, por seu potencial fecundo, dá sustentação a todos os processos." A Imagem ressalta a capacidade da Terra de receber e carregar todas as coisas, sem perder a própria identidade. Ela se adapta às exigências dos processos que nela se instalam, desenvolvendo cada um para o seu fim específico. Com relação à questão da consulta, isso pode ser uma recomendação à pessoa para receber o que lhe vier - de fora - e doar o que for necessário - de dentro - sem fazer escolhas ou restrições de nenhum dos lados. Em suma, requer-se, do sujeito, um comportamento generoso e profícuo, mas sem autonomia; uma atitude passiva, porém forte e firme, como a terra, pois o que se apóia necessita de solidez no apoio. A fraqueza não é capaz de dar sustentação a nada, e a mesquinhez é incapaz de dedicação. Essas são as qualidades requeridas pela situação, no momento, e essa é a condição do sujeito que obteve A Conformidade como resposta, com relação à matéria objeto da consulta ao oráculo. Elisabete Araujo Leonetti
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1ª LINHA (6): “Andando pela geada se chega até o gelo sólido.” No momento indicado por esta linha, a pessoa está avançando para uma situação na qual, se entrar, ficará por bastante tempo, provavelmente até que passe o ciclo existencial do processo em curso. Porém, neste momento, ainda é possível voltar. Se continuar, as coisas congelam. A pessoa deve prestar atenção aos sinais reveladores do caráter da situação aonde está se envolvendo, a fim de ver se tende ao positivo ou ao negativo, e, em qualquer dos casos, deve interromper a sua trajetória aqui, neste ponto, onde ainda há possibilidades positivas para ela. Se for necessário, deve não só parar mas afastar-se, retornar à sua condição anterior o quanto antes, sem remorso, pois não é errado sair fora enquanto ainda pode. 2ª LINHA (6): “Reto, amplo, grande: ainda que não se esforce, nada lhe será inconveniente.” Pela sua eficiência e pela facilidade com que exerce a organização e o comando de uma multiplicidade de processos, a pessoa da 2ª linha pareceria fugir ao espírito de conformidade que perpassa todo este hexagrama. Mas, na verdade, ela organiza, lidera e comanda apenas dando continuidade a um plano maior pré-estabelecido, e não toma iniciativas que não sejam as estritamente necessárias para o bom andamento dos processos pertinentes àquele plano. (Esse plano pode não estar claro e nítido na consciência de todos os elementos envolvidos, mas está lá, como pano de fundo da movimentação dos personagens.) É certo que ela o faz com absoluta correção, equanimidade, justiça e confiança em si própria. Sua firmeza e solidez lhe vêm de sua posição na matéria da consulta: ela não precisa esforçar-se para adquirir nada. Seu grande conhecimento sobre os assuntos em pauta e sobre o que é esperado dela não lhe deixam dúvida sobre como agir, e ela executa suas tarefas com facilidade, sem esforço, porque é da sua natureza o agir assim. Desse modo, tudo costuma dar certo, e poderes lhe são outorgados repetidamente. Esta linha representa o máximo de realização possível, na matéria enfocada pela consulta, dentro das circunstâncias vigentes. 3ª LINHA (6): “Escondendo suas qualidades pode insistir,
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mas, caso atenda os assuntos de um rei, deve terminá-los sem melhorá-los.” Esta linha recomenda que a pessoa prossiga naquilo que está desenvolvendo, mas de forma modesta e discreta. Não deve mostrar suas capacidades, talentos e qualidades - e muito menos se vangloriar delas - embora as possua e possivelmente as utilize secretamente. No final, o próprio trabalho concluído revelará o valor de quem o produziu, sem que haja necessidade de o autor anunciá-lo. Se estiver prestando serviços a alguém, ou se, de qualquer forma, tiver que interagir com alguém em posição superior à sua, deve fazê-lo de tal modo que pareça que os méritos são todos do outro, e jamais deve apontar qualquer falha ou defeito, nem fazer sugestão de melhoramento no trabalho, na proposta ou na atuação do outro. Isso é uma atitude sábia que lhe será de grande valia. A ordem agora é conformar-se e ceder com modéstia. No devido tempo seu valor aparecerá, seu mérito será reconhecido e sua influência se exercerá enormemente. 4ª LINHA (6): “Fechado como uma mala não erra, mas também não recebe elogios.” Esta linha é basicamente uma recomendação de cautela: a pessoa está numa situação, ou diante de uma decisão, que requer muito cuidado e onde a máxima discrição é necessária, tanto em atos quanto em palavras. Se ela não fizer nada, nem sequer se manifestar abertamente, não incorrerá em erro, embora também perca a chance de, eventualmente, acertar e ser elogiada. Porém o mais importante é que se salvará de se prejudicar. Assim, se a pergunta for sobre algo que se quer fazer, o melhor é não fazê-lo. Se for sobre algo que a pessoa fez, o melhor era não ter feito, mas já que fez, então fique quieta. Se a pergunta for sobre a ação de outros, não dê opinião. Se esta foi a única linha mutante obtida, para passar este momento delicado a pessoa deve prevenir excessos, pois podem gerar desequilíbrio. O modo de fazer isso talvez seja contendo o seu entusiasmo por alguma coisa. E deve enfrentar as críticas dos amigos sem sofrer dúvidas íntimas, porque suas intenções deverão produzir grandes ações, de forma sutil e reservada. Caso tenha havido outras linhas mutantes, prevalece, para esta, o conselho de reserva e cautela. 5ª LINHA (6): “Uma saia amarela é primordialmente benéfica.”
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A 5ª linha mostra uma pessoa correta, centrada em si, equilibrada, discreta e modesta, profunda, moderada, nobre, refinada e autêntica. Ao mesmo tempo, traz uma recomendação à pessoa para que, apesar de possuir essas qualidades vantajosas, não tente forçar situação nenhuma, não tente conduzir demais as coisas para atenderem às suas pretensões, porque o momento não é propício à iniciativa e à imposição, mas sim à conformidade. Se for o próprio sujeito da consulta que estiver representado por esta linha, e ela tiver sido obtida sozinha, as perspectivas quanto ao desenvolvimento da questão da consulta não são muito animadoras, pois ele não irá tomar nenhuma atitude que obrigue os demais participantes a colaborarem com ele. Apenas se aproximará, mostrará suas intenções de forma elegante e clara, e os deixará livres para se posicionarem conforme seus desejos, não havendo previsão de que conseguirá alguma adesão. De qualquer modo, é bom e correto que ele seja assim como é, embora isso, por si só, não lhe garanta resultados positivos com relação à questão da consulta. 6ª
(6): “Dragões lutando no campo, mostrando seu sangue azul profundo e amarelo.” LINHA
Esta linha mostra o esgotamento da conformidade. Possivelmente trata de situações que atingiram o máximo de desenvolvimento possível, dentro das circunstâncias vigentes, e não se podem conservar, no estado que atingiram, para sempre. No entanto, nem assim a pessoa consegue atingir plenamente os objetivos que almejava, ou seja, se alçar ao céu: ela é combatida ainda enquanto está no seu próprio campo de ação habitual, na terra. Nesse combate, fortalecida pela experiência e conhecimentos adquiridos, a pessoa é ferida mas não é totalmente destroçada; porém terá que mudar de rumo: não conseguirá avançar mais pelo caminho que chegou ao fim. Se a pessoa agir com sabedoria neste momento, conseguirá importante ajuda, provavelmente baseada no reconhecimento do tanto que já fez. Se a pessoa agir com ignorância ou vileza, terá, pelo contrário, destruídas suas possibilidades de obter proteção e auxílio. Se o esgotamento da conformidade não for do próprio sujeito da consulta, mas de outra pessoa ou elemento que interage com ele, então ele deve prevenir-se contra um possível inconformismo e enfrentamento por parte de seus parceiros ou colaboradores. Se for ele o elemento inconformado, deve aceitar a derrota por enquanto, ou seja, conformar-se uma vez mais, e procurar um novo caminho.
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PARA TODAS AS LINHAS: “É conveniente uma insistência duradoura.” A persistência, por muito tempo, numa determinada condição, proporciona uma plataforma de sustentação para novas iniciativas. Por isso aquilo que, aparentemente, é só conformidade, aceitação ou acomodação acaba por se revelar grande e valioso, podendo gerar processos novos e influenciar toda uma situação.
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HEXAGRAMA 3: COMEÇANDO COM CONTRATEMPOS
JULGAMENTO: “COMEÇANDO COM CONTRATEMPOS; porque é primordial e influente, é conveniente insistir, mas não é útil ter aonde ir, é conveniente apontar feudatários.” Este hexagrama revela que haverá - ou já está havendo dificuldades no desenvolvimento da questão objeto da consulta. É muito provável que o assunto esteja nos seus começos, ou que as dificuldades surjam concomitantemente com um início da atuação do sujeito da consulta em alguma atividade ou empreendimento. De um lado, há movimento ou desejo de concretização de algo; de outro, obstáculos que se opõem a esse movimento ou desejo. Apenas através de uma ação que se desenvolva desde os fundamentos da realidade a que se refere a consulta, procurando influir nela com insistência, na busca do que lhe convém, é que a pessoa poderá enfrentar as dificuldades que se apresentam. No entanto, é pouco provável que consiga realizar já o que pretende: o momento atual é o de tentar superar as dificuldades; depois é que se vai tentar alcançar os objetivos. Apesar dos contratempos, a persistência é possível porque o impulso que estimula para a ação é muito forte e contém, em si, as qualidades de dedicação e paciência. No entanto, no presente, a persistência deve ser apenas da intenção, da vontade. A pessoa não deve pôr-se em ação antes que a situação se aclare um pouco, antes de distinguir bem quais são os obstáculos e que medidas são necessárias para enfrentá-los. O que se deve fazer no momento - e será de grande valia - é procurar ajuda, dividindo tarefas e responsabilidades. Com ajuda, perseverança e paciência, a pessoa conseguirá, de etapa em etapa, vencer as dificuldades e começar a preparação do que realmente pretende. Por enquanto, as possibilidades de fracasso não estão eliminadas. Por isso, não adianta fazer muitos planos ou ter objetivos muito determinados.
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Essa é a previsão para quem obteve este hexagrama sozinho ou como segundo, derivado das mutações de um anterior. Caso a pessoa tenha obtido linhas mutantes, deve guardar, da previsão geral, apenas o alerta quanto aos contratempos que tem pela frente e o conselho sobre a conveniência de obter ajuda, colaboração e apoio através da distribuição de tarefas. Deve lembrar também que muita persistência e paciência serão necessárias para a superação das dificuldades, mas nem por isso a resignação e a acomodação devem ser buscadas. A previsão específica para o seu caso, entretanto, será dada pela(s) linha(s) que tirou. O conselho da Imagem será útil a todos os que obtiveram, de alguma forma, este oráculo. IMAGEM: “Nuvens e trovões: COMEÇANDO COM CONTRATEMPOS. Assim, a pessoa sábia administra sistematizando.” A concomitância de nuvens e trovões é prenúncio de tempestade. Talvez pela imprevisibilidade da intensidade e dos efeitos da tempestade que se arma, talvez pelo incessante rolar e mudar de forma das nuvens, e talvez pelo forte estrondo do trovão, que assusta e do qual não se sabe ao certo de onde vem, essa imagem foi associada à idéia de dificuldades com que uma pessoa se deparasse ao fazer um movimento numa dada direção ou ao esperar um determinado desfecho para uma situação. A cena é de confusão e incerteza, obscurecimento e receio. Não há garantia nenhuma de se conseguir superar as dificuldades iniciais e ter êxito no final. Segundo o Yi Jing, para agir com sabedoria neste momento de confusão e perplexidade a pessoa deve começar por separar cada elemento da questão objeto da consulta ao oráculo, a fim de distinguir onde estão os nódulos criadores de dificuldades ou obstáculos, e onde ela poderia obter ajuda, facilidades. Feito isso, a pessoa deve ordenar os fatores por categorias e por prioridades: é preciso ver o que deve ser atendido em primeiro lugar, em segundo, etc.; quem pode cuidar de tais ou tais setores; o que precisa ser aumentado; o que precisa ser diminuído; com que pessoas ou recursos contar; quais pessoas ou recursos evitar; o que temer; alternativas para escapar ou para mudar. Tudo isso e mais deve ser considerado pelo consulente. É uma análise minuciosa que demandará talvez mais tempo e atenção do que ele desejaria dedicar à questão. Porém, a situação está encontrando dificuldade para se desenvolver a contento. Se a pessoa se deixar enovelar na confusão e na perplexidade, ao invés de buscar um conhecimento Elisabete Araujo Leonetti
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objetivo da situação, terá muitos mais problemas para atingir o sucesso ou para aceitar o fracasso. 1ª LINHA ( 9): “Corajoso mas bloqueado; é conveniente insistir desde o lugar onde está e é conveniente apontar feudatários.” A pessoa a quem se refere esta linha deseja avançar e este desejo é legítimo, correto. Ela é determinada e dinâmica (pelo menos na matéria da consulta), mas se depara com dificuldades de tal ordem que constituem um bloqueio ao seu avanço. Assim, ela se vê entre o impulso de avançar e contratempos que teme não conseguir superar. De fato, sozinha não conseguirá superar o bloqueio. Deve segurar o avanço por enquanto, permanecendo onde está, porém mantendo em vista o seu objetivo final: não deve desistir de obter o que deseja. Deve procurar ajuda, aliados, mesmo entre aqueles que lhe pareçam fracos ou que lhe sejam inferiores em hierarquia, porque eles irão aderir à sua causa. Dentre esses possíveis aliados, o Yi Jing destaca dois: um bem próximo à pessoa e outro que ocupa uma posição junto àqueles que têm algum poder no encaminhamento da questão. O sujeito da 1ª linha deve se aproximar dessas pessoas com humildade, e não esperar que elas venham a ele. Deve ser sincero na exposição dos seus motivos e leal na continuação das relações. Agindo assim, tendo antes seguido o conselho da Imagem, de definir bem todos os aspectos da questão antes de se pôr em movimento, a pessoa estará agindo corretamente e terá boa sorte na superação do bloqueio e no progresso da situação. 2ª LINHA (6): “Parece ter contratempos e dificuldades em avançar, montado a cavalo parece voltar. Não é um invasor e quer casamento e intimidade; inicialmente a jovem insiste em não engravidar, mas dez anos depois engravida.” Existe uma barreira entre a pessoa e o que ela pretende, ainda que essa barreira seja antes imaginária do que real. A barreira é constituída por dificuldades que a pessoa valoriza de tal modo que não consegue mais avançar, embora em princípio o pudesse.
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Fica detida, complicada e ainda longe de seu objetivo. Talvez tenha que retroceder, mesmo que seja um retrocesso apenas aparente. A situação é confusa e obscura. Aumentando mais a confusão, pode surgir uma possibilidade de saída da situação, porém de uma fonte que não a esperada, ou a desejada. Trata-se de uma oferta tão inesperada, e apresenta-se de uma forma tão impositiva (pois provém de uma pessoa ou entidade mais forte que o sujeito da 2ª linha) que o deixa assustado, temeroso. Logo se esclarece, porém, que a intenção não é de prejudicar, mas sim de estabelecer uma ligação, que pode ser comercial, amorosa, beneficente, etc., conforme o assunto da consulta. Aceitar essa ligação implicaria comprometer-se, assumir obrigações e, depois, traria novas dificuldades e complicações. Assim, a pessoa mantém-se firme na sua intenção original e recusa essa oferta inesperada. Depois de muito tempo as dificuldades cederão quase que por si sós, as condições voltarão ao normal e a pessoa poderá, finalmente, alcançar o que queria e que é o adequado para ela, proveniente da mesma fonte antes rejeitada mas que agora já não causa mais resistência, pois a fase dos contratempos foi ultrapassada. Então, pode ser que a pessoa não só veja consolidada a situação desejada, como também chegue a colher frutos dela. No entanto, todo esse período de demora terá sido muito sofrido para a pessoa da 2ª linha, a qual, estando pressionada por dois lados, sentiu-se limitada, oprimida, sem poder agir. Segundo o Yi Jing, não é bom que isso dure tanto como está previsto. Para escapar a essa limitação, ele a c o n s e l h a q u e a p e s s o a a b ra s e u s h o r i z o n t e s , a m p l i e s e u s relacionamentos, procure outras fontes de realização, enfim, se expanda sem, necessariamente, avançar pelo caminho cheio de contratempos. Quem sabe deve procurar outro caminho. De qualquer modo, assim que as dificuldades se dissipem, a pessoa deve agir sem perda de tempo, ou poderá perder a oportunidade. 3ª LINHA (6) : “Perseguindo um cervo sem um guia, cogita entrar no meio da floresta; para o sábio, essa ação incipiente não é tão boa como deter-se, porque avançar desordenadamente envergonha.” Para atingir o seu alvo, o sujeito desta linha necessita de cuidado e precaução, ou ficará enredado em meio às realidades com que tem de lidar, sem poder progredir. Se a pessoa perseguir o seu objetivo simplesmente indo atrás dele onde ele estiver e seguindo-o pelo caminho que ele traçar, perder-se-á e sentir-se-á frustrada, envergonhada e sozinha, em meio a confusão e dificuldades, e se arrependerá. Se, ao invés disso, perceber os sinais do Elisabete Araujo Leonetti
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que está acontecendo ou do que está para acontecer e não avançar por um rumo que não foi determinado por si, mesmo que abandone o objetivo estará agindo com sabedoria e evitando dificuldades. Assim, embora sinta vontade de avançar, deve ser criteriosa e desistir de prosseguir, por enquanto. A verdade é que a pessoa tem uma tarefa difícil pela frente. Os obstáculos são grandes e exigirão longas lutas para serem superados. Ela deve se fortalecer bem, antes de tentar empreendê-las. Quando procurar ajuda, deve cuidar de cercar-se apenas de pessoas boas e corretas. Assim, depois de muitos contratempos e exaustivos trabalhos, atingirá a situação que deseja e tratará de mantê-la. Isso se não desistir antes. 4ª LINHA (6): “Montado a cavalo parece voltar, mas, como procura casamento e intimidade, avançar, ainda que desordenadamente, é benéfico e não há nada que não seja conveniente.” A pessoa a quem se refere esta linha quer uma coisa mas é atraída por outra, que não é exatamente o que lhe convém. Ela agora não tem, por si mesma, muita força nem muitas condições de determinar os rumos da ação. Por isso, para prosseguir, deve buscar sustentação e apoio, e, para tanto, tem duas fontes à sua frente: uma, mais poderosa e mais acessível, mais próxima, que, porém, já possui outras ligações mais importantes do que aquela com a pessoa da 4ª linha; e outra, mais distante, porém muito forte e ativa, com quem a pessoa da 4ª linha mantém uma ligação estreita no momento. O oráculo aconselha a que a pessoa procure o auxílio daquela fonte por quem se sente realmente mais atraída. Se não houver ainda uma ligação entre as duas, que busque associar-se a ela, demonstrando claramente as suas intenções, pois assim será aceita e apoiada, podendo seguir adiante no rumo pretendido. Desse modo tudo lhe correrá de modo favorável. De tal forma as coisas correrão bem que, logo, na evolução da situação, a pessoa da 4ª linha ter-se-á tornado, por sua vez, forte e influente e, devido ao seu sucesso, atrairá para junto de si não somente aqueles que são fortes e corretos mas também os que são incapazes de progredirem por si mesmos e tentam ligar-se a ela por interesse, para usufruírem vantagens. A pessoa não tem culpa de atrair esse tipo de seguidores, mas deve tentar se livrar deles ou ignorá-los, e seguir seu próprio caminho com autenticidade. Se deixar suas ações ou seu comportamento serem influenciados pelos inferiores bajuladores e, principalmente, se ela própria vier a se tornar interesseira, tornará a ter dificuldades.
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5ª LINHA (9): “Tem dificuldade para começar a nutrir, por isso é benéfico insistir pouco, já que insistir muito é prejudicial.” Em meio a dificuldades, no centro do perigo, a pessoa, na situação mostrada por esta 5ª linha, mantém-se firme e tranquila devido à solidez da sua posição e à sua própria fortaleza pessoal. Ela se preocupa em resolver não só os seus problemas, mas também os daqueles com quem tem ligações de solidariedade, seja por laços de parentesco, afeto, trabalho ou outros, e que também estão com dificuldades. As suas intenções, ao tentar ajudar tais pessoas, são altruístas, desinteressadas, mas parece que isso não fica completamente claro para os outros. Além disso, há obstáculos que se interpõem entre a pessoa e aqueles a quem ela deseja favorecer, impedindo-a de fazer tanto quanto gostaria e tão depressa quanto eles esperariam. Os obstáculos são: um certo emperramento da situação, que custa a evoluir; o risco de nulidade de todo o esforço, de desmoronamento do que se pretende; a intromissão de pessoas ou elementos antagônicos entre o sujeito da linha e aqueles a quem deseja ajudar, tentando exercer influência contrária ou simplesmente atrapalhando. Esses obstáculos prejudicam a ação da pessoa da 5ª linha e, por isso, ela não pode realizar grandes coisas ou avançar largos passos: por melhores que sejam as suas intenções e por mais corretamente que aja, grandes tentativas não darão certo. Assim, a pessoa deve abdicar de grandes ações e retornar a pretensões mais modestas. Com a cooperação, tácita ou explícita, daqueles com quem se relaciona, e com a sua determinação pessoal, ela conseguirá levar a bom termo as empresas menores, não tão ambiciosas, mais adequadas a quem está enfrentando contratempos (com relação ao objeto da consulta). Agindo assim, conseguirá sobreviver às adversidades atuais e prosseguir sem carregar consigo nenhum remorso por não ter feito o que era correto e estava ao seu alcance. 6ª LINHA (6): “Montado a cavalo parece voltar, parece chorar lágrimas de sangue.” É importante que a pessoa que obteve esta 6ª linha saiba que, do modo como está agindo, não vai conseguir levar a bom termo aquilo que tinha em mente ao fazer a consulta. Sendo assim, o melhor para ela é desistir daquilo e partir para uma outra coisa, ou pelo menos procurar um novo meio para alcançar o que deseja.
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Caso não queira desistir, ou já seja muito tarde para isso, a pessoa em breve chegará - ou já chegou - a um ponto em que estará sem saída e sem apoio nenhum, isolada em meio a dificuldades que não consegue superar. Ninguém virá ajudá-la e o seu sofrimento será profundo e visível. Mais ainda, como a pessoa, na situação apresentada por esta linha, não mantém relações de verdadeiro envolvimento com ninguém, nem mesmo com aqueles com quem se deveria sentir comprometida por laços de família, serviço, obrigação, etc., e tampouco se interessa em ajudá-los, em ver se eles também estão em dificuldades; e como ela, além de tudo, se apresenta instável nas suas emoções e desejos, no futuro próximo também não receberá apoio das pessoas do seu círculo, e os de fora a criticarão e atacarão, piorando-lhe a situação. No que diz respeito ao assunto da consulta, melhor seria para essa pessoa que reconhecesse a dificuldade extrema da sua posição, reconhecesse a sua incapacidade atual de vencer os obstáculos, desistisse logo de avançar e procurasse ajudar os outros, já que não pode socorrer-se a si própria no momento.
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HEXAGRAMA 4: SUPERANDO IGNORÂNCIA
JULGAMENTO: “SUPERANDO A IGNORÂNCIA se exerce influência. Não sou eu quem procura o jovem ignorante, o jovem ignorante me procura. À primeira consulta respondo; caso sejam duas ou três fica molesto; molestando, não respondo. [Tendo isso em conta,] é conveniente insistir.” Obter este hexagrama revela que a pessoa sobre quem se consulta o oráculo encontra-se sob a influência da ignorância, com relação à realidade abrangida pela consulta, ou simplesmente não sabe como agir frente a essa realidade. Revela ainda que, para o bom desenvolvimento do assunto em foco, é desejável ou necessário que essa ignorância seja superada. Entre outras, pode estar aqui espelhada a situação de alguém que comete erros por ignorância, inexperiência, falta de traquejo e outras falhas próprias dos novos e inexperientes, que não erram por recusar o certo, mas sim por desconhecê-lo; ou a situação de alguém que se encontra na posição de iniciante, educando, aprendiz, daquele que tem de começar pelo primeiro degrau e ir avançando passo a passo, de preferência com humildade e aproveitando a orientação dos mais experimentados; ou ainda de alguém que, na posição de consulente do Yi Jing ou de outra fonte de consulta, se mostre impaciente e insatisfeito, insistindo repetidamente em torno de uma mesma questão ou assunto, para o qual já recebeu resposta suficiente. Se a consulta for sobre um estudante, uma criança ou um adolescente, o oráculo está dizendo que se deve promover a educação daquele indivíduo e dá as bases do processo educacional: o interesse e receptividade do educando; a disponibilidade, prontidão e firmeza do educador; e a persistência de ambos, que leva ao aprendizado, que é o fim e o sucesso da educação. Deve-se ver em qual ou quais desses casos se enquadra o sujeito da consulta. Tendo-se obtido apenas este hexagrama, sem linhas mutantes, ou tendo-se-o obtido como primeiro, o que se pode depreender como previsão é que o bom andamento do assunto em questão virá de uma melhor Elisabete Araujo Leonetti
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preparação ou orientação do sujeito. O sucesso não será imediato, mas dependerá de aprender a lidar com a realidade que tem diante de si e de persistir insistentemente no seu propósito até conseguir o que quer, evitando atritos, contornando obstáculos, não tendo vergonha nem preguiça de percorrer todos os passos para chegar até lá, pedindo ajuda e/ ou informação sempre que necessário, no que provavelmente será atendido. O que o sujeito não deve fazer é ficar parado sem saber como agir e sem procurar orientação, nem agir impulsivamente, achando que já sabe o que precisa. As linhas móveis obtidas indicarão detalhes ou conselhos adicionais específicos para a situação. Se este hexagrama saiu como segundo, derivado das mutações de um anterior, provavelmente indica que a causa de uma determinada circunstância foi a ignorância ou inexperiência do sujeito da consulta, ou que a conseqüência de determinados acontecimentos será como que um retorno à condição de iniciante ou de aprendiz. Pode ainda ser um aviso do Yi Jing de que não deve mais ser consultado sobre aquela questão. Neste caso, a pessoa deve seguir as orientações que já foram dadas no hexagrama anterior, mantendo-se sempre no rumo do que é correto. IMAGEM: "Na base da montanha jorra uma fonte, SUPERANDO A IGNORÂNCIA. Assim, a pessoa sábia, com seu agir frutífero, desenvolve seu potencial." A pessoa que obteve este hexagrama na consulta ao Yi Jing está na situação em que se assemelha ao jovem, naquilo que a juventude tem de insensatez, de ignorância, de inexperiência e de desejo ou necessidade de superar essas deficiências através de uma ação que dê resultado. Portanto, está na condição de alguém que precisa aprender algo, com relação à matéria da consulta. A maneira correta de aprender, segundo a Imagem, é agindo com vistas a desenvolver o potencial já existente na pessoa: cada um aprende aquilo que tem capacidade de aprender, e o papel do mestre é perceber o potencial do educando e agir de modo a facilitar e estimular o seu desenvolvimento, visando a que ele supere a sua ignorância naquilo que é possível. 1ª
(6): “Quando manifesta sua ignorância é conveniente e útil castigá-lo, mas só se for para remover-lhe grilhões e algemas, já que avançar desordenadamente envergonha.” LINHA
Esta 1ª linha mostra duas pessoas: a que deve aprender (o educando) e a que deve ensinar (o educador).
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O educando vê a tarefa que tem pela frente como algo difícil e perigoso, cujo fim lhe parece inatingível, e desejaria fugir, escapar-se da tarefa do aprendizado, procurar atividades mais alegres. Mas não pode fugir, pois está na situação da ignorância que deve ser superada, subordinado a uma pessoa ou entidade que tomou a seu cargo ensiná-lo, prepará-lo para alguma função ou para a vida em geral. O educador, vendo a tendência escapista do educando, procura prendê-lo com normas muito rígidas, tratá-lo com excessivo rigor. Não deve fazê-lo, pois isso humilha e entristece o educando, envergonhando-o, e não favorece em nada o processo educacional, podendo inclusive pô-lo a perder. O educador deve, isto sim, desenvolver a disciplina no educando através do método, com equilíbrio, e avançar aos poucos com a matéria a ser ensinada, indo devagar e sobretudo deixando-o contrabalançar tarefas e folgas. O educando também deve procurar desenvolver em si a disciplina e fazer prevalecer o seu próprio ritmo de progresso. Desse modo a aprendizagem terá bases sólidas, o que não ocorreria se o educando conseguisse se furtar ao processo ou se o educador o mantivesse presente somente à força. Isso também se aplica, naturalmente, ao caso em que a pessoa é o seu próprio educador. O equilíbrio deve prevalecer. 2ª LINHA(9): “Conter sua ignorância é benéfico. Tomar uma esposa é benéfico porque o jovem mostra-se capaz de manter uma família.” A pessoa a quem se refere a 2ª linha está, na situação enfocada pela consulta, muito bem relacionada, em todos os níveis: ela é, aparentemente, o braço direito de alguém que possui posição de liderança ou comando na situação; além disso, é benquista pelos elementos novos os mais jovens ou os iniciantes - que a procuram, e se dá bem com os demais. A sua situação é muito equilibrada. Em seu caráter ela combina determinação com flexibilidade, firmeza com adaptabilidade. Na sua ação ela harmoniza dedicação e cumprimento dos deveres com autonomia e iniciativa. Tem a paciência de contornar os obstáculos e dificuldades - que existem - mas também tem coragem para enfrentá-los, se for o caso. Por tudo isso, essa pessoa se assemelha a um discípulo em estágio avançado ou a um mestre em estágio inicial. Em suma, é alguém que tem preparo e conhecimento para assumir a tarefa que tem pela frente, mas ainda não tem experiência, ainda está na situação de ter de superar a ignorância.
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Seria bom, para essa pessoa, assumir as responsabilidades da vida adulta, especialmente no que diz respeito aos relacionamentos. Para manter o equilíbrio e garantir a sua posição, agora e no futuro, a pessoa deve conter o avanço de elementos inferiores (pessoas ignorantes, invejosas, sem caráter, etc., ou sentimentos negativos, depressivos, ou ainda outro tipo de coisas); deve garantir bases sólidas em todas as suas ações; e, principalmente, deve estabelecer e manter alianças estreitas, pois elas é que lhe darão apoio e evitarão a ruína de seus projetos. 3ª LINHA (6): “Não é proveitoso casar-se com uma jovem que, ao ver um homem rico, entrega seu corpo; nenhum lugar é conveniente.” Convém lembrar, antes de tudo que a pessoa a quem se refere a 3ª linha do hexagrama 4 tanto pode ser o sujeito da consulta quanto alguém a ele relacionado na questão em foco. Se for o sujeito da consulta, o oráculo o está alertando sobre um erro no seu comportamento. Se for uma outra pessoa participante da realidade enfocada pela consulta, o oráculo está fazendo uma advertência quanto à inconveniência de uma ligação com tal pessoa. De qualquer modo, as características da pessoa indicada por esta linha são: • fraqueza de personalidade; • imaturidade emocional; • inexperiência; • impulsividade; • precipitação; • superficialidade de valores; • ambição. Não faz diferença se essas características forem permanentes na pessoa ou se forem apenas circunstanciais. Em seu comportamento, ela age impulsivamente em direção a um alvo, possivelmente outra pessoa, levada exclusivamente por interesse, pelas aparências ou por outros fatores exteriores e superficiais, e não por qualidades morais ou espirituais. Esse alvo, entretanto, é excessivamente elevado para ela que, por causa dele, despreza outros elementos, talvez mais modestos, os quais estariam à sua altura. Nesse atirar-se não há sentimento nenhum de apreço ou devoção. A pessoa, sendo imatura e/ou de personalidade fraca, lança-se completamente na direção desejada, abandonando valores pessoais, familiares, etc. Praticamente deixa de ser ela própria. Isso, evidentemente, Elisabete Araujo Leonetti
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é um mal para a pessoa e será um mal para quem se associar a ela, razão pela qual o Yi Jing adverte que se evite essa união. Apesar de todo o seu impulso para avançar, o que de fato a pessoa da 3ª linha faz é permanecer na situação de ignorância, estagnada e subordinada, por algum tempo. Em seguida a esse período, porém, tendo amadurecido, refletirá sobre seu comportamento insensato e o corrigirá. Mesmo que lhe fique algum remorso, não precisa sentir-se culpada, porque, afinal, seu erro foi causado por ignorância e não por má intenção. 4ª LINHA (6): “Limitado pela sua ignorância se envergonha.” A pessoa indicada pela 4ª linha está limitada pela sua própria ignorância, inexperiência, insensatez ou imaturidade. Não há como atingila com bons conselhos ou ensinamentos neste momento, pois ela está tão fechada na sua própria limitação que não enxerga a realidade. Assim, o correto a fazer quanto a essa pessoa é deixá-la entregue a si mesma, uma vez que não adiantará de nada tentar fazê-la ver as coisas ou agir de outra maneira, pois ela simplesmente não considera outros pontos de vista além do seu. Se a pessoa da 4ª linha for o próprio sujeito da consulta, o oráculo lhe está mostrando o seu comportamento insensato. Se for outra pessoa envolvida na situação, está ensinando como agir corretamente em relação a ela. Infelizmente, o ponto de vista da pessoa da 4ª linha, bem como os seus conhecimentos e meios, não são suficientes para fazer com que tenha sucesso naquilo que empreende, dentro da matéria da consulta, e ela não conseguirá nada por enquanto, além de vergonha e arrependimento. Com o correr do tempo, é possível que venha a aceitar alguma orientação e/ou apoio e encontre um rumo certo para as suas ações. Mesmo assim enfrentará dificuldades e os resultados demorarão a chegar. 5ª LINHA (6): “Uma ignorância infantil é benéfica.” A pessoa a quem se refere a 5ª linha, devido à sua ignorância, se vê trazida a uma condição semelhante à da criança, no que se refere a ter necessidade e disposição de aprender, de evoluir. Assim, ela possui - ou deve tratar de desenvolver - a modéstia suficiente para aprender aquilo que não sabe, mesmo que sua posição social ou hierárquica seja superior à daqueles que a podem ensinar. Ela também possui capacidade de dedicação, firmeza interior e responsabilidade, de modo que não perde de vista seus objetivos e Elisabete Araujo Leonetti
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consegue levar a cabo seus projetos, mesmo ainda tendo que passar pelo aprendizado. A sua simplicidade, despretensão e receptividade - na matéria enfocada pela consulta - é que fazem com que se assemelhe a uma criança sequiosa por aprender tudo, e por isso ela atrai a simpatia daqueles que podem fornecer-lhe os conhecimentos necessários, pois eles percebem a sua dedicação e interesse sincero. Assim a pessoa, ao longo do tempo, dissolve os bloqueios da ignorância e da inexperiência, que poderiam tolhê-la no seu desenvolvimento, firma-se na sua posição e consegue fazer com que se realize o que deseja, esforçando-se para isso e agindo sempre na linha do que é certo. 6ª LINHA (9): “Punindo a ignorância não é conveniente converter-se num agressor, convém controlar sua agressão.” A pessoa a quem se refere esta linha desempenha, na situação enfocada pela consulta, o papel de educador e/ou de autoridade. Ela se relaciona diretamente com seres que necessitam de orientação ou de tutela, neste momento. Esses, devido à sua falta de conhecimento, experiência ou maturidade, muitas vezes não agem da maneira mais correta, como seria de desejar. Dentre eles, um parece ser bastante impulsivo e facilmente influenciável, ao passo que outro mostra boa disposição para aprender e tem maior estabilidade emocional. A pessoa da 6ª linha, por sua vez, devido à sua idade, experiência ou à natureza do trabalho que exerce, não tem muita paciência para com os ignorantes e seus erros, e por isso apresenta a tendência a ser demasiado rígida na tentativa de correção dos erros. Isso, porém, também é um erro, e o oráculo adverte essa pessoa de que a sua tarefa é de orientação e até de proteção daqueles que estão sob a sua responsabilidade. Sendo assim, o que ela deve fazer é prevenir e coibir erros, excessos, prejuízos, injustiças, abusos, agressões, etc., e não, em nome da ordem, cometer erros, excessos, abusos, injustiças, agressões, etc., realizando o mal ao invés de evitá-lo. Assim, a recomendação geral é de equilíbrio: a pessoa da 6ª linha não deve permitir que os outros saiam da linha do equilíbrio, mas, ao fazer isso, ela também tem que manter uma atitude equilibrada. Os dois lados têm que obedecer à lei da moderação: não pode haver excessos nem do lado do erro nem do lado da correção; nem do lado do subordinado nem do lado da autoridade. Esta linha trata de preparar pessoas para assumir liderança e responsabilidades, daí a grande preocupação de formar elementos capazes
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de exercer funções em que tenham poder de decisão sobre bens ou pessoas sem que, nessa posição, venham a abusar de seu poder.
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HEXAGRAMA 5: ESPERANDO SEM INQUIETAR-SE
JULGAMENTO: “ESPERANDO SEM INQUIETAR-SE e tendo confiança, se exerce uma influência manifesta; insistir é benéfico. É conveniente atravessar o grande rio.” Este hexagrama revela uma situação em que o que se tem em vista não acontecerá por enquanto. Aquilo que o consulente quer fazer, o que ele gostaria que acontecesse ou que imagina que pode acontecer, não vai ocorrer neste momento: há que esperar. O momento atual é o da espera. Para questões muito amplas, obter este hexagrama pode indicar também que nada de marcante ou de muito importante vai acontecer por agora, e que o período atual será como que de espera de algo maior. Para assuntos nos quais o desejo do sujeito da consulta seria avançar e resolver tudo de uma vez este hexagrama é claramente uma recomendação para aguardar, porque há perigos - ou problemas, dificuldades - pela frente. A espera inclui a preparação, sem ansiedade. É bom promover a alimentação dos vários componentes da situação, de modo a capacitá-los a dar a resposta adequada quando chegar a hora para isso. O momento atual é, por exemplo, próprio para o treinamento de um competidor, o estudo de alguém que vai prestar um exame, o fortalecimento de alguém que vai se submeter a uma cirurgia, a reserva de capital para um empreendimento, etc. O hexagrama mostra os olhos, os ouvidos e a boca como vias de alimentação da pessoa, sendo que a dificuldade maior, se houver, se manifestará no ouvir. Todas as ações enérgicas, criativas e expansivas estão impedidas. As ações que se pode - e deve - executar agora são as ações metódicas, controladas e minuciosas. Tudo o que envolve autoconhecimento e conhecimento das circunstâncias está liberado. A insistência naquilo que se quer e que se faz em função desse querer é importante para o sucesso futuro: deve haver uma constância de objetivos, de métodos, de procedimentos. Deixadas por si sós as coisas dificilmente chegarão aonde nós queremos.
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A confiança é fundamental: tanto ter quanto inspirar confiança. É preciso acreditar que aquilo que esperamos é possível e válido, e é preciso acreditar na capacidade da pessoa que será o agente do acontecimento esperado. Sem isso não há espera útil. A demora no acontecer é devida a que aquilo que se espera enfrenta uma separação: há alguma coisa, inclusive o próprio tempo, que separa o momento atual do momento da realização, gerando o período da espera. Também pode ser uma separação de ordem interna (um conflito ou uma falta de unidade dentro da própria pessoa que deve agir) ou de ordem externa (um desequilíbrio ou uma desconexão nas condições vigentes, ou um desacordo da pessoa com essas condições). De qualquer forma, a separação atual domina o campo de ação e não é desta vez que ela é superada. Permanece. Por isso a ação do hexagrama não passa da espera, e não adianta inquietar-se. Vemos também neste hexagrama um componente de idealismo, de altas metas, quase sobre-humanas, que inspiram e animam o consulente quando as contempla, mas que, para serem realizadas, têm que ser transpostas para as suas possibilidades reais. Para saber as suas possibilidades reais, a pessoa deve descer ao fundo de si mesma e das suas circunstâncias. A partir do conhecimento aí adquirido, deve percorrer minuciosamente o caminho em direção ao seu ideal, não esmorecendo diante de nenhum obstáculo, usando a inteligência para encontrar as passagens mais fáceis, incorporando a si tudo o que lhe possa ser útil e deixando de lado o inútil, sem se deter nunca. Isso é o que o Yi Jing ensina que se deve fazer, quando obtivermos este hexagrama em resposta a uma consulta sobre algo a que aspiramos muito. Infelizmente, ele ensina também que não vamos atingir o ideal já: o tempo atual é de espera, incluindo a preparação. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama sozinho ou como segundo da consulta. Quem obteve linhas mutantes encontrará nelas orientação específica sobre a sua situação particular dentro do quadro geral da espera. O conselho da Imagem, abaixo, aplica-se a todos os casos. IMAGEM: “As nuvens se elevam no céu, ESPERANDO SEM INQUIETARSE. Assim, a pessoa sábia bebe, come, festeja e se diverte.” O conselho para quem obteve este hexagrama na consulta ao oráculo é basicamente o de não se inquietar com a espera. Não se pode apressar os acontecimentos. Nada acontece corretamente antes da sua hora própria. Uma vez que o momento é de esperar, o sábio é esperar preparando-se, de corpo e de espírito, para Elisabete Araujo Leonetti
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aquilo que se espera. A preparação do corpo, ou das condições materiais, consiste no comer e no beber, ou seja, na alimentação, no abastecimento, na provisão de todas as substâncias que serão necessárias quando chegar o momento de agir. A preparação do espírito, ou das condições psicológicas, consiste na manutenção da alegria, do convívio com amigos e do bom humor, a fim de estar com tranqüilidade e boa disposição mental quando chegar o momento de agir. Nenhuma das duas atitudes será possível se a pessoa se impacientar, se revoltar, se inquietar com a espera; por isso a calma é o conselho básico. 1ª LINHA (9): “Esperando no subúrbio é conveniente e útil manter-se inalterável, nenhum erro.” A pessoa da 1ª linha, embora esteja ainda muito longe de alcançar aquilo que deseja, está numa situação bastante tranqüila e cômoda, de modo que não lhe é custoso esperar, como tem que fazer. Ela está bem inserida no seu meio, numa posição que não é a melhor possível mas que lhe é adequada; está bem relacionada, tanto coletiva quanto individualmente; está, com relação ao assunto da consulta, sem nenhuma ameaça de perigo, dificuldade ou ataque de inimigos. Sendo assim, não é errado que ela espere, onde está, pela ocasião propícia para agir ou pela ocorrência de algum acontecimento que não depende dela. Porém, essas mesmas condições favoráveis podem levar, no futuro, a uma acomodação: como o objetivo está muito distante e a posição é confortável, a pessoa da 1ª linha pode-se deixar ficar por ali mesmo, sem buscar mais mudanças. Isso não será bom porque a pessoa ficará completamente isolada daquilo que queria alcançar inicialmente, ficará parada no tempo, esquecida por todos, inútil. Será que aí ela poderá alcançar o que espera? Sugiro que o consulente se recorde da orientação contida no JULGAMENTO, de que o tempo de espera também deve ser um tempo de preparação, e realmente se prepare para agir ou para buscar os acontecimentos, ao invés de simplesmente se acomodar. 2ª LINHA (9): “Esperando na areia, mantendo as palavras no mínimo, acaba sendo benéfico.” O oráculo nos mostra o sujeito da 2ª linha ainda longe de conseguir o que espera, porém numa situação relativamente estável e satisfatória. Relativamente estável porque ele não seria, em princípio, a pessoa mais adequada para a posição em que está, e a sua base de apoio não é muito firme. Porém, como nenhum fato concreto o ameaça, se ele se abstiver de palavras de crítica e/ou contestação, e não se expandir muito, de um modo
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geral, pode permanecer naquela posição e aguardar uma mudança positiva. Dentro do seu contexto mais próximo ele está bem entrosado e, no seu íntimo, está contente. Mas não possui, no momento, relacionamentos fora dali que possam ajudá-lo quanto ao assunto da consulta, e talvez isso contribua para a demora na realização do que espera. Mas, também no seu íntimo, a pessoa da 2ª linha quer alguma coisa, e há uma determinação latente na sua vontade, de modo que, no futuro, finalmente ocorrerá aquilo que esperava, e de uma maneira espontânea. Não será necessário ela se esforçar, correr atrás do alvo. Apenas, tendo-se preparado anteriormente, quer dizer, no momento presente desta consulta, deverá ter ainda paciência e esperar mais um pouco que o alvo ficará ao seu alcance, ou acontecerá o aguardado. O presente é o momento da espera e preparação; o futuro é o da realização. 3ª LINHA (9): “Esperando no lodo provoca a chegada do invasor.” A 3ª linha mostra a pessoa tendo avançado um pouco demais e estando, por causa disso, numa situação muito insegura. Se isso ainda não aconteceu, esta linha é um alerta para que a pessoa não se coloque em tal situação, que é a seguinte: Sendo (ou sentindo-se, em relação ao assunto da consulta), forte, impetuosa, destemida, determinada e também um pouco inconseqüente e bazófia, a pessoa da 3ª linha avança até muito perto daquilo que deseja ou que teme. Nesse ponto as coisas se complicam, já não são tão fáceis e ela vê que não tem condições de avançar mais para enfrentar, e vencer, o obstáculo ou a etapa que falta para a consecução do seu objetivo. Mas ela já se envolveu tanto que também não pode mais voltar atrás. Então não pode fazer nada, é obrigada a esperar. Como está numa posição altamente vulnerável e visível, sem meios de se defender, torna-se alvo fácil para aqueles que são contrários aos seus projetos ou que querem mesmo prejudicá-la, e será vitimada por qualquer circunstância adversa que sobrevenha. Como essas coisas aconteceram devido à falta de cautela e sensatez da pessoa, que avançou além dos seus limites, e como não há mostras de que ela tencione, no momento, modificar o seu comportamento inconseqüente, a situação tende a ficar como está ou a agravar-se, no futuro. Concluindo: primeiro, o tempo é de espera, logo, não adianta querer avançar muito; segundo, ao se mover, a pessoa deve ter muito cuidado para não ir parar numa posição ainda mais insegura (já que tem que esperar, é melhor que espere numa posição sólida, segura); terceiro, uma vez que a pessoa não conta com a ajuda de outros nesta situação, deve determinar a extensão dos seus passos ou das suas expectativas pela Elisabete Araujo Leonetti
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extensão dos seus próprios recursos e capacidades, e pela distância que a separa do objeto da espera. 4ª LINHA (6): “Esperando no sangue, sai por si mesmo da fossa.” A pessoa da 4ª linha está, com relação ao assunto da consulta, numa situação muito negativa. Ela talvez tenha agido precipitadamente, sem muito preparo e reflexão, guiada pela inconseqüência, pela teimosia ou pela obstinação, e agora se vê imersa numa situação desconfortável ou mesmo perigosa, que ela não está preparada para enfrentar: não possui a força e a coragem necessárias para encarar e vencer um elemento antagônico externo; nem tampouco para encarar-se a si mesma, identificar o que realmente deseja, o que pode esperar conseguir, e vencer-se a si mesma, se necessário. No entanto, ela possui suficiente clareza de visão para compreender, ainda que intuitivamente, a gravidade do seu caso e poderia, se se dispusesse a isso, efetuar pelo menos as análises de si própria e da sua posição, e tomar a decisão de sair da situação complicada e trancada em que se encontra. Segundo o Yi Jing, a única alternativa boa para a pessoa da 4ª linha é abandonar a sua posição atual: ela precisa modificar alguma coisa - ou o objeto da espera, ou o seu modo de atuação, ou a si mesma. Sozinha ela talvez não tenha a força e a coragem necessárias para isso, mas com a ajuda dos que a rodeiam, ouvindo com atenção os conselhos amigos, ela poderia sair da complicação em que está, pois mantém sólido relacionamento com amigos e/ou familiares, e tem boas relações com conhecidos e/ou colegas. No caso de a espera ser relacionada com um assunto exclusivamente individual, a pessoa também poderia buscar apoio no ideal que a anima, na intensidade do seu desejo e da sua fé, porém fazendo uma reformulação das metas para adaptar o ideal ao real. Caso a pessoa insista em permanecer obstinada na sua posição atual, sem mudar, seja por iniciativa própria, seja por aceitar aconselhamento alheio, ficará, no futuro, em situação ainda pior. 5ª LINHA (9): “Esperando pela comida e bebida, é benéfico insistir.” Conforme a previsão geral deste hexagrama, também a pessoa a quem se refere a 5ª linha está na situação de espera. Sabendo, tanto racionalmente quanto intuitivamente, que não vai alcançar o que deseja por enquanto, ou que aquilo que aguarda ou que teme não ocorrerá neste momento, ela não se deixa perturbar por isso e espera tranqüila e alegremente.
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Quanto à preparação que deve ser feita durante o período da espera, ela a faz em todos os aspectos, e pode assim abastecer-se porque está, pelo menos quanto ao assunto da consulta, na condição de possuir muitos recursos. O oráculo recomenda constância no comportamento atual, assegurando que, continuando como estão, as coisas chegarão a bom termo, porque estão no rumo certo e porque a pessoa está agindo corretamente. Percebe-se uma certa flexibilidade na pessoa da 5ª linha, no sentido de procurar persistentemente o caminho mais fácil e desimpedido para atingir o seu alvo, preferindo contornar os obstáculos a enfrentá-los. Essa tendência perdurará no futuro, quando tiverem lugar os acontecimentos ora esperados. Tanto no presente quanto no futuro ela buscará manter-se em acordo consigo mesma e com aqueles que influem diretamente nas suas circunstâncias. Ao mesmo tempo em que escuta os conselhos e opiniões alheias, ela perscruta o seu próprio coração, pois é autêntica. Essa atitude é importante porque evita conflitos e traz a harmonia, a paz, que parece ser o que, no mais íntimo de si mesma, a pessoa da 5ª linha tem desejado e esperado. 6ª LINHA (6): “Cai na fossa porque chegam três hóspedes não convidados, mas atendê-los acaba sendo benéfico.” Justamente quando parecia que o tempo de espera havia chegado ao fim, inesperadamente, de uma forma imprevista, tudo desmorona para a pessoa da 6ª linha, com relação ao assunto da consulta. Ela fica tolhida nas suas capacidades de percepção e de ação: não consegue ter uma visão de conjunto da situação nem fazer projetos de longo alcance. Quanto ao objeto da espera, se era algo ou alguém que a pessoa da 6ª linha desejava, ficou momentaneamente fora do seu alcance; se era algo ou alguém que a pessoa da 6ª linha temia, está, no momento, paralisado, tornou-se ineficaz, embora possa ser que ela ainda nem saiba disso. Assim, a pessoa da 6ª linha, com relação ao assunto da consulta, está como que no início de novo, e aquilo que era esperado, fosse bom, fosse mau, não aconteceu nem acontecerá por enquanto, pelo menos não nas formas e proporções imaginadas pela pessoa. A sua situação agora é desconfortável, insegura e oferece pouquíssimas possibilidades de saída. A saída virá de fora, através de elementos que surgem espontânea e inesperadamente. A previsão do oráculo é de que se apresentarão à pessoa alguns elementos, não muitos: podem ser pessoas, objetos, linhas de apoio, recursos financeiros, idéias novas, seja lá o que for. A pessoa realmente não esperava por isso e poderá, de início, ficar desconfiada ou assustada. Mas o Yi Jing recomenda que considere com atenção e interesse Elisabete Araujo Leonetti
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esses elementos, procure ver o valor que eles possuam e os utilize, se for o caso, pois isso lhe será benéfico. Se, devido à sua perturbação e dificuldade de percepção, a pessoa da 6ª linha não conseguir discernir a utilidade ou a validade daquilo que se lhe apresenta, deve pedir a alguém, que é próximo a ela e que tem boa capacidade de visão, para ajudá-la nesse sentido. Para o futuro, finalmente, há perspectivas de solução e alívio, embora talvez não no grau esperado inicialmente. Ao mesmo tempo, prosseguirá o melhoramento interno da pessoa da 6ª linha que, aliás, tem agido corretamente e modestamente ao longo de toda a evolução da questão da consulta. Quando as coisas já tiverem atingido um ponto satisfatório para ela, a pessoa não deverá tentar avançar mais, para que não venha a ser derrubada ou a cair de novo.
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HEXAGRAMA 6: DISPUTANDO INUTILMENTE
JULGAMENTO: “DISPUTANDO é necessário ter confiança e cuidado com os obstáculos. É benéfico ficar no meio, já que ir até o fim resulta prejudicial, [por isso é INÚTIL]. É conveniente ver o grande homem, mas não é conveniente atravessar o grande rio.” Obter este hexagrama indica a existência atual ou a possibilidade futura de uma situação de conflito, de disputa sobre qualquer aspecto da matéria da consulta. O sujeito da consulta defronta-se com uma força que o coloca em perigo. Para enfrentar o perigo ele disputa, ou tende a iniciar uma disputa, confiante nas suas razões e/ou na sua própria capacidade de vencer. O objeto da disputa não parece ser o item mais importante e não é analisado aqui: o que é focalizado é a circunstância da disputa em si, e são propostas atitudes para se chegar bem ao fim dela. É preciso ressaltar que se trata de uma disputa por algo, e não de uma luta entre inimigos. Até pode ocorrer que os litigantes sejam inimigos de fato, mas o conflito entre eles assume, aqui, muito mais o aspecto de um processo judicial do que o de um ataque pessoal. Mesmo que não haja envolvimento da justiça oficial, de advogados, é assim que a disputa se apresenta, porque o que existe são razões e direitos que se querem fazer valer, e não um sentimento agressivo a que se queira dar vazão. Geralmente as disputas acontecem entre aqueles que concorrem pelos mesmos ideais ou pelos mesmos prêmios, ambos julgando-se igualmente merecedores. Por isso, é freqüente ocorrerem no seio de uma mesma família ou de uma sociedade empresarial, enfim, entre pessoas que compartilham interesses comuns. Se a disputa já se instaurou ou é inevitável no futuro, e não há jeito de voltar atrás para anulá-la nem de evitar que venha a acontecer, a pessoa deve manter a confiança em si e nos seus objetivos e seguir as indicações do Yi Jing dadas por este hexagrama:
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O cuidado com os obstáculos é fundamental. O principal perigo é o de a pessoa se envolver demais na disputa, nos seus pormenores e sutilezas, deixando-se absorver a tal ponto que perca a noção clara do conjunto e das verdadeiras posições de cada um dos envolvidos. Outros obstáculos sérios a considerar são o excesso de rigidez e de autoconfiança: o excesso de rigidez pode levar a perder uma oportunidade de negociação, e o excesso de autoconfiança pode levar a uma avaliação errônea das reais possibilidades do antagonista. O caminho para conduzir-se bem na disputa inclui clareza de visão, raciocínio lúcido e disposição para fazer acordos, inclusive cedendo em alguns pontos, se necessário. No caso apresentado pelo consulente, vale mais a penetração sutil e a negociação com inteligência do que a obstinação em certas posições, com base na força bruta e na teimosia. Não há vez para teimosia e falatório inconsistente no caso em questão. Procurar um meio-termo, uma solução que seja razoavelmente satisfatória para todas as partes envolvidas é a melhor saída, a que tende a dar certo e promover o bom desenvolvimento da matéria. Obstinar-se, levar a disputa até as últimas consequências, a qualquer custo, trará muito sofrimento e levará ao desgaste. Se os disputantes não conseguem, por si, descobrir uma alternativa que satisfaça a todos, é recomendável procurar o arbítrio de uma terceira pessoa, capacitada a emitir conselhos e juízos sobre a matéria. A intervenção dessa pessoa neutra será valiosa porque ela irá ater-se ao que é justo e ao que é correto na questão, sem as preferências pessoais que, certamente, afetam os diretamente envolvidos. Finalmente, enquanto perdurar o conflito, enquanto ele não estiver totalmente acalmado, não só exteriormente mas também interiormente, não se deve tomar nenhuma decisão importante. Um grande passo, dado sob a influência negativa de um clima de disputa, tende a não dar certo. Isso que foi dito até aqui é o real: a disputa que já acontece ou pode acontecer ao sujeito da consulta, com relação àquilo sobre que consultou o oráculo. O ideal, segundo o Yi Jing, seria nem sequer gerar a disputa, promovendo, antes, a harmonização ou a contemporização. Seria cada um encontrar o seu próprio equilíbrio, utilizar suas forças para manter o equilíbrio e não tomar partido, pois nada de bom se origina de uma disputa: é algo estéril em si. No caso de não conseguir isso, o ideal seria procurar imediatamente um árbitro, o qual, baseando-se em valores preestabelecidos, ajudará a aclarar e resolver a questão, sem que haja disputa. Isso, naturalmente, só é possível se a consulta ao oráculo se referir a questões que ainda não estão em processo de disputa, embora já preocupem o consulente. Nada é dito quanto ao resultado final de uma disputa efetivamente instaurada, sobre quem irá perder ou ganhar. Talvez as linhas obtidas, se as houver, indiquem isso, ou o hexagrama derivado da sua mutação.
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IMAGEM: “O céu e a água divergem na sua ação e INUTILMENTE.
DISPUTAM
Assim, a pessoa sábia se ocupa de suas atividades planejando-as nas suas origens.” Na situação representada por este hexagrama, embora possa haver coincidência nos ideais e na teoria, há divergência nos movimentos e na prática, surgindo a disputa. O conselho dado pela Imagem se dirige à pessoa que, agindo com o máximo de nobreza e sabedoria de que o ser humano é capaz, trata de evitar qualquer motivo de disputa, e o faz planejando cuidadosamente as suas ações a partir da origem, dos passos iniciais, quando são estabelecidos os princípios norteadores da conduta, as metas da ação e suas etapas, outros detalhes e, principalmente, os direitos e deveres de cada um dos envolvidos. Embora isso não elimine completamente a possibilidade de discórdia, a diminui bastante. 1ª LINHA (6): “Não se prolongar nos assuntos, mantendo as palavras no mínimo, acaba sendo benéfico.” Para a pessoa a quem se refere a 1ª linha, o objeto da disputa existe por causa de seus relacionamentos com pessoas próximas e ligadas a ela. Por sua própria iniciativa ela não começaria um conflito, pois não possui inclinação nem força para isso, preferindo ficar envolvida com seus afazeres pessoais. Assim, a atitude aqui adotada, ou recomendada, é a de não prolongar a disputa, falando apenas o suficiente para esclarecer o assunto - para si mesmo e para os outros, se necessário - e só. Isso é o que dará certo no final, embora, por enquanto, talvez não se distinga nenhum encaminhamento de acordos. Pelo contrário, na continuação futura dessa questão, ainda haverá o perigo potencial de conflito, exigindo muita cautela e atenção às normas estabelecidas, por parte da pessoa da 1ª linha. Mas, agindo com simplicidade e discrição, ela conseguirá seguir seu caminho sem ser importunada. 2ª LINHA (9): “Não podendo disputar, foge e volta à sua cidade de menos de trezentas casas, sem sofrer grandes perdas.”
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Aqui o conselho é para a retirada e abandono total da disputa ou da questão que possa levar à disputa. A pessoa a quem se refere a 2ª linha, pela sua energia pessoal, pelo seu empenho e pela sua posição sólida e equilibrada, pensa que pode levar avante uma disputa e vencer, ou pensa que o assunto da consulta pode ser conduzido com base na correção, na análise e na moderação, sem gerar conflitos. Porém ela está enganada: as suas próprias características de espírito conciliador e sensato a colocarão em posição ainda mais desvantajosa com relação aos outros envolvidos na questão, seus possíveis opositores, que, também por suas características pessoais e de posição no contexto, estão em situação de muito mais poder do que a dela, tendo, portanto, mais condições de enfrentar e vencer uma disputa. Assim, o correto para a pessoa da 2ª linha é realmente fugir da disputa e se esconder quietamente em meio aos seus, para não ser provocada ou perseguida. Isso não é covardia, mas é uma necessidade do momento. É claro que essa atitude pode levar toda a matéria da consulta a um estado de estagnação que, entretanto, será benéfico. 3ª LINHA (6): “Alimenta-se do seu potencial original e insiste nele com um rigor que acaba sendo benéfico, mas, no caso de atender aos assuntos do rei, não consegue nada.” Aqui a pessoa é aconselhada a abandonar a disputa, seguindo o exemplo de outros, mais experientes, mais sábios ou mais velhos, ou seguindo seus próprios valores e costumes tradicionais. A pessoa, talvez, não queira fazê-lo, por se julgar muito forte e bem relacionada. Mas não é realmente forte, apesar de toda a sua energia e lucidez, e os seus relacionamentos tendem a envolvê-la em trabalhos e disputas, sem considerar as suas reais possibilidades. O resultado é que, se ela se meter em conflito com elementos mais poderosos do que ela, ou simplesmente se envolver em atividades com eles, não conseguirá nada e, no futuro, se verá depauperada e sem condições de fazer muita coisa. Se, por outro lado, ela se mantiver na atitude de seguir prudentemente a trilha mais pacífica, traçada por outro, pela tradição ou por si mesma, e se conscientizar dos riscos existentes, acabará conseguindo um bom encaminhamento da questão e evitará grandes erros no futuro, embora, talvez, ainda tenha dificuldade de avançar. 4ª LINHA (9): Elisabete Araujo Leonetti
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“Não podendo disputar, retrocede e assume seu quinhão; mudar, insistindo calmamente, é benéfico.” O conselho ou a previsão para o sujeito da consulta, nesta linha, é para não disputar agora, mas também não desistir dos seus objetivos: ele deve trocar a luta aberta pela persuasão discreta, pela insistência calma. Aparentemente, os objetivos ou os desejos da pessoa da 4ª linha conflitam com aqueles das pessoas com quem interage, na matéria da consulta, e a quem deve obediência, consideração ou solidariedade, de modo que ela está em posição inconveniente e desvantajosa para sustentar uma disputa. Tendo clareza de visão suficiente para perceber essa situação e as suas reais possibilidades; sabendo que, sozinha ou com apoios fracos, não terá força para vencer; e, além disso, sentindo um pouco de hesitação, a pessoa recua, desiste da disputa. Ao mesmo tempo, ela possui firmeza interior bastante para não abandonar as suas metas e, assim, continua perseguindo-as a seu próprio modo, sutil e penetrante, insistente sem ser agressivo. Isso é o que dará certo e, na continuação futura da questão da consulta, a pessoa consegue não só se libertar daquela teia que a tolhia, mas ainda atingir o objetivo, ganhar o que pretendia, embora parecesse perder. Agindo do modo aqui descrito, a pessoa não perde nada. 5ª LINHA (9): “Na disputa tem benefícios fundamentais.” Esta linha mostra o elemento que consegue manter-se acima das disputas. Ele não ignora os conflitos, não se retrai, não foge nem se esconde: consegue tomar conhecimento e partido sem se deixar envolver, atuando exatamente como um juiz. Consegue isso devido à posição inatacável que ocupa, no assunto da consulta, e também pelas suas qualidades intrínsecas de correção, equilíbrio e senso de justiça. Pode ser que esta linha indique o árbitro a quem os litigantes devem procurar para resolver suas desavenças, ou pode ser que indique o comportamento ideal que o sujeito da consulta deve assumir, com relação à questão em foco. De qualquer modo, a atuação da pessoa da 5ª linha é benéfica, trazendo, a partir da sua intervenção, o bom encaminhamento da matéria. Talvez a questão não fique inteiramente resolvida imediatamente. Se for assim, não há motivo de arrependimento para a pessoa da 5ª linha e ela deve insistir no seu comportamento atual.
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6ª LINHA (9): “No caso de obter um cinto de dignitário como prêmio, no final da manhã lhe será arrancado três vezes.” Aqui se mostra a pessoa que move uma disputa ou que se empenha muito para obter vantagens superficiais, pequenas. O Yi Jing adverte que nenhum ganho moral ou social verdadeiro lhe advirá dessa conduta. Ainda que venha um ganho, será de pouca duração, tão inconsistente quanto o objeto pelo qual lutou, acabando mesmo por ser motivo de demérito para a pessoa. A explicação para a pessoa da 6ª linha agir de um modo inferior ao que seria próprio para alguém do seu nível é que, enaltecida pela sua força e poder, ela se deixa atrair para a disputa e envolver por elemento(s) de um nível mais baixo do que o seu, em algum aspecto. Se isso ainda não aconteceu, o consulente deve tomar esta linha como a indicação de um caminho a evitar. Se isso já aconteceu, ou se as coisas tomarem efetivamente o rumo aqui descrito, a tendência é de a superficialidade da pessoa da 6ª linha se acentuar e de os agravos aqui sofridos a deixarem insegura e com medo de agir, em meio ao sofrimento.
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HEXAGRAMA 7: LIDERANDO COM EXPERIÊNCIA
JULGAMENTO: “LIDERANDO: a insistência de um homem experimentado é benéfica e não erra.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo indica que a pessoa, sujeito da consulta, está diante de uma grande quantidade de elementos que existem por si, mas que, a fim de se tornarem úteis para ela, precisam ser dominados e organizados. Em suma, ela precisa assumir o comando da situação, ou da relação, ou da sua própria vida, para ter possibilidade de êxito no assunto da consulta. Para essa tarefa, ela conta com: o apoio dos seus superiores ou dos seus relacionamentos mais íntimos; a experiência e orientação de outros, em geral, com a energia e aplicação deles; e com a própria experiência que possua ou que irá adquirindo no decorrer da ação. Trata-se de reunir, disciplinar e comandar uma energia dispersa, mas não necessariamente oposta ou revoltosa. Se são pessoas os elementos que se tem de organizar, o Yi Jing lembra que aquele que comanda tem que se identificar com aqueles a quem comanda: não há liderança sem liderados, não há comando sem a massa a comandar. Ou seja, para manter a posição de líder, a pessoa tem que garantir que haja elementos que queiram ou precisem ser liderados por ela. A maneira correta de liderar, aqui indicada, é tratando a todos como iguais, sem fazer distinções; é agindo com firmeza, equilíbrio e rigor, primeiramente consigo próprio, até mesmo para não se deixar inebriar nem envenenar pelo poder; e é submetendo a todos, inclusive a si próprio, à devoção àquela força maior que é o ideal ou meta a atingir. Não há alegria na ação aqui prevista. Em face da necessidade de organizar e dirigir, há o perigo de não se conseguir dominar os elementos com que se tem de lidar, há a imposição de disciplina para fazer as coisas andarem de forma ordenada e segundo a nossa vontade, há a insistência e dedicação da pessoa e, finalmente, se houver êxito, há a sujeição e estabilização dos elementos. Também há companhia, muitas ligações entre os vários envolvidos na questão e, em particular, uma relação profícua entre o sujeito da consulta e aquele ou aquilo a quem ele se devota. Pode ser que o exercício da liderança surja como uma necessidade de pôr ordem à massa de elementos que, neste momento, envolve o Elisabete Araujo Leonetti
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consulente e que, se não for organizada de forma útil, pode não só não lhe servir, como até atrapalhar. A idéia é de que aquilo que se procura ou com que se tem trabalhar não está muito distante de nós, mas faz parte do meio em que nos movemos, ou está oculto dentre o que temos à nossa disposição no momento, embora ainda não o distingamos, por não estar elaborado e destacado. Mas isso é apenas em princípio, uma possibilidade; nada impede que a pessoa percorra grandes extensões para reunir o “exército” que virá a liderar. Trata-se, portanto, de um momento ativo e provavelmente progressista, de avanço, na vida do sujeito da consulta, mas não necessariamente de alegrias e amenidades. Pelo contrário, trabalho, responsabilidade e seriedade serão requisitos essenciais para a boa condução da matéria que, segundo o Yi Jing, tem plena possibilidade de atingir o êxito. O êxito na ação aqui prevista pode ser atingir o objetivo que o consulente tem em mente, mas pode ser simplesmente deixar algo preparado para ser utilizado na hora em que precisarmos dele. Pode ser acumular reservas (de conhecimentos, de forças, de aliados, de dinheiro, de soldados, seja lá do que for). Mais garantido ainda está o início de uma realidade nova, emergindo da ação ora empreendida. Em resumo, é para agir e insistir na ação, procurando dominar e organizar aquilo que constitui a matéria da consulta. Se se puder, nessa atividade, utilizar a experiência de outros, melhor, pois as coisas andarão com mais facilidade e sem erros. Se não pudermos contar com experiência já existente, temos de ir adquirindo nossa própria experiência durante a ação. IMAGEM: “Há água no meio da terra: LIDERANDO COM EXPERIÊNCIA. Assim, a pessoa sábia, porque abraça o povo, contém as massas.” O conselho da Imagem, dirigindo-se a todos os que obtiveram este hexagrama na consulta ao Yi Jing, lembra que o material com o qual temos que trabalhar, neste momento, está à nossa volta, mesmo que nós não o percebamos. Dentre os elementos de que dispomos, através de uma dedicação especial a eles, poderemos extrair aquilo de que precisamos, ou que queremos, utilizando-o em seguida, ou deixando-o à disposição para quando precisarmos, segundo a nossa vontade. Sob outro ponto de vista, a Imagem diz que aquilo que queremos ou de que precisamos não virá pronto para nós, de algum lugar, mas que, ao contrário, nós mesmos é que temos de descobri-lo, a partir do nosso lugar, e, assumindo a liderança do processo, elaborá-lo para deixá-lo em condições de ser aproveitado.
Elisabete Araujo Leonetti
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1ª LINHA (6): “Um líder se manifesta usando regras porque, sem elas, haverá prejuízo.” Esta linha mostra a pessoa completamente frágil e impotente perante a realidade que tem de enfrentar. Ela nem sequer tem uma visão completa de toda a abrangência daquela realidade. Assim, a única maneira boa que ela tem de avançar é apoiando-se em normas: seja naquilo que já é convencionado, preestabelecido ou ordenado para situações desse tipo, seja em regras que ela mesma estabeleça. E o oráculo mostra que essa possibilidade existe, pois, bem próximo à pessoa da 1ª linha, diretamente ligado a ela, está o elemento que pode - e até mesmo deve - dar-lhe as diretrizes básicas a fim de que ela comece a dominar e comandar a massa informe que tem pela frente. Sem esse apoio, sem essa orientação da lei, das regras, a pessoa da 1ª linha pode até dominar a situação e progredir - não é dito que ela fracasse - mas, de qualquer modo, terá muito sofrimento. A salvação para ela, no sentido de evitar dores e danos, é ater-se a normas de conduta e apegar-se a quem possa ajudá-la com sua experiência. Provavelmente é isso que a pessoa da 1ª linha fará, pois a sua previsão para o futuro, partindo deste momento, é de insistência e sucesso no avanço, acompanhada. 2ª LINHA ( 9): “Um líder equilibrado é benéfico e não erra, o rei o galardoa três vezes com o comando.” A pessoa a quem se refere esta 2ª linha está ou tem possibilidade de estar numa posição extremamente favorável com relação ao assunto da consulta. Ela é forte, equilibrada, muito bem relacionada, e domina plenamente a realidade com que tem de lidar neste momento, conduzindo as coisas na direção desejada, de uma maneira acertada e feliz. Além disso, sua posição e seu mérito são reconhecidos e acatados por todos os envolvidos na situação, sem exceção, inclusive por aqueles que, em virtude de sua experiência ou autoridade, detêm um status mais elevado, e a quem ela atende com prontidão e sem espírito de rivalidade. Essa pessoa, segundo o Yi Jing, atravessa um período de boa sorte na matéria da consulta, derivado da boa vontade que elementos espirituais, superiores, têm para com ela, ajudando-a. No futuro, deve continuar, para a pessoa da 2ª linha, a possibilidade de uma atuação efetiva, fácil e correta, de grande alcance dentro dos limites da matéria da consulta. 3ª LINHA (6):
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“Um líder que provavelmente carrega cadáveres é prejudicial.” A 3ª linha mostra que, além de a pessoa ter de se defrontar com uma realidade possivelmente nova, e dominá-la e comandá-la, ela mesma também faz parte dessa realidade, tendo de trabalhar a si própria para crescer e tornar-se digna daquilo que tem em mente e que provavelmente é o ponto principal da questão da consulta. A situação é muito difícil para essa pessoa, porque ela tem de conduzir as coisas sem saber como fazê-lo e sem ter força e autoridade sobre nada. Mas agora ela esta aí. Precisa agir e, se ficar carregando consigo, no presente, coisas mortas do passado - sentimentos, preocupações, sonhos, receios, saudades, remorsos, enfim, qualquer coisa que já é mais atuante e que, portanto, não deveria ocupar a sua mente e o seu coração - terá sofrimento e complicações na execução das suas tarefas. Também terá sofrimento se, em virtude de impulsividade, desprezar a experiência alheia, agir afoitamente por conta própria, e vier a ser derrotada, transformando sonhos e projetos em cadáveres. Ainda poder-lhe-á advir sofrimento se, por causa da sua insensatez e inexperiência, males e mortes vierem a ser provocados, gerando culpas e remorsos que terá que carregar. Como se vê, em qualquer caso em que venha a ter infortúnio, observa-se que a sua atuação foi completamente desprovida de mérito, ficando também sem valor algum o seu sofrimento posterior. Melhor evitar esses males: não servem para nada. E de fato, parece que, com alguma sorte e com essa orientação do Yi Jing, a pessoa da 3ª linha resolve adotar uma atitude mais condizente com a sua posição. Assim conseguirá ir avançando sem dificuldades. 4ª LINHA (6): “Um líder que acampa à esquerda não erra.” Aqui o sujeito não se anima a enfrentar a realidade que tem em torno de si, toda espalhada e embaralhada, para tentar dominá-la e comandá-la. Ele não tem apoio, força, nem disposição para tal tarefa e, conforme, provavelmente, é seu costume de agir no assunto de que trata a consulta, resolve parar e aguardar que as coisas se ajeitem por si mesmas, ou que alguém o ajude a enfrentar a situação. O Yi Jing declara que não há erro nenhum nessa atitude, uma vez que só assim a pessoa evita de se perder permanentemente no emaranhado das coisas que, em princípio, deveria controlar. Elisabete Araujo Leonetti
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O encaminhamento futuro da questão revela que, se a pessoa se livrar de certas ligações ou posturas que dão aos outros a falsa impressão de que ela está muito bem amparada e encaminhada, e se mostrar livre e disponível, logo aparecerão apoios confiáveis e a pessoa terá ajuda para prosseguir no seu próprio rumo que, talvez, não seja o de enfrentar a realidade que ora se apresenta. 5ª LINHA (6): “Há animais no campo, é conveniente conter as palavras para não errar. O filho mais velho deve ser o líder que comande porque o filho mais novo vai carregar cadáveres, insistir é prejudicial.” Esta linha recomenda contenção. Embora o sujeito da linha já distinga bem as suas metas e saiba aonde ir e o que deveria dominar para continuar avançando na matéria da consulta, não errará se não avançar agora. O que é correto agora é ele não se envolver, não lutar. Na verdade, seja por limitações inerentes à sua posição, excessivamente rígida, presa a formalidades, tolhida por impedimentos legais ou coisas assim; seja por inaptidão - talvez até fraqueza - pessoal, o sujeito da 5ª linha não pode empreender por si mesmo a tarefa em questão. A tarefa em si é espinhosa, difícil, demorada. Se a tarefa depender do sujeito da linha e ele procurar e obtiver auxiliares fortes, dinâmicos, leais, experimentes e equilibrados, tudo correrá bem, conforme os seus desejos; se, ao invés, procurar ajuda entre elementos sem merecimento, inexperientes e impulsivos, sem força nem bom senso, o resultado será desastroso e então é melhor suspender a ação, para evitar maiores danos. Se, por outro lado, a tarefa não depender do sujeito da consulta, ele deve abster-se de emitir opiniões ou tomar partidos. De qualquer maneira, na continuação dos atuais empreendimentos, a pessoa da 5ª linha terá que esperar que os vários componentes da realidade em questão estejam nivelados, para que a ação prossiga sem erro. Esta ação de agora, sozinha, não basta: é importante mas não é suficiente para o domínio total da situação. 6ª LINHA (6): “Um grande príncipe tem que ser nomeado para estabelecer feudos e dar suporte às famílias, porque um homem inferior não seria útil.” Esta linha mostra a necessidade de organizar e bem administrar o que foi alcançado até o momento, a fim de sirva aos propósitos que se intenta. Elisabete Araujo Leonetti
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Mais uma vez serão necessários auxiliares, e mais uma vez é fundamental que a escolha recaia nos elementos adequados, naqueles que apresentam capacidade, experiência e lealdade. Tanto faz se a pessoa da 6ª linha é aquela que delega poderes ou aquela que recebe poderes: em ambos os casos tem que ser íntegra e ter grandeza pessoal, pois uma pessoa inferior ou desonesta não possui merecimento suficiente, seja para escolher auxiliares, seja para atuar como auxiliar. Em qualquer posição de poder, a pessoa inferior tenderia a cometer abusos e injustiças, ao invés de simplesmente coibi-los; e seria incapaz de comandar as coisas de modo a manter a ordem necessária ao bom desenvolvimento da questão da consulta.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 8: APROXIMANDO-SE MUTUAMENTE
JULGAMENTO: “APROXIMAR-SE MUTUAMENTE é benéfico. Consultar o oráculo outra vez é a fonte duradoura, não há erro.
de uma insistência
Os intranqüilos vêm das quatro direções, o homem retardatário terá prejuízos.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing indica que, de qualquer ângulo que se a olhe, a realidade enfocada pela consulta necessita, para o seu bom desenvolvimento, de uma conjugação de esforços, ou de uma adesão de todos os envolvidos a um ponto de referência comum. Não importa se a união vier a ocorrer em torno do ponto mais alto da realidade - que seria como que o ideal almejado por todos - ou em torno do ponto mais baixo da realidade - que seria como que o mínimo indispensável em que todos estão de acordo. O importante é que a união se dê, e rapidamente, porque a intranqüilidade e o perigo estão em volta por toda a parte. A intranqüilidade provém justamente da falta de coesão e, por conseguinte, da falta de força em face de qualquer possível perigo ou adversidade, pois cada um dos elementos da realidade enfocada é, em si mesmo, fraco e impotente para fazer frente a um obstáculo maior. Mesmo aquele sobre quem repousam as esperanças de concretização da união, o provável líder, mesmo este nada pode se não tiver a adesão dos outros. No entanto, tal como o Yi Jing, ele não se move em direção aos outros: ele se mostra receptivo e aguarda que os outros elementos se coloquem em relação com ele. Aí ele deve se manifestar, agindo da forma mais benéfica para todos, apoiando e ajudando os que o procuram. Isso deve ser adaptado, conforme o caso, para uma situação que envolva várias pessoas ou entidades, ou para uma situação que envolva uma só pessoa mas vários elementos que ela precisa coordenar, dentro ou fora dela. Os perigos são se basicamente dois: o de esvaziamento da motivação antes mesmo de a união efetivar-se (daí a recomendação de pressa na tomada de providências), e o de desmoronamento dos objetivos pretendidos mesmo tendo-se conseguido a adesão de todos. Ou seja, o Elisabete Araujo Leonetti
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fato de se conseguir a união não garante o sucesso no que se pretende. Mas é um passo fundamental. Sem a união, o insucesso é certo, pelo menos para aqueles que ficarem de fora. E também não é garantido que o sujeito da consulta vá conseguir essa aproximação, essa conjugação de esforços tão necessária para o bom desenvolvimento da matéria: o que o oráculo diz é que essa união é importante, fundamental, mas não diz que se vai obtê-la. Talvez por isso o Yi Jing recomenda que, caso restem dúvidas ao consulente quanto ao desfecho ou ao desenrolar da questão, ele não hesite em consultar mais vezes o oráculo. O objetivo da aproximação aqui prevista é a ajuda. Os que podem dão ajuda, os que precisam recebem ajuda. Uma vez que haja correspondência entre os vários elementos, a ajuda se completa e continua no tempo, não é algo estanque. O relacionamento só se esgota, só termina, para aqueles que não se decidirem ou não forem englobados a tempo pela aproximação, perdendo a oportunidade. IMAGEM: “Acima da terra há água APROXIMANDO-SE MUTUAMENTE. Assim, os antigos reis estabeleciam muitos estados e intimavam com todos os senhores feudais.” Aqui se ressalta a importância das partes - das várias pessoas, dos vários componentes da situação - para a plena realização do pretendido pelo sujeito da consulta. Nem sempre a realidade com que temos que lidar já se nos apresenta devidamente dividida e organizada em setores. Muitas vezes, o que temos é um todo mais ou menos informe, que nós mesmos é que temos que segmentar, identificando e classificando cada uma das suas partes. Para a solução da questão da consulta, ainda não basta apenas identificar e classificar os componentes da situação; é preciso estabelecer boas relações, de preferência excelentes relações, com cada um desses elementos, ou com aqueles que os representam, a fim de que se possa iniciar a relação de ajuda, de conjugação de esforços, tão necessária aos propósitos do sujeito da consulta. É claro que tanto a realidade quanto os seus componentes podem ser interiores ou exteriores ao sujeito. 1ª LINHA (6): “Tendo confiança aproxima-se dele, não há erro. Ter confiança enche o cântaro e acaba atraindo outra pessoa, o que é benéfico.”
Elisabete Araujo Leonetti
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Aqui a pessoa, cheia de confiança pura e despretensiosa, toma a iniciativa da aproximação. Segundo o Yi Jing, sua atitude está certa e acaba dando o resultado esperado, pois a pessoa consegue a aproximação, não só dela em direção a outros, mas também de outros em direção a ela, e isso lhe traz benefícios. Mesmo que, no futuro, surjam dificuldades e obstáculos, ela não deve desistir de seu objetivo, mas sim insistir nele e procurar mais ajuda, principalmente se esta é a única linha mutante obtida. 2ª LINHA (6): “Aproxima-se dele espontânea e interiormente, insistir é benéfico.” Aqui a pessoa toma a iniciativa da aproximação, motivada por uma inclinação íntima do sentimento, do coração. Pode ser que, no momento, a aproximação esteja só na intenção, ainda não colocada em prática; mas é algo muito importante para a pessoa, e ela deve insistir no seu propósito, nessa união, pois isso será bom para ela e a ajudará a alcançar o que deseja. Se a pessoa não buscar a aproximação, corre o risco de se perder, o que seria muito negativo, sobretudo se se considerar que ainda há, pela frente, um período de dificuldade e escuridão, que só permitirá pequenas realizações, principalmente se esta foi a única linha mutante obtida. 3ª LINHA (6): “Aproxima-se dele, mas é a pessoa errada.” Esta linha mostra como, embora o objetivo da aproximação esteja correto, o objeto do qual o sujeito da consulta se aproxima, ou que busca unir-se a ele, é inadequado. Aparentemente é inadequado simplesmente porque não serve para os objetivos propostos, não tem capacidade de preencher corretamente as funções dele esperadas e, portanto, não corresponderá às expectativas, mas pode haver outras razões. Se for uma pessoa, provavelmente não tem força, nem iniciativa interna nem estímulos exteriores para conseguir fazer o que precisa. O resultado é que deverá advir prejuízo dessa aproximação, levando a que, logo em seguida, a pessoa tenha que deter o processo de união e retornar ao ponto anterior. Isso traz satisfação aos seus companheiros mais chegados, que se alegram por vê-la abandonar um rumo errado. 4ª LINHA (6): “Aproxima-se dele exteriormente, insistir é benéfico.”
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Esta linha mostra que não há uma verdadeira identificação ou atração entre os elementos que se pretendem unir. Assim, a aproximação é apenas externa, motivada por uma avaliação das vantagens da união. Como este é o momento em que se deve buscar a conjugação de esforços, ou em que se procura ajuda, proceder agora a essa aproximação, embora seja só exterior, poderá beneficiar o sujeito da consulta. Mas ela não deve servir de única base para realizações que se pretenda mais duradouras. Se esta foi a única linha mutante obtida, a pessoa provavelmente conseguirá o que quer, mas precisará de muita boa sorte para não ter incomodações depois, porque faltará uma base de verdade e merecimento à sua posição. 5ª LINHA (9): “Aproximam-se dele por ser eminente. O rei utiliza três linhas de batedores, deixando fugir os pássaros da frente; assim, os súditos não são intimidados, o que resulta benéfico.” A 5ª linha mostra a pessoa que promove a aproximação, e revela suas intenções e modo de agir. A pessoa é alguém que, na questão da consulta, ocupa uma posição de liderança e tem capacidade para promover a conjunção necessária ao bom andamento da matéria. Ela possui bons relacionamentos em quase todas as áreas da realidade abrangida pela consulta. É forte, equilibrada, autoconfiante, e se conhece a si própria e aos elementos com que tem de lidar suficientemente bem para não duvidar do êxito das suas movimentações. Suas intenções são claras e passíveis de conhecimento por todos, embora tenham aspectos profundos que só a própria pessoa e os mais chegados a ela conhecem, pois fazem parte do seu modo de ser ou dos seus anseios mais profundos. Porém, não são prejudiciais a ninguém. O modo de agir da pessoa da 5ª linha, ao promover a aproximação, é estimular sem forçar. Ela se mostra receptiva, chama, atrai, talvez até induza alguns elementos a se aproximarem, mas não faz nenhum encaixe à força, deixa sempre uma abertura por onde aqueles que não se enquadram no esquema, ou não querem fazer parte dele, podem sair livremente, sem que lhes seja causado qualquer dano ou perseguição. Isso tudo assegura, à pessoa da 5ª linha, a continuidade da sua posição de influência, com a manutenção das realizações aqui obtidas e, principalmente, a manutenção da sua integridade pessoal. 6ª LINHA (6): “Aproxima-se dele sem reconhecer seus erros; isso lhe traz prejuízos.” Elisabete Araujo Leonetti
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Aqui o oráculo mostra que há falta de humildade - e talvez também de sinceridade e confiança - no movimento de aproximação, o que traz sofrimento e prejudica o bom andamento da matéria da consulta. Ao que parece, existe uma certa pretensão por parte do sujeito da 6ª linha, que, sem enxergar - ou sem reconhecer - seus próprios erros, deficiências, carências ou falhas, procura se unir aos que são bons, corretos e equilibrados, como se fosse igual ou até melhor do que eles. Mas, neste momento ou num futuro próximo, os outros envolvidos na questão da consulta observam e analisam com atenção e expectativa o seu comportamento: não adianta ele tentar esconder seus pontos fracos. Também acontece que o sujeito desta linha é o último a tentar a aproximação: talvez o momento adequado já tenha passado, embora, para ele, a necessidade de aproximação ou de conjugação de esforços ainda persista.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 9: CONTIDO PELO PEQUENO
JULGAMENTO: “Apesar de CONTIDO PELO PEQUENO, ainda exerce influência. Nuvens densas sem chuva se originam na nossa fronteira oeste.” Este hexagrama revela que o desenvolvimento do assunto da consulta ou a atuação do sujeito da consulta estão sendo refreados por algum fator que, em princípio, não deveria ser capaz de deter o avanço daquela matéria ou daquela pessoa, por ser, em algum aspecto - no valor, na potência, na experiência, no conhecimento, no tamanho, na idade, na hierarquia, na importância, etc. - inferior àquilo que ele detém. O elemento que quer se expandir é, por sua natureza, grande, forte, cheio de energia, possante, passível de duração no tempo, positivo, de ação direta, declarado. O elemento refreador da expansão não é necessariamente forte, é de ação sutil, insinuante, às vezes hesitante, mas sua influência é suficiente para deter o avanço do outro, dispersando-o completamente ou diminuindo o seu impacto. De qualquer forma são dois elementos opostos, separados, que não conjugam suas forças. Se se unissem em torno de um objetivo comum, provavelmente o avanço seria liberado. Em conseqüência disso, o que vier a ocorrer, se vier, será de pouco alcance. Aquilo que constitui o núcleo da questão da consulta está sujeito à contenção: não se desenvolverá muito. Se a questão formulada ao oráculo se referir a fatores negativos perigos, problemas, doenças, dificuldades, separações, etc. - eles não serão tão problemáticos quanto parecem: apesar da sua aparência ameaçadora, não chegarão a se concretizar ou, se se concretizarem, os danos que causarem serão de pequena monta. Se a questão formulada ao oráculo se referir a fatores positivos resultados de ações empreendidas, perspectivas de sucesso, sociedade, envolvimento amoroso, casamento, restabelecimento de enfermos, ganhos materiais, ascensão social, poder pessoal, etc. - eles não chegarão a se Elisabete Araujo Leonetti
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concretizar ou, se se concretizarem, não serão tão formidáveis quanto se esperava que fossem. Apesar de a força refreadora ser pequena, ela é eficaz, e as coisas podem ficar contidas por um tempo indeterminado, principalmente se este foi o único hexagrama obtido na consulta. Se foi o primeiro hexagrama obtido, as linhas tiradas e o hexagrama derivado da sua mutação indicarão a evolução provável da matéria da consulta, que poderá, inclusive, superar a contenção. Se foi o segundo hexagrama obtido, indica que a provável tendência das previsões do primeiro é serem detidas por algum elemento “pequeno”. IMAGEM: “O Vento age acima do Céu, que fica CONTIDO PELO PEQUENO. Assim, a pessoa sábia embeleza e refina seu caráter.” Quando as coisas estão com o desenvolvimento contido e o sujeito está com o avanço refreado, pouco é possível fazer. Então, o mais sábio é voltar-se para o interior e cuidar de melhorar o caráter. A pessoa pode tranqüilamente dedicar-se a essa tarefa de aprimoramento interno, pois sabe que, por enquanto, não terá que dispensar muito tempo e energia para as atividades objeto da consulta, as quais estão detidas. Depurar o próprio caráter também dará à pessoa (ou à empresa, à família, ao grupo, etc., àquele que for o sujeito da consulta) condições de melhor suportar as limitações impostas pelas circunstâncias. Da mesma forma, não é aconselhável agora tentar promover grandes alterações internas, reformulações totais do caráter. Isso não daria certo, porque até essa ação voltada para si próprio está contida por algum elemento “pequeno”. 1ª LINHA (9): “Retornando ao caminho por si mesmo, qual poderia ser o erro? Benéfico.” A pessoa a quem se refere a 1ª linha está com seu avanço bloqueado. Isso não ocorre por culpa sua, embora ela tome por si mesma a iniciativa de se conter. No que dependesse exclusivamente dela, ela avançaria, pois possui força, disposição e relacionamentos suficientes para ampará-la e estimulá-la. Mas alguma coisa há, talvez imperceptível por enquanto, que contraria o seu avanço de tal forma que ela, pressentindo isso, adota uma atitude bastante sábia e resolve voltar atrás, recuar, ou simplesmente não agir.
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Entretanto, ela não deve, por esse motivo, desistir dos seus objetivos, abandonar o assunto. No futuro haverá possibilidade de retomada das ações, com estabelecimentos de acordos e novos avanços e retrocessos. Não é caso para desistir. Tanto está correta a atitude da pessoa da 1ª linha que o oráculo lhe prevê uma evolução favorável do andamento da questão da consulta. 2ª LINHA (9): “Retornar arrastado é benéfico.” A 2ª linha mostra que tanto a vontade quanto a capacidade de avançar existem, mas ainda assim o avanço não é possível, devido a um impedimento que, na verdade, não se chegaria nem a perceber como força refreadora se não estivesse atuando como tal. Talvez o que ocorra seja o fato de que como, de um modo geral, tudo está bloqueado, a pessoa da 2ª linha não consegue, ou não lhe interessa, destacar-se do conjunto e avançar sozinha. Assim, contra a sua vontade, a pessoa é forçada a uma contenção. Isso está em conformidade com as circunstâncias e, assim, não rompe nenhum equilíbrio; acaba sendo bom. A continuar como está, num futuro próximo a pessoa da 2ª linha também não poderá promover o desenvolvimento autônomo de projetos. Mais uma vez, a sua inclinação pessoal importará menos do que a sua função no contexto. Seu avanço continuará refreado, talvez até por ela mesma, de uma forma mais consciente do que agora, em razão de compromissos e obrigações assumidas, que envolvem outras pessoas. Em compensação, se se restringir a isso, não terá maiores problemas. 3ª LINHA (9): “Os raios da roda reclamam do carro, como esposos que se olham de forma atravessada.” Para a pessoa a quem se refere esta linha, o avanço é detido por algo que faz parte dela mesma, ou por alguém que integra a sua situação existencial. Entre os dois elementos há uma divergência de ritmos e/ou de objetivos, refreando o movimento, o que desagrada a pessoa ou o fator representado pela 3ª linha, pois ele é, e sabe que é, mais enérgico, mais possante e mais decidido do que o outro, e ainda pertence a um grupo (familiar, ou profissional, social, organizacional, etc.) mais sólido e forte. Ainda assim, o outro elemento tem uma maneira de se impor, através da veemência, da repetição e da ocupação insinuante de espaços, que acaba detendo as pretensões da pessoa da 3ª linha, impedindo-a de expandir-se a seu gosto, tolhendo-a. Além disso, é possível que tenha um protetor poderoso. Elisabete Araujo Leonetti
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A pessoa representada pela 3ª linha deveria aproveitar a sua lucidez para conscientizar-se de que, nas circunstâncias presentes, ela não é separada daquilo que a incomoda. Ao contrário, os dois elementos, tal como se apresentam na matéria da consulta, formam um todo, e a pessoa deveria lutar para que atuassem como um todo, a fim de progredirem. Assim como está, a situação é insatisfatória e infelicitadora, devido ao conflito. A solução seria ou assumir a individualidade e partir para uma atuação independente, ou assumir a complementaridade, aceitando uma união realmente íntima com esse elemento, ou mesmo com outro, de mesmo nível que o seu. Essa última opção parece representar a tendência dominante da pessoa da 3ª linha. Entretanto, para isso, precisaria haver íntima confiança mútua entre os dois. 4ª LINHA (6): “Havendo confiança se afasta do sangue e supera o medo, nenhum erro.” A quarta linha representa a força refreadora da questão da consulta. A pessoa a quem se refere essa linha é, ela mesma, o agente refreador do seu avanço e, possivelmente, também do avanço dos outros. A força refreadora é a desconfiança, a dúvida. Esta gera o conflito e o medo. O conflito pode ser declarado ou latente e se deve ao próprio fato de que, com sua hesitação e seus receios, a pessoa da 4ª linha acaba tolhendo a sua ação e a dos outros, principalmente daqueles que lhe estão mais próximos e que são influenciados por ela, pelo seu discurso repetido e/ou pela sua insinuação sutil. Embora deixando-se influenciar, os outros ficam contrariados e descontentes, o que pode fazer aflorar antagonismos. O medo provém da falta de autoconfiança da pessoa da 4ª linha. Ela duvida da sua capacidade de realizar o que gostaria ou de cumprir a sua parte em determinada tarefa, por isso teme o fracasso e a desaprovação dos outros, principalmente da parte daqueles que são seus superiores e detêm o poder de decisão na situação da consulta, e que agora a apóiam e estimulam. O oráculo aconselha a pessoa a cultivar a confiança em si mesma e nos outros. Confiando na capacidade dos seus companheiros, ela não mais tentaria deter o avanço deles, deixando assim de gerar conflito. Confiando na sua própria capacidade, ela deixaria de lado a insegurança e o medo, e não mais conteria o seu próprio avanço. Observe-se que não há previsão de que a ação, se for empreendida, vá dar certo: apenas há a recomendação de que se elimine a contenção e se libere a ação, através da confiança e da autoconfiança.
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A tendência da pessoa da 4ª linha é fazer isso mesmo, embora, de imediato, não o consiga realizar plenamente. Num momento futuro, ela já estará avançando, mas ainda de forma hesitante, sem ter definido bem os rumos a tomar. Deve ficar claro que, tanto no momento presente quanto no desenvolvimento da questão da consulta, a pessoa da 4ª linha age com sinceridade, com autenticidade, seguindo a sua própria natureza; e, se ela chega a causar mal a outrem ou a si própria, fá-lo por excesso de zelo e não por falha de caráter. 5ª LINHA (9): “Havendo confiança, amarrando-os, enriquece usando seus vizinhos.” Apesar de a situação geral ser de contenção, a pessoa a quem se refere a 5ª linha consegue algum resultado, se não de avanço, pelo menos de acumulação. Para conseguir esse resultado, ela precisa da colaboração de elementos que a ajudem, tanto direta quanto indiretamente; ou seja, seus próximos devem não só eles mesmos cumprirem a sua vontade, quanto compreendê-la e expô-la para que seja cumprida por terceiros. Para conseguir a ajuda, ela precisa confiar em si e nos outros. Em primeiro lugar, deve ter autoconfiança, baseada na consciência do seu valor e da clareza da sua visão sobre a questão da consulta. Em segundo lugar, deve inspirar confiança, o que provavelmente já acontece, para que os outros se sintam dispostos a colaborar com ela e não atrapalhem o seu avanço. E, finalmente, deve depositar confiança, acreditando na capacidade alheia, não duvidando de que eles possam realizar coisas, apesar da contenção. De um certo modo, a pessoa da 5ª linha está acima da força refreadora. Reconhece-a, respeita a sua influência no todo, mas não chega a sofrer pessoalmente os seus efeitos, e até a utiliza a seu favor. À medida que avança, arrasta os outros consigo, contribuindo para promover o progresso de todos. A tendência é de a posição da pessoa se tornar mais sólida e mais forte a partir dos acontecimentos aqui vivenciados, embora ela mesma, no seu caráter, se torne ainda mais flexível e receptiva. Com isso ela terá condições de enfrentar, com sucesso, novas situações de contenção. 6ª LINHA (9): “Já choveu, já parou. Posicionada acima consegue uma carruagem, mas, se a mulher insistir, enfrentará perigo. Como a lua Elisabete Araujo Leonetti
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está quase cheia, se a prejuízo.”
pessoa sábia avançar decididamente, terá
Desejando avançar, a pessoa a quem se refere esta linha, devido à sua própria energia individual, não se conforma muito em aceitar a contenção que o momento apresenta, e acha, e realmente parece, que vai conseguir escapar-se dela. Porém, mesmo essa suposta liberação é limitada, e não há perspectivas de a pessoa conseguir mais, por enquanto. Quaisquer tentativas de forçar o avanço deverão levar a perigo ou a sofrimento, porque a contenção ainda domina. O pouco que se consegue não é bem o que se esperava, deixa a desejar, não satisfaz, ou vem fora de hora. Assim, a pessoa não deve esperar realizar mais, por enquanto. Se avançar mais agora, isso gerará desconfianças nos outros e levará a uma espera que terminará em frustração e perdas só superáveis com a aceitação de ajuda vinda de fora. Se, por outro lado, a pessoa a quem se refere a 6ª linha desejava conter o avanço (seu ou alheio) e estava exercendo a contenção, ela deve saber que não vai conseguir segurar as coisas por muito mais tempo. O poder de conter está quase no seu limite máximo: a partir daí as coisas serão liberadas mas, infelizmente, a tendência é de nem tomarem bom rumo nem irem muito longe, gerando, novamente, frustração e perdas que só serão superadas com a intervenção de novos elementos, bons, que agora não estão atuantes na matéria da consulta. Assim, de qualquer maneira a previsão não é boa para quem chegou ao ponto indicado por esta linha. Portanto, se o consulente tiver alternativas de ação que evitem esse ponto, deve procurá-las. Porém, se já tiver chegado até aqui, deve esforçar-se para conservar aquilo que é bom para ele e que é correto, e deve procurar não se rebaixar a um nível de comportamento inferior ao seu melhor. Através dessas atitudes é que evitará grandes perdas.
Elisabete Araujo Leonetti
18/06/2014
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HEXAGRAMA 10: ANDANDO COM CUIDADO
JULGAMENTO: “ ANDANDO COM CUIDADO sobre a cauda de um tigre o homem não é mordido e pode exercer influência.” Este hexagrama mostra uma situação em que um elemento fraco interage com um elemento forte e perigoso. Todo o texto oracular é um ensinamento de como agir nessa situação, o qual se resume a três proposições: - Agir. - Agir conforme as normas. - Agir com cuidado. A recomendação de agir é exatamente uma exortação para moverse, para não ficar parado, porque é necessário sair da situação, sair da zona de perigo, ficar fora do alcance do “tigre”. A recomendação de agir conforme as normas se deve ao fato de que, respeitando as normas legais, os direitos e deveres, as regras de etiqueta e cortesia, a hierarquia, os costumes, etc., o elemento fraco corre menos risco de irritar ou ofender o forte por algum deslize involuntário, impensado, além de ficar mais protegido, pois está dentro da norma. A recomendação de agir com cuidado é fundamental para a sobrevivência do elemento fraco no que diz respeito à questão da consulta: se agir descuidadamente, expor-se-á de todo ao perigo, com poucas chances de sair ileso. Até o momento da consulta a situação está ainda sob controle, embora em estado de grande tensão. Se este foi o único hexagrama obtido, a previsão é de que a situação não vai sair disto: um perigo potencial que permanece potencial, que não se concretiza - como um cão que rosna mas não morde - frente ao qual a pessoa tem que agir com muito cuidado, observando atenciosamente as normas de conduta vigentes, e do qual deve se liberar logo que puder. Se este foi o segundo hexagrama obtido na consulta, significa que a situação apresentada pelo hexagrama primitivo resultará num clima de Elisabete Araujo Leonetti
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perigo potencial, ou numa relação com um elemento perigoso, gerando a necessidade de muita cautela e atenção às normas vigentes, por parte do sujeito da consulta. Porém, se o consulente obteve este hexagrama como primeiro, com linhas mutantes, isso pode significar ou que o elemento perigoso se transformará de ameaçador em atacador, ou que a pessoa conseguirá sair ilesa da esfera do perigo: as linhas obtidas é que irão definir isso e indicar qual a conduta melhor a ser adotada e quais os erros a serem evitados, além da recomendação geral de cautela e observância das normas. É claro que pode ocorrer o caso de o elemento forte e perigoso se encontrar dentro do próprio sujeito da consulta, constituindo-se num aspecto da sua personalidade ou num medo, desejo, doença, etc., que se avoluma assustadoramente dentro dele, a ponto de se tornar uma ameaça. Nesse caso, continua sendo necessário agir para fugir do perigo, bem como ter cautela e extrema atenção ao que é consensualmente considerado correto. Finalmente, cabe dizer que essa configuração dos fatos não foi necessariamente escolhida, mas está aí e é preciso lidar com ela. Muita coisa pode ser obtida a partir dessa situação; daí o interesse em chegar bem ao fim dela. IMAGEM: “Acima o céu e abaixo o lago: ANDANDO COM CUIDADO. Assim, a pessoa sábia, porque discrimina entre o alto e o baixo, fortalece as tendências do povo.” A primeira coisa que deve fazer quem obteve este hexagrama é verificar, na matéria da consulta, qual é o elemento fraco e qual é o elemento forte. Isso às vezes pode estar evidente, às vezes não, porque há uma certa identificação e atração entre os dois, como um lago espelhando o céu ou uma filha pequena provocando o pai. Tendo verificado qual é o elemento fraco, sabe-se que é esse que corre perigo e que precisa ser ajudado. A ajuda aqui recomendada é a de um fortalecimento do elemento fraco, principalmente fornecendo-lhe normas seguras de conduta dentro do contexto da situação da consulta, e buscando tranqüilizá-lo e/ou pacificálo, a fim de que se ponha em melhores condições de lidar com o forte e nem se abstenha de agir nem aja afoitamente ou como se não houvesse perigo algum, pois isso poderia levá-lo ao fracasso. 1ª LINHA (9): “Andar com simplicidade e avançar, ainda que desordenadamente, não é um erro.”
Elisabete Araujo Leonetti
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A pessoa a quem se refere a 1ª linha consegue contornar as dificuldades do momento agindo com simplicidade, discrição, independência e prudência. Ela procura passar o mais longe possível da zona de influência do elemento perigoso e, sob uma aparência inofensiva - talvez se ocultando atrás de outros elementos mais ruidosos e chamativos - tenta passar despercebida, e deve consegui-lo. Para tanto, comporta-se com simplicidade e discrição. A pessoa desta linha age por si mesma, de forma independente. O oráculo afirma que, do modo acima descrito, a pessoa deve avançar, como é seu desejo, e que está certo agir assim. Isso, porém, não eliminará completamente a possibilidade de vir a surgir um conflito, no futuro, porque o elemento com que se está lidando é realmente belicoso e imprevisível. A tendência da pessoa da 1ª linha é não prolongar as questões controversas e, assim, a situação chegará a um bom termo, passando apenas por alguma mínima disputa esclarecedora. Outra tendência da pessoa da 1ª linha, que também está certa, é de seguir as suas próprias inclinações íntimas, e isso também se acentuará no futuro. 2ª LINHA (9): “Andando num caminho muito plano, a insistência de um homem que se esconde é benéfica.” A segunda linha mostra o sujeito da consulta procurando ficar afastado de qualquer envolvimento com o elemento perigoso, através de um comportamento equilibrado, reservado, modesto, independente e solitário. Ele procura realmente não se sobressair, não aparecer. Sabe o que quer e não se confunde: fica naquilo. Se tem que fazer alguma coisa fora do seu rumo, principalmente se for envolvendo-se com outros, a faz o mais corretamente possível, e volta ao seu caminho. Ele está, no tocante ao assunto da consulta, na beira da agitação e num meio onde há muita exposição e falação, e assim talvez lhe seja difícil manter a sua atitude simples e reservada. Por isso pode ser que esta linha expresse um desejo do sujeito, que é também uma recomendação do oráculo para ele. Se for possível à pessoa da 2ª linha agir da maneira aqui descrita, suas ações terão bom resultado: ela, agora, sai ilesa da esfera do perigo e, no futuro, mantém a espontaneidade, a autenticidade e a concentração atuais que farão com que, pelo menos no que se relaciona à matéria da consulta, tenha êxito em seus empreendimentos, naturalmente.
Elisabete Araujo Leonetti
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Esta linha também pode indicar que algo que não aparece (e, portanto, não é atrapalhado), está lá, latente na situação ou na pessoa, e produz, sem alarde, uma influência positiva. 3ª LINHA (6): “Um caolho poder ver, um aleijado poder andar, mas, andando na cauda do tigre, eles são mordidos; têm prejuízos porque são guerreiros tranvestidos de grandes príncipes.” Com relação ao assunto da consulta, a pessoa da 3ª linha alia uma grande coragem externa a uma grande fraqueza interna. Ela superestima a sua capacidade de lidar com o elemento perigoso e acaba sendo atacada. Superficial e confiante, inconseqüente e expansiva, talvez arrogante, a pessoa desta linha realmente se expõe ao perigo, acreditando ter poderes e imunidades que de fato não tem. Se a consulta ao oráculo foi sobre uma atitude a tomar, a obtenção desta linha indica que a pessoa não deve avançar, não deve fazer aquilo que está cogitando, pois não está preparada para isso. Talvez a obtenção de outra linha, neste mesmo hexagrama, indique a atitude correta a tomar. Mas avançar afoitamente, desconsiderando o perigo, levará a mau resultado. Ainda que a pessoa acredite que o possa, não deve fazê-lo: é isso que esta linha recomenda. Se a consulta for sobre uma terceira pessoa, a obtenção desta linha revela ao consulente que aquela pessoa não é tão poderosa e capaz quanto aparenta ou acredita ser, e que as suas atitudes tendem a ser temerárias. Se seguir as suas inclinações atuais, no desenvolvimento futuro do assunto da consulta a pessoa envolver-se-á em muito trabalho e preocupações, e continuará na esfera do perigo, embora já um pouco mais forte para enfrentá-lo. 4ª LINHA (9): “Andando sobre a cauda do tigre, medo e temor acabam de forma benéfica.” No quadro apresentado pela 4ª linha, a pessoa reconhece a periculosidade da sua situação e, por isso mesmo, toma muito cuidado nos passos que dá. Esse cuidado temeroso acaba favorecendo o bom resultado do empreendimento. Portanto, a recomendação do oráculo para quem obteve esta linha é de que avance, porém com muita cautela e atenção, tomando todas as precauções possíveis, às vezes até recuando um pouco e, de preferência, discretamente, sem demonstrar que está tomando a iniciativa de agir. Em resumo, é a mesma recomendação geral do hexagrama, com a diferença de que, aqui, a pessoa tem a confirmação de que esse comportamento vai dar certo. Elisabete Araujo Leonetti
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A tendência para o futuro é de desaparecimento do perigo; seja porque ele se esgota por si, seja porque a pessoa consegue se afastar completamente dele. A pessoa poderá, então, no que diz respeito ao assunto da consulta, levar seus relacionamentos - que serão ampliados - e sua conduta pessoal de acordo com seu pensamento e suas convicções íntimas, com mais confiança, sem ter que tomar tanto cuidado. 5ª LINHA (9): “Andando decididamente, insiste com rigor.” No momento focalizado pela consulta, a pessoa da 5ª linha não escapa completamente ao perigo, mas consegue evitar ser atacada. O perigo e a ameaça permanecem, a situação em si é delicada. Ela mantém a situação sob controle através de uma decisão firme aliada a um extremo cuidado nos movimentos, vencendo inclusive uma certa hesitação inicial. Não recua diante do perigo, não se intimida, mas também não age com excessivo ímpeto, arrogância ou confiança, como se o perigo não existisse. Ao contrário, a pessoa da 5ª linha reconhece a existência do perigo e busca os meios para enfrentá-lo na solidez da sua posição, na prudente correção da sua conduta e na firmeza da sua determinação íntima. Conta também com a solidariedade do grupo ao qual pertence. Essa maneira de agir é correta para a pessoa que obteve esta linha – ela não deve sentir-se errada ou culpada - embora não conduza a uma solução imediata da questão. (Aliás, o oráculo não diz se há uma solução imediata possível e satisfatória.) No futuro, a tendência é de os obstáculos causadores de problemas e divergências serem eliminados, por iniciativa dos próprios antagonistas. A pessoa da 5ª linha deverá aceitar essa tentativa de conciliação e, com isso, sair esfera do perigo, com dissipação de dúvidas ou arrependimentos. Apesar de tudo, não se estabelecerá ou restabelecerá harmonia total com o elemento perigoso: apenas se superará a dificuldade atual. 6ª LINHA (9): “Observe o que já andou, e, com cuidado, reflita sobre os sucessos para repeti-los novamente, assim terá benefícios fundamentais.” Na situação apresentada pela 6ª linha, a pessoa já conseguiu ou está em vias de conseguir se livrar do perigo, e aprende com o que já fez. A pessoa dessa linha é, pelo menos na matéria da consulta, racional, segura, ponderada, e tem uma posição social, profissional ou familiar bem consolidada. Ela tem, portanto, alguma experiência e pode fazer uso disso para se conduzir perante as dificuldades que ora se apresentam.
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Deve observar minuciosamente o que se passou, para ver como chegou a entrar na situação perigosa e como conseguiu se desvencilhar dela. O objetivo dessa reflexão é evitar a repetição de movimentos errados feitos no passado e estimular a repetição dos movimentos acertados. Também deve analisar as consultas anteriores feitas ao oráculo sobre o presente assunto, se as houve, e as respostas obtidas. Essa análise levará a pessoa a um conhecimento melhor sobre si mesma, sobre a matéria da consulta e sobre os elementos nela envolvidos, o que lhe será de grande valia, favorecendo o bom resultado das suas ações. Assim, a pessoa atingirá um estado de satisfação com relação à questão da consulta, e terá a tendência de querer perpetuar esse estado. O Yi Jing, porém, sugere que, mesmo que a pessoa encontre prazer no que faz, não faça as coisas exclusivamente em função do prazer, nem permita que os outros a utilizem para seu prazer.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 11: FLUINDO HARMONICAMENTE
JULGAMENTO: “FLUINDO HARMONICAMENTE, o pequeno vai, ainda que desordenadamente, e o grande vem; isso é benéfico e influente.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing geralmente revela que estamos diante de um processo ou de uma situação que flui harmonicamente, numa evolução positiva, e se aproxima do que seria o normal para aquele tipo de processo ou de situação. Portanto, ele indica que nem o que nos é francamente hostil, nem o que seria estranho, aberrante ou muito fora dos padrões usuais da realidade enfocada estão presentes no momento. Obtido sozinho, ou como 2º na consulta, ele é basicamente positivo, podendo prognosticar o resultado favorável de um empreendimento qualquer, ou eliminar maiores preocupações a respeito de um assunto. Obtido com linhas mutantes, embora indique que os fatos abordados estão seguindo seu fluxo normal e de acordo com o tempo e as circunstâncias, o resultado daí advindo poderá ser ou não positivo, conforme o indiquem as linhas tiradas e o hexagrama delas derivado. Convém lembrar que o fato de que algo, dentro ou fora de nós, esteja fluindo harmonicamente, não significa, necessariamente, que esteja correspondendo aos nossos desejos, ou que os acontecimentos irão desembocar na realização daquilo que queremos. Isso vai depender de haver coincidência entre o que desejamos e o que seria a evolução natural e harmônica daquela realidade. Em princípio, há interação, comunicação e colaboração entre os vários componentes da realidade enfocada pela consulta, e a ordenação dos diversos elementos, tais como estão, está correta. Há um equilíbrio entre iniciativa e conformidade, entre o querer modificar as coisas e o aceitá-las como são e como vêm. Esses fatores influenciam toda a situação e tendem a levá-la a um desenvolvimento positivo e pacífico, com facilidade (sem problemas e entraves) e grande alcance; se, é claro, nenhuma linha obtida assinalar algo em contrário.
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Referindo-se a uma pessoa, este hexagrama nos mostra a sua docilidade e boa vontade com relação ao assunto da consulta, um temperamento harmonioso e fácil, um caráter conciliador, um desejo íntimo de estar de bem com as circunstâncias. Mesmo que seja uma pessoa forte, firme e cheia de certezas sábias, interiormente, ela não tentará se impor aos outros, mas antes buscará se harmonizar com eles. Devido à facilidade e fluidez com que as coisas seguem, existe a possibilidade perigosa de o sujeito da consulta deixar-se levar, inadvertidamente, a um compromisso precipitado, ou a uma tentativa de compromisso, o que seria prematuro, inadequado ao momento, porque o momento é de deixar as coisas seguirem seu próprio curso harmoniosa e tranqüilamente; não é o momento de tentar segurar ou determinar nada. Deixe fluir. IMAGEM: “O Céu e a Terra se cruzam FLUINDO HARMONICAMENTE. Assim, o governante usa a perfeição e riqueza do curso do Céu e da Terra, se apoia na ordem mútua entre o Céu e a Terra e fica à esquerda e à direita do povo!” Para que possam ser aproveitadas plenamente as possibilidades de um momento, ou de uma situação, a pessoa precisa colocar-se em harmonia com o momento e as circunstâncias. Desse modo, terá condições de ajudar, não somente a si própria, mas também aos demais envolvidos, mantendo a todos no fluxo vigente, evitando desvios e oposições. 1ª LINHA (9): “Removendo a erva, ela vem num tufo com as de sua espécie, avançar decididamente é benéfico.” Esta linha mostra a pessoa com uma forte tendência a tomar a iniciativa de agir, progredindo da situação em que está para uma situação melhor. Provavelmente, se esta foi a única linha mutante, a pessoa conseguirá isso, porque as circunstâncias a favorecem e tanto aqueles com quem está unida como aquele com quem busca unir-se a apóiam e recebem bem. No entanto, ao agir, a pessoa não movimenta apenas a si mesma e ao elemento com quem interage diretamente, mas afeta ou carrega junto o contexto em que cada um se insere, com suas circunstâncias e participantes. É bom que se pense nisso antes de tomar qualquer decisão. 2ª LINHA (9): “Ajudando os abandonados a vadear o grande rio,
Elisabete Araujo Leonetti
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não se distanciando dos que ficaram atrás, mas dispersando as facções, obterá assim honrarias pelo seu agir equilibrado.” Esta linha indica que a pessoa precisa exercer a solidariedade, na condução da matéria da consulta. Ela não está só, não age só por si e para si, mas procura – ou precisa - atender a todos os que fazem parte do seu meio, ajudando materialmente e emocionalmente os necessitados, os carentes, os atrasados, extraviados ou solitários, estimulando a união geral entre todos e evitando favoritismos e a formação de grupos exclusivistas. Assim prosseguirão juntos no fluir dos acontecimentos, superando as passagens difíceis. Essa forma de agir, eqüitativa e equilibrada, revela grande sabedoria e capacidade da pessoa, e será reconhecida e elogiada. Porém, para a própria pessoa, todo esse envolvimento com os outros poderá representar um tolhimento da sua potência que, sendo de natureza dinâmica, gostaria de se expandir e brilhar mais, e tem que se submeter àquilo que é o necessário e correto no momento, escondendo sua luz e restringindo-se a si mesma para ajudar os outros. Mas é o que está certo. Agir de outro modo poderia trazer mais sofrimento do que essa restrição de agora. 3ª LINHA (9): “Não há planície sem escarpa nem avanço, ainda que desordenado, sem retorno, por isso insistir nas dificuldades não é um erro. Não se preocupe por confiar nisso porque assim alimenta e gera méritos.” A pessoa da 3ª linha é avisada de que não vai conseguir tudo o que quer, por enquanto, porque esbarrará em dificuldades quando estiver mesmo bem próxima de seu objetivo, parecendo que vai alcançá-lo. Sua posição é incerta e insegura, na fronteira entre dois pólos confinantes, não conseguindo atingir plenamente nenhum deles. Essa decepção ou frustração naturalmente provocará alguma tristeza e lamento, mas não há o que fazer se as coisas não fluem para onde desejaríamos. Pelo menos houve uma tentativa de consegui-lo, apesar das dificuldades. Não terão sido em vão o seu esforço e a esperança confiante que depositou na empreitada, porque terão servido para ajudar as pessoas e os eventos a seguirem o seu próprio fluxo harmonicamente, e também lhe proporcionaram experiência, aprendizado e vivências úteis. 4ª LINHA (6): “Vai e vem esvoaçante, mas não se enriquece usando seus vizinhos nem se protege abusando da sua confiança.” Elisabete Araujo Leonetti
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Esta linha prevê muita movimentação mas poucos resultados concretos, tanto no âmbito material e social quanto no âmbito espiritual e psicológico. A pessoa está numa posição ambígua, havendo conflito talvez entre o que ela quer e o que ela deveria querer, ou entre o que pretende e o que pode realmente conseguir. O resultado é que, neste momento, a matéria em questão não é modificada profundamente, apenas sofre mudanças superficiais, continuando no seu fluxo normal. No entanto, segundo o Yi Jing, se acontecesse agora todo o esperado e/ou desejado, isso seria prejudicial para todos os envolvidos, pois não conseguiriam conservar os resultados positivos de tais ações e poderia haver arrependimento. Ao passo que assim, sem grandes alterações, os acontecimentos se irão sucedendo naturalmente e a pessoa da 4ª linha se fortalecerá através de uma atuação realmente correta e profícua – o que acontece agora - ao longo do tempo, sem perder o seu dinamismo e certa jovialidade positiva. 5ª LINHA (6): “O Imperador Yi dá sua filha em casamento, de forma que traz bênçãos e benefícios primordiais.” A 5 ª l i n h a r e p r e s e n t a a l g u é m q u e d e ve d e i x a r- s e f l u i r harmoniosamente com as circunstâncias e de acordo com as normas vigentes, para conseguir ter paz e continuidade nos seus projetos, ou na vida em geral. A pessoa a quem se refere esta linha sabe dos seus méritos, sabe que as normas vigentes não valorizam esses méritos conforme eles deveriam ser valorizados, mas não entra em conflito por causa disso; ao contrário, procura harmonizar-se mansamente com a situação, liberandose da ansiedade, usufruindo o presente e fortalecendo-se, uma vez que não há, no momento, nada que ela seja chamada a realizar, exceto ser receptiva àqueles com quem interage. Trata-se de uma ocasião em que a conformidade predomina sobre a iniciativa, em que a pessoa está mais propícia a simplesmente ser do que a fazer alguma coisa específica. 6ª LINHA (6): “Quando as muralhas voltam ao fosso um exército já não é útil e, ainda que proclame suas ordens em sua própria cidade, insistir traz vergonha.” Aqui é reiterado o conselho do hexagrama de que se deve deixar as coisas fluírem de acordo com sua própria tendência, e não lutar contra elas, quer isso signifique lutar contra si mesmo ou contra oposições externas.
Elisabete Araujo Leonetti
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Toda a resistência rui: as forças fluem livremente, não adianta lutar, pois isso não levaria a nada e envergonharia a pessoa. Mesmo que a pessoa queira exercer uma ação refreadora apenas no âmbito pessoal ou no seu círculo mais próximo, ainda assim suas ordens, planos ou desejos gerarão confusão, pois a atitude, em si, não estará de acordo com a tendência do momento. A maneira de a pessoa desta linha exercer influência é, pois, percebendo a tendência geral do momento e entrando em harmonia com ela, incorporando-a a si e deixando-se fluir na maré. Assim estará capacitada para responder à altura a grandes desafios, que poderão ser representados por grandes obstáculos ou grandes e extensas tarefas.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 12: PARALISADO PELA INCOMPATIBILIDADE
JULGAMENTO: “A paralisia provocada pela incompatibilidade com os homens ruins faz inconveniente que o sábio insista; assim, o grande vai, ainda que desordenadamente, e o pequeno vem.” Este é o hexagrama do não. Ele fala de uma situação em que há uma aparência de força, grandeza, nobreza e dinamismo, mas onde, na verdade, o que existe por trás é fraqueza, pequenez, vileza e inércia. Esses fatores podem estar presentes na sua totalidade ou apenas em parte. Assim, é um hexagrama de previsão negativa para o desenvolvimento de projetos, estabelecimento de associações, empreendimento de ações ou movimentos positivos quaisquer. Os processos não fluem, as partes não se comunicam, as conexões corretas não se realizam. O melhor é não insistir no que se quer, por enquanto, porque, ainda que haja grande empenho, os resultados serão pequenos, ficarão aquém do esperado. As manifestações externas não têm respaldo em força e valor internos, por isso as coisas grandes não podem se desenvolver. Só há sustentação para coisas pequenas. O campo de influência e de expansão da pessoa sábia fica restrito pelo poder da estagnação e, desse modo, o campo de influência e expansão das pessoas inferiores encontra oportunidade para crescer. Não há possibilidade de negociação livre e positiva, não há uma verdadeira ordem regendo as circunstâncias. Qualquer coisa que se pretenda está agora bloqueada e apenas muito gradualmente poderá começar a progredir, se a pessoa mantiver aceso o seu propósito, conservar firme em seu íntimo a sua intenção. Isso é verdade especialmente se este hexagrama saiu sozinho ou como segundo na consulta. A obtenção de linhas mutantes e de um segundo hexagrama pode indicar uma perspectiva mais otimista para o desenvolvimento da matéria da consulta, e, principalmente, pode esclarecer a posição específica do sujeito da consulta e de seus co-atuantes nesse quadro em que os processos não fluem.
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IMAGEM: “O Céu e a Terra não se transpassam, ficando PARALISADOS PELA INCOMPATIBILIDADE. Assim, a pessoa sábia, porque modera seu caráter e evita dificuldades, não aceita honras nem luxos.” O sujeito da consulta não deve aceitar riquezas, vantagens ou favores advindos das pessoas com quem está negociando ou simplesmente interagindo na matéria da consulta, porque não são pessoas boas e corretas, ou não estão atuando de forma totalmente idônea nessa matéria. Envolver-se com elas, ainda que somente aceitando favores e vantagens, pode ser fonte de problemas e dificuldades. O aconselhável é que ele mantenha intactas as suas virtudes, suas qualidades, seus valores internos e os bens que já possui, mesmo que assim deixe de obter algum ganho no momento. Na época da estagnação, quando as coisas não fluem em harmonia, é melhor a pessoa entrincheirar-se em si mesma e guardar-se para ocasiões mais propícias. 1ª LINHA (6): “Removendo a erva, ela vem num tufo com as de sua espécie; insistir é benéfico e influencia.” A pessoa da 1ª linha é arrancada da estagnação por uma iniciativa de alguém em posição superior à dela - na matéria da consulta - que a estimula e cujos propósitos coincidem com os seus. Ela não avança nem sozinha nem por si mesma: demasiado enraizada ou enredada no seu meio, não tem energia e independência para se desvencilhar e promover um movimento autônomo; e talvez agir autonomamente não seja mesmo do seu interesse. Assim, se o sujeito da consulta pretende interagir com algo ou alguém, fica avisado de que não conseguirá relacionar-se com aquele elemento isoladamente - somente com ele - mas que terá que considerar, na relação, o que faz parte do meio e das circunstâncias pessoais dele. O movimento é possível porque a estagnação ainda está no começo e as coisas ainda não congelaram ou cristalizaram completamente. Embora no momento não haja expectativas muito claras e definidas quanto à ação empreendida ou a empreender, ela é benéfica para todos os envolvidos e certamente influenciará todo o futuro da situação enfocada pela consulta; e, como há coincidência de propósitos entre o que puxa e o que se deixa levar, e não há tensão, os processos tendem a correr bem e a chegar ao fim desejado. 2ª LINHA (6):
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“Abraçando a oferenda com respeito, o homem inferior tem benefícios, enquanto a influência do grande homem fica paralisada.” Esta linha apresenta duas condutas diferentes, aceitação e reserva, as quais podem referir-se a duas tendências dentro de uma mesma pessoa ou a duas pessoas distintas. A p r i m e i ra c o n d u t a é a d e a c a t a r c o m r e s p e i t o e s e m questionamentos as condições, ordens ou imposições vindas de fora, e leva ao desenvolvimento positivo de assuntos de menor importância ou de interesses contrários ao que seria desejável. Para uma pessoa comum, ou para a pessoa que não tenha grandes pretensões quanto ao assunto da consulta, esse é um caminho satisfatório, embora não ótimo. A segunda conduta é a da pessoa sábia, com pretensões mais elevadas, e consiste em retirar-se para os limites do seu círculo mais restrito, talvez para o âmbito pessoal ou familiar, a fim de não confundir os outros, especialmente os seus pares, com a aceitação de condições, ordens ou imposições que contrariam os moldes corretos a que a pessoa está habituada. Isso é necessário porque, no momento, devido à tendência geral de estagnação, de falta de ordem e de impossibilidade de negociação que domina a matéria da consulta, a pessoa não pode exercer uma influência melhoradora ou alcançar resultados positivos. Assim, deve recolher-se quietamente entre os seus e não lutar contra os mais poderosos, para não sofrer. 3ª LINHA (6): “Abraçando a oferenda com vergonha.” A 3ª linha mostra a pessoa agindo contrafeita. Ela acata as condições, ordens ou imposições que lhe vêm de fora, porém com vergonha e constrangimento, porque sabe ou sente que não merece aquilo. O motivo do não merecimento não é revelado aqui. Sua autonomia na matéria da consulta é limitada, e suas inclinações são divididas, gerando conflito entre retirar-se completamente ou permanecer apenas o suficiente para atender aqueles que necessitam dela. De qualquer modo, se depender só desta linha as coisas não avançam muito. 4ª LINHA (9): “Recebendo ordens não erra e as bênçãos se aplicam aos seus companheiros.” Apesar do quadro geral de estagnação, de falta de entendimento e de empecilhos à negociação que imperam na realidade enfocada pela consulta, se a pessoa se restringir a seguir a ordem vigente, aferrando-se à lei ou à norma correta que se aplique ao caso, não estará incorrendo em Elisabete Araujo Leonetti
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!92 Yi Jing
erro, e os benefícios de estar dentro da normalidade, da legalidade, e de acordo com um programa preestabelecido se estenderão àqueles que fazem parte do seu grupo e que pautam seu comportamento pelo dela, nessa matéria. A pessoa se conduz assim porque tem um propósito, um objetivo, e, para atingi-lo, é conveniente e útil que observe seu entorno e para ver o que está imperando no momento e procure ser bem aceita nos meios dominantes. 5ª LINHA (9): “A paralisia se interrompe trazendo benefícios para o sábio mas, como pode perdê-los, deve amarrá-los num tronco de amoreira.” Aqui as coisas começam a sair do período de estagnação e a dar certo para a pessoa que sabe ver as possibilidades e tendências do momento e agir em conformidade com elas, e que está, na matéria da consulta, merecidamente na posição correta. Apesar disso, entretanto, a pessoa tem medo e fica ansiosa, com receio de que retorne a fase negativa. Por isso o Yi Jing recomenda que tome precauções, busque garantias, proteção e segurança em todos os seus passos. Desse modo a pessoa prossegue com segurança na matéria da consulta, com tal tranqüilidade que supera a preocupação de perder ou ganhar, ocupada apenas em seguir. A ação em si mesma torna-se mais importante que o seu resultado. 6ª LINHA (9): “A paralisação se inverte: primeiro está paralisado e depois desfruta.” Esta linha mostra o momento em que, findo o seu ciclo, a estagnação termina, as coisas começam a fluir e a pessoa pode começar a se movimentar, buscando negociação e entendimento com os outros. Há uma tendência a que a pessoa realmente ingresse num grupo organizado; porém, em meio ao contentamento por ter acabado esta fase, talvez ainda carregue consigo alguma intranqüilidade proveniente deste período em que impera a falta de comunicação e de fluidez.
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HEXAGRAMA 13: INTEGRANDO PESSOAS COM SUAVIDADE
JULGAMENTO: “INTEGRANDO PESSOAS COM SUAVIDADE e em espaço aberto se exerce influência. É conveniente atravessar o grande rio e é conveniente que a pessoa sábia insista.” Obter o hexagrama 13 na consulta ao oráculo significa que, no desenvolvimento da questão que se tem em mente, ocorrerá ou será necessária, útil ou desejável a ação conjunta com outras pessoas, num grupo ou numa aliança de qualquer ordem. Essa ação conjunta, para se desenvolver e ser fecunda, deve ser realizada às claras, ou seja, sem que alguns membros do grupo reservem intenções ocultas aos outros ou mantenham, entre si, facções secundárias, exclusivistas. Havendo essa franqueza e lealdade entre os membros do grupo, podem ser tomadas decisões e empreendidas ações de qualquer vulto. Embora não se dirija especialmente ao líder, nem preveja a liderança para o sujeito da consulta, o Yi Jing diz, neste hexagrama, que a união de todos sob um mesmo ideal só pode ser concretizada por uma pessoa forte, correta, firme, equilibrada, que saiba se comunicar e se entender com os outros, e que tenha cultura e clareza de visão quanto ao assunto da consulta. Existe sempre o risco de algum elemento inferior – indivíduo ou idéia – tentar impor, insidiosamente, seu domínio sobre aqueles que estão buscando se unir; por isso deve-se estar atento e realizar tudo abertamente, com exposição sincera das intenções individuais, as quais deverão ser integradas, provavelmente pelo líder, para que haja realmente união. É necessário manter sempre em vista os objetivos comuns a todos os envolvidos na questão, porque a manutenção dos rumos estabelecidos em conjunto é extremamente favorável para a continuidade do grupo e para o sucesso da ação.
Elisabete Araujo Leonetti
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Há indicações de uma união que se realiza longe do lugar onde o sujeito da consulta reside no momento, ou do ingresso numa comunidade que parece não ter nada a ver com a sua atual situação. Isso, naturalmente, tanto pode ter significado físico, geográfico, quanto psicológico ou espiritual. De qualquer modo, existe um caminho aberto numa direção longínqua. Essa é a previsão para quem obteve apenas o hexagrama 13, ou o obteve como segundo na consulta ao oráculo. É uma previsão que delineia uma possibilidade ou tendência positiva, recomenda a continuidade da ação ou dos projetos, e dá algumas diretrizes para os movimentos da pessoa. Para quem obteve linhas mutantes, a situação é um pouco mais definida: além de dizer que a ação conjunta com outros poderá vir a ocorrer ou a ser necessária ou desejável na determinada questão que o consulente tem em mente, o oráculo delimita amplitude, confiabilidade, oportunidade, consequências e outras circunstâncias das relações que tendem a se estabelecer. Cumpre a leitura das linhas que saíram, com a respectiva explicação proposta. O conselho da Imagem, a seguir, deve ser lido por todos quantos receberam este hexagrama na consulta ao Yi Jing, pois terá aplicação em todos os casos. IMAGEM: "O Céu junto com o fogo INTEGRA PESSOAS COM SUAVIDADE. Assim, a pessoa sábia, associando-se a sua própria espécie, discrimina os fenômenos.” A união das pessoas se dá a partir da fraternidade. A fraternidade é, em princípio, um sentimento aberto, amplo, forte, e que gera força e poder, como o céu, sendo que o seu poder maior é o de atração. No seu sentido mais elevado, é um sentimento que abrange todos e pertence a todos; não se nega a nenhum ser humano, não admite intenções nem facções ocultas. Como o sol, a fraternidade abarca toda a humanidade e é percebida por todos. Essa é a imagem da fraternidade ideal que o Yi Jing quis tomar como modelo para instruir os homens a formarem, com sabedoria, as suas próprias comunidades reais. A imagem da comunidade real, realizada num grupo de pessoas, é representada pelo hexagrama em si: o fogo embaixo do céu, uma fogueira sob céu aberto e os homens em volta. Essa reunião de pessoas em torno da luz e do calor não caracteriza, necessariamente, uma verdadeira união entre as pessoas, mas é inspirada no ideal da fraternidade, explicado anteriormente, e requer organização.
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A união de pessoas precisa de força de coesão e de ordem, tanto na estruturação interna quanto na atuação externa. Assim, ao pretender unir pessoas, formar uma comunidade, a pessoa sábia deve, tendo como ideal a fraternidade, primeiro, classificar e organizar os grupos de pessoas que têm algo em comum, começando por si própria. Assim terá um núcleo seu. A partir disso, deve estender o princípio organizador para os fenômenos que constituem o raio de interesse daquela comunidade. Esses são os fatores que a pessoa deve levar em contar, se quiser ter sucesso ao formar um grupo ou ao se integrar num já existente. 1ª LINHA (9): “Integrando pessoas na porta não erra.” A pessoa para quem saiu esta linha faz um movimento para sair de si e dirigir-se aos seus próximos, com o intuito de estabelecer relações de amizade, união, concórdia. A pessoa é forte e decidida; a sua ação volta-se para os outros. A união é buscada às claras, à vista de todos, sem interesses egoístas ou escusos. O que a pessoa faz é correto, ela está certa e não encontra, no momento, oposição frontal aos seus intentos. No entanto, mais adiante, poderá acontecer que aquele grupo ou associação, do qual ela agora participa ou começa a participar, venha a se transformar ou a se dissolver, e ela poderá vir a querer retirar-se, ou poderá ser deixada para trás, esquecida pelos outros, especialmente pelo elemento que mais a atrai no grupo. Ou a situação pode se inverter e a pessoa ficar sobrecarregada, com muitos processos em andamento, muitas pessoas à sua procura, muitos apelos. Assim, um envolvimento excessivo não é recomendado: a pessoa deve unir-se aos outros, mas só até a porta, reservando, porta adentro, um espaço para si mesma. Em alguns aspectos, a pessoa a quem se refere essa linha deverá ficar o mais afastada e alheia possível, ser discreta, permanecer quieta, a fim de não se meter em complicações, pois a sua posição pessoal, por si, já pode estar delicada. 2ª LINHA (6): “Integrar pessoas no templo ancestral atrai a vergonha.” Uma certa carência ou sentimento de inferioridade atinge a pessoa para quem saiu esta linha, apesar de ela estar bem relacionada com todos à sua volta, sendo mesmo um centro de atenções e de ciúmes. Ela é modesta, receptiva, acessível e, ao mesmo tempo, possui solidez e inspira confiança. Assim, todos os participantes da situação Elisabete Araujo Leonetti
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enfocada pela consulta giram em torno dela, menos um que, natureza, é meio alheio aos negócios do grupo, não se envolve.
por sua
A pessoa da 2ª linha gostaria de - e deveria mesmo - ampliar ainda mais a extensão da sua influência, multiplicar os seus relacionamentos, mas no momento consegue apenas ficar no grupo que comunga dos mesmos interesses ou do mesmo modo de pensar que o seu ou que tem, enfim, algum elo de ligação exclusivo entre si, o que é uma atitude pequena em face do grande ideal de unir pessoas. Se ela não conseguir sair disso, certamente gerará frustração e sentirá vergonha. Por outro lado, há um elemento, na situação da consulta, com quem a pessoa que obteve essa linha se liga mais fortemente, ou se relaciona mais diretamente. Ela não pode, sempre, demonstrar abertamente essa inclinação, realizar plenamente o seu intento com relação àquele elemento, e isso contribui para o sentimento de carência que a acomete. Não há motivo, porém, para maior preocupação. Primeiramente, essa união com um grupo restrito, limitado, constituído em torno de interesses comuns, e o papel polarizador que a pessoa desempenha nesse grupo são passos na direção de empreitadas maiores, uniões mais abrangentes a que a pessoa pode aspirar, no futuro. Se ela agora se sente limitada no seu âmbito de ações e relações, mais tarde terá ocasião de se expandir e se sentirá melhor. Em segundo lugar, haverá oportunidade, futuramente, de aproximação ou de encontro frutífero com aquele elemento da sua predileção. No momento propício a pessoa da 2ª linha deverá tomar a iniciativa para isso. Em resumo, a situação da pessoa não é negativa, mas também não é plenamente satisfatória. Ela pode continuar avançando na direção dos seus desejos e projetos: não há obstrução no caminho, apenas as dificuldades inerentes à empresa pretendida. Talvez o que ela pretenda seja algo elevado demais para alguém na sua posição. 3ª LINHA (9): “Escondendo suas armas no mato, sobe na alta da colina e por três anos não faz nada.” A pessoa a quem se refere esta linha está tomada pela desconfiança. A desconfiança faz com que ela se arme contra os outros e se isole, colocando-se na defensiva, numa posição de onde ela pode vigiar os movimentos dos outros e manter-se oculta, pois, na verdade, está em desvantagem com relação aos seus antagonistas. Ela gostaria de formar uma aliança com alguém próximo a ela que, pelas suas características de abertura, de receptividade, de moderação, de autoconfiança e de pacificidade a atraem. Mas essa pessoa já forma, com Elisabete Araujo Leonetti
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outras, um grupo fechado e tem, além disso, uma ligação forte com alguém, de modo que o sujeito da 3ª linha não consegue estabelecer a relação desejada. Porém, convém ressaltar que o não estabelecimento da relação desejada não se deve só à indisponibilidade da pessoa com quem o sujeito desta linha gostaria de se ligar, mas também, em grande parte, é devido à sua própria desconfiança e indecisão. Sendo assim, a perspectiva é de a situação ficar nesse ponto durante longo tempo: a pessoa desconfia dos outros, quer se aproximar mas não encontra jeito, se arma mas não ataca, espreita mas não age, porque, no fundo, não encontra motivo para agir. O resultado provável é que os outros acabem desconfiando dela (se é que já não o fazem) e ela poderá, inclusive, devido a toda a sua visível preparação para ataque, vir a ser acusada de algo que não fez ou vir a sofrer perdas por falta de aviso, de colaboração, de amizade dos outros por ela. Não é favorável permanecer nessa posição. A tendência do momento é o estabelecimento de laços de cooperação entre as pessoas. Contrariar a tendência do momento é isolar-se e acabar sem amigos e sem colaboradores, ilhado pela desconfiança e exposto a reveses inesperados. 4ª LINHA (9): “Chega a subir na muralha, mas não é capaz de atacar, o que é benéfico.” A situação está confusa para quem obteve esta linha. A pessoa a quem a linha se refere é forte, tem iniciativa, tem um alvo que quer atingir, mas está mal posicionada no arranjo do grupo focalizado pela consulta. Em primeiro lugar, aquela que, por natureza, deveria ser a sua colaboradora nesse grupo, não o é. Não há afinidade nem correspondência entre as duas. A pessoa da 4ª linha se volta então para outra, para aquela que é o centro de interesse de praticamente todo o grupo, buscando aliança com ela. Mas esta, como já está comprometida com outras e não é próxima à da 4ª, não estabelece uma ligação direta com ela. Por outro lado, as pessoas que são mais próximas à pessoa da 4ª linha são suas rivais. Uma, pela sua posição de ascendência sobre a da 4ª, quer que esta a ajude a atingir o objetivo, que é comum a ambas; ou seja, quer que a pessoa da linha 4 trabalhe para ela e não para si própria, coisa que a da 4 não quer aceitar. A outra, também visando o mesmo objetivo que a da 4ª linha, se interpõe entre ela e o objetivo, constituindo um obstáculo.
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Em vista disso, a pessoa da 4ª linha procura uma posição estratégica que lhe permita defender-se e atacar. No entanto, não encontra essa possibilidade. Reconhece a fragilidade da sua posição frente às numerosas dificuldades que tem em torno e, ao mesmo tempo em que recua da disposição de atacar, muda de comportamento, assumindo uma atitude mais cordata, mediadora, e um espírito de colaboração que ela em breve decidirá não mais dedicar a esse grupo, mas sim ao seu próprio grupo mais íntimo, à sua família talvez. O resultado dessa mudança de atitude será benéfico para a pessoa, fazendo com que prospere, enriquecendo a si e a seu grupo íntimo, ao qual resolveu voltar-se. 5ª LINHA (9): “Integrando pessoas, primeiro choram a gritos e depois riem. Um grande líder é capaz de fazê-los se encontrar uns com os outros.” A 5ª linha revela, para quem a obteve, uma situação de separação e encontro entre pessoas que possuem um sentimento de união entre si, ou entre uma pessoa e algo que ela deseja fortemente. O oráculo mostra a existência de um forte sentimento de união entre duas ou mais pessoas, ou entre uma pessoa e o seu ideal, e as etapas pelas quais passa o processo de unificação desses elementos. Numa primeira etapa, atravessam um período de sofrimento, seja por estarem separados fisicamente, seja por estarem afastados daquilo que querem, seja por estarem enfrentando obstáculos à união. Dentre os possíveis tipos de obstáculos, devemos prestar atenção a quatro que podem estar ocorrendo: interposição de outras pessoas (dificultando inclusive a comunicação entre aqueles que desejam se unir); necessidade de dedicação a outros, de fora (dificultando a dedicação aos seus próprios interesses); rivalidades; e desconfianças. Numa segunda etapa, um elemento muito forte, equilibrado e correto faz com que as adversidades e diferenças individuais acabem sendo superadas e se consiga concretizar a união, transformando o sofrimento em alegria. Esse elemento pode ser um indivíduo dotado de poder para harmonizar ou minimizar as diferenças individuais; pode ser um acontecimento que, de alguma maneira, provoque a aproximação entre os que estavam afastados; pode ser um sentimento que se sobreponha aos demais fatores: o consulente deverá ver qual dessas ou de outras possibilidades se aplica ao caso da consulta. De qualquer modo, as pessoas atingidas pela previsão desta linha devem tratar de superar o sofrimento e a lamentação - o que é muito positivo – e passarem a agir de acordo com critérios objetivos e gerais, mesmo que subsista, interiormente, a ligação dependente entre elas. Elisabete Araujo Leonetti
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6ª LINHA (9): “Integrando pessoas no subúrbio não sofre remorso.” Através de um longo caminho, que foi desde o umbral da porta de cada um, passando por interesses exclusivistas, desconfianças, indecisões, desencontros e encontros, a união da pessoa com outros, ou com o seu ideal, atinge aqui o ponto máximo possível na realidade humana. Segundo o Yi Jing, essa união, aqui obtida, é liderada pela sabedoria, isenta de egoísmo e afastada do tumulto das relações humanas normais. É verdade que o ideal da fraternidade universal não foi alcançado, pois a união ora representada atinge apenas um número limitado de pessoas. Entretanto, isso não é culpa do sujeito da linha, nem depende dele, por isso não há motivo para que sinta tristeza ou arrependimento. Ele deve, isto sim, tratar ou de bem liderar o seu grupo ou de submeter-se ao líder, com confiança, procurando conservar o que foi conseguido até este momento. Tentar ir além disso geraria infortúnio, não daria certo, pois seria pretender ultrapassar as possibilidades humanas. O ideal da união seria “integrar pessoas em espaço aberto”, como diz o JULGAMENTO do hexagrama. O máximo que o oráculo prevê que se consiga atingir é a união “no subúrbio”, nos arredores da cidade. Já está bom. A pessoa sábia deve se contentar com isso.
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HEXAGRAMA 14: MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA
JULGAMENTO: “MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA se exerce uma influência primordial.” Obter este hexagrama revela que existe, na realidade enfocada pela consulta, algo grande, algo capaz de se manifestar com grandeza, com largueza, abertamente, seja porque é grande em si, seja porque existe em grande quantidade, seja porque o sujeito da consulta o possui em alto grau. Assim, o fundamental, no momento, o que influencia toda a situação, é a existência desse muito, desse grande. A necessidade, a oportunidade ou simplesmente o fato de isso se manifestar é o que afeta a todos os envolvidos na questão da consulta, especialmente aquele sobre quem se consultou. Para que essa manifestação ocorra com plenitude e realmente influencie o meio, é preciso que o detentor da grandeza esteja, com naturalidade, sem forçar as coisas, numa posição de honra e poder, e seja reconhecido e bem recebido por todos aqueles com quem tem que interagir. É preciso ainda que tenha firmeza e força de caráter, conhecimentos que esclareçam aqueles que o procuram, devoção, desenvolvimento espiritual e percepção aguçada, de forma a sempre perceber o momento certo de agir e agir naquele momento. Como se observa, não são atributos muito comuns de se verem reunidos numa só pessoa ou entidade, e como eles, na prática, condicionam o resultado imediato da manifestação aqui prevista, a conclusão é de que tal resultado permanece uma incógnita, a não ser que alguma linha obtida, ou um outro hexagrama, tragam mais definição ao assunto. O hexagrama não prevê a aquisição de riquezas, nem orienta o consulente a como adquiri-las. Antes, ele revela que já existe uma riqueza no sujeito da consulta, o qual possui algo de valor, em grande quantidade, e pode, por isso, manifestar-se com grandeza naquele campo. Entretanto, se essa matéria ou energia não for bem canalizada e conduzida pelo sujeito, ela poderá manifestar-se de forma desordenada e
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descontrolada, e não produzir os efeitos positivos que lhe seriam próprios, ou mesmo gerar efeitos negativos. Em princípio, a manifestação é pacífica, serena, natural, não agressiva. O sujeito da consulta não deve submeter-se a ninguém, pois ele é quem é o detentor daquilo que é grande e valioso. As coisas simplesmente brotam e aparecem, não há oposição ao seu surgimento, nem interna nem externamente. A fonte criativa da grandeza aqui considerada é poderosa, praticamente inesgotável e contínua no tempo: é como que um dom de Deus ou da natureza, sem nada que a impeça de surgir e manifestar-se. Por isso ela se apresenta de modo natural, harmonizado com o sujeito da consulta e com o contexto em geral, de forma que os envolvidos na questão e o próprio sujeito podem nem ter-se dado conta do muito que possuem e da forte influência que podem exercer. Em resumo, este hexagrama diz que existe alguma coisa que é capaz de se manifestar com magnificência. Se essa manifestação trará consequências boas ou ruins para o sujeito da consulta não é dito pelo Julgamento. A Imagem recomenda o modo geral de se conduzir nessa situação, ao passo que as linhas indicam modos particulares de lidar com a realidade, neste momento. IMAGEM: “Há fogo acima, no céu, MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA. Assim, a pessoa sábia, porque reprime o mal e promove o bem, obedece ao Céu e se entrega ao seu quinhão.” A manifestação de grandeza é associada ao bem de uma maneira ativa. Não basta apenas promover o bem (em toda e qualquer esfera de atividade, própria ou alheia, não há delimitações), mas é preciso também reprimir o mal, em qualquer das suas manifestações. Fazendo isso, a pessoa entra em harmonia com o cosmos – obedece ao Céu – e vive plenamente o seu próprio destino – se entrega ao mandato do Céu, aceita o seu quinhão. O Yi Jing não coloca a questão de haver dúvida sobre o que seria o bem e o que seria o mal na matéria da consulta. Supõe-se, portanto, que o sujeito da consulta, como uma pessoa sábia, pela sua apurada noção de civilização e sensibilidade será capaz de percebê-lo. 1ª LINHA (9): “Nenhuma relação com o prejudicial; não há erros, porque ao aceitar as dificuldades geralmente não se erra.”
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A ação da pessoa desta linha, embora não tendo muita autonomia nem, provavelmente, qualquer poder de decisão sobre a matéria da consulta, tende a dar certo, por duas razões: 1- Ela não mantém nem cogita nem aceita qualquer relação com elementos negativos, que possam causar-lhe prejuízo de alguma forma. Esse tipo de ligação não existe - ou não deve existir - na realidade da pessoa: ela está, no momento aqui focalizado, completamente envolvida e amparada pelo bem e, restringindo as suas relações a elementos positivos, está fazendo o que é certo. 2 - Ela não tenta eliminar as dificuldades que surgem, pois não tem poder para tanto, mas procura adaptar a sua atuação às restrições do momento, aceitar as dificuldades, o que é, segundo o Yi Jing, a atitude acertada. Portanto, se a pessoa vir que, apesar de tudo, acumulou algo de prejudicial em si ou nas suas relações, não deve afligir-se por isso, mas deve ou livrar-se daquilo imediata e completamente ou, caso veja que os resultados, afinal de contas, poderão vir a ser bons, deve corrigir o que não está bem, depurá-lo tanto quanto possível dos seus aspectos negativos, e então assumi-lo. Apesar dos trabalhos, a previsão final para esta linha é boa. 2ª LINHA (9): “Sendo uma grande carroça usada para carga e tendo aonde ir, ainda que desordenadamente, não há erro.” A pessoa a quem se refere a 2ª linha vivencia e manifesta um momento de grande pujança de alguma coisa, ou de grande potencial de ação, e pode dispor desses bens como quiser, especialmente para seu próprio desenvolvimento ou para atingir algum objetivo específico. Nisso não incorre em erro e tem todo o apoio, tanto dos seus pares quanto daqueles que detêm o poder de decisão e mando na matéria da consulta. Também pode ocorrer que a pessoa desta linha, ao invés de receber, dê apoio, no que será muito eficiente desde que sinta que há uma finalidade no que faz. Ainda, a linha indica que a pessoa pode assumir responsabilidades ou grandes encargos, pois, mesmo que se sinta sobrecarregada, conseguirá levá-los até o fim sem rupturas, desde que veja um propósito nisso, desde que não aja para acompanhar a onda, o grupo. Conforme a previsão desta linha, todo o desenvolvimento favorável da atuação da pessoa depende de ela ter um ponto de equilíbrio, em si mesma e com relação ao seu meio, e de avançar apegada acirradamente a esse ponto. Assim ela pode dispor equilibradamente, em torno de um centro, a grande quantidade de coisas com que tem de lidar, não correndo o risco de falhar ou de se desestruturar.
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3ª LINHA (9): “Um príncipe pode usar sua influência junto ao Filho do Céu, mas um homem comum não é capaz.” Ideais excessivamente elevados ou grandeza demasiada para o meio em que está e, principalmente, grande impulsividade caracterizam o caráter e a atuação da pessoa da 3ª linha, na questão da consulta. Sua atitude, ou a ação que ela executa ou pretende executar, seriam, segundo o seu próprio julgamento, dignas de um príncipe, mas ela provavelmente nem é príncipe nem interage com príncipes. Pelo contrário, o Yi Jing mostra essa pessoa no meio da luta da vida humana comum. Ela é dotada de força, capacidade de raciocínio e de ação, iniciativa (em excesso) e satisfação consigo própria, otimismo talvez. Apesar dessas suas qualidades, a manifestação que ela pretende, no momento, lhe seria prejudicial, porque ela não tem poder nem boas relações fora do seu círculo mais fechado e, por isso, a sua ação não atingiria os fins propostos. As coisas só darão certo para essa pessoa se ela for o tipo superior descrito no Julgamento deste hexagrama. Mesmo assim, só se houver outras linhas mutantes que corroborem a possibilidade de sucesso. A tendência é de a ação não atingir o fim proposto, seja por não chegar ao seu destinatário, seja por chegar e ser mal recebida. De qualquer modo, é prejuízo para a pessoa da 3ª linha, que assim só desperdiça o seu potencial. As perspectivas, principalmente se a pessoa obteve somente esta linha mutante, são de muito conflito, dificuldades e penas infligidas pelos outros. Portanto, seria bom a pessoa repensar bem o que pretende fazer. 4ª LINHA (9): “Nega sua plenitude, nenhum erro.” A atitude correta, para o sujeito da 4ª linha, seria não se manifestar com grandeza. Com isso, ele evitaria o erro de tentar se igualar ou se irmanar com os mais poderosos e garantiria, para o futuro, a manutenção daquilo que possui, com contentamento, e conservando, ainda, a possibilidade de bom desenvolvimento na matéria da consulta, sem o rancor e a agressividade que poderiam se originar de uma frustração agora e provocar-lhe danos. A sua presente posição é desfavorável para grandes manifestações porque ele não tem poder para influir na realidade, embora possua alguma força pessoal. Como é uma pessoa de grande capacidade de entendimento, visão e discernimento, saberá contentar-se com o seu lugar subordinado ou secundário. Contenção e controle são as palavras-chave para a pessoa desta linha.
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5ª LINHA (6): “Confiar nele é como se entregar; parece majestoso, o que é benéfico.” Esta linha mostra uma pessoa em quem se pode confiar inteiramente. Essa pessoa tanto pode ser o sujeito da consulta quanto alguém com quem ele interage, aquele a quem dirige a sua ação ou aquele que detém o maior poder na situação. A confiabilidade dessa pessoa origina-se na inteligência e transparência das suas idéias, intenções e objetivos. Além disso ela é receptiva, de fácil acesso, não afeita a maquinações e intrigas, e não tenta manipular os outros. Geralmente a sua atuação é natural e espontânea. Pela sua própria aparência revela a possibilidade de boa acolhida e proteção aos que dela se aproximem. O sujeito da 5ª linha representa realmente o tipo ideal descrito no Julgamento deste hexagrama, aquele que pode plenamente manifestar-se com grandeza porque tem grandeza, tem poder e tem aceitação no seu meio. Não há nada que impeça o bom desenvolvimento das suas ações, principalmente se esta foi a única linha mutante obtida, ou se foi obtida juntamente com outras de prognóstico positivo. Essa situação favorável tende a prolongar-se e intensificar-se. 6ª LINHA (9): “Ajudado espontaneamente pelo Céu recebe benefícios, nada que não seja conveniente." Esta linha apresenta como que uma explicação do sucesso ou do insucesso da manifestação tencionada pelo sujeito da consulta, assunto deste hexagrama. Em princípio, o que o sujeito faz, fez ou tenciona fazer deve dar certo, pois a linha reafirma a proteção e a ajuda espiritual que ele recebe como dons divinos, as quais lhe proporcionam boa sorte e bom andamento em tudo o que envolva a questão da consulta, especialmente em sua própria atuação. Se não dá certo, é porque não houve aquela proteção e ajuda. O consulente deve prestar atenção à presença, na resposta do oráculo, de outros indicativos de tendência a resultado negativo ou positivo. De qualquer modo, ainda que os resultados até agora alcançados não sejam satisfatórios, obter esta linha deve animá-lo a confiar em si e naquilo de grande que possui, pois é uma bênção. Mesmo que por ora não possa manifestar-se plenamente, é algo bom para ele, que deve ser mantido e cultivado. Existe a possibilidade de a pessoa da 6ª linha vir a defrontar-se com algo ou alguém também grande, mais rígido e inflexível do que ela, que
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poderá criar obstáculos ao seu avanço se não for bem avaliado e tratado da maneira adequada. Mas, como ela tem como atributos a clareza de visão, a inteligência e a sabedoria, certamente perceberá as dificuldades a tempo de adotar novas estratégias e, assim, prosseguir no seu desenvolvimento na matéria da consulta.
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HEXAGRAMA 15: CEDENDO COM MODÉSTIA
JULGAMENTO: “Cedendo com modéstia a influência de uma pessoa sábia acaba se manifestando.” Obter este hexagrama revela ao consulente que, não importa quão grandes e majestosos o sujeito e/ou o objeto da consulta possam ser, devem adotar uma atitude modesta e/ou conformada, no presente momento, com relação ao assunto em foco. Adotar uma atitude modesta, segundo o hexagrama indica, significa colocar-se abaixo ou no mesmo nível daqueles com quem se tem de interagir, mas sem perder a própria identidade: significa não procurar sobressair-se; não procurar fazer valer um status mais elevado do que o dos outros; não pretender acumular bens, prestígio, poder, etc.; e, sobretudo, não ser arrogante. Adotar uma atitude conformada significa não pretender fazer valer a sua vontade, mas conformar-se com o que as circunstâncias apresentam como sendo o caminho mais fácil, mais sem desafios, enfrentamentos ou conflitos. O Yi Jing aconselha agir assim porque que é o que convém às circunstâncias, e o que vai dar certo. Agir de outro modo poderia ser possível e até correto, só que não atingiria o resultado desejado, ou atingiria o mesmo resultado que com a atitude recomendada, só que com muito mais esforço. Também pode ocorrer que o Yi Jing aconselhe a agir assim por ser esta a única opção possível, no momento, devido a pressões impostas de fora, independentemente da vontade do sujeito da consulta. A adoção dessa atitude encerra a possibilidade de a pessoa se liberar de preocupações, de vaidades, de ambições e lutas. Pode representar a aquisição de uma liberdade interior que só o desprendimento e o despojamento costumam proporcionar. Mas pode também indicar, relativamente ao sujeito da consulta, uma tendência ao retraimento, a não querer tomar posições definidas e visíveis e, sobretudo, a não se colocar na liderança de movimentos ligados ao assunto em foco. A pessoa quer manter-se livre de compromissos, e por isso não assume nada ostensivamente.
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A previsão do oráculo depende das qualidades do sujeito da consulta. Se ele for uma pessoa bem preparada para a situação que vive, e de moral elevada, com comportamento muito humano e civilizado, sua influência sobre as circunstâncias acabará se fazendo sentir, por mais modesta, obscura e despretensiosamente ele se comporte. A explicação disso é que a modéstia é benquista - e protegida - pelas divindades, pelos espíritos e pelos homens; e a natureza, embora não tenha intenções conscientes, também favorece a modéstia ao procurar promover o equilíbrio entre o alto e o baixo, o abarrotado e o vazio, o excessivo e o escasso, o claro e o escuro, aproximando os extremos. Por isso é que a tendência do sujeito da consulta, agindo com modéstia, é alcançar os fins propostos. Porém, como se está dentro da situação geral de modéstia, em que as coisas são, em princípio, pequenas, simples e obscuras, pode ocorrerer que ele não alcance os fins exatamente da forma como desejaria, mas um pouco diminuídos, aplainados, e talvez somente após fazer algumas concessões. Convém lembrar que o sujeito da consulta e o consulente não são necessariamente a mesma pessoa e que, portanto, os fins de um podem não coincidir com os desejos do outro. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama. As linhas complementam e detalham casos específicos. IMAGEM: “No meio da terra há uma montanha CEDENDO COM MODÉSTIA. Assim, a pessoa sábia, porqueb tira do que é muito e aumenta o que é pouco, pondera as coisas e as iguala.” A Imagem nos diz que grandeza e valor nem sempre estão visíveis. Às vezes, uma aparência plana e simples, um comportamento sem pretensões ocultam uma realidade majestosa, rica e poderosa. A pessoa que, na situação enfocada pela consulta, quiser agir com sabedoria, deve procurar o nivelamento, o equilíbrio, retirando o que for excessivo e acrescentando elementos que faltem, em si e/ou no objeto da consulta. O objetivo desse nivelamento é encontrar pontos em comum nos diversos componentes da situação, ou estabelecer uma harmonia, um equilíbrio entre eles, nem que, para isso, tenha-se que fazer concessões de parte a parte. 1ª LINHA (6): “A modéstia modesta da pessoa sábia lhe serve para atravessar o grande rio e é benéfica.” Esta linha mostra o sujeito no início do seu movimento na situação enfocada pela consulta. Ele ainda tem um caminho longo e íngreme pela frente, e conta apenas com as suas próprias qualidades e recursos. Elisabete Araujo Leonetti
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!108 Yi Jing
A linha recomenda o avanço, mas com muita discrição, modéstia, simplicidade e reserva, de uma forma quase invisível. De modo algum deve avançar fazendo alarde. Ele não tem ajuda de colaboradores, e agir do modo recomendado será benéfico para a obtenção de bom resultado no que empreender. Para não vir a ser atacado ou atrapalhado, o sujeito deverá manter essa atitude ainda por mais algum tempo, pois é assim, retraindo-se e contendo-se, que conseguirá ir longe e exercer influência sobre os outros. 2ª LINHA (6): “Modéstia gorjeando, insistir é benéfico!” A modéstia aqui não é só uma atitude que a pessoa precisa adotar, mas é uma qualidade inerente a ela, e que deve ser mantida. Essa qualidade aparece, é percebida pelos outros. A linha recomenda o avanço, com insistência naquilo que se quer, assegurando que isso atrairá condições favoráveis ao bom desenrolar da questão. Nesse meio tempo poderá haver ocasião para a pessoa apresentar ou oferecer algo. Deverá fazê-lo com confiança. Mesmo que seja algo modesto contribuirá para sua felicidade, devido à sua autenticidade e sinceridade. 3ª LINHA (9): “A modéstia laboriosa da pessoa sábia acaba se manifestando, benéfico.” A pessoa da 3ª linha é essencialmente ativa. Ao menos deveria sê-lo, com relação ao assunto da consulta. Ela é quem, no contexto da questão da consulta, reúne em si as boas qualidades exigidas para o sucesso da ação: é bem preparada, de caráter nobre, grande e modesta na sua grandeza. E como ela se movimenta, trabalha, é bem relacionada e bem aceita por todos com quem interage, sua influência acaba se manifestando e ela consegue um bom encaminhamento para aquilo que quer, com apoio e aprovação dos outros. Deve manter-se nessa conduta, continuando a fazer as coisas sem chamar atenção, sem ser arrogante nem exibida. Se estiver agindo em função de outros, ou para outros, deve procurar concluir os trabalhos em andamento, sem reclamar os méritos para si, e não procurar novas tarefas. 4ª LINHA (6): “Nada que não seja conveniente para a modéstia desfraldada.” A pessoa, conforme indicado pela 4ª linha, deve mostrar uma aparência modesta, mesmo que não se sinta assim no íntimo. Elisabete Araujo Leonetti
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!109 Yi Jing
A linha mostra a pessoa entre dois elementos (que podem ser duas outras pessoas ou não) mais fortes, ativos e poderosos do que ela, o que a obriga a um sério rigor no seu comportamento, observando atentamente as regras e mostrando-se obediente, submissa, cordata, sem ambição, sem pretensões, enfim, declaradamente modesta, de modo a não representar uma ameaça para os outros e ser deixada em paz. Mesmo que a pessoa não sinta essa inclinação interiormente, é assim que ela deve agir, ou pelo menos aparentar, para poder ter bom desenvolvimento nos seus assuntos. A sua posição é tão delicada que até mesmo essa atitude pode suscitar problemas, caso ela não tenha um comportamento absolutamente de acordo com as normas vigentes. Por algum tempo ela deverá continuar a agir assim, com determinação interna e contenção externa, com cautela. 5ª LINHA (6): “Não é rico, mas usa seus vizinhos; sendo conveniente e útil atacar os prepotentes, não há nada que não seja conveniente.” A principal característica da pessoa desta linha é o fato de que ela recebe, sem exigir, apenas sendo acessível e receptiva, muita ajuda dos outros. Recebe tanta colaboração que acaba usufruindo mais riqueza (bens, meios, convívio social, etc.) do que de fato possui. Os seus próximos formam um corpo solidário com ela, cedendo-lhe os seus préstimos, e todos se relacionam bem com os que estão em posição de mais destaque, na questão da consulta. Trata-se de uma situação muito confortável. Para mantê-la, a pessoa precisa eliminar os inimigos, aqueles que desejam atacá-la ou que, no momento, simplesmente não a apóiam, não são amigos. Esses devem ser rapidamente afastados do caminho: ela não pode ceder nada a eles, não tem que ser condescendente com eles. No futuro, se surgirem ocasiões difíceis para a pessoa da 5ª linha, igualmente amigos virão ajudá-la, manifestando abertamente a solidariedade que já existe agora. 6ª LINHA (6): “Modéstia gorjeando, é conveniente e útil a ação de um general [enquanto] só ataque uma cidade-estado." Na situação indicada pela 6ª linha, a pessoa é modesta e mostra a sua modéstia, a sua ausência de arrogância e de grandes pretensões. Talvez chegue até a ser uma modéstia imodesta. Se for, deve ser combatida. Elisabete Araujo Leonetti
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!110 Yi Jing
Na realidade enfocada pela consulta, a pessoa não está submetida a outros, embora aceite a ordem vigente e se relacione bem com todos. Ela também não impõe a sua vontade aos outros, nem deve tentar fazê-lo. O que ela deve fazer é usar a sua energia e a de seu colaborador mais poderoso para conseguir dominar-se a si própria e ao seu meio mais próximo, a fim de atingir os seus propósitos - que ainda não foram alcançados - mesmo que para isso seja necessário impor-se uma certa disciplina e restrições. Os seus propósitos não devem estender-se muito além do seu âmbito pessoal, porque a ação possível a esta linha é modesta e por isso tem modesto alcance. A tendência, para já ou para o futuro, é de a pessoa conseguir esse domínio de si mesma e do seu derredor, atingindo a tranqüilidade e o sossego no que diz respeito ao assunto da consulta, o que será excelente para ela.
Elisabete Araujo Leonetti
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!111 Yi Jing
HEXAGRAMA 16: PREVENINDO EXCESSOS
JULGAMENTO: “PREVENINDO EXCESSOS é conveniente estabelecer feudos e mover exércitos.” A mensagem básica deste hexagrama é a de que se deve agir, porém controladamente. A matéria da consulta exige um movimento, o qual deve ter o objetivo de fazer prevalecer a ordem, a harmonia, de modo a não dar lugar aos excessos próprios do entusiasmo, do ímpeto, do impulso inicial. Quem executa o movimento é o sujeito da consulta, auxiliado por pessoas ou elementos a quem delegue responsabilidades e que multipliquem a sua capacidade de ação, em força e abrangência. O movimento deve ser executado com determinação e, em princípio, se dá sobre uma base sólida pré-existente. Este hexagrama pode refletir o entusiasmo e talvez o excesso de confiança do sujeito da consulta com relação a um projeto. O sujeito da consulta pode fazer o que quer fazer, porém deve fazê-lo com comedimento, e não de qualquer jeito. Existem obstáculos que, mesmo não aparentes, subjazem a toda a situação: há sempre o risco virtual de uma obstrução qualquer vir a prejudicar os planos. Porém contra esse risco a pessoa pode se precaver se seguir os conselhos dados pelo hexagrama, que são: Em primeiro lugar, procurar apoio: ajudantes, amigos, cônjuges, profissionais contratados, familiares, parentes, colegas de trabalhos, instituições ou outras entidades. Qualquer que seja o empreendimento pretendido, não deve ser desenvolvido pela pessoa sozinha, mas requer, para o seu bom andamento, a reunião de esforços. Se o sujeito conseguir manter a si mesmo dentro dos limites da ordem, do sensato, do razoável, provavelmente terá a adesão e a concordância dos seus colaboradores. Em segundo lugar, agir, fazer, meter mãos à obra. O movimento que fica só no pensamento não levará a realização alguma. No agir aparecerá já o primeiro obstáculo, que é romper a inércia inicial. Se a pessoa obteve linhas mutantes, estas poderão indicar alguns elementos que podem ajudar, atrapalhar ou mesmo impedir a realização plena do que se pretende, bem como definir melhor a situação do sujeito da consulta e das pessoas envolvidas na questão. Elisabete Araujo Leonetti
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!112 Yi Jing
Resumindo, trata-se aqui de fazer coisas, porém dentro de uma ordem, de um programa, enfim, de algo que limite as ações, a fim de que elas não ultrapassem as possibilidades do momento mas, ao contrário, as explorem ao máximo. A forma indicada de lidar com o que se tem pela frente é distribuindo as responsabilidades e tarefas, e só então agindo, usando os ajudantes e os ajudantes dos ajudantes, porque, provavelmente, há muito que fazer. IMAGEM: “O trovão aparece e chocalha a terra, prevenindo excessos. Assim os reis da antiguidade faziam música para elevar sua virtude e a ofereciam solenemente à Divindade Suprema. Nisso se igualavam a seus pais e avôs.” A Imagem recomenda a oração e a elevação moral e espiritual através da música como meios para a prevenção e o controle de excessos, ressaltando ser esse um comportamento muito antigo e nobre, já adotado pelas pessoas desde o início da civilização. 1ª LINHA (6): “Prevenir excessos gorjeando é prejudicial.” A pessoa, nesta 1ª linha, devido à sua posição destituída de poder e de autonomia na matéria da consulta, pode até ter a intenção de prevenir excessos, porém o faz cometendo excessos, com grande alarde e, assim, talvez sem se dar conta disso, desvia-se de suas prudentes intenções, o que não dará bom resultado. Com relação ao assunto da consulta, poderá acabar num esgotamento da vontade e do interesse, e/ou numa perda de controle. Provavelmente a pessoa age assim porque se relaciona e se identifica com elementos mais fortes e capazes, ou que estão em melhor posição que a sua, ao invés de se limitar ao convívio e às possibilidades reais do seu meio, onde, aliás, está bem inserida. A tendência para esse comportamento é de, após a apreensão e o susto provocados pelos excessos, finalmente encontrar o caminho da harmonia, dentro das normas apropriadas para o caso. 2ª LINHA (6): “A crosta de uma rocha; [antes do] dia acabar, sua insistência é benéfica.” A 2ª linha mostra a pessoa, frente à situação enfocada pela consulta, prevenindo possíveis excessos e agindo com muita firmeza e rapidez nas decisões. Desse modo, pode avançar que terá boa sorte. Elisabete Araujo Leonetti
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!113 Yi Jing
O Yi Jing explica que a pessoa age assim porque tem consciência dos limites da sua situação e possui, na matéria da consulta, uma posição extremamente sólida, equilibrada e isenta de influências, embora com bons relacionamentos de apoio. A tendência, se a pessoa continuar com essas atitudes, é de avançar ainda mais, e obter resultados. 3ª LINHA (6): “Prevenir excessos arregalando os olhos envergonha; [só que] demorar também traz vergonha.” A 3ª linha mostra a pessoa comportando-se de modo dependente e indeciso frente à situação enfocada pela consulta: seja por ficar esperando para ver como os outros vão agir, seja por indecisão própria mesmo, ela ou age por influência dos outros, ou não age. A pessoa não quer assumir nada, e assim não consegue nada. A razão para essa atitude vergonhosa, segundo o Yi Jing, é uma inadequação entre a pessoa e a posição que ocupa, na matéria da consulta. No entanto, essa inadequação é apenas parcial, por isso pode ser superada. Não de maneira frontal, de impacto, mas sutilmente, contornando os obstáculos e procurando apoiar-se mais em si e nos seus. A pessoa não deve querer superar sua condição através de adulação e imitação dos que estão em posição superior à sua, e deve ser cautelosa, porque a tendência, para alguém com esse comportamento, é de vir a ser atacado, derrubado ou ferido - e talvez por alguém inferior a si - se não tomar muito cuidado. 4ª LINHA (9): “Excesso apropriado pode se manifestar com grandeza. Não duvide, isole-se das críticas [ainda que sejam] dos amigos.” Conforme indicado por esta linha, a pessoa provavelmente toma uma atitude que causa impacto e estranheza no seu meio. Segundo o Yi Jing, ela pode tomar essa atitude grande, que mexe com muita coisa ou com muita gente, porque há, no momento, muitas possibilidades latentes que podem vir a acontecer e que se originam, direta ou indiretamente, dela mesma, do seu entusiasmo com relação à matéria da consulta e do seu poder de atr ação sobre os demais envolvidos, inclusive sobre aqueles que estão numa posição basicamente superior à sua. Portanto, ela pode agir com energia inusitada para controlar a situação, além mesmo do que seria o seu normal, e ir até o fundo, fazendo o que deve ser feito, sem permitir que os acontecimentos desandem em excessos. Elisabete Araujo Leonetti
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!114 Yi Jing
Isso é o que está certo: a pessoa deve fazer o que intenta, sem hesitação e dúvidas, porém com cautela, e fechada como uma mala, sem revelar seus planos nem comentar ou justificar suas ações. Ainda assim, será alvo de comentários desmerecedores e receberá críticas. Não deve esperar elogios. Se esta foi a única linha mutante obtida, a tendência é de, então, a situação, que estava ou está fervilhante, se normalizar e cristalizar. A pessoa deverá manter-se discreta, reservada, e cautelosa. 5ª LINHA (6): “Insistentemente invejoso, persiste em não sumir.” A pessoa da 5ª linha é acometida por um mal, constantemente, mas não vem a morrer desse mal. Não sucumbe porque possui uma energia interior e uma vocação para o equilíbrio, para o domínio de si mesma e superação dos obstáculos que as dificuldades ainda não conseguiram destruir. Em função disso, a tendência para essa pessoa é de continuar lutando, tentando conseguir aquilo que almeja e que lhe faz falta, e de fato conseguindo algum avanço. O texto oracular fala especificamente em inveja, mas o mal que acomete a pessoa também pode ser doença, dor, preocupação, ódio ou uma necessidade urgente e constantemente repetida que abala a pessoa mas não a destrói, não a mata. 6ª LINHA (6): “Previne excessos ignorantes aperfeiçoando-se e dando o exemplo, nenhum erro.” A 6ª linha mostra uma pessoa não prevenindo o que deveria ser refreado nela mesma, e prevenindo, de forma agressiva e irrefletida, o que julga excessivo nos outros. Segundo o Yi Jing, essa é uma atitude ignorante, o oposto de uma atitude sábia, mas que tem conserto. Para corrigi-la, basta o sujeito da linha se conscientizar do seu engano ou erro, querer melhorar, e mudar. Isso é o que deve ser feito e o que, provavelmente, ele fará, pois não poderá sustentar ou suportar os excessos por muito tempo. Na verdade, tais excessos só seriam admissíveis em ocasiões extremas de defesa ou de autodisciplina, e não por muito tempo. Essa linha aconselha a adoção de uma atitude enérgica, lúcida e controlada, porque, se a pessoa continuar cometendo ou permitindo excessos, ou tentando preveni-los de maneira equivocada, não durará muito tempo na situação em que se encontra.
Elisabete Araujo Leonetti
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!115 Yi Jing
HEXAGRAMA 17: ACOMPANHANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS
JULGAMENTO: “ACOMPANHANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS [se exerce] fundamental influência, é conveniente insistir, nenhum erro.” Este hexagrama recomenda, para a situação enfocada pela consulta, uma atitude de conformidade ativa, ou seja, agir, avançando na direção desejada, mas sem impor nada, contornando as dificuldades, seguindo os caminhos mais fáceis, aceitando as condições mais favoráveis, emitindo pouco esforço e nenhuma resistência. Não é o momento para tomada de decisões ou iniciativas próprias, e muito menos para mudanças radicais (a não ser que as mudanças estejam sendo impostas pelas circunstâncias, caso em que se deve acatá-las). Na verdade, parece que o hexagrama está dizendo ao consulente que ele não pode, neste momento, modificar as circunstâncias a seu gosto, e que, portanto, a única maneira de ele poder vir a influir no andamento das coisas é inserir-se nesse andamento, passar a fazer parte das circunstâncias. Aquilo que está acontecendo ou vai acontecer está integrado no contexto vigente, está de acordo com o momento e as circunstâncias, está na sequência dos fatos. Se aquilo que o sujeito da consulta pretende também se encaixa nessas condições, está certo, portanto, e se lhe pode dar andamento. O hexagrama mostra alguma coisa que é colocada em movimento por um estímulo que lhe vem de fora. Esses dois elementos (o que estimula e o que entra em movimento) podem ser pessoas, entidades, atividades, relacionamentos ou outras coisas. O elemento que estimula não só impulsiona o outro ao movimento mas também o acompanha no movimento; e o que foi estimulado segue com receptividade e até com alegria o impulso do primeiro, por isso há influência mútua entre o que estimula e o que é estimulado, e há um clima geral de vigor criativo e alegria receptiva, ou pelo menos de boa disposição. A recomendação para quem obteve este hexagrama sozinho ou como segundo na consulta é para o avanço tranquilo, com espírito de aceitação do que se apresenta e com a segurança de que essa atitude está correta. Elisabete Araujo Leonetti
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!116 Yi Jing
Se saíram linhas mutantes, essa recomendação pode ser alterada ou complementada, mas basicamente todas as linhas prevêem o avanço, porque este hexagrama supõe justamente o seguir adiante, o dar continuidade, assumir novas posições na sucessão dos fatos e assim, de uma maneira natural, ir desenvolvendo as coisas, progredindo naquilo que se tem em mente. IMAGEM: “No meio do lago há um trovão: acompanhando as circunstâncias. Assim, o homem sábio enfrenta a noite recolhendose para descansar e se tranquilizar.” A noite pode ser enfrentada de 2 modos básicos: ou a pessoa acende luzes e exerce atividade, como se fosse dia, ou se conforma que é noite, está escuro, e se recolhe para se tranquilizar e descansar. Para agir de acordo com o espírito deste hexagrama, a pessoa deve acompanhar as circunstâncias vigentes: se é noite, comporta-se de acordo com o que é adequado para a noite, e se é dia, realiza as atividades diurnas. Além disso, este hexagrama oferece dois conselhos a quem o obteve: 1º) Repouso: O movimento, por mais alegre e entusiasmado que seja, não pode ser contínuo; a pessoa precisa descansar o corpo e a mente periodicamente, sob pena de incorrer em esgotamento das forças. 2º) Respeito aos ciclos existenciais: As realidades com que temos que lidar apresentam momentos em que se pode agir sobre elas e momentos em que se mostram impermeáveis à nossa influência, ou em que simplesmente não sabemos o que fazer; nesses períodos de fechamento e escuridão o melhor é acompanhar as circunstâncias e também se fechar, não mostrar nada, não agir, aproveitando para repousar. Assim se mantém o equilíbrio físico e psicológico para reentrar em ação quando chegar a hora. 1ª LINHA (9): “O funcionário está mudando, insistir é benéfico. Saindo pela porta e para associar-se gera méritos.” Esta linha mostra o primeiro impulso para o movimento. No momento aqui representado, portanto, o movimento ainda não está completamente instaurado: ele começa a se manifestar através de um elemento ou de um aspecto da realidade que, de um certo modo, determina e controla o funcionamento das coisas. É uma parte importante de um todo que começa a mover-se numa determinada direção, diferente da costumeira, diferente daquela em que talvez já estivesse acomodada, provocando um início de mudança que é positivo e promissor, que deve ser continuado.
Elisabete Araujo Leonetti
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!117 Yi Jing
Tanto é assim que o Yi Jing aconselha a expansão imediata desse movimento, em termos de campo de abrangência e em termos de envolvimento com outros elementos. A pessoa indicada pela 1ª linha é dotada de muita energia e iniciativa, mas não tem relacionamentos de apoio, pelo menos não na matéria da consulta. Por isso é que ela deve confiar em si mesma e buscar companhia ou adeptos fora do seu ambiente mais restrito. Com isso ela não perde nada e a tendência é de realizar associação com mais pessoas (ou elementos, entidades, etc.) e prosseguir o avanço. A pessoa não deve duvidar de sua capacidade nem de seu merecimento; não deve preocupar-se. 2ª LINHA (6): “Aderindo à criança pequena, perde o homem forte.” Nesta linha, o impulso para avançar, para prosseguir, é claro, mas a pessoa está num impasse quanto a quem ou a que se associar. Duas opções se lhe apresentam: seguir aquilo que é maior, mais poderoso do que ela, cuja sociedade envolve muita agitação e movimentação e que já está numa posição forte e definida, ou seguir aquilo que é menos poderoso do que ela na realidade enfocada pela consulta, que, de um certo modo, precisa dela pois ainda não tem suas posições firmemente estabelecidas, é instável e está em pleno movimento de ascensão, tal qual a pessoa desta linha, só que de uma maneira mais tranqüila, mais suave. No momento as duas opções são incompatíveis entre si: a pessoa não pode aderir a ambas. Segundo o oráculo, sua tendência é de associar-se ao elemento mais fraco, menos poderoso. Isso lhe trará satisfação e tranquilidade de consciência, e favorecerá o seu bom desenvolvimento na matéria da consulta, embora talvez não dê margem a grandes realizações. 3ª LINHA (6): “Aderindo ao homem forte, perde a criança pequena. Acompanhando as circunstâncias obtém o que procura; é conveniente manter-se insistente.” A pessoa da 3ª linha se vê diante de uma opção quase que obrigatória. Acompanhando as circunstâncias, ela se sente pressionada a optar por associar-se ao elemento que é ou representa o poder na matéria da consulta, que é mais forte do que ela e a limita ao mesmo tempo em que a força a avançar.
Elisabete Araujo Leonetti
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!118 Yi Jing
Com essa opção ela deixa de lado o elemento mais fraco, com o qual, talvez, mantinha uma unidade mais solidária e desenvolvia passos fundamentados em bases mais sólidas. A pessoa decide acompanhar o elemento mais poderoso levada pelas circunstâncias, pelas exigências do momento e consegue, através da sua escolha, obter aquilo que deseja na matéria da consulta, desde que se mantenha firme e perseverante, insistindo no seu objetivo. Não é isenta de sofrimento essa opção, e a pessoa ainda discutirá bastante as circunstâncias e a sua decisão, até que se sinta segura e confiante. 4ª LINHA (9): “Acompanha as circunstâncias para ter lucro; insistir nisso é prejudicial. Tendo confiança no caminho e usando sua clareza, como poderia ter culpa?” A 4ª linha mostra a pessoa avançando e associando-se a alguém ou algo que está numa posição melhor do que a dela, de mais poder e/ou riqueza, com o objetivo de usufruir vantagens dessa ligação. Ela procura ganhos para si através do outro, o que não é muito meritório. O Yi Jing adverte que insistir nesse comportamento, com essa intenção, não dará certo, trará tensão, incomodações, sofrimento, dificuldades e insatisfação. Enfim, será prejudicial para a pessoa. No entanto, o Yi Jing também reconhece que ela age assim em função das exigências do momento e diz que, se passar a confiar mais em si mesma e no rumo que traçou, ao invés de se apoiar nos outros, e se procurar distinguir bem os seus recursos, intenções e possibilidades, não estará incorrendo em culpa, embora a ação possa ser duvidosa (fato que, aliás, a própria pessoa percebe). A tendência aqui é de, continuando com aquela mesma associação, prosseguir no avanço mas recuar nas intenções, modificando-as, passando da busca de vantagens para a busca de afeto e companhia. 5ª LINHA (9): “Confiar no prazenteiro é benéfico.” Para a pessoa da 5ª linha as perspectivas são boas. Sendo correta e equilibrada, e já tendo ligações com elementos também corretos e equilibrados, na associação que ora se lhe apresenta ela considera mais as qualidades internas do parceiro(a) e a sua possibilidade de lhe dar satisfação e prazer do que sua condição financeira ou social. Assim, age com flexibilidade e sem arrogância. Elisabete Araujo Leonetti
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!119 Yi Jing
Mesmo que sobrevenham impactos, abalos repetidos que a obriguem a trabalhos e movimentações, ela saberá conservar-se firme porque deposita sua confiança naquilo que é positivo, tranquilo e estável, prazeroso e satisfatório, e assim terá boa sorte e não terá perdas. 6ª LINHA (6): “Ele adere aprisionado, só assim ele se liga e segue. O rei tem que usar sua influência nas montanhas do oeste.” A 6ª linha mostra a pessoa que já não tem mais disposição para acompanhar outrem ou as circunstâncias. A sua inclinação natural, no momento, seria a de uma atitude mais leve e descompromissada, talvez a de uma fruição prazerosa da vida ou dos bons aspectos da realidade enfocada pela consulta. Entretanto, ela não consegue sustentar essa atitude, seja por sua própria fraqueza, seja por um excesso de força dos outros ou das circunstâncias. O que acontece é que a pessoa é forçada a um engajamento, a uma associação, e assim dá continuidade à sua atuação na matéria da consulta. Mesmo esse arranjo não lhe trará felicidade e sim incomodações ou sofrimento, porque ela não estará seguindo plenamente a sua tendência íntima, não estará agindo completamente de acordo com o seu discernimento. Numa certa medida, a responsabilidade pela ação engajada não lhe pertence. O elemento que força a pessoa ao envolvimento na situação é um que detém grande poder na matéria da consulta - podendo ser externo ou interno a ela - e que quer estender sua influência até as regiões mais longínquas que possa alcançar ou até aquelas áreas que não domina, mas a que a pessoa da 6ª linha tem acesso, pela sua experiência, conhecimento, sabedoria ou maneira de ser, podendo servir de veículo inocente para os propósitos do outro. Se o consulente tiver obtido outras linhas mutantes, as quais ofereçam alternativas de ação diversas da aqui apontada, deve tentar segui-las, preferencialmente a esta. Se não houver alternativa, a pessoa deve procurar encarar com otimismo a sua tarefa e, na medida do possível, deve não abdicar da razão, refletindo sempre sobre o que faz.
Elisabete Araujo Leonetti
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!120 Yi Jing
HEXAGRAMA 18: ENDIREITANDO O DETERIORADO
JULGAMENTO: “ENDIREITANDO O DETERIORADO [se exerce] influência primordial; é conveniente atravessar o grande rio. Antes de começar, três dias; após começar, três dias.” Aquilo que constitui a realidade enfocada pela consulta ou já está estragado e necessita de conserto, ou está fadado a estragar-se, a deteriorar-se, a dar errado, e o resultado final é o trabalho para consertar as coisas, para restabelecer o rumo certo, para eliminar o erro. Enfim, este hexagrama indica que aquilo sobre o que se pergunta vai dar - ou já deu ou já está dando - o trabalho de corrigi-lo. Portanto, se a consulta se dirigir a uma ação futura, obter este hexagrama significa que não se deve empreender aquela ação porque, se a empreendermos, teremos depois que agir para desfazê-la, ou no mínimo para corrigi-la. Se a consulta se debruça sobre o significado de alguma situação presente ou passada, este hexagrama indica que aquela situação é consequência de erros - ou de deteriorações, desgastes, estragos ocorridos anteriormente ao tempo da consulta, e que, talvez, já esteja em processo ou em cogitação o conserto daqueles erros, o restabelecimento da ordem, da saúde, da legalidade, da justiça, da correção enfim. Finalmente, se a consulta versar sobre assuntos de família, ou que envolvam a família, a resposta pode estar dada literalmente pelo texto das linhas. Quanto ao motivo da deterioração, o Yi Jing diz que ela ocorre principalmente por um de três motivos: porque os ideais ou os pontos de vista dos envolvidos na questão não convergem; porque existe algo que abafa, limita, tolhe ou, de alguma maneira, cria obstáculos à livre expansão da matéria da consulta; ou simplesmente porque se estragar faz parte do ciclo existencial do objeto ou do sujeito da consulta. Apesar deste fato básico incontestável - a deterioração total ou parcial daquilo que constitui o objeto da consulta - nem tudo está perdido, pois a ação no sentido de endireitar o que se desviou do rumo certo é recomendada e exerce seus efeitos sobre a realidade.
Elisabete Araujo Leonetti
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!121 Yi Jing
Essa ação retificadora deve ser empreendida, mesmo que para tanto seja necessário tomar uma decisão importante ou realizar grandes mudanças, grandes movimentações. O modo de conduzir a ação é aliando firmeza e flexibilidade, bloqueando a hesitação, mas insistindo com tranquilidade. O sujeito não deve se deixar levar pela tendência de agir irrefletidamente, no afã de consertar tudo às pressas, pois isso não traria bons resultados. Ainda, o oráculo lembra que este é o ciclo normal da vida: as coisas começam e acabam numa sequência incessante, de modo que todo o tempo está contido em intervalos entre um começo e outro começo, e cada começo é, ao mesmo tempo, um fim. Começo e fim são os dois lados de um mesmo momento e essa verdade preside, de um modo amplo, à realidade enfocada pela consulta. Se o consulente obteve linhas mutantes, estas indicarão o provável sucesso ou insucesso da ação retificadora e algum detalhamento sobre a maneira de conduzi-la, além de prováveis causas específicas da deterioração. IMAGEM: “Na base da montanha há vento endireitando o deteriorado. Assim, o homem sábio, agitando o povo, alimenta seu potencial.” Tendo em vista o trabalho que o sujeito da consulta tem pela frente, de consertar o que se estragou, o conselho da Imagem trata dos meios de se criar ânimo para esse trabalho e sugere a movimentação, a agitação, como primeiro passo para romper a inércia e aumentar a energia. 1ª LINHA (6): “Endireitando o deteriorado pelo pai; tendo um filho [que faça isso] não haverá culpa do pai morto; a prudência acaba sendo benéfica.” Esta linha mostra a pessoa diante da tarefa de consertar algo que foi estragado no passado. Aparentemente, a pessoa não foi a responsável por aqueles erros, estragos ou desvios anteriores, mas os herdou, recebeu de outrem - que já não está mais aí – juntamente com a incumbência de corrigi-los. Essa atitude da pessoa da 1ª linha é que salva a situação, não só no presente mas também retroativamente, no passado, limpando os estragos feitos e eximindo a culpa de quem quer que os tenha feito. Deve, porém, agir com o máximo de prudência, para arrumar tudo e não cometer novos erros. E, tão logo acerte as coisas, deve retirar-se da situação, não se envolver mais, porque a tarefa é realmente muito pesada para ela sozinha. Insistir muito pode expô-la a riscos, de modo que, quanto Elisabete Araujo Leonetti
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!122 Yi Jing
mais rápido acabar, melhor, mesmo que tenha que se esforçar um pouco para isso, pois a sua natureza parece ser a de agir com um certo vagar. 2ª LINHA (9): “Endireitando o deteriorado pela mãe, não deveria insistir.” Esta linha mostra a pessoa consertando aquilo que, no passado, foi feito errado ou se estragou, por ação própria ou de outros. Não se discute, neste momento, culpas ou responsabilidades pelo que não deu certo; o que o Yi Jing aconselha é que a pessoa, ao efetuar as correções, não seja por demais rigorosa, exigente, meticulosa, mas, ao invés disso, adote uma atitude mais condescendente e equilibrada, buscando antes atingir um ponto médio satisfatório do que o acerto total. Nessa tarefa ela conta com a colaboração de outros, com quem mantém um relacionamento forte e que a ajudarão a encontrar o equilíbrio. Se não conseguir efetuar o conserto desejado, não adianta insistir, mesmo que isso a deixe insatisfeita. De um modo geral, se essa foi a única linha mutante obtida, a pessoa deve, depois de ter agido como aqui descrito, despreocupar-se do assunto que a levou a consultar o oráculo, ficar tranquila, mesmo que não esteja inteiramente satisfeita. 3ª LINHA (9): “Endireitando o deteriorado pelo pai, há um pouco de remorso mas nenhum grande erro.” Aqui se vê a pessoa envolvida em corrigir aquilo que foi feito de errado, por ela própria ou por outros. Ela consegue consertar a situação agindo sobre os problemas com delicadeza, porém com insistência e decisão, atitude que deverá manter ainda por algum tempo para consolidar bem o acerto e para fixar bem a aprendizagem de como lidar com situações semelhantes, em qualquer ocasião, no presente e no futuro. Sentindo que foi a sua própria ignorância, fraqueza, indecisão, ambição ou impulsividade que provocaram o erro e/ou a deterioração da situação, a pessoa poderá sentir algum remorso, mas como consegue arrumar tudo, acaba não ocorrendo nenhum erro de fato. Esta linha mostra um dos casos em que, se a consulta for sobre algo que se deseja ou pretende fazer, no momento, a resposta é não: não fazer para não ter que desfazer ou consertar depois. Se, por outro lado, a consulta for sobre o acerto ou o significado real de algo que já estamos executando, esta linha pode simplesmente indicar que, se estamos numa ação que implique uma revisão de atos ou de
Elisabete Araujo Leonetti
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atitudes, apesar de nossas dúvidas ou arrependimentos a ação é correta e deve ser feita. 4ª LINHA (6): “Condescendendo com o deteriorado pelo pai, avança desordenadamente e se defronta com vergonha.” Na 4ª linha a pessoa, ao invés de endireitar aquilo que não está bem, corrigindo os erros feitos no passado por ela mesma ou por outrem, ou simplesmente arrumando aquilo que se deteriorou com o tempo, deixa as coisas como estão, aceitando a situação errada, desvirtuada ou estagnada. Qualquer coisa que faça, com essas bases, será motivo de vergonha e não levará a lugar nenhum. Se continuar com essa atitude não conseguirá progresso algum na matéria da consulta. Mesmo que tente avançar, ou não consegue nada porque seu caminho fica bloqueado, ou desastradamente perde aquilo que já conseguiu, pois não se preocupou em fazer as coisas certas, apoiada em bases corretas. Esse comportamento não gera confiança nos outros, apesar de a pessoa ocupar, na matéria da consulta, uma posição de certo relevo. Sirva esta linha como alerta ao consulente de que o momento é de corrigir erros e não de aceitá-los. 5ª LINHA (6): “Endireitar o deteriorado pelo pai é útil e elogiável.” Esta linha mostra a pessoa executando com eficácia e aprovação o trabalho de consertar o que foi estragado ou desviado do rumo correto no passado, por ela mesma ou por outrem. O Yi Jing explica que essa ação dá certo e é louvável, porque através dela a pessoa aproveita aquilo que pode ser salvo das ações anteriores, ao invés de desprezar todo o anterior e ter de recomeçar da estaca zero. Nesse trabalho a pessoa conta com duas fontes de ajuda: uma voltada principalmente para orientação e outra de colaboração prática e apoio emocional. Mesmo que de início se veja confusa, sem distinguir uma solução ou um caminho, deve insistir, pois no fim terá sucesso. 6ª LINHA (9): “Não serve a reis ou senhores, porque seus serviços são mais elevados.”
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Esta linha mostra o momento em que a pessoa já não mais se envolve, ou não deveria mais se envolver, com o conserto dos estragos ocorridos por ações do passado, seja porque eles já foram resolvidos, seja porque não a afetam, não lhe dizem respeito. O consulente deve ver em que situação se encaixa o caso do sujeito da consulta. Quieta e isolada, a pessoa permanece na sua posição, apenas dando conselhos e sugestões aos que estão em condições de decidir as coisas na situação enfocada pela consulta, e servindo de modelo a todos pelo seu comportamento íntegro. De resto, dedica-se a ocupações que estão acima do poder terreno e temporal, ligadas, provavelmente, à ciência, à arte, à cultura, à religião, ao desenvolvimento espiritual ou simplesmente ao seu desenvolvimento pessoal. No entanto, o Yi Jing adverte que a pessoa terá que ter muita força de vontade e perseverança para manter essa postura, porque a condição geral da realidade onde se insere o assunto da consulta é a deterioração, o estrago, o desvio, o erro, e a pessoa conseguir elevar-se ou conseguir manter ideais elevados em meio a isso é completamente incerto e inseguro. Ela praticamente não tem apoio: ninguém acima dela para a guiar; ninguém abaixo que lhe dê suporte. Rejeita a realidade imperfeita que se lhe apresenta, e com isso rejeita também, em grande parte, o mundo e o que dele poderia extrair. Assim, ela sabe o que deixa para trás, mas não sabe ainda o que vai alcançar, e se vai. A única coisa que pode ampará-la é a sua própria confiança no caminho que escolheu, no qual deve prosseguir com moderação e equilíbrio.
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HEXAGRAMA 19: OBSERVADO DE PERTO
JULGAMENTO: “OBSERVANDO DE PERTO se exerce uma influência fundamental; é conveniente insistir, mas, chegando o oitavo mês, haverá prejuízos.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que se está diante de uma situação, de uma realidade, em que há interesse - mútuo ou apenas unilateral - entre as partes envolvidas, gerando aproximação e influência entre elas; em que há, inclusive, um crescimento positivo e promissor da aproximação e, consequentemente, da influência, mas em que, já fica dito desde o início, todo esse envolvimento das partes e desenvolvimento de um processo terá duração limitada, extinguir-se-á após um certo período, não durará para sempre. Portanto, se a pessoa consultou o Yi Jing tendo em vista uma esperança num projeto de longa duração, o conselho é para explorar e aproveitar a situação enquanto dure, porque não durará para sempre. Isso não deve servir como um simples desestímulo ao projeto, mas como um aviso, em primeiro lugar, e como sugestão para a tomada de novos rumos, em segundo lugar. As partes envolvidas na situação são os seus diversos componentes, que podem ser pessoas, idéias, grupos, elementos, etc. No momento presente, há uma observação constante e próxima dos detalhes, das sutilezas, das maneiras próprias de ser de cada uma das partes, e um cuidado, um zelo, um debruçar-se uma sobre o outra. No que diz respeito ao assunto da consulta, tais componentes apresentam muita receptividade com relação uns aos outros, muita abertura, mas pouca força de ação e pouca determinação. A situação como um todo é mais estática do que dinâmica. Existe solidez e firmeza por um lado, e alegria e agitação pelo outro, mas nenhuma das duas tendências chega a se realizar plenamente: parece que uma prejudica a outra, parece que a firmeza tem receio de se impor demais e comprometer a alegria e a leveza; e o movimento alegre e despreocupado tem medo de se avolumar e romper a solidez da situação, de modo que as coisas podem ficar num ponto de indefinição, de proximidade e interesse, mas sem compromisso. Não há rompimento, por enquanto, mas também não há verdadeira união: apenas uma
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aproximação com interesse sincero porém insuficiente para uma consolidação definitiva do projeto. Isso não significa que nada possa ser feito. Em muitos casos, aproximar-se e prestar atenção são passos importantes de um processo. Porém, se a intenção do sujeito da consulta é o estabelecimento de uma relação ou de uma empresa definitiva, duradoura, ele deve saber que isso ou não ocorrerá por enquanto, ou ocorrerá mas terá vida breve, principalmente se este hexagrama saiu sozinho ou como segundo na consulta. Se saiu como primeiro e há linhas mutantes, estas darão maiores indicações ao consulente sobre seu comportamento e suas circunstâncias específicas, mas, em princípio, não anulam a previsão geral. De qualquer modo, o hexagrama revela que durante o período da sua vigência o trabalho em conjunto, o companheirismo e a cooperação estarão grandemente favorecidos, de maneira que, se for só isso o que se pretende, há fortes chances de consegui-lo e, inclusive, deve-se aproveitar que o momento é propício para tal. O interesse cresce e avança, conquista espaço e encontra alguma correspondência. No entanto, a pessoa deve se precaver contra a possibilidade de reveses ou de um arrefecimento no desenvolvimento da questão, num futuro não muito distante, especialmente nos próximos meses de setembro e/ou outubro, ou aproximadamente no oitavo mês a contar do mês da consulta, ou no oitavo mês a partir do início dos acontecimentos sobre cujo desenrolar se consulta o oráculo. IMAGEM: “Acima do lago há terra, observando de perto. Assim, a pessoa sábia, porque sua vontade de ensinar não se esgota, aceita cuidar do povo sem limitações.” Para quem obteve este hexagrama o conselho é para deixar aflorar e expressar-se o seu desejo de exercer influência, de ensinar ou mostrar alguma coisa, manifestando, ao mesmo tempo, um interesse altruísta pelos outros envolvidos na questão, dispensando-lhes atenção e cuidados, observando-os de perto. 1ª
(9): “Observando estimulantemente e perto, insistir é benéfico.”
LINHA
A ação da pessoa da 1ª linha se desenvolve junto a uma ou mais pessoas a quem acompanha de perto e incentiva com sua energia. Como ela possui a determinação de agir corretamente, a ação tende a dar certo e o oráculo recomenda a sua continuação.
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No entanto, a pessoa não pode perder de vista o propósito de fazer as coisas certas, de acordo com as regras vigentes e com uma certa disciplina, pois ela tem a responsabilidade pelo resultado, não só perante si própria mas também perante outros e, provavelmente, ainda há muito que fazer e muitos aspectos da matéria da consulta que ela tem que dominar. 2ª LINHA (9): “Observando estimulantemente de perto, benefícios, nada que não seja conveniente.” A pessoa da 2ª linha, otimista, equilibrada e forte no que diz respeito à matéria da consulta, atua juntamente com outra ou outras, a quem incentiva através da sua energia. Essa atuação conjunta estimula o bom encaminhamento dos fatos e é conveniente para todos os envolvidos, de modo que, mesmo que venham a fazer alguma coisa que fuja do esperado ou do previsível, isso tende a dar certo. A amizade e/ou o interesse humanitário que existe entre as pessoas envolvidas influencia beneficamente a situação e dá à pessoa da 2ª linha muita chance de, quando uma nova realidade suceder a esta que agora existe, aceitá-la com abertura e espírito esperançoso. 3ª LINHA (6): “Observando melosamente de perto, nenhum lugar é conveniente. Eventualmente, se ele se lamentar [disso], não haverá erro.” O sujeito da 3ª linha, falho de energia e de autonomia, sem nenhuma ligação pessoal forte na matéria da consulta, pertence a grupos ou tendências que se contrapõem, uma estimulando-o à ação e a outra recomendando-lhe acomodação. Ele tenta fazer uso de seus atrativos pessoais para conseguir insinuar-se bastante na situação e exercer influência, mas não obtém bons resultados nessa empresa. Por mais simpático, loquaz, interessado e jovial que se mostre, ou não encontrará nada pelo que verdadeiramente se interesse ou a sua atitude não será bem recebida. Entretanto, se ele se der conta disso e modificar o comportamento, estará agindo corretamente e logo terá consertado a atitude errada. O que a pessoa não é capaz de mudar é o fato de que ela não pode segurar eternamente as circunstâncias no ponto que lhe seja mais conveniente e/ou agradável: inevitavelmente ocorrerão mudanças; cada momento bom, cada circunstância favorável deve ser usufruída plenamente quando ocorre e enquanto dura.
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4ª LINHA (6): “Observando de perto de forma extremada, nenhum erro.” A 4ª linha mostra a pessoa tomando a atitude correta para o seu caso: ela se aproxima, examina a questão e, a partir dessa olhada de perto, tira suas conclusões e toma suas decisões. Ela procura, na orientação que dá a seus passos, preservar a posição que merecidamente ocupa, bem como aproveitar tudo de bom que as circunstâncias atuais possam oferecer, antes de se lançar numa nova situação ou de aceitar uma proposta que lhe traga alterações fundamentais, mesmo vindo de pessoas com quem tem excelente relacionamento. Em síntese, através da análise minuciosa da situação, ela evita compromissos precipitados. Somente mais tarde ultrapassará a fase de observação e se envolverá verdadeiramente. 5ª LINHA (6): “Observando sabiamente de perto, a correção de um grande senhor é benéfica.” As características principais da pessoa da 5ª linha são o equilíbrio, a moderação, a correção, a conformidade e a sabedoria no exame da matéria da consulta e no entrosamento com os demais participantes da situação, e isso gera bom encaminhamento e bons resultados, principalmente na área dos relacionamentos. Conforme previsto por este hexagrama, as coisas boas não durarão para sempre, mas até mesmo esse fato é amenizado pela atitude sábia e equilibrada da pessoa, que nem exige demais dos outros nem concede demais a si própria. 6ª LINHA (6): “Observando sinceramente de perto, benefícios e nenhum erro.” A pessoa da 6ª linha realiza a aproximação desejada. Manifesta, de uma maneira bastante igualitária, seu interesse por todos ou quase todos os elementos da realidade enfocada pela consulta e exerce sua influência na situação através da generosidade, doando de forma indistinta e sincera o seu cuidado, a sua atenção e/ou qualquer outro bem ou faculdade especial que possua, irmanando-se com os seus próximos sem desenvolver relações exclusivistas, o que lhe confere grande autonomia de ação. Ela age assim por determinação interna sua: não é influenciada por ninguém. Paradoxalmente, essa doação em nada a diminui: tendo ela muito ou pouco, o reparti-lo agora está certo e lhe atrairá boas respostas em termos de colaboração, de seguidores e de consecução de objetivos.
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HEXAGRAMA 20: OBSERVADO DE LONGE
JULGAMENTO: “OBSERVADO DE LONGE faz a ablução, mas não a oferenda; há confiança nele porque parece imponente.” Este hexagrama fala de um momento ou de uma situação em que a pessoa já deu algum passo em direção a alguma coisa e se detém para observar aquela realidade, a si própria e talvez aos circundantes, antes de prosseguir. Nesse momento a pessoa observa e é observada, exerce e recebe influência. Há atenção e reverência, há hesitação em prosseguir e uma receptividade pronta a acolher o que vier, há o risco de tudo se desmanchar antes de se completar. É um momento intensamente presente e importante: houve toda uma preparação passada para se chegar até ele, e dele depende todo o desenrolar futuro da questão. Em consequência disso pode ser também um momento de grande tensão. Na situação em foco o sujeito da consulta é muito importante e não pode ser considerado isoladamente, mas sim em função de alguém a quem ele escolheu como modelo e deseja seguir, ou de algo que ele deseja realizar ou alcançar. Enfim, é sempre a pessoa em face de um ideal. Os demais envolvidos na questão da consulta estão atentos ao sujeito, aguardando o desenrolar da sua atuação para definirem os seus rumos. A previsão básica do hexagrama para aí, não faz prognósticos sobre o desfecho da situação, apenas descreve este momento de expectativa. Alguma linha mutante, entretanto, ou um segundo hexagrama obtido poderão indicar o que se seguirá. IMAGEM: “O vento age sobre a terra, observado de longe. Assim, os reis da antiguidade, porque visitavam os quatro cantos do mundo, observavam o povo para implementar seus ensinamentos.” O conselho da Imagem se dirige àqueles que devem servir como modelo, como objeto da observação de outros, e recomenda a essas Elisabete Araujo Leonetti
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pessoas que, por sua vez, observem o mundo e os outros, tanto para aprender com eles como para melhor poder ensiná-los. A Imagem apresenta o observar e o ser observado como as duas faces da mesma moeda, na situação enfocada pela consulta. De um lado, há um modelo ou ideal a ser seguido pelas pessoas; de outro, há a constatação de que não haveria modelos nem ideais se não houvesse pessoas interessadas em os seguir. 1ª LINHA (6): “Observar de forma imatura, não é erro para um homem inferior, mas envergonha uma pessoa sábia.” A 1ª linha mostra a pessoa atuando ou se posicionando com relação à matéria da consulta de forma simplista, infantil ou ingênua, sem discernir bem as coisas, deixando-se conduzir passivamente, fazendo observações e julgamentos primários. Se o sujeito da linha for realmente uma pessoa simples, muito jovem ou fraca, sem muita experiência ou habilidade na matéria, essa maneira de agir está correta, porque esse é o caminho natural para alguém em tais condições. Porém, se o sujeito da consulta for alguém com mais capacidade e preparo, o correto é assumir essa condição e agir de forma mais adulta, com um pouco mais de iniciativa e dinamismo, empreendendo ações de maior amplitude. É vergonhoso para ele ficar apenas observando como uma criança, sem intenções nem tomada de posições. Agindo assim não conseguirá nada. 2ª LINHA (6): “Observando de forma limitada, só conveniente [no caso] duma insistência feminina.” A pessoa da 2ª linha está, com relação à matéria da consulta, limitada em tudo. Ela não tem muita autonomia nem muita capacidade de ação, e sua visão do assunto é parcial. Está perfeitamente inserida no seu meio, porém restrita a ele: não pode se expandir. No aspecto dos relacionamentos, possui ligações fortes e importantes, mas nelas desempenha papel subordinado e passivo. Se ela realmente se sentir confortavelmente acomodada nesse papel e permanecer atuando como um elemento moderador, equilibrado, receptivo e prestativo, será bom que mantenha a visão limitada das coisas, pois isso evitar-lhe-á confrontos e responsabilidades. Porém não pode olvidar que se trata de uma atitude cômoda, de alguém que não tem coragem de assumir o comando das próprias ações ou não consegue olhar
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sem véus e reservas para o que está se passando à sua volta, e isso talvez possa causar-lhe vergonha de si mesma. De qualquer maneira, em momentos de apuro, quando as coisas se dispersam ou desmancham, a pessoa tem sempre o apoio daqueles a quem admira e segue, ou a quem se subordina: pode procurá-los que encontrará amparo e conseguirá, através deles, se resguardar. 3ª LINHA (6): “Observo minha vida progredir e declinar.” De acordo com o teor geral deste hexagrama, a pessoa da 3ª linha detém um pouco o seu movimento para examinar a si mesma e às suas circunstâncias antes de prosseguir no que intenta. Nesse exame ela observa que houve progresso e também, agora ou num momento próximo, passado ou futuro, um declínio ou retrocesso. Se ela estiver bem amparada pelo seu meio e mantiver viva a relação com o seu ideal ou o seu modelo, seu caminho ainda não está perdido e, apesar dos obstáculos e da sua fraqueza atual, poderá haver progresso e sucesso. Infelizmente, porém, a tendência da pessoa, segundo indicado por esta linha, é se afastar dos companheiros e seguir sozinha, sempre em frente, na busca do ideal. Assim ela não obterá os resultados esperados, terá sofrimento e poderá ter perdas. Aí sim o caminho estará perdido e a única salvação (ou consolo) será unir-se ao(s) companheiro(s) em solidariedade e amparo mútuo. Concluindo, neste momento de suspensão da ação e reflexão é importante que a pessoa não tente fazer um avanço solitário, mas se apoie nos companheiros e no ideal; e é recomendável também que não invente projetos novos agora, mas se empenhe em levar até o fim o que já começou. Há muito perigo de que ela seja derrubada ou de que não consiga subir. 4ª LINHA (6): “Observando a luz do reino é conveniente e útil ser hóspede do rei.” No exame da matéria da consulta, a pessoa da 4ª linha não olha para si mesma, nem para o que deveria ou poderia fazer. Parece que desde logo ela sente as limitações da sua pessoa e da sua posição, e dirige seu olhar para mais alto, para o modelo que desejaria seguir ou para o objetivo que desejaria alcançar, ou ainda para o seu ideal de vida. No entanto, falha de energia e iniciativa, ela não procura vivenciar o ideal e o modelo em si mesma, ou executar ações que conduzam aos objetivos, mas simplesmente quer estar no meio em que os seus modelos
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vivem e atuam, onde aqueles objetivos fazem parte das coisas normais com que se conta, onde a vida idealizada é a realidade. Assim, o importante para a pessoa da 4ª linha é ingressar naquele meio, viver naquela realidade, ainda que seja de forma emprestada, como hóspede. Tendo bom relacionamento com aqueles que comandam a situação e servindo-os com lealdade, correção e dedicação, sua presença será valorizada, seus anseios estarão satisfeitos e ela poderá estender as vantagens da sua posição aos seus companheiros mais chegados. O oráculo entretanto não afirma que isso vá acontecer, apenas declara que é possível e que seria conveniente e útil se acontecesse, para ambas as partes envolvidas. Se esta foi a única linha mutante obtida, as perspectivas para a pessoa são de ficar indefinidamente mais ou menos no mesmo ponto, sem muita chance de progresso, uma vez que dependerá de quem esteja no poder e estes poderão não ser os mesmos bons e amigos de agora. 5ª LINHA (9): “Observando minha vida, se for uma pessoa sábia, nenhum erro.” Aqui a pessoa, ao deter-se em meio ao movimento para um momento de autoexame e reflexão sobre a sua conduta até ali, não olha diretamente para si mesma, mas procura avaliar-se através do modo como os outros agem em relação a ela ou em relação ao que ela tentou passarlhes ou ensinar-lhes. Isso tanto pode ser a descrição do que já está acontecendo, como uma recomendação para que a pessoa aja assim. Esta é a linha que melhor expressa a idéia contida na Imagem deste hexagrama, de que o observado e o observador, o modelo e o seguidor são os dois lados de uma só moeda, as duas facetas de uma mesma realidade. Se a pessoa vir, através da atitude dos outros, que agiu para com eles nobremente, civilizadamente, sabiamente, honrada e honestamente, e que sempre procurou, no seu próprio comportamento, expressar os mais altos ideais do gênero humano, então concluirá que não há erro algum em ela ter-se tornado ou se vier a se tornar um modelo a ser seguido. Ainda que sobrevenha um desmoronamento de algum aspecto da realidade enfocada pela consulta, ou mesmo de toda aquela realidade, a pessoa permanecerá com seus seguidores, a quem oferecerá, em contrapartida, proteção e favores, o que a eximirá de qualquer culpa e colaborará para o bom andamento das coisas. 6ª LINHA (9): “Observando a vida dos outros; se for uma pessoa sábia, nenhum erro.”
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A pessoa, conforme revelado por esta linha, está sendo alvo da observação dos outros. Não se trata de uma observação gratuita, sem intenções, mas sim de uma avaliação provavelmente com vistas a verificar se a pessoa possui condições de levar a cabo a ação já iniciada ou a ação a que se propõe. Isso mostra, naturalmente, que os outros ainda não têm plena confiança nela e ainda duvidam da sua capacidade, apesar de que ela, na aparência, apresenta-se bastante forte e capaz. Porém no seu íntimo existe alguma hesitação, indecisão ou incerteza. Falta alguma coisa para a estabilização da sua posição na realidade enfocada pela consulta, que é o que leva os outros a este momento de pausa, observação e reflexão. Se a análise concluir que a pessoa possui as condições e qualidades necessárias para a ação pretendida - qualidades estas que são a sabedoria, a nobreza de caráter, a honestidade ou sinceridade, a idoneidade e a compaixão, principalmente - então não haverá erro em que ela prossiga em direção ao seu ideal, que possivelmente envolve união com outros. Cabe ressaltar que a pessoa tem que agir, tem que se mostrar, a fim de que os outros possam avaliá-la e, esperançosamente, aceitá-la. Se ficar esperando que as iniciativas partam de fora, não acontecerá nada e a oportunidade terá sido perdida. Também não adianta tentar se aproximar arrogantemente, sem reconhecer seus erros ou querendo encobri-los, ou disfarçando algum aspecto negativo seu para melhor impressionar os outros: isso não daria certo e traria sofrimento.
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HEXAGRAMA 21: MORDENDO PARA UNIR
JULGAMENTO: “Mordendo para unir se exerce influência. É conveniente utilizar confontos jurídicos.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing significa, em princípio, que a situação a que se refere a consulta é uma situação conflituosa, para a qual o sujeito da consulta tem que encontrar uma solução, provavelmente usando meios coercitivos. Existem, dentro da situação geral, obstáculos que atrapalham a consecução do que se quer e que devem ser eliminados. Se deixada por si só, a realidade a que se refere a consulta se esgotará rapidamente, numa explosão de energia descontrolada, sem chegar a um resultado positivo e aproveitável. O sujeito da consulta, para atingir seus objetivos ou simplesmente para obter um bom encaminhamento da matéria, terá que agir com força, firmeza, decisão e muita clareza daquilo que quer. A ação deve ser executada sem titubeios, de modo a não deixar dúvidas. Querer se aprofundar demais na questão ou agir com base na intuição, indiferença ou calma podem prejudicar a solução neste momento. Também querer enfrentar a questão com leviandade e superficialidade não dará certo. Se a questão for muito complicada, passível de ser resolvida pela justiça ou por alguma autoridade, deverá ser realizado o pleito e instaurado o respectivo processo, a fim de que o sujeito da consulta alie a força da lei à sua própria força pessoal, que pode não ser muito grande. Essa é a maneira recomendada de exercer influência na situação, para quem obteve este hexagrama sozinho. Se o obteve como segundo na consulta, derivado de um outro, essa atitude poderá ser o próximo passo do andamento previsto pelo primeiro hexagrama tirado. Se saíram linhas mutantes, estas darão maior detalhamento da posição do sujeito da consulta e, talvez, dos demais envolvidos na questão, bem como darão esclarecimentos sobre o seu comportamento. Por outro lado, se o sujeito da consulta não for o agente promotor da situação, mas sim o seu sujeito passivo, o que a sofre, este hexagrama é uma descrição do que está se passando com ele e, ao mesmo tempo, uma orientação sobre a melhor forma de agir que, no caso, é revidar com força, inclusive com força legal, se necessário. Elisabete Araujo Leonetti
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Evidentemente, se a consulta versar sobre algo que se deseja fazer, obter este hexagrama é um aviso de que aquilo que se pretende só será obtido mediante o uso da força; portanto, se não for absolutamente necessário no momento, talvez seja o caso de rever as intenções, ou desistir por enquanto. IMAGEM: “Trovão e relâmpago mordem para unir. Assim, os reis da antiguidade esclareciam os castigos promulgando leis.” Para a pessoa que se encontra na situação de ter que atingir um objetivo ou resolver um problema através da força, é correto e honesto anunciar claramente suas intenções, tanto a respeito do que deseja quanto a respeito do que acontecerá caso não consiga o que deseja. Em outras palavras, o Yi Jing recomenda que, nas transações com os demais envolvidos na questão, ou consigo própria, se for o caso, a pessoa aja com transparência, lucidez, decisão, firmeza e com muita energia. E dá, como exemplo, a atitude de governantes que, para garantirem a ordem desejada, associavam leis a penalidades, divulgando as leis com bastante clareza e executando as penalidades com rapidez e rigor. Se a pessoa agir assim, nenhum dos envolvidos na questão poderá alegar ignorância das regras vigentes ou achar que foi enganado ou iludido. Este hexagrama preconiza o uso da força, mas aliado à justiça, à lei, ao que é correto. Em nenhum momento ele recomenda uma ação enérgica apoiando a arbitrariedade, a extorsão ou qualquer intenção má ou desonesta. 1ª LINHA (9): “Calçado com um cepo tem os pés anulados, nenhum erro.” A pessoa da 1ª linha é detida à força em seu impulso para avançar. Ninguém a apóia, nem mesmo os mais próximos, que normalmente são influenciados por ela. No entanto, é correto que ela seja impedida de avançar, porque assim erros são evitados. O comportamento dessa pessoa, na matéria da consulta, é incerto, não inspira confiança, por isso não se pode deixá-la livre para seguir o seu curso. De um certo modo, os obstáculos que se lhe apresentam são benéficos para ela. Caso esta tenha sido a única linha mutante obtida, a situação indicada por ela tem possibilidade de melhora, mas não para já: por enquanto a pessoa poderá até agir, mas não avançar. 2ª LINHA (6): Elisabete Araujo Leonetti
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“Mordendo em carne moída tem o nariz anulado, nenhum erro.” A pessoa da 2ª linha consegue superar os obstáculos com relativa facilidade, embora com algum dano para si mesma ou para outros. Isso se deve ao fato de que ela já está no caminho da solução e tem o estímulo e o apoio de alguém com muita energia, próximo a ela. Na verdade, ela não controla a situação, mas tem a sorte de ser bem conduzida e de os obstáculos não lhe oferecerem tanta resistência quanta seria de esperar. Em consequência, a ação da pessoa da 2ª linha prossegue sem erros em direção a um resultado satisfatório, ainda que este ocorra de modo meio inesperado e repentino. 3ª LINHA (6): “Mordendo em carne salgada encontra veneno; um pouco de vergonha, mas nenhum erro.” Aqui a pessoa, ao enfrentar o obstáculo, que já é árduo, encontra um problema adicional, sério: o obstáculo com que se defronta esconde, em seu interior, um aspecto pior, mais nocivo do que aquele que mostrava desde o início. Em consequencia, ela não consegue muita coisa além de vergonha, decepção e frustração. Inclusive perde um pouco. Embora não haja, segundo o Yi Jing, erro na atuação presente da pessoa, ela estava ocupando uma posição a que não fazia jus e é por isso que agora não consegue resolver a situação. A tendência é de a pessoa não conseguir mesmo nem resolver a situação nem se libertar dela, mas ficar lamentosamente se apegando àquilo que perde, ou que se esvai, procurando agarrar-se àqueles que deveriam apoiá-la mas já não o fazem, pois estão alheios e afastados dos seus problemas. Se esse panorama ainda não se delineou, sirva esta linha como advertência para a pessoa a respeito das dificuldades que poderá enfrentar e de como não deverá reagir a elas. 4ª LINHA (9): “Mordendo com força carne seca com osso consegue uma flecha de metal; ainda que seja cansativo é conveniente insistir, benéfico.” A pessoa da 4ª linha enfrenta muitas dificuldades para resolver o que precisa. Tem consciência de que está em meio a uma situação muito
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problemática e age com energia e decisão para eliminar os obstáculos difíceis que tem pela frente. Ao mesmo tempo, procura se proteger e garantir sua posição através da obtenção e demonstração de provas da sua retidão. Ela deve insistir nas atitudes que está tomando, mesmo que se sinta cansada e que ainda não consiga ver com clareza todos os aspectos do problema e da sua solução. A tendência é de conseguir o que quer. O momento lhe é favorável e ela encontrará ajuda e reforço se procurar com afinco. 5ª LINHA (6): “Mordendo carne com força consegue metal amarelo; insistindo com prudência não tem nenhuma culpa.” A 5ª linha mostra a pessoa obtendo sucesso moral e material na tarefa de eliminar os obstáculos e resolver a questão da consulta através da força e da firme determinação. Ela age com espírito de justiça, de equilíbrio, e com conhecimento de todos os aspectos da situação. Apesar desse prognóstico favorável não deve se descuidar nem fraquejar, porque a situação ainda oferece riscos e são o cuidado a e firmeza que a livram de erros - erros por negligência, fraqueza, omissão, etc. - que poderiam, se ocorressem, ser-lhe motivo de culpa. Deve continuar procedendo com base em seus próprios critérios interiores e centrada no que faz, sem se preocupar excessivamente com os resultados. Não deve procurar resolver os problemas que não provocou: deixe que estes se resolvam por si. Também não deve carregar carga alheia, nem assumir ou aceitar responsabilidades que não sabe bem aonde poderão levá-la. 6ª LINHA(9): “Carregando o cepo nas costas tem as orelhas anuladas, prejuízo.” A situação é especialmente difícil para o sujeito da 6ª linha: ele perde a plena liberdade de ação, sofre penalidades, tem a capacidade de entendimento prejudicada. Não resolve a situação mas é vítima dela e os obstáculos que enfrenta crescem sobre ele, ao invés de serem removidos. Esse estado de coisas não condiz com o que seria de esperar de alguém numa posição em que tem energia, clareza de visão, inteligência e bons relacionamentos. No entanto, é o que acontece. Não fica claro se isso ocorre devido a um mau uso que o sujeito da 6ª linha faz de suas qualidades, se por punição a um desejo seu de afastamento, de não envolvimento com as circunstâncias problemáticas a Elisabete Araujo Leonetti
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que é atado à força, ou ainda se pela fatalidade de estar inserido num contexto geral conflituoso e levar a pior. O resultado é que o sujeito tem que suportar as circunstâncias negativas de uma forma infeliz e talvez humilhante: ele não pode escapar à situação nem pode interferir nela; não consegue entender bem o que se passa à sua volta e sequer escuta direito o que dizem dele ou para ele. Atemorizado, por vezes espreita a seu redor para avaliar o seu próprio estado pelo que acontece aos outros. Por outro lado, os outros também o estão observando e, provavelmente, censurando.
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HEXAGRAMA 22: ENFEITANDO COM REQUINTE
JULGAMENTO: "Enfeitando com requinte se exerce influência [mas] é pouco conveniente ir desordenadamente a qualquer lugar." Vemos dois significados básicos para este hexagrama: 1 – Procurar resolver a questão da consulta de uma forma leviana, superficial. 2 - Buscar harmonia entre forma e conteúdo, entre essência e aparência. O oráculo diz que não adianta muito, neste momento, ter um objetivo definido em mente. Parece que o que a pessoa deve buscar agora é o estabelecimento de uma harmonia, de um equilíbrio na situação enfocada pela consulta. Em princípio o que o Yi Jing aconselha é a harmonia entre a forma e o conteúdo, mas também pode ser a harmonia entre a dimensão dos nossos desejos e o alcance das nossas possibilidades, pode ser a harmonia entre uma energia intensa e dinâmica de um lado e uma grande inércia estática de outro, pode ser a harmonia entre o tumulto da vida exterior, do mundo das aparências, e a quietude da vida interior, do mundo das essências, e pode ser ainda a harmonia entre a nossa capacidade de percepção e a verdade dos fatos. Essa - ou essas - harmonias o consulente deve buscar. Isso o ajudará a encontrar-se ou a encontrar a verdade sobre a questão formulada ao oráculo. Desse conhecimento deverá advir um alívio de tensão, a liberação das amarras que porventura tolham o desenvolvimento; pois, se a pessoa estiver, por exemplo, presa só à forma externa de algo, sem visualizar o seu conteúdo interno, poderá agir, mas a ação resultará vã, vazia; se, por outro lado, estiver presa só ao conteúdo, sem visualizar a forma correta de externalizar este conteúdo, ficará cheia de anseios, mas não poderá agir, ou agirá de forma ineficaz. Assim, a eficácia da ação que se pretende ou o resultado positivo para a conjuntura apresentada ao oráculo dependem de uma correta harmonização dos vários aspectos da questão, em especial da harmonização entre a forma e o conteúdo, a aparência e a essência, o ideal e o real. Trata-se de um convite ao consulente para refletir sobre o que realmente ele está buscando; se não é só uma casca vazia, se não é algo destituído de importância intrínseca. Elisabete Araujo Leonetti
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O consulente deve se perguntar se é realmente essencial o assunto da consulta, se não estará ele dando excessiva importância a algo que não é fundamental, que não tem tanta importância e alcance. Por outro lado, o oráculo pode justamente estar esclarecendo isso: que a questão levantada ou o assunto da consulta são de natureza superficial e secundária e assim devem ser encarados, não se lhes devendo dar muita importância. Isso porque, provavelmente, o sujeito da consulta está em uma destas duas situações: a) Está dando muita importância a uma questão trivial, que poderia ser resolvida com base num critério superficial, tal como o gosto ou as aparências. b) Está inclinado a resolver uma questão séria com base num critério superficial, está encarando com leviandade um assunto importante. Obter este hexagrama como resposta pode ainda indicar um comportamento em que se busca a beleza, em qualquer das suas manifestações: pessoal, ambiental, artística, etc. Pode indicar uma vontade de resolver as coisas apenas através da beleza, ou de uma aparência agradável, aceitável. Também nesses casos está presente a busca da harmonia, apenas com a ressalva de que se pode estar valorizando apenas a harmonia formal, das aparências, esquecendo que os conteúdos também devem ser belos. A adaptação perfeita entre aparência e essência, entre aquilo que se quer transmitir e a maneira de transmiti-lo é o que buscam os artistas, e assim este hexagrama pode surgir em resposta a questões relacionadas com a arte. De um modo geral, a pessoa que obteve este oráculo está carente de aprovação, de estima e de superação de um nível. Tanto pode ser que necessite da sua própria autoaprovação, de elevar a sua autoestima ou de superar-se a si mesma em algum setor, quanto que necessite da aprovação e estima alheias e de engrandecer-se perante os outros. O sujeito da consulta, analisando-se, verá para quem quer se "enfeitar". Reforçando o que foi dito de início, o momento atual não se presta à perseguição de um objetivo específico: primeiro é preciso efetivar a harmonização dos fatores componentes da situação. IMAGEM: "Fogo na base da montanha, enfeitando-a com requinte. Assim, o sábio esclarece numerosos assuntos correntes, mas não se atreve a decidir confrontos jurídicos.”
Elisabete Araujo Leonetti
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O fogo não está embaixo da terra, como na situação de Escondendo sua luz, mas sim no sopé de uma montanha. Assim, o seu clarão não fica oculto, mas brilha e ilumina a montanha, mostrando suas formas, que são belas. Por isso o hexagrama chama-se Enfeitando com requinte. Enfeitar quer dizer embelezar a forma, o aspecto. A conotação primária é de que a preocupação é apenas com a beleza da forma, não se sabendo se ela atinge ou não o conteúdo. Em princípio, todas as coisas podem ser enfeitadas: tanto as coisas inferiores quanto as superiores, tudo o que existe pode ser revestido de uma forma bela. A forma bela tem sempre a função de agradar aqueles a quem é apresentada. Pode querer agradar salientando qualidades, ou encobrindo defeitos; mas sempre tentará ser agradável. Isto, em si, não é bom nem mau: assim como a luz ilumina qualquer objeto para onde seja dirigida, o enfeite presta-se para ser utilizado para o mal - para a ilusão e a manipulação, por exemplo - e presta-se para ser utilizado para o bem para o conforto e o prazer, por exemplo. De qualquer modo, o enfeite tem uma esfera de ação limitada: ele não pode ultrapassar a sua finalidade de agradar, porque, se o fizer, deixará de ser apenas enfeite e passará a ser algo mais comprometido com o bem ou o mal. Na vida humana, a intenção de ser agradável manifesta-se através da beleza física, da beleza das maneiras e da harmoniosa ordenação formal dos pensamentos. A lição da Imagem é de que a pessoa pode resolver assuntos sem muita importância, assuntos menores ou corriqueiros, com base apenas nos seus aspectos formais, ou tendo em vista apenas o que lhe seja mais agradável, ou ainda tentando agradar a outrem. Porém, quando se tratar de questões sérias, importantes, ou de assuntos controversos, os critérios para uma tomada de decisão não podem mais ser esses. Alguns exemplos: Um juiz não pode decidir uma causa fundamentado no desejo de ser agradável a alguém ou baseado no fato de que uma das partes envolvidas lhe é especialmente agradável. O educador não pode deixar de mostrar ao educando um erro cometido, por querer ser-lhe continuamente agradável ou por achar graça no erro. Uma pessoa não pode construir uma casa num terreno instável só porque o local é bonito e lhe agrada. E assim por diante. Os exemplos seriam praticamente infinitos. 1ª LINHA (9): "Enfeitando os dedos dos pés abandona a carruagem e caminha."
Elisabete Araujo Leonetti
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A pessoa da 1ª linha trata de arranjar do melhor jeito possível o aspecto formal dos seus recursos porque não lhe é possível alterar a substância, o conteúdo daquilo de que dispõe. Buscando adequar-se às suas reais possibilidades, que percebe quais são, ela trata de torná-las atraentes e avança por seus próprios meios, recusando a ajuda de terceiros, sejam eles amigos ou não. Os seus recursos próprios são simples e inferiores, em aspecto, alcance e potência, aos recursos alheios que lhe são oferecidos; porém a pessoa, recusando estes, usufrui a vantagem de manter sua liberdade e autenticidade, pois pode avançar no seu próprio rumo e ritmo, não se compromete com ninguém nem se aproveita injustamente das circunstâncias. Isso lhe conferirá, na continuação, uma certa paz de espírito e a manterá afastada de complicações. É a atitude correta a tomar e que dará certo, se for sustentada. A pessoa não avançará muito, não irá muito longe, mas estará bem, principalmente consigo mesma. 2ª LINHA (6): "Enfeitando sua barba." A pessoa a quem se refere a 2ª linha fixa-se apenas nos aspectos formais da situação, e faz isso porque é mesmo meio frívola ou meio vazia de conteúdo, pelo menos no que diz respeito ao assunto da consulta. Assim, ela procura chamar a atenção para aspectos exteriores do seu ser ou do seu fazer, ao mesmo tempo em que oculta aspectos íntimos da sua personalidade. Embora sem grande envolvimento, ela se relaciona bem com os seus pares e almeja uma associação com alguém que tem uma posição de poder ou de destaque na situação da consulta. Há possibilidades conseguir essa associação e prosperar, evoluir. Na continuação dos acontecimentos, consegue se colocar numa posição onde poderia progredir através de trabalho contínuo e direcionado; porém, como não procura fortalecer a sua base, o seu conteúdo, não poderá tirar proveito daquela posição, ficará impossibilitada de avançar. Concluindo, a pessoa da 2ª linha não evoluirá enquanto permanecer na superficialidade. 3ª LINHA (9): "Parece saturado de enfeites, uma insistência duradoura é benéfica."
Elisabete Araujo Leonetti
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A pessoa da 3ª linha encontra-se numa situação em que a máxima importância é dada à aparência exterior das coisas. Ou em que é da maior importância cuidar do aspecto formal das coisas. Sendo forte e de natureza ativa, a pessoa desta linha sente um impulso para agir, para avançar. Apesar de imersa na superficialidade e na preocupação com as aparências ela poderá fazer alguma coisa. E, se persistir nos seus propósitos e insistir na ação, terá a boa sorte de chegar ao final sem sofrer humilhações e sem ter de carregar ninguém. Por outro lado, dentro do assunto da consulta ela não mantém relacionamento aprofundado com ninguém que seja sábio e equilibrado, que já tenha superado a dicotomia essência/aparência. Os seus companheiros, ou estão também preocupados só com as aparências, atuando na superficialidade, ou estão justamente na fase de transição, inseguros quanto à tendência a adotar, o que não a ajuda muito no sentido de se libertar da preocupação com as formas. O principal para esta pessoa é manter a si e à sua ação dentro dos limites do que é correto e sempre procurando prover-se de boas bases, bons conteúdos, porque há o perigo de que aquilo que pretende ver realizado se transforme numa casca vazia, como um projeto maravilhoso que não sai do papel ou como uma vida só de aparências, e isso não a levaria a nada de bom, por longo tempo. Concluindo, a maneira de a pessoa da 3ª linha progredir é desenvolvendo o interior, ainda que continue a cuidar do exterior. 4ª LINHA (6): "Parece um enfeite, parece muito branco, parece um cavalo branco com asas, [mas] não é um invasor, só quer casamento e intimidade." A pessoa da 4ª linha está em dúvida e em conflito: com alguém, com alguma coisa ou consigo mesma. Confundida pelas aparências, ela não consegue enxergar claramente a essência das coisas que se lhe apresentam neste momento, e assim é natural que se encha de dúvidas. Mas tenta clarear a visão, inclusive com a ajuda de outros, pois sente um desejo de superação da realidade presente. Dividida entre a tendência a parar e refletir e a tendência a avançar irrefletidamente, pressionada pelas circunstâncias, a pessoa da 4ª linha de qualquer modo não ficará muito tempo nessa situação desconfortável, pois há uma possibilidade de alteração súbita, seja pela ação da própria pessoa, seja pela ação daquele com quem ela contracena no momento. Isso aliviará a incerteza em que se encontra. Na continuação, ela procurará enxergar e expressar as coisas com mais clareza, mas ainda poderá estar muito ligada às aparências ou aos aspectos materiais em si, deixando de lado o essencial. Elisabete Araujo Leonetti
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Esta linha também pode estar indicando a pessoa que contracena com o sujeito da consulta, além do próprio sujeito. Confusa, dividida e cheia de dúvidas, tal pessoa apresenta-se de modo dúbio: muito atraente, porém ameaçadora; ora inerte, ora possante. Suas intenções, entretanto, são amigáveis, embora sua atuação seja impetuosa, e assim, no final, ela acabará não sendo criticada. 5ª LINHA (6): "Enfeitando o jardim da colina, o pacote de lenha amarrado com seda é pequeno e modesto; vergonha, mas, ao final, benéfico." A pessoa a quem se refere a 5ª linha preocupa-se com o aspecto formal das coisas na medida certa. Ela não confunde essência e aparência. Embora mantenha o cuidado com a forma, dá mais importância ao conteúdo. No íntimo desejaria que pudesse haver um equilíbrio entre o conteúdo e a forma. Na situação enfocada pela consulta, essa pessoa move-se em direção ao alto, procura a companhia das pessoas mais elevadas, procura tornar-se melhor. Ela ainda não está em condições de realizar tudo o que a sua natureza pede e, embora um pouco envergonhada pelas suas deficiências, ou arrependida por alguma coisa, nem por isso fica insatisfeita ou descontente. Não deixa de fazer ou de oferecer o que pode no momento, buscando apresentá-lo da melhor forma possível, porém sem tentar disfarçar o conteúdo, mesmo que este seja pouco, simples, pobre, ou simplesmente fora das expectativas. Essa conformação com as possibilidades do momento, aliada à sinceridade de ação e de propósito, é que acabarão favorecendo a pessoa da desta linha, de modo que, na continuação dos acontecimentos, há possibilidade de ela obter a aprovação daqueles com quem pretende interagir, estabelecer com eles relacionamentos sólidos e chegar mesmo a ser bem considerada. 6ª LINHA (9): "Enfeitando com branco, nenhum erro." Na situação enfocada pela consulta, a pessoa da 6ª linha é aquela que dá mais importância à essência do que à aparência das coisas. Distanciada do rebuliço do mundo, distanciada dos conflitos alheios e até mesmo de envolvimentos com as outras pessoas, a pessoa da 6ª linha contenta-se em se relacionar com quem procura se aproximar dela com objetivo de elevação, sem disputas; e se satisfaz consigo própria, com o seu próprio conteúdo, que é muito grande. Como, entretanto, não há conteúdo sem forma, a maneira que a pessoa da 6ª linha escolhe, ou deve escolher, para se apresentar ao mundo é extremamente simples, buscando realmente valorizar o conteúdo e não a aparência daquilo que ela tem a dizer ou a mostrar. Elisabete Araujo Leonetti
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De certo modo a pessoa da 6ª linha concretizou seus ideais, atingiu um ápice, chegou ao céu no assunto da consulta. Ela está numa posição muito elevada, talvez de poder, e absolutamente correta. Não há nada de censurável no seu comportamento. Deve procurar manter essa elevação e essa correção, agindo sempre dentro do bem, porque, se usar para o mal os recursos de que dispõe, se, ao invés de ser um modelo, um píncaro iluminado, tornar-se um peso opressivo para os outros, sofrerá as consequências nocivas disso.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 23: DESGASTANDO-SE PERIGOSAMENTE
JULGAMENTO: “Desgastando-se perigosamente não é conveniente ter aonde ir.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que aquilo que constitui o ponto principal da consulta está prestes a acabar, está numa situação muito frágil, está se desmanchando, desabando. O sujeito ou o objeto da consulta, ou ambos, estão numa situação de enfraquecimento e ruína. Se houver elementos contrários a eles, antagônicos, estes estão prevalecendo no momento e sua atuação nem sempre é visível, pode estar oculta ou dissimulada. Por tudo isso, não é o momento para se fazer planos ou empreender ações com vista à consecução de um objetivo. Se há um objetivo que se almeja, ele provavelmente não será alcançado por enquanto. Se há um desenlace que se receie, é muito provável que ele ocorra por estes tempos. Assim, de um modo geral, este é um hexagrama de conotação mais negativa do que positiva, embora possa, em princípio, ser bom ou mau. O positivo praticamente se restringe aos casos em que se pergunta sobre o andamento de uma realidade negativa e ele nos diz que já está perto o seu fim. Mas, ainda neste caso, o que pode estar se desgastando, prestes a desmoronar, podem ser as esperanças do sujeito da consulta com relação àquela realidade. Os aspectos negativos são a tal ponto predominantes que a pessoa não tem como lutar contra eles. Não pode atacá-los e, para defender-se, pode apenas submeter-se ou resistir passiva e caladamente e entender que a vida é assim mesmo: apresenta períodos bons e maus. Isso é verdadeiro principalmente se este hexagrama saiu sozinho ou como segundo na consulta, indicando a forte tendência ao desmoronamento que existe na realidade enfocada. Se há linhas mutantes, estas poderão indicar a possibilidade de alguma ação adicional e o hexagrama delas derivado poderá fornecer, quem sabe, uma perspectiva menos sombria. IMAGEM: “A montanha afunda na terra, desgastando-se.
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O superior, porque é generoso com os inferiores, pacifica seu próprio lar.” A Imagem reforça a idéia de que o melhor, no momento, é aceitar as circunstâncias e resistir passivamente, complementando essa idéia com o conselho de fazer, inclusive, concessões aos elementos negativos, a fim de garantir a própria sobrevivência e/ou tranquilidade, e a dos seus, se for ocaso. Em síntese, a pessoa deve ceder em alguns pontos, para não ser molestada em outros. Ou deve se resignar, não se revoltar mais, para sofrer menos. Aquilo que representa a oposição ou o perigo não deve ser ignorado nem desprezado: trata-se de uma ameaça forte e real; é preciso encará-la e ver a melhor forma de lidar com ela, dentro das propostas aqui apresentadas. 1ª LINHA (6): “Os pés da cama desgastados, insistir é destrutivo e prejudicial.” Esta linha mostra a pessoa sem condições de enfrentar o processo de destruição, que começa derrubando primeiramente aquilo que já está mais fraco ou em posição mais desfavorecida. A pessoa não tem a quem recorrer e não tem força, em si mesma, para tentar um enfrentamento ou uma saída, por isso a recomendação é para não insistir em avançar na perseguição a algum objetivo. E, estando ou não com algum objetivo em vista, é-lhe recomendado que não persista num comportamento dependente e apoiado na fragilidade. Concluindo, para que melhorem as perspectivas com relação ao quadro aqui apresentado, é necessário que a pessoa promova duas mudanças: uma da ação exterior (parar de avançar) e outra da atitude interior (parar de se apoiar no que não lhe pode dar sustentação). Como essas mudanças requerem um equilíbrio e uma firmeza que a pessoa não apresenta no momento, a previsão é de as coisas não darem certo, a não ser que haja outras linhas mutantes que indiquem possibilidades diferentes. 2ª LINHA (6): “O estrado da cama desgastado, insistir é destrutivo e prejudicial.” Esta linha mostra a pessoa sendo ameaçada ou atingida pelo processo de destruição principalmente porque não tem um companheiro ou companheiros que a apóiem. Ela não está numa posição inadequada, nem é fraca para a posição que ocupa: está no lugar certo, bem equilibrada, é responsável e, em Elisabete Araujo Leonetti
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!148 Yi Jing
princípio, bem encaixada numa estrutura. No entanto, se ela não promover mudanças, se, com relação à matéria da consulta, continuar fazendo o que faz, do modo como o faz, terá mau resultado, vendo o desabamento de seus projetos. As mudanças sugeridas pelo Yi Jing são: Primeira e principal: buscar companhia, não para ajuda, mas para formação de uma relação pessoal sólida. Segunda: superar a ignorância nos pontos em que isso ainda se faz necessário. 3ª LINHA (6): “Desgast-se, nenhuma culpa.” Esta linha mostra o processo desgastante atingindo a pessoa na área dos relacionamentos, o que a leva a adotar uma atitude individualista e isolada para enfrentar a situação. Como isso ocorre por força das circunstâncias e não por uma escolha livre, a pessoa não tem culpa pelo fato de perder as ligações com os companheiros. Ela mantém apenas um vínculo, provavelmente emocional, com um elemento que está mais distante e como que acima da questão em foco. Nada disso, porém, a livra do processo destrutivo, e o máximo que ela consegue, à força da contenção de seus impulsos e sentimentos, é não contribuir para o desmoronamento e não se envolver demais. 4ª LINHA (6): “O cobertor da cama desgastado tras prejuízo.” O processo desgastante ameaça derrubar - ou de fato derruba - as defesas da pessoa, seus escudos e disfarces, e ela fica desprotegida e exposta. Ficar sem proteção em meio à destruição só pode resultar em desgraça. Muito cuidado é necessário neste momento, porque, dentro desse quadro geral negativo, a própria pessoa já foi atingida e, por isso, mesmo que pense que pode avançar e se disponha a tanto, na verdade não pode ir muito longe. Isso se aplica especialmente ao caso de esta ter sido a única linha mutante obtida. 5ª LINHA (6): “Enfileira como peixes [como se fossem] favoritas do palácio, nada que não seja conveniente.” Esta linha trata da relação da pessoa com os outros envolvidos na questão.
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Por um lado mostra-se a sua ascendência sobre os demais; por outro, revela-se que essa ascendência é obtida à custa de favores, concessões ou benefícios distribuídos, conforme está na Imagem deste hexagrama. Dentro do panorama geral de fragilidade, desgaste e/ou desmoronamento, essa atitude é adequada e correta, uma vez que as adversidades são muitas e a pessoa não tem força nem ajuda para enfrentá-las. Já que os outros, provavelmente, estão em situação similar à sua, o fato de ela procurar a simpatia, aquiescência e o bem-estar deles resultará em benefício para si também. 6ª LINHA (9): “O grande fruto não foi comido, o homem sábio consegue uma carruagem enquanto o homem inferior tem sua cabana desmanchada.” Esta linha representa um perigo muito grande para a pessoa a quem se refere, pois trata do momento culminante em que ou as coisas desabam de vez, ou se salvam. Aquilo que constitui o núcleo da questão da consulta ainda não aconteceu, ou já aconteceu e não deu certo, não foi como se desejava que fosse. Em ambos os casos, a felicidade ou infelicidade do sujeito depende dele mesmo, principalmente da sua atitude mental. Se ele conseguir se manter firme, correto e íntegro apesar do desmoronamento, seja do todo, seja de partes daquilo que constitui a sua preocupação principal no momento, ele conseguirá se sair bem da situação, obtendo uma grande ajuda e o apoio incondicional de praticamente todos os envolvidos com a questão ou com ele pessoalmente. Se, pelo contrário, deixar-se abater, fraquejar e/ou tentar meios ilícitos para superar os problemas, será derrubado de vez, não atingirá os seus objetivos e, inclusive, não poderá aproveitar aquilo que conseguiu até aqui. De qualquer modo, este caminho acaba para essa pessoa, quer ela chegue ao fim vitoriosa ou derrotada. A partir daí começa um caminho novo, mesmo que seja para os mesmos fins, se estes ainda não foram atingidos.
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HEXAGRAMA 24 : RESSURGINDO POSITIVAMENTE
JULGAMENTO: “RESSURGINDO POSITIVAMENTE se exerce influência. Os amigos chegam, indo e vindo sem pressa, nenhum erro. Retrocedendo e ressurgindo no seu caminho, em sete dias o ressurgimento se concretiza, é conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente.” Obter este hexagrama significa que há um retorno da matéria da consulta a um início. Este início pode ser, ou não, o estágio imediatamente anterior do assunto, ou as suas condições originais, o ponto de partida. Isso ocorre porque um caminho chegou ao fim ou porque estamos no meio de um ciclo em que algo terminou ou se desgastou, devendo, portanto, haver uma meia-volta. Estamos num ponto de transição. De qualquer modo, a situação para de avançar e evoluir no rumo em que estava, pelo menos por um período. É um momento delicado e importante, quando a fragilidade do que se acaba e do que se inicia requerem todo o cuidado e atenção. Nem por isso é necessariamente um momento de paralisação total, tristeza ou solidão. Pelo contrário, o Yi Jing assinala que tanto a saída do que sai quanto a entrada do que chega ocorrem sem problemas; e a presença de amigos, que vêm para colaborar e não para criticar, sugere, se não alegria, pelo menos movimento e companhia. Mas não há, propriamente, avanço. Sem dúvida o momento não é de marchar para frente. Normalmente, ao obter este hexagrama, a pessoa tem na mente uma situação consolidada que está parada, indefinida, indecisa ou, no máximo, encaminhada. É sobre essa situação, que está na mente do consulente e que constitui a preocupação do sujeito da consulta, que poderão ocorrer as hipóteses aventadas, e é conveniente estar preparado para elas, tendo um objetivo ou uma direção em vista. Tratando-se de uma consulta de avaliação sobre algum procedimento, este hexagrama pode significar que se terá que voltar atrás em algo que se fez ou que se venha a fazer, retrocedendo ao invés de progredir. Ir e vir sobre o problema deverá levar, dentro de algum tempo, não muito longo, algo assim como uma fase da lua, a uma definição. Quanto mais clareza a pessoa tiver sobre aquilo que deseja alcançar, melhor. Elisabete Araujo Leonetti
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Tratando-se de uma consulta sobre uma realidade objetiva qualquer, pode significar o ressurgimento de algo que se julgava ido e acabado, a retomada de uma possibilidade esquecida ou abandonada que reaparece, porém geralmente renovada, com alguma modificação. Pode também revelar a morte, o fim de uma realidade tal como se apresenta e o seu retorno às condições que antecederam a sua forma atual. No sentido do autoconhecimento, obter este hexagrama pode indicar que estamos nos repetindo, retornando sempre ao mesmo ponto, repisando sempre de novo o mesmo assunto. Ou a questão não foi bem resolvida e por isso é trazida de novo à baila para ser mais trabalhada, ou nós é que não estamos conseguindo nos desvencilhar de determinadas preocupações e envolvimentos que já deveríamos ter deixado para trás. O Yi Jing pode estar nos dizendo que estamos retornando sempre ao mesmo lugar, quando deveríamos, analisadas devidamente as circunstâncias, confiar e seguir, ou abandonar de vez esse caminho e iniciar outro. Obtido como primeiro na consulta, as linhas mutantes darão indicações de como proceder ou não proceder frente aos fatos, ou dirão qual a tendência provável de comportamento da pessoa em questão. Se o hexagrama foi obtido como segundo na consulta, pode representar uma consequência ou uma explicação da situação exposta no hexagrama primitivo. Embora não haja previsão de que tudo vai dar certo, o fato de as coisas ocorrerem de acordo com o ciclo natural que as rege é um indicativo de que pelo menos não está acontecendo nada de errado no sentido de antinatural ou contra a tendência do momento. IMAGEM: “Um trovão aparece no meio da terra, RESSURGINDO POSITIVAMENTE. Assim, os antigos reis fechavam as barreiras nos solstícios, comerciantes e viajantes não circulavam e os governantes não inspecionavam os locais distantes.” A Imagem mostra uma situação parada, estável, que é profundamente sacudida por um movimento. O conselho para quem se encontra nessa situação é de reserva e não ação, numa pausa, não definitivamente. Como não se sabe ainda o que está se formando e que rumo tomarão as coisas, o mais prudente é recolher-se, principalmente no sentido de não se afastar daquilo que é o habitual e seguro na matéria da consulta. Em outras palavras, é o momento de ficar quieto aguardando que a realidade se configure. Não é para avançar imediatamente, mas sim esperar um pouco.
Elisabete Araujo Leonetti
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1ª LINHA (9): “Ressurgindo de perto sem sinal de remorso; fundamentalmente benéfico.” Esta linha mostra seu sujeito não avançando mas sim retornando logo do início de uma situação que iria provavelmente conduzi-lo ao esfriamento e ao congelamento da energia propulsora do progresso positivo na matéria da consulta. Ela revela a agilidade do sujeito em reconhecer os sinais negativos da situação que se apresenta. Assim, não chega a se gerar nenhum remorso, porque a pessoa percebe logo a necessidade ou a oportunidade de mudança de rumo e pode afastar-se antes que haja maiores envolvimentos. Uma vez implantada a nova situação a pessoa verá que o mais correto e melhor para ela era mesmo ter voltado atrás, e não se arrependerá por não ter prosseguido. Um ponto importante a salientar é que, se acaso a pessoa prosseguir, a tendência da condição em que agora adentra é de consolidar-se, tornarse duradoura, rígida, algo em que ela deverá permanecer por bastante tempo, sem alterações. 2ª LINHA (6): “Ressurgindo sossegadamente, benéfico.” A 2ª linha descreve a situação em que o retorno é bom para a pessoa. Essa condição propícia se deve ao fato de que nesse movimento a pessoa conta com o estímulo e a ajuda benevolente de amigos e se utiliza disso, tendo assim o caminho facilitado. É certo que, agindo desse modo, a pessoa estará, talvez, fugindo ao seu destino, àquilo que já estivesse traçado e previsto para ela; mas essa não conformidade é justamente o que lhe convém. Além do mais, ela não estará sozinha, mas continuará avançando acompanhada e apoiada, aproximando-se cada vez mais daqueles que lhe são afins e também daquilo que busca. 3ª LINHA (6): “Ressurgindo agitadadamente, com prudência nao haverá erro.” Esta linha mostra o caso em que a pessoa retorna repetidamente sobre seus passos, revisa os mesmos pontos, debruça-se mais uma vez sobre a mesma questão. Inquietude, agitação. Ela age assim por prudência, buscando um rigor e uma correção absolutos naquilo que faz, por isso a sua atitude não está errada.
Elisabete Araujo Leonetti
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!153 Yi Jing
Talvez ela não deva revelar a totalidade das suas intenções ou das suas capacidades enquanto ainda está na busca, pelo menos até que consiga eliminar as dificuldades e/ou os adversários. A previsão é de que essa prudência e essa determinação da vontade acabarão produzindo bons resultados. 4ª LINHA (6): “Andando no meio ressurge automaticamente.” Correção e adaptação às circunstâncias marcam a atuação da pessoa na opção apresentada por esta linha. Pelo fato de procurar conduzir-se de uma forma equilibrada e sensata, seguindo o caminho do meio e não o dos extremos, acaba retornando automaticamente ao rumo certo para ela e conseguindo, deste modo, sobreviver ilesa aos abalos que porventura sobrevenham. Tudo se passa de uma forma natural e espontânea: não há nenhum comando nem nenhuma decisão muito pensada, as coisas fluem por si sós e a pessoa as segue de maneira meio inconsciente até. Mesmo que os seus companheiros mais próximos não a acompanhem ela se conduzirá dessa maneira, pois age por si mesma e sua atuação está correta. 5ª LINHA (6) : “Ressurgindo solitariamente, nenhum remorso.” A 5ª linha mostra a pessoa que, após ponderação e autoexame, retorna a propostas menos ambiciosas, com sinceridade e sem arrependimento. Ela se engaja na realidade que se impõe no momento, numa atitude de aceitação equilibrada, sem revolta nem submissão, compreendendo que isso é necessário. Provavelmente é levada a esse comportamento pelas circunstâncias e pelo seu meio, pois não tem apoio de ninguém nem poder para impor nada. Assim, seu engajamento se dá de uma forma tranquila, com adesão verdadeira e sem dúvidas, não gerando remorsos nem culpas na pessoa, o que quer que venha a se seguir. Principalmente se esta foi a única linha mutante obtida, há a tendência de e a pessoa encontrar dificuldades em levar a cabo ações visando a ajudar outros. 6ª LINHA (6): “Ignorar o ressurgimento é prejudicial porque haverá desgraças e calamidades. Usar de uma ação militar provocará uma grande derrota por causa do governante do país; prejuízo [porque] durante dez anos não poderá avançar decididamente.” Elisabete Araujo Leonetti
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!154 Yi Jing
O sujeito desta linha ignora a necessidade de mudança existente na realidade enfocada pela consulta, e reage contra a mudança, reluta, não muda e não aceita que as coisas mudem. Por isso sofre e atrai malefícios para si. Ele perde ou está em vias de perder a oportunidade de mudar, por estar muito enraizado numa situação estável que lhe dá suporte material, social e psicológico, e da qual ele, em princípio, não tem vontade de sair. Pelo contrário, tenta segurá-la, ignorando a necessidade de se adaptar ao retrocesso ou ressurgimento iminente. A maneira correta de agir seria procurar conhecer e aceitar as circunstâncias e as exigências do momento. Parece, porém, que a tendência do sujeito desta linha não é agir assim. Sem muitas relações fora do seu grupo mais restrito, consciente do seu próprio valor, ele busca não se envolver com a turbulência do mundo em torno. Esse alheamento será péssimo para ele, ocasionando-lhe azares, desgraças e calamidades. Ainda por cima, se ele reagir agressivamente à realidade nova ou aos malefícios que lhe sobrevierem, acabará perdendo mais ainda, no presente, e tendo cortadas suas possibilidades de ganho, recuperação ou melhora, no futuro, por muito tempo. Isso porque uma ação agressiva atrairá a ira de quem detém o poder de mando e decisão na matéria da consulta e que, no fundo, também é responsável por manter a pessoa da 6ª linha no isolamento e na ignorância dos fatos consumados, dos fatos emergentes e do significado verdadeiro de tudo. Como consequência, a pessoa desta linha poderá ter sua fonte de abastecimento em risco de secar. Somente uma atitude prudente, firme e decidida poderá amenizar a negatividade do quadro. Portanto, é imperioso que a pessoa que obteve esta linha procure ver o que está acontecendo, o que está surgindo, e trate de se adaptar da melhor maneira possível, pois não tem condições de permanecer numa situação que não existe mais, que se finda. Não pode voltar atrás e nem pode sustentar sozinha uma luta contra as mudanças que se apresentam. Isso é válido tanto para as questões relacionadas com o mundo exterior quanto para aquelas que dizem respeito a realidades internas da pessoa.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 25: AGINDO SEM SE ESFORÇAR
JULGAMENTO: “AGINDO SEM SE ESFORÇAR exerce uma influência primordial. É conveniente insistir, mas, certamente, se não for correto haverá calamidades e não será conveniente ir desordenadamente a nenhum lugar.” Este hexagrama revela que aquilo que constitui o foco da consulta está dotado de uma grande energia, espontânea, autêntica, confiante, sem objetivos imediatos definidos e sem falsidade, sem segundas intenções. Essa energia tanto pode pertencer ao próprio sujeito da consulta como pode pertencer a algo ou alguém com quem ele se relaciona, ou a ambos. É algo que se deve encarar com atenção, cuidado e até receio, porque não conhece limites, não tem noção dos efeitos que pode causar e não se sabe o que pode advir dela, pois simplesmente age e se espalha e tem a tendência a desenvolver-se de forma gradual e contínua. Tanto o bem quanto o mal podem, portanto, advir da pessoa, elemento ou assunto a que a consulta se refere. Se for uma pessoa, na sua inocência e espontaneidade ela se afasta do racional e, como um animal ou uma criança pequena, pode comportar-se cândida ou cruelmente, com a mesma naturalidade inocente. Se e enquanto aquele que age for correto, guiado por bons princípios, motivado por bons sentimentos, etc., a ação é recomendável e deve ser continuada. Se, por outro lado, aquele que age é egoísta, violento, mau, sem princípios morais elevados, vingativo, etc., ou simplesmente alguém que não conhecemos bem e de quem não sabemos o verdadeiro caráter, a ação é nefasta e perigosa, não se deve ter nenhuma expectativa com relação a ela, nem se deve estimulá-la a prosseguir. Assim, para quem obteve este hexagrama qualquer tentativa de previsão tem que passar antes pelo exame do caráter daquele que é o sujeito da ação, o qual, como foi dito acima, tanto pode ser o próprio sujeito da consulta como alguém ligado à matéria da consulta. Esse exame tem que ser feito pelo consulente.
Elisabete Araujo Leonetti
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As linhas mutantes obtidas poderão ser analisadas em relação ao sujeito da ação, em relação aos demais envolvidos na situação, ou em relação à questão como um todo. De uma maneira bem genérica, este hexagrama pode indicar que aquilo sobre o que perguntamos vai tomar um rumo que foge às nossas expectativas, não planejado, cujos resultados podem ser bons ou ruins, imprevisivelmente. Portanto, se tencionamos fazer alguma coisa, é melhor fazê-la por si mesma e por nós, numa entrega sincera e espontânea àquilo, sem expectativas de obter resultados imediatos ou muito específicos. IMAGEM: “Embaixo do Céu age o trovão e as coisas participam SEM SE ESFORÇAR. Os reis da antiguidade, porque eram ricos e em sintonia com o tempo, alimentavam os dez mil processos.” A Imagem deste hexagrama simplesmente aconselha a pessoa a agir ou a encarar o assunto da consulta sem expectativas, sem se esforçar para obter um resultado específico. Deve deixar as coisas rolarem, agir por agir, imersa e absorta na ação, sem preocupação nem distração com qualquer outra coisa que não seja aquela ação, naquela hora. Essa é a atitude mais sábia para adotar no momento, com relação à matéria da consulta: envolver-se na ação ou na situação sem esperar nada de especial e estando disposto para o que quer que venha. 1ª LINHA (9): “Agindo sem se esforçar, parte, ainda que desordenadamente; benéfico.” Esta linha recomenda - ou prevê - o deslanchamento inicial da ação com força e energia, e absolutamente sem nenhuma expectativa definida quanto a resultados, uma vez que se está ainda muito no começo do processo e o importante é dar a partida. O próprio fato de ter disparado o movimento já é uma realização neste momento. Apesar do forte impulso inicial, o avanço não dura muito tempo e não vai muito longe, se depender só desta linha, pois logo à frente encontram-se obstáculos consideráveis e a pessoa vê que os problemas não eram simples como pareciam, mas envolvem vários fatores. Bons resultados só virão para aqueles que se unirem aos seus pares e persistirem, mesmo que tenham de enfrentar um período de estagnação. 2ª LINHA (6): “Não arando para colher nem desbravando para cultivar, assim será conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente.” Elisabete Araujo Leonetti
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Esta linha recomenda a ação sem expectativas. Mostra a pessoa completamente envolvida na ação, sem ambições, não fazendo uma coisa para obter outra nem trabalhando para enriquecer, mas simplesmente concentrando-se naquilo que está fazendo porque é o que está fazendo no momento. Ela não é perturbada nem pelos amigos nem por possíveis obstáculos. Essa ação despretensiosa, concentrada, com envolvimento total em cada passo, em cada momento, conduz a um resultado final positivo no âmbito do que a pessoa é e quer, sem preocupação com os outros e conseguindo evitar os perigos, seguindo seu próprio caminho com simplicidade e facilidade. 3ª LINHA (6): “A desgraça de não se esforçar: a vaca pertencente a alguém é o ganho do viajante e a desgraça do cidadão.” Esta linha alerta contra imprevistos: a pessoa não se esforça para amarrar as coisas de modo a obter um determinado resultado, e um fator imprevisto e inesperado desmancha tudo o que foi feito e transfere a possibilidade de resultados positivos para elementos que entraram na história por acaso, de repente, ou simplesmente de forma não premeditada. Não há culpas nem erros no caso. Apenas um lado tem algo que preza, que é seu, e o perde, inesperada e bestamente. E outro lado não tem nada a ver com aquilo que está em foco, não participou da sua formação nem do seu desenvolvimento, e o ganha, de forma fortuita e inesperada, sendo beneficiado com isso e prejudicando o outro. Para evitar isso, o ideal seria unir todos os componentes ou os participantes da questão num compromisso de ação conjunta e lealdade, havendo colaboração entre as partes. Se, ao invés disso, a pessoa encherse de desconfiança e armar-se contra tudo e contra todos, ficará isolada e sem realizar nada por bastante tempo. 4ª LINHA (9): “Pode insistir, nenhuma culpa.” Esta linha, se vier em resposta a dúvidas do consulente quanto a prosseguir ou interromper a ação, executar um projeto ou não, continuar ou parar, avançar ou retroceder, etc., dissipa as dúvidas, dizendo com clareza que não há erro algum em agir, executar, prosseguir, avançar. Referindo-se a uma terceira pessoa, revela que ela tem dúvidas, mas pode insistir sem receio na ação ou intenção que originou a consulta ao oráculo. Esse bom prognóstico deriva da firmeza da pessoa e do seu posicionamento favorável na situação. A sua franqueza e a sua firme Elisabete Araujo Leonetti
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determinação de progredir, de gerar aumentos e melhorias, farão com que obtenha aprovação e colaboração, mesmo para projetos que demandem grandes trabalhos e mudanças. 5ª LINHA (9): "A rapidez ao agir sem se esforçar trará alegrias sem [ter que usar] medicamentos." Esta linha revela que alguma moléstia, problema ou mal que surge ou surgiu, relacionado ao sujeito ou ao objeto da consulta, passará espontaneamente, sem que a pessoa precise intervir, sem que precise fazer qualquer coisa além de agir corretamente, sem se deixar levar por ilusões ou simulações, próprias ou alheias. Os resultados ou as respostas que se espera virão espontaneamente e não há como sabê-lo antes, não adianta fazer qualquer coisa para garantir a solução da questão. Os males porventura existentes passarão por si. Se foram tomadas medidas preventivas ou corretivas, ter-se-á que aguardar o seu efeito na própria realidade: não dá para ensaiar ou testar antes. No fim, para recompensa e maior valorização da pessoa, tudo deverá dar certo; não é para desistir. 6ª LINHA (9): “Agir sem se esforçar traz calamidades, nenhum lugar é conveniente.” Esta linha mostra o caso em que ocorre um excesso da ausência de expectativa, de esforço para atingir um fim. Devido ao exagero de energia espontânea, autêntica, mas não delimitada e não direcionada, os possíveis campos de ação tornam-se a tal ponto amplos e indefinidos que nenhuma ação real pode abarcá-los com sucesso. Toda essa energia, portanto, corre o risco de se perder numa indefinição e acabar se esgotando sem ter produzido algo de bom e útil para a pessoa. O Yi Jing recomenda que se evite isso, pois não levará a lugar nenhum. A pessoa deve procurar um engajamento, um comprometimento e, ao agir, deve fazê-lo dentro de perspectivas limitadas. Caso não providencie isso por si mesma, será forçada a tanto pelos outros ou pelas circunstâncias.
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HEXAGRAMA 26: CONTIDO PELO GRANDE
JULGAMENTO: “CONTIDO PELO GRANDE é conveniente insistir; não comer em casa é benéfico, é conveniente atravessar o grande rio.” Obter este hexagrama significa que aquilo que constitui o ponto principal do assunto da consulta está trancado, não pode se expandir e desenvolver livremente, e o sujeito da consulta não deve se conformar com isso, deve trabalhar, agir para a liberação, muito embora esteja sendo tolhido por algo que pode ser grande, poderoso, importante... e estático. O que está trancado é forte e o que tranca também é forte; porém, nas atuais circunstâncias, o poder refreador do segundo é mais poderoso. De alguma maneira espontânea e irrefletida, não pensada, aquilo que está trancado cedeu ou cede um pouco da sua energia ao outro, que a usa contra ele. O resultado é que há uma concentração muito grande de forças. É conveniente e mesmo necessário liberar essas energias, preferencialmente aos poucos, de uma forma regular e disciplinada. Se a energia represada não encontrar os canais corretos para extravasar ela poderá liberar-se através de manifestações instintivas que, pela sua própria natureza animal e selvagem, não serão tão úteis e positivas quanto uma ação dirigida pela razão. A ação a ser empreendida deve ser uma que leve à independência da pessoa em todos os aspectos, especialmente o econômico e o emocional. Tentativas de associação, de casamento ou de qualquer união visando a liberação da energia e desenvolvimento da situação são possíveis e poderão ser levadas a efeito, mas acarretarão incomodação e perda de liberdade para todos ou para alguns dos envolvidos na questão. Resumindo: a situação encerra um grande potencial de energia que está trancado por algo também grande. A falta de liberdade é uma realidade. A maneira construtiva de superar a falta de liberdade e, ao mesmo tempo, ir soltando a energia represada é através do trabalho, da ação que gere independência. Nesse sentido, decisões devem ser tomadas, passos devem ser dados.
Elisabete Araujo Leonetti
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Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama sozinho, sem linhas mutantes, ou como segundo, derivado de outro. Caso haja linhas mutantes, as previsões e recomendações delas devem ser analisadas e cumpridas preferencialmente à previsão geral. IMAGEM: “O céu está no centro da montanha, CONTIDO PELO GRANDE. A pessoa sábia, porque tem muitos conhecimentos dos ditados do passado e das ações pretéritas, os usa para acumular seu potencial.” A Imagem aconselha a usar a sabedoria antiga e a experiência passada para se conduzir no presente e assim não agir por impulso ou irrefletidamente, mas antes se conter, baseado em modelos grandes, importantes, ou ao menos com valor já comprovado. 1ª LINHA (9): “Sendo prudente é conveniente deter-se.” Esta linha indica que, havendo complicações, se a pessoa não estiver com o caminho livre à sua frente - que é provavelmente o caso, o caminho certamente está trancado - deve deter-se, pois o momento não é favorável e a ação poderá acarretar desgraças ou erros que alguém terá que consertar depois. Apesar de a pessoa possuir muita energia, disposição e um forte apelo para avançar de imediato, deve esperar um momento mais propício. 2ª
(9): “Os raios das rodas se soltam da carruagem.”
LINHA
Esta linha indica que aquilo que está trancando o desenvolvimento da pessoa ou da matéria da consulta é algo que faz parte dela mesma ou da sua situação existencial, havendo, no momento, uma oposição ou separação entre elementos que deveriam estar unidos, operando juntos. Isso, entretanto, não ocorre por culpa da pessoa. A solução para a dificuldade apontada por esta linha é a pessoa procurar chamar a atenção para aspectos secundários ou superficiais da questão, aprimorando-os, enfeitando-os, e conseguindo, assim, contemporizar ou mesmo harmonizar-se com o elemento antagônico que, neste caso, é representado pela 5ª linha. 3ª LINHA (9): “Para um cavalo bom e persistente é conveniente insistir apesar das dificuldades; mesmo que tenha que proteger sua
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carruagem com barreiras, será conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente.” Esta linha, considerando as qualidades de força e perseverança da pessoa, recomenda ação. A recomendação é de avançar com objetivos bem definidos para que a energia não se dissipe à toa, e tomando as devidas precauções contra as dificuldades e adversidades que certamente existem. A capacidade de ação da pessoa desta linha deriva dela mesma - da sua natureza íntima e da posição que ocupa na matéria da consulta - e deriva também da sua ligação com outros elementos, que são fortes, líderes e determinados como ela. Assim, essa pessoa deve acolher bem o apoio que lhe vier, selecionando porém suas ligações e adesões, fazendo trocas quando necessário, a fim de manter sempre um equilíbrio harmônico. No entanto, a obtenção unicamente desta linha não garante a realização daquilo que o sujeito da consulta deseja. 4ªLINHA (6): “O estábulo do jovem novilho, benefício fundamental.” A pessoa desta linha encontra satisfação em meio à situação geral de contenção, porque ela é um dos elementos que exerce a contenção com alguma alegria e bom humor - e porque se trata de uma contenção preventiva. Ou seja, ela assume a necessidade ou a realidade da contenção, mas sem autoritarismo, sem exageros. Não tolhe totalmente a manifestação daquilo que deve ser contido. Apenas, inteligentemente, não permite que chegue a se manifestar em sua plenitude, mantendo-o dentro de certos limites necessários e razoavelmente confortáveis. 5ª LINHA (6): “O colmilho de um javali castrado, benéfico.” Apesar da contenção a pessoa consegue realizar alguma coisa, avançar em algum aspecto da questão. Ela consegue isso devido à ajuda de forças superiores espirituais, que vêm como um presente, e à ajuda de seus próximos, que confiam nela e colaboram para o seu desenvolvimento. Se a pessoa da 5ª linha for a que exerce a contenção, deve exercêla de modo equilibrado, atuando antes sobre as causas, as fontes dos problemas, do que sobre os modos como se manifestam. 6ª LINHA (9): “Trazendo em si as estradas do Céu exerce influência.”
Elisabete Araujo Leonetti
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A 6ª linha mostra a pessoa aspirando a grandes ações e tendo de fato condições de realizá-las, por si mesma ou através de outros. Pode ocorrer que a ação prevista para ela seja conter, limitar ou direcionar a ação de outros, ou a sua própria. A realização é alcançada ou porque ela não está sujeita à contenção, ou porque o período da contenção já chegou ao fim. Seja qual for a sua tarefa, o importante é que ela a execute com sabedoria e moderação, sem brigas ou violência, exercendo o autocontrole e procurando, sobretudo, fluir em harmonia com o momento e suas circunstâncias. Não deve pretender que as ações ora implementadas durem para sempre.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 27: NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE
JULGAMENTO: "NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE, é benéfico insistir. Observe como mastiga e como procura encher sua própria boca.” A boca está aberta, à espera do alimento. Este hexagrama indica que a situação enfocada pela consulta está vinculada ao abastecimento, à nutrição, à alimentação de algo ou de alguém. Dependendo da situação particular do consulente, é conventiente e útil abocanhar, pegar algo, especialmente se for para si próprio. Se a questão for nesse sentido, a resposta é sim. Aparentemente a pessoa que obteve este hexagrama está necessitando de algo para preenchê-la - sob qualquer aspecto - ou existe algo ou alguém que ela precisa alimentar. Em ambos os casos, o fornecimento da substância alimentadora deve ser controlado pela mente, pela razão. A primeira coisa que a pessoa tem a fazer é identificar a quem se deve fornecer alimento e qual o alimento correto para cada qual. Uma vez obtido esse conhecimento, a pessoa deve manter continuidade na atitude de alimentar, com a substância apropriada, aquilo cujo crescimento deve ser estimulado. Uma alimentação descontinuada e não uniforme dificilmente surtirá os efeitos desejados. Para surtir os efeitos desejados a alimentação deve ser regularmente fornecida e constantemente direcionada para aqueles determinados fins. Como consequência lógica dessa atitude, a pessoa não deve alimentar aquilo que não deve ser desenvolvido, que não deve ser estimulado, aquilo que é nocivo, como um mau hábito, por exemplo. Esse primeiro passo é o passo talvez mais difícil da situação. Porém, é possível que o consulente já o tenha dado e já esteja no rumo certo. Isso é verdadeiro principalmente se este for o primeiro hexagrama obtido na consulta, e mais ainda se for o único. Se for o segundo, provavelmente a tarefa de identificar o que deve ser fornecido a quem será uma complementação necessária ao desenvolvimento da situação apresentada pelo hexagrama obtido primeiramente.
Elisabete Araujo Leonetti
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O Yi Jing recomenda expressamente que, na questão da consulta, o aspecto da nutrição não seja deixado à solta nem seja negligenciado. Na situação presente, o fornecimento de alimento é importante e deve ser tratado com cuidado, seja o alimento qual for. O oráculo faz ainda uma advertência ao consulente de que ele pode, e deve, procurar conhecer melhor as pessoas com quem tem de tratar na questão da consulta. O meio de fazer isso, neste momento, é observando com o que essas pessoas alimentam a si próprias, o que buscam para preencher suas vidas, para satisfazer os seus egos; com o que preenchem o seu tempo e os seus pensamentos e, enfim, se há uma busca que revele existir nelas uma necessidade insatisfeita. É claro que toda essa pesquisa será aplicada a si próprio se a consulta envolver a questão do autoconhecimento. Há ainda a considerar o aspecto da receptividade: não basta fornecer o alimento; é preciso que ele seja recebido e assimilado. Por isso, para o bom desenvolvimento da questão da consulta é preciso que aquele que é alimentado, seja o próprio consulente ou outro, esteja receptivo em relação àquilo que lhe é oferecido. Como a abrangência de aplicação deste hexagrama é extremamente vasta, listo a seguir algumas situações que podem ser abarcadas pela idéia de alimentar ou de passar pela boca. O objetivo é ajudar o consulente a se situar e de modo algum limitá-lo a estes casos. Assim, a situação enfocada pode referir-se a: - A nutrição física de um indivíduo, povo, grupo ou família. - O sustento de um indivíduo, família, grupo ou povo. - O trabalho e as demais fontes de renda como meio de prover o sustento, o alimento. - A educação, tanto de si mesmo como dos outros; a formação integral do ser humano, corpo e mente. - A alimentação espiritual do indivíduo: as leituras, os interesses, as ocupações, o desenvolvimento das virtudes, etc. - A alimentação espiritual de um povo, grupo ou família: o fornecimento de bibliotecas, filmes, espetáculos de arte, folclore e outros; o cultivo das tradições, a pesquisa do novo, etc. - A preparação do solo para o plantio. - A criação de plantas ou de animais. - O desenvolvimento de um relacionamento. - O fornecimento de informações a um sistema de informática, a um processo, a um caso policial, a uma dúvida, etc. Enfim, o hexagrama Nutrindo-se adequadamente se aplica a praticamente qualquer ação em que se busque o desenvolvimento de alguma coisa através do fornecimento de substância alimentadora. Elisabete Araujo Leonetti
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O conselho contido na Imagem deste hexagrama dá orientações básicas sobre a atitude correta ao prover o alimento. Sua leitura é recomendada. As linhas mutantes que o consulente obteve também devem ser lidas, bem como o hexagrama derivado da viração delas. IMAGEM: “Na base da montanha há um trovão, NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE. Assim, o sábio é cuidadoso com as palavras que emite e se limita na comida e na bebida.” O conselho principal para quem está na situação de ter de nutrir algo ou alguém é a contenção. A contenção nas palavras – que nutrem as outras pessoas, as mentes, os sistemas de informação, os processos documentais, etc. - se manifesta num cuidado em não falar além do verdadeiro, do necessário, do útil, em não dizer o que não deve ser dito. Isso também significa que a pessoa não deve dar qualquer coisa aos outros. Ela deve selecionar aquilo que vai oferecer. A contenção na comida e na bebida - que alimentam a própria pessoa, os corpos, os seres vivos e os mecanismos em geral - se manifesta na moderação na ingestão de substâncias, buscando não ingerir além do puro, do necessário, do útil. Em suma, em não ingerir o que não for benéfico ao organismo. Isso também significa que a pessoa não deve aceitar aquilo que não for bom para ela. Ela deve selecionar aquilo que vai incorporar. 1ª LINHA (9): “Você afasta sua divina tartaruga e me observa, balançando seu queixo; prejuízo.” A pessoa da 1ª linha teria, em princípio, condições de prover nutrição para si e até para outros, pois é forte, dinâmica, bem posicionada e bem relacionada. Comparada com outros do mesmo contexto, ela é um dos que mais reúne as condições necessárias para ser feliz no campo abrangido pela consulta. Entretanto, desperdiça as suas condições favoráveis, não explora as suas vantagens, não utiliza o seu potencial criador e transformador e comporta-se como um indivíduo sem iniciativa, sem capacidade e sem autonomia, que fica esperando que as coisas lhe venham de fora. Deveria ser uma pessoa independente, que não precisasse de nada nem de ninguém e, por imaturidade ou outra razão, passa a agir de forma dependente e queixosa.
Elisabete Araujo Leonetti
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Isso não dá certo. Primeiro, porque a pessoa está contrariando a sua própria natureza; e segundo, porque os outros em torno, mesmo que quisessem, não têm condições de fazer por ela tudo o que precisa ser feito. Se as coisas não se passaram nem se estão passando dessa maneira, o consulente deve tomar as palavras do oráculo como um aviso para não deixar a pessoa indicada pela 1ª linha (que pode ser ele mesmo ou outro) seguir por esse caminho errado que, evidentemente, conduz ao contrário do que se deseja. Essa atitude, se continuada, acabará levando a pessoa à destruição: ela perderá seus pontos de apoio, suas fontes de energia, a colaboração e o respeito dos outros. 2ª LINHA (6): “Virando o maxilar desvia-se do caminho para cima, avançar decididamente com o maxilar [assim] traz prejuízos.” O oráculo para quem obteve esta linha é de que procure bastar-se a si mesmo e não procure aquilo de que necessita fora de si ou dos recursos de que já dispõe no momento da consulta. A pessoa indicada por esta 2ª linha está equilibrada e bem posicionada com relação ao assunto da consulta. É verdade que não está em posição de grande poder, prestígio e, talvez, posses, mas isso, em princípio, não prejudica o seu bem-estar, pois está de acordo com o seu modo natural de ser. Porém neste momento ela apresenta uma tendência dupla. Por um lado quer permanência, estabilidade, uma posição de relativa autonomia sem comando ou responsabilidade sobre outros, mas comandando o seu próprio destino e não se submetendo a ninguém em particular. Por outro lado sente um impulso para a movimentação, para a mudança: quer coisas novas. Em ambas as tendências está presente o individualismo e o espírito de liberdade que lhe são próprios e que a instigam a reagir contra a estagnação e o cerceamento que, devido ao fato de ela não se impor sobre os outros, ameaçam-na constantemente. Por isso o oráculo recomenda a essa pessoa que continue exatamente como está, tranquila e independente, lutando sempre para manter a independência. Que ela não procure sair do seu caminho para buscar coisas fora, seja para si, seja para benefício de terceiros, porque isso lhe acarretaria perdas, tanto materiais quanto sociais e pessoais. 3ª LINHA (6): “Desviando o maxilar, insistir traz prejuízos, nada é útil por dez anos porque nenhum lugar é conveniente.”
Elisabete Araujo Leonetti
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!167 Yi Jing
A pessoa da 3ª linha impulsivamente tende a procurar abastecer-se junto aos poderosos, a quem tem acesso devido a achar-se relacionada a eles por laços familiares, profissionais, políticos, pessoais, etc. Entretanto ela não receberá o que precisa desses elementos. O único resultado de procurá-los será o afastar-se daqueles que realmente podem contribuir para o seu desenvolvimento na questão da consulta, bem como daqueles que são os seus amigos e companheiros. Insistir nesse procedimento será infrutífero e a frustração trará sofrimentos morais e/ou prejuízos materiais para a pessoa. A recomendação é de que ela não atue dessa forma, não só por enquanto mas por muito tempo. A forma como a pessoa não deve agir é: com precipitação, com impetuosidade, com alarde, com egoísmo, com espírito interesseiro, procurando apoio junto aos que estão muito acima, buscando o que está longe e buscando o que é de difícil acesso. A forma correta de agir é: com calma, com cautela, com modéstia, com discrição, com altruísmo, com espírito de solidariedade, procurando apoio junto aos que estão no mesmo nível ou abaixo, buscando o que está próximo e buscando o que é acessível. Essas recomendações são necessárias porque a situação da pessoa a quem se refere a 3ª linha é muito desfavorável. Ela tem necessidades, desejos ou carências, e não pode satisfazê-los sozinha. Tem ímpeto, mas não tem força nem liberdade para atuar por conta própria e tampouco para obter a ajuda que quer. Chega a pensar em desistir. As suas condições devem permanecer assim por algum tempo, de modo que, ainda que siga as recomendações do Yi Jing e consiga, agora, prover-se daquilo que necessita ou deseja, não poderá, no futuro próximo, avançar muito. Deverá antes elaborar bem as conquistas atuais, buscando a harmonização dos vários aspectos da questão da consulta. 4ª LINHA (6): “Virar o maxilar é benéfico, o tigre olha absorto e com aspecto tristonho, nenhum erro.” Na situação referida pela 4ª linha a pessoa está precisando de algo, mas não pode obtê-lo por si mesma. Também não pode obtê-lo por intermédio de suas relações atuais ou passadas, já consolidadas. Ela tem que procurar o que precisa além, adiante. A pessoa ou a entidade que detém o que lhe interessa não está facilmente acessível. É necessário, para atingi-la, um esforço, vencer um obstáculo, precaver-se contra inimigos. Parece que o alvo visado pela pessoa desta linha também o é por outros, de modo que ela precisa ser ao mesmo tempo prudente e ameaçadora, tornando-se ou mostrando-se mais forte do que realmente é, para espantar os concorrentes. O que lhe dá energia para agir assim é a pressão da sua própria necessidade ou desejo. Elisabete Araujo Leonetti
18/06/2014
!168 Yi Jing
Assim, a pessoa é estimulada à ação não por um impulso da sua natureza, mas sim pela necessidade. Os seus amigos ou parentes também a incentivam a agir, embora de uma maneira indireta. Para ela, lutar é uma adaptação necessária às circunstâncias e ela atende a essa exigência do momento. Embora árduo, esse é o caminho que se apresenta à pessoa da 4ª linha para avançar na matéria da consulta da consulta, e é por ele que ela vai ter que trilhar. Segundo o oráculo, não é culpa dela que as coisas sejam assim, não foi por erro seu que as dificuldades surgiram mas, no final, esse é o caminho que levará a um bom resultado. Se esta foi a única linha obtida, a pessoa abocanhará a presa almejada, mas, além de a presa não corresponder exatamente ao desejado, será difícil lidar com ela. Suas possibilidades de movimentação e decisão são restritas no presente e também o serão no futuro. Na continuação dos fatos, ela terá que, tanto quanto agora, manter-se vigilante, correta e pronta para o ataque. 5ª LINHA (6): “Desviando-se da senda; permanecer insistente é benéfico, mas não permite atravessar o grande rio.” A pessoa a quem se refere a 5ª linha está, aparentemente, só e carente de alguma coisa. Sente-se inadequada às suas circunstâncias e talvez de fato o esteja, sendo incapaz de oferecer aos outros tudo o que gostaria. No entanto, essa pessoa não está verdadeiramente só e desamparada. O que ocorre é que aquele ou aquilo de que ela precisa está num local ou numa pessoa diferente de onde costumava estar. Se ela se dispuser a se abrir para o novo e se mostrar receptiva aos outros, mas sem se afastar do seu objetivo principal e sem mudar o seu modo de ser, ela certamente terá boa sorte e bom andamento em seus projetos. Deve, portanto, mudar de caminhos, de meios, mas não mudar de objetivos, de fins. E nem se mudar a si própria. Não deve, entretanto, tentar tomar agora decisões importantes nem fazer coisas de consequências duradouras, porque o momento não é para isso. Deve antes receber sugestões de como agir e ceder a elas. Mais tarde, no futuro, provavelmente estará fortalecida e terá então condições de decidir e se impor, e de oferecer algo aos outros, ao invés de receber. O interessante será que se imporá justamente por ser o que já é agora, revelando as qualidades que presentemente talvez não chamem atenção mas que, acumulando-se, serão reconhecidas e imitadas. 6ª LINHA (9):
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!169 Yi Jing
“O motor da nutrição; ser prudente é benéfico, é conveniente atravessar o grande rio.” Obter esta linha significa que a fonte de sustento corre perigo e que, se não forem tomadas as medidas necessárias - mesmo que impliquem mudanças - grande calamidade pode sobrevir. A 6ª linha representa a fonte de abastecimento. A pessoa ou entidade a quem se refere é aquela que possui, na questão da consulta, condições de nutrir a si e aos outros. Por isso ela se sobrepõe, em importância e responsabilidade, a todos os envolvidos na situação, inclusive àqueles que, por hierarquia ou outro critério, lhe seriam superiores. Por outro lado, essa posição especial não lhe permite, nas circunstâncias consideradas na consulta, manter relações exclusivas com ninguém: não há lugar para favoritismos ou preferências, o que tem de ser fomentado é o que tem de ser e não o que a pessoa quer. A pessoa da 6ª linha possui essa condição abastecedora porque atingiu um ápice e está solidamente constituída e apoiada. Ela está tranquila e segura, mas o oráculo lhe adverte que é bom que tenha consciência de que as circunstâncias mudam e de que as coisas têm um momento certo para serem alimentadas ou estimuladas. Segundo o Yi Jing, o momento atual é o momento certo da nutrição, de prover alimento, de fazer elementos enriquecedores fluírem de um ser a outro. Se a pessoa não aproveitar este momento, deixar passar a hora certa de fornecer algo a alguém ou a alguma coisa, depois poderá ser tarde demais. Este é o perigo: dispor das substâncias necessárias para si e para os outros e deixar de fornecê-las, como seria o correto. Daí a recomendação de tomar uma decisão e agir. A ação, o avanço, são extremamente recomendados neste momento, porque este momento é importante. Se a pessoa não agir agora, isso provocará um atraso considerável na matéria da consulta, com muito sofrimento. Se, porém ela tomar as medidas necessárias e conseguir manter ativa a fonte de abastecimento, as coisas começarão a dar certo de novo, devagarzinho.
Elisabete Araujo Leonetti
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!170 Yi Jing
HEXAGRAMA 28: EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE
JULGAMENTO: “EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE: quando a trave se entorta é conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente, influência.” O hexagrama 28 mostra um elemento que é demasiadamente grande para um outro elemento, ao qual está vinculado. Há uma desproporção. Algo passa das medidas, excede, e nisso reside um problema, um perigo ou uma dificuldade, exigindo uma solução rapidamente. No momento focalizado pelo hexagrama - que pode ser o presente, o passado ou o provável futuro da questão da consulta - a situação ou está sem saída ou com saídas inadequadas para a sua dimensão. Há muita força, muito peso, muita tensão; para pouco apoio, pouca sustentação. Ou há muita pressão e poucas válvulas de escape. Ou há muito conteúdo e poucos canais de expressão. Não pode dar certo desse jeito! É necessário haver uma mudança na situação, do contrário ela ruirá por si. Se se trata de um projeto, em alguns casos não chegará sequer a se concretizar, apesar do enorme potencial criativo que encerre. Não adianta um enorme potencial interno se não há meios de exteriorizá-lo, de pôr para fora aquilo que se sabe, aquilo que se é capaz de fazer, aquilo que se sente. Por isso, o fundamental para o sujeito da consulta não é desenvolver nada, mas encontrar saídas ou apoios para aquilo que já é grande, que já se desenvolveu algum dia. Nessa busca, saber aonde se quer chegar pode ajudar muito a definir o caminho a seguir. É necessário, portanto, estabelecer as metas de chegada antes de iniciar a caminhada. O oráculo adverte que a situação não será resolvida toda de uma vez só. Tanto no que depender da própria pessoa quanto no que depender de agentes externos, a solução virá aos poucos, de uma forma talvez imperceptível de início, muito de mansinho, procurando liberar um pouco da energia de cada vez e se infiltrando por qualquer brecha disponível que ofereça passagem, submetendo-se às circunstâncias vigentes. Ações bruscas ou pânico não são previstos para essa situação: não é caso para isso. Como se vê, a situação é crítica, o momento é crítico, a busca de uma saída deve ser imediata para que se tenha um bom desenvolvimento Elisabete Araujo Leonetti
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da questão, ou os projetos devem ser abandonados, também imediatamente, caso não se encontre uma saída adequada. As linhas móveis, se as há, darão esclarecimentos sobre as tendências preponderantes no caso específico da consulta. Se não houver indicações suplementares, a pessoa deve deixar-se guiar pelo seu bom senso e intuição. O conselho da Imagem, a seguir, deve ser aproveitado por todos. IMAGEM: “O lago destrói as árvores. EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE. A pessoa sábia ergue-se por si mesma sem temor, retirando-se do mundo sem se angustia.” Para a pessoa que se encontra na situação de ter que lidar com forças ou cargas grandes demais para os meios de que dispõe no momento, o conselho do Yi Jing é basicamente o da coragem, da fortaleza pessoal, aliada a uma forte auto-estima, uma forte valorização de si mesmo. Dois tipos de atitude corajosa são recomendados, segundo a necessidade se apresente: No primeiro, manifesta-se a coragem para agir, enfrentando as circunstâncias sem medo, confiando na sua própria força e estrutura. Essa é a atitude que deve ser adotada quando se busca e se encontra uma saída para a situação. No segundo tipo de atitude manifesta-se a coragem para assumir serenamente a derrota ou o isolamento na luta. Essa é a atitude que deve ser adotada se se reconhece que não há saída para a situação, pelo menos por enquanto. Em ambos os casos ressalta-se a fortaleza interior da pessoa, que se apoia a si mesma e se mantém firme e digna mesmo quando exposta a pressão insuportável, conseguindo assim enfrentar a situação com coragem, seja para vencer, seja para desistir, seja ainda para se afastar um pouco e tomar fôlego para continuar. 1ª LINHA (6): “Deita em juncos brancos, nenhum erro.” Aqui, diante da enormidade da tarefa que tem pela frente, ou da carga que tem sobre si, a pessoa reconhece a sua impotência e age com prudência. Procura apenas se proteger, se acautelar para não ser esmagada. Se prepara prestando atenção aos detalhes, mantém a calma. Ela não deve se apressar em avançar. Não há ajuda à vista e até a comunicação é difícil. Aqueles que se relacionam com ela, na matéria da consulta, trazem-lhe mais encargos. Contando apenas consigo mesma, a Elisabete Araujo Leonetti
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pessoa da 1ª linha deve reconhecer as suas limitações e manter-se modestamente dentro delas. Isso é o que está certo e, provavelmente, é o que ela faz. Mesmo que, em algum momento, se sinta mais forte e amparada e queira avançar resolutamente, não deverá fazê-lo. Antes de avançar, necessitará tomar medidas preventivas e preparatórias e comunicar suas intenções a todos os envolvidos. A ação pura e simples tenderá a falhar. 2ª LINHA (9): “Num álamo seco nasce um broto novo, um esposo idoso consegue uma esposa jovem, nada que não seja conveniente.” Na situação descrita pela 2ª linha a pessoa encontra uma válvula de escape adequada para a pressão que vem sofrendo, ou a expressão adequada para um conteúdo ou desejo acumulado, ou um canal adequado para dar vazão a uma sobrecarga, etc., e isso é muito conveniente, pois resolve a questão de uma forma produtiva e não agressiva, embora talvez de aparência impossível ou inusitada. Para encontrar essa solução a pessoa da tem apenas que deixar que as coisas sigam o seu curso ou agir conforme as circunstâncias, deixando fluir os acontecimentos sem tentar impor a sua vontade, mas também sem muita hesitação quando for a ocasião de agir. Caso precise da colaboração de outros elementos, deve procurá-los perto de si, e não longe. No desenvolvimento da situação haverá uma consolidação da interação mútua entre as pessoas e, paradoxalmente, uma acentuação das suas tendências divergentes. Mas, novamente, se as pessoas se acomodarem e ficarem sossegadas, as coisas deverão se encaminhar bem. 3ª LINHA (9): “A trave se entorta, prejuízo.” A 3ª linha descreve o caso em que a pessoa não encontra saída para a situação em que se encontra. Confiante na sua própria força e capacidade, e excessivamente envolvida na questão, a pessoa talvez só se dê conta da pesada carga sobre ela quando já está a ponto de não aguentar mais. Não há com quem dividir o peso: ou se trata de algo que é ela mesma quem tem que resolver, ou aqueles que poderiam ajudar também estão sobrecarregados. Buscar possíveis ajudas fora, longe, resultará inútil. Assim, ainda que precariamente, a pessoa da 3ª linha terá que se apoiar a si mesma. Continuando nesse rumo, terá muito sofrimento: se verá oprimida, encurralada, com saídas escassas e dolorosas. Até suas relações íntimas serão afetadas.
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Portanto, se a pessoa está fazendo uma consulta referente ao futuro, a alguma decisão a tomar, o conselho do oráculo é que não faça novos empreendimentos, não assuma compromissos, não prossiga, pois o resultado provável será esse descrito aqui. Se a situação já está em andamento, então que procure um modo de aliviar a sua carga, se possível. 4ª LINHA (9): “A trave se mantém alta, o que é benéfico, mas atender o outro envergonha.” Na situação descrita pela 4ª linha a pessoa, apesar da grande carga que suporta, não cede, não se deixa abater, consegue se sustentar, porque é, ao mesmo tempo, forte e flexível, sabendo aguentar a pressão, por um lado, e aliviá-la um pouco, por outro. Porém ela não deve tentar, nesse momento, carregar mais nada nem ninguém, nem deve, se for o caso, ceder a pressões. Não pode dar mais de si, está no limite das suas forças. Toda sua energia, agora, é para segurarse a si própria e à sua posição. Se ela tiver que atender mais alguma coisa além do que já atende, fará falta a si mesma, podendo entrar em colapso e sentir-se-á envergonhada por ter cedido, por não ter conseguido resistir. A sua sobrecarga agora é tão grande que logo a pessoa precisará de um período de reorganização interna, voltada para si, sem pensar em fazer nada pelos outros ou por causa dos outros, a fim de colocar-se de novo em plenas condições de ação e relacionamento. 5ª LINHA (9): “Num álamo seco nasce uma flor, uma esposa velha encontra um esposo jovem, nenhum erro, nada para elogiar.” A pessoa a quem se refere a 5ª linha acha uma saída inadequada para a situação em que se encontra. Trata-se de uma solução improdutiva e estéril, que não resolve completamente o problema, embora lhe dê um arranjo satisfatório e até atraente, apesar de inusitado. Embora não esteja errada nem contenha vício, também não é digna de louvor e admiração. Mesmo não estando resolvida desde a raiz, a questão apresenta-se superficialmente arrumada e isso pode encher o sujeito da linha de satisfação e orgulho. A rigor, a solução aqui encontrada deveria ser de curto alcance e de curta duração; entretanto a tendência para o futuro, pelo menos para o futuro próximo, é de as coisas permanecerem conforme foram aqui ajeitadas. Para um dos envolvidos o arranjo, se mantido, será proveitoso, benéfico, porque para esse elemento o objetivo foi alcançado e não há, no momento, outras esperanças de muitas realizações. Para outro dos Elisabete Araujo Leonetti
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envolvidos, porém, a manutenção do estado atual de coisas poderá fazê-lo sentir-se envergonhado e limitar suas possibilidades. Se a questão da consulta referir-se a assuntos de botânica ou de relações amorosas, a resposta pode ser tomada quase que ao pé da letra do oráculo: a planta florescerá, mas não se sabe, só por esta linha, se chegará a se reproduzir; o casamento ou encontro amoroso acontecerá, mas será uma união desigual, não necessariamente estéril, mas ainda assim infecunda em muitos aspectos. 6ª LINHA (6): “Excedendo-se ao vadear, a água lhe cobre a cabeça; prejuízos, nenhum erro.” Diante da enormidade dos problemas que tem pela frente, ou do peso da carga que tem sobre si, a pessoa, na situação apresentada pela 6ª linha, não se intimida, procura a saída mais provável e, superando as limitações que lhe são próprias, avança, tenta resolver a questão. Porém, apesar de toda a sua coragem e movimentação otimista, falta-lhe capacidade para a solução do caso, e ela se sai mal. A tendência dessa pessoa é de continuar, no futuro, a tentar resolver com impulsividade e precipitação as coisas que percebe estarem erradas ou mal encaminhadas, o que continuará não dando certo. O oráculo afirma que, embora a ação não dê certo, a atitude da pessoa não está errada; pois na verdade, se ela cometeu um excesso, foi na direção do bem, da coragem e da intenção de encontrar uma saída viável para a situação. Infelizmente, não tem a competência necessária para levar o projeto até o fim. Por isso, se a consulta se refere a alguma ação ainda por empreender, a obtenção desta linha é uma advertência para que não se a empreenda.
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HEXAGRAMA 29: TREINANDO NO ABISMO
JULGAMENTO: “TREINANDO NO ABISMO: influencia tendo confiança e controlando a mente; suas ações serão respeitadas.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que o sujeito da consulta já se encontra ou está em vias de entrar em uma situação potencialmente perigosa ou confinante, obscura, tortuosa, da qual não se distingue o fim. O que se sabe é que se está no meio dela e que as perspectivas são de se adentrar cada vez mais. Essa situação tanto pode ser objetiva quanto subjetiva. Também tanto pode ser uma possibilidade futura da qual o Yi Jing está tentando nos alertar, como pode ser a explicação para fatos que já aconteceram, conforme a questão formulada nos remeta ao futuro ou ao passado. De um modo geral, os fatos se sucedem rapidamente e a pessoa se envolve cada vez mais, sem ter onde se apoiar e sem poder deter o processo. O perigo - potencial - e o medo - real - são os componentes da situação, com os quais se tem que lidar. Tanto um quanto outro impelem a pessoa ora a um avanço impetuoso, ora à paralisação: nenhuma das duas atitudes é a correta. A atitude correta é o avanço diuturno, cauteloso e constante, à base de experimentação e ensaio, repetindo os passos certos e evitando os errados, até adquirir confiança num procedimento e adotá-lo. Essa é a melhor alternativa para vivenciar o momento, pois gerará confiança nas próprias capacidades, fortalecendo a mente e a vontade. A partir de então a pessoa torna-se apta a influir na situação através de uma ação eficaz, que terá, por isso, forte chance de ser respeitada. Obtido sozinho, este hexagrama, além do que foi dito acima pode também indicar que aquilo que se tem em vista não passará de ensaio, de promessa, de expectativa ou de treinamento, o que terá alguma validade para o desenvolvimento pessoal do sujeito da consulta, mas permanecerá basicamente um movimento voltado para dentro, incubado, não chegando a desabrochar, a se concretizar ou se expandir no mundo. Ou seja, com pouca aplicação ou resultado prático. No aspecto do autoconhecimento, pode-se ver, no hexagrama 29, uma representação do espírito aprisionado ao corpo, do eu sufocado pelo mundo, da vontade subjugada pelas circunstâncias, do sentimento trancado no coração. São condições em princípio insatisfatórias, que Elisabete Araujo Leonetti
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impelem a uma busca de desafogo e plenitude, e onde o perigo reside justamente na possibilidade de não se obter a liberação e ficar confinado entre as paredes da própria incompletude e insatisfação. Aí o medo é justamente o de tentar libertar-se: é o medo de ver o que há do outro lado, medo de enfrentar o mundo, as circunstâncias, a reação do outro. Assim, se a questão colocada ao oráculo for centrada na própria pessoa, a obtenção deste hexagrama pode constituir um convite à introspecção, a uma autoanálise envolvendo pelo menos os fatores citados acima: a condição existencial humana e a influência do meio como favorecedor ou dificultador das manifestações pessoais, da realização da vontade e da expressão dos sentimentos. Nesse caso, o oráculo está dizendo que afundar-se um pouco no abismo que somos cada um de nós e exercitar a percepção dentro desse abismo pode ser um treino útil para um melhor desempenho com relação à matéria da consulta, mas não é dito que se vá ter sucesso nessa tarefa: ao final da análise, o abismo pode estar ainda tão insondável quanto ao princípio. Não há previsão explícita de bom ou mau resultado da situação. Aliás, nem há previsão de um resultado, de um fim: parece que, no momento, o processo de examinar a situação, ensaiar procedimentos, adquirir confiança, vencer o medo e começar a agir é mais importante do que saber aonde exatamente a ação vai levar. Resumindo, poder-se-ia dizer que o desenvolvimento da questão da consulta passa pela necessidade de se enfrentar realidades sombrias (talvez tenebrosas), profundas, assustadoras, potencialmente perigosas, nas quais temos medo de penetrar, pois não sabemos exatamente aonde esse caminho irá nos conduzir. Se houver opção de outro caminho, mais claro e ameno, sem dúvida que o consulente, se puder, deverá procurá-lo, evitando esse. Se não houver alternativa, resta o consolo de que a passagem por essa realidade difícil constituirá um exercício de muita utilidade para a vida do sujeito da consulta, devido ao conhecimento ali adquirido e à autoconfiança que se originará daquele conhecimento e do fato de ter treinado no abismo. Como essa atividade consome muita energia, de toda espécie, é recomendado que, à medida que se aprofunda e se exercita, a pessoa se abasteça adequadamente de tudo o que necessita para se manter em condições de enfrentar os desafios e dificuldades. IMAGEM: “A água flui e chega [ao seu destino]b TREINANDO NO ABISMO. Assim, a pessoa sábia age com virtude constante e nas suas atividades pratica os ensinamentos.”
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O oráculo nos revelou que estamos diante de uma realidade inóspita e obscura, a qual temos que atravessar sem vislumbrar o fim, sem ter certeza nem do que vamos enfrentar nem de onde vamos chegar. Face a isso, o jeito é seguir passo a passo, procurando, como a água, sempre a via de menor resistência para passar, contornando os obstáculos ou esperando crescer o bastante para suplantá-los, diminuindo o ritmo quando falta energia, acelerando quando encontra facilidades, mas sem parar nunca, sem desistir, aprendendo o caminho com a prática. O conselho da Imagem é de que, além de se aprender praticando, se reutilize esse aprendizado em novas ações e na vida em geral, onde ele possa ser útil. Como a utilidade sem a virtude é vil, algo indigno de uma pessoa verdadeiramente humana, o Yi Jing recomenda que tudo, sempre, deva ser feito de acordo com princípios morais elevados e visando a fins elevados. 1ª LINHA (6): “Treinando no abismo, entra num buraco no fundo do abismo, prejuízo.” A situação já não é boa para o sujeito desta linha e, ao fazer uma tentativa para sair dos apuros, ou simplesmente para entender o que está acontecendo e se situar melhor, ele obtém o efeito inverso do que desejava e se afunda ainda mais, enredando-se em confusão e dificuldade. Isso talvez tenha acontecido por ter ele querido seguir o exemplo de outros, seus próximos, que avançam resolutamente apesar das circunstâncias adversas. Se ainda não aconteceu, deve evitar ao máximo qualquer movimento, ser o mais discreto possível, esconder-se, porque as perspectivas não lhe são favoráveis. A pessoa a quem se refere esta 1ª linha não tem força própria, nem apoio alheio, nem experiência suficiente na matéria para conseguir liberarse. Está tão envolvida em problemas, tribulações ou coisas que tais que não consegue ter uma visão de conjunto do todo, para se situar, e muito menos consegue vislumbrar uma saída plausível. Por isso é que qualquer movimento que faça a faz afundar-se cada vez mais. Em tais circunstâncias, a tendência da pessoa é de permanecer num âmbito limitado de atuação, dentro do que lhe é conhecido e seguro, e onde tem relacionamentos que a apoiam. Ela poderá achar que isso é pouco, mas é o que será melhor para ela, principalmente para evitar que se envolva em complicações. 2ª LINHA (9): “No abismo há perigo, procurar só pequenos ganhos.” Estando numa situação de risco e insegurança, onde não há uma visão clara do todo nem a possibilidade de saída rápida e fácil - como Elisabete Araujo Leonetti
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gostaria - nem forte apoio ou auxílio vindo de fora, a pessoa deve se restringir a fazer apenas pequenos avanços na direção desejada, contentando-se com o pouco que conseguir. Ela tem que se ater àquilo que lhe está ao alcance da mão, tanto em termos de relacionamentos quanto de conquistas, atividades, bens materiais, possibilidades em geral. Para alcançar o que está distante a pessoa teria que vencer o abismo que a separa daquelas coisas, e isso é uma tarefa difícil e demorada, não é para já. Para o futuro, a recomendação é de que a pessoa não desista dos seus propósitos e de que, mesmo que ainda não os possa realizar, trate de mantê-los acesos dentro de si, bem como fortaleça as ligações com os elementos que a apoiam, pois isso ajudará a sua evolução na matéria da consulta. 3ª LINHA (6): “Indo e vindo de abismo em abismo, em perigo até o pescoço, entra num buraco no fundo do abismo, isso não é útil.” Nas presentes circunstâncias não há salvação possível para a pessoa da 3ª linha. O que quer que ela tenha em mente, não deve fazê-lo. Sua situação é extremamente perigosa, desfavorável, negativa: há obstáculos e perigos por todos os lados, e nenhuma ajuda válida. A pessoa deve concentrar toda a energia que tiver em se segurar na sua posição - por precária ou insatisfatória que seja - em tentar se manter à superfície e não soçobrar, não afundar mais. O risco é grande. Qualquer ação acaba não adiantando, pois não consegue tirá-la da situação problemática. Infelizmente, para o futuro, embora haja uma tendência de as coisas se acalmarem, a pessoa desta linha continuará impossibilitada de atuar na plenitude das suas possibilidades, devido à falta de uma determinação clara, dela ou de outros. Isso é verdadeiro especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Caso haja outras linhas, com outras opções, esta serve antes como aviso de um rumo que não deve ser tomado. 4ª LINHA (6): “Uma jarra de vinho e uma tigela, feitos de barro, presentes frugais [que o ajudam] a se esclarecer a si mesmo e acabar sem nenhum erro.” Esta linha indica que a pessoa começa a ter alguma chance de sair da situação problemática. Primeiro, ela não está no ponto mais baixo no assunto enfocado pela consulta. Está num ponto mediano, porém aparentemente sem muita esperança ou expectativa de subir mais, pois não tem força pessoal nem social para se impor. Elisabete Araujo Leonetti
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Em consequência disso ela se torna, ou deveria se tornar, receptiva ao que lhe vem de fora, gerando um bom relacionamento com alguém ou com o meio em geral. Através desse relacionamento lhe chegam algumas pequenas ajudas, de ordem material e mental, coisas simples que a pessoa da 4ª linha recebe também sem grandes expectativas. Isso a conduz a uma compreensão da sua situação e contribui para que ela não cometa erros ao tentar sobreviver a este período difícil e obscuro. Entretanto, ainda não é agora que a solução, liberação ou realização ocorrem: a pessoa ainda tem pela frente um período de sofrimento e carência antes de atingir o ponto desejado. 5ª LINHA (9): “O abismo não encheu, somente quando se aplane não haverá erro.” Estando, no que diz respeito à matéria da consulta, numa posição de alto nível ou responsabilidade, a pessoa a quem se refere a 5ª linha necessita de muita coisa para resolver plenamente a questão apresentada ao oráculo. Isso não é fácil de conseguir, ainda mais que há fatores que não dependem dela. Apesar de ser firme, equilibrada e determinada, a pessoa não consegue impor-se e a influência da sua vontade não se estende a todo o seu meio, restringindo-se aos mais próximos e/ou mais maleáveis. A previsão é de que ainda haverá percalços no caminho e de que suas tentativas de vencer as dificuldades a levarão a cometer erros. Existe a possibilidade de esses erros serem derivados de uma deficiência de comunicação com os outros e de uma tendência ao ensimesmamento ou à centralização, querendo decidir e resolver tudo sozinha. No presente caso isso não pode dar certo, porque a pessoa da 5ª linha não possui uma visão abrangente e clara da situação e de suas possíveis saídas, e, assim, precisa ter acesso a outros pontos de vista além do seu para encontrar soluções, e não tem: há como que um abismo entre ela e os outros, e a plenitude desejada ainda está fora de alcance. O Yi Jing ensina que a saída para tal situação encontra-se no nivelamento. Ou seja, a pessoa tem que sair da sua posição e do seu isolamento atual e procurar juntar-se aos demais, pôr-se no nível dos vários componentes da situação e, a partir daí, formando um corpo homogêneo e solidário com eles, devem procurar juntos a saída, ainda que isso signifique aprender a aceitar as idéias e talvez o comando alheio, atuando em conjunto ao invés de deliberar sozinha. Uma outra opção seria não fazer nada, apenas esperar que a situação se esvazie por si mesma, sem tentar influir nela nem agora nem depois. Elisabete Araujo Leonetti
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Ambas as atitudes tendem a dar certo, oportunamente. 6ª LINHA (6): “Amarrado com fortes cordas, aprisionado numa densa floresta, por três anos não consegue nada, prejuízo.” Pode-se distinguir três possibilidades de interpretação para esta linha: 1) A pessoa a quem se refere a linha, no momento ali apresentado, já saiu ou já teria condições de sair da situação perigosa e confinante prevista por este hexagrama, porém, devido a estar envolvida em um relacionamento, continua enredada, tolhida, sem forças para se libertar, sem discernir direito o que está acontecendo e, naturalmente, assim subjugada não consegue nada de bom para si nem para o outro: não avança, apenas vive essa experiência negativa com sofrimento. 2) A pessoa ainda não saiu da situação problemática, nem conseguirá sair por muito tempo, porque, além de estar, de um modo geral, em circunstâncias potencialmente perigosas e inóspitas, onde a tendência é de se afundar cada vez mais sem vislumbrar com clareza uma saída segura, ainda por cima está enfraquecida, com os movimentos tolhidos e as perspectivas totalmente fechadas, de modo que não pode sequer ensaiar tentativas de saída. Assim não consegue coisa alguma, nem grande nem pequena. 3) A pessoa está paralisada pelo medo, dominada pelo aspecto assustador das circunstâncias, por isso não consegue fazer nada, enquanto os problemas se avolumam à sua volta. Na verdade, com um pequeno, embora profundo, movimento ela poderia se livrar, uma vez que já passou pelo pior. Os motivos que tolhem a pessoa, neste momento, podem ser: fraqueza pessoal, falta de bons relacionamentos de apoio, ou não enxergar alternativas de saída. Para conseguir libertar-se ela teria que ser confiante em si e nos outros e avançar, mesmo sem ter certeza do resultado. Cabe ao consulente verificar em qual ou quais desses casos se enquadra o sujeito da consulta. De qualquer modo, a sua situação não é boa e requer coragem e confiança para ser superada. A superação, parece, será possível se a pessoa, num momento qualquer, romper as amarras, nem que para isso tenha que adotar atitudes radicais e entregar-se inteiramente àquele objetivo sem medir esforços, mesmo correndo o risco de sofrer algumas perdas pessoais. Se isso tiver que ser feito, a pessoa deverá fazê-lo e não se sentir culpada, pois é o que está certo.
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HEXAGRAMA 30: ADERINDO COMO O FOGO
JULGAMENTO: “Aderindo como o fogo se exerce influência, é conveniente insistir. Cuidar da vaca é benéfico.” O hexagrama 30 indica uma situação que a pessoa não pode resolver ou desenvolver sozinha. Para alcançar aquilo que seria o sucesso nessa determinada situação depende-se de outros, depende-se de condições extrínsecas à própria pessoa interessada. Este é o primeiro ponto, fundamental: a dependência, o condicionamento, a não autonomia de ação. O segundo ponto, decorrente do primeiro, é a necessidade de aceitação da dependência: o sujeito da consulta precisa reconhecer que não depende exclusivamente dele a solução da questão apresentada ao oráculo; e deve aceitar esse fato sem se revoltar, a fim de agir de acordo com as circunstâncias reais que existem e não de acordo com o que ele gostaria que fosse. Essa aceitação da realidade lhe dará mais facilidade de avançar porque lhe diminuirá a resistência e o atrito com os fatos, diminuindo, portanto, o seu desgaste físico, emocional ou financeiro. O terceiro ponto, que interessa especialmente para se saber o resultado dos atuais movimentos, é a recomendação de manutenção da linha de conduta: para atingir o objetivo que tem em mente, o sujeito deve persistir na ação direcionada para aquele objetivo. Só terá sucesso, entretanto, se tanto o objetivo quanto a ação estiverem dentro do âmbito do bem. Este hexagrama também adverte para a necessidade ou a conveniência de se irradiar luz sobre a situação para enxergá-la com toda a clareza, conhecer seus vários aspectos. E adverte para o perigo do excesso de dependência em algo ou alguém, pois o ponto de apoio poderá não suportar a pressão ou não corresponder à expectativa e, se a pessoa não puder se apoiar um pouco que seja em si mesma, verá cair por terra seus projetos. IMAGEM: "Compreensão repetida ADERE COMO O FOGO,
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por isso, o grande homem, seguindo essa compreensão ilumina os quatro cantos do mundo." A pessoa que obteve este hexagrama é indubitavelmente convidada a se comportar como uma pessoa superior, de espírito, ideais e ações nobres e elevados. Não há outra alternativa: nesta ocasião, sobre o assunto enfocado pela consulta, a pessoa deve aplicar toda a sua capacidade de visão e de compreensão, a fim de entender a questão de modo definitivo e em todos os seus aspectos. Ela observará que, vista assim, de um modo absolutamente objetivo, sem limitações espaciais ou temporais, a questão revelar-se-á na sua essência verdadeira e é esse conhecimento que deve guiá-la e também ser transmitido aos outros envolvidos na situação, se os houver. 1ª LINHA (9): “Passos confusos, sendo cuidadoso não haverá erro.” Na questão enfocada pela consulta, a pessoa da 1ª linha está apenas começando a avançar, numa posição inicial de confusão e reserva, porque ainda não tem uma visão integral da situação, nem está adequadamente relacionada com a(s) pessoa(s) que poderia(m) ser seu(s) colaborador(es). Ela mantém relacionamento somente com o elemento que lhe é mais acessível no momento, uma pessoa madura e equilibrada, representada pela 2ª linha. Através desse elemento a pessoa da 1ª linha começa a tomar contato com os demais integrantes da situação. Mas ainda mantém a sua independência, e isso não é mau. Ela deve cuidar para que a sua atenção e a sua ação não se desviem daquilo que é importante no momento. Se, deixando-se levar pela sua relativa liberdade, ela ocupar seu tempo com futilidades ou se desviar do seu rumo, deixando de fazer o que deve ser feito, isso lhe trará incomodações. Por outro lado, o sujeito da linha deve ser informado de que, enquanto não aderir integralmente ao grupo, ou enquanto não se comprometer firmemente com o assunto em questão, não cometerá erros com relação ao assunto e manterá uma maior autonomia de ação, mas não poderá realizar grandes coisas, pois lhe faltará a força da união. Se a consulta envolver mais de uma pessoa, provavelmente a pessoa representada pela 1ª linha é a mais jovem ou a mais recentemente ingressa na situação. 2ª LINHA(6): “Aderindo como um fogo amarelo, benefício primordial.”
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A pessoa a quem se refere esta linha já tem - ou deve procurar obter, caso esteja pedindo um conselho ao oráculo - uma visão equilibrada, penetrante e completa da situação objeto da consulta. Esse enfoque penetrante da situação, dentro de uma perspectiva equilibrada, a ajudará a bem orientar os seus atos e também lhe dará o apoio dos que lhe estão próximos, participando do mesmo contexto. O apoio mais confiável é aquele de uma pessoa mais reservada, séria, que não quer ficar de fora da questão e apoia a pessoa da 2ª linha porque acha que ela é correta, que tem razão. Há outra pessoa, mais expansiva, que revela facilmente suas emoções, com quem a pessoa da linha 2 mantém relações; mas essa busca antes ser apoiada e ajudada do que apoiar e prestar ajuda, quando o mais correto seria o contrário. Com o indivíduo de maior poder decisório na situação a pessoa da 2ª linha não mantém relações, ou pelo menos não mantém boas relações, porque tal indivíduo está muito distante dela e porque é moralmente inferior a ela, sendo menos nobre, menos correto, um sujeito fraco e lamuriento, que mais fala do que age. A pessoa da 2ª linha não possui aspirações ambiciosas demais: ela só quer o que julga que lhe é devido de direito, só pretende ocupar o lugar que lhe cabe. Apesar disso, ou por causa disso, ela acabará recebendo realmente tudo a que tem direito - o que é bastante - e poderá dispor desses bens - sejam eles da natureza que forem - da maneira que lhe aprouver, principalmente usando-os para o seu avanço, seu progresso, seu crescimento, com toda a tranquilidade. Na verdade, a previsão do oráculo é de que a ação que ora se desenvolve, embora possa não parecer, dará origem a muitas coisas. 3ª LINHA (9): “Aderindo como o fogo do sol poente, em vez de tamborilar e cantar fica lamentando a velhice; prejuízo.” A pessoa a quem se refere a 3ª linha do hexagrama 30 está muito apegada a uma situação, a um relacionamento, à própria vida, a alguma coisa enfim. No entanto, isso, que representa o seu ponto de apoio e é objeto do seu apego, está chegando ao fim. Ao invés de aceitar serenamente essa mudança de situação e tentar concentrar sua atenção no que possa haver de bom ou belo no momento, ou na perspectiva de uma nova situação vindoura, aproveitando a energia própria que ainda possui, a pessoa da 3ª linha não age, não avança e não consegue vislumbrar perspectiva alguma para frente. Ela apenas expressa seus sentimentos em palavras e se aferra ao passado, buscando voltar atrás ou ao menos permanecer no mesmo lugar.
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Ao tentar voltar atrás ou permanecer, porém, ela verá que isso não é possível, que aquilo a que ela se ligava já está modificado, que não há mais lugar para ela naquela situação que já é passado, de modo que só obterá decepção e amargura dessa tentativa, pois continuará vendo a realidade de forma distorcida e se confundindo por muito tempo. E parece que a pessoa da 3ª linha não consegue fugir disso; terá que vivê-lo. 4ª LINHA (9): “Aparece de repente, se inflama, morre e é jogado fora.” A pessoa, entidade ou ação representada pela 4ª linha é simbolizada por um combustível de curta duração que se consome rapidamente e com brilho. É, portanto, algo que só deve ser usado como estopim, como propulsor de um movimento mais duradouro, mas a que ninguém se deve apegar, porque sua passagem é breve: não se pode depender desse elemento. Assim, esta linha pode representar um incidente que ocorre sem deixar maiores consequências, pode representar um relacionamento intenso e fugaz, pode representar um entusiasmo passageiro, um impulso, uma iniciativa ou, enfim, qualquer coisa que, apresentando-se repentinamente como forte e brilhante, impressiona os envolvidos na situação, mas não resolve definitivamente nada. Esse fator repentino chega mesmo a, num dado momento, tornar-se muito importante, quase indispensável para o sujeito da consulta ou para alguém que desempenha um papel fundamental na situação. Isso ocorre porque essa pessoa está necessitada do apoio de alguém que a ouça sem criticá-la, e assim se apega ao que aparece. Para a pessoa indicada pela 4ª linha o oráculo revela que ela não vai obter um efeito duradouro da ação que ora empreende, ou não vai permanecer por longo tempo na posição em que se encontra. O que ocorre no momento é que a pessoa ainda está muito preocupada e ocupada com a matéria. Não está conseguindo apreender o significado da situação, não chega a assimilar bem aquilo que vê. Na continuação da existência, esse ciclo será superado, a preocupação e ocupação dirigir-se-ão para as coisas do espírito e a pessoa será capaz de ver a essência dos seres e acontecimentos por trás das aparências, por mais ofuscantes que estas sejam. 5ª LINHA (6): “Ir além do que parece um rio de lágrimas, do que parece um sofrimento, um lamento, é benéfico.” A pessoa da 5ª linha não está, no momento, conseguindo aquilo de que depende para ter sucesso no assunto da consulta.
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Existe como que uma barreira entre ela e o objeto com o qual necessita estabelecer uma relação – a qual pode ser de posse, de conhecimento, de decisão, de solução, de comunicação, de amor ou seja lá do que for - e a pessoa da 5ª linha sente-se impotente para vencer os obstáculos e apenas se lamenta e reclama, em vez de agir. Na atual conjuntura a pessoa relaciona-se bem com dois tipos de elementos: aqueles que lhe prestam ajuda de ordem prática ou material, e aqueles que lhe dão apoio na forma de idéias e sugestões. No entanto, está vazia e infeliz porque ainda não alcançou aquilo por que anseia. Essas relações não lhe bastam, no que diz respeito ao caso específico da consulta. Ao invés de ficar só sofrendo e se lamentando, ela deve tratar de superar os sentimentos negativos que ora prevalecem e tentar se fortalecer, vencer os obstáculos e ir em busca do que deseja. Para isso deve visualizar bem o seu alvo e agir na direção do alvo, com a cooperação daqueles com que se relaciona bem e, sobretudo, procurando não cair na subjetividade, mas fazendo tudo de acordo com critérios objetivos e gerais. Logo formará um todo coeso e forte com os seus colaboradores e alcançará aquilo que quer, mesmo que passando por um período de sofrimento, mas não perderá a sensibilidade e a falta de iniciativa que a caracterizam. 6ª LINHA (9): "[Quando] um rei sai numa campanha, é adequado cortar cabeças para capturar os vilões, nenhum erro." A pessoa a quem se refere a 6ª linha não age, na situação focalizada pela consulta, movida pelo seu querer pessoal ou por um impulso irrefletido. Ela age como se cumprisse um dever, obedecendo a um comando de outra pessoa, ou de uma instituição, ou de si mesma, de uma parte do seu eu. Sua ação consiste em clarear a situação, em abrir o caminho e limpar o terreno para a consolidação daquilo que pretende. Ela age (ou deveria agir) visando apenas o que é essencial para a consecução do seu objetivo, não se ligando aos fatores secundários, acidentais. Desse modo não errará, conseguindo visualizar bem o ponto principal da questão. Ela consegue realizar essa triagem devido à sua grande capacidade de percepção e ação, à sua inteligência e à ausência de envolvimento emocional com os elementos com que tem de lidar. Se houver sucesso nesta ação presente, isso lhe trará abundância de riqueza e poder (dentro do âmbito da questão da consulta), os quais tenderão a gerar orgulho e egoísmo. A pessoa deve estar atenta a esse
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perigo e evitá-lo, pois trar-lhe-ia um isolamento social muito longo e desagradável. Tanto é verdadeira essa tendência que, desde já, a pessoa da 6ª linha está isolada. Ela não possui relacionamento de ligação ou cooperação com ninguém, a não ser com aquele (ou aquilo) que determina o dever para ela.
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HEXAGRAMA 31: ESTIMULANDO-SE MUTUAMENTE
JULGAMENTO: “ESTIMULANDO-SE MUTUAMENTE se exerce influência, é conveniente insistir. Tomar uma jovem em casamento é benéfico.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que para encontrar uma resposta à questão da consulta temos que considerar a atração que os diversos seres exercem uns sobre os outros e que as pessoas sentem por determinadas coisas - atividades, artes, estilos, alimentos, etc. - pois estamos diante de uma situação em que o fator determinante é o estímulo mútuo e a influência mútua que daí decorre. Na atração, dois aspectos têm que ser considerados: a complementação e a identidade. Usualmente, nas relações humanas, cada qual se sente atraído e estimulado por aquilo que o complementa e satisfaz (que lhe falta, portanto). Ao mesmo tempo, busca acrescentar algo ao outro, de forma a complementá-lo e, se for o caso, satisfazê-lo. Mas também pesa, na atração, a identidade entre os que se atraem: em alguns aspectos, comumente os exteriores, é a identificação imediata que produz o estímulo inicial, e a influência mútua subsequente procura reforçar os elementos identificadores. Cumpre observar que a influência geralmente parte do mais forte, do mais experiente, do mais estável, para o mais fraco, mais inexperiente, mais instável. A partir daí começam as trocas. Cabe ao consulente ver quanto disso se aplica ao caso que tem em mente. Somos estimulados por aquilo que nos atrai e somos atraídos por aquilo que nos estimula. No caso de o sujeito da consulta ter dúvida quanto ao que deseja, ou ao que seria a sua inclinação mais forte, observar o que o estimula poderá revelar o que realmente o atrai, auxiliando não só no esclarecimento da matéria da consulta mas também no autoconhecimento em geral. O mesmo se dá com relação às outras pessoas envolvidas na situação: na dúvida sobre quais seriam suas tendências ou intenções verdadeiras, deve-se observar o que mais as estimula. Pode acontecer que o estímulo e a consequente influência não ocorram de forma pura, espontânea, desinteressada, como deveria ser, Elisabete Araujo Leonetti
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mas haja, num dos elementos, um interesse qualquer de obter alguma coisa do outro ou por meio do outro. Nesse caso, a influência deixa de ser um intercâmbio e passa a ser só influência daquele que tem um interesse, e age calculadamente, sobre o outro, que atua inocentemente. É preciso estar alerta para esse perigo. O oráculo ensina que, para a manutenção do estímulo, é útil manter a continuidade no comportamento, na personalidade, na conduta, no modo de ser enfim. Se formos uma coisa hoje e outra diferente amanhã, nos sentiremos estimulados por uma coisa hoje e por outra diferente amanhã, e do mesmo modo daremos incentivo a elementos diversos, num dia e no outro. Se, por outro lado, formos constantes em nosso modo de ser, provavelmente atrairemos e seremos atraídos pelos mesmos elementos, ou pelo menos pelo mesmo tipo de elementos, ao longo do tempo. Ensina também que essa situação de troca, de estímulo e influências mútuas é, em princípio, benéfica para todos os envolvidos e levar isso a uma consolidação formal, assumida, seria bom, trar-lhes-ia felicidade; mas em nenhum momento diz que isso vai acontecer ou sequer que tende a acontecer. Se a decisão de fazer alguma coisa depender do sujeito da consulta, a resposta do oráculo à questão formulada é provavelmente sim: deve casar, deve fechar o contrato, deve realizar o negócio ou o que quer que tenha em mente. Se, entretanto, como é muito comum, a decisão não depender do sujeito, ou não depender só dele, fica a idéia de que seria bom se acontecesse, se se consolidasse aquilo que tinha em mente ao fazer a consulta, e de que pode servir para alguma coisa continuar estimulando os envolvidos para que prossigam nos seus intercâmbios; mas não há nenhuma garantia ou previsão de que vá, realmente, realizar-se aquilo que quer. Em ambos os casos, a conveniência e a possibilidade maior ou menor de vir a ocorrer uma consolidação dos estímulos e influências que aqui se manifestam será dada pelas linhas mutantes obtidas e pelo hexagrama delas derivado. Atenção e cuidado na análise da resposta são recomendados. IMAGEM: “Acima da Montanha há um Lago, ESTIMULANDO-SE MUTUAMENTE. Assim, o sábio se esvazia para receber os homens.” O conselho da Imagem destina-se àquele que deseje estimular uma ou várias pessoas e exercer influência sobre elas. Ensina que a maneira certa de atrair as pessoas para nós é mostrando-nos receptivos a elas. Só depois de atraí-las é que poderemos estimulá-las e influenciá-las. Elisabete Araujo Leonetti
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Portanto, a receptividade é o primeiro passo para o estímulo e a influência. Receptividade é capacidade de receber, significa poder receber. Somente aquilo que não está completamente cheio é que pode receber alguma coisa. Lembremo-nos, por exemplo, de como é difícil presentear alguém que já tem de tudo, de como é difícil aconselhar a quem acha que sabe tudo, e de como é difícil ajudar a quem sempre pode tudo e resolve tudo sozinho. Assim, se queremos que os outros se aproximem de nós, devemos deixar alguma brecha por onde eles possam entrar e algum vazio que eles possam tentar preencher. Na prática, a receptividade manifesta-se principalmente através da disponibilidade, da abertura ao outro, da ausência de preconceitos e de uma certa humildade. Que o consulente encontre a sua maneira própria de vivenciar esses fatores, se assim o desejar. 1ª LINHA (6: “Estimula o dedo do seu pé.” A pessoa da 1ª linha começa a sentir-se estimulada e/ou influenciada por algo ou alguém que a atrai, fora dela, diferente dela no conteúdo porém similar em algum aspecto exterior. Ainda é sutil o efeito dessa atração, permanecendo restrito a ela, como um movimento apenas interno. Se continuado, esse estímulo levará a um desejo de mudanças, de renovação que, por sua vez, também não passará de um movimento interno que não chega a se concretizar por enquanto. Essa contenção da pessoa se deve, talvez, a ela estar muito arraigada a situações solidamente estabelecidas e equilibradas, de modo que, mesmo sendo estimulada por alguém ou algo que expressa decisão, dinamismo, alegria, ardor e até uma certa inconsequência, não reage a esse estímulo, a não ser muito fracamente, não se animando à ação. 2ª LINHA (6): “Estimular a panturrilha é prejudicial, mas assentar-se é benéfico.” A 2ª linha mostra a pessoa apresentando, com relação à matéria da consulta, uma tendência à estabilidade, ao equilíbrio, às situações sólidas e, talvez, até à placidez, à quietude e ao recolhimento. No entanto, neste momento ela é estimulada por algo ou por alguém que, embora também tenha uma posição firmemente estabelecida e esteja em equilíbrio dentro do seu meio, não representa estabilidade, nem quietude, e muito menos placidez e recolhimento. Pelo contrário, representa movimento inquieto em expansão, força, vontade e determinação de agir, avançar e se expressar. Elisabete Araujo Leonetti
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Dentro desse panorama, é natural que a pessoa responda ao estímulo exterior com alguma timidez e tibieza, apenas ameaçando um acompanhamento que vai e volta, encontrando obstáculos (reais ou imaginários), ora julgando melhor o seu tipo próprio de comportamento, ora o outro, às vezes considerando que a íntima inclinação de seu coração é que deve ser seguida, outras vezes tendendo a seguir o estímulo de fora. Certamente a pessoa se encontra em grande embaraço e conflito, o que contraria a sua natureza e lhe causa sofrimento. Perto dela há aqueles que a incentivam a mudar de comportamento, seguir o estímulo de fora, enquanto outros partilham silenciosamente do seu modo de ser. O que o oráculo diz é que, embora as duas tendências sejam boas, cada qual a seu modo - tanto o que a pessoa é, quanto o que ela não é e que a estimula - se ela se dispusesse a seguir a influência de fora, isso seria, para ela, apenas um movimento vão, que não a faria progredir realmente. Ela só poderá se realizar no seu próprio caminho, sendo aquilo que é, seguindo a inclinação natural do seu coração. Em último caso, se não souber mesmo o que fazer, deve deixar que as coisas se acomodem por si, sem tentar forçar nada. Concluindo, o oráculo aconselha a pessoa da 2ª linha a não seguir o caminho espúrio, o caminho que não é seu. Aconselha-a a respeitar sua natureza e fazer as coisas que se sente naturalmente inclinada a fazer, que a estimulam sem causar conflitos. Desse modo a sua ação se revelará fecunda e ela conseguirá companheiros para o seu caminho, o que será bom. 3ª LINHA (9): “Estimulado nas virilhas se aferra àqueles que segue, avançar desordenadamente traz miséria.” Com relação à matéria da consulta, a 3ª linha mostra a pessoa possuindo em alto grau as qualidades de concentração e tranquilidade, e uma tendência a bastar-se a si mesma. Porém ela não é apática ou lenta, nem submissa ou tímida, mas sim ativa e criativa, e cheia de aspirações que muitas vezes a levam a hesitações e indecisões. No momento enfocado pela consulta há uma inquietação na pessoa, abalando a sua estabilidade: algo ou alguém a está estimulando e atraindo fortemente para fora desse mundo onde ela se recolhe. Ou talvez seja ela mesma que, sentindo-se distanciada dos outros, queira baixar das alturas e integrar-se num grupo ou num par. Como ela está acostumada a viver ou a se ver numa posição relativamente elevada, e a só se mirar nos exemplos mais destacados de cada área da ação humana, aqueles que a estimulam são os que estão nos postos mais elevados, servindo de modelo ou de parâmetro para o Elisabete Araujo Leonetti
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respectivo ambiente social, profissional, familiar, escolar, etc. No entanto, se decepciona porque vê que o comportamento dessas pessoas nem sempre faz jus à posição que ocupam. Enquanto que ela, a da 3ª linha, trabalha silenciosamente e realiza alguma coisa que - dentro da sua área de atuação, é claro - tem grandeza, solidez e é capaz de causar impacto quando se apresenta, aqueles a quem pretendia seguir fazem grande alarde de realizações não tão grandes, que se desgastam, evaporam e renovam com fluidez e sem causar maiores efeitos. De um certo modo, ela age, enquanto as outras se agitam. Por isso, seguir esses estímulos só lhe trará frustração e sentimento de perda e vazio. Se ela resolve, então, voltar-se para aqueles que estão mais próximos a ela e são mais do seu estilo, decepciona-se também, porque percebe que estes, por inexperiência, por falta de capacidade ou de vontade, não estão em condições de trocar experiências com ela. Assim ela logo se desestimula de segui-los. Percebendo a superficialidade de uns e a insuficiência de outros, a pessoa sente-se bastante mal. Qualquer uma das ligações que se apresentam como possíveis no momento significariam uma diminuição para ela e, se as concretizasse, isso lhe seria motivo de vergonha e tristeza, pois estaria deslocada e impossibilitada de atuar à sua maneira, de se realizar, enfim. Portanto, a não ser que outra linha ou outro hexagrama lhe aponte uma opção diferente, a pessoa não deve, ainda que se sinta tentada a isto, seguir nenhum estímulo de fora no momento. O que ela deve fazer é agir em função do que gosta e do que acha certo, integrando o seu impulso para a ação ao seu sentimento e à sua razão. Deve continuar naquilo que constitui a sua inclinação natural, mesmo que seja algo fora da órbita das pessoas com quem convive. 4ª LINHA (9): “Insistir é benéfico e o remorso desaparece. Vai e vem de forma indecisa e só os amigos seguem teus pensamentos.” A 4ª linha mostra a pessoa com uma volubilidade muito intensa, o que prejudica o seu desempenho na matéria da consulta. Nem os estímulos que partem dela para os outros, nem os que lhe chegam de fora conseguem exercer uma influência duradoura, modificadora, e ela acaba ficando apenas com aquilo que já possui: não desenvolve nada de novo (com relação à questão da consulta), e não atinge senão aqueles que já são ligados a ela. Aparentemente isso se deve a que a pessoa está se deixando levar pelos impulsos emocionais, sem se guiar pela razão, sem procurar ter consciência clara dos fatos. Elisabete Araujo Leonetti
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No entanto, como não há nela nenhuma tendência realmente nociva, negativa, basta que firme seu pensamento e sua vontade numa única direção e mantenha constância nisso para estar no caminho certo. Assim desaparecerão o mal-estar e o remorso provenientes das dúvidas e indecisões contínuas. Se a pessoa da linha 4 seguir as suas inclinações mais profundas e duradouras, com constância, não terá do que se arrepender mais tarde. Se agir com volubilidade ou hesitação, mudando frequentemente de rumo, a sua atuação terá pouca consequência e pouca influência, só afetando aqueles que a ela já se ligam por outros motivos. Resumindo, esta linha aconselha a pessoa a abandonar a volubilidade e adotar a constância na sua conduta, com relação à questão da consulta. Isto a ajudará a evitar os obstáculos que surgirem e a obter apoio. 5ª LINHA (9): “Estimulando seu dorso, nenhum remorso.” A 5ª linha mostra a pessoa recebendo ou provocando estímulos que não exercem muita influência. Existe atração e correspondência entre os elementos que se estimulam mutuamente, mas a ação não se desenvolve, não evolui. Ambos os elementos são racionais, ambos desempenham papéis centralizadores em seus respectivos meios, e ambos recebem, de companheiros de grupo, influência moderadora das suas características mais marcantes. A pessoa representada pela 5ª linha é, em princípio, ativa, dominadora, decidida, corajosa e extrovertida; aquela que a atrai é, ao contrário, passiva, indecisa, temerosa e introvertida, e cada uma se sente completada e valorizada pela outra. Não há conflito, não há compromisso, não há o que temer nem do que se arrepender. Porém, devido, provavelmente, ao excesso de imobilidade e indecisão do outro elemento, e à pouca sensibilidade deste, é possível que a relação paire numa indefinição. Neste caso, caberá à pessoa da 5ª linha, se quiser, tomar a iniciativa de procurar estimular o outro - mesmo que ele se retraia - devendo ser bem sucedida nessa tarefa. 6ª LINHA (6): “Estimulando seu maxilar, bochechas e língua.” A 6ª linha mostra a pessoa tentando estimular os outros através da palavra. Ela fala demais, suas palavras não possuem muito conteúdo nem são fundamentadas ou corroboradas pela ação, e provavelmente serão ineficazes. Elisabete Araujo Leonetti
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O estimular mútuo fica apenas no plano da superfície, não exerce influência nos envolvidos na questão, mas a pessoa da 6ª linha não sofre por causa disso: a sua superficialidade não lhe permite nenhum sentimento profundo, pelo menos no que diz respeito ao assunto da consulta. O Yi Jing aconselha a pessoa a parar com essa atitude e a encerrar, sem sombra de dúvida, a sua participação na questão em pauta.
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HEXAGRAMA 32: NAVEGANDO NA TORMENTA
JULGAMENTO: “NAVEGANDO NA TORMENTA [se exerce] influência porque não há nenhum erro; é conveniente insistir e ter aonde ir, ainda que desordenadamente.” Este hexagrama representa uma situação de longa duração, que dura indefinidamente no tempo, sem prazo para acabar. Obtê-lo na consulta ao oráculo significa que aquilo sobre que se pergunta vai continuar, prossegue, terá longa duração. Ou significa que essa continuação, essa duração prolongada, se ocorresse, seria boa para o sujeito da consulta, mas não firma nem nega que as coisas de fato se passarão assim. Assim, no caso de uma consulta sobre o desenrolar de determinados acontecimentos ou a evolução de situações, a resposta é sim: os acontecimentos ocorrerão e se manterão estáveis por muito tempo, ou a situação evoluirá para uma continuidade bastante longa, se este hexagrama foi obtido sozinho. Se foi obtido como segundo, a longa duração é a sequência provável dos fatos previstos no hexagrama primitivo. Se houve linhas mutantes, entretanto, estas é que darão a definição sobre a continuidade da matéria da consulta e as suas circunstâncias específicas. O hexagrama aponta para três tipos de continuidade: - A continuidade essencial, constituída pelas coisas que são perenes, realidades estáveis com as quais podemos contar sempre e que, inclusive, servem de pano de fundo para a manifestação de outras realidades. É aquilo sobre o que se realizam as mudanças e que permanece após elas. - A continuidade linear, constituída por uma fidelidade a um caminho, a um rumo que não se altera e no qual podemos ter a confiança de seguir sem medo de errar. - A continuidade cíclica, constituída pela renovação periódica de determinada realidade, a qual não se acaba porque nela cada fim é seguido de um novo começo.
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O hexagrama também aponta para alguns fatores que contribuem para a continuidade, cujo conhecimento pode ser muito útil no caso de uma resposta que recomende ao sujeito da consulta a manutenção de alguma realidade: um relacionamento, um padrão de comportamento, um trabalho, um objetivo, seja lá o que for. Os fatores que contribuem para a continuidade são: - O estabelecimento de relações entre os vários componentes da realidade, a fim de que as coisas fluam juntas e harmoniosamente. - A sustentação mútua entre os vários componentes da realidade, um dando apoio ao outro. - O estabelecimento de objetivos, e de novos objetivos sempre que cada etapa seja vencida, de modo a haver sempre um motivo para caminhar e, portanto, não se interrompa o caminho. - A insistência na perseguição dos objetivos e na manutenção daquilo em que se acredita. A possibilidade de interrupção da continuidade, de uma ruptura decisiva, é algo que existe latente no fundo da realidade enfocada e no íntimo do sujeito da consulta, como um medo ou como um desejo apreensivo: tratando-se de uma situação boa, prazerosa, o sujeito tem medo de que venha a ser interrompida ou de que chegue ao seu fim natural; tratando-se de uma situação ruim, negativa, há o desejo de que acabe logo. Em qualquer dos casos esse sentimento latente não interfere na resposta ou na previsão do oráculo, apenas o menciono como mais um esclarecimento ao consulente. Ainda, os fatos indicados por este hexagrama dificilmente permanecerão ocultos. Provavelmente serão evidentes para quem quiser percebê-los. IMAGEM: “Trovão e vento: a imagem da NAVEGAÇÃO NA TORMENTA. Assim, o sábio se firma e não muda seu rumo.” A Imagem aconselha o sujeito da consulta a ter um fim em vista e a manter-se estável na busca desse fim e na sua conduta e personalidade, mesmo que as condições externas se conjuguem para desviá-lo. 1ª LINHA (6): “Navegando para o fundo, insistir é prejudicial, nenhum local é favorável.” A 1ª linha mostra o caso da pessoa que se apressa em obter ou em garantir a continuidade de alguma coisa. A ação é precipitada, pois a
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pessoa ainda não tem condições de atingir o duradouro, ainda está, com relação ao assunto da consulta, numa fase tal que não permite a fixação. Com excesso de confiança, algum bom ponto de apoio, mas pouca firmeza e autonomia, a pessoa tenta atingir o inconcebível, algo que é grande demais para ela neste momento. Aprofunda-se mais e mais, e só encontra desacerto e sofrimento, pois nenhum ponto de parada lhe convém inteiramente e ela acaba se esgotando em tentativas. Naturalmente o conselho para essa pessoa seria tratar de avançar mais paulatinamente, por etapas, não pretendendo já o estabelecimento de posições absolutamente duradouras, definitivas. 2ª LINHA ( 9): “O remorso desaparece.” Esta linha tranquiliza o sujeito da consulta a respeito da correção ou da oportunidade da sua ação e do seu posicionamento na questão da consulta, assegurando-lhe que não irá arrepender-se mais tarde, embora possa estar preocupado agora. O estar certo decorre de que a pessoa se mantém no caminho do equilíbrio por muito tempo ainda, com bons relacionamentos e uma tendência à docilidade, à estabilidade e, principalmente, à conformidade e até à modéstia, não pretendendo fazer-se de mais importante do que é, mantendo-se no seu nível e não tentando superar os que estão em posição mais elevada. Infelizmente - ou felizmente - dependendo do caso, essa atitude não conduzirá a matéria da consulta a grande desenvolvimento: o assunto ficará retido num ponto mediano, provavelmente devido a entraves burocráticos, hierárquicos, financeiros ou de outra ordem, provocados ou simplesmente não solucionados por aqueles que deveriam tomar decisões e agir; e a pessoa da 2ª linha não alcançará glórias, mas também não terá trabalhos nem sofrerá desastres. 3ª LINHA (9): “Sem governar seu caráter possivelmente terá transtornos, insistir leva à vergonha.” A 3ª linha mostra a pessoa que aparentemente teria condições de manter um comportamento positivo, fazer durar aquilo que constitui o seu interesse na matéria da consulta; porém, no seu interior, apresenta uma deficiência que faz com que, por vezes, não sustente o comportamento esperado e/ou não suporte a carga das suas tarefas e responsabilidades. Assim, ela manifesta uma certa inconstância no caráter ou na determinação. Tem momentos de fraqueza ou de desvio do rumo certo, enfim, não mantém continuamente um nível elevado no comportamento, no modo de ser.
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Isso traz consequências negativas. Em primeiro lugar, não será aceita em meios mais elevados. Ao contrário, por carregar consigo a sua bagagem de fatores negativos e os seus modos inferiores, ao tentar ascender ou ao frequentar um círculo mais desenvolvido na matéria da consulta sentir-se-á envergonhada e sofrerá rejeição. Em segundo lugar, o seu comportamento inferior atrairá aqueles que também são de um nível mais baixo, talvez acostumados a obter vantagens sem merecê-las, os quais tentarão lesá-la ou aproveitar-se dela. Essa aproximação também lhe causará constrangimento e perda. Se prosseguir com a inconstância, acabará não conseguindo dar continuidade a nada. Num nível bem prático, a pessoa, antes de tentar entrar numa atividade ou num meio qualquer, deve preparar-se adequadamente, desenvolvendo as qualidades exigidas ou apreciadas por aquela atividade ou aquele meio, e liberando-se das que não são adequadas. Caso contrário, sofrerá ataques, passará vergonha e, ao afinal, não será aceita, não conseguirá nada e sentir-se-á humilhada. Naturalmente a pessoa não deve deixar as coisas chegarem a esse ponto. A obtenção desta linha deve servir-lhe de alerta para não agir dessa maneira, mas, ao invés, cultivar o caráter, a estabilidade e a constância internas, e procurar dar continuidade a tudo o que seja positivo no seu comportamento, especialmente no que se relaciona à matéria da consulta, a fim de que alcance duração no que deseja. 4ª LINHA (9): “Nenhuma caça no campo.” A pessoa da 4ª linha não consegue sequer dar partida aos seus projetos, porque gastou muito tempo em investimentos errados. Agora ela precisa situar-se no seu lugar certo e dar-se o tempo necessário para a fixação, até que possa de novo fazer planos e iniciar empreendimentos. Portanto, a previsão desta linha é negativa: aquilo que constitui o objetivo da pessoa ou que é o ponto principal da matéria da consulta ainda não está nem à vista, que dirá acessível! Logo, a continuidade que a pessoa deve procurar no presente momento é a de situar-se num local, numa posição e num caminho adequados - que devem ser em meio a elementos do seu nível ou de um nível mais elevado - e tratar de cultivar essa situação de modo a dar-lhe duração e estabilidade. Depois disso é que poderá pensar em dar partida ou continuidade a algum projeto.
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5ª LINHA ( 6): “Governando seu caráter, insistir é benéfico para a esposa e prejudicial para o esposo.” Esta linha mostra uma pessoa que tem constância na sua maneira de ser, na sua personalidade e nas suas relações, as quais são sólidas e duradouras. Da maneira como é e como está, a pessoa só deve dar continuidade às atitudes, projetos ou ações que requeiram flexibilidade, docilidade e, principalmente, receptividade. Se tentar insistir em comportamentos, ações ou projetos que requeiram normas rígidas e energia criadora, não terá sucesso, terá incomodações. Caso ela queira desenvolver algo mais dinâmico, criativo, deverá interromper a continuidade que manteve até aqui na matéria da consulta e procurar novas saídas, novos canais de expressão, novas soluções para a energia que sente em si e para a execução do que tem em mente. Caso queira simplesmente manter as coisas no rumo em que estão, basta continuar agindo como tem feito, mostrando-se receptiva ao novo sem tentar forçar caminho, mas, ao contrário, cedendo, dando passagem, deixando fluir livremente as energias que porventura brotem. Isso certamente não conduzirá a feitos louváveis e de longa duração, mas lhe será satisfatório e estará dentro do correto. E, tratando-se de uma consulta que envolva uma relação conjugal ou uma associação qualquer entre duas pessoas, a obtenção desta linha pode indicar que a manutenção da relação será proveitosa e benéfica para o elemento mais acomodado, mais passivo, mais sossegado do par, e não será proveitosa, será negativa ou limitadora para o elemento mais dinâmico, independente, criativo e arrojado. 6ª LINHA (6): “Navega oscilando, prejuízo.” Para o sujeito da 6ª linha a continuidade que está ocorrendo é a das mudanças, da agitação: ele está sendo continuamente compelido a movimentos e envolvimentos que não correspondem àquilo que deveria ser o seu caminho. O fato ser compelido - empurrado pelos outros ou por circunstâncias externas - constitui um demérito para ele, uma desvalorização do seu potencial, pois ele é quem deveria estar no comando dos seus rumos e influenciando os outros; ele deveria estar desenvolvendo alguma atividade, relação ou qualidade duradoura, e está se deixando jogar de um lado para o outro, sem fixação. Dessa maneira não conseguirá continuidade e crescimento em nada.
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Ao se deixar envolver e conduzir pelas necessidades e circunstâncias imediatas, a pessoa não se dá o tempo e o espaço necessários para a dedicação a coisas mais duradouras, as quais lhe fazem ou farão falta. O sujeito desta linha deveria transmutação, a fim de estabilizar-se constante na posição que lhe compete, os outros e influenciá-los, ao invés provavelmente é isso que irá fazer.
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tratar de promover em si uma a si próprio e manter-se firme e que é a de alguém que pode incitar de ser influenciado por eles. E,
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HEXAGRAMA 33: RECOLHENDO-SE NUM REFÚGIO
JULGAMENTO: “RECOLHENDO-SE NUM REFÚGIO se exerce influência, é pouco conveniente insistir.” Este hexagrama recomenda - ou prevê - a retirada, o afastamento, o recolhimento. Recomenda que a pessoa se afaste, se retire, se desapegue daquilo que constitui o núcleo da questão da consulta, seja esse núcleo uma disputa, um negócio, um relacionamento, um curso, uma idéia, um processo qualquer. Seja lá o que for, não é para insistir naquele ponto, naquele rumo, naquele assunto: é para afastar-se agora, enquanto ainda se tem autonomia para fazer opções, antes que seja tarde demais para poder decidir por qualquer outro caminho. Não há erro nenhum em retirar-se: é a coisa certa a fazer, e o momento é o certo para fazê-lo. Isso é válido tanto do ponto de vista daquele que se afasta quanto daquilo que é abandonado. Talvez o afastamento não possa ser feito de imediato e de uma única vez. Havendo laços a desfazer, ou medidas preparatórias a tomar, uma certa demora é perfeitamente normal, uma vez que as partes envolvidas ainda se relacionam. Tanto é assim, que a necessidade ou a já realidade da separação, da retirada, podem não ser evidentes. Mas se a pessoa obteve este hexagrama, não deve iludir-se. O avanço dos elementos contrários ou nocivos ao sujeito da consulta é inevitável, quer isso já seja visível, quer seja ainda incipiente. Se insistir em permanecer, a pessoa se afundará mais e mais no mesmo lugar; caso se retire, conseguirá alcançar alguma coisa, em outro lugar. Naturalmente, aqueles que se sentem mais medrosos, mais despreparados, mais sem forças para desapegar-se de alguém, de algo, ou de alguma situação, tentarão reter as coisas o maior tempo possível, segurando, inclusive, a retirada de outros, se for o caso. Mas não conseguirão grandes resultados: tentar segurar não vai influir muito na situação; o afastamento é que provocará mudanças. IMAGEM: “Embaixo do Céu há uma montanha, que SE RECOLHE. Assim, sábio se afasta do homem inferior, não com ódio mas com severidade.” Elisabete Araujo Leonetti
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A Imagem faz menção ao afastamento ou à distinção que uma pessoa promove entre si e alguém de nível inferior ao seu nos aspectos moral e comportamental. Tratando-se de uma questão centrada no próprio sujeito da consulta, a recomendação é de que ele exerça um rigoroso controle sobre o seu comportamento, a fim de que seja o de uma pessoa correta, honesta, boa, justa, nobre, etc., e não o de uma pessoa sem princípios morais e sem educação. Ou seja, ele deve afastar-se de tudo o que é inferior nele mesmo. Tratando-se de uma questão que envolva a relação do sujeito da consulta com elementos exteriores a ele, dos quais deve afastar-se, o conselho é que processe a separação com rigor, com correção e firmeza, mas sem raiva, ódio ou revolta. Que a separação seja comandada pela razão, e não pelo sentimento, uma vez que se trata de uma retirada pensada, refletida e decidida, e não de uma ruptura impulsiva ou de uma fuga desesperada. 1ª LINHA (6): "A retaguarda do recolhimento [exige] prudência, não é útil ir desordenadamente a nenhum lugar." Ao que tudo indica, a pessoa, na situação mostrada por esta linha, reluta ou se retarda em realizar o afastamento requerido pelas circunstâncias. Ela está muito arraigada às condições vigentes, a sua mobilidade é quase nula e, por isso, ela fica para trás, examina tudo com muito cuidado e minúcia, e não fala muito sobre o assunto. Aparentemente, a decisão da ruptura não partiu espontaneamente dela: ela foi obrigada a adotá-la, por força das circunstâncias. Como está em pleno processo de afastamento ou de recolhimento, quer dizer, já não está dentro da situação anterior, mas ainda não entrou na nova situação, precisa mover-se com muita prudência e reflexão e talvez sinta dificuldade em prosseguir. Por outro lado, está a salvo de erros, problemas ou calamidades que poderiam atingir quem estivesse definido num ponto ou noutro. Este não é o momento para definir objetivos para o futuro; a atenção deve ser concentrada em retirar-se bem da situação presente. O máximo que a pessoa conseguirá avançar agora será ir até o início de um movimento de união com outros, sincero e positivo, seja essa união para concluir a retirada atual, seja para ingresso numa nova realidade. O mais provável é que seja para ambas as coisas, como uma porta que se fecha para um lado e se abre para o outro. 2ª LINHA (6): Elisabete Araujo Leonetti
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!202 Yi Jing
“Os aprisiona com uma camisa de força amarela e ninguém consegue liberar-se.” Esta linha mostra uma pessoa conseguindo reter, à força, o afastamento de algo ou de alguém, através da sua firme determinação. Essa ação é bem sucedida, pelo menos por enquanto: evita-se a retirada daqueles elementos, mantém-se-nos sob controle, evita-se também que outras pessoas ou outros componentes da situação sejam atingidos ou influenciados pelo comportamento daqueles que foram dominados. Na matéria enfocada pela consulta, aquele que domina está solidamente posicionado, bem equilibrado, com a vontade forte e bem determinada. Entretanto, dentro da idéia geral deste hexagrama, que é a de que o afastamento e o desapego são inevitáveis, constituindo as únicas alternativas realmente produtoras de mudanças na situação, a atitude da pessoa desta linha só se justifica se for para conter um elemento nocivo, mesmo que a sua perniciosidade ainda não seja evidente. 3ª LINHA (9): “Recolher-se estando amarrado requer uma prudência dolorosa, mas é benéfico conter os vassalos e concubinas.” Esta linha mostra a pessoa sendo forçada a afastar-se daquilo que constitui o núcleo da questão da consulta, quando a sua vontade seria permanecer. Ou mostra-a sendo forçada a permanecer, quando a sua inclinação seria para retirar-se. Na verdade, talvez nenhuma das duas atitudes ocorra integralmente: nem o afastamento total, nem a permanência sem quebras. A pessoa está entre duas forças contrárias: uma que a puxa para fora, e outra que a retém dentro da situação. Nenhuma das duas parece ser dominante, e a pessoa parece ter inclinação interna tanto para retirarse - devido à sua natureza forte e dinâmica - quanto para permanecer devido às suas ligações e à posição estável que ocupa. Embora ela procure agir com prudência, não encontra uma solução satisfatória para o conflito, o que a leva à exaustão e ao sofrimento. A tendência final é de a pessoa acomodar-se num meio termo, afastando-se, porém mantendo ligação através da manutenção dos que dependem dela, ou através de elementos que apoia em troca de a representarem ou de lhe prestarem serviços. O resultado é precário, pois embora com esse arranjo ela consiga atender aos seus interesses, não consegue fazê-los bem e não pode realizar grandes coisas, acabando enfraquecida e envergonhada.
Elisabete Araujo Leonetti
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!203 Yi Jing
4ª LINHA (9): “Recolher-se adequadamente é benéfico para o sábio, mas daninho para o homem inferior.” Esta linha mostra a pessoa afastando-se dos elementos inferiores pessoas, idéias, comportamentos, sentimentos, seja o que for - muito embora pudesse estar apegada a eles. Esse afastamento é correto, desejável e será muito bom para a pessoa, que, assim, poderá aos poucos procurar arranjar um lugar tranquilo e adequado para seu descanso e segurança, mesmo que seja inusitado, mesmo que esteja onde habitualmente não o encontraria. Para os elementos inferiores de quem ela se afasta essa sua retirada provocará efeitos muito negativos. 5ª LINHA (9): “Recolhendo-se magnificamente, insistir é benéfico.” Esta linha mostra a pessoa afastando-se daquilo que constitui o ponto central da questão da consulta, de forma livre e soberana, por sua própria vontade e decisão. A pessoa provavelmente tem laços com aquilo ou aqueles de quem se afasta, e esses laços poderiam tolher o seu afastamento, mas ela persiste na sua determinação de retirar-se, recolher-se, pois compreende que é o que é certo fazer no momento, e isso lhe abre boas perspectivas. Aliás, a única chance de conseguir algo positivo é promovendo essa separação. Mesmo que não tenha obtido tudo aquilo que pretendia e que tenha sofrido algumas perdas, a pessoa acaba sendo aprovada e elogiada pelos outros, porque age da forma mais correta e nobre possível no momento e segue seu próprio caminho, não se atrelando a destinos alheios. 6ª LINHA (9): “Recolhendo-se grandiosamente, nada que não seja conveniente.” Esta linha claramente recomenda que a pessoa se afaste daquelas questões que constituem o foco da consulta, e assegura que isso dará muito certo, sem inconveniente algum. A tendência da pessoa é realmente retirar-se, pois já não tem ligações que a prendam e não há lugar para dúvidas na sua mente. Se ficasse, sua influência na situação não passaria de um estímulo superficial para os outros. Assim, ela deve aproveitar a oportunidade que tem de retirar-se com facilidade, e fazê-lo.
Elisabete Araujo Leonetti
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!204 Yi Jing
HEXAGRAMA 34: FORTALECENDO O GRANDE
JULGAMENTO: “FORTALECENDO O GRANDE é conveniente insistir.” Este hexagrama revela que, na situação focalizada pela consulta, há um elemento grande e poderoso. Esse elemento forte e dominante tanto pode ser um aspecto do sujeito da consulta quanto do objeto da consulta, ou de ambos. Isso tem que ser identificado em cada caso. De qualquer forma, é algo com que o sujeito tem que se defrontar, e tem que dominar, seja para desenvolver, seja para conter. A situação é dinâmica, não é estática. O que quer que seja aquilo a que o oráculo se refira, tem o poder de movimentar a si próprio e às coisas em torno, e encerra a possibilidade de uma ação decidida e determinada que se imponha repentinamente, talvez até descontroladamente. Nesse aspecto, o poder simbolizado por este hexagrama assemelha-se ao poder que se manifesta na primavera. Para quem obteve unicamente este hexagrama na consulta, ou para quem o obteve como segundo, a ordem é insistir na direção do objetivo desejado, porque este é o caminho que acabará dando mais certo, apesar de contrariedades porventura existentes. Porém, para quem obteve este hexagrama como primeiro na consulta, as linhas móveis é que vão ensinar como lidar com essa força poderosa que existe no caminho, e se é conveniente insistir ou não. O conselho da Imagem aplica-se a todos. IMAGEM: “Acima do Céu há um trovão FORTALECENDO O GRANDE. Assim, o sábio não deve se comportar sem decoro.” Aconselhando o sujeito da consulta a agir com absoluta correção e a evitar procedimentos de caráter dúbio, no fundo o que a Imagem aconselha é cuidado, muito cuidado, porque a pessoa está ou estará lidando com algo realmente portentoso, algo que provavelmente ultrapassa a dimensão das coisas com que está acostumada a lidar. Isso requer cautela redobrada, porque, se o elemento com que se defronta já é maior e mais forte do que a pessoa, qualquer passo em falso, seja em termos de perícia, de estratégia, de legalidade, de hierarquia, de Elisabete Araujo Leonetti
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!205 Yi Jing
regras de cortesia, ou de qualquer outra ordem, só fará aumentar a sua fragilidade relativa e diminuir as suas chances de sucesso. Mesmo que se trate de algo interno à pessoa, é importante que tenha cuidado ao deixá-lo expandir-se ou ao tentar contê-lo, para não ferir a harmonia do eu, nem a do mundo em torno. 1ª LINHA (9): “Fortalecendo os dedos do pé, avançar decididamente é prejudicial porque se confia.” A pessoa para quem saiu esta linha não deve continuar no rumo em que está. Para ela não é conveniente insistir. A força aqui dominante ou é negativa ou está mal dirigida. O elemento poderoso não possui a correspondente grandeza moral. É, de algum modo, inferior, pequeno. Há duas possibilidades básicas: ou a pessoa está sendo imatura, inexperiente, má, ignorante, fútil, bruta, etc., ou está indo ao encontro de algo que não é uma coisa boa em si. Não se trata de que o sujeito da consulta não tenha condições de avançar. Ele pode avançar se quiser, não há nada que o impeça: é forte, está bem respaldado no seu meio, e a sua posição é sólida, o que o leva a ser autoconfiante em demasia. Só que, ao avançar, ele perderá apoio e perderá força pessoal também. Buscará outras relações, com que talvez haja atração mas não haverá a mesma integração. Enfim, o prognóstico para esta linha não é bom: a ação do seu sujeito não levará a bom resultado porque ele quer algo além das suas possibilidades atuais; e a situação dele parado, sem agir, também não é boa porque está sob a influência de uma grande força que ou não é benéfica ou não está sendo bem canalizada. 2ª LINHA (9): “Insistir é benéfico.” A pessoa para quem saiu esta linha deve continuar avançando na direção daquilo que deseja, pois possui as condições necessárias para alcançá-lo. No tempo e nas circunstâncias abrangidas pela consulta a pessoa possui força interior, iniciativa, coragem e apoio para lidar com o elemento grande e poderoso que tem pela frente. O apoio lhe vem tanto do seu grupo mais próximo quanto dos mais afastados, e se manifesta tanto na forma de ajuda material quanto de aprovação ideológica e afetiva. Apesar da boa sorte apontada pelo oráculo, a pessoa da 2ª linha poderá ter dificuldades. Haverá momentos em que duvidará da própria capacidade, sentir-se-á um pouco desamparada e não conseguirá vislumbrar solução para o seu problema. Entretanto, não deve desanimar: deve procurar ver a solidez da sua posição, constatar que não há barreiras Elisabete Araujo Leonetti
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no seu caminho, ter confiança e manter o equilíbrio. Assim conseguirá bom resultado, obtendo o engrandecimento do seu próprio poder (ou fortalecendo sua própria capacidade), principalmente se foi esta a única linha mutante obtida. 3ª LINHA (9): “O homem inferior utiliza a força, mas o sábio não deve usála. Insistir [exige] prudência, porque um bode que arremete contra uma cerca enfraquece seus chifres.” A ação a que se refere a 3ª linha deve ser conduzida de outra maneira que não através do uso da força e do poder, embora seja muito fácil para o sujeito da linha utilizar a força, pois ele a possui em abundância e conta com amplo apoio em todos os sentidos. Se depender do próprio sujeito o desenvolvimento da ação, ele fica avisado de que é preferível não agir, não fazer nada, do que avançar enérgica e corajosamente como seria seu impulso primeiro. A maneira correta de agir, neste caso e neste momento, é através de reserva, discrição, correção e confiança, com poucos movimentos e poucas palavras, para se comprometer o mínimo possível. O melhor mesmo seria não agir - se a pessoa tiver essa opção - porque a ação, de qualquer maneira, a levará a ficar trancada, tolhida, antes de ter atingido seus objetivos de forma satisfatória. Será uma situação desgastante e desconfortável. Por outro lado, se o sujeito da consulta está presenciando a atuação de outras pessoas ou elementos, e estes estão agindo com grande determinação, tomando atitudes de largo alcance, fica desde já avisado de que essa ação não é boa e o seu resultado não será bom, especialmente para ele mesmo, se o atingirem. Ele deve, portanto, afastar-se de tais agentes e de tais empreendimentos imediatamente, se não quiser ficar comprometido e tiver, para si, ideais mais elevados. Em qualquer dos casos, o elemento grande e poderoso indicado por esta 3ª linha não é bom nem correto e a pessoa deve evitá-lo, pois corre o risco de ficar presa numa posição insatisfatória, sem conseguir avançar nem retroceder. 4ª LINHA (9): “Insistir é benéfico, o remorso desaparece. A cerca se abre sem enfraquecer, com a força de uma grande carruagem.” A previsão desta linha é de que a pessoa pode e deve avançar na direção desejada.
Elisabete Araujo Leonetti
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!207 Yi Jing
Deve decidir e agir. Possui condições internas e externas que lhe possibilitam o avanço e nenhuma dúvida quanto à validade, a oportunidade ou a correção da ação empreendida virá perturbá-la. O elemento grande e poderoso é representado nesta linha de duas maneiras: Primeiro, como algo que o sujeito tem de enfrentar e de fato enfrenta com muita facilidade, parecendo até que os obstáculos cedem por si mesmos. Esse elemento cessa de fazer oposição ou de resistir. Segundo, como algo que existe dentro do sujeito ou que ele deve gerar, e que cresce com muita solidez e fecundidade, mas sem ostentação, sem aparecer. A sua força se multiplica e ele arrasta consigo muitas coisas em seu movimento. Esse elemento se desenvolve em paz. Com tudo isso, e em decorrência da ação empreendida, a perspectiva é de um assentamento pacífico da situação, com engrandecimento pessoal e/ou material da pessoa, que manterá uma atitude despretensiosa. 5ª LINHA (6): “A ovelha some com facilidade, nenhum remorso.” Quando um elemento se livra de outro com facilidade é porque é muito forte - apesar de talvez não parecer - ou porque aquilo que o prendia era fraco. Qualquer que seja o motivo, as coisas correm bem para a pessoa da 5ª linha: tudo se desenvolve sem complicações, com rapidez, fluência e até alegria. A pessoa tem apoio de outras, que também estão em boa situação e a ajudam e estimulam. Não há nada que a atrapalhe em seu caminho. Assim, embora não tenha muita força em si mesma nem esteja na posição que mais lhe seria adequada, a pessoa da 5ª linha avança e se expande, e o faz de forma correta, com a consciência tranquila, de modo que nenhum arrependimento ou dúvida vem perturbá-la, nem agora nem no futuro próximo, ainda mais que a sua ação levará à rápida eliminação de aspectos ou elementos negativos que existam na situação. O oráculo indica que a maneira como a pessoa está agindo com relação ao elemento grande e poderoso está certa, e tanto servirá para livrá-la de uma possível força antagônica, interna ou externa, como para liberar energia positiva, ou ambas as coisas, conforme for o caso. 6ª LINHA (6): “O bode arremete contra a cerca, mas não pode nem se retirar nem continuar, nenhum lugar é conveniente, há dificuldades seguidas de benefícios.”
Elisabete Araujo Leonetti
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!208 Yi Jing
A pessoa a quem se refere a 6ª linha tem um obstáculo, um problema ou um desafio pela frente. Ela corre o risco de julgar-se mais forte do que realmente é, e/ou de julgar o elemento que tem pela frente menos forte do que realmente é, e avançar, mas não conseguir levar o seu intento até o fim desejado, ficando trancada em condições desfavoráveis. Em resumo, um erro de avaliação pode levá-la a uma ação ineficaz e até prejudicial. O oráculo desta linha é, portanto, um aviso para que a pessoa não avance impetuosamente, conforme talvez tenha pensado em fazer, porque não tem condições para isso. Ela não tem força em si mesma, a sua posição nãbbbbo é a mais adequada para o ataque, e as pessoas que lhe dão apoio são fortes e corajosas mas não têm muita influência na situação, de modo que não poderão ajudar muito. Assim, a pessoa da 6ª linha não dispõe de grande poder. O que ela tem pela frente, ao contrário, é mais poderoso do que parece e pode imobilizá-la. Muita reflexão é necessária à pessoa, e ela está realmente inclinada a refletir. Então, se ela refletir e conseguir perceber a sua real condição e a verdadeira dimensão daquilo que tem que enfrentar, provavelmente compreenderá a dificuldade da sua posição no presente e conseguirá superá-la, vislumbrando uma nova forma de encaminhar a situação. Agindo assim terá bom resultado, inclusive nos aspectos materiais que a questão envolver, com muito boa sorte.
Elisabete Araujo Leonetti
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!209 Yi Jing
HEXAGRAMA 35: PROGREDINDO PAULATINAMENTE
JULGAMENTO: “PROGREDINDO PAULATINAMENTE, o forte príncipe, doando às multidões numerosos cavalos, se une aos três [súditos] na plena luz do dia.” A situação é, em princípio, boa e auspiciosa para quem obteve este hexagrama. A não ser que alguma linha e um segundo hexagrama digam o contrário, há uma forte probabilidade de o sujeito da consulta obter sucesso e reconhecimento naquilo que tem em mente. Esse resultado gera satisfação e a possibilidade de ser generoso, ajudando outras pessoas a também progredirem, tanto no plano material quanto no plano social ou outros. Há indicação de que o avanço é fácil e rápido, passando de uma condição mais baixa para uma mais elevada, da mais obscura para a mais clara, da mais estática para a mais dinâmica, da mais trabalhosa para a mais fácil. A existência de obstruções está latente em meio ao progresso, como algo que pode atrapalhá-lo. Consistem em impedimentos ao avanço, agindo sobre o objeto ou sobre o sujeito da ação, tolhendo a ação, seja por um obstáculo físico, real, que fecha o caminho, seja por um excessivo rigor, que pode ser psicológico, burocrático, financeiro, metodológico ou de outro tipo, prejudicando a pessoa. Os modos de superação dos impedimentos são, principalmente: a perseverança tranquila, esforçada e paciente, a flexibilidade nos meios e a inflexibilidade nos fins, tudo subordinado a uma compreensão clara, profunda e abrangente da situação. Assim, este hexagrama não só pressagia o progresso mas também ensina como buscá-lo. IMAGEM: “A luminosidade se manifesta sobre a terra PROGREDINDO PAULATINAMENTE. O sábio, portanto, exibe em si mesmo esse potencial luminoso.” Elisabete Araujo Leonetti
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!210 Yi Jing
O conselho dado pela Imagem destina-se àqueles que estão progredindo, que estão se elevando acima de uma dada condição inicial que era plana, sem destaque, igual para todos. Na situação de elevar-se, a pessoa se torna visível, torna-se um alvo de atenção para aqueles que ficaram abaixo e para todos em geral. Não é possível, nessa condição, ocultar a sua luz. Então, ficando visível e sendo vista, a pessoa sábia revela, de uma forma natural e franca, as suas qualidades, sem incorrer no erro da vaidade ou do orgulho, pois não são as suas palavras que proclamam as suas boas qualidades, mas sim os seus atos e o seu próprio modo de ser. 1ª LINHA (6): “Parece progredir, parece recuar, insistir é benéfico. Não havendo confiança, ser tolerante não é um erro.” A pessoa desta 1ª linha tem seu avanço completamente bloqueado. Apesar disso, ela pode agir - e o oráculo recomenda que aja, que continue produzindo ou executando aquilo de que se ocupa e que é o seu interesse na questão da consulta - mas não pode levar adiante a sua ação: não pode expandi-la nem apresentar seus resultados ao mundo. A única perspectiva boa para essa pessoa é a de continuar seu caminho obscuramente, resignadamente, com paciência e com tranquilidade, corrigindo a rota à medida que avança, sem pressa de alcançar seus altos objetivos. Se agir assim estará de acordo com as possibilidades do momento e nenhum mal lhe acontecerá. Se tentar forçar o avanço apesar das advertências do oráculo, em primeiro lugar não lhe adiantará de nada: nenhuma mudança efetiva na sua situação atual lhe advirá desse movimento; em segundo lugar ainda correrá o risco de ser mal recebida, mal interpretada, criticada ou penalizada, ficando ainda mais trancada do que está agora. Isso ocorre porque aquilo que a pessoa da 1ª linha deseja atingir está muito longe dela. Ainda que consiga ter acesso àquele elemento por vias normais, sem a interferência de terceiros, ele está tão acima dela que não lhe dará importância, não depositará confiança nas suas possibilidades e talvez até julgue inconveniente ou importuna a sua aproximação. Nada disso, porém, é culpa da pessoa ou consequência direta do seu comportamento: são condições do momento, exteriores a ela, que existem independentemente do que ela faça. Por isso não é errado a pessoa ser condescendente e tolerante consigo própria, pois ainda não assumiu o controle sobre a sua própria situação. Cumpre esperar ocasião mais propícia para avançar de fato, mas não há previsão de tempo.
Elisabete Araujo Leonetti
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!211 Yi Jing
2ª LINHA (6): “Parece progredir, parece se preocupar, insistir é benéfico. Recebe esta grande bênção da rainha-mãe.” O Yi Jing prevê dois momentos diferentes para a pessoa que obteve esta linha. No 1º momento a pessoa avança no sentido desejado, mas não está tranquila. Por quê? Pode ser porque ela ainda não consiga ver o fim da sua busca ou da sua luta, o qual ainda está muito distante, e isso a deixe desanimada. Pode ser porque a sua tarefa lhe pareça demasiado pesada e extensa, e com pouco proveito próprio. Pode ser porque ela se desgoste com a obscuridade da sua atuação, com a modéstia da sua posição, quando o que desejaria era brilhar ao sol. Pode ser, finalmente, que a sua tristeza advenha da sua solidão, pois ela, embora pertença a um grupo e esteja bem inserida nele, inclusive com forte sentimento de solidariedade, não possui, quanto ao assunto da consulta, alguém com quem possa realmente compartilhar anseios, receber ou dar apoio. Apesar de tudo isso, a pessoa está no rumo do progresso, da ascensão, e o oráculo lhe recomenda a manutenção das ações empreendidas, afirmando que elas chegarão a bom termo. No 2º momento a pessoa é surpreendida por um sucesso inesperado, um acontecimento ou um resultado que a deixam satisfeita. Esse fato positivo tem origem ou no passado, em ações anteriores que agora dão seus frutos, ou em alguém que ocupa uma posição de importância no assunto da consulta ou na vida da pessoa da 2ª linha e que, vendo a sua atuação, sua correção, seu empenho, companheirismo e modéstia, decide promover algo em seu favor ou simplesmente reconhece o seu valor, o que a deixa feliz. Na continuação de seu caminho, a pessoa da 2ª linha não poderá avançar sempre rapidamente - porque realmente tem obstáculos agora e os terá também depois, embora de tipo diferente - e terá talvez que se contentar com um pouco menos do que pretendia. Mesmo assim deve se manter no seu rumo, ser constante nas suas ações e nos seus objetivos, porque a tendência é de que isso lhe seja benéfico. 3ª LINHA (6): “Todos concordam, o erro desaparece.” A pessoa da 3ª linha, se tivesse que atuar sozinha, não teria condições de avançar, apesar da muita vontade que tem disso. No entanto, como, no assunto da consulta, ela tem a confiança e o apoio dos que a rodeiam, consegue progredir e deixar para trás aqueles fatores que lhe davam ensejo para errar e atrasar o seu avanço
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!212 Yi Jing
Ela se mostra solidamente fundamentada em si mesma, mas ainda assim receptiva aos outros. Demonstra aspiração de elevar-se. Todos acreditam nela, principalmente aqueles que já conseguiram alcançar as posições mais desejáveis no momento e que, portanto, mais podem ajudála. O caminho dessa pessoa, porém, não chegará logo à estabilidade e realização plenas, conforme seria seu desejo: há um período de instabilidade e de escassas possibilidades pela frente, em decorrência mesmo do progresso atingido agora. 4ª LINHA(9): “Parece progredir como um esquilo voador, mas deve insistir com prudência.” Na questão da consulta, a pessoa da linha 4 parece forte e está numa posição aparentemente privilegiada, embora de fato não o seja. Ela goza da confiança de alguém que detém poder ou autoridade e é correto, simples, inteligente e aberto à sua influência. Ao mesmo tempo, tem acesso aos que estão lutando por melhorar de condições, que não vêem muitas perspectivas pela frente e que se apegam a ela, dando-lhe apoio total, porque ela representa para eles uma possibilidade de ascensão. Essas duas realidades antagônicas podem ser dois aspectos dela mesma que rivalizem entre si. Ela possui uma ligação forte com alguém ou com alguma desse segundo nível, e essa ligação particular tende a fazer esqueça seus deveres de lealdade para com os outros. Pode querer usar de quaisquer meios para alcançar o sucesso para aquele ou aquilo com quem se sente unida.
tendência com que levá-la a si e para
Se ela se mantiver firme nesse objetivo e no tipo de ações que vêm empreendendo, é bem provável que consiga progredir e alcance rapidamente uma posição de prestígio. No entanto, este progresso fácil, rápido e sem muita preocupação com o que é correto deverá levá-la a um desmoronamento também rápido, derivado da descoberta e exposição dos seus erros, onde os grandes lhe terão retirado o apoio e os pequenos de nada lhe servirão. Na verdade, o caráter da pessoa da 4ª linha não é mau em si: o que acontece é que ela talvez acabe agindo mal por estar numa posição inadequada ao seu tipo de personalidade. Ela possui capacidade de planejamento e liderança, e não pode agir com soberania; possui ambição de ascensão e desejo de agir autonomamente, mas está ligada aos que não podem ascender sozinhos e se agarram a ela, pesando-lhe os movimentos; conseguiu superar um obstáculo considerável, mas caiu no meio de outro, onde corre o risco de ficar estacionada ou de despencar. Essas condições conflitantes exigem que ela aja com muita prudência e mantenha sobre si um controle muito grande, a fim de não cometer erros nem ceder à tentação de utilizar todas as suas habilidades para conseguir Elisabete Araujo Leonetti
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avançar de qualquer maneira, mesmo que seja ilicitamente, o que a faria correr riscos sérios. Por isso o conselho para o sujeito da 4ª linha é de que tente avançar de outro modo, fazendo outras coisas, se relacionando de outra maneira com as pessoas ou procurando outras pessoas. Enfim, que busque adaptar os seus objetivos às suas possibilidades reais, sem querer dar o passo maior do que as pernas. 5ª LINHA (6): “O remorso desaparece. Perdendo ou ganhando, não fique ansioso: avançar, ainda que desordenadamente, é benéfico; nada que não seja favorável.” A pessoa para quem saiu a 5ª linha está indiscutivelmente em ascensão, no caminho do sucesso e do reconhecimento pressagiados pelo hexagrama. Conta com apoio no plano mental e no plano material. Inspiradas pela sua energia contagiante, pessoas se motivam a lhe dar ajuda intelectual e braçal. A perspectiva é de formar, mais adiante, uma equipe dinâmica, harmônica e criativa com essas pessoas, ou com outras. Ela progride sem atropelar ninguém: atua com suavidade e se identifica com os que estão na luta para ascender. Não deve lamentar nenhuma das suas ações passadas, pois foram elas que a conduziram até aqui. Também não deve se impressionar com sucessos ou insucessos parciais, pois eles pertencem apenas ao momento e não vão afetar a marcha do seu progresso. A pessoa conseguiu superar os obstáculos até agora e, encorajada, consegue superar também as presentes dificuldades. O oráculo recomenda o avanço, recomenda que a pessoa tome iniciativas - de acordo com os outros e com as circunstâncias - e avisa que os movimentos atuais darão bons resultados, pois todos os fatores são favoráveis. A previsão para o futuro confirma essa maré de boa sorte e o avanço desimpedido. Apesar disso, a pessoa poderá ficar ansiosa, preocupando-se com o resultado dos seus empreendimentos. Essa preocupação, entretanto, se sobrevier, só fará garantir ainda mais o sucesso, pois provocará um aumento da precaução, da busca de segurança em todos os passos. 6ª LINHA (9): “Progredir dando chifradas só deve ser cogitado quando usado para reprimir [sua] cidade, ser prudente traz benefícios e nenhum erro, insistir envergonha.”
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!214 Yi Jing
A pessoa da 6ª linha progride e atinge uma alta posição (alta dentro da situação da consulta) onde tem ascendência sobre os elementos poderosos e sobre os comuns. Empolgada com a força que adquiriu, ela gostaria de continuar avançando rapidamente, de modo agressivo e inconsequente, derrubando tudo o que estivesse no seu caminho. Porém, o oráculo adverte que tal atitude não seria ética, que seria admissível apenas quando se tratasse de defender as conquistas já realizadas, ou ainda para obrigar-se a si mesma a uma atuação mais decidida e mais correta, caso seu caminho ainda não estivesse claro. Se for simplesmente para avançar, não deve manter essa atitude agressiva. Se insistir em agir dessa maneira, isso lhe será motivo de vergonha. Mas a pessoa tem visão penetrante e é capaz de perceber o quanto esse comportamento é errado e o arrependimento que acarretaria; se recorda também das dificuldades que ela própria superou e que outros ainda têm de enfrentar para atingir o desenvolvimento desejado, e isso faz com que seja prudente ao avançar. Em breve, vendo o montante das suas realizações, o tanto que conseguiu progredir, sentirá voltar o ímpeto de avanço avassalador. Se, nessa altura dos acontecimentos, modificar a sua atitude social e mantiver o impulso de progresso, mas de uma maneira mais compassiva e maleável, menos egoísta e dura, então estará agindo corretamente. Em resumo, o principal para a pessoa da 6ª linha, neste momento, é controlar a sua agressividade, atacando só o que ameaça a sua posição, as suas conquistas, e disciplinando-se, de modo que o seu progresso não seja destrutivo.
Elisabete Araujo Leonetti
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!215 Yi Jing
HEXAGRAMA 36: ABAFANDO SUA LUZ
JULGAMENTO: “ABAFANDO SUA LUZ, na adversidade é conveniente insistir.” O hexagrama 36 trata de uma situação em que a capacidade de ação da pessoa se vê tolhida, no todo ou em parte. Não é a época que é adversa para qualquer empreendimento; tratase da situação pessoal do sujeito da consulta, que pode ir desde um impedimento parcial até a anulação total do sujeito. O oráculo diz que, durante uma grande adversidade, como a presente, a única coisa correta a fazer é manter-se firme e fiel a si mesmo, a seus princípios, seus desejos, porém ocultando dos outros suas verdadeiras habilidades e intenções. Mantêm-se firmes os projetos, mesmo que no momento não se os possa cumprir nem manifestar. As linhas mutantes obtidas dirão o provável desenvolvimento da situação geral, bem como detalhes das circunstâncias de cada um dos envolvidos. Caso este hexagrama tenha sido obtido sozinho, ou como segundo da consulta, a previsão é de não agir abertamente, não se revelar, não mostrar tudo o que sabe, mas também não se desviar do rumo pretendido: apenas atuar com reserva, na obscuridade, conforme aconselha a Imagem, abaixo. IMAGEM: "A luminosidade afunda no meio da terra, ABAFANDO SUA LUZ. Assim, o sábio governa o povo usando disfarces, mas ainda assim resplandece." O povo é a terra; a pessoa sábia é a luz. Quando há uma situação em que a sabedoria, ou o bom senso, ou os bons princípios não podem se revelar, mostrar-se, a pessoa dedicada a desenvolver aquelas virtudes não pode juntar-se àqueles que são como ela em atividade aberta, nem agir sozinha com proeminência. Ela tem que se submeter à norma geral e viver com e como as pessoas comuns, ocultando suas brilhantes qualidades. Entretanto, mesmo agindo exatamente como os outros, essa pessoa tem
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uma nota de sabedoria, ou de bondade, ou de generosidade, enfim, daquela qualidade que a distingue dos outros; e essa qualidade permeia suas ações, tornando-as notórias. Por isso se diz que ela oculta seu brilho e ainda assim resplandece. Isso também quer dizer que, mesmo que ela consiga, por opção ou por necessidade, na convivência com os outros, ocultar completamente as suas qualidades superiores, deve perseverar em mantê-las bem vivas dentro de si, de modo que o resplandecimento continue, embora apenas interno. Na nossa vida cotidiana isso muitas vezes ocorre. Por exemplo, na tarefa da educação, se os pais, em cada e toda circunstância, expuserem toda a sua experiência e conhecimento da matéria em questão, acabarão por inibir a criança ignorante, acabarão por ofuscá-la com seu brilho, no dizer do Yi Jing. Esse seria um caso em que o correto para a pessoa sábia, na convivência com a mais ignorante, é ocultar a sua sabedoria. Nem por isso ela deixará de resplandecer, como nem por isso, no nosso exemplo, a criança deixará de ter os pais como modelo admirável. Outras vezes o líder, político ou outro, na tarefa de introduzir melhoramentos na sociedade, não pode expor todas as suas idéias e planos de uma só vez, sob pena de granjear oposição já desde os primeiros passos das mudanças pretendidas. Deve ele, como pessoa sábia, manter os seus elevados ideais e propósitos melhoradores ocultos até que obtenha força e apoio para pô-los em prática com mais segurança. Esse também é um modo de a pessoa conviver com o povo ocultando a sua luz. Praticamente todas as vezes que um bom projeto nosso pode causar estranheza ou adversidade em nosso grupo, temos de mantê-lo na obscuridade até que tenhamos condições de agir sem precisar do apoio do grupo. Em todos esses casos estaremos nos comportando como o sábio na contingência de esconder sua luz, conforme aconselha o Yi Jing. 1ª LINHA (9): “Abafa sua luz voando longe com sua asa esquerda retraída. O sábio, na sua peregrinação, não come durante três dias e, [mesmo que] tenha aonde ir, ainda que desordenadamente, receberá críticas dos seus superiores.” A pessoa para quem sai esta linha está sofrendo um impedimento temporário e parcial. Assim como ela por enquanto não pode extravasarse, pôr para fora as suas habilidades e intenções, também não deve aceitar, adotar, nada vindo de fora, porque isso seria revelador do seu íntimo. Diante disso, ela disfarça os seus movimentos, se afasta ou se esconde, se submete a privações, mas não abandona o seu objetivo. Elisabete Araujo Leonetti
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Continua lutando por aquilo que quer e encontra quem a ajude. Embora não obtenha apoio nem aprovação integrais, sempre causa alguma impressão naqueles com quem interage. Reconhecendo suas limitações, a pessoa da 1ª linha pode seguir adiante, com reservas, que obterá algum progresso. 2ª LINHA (6): “Abafa sua luz e, escondendo sua coxa esquerda, se salva utilizando um cavalo robusto, benéfico.” No confronto com a adversidade, a pessoa da 2ª linha sofre danos e fica momentaneamente impedida de avançar. Mas, graças à sua energia interior, à sua força de vontade, à sua capacidade de disciplina, de submissão às normas (ainda que aparente), e à sua clareza de visão, a pessoa consegue reunir uma força que habitualmente não teria, sua ou de outros, age e se sai bem. Assim, ela escapa do infortúnio total e não fica isolada. As suas perspectivas são de manter-se longe de conflitos e desenvolver em si um espírito de tolerância, justiça e coragem que a tornará uma pessoa mais equilibrada e sábia, fluindo harmoniosamente com as circunstâncias. 3ª LINHA (9): “Abafa sua luz e, escondido numa caça no sul, captura o grande líder, mas não deve insistir precipitadamente.” A situação da pessoa a quem se refere esta linha é complexa. Camuflando suas verdadeiras intenções, ela persegue com determinação seu objetivo e consegue dar um passo importante na direção desejada, um passo que tem a ver com a eliminação da causa da adversidade que a pessoa atravessa neste momento, consistindo numa vitória ou ganho. Esse êxito, entretanto, ainda não está solidamente estabelecido; não está excluída a hipótese de uma reversão. Por isso o oráculo recomenda paciência, prudência, desconfiança mesmo, e que a pessoa não espere poder seguir tranquilamente o seu rumo dentro de pouco tempo: vai demorar um pouco até que as coisas se estabeleçam a contento. 4ª LINHA (6): “Abafa sua luz, e escondendo o lado esquerdo do seu abdômen, conquista o coração-mente de [quem] abafa a luz, mas [afasta-seb dele] saindo pelo portão do pátio.” A pessoa para quem saiu esta linha, defrontando-se com a adversidade ou com o elemento com que tem que interagir na questão da Elisabete Araujo Leonetti
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consulta, vê que não há salvação possível se ficar naquela situação e a abandona, sai, procura outro rumo. Ela sabe que não há salvação porque conseguiu chegar bem perto do outro lado do problema, ou da origem do mal. Assim conheceu o seu íntimo, seus pensamentos e sentimentos, e viu que não há cura possível. Apesar disso a pessoa se sai bem porque se afasta da situação adversa: não tenta enfrentá-la nem consertá-la. Porém, através da compreensão da essência do mal e do afastamento dele, encontra um novo sentido para sua vida, com possibilidade de enriquecimento - em todos os sentidos - e êxito, especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. 5ª LINHA (6): “Esconde sua luz como fez o príncipe Ji. É conveniente insistir.” Esta linha é a que verdadeiramente representa a necessidade de esconder a luz, mas sem extingui-la. A adversidade é tamanha que a pessoa a quem se refere a linha está totalmente impedida e a única coisa que pode fazer é fingir, dissimular, representar para os outros ser alguma coisa aceitável por eles, mantendo suas convicções e seus propósitos internamente vivos, mas ocultos, para um possível momento de reassumi-los quando o impedimento tiver passado. Ela não deve deixar que morram os seus ideais ou que se degenerem as suas qualidades. É só o que a pessoa pode fazer. O momento não é compatível com grandes empreendimentos e as grandes ações são desaconselhadas, pois não trarão o resultado esperado. Agindo de acordo com o momento, com discrição e perseverando intimamente, alcançará, um dia, o que deseja. 6ª LINHA (6): “Não há luz, só escuridão. No começo galgou o céu, mais tarde afundou na terra.” A pessoa para quem sai esta linha deve saber que seu sucesso está sendo ou será passageiro, devido à sua má conduta. Tendo poder nas mãos, com possibilidade de grande manifestação e expansão, a pessoa não usa esses dons para o bem, mas desvia-se da norma correta e oprime ou afasta os outros, numa atuação completamente errada. Isso a conduzirá, por sua vez, ao impedimento, ao ostracismo e a um despojamento forçado. Não há previsão de duração de tempo aqui.
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HEXAGRAMA 37: ORGANIZANDO UMA FAMÍLIA
JULGAMENTO: “ORGANIZANDO UMA FAMÍLIA é conveniente a insistência feminina.” Qualquer que seja o objeto ou o sujeito da consulta ao oráculo, ele não deve ser considerado isoladamente, porque este hexagrama nos mostra um grupo. Provavelmente trata-se de um grupo familiar ou um grupo de pessoas, mas também pode ser de coisas, de fatos, de pistas, de interesses, de disciplinas, de idéias, de empresas, etc. O mais provável é que seja mesmo um grupo familiar. O fator essencial desse grupo é que se trata de um grupo organizado, como uma família ideal em que os diversos membros estão nos seus lugares próprios e mantêm, entre si, as relações corretas e apropriadas, geralmente harmoniosas. Nesse grupo existe hierarquia: autoridade ou liderança no caso de pessoas; preponderância de uns fatores sobre outros no caso de outros elementos. O oráculo prevê que exista, ou que deva existir, respeito pela função e pela pessoa de cada um dentro do grupo, colaboração e afeição ou ligação entre todos. O grupo está protegido, ou deve se proteger, do exterior. Possui energia própria que o move e, ao invés de ser atingido por influências externas, ele é que deve, pela sua atuação e modo de ser, influenciar o mundo ao redor. Geralmente, a atuação de um indivíduo no mundo e, portanto, a sua influência no mundo depende, em grande parte, da formação recebida no grupo. Se o perigo para esse grupo não está no mundo lá fora, está dentro dele mesmo, no seu interior, e esse perigo consiste na desordem. Se os componentes do grupo, por uma razão qualquer, se desviarem dos papéis, das funções, que lhes cabem, e se permitirem que as relações entre eles assumam um caráter diferente do que seria o correto (o que deve ser identificado em cada caso), então o grupo tende a fracassar, a não atingir o seu desempenho ideal, apesar dos laços de união que possam existir entre seus membros. Talvez nem todas essas considerações sejam aplicáveis ao caso específico da consulta. De qualquer modo é bom que o consulente as tenha presentes, a fim de definir o melhor possível a situação particular enfocada. Elisabete Araujo Leonetti
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Em princípio é bom para o sujeito da consulta fazer parte desse grupo que lhe dá apoio material e emocional. Para o sucesso do grupo, e também para o bom encaminhamento da questão apresentada ao oráculo, requer-se das pessoas trabalho, dedicação, altruísmo e capacidade de colocar-se a serviço do interesse de outros. Porque, num grupo, todos, até mesmo o líder, têm que trabalhar, dedicar-se, ser altruístas, colocando os interesses do grupo (do grupo e não de um ou outro membro em particular) acima dos seus próprios, se quiserem contribuir para a manutenção do grupo e a felicidade dos seus componentes. Assim, o oráculo para quem obteve este hexagrama é um lembrete de que ele está vinculado a um grupo e de que deve, no momento, voltar a atenção para o interior do grupo, verificando, por exemplo, as suas necessidades, desejos, potencialidades e fraquezas. Na sua ação, deve considerar o grupo e seus interesses mais do que suas próprias inclinações pessoais ou, melhor ainda, buscar um ajuste entre os dois fatores. Se a pessoa obteve linhas mutantes, elas lhe darão informações adicionais, principalmente sobre condutas e papéis. O conselho da Imagem, explicado a seguir, também deve ser lido (e cumprido). IMAGEM: "O vento surge do fogo: a imagem de ORGANIZAR UMA FAMÍLIA. Assim, as palavras do sábio devem ter conteúdo e sua ação deve ser contínua." Este hexagrama apresenta uma situação que envolve um grupo, um conjunto organizado de elementos, cujo interesse e bem-estar devem ser colocados acima do interesse e bem-estar individual do sujeito da consulta ou de qualquer um dos envolvidos. Para agir com correção nessa situação, as pessoas envolvidas devem ser confiáveis, ou seja, cada um deve inspirar confiança em todos os demais membros do grupo, porque é a confiança que possibilita a coesão, e a coesão é a energia que mantém o grupo. E isso é especialmente recomendado para o sujeito da consulta. A confiabilidade deve se manifestar através das palavras e das ações. As palavras devem expressar a verdade das coisas: dos sentimentos, dos fatos, das intenções, dos perigos, etc. Não devem ser palavras vazias nem mentirosas. As ações devem expressar a constância das pessoas nos seus comportamentos, que é o que garante a continuidade do grupo. Um grupo não sobrevive sob o lema de se desfazer a qualquer instante; ele precisa ter uma perspectiva de duração no tempo. Essa perspectiva é dada pela Elisabete Araujo Leonetti
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renovação constante do comportamento dos membros do grupo dentro de padrões esperados. As ações, portanto, não devem ser volúveis nem imediatistas. 1ª LINHA (9): “Protegendo a família o remorso desaparece.” A pessoa para quem saiu a 1ª linha tem, neste momento, a função de alertar o grupo sobre algum problema e contribuir para seu funcionamento. Está numa posição tal que lhe permite antever o perigo que ameaça o grupo, que é, provavelmente, o perigo da desordem provocada pelo próprio movimento das relações internas entre alguns membros do grupo. A pessoa deve observar isso e tomar medidas preventivas que detenham a possível desordem através da imposição de normas que devem ser cumpridas por todos mas que visam principalmente os mais novos, sua proteção e bom encaminhamento, e refletem as aspirações permanentes do grupo. Regras de ocasião não contribuem para a continuidade e solidez de uma família ou de um grupo. Como a pessoa da 1ª linha possui bom relacionamento com membros de todos os setores ou níveis do grupo, as suas determinações serão certamente acatadas. Caso as determinações se dirigirem a ela mesma, isto é, se forem autodeterminações, também dará certo porque ela tem força e clareza suficientes para modificar-se e deter-se no que for necessário. Essa atitude da pessoa da 1ª linha está correta e ela não terá razões para se arrepender de ter sido firme nesta ocasião, pois evitou danos e criou condições de evolução para si e para outros. A possibilidade de perigos e obstáculos no caminho continuará a existir, mas todos estarão mais bem preparados para enfrentá-los. Apesar de estar certa, haverá quem a critique mais tarde. As normas de agora garantirão o desenvolvimento natural e correto no futuro. 2ª LINHA (6): “Avançando não relaxa, porque está no meio da comida. Insistir é benéfico.” A previsão básica para a pessoa que obteve esta linha é de que ela tem, neste momento, a função de alimentar um determinado grupo, de nutri-lo com substância material e/ou espiritual, ou simplesmente de sustentá-lo com a sua própria presença, com a sua energia pessoal. Deve utilizar sua capacidade de percepção para distinguir qual o alimento apropriado e como obtê-lo. Elisabete Araujo Leonetti
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A pessoa deve agir - e provavelmente age - com muito senso de disciplina e responsabilidade, submetendo as suas inclinações e preferências pessoais ao objetivo maior, o qual certamente está conjugado ao desenvolvimento harmonioso e à prosperidade da sua família, de um conjunto de pessoas ou de outros elementos. A manutenção desse procedimento dará bom resultado. Se a pessoa, entretanto, estiver pensando em um projeto arrojado ou em lançar-se sozinha num empreendimento de seu interesse individual, este não é o momento nem o meio adequado. O oráculo não o recomenda. A perspectiva para a pessoa da 2ª linha é de continuar ainda por algum tempo a serviço daquelas pessoas ou elementos, utilizando sua força e capacidades em favor deles. Não receberá nada de graça. Displicência, palavras vãs ou alegria despreocupada não darão o sustento de que o grupo precisa: o que trará o sustento será o trabalho contínuo no rumo determinado, não fazendo caso de possíveis dificuldades. Não é uma previsão de progresso rápido ou de felicidade repentina, mas o Yi Jing diz que isso é benéfico para a pessoa, o que significa que a ação conduzida conforme os ensinamentos do oráculo tenderá a dar certo e a trazer alguma satisfação. Uma das fontes de satisfação da pessoa é a rede de relacionamentos que ela mantém e continuamente realimenta, pertencendo àquele grupo ou àquela família. 3ª LINHA (9): “Se a família for tratada severamente, há benefícios apesar do rigor e do remorso; mas, se a mulher e a criança rirem muito, acabam envergonhados.” A mensagem principal desta linha é de que o sofrimento, embora seja lamentável, não destrói um grupo, uma família, até mesmo uma nação, mas a perda da integridade moral, sim. A situação prevista pela linha é complicada, quer o elemento a quem se refere seja o autor ou a vítima dos problemas aí apresentados. Há um desvio de comportamento de vários membros do grupo: Os que têm autoridade abusam dela, tornam-se rigorosos demais, criam resistência, o que gera conflito. É o excesso de regras, de controle, de exigências, um certo desequilíbrio nas normas. Os que têm trabalho a fazer juntam-se aos que ainda estão na condição de novos ou de aprendizes e fogem às suas responsabilidades, excedem-se no lazer e prazer. É o excesso de permissividade, de descontrole, de ausência de compromisso, de “laissez-faire”, o desequilíbrio que ocorre quando as pessoas resolvem apenas satisfazer suas vontades. Na situação enfocada pela consulta podem estar acontecendo essas duas coisas ou só uma delas; cabe ao consulente fazer as identificações. Se a 1ª e 2ª linhas não saíram para ele, não precisa lê-las. Se saíram, ele Elisabete Araujo Leonetti
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pode verificar quais, entre aquelas e esta, representam a situação no passado, no presente ou no futuro, que pessoas estão representadas em cada uma, etc. O momento aqui é aquele em que existe o perigo real de a desordem desestruturar o grupo. O correto seria que, neste momento, o bom senso e uma visão iluminada da situação como um todo prevalecessem, mas as atitudes das pessoas envolvidas não atendem ao bom senso, nem elas possuem visão abrangente. Se apesar do sofrimento a ordem puder ser mantida, nada se perderá e as coisas se reencaminharão bem. Se, ao contrário, a ordem não puder ser mantida ou restabelecida e a hierarquia e a autoridade no grupo forem desprezadas, quiçá ridicularizadas, o grupo perderá a integridade moral e, com isso, perderá também sua força de coesão, tanto no aspecto do norteamento quanto no aspecto do sustento, o que será mau. Algum bem, entretanto, advirá dessa situação ruim, provavelmente para o sujeito da consulta. Talvez algum benefício material decorrente da sua participação no grupo, talvez um crescimento moral em virtude das experiências passadas, ou outra coisa. Mas a pessoa só usufruirá desse bem em paz, de consciência tranquila, se estiver mais equilibrada, mais calma, se tiver abandonado um pouco a sua impetuosidade e restabelecido ligações harmoniosas com aquele ou aquilo que representava o poder estabelecido, no momento conflitante indicado por esta 3ª linha. 4ª LINHA (6): “Família rica, grande benefício.” Esta linha prevê desenvolvimento, material, espiritual ou social, para todo o grupo envolvido na situação da consulta. A pessoa e/ou ação indicada pela linha é correta, possui equilíbrio e capacidade de penetração, e contribui para a ordem do grupo. Exerce ou exercerá influência, sem pretender dominar. As circunstâncias de perigo ou obstáculos começam a ficar para trás, embora alguma dificuldade menor ainda possa existir. Devido ao seu bom relacionamento com praticamente todos no grupo, e à sua natureza pacífica, a pessoa da 4ª linha não se deixa envolver em conflitos, nem agora nem depois, e nisso consiste a sua boa sorte, pois pode avançar em paz. Ela é impelida à ação, age de acordo com o lugar que ocupa e de forma progressista. Concomitantemente conserva sensibilidade para com o aspecto humano dos fatos. Agindo ela amplia o raio de relacionamentos, mas mantém-se ligada ao grupo primitivo, já que em outros lugares não terá o apoio que tem ali.
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De qualquer modo, o resultado positivo da sua ação virá para o grupo, pois é para o grupo e não só para si que ela busca o desenvolvimento, a riqueza. Concluindo, trata-se de um bom augúrio, prognosticando benefício geral como resultado da ação empreendida ou a empreender, mesmo que a pessoa passe por momentos de desconfiança e inconformismo. 5ª LINHA (9): “Como se fosse o benéfico.”
rei da família, não fique ansioso, é
Esta linha indica alguém que é altamente considerado pelo seu grupo, provavelmente o líder, cuja liderança se realiza tanto pela posição oficial que ocupa quanto pelas relações que estabelece com todos os demais membros do grupo, nas quais está sempre presente a afetividade, o apreço, o amor. A relação de colaboração direta se estabelece com o membro ou o setor que constitui o núcleo de sustentação emocional e/ou material do grupo. A relação de influência, positiva, forte, ativa, porém permeada de suavidade e doçura, e de uma certa insegurança, se estabelece de um modo geral com todos os membros do grupo, mas principalmente com aqueles que lhe estão em posição subordinada e dos quais é frequente a pessoa da 5ª linha esperar uma resposta, um resultado. A relação de reverência não é evidente no momento, mas se revelará mais tarde, estabelecendo-se entre o líder ativo (que é a pessoa da 5ª linha) e os membros mais prestigiados do grupo, aos quais procura agradar. O prestígio destes pode dever-se à sua sabedoria, idade, experiência ou mesmo à sua riqueza e posição social. No momento a relação do sujeito da 5ª linha com esses elementos é de identidade: aos olhos do grupo as posições de ambos se equiparam. É - ou deveria ser - uma característica da pessoa da 5ª linha a preocupação com a qualidade daquilo que oferece ao grupo, inclusive através da influência que exerce. Mas como ela procura fazer tudo da maneira mais correta, mesmo quando suas possibilidades apresentam-se poucas, tudo dará certo e não há motivo para ansiedade. Do mesmo modo, o grupo não tem o que temer da pessoa da 5ª linha, pois a sua intenção é contribuir para a ordem e a continuidade do grupo, e as ações que empreende ou estimula são corretas. O único perigo evidente a que a pessoa da 5ª linha está exposta, na situação enfocada pela consulta, é o perigo da sublevação da ordem no grupo. Trata-se, porém, de um perigo virtual: não é dito que esteja ocorrendo no momento. Em todo o caso, é conveniente que o sujeito da linha esteja atento ao fato de que a segurança da sua posição depende da Elisabete Araujo Leonetti
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manutenção da ordem estabelecida no grupo e de que a sua maior garantia é o apreço ou o afeto que os componentes do grupo devotem a ele. Como previsão simplificada para quem obteve esta linha pode-se dizer que a pessoa conta com o apoio do seu grupo e não deve se preocupar, porque as perspectivas de obter o que pretende são boas. 6ª LINHA (9): “Inspirar confiança porque parece ter autoridade acaba sendo benéfico.” Esta linha mostra o indivíduo no grupo. Ou seja, mostra um membro do grupo visto individualmente. Trata-se, na situação enfocada pela consulta, de um membro importante do grupo e o oráculo revela que, como indivíduo, essa pessoa tem valor, reflete sobre as suas atitudes, merece consideração e confiança, e por isso deve ser respeitada, bem como suas iniciativas. A ação dessa pessoa visa a ela própria, ao grupo, e também ao mundo exterior, e a previsão do oráculo é de que será bem sucedida: vai alcançar o que pretende ou vai ficar satisfeita com os resultados que alcançar. O que ela não deve fazer é, uma vez atingido o desejado, querer voltar atrás, mesmo que sinta impulso para isso, pois não daria certo. O rumo dessa pessoa é o avanço para frente, o realizar coisas. Talvez seu rumo a mantenha à parte das atividades e interações internas do grupo e ela seja autossuficiente, mas ainda assim faz parte do grupo, contribui para o seu engrandecimento e, de uma certa forma, o protege.
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HEXAGRAMA 38: DIVERGINDO CONSTRUTIVAMENTE
JULGAMENTO: “Divergir construtivamente é benéfico em assuntos simples.” A situação enfocada pela consulta está dominada pela separação, pela divergência, pela falta de conexão entre os seus vários elementos, e isso não permite que as coisas se desenvolvam conforme seria desejável, porque não há união derivada de um objetivo comum, de afeto mútuo, ou de uma única liderança. Mesmo que as coisas ou as pessoas estejam juntas numa atividade, estão separadas pelas suas finalidades ou ideais. Se estiverem unificadas no ideal, estarão separadas na atividade. Assim, não adianta o sujeito da consulta acalentar, neste momento, grandes projetos ou esperanças, porque enfrentar os problemas decorrentes da divergência ou separação vai consumir quase toda a sua energia e ele só poderá realizar pouca coisa. À medida, porém, que as questões parciais forem sendo resolvidas, as coisas irão, pouco a pouco, se fechando, se concluindo e ficando para trás, de modo que, quando se der conta do que passou, o sujeito verá que chegou a um ponto, que fez alguma coisa, concluiu alguma etapa talvez, e terá chegado o momento de reorganizar-se. A separação aqui representada resulta da coexistência de tendências divergentes e de mesmo peso dentro da situação: não há uma tendência que se sobreponha às outras, todas estão no mesmo nível de importância e força. Essas tendências podem coexistir dentro da própria pessoa sujeito da consulta, dentro da questão objeto da consulta, entre o sujeito e o objeto, entre o sujeito e o mundo, entre o objeto e o mundo, etc. Os tipos de fatores desconexamente coexistentes apresentados pelo hexagrama são basicamente os seguintes: fogo / água; agitação / calma; energia / apatia; ação expansiva / ação recolhida; ação inflamada / ação desapaixonada; agir / falar; verão / outono; sul / oeste; dependência / contentamento; Elisabete Araujo Leonetti
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ataque frontal / teimosia; luz total / meia luz; olho - percepção - consciência egocentrismo;
do mundo / boca - expressão –
percepção profunda / comunicação superficial; secura / umidade. Como se observa, há alguns fatores em que a distinção dos elementos do par não se manifesta por uma divergência, mas simplesmente por uma diferença. A verdade é que ou o sujeito ou o objeto da consulta, ou ambos, tais como se apresentam no momento, encerram em si uma divisão, a qual prejudica a sua capacidade de se concentrar para a realização de grandes coisas. Por todos os lados por onde se olhe a divisão existe; não há como negá-la. Conviver com ela não é impossível, mas é algo que não deve ser projetado para um período longo de tempo, porque a desunião prolongada leva a um isolamento total, com um tolhimento maior ainda da capacidade de ação. O importante é que há ou deve haver uma tentativa de superar a separação através do encontro, da harmonização. A proposta do Yi Jing é de que não se tente modificar essencialmente as partes, mas, sim, que se tente reorganizá-las, utilizando as diferenças como complementaridades, de modo a tirar o melhor proveito possível delas e conseguir avançar. Se se trata de algo cuja solução depende do sujeito da consulta, este deve tentar se colocar numa outra perspectiva face à questão. A partir desta nova perspectiva deve olhar cada fator com novos olhos e, respeitando o que cada um é, deve tentar reposicioná-los de forma que elementos diferentes passem a se apoiar mutuamente ao invés de simplesmente estarem dissociados ou mesmo divergirem. IMAGEM: “Acima o fogo, abaixo o lago: a imagem da DIVERGÊNCIA CONSTRUTIVA. Assim, o sábio discrimina e, ao mesmo tempo, unifica.” O conselho da Imagem reforça a idéia de que diferenças devem ser reconhecidas e aproveitadas, e não negadas ou ignoradas, e muito menos encaradas como adversidades. Isso se aplica às coisas e pessoas em geral, e também ao próprio consulente. Este, bem como o sujeito da consulta, deve reconhecer e valorizar aquilo que distingue as coisas e pessoas umas das outras e, também, aquilo que o distingue dos outros sem, por isso, deixar de promover o relacionamento entre tudo e todos. Apenas não se deve fazer confusão: cada ser humano é essencialmente separado dos demais e do Elisabete Araujo Leonetti
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mundo; apesar disso, deve unir-se aos demais e harmonizar-se com o mundo. O resultado é que em alguns aspectos haverá convergência e em outros, divergência, mas sempre dentro da consciência do conjunto. No plano pessoal, o conselho para quem obteve este hexagrama é basicamente o de adaptar a conveniência individual à necessidade de harmonia coletiva. No plano da consecução de objetivos, o conselho é tirar o melhor partido das diferenças entre os vários componentes da situação. 1ª LINHA (9): “O remorso desaparece; se perder um cavalo não o persiga porque voltará por si mesmo, se encontrar pessoas odiosas não haverá erro.” Aparentemente a pessoa da 1ª linha teria motivos, sim, para lamentar-se ou duvidar da correção de suas ações: foi separada de algo ou de alguém importante para ela, que lhe dava apoio, segurança, mobilidade, e ainda tem de enfrentar um contato com elementos contrários a ela, perigosos e traiçoeiros, insinuantes e espertos, maus. Mas afastar-se do que se gosta e ter de conviver com o que não se gosta faz parte da vida, não é culpa da pessoa e pode ser aproveitado como um aprendizado para evitar erros no futuro. É claro que essa separação pode ter sido provocada pela própria pessoa, o que não faz diferença quanto ao resultado final: ela está sem, e talvez tendo de enfrentar um antagonismo. Entretanto, o oráculo revela que a situação negativa é passageira e logo será resolvida: haverá o retorno ou recuperação daquilo que foi afastado (ou virá algo que o substitua), e o contato com determinados elementos não causará dano mas, ao contrário, servirá como proteção contra possíveis danos, porque, tendo-os visto antes, a pessoa poderá se precaver, preparar-se para aquela convivência. Duas recomendações são feitas para garantir os resultados previstos: 1º) Não tomar a iniciativa de reaproximação ou de recuperação do elemento afastado. 2º) Agir com tato e cautela no contato com os elementos inferiores, a fim de não se envolver com eles e não ser induzido a erros. A tendência da pessoa da 1ª linha, porém, é de agir com decisão e tomar a iniciativa. Ela teria que se refrear nesta ocasião, mas pode ser que não o consiga. Se não o conseguir, tal atitude poderá pôr tudo a perder. 2ª LINHA (9): “Deparar-se com seu senhor numa viela não é um erro.”
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A pessoa da 2ª linha está, dentro da situação enfocada pela consulta, comodamente instalada, numa posição que lhe é fácil manter, porque a posição em si não exige demais dela e principalmente porque ela possui ou adquire bons relacionamentos ou assessoramentos naquele contexto, mais por sorte do que por esforço. Segundo o Yi Jing, um dos relacionamentos da pessoa da 2ª linha é realmente importante e fundamental para o desenvolvimento da questão da consulta, pois se dá com o elemento que vai praticamente comandar o desenrolar da situação. A origem desse encontro é fortuita (ou quase), o que se deve ao fato de que os dois frequentam ambientes equivalentes, circulam na mesma área ou em áreas próximas. Estando no seu caminho normal, que é o correto para ela, a pessoa não precisa se desviar para encontrar o seu colaborador. Quem anda no seu caminho certo encontra aquilo que lhe é adequado, por isso o encontro não é um erro. Embora estivessem separados, por serem diferentes ou por outro motivo, a partir do momento em que se encontram passam a conjugar as suas diferenças para a consecução de um objetivo comum. Se elemento encontrado for um indivíduo, aliará o seu dinamismo, realismo, inteligência e ação flexível à persistência, otimismo, visão e discurso teórico da pessoa da 2ª linha. No hexagrama, a pessoa com quem o sujeito da 2ª linha se depara é representada pela pessoa da 5ª linha; mas, no caso real da consulta, principalmente se não houver outras pessoas envolvidas, esse elemento que se encontra pode também ser um aspecto do próprio sujeito, o qual esteja esquecido e ele precise ativar para resolver a questão. Ou pode ainda ser uma idéia, um engenho, uma coisa qualquer com que se depara e que é de grande utilidade para o andamento da matéria da consulta. Com a colaboração aqui descrita, a ação tende a se desenvolver com relativa facilidade, a partir de um impulso inicial dado com decisão. Há perspectivas de que a pessoa da 2ª linha venha a resolver satisfatoriamente e de uma forma justa a questão que a motivou a consultar o oráculo. 3ª LINHA (6): “Vê-se uma carroça puxada [mas com] seus bois retidos, seu ocupante é um jovem com o nariz cortado; não há começo mas há um fim.” O sujeito da 3ª linha está em grandes dificuldades. Ele pode ser o próprio sujeito da consulta ou alguém a quem este é muito ligado. Está entre duas tendências divergentes diametralmente diferentes, como o fogo e a água, e talvez seja isso o que o enfraqueça, pois se trata de uma posição incorreta e instável.
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A situação toda é muito negativa e o seu único consolo é saber que ela terá um fim, que a estabilidade será reencontrada. A consciência de que está entrando num ciclo de complicações e o não poder evitá-lo provavelmente aumentam o sofrimento. A pessoa não pode sequer pensar em avançar, pois não só o seu avanço é detido como ela e aqueles que a acompanham e ajudam são obrigados a retroceder um pouco do ponto em que estão. Apesar de ser nova, de ter pouca experiência no assunto da consulta ou de estar apenas iniciando uma atividade, a pessoa já é ou foi responsabilizada por erros e punida duramente, e traz as marcas da agressão que sofreu: ela não esqueceu. Se algum erro houve da parte da pessoa da 3ª linha, foi o de falar demais, se expor demais, ou agir inconsequentemente. Nem a presença de amigos ou de ligações mais fortes consegue livrála de circunstâncias adversas ou do ataque dos que lhe são antagônicos. Ela é impotente para solucionar qualquer coisa neste momento: pode apenas observar, entender e assimilar o que acontece. Porém, mesmo com todas as adversidades a pessoa não é destruída. Chega a hora em que as dificuldades cessam e ela consegue, sozinha ou com ajuda, recuperar a capacidade de ação e a alegria, agora fortalecidas pelo domínio da razão e pela satisfação consigo mesma. Ela evoluirá tanto que talvez esteja em condições de oferecer alguma coisa até mesmo às pessoas de posição mais elevada no meio em que vive, mas não deve tentar fazê-lo se a sua posição não for alta também, pois aí teria prejuízo. 4ª LINHA (9): “Divergindo e isolado, depara-se com um grande homem ao qual se une com confiança; a prudência não é um erro.” Apesar de, a princípio, estar sozinho e entregue a si mesmo, o sujeito da 4ª linha encontra ou encontrará em breve alguém que representará para ele companhia, solidariedade e apoio. Trata-se de alguém semelhante a ele nos aspectos de dinamismo, iniciativa e modo de agir, porém mais forte do que ele, mais confiante e otimista, mais bem posicionado. A partir dessa união a separação e o isolamento são superados e o avanço progride. A união também pode ser com mais de uma pessoa. A pessoa da 4ª linha, ademais, está dentro de um foco de complicações ou de riscos, e tem consciência disso. Ela quase não tem condições de agir: seu potencial de ação é relativamente grande, mas seu campo de ação é bastante restrito. Por isso o oráculo lhe recomenda muito cuidado, prudência, reserva e controle nos movimentos. A afirmação de que uma atitude prudente não é errada deve-se provavelmente ao fato de que pessoas muito próximas à da 4ª linha
Elisabete Araujo Leonetti
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possuem tendência a agir e falar irrefletidamente e podem fazer pouco caso da prudência dela, julgando-a um erro. Mas não é. Na evolução dos acontecimentos, a pessoa estará mais equilibrada em termos emocionais e em termos de adequação às suas reais condições e possibilidades, mas continuará com a dupla tendência à ação e à inação, e com a forte ligação à companhia que encontrou. Esse conjunto de circunstâncias fará com que diminuam bastante as suas dificuldades. 5ª LINHA (6): “O remorso desaparece; comendo carne com membros do seu clã, avançando, ainda que desordenadamente, como [poderia] errar?” Para a pessoa da 5ª linha, aquilo que a separa de seu objetivo é superado sem que ela precise executar nenhum ato de vontade específico, mas simplesmente deixando-se ajudar pelos parceiros e deixando-se levar pelas circunstâncias. Como isso está de acordo com a sua natureza e como ela não impõe nada aos outros, mas apenas aceita o que eles lhe oferecem - que é união e colaboração - ela não incorre em erro algum e por isso não terá do que se arrepender. Já está saindo da esfera do perigo. Aqueles que, por relações de parentesco, amizade, coleguismo, subordinação ou outras, deveriam colaborar com a pessoa da 5ª linha, mas estão separados dela por algum motivo, tratam de, por iniciativa própria, eliminar tudo o que estiver provocando divergência e aproximam-se dela de uma forma franca e aberta. Diante disso, a pessoa da 5ª linha sente-se encorajada a não só aceitar o seu apoio, sem risco de errar, como até mesmo a dar mostras de interesse na união. Por outro lado, durante todo o tempo os companheiros mais próximos da pessoa permanecem estreitamente ligados a ela e lhe dão apoio valioso, contribuindo para o aclaramento das idéias e aprofundamento das questões, escutando o que se diz e vendo o que se faz, mantendo-a assim informada dos fatos. No futuro esses companheiros permanecerão junto da pessoa da 5ª linha, submetendo-se voluntariamente à sua vontade, devido à forte ligação entre eles. É dessa maneira que a pessoa avança na direção desejada, se fortalece, torna-se mais decidida e pode prosseguir no seu rumo. Mesmo que venha a defrontar-se com situações delicadas, complicadas, terá condições de sair-se bem porque saberá manter a vigilância e a prudência. 6ª LINHA (9): “Divergindo e isolado, vê um porco derrotado e sujo numa carroça de aspecto maligno. Primeiro estende o arco e depois o desarma, porque o que parecia um invasor é alguém que quer fazer um acordo e se casar. Elisabete Araujo Leonetti
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Avançando, ainda que desordenadamente, encontra chuva e, como consequência, benefícios.” Com relação ao assunto da consulta, num momento inicial a pessoa da 6ª linha encontra-se em solidão e isolamento. Ela vê os perigos e alegrias pelos quais todos passam, sabe que tudo aquilo faz parte da situação tal como é, mas ao mesmo tempo sente como se ela mesma não participasse verdadeiramente daquele contexto. O seu nível - de consciência, social, cultural, ou outro - é tão alto que a distancia do mundo. No entanto, ela ainda faz parte do mundo e, na interação entre o mundo e ela, ou entre o outro e ela, algo a assusta: o aspecto inferior e vil das coisas e das pessoas. Este é o aspecto que o mundo mostra espontaneamente, porque é a sua realidade. No hexagrama, a interação do sujeito da 6ª linha com o mundo, ou com o outro, pode ser representada pelo seu encontro com a pessoa da 3ª linha. Sentindo-se ameaçada pelo que se lhe apresenta, a pessoa da 6ª linha arma-se para defender-se. Porém, pela sua capacidade de percepção, consegue perceber que o outro não pretende atacá-la. Ela entende que, se ele se apresenta daquela maneira desagradável, que a incomoda, é simplesmente porque aquela é a sua maneira habitual de ser. Tratando-se de uma interação com pessoas, elas talvez se mostrem agressivas porque, apesar de jovens e inexperientes, ou bem-intencionadas, ou inocentes foram, por sua vez, agredidas e segregadas. Assim a pessoa da 6ª linha se dá conta de que não há intenção de dano por parte de quem se aproxima dela, mas, ao contrário, a intenção é de união, e se desarma. Num certo sentido a pessoa da 6ª linha está em posição de superioridade sobre o outro, mas custa a perceber isso. Então, num segundo momento, a pessoa consente no encontro, se move em direção ao outro, e desse encontro resulta um relaxamento de tensão, um alívio, uma harmonização, uma situação em que todas as suspeitas desaparecem e se eliminam os vestígios do estranhamento anterior, ao mesmo tempo em que se aprofunda a relação, trazendo a possibilidade de um bom desenvolvimento para a questão da consulta. No futuro, a união originada desse encontro deverá continuar e até mesmo se formalizar, mas será uma união estéril, provavelmente só próforma, vazia de conteúdo e de vida, da qual nada frutificará. Na melhor das hipóteses, a união ou o acordo, o negócio, se manterá, mas não prosperará, não será muito produtiva, mas também não trará nada de ruim. Isso é especialmente verdadeiro se o consulente obteve só esta linha móvel. Se obteve também outras, fica apenas o alerta para prestar atenção na relação e não ter expectativas exageradas. Abro um parêntese aqui para explicar porque a relação apontada entre as pessoas da 6ª e da 3ª linhas acaba sem força e estéril. A razão Elisabete Araujo Leonetti
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disso é que entre as duas há, por um lado, diferenças muito grandes para serem superadas definitivamente; e, por outro lado, semelhanças que resultam em rivalidade. As semelhanças consistem em que ambas possuem capacidade de percepção, ambas têm consciência da sua verdadeira situação e valor, ambas são inadequadas às posições em que se encontram, e ambas têm o desejo de superar as próprias limitações, que é o que as leva a, num determinado momento, conjugarem seus esforços. As diferenças são principalmente de: a) Ponto de vista – a pessoa da 6ª linha é mais experiente ou mais velha, vê tudo desde uma perspectiva mais abrangente; a da 3ª é mais inexperiente ou mais jovem, vê as coisas com muita agudeza e profundidade, mas não vê tudo. b) Disposição a riscos - a pessoa da 6ª linha está numa boa posição, embora inadequada às suas possibilidades, e não lhe convém perder nada; a da 3ª está numa posição crítica, já perdeu o pouco que possuía, não lhe resta praticamente nada, de modo que não lhe importa arriscar tudo. Cumpre ainda ressaltar que, ao longo de todo o processo da questão da consulta, a pessoa da 6ª linha mantém, paralelamente, uma relação que é secundária ao assunto da consulta, mas que é essencial relativamente a ela mesma, como indivíduo. Trata-se do relacionamento com alguém que, embora seja, em certos aspectos, superior à pessoa da 6ª linha, é aberto e receptivo a ela, precisa da sua colaboração e a aceita de bom grado, vendo nessa cooperação uma maneira de se elevar acima dos problemas e necessidades. Esse relacionamento faz bem à pessoa da 6ª linha, contribui para a construção da sua identidade pessoal e ambos manter-se-ão solidários no futuro. No hexagrama, essa relação é representada pela 5ª linha. Se a 5ª e a 6ª forem as únicas linhas mutantes obtidas, é sinal de que essa relação tende a prevalecer sobre a outra, anteriormente mostrada, e as perspectivas para o futuro são mais amenas e alegres.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 39: OBSTRUÍDO PELAS DIFICULDADES
JULGAMENTO: “OBSTRUÍDO PELAS DIFICULDADES o sudoeste é conveniente, mas não o nordeste. É conveniente ver ao grande homem, insistir é benéfico.” Este hexagrama nos avisa que, em relação ao assunto da consulta, estamos com o avanço impedido por obstáculos que não temos condições de remover e que não sairão do nosso caminho por enquanto. É preciso parar, deter o avanço temporariamente, ocupando-nos de outras coisas, pois nada será resolvido por ora: nem os obstáculos vão desaparecer, nem o sujeito da consulta vai conseguir superá-los, por mais que pense, que se detenha, que se retire ou que busque ajuda. Os únicos fatos claros no momento são que o caminho para aquilo que se quer está obstruído e não se deve avançar, mas sim parar. Porém não é para perder o objetivo de vista, não é para desistir de tudo imediatamente: o sujeito da consulta apenas deve ficar reservado e quieto, parado, porque avançar, do ponto em que está, nas condições em que está, não vai levar a nada. Talvez somente faça com que se defronte mais rapidamente com obstáculos que não pode remover. Enquanto isso, deve procurar orientação para tentar resolver o problema mais adiante, ou para aceitar as circunstâncias presentemente, ou para o que for necessário. Se a questão envolver definição de local ou de posição, a indicação é de que o sul, o oeste, o sudoeste ou o mais para baixo são mais convenientes, em oposição ao norte, leste, nordeste ou o mais para cima. Não é para procurar amigos ou colaboradores para tentar solucionar a questão já, através do enfrentamento direto e imediato. Pelo contrário, deve procurar a reunião com amigos para distrair-se do problema, sentirse apoiado,ocupar-se com outras coisas, prestar atenção em outras pessoas, expandir-se por campos que não ofereçam dificuldades. Assim, pelo menos, encontrará seu equilíbrio. Procurar companheiros para lutar contra o obstáculo não vai trazer o resultado esperado, agora. A única coisa possível e positiva a fazer neste momento, com relação aos obstáculos que obstruem o progresso na direção desejada, é parar de tentar vencê-los e buscar aconselhamento para ver o que fazer depois, mais adiante. Esse aconselhamento pode ser com uma entidade ou pessoa que entenda bem do assunto em questão e em cuja opinião confie, ou pode ser consigo mesmo, num processo de investigação e consulta interior. E também pode, naturalmente, ser com o próprio Yi Jing ou algo congênere. Elisabete Araujo Leonetti
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A única grande vantagem dessa situação trancada é que ela pode servir para o autoconhecimento. Resumindo esquematicamente a resposta do Yi Jing, podemos dizer que: O avanço está impedido; a pessoa tem que parar, buscar o equilíbrio interno, evitar o caminho obstruído, mas não desistir do que quer. Desse modo as coisas deverão se acertar. Todo esse processo serve para o autoconhecimento. Essa é a previsão básica para quem obteve este hexagrama como primeiro ou como segundo da consulta, tanto faz. Se houve linhas mutantes, estas darão detalhes importantes sobre a situação da pessoa e sobre a conduta mais conveniente a adotar. O conselho da Imagem serve a todos os que estão na circunstância de caminho obstruído. IMAGEM: “Acima da montanha há água OBSTRUÍDA. Assim, o sábio se volta sobre si mesma e desenvolve seu potencial.” Os obstáculos ao avanço obrigam a uma parada forçada. Não podendo mesmo avançar, a pessoa sábia aproveita este momento para o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal interno. É uma maneira de não desperdiçar este tempo e de estar mais preparado quando chegar a hora de prosseguir, pois dessa introspecção poderão surgir alternativas de comportamento perante as obstruções. 1ª LINHA (6): “Avançar desordenadamente leva a obstáculos, recuar, a elogios.” Esta linha recomenda esperar, pois o avanço está impedido. Para a pessoa que obteve esta linha, ficar onde está ou mesmo retroceder um pouco está correto e terá a aprovação dos outros. Ao contrário, se quisesse avançar, não teria apoio de ninguém. Provavelmente a pessoa preferirá mesmo esperar, pois a sua tendência, neste momento, é mais passiva do que ativa, e ela está numa posição em que não tem total autonomia nem visão global da situação. Sabendo parar na hora certa ela finaliza a sua atuação até aquele ponto e, ainda que algo tenha ficado insatisfatório ou incompleto para ela, para os outros estará bem e ela deve se contentar com isso por enquanto. 2ª LINHA (6): “Um vassalo do rei enfrenta obstáculos após obstáculos, mas não causados por ele.” Elisabete Araujo Leonetti
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Esta linha mostra a pessoa que tenta avançar a fim de prestar uma ajuda ou um serviço a outra(s), e não o consegue, devido aos obstáculos que surgem e se superpõem uns aos outros. O oráculo frisa que nem a tentativa de avanço em tais condições adversas nem as obstruções que surgem são provocadas pela própria pessoa, pela sua vontade, mas decorrem de ordem externa ou necessidade interna. De qualquer modo, existe algo que força a pessoa a agir naquele sentido, independentemente dos seus desejos ou impulsos íntimos. Ao final, a pessoa não consegue se desincumbir integralmente da sua função e aquilo que ela tem a oferecer, a apresentar, permanece quase todo obstruído ou perdido. Mas ninguém a censura por isso, pois não houve culpa de sua parte e, na verdade, ninguém a ajudou. 3ª LINHA (9): “Avançar desordenadamente leva a obstáculos, por isso recua e retorna.” Esta linha mostra o caso em que a pessoa tenta avançar em direção ao que quer, mas percebe que o caminho está obstruído e por isso volta. Também pode ocorrer que ela apenas cogite avançar e, vendo a dificuldade, resolva ficar onde está. Esta decisão da pessoa, de voltar ao lugar ou ao grupo a que pertence, ou de ficar aí desde logo, causa contentamento aos de dentro desse grupo ou lugar, que gostam dela. Os obstáculos consistem de pessoas erradas, cujo contato ou sociedade seria prejudicial ao sujeito da linha. 4ª LINHA (6): “Avançar desordenadamente leva a obstáculos e recuar relacionamentos.” Esta linha mostra o caso em que, se a pessoa avançar, se prosseguir naquilo que constitui o seu intento na matéria da consulta, encontrará obstáculos que não a deixarão concluir a ação resolutamente; ao passo que, se utilizar sua capacidade de percepção para tomar consciência dos riscos, e deter-se, isso a levará, pelo próprio fato de parar e ficar disponível, a um envolvimento, seja com pessoas, seja com atividades. Aí ela deve perseverar nesse envolvimento, pois lhe será benéfico. É importante, para a pessoa que obteve esta linha, evitar a superficialidade, a leviandade e, principalmente, a indecisão: claro entendimento com a razão e profundo envolvimento com o coração são as atitudes recomendadas. 5ª LINHA (9): Elisabete Araujo Leonetti
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“Grandes obstáculos, mas chegam os amigos.” Esta linha revela que a pessoa recebe ajuda em meio às dificuldades. Aparentemente ela não tem para onde ir, não tem como fugir das obstruções, está trancada. Os amigos, porém, vêm a ela, prestando ajuda, inclusive material, e demonstrando apreço. Isso ocorre devido à sua maneira de ser, modesta, justa e equilibrada (pelo menos no que toca à matéria da consulta), o que influencia quase todos os envolvidos na situação e obtém sua solidariedade e apoio. Porém, contra aqueles que não a seguem ou que não se solidarizam com ela a pessoa não deve ser modesta e condescendente, mas sim agir com firmeza, a fim de garantir o bom desenvolvimento da questão, apesar das obstruções. Se a consulta for sobre uma terceira pessoa, obter esta linha pode ser uma recomendação ao consulente para que vá em auxílio da outra, caso esta se defronte com dificuldades. 6ª LINHA (6): “Avançar desordenadamente leva a obstáculos; recuar, a crescimento e a benefícios. É conveniente ver ao grande homem.” Esta linha diz à pessoa que ela não deve avançar, não deve prosseguir em direção ao que deseja, seja este desejo algum sucesso específico dentro do assunto da consulta, seja afastar-se de vez daquele assunto. Ela não deve avançar não só porque isso não levaria a nada, pois encontraria obstruções mais adiante, mas também, e principalmente, porque aquilo que é mais importante para ela, que constitui o seu querer mais forte ou que pode levá-la à realização e ao crescimento, está junto ao grupo ou ao lugar a que pertence. Ou seja, ela não deve tentar buscar longe o que se encontra ali mesmo. A única coisa que deve procurar é orientação e aconselhamento, ou simplesmente o exemplo de alguém em quem confie, para melhor desincumbir-se das suas tarefas. At rav é s d e s s e c o m p o r t a m e n t o a p e s s o a d e ve r á s u p e ra r gradualmente os obstáculos e, ao mesmo tempo, tornar-se mais sábia e mais desenvolvida espiritualmente e/ou moralmente. Se a consulta for sobre outra(s) pessoa(s), e o consulente, que obteve esta linha, é alguém capaz de fornecer algum esclarecimento ou conselho a ela(s), deve fazê-lo.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 40: LIBERANDO TENSÕES
JULGAMENTO: “LIBERANDO TENSÕES: o sudoeste é conveniente. Não tendo aonde, ainda que desordenadamente, certamente é benéfico voltar sobre seus passos. Tendo aonde ir, inclusive desordenadamente,b é benéfico fazê-lo logo.” Obter este hexagrama significa que, com relação à realidade enfocada pela consulta, deverá ou deveria ocorrer uma liberação, o sujeito da consulta livrando-se de algo que o oprime, que o sufoca, o que pode conduzir, por sua vez, a novas liberações, numa sequência encadeada. Há uma descarga e um alívio de tensão e, seja pela consecução do que se queria, seja pela desistência e abandono da questão, a pessoa fica livre da opressão. Por isso, dentro da situação de liberação está implícita a superação de uma etapa: algo já passou, já foi atravessado e não precisamos mais nos preocupar com aquilo. Esta resposta do oráculo pode ser a explicação de algo que já aconteceu, a previsão do que vai acontecer, ou uma recomendação ao sujeito da consulta para que, no presente, se livre daquilo que constitui o ponto preocupante da matéria da consulta. Para a efetivação da liberação é conveniente executar alguma ação com apoio ou companhia de outra ou outras pessoas. Essa ação poderá ser regressiva ou progressiva. Deverá ser regressiva quando a pessoa já esgotou as suas possibilidades de avanço na matéria e/ou não tem nenhuma meta em vista, está sem projetos. Nesse caso, a liberação dar-se-á através do abandono do campo de luta, retornando-se às condições normais anteriores ao início da opressão e da tensão. Isso libera porque faz com que o equilíbrio seja reencontrado. Deverá ser progressiva quando ainda há coisas a fazer, tarefas a cumprir, objetivos a alcançar, projetos a realizar. Nesse caso, a liberação dar-se-á através da ação pronta e decidida, ultrapassando logo o impasse, escapando do perigo, desobrigando-se do afazer, etc. Isso libera porque traz, além do alívio da tensão, a certeza do mérito pelo cumprimento da missão.
Elisabete Araujo Leonetti
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IMAGEM: “O trovão e a chuva se manifestam, LIBERANDO TENSÕES. Assim, o sábio perdoa as faltas involuntárias e pune com indulgência as deliberadas.” No processo de liberação, seja do que for, não há lugar para mesquinharias, ressentimentos, vinganças, cuja presença pode, inclusive, atrapalhar o processo. Assim, o conselho do Yi Jing é de que a pessoa não se prenda a erros ou ações negativas, próprias ou alheias, mas esqueça-as, se possível, ou efetue, se necessário, a menor punição cabível, a fim de não alimentar e realimentar um encadeamento de ações e sentimentos prejudiciais. A tendência do momento é de aliviar as tensões e liberar de prisões, culpas e obrigações. 1ª LINHA (6): “Não há erro .” A obtenção desta linha assegura a correção daquilo sobre que se consulta o oráculo e afirma a ausência de erros na atuação do sujeito da consulta. A correção deriva de a pessoa manter bons relacionamentos, além de ter fortes pontos de apoio que compensam os seus pontos fracos. O resultado é que, embora numa posição um tanto precária e sem completa autonomia, a pessoa consegue realizar coisas que evoluem positivamente, especialmente no sentido da liberação de problemas ou tensões, que é o movimento principal apontado por este hexagrama. 2ª LINHA (9): “Caça três raposas no campo porque tem flechas amarelas, insistir é benéfico.” Esta linha mostra a pessoa alcançando resultados bons, concretos e difíceis de obter. Ela o consegue graças à sua conduta equilibrada, mediadora, bem definida e dirigida certeiramente para os seus objetivos. Além disso, a pessoa tem bom conhecimento de si mesma e da situação em redor. Os resultados obtidos podem ser a liberação de problemas ou empecilhos tais como: a ignorância, a cobiça ou a inveja, e o medo ou a violência. Enfim, há uma superação de fatores negativos. O Yi Jing recomenda que se persista nessa conduta. Se necessário, a pessoa deve restringir-se a si própria em função daquilo que deseja, e manter-se firme. Desse modo prevenirá excessos (os excessos sempre podem provocar desequilíbrios) e terá bom desenvolvimento na matéria da consulta.
Elisabete Araujo Leonetti
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3ª LINHA (6): “Carregar um fardo viajando numa carruagem, atrai a chegada de ladrões. Insistir é humilhante.” A mensagem principal desta linha é a de que a ostentação de riqueza e poder gera inveja e cobiça, especialmente entre as pessoas ignorantes, violentas ou sem escrúpulos; e de que, se persistir nessa atitude, o sujeito da linha poderá ser vítima de perdas. O sujeito da linha - qualquer que seja a sua condição - age ostensivamente, demonstrando poder e riqueza, exibindo suas vantagens e qualidades, e com isso atrai atenção negativa, inveja, cobiça, e gera ataques, roubos, prejuízo e vergonha, humilhação. Mesmo tendo meios e ocasiões para tal, o sujeito não consegue - ou não conseguiu até o momento - promover a liberação. Não aproveita plenamente a chance de elevar-se ou de livrar-se de algum fardo, compromisso, sentimento, comportamento, enfim, de algum fator que o puxa para baixo, fazendo-o continuar preso a condicionamentos antigos. Assim, a oportunidade passa - talvez outros a aproveitem - e ele fica sem nada e ainda por cima sentindo-se culpado e humilhado ou envergonhado. Talvez até seja desprezado pela sua conduta falha. A previsão é muito ruim para esta linha. A pessoa que a obteve deveria tratar de manter-se correta nas suas atitudes e resoluções, mostrando um caráter sólido e durável, digno de ser aceito nos círculos mais elevados, a fim de não provocar sua própria ruína. 4ª LINHA (9): “Libera seu polegar e o amigo chega e nele se pode confiar.” Para a pessoa da 4ª linha, o processo de liberação, de solução dos problemas ou de alívio das tensões inclui o abandono de uma postura vigilante e desconfiada, pronta para atacar e também exige o afrouxamento de relações em que a pessoa desempenha o papel de líder ou de influência dominante, pois ainda não está preparada para estas funções. Ao invés dessas atitudes, ela deve adotar uma postura mais relaxada, de espera e observação, e, principalmente, deve tentar estabelecer com os outros laços de verdadeira amizade, confiando neles em vez de vigiá-los e tentar dominá-los. Desse modo poderá integrar-se bem no seu meio, aproveitar melhor o momento presente e ter uma noção de conjunto da realidade que se lhe apresenta, com tranquilidade, sem pressão. Enquanto não se liberar da atitude vigilante, defensiva ou atacante, as pessoas amigas ou os fatores favoráveis ao seu desenvolvimento, na questão da consulta, não se aproximarão ou não se revelarão. Elisabete Araujo Leonetti
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Se quiser resolver tudo imediatamente, poderá se confundir e se perder. 5ª LINHA (6): “Somente um sábio se libera; é benéfico ter confiança no homem inferior.” Esta linha mostra a pessoa que consegue a liberação, a remoção dos obstáculos ou o alívio das preocupações e tensões através de meios ordenados e civilizados, obtendo ajuda de fatores os mais singelos ou de pessoas que estão em posição inferior à sua. Estas pessoas acreditam e confiam nela, e deixam a seu encargo a condução das coisas. Se a pessoa estiver inclinada a reagir com raiva e agressividade às contrariedades que a fazem sofrer, deve procurar acalmar-se, inclusive por meio de orações ou de outras práticas espirituais, porque somente através de um comportamento socialmente ajustado é que conseguirá a liberação. 6ª LINHA (6): “O príncipe flecha um falcão que está no topo de uma alta muralha e o colhe; nada que não seja conveniente.” Esta linha revela que a pessoa precisa liberar a sua violência - raiva, agressividade, revolta, seja o que for - para se ver livre da violência, própria ou alheia. A ação tem que ser bem pensada, bem determinada e de rápida execução, a fim de surtir o efeito desejado. Agindo desse modo, a pessoa estará certa e terá tudo a seu favor; porém, não deve se exceder, nem na violência, nem na comemoração do sucesso, principalmente enquanto a liberação ainda não estiver totalmente consolidada.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 41: DIMINUINDO O SUPÉRFLUO
JULGAMENTO: “DIMINUIR O SUPÉRFLUO com confiança é fundamentalmente benéfico e sem erro, pode-se insistir, sendo conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente. Como fazê-lo? Podem-se usar duas pequenas tigelas para o sacrifício.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing indica a ocorrência de um decréscimo naquilo que constitui o principal da questão da consulta. O decréscimo pode estar no passado, no presente ou no futuro, conforme o tempo a que se refira a pergunta ou conforme este hexagrama seja o primeiro ou o segundo obtido. Muitas outras variantes são possíveis, pois a circunstância de ser diminuído, de sofrer um decréscimo, aplica-se a inúmeros fatores e pode se revestir de diversos aspectos. Através da questão formulada é que se vai determinar qual elemento é diminuído e qual o caráter da diminuição naquele caso específico. Segundo o Yi Jing, a diminuição apresenta sempre a contrapartida de um aumento. Quer dizer: se alguma coisa é diminuída, uma outra é aumentada; se há um decréscimo aqui, há um acréscimo ali. Entretanto, embora isso seja verdade em termos gerais, nem sempre é verdadeiro na situação imediata do sujeito da consulta, pois, com frequência, aquilo que é diminuído faz parte da sua realidade palpável, das coisas que compõem a sua vida, e aquilo que é aumentado fica longe dele (em termos espaciais, temporais, sociais ou de importância); não faz parte da sua vivência, de modo que ele só percebe e sente o decréscimo: o aumento correspondente situa-se fora do seu alcance. Outras vezes, o elemento diminuído é o positivo, o da afirmação da existência de alguma coisa, e o elemento aumentado é o negativo oposto, resultando isso em perda, carência, negação. É por isso que o hexagrama se chama apenas diminuindo: porque a diminuição é a situação que, seguramente, atinge o objeto da consulta. Embora cada caso seja único, o próprio hexagrama indica alguns fatores que, na questão colocada, estão muito sujeitos a sofrer decréscimo: - abastecimento; - conversação; - alegria; Elisabete Araujo Leonetti
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- companhia; - movimento; - sensualidade; - frivolidade, superficialidade; - prazeres fáceis; - agitação nervosa. Em contrapartida, tendem a avolumar-se: - escassez; - silêncio; - recolhimento; - solidão; - imobilidade; - espiritualidade; - profundidade; - aspirações elevadas; - calma interior. Apesar desse quadro geral, a previsão do oráculo não é ruim. Em primeiro lugar, há o fato de que nem a situação é enganadora, nem o sujeito da consulta pretende enganar ou se sente traído: a diminuição se revela e isto, se não corresponder às expectativas, pelo menos dará a segurança do conhecimento, de se saber o rumo que as coisas estão tomando. Por outro lado, é assegurado que esse rumo é benéfico para o sujeito da consulta e há possibilidade de um bom encaminhamento das ações, de tal forma que é recomendado insistir na direção daquilo que se quer, pois o que se quer é correto e a pessoa também não está incorrendo em erros. É recomendado também que se queira alguma coisa: não é porque uma diminuição se apresenta que os objetivos devem ser abandonados. Pelo contrário, devem ser mantidos e alimentados com os recursos de que se disponha, mesmo que sejam parcos. Ainda que poucos, serão suficientes para o bom desenvolvimento da questão. A pessoa deve fazer aquilo que estiver dentro das suas possibilidades e não se incomodar se estas forem menores do que antes ou menores do que gostaria. Está implícita, na situação de decréscimo, a reposição daquilo que é retirado. Se, como vimos, o aumento é a contrapartida da diminuição mas pode estar muito distante, a possibilidade de reposição (a qual pode ser através de uma substituição) está no meio mesmo do processo. Os lugares não devem ficar vazios. Há um movimento constante no mundo que busca o equilíbrio, e a maneira de buscar o equilíbrio, no momento, é Elisabete Araujo Leonetti
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reconhecendo a situação e adaptando-se a ela, mas sem perder de vista os objetivos importantes e sem esmorecer a confiança de atingi-los. IMAGEM: “Embaixo da montanha há um pântano: a imagem da DIMINUIÇÃO DO SUPÉRFLUO. O sábio controla sua ira e contém seus desejos.” Para adaptar-se a uma situação de diminuição a pessoa é aconselhada a controlar a raiva e a revolta, desenvolver a tranquilidade e o autocontrole, cultivando mesmo, se necessário, o silêncio e a imobilidade. Isso a ajudará a conter os seus desejos, as suas ambições e aspirações que, talvez, não sejam possíveis de realizar nas circunstâncias do consulente. Provavelmente isso é recomendado porque uma diminuição negativa, que contraria a vontade da pessoa, gera raiva. Por outro lado, estando numa situação em que há uma diminuição e os recursos são parcos, é conveniente que a pessoa também reduza seus desejos, mantendo-os dentro dos limites das suas possibilidades, a fim de evitar sofrimento desnecessário. 1ª LINHA (9): “Terminando suas atividades, avança rápida e desordenadamente; não há erro, mas reflexione sobre ba diminuição.” A pessoa a quem se refere a 1ª linha é forte, ativa e bem disposta no que diz respeito à questão da consulta. Segundo a previsão do oráculo, ela conclui o que já começou e tem condições de empreender mais alguma coisa, no que está totalmente certa. Na atividade posterior àquela já concluída, é possível que a pessoa venha a ajudar alguém das suas relações a quem ela considera muito, que também tem tarefas a cumprir e que, provavelmente, lhe é superior em hierarquia ou tem, de alguma forma, ascendência sobre ela. O Yi Jing adverte que, na pressa de agir e de ajudar outros, a pessoa pode estar deixando de lado algum aspecto importante da sua vida que, com esse abandono, sofre uma diminuição. Essa ajuda deve, portanto, ser pensada e controlada, a fim de que não incorra em prejuízo para si mesma. Será necessário pôr um certo freio neste afã de avançar da pessoa da 1ª linha, para que ela não se prejudique a si própria nem venha a ser explorada.
Elisabete Araujo Leonetti
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2ª LINHA(9): “É conveniente insistir, mas avançar decididamente é prejudicial. Sem diminuir-se, ela aumenta.” A pessoa a quem se refere a 2ª linha está bem situada e bem encaminhada no contexto do assunto da consulta. Ela possui boas relações tanto com os que lhe estão próximos quanto com os que estão mais distantes; e tanto com os seus iguais quanto com os superiores. Relativamente àquela matéria, ela se mostra favoravelmente disposta, otimista até quase o entusiasmo, com grande predisposição para agir. O oráculo dá claramente três mensagens para essa pessoa: 1º) Que ela deve manter a sua situação atual em termos de ocupação, relacionamentos e modo de agir e de pensar. (É a conveniência de insistir.) 2º) Que ela não deve deixar que a sua predisposição para a ação a l e ve a e m p r e e n d e r n ova s a t i v i d a d e s , s e e nvo l ve r e m n ovo s relacionamentos ou tomar a dianteira em quaisquer projetos que estejam surgindo, pois isso a levaria a situações em que ficaria comprometida, presa, sem previsão de término. Algumas das suas ligações, agora tão fortes, diminuiriam de intensidade e a sua própria alegria e ímpeto para ação sofreriam decréscimo. (É o risco de avançar.) 3º) Que ela cuide das coisas boas que possui e não tome atitudes nem se envolva em situações que possam, de alguma forma, ameaçá-las, porque essas coisas estão correndo risco de serem subtraídas dela em favor de outros. (É o risco de se diminuir para aumentar os outros.) Em resumo, a pessoa da 2ª linha deve cuidar primeiro de si e dos seus interesses. 3ª LINHA (6): “Quando três pessoas viajam, geralmente uma se perde; quando uma pessoa viaja, geralmente ganha um companheiro.” Em meio à carência, ao excesso, ou a uma situação duvidosa, a 3ª linha reflete uma tendência ao restabelecimento do equilíbrio. Aparentemente o sujeito desta linha está num processo tal que, num momento, alguém ou algo foi abandonado e outra coisa ou pessoa foi abraçada; e logo em seguida (ou em outro aspecto da questão) se vê de novo separando-se desta e se unindo a outra ou outras. O processo é complicado e insatisfatório, de início. A pessoa está num envolvimento, possivelmente num grupo que, embora lhe dê companhia e ocupação, não a satisfaz, limita-a um pouco e não atende aos seus anseios de elevação, de comunicação, de agitação e movimento, de prazeres e alegria. Assim, ela se afasta desse envolvimento e procura – e consegue - aproximar-se de outro elemento (que pode ser pessoa,
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atividade, causa, etc.), o qual parece corresponder às suas expectativas no momento. (Cumpre assinalar que o grupo anterior sentirá falta daquilo que a pessoa da 3ª linha lhe fornecia.) Esse novo relacionamento ou essa nova atividade, porém, também não satisfarão plenamente a pessoa da 3ª linha, que sentirá, talvez, falta de movimento, achando as coisas e as pessoas um tanto paradas. Assim, na continuação, a tendência é de a pessoa fortalecer-se, adquirir mais independência e se unir a novo grupo, coeso e dinâmico, que combina mais com ela. É possível que ela assuma uma posição de liderança nesse futuro grupo e se sinta gratificada pelas realizações que levar a cabo. Não é dito que haja um rompimento com o envolvimento do presente, o segundo mencionado. A posição da pessoa no próximo grupo não será subordinada e limitada, ela será mais livre e feliz e trabalhará para evitar novas perdas e carências. 4ª LINHA (6): “Diminuir sua ansiedade causa rapidamente satisfação, nenhum erro.” O oráculo mostra a pessoa da 4ª linha numa situação em que ela não possui autonomia, tem tarefas a cumprir ou funções a desempenhar, não recebeu uma orientação clara e precisa sobre como fazer as coisas, mas também não pode deixar de fazê-las. Esse quadro naturalmente gera ansiedade na pessoa, porém ela recebe uma ajuda decisiva e se vê rapidamente livre da ansiedade, ficando contente, aliviada. O oráculo assevera que, nem agora nem no futuro, constituirá erro a pessoa da 4ª linha aceitar essa ajuda, a qual provém voluntariamente de uma pessoa capaz e confiável, e se desenvolve rigorosamente dentro do que é correto. 5ª LINHA (6): “Alguém o aumenta, dez oráculos não podem divergir [há] benefício primordial.” Pode ser que a pessoa a quem se refere a 5ª linha esteja numa situação potencialmente perigosa; porém, quer esteja, quer não, com facilidade terá seus problemas resolvidos, pois tudo procura favorecê-la, tanto as pessoas quanto outros elementos. De um grupo mais íntimo recebe o apoio tácito da presença e da solidariedade, uma vez que seus componentes não podem fazer muita
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coisa na questão da consulta. Mas estão unidos a ela e isso lhe é de grande valia. De subordinados ou de companheiros a quem é muito ligada (que inclusive podem ser filhos ou cônjuges) recebe o apoio de ordem prática mais valioso. De amigos, de conselheiros ou de superiores (que inclusive podem ser os pais, avós ou professores) recebe orientação e influência positiva e animadora. No total, ela goza de apoio material, emocional e ideológico. Além disso, recebe uma certa proteção espiritual ou energética, que tanto pode provir desses relacionamentos já comentados quanto de outras fontes. To d a s e s s a s a j u d a s , s e g u n d o o o r á c u l o, s ã o o f e r e c i d a s espontaneamente e nada poderá atrapalhá-las. Por causa disso tudo é previsto para a pessoa da 5ª linha inquestionável bom andamento do assunto da consulta, e esse aspecto benéfico deve se estender do início ao fim das ações empreendidas. Na sequência, a pessoa terá amadurecido e se fortalecido, adquirirá e expressará uma sabedoria ou um modo de ser que que expressarão preocupação com o verdadeiro e o correto, sinceridade profunda e poder manso de penetração, e continuará atraindo apoio e exercendo influência sobre outros. 6ª LINHA (9): “Sem diminuir-se, ela aumenta; nenhum erro, insistir é benéfico. Sendo conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente,b encontra subordinados, mas não uma família.” A pessoa a quem se refere a 6ª linha situa-se, no que toca ao assunto da consulta, acima das outras. De um modo geral, ela é a mais favorecida do seu meio em elevação moral, calma interior e conhecimento, experiência ou sabedoria. É também a que de menos abastecimento precisa, pois o que possui já lhe basta e, por sua própria natureza, ela prefere qualidade a quantidade em termos de vivências, bens, informações, etc. Distante e recolhida em si mesma, ela paira acima das tribulações que porventura agitem ou aflijam os outros. Paradoxalmente, em meio a um quadro geral de diminuição a pessoa da 6ª linha aparece com algo que lhe é acrescentado, que aumenta nela e que é distribuído sem se diminur, possibilitando que alcance o que pretende. Que elemento é esse, somente o consulente terá condições de identificar.
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Segundo o oráculo, a pessoa está correta em seu agir e deve assim continuar, tendo um objetivo em mente e não simplesmente agindo por agir. No momento aqui representado a pessoa da 6ª linha não se move muito em direção aos outros, eles é que a procuram, e vêm, e ela os recebe tranquilamente, sem, de modo algum, deixar de ser ela mesma ou rebaixar-se. Estabelece uma comunicação com eles e lhes dá aquilo que esperam e que ela tira de si sem que diminua ou lhe faça falta. Na sequência dos fatos o oráculo mostra a pessoa ainda mais envolvida com os outros, aproximando-se quase que ao plano da igualdade, com maior abertura e conservando o espírito generoso que agora possui. Através desse comportamento ela produz felicidade para si, ajuda os outros, atrai amizades, gera boa-vontade e admiração. Entretanto, justamente devido a essa necessidade de se doar a todos magnanimamente, nenhuma ligação mais íntima e exclusivista se desenvolve para ela, no âmbito da questão da consulta.
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HEXAGRAMA 42: AUMENTANDO AS RESPONSABILIDADES
JULGAMENTO: “AUMENTANDO AS RESPONSABILIDADES é conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente, e batravessar o grande rio.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing indica a ocorrência de um acréscimo naquilo que constitui o principal na questão da consulta. Esse acréscimo pode estar no passado, no presente ou no futuro, conforme o tempo a que se refira a pergunta ou conforme este hexagrama seja o primeiro ou o segundo obtido. Muitas outras variantes são possíveis, pois a circunstância de ser aumentado, de sofrer um acréscimo, aplica-se a inúmeros fatores e se pode revestir de diversos aspectos. Através da questão formulada é que se vai determinar qual elemento é aumentado e qual o caráter do aumento em cada caso. O acréscimo que ocorre é devido a uma conjunção favorável de fatores num determinado momento. Esses fatores podem depender das pessoas envolvidas ou não. Podem ser conjunturas sociais, políticas, familiares; fenômenos naturais, acontecimentos, qualquer coisa que se manifeste no tempo. Os elementos cooperam uns com os outros e as forças se conjugam, aparentemente sem que tenha havido um planejamento específico de cada detalhe. Uma vez que se caracteriza o influxo do aumento, a pessoa deve aproveitar essa força atuante, utilizando-a para o alcance de seus desejos ou de um objetivo em especial, a fim de que a força não se disperse simplesmente, passando sem ser aproveitada. Se o alvo pretendido exigir ações de grande porte, mudanças, deslocamentos ou tomadas de decisões importantes, o oráculo recomenda que se as faça. O aumento aqui previsto deverá influenciar todos os componentes da questão da consulta, mesmo que apenas uma parte seja aumentada. Se for benéfico, o todo será beneficiado, pelo menos com um fortalecimento da estabilidade. A maneira de agir neste momento é através de um impulso inicial rápido e decidido, seguido de uma atuação minuciosa e penetrante, que procure atingir todos os pontos que interessam. Tudo isso sem forçar caminho, procurando, na medida do possível, aproveitar o fluxo natural dos acontecimentos, as tendências dominantes, deixando-se ir ao sabor da maré, mas sem perder a razão nem o contato com a realidade, e sem se esquecer dos seus objetivos. Elisabete Araujo Leonetti
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É possível agir assim porque não há obstáculos pela frente no momento. Em princípio haveria, mas por alguma razão os obstáculos tornam-se ineficientes. Também em princípio existem dois perigos: um, de as coisas aumentarem demais, serem acrescentadas além da capacidade de absorção ou de suporte e se desintegrarem por causa disso; outro, de o próprio esforço de crescimento se esgotar antes de o alvo ser atingido. São riscos virtuais, teóricos, os quais o sujeito da consulta deve considerar ao estabelecer as suas metas e rotas de ação, a fim de que fiquem dentro do exequível, mas que não devem impedi-lo de agir. Pode haver, no decorrer dos acontecimentos focalizados pela consulta, um período de alguma estagnação em que as coisas pareçam não estar avançando. Mas na verdade estarão avançando, embora talvez de uma forma subterrânea e/ou num ritmo mais lento do que o inicial. O hexagrama não define com clareza o tempo de duração dessa tendência aumentativa, mas tudo indica que se trata de um período limitado, um ciclo expansivo como o que vai do início ao meio da primavera. Não se prolongará indefinidamente, embora seus efeitos se façam sentir por muito tempo além do seu encerramento. Há, portanto, que aproveitar o ciclo do aumento enquanto dure, se nos for positivo, ou que suportá-lo enquanto não termine, se nos for negativo. A probabilidade maior, porém, é de que os aumentos tenham caráter positivo, pelo menos para o sujeito da consulta. IMAGEM: “Vento e Trovão: a imagem do AUMENTO DE RESPONSABILIDADES. O sábio, porque vê o bem e o segue, tem erros e os corrige.” O conselho da Imagem não ensina como lidar com a situação de acréscimo que possivelmente ocorra ou esteja ocorrendo para o sujeito da consulta, mas sim adverte, genericamente, o que a pessoa correta, boa e sábia, a pessoa verdadeiramente nobre, deve buscar aumentar sempre, em qualquer situação. É o bem, naturalmente. A pessoa deve procurar aumentar o bem em si e nos seus atos. Como fazer isso? Observando o que é bom e movendo-se decididamente em direção àquilo, principalmente modificando o seu próprio comportamento para melhor. E, em contrapartida, não tentando consertar o mal dos outros e do mundo, mas observando em si mesma a existência do mal na forma de erros, falhas, tendências negativas, etc. e simplesmente corrigindo-os, mudando-os para o comportamento bom oposto. É muito simples e de efeito apenas pessoal, de início. Provavelmente depois esse efeito se refletirá na situação como um todo, devido ao aumento do bem. Elisabete Araujo Leonetti
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1ª LINHA (9): “É conveniente e útil fazer grandes obras, [mas precisa de] benefícios fundamentais não não errar.” A pessoa a quem se refere a 1ª linha está numa situação privilegiada no sentido de que dispõe de toda a força, decisão e apoio para realizar o que deseja, mesmo que se trate de algo grande, um projeto ambicioso. Segundo o hexagrama, ela tem apoio tanto dos que estão em posição superior à sua no contexto da consulta, quanto daqueles que são seus próximos e iguais. Entretanto, corre o risco de ser precipitada, de agir irrefletidamente e, com isso, vir a cometer erros ou realizar coisas não significativas ou a que depois não conseguirá dar continuidade, gerando alguma perplexidade e incerteza quanto ao que fazer ou ao que pensar. Por isso, a previsão para esta pessoa encerra uma ambiguidade: - por um lado, ela deveria aproveitar o influxo do momento e avançar; - por outro lado, estará sujeita a cometer erros no avanço, a não ser que sua ação seja favorecida desde o início. Esse impasse pode ser resolvido, pelo menos em parte, se a pessoa procurar ser boa através do aumento do bem em si e nas suas ações, e corrigindo erros pessoais que perceber, conforme aconselha a Imagem. Porém, se for uma pessoa realmente inexperiente na matéria, não terá condições de detectar todos os erros. Alguns permanecerão, mas isso não constituirá culpa da pessoa, uma vez que ultrapassou a sua capacidade de percepção. Se, por outro lado, ela tinha condições de conduzir melhor as coisas e não o fez, poderá sentir vergonha ao contemplar as suas realizações. 2ª LINHA (6): “Alguém o aumenta, dez oráculos não podem divergir, é benéfica uma insistência duradoura. É função do rei sacrificar à Divindade, o que é benéfico.” A pessoa a quem se refere a 2ª linha está numa posição privilegiada no tocante à questão da consulta. É uma posição sólida e equilibrada, sem ser de grande destaque. O seu forte são os relacionamentos: ela está bem relacionada com os próximos, que são seus iguais ou subordinados; pertence a um grupo estável e homogêneo; e, principalmente, tem ótimo relacionamento com os superiores ou com quem detém o poder de decisão ou a posição mais importante na matéria da consulta. Por intermédio dessa última ligação é que virá o aumento para a pessoa da 2ª linha. Seguramente é um acréscimo positivo, benéfico, Elisabete Araujo Leonetti
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fundamentado na constância do seu comportamento e no poder da outra pessoa, através do qual ela recebe, também, benefícios do plano espiritual. Os elementos espirituais manifestam-se de forma incontestável, anunciando o apoio e prestando-o. Pode-se entender este oráculo como previsão de uma ajuda importante, que é obtida através de outrem sem o intermédio de quem não se a obteria. Está aí implícito o aviso à pessoa de que, se pedir ajuda, será atendida; e que, de qualquer modo, receberá ajuda, terá aumento, desenvolvimento, avanço, quaisquer que sejam as condições. Com isso, fica mais forte e harmonioso o relacionamento entre a pessoa da 2ª linha e a sua colaboradora, com identificação entre ambas e compartilhamento dos benefícios auferidos. 3ª LINHA (6): “Seu aumento é aplicado em assuntos trabalhosos, nenhum erro. Gera confiança agindo de forma equilibrada e usando uma tabuleta de jade para aconselhar o príncipe.” Embora com certeza seja favorecida com algum aumento, em algum aspecto da realidade abrangida pela consulta, a situação da pessoa da 3ª linha não é boa: ela está com as suas possibilidades de ação e decisão bastante reduzidas e, infelizmente, aquilo que ela recebe é, ou tende a ser, mal aplicado. O oráculo adverte que a pessoa não tem culpa desse resultado infeliz, o qual se deve, provavelmente, às circunstâncias. Entretanto, para que não lhe venha a ser imputada culpa, e a pessoa não perca a credibilidade perante os outros, deve agir de forma equilibrada, justa e neutra, e deve relatar isso, de forma bem clara, a quem de direito. Nos seus relacionamentos, essa pessoa pertence a um grupo sólido e estável, e conhece elementos em posição de destaque, mas muito distantes, e nem um nem outros lhe acrescentam alguma coisa que realmente a conduza a uma situação mais gratificante. Na evolução do assunto da consulta ela não perde esses relacionamentos, mas eles não lhe trazem alegria. Pelo contrário, serão motivo de complicações e situações sem saída feliz. Enfim, de qualquer modo que aja não obterá bom resultado. O máximo que pode conseguir é conservar a sua credibilidade. Parece que não há nada que possa fazer para evitar o infortúnio resultante da aplicação do seu aumento. Talvez isso seja uma orientação para a pessoa não fazer aquilo que estava intentando, mas sim permanecer inativa o máximo possível, mesmo que se lhe apresentem condições aparentemente vantajosas para avançar,
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até que apareça uma opção realmente confiável. Acredito que essa atitude é a melhor a tomar no momento. 4ª LINHA (6): “Agindo de forma equilibrada, seu conselho ao príncipe será atendido. É conveniente e útil fazer mudar a localização da capital.” Para a pessoa da 4ª linha, os acréscimos previstos no assunto da consulta manifestam-se de duas formas: 1ª) Ela própria recebe algo, principalmente em termos de atribuições e prestígio. 2ª) Ela colabora para o crescimento de praticamente todos os envolvidos na questão da consulta. Essas atuações se dão através da sua ligação com os mais importantes no caso, ou os superiores - a quem serve com lealdade e eficiência - e através da sua influência penetrante sobre seus companheiros - a quem está estreitamente unida - e sobre os subordinados ou os mais novos, recém-ingressos na matéria - por quem se interessa vivamente. Todas são decorrentes da credibilidade e da confiança geral de que a pessoa da 4ª linha goza merecidamente, em função do seu modo responsável e desinteressado de agir. Se isso não for ainda verdadeiro significa que o Yi Jing está recomendando ao sujeito da linha que tenha esse tipo de comportamento, a fim de ser acreditado e de ter suas idéias, opiniões e sugestões aceitas. Outra recomendação do oráculo é de que se efetive a execução dos projetos que estiverem em pauta, mesmo que demandem grandes trabalhos e mudanças. Especialmente recomendadas são as decisões e ações que impliquem alteração do centro de interesse e preocupação. A pessoa da 4ª linha tem competência e jurisdição para esses empreendimentos. Ela vence a indecisão e hesitação que talvez tivesse, porque não age apenas por si, mas também, e talvez principalmente, pelos outros, que dão suporte para as suas decisões e garantia de estabilidade para a sua posição. A realização das mudanças será altamente positiva. No desenrolar da questão da consulta, o correto, para a pessoa da 4ª linha, é manter a mesma conduta aqui apontada. Sua posição deverá ser solidificada, fortalecida. Haverá algumas modificações nas suas relações com os outros, mas ela continuará a ter influência. Ou seja, ela não perde o que aqui recebeu, o que lhe foi aumentado, mas passa a incorporá-lo de uma forma natural. 5ª LINHA (9): “Tendo um coração-mente confiável e sábio, não questione esse benefício fundamental. A confiança e a sabedoria são virtudes suas.” Elisabete Araujo Leonetti
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A pessoa a quem se refere a 5ª linha tem de tal forma assegurado o desenvolvimento feliz daquilo que diz respeito a ela, na questão da consulta, que o Yi Jing lhe recomenda que não duvide dos benefícios recebidos, coisa que a pessoa poderia estar inclinada a fazer. As qualidades suas que se ressaltam são a confiabilidade e a sabedoria. Isso é reconhecido por todos os que se relacionam com ela e lhe assegura o apoio deles e o êxito das suas iniciativas. Se a linha indicar alguém que não o consulente, o Yi Jing está lhe dizendo que pode confiar nessa pessoa e nos seus julgamentos. Parece que a pessoa da 5ª linha recebeu esses dons desde sempre. São inerentes a ela e ela os usa para o crescimento seu e dos outros, pois, direta ou indiretamente, atende a todos os que estão abaixo dela, uma vez que, na questão da consulta, o oráculo a situa na posição mais elevada. Ela só não interage com aqueles que, mesmo estando próximos, não são carentes nem receptivos, se retraem e se isolam. Na realização de suas tarefas, conta com auxiliares leais e eficientes. Assim, a pessoa da 5ª linha vivencia plenamente esta fase de aumento e crescimento. Quando a fase passar talvez já não possa empreender ações da importância das de agora e distribuir benefícios a todos, mas deverá continuar com as mesmas boas qualidades e preocupando-se com as necessidades dos outros. 6ª LINHA (9): “Não é aumentado de jeito nenhum, alguém o golpeia [porque] a firmeza do seu coração-mente não é constante. Prejuízo.” Apesar de estar atravessando uma fase favorável ao crescimento, geral ou particular, e de ter, em princípio, possibilidades de relacionamentos que deveria valorizar e desenvolver, a pessoa da 6ª linha se mantém à parte do processo: nem procura colaborar para o aumento dos outros, nem se mostra receptiva a receber apoio. Em resumo, ela não dá nada a ninguém, nem recebe nada de bom. A causa disso é a indefinição ou inconstância dos seus direcionamentos, e a consequência é a rejeição e até mesmo o ataque de elementos externos. Naturalmente esses fatores a prejudicam. A falta de firmeza interna e a falta de apoio externo acabam por enfraquecer a pessoa da 6ª linha de tal modo que, no futuro, se ela prosseguir nessa atitude, poderá ver-se impossibilitada de levar a cabo qualquer projeto e sofrer muito por isso. Se essas coisas ainda não aconteceram, a pessoa deveria tentar evitá-las através do seguimento do conselho da Imagem deste hexagrama, e procurando firmar a sua vontade e determinação numa direção boa. Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 43: AFASTANDO COM DETERMINAÇÃO
JULGAMENTO: “AFASTANDO COM DETERMINAÇÃO, manifesta-se na corte do rei com gritos confiantes, mas com prudência, [ao mesmo tempo] que informa à própria cidade que não é conveniente chegar às armas. É conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente.” A palavra-chave deste hexagrama é decidir: alguém deve tomar uma decisão ou algo foi decidido com firmeza. Ao obtê-lo, a pessoa provavelmente está se defrontando - ou em breve se defrontará - com uma situação desagradável, com uma oposição ou com uma moléstia em que é preciso agir com determinação e energia. Em princípio, a pessoa tem tudo para ter sucesso nessa tarefa, pois este é o hexagrama da vitória, da remoção das dificuldades, obstruções e obstáculos. Nada deve impedir o sujeito da consulta de agir - caso ele esteja se questionando sobre a oportunidade e propriedade de alguma ação ou decisão - e nada poderá deter o movimento, uma vez que este seja desencadeado. Apenas, certas condições são necessárias para que o processo chegue até o fim com o mínimo possível de desarmonia ou de danos, pois a questão é resolver o assunto de uma forma definitiva, afastando, e não destruindo, aquilo que se opõe, que desagrada ou que é nefasto ao sujeito da consulta. A tensão existente deve ser liberada através de uma ação enérgica, talvez até de uma ruptura, mas essa ação deve ser, tanto quanto possível, racional, justa e delicada ou, no mínimo, civilizada. Atitudes selvagens ou bélicas não são recomendadas por enquanto: agir e cortar com decisão não é o mesmo que esmagar com brutalidade. Assim, algumas instruções bastante específicas sobre como agir são fornecidas ao sujeito da consulta: 1º) A decisão de cortar, afastar, resolver ou remover do nosso caminho aquilo que nos perturba deve ser tomada; não deve ser adiada, nem as coisas podem simplesmente ser deixadas como estão, sem que se tome nenhuma atitude. 2º) A decisão tomada e os fatos que levaram a ela devem ser declarados e explicados a todos os envolvidos na questão, especialmente aos mais próximos, com palavras, oralmente ou por escrito. Não basta decidir interiormente e passar a agir de acordo com essa resolução, sem deixar tudo bem claro para os outros, porque os elementos contrários a nós possuem razões e fundamentos em que se apoiam e poderão alegá-los Elisabete Araujo Leonetti
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contra nós, caso não tenhamos antes exposto a veracidade dos fatos e prevenido nosso meio. 3º) Ao fazer a sua declaração a pessoa deve ser rigorosamente verdadeira, mas prudente: cuidadosa e exata quanto ao que diz e ao que faz, não se permitindo inverdades, concessões ou deslizes. Pode falar com confiança e segurança, porque essa sua exposição acabará esclarecendo as coisas. 4º) A pessoa deve convencer a si e aos seus de que não é conveniente brigar, chegar às vias de fato com o opositor, pois isso acabaria lhes sendo mais prejudicial do que benéfico. O que se busca é uma solução. 5º) É importante que a pessoa tenha em vista o que fazer depois de tomada a decisão e as providências de que aqui se trata, pois com essas atitudes a presente questão se encerra e será ocasião de ocupar-se de outras coisas. Como se vê, para que se cumpra o oráculo, o sujeito da consulta tem que participar ativamente. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama. Se houve linhas mutantes, elas darão indicações para casos particulares. Se ele saiu como segundo na consulta, significa que o desenrolar dos acontecimentos previstos pelo hexagrama anteriormente tirado deverá resultar na necessidade de uma ação decisiva em algum aspecto da realidade enfocada, ou nela toda. IMAGEM: “O lago sobe até o céu AFASTANDO COM DETERMINAÇÃO. Assim, o sábio distribui felicidade, inclusive aos inferiores, mas caso descanse na sua virtude acabará sendo odiado.” O conselho da Imagem é de que é necessário agir com determinação para resolver a questão que motivou a consulta ao oráculo. É agindo com decisão que se consegue progresso e sucesso nessa matéria. Isso pode gerar ressentimentos ou antagonismos, os quais devem ser aplacados com dádivas generosas, cuja distribuição deve considerar o tamanho do favor recebido ou da oposição aplacada e não o merecimento de quem recebe o benefício. A distribuição de dádivas não se deve transformar em regra, em prática contínua e impensada, automática, pois isso faria com que as pessoas agraciadas achassem que receber favores é um direito seu. 1ª LINHA (9): “Seus passos para frente são fortes, [mas] avançar desordanadamente, sem conquistar, envergonha.”
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Esta linha mostra a pessoa com uma forte inclinação a promover imediatamente o afastamento daquilo que a perturba, ou que se lhe opõe, sem fazer um planejamento prévio, ou seja, agindo sem pensar. Assim, ela não só não atinge o seu objetivo (avança, mas não consolida a conquista daquilo sobre que ou para que avançou), como se envergonha pelo modo como procedeu. O seu fracasso se deve a que ela, muito ativa, cuidou apenas de decidir e agir rapidamente, sem expor o caso e sem tomar todas as precauções e fazer os demais preparos antes, conforme recomendado pelo JULGAMENTO deste hexagrama. Ela colocou os pés adiante da cabeça, agiu antes de pensar, o que é um erro. A recomendação para o momento é agir com muita prudência, tomando apenas medidas protetoras e acautelatórias, porque os problemas são grandes demais para que possa resolvê-los de imediato. 2ª LINHA (9): “Gritos de alarma ao anoitecer e na noite [porque] guerreiros, mas não fique ansioso.”
há
Esta linha mostra o caso em que a necessidade de agir com decisão gera um clima de inquietude, turbulência e ameaça de deflagração de luta. Isso, entretanto, não é provocado pelo sujeito da consulta, que se mantém equilibrado. Ele não precisa ficar preocupado e ansioso, embora deva permanecer vigilante e preparado para qualquer eventualidade. Com calma e segurança deve dar prosseguimento ao que decidiu que provavelmente envolve um processo de mudança e renovação - pois isso está certo, dará bom resultado e, mesmo que gere alguma revolta agora, depois lhe trará reconhecimento. 3ª LINHA (9): “[Mostrar] força na face é prejudicial. Agindo sozinha e muito eficientemente, a pessoa sábia encontra chuva, encharca-se e tem raiva; [apesar disso] não erra.” A pessoa da 3ª linha reúne força e capacidade de decisão e de ação, e demonstra isso abertamente na sua expressão e atuação, o que lhe traz problemas, pois gera reação oposta imediata. Como a situação é realmente difícil, espinhosa, ela sofre alguns reveses, os quais se refletem na sua aparência. Buscando a solução dos problemas e a sua satisfação pessoal, acaba encontrando sofrimento, mas isso decorre das circunstâncias, e não de erro seu.
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Ela deveria não mostrar toda a sua força e capacidade, nem se revelar tão corajosa, principalmente quando estiver lidando com elementos antagônicos. E deveria também não agir sozinha, mas em equipe, e sem colocar toda a sua esperança de alegria na dependência dos resultados da questão objeto da consulta. 4ª LINHA (9): “As nádegas sem pele obstaculizam sua ação. Conduzido como uma ovelha o remorso desapareceria, mas ouve estas palavras e não acredita.” Esta linha mostra a pessoa já tão depauperada, tão ferida, tão estressada ou sensibilizada que não consegue atuar como deveria na matéria da consulta. Além disso, está numa posição ingrata, que ela não merece e que não lhe é adequada. Por isso ela não consegue tomar as decisões acertadas, executar as medidas e fazer os cortes ou afastamentos necessários, e o seu caminhar não se desenvolve, tende a ficar estacionário, numa espera desconfortável, sofrida e solitária, de onde terá que se livrar por si mesma, embora acatando orientações de outros. Se a pessoa aceitasse, agora, conselhos e orientação, ou mesmo seguisse o exemplo de outros, mais experientes, mais sábios ou mais bem sucedidos do que ela na matéria da consulta, estaria indo por um rumo do qual não se arrependeria mais tarde, pois provavelmente daria certo. No entanto, ela não aceita conselhos dos outros, não acredita e não compreende que eles possam estar com a razão, e se dá mal. 5ª LINHA (9): “A erva daninha é muito deficiente; agindo com moderação não há erro.” Esta linha mostra o caso em que a pessoa promove, com facilidade, o rápido afastamento de elementos negativos ou de aspectos negativos da realidade enfocada pela consulta. Se ela agir com moderação, sem excessos, a sua atuação estará correta e ela não terá motivos para arrependimento; mas ela ainda não tem a noção clara do que é um comportamento equilibrado. (Pode existir, implícita nesta linha, a advertência de que afastar com determinação fatores ou pessoas negativas é algo necessário e correto no momento, mas não deve se constituir num objetivo permanente da pessoa. Seu objetivo permanente deve ser promover o bem, e não atacar o mal. Entretanto, quando for combater o mal, deve fazê-lo sem hesitação, ainda que o mal esteja se manifestando em alguém a quem a pessoa se liga afetivamente.) Elisabete Araujo Leonetti
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6ª LINHA (6): “Não grita, mas acaba tendo prejuízos.” Esta linha representa o elemento negativo que, finalmente, é afastado. Na sua arrogância, o sujeito desta linha se julga tão forte ou é tão orgulhoso que sequer pede ajuda, embora tenha ligações que poderiam ampará-lo. (Nunca é demais lembrar que o elemento negativo pode ser externo ou interno ao sujeito da consulta e que, mesmo que pareça inofensivo, deve ser cortado com determinação.)
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HEXAGRAMA 44: ESBARRANDO NA TENTAÇÃO
JULGAMENTO: “ESBARRANDO NA TENTAÇÃO por uma jovem forte, não é útil assenhorar-se dela.” Este hexagrama mostra uma situação em que algo se apresenta inesperadamente a alguém, e este o acolhe. Resulta daí um encontro entre os dois elementos que, entretanto, deverá ser relativamente breve, passageiro, porque o elemento que se apresenta não é realmente bom para aquele a quem ele se oferece. Por isso a sentença do oráculo tem o caráter de uma advertência: a ligação não deve ser duradoura. Se a consulta se refere a relacionamentos afetivos, conjugais, a resposta é clara: o casamento, ou o assumir compromisso, não é conveniente para o elemento mais velho ou mais sensato, ou para o elemento masculino da relação. Isso não quer dizer, e o hexagrama não diz, que a pessoa ou o elemento com que o sujeito da consulta se depara seja má em si mesma, ou que a situação que se pretende ver estabelecida seja ruim em si: o que ele diz é que há um fator negativo no modo atual como a situação se configura ou tende a se configurar, o qual, se não for percebido e contido a tempo, chegará a tornar-se grande e prejudicar todo o conjunto. Se, entretanto, o fator negativo for percebido a tempo e contido, isso resultará num fortalecimento e engrandecimento de toda a situação, pois ela encerra, sem dúvida, um grande potencial criador, que deveria ser aproveitado. O fator negativo consiste num princípio ou num prenúncio do mal, esteja este mal numa pessoa, em aspectos de uma pessoa, numa conjuntura política, administrativa ou econômica, numa doença, numa inclinação pessoal, num risco, etc. Qualquer que seja a sua natureza, o mal está presente, latente. O sujeito da consulta é alertado para ou se afastar do âmbito da sua influência ou subjugá-lo. Jamais deve ceder-lhe ou unirse a ele, o que, paradoxalmente, muitas vezes parece ser a sua intenção inicial - quer tenha consciência disso ou não - pois, neste momento, o mal está ainda tão incipiente, tão pequeno, tão mascarado que parece inofensivo. Nisso reside o grande perigo da situação, porque a pessoa não percebe o mal e, portanto, não o ataca, deixa-o desenvolver-se livremente. Se assim ocorrer, o mal poderá crescer e vir a dominar a situação, o que não trará benefício para ninguém; ao contrário, trará malefícios a todos. A paciência e a tolerância para com o mal permitirão que ele cresça
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e impere, e aí a situação só se reverterá quando o mal se enfraquecer e se esgotar por si mesmo, o que pode levar uma vida inteira. Se a pessoa se proteger e se prevenir contra o mal com muita firmeza, conseguirá chegar ao fim da situação, ou escapar antes do fim ou mesmo antes do começo dela, sem grandes sofrimentos ou perdas. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama sozinho ou como segundo na consulta, consistindo, no caso de ser o segundo, uma consequência provável do quadro mostrado pelo primeiro hexagrama. Caso tenha obtido linhas mutantes, a pessoa deve lê-las, pois elas lhe trarão orientação específica para algum aspecto do seu caso. IMAGEM: “Embaixo do Céu há vento, ESBARRANDO NA TENTAÇÃO. [Assim], o governante emite suas ordens informando os quatro cantos.” Quando a pessoa se encontra na situação em que está indo perigosamente ao encontro do mal ou, quer saiba quer não, está acolhendo alguma coisa negativa que vem ao seu encontro, tem que tratar de livrarse dele logo. Não deve esperar que a situação piore, que o mal cresça e se torne manifesto. Por enquanto o mal ainda está encoberto. É incipiente e insinuante, conseguindo se infiltrar pela menor brecha. Por isso, a maneira eficaz de enfrentá-lo, neste momento, é através de uma determinação firme e declarada, dirigida a todos os setores e pessoas envolvidas na situação, alertando-os para defender-se. Esse é o conselho para quem quiser agir sabiamente nessa situação. 1ª LINHA (6): “Travado por um freio de metal. Insistir [nisso] é benéfico; mas, caso avance desordenadamente, o infortúnio o encontrará como a uma porca fraca que, confiante, pula agitadamente.” A idéia principal desta linha é que a pessoa indicada por ela deve conter-se ou deve ser contida pelos outros. Ela se sente confiante e quer avançar, realizar algo, mas não pode ter a liberdade de fazê-lo porque, se agir livremente, como gostaria, atrairá o mal para si e para os que a cercam, com suas ações irrefletidas. Também pode estar aqui representada uma inclinação, um comportamento ou um aspecto qualquer da pessoa, que deve ser refreado. Nenhuma iniciativa é recomendada, a não ser a de conter o mal desde o início.
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Nem o momento é conveniente para a ação, nem a pessoa da 1ª linha está suficientemente amadurecida, preparada ou posicionada para agir com objetividade e possibilidade de êxito. Além disso, se não forem tomadas as devidas medidas preventivas, corre-se o risco de se inverterem as posições e de, ao invés de a pessoa da 1ª linha ser submetida ao bom-senso, próprio ou alheio, a situação geral ficar submetida à insensatez dela. O oráculo adverte que a contenção não será tarefa fácil, mas exigirá firmeza, porque a pessoa é insinuante, autoconfiante, e exerce influência, principalmente sobre quem se sente atraído por ela, embora estando num nível hierarquicamente ou espiritualmente superior. Os que estão mais próximos dela e a conhecem bem não se deixam iludir e logo tentam controlar e conduzir os seus movimentos, em vez de deixá-la agir por conta própria. 2ª LINHA (9): “Empacotando o peixe, não há erro porque [ele] não é conveniente para os hóspedes.” Esta linha mostra como a pessoa consegue neutralizar o elemento negativo para que não cresça e não atinja os outros. Ela o consegue sendo forte e firme, mais do que seria de esperar de alguém nas suas circunstâncias. Na verdade, ela tem de se fazer de forte para poder conter o mal - que ela já identificou e cerceou - e também para ficar à altura das pessoas e acontecimentos com que tem que lidar. Procura resolver o problema sozinha, com jeito e civilidade, evitando que os outros dele tomem conhecimento e, muito menos, que sejam perturbados. Assim, a pessoa desta linha tem que fazer, talvez, um papel um tanto ambíguo, de dupla finalidade: ela não compactua com o mal, mas também não o ataca violentamente; antes o mantém, com firmeza, dentro de limites. Com isso, não só protege os outros do ataque ou da influência do negativa, mas também protege o elemento gerador do mal de possíveis reações agressivas dos outros. Age assim porque possui uma natureza benevolente e porque se sente muito ligada ao elemento portador do mal, com uma relação, talvez, de responsabilidade ou dever. Dessa maneira a pessoa da 2ª linha está sendo correta e equilibrada e não pode, de modo algum, ser responsabilizada pela existência do mal. Pelo contrário, é muito provável que, devido à sua contínua vigilância e influência positiva, o mal não chegue a se desenvolver, pois não consegue liberdade para agir e expandir-se, por enquanto. 3ª LINHA (9):
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“As nádegas sem pele obstaculizam a sua ação, mantendo-se rigoroso não haverá grandes erros.” Esta linha mostra uma pessoa que está depauperada: física, financeira ou moralmente, em termos sociais ou pessoais, ela sofreu alguma perda ou ferimento que dificultam a sua atuação na matéria da consulta. Essa pessoa sente-se atraída justamente por aquilo que lhe é nefasto e perigoso, e a atração perdura porque o objeto da atração lhe parece inofensivo, podendo mesmo possuir aparência frágil e sedutora. Entretanto, embora querendo ela não pode se unir ou se dedicar àquele ou àquilo que desejaria: além das suas dificuldades pessoais, que são consideráveis, existe alguém ou alguma entidade que, consciente do perigo, trata de manter o elemento portador do mal afastado dos outros elementos da situação, inclusive da pessoa da 3ª linha. O contato, portanto, não é possível, o que consiste numa frustração, num sofrimento para a pessoa, ao mesmo tempo em que lhe é um benefício, pois evita que venha a sofrer mais do que já sofreu. Não adianta para essa pessoa - nem ela deve - procurar apoio junto aos que estão em posição mais vantajosa do que a sua na matéria da consulta, pois não estão interessados nela e podem até interpretá-la mal. Também não lhe é conveniente seguir a inclinação do seu desejo: pelo contrário, deve conscientizar-se do perigo e manter-se afastada do elemento negativo que a atrai. Ademais, infelizmente ela não tem, perto de si, algo ou alguém que possa lhe servir como alternativa. Assim, o melhor para a pessoa da 3ª linha é mesmo se deter, não tentar avançar ou expandir-se agora e procurar apoiar-se a si mesma, sustentar-se naquilo de bom que já possui, que acumulou até este momento. Desse modo evitará maiores erros e danos, e esperará esta fase perigosa passar. 4ª LINHA (9): “Um pacote sem peixe dá origem ao infortúnio.” Esta linha mostra a pessoa que não domina o mal que avança imperceptivelmente. Com relação à matéria da consulta, ou ao assunto que a preocupa, a pessoa representada pela 4ª linha possui uma tríplice ligação: espiritual, emocional e material. Ela vê e sente a questão sob esses três aspectos, de uma forma desarmônica. O aspecto espiritual, mental, racional, a puxa para o alto, para a proximidade das coisas e pessoas mais nobres, mais elevadas, mais realizadas e sem necessidades. A pessoa sente que esse seria o melhor rumo para ela, gostaria de seguir essa tendência do seu espírito, mas, no Elisabete Araujo Leonetti
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momento, não vê caminho aberto nesse rumo, e a aspiração, insatisfeita, persiste. O aspecto material, prático, das atividades e necessidades cotidianas, a puxa para baixo, para o envolvimento com as questões do dia-a-dia e as pessoas e fatos que fazem parte da vida e com os quais tem de lidar, mesmo que sejam desimportantes e insignificantes do ponto de vista do desenvolvimento interno. A pessoa gostaria de não precisar se ocupar nem se preocupar com esses fatores, e os negligencia o máximo possível, mas não pode deixar de dar-lhes alguma atenção porque, na verdade, é deles que lhe vêm sustento, recursos, amigos. Esse aspecto, se não for bem direcionado e acompanhado com atenção, tende a se degenerar com facilidade e gerar problemas, embora isso não se evidencie desde o início. O aspecto emocional vive intensamente o conflito entre o lado espiritual e o material. Além do conflito consigo mesma, a pessoa não consegue se relacionar plenamente com os elementos nem de um nem de outro lado: com uns, por estarem fora do seu alcance; e com os outros, por estarem fora do seu interesse. O infortúnio é essa desarmonia e suas consequências. É preciso que a pessoa reconheça o perigo latente nessas coisas aspirações psíquicas frustradas, questões práticas mal resolvidas ou abandonadas, conflitos internos - e se arme da força e disposição necessárias para enfrentar a realidade nos três aspectos, com determinação expressa. Primeiro, atender as questões materiais e do dia-a-dia, a fim de que nenhuma coisa pequena venha a lhe causar complicações. Segundo, definir as aspirações do seu espírito e procurar atendê-las também, dentro do possível. Terceiro, fazer a sua parte nos relacionamentos que se lhe apresentam em todos os níveis, mesmo que pareçam inatingíveis ou insignificantes. O oráculo prevê que os três aspectos são possíveis de conciliar e que essa conciliação será motivo de alívio e satisfação pessoal, além de ser um avanço no encaminhamento da questão da consulta para melhor. 5ª LINHA (9): “Usando [folhas] de salgueiro empacota um melão, assumindo-o completamente; assim algo lhe cai do Céu.” Esta linha mostra a pessoa que consegue se manter afastada do negativo que chega, voltando-se inteiramente para si e para seu desenvolvimento moral e espiritual. Ela possui força, solidez e equilíbrio suficientes para manter-se na sua posição elevada e isolada, sem muito envolvimento com os outros, e por isso não vive conflitos. Provavelmente ela não desconhece o perigo que ronda a situação: identifica a origem do mal, porém deixa o combate a ele a cargo de uma Elisabete Araujo Leonetti
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pessoa ou entidade em quem confia e que mantém sob controle e proteção o elemento ameaçador. É possível, entretanto, que a força da personalidade da pessoa da 5ª linha exerça uma influência benéfica sobre todos os elementos envolvidos na situação, inclusive sobre aquele onde reside a possibilidade de se desenvolver o mal. Assim, naturalmente as coisas vão se resolvendo e se encaminhando para o bem, no rumo desejado, consolidando a vida e o destino da pessoa num todo harmônico. 6ª LINHA (9): “Esbarra com seus chifres, vergonha, mas nenhum erro.” Esta linha mostra a pessoa que, dentre todas as envolvidas na questão da consulta, é a mais desligada da questão, a mais improvável de ser atingida pelo mal, e também de atingi-lo. Por isso prefere manter-se afastada. Seu afastamento atrai as críticas dos demais, mas, como seria muito pouco o que realmente poderia fazer, porque outros já tomaram conta do problema, essa atitude acaba não sendo um erro grave. No entanto ela ainda faz parte da situação e, num determinado momento, é levada a tomar alguma atitude. O que faz, então, é reagir ao elemento negativo com agressividade, com um excesso de força, talvez, o que é vergonhoso. Ainda mais que não consegue o resultado esperado, esgotando sua energia sem proveito algum. Apesar de não dar certo e de causar-lhe vergonha, esse comportamento não consiste em erro por parte da pessoa da 6ª linha, pois ela age com boa intenção e de acordo com a sua natureza e as suas possibilidades.
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HEXAGRAMA 45: AGRUPANDO PELO EXEMPLO
JULGAMENTO: “AGRUPANDO PELO EXEMPLO [exerce-se] influência, [mas só] um rei entra no templo ancestral, [já que] é conveniente ver um grande homem influenciando. É conveniente insistir. Usar um grande animal para o sacrifício é benéfico. É conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente.” A questão principal para quem recebeu este hexagrama como resposta à consulta ao oráculo consiste em fazer parte ou não de um grupo, um meio, um casal, uma congregação qualquer. Toda a atuação do sujeito está sob a influência desse fato, porque faz diferença fazer ou não fazer parte do grupo. Em segundo lugar está a questão do papel que o sujeito da consulta exerce ou pretende exercer naquele meio, seja como membro, seja como líder. Uma congregação se dá em torno de um núcleo central: homem, divindade, atividade ou idéia. Esse núcleo central, para poder reunir diversos elementos em torno de si tem que, antes de tudo, corresponder aos seus anseios, mesmo àqueles não expressos. Isso causa satisfação nos seres, que passam, então, a aceitar a influência daquele elemento centralizador. Essa influência é a base da reunião. De acordo com o hexagrama, fazer parte de um grupo é algo extremamente desejável. Tanto que, nas linhas, se observa que a adesão é sempre voluntária: não há imposição para que alguém venha a integrar um grupo. Pelo contrário, há colocação de dificuldades, por parte dos já membros do grupo, impedindo ou tentando impedir o ingresso de novos elementos. O hexagrama se dirige tanto a quem congrega – o líder - quanto aos que se congregam – os membros. Deve-se considerar, na interpretação da resposta, primeiro, em que posição o sujeito da consulta se situa: se na de líder ou na de membro do grupo. Em segundo lugar, deve-se ver se há correspondência e satisfação, ou ao menos uma forte possibilidade delas. Para o líder, a exigência principal é a de grandeza moral e espiritual. Se não for grande o suficiente para gerar nos outros a admiração e o desejo de segui-lo, então não congregará ninguém. Da grandeza de um líder o Yi Jing ressalta a confiabilidade, manifestada através da firmeza, do Elisabete Araujo Leonetti
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equilíbrio e da honestidade, e também da humanidade, da compaixão. Quer dizer, o líder deve ser firme, mas não rígido: precisa ter uma certa dose de doçura e de abertura, que é o que o torna acessível aos seus liderados. Portanto, o sujeito da consulta deve procurar desenvolver essas características em si, caso deseje ser líder. Porém, se a consulta se referir a ações a serem desenvolvidas como membro de um grupo, ou num meio do qual ainda não se é parte integrante, é importante ver se o líder com quem se terá que lidar preenche aquelas características e se se pode, portanto, ter acesso a ele e confiar nele. O oráculo ainda orienta sobre o modo como deve agir a pessoa que é membro de um grupo ou quer sê-lo. O sujeito da consulta, na condição de membro ou aspirante a membro de um grupo, deve, primeiramente, estar receptivo e dócil, ou seja, não arrogante, não revoltado, não autossuficiente. Deve mostrar responsabilidade e competência. Deve, se possível, buscar o apoio de pessoas influentes junto ao líder, ou o apoio do próprio líder. Deve insistir na direção daquilo que quer com perseverança, se preciso. E deve, finalmente, não medir esforços, gastos, energia. Enfim, deve mostrar serviço, fazer as maiores movimentações que puder para demover, a seu favor, todos os elementos que possam influenciar na questão. Sobretudo, é importante que a pessoa tenha um objetivo em vista e não esteja agindo só por agir, sem muita certeza de aonde quer chegar, pois isso seria, por um lado, desperdiçar energia; e, por outro, desvalorizar o apoio que pudessem lhe dar, podendo mesmo pôr a perder esse apoio. Cabe aqui um parêntese para explicar que o consulente pode não identificar, de imediato, o sujeito da consulta como alguém que queira ter um papel num grupo. Entretanto, para quase todas as suas funções e atividades os seres humanos possuem grupos que os congregam ou que representam o mais alto grau de desempenho naquele ramo, e assim a congregação pode ser uma família, uma turma, uma empresa, empresas associadas, uma ordem religiosa, uma religião ou seita, um partido político, um estabelecimento de ensino, uma corporação profissional, um arrolamento ou elenco qualquer, etc. O Yi Jing ainda diz que analisando aquilo que se junta espontaneamente pode-se detectar as inclinações autênticas dos seres. Essa é a lição geral para quem obteve este hexagrama sozinho. Se ele foi obtido como segundo na consulta, as implicações aqui presentes deverão ser consideradas em conexão com o hexagrama primitivo. Se este é o hexagrama primitivo, com linhas mutantes, as linhas fornecerão um enquadramento mais preciso para o sujeito da consulta. IMAGEM: “Um banhado sobre a terra: AGRUPANDO PELO EXEMPLO.
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O sábio, aparelhando seus engenhos de guerra, fica vigilante e sem medo.” Mais uma vez, o conselho básico da Imagem é o da vigilância. Não é por fazer parte de um grupo que o homem pode descansar. Embora o grupo o proteja, em parte, dos de fora, e embora todos, dentro do grupo, sejam de algum modo solidários, irmãos, nem por isso o perigo de ataques deixa de existir. Com raras exceções, pessoas não são inteiramente confiáveis; sem exceção, são diferentes umas das outras; por isso, a possibilidade de desavenças, conflitos, intromissões, decepções, enfim, de toda sorte de problemas de relacionamento é grande quando se reúnem várias pessoas ou quando se intenta reuni-las. Isso, porém, não deve impedir que as pessoas se reúnam nem deve levá-las a, uma vez congregadas, ficarem sob o domínio do medo, o que tiraria a satisfação da reunião. A atitude do homem sábio é preparar-se para os eventos negativos que possam surgir, manter-se atento, de modo a deixar pouca chance para que reveses o peguem de surpresa e, apoiado na precaução e na vigilância, ficar tranquilo. Não se trata, aqui, de uma previsão de acontecimentos ruins. Tratase, isto sim, de um alerta para a possibilidade de surpresas negativas, que podem ser evitadas ou suavizadas mediante o adequado preparo e prevenção. 1ª LINHA (6): “Tem confiança, mas não completa; está confusa, mas apesar disso se agrupa; caso de gritar, um aceno se transforma em risos. Não se preocupe: avançar desordenadamente não é um erro.” Apesar da confusão, a previsão para quem obteve esta linha é boa, especialmente se foi a única linha mutante obtida. A confusão começa porque a pessoa não acredita muito em si mesma e não tem certeza de ser aceita no meio no qual gostaria de ingressar. Ela tem tão pouca confiança em si que duvida do seu direito ou do seu merecimento de integrar o grupo desejado, e se deixa dominar pela passividade e conformismo existentes no meio ao qual pertence atualmente. Não tem força nem habilidade para romper sozinha os bloqueios que a separam de seu objetivo. Por isso vem a recomendação de que peça ajuda. Há, dentre aqueles que detêm o poder de decisão no caso, alguém que lhe é acessível por algum tipo de relação e a quem a pessoa da 1ª linha deve recorrer em busca de apoio. O oráculo indica que, a partir daí, sentir-se-á aliviada, segura e alegre. Também é assegurado à pessoa da 1ª linha que aquilo que ela pretende está correto, não é errado nem fora de propósito e que, portanto, ela não deve mais se preocupar sobre a validade da sua ação. Elisabete Araujo Leonetti
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A ajuda, porém, é fundamental. O oráculo não mostra como a pessoa poderia sair do lugar onde está, sem auxílio. Obtendo ajuda, há grandes chances de fortalecimento pessoal, de modificação da situação básica e de realizaçõe, para o futuro. 2ª LINHA (6): “Puxado pelo benefício não há erro; sendo sincero é conveniente e útil fazer um pequeno sacrifício." Apesar de estar, a princípio, numa posição muito trancada, há possibilidades de desenvolvimento para a pessoa da 2ª linha. Ela tem a boa sorte de cair no agrado de alguém que tem o poder de decisão no meio onde a ação se desenrola, obtendo estímulo e ajuda. Ou, simplesmente, é auxiliada por circunstâncias favoráveis, que lhe facilitam o avanço. Esse favorecimento, segundo o Yi Jing, é devido ao fato de a pessoa ser, pelo menos no que diz respeito à questão da consulta, correta, modesta, equilibrada, responsável e confiável. O oráculo assegura que o que a pessoa pretende, o seu modo de agir (se for como descrito acima) e o seu avançar, nas atuais circunstâncias, estão certos. Não há nada errado aí. A sinceridade dos sentimentos e dos propósitos da pessoa da 2ª linha fazem com que, no caso dela, pequenos esforços em tentativas de influenciar os mais poderosos na direção dos seus desejos e objetivos serão tão eficazes quanto os grandes esforços recomendados a todos os que obtiveram este hexagrama. Na evolução dos acontecimentos, principalmente se esta foi a única linha mutante obtida, a situação da pessoa será confortável, provavelmente amparada pelo grupo, mas nem por isso ela estará plenamente feliz. Deverá manter a sua posição - que estará mais sólida não tentar prosseguir de qualquer jeito e sim aguardar a chegada da pessoa certa para, então, tornar a fazer tentativas de exercer influência. 3ª LINHA (6): “Parece agrupar-se, parece lamentar-se, e nenhum lugar lhe é conveniente; avançar desordenadamente não é erro, mas traz um pouco de vergonha.” O sujeito da consulta, na situação descrita pela 3ª linha, está tão desafortunado que, mesmo que consiga fazer parte de um grupo, fica meio que de fora, meio que de favor. É como se, mesmo estando ali, não estivesse completamente inserido no contexto; ou como se estivesse ali por favor ou obra de alguém, e não por merecimento seu. Por outro lado, se não consegue se agrupar é pior ainda: aí é que fica realmente isolado e sentindo-se inferior.
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De fato, nem a posição que ocupa atualmente nem uma participação mais efetiva no grupo ao qual tenta integrar-se são realmente lugares adequados para ele. As causas disso estão em que: 1) O elemento pelo qual mais se sente atraído no grupo não lhe está disponível no momento. 2) A posição que ele almeja e que acha que lhe seria conveniente é muito elevada, está fora do seu alcance, e ele não tem condições de ocupá-la no momento; para tanto, seriam necessários requisitos que ele não preenche. 3) Ele está insatisfeito consigo mesmo, pois sente em si um potencial que não pode manifestar, que está truncado. (E o está devido a suas próprias circunstâncias e não propriamente pela ação de terceiros.) Esses fatores podem estar todos presentes, ou somente algum(ns) deles. Como se vê, não constituem impedimentos reais para a pessoa avançar, tentar se integrar a um grupo e realizar alguma coisa. O oráculo inclusive afirma que, se ela o fizer, estará agindo corretamente e será recebida. Mas mesmo assim se sentirá meio mal, um pouco carente, um pouco diminuída, porque a posição não corresponderá bem àquilo que ela queria. Esse desajuste tende a continuar no futuro. Na verdade, o que parece é que este grupo específico, este meio, não são adequados para a plena expressão e realização da pessoa da 3ª linha, ainda que ela se sinta atraída por eles. Ela deveria não insistir em se congregar, agora; deveria procurar mais. Quem sabe encontrará algo mais de acordo consigo própria. 4ª LINHA (9): “[Só com] grande benefício não haverá erro.” A 4ª linha adverte o consulente de que há grande risco envolvendo a questão da consulta. A pessoa a quem se refere esta linha está numa situação muito delicada ou perigosa, por isso precisa de muita boa sorte ou de muita boa vontade daqueles com quem interage para se sair bem. Trata-se de uma pessoa numa posição elevada (na questão da consulta) com bastante poder de influência e persuasão, mas ainda assim subordinada, não completamente autônoma. É possível que, no presente caso, ela esteja querendo agir como se fosse o líder, sem sê-lo; ou queira tomar atitudes que afrontam o líder por concorrer com ele. É como se fosse um empregado muito competente e cheio de iniciativa trabalhando muito perto de um patrão também dinâmico e cioso da sua posição: é vigiado o tempo todo, de modo que, por mais e melhor que faça, recebe reparos ou é impedido.
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Assim, a pessoa da 4ª linha, tendo muita vontade de fazer coisas e muita capacidade de liderança e influência, só pode fazer uso dessas qualidades mediante a concordância de quem detém o poder de decisão no assunto da consulta. Por outro lado, é bem aceita pelos que estão abaixo dela, dentre os quais talvez tenha alguma ligação mais profunda. Para que a situação lhe venha a ser benéfica a pessoa deve, daqui para frente, mostrar-se mais dócil e receptiva ao líder e procurar não estar muito em evidência, a fim de não despertar uma rivalidade que só lhe traria danos. E isso parece ser o que está inclinada a fazer. A previsão imediata é de que, se está intentando alguma ação específica, no momento é melhor deixá-la de lado. 5ª LINHA (9): “Agrupa porque tem status, nenhum erro. Sem confiança, só uma insistência constante e primordial faria desaparecer o remorso.” A 5ª linha representa o elemento congregador: aquele homem, divindade, idéia ou atividade em torno do qual se reúnem pessoas, e em torno do qual, especialmente, o sujeito da consulta gostaria também de congregar-se ou, caso seja ele o elemento central, de ver os outros agrupados. Em qualquer das duas posições a situação é complicada e não tem sucesso garantido. Se o sujeito da consulta está na posição de quem é ou pretende ser membro de um grupo, ele deve saber que só a muito custo irá conseguir o que pretende no momento. O mais provável é que não consiga e que ainda venha a se arrepender de ter tentado. Isso ocorre porque as bases sobre as quais se assenta a congregação, ou os motivos que levam o sujeito à ação, embora não sejam intrinsecamente errados, são superficiais. A motivação básica, no presente caso, é a projeção social, a obtenção ou manutenção de um status, de uma posição de prestígio, quando o que deveria mover e unir as pessoas, segundo este mesmo hexagrama, deveria ser a grandeza moral, a correspondência de anseios e a satisfação íntima. Se as pessoas não estão imbuídas verdadeirmente dessas intençoes, não se pode confiar inteiramente nelas e, para as coisas não darem tão errado a ponto de gerarem arrependimento, o oráculo recomenda uma estratégia de insistência e determinação na busca do objeticvo. Tais atitudes são necessárias porque a tendência é de o sujeito da consulta sair bastante abalado destes envolvimentos de agora, mas ainda assim não completamente derrotado ou destruído: continuará querendo avançar. Se o sujeito está na posição de líder ou tem que interagir com o líder do grupo para conseguir o que pretende, fica alertado de que a liderança Elisabete Araujo Leonetti
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está apoiada em bases não muito sólidas: não há uma liderança real, emanada de uma personalidade grande e confiável: o que há é uma reunião em torno de um elemento que conseguiu, por tradição, por herança, pela força, por riqueza ou seja por que meios for, um status mais elevado que o dos seus pares. Não se pode confiar muito em tal líder porque, como ele é um pouco superficial e inconstante, suas opiniões podem variar com facilidade, não são muito firmes. Por isso, para se conseguir alguma coisa dele é necessária uma insistência constante, desde o início. A insistência pode fazer com que a pessoa alcance o objetivo e não se arrependa de se ter envolvido na questão ou de não ter tentado o suficiente. O oráculo ainda prevê que esse líder, com esse comportamento, permanecerá ainda por algum tempo: não há perspectivas de melhora ou de mudança já. Pode ainda ocorrer que, sendo ou pretendendo ser líder ou membro de um grupo, tanto faz, a pessoa perceba que só é aceita por causa do seu status, do seu prestígio, provavelmente adquirido em outros meios. Nesse caso, a falta de confiança do grupo pode vir a ser superada com a demonstração constante de um comportamento em que se evidenciem repetidamente suas qualidades. Isso dissipará um possível arrependimento, mas algum mal-estar permanecerá ainda no futuro, porque a pessoa não está absolutamente segura e determinada na sua atuação. 6ª LINHA (6): “Manifesta-se com suspiros, lágrimas e o nariz escorrendo, nenhum erro.” A pessoa a quem se refere a 6ª linha, que deveria estar felicíssima no grupo porque é, em princípio, jovial, otimista e comunicativa, paradoxalmente está em grande sofrimento, pois não conseguiu integrarse. O oráculo afirma que não foi por culpa sua que a união não ocorreu: houve elementos no grupo, talvez os próprios dirigentes, que criaram uma barreira entre ela e os outros. Eles mesmos voltaram-lhes as costas; os demais componentes, por sua vez, fracos e pobres de iniciativa, envolvidos demais consigo mesmos, nem chegam a perceber a situação difícil da 6ª linha, embora ela manifeste abertamente a sua mágoa. Pode ser que ela tenha sido rejeitada por falta de conhecimento profundo da matéria ou por ser desprovida de prestígio social; mas outros elementos do grupo também apresentam essas características, de modo que só isso não justifica claramente a sua exclusão. A pessoa então, não sentindo firmeza na sua posição, e não possuindo a necessária serenidade emocional, deixa-se abater. O resultado disso é que, no que se relaciona à questão da consulta, muito provavelmente a pessoa da 6ª linha se afastará deste círculo de agora, ficará um breve tempo meio parada, se fortalecerá, passando a não Elisabete Araujo Leonetti
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mais depender da opinião dos outros, e ficará bem, talvez integrada num grupo mais restrito.
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HEXAGRAMA 46: CRESCENDO SUAVEMENTE
JULGAMENTO: “CRESCENDO SUAVEMENTE exerce-se uma influência primordial. É útil ver o grande homem, não fique ansioso porque marchar decididamente para o sul é benéfico.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo revela que aquilo sobre que se pergunta tem plena possibilidade de dar certo, está em franca ascensão. Essa mudança para melhor, para uma posição mais elevada (podendo ser mais elevada socialmente, economicamente, politicamente, espiritualmente, fisicamente, geograficamente ou de outro modo) exerce uma influência fundamental em toda a realidade abrangida pela questão da consulta, e/ou confere, ao sujeito da consulta, poder de influir no fluxo das coisas. O processo de crescimento se dá através da dedicação ao assunto em foco, aliada a uma dócil adaptabilidade às circunstâncias. Em algum momento poderá haver ocasião para um empuxo mais decisivo, mas a tônica principal do movimento é esta: dedicação ao objetivo e conformação às circunstâncias. Não basta haver uma tomada de decisão, e geralmente o processo é lento. Um apressamento superficial do movimento ou uma inversão da ordem normal dos passos a serem dados prejudicariam o avanço rumo ao sucesso, ao invés de abreviá-lo. Apesar de não ser um movimento necessariamente alegre, também não é tenso nem agressivo, e deve ser conduzido com boa disposição de humor. Inclusive, o oráculo recomenda expressamente que se evite a ansiedade, uma vez que o bom resultado é garantido. O bom resultado, aqui, é o êxito decorrente de um trabalho, de um esforço, de uma ação desenvolvida harmoniosamente com outras pessoas, ou do deslocamento na direção do sul ou na direção do que é alto, elevado, superior, na matéria da consulta. O consulente é que deve ver qual ou quais desses casos se aplica à sua situação específica. Como a mudança prevista é muito grande e de larga repercussão, é recomendado ainda que o sujeito da consulta aproveite esta ocasião para aconselhar-se com alguém mais sábio ou experiente, porque isso lhe trará benefícios e alegrias. Por outro lado, pode ser simplesmente um encontro Elisabete Araujo Leonetti
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positivo e produtivo com alguém que detém algum poder na matéria da consulta o que dará motivo para contentamento. Convém salientar ainda que a pessoa tem e terá apoio durante todo o processo de crescimento aqui enfocado. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama sozinho, sem linhas mutantes, ou para quem o obteve como segundo na consulta, revelando essa situação positiva como o provável desfecho dos processos indicados pelo hexagrama obtido como primeiro e eliminando, assim, qualquer preocupação do consulente quanto ao assunto. Se houve linhas mutantes, elas podem alterar essa previsão, colocando-lhe senões ou adendos, ou podem, simplesmente, explicar melhor os meios e circunstâncias do crescimento. De algum modo a mudança preconizada por este hexagrama é, em princípio, irreversível: as situações evoluem e, mesmo que não fiquem para sempre no ponto superior alcançado, também não retornarão mais ao ponto em que estavam. IMAGEM: “Do centro da terra nasce a madeira, CRESCENDO SUAVEMENTE. O homem sábio, usando sua capacidade de conformar-se, acumula o pequeno para alcançar grandes alturas.” Como a madeira que cresce do interior da terra, ascendendo da condição de raiz - inferior e invisível - para a condição de caule - superior e visível - assim a pessoa sábia, quando deseja ou precisa elevar-se, dedicase completamente à tarefa e, através de um esforço discreto, imperceptível em cada passo, vai avançando em direção ao seu objetivo. Ao atingi-lo, sua nova posição aparecerá naturalmente. 1ª LINHA (6): “Crescer apropriadamente é muito benéfico.” A 1ª linha mostra a pessoa que, mesmo sem muita energia ou autoridade, e sem ajuda direta, consegue crescer, progredir na matéria da consulta, apenas com o poder da persistência e da docilidade, da adaptabilidade. Para obter esse bom resultado é claro que ela não enfrenta oposição. Embora atuando por conta própria, usufrui da concordância e aprovação dos seus pares, com quem vem a se unir, formando um todo coeso, solidário e harmônico. 2ª LINHA (9):
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“Havendo confiança, então é conveniente e útil oferecer um sacrifício frugal, nenhum erro.” Esta linha mostra a pessoa conseguindo crescer através da sua fé, da sua confiança no resultado dos movimentos que a põem em contato direto com aqueles que detêm o poder na questão da consulta. Havendo essa ligação, mesmo uma pequena ação ou um pequeno esforço tendem a dar certo, pois já existirá uma predisposição a favor da pessoa, que a sua confiança e modéstia só farão aumentar. O importante é ela cultivar o que quer, com fé e persistência, pois isso lhe trará felicidade. 3ª LINHA (9): “Crescendo numa cidade vazia.” Não há dúvidas de que a pessoa indicada por esta linha consegue avançar no caminho que tem em frente, sem dificuldade. Talvez, porém, não ganhe nada com isso, ou talvez isso seja algo vazio de significado para ela. A facilidade de seu progresso deriva da ausência de oposição: o caminho está livre. A presença de ajudantes e de fatores favoráveis reforça a facilidade do avanço. No entanto, como tudo vem de graça, também não há mérito nesse progresso. Além disso, a pessoa corre o risco de, ao avançar vitoriosamente numa determinada direção, eliminar outras possibilidades melhores e carregar consigo, envenenando as conquistas obtidas, lembranças do que deixou de lado e ficou perdido. Seria o passado envenenando o presente e o futuro. Se for para ser assim, é melhor tomar outra direção. Querendo continuar nesta direção - cujo caminho é fácil, está aberto e dará certo - que o faça com confiança e inteireza da vontade, sem ficar pensando nas outras possíveis possibilidades: ou prossegue sem se preocupar, ou procura outro rumo. 4ª LINHA (6): “O rei usa sua influência no monte Qi. Benéfico, nenhum erro.” Esta linha mostra a pessoa já numa posição elevada, no local que lhe é apropriado, exercendo atividades entre aqueles que lhe são semelhantes em grandeza e posição sem, porém, tentar suplantá-los e sem orgulho ou arrogância, mas simplesmente dedicada às suas responsabilidades, o que está correto e lhe garante o favorecimento de pessoas e circunstâncias, toda sorte de benefícios.
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Essa evolução feliz do indivíduo ou da situação como um todo tende a continuar e perdurar, contanto que a pessoa cuide de se manter no cargo e no local apropriados. Deslocada, ela não conseguirá mais nada. Resumindo, a pessoa já está num lugar e posição elevados e certos para ela; tem que tratar de manter-se ali. 5ª LINHA (6): “Insistir é benéfico caso se cresça gradualmente.” A pessoa, conforme mostra esta linha, consegue chegar onde quer e ter suas aspirações plenamente atingidas, contanto que se conforme em avançar - e elevar-se - gradualmente, por etapas. Se as suas ações atuais estão promovendo um crescimento progressivo, então deve continuar com elas, pois a ascensão assim obtida lhe será benéfica: chegará a uma posição de importância e abundância, onde será útil e generosa para todos os que precisarem dela, inclusive para os seus relacionamentos atuais, que são profundos e valiosos. Isso é verdade especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. 6ª LINHA (6): “Crescendo na escuridão, é conveniente aqui insistir sem relaxar.” Esta linha mostra a pessoa que já progrediu muito naquilo que constitui a matéria da consulta, mas que agora está com o caminho à sua frente escurecido. Se, apesar de o caminho estar oculto, encoberto, a pessoa tiver que prosseguir, precisará manter a moderação e o equilíbrio como norma de conduta, pois as perspectivas são de incerteza, dispersão, prejuízo ou empobrecimento, e esgotamento ou exaustão; enfim, tudo o que é relacionado com perda. Para chegar até este ponto elevado a pessoa teve algum impulso e apoio, porém aqui ela adquire independência de pensamento e autonomia de ação, e passa a poder servir de modelo para os outros em vez de ter de segui-los, atendê-los ou servi-los. Com isso, por outro lado, ela também passa a contar apenas consigo mesma. A posição é delicada. Devido à previsão de perda, se a pergunta se refere a alguma ação por empreender, a pessoa talvez não deva empreendê-la por enquanto, caso tenha essa opção. Se não tiver a opção de não fazer o que estava sendo cogitado, ou se se trata de uma situação consolidada, deve insistir unicamente, estritamente, naquilo que já foi começado.
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Se esta foi a única linha obtida, a pessoa deve preparar-se para, num futuro próximo, ter de refazer ou consertar alguma coisa feita ou acontecida agora.
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HEXAGRAMA 47: OPRIMIDO PELA CONJUNTURA
JULGAMENTO: “OPRIMIDO PELA CONJUNTURA exerce-se influência. Insistir é benéfico para o grande homem que não erra, mas não se acredita nas suas palavras.” A grande influência presente sobre a realidade objeto da consulta, ou sobre o sujeito da consulta, é a do sofrimento, da dor. Este oráculo prevê sofrimento e/ou adivinha o sofrimento que já está ocorrendo. Obter este hexagrama revela, portanto, que o sofrimento é o provável resultado do rumo dos acontecimentos, ou das ações do sujeito da consulta. Se a questão formulada versa sobre algo que se pretende empreender no futuro, ou sobre acontecimentos cujo desenlace se aguarda, geralmente este hexagrama recomenda que a pessoa deve desistir, ou deve retirar-se logo do foco dos acontecimentos, se tiver a opção de fazê-lo. Geralmente; mas nem sempre a resposta é para não fazer o que se intenta ou não ter esperança; é preciso analisar a resposta à luz da pergunta e das linhas obtidas, se as houve. Na verdade, agir com correção, na direção daquilo que se quer e que, provavelmente, já está iniciado, é o que está correto e dará certo, embora com dor, incomodação, dificuldades enfim. O oráculo adverte que não adianta aconselhar, falar muito sobre o assunto ou sobre planos para o futuro, porque, por motivos que podem variar de caso a caso, mas que basicamente se prendem ao estado de incerteza e angústia do sujeito da consulta, não se dará crédito a palavras sábias. Além do mais, a realidade enfocada pela consulta está em processo de exaustão, não oferece uma base sólida para o estabelecimento de projetos, por isso não se deve gastar tempo e energia em tecer considerações sobre ela. As palavras devem ser usadas antes como uma forma de inspirar otimismo e manter alguma alegria e bom humor, mesmo em meio às dificuldades, do que como conselhos, explicações, justificativas, lamentos ou promessas. Falar e discutir agora só faria as pessoas se esgotarem ainda mais; a ação é a única alternativa que pode levar a uma saída. Um fator que pode e deve ser utilizado como apoio neste momento é a família e/ou tudo aquilo que, na vida dos envolvidos na questão, for sólido, durável, bem estabelecido e confiável: amigos, instituições a que
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pertençam, crenças, ocupações rotineiras, etc. Em resumo, deve-se procurar apoio naquilo que é firme e com que se pode contar. Obtido sozinho, ou como segundo na consulta, este hexagrama mostra o encrudecimento dos aspectos negativos da realidade enfocada, principalmente daqueles que mais podem afetar o sujeito da consulta. Obtido com linhas mutantes, estas revelarão as tendências de comportamento do sujeito face ao sofrimento que o acomete ou o ameaça. As razões do sofrimento não são claramente informadas, nem poderiam sê-lo, já que o hexagrama se aplica igualmente a inúmeros casos particulares, cada qual com seus motivos específicos. Entretanto delineiase a idéia de que ele se deve a uma circunstância onde há falta de liberdade, onde não há possibilidades de opção, onde os acontecimentos foram ou estão sendo ou serão inevitáveis, sem retorno ou conserto satisfatório possível, restando como alternativa para o sujeito apenas aceitação e resistência, resignadas ou desesperadas. IMAGEM: “No pântano não há água: a imagem do OPRIMIDO PELA CONFUNTURA. O homem sábio, porque se resigna ao seu quinhão, consegue seus objetivos.” O conselho da Imagem parece endereçar-se àqueles que não têm a opção de evadir-se do estado de sofrimento, mas que, ao contrário têm que vivê-lo na hora em que ele se apresenta. Assim, o conselho é de persistência nos objetivos e de resistência às forças contrárias. A resignação de que o Yi Jing fala é a da conscientização das dificuldades e aceitação da luta. Não adianta fingir que está tudo bem e que, portanto, não é preciso fazer nada; nem assumir a atitude derrotista de que está tudo tão mal que não adianta fazer nada. Uma disposição de ânimo equilibrada, dentro do possível, com o reconhecimento dos aspectos negativos da situação, sem desespero, é que pode dar à pessoa coragem para prosseguir e, segundo o Yi Jing, finalmente conseguir aquilo que quer. 1ª LINHA (6): “Afundando e oprimido em cima do toco de uma árvore, entra num vale sombrio e por três anos não enxerga.” A 1ª linha mostra a pessoa não conseguindo começar nem acabar direito ação nenhuma. Ela está totalmente esgotada e tolhida pela dor, pelos vestígios do passado, pelas dificuldades e incertezas do presente e pela ausência de perspectivas para o futuro. Uma parte do sofrimento apresentado por esta linha deriva do fato de a pessoa voltar-se muito para si própria, sem desenvolver os Elisabete Araujo Leonetti
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relacionamentos possíveis que se lhe oferecem, sem se abrir. Outra parte deriva da sua falta de iniciativa e visão na matéria da consulta. Essa situação tende a prolongar-se por muito tempo; mas, por fim, a pessoa já não sofrerá tanto com ela porque encontra, dentro daquilo que a cerca, elementos com que se satisfazer sozinha, consigo mesma, sem precisar de ninguém e também sem atrair inveja ou inimizade. 2ª LINHA (9): “Oprimido, mas com vinho e comida; [somente] quando chegue o da roupa cerimonial será conveniente e útil oferecer sacrifícios; avançar é prejudicial, nenhum erro.” A 2ª linha mostra a pessoa numa posição muito indefinida com relação ao assunto da consulta. Tendo desejado ou mesmo iniciado alguma coisa, ela não consegue concluir nada por enquanto. Não deve tentar avançar agora – pois isso não daria certo – e não avança mesmo, porque, apesar da sua limitação de movimento, ela tem capacidade de visão e percebe que não há desenvolvimento possível no momento. O oráculo adverte que só valerá a pena fazer esforços para o avanço quando chegar o momento decisivo, inclusive com a presença, na plenitude da sua capacidade, das pessoas que realmente têm o poder de definir os rumos dos acontecimentos, na matéria da consulta. Essas pessoas podem já estar aí, e o próprio sujeito da consulta pode ser uma delas, mas não devem resolver nada enquanto não estiverem na plena posse das suas capacidades, da sua autoridade, do seu poder sobre si mesmos e sobre a situação, enfim. Se a pessoa souber atravessar com tranquilidade este período de incerteza, curtindo os prazeres cotidianos que lhe são acessíveis e mantendo o equilíbrio interno e externo, sem perder de vista a sua meta, quando chegar a ocasião e a(s) pessoa(s) apropriada(s) poderá agir, trabalhar, esforçar-se na direção do que quer, que então provavelmente terá bom resultado. Condicionado, este, à sinceridade e honestidade das suas intenções, pois aqueles em quem ela precisa influir não se deixam enganar por atitudes interesseiras. Cumpre observar novamente que a pessoa apropriada pode ser simplesmente uma disposição, um estado favorável da própria pessoa da 2ª linha ou de quem interage com ela. Concluindo, o correto, neste momento, é conservar a serenidade e distrair-se do sofrimento, divertindo-se, aproveitando as boas coisas da vida que, aparentemente, não faltam. 3ª LINHA (6): “Oprimido numa rocha, aferra-se a arbustos espinhosos; entra na sua casa e não vê a sua esposa, prejuízo.”
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Esta linha mostra a pessoa confrontada com um sofrimento inarredável e em circunstâncias extremamente negativas, sem nenhum apoio forte, com o relacionamento limitado ao círculo mais próximo que, ao invés de lhe dar amparo e companhia, mostra-se esquivo, distante, talvez agressivo e, finalmente, ausente. Primeiro ela não consegue afastar nem modificar a causa do sofrimento, que se apresenta inabalável e árida como uma rocha. Segundo, não tendo ligações fortes e boas em que se apoiar, procura agarrar-se àquilo que lhe está ao alcance e acaba apoiando-se em coisas erradas que, além de não lhe darem sustentação, por serem de natureza evasiva e inconsistente, ferem-na mais ainda, aumentando o seu sofrimento. Terceiro, ela procura a sua família, ou aquele grupo, aquele companheiro, aquela instituição com que costumava contar, e vê que já não pode mais contar com ninguém, nem mesmo com os mais chegados: está sozinha. A carga fica realmente muito pesada para a pessoa, e ela não aguenta, sucumbe ao peso do sofrimento (ou da dor, do cansaço, da responsabilidade, do que quer que seja que a aflige). Se a consulta ao oráculo for sobre alguma ação futura que se pensa empreender e somente esta linha foi obtida, isso significa que a resposta é não: a ação não deve ser empreendida. Se houve outras linhas mutantes além desta, significa que a pessoa deve utilizar sua capacidade de percepção para identificar os obstáculos que não podem ser removidos nem modificados e tratar de contorná-los, ou se afastar deles, ou aceitálos, submetendo-se a eles com resignação, para não cair na situação aqui descrita, de um sofrer sem esperança de alívio ou ajuda. 4ª linha (9): “Chega, muito lentamente, oprimido numa carruagem de metal; envergonha-se, mas alcança seu objetivo.” Atrapalhada por tendências conflitantes, a pessoa não tem muitas possibilidades, mas acaba atingindo o seu objetivo, ou conseguindo melhorar a sua situação, embora com lentidão e com sofrimento. Ela hesita muito entre falar ou não falar (e falar não adianta muito mesmo neste momento) e entre submeter-se à ordem estabelecida resignando-se ao rumo que os acontecimentos tomaram - ou seguir os seus impulsos e procurar influir um pouco no rumo das coisas. É dotada de energia interior, mas a manifestação dessa energia só pode ocorrer gradualmente, lentamente, porque não possui força social e, no grupo mais íntimo, sua posição também é de pouca autoridade: ela não está em condições de impor nada, embora também não precise se submeter a outros. Sofre por algo que possui em quantidade e que a oprime, e sofre Elisabete Araujo Leonetti
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pelo que não possui e cuja falta lhe causa sentimentos de carência e vexame. Porém ela não está realmente sozinha: sua ligação mais forte é com elementos simples, quiçá obscuros, que não se sobressaem pela posição, mas de quem a pessoa recebe afeto, talvez, e pequenos auxílios, de ordem material e/ou mental, que aceita sem grandes expectativas e que a ajudam a compreender a sua situação difícil e a superá-la. Assim, apesar de todo o sofrimento há uma previsão de solução, especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Se houve outras, há que considerá-las para saber a tendência de encaminhamento da situação enfocada pela consulta. 5ª LINHA (9): “Corta narizes e pés, oprimido na sua roupa cerimonial, mas se ficar calmo haverá alegria; é conveniente e útil oferecer sacrifícios.” Esta linha mostra a pessoa não conseguindo o que deseja, impedida de avançar e em meio a grande sofrimento, provavelmente com muita raiva, revolta e agressividade. Se ela suportar com paciência e tranquilidade a sua condição atual, buscando refúgio no mundo espiritual, então conseguirá libertar-se do sofrimento e ter alegria. Se não tiver serenidade, se ficar com raiva e atacar todo mundo, somente prolongará o sofrimento. O hexagrama indica que a pessoa, no desenrolar da questão da consulta, não perde a sua dignidade, o seu senso de justiça e a sua correção. O que acontece de errado com ela é que está mal servida de colaboradores, ou de parceiros, não tendo ninguém em quem possa se apoiar e, na verdade, ninguém em quem possa confiar. Quando a situação melhorar também ocorrerá o afastamento dos atuais elementos prejudiciais, mas, como ficou dito acima, isso depende de grande firmeza interna da própria pessoa e de ajuda espiritual superior. 6ª LINHA (6): “Oprimido no meio de galhos de trepadeira, inseguro e oscilante, diz: ‘mover-se provocará remorso’. Mas, ainda que haja remorso, avançar decididamente é benéfico.” Esta linha mostra a pessoa que está sofrendo e que se sente enredada nos seus problemas, presa, sem condições de livrar-se deles. A pessoa está sem apoio, sem força e, na sua insegurança e incerteza ela imagina que, se tentar libertar-se, se avançar na direção de sair da situação que a faz sofrer, poderia não dar certo e ela poderia vir a arrepender-se e ter remorsos.
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No entanto, obter esta linha é justamente um alerta para a pessoa de que não há nada que realmente a prenda, de que ela pode libertar-se com facilidade se assim o decidir com firmeza, e de que é isso o que deve fazer, o que dará certo e contribuirá para a sua felicidade. Assim, a pessoa deve encher-se de valor, de coragem, e agir, avançar na direção da libertação do sofrimento, não fazendo caso dos entraves e dificuldades, pois pode afastá-los facilmente. Ainda que, de início, sinta-se um pouco desconfortável e insegura quanto à decisão tomada, logo se sentirá bem. Deve, entretanto, evitar disputas por mesquinharias e evitar discussões, pois isso a atrairia para um nível inferior de comportamento e, ainda que lhe adviesse algum ganho dessas querelas, seria de pouca valia, mais simbólico do que útil, e logo lhe seria tirado de novo, ou se revelaria inválido. Não compensa deixar-se envolver emocionalmente: deve usar a razão, tanto para vencer o medo de agir quanto para manter-se firme e superior.
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HEXAGRAMA 48: SUSTENTANDO COMO UM POÇO
JULGAMENTO: “SUSTENTANDO COMO UM POÇO: muda-se uma cidade, mas não se muda um poço; não há perdas nem ganhos: vai desordenadamente ou volta, mas o poço permanece um poço. [Mas, caso esteja] completamente seco, sem a corda do poço ou com o balde estragado, é um prejuízo." A resposta do oráculo indica que aquilo que constitui o núcleo da questão da consulta permanece ou permanecerá inalterável e disponível, a não ser que alguma linha ou um segundo hexagrama indiquem o contrário. Se é uma mudança o que se pretende, ela não virá. Este hexagrama mostra ao consulente algo que, dentre as contínuas mudanças de tudo, é, em princípio, imutável. É o que não muda. Trata-se de um ponto fixo, de algo com que se pode contar - ou se deveria poder contar - em qualquer ocasião e sob quaisquer circunstâncias, porque está profundamente assentado e solidamente estruturado. Algo que não se esgota pelo uso: ao contrário, realiza a sua essência ao ser usado, aproveitado. Algo a que, por outro lado, nada ou pouco podemos acrescentar por nossa vontade ou iniciativa: parece que a manutenção da realidade a que se refere a consulta transcende a ação individual e voluntária do sujeito da consulta. Podemos agir em função daquela realidade, orbitar em torno dela, aproximar-nos ou afastar-nos, inclusive ignorá-la, negá-la; mas não podemos alterar a sua essência: ela continuará sendo o que é. E, para o sujeito da consulta, não haverá perdas nem ganhos: fica tudo basicamente no mesmo patamar em termos de vantagens. Todo o valor daquilo que é o objeto da consulta - que pode ser uma pessoa, uma instituição, um emprego, um sentimento, uma habilidade, um posicionamento, etc., etc. - está em ser utilizado, ter seu conteúdo usufruído. Não basta haver a possibilidade de utilização: é preciso que haja utilização efetiva para que seja válido e produza os efeitos que deve produzir. Deriva daí que os meios de utilização do conteúdo sejam tão importantes quanto o conteúdo em si. Há, portanto, duas possibilidades de ficar prejudicado aquilo que se intenta: 1) Se vier a faltar o conteúdo. Faltando a substância mesma de que a realidade objeto da consulta é constituída, ou seja, se ela vier a esvaziar-
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se de conteúdo, de significado, é como se não existisse: perde seu valor, fica sem merecimento algum, pois não tem nada a oferecer. 2) Se vier a faltar utilização do conteúdo. Se aquilo que a realidade oferece não puder ser aproveitado por falta ou deficiência de meios, isso seria um grande prejuízo, uma infelicidade. Se este hexagrama saiu sozinho ou como primeiro, a condição de permanência e disponibilidade provavelmente já existe ou seria desejável no momento da consulta. Se saiu como segundo, derivado de outro hexagrama, isso significa que a matéria da consulta tem a tendência a se consolidar numa situação de imutabilidade, pelo menos por enquanto, por algum tempo. É claro que a situação encerra perigos. O perigo básico é o de que uma grande separação entre os vários envolvidos na questão possa vir a inviabilizar a utilização daquilo que, em princípio, deveria estar aberto e disponível, como uma fonte inesgotável. Se a pessoa obteve linhas mutantes, estas revelarão outros possíveis riscos ao bom desenvolvimento da matéria. Do ponto de vista do posicionamento do sujeito da consulta, este hexagrama apresenta dupla possibilidade: ou ele é o doador, o fornecedor de algum elemento vital para outros, devendo comportar-se de modo aberto, acolhedor e generoso, mantendo-se sempre disponível para a comunicação e a doação; ou ele recebe de alguém um elemento vital do qual precisa e deve, portanto, manter-se aberto e disponível para aquela pessoa. Em ambos os casos, o valor do doador reside no quanto ele realmente doa: isso é muito importante e deve estar bem vivo na mente do consulente. Às vezes pode acontecer de o mesmo indivíduo ser o doador e o receptor, na medida em que vá buscar no fundo de si mesmo os elementos de que necessita para resolver a questão que o levou a consultar o oráculo. IMAGEM: “Há água encima da madeira: a imagem de SUSTENTANDO COMO UM POÇO. Assim, o sábio, porque recompensa o povo pelos seus esforços, ensina as pessoas a se ajudarem mutuamente.” O conselho da Imagem se dirige especialmente àquele que, na questão da consulta, desempenha o papel do doador, definindo qual seria o seu comportamento ideal. Em 1º lugar é dito que aquela pessoa ou entidade tem o que doar, tem conteúdo permanente e, agindo com bondade desinteressada, deveria colocá-lo à disposição de quem precise dele, pois este conteúdo é de tal ordem que não se gasta nem se exaure ao ser repartido.
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Em 2º lugar a Imagem diz que a pessoa deve praticar a doação para ensinar os outros a também agirem assim, a também serem abertos, prestativos e solidários uns com os outros, doando com franqueza aquilo de que dispõem e que pode ser distribuído sem fazer falta. Resumindo, o doador deve ser profundo e ceder, e o ensinamento da doação se faz através do exemplo: mostrando a prática dessa virtude se pode chegar a desenvolvê-la nos outros. 1ª LINHA (6): “Um poço emporcalhado não alimenta, num poço em decadência não há pássaros." Esta linha mostra que aquilo que deveria ser doado está prejudicado, imprestável, de modo que a ação de sustentar a vida em torno já não se realiza mais. Não há conteúdo utilizável, portanto não há utilização. Não havendo utilização, a coisa perde o seu sentido de ser. As causas disso são: falta de atenção e cuidado desde o início; falta de energia e objetivos da pessoa que deveria encarregar-se do assunto; falta de estímulos vindos de fora. A tendência é a de uma espera acomodada e longa que, embora não ocorra por culpa da pessoa, nem lhe traga prejuízos, também não trará benefícios. Esta é, certamente, uma situação que se deve evitar, se se tiver poder para tanto. Portanto, se a situação estiver no início ou, de qualquer forma, em tempo de ser ativada ou reativada, preenchida com conteúdo utilizável, isso é o que deve ser feito, antes que o momento certo passe. Se a consulta trata de algo que depende de uma decisão da pessoa, a resposta é para evitar tudo o que possa sujar, poluir, diminuir ou rebaixar a matéria em questão, a fim impedir que se torne inferior, que entre em decadência e caia em desuso, seja abandonada. Porque, se isso acontecer, será muito difícil reengrenar o movimento, ter de novo ideais e perspectivas para o futuro. 2ª LINHA (9): “Num poço profundo se flecham peixes, mas o cântaro deteriorado vaza.” Aqui, a realidade a que se refere a consulta está plena de conteúdo, mas há problemas com os meios de utilização do conteúdo. Assim, ele não é compartilhado e perde o seu valor, pois só pode ser aproveitado pelo seu próprio possuidor e por aqueles que, com ou sem merecimento, já estão naturalmente ali, inseridos naquela realidade e sem intenção de sair dela. Há vida e energia, mas elas ficam ocultas no fundo, sem meios de se manifestar, se expandir e frutificar. As tentativas de aproximação daquilo que se quer, ao invés de propiciarem maneiras adequadas de trazê-lo à tona, focalizam-lhe aspectos Elisabete Araujo Leonetti
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isolados e secundários, quiçá inferiores, e com isso talvez até prejudiquem a totalidade da matéria. Com relação ao mais importante, os meios são tão inadequados para se adentrar nele, e a ação é executada com tal desleixo que, ao final, fica tudo desaproveitado. Aquele conteúdo rico é desperdiçado. O ideal, que seria doar, compartilhar, não é realizado. Isso ocorre porque faltou, ao sujeito de desejo, de iniciativa e, principalmente, que ele encontrasse os meios certos de mesmo, por outro lado, teve a força, necessários para desenvolver.
da consulta, a dose necessária de bons relacionamentos para explorar o conteúdo que ele a persistência e o equilíbrio
A tendência é de a pessoa encontrar muitos obstáculos dificultandolhe o avanço no sentido da evolução da matéria da consulta. Tais obstáculos não foram causados pela pessoa, nem por culpa sua, mas são decorrentes naturais da necessidade de efetuar a doação, a sustentação, de compartilhar aquilo que se tem a oferecer e que não está sendo adequadamente aproveitado. Por enquanto o oráculo não diz se e quando os obstáculos serão superados. 3ª LINHA (9): “Um poço com folhagem não alimenta: meu coração sofre porque poderia ser usado para puxar água. [Mas] um rei esclarecido faria que todos alcançassem a felicidade.” Aqui a matéria a que se refere a consulta existe, possui conteúdo de qualidade e em quantidade, há meios de utilização do conteúdo, mas falta a determinação de utilizá-lo. Assim, as coisas ficam sem sentido e deixa de ser proporcionado um benefício, uma felicidade, para todos os que poderiam ser atingidos, gerando grande pesar naqueles que têm consciência do valor do bem desaproveitado e de que não há uma razão forte para que as coisas estejam como estão. Para o sujeito da consulta, é doloroso deixar de dar ou deixar de receber algo que está ali, farto, bom, disponível, e simplesmente sem uso. Se não estiver no poder do sujeito desta linha determinar a distribuição ou a utilização daquilo que constitui a matéria da consulta, mesmo que tente ele não o conseguirá. Sofre com isso, mas não pode fazer mais do que apelar por ajuda. Os seus relacionamentos, entretanto, também não possuem autoridade ou força suficientes para tomar uma decisão e pô-la em prática. A tendência, neste caso, é de que a pessoa, incapaz de conter seu ímpeto de ação por mais tempo, acabe tentando fazer alguma coisa, que não dará certo, pois não encontrará apoio e acabará afundando-se mais e mais, sem resolver nada. Se, por outro lado, o sujeito da 3ª linha é também aquele que detém o poder de decisão de abrir a realidade objeto da consulta para utilização por todos que dela necessitam, e não o fizer, estará agindo de forma Elisabete Araujo Leonetti
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errada, gerando, para o futuro, dificuldades e isolamento para si próprio. Ele é a única pessoa que pode fazer alguma coisa válida por enquanto. Se esta não for a posição do sujeito da consulta, ele não pode e não deve fazer nada. Concluindo, ficam desta linha as mensagens do sofrimento por aquilo que poderia ser um benefício e queda desaproveitado, e da esperança de que isto se resolva através da conscientização daqueles que têm poder para decidir e mudar a situação. 4ª LINHA (6): “Um poço entijolado, nenhum erro.” A realidade objeto da consulta existe, está lá, firme e imutável, porém temporariamente sem conteúdo e, consequentemente, sem possibilidade de utilização. Isso se deve a que aquela realidade está em processo de saneamento, de restauração, de alterações para melhor, não havendo, portanto, erro no fato do seu não aproveitamento. A pessoa a quem se refere a 4ª linha, tendo lucidez, percebe a fragilidade da sua posição, toma consciência das falhas ocorridas ou possíveis de ocorrer, e procede aos ajustes necessários. Ela tem uma atitude otimista frente à impossibilidade temporária de doação ou de recepção. Prepara-se assim para as prováveis necessidades futuras, quando a demanda ou a carga sobre ela deverá aumentar muito e ela precisará estar forte para manter-se firme e sustentar-se a si mesma. Em resumo, esta linha apresenta alguém ou algo com necessidade de restauração e que, mesmo depois de arrumado e fortalecido, deve cuidar primeiro de si mesmo, para não quebrar de novo. 5ª LINHA (9): “Um poço límpido, uma fonte refrescante da qual beber.” Aqui se mostra uma situação ótima quanto à realidade objeto da consulta: ela existe, tem conteúdo de excelente qualidade e utilidade, e este pode ser aproveitado sem problemas. Se essa situação ainda não existe, sem dúvida é o ideal que o Yi Jing considera que se deva atingir. Se a pergunta foi feita a respeito de algo ou alguém sobre cujo valor tínhamos dúvidas, a resposta indica a perfeita validade daquela pessoa ou ser, e explica que isso se deve à sua correção intrínseca e à sua posição firme e equilibrada, apoiada profundamente em si mesma, capacitando-a, portanto, a atuar como doador na matéria da consulta. Se a pergunta se referir a nós mesmos, a resposta revela o comportamento que devemos assumir em relação à questão da consulta: Elisabete Araujo Leonetti
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sermos profundos de conteúdo e ao mesmo tempo claros, transparentes, sem guardar elementos ocultos; sermos disponíveis e benéficos para aqueles que se aproximam de nós, compartilhando o que temos de bom. Continuando assim, a perspectiva é de felicidade e avanço gradual na direção do desejado, alcançando-o plenamente, inclusive solidificando mais ainda as relações, na matéria da consulta. 6ª LINHA (6): “Um poço utilizável não deve ser coberto, existe confiança e um benefício primordial.” Aqui a realidade objeto da consulta existe, possui conteúdo e este está disponível para a utilização. A existência dessa realidade, nessas condições, se reveste de importância dentro do assunto da consulta, pois é um ponto de apoio fundamental para o bem-estar de todos os envolvidos. O fato de se constituir numa fonte de sustentação, que contribui para a felicidade dos que dela se aproximam, revela o grande aperfeiçoamento da pessoa a quem esta linha se refere. O Yi Jing salienta a responsabilidade dessa pessoa quanto à doação de seus dons, os quais devem ser livremente distribuídos, atendendo à expectativa e correspondendo à confiança dos receptores, entre os quais estão grandes e pequenos, próximos e afastados, comedidos e impetuosos. Se a pessoa, cedendo a fraquezas próprias ou a ordens de terceiros, se fechar, se furtar à participação e ao compartilhamento, perderá os dons que agora a fazem ser procurada e terá sofrimento, infelicidade. Concluindo, a pessoa a quem se refere esta linha deve partilhar os seus dons.
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HEXAGRAMA 49: RENOVANDO RADICALMENTE
JULGAMENTO: “RENOVANDO RADICALMENTE, no dia oportuno inspirará confiança por ser primordial, influente, conveniente e insistente. O remorso desaparece.” Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing significa que o assunto da consulta foi, está sendo ou será objeto de uma grande mudança renovadora. Essa mudança pode consistir num processo natural, como a muda de pelo dos animais, o secar e o rebrotar das plantas, as diversas fases biológicas dos seres humanos, a alternância das estações do ano. Pode também consistir num processo político renovador: uma revolução, uma troca de dirigentes, uma modificação das leis ou do regime de uma nação. Pode consistir ainda de mudanças particulares, individuais ou coletivas, psicológicas, físicas, ambientais, sociais, econômicas, artísticas, etc. Em qualquer dos casos, só se pode constatar que houve uma verdadeira renovação depois do fato consumado: enquanto as mudanças estão se processando, nós não podemos prever até onde elas irão. Mas o oráculo pode e por isso alerta o consulente de que ele está diante de um processo de renovação. Obtendo este hexagrama com linhas mutantes, elas dirão o alcance e o resultado provável da renovação, bem como outros pormenores a respeito das pessoas envolvidas, do próprio consulente e das circunstâncias. A renovação requer movimento expansivo, porque não se pode renovar sem jogar alguma coisa fora; e requer energia, porque não se pode realizar um movimento sem energia. Envolve clareza, que inclui a percepção do real, o predomínio da razão e é necessária para orientar o movimento. Com a contribuição desses elementos a renovação tem chances de se realizar até o fim e de resultar em alguma coisa de bom. Se somos nós mesmos que pretendemos empreender a renovação de algo, dentro ou fora de nós, podemos nos propor a agir levando em consideração estes quatro fatores - movimento expansivo, energia, percepção do real e racionalidade - para levar a bom termo nossa ação. No entanto, se somos tomados e levados por uma onda de renovação, sem que nos seja dado detê-la ou comandá-la, apenas podemos fazer a nossa Elisabete Araujo Leonetti
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pequena parte no movimento geral e esperar que os dirigentes da renovação estejam considerando aqueles fatores. Em princípio, todo movimento de renovação origina-se na necessidade de remover ou eliminar elementos nocivos à ordem, ao bom andamento de uma determinada realidade. (Não podemos esquecer que o bom andamento de uma realidade nem sempre é bom para nós: simplesmente é o que perfaz a natureza daquela realidade.) Esses elementos nocivos tanto podem se ter tornado nocivos com o tempo, por deterioração ou algo assim, quanto podem ser nocivos em si, tendo sido assim desde a origem. Não importa desde quando a renovação é necessária. O que importa é que o Yi Jing está dizendo que este momento, o tempo enfocado pela consulta, é época de renovação. Também não importa se a renovação visa ao interesse só de alguns ou ao bem de todos, se o seu benefício será parcial ou global. Deveria servir ao bem comum, deveria trazer benefícios globais, mas talvez não seja assim, talvez traga mais mal do que bem, dependendo das intenções iniciais e do modo como for conduzida. Seja como for, o consulente está inserido nessa época de renovação e é melhor que ou se adapte a ela ou mude os seus rumos, se tiver capacidade para isso. Caso o consultante seja chamado a promover uma renovação que envolva outras pessoas, deve saber que só conseguirá demovê-las se obtiver a confiança delas. Depois disso, deve motivá-las a segui-lo através da alegria, do entusiasmo. Para inspirar confiança nos outros ele deve mostrar como aquele movimento dará origem a muitas coisas, as quais se desenvolverão e trarão benefícios a muitos e, principalmente, deve demonstrar constância no seu comportamento e nos seus ideais. IMAGEM: “No centro do lago há fogo, a imagem da RENOVAÇÃO RADICAL. Assim, o sábio coloca ordem naquilo que se passou e esclarece o momento. No que diz respeito a mudanças que produzem uma renovação, a grande sabedoria consiste em prever e preparar. A renovação é um processo que depende principalmente do tempo porque, normalmente, decorrido um certo tempo de sua existência ou de sua presença em nossas vidas, é preciso renovar as coisas. Nisso se incluem todos os tipos de realidades, desde os objetos materiais até os governos, as religiões, os conhecimentos, os relacionamentos, os métodos, etc. Quem consegue, estudando os sinais que se apresentam, prever o m o m e n t o e m q u e a r e n o va ç ã o s e r á n e c e s s á r i a o u o c o r r e r á espontaneamente, pode preparar-se para as mudanças que estão por vir.
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Assim não será pego de surpresa e poderá agir de acordo com as exigências do tempo. O conselho para quem obteve este hexagrama é o de situar no tempo o objeto da consulta e ver em que fase está da sua existência ou da sua presença em nossa vida, para poder agir de acordo com o momento. Às vezes é preciso colocar os vários elementos do assunto em relação uns com com os outros e analisar a interação entre suas fases para chegar ao motivo da renovação. Essa análise provavelmente vai nos esclarecer a respeito da iminência ou não de uma renovação, do tipo de mudanças que ela vai exigir ou provocar, e sobre quem ou o que ela ocorrerá. E talvez mais alguma coisa. 1ª LINHA (9): “[Quer] renovar amarrado por uma camisa de força amarela.” Sentindo-se ativa e forte, a pessoa da 1ª linha tem vontade de promover mudanças, renovações, mas existem dois fatores atrapalhando a concretização desse seu desejo, os quais ela provavelmente não percebe: 1º) Ela está sob a influência de uma tendência moderadora e/ou conservadora que tolhe os seus movimentos. É uma tendência a achar que tudo pode ser conciliado, inclusive os opostos, e que, portanto, não será necessário descartar-se de nada, promover alterações radicais. Essa tendência tanto pode provir de si mesma quanto de fora. 2º) Ela não está em contato com ninguém que partilhe de seu desejo de mudança e que se disponha a ajudá-la. Mesmo que lhe cheguem exemplos de pessoas e ideias renovadoras, já vem filtrados pela tendência moderadora/conservadora citada anteriormente. Desse modo não é adequado fazer nada. O resultado é que, se não houver outra linha mutante indicando a efetivação da renovação, a pessoa da 1ª linha não conseguirá as mudanças desejadas, ficará na imobilidade, apenas cogitando consigo mesma. 2ª LINHA (6): “No dia oportuno certamente ele renovará. Avançar é benéfico, nenhum erro.” A pessoa da 2ª linha está em harmonia com a época da renovação. Equilibrada, sem pretensão de dominação sobre os outros, adaptada às exigências do momento, ela tem consciência de que o tempo é de renovação, percebe o momento oportuno para agir e tem uma posição favorecida pelo apoio de quase todos os envolvidos na situação, desde os mais hesitantes aos mais ativos, dos mais obscuros aos mais destacados.
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Então, nessa conjuntura, se ela agir, estará certo, será muito bom e obterá o reconhecimento dos outros envolvidos na situação. Se agir, bem entendido, no sentido da renovação, da mudança, do novo, da partida em viagem, da iniciativa, do avanço. A pessoa deverá agir com decisão, mantendo-se vigilante e preparada para qualquer eventualidade. Assim não precisará recear nada, pois estará em segurança. 3ª LINHA (9): “Avançar decididamente é prejudicial e insistir, perigoso, por isso discute três vezes a renovação e gera confiança.” A pessoa da 3ª linha sabe que está se processando uma renovação, da qual ela obrigatoriamente participa, mas não deve, mesmo que queira, aderir à renovação imediatamente, pois precisa considerar certas questões antes. Primeiro, ela depende de estruturas que pertencem ao modelo antigo. Segundo, ideologicamente ela se identifica com o novo, considerando sábio o embasamento teórico da mudança. Terceiro, ela faz parte, pela sua posição, daqueles que devem compor o corpo ativo do movimento de renovação, só que não pode, de modo algum, comandar o movimento. Ela é como se fosse o pé, que tem de ir aonde a cabeça mandar. Apesar de tudo, é um “pé” lúcido, consciente, que quer saber para onde está sendo levado e por isso precisa refletir antes de agir, coisa que às vezes as circunstâncias, ou os outros, ou algum aspecto dela mesma não respeitam muito, pressionando-a a uma definição. Mas, mesmo sendo esta a sua única opção, ela deve ponderar bem antes de se decidir, seja por uma viagem, pelo ingresso numa sociedade empresarial ou conjugal ou outra, por uma cirurgia, por uma mudança de domicílio, de curso, de profissão, enfim por uma alteração qualquer. Assim, é somente com muito rigor e firmeza que a pessoa da 3ª linha consegue manter sua posição própria dentro da situação. Quando, tendo analisado tudo o que podia, ela se define, é porque adquiriu algumas certezas e assim, além de estar mais segura, também inspirará confiança nos outros, que saberão que podem contar com ela no processo renovador. Isso não quer dizer que as coisas serão inteiramente satisfatórias para a pessoa da 3ª linha. A situação é delicada porque, como vimos, ela praticamente tem que optar pelo novo enquanto ainda depende do antigo. Portanto, no processo de mudança, ela perde alguma coisa. Mas, como a época é de renovação, mudar é a opção correta que acabará, no final, atendendo aos anseios da pessoa ou, pelo menos,
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conduzindo a bom resultado. Para isso a pessoa não deverá esmorecer, mas sim manter conduta constante no rumo da renovação. 4ª LINHA (9): “O remorso desaparece. Tendo confiança modifica seu quinhão; benéfico.” A pessoa a quem se refere a 4ª linha já não depende do sistema antigo, embora ainda se relacione com ele. Ela também não tem uma identificação ou um compromisso com o novo. Na verdade, ela é bastante livre e, quanto ao assunto da consulta, sente vontade de renovar. É o seu sentimento que a inspira e ela se engaja alegre e confiantemente no movimento de renovação. Ela não lamenta que seja obrigatório ou não mudar alguma coisa; não se atrasa nem se adianta: vive plenamente a época de renovação, sem questionar. A sua atitude e os seus ideais geram apoio e confiança nos outros e ela encontra (ou já possui) companheiros que formam um corpo solidário com ela no processo de mudança, um grupo no qual ela não está subordinada a ninguém e tampouco comanda alguém. Assim a pessoa da 4ª linha atua, promovendo as mudanças desejadas e, através disso, chega a uma nova situação estável, com a renovação completada. Um dia, no futuro, essa nova situação ficará, por sua vez, desatualizada e necessitará de renovações. A pessoa deve ficar alerta para ver e pronta para agir quando novamente renovações se fizerem necessárias. Deste modo ela realimentará a boa sorte que tem agora. 5ª LINHA (9): “O grande homem transforma-se num tigre, tem confiança antes mesmo de consultar o oráculo.” A pessoa a quem se refere esta linha não espera que o movimento de renovação comece para se engajar nele. Na verdade, ela é que começa um m ov i m e n t o, m u d a n d o a s i m e s m a d e a c o r d o c o m p r i n c í p i o s revolucionários, inovadores, absolutamente de acordo com o que de mais evoluído se pode ter na época, e ao mesmo tempo respeitando e preservando o que há de sensato, equilibrado, bom, no sistema antigo. Trata-se de um ato de coragem porque ela corre o risco de ser diferente, de ser única, de ficar deslocada por não se identificar integralmente com nenhum dos modelos vigentes. Mas age com alegria e desprendimento, amparada na sua força pessoal, na segurança da sua posição, na correção do seu raciocínio e no seu bom senso. O resultado é que ela cria o seu próprio modelo e passa a ser modelo para os outros, liderando assim um movimento renovador antes mesmo Elisabete Araujo Leonetti
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que haja um movimento ou que se tenha pensado em renovação. Se a pessoa tem ou não consciência do papel influente que exerce, talvez o consulente saiba. O que o oráculo lhe diz é que ela é uma influência forte no sentido do novo, quer exerça essa influência conscientemente ou não. Mantém coesa união com seus pares, que se deixam guiar por ela; relaciona-se bem tanto com os que estão abaixo como com os que estão acima; apoia os inovadores e aprecia os moderados, pois compreende as suas razões. Se o consulente pensa, no momento da consulta, em promover uma mudança, aqui ele tem a orientação de que pode fazê-lo. Começando as alterações por si mesmo e vivendo-as autenticamente estará iniciando um processo que poderá vir a influenciar o seu meio. Quanto mais autêntico ele for e quanto mais intensamente e firmemente atuar da forma nova, tanto mais chances terá de obter a confiança das demais pessoas participantes da situação e alcançar as transformações desejadas, as quais certamente beneficiarão a todos, porque é próprio da pessoa com as características indicadas por esta linha visar o bem comum. Por outro lado, pode ser que o oráculo esteja dizendo ao consulente que, através das transformações que operou em si mesmo, através da personalidade e da maneira de ser que desenvolveu ao longo do tempo, ele já iniciou um processo renovador geral e já está exercendo influência no seu meio, seja esse meio a família, os amigos, o ambiente de trabalho ou de estudo, a vizinhança, a cidade, o país, etc. Como resultado da atuação aqui descrita a pessoa da 5ª linha atinge um ponto de plenitude, de abundância, em que nada lhe falta materialmente e ela é honrada, estimada, respeitada como modelo, e é feliz. 6ª linha (6): “O sábio transforma-se num leopardo, o homem inferior [só] renova sua fisionomia. Avançar decididamente bé prejudicial, manter-se insistente é benéfico.” Para a pessoa que obteve esta linha, o processo de renovação acaba, se encerra, mesmo que nem todo o desejado tenha sido alcançado. Há duas maneiras de o sujeito da consulta chegar ao fim do processo renovador: a) Como pessoa educada, sábia e experiente, representante do que existe de melhor no gênero humano, para quem a renovação foi algo assimilado integralmente. Neste caso primeiro foi vivenciada uma transformação interna, a qual, tendo sido assumida e vivida, revela-se externamente de uma forma natural, quase sutil de início e acabando por atingir a exuberância. Elisabete Araujo Leonetti
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b) Como uma pessoa inferior, de educação comum, ignorante no assunto em foco, que não tem sequer consciência do conhecimento que lhe falta mas que tem a experiência adquirida pela idade ou pelos percalços passados e veste o modelo novo como uma máscara, ou seja, adota exteriormente, quase que ostensivamente, atitudes conformes com as mudanças, por reconhecer a conveniência de se adaptar às circunstâncias e regras vigentes. Ela não tem uma posição própria firmemente definida para opor às circunstâncias. Mesmo que tivesse, não teria a força suficiente para sustentá-la perante os outros. Em outras palavras, neste caso a pessoa apenas segue obedientemente os comandos de fora. O resultado prático é que a pessoa da 6ª linha acaba por ser representante evidente do modelo novo, seja por convicção seja por submissão. Nas suas palavras ela expressa com otimismo o alcance das mudanças. Mesmo que não tenha participado ativamente do processo transformador, nele influiu através das suas idéias ou do seu apoio irrestrito aos elementos mais ativos. Uma previsão é aqui feita na forma de recomendação: se tentar ultrapassar o ponto alcançado neste processo de renovação, a pessoa terá problemas; se ficar onde está, terá boa sorte na condução do assunto da consulta. Na continuação a pessoa estará perfeitamente integrada com os elementos que participaram com ela desse processo, mas terá, ainda mais do que agora, consciência de que os ideais não foram totalmente atingidos. Não se lamentará, porém, por isso, porque até lá a experiência ainda mais lhe terá mostrado que a vida real não se encaixa perfeitamente em nenhum modelo ideal, devido às suas múltiplas variantes imprevisíveis.
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HEXAGRAMA 50: TRANSFORMANDO-SE PROFUNDAMENTE
JULGAMENTO: “TRANSFORMAR-SE PROFUNDAMENTE é primordialmente benéfico e influente.” Este hexagrama revela a ocorrência de uma transformação. Essa transformação pode ser do próprio sujeito da consulta ou de alguém relacionado a ele; pode ser de uma situação, do todo ou de parte da realidade enfocada pela consulta. E pode estar no presente, no passado ou no futuro, segundo o tempo sobre que se debruça o consulente. Ela se opera a partir do interior, mesmo que utilize desencadeadores ou estimuladores externos. Dentro desse processo de transformação existe, naturalmente, a perda ou o desaparecimento de alguns fatores ou elementos que fazem parte da antiga realidade, aquela que irá ser transformada. Existe a possibilidade de alguns desses fatores ou elementos terem de ser cortados com decisão, a fim de não travar o processo de transformação. Isso está bem, porque o processo é de uma transformação evolutiva, ou seja, a realidade transformada deverá ser melhor do que a antiga realidade. Não espere, porém, o consulente, uma transformação súbita, como num passe de mágica: o processo é, geralmente, lento e sutil. E de tendência positiva, produzindo uma mudança para melhor, principalmente nos planos psicológico, mental e espiritual. A tendência geral é de elevação, purificação, iluminação, despojamento do que é acessório e concentração do que é essencial. Sem dúvida trata-se de um momento de grande potencial: dele podem surgir muitas coisas. O sujeito da consulta, obtendo este hexagrama, é convidado a abrirse para a mudança prevista, a colaborar com ela, a criar condições para facilitar ou agilizar sua evolução. Mas não creio que possa, por simples deliberação da vontade e direcionamento da ação, promover a transformação, pois esta tem a sua própria velocidade e o seu próprio mecanismo quase invisível. Podemos ajudá-la, mas não manobrá-la. Também não deve haver pressa, pois as mudanças provavelmente serão lentas, imprecisas e imperceptíveis de início. No entanto, uma vez concluída a transformação, seus efeitos serão claramente visíveis.
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No âmbito das idéias, o hexagrama indica uma transformação que parte da difusão de palavras, as quais, através dos ouvidos, penetram suave e lentamente na consciência, de onde se expandem, já manifestando abertamente as mudanças. A previsão é, de um modo geral, boa, positiva, afirmativa, para quem obteve só este hexagrama na consulta, ou o obteve como segundo, derivado de outro: a matéria da consulta evolui e se expande. As linhas mutantes obtidas revelam aspectos particulares do processo de transformação, além de fornecerem instruções específicas para a sua melhor operacionalização. IMAGEM: “Acima da madeira há fogo: a imagem de uma TRANSFORMAÇÃO PROFUNDA. Por isso o sábio, corrigindo sua posição, consolida seu quinhão.” A imagem chama a atenção para a importância, neste momento, das transformações pessoais. A pessoa sábia e espiritualmente elevada promove, ela mesma, as transformações em sua vida, de acordo, é claro, com o tempo e as circunstâncias. Ajustando-se aos fatores temporais e circunstanciais - que não dependem dela, que lhe são dados - a pessoa define rumos ou fecha ciclos, traçando as linhas da sua própria vida. 1ª LINHA (6): “Um vaso sagrado virado ponta-cabeça é conveniente para deixar sair o negativo: Casar com uma concubina por causa do seu filho não é um erro.” Esta linha mostra que o primeiro passo que a pessoa deve dar para o processo de transformação é a remoção dos vestígios estagnados do passado, da situação anterior; a remoção dos preconceitos, dos condicionamentos, dos ressentimentos, enfim, de tudo aquilo que está gasto e ultrapassado, ou que se deteriorou. Para a execução desse passo pode-se assumir atitudes inusitadas ou inverter a ordem habitual das coisas. Tudo isso se torna aceitável em função do que está por vir, do novo que se pretende. Pois esta linha mostra o futuro justificando o presente, o resultado justificando a ação. O que o sujeito faz não é considerado errado, apesar de inusitado, chocante ou desestruturador da ordem vigente, porque a ação não termina aqui: este é só o primeiro passo, só a limpeza, o esvaziamento que abre espaço para algo que tem mais valor, que é bom e Elisabete Araujo Leonetti
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puro e que poderá, por causa desse preparo feito agora, manifestar-se com grandeza. Todo o comportamento adivinhado e/ou recomendado por esta 1ª linha requer um ajustamento às circunstâncias, uma certa flexibilidade e um desejo de purificação para posterior transformação para melhor. 2ª LINHA (9): “No vaso sagrado há substância; meu inimigo está doente e não consegue se aproximar de mim, benéfico.” Esta linha mostra que a matéria para a transformação já existe e está disponível, mas a dissociação entre os falores ou as pessoas envolvidas impede que se a mudança se realize plenamente. A pessoa a quem se refere esta linha pode parar e fazer alguma coisa, pode melhorar a situação, mas sua autonomia e determinação não são muito grandes e ela apresenta alguma hesitação, receio e apreensão. A pessoa não possui uma relação franca, de troca de igual para igual, com aqueles com quem tem que interagir na questão da consulta. Há desigualdade entre eles: provavelmente a pessoa representada por esta linha é o elemento mais maduro, mais seguro ou mais bem aquinhoado da relação. Também há ansiedade, devido à deficiência de contato, de comunicação. O fato de a pessoa ficar ansiosa, porém, revela a sua preocupação com o outro, o seu desejo de aproximação, e isso a livra de censuras. Caso esta linha tenha sido a única linha mutante obtida, isto significa que a pessoa não conseguirá já a plenitude da transformação desejada, a consolidação do seu caminho, mas também não perderá o que já possui, o que já conseguiu até aqui, inclusive os atuais relacionamentos, os quais deve perseverar em manter. 3ª LINHA (9): “Um caso sagrado com as alças cerceadas, sua ação está bloqueada e nem a gordura de faisão o alimenta. A chuva fará desaparecer o remorso e acabará sendo benéfica.” Esta linha mostra uma alteração nas circunstâncias externas ou nos canais de comunicação da pessoa com o mundo, o que impede a plena manifestação e aproveitamento da transformação interior realizada. Essa alteração negativa, entretanto, deverá ser rapidamente anulada ou superada através do advento de novas circunstâncias, externas e imprevisíveis, que vem em auxílio do sujeito, consertando aquilo que havia sido prejudicado e livrando-o de possíveis remorsos pela alteração anterior, que ele mesmo executou ou cuja execução permitiu ou provocou.
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Sendo assim, a pessoa não deve tentar agir, desenvolver o projeto principal da questão da consulta, antes que novas condições anulem o efeito do impedimento e que ela esteja, de novo, na posse da plenitude de seu poder de manifestação e comunicação, podendo então prosseguir com sucesso. Se nenhuma alteração aconteceu ou foi realizada pela pessoa, a obtenção desta linha é uma recomendação para que não faça ou permita modificações no contexto que envolve a matéria da consulta - se tiver poder para tanto - pois resultarão num desvio e num atraso do pretendido. 4ª LINHA (9): “Um vaso sagrado com os pés quebrados; derrama a refeição do príncipe e seu corpo fica ensopado, prejuízo.” A 4ª linha mostra a pessoa não conseguindo cumprir suas obrigações e afazeres devido a circunstâncias externas inapropriadas, e não devido a falta de capacidade interna. As circunstâncias externas sofreram ou estão sofrendo modificações negativas, talvez cortes, que impedem a sustentação das transformações internas ou daquilo que, internamente, é bom e deveria ser mantido e elaborado. Em consequência, a pessoa não consegue levar até o ponto desejado as suas produções ou as suas tarefas. O trabalho não é aprontado, o que prejudica os outros e, principalmente, a própria pessoa. Com isso, todos perdem a confiança nela, inclusive ela mesma. É possível que a pessoa tenha alguma responsabilidade por essa situação negativa, pelo fato de ter dado preferência, na atenção e atendimento, a elementos que não o deveriam merecer, em detrimento daqueles que lhe seriam mais úteis e convenientes para o bom desenvolvimento da questão da consulta. A pessoa bem sabe que deveria dedicar-se mais a determinadas atividades ou pessoas, porém não o faz, seja por gostar mais de outras, seja simplesmente por inércia, por deixarse desviar do caminho que é o melhor para a sua evolução. Se esses fatos ainda não aconteceram, esta linha deve servir de alerta à pessoa para que procure livrar-se de modificações ocorridas nas suas circunstâncias que possam afetar o seu equilíbrio geral, por sobrecarga, por retirada de apoio, por falta de bases firmes ou por qualquer outro fator que possa impedi-la de conduzir a bom termo algum empreendimento seu. De qualquer modo, uma vez ocorrida a modificação negativa de que trata esta linha a pessoa terá que agir para consertá-la, para corrigi-la, a fim de evitar ou fazer cessar os seus efeitos negativos. Permanecendo o problema, se ela tentar avançar não conseguirá nada além de vergonha, e o mais importante no momento é conseguir uma transformação interna positiva.
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5ª LINHA (6): “Um vaso sagrado com alças amarelas pendurado de um suporte dourado; é conveniente insistir.” A 5ª linha representa uma pessoa equilibrada e sem arrogância, que sabe falar e ouvir, que percebe as coisas e tem uma visão positiva da matéria da consulta e, sobretudo, que se apoia em bons relacionamentos nessa matéria. Portanto, essa pessoa deve insistir no processo de transformação que tem em mente, pois há plenas condições de realizá-lo com sucesso. As circunstâncias externas estão adequadas para que se efetue a mudança interna. Além disso, a pessoa internaliza os fatores externos e os transforma também em substância do seu processo de transmutação. Ela se apresenta receptiva aos conselhos e à ajuda vinda de fora, dos outros, e isso favorece a evolução desejada. A sua modéstia e a recusa em condescender com o mal, preservando o bem qubbbbbbbbbbbbbbbe há em si, atrair-lhe-ão ajuda espiritual, e as transformações que ocorrem consolidam o rumo da sua vida, o seu destino. 6ª LINHA (9): “Um vaso sagrado pendurado de um suporte de jade; grande benefício, nada que não seja conveniente." Esta linha mostra a pessoa tendo conseguido ou estando em condições de conseguir realizar uma transformação que será grandemente positiva para o desenvolvimento da matéria enfocada pela consulta. As circunstâncias externas lhe são favoráveis, ela possui apoios e auxiliares valiosos e poderosos, e tem energia e sabedoria próprias para conduzir bem a situação, de uma forma equilibrada, aliando as qualidades do que é forte e criativo com as qualidades do que é suave e receptivo. Ela inicia e conclui os processos. Deve, entretanto, procurar estabilizar-se após as mudanças aqui previstas, consolidando-as e mantendo-as. Se quiser mudar de novo rapidamente, promover logo novas transformações, isso será negativo. A recomendação ou previsão deste hexagrama é para a transformação interna, lenta, sutil, evolutiva e duradoura; não é para a inquietude, a inconstância e a leviandade.
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HEXAGRAMA 51: ASSUSTADO POR UM ABALO
JULGAMENTO: “ASSUSTADO POR UM ABALO, mas exerce influência. O abalo traz temor e receios, mas depois risos e conversas alegres. Apesar de o abalo poder assustar a cem quilômetros, não deixa cair o vinho da colher sacrifical.” Este hexagrama traz duas revelações ao consulente: 1. A da ocorrência de algo que, de súbito, provoca um abalo, um choque, assusta e atemoriza, afetando a situação ou a pessoa enfocada pela consulta. 2. A certeza de que as coisas se normalizarão, de que a pessoa ou a entidade - empresa, grupo, etc. - atravessará este período sem se desestruturar, levando até o fim a ação que vinha desenvolvendo ou que se propõe a desenvolver. Trata-se de um grande movimento sacudidor, provavelmente inesperado e repentino, e o sujeito da consulta necessita de calma para enfrentar a situação. Portanto, o protagonista ideal da situação descrita por este hexagrama é aquela pessoa que se mantém firme, embora assustada por um abalo. E, provavelmente é isso o que acontece: o sujeito da consulta resiste ao abalo, por maior que seja, sem deixar que afete sua postura e as tarefas que conduz. Com isso ele prova sua competência e confiabilidade. O hexagrama também traz a mensagem de que o grande medo provocado pelo abalo acarreta consequências positivas, gerando uma reorganização da situação ou da pessoa. Por trás do abalo há um problema, um obstáculo a ser superado ou contornado, conforme o caso. No entanto, este não é o momento para enfrentar o obstáculo; agora a questão é suportar o abalo, e as linhas do hexagrama indicam diferentes modos de reagir a ele. Se a consulta versar sobre a oportunidade ou a viabilidade de alguma ação futura, pode acontecer que este hexagrama revele que a ação, se
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realizada, terá um efeito imediato violento e assustador, embora, possa, depois, trazer consequências positivas. Se este hexagrama saiu como segundo na consulta, toda essa conjuntura é decorrência ou continuação dos fatos abrangidos pelo hexagrama primeiramente obtido. IMAGEM: “O trovão se repete, ASSUSTANDO E ABALANDO. Assim, o sábio, porque tem medo e terror, desenvolve-se a si mesmo.” A Imagem ratifica a idéia de que o fato de sofrer um abalo e assustar-se pode servir de oportunidade para o crescimento pessoal, porque, em função do medo sentido, a pessoa sábia procurará promover em si modificações que aumentem sua força e estabilidade, a fim de enfrentar o que está acontecendo e prevenir-se contra novas possíveis ocorrências abaladoras. Em termos mais amplos, seria aproveitar circunstâncias perturbadoras para cultivar qualidades positivas, com o objetivo de, no futuro, ter mais condições de fazer face a novas circunstâncias perturbadoras, pois elas tendem a se repetir. 1ª LINHA (9): “O abalo traz temor e receios e depois risos e conversas alegres; benéfico.” Forte e impulsiva, na matéria da consulta, a pessoa desta linha tende a se exceder ou a se expandir com muita energia, o que poderia causar problemas. No entanto, ao sentir medo - provocado por um abalo, um choque, uma alteração súbita no contexto - ela se restringe e adota uma conduta mais equilibrada, o que acaba trazendo alegria e bons resultados. Deve lembrar-se disso no futuro e não tornar a se exceder ou a permitir excessos. Devido à sua força e posição, pode ser que a pessoa desta linha seja aquela que provoca o abalo, assustando os outros e talvez até a si própria. Mas também pode ser que o oráculo simplesmente esteja dizendo que, após o susto, sem ter sofrido nenhum dano verdadeiro, a pessoa rirá do fato, que servirá de assunto para conversas alegres. A par do riso, contudo, deve tratar de manter-se prudente. Se a pessoa consultou o oráculo em busca de uma orientação, o conselho desta linha é de que controle tanto o medo quanto o júbilo, não se deixe abalar e desequilibrar. 2ª LINHA (6): Elisabete Araujo Leonetti
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“O abalo traz tanto rigor que pensa que perderá seus tesouros, mas, afastado no topo da nona colina, não os persegue, porque em sete dias os recuperará.” Esta linha mostra a pessoa que, por estar numa situação muito sólida e equilibrada, sofre demais com os abalos que desequilibram as coisas. É uma pessoa muito cautelosa e rigorosa nas suas atitudes, mas não apresenta medo. Ao sofrer um abalo, precipita-se em direção àquilo que pensa que lhe dará segurança e resolverá seus problemas. Mas não precisa fazer isso. O Yi Jing aconselha a pessoa a que não se precipite para a frente, mas sim permaneça firme na sua posição, procurando apenas elevar-se acima da turbulência dos acontecimentos, apoiando-se em algo que lhe dê firmeza e condições de ver melhor a situação. Assim a solução do problema ou a resposta buscada será, de algum modo, encaminhada por si mesma e a pessoa recuperará aquilo que prezava e lhe dava segurança, fosse essa segurança material, emocional ou de outra ordem. A ação de ir atrás do que lhe foge, se for empreendida, será desastrosa: mesmo sentindo-se solitária e insegura a pessoa deve conterse, fazendo uso dos recursos que lhe restaram e confiando que a ordem natural das coisas prevalecerá à instabilidade. 3ª LINHA (6): “O abalo o faz tremer como vara verde, mas, se agir acompanhando o abalo, não haverá calamidades.” Com relação à matéria da consulta, a pessoa da 3ª linha é frágil e está numa posição muito perigosa, como se estivesse na encosta de uma montanha, na beira de um abismo ou no ápice de uma explosão. Por isso, no momento do abalo, ela fica muito assustada e com medo, e tem motivos para se sentir assim. A única maneira de evitar verdadeiros danos é tentar adaptar-se às circunstâncias, fazer o que for preciso, “dançar conforme a música”, como diz o dito popular. A pessoa por enquanto não tem condições nem apoio para realizar o que realmente lhe interessa. 4ª LINHA (9): “O abalo é seguido por lama.” Aqui, o susto provocado pelo abalo faz com que a pessoa pare de avançar e fique parada, estagnada, perdida dentro de si mesma e das circunstâncias, sem perceber com clareza os fatos e suas razões. Elisabete Araujo Leonetti
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Também pode ser que tenham sido as circunstâncias externas que apresentaram primeiramente um movimento vigoroso, sacudindo tudo, e agora se estagnaram num ponto inerte e amarrado, deixando a pessoa sem possibilidade de ação. Mas a pessoa ainda tem energia e algumas boas relações e, por isso, acaba tomando o rumo correto para si no momento, que é o do retorno a uma condição anterior ou do encaminhamento a uma condição mais estável, mais obscura e passiva, e mais protegida do que a atual. Em resumo, esta linha indica a possibilidade de uma certa estagnação na matéria da consulta, devida à falta de visão, de consciência ou de conhecimento e informação. Isso tende a gerar, automaticamente, a instalação sutil de mudanças na situação e/ou no comportamento da pessoa. 5ª LINHA (6): “O abalo faz rigorosos o ir desordenadamente e até o voltar, porém pensa que nada perderá se ficar atarefado.” Devido a um abalo ocorrido ou ao risco de uma alteração súbita nas circunstâncias as atividades desenvolvidas pela pessoa tornam-se potencialmente perigosas, devendo ser cumpridas com muito cuidado e rigor, atenção às normas vigentes e aos detalhes. Apesar disso, é agindo e se mantendo ocupada que a pessoa, conforme indicado por esta linha, consegue permanecer firme e equilibrada em meio a condições assustadoras. Ela não tem medo, apenas cautela, e continua conduzindo as suas tarefas até o fim. Segundo a previsão oracular, a pessoa deposita ou depositará sua confiança no que é prazenteiro, satisfatório, positivo, tranquilo e estável (dentro e fora dela) e assim terá bom andamento de seus negócios e não terá perdas, apesar dos trabalhos, sustos e movimentos provocados pelo abalo, nela e nos outros. 6ª LINHA (6): “O abalo o deixa tremendo como uma corda e olhando alarmado para os lados. Avançar decididamente é prejudicial, [apesar] de o abalo não estar nele, mas do vizinho. Não há erro, mas até entre esposos amantes há palavras duras.” Para a pessoa indicada pela 6ª linha, o susto sofrido serve de alerta para o perigo que ronda e ela deve tratar de conter seus movimentos e seu avanço na matéria da consulta. Ela ainda não está preparada para manterse firme e, apesar dos abalos, levar a tarefa até o fim. Se o golpe que a assustou atingiu-a pessoalmente, então ela já sofreu algum infortúnio. Se, entretanto, o golpe atingiu aqueles que estão Elisabete Araujo Leonetti
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próximos, mas não ela própria, isso, embora tenha sido um malefício para eles, traz um benefício para ela, pois evita que incorra em erro: o medo faz com que passe a tomar muito cuidado com tudo o que compõe a realidade enfocada pela consulta. Apesar da cautela, a tensão não pode ser evitada e as relações entre as pessoas tornam-se ásperas, pois há críticas e acusações de uns, suscetibilidade em excesso de outros, e insegurança geral, especialmente daquele a quem esta linha se refere, que pode ser o próprio sujeito da consulta ou algum outro envolvido na situação. Essa falta de entendimento só tende a piorar as coisas.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 52: CONTROLANDO SEUS IMPULSOS
JULGAMENTO: “CONTROLANDO SEUS IMPULSOS: não é revirando-se para suas costas que se conquista a si mesmo, nem se movimentando no seu pátio que se é percebido pelos outros; nenhum erro." Seja qual for o curso das preocupações ou das ocupações do sujeito da consulta, a recomendação deste hexagrama é de que detenha aquele curso e se acalme interiormente. O trabalho interno de se aquietar, se acalmar, pode dar-se tanto através da parada, da suspensão da ação, quanto através do movimento, da absorção completa numa ação. Trata-se de, em meio à agitação externa ou interna - fechar-se em si mesmo ou fixar-se em algo e deixar a energia fluir dentro de si, sem se dispersar. É o abandono da preocupação e a entrega total à ocupação, seja esta ocupação ativa ou inativa fisicamente, conforme a ocasião o exigir. Essa atitude está correta e é possível neste momento porque, de fato, segundo o oráculo, não há motivo para preocupação ou não há finalidade em se preocupar. Assim, a pessoa recolhe-se em si mesma e dá as costas ao mundo e aos outros, ou pelo menos àquela realidade que a estava perturbando. No entanto, o hexagrama salienta que apenas dar às costas ao mundo ou apenas imobilizar ou movimentar o corpo não garante a tranquilidade. Para consegui-la, a pessoa deve isolar-se - nem que seja apenas interiormente - manter-se longe da agitação, pôr um obstáculo entre ela e aquilo que a perturba, e resistir, no silêncio e na absorção completa em algo que possa contribuir para a sua tranquilidade. Isso pode ser, inclusive, a prática da meditação nos moldes orientais ou mesmo nos moldes ocidentais, uma vez que tanto a diminuição da percepção sensorial e do processo racional quanto o exame intelectual e emocional profundo de uma matéria podem conduzir a um apaziguamento da psique. Se a pessoa obteve este hexagrama como primeiro na consulta, o aquietamento interno - e quiçá também externo - é a atitude correta a adotar neste momento, perante a realidade em foco. As linhas mutantes obtidas indicam as etapas desse processo ou as dificuldades que podem Elisabete Araujo Leonetti
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surgir no caminho, ou outros detalhes e recomendações específicas para cada caso. Obtido como segundo na consulta, o hexagrama revela que, uma vez realizadas as previsões ou revelações do hexagrama tirado anteriormente, a pessoa deve tranquilizar-se com relação ao assunto da consulta e manter-se quieta, sem empreender ações que possam causar perturbações e sem buscar novas associações, por enquanto. O Yi Jing faz ainda a advertência de que não basta relaxar o corpo para controlar a mente e obter o domínio de si mesmo, assim como não basta movimentar-se em meio às coisas e pessoas para conseguir sair de si mesmo, de suas preocupações e sentimentos negativos. Em síntese, não há garantia de alcançar o resultado desejado apenas adotando a atitude exterior mais condizente. A liberação interna é, ao mesmo tempo, exigência para e consequência da verdadeira quietude, e o sujeito da consulta tem, obtendo esse oráculo, uma ajuda inicial para a liberação através da mensagem de que, estando ou não estando as coisas como deveriam estar, a pessoa pode e deve acalmar-se, abandonar-se serenamente ao momento. IMAGEM: “Montanhas juntas, CONTROLANDO-SE. Assim, a pessoa sábia não deixa seus pensamentos irem além da sua situação presente.” A Imagem recomenda parar para pensar na situação presente, e só nela. A pessoa que obteve este hexagrama, se quiser agir sabiamente com relação à questão que a preocupa, não deve continuar irrefletidamente na engrenagem em que estava, conduzida automaticamente pelos seus condicionamentos, por sua ansiedade, desejo, medo ou seja lá o que for que a mova. Também não deve deixar que esses fatores façam seus pensamentos se voltarem para o passado, gerando sentimentos nostálgicos ou negativos de saudade, culpa, frustração, arrependimento, etc., nem tampouco deve deixá-los projetarem-se para o futuro, gerando ansiedade e temores. A atitude correta é centrar os pensamentos em si mesma, segurá-los no momento atual e, a partir da observação feita nessa parada, agir ou não agir, conforme seja o mais adequado para a obtenção da tranquilidade. 1ª LINHA (6): “Controlando os impulsos dos dedos do pé, nenhum erro, é conveniente uma demorada insistência.” Esta linha mostra o primeiro passo para a obtenção da quietude, que é parar o avanço, físico ou de outra ordem. Elisabete Araujo Leonetti
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Com relação à matéria da consulta, a pessoa é nova, fraca ou incipiente, não tem amigos nem quem a ajude, e tem obstáculos grandes pela frente. Portanto ela para, reavalia seus recursos e melhora-os no que for possível, especialmente no aspecto exterior, uma vez que não pode modificar-lhes o conteúdo, a substância. Então fica tranquila, avançando no seu próprio ritmo e com seus próprios meios, sem se aproveitar de ninguém. Ela inclusive recusa ajuda, apesar de seus recursos serem parcos, inferiores aos que lhe oferecem. Mas assim mantém a liberdade – autonomia – e não se aproveita do que não é seu. Isso é o que é o certo de a pessoa a fazer, e ela deveria perseverar por longo tempo nesse tipo de comportamento. Se esta foi a única linha mutante obtida, a pessoa não deve esperar grandes resultados ou realizações, mas tão somente uma maior harmonização dos vários componentes da questão da consulta, inclusive dela mesma. 2ª LINHA (6): “Controlando os impulsos da sua panturrilha nem salva seu companheiro nem seu coração ficabbbbb satisfeito.” Esta linha mostra a pessoa já tendo interrompido o seu avanço e dado início ao processo de se aquietar interiormente. Porém a preocupação com os outros, ou com alguém em especial, impede o seu sossego total, pois ela vê o perigo ou os problemas logo à frente - são iminentes - então se detém. Quem segue com ela não se volta para escutá-la e continua avançando em direção àquilo que não está certo ou que não vai dar certo. Isso lhe causa tristeza e frustração. Assim, os problemas e erros não poderão ser evitados e terão que ser consertados depois. Ao consertá-los, a pessoa não deve ser por demais rigorosa, mas sim mais condescendente e equilibrada. Não conseguirá realizar tudo o que gostaria. Deve satisfazer-se com um conserto médio e não insistir para o acerto total. Resumindo, a 2ª linha mostra a pessoa na beira de uma situação problemática, com falta de autonomia e independência, preocupada com o outro. Se ela se contentasse em agir por si e para si mesma, provavelmente ficaria tranquila porque teria feito a coisa certa, detendo-se a tempo de evitar complicações. Como ela não quer só o bem-estar para si, mas quer também resolver a situação do outro, e não o consegue, acaba sofrendo por isso. Evidentemente, há ou haverá coisas a corrigir nesse contexto. 3ª LINHA (9):
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“Controlando o impulso a limitar-se, divide suas reverências, mas o rigor torra seu coração.” Esta linha mostra a pessoa forçando uma parada quando, na verdade, sente um forte impulso para a ação e o movimento. Isso não dá muito certo, justamente porque o controle é forçado. A pessoa quer deter tanto o movimento físico quanto o mental e volitivo. Isso pode referir-se ao refreamento de uma atração. Ela faz um esforço nesse sentido; no entanto, como não há uma inclinação espontânea para o aquietamento, o esforço faz mal e causa angústia. Com relação à questão da consulta, a pessoa divide sua posição, suas tendências, não atinge a tranquilidade e acaba num processo destrutivo que afetará inclusive os seus relacionamentos. 4ª LINHA (6): “Controlando os impulsos por si mesmo, nenhum erro.” Esta linha mostra a pessoa conseguindo acalmar a si mesma e atingir a quietude. Esta atitude está correta e se desenvolve com fluidez, sem percalço nenhum. Se houve momentos de perigo vindo do exterior ou de tensão vinda do interior, a pessoa ou já os superou ou está agora em condições de dar as costas a eles. Se há obstáculos à frente, a pessoa não avança até eles: para em si mesma, no seu corpo e na sua situação presente. Caso não seja isso o que esteja ocorrendo, é a recomendação do Yi Jing para que seja feito. Se a pessoa quiser ou precisar se envolver em alguma atividade, ou tiver que viajar ou transferir-se de função, posição, etc., sentir-se-á como um estrangeiro na nova situação, deslocada e intranquila, e procurará sempre recuperar a condição interna aqui descrita, de centralização serena em si mesma. 5ª LINHA (6): “Controlando os impusos de ajudar, suas palavras se ordenamb e o remorso desaparece.” Esta linha mostra a pessoa que consegue acalmar o corpo, pacificar a mente, pôr os pensamentos em ordem e agir de uma forma equilibrada, sem culpa e sem erro. Ao comunicar-se com os outros, a sua fala é ordenada - lógica e clara - porque a mente está tranquila e os pensamentos e palavras param de sair aos borbotões, atropeladamente. Ela fala ou cala na hora certa e do modo certo, o que lhe evita arrependimentos.
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Desse modo a pessoa progride gradualmente na matéria da consulta e, embora demore um pouco, acaba tendo a felicidade de conseguir os resultados desejados. Pode também ocorrer que esta linha seja simplesmente um alerta ao sujeito da consulta - ou ao consulente - para que modere suas palavras, parando de falar ansiosa e irrefletidamente, procure acalmar-se e ponha seus pensamentos em ordem antes de manifestá-los, a fim de que o que diga não lhe venha a ser motivo de aborrecimento e arrependimento. Mesmo que não consiga nada de concreto por enquanto, estará avançando em direção ao que deseja e finalmente o conseguirá. 6ª LINHA (9): "Controlando seus impulsos com honestidade; benéfico." Esta linha mostra a pessoa, no que diz respeito à matéria da consulta, alcançando a serenidade completa. Isto não acontece repentinamente, mas sim como resultado de um processo, o qual poderá ter incluído alguma ou algumas das atitudes mencionadas na interpretação do JULGAMENTO deste hexagrama, ou em outras linhas obtidas. O fato de ter atingido esse estado já é um fator muito positivo para a pessoa, mesmo que ela não tenha conseguido tudo o que desejava, tanto no plano interior quanto no plano exterior. Agora ela deve cuidar de dois aspectos: primeiro, conservar a serenidade e o domínio de si mesma; segundo, controlar a tendência natural à vaidade que uma tal conquista acarreta, evitando vangloriar-se do estado atingido. Deve cultivar a modéstia juntamente com a autodisciplina. As pessoas próximas do sujeito desta linha também se beneficiam do seu estado de tranquilidade.
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HEXAGRAMA 53: DESENVOLVENDO-SE GRADUALMENTE
JULGAMENTO: “DESENVOLVENDO-SE GRADUALMENTE a mulher se casa; benéfico, é conveniente insistir.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que, com relação à questão da consulta, o resultado positivo é lento, mas é garantido. Desde que se insista sem pressa, cumprindo todas as etapas necessárias para o andamento do processo de acordo com as normas vigentes para aquela matéria, as coisas deverão atingir o ponto desejado, que é o que a pessoa merece e é o certo para ela. A realização de cada etapa é perceptível, embora o progresso inerente a cada uma possa não ficar evidente para o consulente. E as etapas têm que ser cumpridas na ordem prescrita: uma inversão na sequencia normal do processo levaria ao risco de não se conseguir alcançar o pretendido, devido à dissociação entre os vários componentes da questão, resultando em as coisas não funcionarem, não concorrerem para o fim a que foram idealizadas. Este não é um tempo de alterações súbitas, revoluções ou retrocessos. Ao contrário, é tempo de um desenvolvimento lento, seguro e gradual, sempre conforme regras pré-estabelecidas. Se o sujeito da consulta estiver numa posição inicial sólida e tranquila, o que é provável, isso favorecerá a evolução da situação. A tranquilidade interior, a firmeza e a solidez protegem contra atitudes precipitadas ou levianas e a adaptabilidade exterior permite um avanço regular e progressivo em direção à meta almejada, ou simplesmente à plena realização na matéria da consulta. Há indícios de que aquilo que se desenvolve seja algo de grande solidez, alcance e duração, podendo mesmo estender-se por toda a vida do sujeito da consulta, ou podendo afetar para sempre toda uma família, empresa, comunidade, etc. Essa é a previsão geral. As linhas obtidas mostrarão os diferentes estágios do progresso e, eventualmente, darão alguma recomendação específica.
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Para quem obteve este hexagrama como segundo na consulta vale só a previsão geral como provável continuação ou complementação dos movimentos indicados pelo hexagrama obtido anteriormente. IMAGEM: “Acima da montanha há uma árvore DESENVOLVENDO-SE GRADUALMENTE. O sábio, porque se apoiab num valioso potencial, aperfeiçoa os costumes.” A Imagem transmite a idéia de que o sujeito da consulta, sendo uma pessoa nobre, correta e que procura evoluir sempre, contribui para a melhoria do mundo, especialmente do comportamento e da moral das pessoas do seu meio. Isso não é uma previsão, mas sim uma constatação que deve servir de estímulo ao sujeito da consulta para que não esmoreça caso demore a ver os resultados dos seus empenhos, uma vez que o progresso previsto por este hexagrama é de desenvolvimento lento e gradual: tem que seguir determinados passos obrigatórios e não aparece logo. Mesmo assim, a influência positiva da pessoa sobre o meio já se está exercendo, imperceptivelmente, desde o início. 1ª LINHA (6): “O ganso selvagem avança gradualmente até a margem. O rigor com o pequeno filhote gera comentários, mas não é um erro.” Esta linha mostra a pessoa avançando até o primeiro estágio do seu curso. É o estágio mais elementar, mas não é a primeira etapa: já houve um caminho percorrido, passo a passo, até aqui. Esse estágio atingido é, ao mesmo tempo, um ponto de chegada e um ponto de partida, e é um local de segurança precária para o sujeito da consulta. Devido à novidade das circunstâncias e dos procedimentos a adotar, ou devido à imaturidade e inexperiência do sujeito da consulta ou das pessoas com quem tem que lidar, a situação requer muito cuidado, muito rigor, e é justo e correto que seja rigidamente controlada, para que não ocorram erros já de início, os quais poderiam se propagar e vir a causar danos. A meticulosidade, cautela e firmeza da pessoa que tem que conduzir as coisas neste momento pode provocar críticas, mas ela não deve se deixar impressionar pelas críticas, pois não está errada e, na verdade, o fato de estabelecer normas e exigir seu cumprimento evita que ocorram coisas que dêem motivo para arrependimento. A pessoa aqui representada tem objetivos, que mantém e que devem contribuir para conduzi-la a ou conservá-la em um grupo estruturado e Elisabete Araujo Leonetti
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organizado, ou em uma associação que se realiza segundo padrões préestabelecidos, a qual pode, inclusive, ser um matrimônio. 2ª LINHA (6): “O ganso selvagem avança gradualmente até o alcantilado. Comendo e bebendo fica bem satisfeito, benéfico.” Esta linha mostra a pessoa progredindo até uma posição que lhe garante segurança e bem-estar, inclusive nos aspectos físicos e materiais. A pessoa é apresentada em boas relações com os seus próximos e com quem, para ela, é o personagem mais importante na matéria da consulta. Se esses relacionamentos são causa ou consequência do avanço da pessoa, não fica definido pelo oráculo: tanto podem ser uma coisa como a outra. O fato é que os relacionamentos existem, e continuam no tempo, e a pessoa representada pela 2ª linha, com modéstia, equilíbrio e dedicação, sem arrogância, mas mantendo firmeza nas suas intenções, sabe adaptar-se a eles - inclusive cedendo, se houver necessidade - e usufruir o que eles podem lhe oferecer de bom, em todos os aspectos. Em resumo, esta linha traz um prognóstico francamente favorável à questão sobre a qual se realiza a consulta. Se foi a única linha mutante obtida, a resposta é sim, afirmativa para o que se pretende, conquanto possa implicar uma certa perda de autonomia para o sujeito da consulta. 3ª LINHA (9): “O ganso selvagem avança gradualmente até o planalto. Há prejuízo porque o marido parte decididamente, mas não retorna, e a esposa engravida, mas não alimenta [a criança]. É conveniente lidar com a bandalheira.” Esta linha mostra a pessoa num momento em que, tendo progredido bastante na direção do que quer, se encontra, paradoxalmente, numa situação difícil e de resultados incertos. É como se, tendo chegado ao alto da montanha, se encontrasse, sem saber como, no fundo do abismo. Falta-lhe o apoio do seu grupo (do qual não deveria se afastar) e/ou de um companheiro bem próximo. Essa falta de apoio deixa-a desprotegida e insegura, sem condições de progredir mais, por enquanto. Os prognósticos são totalmente desfavoráveis quanto aos resultados do esforço despendido: mesmo que vá até o fim do processo em andamento, a pessoa não chegará a resultados positivos; se obtiver resultados, não os alimenta e não poderá usufruir deles. Em face desse quadro o Yi Jing aconselha que a pessoa lute para recuperar o controle perdido da situação e para não se deixar levar para o extremo oposto ao do avanço progressivo e ordenado, que seria o abandono de todas as regras e metas, o não se importar mais com nada, o não se empenhar mais para coisa alguma. Elisabete Araujo Leonetti
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A melhor maneira de implementar essa resistência à desordem é procurando a companhia daqueles que estão, solidariamente, em situação semelhante, pois a dedicação mútua e o interessarem-se uns pelos outros os protegerá do sofrimento. Realizar uma parada e observar o caminho trilhado até aqui também será muito útil neste momento e, se a pessoa ainda mantém vivo o seu ideal, o seu objetivo, há alguma chance de reencontrar o caminho perdido para o progresso e o sucesso. 4ª LINHA (6): “O ganso selvagem avança gradualmente até a árvore; possivelmente consiga pousar num galho; nenhum erro.” Esta linha indica que a pessoa definitivamente progride, avança mais um estágio em direção ao que deseja e, nesse progresso, se afasta do que é vil, baixo, inferior a si - ainda que sinta algum apego por aquilo - e se insere num meio mais nobre, dinâmico, positivo e produtivo, do qual passa a fazer parte integrante. Portanto, se a pergunta ao oráculo foi sobre a possibilidade, a correção ou a oportunidade de uma associação com elementos do mesmo nível da pessoa ou de um nível superior, a resposta é sim. É provável que o sujeito da consulta tenha uma ajuda boa de alguém que o ampare nessa passagem, e isso se deve às características de seu comportamento com relação à matéria da consulta. Ele é dedicado, abnegado, modesto, suave e cordial. (Se não o é, o Yi Jing recomenda que seja.) Por outro lado, ele vê muito bem o ponto aonde quer chegar e é deliberadamente que se afasta do que é inferior em direção ao que é superior. Para os elementos inferiores que deixa para trás sua ascensão é negativa, pois com ela perdem seu apoio e companhia; mas para ele mesmo progredir será muito bom, e ele deve prosseguir nesse rumo, que isso lhe dará descanso e segurança.
5ª LINHA (9): “O ganso selvagem progride até a colina; por três anos a esposa não engravida, mas ao final nada a supera e tem benefícios.” Esta linha mostra a pessoa que gradualmente progrediu até um ponto bem avançado na matéria da consulta. Aí, nesse ponto, há uma estagnação no desenvolvimento, parecendo que os próximos estágios não serão alcançados. No entanto, trata-se apenas de uma demora, não de uma impossibilidade. A pessoa deve acalmar-se, pôr seus pensamentos em ordem e evitar falar ansiosa e atabalhoadamente sobre a questão ou sobre qualquer coisa, pois poderá Elisabete Araujo Leonetti
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vir a arrepender-se se o fizer. Deve manter a calma, porque as dificuldades no começo desse novo estado alcançado serão superadas com o tempo, a médio prazo, através de uma atitude dócil e cordata, porém firme e consciente da sua posição e dignidade. Esta linha recomenda que a pessoa não se rebaixe, e a mostra de fato não se rebaixando, apesar de não fazer uso de autoritarismo e/ou agressividade. Ela atinge uma posição elevada de grande estabilidade na matéria da consulta. Deve ficar tranquila e serena ali, e não falar muito sobre as suas observações e temores, mas manter a reserva e a discrição, pois obterá o que deseja. 6ª LINHA (9): “O ganso selvagem progride até as estradas do Céu e suas penas poderiam ser usadas para cerimônias; benéfico.” Esta linha mostra a pessoa que, tendo progredido até o ponto mais alto possível na matéria da consulta, mostra-se, entretanto, acessível aos que se encontram mais abaixo e compartilha com eles as qualidades que adquiriu, servindo-lhes de modelo e guia, pois é ordenada e imperturbável em seu comportamento. Essa pessoa possui virtude e fama de mestre, sábio, santo, poderoso ou algo assim, e o fato de voltar-se aos que ainda estão no caminho da ascensão, ao invés de isolar-se nas alturas, é mais uma demonstração da sua sabedoria e valor e faz com que se mantenha estável na posição elevada a que chegou. Se ela, ao contrário, procurasse somente avançar mais e mais, pensando apenas em si, acabaria fatalmente encontrando um ponto limite ao seu progresso. Porém, dedicando-se àqueles que desejam progredir e procurando ajudá-los, a pessoa encontra um novo rumo de crescimento, no qual pode realizar-se e ser feliz.
Elisabete Araujo Leonetti
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HEXAGRAMA 54: COMPROMETENDO-SE PRECIPITADAMENTE
JULGAMENTO: “COMPROMETER-SE PRECIPITADAMENTE: avançar decididamente traz prejuízo porque nenhum lugar é conveniente.” Este hexagrama mostra que há, houve ou tende a haver uma precipitação com relação à matéria da consulta, no sentido se de estabelecer um compromisso prematuro que tem forte chance de não durar e/ou de acabar mal. A ação pretendida é boa em si, e querer o compromisso é correto; o que está errado é o modo precipitado de fazer as coisas. O momento ou o lugar próprios para a consolidação conveniente do que se pretende ainda não existem, por isso não é bom apressar-se. Pulando etapas que fazem parte do desenvolvimento habitual do processo em questão, e aceitando, talvez, métodos ilegítimos ou fora dos padrões aceitos, a pessoa avança rápida e apressadamente em direção àquilo que pretende, e o consegue, porém de uma forma que deixa muito a desejar. Se a pessoa não se precipitasse e se conformasse em seguir os passos e trâmites pré-estabelecidos para o assunto, provavelmente demoraria mais a chegar aos resultados, mas estes seriam mais sólidos e duradouros, mais bem fundamentados. A ação a empreender é, provavelmente, de grande impacto e mudança na vida da pessoa sobre quem se consulta, por isso deveria ser conduzida com calma e cuidado. Aparentemente a pessoa age assim, precipitadamente, por vontade própria ou por impulso, e a grande prejudicada é ela mesma. O que motiva essa sua atitude é, no fundo, a busca da felicidade, o desejo de colocar logo tudo nos seus devidos lugares e respirar aliviado. No entanto, cada coisa tem a sua hora certa: arrumar tudo cedo demais, não esperar o amadurecimento das pessoas e das situações, pode ser desastroso. Este hexagrama é antes de tudo um alerta ao sujeito da consulta para que não se comprometa com determinada pessoa ou com determinada realidade por enquanto. Ou simplesmente é um alerta para não agir por ora, pois a ação poderá gerar um compromisso para o qual ainda não chegou o momento adequado.
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Se a pergunta versa sobre uma possível associação ou casamento, a resposta é que ainda é cedo demais para concretizar essa ligação, embora, em princípio, ela seja boa e promissora. O momento, aliás, não é bom para nenhum empreendimento e, de um modo geral, a resposta fornecida por este hexagrama é não: negativa para o que se pretende, por enquanto. Para maior felicidade na ação seria preferível que a pessoa pudesse esperar por condições melhores ou esperar até estar mais bem preparada. No entanto, não havendo essa possibilidade, se este foi o primeiro ou o único hexagrama obtido na consulta, a pessoa deve: não agir, abandonar o assunto por ora; ou agir assim mesmo e se conformar com o precário resultado que obterá. Se este foi o segundo hexagrama obtido, a pessoa deve repensar com cautela no que pretende fazer, pois a atuação indicada pelo primeiro poderá resultar no estabelecimento de um compromisso precipitado. IMAGEM: “Acima do pântano há um trovão: COMPROMETENDO-SE PRECIPITADAMENTE. Assim, o sábio, porque sempre vai até o fim, percebe o que deve descartar.” O conselho da Imagem diz respeito, principalmente, à necessidade de se eliminar, no início de qualquer processo, os erros ou os caminhos que podem conduzir a erros, se se quer um bom resultado final. É claro que isso requer uma certa dose de sabedoria e de capacidade de previsão: a pessoa precisa saber aonde quer chegar, que resultado quer obter, e deve ter conhecimento suficiente do assunto e da natureza humana para ver, no início, o que pode dar errado, e descartá-lo, deixando desenvolver-se apenas aquilo que é certo e que pode dar bons frutos. Também é claro que isso requer uma certa dose de paciência e contenção: se a pessoa se precipitar não terá tempo de realizar essa triagem. Uma certa dose de intuição também é requerida, porque nem sempre as sementes do mal são perceptíveis apenas com os sentidos e a razão. 1ª LINHA (9): “Ao comprometer-se precipitadamente numa posição secundária, parece um aleijado que pode andar; avançar com decisão é benéfico.” A pessoa, conforme o representado por esta linha, precipita-se em direção ao que quer e consegue engajar-se numa situação já pronta, mas
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numa posição secundária, talvez subalterna, onde não tem autonomia nem responsabilidade pela condução das coisas. Na precariedade da sua posição ela não assume o controle do empreendimento ou da associação, nem deve fazê-lo, pois lhe falta experiência e visão para tanto. Na situação em que se compromete lhe faltam meios e recursos para progredir e avançar por conta própria. Ainda assim ela pode avançar, mas precariamente. Uma vez comprometida, a boa sorte virá de aceitar as limitações da sua condição e de logo encontrar um ponto de apoio, que pode ser alguém que a proteja, acolha, oriente, etc. Resumindo, falta maturidade ao sujeito da linha para empreender algo por conta própria, sozinho. Por isso, se quiser agir assim mesmo, deve procurar associar-se com alguém ou apoiar-se em alguém mais bem preparado e posicionado, a fim de ter sucesso no avanço; porém deve saber que esse avanço não levará à obtenção de prestígio, nem de posição elevada, nem de independência e poder. É apenas uma solução satisfatória para o momento, precária, gerando uma situação da qual, ou através da qual, a pessoa deverá se liberar, principalmente se esta foi a única linha mutante obtida. De qualquer forma há uma mudança, uma passagem de um estágio a outro, não necessariamente mais desejável. 2ª LINHA (9): “Ainda que um caolho possa ver, resulta conveniente a insistência de uma pessoa que se esconde.” Esta linha indica que a pessoa não deve se comprometer por enquanto, pois está numa posição desfavorável, não condizente com o seu verdadeiro valor, e isso poderia levá-la a um compromisso insatisfatório. Ela está numa situação deficiente e precária, mas, apesar das suas limitações e da sua aparência talvez juvenil e despreocupada, possui uma solidez e uma firmeza muito fortes com relação à matéria da consulta. Provavelmente sabe o quer. Deve manter a discrição e não tentar promover alterações na sua situação por enquanto, mas aguardar. Se a pessoa se sente carente, ou ameaçada de perder ou de não conseguir alguma coisa, não deve perder a confiança nem desistir de seus objetivos, embora esteja assustada ou prejudicada no momento: apenas sendo perceptiva e perseverante, sem fazer grandes movimentos nem alarde de suas intenções, deverá obter o que quer quando for a hora certa para isso. Atenção e constância na intenção, com discrição, são os conselhos desta linha.
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3ª LINHA (6): “Deve retardar um compromisso precipitado, porque caso contrário comprometer-se-á numa posição secundária.” Esta linha revela que a pessoa pode alcançar o seu intento, mas não agindo precipitadamente. Se agir precipitadamente não atingirá a posição que lhe é adequada, ficando comprometida numa condição inferior à que teria direito se tivesse seguido todas as normas e passos convenientes. Impulso juvenil e fogo interior estimulam a pessoa à ação impulsiva em direção ao seu alvo. Ao segui-los ela ficaria presa, comprometida e tolhida em circunstâncias não de todo satisfatórias. De qualquer modo não deve, de jeito nenhum, tentar forçar as coisas para conseguir o que quer, pois isso só resultaria em rebaixamento e enfraquecimento. Os obstáculos ou adversidades a vencer são muito maiores do que ela e ela ainda não possui o valor e o merecimento suficientes para receber o que quer gratuitamente, nem possui o poder necessário para obtê-lo pela força. O melhor, portanto, é retrair-se. Concluindo, tanto a pessoa se contentar com uma posição secundária, inferior, quanto forçar o acesso à posição principal ou a uma posição superior, resultarão igualmente em rebaixamento, subordinação e enfraquecimento. Se não houver, na resposta fornecida pelo oráculo, outras indicações, o melhor é não agir, abandonar a questão por enquanto, até que adquira mais valor e merecimento, ou que as condições do meio mudem. 4ª LINHA (9): “O compromisso precipitado excede seu prazo, masb haverá oportunidade para um compromisso tardio.” Esta linha mostra a pessoa avaliando a questão com ponderação e cautela, controlando o impulso para agir - e comprometer-se precipitadamente. Aparentemente ela se atrasa na matéria da consulta, mas terá, mais tarde, a possibilidade de conseguir o que quer. Assim, não é por fraqueza nem por desistência, mas sim por aguardar algo melhor para si, que a pessoa não se compromete já. Enquanto aguarda, entretanto, não se mantém inerte e passiva, mas segue o curso normal da vida, envolvendo-se nas atividades e relações que se lhe apresentam a cada ocasião. Em termos práticos gerais, a obtenção desta linha recomenda que não se tenha pressa em agir e que se examine o assunto em pauta detidamente. 5ª LINHA (6): Elisabete Araujo Leonetti
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“O Imperador Yi assume um compromisso precipitado e as roupas da princesa não parecem tão boas quanto as das que estão em posições secundárias, masb a lua quase cheia é benéfica.” Para quem obteve esta linha na consulta ao oráculo, algumas questões se colocam: Oferece-se a uma pessoa a possibilidade de um compromisso cujo momento e condições adequadas ainda não existem. Apesar disso, aparentemente há pressa em consolidar o compromisso. Existe a possibilidade de o sujeito da linha ser a própria pessoa que é comprometida, aquela que tem que executar a ação, seja por vontade própria seja por determinação de uma autoridade superior. Mas também pode ser alguém que compromete outra pessoa com alguma coisa ou com alguém. De qualquer modo, o fato é que a pessoa que tem que cumprir o compromisso não tem tempo de se preparar adequadamente para tal e, embora não sofra por isso nenhum prejuízo essencial, na aparência fica prejudicada em alguns detalhes, o que dá ensejo a seus rivais ou a seus inferiores de brilharem momentaneamente. Por outro lado esse mesmo despreparo e espontaneidade na ação revelam uma certa modéstia e um caráter e posição sólidos e corretos, que favorecem a pessoa e não necessitam de ostentação externa. E o oráculo recomenda mesmo não ostentar. Apesar da precipitação, o compromisso assumido traz satisfação no momento, tanto à pessoa que comanda o ato quanto à que executa a ação. No entanto esta pessoa, a que age, que vivencia o compromisso, apesar da sua modéstia, da sua correção e do seu esforço para se adaptar às circunstâncias cai num meio que não é inteiramente confiável, onde há falsidade, rivalidade, e onde alguém muito próximo tenta influenciar os outros através dela, numa atitude interesseira. É uma situação que vai requerer cautela e não oferecerá muita oportunidade de expansão. Por isso recomendo voltar ao Julgamento inicial deste hexagrama e à reflexão sobre a inconveniência de se assumir compromissos neste momento, bem como voltar ao texto da Imagem e sua advertência sobre eliminar os erros logo no início de qualquer procedimento. 6ª LINHA (6): “A mulher segura uma cesta sem frutos e o nobre sacrifica uma ovelha sem que corra sangue, nenhum lugar é conveniente.” Esta linha mostra todas as partes envolvidas na resolução da questão da consulta concorrendo para a celebração precipitada de um compromisso do qual não advirão resultados positivos, uma vez que não existem as condições necessárias para o desenvolvimento adequado da questão. Elisabete Araujo Leonetti
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Apesar de que é possível que haja boa-vontade e empenho dos participantes, pois cada qual cumpre a sua função do jeito que pode, o qual é incompleto. Em consequência, num primeiro momento o compromisso assumido gera um clima de desconfiança e antagonismo entre os parceiros, mas depois que se percebe que as intenções do outro não são destrutivas a tensão alivia e algum bem-estar torna-se possível, apesar do começo errado e das limitações existentes. De qualquer modo, persistindo as condições atuais, nunca será uma união ou um empreendimento plenamente harmoniosos, fecundos e prósperos, especialmente se essa foi a única linha mutante obtida.
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HEXAGRAMA 55: LIDANDO COM A ABUNDÂNCIA
JULGAMENTO: “LIDANDO COM A ABUNDÂNCIA exerce-se influência, mas um rei afasta-seb dela sem lamentar-se [porque é] correto como o sol ao meio-dia.” Este hexagrama revela, para quem o obteve, uma situação de prosperidade crescente ou de plenitude, de abundância material e/ou espiritual: há o sentimento de que as coisas se realizam e completam, de que não falta nada, satisfação total. As pessoas que estão vivendo essa situação de enriquecimento abundante podem ter ou não ter consciência dela. O arranjo feliz das circunstâncias pode não ser ainda aparente ou não se ter assentado de todo, mas o momento existe, presente ou latente: com relação ao assunto da consulta, as coisas ou já estão em ou se dirigem para um estado de completude positiva. Podem-se distinguir três situações básicas para o consulente: a) Se a pessoa tirou apenas este hexagrama na consulta, o oráculo para ela é principalmente uma mensagem afirmando que está tudo bem e recomendando que a pessoa aproveite as coisas boas do presente ao invés de lamentar que elas um dia passarão. Do mesmo modo, a pessoa não deve se preocupar em aumentar a abundância material ou prolongar a plenitude espiritual, porque isso poderia levar ao excesso que, como todo desequilíbrio, é prejudicial e é um risco que existe na situação. b) Se este hexagrama saiu como segundo na consulta, é sinal de que um período de plenitude, de ausência de motivos para preocupação, deverá seguir-se às circunstâncias indicadas pelo hexagrama obtido primeiramente. Uma vez atingido aquele estágio, valem também para este consulente as recomendações da situação a. c) Se este hexagrama saiu como primeiro da consulta, com linhas mutantes, a mensagem é de que a situação de plenitude ou já é presente ou é iminente, e novamente vale o conselho para usufruir tranquilamente a situação, porém atentando antes ao que é revelado ou recomendado pelas linhas que lhe saíram. Tudo indica que a época da abundância ou a sensação de plenitude é passageira, não vai durar para sempre, está inserida no movimento geral da vida e por isso será alterada, mas não necessariamente para pior. As Elisabete Araujo Leonetti
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coisas não são estáticas, estão sempre em movimento, sempre em mutação, e cabe à pessoa tirar o melhor partido de cada momento, de cada etapa do processo. Isso fará com que ela usufrua plenamente aquele momento e constituirá uma preparação para o momento seguinte que será, naturalmente, outro, diferente. A tendência dos fatores ora reunidos é se expandirem e depois se dispersarem, na sua evolução normal. Isso exigirá ações, providências, desprendimento de energia para o alcance de objetivos que por ora não se impõem, para a superação de obstáculos que por ora não aparecem. Então não é para se preocupar com isso por enquanto. O sujeito da consulta é comparado a um rei que, tendo atingido um ápice, se engrandece ainda mais, e a um sol que atinge o zênite, duas personagens que expressam poder, abundância, manifestação plena e abrangência, e é nisto que a pessoa deve pôr o seu empenho no momento: em usufruir da sua posição favorável e compartilhá-la com os outros, em expandir-se, expressar-se, ser ela mesma inteiramente, com toda a liberdade e despreocupação. O oráculo mostra ainda que a abundância e a grandeza se originam da ação dirigida pela clareza do raciocínio. IMAGEM: "Trovão e relâmpago atingem o máximo, a imagem de LIDAR COM A ABUNDÂNCIA. Assim, o sábio decide os processos e executa as penas." A Imagem recomenda que, tão logo se atinja o ponto culminante em um determinado setor da vida, trate-se de eliminar correta e rapidamente qualquer problema pendente, fazendo o que tiver de ser feito contra os responsáveis, porque o momento da plenitude é, via de regra, tão raro, passageiro e precioso que não se pode permitir que seja perturbado por questões conflituosas ou desagradáveis. Para garantir a rapidez e eficiência no cumprimento das suas determinações, a pessoa deve agir com tal vigor que impressione e até infunda um certo medo naqueles que devem atendê-la. E para garantir a correção e justiça das suas determinações, a pessoa deve ter uma visão clara e nítida de todos os elementos em questão. Se, entretanto, a época da abundância ainda não se instaurou, a Imagem é um conselho para que os assuntos pendentes sejam resolvidos com rapidez, eficiência, correção e justiça, a fim de criar o ambiente propício para atingir e viver adequadamente uma situação de prosperidade, abundância e plenitude. 1ª LINHA (9): Elisabete Araujo Leonetti
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“Encontra seu parceiro e senhor. Se for só por dez dias não há erro; avançar, ainda que desordenadamente,b traz elogios.” O oráculo para quem obteve esta linha é, em princípio, favorável. A pessoa a quem a linha se refere encontra alguém com quem possui afinidade, com quem se identifica, e ambos se dão apoio mútuo. Provavelmente um dos dois é o sujeito da consulta. Além do grande entrosamento entre eles, cada um ainda mantem, por si mesmo, boas relações com as pessoas do seu círculo mais próximo. A união é corretíssima. Por isso a ação, tanto em busca da união - se ainda não concretizada no momento da consulta – quanto decorrente da união, também será correta, durará o tempo devido, terá bom resultado e obterá reconhecimento. Porém, tentar prolongar indefinidamente uma dedicação exclusiva poderá ser prejudicial. O que a pessoa desta linha não deve fazer, no momento, é tentar agir por conta própria na busca de coisas importantes, porque isso não daria certo. Daria errado. Em resumo, a pessoa da 1ª linha encontra ou busca satisfação plena num relacionamento, num convívio agradável e proveitoso para todos os envolvidos, seja na família, no trabalho, no amor, na política, na área em que for. Deve tratar de usufruir dos benefícios dessa associação, tanto no repouso quanto na atividade, sem se preocupar com a sua duração. 2ª LINHA (6): “Suas cortinas são tão abundantes que ao meio-dia vê a Ursa Maior. Avançar desordenadamente gera dúvidas e sofrimento, mas tendo confiança parecem sumir; benéfico.” A 2ª linha do hexagrama 55 mostra alguém que, embora estando no meio da claridade, não consegue ver. Para essa pessoa a situação está completamente enevoada, confusa, e ela só consegue vislumbrar a resolução da questão que a levou à consulta como algo muito distante e impalpável. A pessoa está no meio-dia e se comporta como se estivesse à noite. Se tentar agir imbuída desse estado de espírito sua ação não terá bom sucesso. Pode ser que seja a sua própria insegurança que acaba gerando, nos outros, principalmente naqueles que detem o poder, falta de confiança na sua capacidade e falta de valorização da sua pessoa. O fato é que existe uma interferência negativa de terceiros atrapalhando a relação da pessoa da 2ª linha com os poderosos da situação e, consequentemente, dificultando-lhe o alcance dos objetivos. Para alcançar o que deseja a pessoa deve, antes de mais nada, afastar todas as cortinas, para ver e mostrar francamente o que quer. Ela verá que o que quer não é tão inatingível assim: pelo contrário, é mais Elisabete Araujo Leonetti
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acessível do que pensa. Do mesmo modo, verá que os poderosos não são tão poderosos assim: por trás da sua posição são pessoas como ela, que tem suas fraquezas e são capazes de sensibilizar-se. Depois, ela deve ver que a sua situação pessoal não é de desvalia e abandono: ela é racional, equilibrada, e possui amigos ou, pelo menos, bons relacionamentos. A sua posição é boa, dentro das circunstâncias. E, finalmente, ela deve atuar sendo ela mesma, em toda a sua inteireza, sem se preocupar com opiniões próprias ou alheias, encaminhando-se suave e discretamente na direção desejada, com naturalidade, sem desistir nem forçar. Deve lembrar-se do JULGAMENTO deste hexagrama e ser "como o sol ao meio-dia.” 3ª LINHA (9): “Seus véus são tão abundantes que ao meio-dia vê espíritos malignos e monstros; quebra seu braço direito, mas não erra.” A pessoa da 3ª linha tem que se virar sozinha, porque perde seu apoio principal e não vai recuperá-lo tão cedo. Ela não tem culpa dessa carência que a impede de agir por um certo tempo. No momento ela se julga perdida: quer avançar mas não vê mais o caminho e assim não pode fazer o que importa. Não há pessoas ou elementos que possam ajudá-la. Aquele que poderia ajudá-la afastou-se e fechou as portas, não só para ela, mas para todos. Perto dela, aqueles com quem mantém relações são fracos e estão ocupados com seus próprios interesses. Se ela conseguir superar o choque de se ver sozinha, constatará que, apesar dos danos sofridos, não está realmente perdida ou sem saída no escuro. É o enredamento em que se meteu que está lhe obstruindo a visão do real e provocando a visão de problemas imaginários: além do pântano o sol brilha, é meio-dia e ela está no meio-dia. Ela possui as capacidades de percepção, penetração e expressão. Assim, deve armar-se dessas habilidades e aguardar a ocasião de agir, sem se angustiar. 4ª LINHA (9): “Suas cortinas são tão abundantes que ao meio-dia vê a Ursa Maior, [mas] encontra seu igual e senhor. Bbenéfico.” Para o sujeito desta linha o oráculo distingue dois momentos consecutivos, podendo ser um passado e um presente, ou um presente e um futuro. O 1º momento mostra a pessoa numa situação de inação e de falta de perspectiva, num estado de espírito pessimista, achando tudo muito difícil e obscuro. Essa negatividade deve-se a que a pessoa não encontra, por si mesma, um direcionamento a dar a seus impulsos de ação e Elisabete Araujo Leonetti
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expressão - sentindo desejo de agir e de falar - e ao fato de que ela não tem, junto a si, alguém ou algo que lhe possa dar esse direcionamento com firmeza e segurança. O 2º momento mostra a pessoa encontrando alguém a quem se sente ligada pelas afinidades que existem entre eles, e que é capaz de dar um direcionamento e um sentido à sua ação. Estabelece-se a comunicação e a cooperação entre os dois. Crescimento, em todos os sentidos, é atingido através desse relacionamento. A ação a partir daí pode desenvolver-se e há uma grande probabilidade de bom sucesso no assunto da consulta. Na verdade, o caminho para a atuação da pessoa da 4ª linha já era visível desde o início; ela é que não o enxergava, devido a bloqueios e conflitos internos seus. Na continuação, a pessoa atinge a compreensão daquilo que a estava tolhendo, que a impedia de ver e de agir, e liberta-se definitivamente daqueles problemas, deixando-os para trás e seguindo seu caminho. 5ª LINHA (6): “Chega manifestando-se, recebe consolo e elogios; benéfico.” O oráculo desta linha é extremamente favorável. A pessoa está numa posição privilegiada, de quem realmente atingiu a culminância em algum empreendimento específico ou em algum setor da vida. Porém mantém a modéstia, apresenta-se igual aos outros em geral. Ela possui grande capacidade de comunicação e um poder de penetração carregado de otimismo, que se infiltra mesmo por entre barreiras e atinge os mais distantes. Quando há alguma afinidade entre ela e as pessoas abrangidas pela sua influência, estas se tornam valiosos aliados seus e a ação conjunta gera um resultado que satisfaz a todos plenamente. Assim a pessoa da 5ª linha se enriquece abundantemente pela reunião e também pela dispersão de fatores positivos, os quais podem ser de ordem pessoal, social, material, etc., dependendo do assunto da consulta. Com isso ela assegura a evolução natural da abundância e evita o exagero, o que é bom porque a abundância necessita ser compartilhada, caso contrário o acúmulo contínuo geraria o excesso, que acabaria por derrubar-se a si mesmo devido ao seu “peso” excessivo. Outra característica do sujeito desta linha é que ele se mostra, se manifesta, não se esconde, mesmo no auge da riqueza ou do sucesso, e com isso consolida mais ainda o apoio dos que o cercam e até dos que estão mais distantes, talvez só o conhecendo por intermédio de outros.
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Neste momento especial de plenitude, a pessoa da 5ª linha deve simplesmente usufruir da sua felicidade, compartilhando-a com quem de direito. Deve gozar a satisfação de ser quem é e de estar onde está. Deve ser ela mesma integralmente, sem se preocupar com problemas que não existem e tratando de decidir rapidamente a solução dos que existam e estejam pendentes, eliminando a possibilidade de que venham a interferir na harmonia reinante. Na continuação, as suas possibilidades de ação e de expressão aumentam, como convém a uma situação de crescimento. A ação consolida-se: passa de um movimento rápido, quase impulsivo, para um movimento forte e consolidado, que atrai seguidores. A própria pessoa torna-se mais forte e mais bem relacionada, e percebe que, de fato, efetuou-se uma mudança no assunto que originou a consulta ao oráculo e que ela está no controle dos acontecimentos (ou deve assumir o controle) ao invés de ser conduzida por eles. 6ª LINHA (6): “Sua casa é exuberante e segrega sua família. Espia pela porta e, desolado pela solidão, por três anos não enxerga. Prejuízo.” A 6ª linha representa o egoísmo na abundância. A pessoa a quem se refere esta linha está, como as outras indicadas pelo hexagrama, numa situação de crescimento abundante, quase atingindo a plenitude no assunto da consulta. A recomendação geral, para quem está na abundância, é o compartilhamento, a expansão e a manifestação plena; no entanto, é exatamente o contrário disso que a pessoa faz: ela retém só para si os seus bens, se esconde, não se comunica francamente com ninguém. Seu comportamento é antissocial, desconfiado e egoísta. O resultado disso é o isolamento e a infelicidade - inclusive a própria infelicidade de não viver plenamente a abundância – os quais tendem a se prolongar por bastante tempo. A tendência é de haver, no futuro, talvez quando a pessoa envelhecer, uma alteração nas suas condições que a leve a perder autonomia e a ter dependência de outros, provavelmente forçando-a a desenvolver um pouco de humildade e amplitude de visão. Pode ser então que ela tome consciência do quanto sua atitude anterior estava errada e entre num processo de revisão dos seus atos.
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HEXAGRAMA 56: VIAJANDO PELO EXÍLIO
JULGAMENTO: “VIAJANDO PELO EXÍLIO exerce-se pouca influência,b [mas] a insistência do viajante é benéfica.” Embora este hexagrama possa, eventualmente, vir em resposta a uma questão específica sobre viagens ou mudanças de lugar, de situação ou de tempo, é muito frequente que ele venha em resposta a circunstâncias existenciais onde a pessoa está fora do seu lugar próprio. Tudo lhe é estranho e meio incompreensível. A sua necessidade de ligação e aconchego fica truncada: ela depende apenas de si mesma, conta apenas consigo mesma e o movimento - ainda que sem um objetivo definitivo - é a solução para as situações que se tornem pesadas ou opressivas. Pouco ou nenhum apoio e pouca ou nenhuma influência caracterizam a face exterior da atuação da pessoa: ela não pertence àquele contexto, e nada ali lhe pertence, exceto ela mesma e o que faz parte dela, a sua bagagem pessoal - suas habilidades, suas memórias, seus anseios e sentimentos, seu carisma, suas crenças, etc. Solidez e tranquilidade internas, do eu, aliadas a um estado alerta de percepção do mundo e energia para agir conforme as possibilidades são os requisitos necessários para atravessar este momento sem se deixar desestruturar por quaisquer excessos que possam estar presentes nas vivências que se apresentam ao viajante, ou ao buscador. Resumindo, este hexagrama mostra o transitório, o precário e, de certo modo, o desarmônico de uma situação, que pode tanto ser uma situação passageira, inclusive de viagem ou de busca, como a própria situação vital da pessoa. IMAGEM: “Sobre a montanha há fogo: a imagem de VIAJAR PELO EXÍLIO. Por isso o sábio é claro e cauteloso ao aplicar castigos e não paralisa os processos.” A situação é transitória, a pessoa é passageira: ela está naquele tempo e lugar mas não pertence àquele tempo e lugar. Elisabete Araujo Leonetti
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Reconhecendo a transitoriedade e precariedade da sua condição, a pessoa torna-se muito escrupulosa ao ter de punir ou criticar alguém ou a si mesma, e não se detém em disputas, litígios, questões controversas, mas procura fazer com que se resolvam rapidamente, para libertar-se dos entraves e seguir adiante. 1ª LINHA (6): “Viajando pelo exílio frivolamente, desta forma colherá desgraças.” Esta linha mostra a pessoa que avança por avançar, sem saber bem por que nem para que. Agir desse modo, sem motivação verdadeira, é muito mau para a pessoa, pois a faz perder a vontade e a determinação que a levaram à ação, e ela cai numa confusão indecisa. Seria preferível, neste caso, a pessoa ficar onde já está: no lugar, no ponto, na casa, no cargo, na relação amorosa, etc. onde já se encontra. Nem sempre a dependência é um mal e a independência, um bem: neste caso, para esta pessoa, parece que é preferível manter os laços atuais, pelo menos até que esteja mais madura ou mais segura para procurar outra coisa ou para prosseguir sozinha. 2ª LINHA (6): “Viajando pelo exílio chega a uma pousada; abraçando suas posses consegue a fidelidade de um jovem ajudante.” A pessoa alcança algum resultado positivo em sua atuação: ela consegue avançar um pouco no pertencer e no possuir, e consegue, inclusive, iniciar ou reafirmar um relacionamento no qual ela é o elemento mais importante, aquele que exerce maior influência, sendo o outro talvez apenas um auxiliar ou um companheiro passageiro, que tem um papel limitado na vida do sujeito da consulta. A pessoa terá alguma ansiedade a respeito desse relacionamento, porque, embora em princípio haja substância a ser desenvolvida entre os dois, a aproximação real não ocorre, seja devido à transitoriedade, seja devido à desigualdade. A pousada pode não ser um lugar físico, mas uma verdade, ideia ou conforto a que se chega depois de uma busca qualquer. Nada é definitivo nem completo e o melhor que a pessoa pode - e deve - fazer é extrair dos fatores presentes o máximo que puder, procurando preservar o que possa ser incorporado à sua bagagem pessoal. De qualquer modo, essa experiência serve de material para o crescimento e transformação interior da pessoa, e não há o que censurar nela. Elisabete Araujo Leonetti
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3A LINHA (9): "Viajando pelo exílio queima sua pousada e perde a fidelidade de seu jovem ajudante. Prudência!" As coisas não correm bem na jornada da pessoa, conforme mostrado nesta 3ª linha, e ela fica sem os poucos pontos de apoio que tinha, tanto materiais quanto afetivos ou de prestação de serviços, o que lhe vem a causar sofrimento, incomodação. Deve ter muito cuidado e rigor em tudo o que faz, tanto para tentar evitar esses fatos, se eles ainda não aconteceram, como para passar sem aqueles apoios, se já os perdeu. Sozinha, ela não tem mais como avançar. A sua tendência, então, é de novamente procurar amparo, desta vez num grupo ao qual pertença ou ao qual vem a se juntar, desaparecendo assim o que houve de errado na sua atuação, que foi associar-se com alguém inferior e não ter sabido manter o que lhe dava abrigo e conforto, material ou de outra ordem. Isso é verdade especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Se não, serve como alerta à pessoa para que aja com muito cuidado, pois corre o risco de perder os pontos de apoio que conseguiu. (Muitos autores apontam arrogância e violência no caráter ou no comportamento da pessoa desta linha. Eu não consigo ver isso. Se ela é, por um lado, inacessível e fechada, por outro tende ao bom humor e à busca de penetração e entendimento. Outras razões que não a ira deliberada devem ter provocado os desastres aqui previstos.) 4ª LINHA (9): “Viajando pelo exílio repousa num abrigo e consegue posses e ferramentas, [mas ainda assim diz:] ‘meu coração não está contente’.” Por seus próprios meios, inclusive financeiros, a pessoa aqui consegue um ponto, um local, uma situação onde pode ficar sossegada por algum tempo. No entanto, ela sabe que aquele ainda não é o seu lugar definitivo, tratando-se apenas de um abrigo provisório e temporário que ela mesma teve que providenciar para si. Como a pessoa anseia por um lugar seu, que lhe dê apoio e acolhida, ao qual pertença, essa situação provisória não pode satisfazê-la inteiramente e a carência causa-lhe tristeza ou desânimo. A tendência dessa pessoa ou um dos caminhos possíveis para ela é buscar refúgio dentro de si mesma: uma vez que sente as circunstâncias como estranhas, e sente a si mesma como estrangeira no meio onde está, é somente dentro dos limites do seu eu que pode sentir-se em casa. Para poder usufruir dessa sensação precisa acalmar-se, aquietar o corpo e a mente consciente. Talvez assim consiga afastar o descontentamento, mas não há previsão neste sentido.
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5ª LINHA (6): “Aponta o arco a um faisão, [mas] sua única flecha se perde; no fim é elogiado e segue seu quinhão.” Esta linha mostra a pessoa atingindo o ponto mais alto possível na questão da consulta, no momento. Ela não obtém tudo o que queria e tem alguma perda, mas consegue desapegar-se da situação e seguir seu próprio rumo, não se fixando em projetos, lugares, situações enfim, que não são a sua. Ela é quem decide se afastar, o que é o certo a fazer, uma vez que ficar não levaria a nada além de relações superficiais, pois não há integração verdadeira da pessoa com o meio que este hexagrama chama de “exílio”. 6ª LINHA (9): “O pássaro queima seu ninho, o homem que viaja pelo exílio primeiro ri, mas depois grita e chora amargamente. Perde sua vaca com facilidade; prejuízo.” Aqui a pessoa, por sua arrogância e ambição de avançar sempre, destrói aquilo que lhe poderia dar acolhida e repouso, e prossegue no seu caminho como buscador, viajante, investidor, etc., buscando a realização em algo fora da sua casa, da sua realidade rotineira, fora do seu alcance no momento. A princípio sua própria energia a sustenta e anima, mas depois a chama se consome e, sozinha e sem alcançar o que almejava, a pessoa se desespera e sofre. No entanto, ela chega a este ponto por sua própria arrogância e insensatez, pois não aceita conselhos, ajudas ou parcerias, superestimando suas capacidades e, afinal, não consegue nada e fica abandonada pelos outros, a quem desprezou. Obter esta linha deve servir de alerta à pessoa para que cultive a modéstia e a habilidade de adaptação às circunstâncias do presente, da sua realidade vigente, ao invés de apenas projetar-se ambiciosamente para o futuro, para uma outra realidade. Seria oportuno examinar que circunstâncias ou que relações humanas se está deixando de explorar e aproveitar por julgá-las poucas, pequenas, e querer algo maior e melhor, pois é provável que jamais se recupere aquilo que se perder agora, bestamente.
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HEXAGRAMA 57: OBEDECENDO DOCILMENTE
JULGAMENTO: “OBEDECENDO DOCILMENTE [se exerce] pouca influência; é conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente, e ver o grande homem.” Este hexagrama revela que para o bom desenvolvimento da questão da consulta se faz necessário o estabelecimento de acordos. Aparentemente, os acordos se dão entre pessoas ou elementos do mesmo nível, embora um determine e o outro ceda ou obedeça. Como tudo é feito com suavidade, docilmente, sem imposição dura de um lado nem resistência do outro, às vezes esse comportamento nem fica visível. Portanto, é possível que o consulente até o momento não tenha se dado conta dessa característica da situação. É importante observar que mandar e obedecer são os dois lados da mesma moeda. Para o sucesso da questão da consulta, não tem muita importância quem está mandando no momento: o que tem importância é que toda a situação deve ser conduzida sem agressividade, sem subitaneidade, sem rigidez. A maneira correta de conduzir a situação é ir revezando exigências e concessões, com bons modos, com insistência, com suavidade e até com doçura, sempre sem perder de vista o ponto aonde se quer chegar, pois todas as ações devem se subordinar ao objetivo maior. Isso é muito importante para se atingir um resultado: todos os movimentos devem ser feitos e, se necessário, repetidos, na direção do resultado desejado. A pessoa deve agir assim porque ela não tem a força nem o poder suficientes para conseguir o que quer com facilidade e rapidez. Portanto, tem que fazer uso da sua capacidade de penetração nas menores brechas, de perseverança insistente e continuada, de flexibilidade para recuar quando necessário e avançar quando possível - ou mesmo de avançar e recuar como tática de ação - até conseguir se aproximar do seu objetivo. O Yi Jing não diz se a pessoa vai ou não atingir completamente o objetivo neste momento. Outro ponto importante é que, agindo desse modo sutil a pessoa pode se aproximar do seu objetivo sem ser muito notada e, portanto, sem arrostar oposição frontal. Se elementos contrários perceberem as intenções da pessoa antes que ela esteja bem perto do que quer, ou antes que tenha obtido ajuda, é certo que atrapalharão, impedindo o desenvolvimento Elisabete Araujo Leonetti
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harmonioso das coisas, conforme seria desejável. Isso porque a situação enfocada pela consulta, que exige o estabelecimento de acordos, encerra a possibilidade do não estabelecimento de acordos, do desacordo, da desunião, de uma divisão entre os vários componentes da situação, indo cada um cuidar dos seus próprios interesses sem dar satisfações aos outros. Não há uma união espontânea no que toca à questão da consulta: esse é um dos motivos pelos quais é pequena a influência da pessoa interessada em resolver a questão. O oráculo recomenda que se procure ajuda de alguém que, pelo seu conhecimento, autoridade ou outra razão qualquer, se sobressaia aos outros no tocante ao assunto da consulta. Essa pessoa, segundo o oráculo, possui clareza de visão, equilíbrio e capacidade de influência; ou seja, é alguém que pode ter uma noção abrangente e sensata da situação e pode influir no seu andamento, promovendo o ajuste das vontades sem emprego de violência ou arbitrariedade. Se o consulente não conhecer nenhuma pessoa que preencha estes quesitos, deve procurar desenvolver em si mesmo estas qualidades, a fim de agilizar o desenvolvimento da questão. IMAGEM: “Imitando o vento: a imagem da OBEDIÊNCIA DÓCIL. Assim o sábio repete suas ordens e implementa suas atividades.” O conselho da Imagem é uma reafirmação do modo correto de agir para quem quer realizar alguma coisa dentro das circunstâncias representadas por este hexagrama. O modo correto de agir é imitando o vento, aproveitando-se de todas as brechas para penetrar, procurando insistentemente passagem em todos os cantos, indo e vindo, avançando aos poucos, com sutileza, com suavidade e, sobretudo, com continuidade: só se consegue realizar algo à custa de insistir repetidamente nos movimentos necessários para o avanço em direção ao que se quer. Essa é a maneira que o vento tem de penetrar nos lugares e atingir as coisas sem destruí-las, e é esse comportamento que a pessoa deve adotar para agir com correção e sabedoria neste momento. É claro que o vento também pode manifestar-se de forma súbita e violenta, mas aí ele destroça as coisas ao atingi-las e o comportamento destrutivo não se presta ao bom desenvolvimento da questão da consulta. 1ª LINHA (6): “Avança e retrocede; é conveniente a insistência de um guerreiro.”
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A pessoa a quem se refere a 1ª linha tem que estabelecer primeiramente um acordo consigo própria no sentido de se decidir sobre o rumo a tomar. O oráculo mostra essa pessoa completamente indecisa e hesitante: ela não tem em si a firmeza para uma definição, e também não encontra, fora de si, algo ou alguém que a determine e conduza. Ela também não possui uma visão clara e abrangente da situação; pelo contrário, está numa posição de onde não percebe muita coisa e isso mais a dificulta a decidir. Entretanto, ela se relaciona com alguns elementos que a acompanham e junto aos quais, no futuro, se sentirá mais forte e segura, o que não ocorre no presente. A recomendação do Yi Jing é para que a pessoa assuma uma atitude determinada, lutando resolutamente pela vitória naquilo que pretende. E, para a vitória naquilo que pretende, haverá necessidade de se submeter às circunstâncias, talvez a coisas ou pessoas que, segundo o seu parecer, são pequenas, inferiores, e não deveriam ter o poder de influir assim na situação. Mas a pessoa da 1ª linha não pode ignorar que a situação exige o estabelecimento de acordos e que, neste passo, quem deve ceder é ela. Reconhecendo isso, a pessoa provavelmente adotará o rumo mais adequado às circunstâncias e que dará certo. 2ª LINHA (9): “Obedecendo, enfia-se embaixo do altar; concordando com muitos escribas e magos, consegue benefícios e não erra." Na situação indicada pela 2ª linha a pessoa parece não ter muita opção quanto ao que fazer e acaba sendo conduzida por outros ou pelas circunstâncias, de tal forma que a sua vontade e até a sua personalidade não aparecem, ficam temporariamente escondidas, nulas, e ela realiza as ações mais servis, talvez mesmo desprezíveis. Tais ações poderão requerer dissimulação e segredo e, para realizálas, a pessoa poderá utilizar-se da colaboração de alguém próximo, com grande capacidade de insinuação. Não está clara a origem de onde parte o comando para a pessoa da 2ª linha: ou é algo disfarçado, ou oculto, ou muito distante, talvez muito elevado. Ela tem, em princípio, uma personalidade sólida e uma posição estável, e não deveria estar subordinada a nada ou a ninguém na situação enfocada pela consulta. É provável que se deixe dominar por atravessar uma fase de insegurança. O oráculo levanta a hipótese de a pessoa estar a serviço de uma força maior, político-social ou religiosa, e adverte que, neste caso, não estará errado ser servil, submeter-se docilmente, pois isso é o que trará Elisabete Araujo Leonetti
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bom resultado. No caso exclusivo de a pessoa estar a serviço de uma força maior, porque aí ela não se desequilibra, não sai da sua posição correta. Nada é dito sobre se a pessoa estiver simplesmente se deixando subjugar por elementos do seu mesmo nível, ou de nível mais baixo. Em todos os casos, porém, a perspectiva para o futuro é boa: a pessoa supera esta fase de servilidade, seja a quem for, e gradualmente começa a crescer e a avançar na direção daquilo que lhe dará segurança e equilíbrio, coisas de que ela não dispõe no momento. 3ª LINHA (9): “Obedece resmungando, vergonha.” É muito custoso para a pessoa da 3ª linha submeter-se àquilo que a situação exige. A situação requer concordância e docilidade, e a pessoa a quem se refere a 3ª linha é, por natureza, impetuosa e indócil. Também possui razoável compreensão do assunto da consulta e sabe expressar suas opiniões; porém é cheia de conflitos e contradições internas e é indeterminada, o que a leva a tornar-se hesitante, dando voltas sobre si mesma ou sobre os mesmos pontos ao invés de avançar reto para frente. Não tendo força própria nem apoio alheio para agir do modo que julga conveniente, a pessoa acaba por ter de se submeter às circunstâncias, concordando com aquilo que é obrigatório ou que é a única opção disponível, mas o faz de forma contrariada, talvez até revoltada, e se sente muito mal com isso. A partir daí a tendência é buscar a superação desse sentimento negativo, o que a pessoa fará através da abstração de si própria, se envolvendo completamente na ação e nas exigências exteriores, esquecendo as exigências interiores. Isso fará com que, pelo menos, fique mais quieta e não cometa atos de que possa vir a arrepender-se ou envergonhar-se, mas não há nenhuma indicação de que vá obter o que deseja. 4ª LINHA (6): “O remorso desaparece; caçando captura três espécies.” A pessoa da 4ª linha está numa posição em que de um lado cede e de outro, exige. Ao mesmo tempo em que tem que se submeter a determinados elementos, também tem que fazer com que outros elementos se submetam a ela, aos seus interesses. Isso poderia levá-la a sentir-se culpada por estar agindo em interesse próprio, ou a sentir-se mal por estar deixando suas capacidades de percepção, comunicação e penetração, bem como seus Elisabete Araujo Leonetti
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relacionamentos, serem utilizados por outros. Porém o oráculo adverte que esse sentimento de culpa passa. Na verdade a pessoa da 4ª linha está lutando por si mesma. Sua posição na questão da consulta é a de quem está fazendo coisas, em plena atividade, e a maneira acertada de agir, no momento, é esta: ora obedecendo, ora comandando; ora usando, ora sendo usado. Isso leva a um resultado imediato bastante positivo que satisfaz a própria pessoa, inclusive no plano material; satisfaz aos outros, gerando boas relações; e também satisfaz aos desígnios do mundo espiritual. E mostra o mérito, o merecimento da xpessoa. Esse resultado tão bom, entretanto, corre o risco de vir a estragar-se se a pessoa, na continuação dos acontecimentos, incentivada pelas conquistas de agora, seguir a tendência de se ligar exclusivamente aos elementos superiores, tanto humanos quanto espirituais, deixando de lado os elementos que estão abaixo dela, por considerá-los inferiores ou nocivos. Talvez realmente sejam inferiores ou nocivos, talvez não, mas de qualquer modo a pessoa terá que levá-los em conta na sua atuação, senão sofrerá danos ou carências materiais. 5ª LINHA (9): “Insistir é benéfico e o remorso desaparece; nada que não seja conveniente. Não há um começo [bom], mas sim um final; três dias antes de modificar e três dias após modificar são benéficos.” A pessoa a quem se refere a 5ª linha deve prosseguir no avanço em direção àquilo que quer, embora no momento nenhum resultado se prenuncie. Aparentemente está sozinha no centro e no comando da sua própria situação. Conta com colaboradores que a servem realizando a difusão e a implantação daquilo que é do seu interesse. A pessoa se preocupa, porém, com a correção dos seus atos, questionando se o que faz está certo ou não. O Yi Jing diz que está certo e que esse sentimento de dúvida e culpa passará, sendo fruto apenas de uma insegurança da pessoa, e não do caráter das suas ações. As ações chegarão a um bom resultado, provavelmente o resultado desejado, por mais invisível que isso seja no presente. A partir do resultado, ou para atingi-lo, novas atitudes serão necessárias a fim de que se restabeleça a ordem no que diz respeito à questão da consulta. O oráculo recomenda muita atenção a dois fatores: à preparação da nova situação, antes da sua implantação, e à avaliação da nova situação após os primeiros tempos de sua vigência. Seguindo esses cuidados, a tendência é de dar tudo certo, inclusive no plano dos relacionamentos. Elisabete Araujo Leonetti
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6ª LINHA (9): “Obedecendo, enfia-se embaixo do altar eb perde suas posses e ferramentas. Insistir é prejudicial.” A pessoa indicada pela 6ª linha, com relação à questão da consulta, não mais deveria procurar acordos, obedecer, fazer concessões. Nem tampouco, por outro lado, deve tentar mandar, fazer exigências, pois não tem mais força para isso. Ao que parece, ela já percorreu todo esse processo e agora deveria assumir uma posição de independência e de disponibilidade, com liberdade; ou seja, deveria estar aberta e acessível aos outros, oferecendo-lhes livremente aquilo em que a sua experiência e o seu conhecimento possam ser-lhes úteis, mas sem se submeter às suas exigências. Do modo como a situação está descrita nesta linha, a pessoa está sendo utilizada de uma forma servil, que a levará rapidamente a perder o poder de decisão e até a capacidade de ser útil, gerando, afinal, o infortúnio, a infelicidade. Não há nenhum motivo evidente para que a pessoa se deixe dominar assim e isso não está certo. Pela sua posição e pelas suas relações (ou ausência de relações) ela não está sujeita nem obrigada a ninguém nem a nada. O oráculo sugere que ela se deixa subjugar devido a uma exaustão da vontade, a um esgotamento provocado pelas inúmeras idas e vindas, pelas muitas interações e tentativas de influência e ajuste a que a situação enfocada pela consulta a obrigou. A tendência para o futuro, porém, é de a pessoa se conscientizar da impropriedade do seu comportamento, buscar em si mesma os fatores básicos que construíram a sua maneira particular de ser e simplesmente colocá-los à mostra e à disposição do mundo, mas sem se submeter a ninguém, sem abdicar da sua identidade e independência.
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HEXAGRAMA 58: SATISFAZENDO-SE POSITIVAMENTE
JULGAMENTO: “SATISFAZENDO-SE POSITIVAMENTE se exerce influência, é conveniente insistir.” N a s i t u a ç ã o r e p r e s e n t a d a p o r e s t e h e x a g ra m a t e m o s a predominância da satisfação e da alegria. A alegria é jovial e expansiva. Traz alívio e conforto ao espírito. Se envolver trabalho, é um trabalho gratificante, que dá frutos. É aberta na superfície, comunicando-se ao mundo, e profunda nas raízes, pois tem seu fundamento na própria essência da pessoa, na sua maneira habitual de ser. Na situação de satisfação e alegria não vemos a presença de rigor e dificuldades, nem de movimentos bruscos e assustadores; não vemos a sujeição a uma condição nem a responsabilidade dos grandes empreendimentos; não vemos graves pensamentos nem o recolhimento silencioso e solitário. O que vemos junto à alegria são a claridade, a dependência e a concordância. A claridade mostra a energia que existe na alegria e mostra a beleza que se percebe quando se está sob a predominância da alegria. A dependência mostra como a nossa satisfação e alegria dependem da existência e da companhia de outros e da situação deles. A concordância mostra como a alegria, ao se expandir, penetra em todos, gerando harmonia, e principalmente como, através da satisfação que se lhes ofereça, se pode influenciar as pessoas, levando-as a concordarem conosco. A previsão geral para quem obteve este oráculo é de que a situação é, foi ou será satisfatória, gerando contentamento. Se a resposta envolver dois hexagramas, a indicação de predominância da satisfação poderá estar no presente, no passado ou no futuro, ou em todos os tempos, conforme este hexagrama seja o primitivo, o derivado, ou os dois hexagramas obtidos sejam de significados complementares. Sob a influência da alegria e com a perspectiva de satisfação há possibilidade de avanço na direção desejada, e a constância nos rumos de ação e comportamento que a pessoa vem adotando é propícia à manutenção e desenvolvimento da alegria. A persistência é especialmente recomendada porque a pessoa, no estado de alegria, ou na busca da satisfação, pode se tornar volúvel e frívola, autocomplacente, não querendo encarar mais do que a superfície
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das coisas, por receio de comprometer a sua felicidade. O Yi Jing adverte que a alegria terá muito mais condições de se manter se for apoiada em fatores permanentes ou habituais na vida da pessoa, que façam parte da base, da essência da sua vida, do que se for apoiada em condições extraordinárias ou em fatores instáveis, que mudam muito. A alegria verdadeira deriva-se principalmente de se estar contente e satisfeito com o que se tem e com o que se é. Implica, portanto, uma atitude de aceitação da realidade, de ajuste entre os anseios e inclinações pessoais e o mundo vigente. Ainda, a verdadeira alegria é vivida de modo compartilhado, por isso a pessoa deve, no seu próprio interesse, colaborar altruisticamente com o seu grupo, e não agir de modo egoísta, tentando usufruir sozinha daquilo que causa satisfação. IMAGEM: "Lagos agindo de acordo: a imagem da SATISFAÇÃO POSITIVA. O sábio, porque se agrupa com seus amigos, se acostuma a debater." O conselho para quem busca a satisfação ou está na situação em que predomina, ou deve predominar, a alegria, baseia-se no aspecto participativo deste sentimento. A alegria e a satisfação se reforçam e completam quando encontram mais satisfação e alegria, e se desenvolvem no convívio harmonioso com os amigos e as pessoas com quem nos sentimos bem. É na prática da reunião e da conversa que a pessoa se expressa integralmente, compartilhando conteúdos de ordem psíquica e espiritual e de ordem prática e material, o que contribui para o seu equilíbrio psicológico, sua satisfação pessoal e entrosamento social. É isto que o consulente deve procurar fazer: reunir-se a seus amigos para conversar e desenvolver atividades em comum. 1ª LINHA( 9): "Moderando a satisfação; benefício." Esta linha mostra uma pessoa muito contente. E sem dúvidas, sem divisões. Essa satisfação provém de um contentamento consigo mesma e com a sua situação. É uma alegria tranquila, que brota do íntimo da pessoa, não depende de outros e não se apoia em nenhum relacionamento específico, parecendo fazer parte da sua própria natureza, da maneira independente e livre como ela conduz sua vida.
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Numa atitude positiva, otimista, a pessoa realiza com gosto e segurança aquilo que constitui a sua atividade habitual (porque ela tem alguma atividade) e por isso as coisas tendem a dar certo para ela: atrai boa sorte. A pessoa não faz alarde do seu contentamento, não se vangloria, talvez nem tenha uma clara consciência dele, e de tal maneira o vive espontaneamente que não lhe ocorre que possa vir a perdê-lo. Realmente, não há nenhum mal presente mas, como todas as coisas boas, aquelas que causam satisfação devem ser preservadas e realimentadas continuamente, para que não se esgotem. Se a pessoa obteve este hexagrama como primeiro e, sobretudo, se o obteve apenas com esta linha mutante, deve prestar muita atenção aos seus passos neste momento, porque a sua alegria está correndo sério risco de se ver transformada em sofrimento, mas provavelmente ainda está em tempo de evitá-lo. Neste caso específico, a pessoa deve ver que setor da sua circunstância pessoal está sendo cogitado de mudança e deve tratar de evitá-la, pois certamente seria uma mudança para pior e de duração prolongada. Se a mudança já se tiver concretizado, deve tentar anular os seus efeitos negativos. 2ª LINHA (6): "Confiando na satisfação; benefício, remorso desaparece.” A satisfação da pessoa a quem se refere esta linha se baseia no conhecimento da realidade e na consciência das suas próprias possibilidades e limitações, o que faz com que a sua atuação tenha boas chances de dar certo, pois tem base no real e não num engano. Pode ser que ela se veja às voltas com algum tipo de opção, e pode lhe advir o receio de optar mal. A escolha correta para esta pessoa é aquela que a aproxima da ação, do poder, da elevação, da evolução, pois ela tem muita energia. O oráculo a mostra ocupada não só consigo mesma e com os seus interesses, mas também com alguém, ou algum projeto, que se apoia nela para sua sustentação. Ela deve cuidar para não se ligar exclusivamente a esse elemento, pois isso poderá atrapalhar o seu desenvolvimento, uma vez que se trata de alguém ou de algo que possui muita energia e requer muita atenção. Se for uma pessoa, provavelmente é alguém que fala bastante e a solicita constantemente através de perguntas e comentários. No entanto, talvez essa dedicação exclusiva tenha, obrigatoriamente, que ser feita; talvez a pessoa da 2ª linha não possa, no momento atual, optar por aquilo que lhe traria maior desenvolvimento, numa área do seu interesse, do seu gosto pessoal. De qualquer modo, reconhecendo que as coisas tem que ser assim a pessoa aceitará isso e se satisfará com o que estiver ao seu alcance, não lamentará não ter agido de outra forma, e a sua satisfação consigo própria não será prejudicada. Elisabete Araujo Leonetti
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3ª LINHA (6): "Atraindo a satisfação; prejuízos." O oráculo mostra a pessoa da 3ª linha sendo envolvida por aquilo que lhe dá satisfação. Ao que tudo indica trata-se de algo que vem de fora, podendo, inclusive, ser de origem não totalmente idônea. Pela sua própria natureza expansiva e inconsequente (ao menos com relação ao assunto da consulta, ou neste momento específico) a pessoa se entrega entusiasticamente àquilo que lhe traz satisfação. Ela não tem o controle da situação, pois aquilo não se origina nela mesma, depende de fatores externos. Por isso o oráculo adverte sobre a possibilidade de as c o i s a s n ã o d a r e m c e r t o . A f o n t e d a a l e g r i a p o d e e s t a n c a r, independentemente da vontade da pessoa: assim como veio pode ir embora. Ao contrário da pessoa da linha 2, que é forte mas está numa posição que não lhe permite fazer tudo o que gostaria, a pessoa da 3ª linha está numa posição que lhe permite grande mobilidade, mas não tem a forte estrutura interna necessária para tirar o melhor proveito disso. Ela o percebe e procura se apoiar na pessoa da 2ª linha, uma vez que não tem, nem no momento nem previsto para o futuro próximo, outro ponto forte de amparo, colaboração ou inspiração. Ao procurar se defender contra a possibilidade de azares, sua arma provavelmente será a obstinação, a teimosia, manifestada primeiramente através de palavras inflamadas. Ela deveria tentar evitar isto, pois não é prudente expor abertamente suas intenções de ataque, ainda mais sem a devida competência para atacar. Na continuação da situação existe a tendência a um fortalecimento interno da pessoa da 3ª linha, talvez um amadurecimento. A teimosia tende a transformar-se em determinação originada de decisões pensadas, e ela, tendo a intenção de acertar, não incorrerá em erro, mesmo que os outros pensem assim. 4ª LINHA (9): "Questionando a satisfação, ainda não fica tranquilo; mas afastando-se das preocupações haverá felicidade." É próprio da natureza da pessoa a quem se refere esta linha não decidir impulsivamente nem se obstinar sem reflexão, mas sim analisar bem os fatos, avançando e recuando antes de tomar uma decisão. Se ela faz isso é porque, naturalmente, não está plenamente confiante no modo como as coisas se apresentam e porque sabe da influência que a sua decisão pode ter no desenvolver da situação, ou na sua própria vida. Ela está numa posição em que nem se basta a si mesma nem pode se apoiar em outros. Talvez contra suas expectativas, tem que se virar
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sozinha e procurar por si mesma aquilo que possa satisfazê-la e/ou lhe dar alegria. Há uma possibilidade - ou realidade - de relacionamento, dentro do assunto enfocado pela consulta, mas é com alguém meio sem conteúdo, mais fraco do que a pessoa da 4ª linha e que, portanto, não lhe adianta muito, a não ser para troca de opiniões. A pessoa desta linha é dinâmica, tem visão e é otimista, de modo que, embora se preocupe e pondere, uma vez que consegue eliminar os erros e vislumbrar o caminho do acerto fica contente. Entre os erros de que ela se livra ou deve se livrar está aquele representado pela subjugação de si própria a um elemento externo, por causa do prazer, da satisfação que aquele elemento possa lhe proporcionar. Na continuação desta situação a pessoa deverá encontrar a tranquilidade e prosseguir, aceitando alegremente as limitações derivadas dela mesma e das circunstâncias. Assim, o movimento da 4ª linha evolui da preocupação e análise para a decisão, e daí para a tranquilidade e alegria. 5ª LINHA (9): "Confiando no que rui, é necessário ser prudente." A pessoa da 5ª linha está bem, é atuante, é senhora da sua situação, porém está muito perto de alguém ou de algo que não merece a sua confiança: uma amizade, uma ponte, uma proposta, uma máquina, seja o que for. Se for pessoa (ou grupo) é alegre e bem falante e, embora seja superficial e com pouco domínio do assunto da consulta, dispõe-se a aconselhar e assessorar a pessoa da 5ª linha, que a escuta, um pouco por causa da posição que a outra ocupa, um pouco porque ela fala e age como se soubesse muito. Pode-se supor que essa outra pessoa pretenda exercer um controle sobre os demais participantes da situação utilizando a influência da pessoa da 5ª linha, que tem conteúdo e é respeitada. O consulente deve verificar quanto disso se aplica ao seu caso específico porque, se o elemento negativo não for uma pessoa, não se lhe pode atribuir intenções. Por outro lado, quem deveria ajudar a pessoa da 5ª linha está concorrendo com ela, é seu rival nesta questão. Assim, a pessoa deve acautelar-se e controlar suas palavras para que não haja chance de que façam mau uso delas ou de que elas o comprometam num projeto que não teria sustentação. Na continuação da situação enfocada pela consulta a pessoa da 5ª linha torna-se mais decidida e, apesar das adversidades, leva as coisas a bom termo. Através da sua modéstia consolida bons relacionamentos,
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embora continue havendo quem, sem ter valor igualável ao seu, deseje suplantá-la perante os outros. Se o consulente obteve este hexagrama só com esta linha mutante, deve tomar muito cuidado, porque está, com relação ao assunto da consulta, entre alguém que é falso e alguém que é rival, ambos visando apenas os seus próprios interesses. Mesmo assim, ele provavelmente conseguiria levar o seu projeto até o fim, mas talvez não do jeito que gostaria, e com tanta incomodação que talvez fosse mais conveniente aguardar uma ocasião mais propícia para agir. Enquanto isso, que deixe passar o tempo despreocupadamente na companhia dos amigos, conforme o conselho da Imagem. 6ª LINHA (6): "Satisfação sedutora." A pessoa a quem se refere a 6ª linha tanto pode estar sendo fonte de alegria e prazer para outros quanto pode estar sendo atraída por algo ou alguém em função da satisfação, do prazer que este elemento lhe proporciona, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. A situação em si não é boa nem má, dependendo isto dos componentes e das circunstâncias. Vários fatores aí podem ser analisados e avaliados, como por exemplo: - o tipo de prazer que está sendo buscado; - as consequências da entrega àquele prazer; - se a dedicação ao prazer não está roubando tempo e energia que poderiam ser dedicados a algo mais nobre; - se não está havendo uma subjugação da vontade, uma perda do domínio de si mesmo em função de uma paixão, de uma busca incontrolada dde algo ou alguém que proporcione prazer, da alegria. De acordo com os conceitos expressos pelo Julgamento e pela Imagem deste hexagrama, a verdadeira satisfação é aquela que brota de fatores constantes da vida da pessoa e desabrocha no convívio harmonioso com os outros; e não aquela que tem origem em algo fora de nós e nos atrai como um ímã sem vontade própria. Assim, a situação da pessoa da 6ª linha é, no mínimo, duvidosa. Ela possui características ambivalentes: busca a satisfação, mas não se satisfaz e a busca de novo; fala muito, mas talvez suas palavras sejam vazias; não possui a maturidade e a sabedoria que se esperaria dela e é até mesmo um pouco inconsequente; ao mesmo tempo em que, por sua falta de conteúdo, é influenciável, procura exercer influência; mas, mesmo querendo influenciar, procura apoiar-se em alguém mais sólido. Como se vê, uma pessoa cheia de contradições. Desse jeito as perspectivas não são necessariamente ruins nem totalmente boas, porque a pessoa é de natureza elevada, não é de má Elisabete Araujo Leonetti
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índole, e isso poderá contribuir para que, embora trilhando um caminho perigoso, não venha a se perder. De qualquer modo, parece que poderia estar fazendo melhor uso de seu tempo e de si mesma. Por isso, na continuação dos acontecimentos, ou ao final desta fase, o Yi Jing convida a pessoa a julgar o seu comportamento atual, avaliando racionalmente se foi correto ou não, se contribuiu para a sua evolução ou se constituiu um estacionamento ou retrocesso. E se, afinal, vale a pena repeti-lo ou é mais prudente mudá-lo.
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HEXAGRAMA 59: DISPERSANDO A RIGIDEZ
JULGAMENTO: “DISSOLVENDO A RIGIDEZ se exerce influência, mas apenas um grande rei terá um templo. É conveniente atravessar o grande rio e é conveniente insistir.” Este hexagrama mostra a matéria da consulta num ponto em que é necessário, útil ou conveniente haver uma quebra de certas estruturas para que ocorra uma reorganização, uma nova amalgamação dos componentes. Trata-se do processo de dissolução da rigidez em certos aspectos da realidade enfocada pela consulta, ou em toda ela. Cabe lembrar que a matéria da consulta pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas, uma conjuntura social, relacionamento, comportamento, projeto, enfim, qualquer coisa. Esse processo costuma ser, frequentemente, um processo doloroso para o sujeito da consulta e provavelmente para os demais envolvidos, pois mexe em estruturas ou sistemas com os quais já estavam acostumados e que, bem ou mal, lhes davam apoio e segurança, funcionavam. Pode envolver a dispersão de bens e valores, o enfraquecimento e até o desmantelamento de relações, a frustração de expectativas, a anulação de esforços despendidos para um determinado fim, a diluição de idéias ou crenças solidamente estabelecidas, a dissolução de um bloqueio emocional, etc. Se a pessoa aceita a inevitabilidade da dissolução e procura se adaptar ou mesmo se antecipar a ela, flexibilizando-se onde se fizer necessário e amoldando-se às circunstâncias, tem fortes chances de se sair bem, sem muito sofrimento. Se a pessoa resiste a se adaptar à dissolução e procura segurar as coisas e mantê-las exatamente do jeito em que estão (ou em que estavam), atendo-se rigidamente ao que é e ao que quer, de uma maneira inflexível e/ou intolerante, tem fortes chances de se sair mal, talvez arruinar definitivamente aquilo que pretendia segurar a todo custo. Poderá também ter muito sofrimento. De qualquer modo, independentemente da atitude da pessoa, a tendência é de as coisas tornarem a se estabilizar numa nova configuração Elisabete Araujo Leonetti
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ou numa nova estrutura uma vez que passe este momento da dissolução dos pontos rígidos da estrutura atual. O que a atitude de aceitação ou de resistência podem ocasionar é uma diferença no grau de facilidade com que a pessoa passa pelo processo. Através da atitude de aceitação a pessoa pode até chegar a influir no processo, não sendo totalmente dominada por ele. Porém, será somente com muita grandeza interior e com muita consideração pelos que dependem dela que a pessoa conseguirá superar a dissolução até o ponto de, futuramente, construir uma nova estrutura positiva e vir a ser admirada e reverenciada, atingindo posição de destaque entre os que se destacam. Há uma exigência básica de grandeza do sujeito da consulta para o bom andamento da questão: ele tem que estar à altura da situação e do que a situação requer dele. Caso contrário, não conseguirá realizar a obra que deseja ou desempenhar a contento as funções para que foi designado ou a que se propôs. Mesmo em pleno processo de dispersão, dissolução, desintegração ou espalhamento, seja do que for, existem aqueles fatores que devem ser mantidos e preservados, e o sujeito da consulta deve cuidar de prover alimento e sustentação a esses fatores. Isso o engrandeceria e facilitaria a adaptação ao momento. Não é para desistir de tudo e abandonar de vez a questão: isso seria um comportamento irresponsável, que só pioraria os efeitos negativos da dissolução. Resumindo, o que é recomendado é promover - ou aceitar - uma flexibilização de alguns aspectos da matéria da consulta, e continuar no rumo dos esforços e das aspirações, realizando ou aceitando grandes mudanças, alterações radicais, perdas ou rupturas importantes que se imponham ou se mostrem necessárias, utilizando, para tanto, os meios que se apresentarem. Está prevista a colaboração entre os diversos envolvidos na questão, mas, repito, somente uma atuação decidida e responsável, de uma pessoa que saiba agir com determinação e flexibilidade, grandeza e humildade, poderá criar as condições para uma reestruturação positiva da situação. Essa é a mensagem básica para quem obteve este hexagrama. As linhas obtidas darão detalhes sobre o posicionamento da(s) pessoa(s) face à dispersão em curso. IMAGEM: "O vento atuando acima da água DISPERSA A RIGIDEZ. Assim, os reis da antiguidade, para sacrificar ao divino, erguiam templos." Quando ocorre a dispersão, as coisas e as pessoas espalham-se para diferentes lados. O conselho para a pessoa que se encontra numa tal situação é de que não se deixe dispersar ela própria, mas procure seu centro, procure união no meio da separação. Elisabete Araujo Leonetti
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A dispersão pode ser-nos favorável ou desfavorável, dependendo das circunstâncias. Se for a dissolução de algo que nos bloqueava, nos impedia, é favorável. Se for a dissolução de bens, idéias, esforços, afetos, etc., talvez seja desfavorável. De qualquer modo é um movimento forte, que implica mudanças, nem sempre desejadas. O conselho da Imagem é de que a pessoa, em meio à dispersão, procure aproximar-se daquilo que é imutável e forte, procure sentir-se apoiada por uma união que supere toda e qualquer separação. A comunhão do indivíduo com Deus, com aquilo que represente para ele o inabalável, o seguro, o imutável, é apresentada como a maneira sábia de enfrentar as incertezas do momento. A própria consulta ao oráculo é um meio de buscar apoio, pois a adivinhação é uma aproximação do divino, é um modo de penetrar num saber superior a nós, no qual nos podemos apoiar. O texto da Imagem dá como exemplo de aproximação do divino e a construção de templos, a criação de um tempo/espaço que favoreça o recolhimento, a reflexão, a concentração em si mesmo e também a congregação de pessoas. Em suma, a Imagem aconselha a quem obteve este hexagrama que busque união e concentração, através da elevação espiritual, a fim de equilibrar a dispersão. 1ª LINHA (6): “Se salva utilizando um cavalo robusto, benefício.” Esta linha mostra a pessoa que é pouco suscetível à ação desestruturadora da dispersão, não por ser excepcionalmente forte e bem preparada, mas por ser mais voltada para dentro de si mesma e do seu mundo pessoal do que para o que acontece em torno. Além disso, através de ajuda ela se livra das dificuldades e complicações dolorosas que geralmente acompanham um momento de dispersão: tem ou obtém colaboração de elementos mais fortes e dinâmicos do que ela. Assim, é através das suas ligações, em que confia intimamente, que consegue escapar dos efeitos da dispersão e continuar no seu modo de ser habitual. Não sofre alterações negativas, especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Se há algo de rígido e trancado nas suas circunstâncias específicas, ela o vivencia de uma maneira tão incorporada ao seu modo habitual de ser que não o percebe claramente, não tem consciência daquilo. Do mesmo modo, provavelmente não percebe algum perigo ou obstáculo que possa estar próximo a ela.
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Se a consulta indaga sobre como enfrentar uma situação qualquer, a resposta é: utilizando a ajuda de alguém mais forte. E tem que buscar - e aceitar - ajuda para si mesmo, não adianta se preocupar com os outros agora. 2ª LINHA (9): “Dispersado, retira-se para seu apoio e o remorso desaparece.” Esta linha mostra a pessoa que nem opõe resistência nem se engaja no processo de dispersão em curso, mas foge dele. Ela consegue subtrair-se refugiando-se numa posição mais obscura e reservada, porém mais segura, junto de quem ou do que lhe dá apoio e cobertura. A princípio a pessoa sente uma certa culpa por essa atitude, mas depois acaba se tranquilizando e o arrependimento desaparece. Porém a continuação prolongada nessa posição de indefinição e não comprometimento, buscando apenas a própria segurança e proteção, poderá vir a envergonhá-la, por ser, talvez, inferior àquilo que ela mereceria e poderia desenvolver. 3ª LINHA (6): “Dispersa seu corpo, nenhum remorso.” Esta linha mostra a pessoa totalmente exposta à ação dos elementos dispersivos: ela está voltada para o exterior, para o que se passa em volta, sem pensar em si mesma. Envolvida em trabalhos, dificuldades ou perigos, e tentando superá-los, aceita a descentralização que atinge a ela própria de uma forma pessoal ou à realidade enfocada pela consulta. Como esse é o comportamento requerido pelas circunstâncias, está de acordo com o momento e não gera sentimentos de culpa, arrependimento ou remorso. No entanto, apesar de no seu agir a pessoa sujeitar-se e adaptar-se, "dançar conforme a música", sua vontade e decisão de agir em função das circunstâncias exteriores rapidamente se esgotam, pois não encontram eco legítimo no seu íntimo. Ela pode cansar de se submeter e começar a, em palavras, expressar seu descontentamento através de reclamações e resmungos, que não darão resultado algum. Isso é verdade especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. 4ª LINHA (6): “Dispersar seu grupo tem benefícios fundamentais porque dispersando se acumula e comumente não se pensa nisso.”
Elisabete Araujo Leonetti
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Agente ativo do processo de dispersão em curso, o sujeito desta linha se separa do seu grupo ou desfaz o grupo a que pertence, provavelmente um grupo de estrutura já cristalizada e habituado a atuar de uma determinada forma. Essa ação radical produz resultados positivos, por duas razões: primeiro, porque abre espaço para novas configurações do mesmo grupo ou para a formação de novos agrupamentos, mais ricos e fecundos; segundo, porque dá liberdade ao sujeito para agir por conta própria. Com essa atitude ele revela o seu valor e a sua capacidade de previsão, pois já enxerga e prepara, no presente, a consequência futura da ação atual, que seria a reversão da dispersão, o acúmulo. No caso de relacionamentos, o oráculo preconiza a dissolução e consequente liberação de ligações enrijecidas, para permitir a sua renovação ou a formação de novas ligações, o que exige, do sujeito desta linha, coragem e grandeza de alma. Tendo em vista a possibilidade de essa ação de agora gerar disputa, o sujeito deverá ter a flexibilidade de recuar e voltar atrás, se necessário, não desistindo do que quer, mas insistindo sutil e calmamente, sem rigidez, porque, afinal, ele não perde nada. 5ª LINHA (9): “Dispersa transpirando e dando grandes gritos; dispersando, o rei permanece sem erro.” Esta linha mostra a dispersão acontecendo por obra e esforço do sujeito da consulta, ou por ordem de longo alcance de uma autoridade superior a ele. A dispersão ocorre com grande alarde e, provavelmente, com grande sofrimento para a própria e/ou para os outros atingidos, conforme ela seja autora ou vítima do processo, ou ambas as coisas. De qualquer forma, ela não pede ajuda nem foge: assume a situação e trabalha, seja para implantar o movimento - se for a agente - seja para harmonizar os seus efeitos - se for a vítima. Assim, a dispersão é imediatamente seguida por uma reestruturação da realidade enfocada pela consulta, e os espaços tornam a ser ocupados, numa nova configuração dos elementos. Apesar da turbulência, do trabalho e da dor que possam porventura se originar desses acontecimentos, eles estão dentro dos limites da correção e das normas vigentes. Por outro lado, a desestruturação ocorrida põe à mostra a fragilidade e a ignorância do sujeito da consulta com relação ao assunto em pauta e, em função disso, ele passa a sentir necessidade e disposição de aprender, de evoluir. Para tanto, tem que desenvolver uma certa modéstia, a fim de que possa reconhecer sua ignorância ou ingenuidade e aprender o que não Elisabete Araujo Leonetti
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sabe. Deve fazê-lo com dedicação, desenvolvendo em si a grandeza que lhe permitirá, no futuro, ser digno de admiração e reverência. 6ª LINHA (9): “Dispersando seu sangue, parte, afasta-se, sai sem culpa.” Quer o processo de dispersão esteja em pleno andamento, quer já esteja terminado, a pessoa a quem se refere esta linha não deve tentar deter o curso dos acontecimentos, não deve tentar segurar nada, não deve manter rigidez alguma com relação ao assunto da consulta. Deve, ao contrário, largar a questão, abandonar o assunto, afastar-se, sob pena de sofrer danos importantes se não o fizer. Embora ela possa ter alguma dúvida sobre se essa é mesmo a atitude certa, o Yi Jing diz que não há erro, que deixar se dissolverem completamente os laços com aquilo que a estava prendendo ou preocupando significa apartar-se do que é prejudicial para ela. E mais: se não o fizer, corre o risco de se afundar e prender numa situação complexa, desconfortável e obscura, de saída difícil e demorada. Por outro lado, essa dispersão atual, embora necessária ou inevitável, pode acarretar sofrimento e limitações para a pessoa, que deve, então, aproveitar a ocasião para o aprofundamento do exame de si mesma e da matéria da consulta.
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HEXAGRAMA 60: LIMITANDO EQUILIBRADAMENTE
JULGAMENTO: "LIMITANDO EQUILIBRADAMENTE se exerce influência, mas não se deve insistir em limites amargos.” A idéia básica deste hexagrama é a de que devemos colocar limites em certas coisas, ou aceitar limites que as circunstâncias nos imponham. A situação atual requer o estabelecimento de limites, impõe limites sobre a atuação das pessoas, ou é limitada em si mesma. O desenvolvimento do assunto da consulta também está sujeito à influência da limitação: ou ficará dentro de certos limites, não atingindo, talvez, toda a dimensão desejada, ou dependerá da correta aplicação de limites para chegar a bom termo. É provável que aquilo que temos em mente não vá atingir o ponto que desejaríamos, mas ficará aquém, sendo limitado pelas circunstâncias. Nesse sentido, este hexagrama pode ser um alerta para que se respeitem os limites da capacidade de algo ou de alguém, ou para nos determos, para sabermos onde parar, evitando excessos. Isso é muito importante e implica uma aceitação da própria condição humana que é, por natureza, limitada tanto na duração quanto nas possibilidades. Quanto ao sujeito da consulta, ele tanto pode sofrer uma limitação imposta de fora quanto pode ser chamado a estabelecer limites para determinada ação, comportamento, projeto ou situação, etc. Ou seja, ele tanto pode ser aquele que sofre limitações, quanto aquele que impõe limites. O oráculo adverte sobre os efeitos nefastos de uma limitação penosa, amarga. Se formos nós que, exercendo um controle sobre nós mesmos ou sobre outros, impomos exageradas restrições, limites muito estreitos, regras muito rígidas, contenções muito grandes, devemos interromper essa atitude, pôr um limite a essa situação. Se, ao contrário, formos vítimas de condições limitadoras que nos estão oprimindo e cerceando de maneira excessiva, penosa, devemos procurar escapar dessa situação, ultrapassar os limites do poder opressor. A limitação amarga deve ser interrompida num curto prazo porque a sua continuação leva ao esgotamento, seja da determinação e vontade de quem exerce o poder, seja da paciência, submissão e da capacidade de suportar de quem é submetido à limitação.
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Existe também a possibilidade de que a limitação seja positiva, constituindo um meio para atingirmos os nossos fins. Dependendo do assunto e da conjuntura, a limitação assume significados diversos. Pode ser a contenção de despesas, pode ser o refreamento de impulsos, pode ser a moderação de determinados comportamentos; pode ser o estabelecimento de metas a alcançar, limitando o campo de ação, etc. Conforme o caso, tudo isso pode estar presente ao mesmo tempo, ou não. Não se pode deixar de considerar que a limitação talvez implique sofrimento daqueles a quem atinge, pois o hexagrama nos mostra um movimento que avança alegre e expansivamente e se vê barrado por um obstáculo grande e inamovível (a pessoa é que tem que contornar o obstáculo, ele não sai do lugar). Vemos a alegria transformar-se em tristeza, a expansão transformar-se em introspecção, o avanço deter-se. Após isso, o movimento ainda pode continuar, mas, atingido pela influência da limitação, já não será aquele avanço impulsivo e até certo ponto inconseqüente: da limitação para frente o avanço é pensado, calado, escolhendo as vias de menor atrito, tendo consciência dos riscos. Há um aumento da ansiedade. O Yi Jing adverte que, mesmo numa situação de limitação, há coisas e pessoas que precisam ser abastecidas e isso deve ser feito com controle e critério, dando a cada um o alimento correto na quantidade e forma corretas, tanto o alimento físico, material, quanto o alimento psíquico e espiritual. IMAGEM "Acima do lago há água LIMITADA EQUILIBRADAMENTE. Assim, o sábio, porque governa com um número de regras, pondera as ações virtuosas." O conselho da Imagem se dirige àqueles que exercem a limitação. Partindo do exemplo do lago e sua capacidade de conter apenas uma determinada quantidade de água dentro dos seus limites, a Imagem chega à idéia de que a pessoa sábia limita o seu comportamento por um conjunto de normas preestabelecidas. As ações boas e corretas são as que cabem dentro daquelas normas. Assim, com relação ao assunto da consulta, devemos definir critérios e regras para regulá-lo, e considerar positivo o que aí se enquadre. 1ª LINHA (9): “Não sair da casa para o pátio não é um erro.”
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A pessoa para quem saiu esta linha não deve avançar no momento, mesmo que as circunstâncias a estimulem à ação. O conselho para ela é de que se limite a ficar onde está, que não tente nem sair da sua órbita habitual de ação nem expandir essa órbita. O momento requer a limitação da ação e do campo de ação da pessoa. O oráculo recomenda que o que a pessoa vá fazer seja algo modesto, algo que não ultrapasse os recursos de que já dispõe nem os limites do que já é conhecido ou familiar, de modo que não tenha que se aventurar em terreno estranho. Se tiver que empreender alguma ação nova, que não pretenda passar do começo por enquanto. Não deve avançar mais, pois o avanço, nas condições atuais, a levaria a afundar-se numa situação da qual não veria a saída, como um abismo dentro de um abismo, e isso, obviamente, deixála-ia ansiosa, desesperada, frustrada, perdida, etc. Enfim, não seria bom. Até mesmo quanto aos relacionamentos: se a pessoa possui poucos amigos ou colaboradores, se eles estão envolvidos nos seus próprios projetos, não faz mal: deve ficar com esses mesmos e contar com eles. Isso ocorre porque o caminho à frente dessa pessoa, o seu caminho normal, correto, está bloqueado. Então, se ela prosseguir, encontrará uma barreira (ou várias) e terá que se desviar. Mas como o desvio não é o correto neste caso, ela corre o risco de se perder e afundar no abismo. É claro que, se o consulente obteve outras linhas mutantes além desta, o significado das outras poderá atenuar ou agravar o desta. Mas para quem tirou só esta linha, a mensagem é essa. Com isso estará agindo dentro das suas possibilidades e não incorrerá em erro. Uma última recomendação: como a pessoa ainda não está em condições de avançar e se expandir, como a sua ação ainda é muito limitada, convém que ela seja discreta quanto ao que projeta ou o que pretende, a fim de evitar interferências prematuras e inconvenientes que poderiam desviá-la do seu objetivo. (O oráculo avisa isso porque a tendência natural da pessoa seria falar.) Na verdade, a pessoa para quem saiu esta linha tem consciência das limitações mas está bem onde está e, se tiver que ficar aí por um tempo, estará alegre, bem relacionada e atuante. Se, ainda por cima, souber proteger-se de interferências externas, não vejo que mal poderá advir-lhe. 2ª LINHA (9): “Não sair pelo portão do pátio traz infortúnio.” Aqui a situação exige um movimento do sujeito da linha. A pessoa a quem esta linha se refere é, com relação à questão da consulta, forte, dinâmica, positiva, e sente um impulso entusiasmado para agir. Ela deve aproveitar esse impulso e agir mesmo. A falta de um apoio
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importante de outras pessoas não deve desencorajá-la, nem tampouco a perspectiva de dificuldades pela frente. É certo que enfrentará obstáculos e riscos ou complicações, mas é certo também que, na continuação, encontrará apoio, não estará mais tão sozinha. Por outro lado, se não aproveitar o momento para agir, as dificuldades serão ainda maiores e se prolongarão por muito mais tempo. Dependendo da questão da consulta, talvez seja o caso de enfrentar corajosamente as limitações atuais a fim de evitar limitações ainda maiores no futuro. A pessoa da 2ª linha pode acreditar que tem condições de prover-se de tudo quanto necessita para avançar, sem ajuda de ninguém, se preciso for. 3ª LINHA (6): “Não se limita e por isso se lamenta. Nenhum erro [exceto o dele mesmo].” A pessoa a quem se refere esta linha está limitada e não aceita isso. Assim, é-lhe feita uma advertência para que respeite os limites inerentes à sua situação. A pessoa sente um impulso para o movimento, mas não tem, nas atuais circunstâncias, condições de avançar muito devido ao surgimento de obstáculos evidentes à sua frente e à falta de apoio daqueles que detêm o poder de decisão relativamente à questão da consulta. Mesmo assim ela não se contém, insiste em tentar, o que é um erro e lhe dará motivos para lamentar-se. Esse comportamento se explica pela sua natureza empolgada e inconsequente. Trata-se, provavelmente, de uma pessoa ágil e loquaz, ou de alguém que se torna agitado e fala muito quando se envolve no assunto abrangido pela consulta. O mais provável de acontecer é ela ser obrigada a deter-se logo adiante por razões alheias à sua vontade e ficar numa posição ruim, sujeita a críticas e ataques. Nada bom. Melhor seria a pessoa reconhecer as limitações atuais e conformar-se com elas. 4ª LINHA (6): “Limites tranquilos exercem influência.” A pessoa a quem se refere a 4ª linha aceita os limites. Estes podem vir de fora, de pessoas ou circunstâncias externas e que são mais poderosas, ou podem vir de dentro, da consciência, sentimentos
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íntimos ou condicionamentos da pessoa, restringindo a sua ação ou mesmo detendo-a. A situação implica uma certa sujeição que a pessoa aceita - ou deve aceitar - de bom grado, porque neste ponto da sua trajetória ela já não é mais estouvada e inconsequente, mas, ao contrário, avança comedidamente e em conformidade com a ordem vigente; e porque, além disso, ela já progrediu bastante no caminho desejado e está bem perto de onde queria chegar. A aceitação tranquila dos limites evita que se desgaste em preocupações e conflitos, se afunde em dificuldades ou assuma uma posição aparentemente boa mas difícil de manter. Assim, se a pessoa se contentar com as possibilidades do momento e não se preocupar mais com o assunto, terá alegria que, amadurecendo, resultará em felicidade. 5ª LINHA (9): “Limites doces são benéficos, avançar, ainda que desordenadamente, é meritório.” A pessoa a quem se refere esta linha mostra-se, com relação ao assunto da consulta, correta e equilibrada, firme e acessível, tranquila e reservada. Seu equilíbrio advém provavelmente do conhecimento dos vários ângulos da realidade enfocada pela consulta e do fato de que se aproxima dos outros de uma forma compreensiva. Se tem que impor algo a outrem, o faz com moderação e suavidade. Do mesmo modo, a influência alheia sobre ela é moderada e contida, porque não é fácil impor restrições uma pessoa como ela, cujo comportamento foge do comum. Em se tratando de impor qualquer tipo de restrição ou de imposição a si própria, a pessoa da 5ª linha deverá fazê-lo com senso de equilíbrio e moderação. Ela se manifesta - ou deve se manifestar - antes pelo exemplo ativo do que por palavras, sempre de forma discreta e não agressiva, procurando os meios mais fáceis para chegar aos fins. No momento indicado por esta linha agir é recomendado. Agindo agora a pessoa terá apoio de superiores e subalternos. No futuro deverá formar, com eles, um todo coeso e consolidado, e estabelecerá ou reforçará outras ligações que por ora estão afastadas. Aliás, exceto por este afastamento passageiro, por todos os ângulos de que se olhe se vê a pessoa desta linha em boa interação com outros, e sempre numa posição de responsabilidade e liderança. É bom que o consulente considere isso ao adaptar a interpretação ao seu caso particular.
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Concluindo, através de uma atuação comedida e acessível a pessoa da 5ª linha está atraindo boa sorte e simpatia no presente e acumulando sabedoria e grandeza de caráter para o futuro. 6ª LINHA (6): “Limites amargos, insistir traz prejuízos mas o remorso desaparece.” Esta linha representa alguém ou alguma coisa que exerce a limitação. Neste momento, a limitação ou contenção já chegou ao seu limite e não deve prosseguir. Se prossegue torna-se ruim, negativa, exagerada, enfim, será a limitação amarga de que fala o Julgamento. A pessoa a quem se refere a linha está, com relação ao assunto da consulta, longe da alegria e da inconsequência próprias da juventude e da novidade das situações recentes. Deixou para trás os altos ideais e passou por trabalhos e dificuldades. Está, provavelmente, ensimesmada e solitária, embora talvez lhe reste o apoio de uma ou mais pessoas próximas e importantes na situação da consulta. Em vez de usar suas relações como fonte de troca e enriquecimento mútuo, a pessoa da 6ª linha limita e oprime os outros, ou a si própria, de modo a causar sofrimento. O certo é que continuar nisso não é bom. O que obter através dos meios da limitação e da contenção para frente não se poderá progredir desta maneira. mudar de conduta. Havendo a tentativa sincera desaparecer qualquer remorso ou lamento pelos comportamento.
quer que se pudesse já foi obtido e daqui É preciso, portanto, de acertar, devem passados erros de
No entanto, como se está dentro de um panorama geral dominado pela limitação, até mesmo na mudança de conduta a pessoa tem que ser comedida. Se quiser, de saída, tomar atitudes muito arrojadas, projetar-se ou avançar demais, também não dará certo, pois não conseguirá sustentar por muito tempo um comportamento que não tenha raízes no seu interior, que não amadureceu intimamente e, portanto, não consegue inspirar confiança.
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HEXAGRAMA 61: CONFIANDO INTIMAMENTE
JULGAMENTO: “CONFIANDO INTIMAMENTE, até oferecer porquinhos e peixes traz benefícios. É conveniente atravessar o grande rio e é conveniente insistir.” Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que o assunto sobre o qual se consulta é uma questão de confiança íntima, tanto de ter confiança ou acreditar, quanto de inspirar confiança e ser acreditado. O bom desenvolvimento do assunto depende do sujeito da consulta, que pode ou precisa confiar; e do objeto da consulta, que é ou deveria ser confiável. Se este hexagrama saiu como primeiro, e há linhas mutantes, estas dirão se há ou não há, se é possível ou não haver confiança entre o sujeito e os demais componentes da situação. Caso este hexagrama tenha saído sozinho, ou como segundo, então o consulente terá que usar seu discernimento para verificar se a matéria em foco está bem encaminhada e, portanto, é possível confiar no bom andamento das coisas, ou se está mal parada e só se desenvolveria bem se houvesse ou pudesse haver confiança íntima entre os seus diversos componentes. Isso é algo que não pode ser definido “a priori”, genericamente, mas tem que ser visto em cada caso, verficando, na situação real do sujeito, a confiança que ele tem ou pode ter nele mesmo e nos elementos com que interage: coisas, acontecimentos, pessoas, sentimentos, instituições, capacidades, etc. Sendo possível haver e havendo confiança, será conveniente prosseguir e avançar, dar passos importantes na matéria da consulta, tomar grandes decisões. Nesse caso até mesmo as menores ações podem ser empreendidas, os menores esforços podem ser envidados, que darão bom resultado. Mas só se puder haver e de fato houver no sujeito, livre de intenções ocultas e de preconceitos, aquela confiança íntima que dá segurança e atrai boa sorte.
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Essa confiança possivelmente servirá de estímulo e combustível para um melhor desempenho do sujeito e deverá ser alimentada e realimentada com atos e palavras. IMAGEM: “Acima do lago há vento, CONFIANDO INTIMAMENTE. O sábio, porque avalia cuidadosamente os pleitos, é indulgente nas execuções.” Como o assunto abordado pela consulta é, antes de tudo, uma questão de confiança, a pessoa agirá sabiamente se não tomar nenhuma atitude decisiva, principalmente nenhuma atitude drástica, antes de avaliar cuidadosamente o caso para ver se, realmente, os fatores componentes são merecedores de confiança. Ao agir assim a pessoa manifesta uma inclinação à tolerância, à benevolência e ao perdão, pois tenta compreender o outro, penetrar com suavidade nos seus desígnios íntimos, assumindo ser ele, em princípio, digno de confiança. 1ª LINHA (9): “Prevenir-se é benéfico porque há outras [pessoas] agitadas.” A pessoa da 1ª linha não deve confiar nos outros no que diz respeito ao assunto da consulta. Deve prevenir-se contra eles, afastando-se. Se não puder afastar-se, deve ficar alerta e vigilante. Ela pode confiar em si mesma e planejar seus movimentos de acordo com a sua vontade e em conformidade com aquilo de que realmente gosta. Isso não impedirá que, no desenrolar dos acontecimentos, venha a obter ajuda de recursos externos, elementos fortes e dinâmicos; mas não deve, de modo algum, ela tentar ajudar alguém, nem preocupar-se, envolver-se, comprometer-se ou confiar em outros agora, porque isso lhe tiraria a tranquilidade. 2ª LINHA (9): “Um grou canta na sombra e seu filhote o ecoa: ‘estou numa boa situação e vamos compartilhá-la’.” Esta linha mostra uma relação em que há confiança mútua entre duas pessoas. Dentro do assunto da consulta o sujeito desta linha está numa situação boa e não teme nem deve ter medo e desconfiança. Confia em quem interage com ele e, quando se manifesta – ainda que discretamente - ou quando avança, provoca no outro uma reação equivalente, pois há coincidência entre as aspirações e os sentimentos de ambos, há empatia. Elisabete Araujo Leonetti
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Assim, a previsão desta linha é de que a pessoa recebe colaboração espontânea e sincera com a qual aumenta o seu ganho ou o seu cabedal, no que se refere à matéria da consulta. A pessoa não se furta à sua responsabilidade de também contribuir para o avanço e o crescimento dos seus colaboradores, e a relação de íntima confiança mútua consolida-se. Se isso não é verdade na situação do sujeito da consulta, é o que ele deveria tentar desenvolver, pois é o ideal numa relação entre dois seres. 3ª LINHA (6): “Encontrando um inimigo, ora avança com um rufo de tambores, ora se freia, ora chora ora canta.” A pessoa da 3ª linha desconfia daqueles que interagem com ela na matéria da consulta, e também não é capaz de inspirar confiança neles, devido ao seu comportamento oscilante. Apesar das perspectivas aparentemente otimistas da relação, a pessoa não pode confiar, pois os seus parceiros ou as circunstâncias em que eles se encontram não são confiáveis, há oposição onde deveria haver harmonia. Assim ela fica insegura quanto ao procedimento a tomar: avançar alegremente ou parar; lamentar-se ou comemorar. Isso pode ser, talvez, um sinal de imaturidade ou leviandade, uma pequenez da pessoa com relação à matéria da consulta, e ocorre porque ela não está devidamente preparada, não está à altura das funções a que se propõe ou da posição em que se encontra e, portanto, não consegue avaliar bem aqueles com quem interage e estabelecer uma relação de confiança com eles, como seria o desejável e esperado. 4ª LINHA ( 6): “A lua está quase cheia e um dos cavalos se perde, não há erro.” A pessoa desta linha pode confiar em si mesma e no resultado de suas ações, apesar dos seus receios e dúvidas. Ela não precisa realmente daqueles a quem estava originalmente atrelada: mais adiante ou em outro lugar encontrará em quem confiar. O seu caminho avança e ela deve avançar, e não retroceder. Por isso, prefere confiar mais nos que estão acima e à frente dela, de quem se aproxima, do que nos que estão abaixo ou no mesmo nível, de quem se afasta, se separa. Por um lado, isso é uma perda para os que se ligavam a ela e talvez até para ela mesma, pois deixam algo a que estavam acostumados; mas, por outro lado, é um avanço e uma ascensão.
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Trata-se de um movimento potencialmente perigoso, que tem que ser realizado com mansidão e muita cautela e atenção, porque a pessoa está lidando com elementos mais fortes e talvez mais poderosos do que ela, que poderiam derrubá-la. Mas este é o hexagrama em que as coisas dependem da confiança íntima, e ela confia; assim, essa é a atitude correta e dará certo. 5ª LINHA (9): “A confiança o amarra, nenhum erro.” A pessoa representada pela 5ª linha é centrada e equilibrada, porém flexível. Pode confiar em si mesma e inspira confiança naqueles com quem interage. A sua influência penetra em todo o meio que a cerca e ela consegue ser, ao mesmo tempo, dócil e firme, permeável e sólida, de modo que é ou pode vir a ser um ponto de apoio e referência para os outros que, em contrapartida, dar-lhe-ão aprovação e garantirão a sua manutenção e crescimento, na matéria da consulta, mesmo que sobrevenham circunstâncias que geralmente resultariam em esvaziamento ou redução. Portanto, a pessoa desta linha pode prosseguir com confiança pois está correta e terá bons resultados. 6ª LINHA (9): “O canto do faisão dourado eleva-seb ao céu; insistir traz prejuízos.” A pessoa da 6ª linha confia demais em si mesma e se ilude porque acredita que ações e comportamentos enganosos, apenas exteriores, sem embasamento numa realidade interior, poderão levá-la a alcançar seus objetivos. Não inspira confiança nos outros nem atinge bons resultados porque não consegue sustentar as ações superficiais e pretensiosas por muito tempo. A pessoa deve voltar-se um pouco para o seu interior e, reconhecendo suas limitações, parar com esse comportamento errado antes que se torne insustentável e caia por si mesmo. Assim evitará remorsos.
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HEXAGRAMA 62: EXCEDENDO-SE SENDO PEQUENO
JULGAMENTO: “EXCEDENDO-SE SENDO PEQUENO se exerce influência. É conveniente insistir, mas só em assuntos restritos e não importantes. Um pássaro voando deixa sua mensagem: ‘não é apropriado subir, o certo é descer’; nesse caso haverá grandes benefícios!” A influência principal neste momento é a das coisas pequenas, que são excessivamente pequenas ou que querem se exceder na sua pequenez, não querem ou não podem se expandir. Sob esta influência, o assunto da consulta pode ter apenas pouco desenvolvimento. De um modo geral, há poucas possibilidades e o sujeito da consulta tem que se contentar em fazer pouco, aspirar a pouco, lidar com pessoas ou matérias pouco importantes, pequenas, jovens, elementos que ainda precisam se desenvolver. A mensagem do hexagrama tanto pode ser tomada como um alerta quanto como uma recomendação ao consulente, de acordo com a sua situação específica: a pessoa tanto pode estar sendo avisada de que suas expectativas com relação à matéria da consulta serão frustradas por fatores sem muita grandeza ou importância essencial, tais como detalhes e minúcias, como pode estar sendo aconselhada a ser modesta e despretensiosa em suas expectativas e em seu comportamento, seja porque ainda há muito que fazer, acontecer ou aprender, seja por outras razões. O oráculo também pode estar simplesmente nos dizendo que aquilo que constitui o foco de nossas preocupações no momento é muito pequeno... Pode ser pequeno em tamanho, em grandeza, em potencial, em importância, etc. O resultado das ações empreendidas, portanto, tende a ser positivo para os empreendimentos de pequena monta e de curto alcance (os quais devem ser levados avante), e tende a ser negativo para os empreendimentos grandiosos, que ambicionam largos feitos, de longo alcance e duração. Por mais grandeza e energia que o projeto ou a pessoa tenham, esbarrarão em entraves que, embora pequenos, bloquearão o Elisabete Araujo Leonetti
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caminho ou, pelo menos, atrapalharão, de modo que só será possível realizar alguma coisa pequena, talvez uma parte do todo pretendido, no momento atual. Assim, seja por características do meio exterior, seja pelas condições interiores da pessoa ou pessoas envolvidas, o melhor, por ora, é restringirse, e é isso que o Yi Jing aconselha. A ocasião não é propícia à expansão. Não é para iniciativas, mas sim para conformação às circunstâncias. Essa é a previsão básica para quem obteve este hexagrama. Se houve linhas mutantes, elas darão detalhes sobre a situação do sujeito da consulta e/ou de quem interage com ele. Obtido como segundo, geralmente revela dificuldades para a plena realização da matéria da consulta, as quais se devem, via de regra, a fatores pequenos. IMAGEM: “Acima da montanha há um trovão EXCEDENDO-SE SENDO PEQUENO. Assim, o sábio no agir excede-se no respeito, no luto excedese na tristeza e nas suas necessidades excede-se na economia.” Numa época e situação que estão sob a influência predominante do que é pequeno, a pessoa de princípios elevados deve nortear-se pelo que é essencial em cada caso. Perante o mundo e na sua conduta pessoal deve manter um espírito de adaptação às circunstâncias e de consideração pelos outros. 1ª LINHA ( 6): “Voando, o pássaro traz prejuízos.” Esta linha mostra a pessoa avançando e progredindo naquilo que lhe interessa, até o ponto em que o avanço dá mau resultado. Trata-se de uma pessoa fraca, incipiente no manejo da matéria da consulta, mas com ligações fortes que, importunamente, a impulsionam para a ação ou lhe oferecem a oportunidade de ascender quando ela não tem capacidade para fazê-lo. Se a pessoa resolver agir, não há nada que alguém possa fazer, seja para deter o movimento, seja para evitar o mal dele decorrente. A forma de evitar o mal seria ela própria se conscientizar das poucas possibilidades deste momento e se contentar com um resultado menor, ou de curta duração, não tão ambicioso, enfim. Aí estaria na conduta certa, não daria ensejo a erros, teria sua atuação reconhecida pelos outros e obteria o maior enriquecimento possível nas circunstâncias.
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Resumindo, será prejudicial a pessoa querer ultrapassar aquilo que lhe parece excessivamente pouco. É pouco mesmo o que é possível no momento e a pessoa tem que se conformar com isso, se não quiser sofrer mais. 2ª LINHA (6): “Excedendo-se além das suas origens esbarra numa associação, mas não chega até a realeza e esbarra na subordinação; nenhum erro.” Conforme indicado por esta linha, a pessoa não consegue estabelecer relações com aqueles a quem procura e/ou não consegue atingir aquilo que quer, ficando aquém das suas expectativas iniciais. Isso não ocorre por culpa sua, mas sim por conta das condições vigentes no momento: tanto as suas próprias condições internas, que incluem um excesso de modéstia, de insegurança e até de hesitação; quanto as condições externas, onde pode haver um excesso de falta de autoridade e indefinição, ou, contrariamente, um excesso de rigidez e inflexibilidade que podem, em termos humanos, traduzir-se em teimosia, intolerância, fanatismo, etc. Segundo o oráculo, a pessoa não deve forçar as circunstâncias para tentar chegar exatamente aonde deseja. Deve tratar de estabilizar-se e consolidar as relações nos pontos alcançados, onde terá possibilidade de permanecer por longo tempo sem que venha a arrepender-se, apesar de ela mesma, e daqueles com quem se relaciona mais fortemente na matéria da consulta, estarem em posição inferior à desejada. 3ª LINHA (9): “Sem exceder-se se previne, porque sendo indulgente possivelmente será atacado. Prejuízo.” Esta linha mostra a pessoa que, ao avançar, corre o risco de ser atacada e talvez eliminada por elementos pequenos, traiçoeiros, inferiores, que usam golpes desleais para impedi-la de atingir seus objetivos ou simplesmente para deter o seu avanço. A pessoa é forte e está na posição mais alta possível para ela, no momento. Pelas suas características pessoais, que incluem alguns paradoxos, pode suscitar uma reação negativa dos que, próximos a ela, sentir-se-iam ameaçados se a sua ascensão continuasse. Daí o perigo do golpe e a necessidade de tomar precauções extraordinárias. Precauções a tomar: Interromper temporariamente o avanço. Prestar muita atenção a detalhes e coisas ou pessoas aparentemente sem importância e insignificantes, pois podem vir a causar problemas, inesperadamente. Elisabete Araujo Leonetti
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Desenvolver a coragem e a autoconfiança baseadas em verdadeiro valor e merecimento, para limitar o excesso de pequenez que a cerca, e o excesso de energia dentro dela. 4ª LINHA (9): “Nenhum erro porque, sem exceder-se, esbarra com ele. Avança com prudência e precauções, ainda que desordenadamente, mas não é útil insistir muito.” Esta linha mostra o caso em que a maneira de a pessoa harmonizarse com as circunstâncias, estar de acordo com o momento e com o que a situação exige dela é exceder-se na pequenez, na modéstia. Não é com arrogância, orgulho ou demonstração de suas capacidades e possibilidades que a pessoa consegue atingir o alvo. Mesmo com modéstia e cautela não o atinge integralmente, nem por muito tempo. Trata-se de uma posição delicada e potencialmente perigosa; por isso a pessoa deve manter-se constantemente atenta, precavida, e em guarda. Ela tem que lutar contra si mesma, contra seu impulso otimista de avançar a despeito de tudo, pois o seu avanço certamente provocaria ataques dos quais teria pouca probabilidade de sair vitoriosa. A ação que intenta, afinal de contas, é imprópria para alguém na sua posição e talvez não seja absolutamente correta, contendo uma certa dose de leviandade ou de pretensão otimista. Por tudo isso, a recomendação final do Yi Jing para quem obteve esta linha é não fazer ou não continuar fazendo por muito tempo o que tem em mente, ater-se às normas vigentes no seu meio para o caso em questão, conformar-se com menos do que gostaria e, mesmo assim, tomar cuidado, porque há por perto o perigo de alguma coisa desencadear reações negativas. 5ª LINHA ( 6): “Nuvens densas sem chuvas se originam na nossa fronteira oeste. O príncipe joga um arpão e captura quem está no fosso.” Esta linha mostra a não concretização dos acontecimentos aguardados, por mais promissoras - ou ameaçadoras - que estejam as circunstâncias. No entanto, se a pessoa se colocar internamente acima das circunstâncias e agir sem grandes pretensões, sem visar altos alvos, conforme a recomendação geral deste hexagrama, conseguirá influir em alguém ou alguma coisa e, talvez, também trazer à luz algo que estava oculto ou recolhido. Os efeitos dessa ação, porém, não repercutirão muito longe: sua influência no todo da situação, ou com relação ao alvo visado, será Elisabete Araujo Leonetti
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superficial; e o envolvimento entre as partes, por alguma razão, será pouco. 6ª LINHA ( 6): “Sem esbarrar [em ninguém] ele se excede e afasta-se como um pássaro voando. Prejuízo. Isso é o que se chama desgraça e calamidade.” Esta linha mostra o caso em que, por causa de orgulho, presunção ou arrogância a pessoa se julga maior e mais importante do que na realidade é e toma atitudes inadequadas para o momento, que acabam sendo prejudiciais. Julgando excessivamente poucos os elementos e as oportunidades que se apresentam, a pessoa segue adiante, buscando algo melhor e mais elevado, e acaba encontrando sofrimento, pois fica sozinha, havendo queimado a possibilidade de um encontro ou de estabelecer um ponto de parada e acolhimento. Tudo por causa da sua arrogância, falta de modéstia, presunção de auto-suficiência. Nesse caso, ao não querer aceitar o que tem à disposição por julgá-lo pequeno demais para si, a pessoa acaba caindo na pequenez de achar-se superior, e se desgraça.
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HEXAGRAMA 63: APÓS TER ATRAVESSADO
JULGAMENTO: “APÓS TER ATRAVESSADO se exerce influência; ao pequeno lhe convém insistir, ao começo, benefícios [mas] no final desordem.” Obter o hexagrama 63 como resposta à consulta ao oráculo significa, em princípio, que aquilo sobre que se consulta já está resolvido e concluído, ou está prestes a se consumar. No entanto, as coisas não são assim tão simples. Pode ocorrer que este hexagrama preveja uma situação ideal de equilíbrio completo e perfeito, onde tudo está em seu lugar próprio e há interação produtiva entre as coisas e as pessoas, com um balanço equilibrado entre iniciativa e conformidade. Mas isso é raro, e é mais provável de ocorrer se este for o segundo hexagrama obtido na consulta, indicando que o estabelecimento da ordem, a consolidação de uma situação ou o alcance de um objetivo serão as consequências dos movimentos indicados pelo primeiro hexagrama. Geralmente, como segundo, ele traz perspectivas mais positivas do que como primeiro. Obtido como primeiro, este hexagrama revela apenas que, com relação ao sujeito ou ao objeto da consulta, existe uma estabilidade já adquirida. Esta poderá, inclusive, ser abalada - positiva ou negativamente pela realização daquilo que se tem em mente no momento. Também pode revelar que, com relação ao assunto em pauta, aquilo de grande e importante que podia ser feito já foi feito, e agora só restam executar os ajustes finais ou pequenos reajustes necessários para o acabamento, consolidação e manutenção do já alcançado. A situação futura, para a qual esta situação presente serve de ponto de partida, está apenas em seus primórdios, delineando-se. Portanto, em direção ao futuro são também os pequenos passos iniciais que podem e devem ser dados, e é através deles que se formará tudo o que se seguirá. Assim, em qualquer circunstância, grandes ações ou grandes empreendimentos não darão bom resultado, podendo alterar muito a ordem atingida e apressar a desordem, impedindo que seja bem aproveitado este momento de equilíbrio. Para qualquer caso em que ocorra, porém, este hexagrama parece sempre referir-se a circunstâncias ou situações que, quer nos sejam satisfatórias e suficientes, quer não, representam o ponto de culminância de um ciclo. Neste ponto, para os fatores ali atuantes, todas as coisas Elisabete Araujo Leonetti
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estão em seus devidos lugares e há colaboração entre as pessoas. Porém coisas, pessoas e até mesmo lugares se modificam e, com isso, a situação tende também a se modificar, seguindo o ciclo das mutações. O consulente deve guardar deste oráculo o aviso de que uma situação acabada é um começo ordenado para uma situação vindoura, mas a instalação da situação vindoura passará, necessariamente, por alguma desorganização com relação ao quadro anterior. A evolução prevista é: ordem - desordem - nova ordem. Se a pessoa não se preparar bem para isto, poderá ter sofrimento ou dano. Para quem tirou este hexagrama com linhas mutantes é necessário lê-las para completar e definir melhor a previsão. IMAGEM: "Água em cima do fogo: APÓS TER ATRAVESSADO. Assim, o sábio reflete sobre as calamidades e protege-se antecipadamente." Duas informações são transmitidas de imediato ao consulente que recebe como resposta este hexagrama. A primeira, que a situação em questão chegou, deveria ter chegado ou pode vir a chegar a um fim. A segunda, que esse estado de coisas não se mantém por si mesmo; ao contrário, é instável, porque sua característica de pronto, de acabado, reside no equilíbrio que existe entre vários fatores e o equilíbrio é, por sua própria natureza, instável, necessitando de contínuos reajustes para se manter. O sentido do conselho contido na Imagem é a vigilância: quando se encontra diante de uma situação concluída, pronta, onde todas as coisas estão nos seus devidos lugares, a pessoa sábia não se desliga de tudo e descansa, como seria natural supor, mas permanece atenta a todos os detalhes e circunstâncias, buscando, através da antecipação das alterações, prevenir um possível desequilíbrio, ou simplesmente prepararse para as mudanças inevitáveis que sobrevirão. Isso pode parecer óbvio e facílimo, mas não é. A maioria das pessoas tende a achar que não precisa mais se preocupar com uma situação uma vez que as determinações iniciais ou finais foram dadas e a situação se estabeleceu. Por exemplo: a pessoa casou ou separou-se, matriculou-se num curso ou se formou, fechou um negócio, concluiu uma tarefa, enfim, realizou alguma coisa que tinha em vista ou atingiu a estabilidade em algum setor da existência. Na verdade, esse estado é o começo de uma nova situação, a situação pretendida ou simplesmente aquela que está começando a partir do término de outra. A estabilidade atual - positiva ou negativa que seja - não se mantém por si mesma porque alterações nos vários componentes da situação desajustam o seu equilíbrio. Em particular com a situação que o consulente tem em
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vista ao consultar o oráculo é necessário preocupar-se, ficar atento, vigilante, a fim de evitar que sobrevenha a desordem. 1ª LINHA (9): “Arrastando suas rodas molha sua cauda, mas não erra.” A pessoa a quem se refere a 1ª linha, com relação ao assunto da consulta, possui bastante conhecimento e iniciativa, e está bem assessorada e aparelhada. A linha mostra o momento em que a pessoa ou pára ou já parou de agir, pois percebe que atravessou um caminho e chegou a um ponto final, satisfatório ou não. Esse ponto em que a pessoa está provavelmente é, por outro lado, o ponto inicial de largada para uma situação que pretende estabelecer no futuro. Mesmo que alguma coisa tenha saído errado ou ficado por completar, não há motivo para se sentir culpada. Embora vendo que há novas travessias a realizar e dificuldades ou perigos a enfrentar, não deve tentar enfrentá-los já. Talvez ainda não esteja preparada. O certo é esforçar-se para pausar um pouco, usufruindo das conquistas feitas até aqui. Depois poderá retomar algum rumo onde já tenha alguma experiência, ou ficar onde está. Resumindo, esta linha descreve o momento em que há uma parada, talvez brusca, no avanço da pessoa na matéria da consulta; ou faz a recomendação para que a pessoa pare, não avance agora. O consulente é quem deve identificar qual das possibilidades se aplica ao caso. 2ª LINHA (6): “A esposa perde seu véu, mas não deve ir atrás dele porque no sétimo dia o obterá de volta.” A pessoa a quem se refere esta 2ª linha é ou deveria ser, com relação ao assunto da consulta, cautelosa, observadora, equilibrada e passiva. Para resolver a questão que tem em mente, depende não só de si mas também, e muito, de elementos externos. O oráculo a mostra no momento em que ela, tendo já realizado ou estando em vias de realizar alguma coisa, é obrigada a interromper seu avanço porque perde algo importante que lhe dava cobertura e proteção. Isso, ao mesmo tempo em que lhe restringe o movimento, lhe dá a oportunidade de perceber claramente as coisas e de tomar consciência da sua própria posição e do que deseja. A perda e a consequente interrupção do avanço são temporárias e provavelmente não chegarão a influir naquilo que já foi alcançado até aqui, na situação que já foi atingida e estabelecida.
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A pessoa deve ser bem avisada de que não deve tentar avançar neste momento e de que deve falar o mínimo possível sobre a sua situação ou suas intenções e pensamentos. Deve esperar. Ainda terá que esperar por mais um tempo, poderá ser criticada pela sua atitude, mas não precisa se angustiar porque sua situação atual não é de todo má e, uma vez passado o período do impedimento, tornará a dispor dos elementos de que dispunha e, no final, conseguirá concluir o que quer. Em síntese, a pessoa não pode avançar agora, tem que esperar na posição que já conquistou até aqui e que é bastante boa. 3ª LINHA (9): “Quando o Imperador Gaozong atacou Guifang, levou três anos para conquistá-la; um homem inferior não poderia ter sido empregado para isso.” Esta linha alerta a pessoa de que o empreendimento que ela tem pela frente é muito grande e difícil: ela tem que ser também grande, forte e perseverante para conseguir levá-lo a cabo. Se ela tem ou não competência para a empresa depende da sua atitude. Se não tomar precauções e avançar irrefletidamente atrás do que quer, poderá ficar confusa e perdida em meio a dificuldades; se prestar atenção aos sinais do que está para acontecer, poderá encontrar um caminho que a leve à realização. De qualquer modo, o sucesso só vem depois de muito tempo e muito esforço, e a pessoa se extenua. 4ª LINHA (6): “Molhando-se, tem roupas para calafetar; seja cuidadoso até o fim do dia.” A pessoa indicada por esta linha está instalada numa situação que se completou, mas que começa a apresentar falhas. Como se trata de uma pessoa flexível e lúcida, ela percebe quando as coisas começam a necessitar de uma renovação e tenta remediá-las com os recursos de que dispõe. Assim, com criatividade e colaboração poderá conduzir a situação a bom termo, de forma a restabelecer o equilíbrio, numa nova ordem, com novos objetivos. Se quiser continuar avançando, não pode descansar: tem que se manter vigilante e cuidadosa o tempo todo, porque as perspectivas são incertas. Em resumo, a 4ª linha mostra que a situação da pessoa é insegura e que ela tem que usar recursos criativos e ter cautela e vigilância para não
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afundar, até que tenha e inspire confiança suficiente situação.
para transformar a
5ª LINHA (9): “O vizinho do leste sacrifica um boi, mas isso não se parece ao frugal sacrifício do vizinho do oeste que frutifica ao receber benções.” Para a pessoa indicada por esta linha, com relação ao assunto da consulta mais vale menos do que mais. A situação está num momento tal que pessoa sente e sabe que precisa fazer alguma coisa para evitar o desequilíbrio. Na tentativa de obter ajuda, de demonstrar seus méritos e qualidades, ou simplesmente impressionar para ter aprovação, não deve executar grandes ações, visíveis e chamativas. Ao invés disso, deve procurar fazer o que for mais adequado ao caso e às circunstâncias, levando em conta antes o que vai no seu íntimo do que a opinião alheia, e sendo absolutamente reservada e até dissimulada, se necessário, quanto aos seus propósitos e intenções. Desse modo obtém excelentes e fecundos resultados, e consegue manter o seu objetivo aceso e livre de interferências externas, o que é muito bom. Ajuda, para a pessoa desta linha, terá que vir dela própria ou de alguém superior, pois aparentemente os seus pares não estão em condições de lhe proporcionar o que ela precisa, embora possam ser bons colaboradores. Concluindo: apesar da sua posição equilibrada, das suas excelentes qualidades e dos seus propósitos elevados, se a pessoa tem em mente a realização de grandes empreendimentos, fica sabendo que eles não darão certo, pois são incompatíveis com o momento. Da mesma forma, ações grandiosas são desaconselhadas. 6ª LINHA (6): “Molha sua cabeça, prudência.” Para a pessoa indicada pela 6ª linha a situação enfocada pela consulta chega a um término, mas ela não aceita ou não percebe isso. Quer permanecer no mesmo ponto, ou quer refazer o mesmo caminho, e isso não pode durar muito. É chegado o momento de tomar novos posicionamentos, fazer readaptações. A pessoa, porém, sente-se sem disposição para fazê-lo, sente-se desde já saudosa daquilo ou daqueles que deixou para trás e a que se sente ligada. Deve combater essa sua tendência, tratar de encherse de confiança e de inspirar também confiança nos outros para que a sigam - em vez de ela querer segui-los - pois deve avançar para frente.
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Ficar parada ou voltar atrás não é bom, fará com que perca a estabilidade que conseguiu. Em resumo, neste momento a pessoa deve usar a sua situação atual, a estabilidade e a experiência que adquiriu até aqui como ponto de partida para a organização de uma nova situação, em que ela atue como alguém com uma certa autoridade.
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HEXAGRAMA 64: AINDA NÃO ATRAVESSADO
JULGAMENTO: “AINDA NÃO ATRAVESSADO se exerce influência, mas se a pequena raposa, secando-se da travessia, [voltar a] molhar sua cauda, nenhum lugar será conveniente.” Em princípio este hexagrama mostra a influência que podemos exercer sobre as coisas quando ainda não as executamos, quando ainda podemos decidir o que fazer, se fazer, e como. Na prática, ele nos revela que aquilo que temos em mente ao consultar o oráculo, aquilo que desejamos ver realizado, não se concretiza ou, ao se concretizar, manifesta-se de uma forma confusa e imperfeita, porque os vários fatores da questão e as circunstâncias vigentes no momento não estão em ordem, não estão nas condições e posições adequadas para a consecução do que queremos. Aquilo que desejaríamos ver encaminhado volta à estaca zero. Assim podemos tornar a refletir e a decidir sobre o assunto, reiniciar os planos, talvez, pois tudo está indefinido e por fazer. Há chances de encontrar colaboradores. Para o futuro as perspectivas permanecem em aberto e talvez se possa desenvolver algo, a não ser que alguma linha obtida ou um segundo hexagrama diga o contrário; mas no presente não há evolução positiva para a matéria, os caminhos estão fechados, há muita desordem. Geralmente não é por vontade do sujeito da consulta que a situação pretendida não se estabelece, mas sim pela conjuntura do momento, em que as coisas e as pessoas não estão nos lugares que lhes são devidos. Portanto, não adianta a pessoa se precipitar e agir como se já estivesse tudo bem encaminhado ou resolvido: aí mesmo é que não chegará a lugar algum, não conseguirá nada de bom. É preciso encarar a situação como ela é: imprópria para o estabelecimento de qualquer meta que se pretenda fixa, de qualquer base que se pretenda sólida, de qualquer empreendimento que se pretenda estável. Isso se este hexagrama foi obtido como primeiro na consulta.
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Obtido como segundo, o hexagrama 64 revela que os acontecimentos indicados pelo primeiro hexagrama, ou os movimentos pretendidos pelo sujeito da consulta, se perpretados, levarão à desordem, não darão certo ou, no mínimo, serão causa de muitas tribulações. Portanto, se obtiver este hexagrama é melhor a pessoa pensar bem no que tenciona fazer ou no que pode acontecer: talvez seja melhor ainda não realizar a travessia, se houver esta opção.
IMAGEM: “O fogo está acima da água: AINDA NÃO ATRAVESSADO. Assim, o sábio, porque é cuidadoso ao discernir as coisas, identifica o lugar apropriado para elas.” Na situação representada por este hexagrama as coisas não estão em ordem. Por isso não funcionam bem e o sujeito da consulta não consegue consolidar o que deseja. Portanto, a pessoa que tirou este hexagrama como resposta à sua consulta ao oráculo, se quiser agir com sabedoria e tentar que seja bem resolvida a situação que tem em mente, precisa, antes de mais nada, identificar quais são os componentes da situação. Uma vez identificados, é preciso organizá-los ou esperar que estejam organizados, cada qual no seu lugar apropriado, para então poder começar a agir. Toda essa ação preparatória de diferenciar e ordenar os elementos deve ser feita com cuidado, atenção aos detalhes, sem deixar coisas mal posicionadas ou mal acabadas para trás, porque um erro cometido neste momento pode comprometer todo o esforço futuro. 1ª LINHA (6): “Molhar sua cauda envergonha.” A pessoa a quem se refere a 1ª linha por enquanto não deve avançar mais na direção em que vinha vindo, pois isso não levará a nada. Na sua inexperiência ou ignorância ela não percebe que não pode fazer mais nada no momento, e quer agir, provavelmente atraída por aqueles com quem vem mantendo relações de amizade, admiração, parceria, ou atraída por aquilo que tem constituído o seu ideal, a sua meta, nos últimos tempos. De fato, ela não consegue alcançar o que quer, encontra oposição, perde apoios e/ou recursos, mas tem que ter flexibilidade e esperança e aguardar, pois os problemas acabarão se resolvendo por si mesmos. Não adianta tomar qualquer iniciativa para recuperar o que foi perdido ou mal feito. Elisabete Araujo Leonetti
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2ª LINHA (9): “Arrastando suas rodas insistir é benéfico.” Esta linha mostra o momento em que há uma parada no avanço da pessoa. Ela para - ou deve parar - a fim de avaliar a sua posição e possibilidades, pois é capaz de perceber as dificuldades do momento e precisa contornar obstáculos ou achar novas vias para poder prosseguir. Trata-se de uma pessoa equilibrada, correta e bem matéria da consulta, por isso não deve desistir dos seus contrário, se insistir na busca do que deseja, acabará tendo Apenas não pode ir rápido demais: deve refrear-se, ou as resolverão.
relacionada na propósitos. Ao bom resultado. coisas não se
De qualquer modo, as coisas não chegarão ao ponto desejado tão depressa quanto ela gostaria; haverá uma parada. 3ª LINHA (6): “Ainda não atravessou e avançar com decisão agora traz prejuízos, mas será conveniente cruzar o grande rio.” A pessoa a quem se refere a 3ª linha não deve avançar agora, pois não obterá bom resultado. Embora suas aspirações ainda não tenham sido atingidas e a situação, em geral, ainda não esteja do modo como ela gostaria que estivesse, deve evitar tomar iniciativas para agilizar as coisas. Ela está numa posição inadequada para si (ou ela é que é inadequada para a posição que ocupa) e está sem muita possibilidade de ação, fatos dos quais tem consciência. Mas não está isolada e provavelmente tem bom relacionamento com mais duas ou três pessoas participantes do momento, com grande entrosamento com pelo menos uma delas. Em toda a realidade objeto da consulta deverá ocorrer alguma mudança importante, que não depende só da pessoa desta linha (talvez não dependa em nada dela) e que ela deverá acompanhar, quiçá mais passivamente do que desejaria. Depois da instalação das novas condições é que, finalmente, as coisas começarão a melhorar. 4ª LINHA (9): “Insistir é benéfico e o remorso desaparece porque, ainda que utilize uma grande força para atacar Guifang, só após três anos terá como recompensa o grande reino.” Esta linha recomenda que a pessoa continue avançando sem hesitação e com muita energia, sua e de seus colaboradores, na direção de seu objetivo e contra as adversidades. Elisabete Araujo Leonetti
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Assim obterá o que deseja ou verá concretizada a situação que idealiza, embora não agora, mas somente daqui a bastante tempo. E não terá do que se arrepender. Nesse entretanto, porém, se a pessoa se enrijecer excessivamente nos seus pontos de vista, correrá perigo, pois fechando-se a ensinamentos, sugestões e conselhos vindos dos outros ficará isolada, limitada a si mesma, e não conseguirá nada. Resumindo, a pessoa desta linha tem uma travessia árdua pela frente e para realizá-la com sucesso necessita de bons ajudantes, de força e determinação pessoal, de paciência e perseverança. Ainda assim, a margem visada não é alcançada imediatamente, levará tempo. 5ª LINHA (6): “Insistir traz benefícios e o remorso desaparece; a luminosidade do sábio inspira confiança e benefícios.” A pessoa a quem se refere a 5ª linha tem plenas condições de avançar na matéria da consulta e é-lhe prevista boa sorte, bom resultado e colaboração dos demais. Isso se deve a que, embora a situação atual esteja em desordem, a pessoa sabe o lugar que cada coisa ou pessoa deve ocupar, age com cuidado, equilíbrio e sabedoria, procura contornar as dificuldades e não agredir ninguém. Mesmo que se criem situações de disputa e conflito em torno dela, saberá manter-se central e correta, resolvendo as questões com imparcialidade e provocando, assim, o bom encaminhamento das coisas. Mas não é dito que essa pessoa vá conseguir chegar ao fim da travessia por agora: ainda há o que fazer. 6ª
(9): “Tendo confiança bebe vinho; não é um erro, mas caso molhe a cabeça essa confiança lhe fará perder a correção.” LINHA
A pessoa, dentro dos limites do que é correto, pode confiar e avançar sem medo, porém com moderação. Qualquer excesso ou desespero a fará perder o rumo certo, a estabilidade precária em que está, por isso ela deve usar de discernimento e lucidez para identificar seus limites e respeitá-los. Na verdade, provavelmente a pessoa desta linha tem que avançar, mesmo que isso seja contra a sua vontade: ela não pode voltar atrás, porque o atrás não existe mais. Como ela não tem nada a remoer do que passou, a sua atitude com relação ao passado tenderia a ser de saudosismo e/ou de rejúbilo consigo
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própria e com seus colaboradores; mas não deve cair nessas atitudes, a não ser muito discretamente, porque não seria adequado ao momento. Tanta contenção poderá gerar alguma pressão interna na forma de sentimentos agressivos, os quais devem ser liberados com rapidez e contra o alvo certo, objetivando uma limpeza, a fim de que não se acumulem e venham a prejudicar a própria pessoa.
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BIBLIOGRAFIA A presente bibliografia limita-se a apresentar, em ordem alfabética, alguns dos livros mais ou menos relacionados ao Yi Jing que foram conhecidos e, em alguns casos, consultados durante a elaboração desta obra. Não atesta, por si só, aceitação ou concordância de pontos de vista. ANTHONY, Carol K. A Filosofia do I Ching. Trad. Lia Alverga-Wyler. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. BLOFELD, John. I Ching: O Livro das Transmutações. Trad. Ronald Sérgio de Biasi. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, s/d. BRITTO, Ely. I Ching um Novo Ponto de Vista. São Paulo: Cultrix, 1994. COSTA, Osvaldo Gílson Fonseca. I Ching: Uma Interpretação do Livro das Mutações. 1. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1980. DAMIAN-KNIGHT, Guy. O I Ching do Amor: Uma Reinterpretação do I Ching para Relacionamentos Pessoais no Amor e no Casamento. Trad. Louisa Ibañez. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 1984. FOX, Judy et alii. I Ching Iluminado. São Paulo: Cultrix, 1985.
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