Julho 2020 - Edição em português

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VOLO PER VERITAS

Juliana Torchetti Coppick jutorchetti@yahoo.com.br

No Calor do Momento Durante nossa carreira como aviadores vários treinamentos são executados para nos preparar para momentos que esperamos nunca viver. Acredito que uma das situações mais temidas por um aviador é fogo na cabine; mas muitas outras podem ocorrer, e é por isso que todos os manuais de operação de aeronaves têm uma seção inteira dedicada a emergências. Faça uma autoanálise e responda para si mesmo: quanto tempo você já dedicou a aprender os procedimentos de emergência da sua aeronave? Toda emergência, quando acontece, exige condicionamento mental e consciência situacional bastante apurados. Geralmente aquilo que fazemos repetidamente, torna-se um hábito e consequentemente nossas reações são quase que automáticas. E esse é o grande problema em relação a esses procedimentos: eles não fazem parte da nossa rotina! Mas deveriam... Para quem nunca viu, parece até engraçado ver um piloto de linha aérea recém contratado se preparar para uma seção de simulador. A empresa geralmente fornece um grande painel da aeronave, impresso em papel, para que o novato possa treinar em casa em se familiarizar com os botões, comandos e instrumentos do avião. O aviador (ou aviadora) passa algumas horas sentado falando sozinho, repetindo para si mesmo procedimentos e sequências de check list. Quem vê de longe, tem a impressão de estar assistindo a um monge entoando mantras e fazendo uma dança estranha com as mãos. Só depois de alguns dias de treinamento nesse avião de papel, é que o piloto vai ter acesso ao simulador de voo, que vai dar a ele uma sensação bem próxima do voo real. Claro que não podemos comparar os treinamentos pois a natureza das operações são diferentes e o preparo também será distinto um do outro. Mas o que eu quero enfatizar aqui, é a importância da repetição verbal, física e mental de procedimentos que esperamos nunca utilizar, mas se precisarmos, vamos realmente desejar ter “ensaiado” antes. Infelizmente, na aviação agrícola não passamos por esse treino periodicamente, então fica fácil nos acomodarmos e baixarmos a guarda em relação às emergências.

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Eu fiz a transição para turbina na fábrica da Thrush, na Geórgia em 2018, e achei de grande valia. Entre outras panes que treinamos, ter a oportunidade de experimentar a sensação de um estol em curva com o avião carregado, me deu uma nova perspectiva em relação ao voo agrícola. Erroneamente muitos de nós somos induzidos, às vezes, de forma inconsciente, a não nos prepararmos para certas emergências. Devido a baixa altura na qual realizamos a maioria das nossas operações, corremos o risco de nos conformarmos com a ideia de que não há muito tempo hábil para seguirmos procedimentos e então simplesmente pousaremos em frente. Muitas vezes, em uma pane real, é isso mesmo que acontece e o piloto não tem muito o que fazer, senão torcer para que haja um local em frente para se fazer um pouso de emergência decente que lhe permita sair andando da aeronave. Mas isso não quer dizer que não devamos dar atenção aos procedimentos de emergência descritos no manual. Mesmo sem o acesso ao simulador, não custa nada (nada mesmo) sentarmos na cabine do avião periodicamente (provavelmente o início da safra é uma boa hora para tirar a ferrugem da entressafra) e nos familiarizarmos com a sequência de certos procedimentos e às vezes até mesmo com alguma configuração diferente do painel. Sei que para muitos aviadores, Hora de Nacele é coisa de piloto iniciante, mas pense no seu avião como seu parceiro de lida. E não há nada que torne nossa jornada mais prazerosa que conhecer a fundo a ferramenta trabalho que nos dá asas. Se sua aeronave possui extintor de incêndio, verifique se o mesmo está carregado, dentro do prazo de validade e com fácil acesso. Lembrando também que calçados de couro e roupa de tecido antichamas podem fazer a diferença e literalmente, salvar a nossa pele, em caso de emergência. Aí no Brasil sei que muitos estão prestes a encerrar a safra. Aqui nos Estados Unidos estamos batendo a poeira do macacão e nos preparando para iniciarmos mais um período de trabalho. Não posso garantir que ler o manual ou fazer um voo mental vão nos salvar de qualquer emergência, mas não custa nada ajudar a sorte fazendo a nossa parte, certo?


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