Edição 313 - Jornal universitário de Coimbra - A CABRA

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18 DE ABRIL DE 2023

ANO XXXIII Nº313 GRATUITO PERIÓDICO

DOIS MANDATOS NA MÃO, UM FALCÃO A VOAR

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ENSINO

Dirigentes de 1969 relembram o “Peço a palavra” como altura de crucial importância para o fim da ditadura em Portugal.

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CULTURA

Ao recordar últimos anos, Sardet confessa: “Sinto que só ao terceiro álbum é que disse: «isto sou eu»”.

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DESPORTO

Um mês em que se relembra que é na água onde o desporto na AAC domina.

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CIÊNCIA

Ciência e arte: investigadores e artistas afinal complementam-se

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CIDADE

Uma viagem por três tascas emblemáticas de Coimbra.

Amílcar Falcão: “Não me lembro de, enquanto reitor, ter havido uma reivindicação justa que em diálogo não tenha sido resolvida”

Com o seu segundo mandato consecutivo pela frente, o reitor da UC faz um balanço positivo dos últimos quatro anos. Foram abordados temas como o edificado da instituição, as repúblicas, a ação social, endogamia e a necessidade do diálogo entre a reitoria e a comunidade estudantil.

Que balanço faz do mandato anterior?

Creio que nenhum reitor teve quatro anos como eu tive. Dentro do atípico, não era fácil fazer melhor do que fizemos, ainda que tenhamos cometido erros. Fiz sempre questão de que os estudantes não tivessem o seu percurso académico prejudicado. Do ponto de vista financeiro, conseguimos manter bem as coisas. Ainda assim, não tivemos turismo nenhum, o que, para as nossas contas, faz diferença; houve uma redução enorme de camas nos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC); a adesão às cantinas passou para valores muito baixos, na ordem dos 30 por cento daquilo que era normal; colocámos o sistema dos fluxos unidirecionais, das cancelas, entradas direcionadas, recomendações da Direção-Geral da Saúde, fomos os primeiros a iniciar o ‘takeaway’ nas cantinas, etc. Acho que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Fizemos também muito trabalho de organização dentro da UC e uma transição digital quase à força. Hoje cerca de 99,9 por cento do que faço é digital. Entretanto, criámos aplicações com várias finalidades, como o UC Student. Mas creio que esta transição afetou especialmente os extremos etários. Houve alunos muito prejudicados na vivência académica e isso é algo que iremos pagar no futuro. Eu creio que se fez o trabalho que se poderia ter feito. Claro que, daquilo que era o meu programa de candidato, muita coisa teve que ser adaptada, ainda que tenhamos conseguido uma execução do plano estratégico na ordem dos 90 por cento. A UC, o Governo, a Reitoria, o Conselho Geral, o Senado e os estudantes tiveram um comportamento impecável. Acho que a entreajuda e a ideia de não deixar ninguém para trás foram concretizadas de forma exemplar, até do ponto de vista social.

Quanto às longas filas nas cantinas, que têm sido muito contestadas, por que é que algu-

mas cantinas não foram reabertas? Há planos para alargar a oferta do prato social ou inaugurar outras?

A cantina da Sereia tinha uma utilização muito residual por parte da comunidade académica. Além de estar com problemas estruturais importantes, não era um espaço nosso, mas da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Existia um acordo em que uma parte importante das pessoas que iam lá comer eram funcionários da CMC, os chamados “sem-abrigo”, ou alunos de escolas secundárias da região. Os nossos alunos não iam muito lá, não ultrapassavam os 20 por cento. Não era uma cantina que merecesse os nossos recursos humanos. Estávamos a ter prejuízo sem que a CMC tivesse nenhuma intervenção na nossa operação. A pandemia acelerou o fecho. Nós gostávamos de ter uma grande cantina no Pólo I, mas não é possível, dado não haver espaço. Vamos ter que manter e requalificar as Azuis, as Rosa e as Química. Há a possibilidade de, no Colégio de Jesus ou de S. Jerónimo, arranjar espaço para a criação de outra cantina, ainda que não seja fácil. Em relação às Amarelas, temos um problema que vamos ter que conversar com a Associação Académica de Coimbra (AAC): inicialmente foram pensadas para não ter refeição social, até que houve uma exigência da AAC para ter. Agora a conclusão a que se chega é que, se abrimos refeição social, é uma cantina que não tem espaço e que, portanto, nem serve para uma coisa nem serve para a outra. Já tínhamos pedido às faculdades que tivessem o cuidado de estabelecer horas de almoço variadas para não ir toda a gente às 13 horas comer, a fim de evitar as grandes filas. Este ano letivo, o que aconteceu foi que se esqueceram disso. Agora está nas mãos dos diretores fazer isso, espero que aconteça já em setembro.

Após a queda da pala das cantinas azuis, a reitoria disse que fez um

levantamento dos espaços da UC. Está a ser feito, começámos pelos pontos críticos.

Qual foi a equipa alocada a esse levantamento e a que conclusões é que estão a chegar?

A equipa em concreto são os nossos serviços na área do edificado, sob tutela do vice-reitor Alfredo Dias. O que posso dizer é que o edifício das cantinas azuis foi identificado com necessidade de requalificação urgente. Nada indicava a queda de nada, mas identificaram-se coisas como necessidade de pinturas, janelas, entre outras. A queda da pala foi, de facto, uma coisa insólita. Naquele dia vi a foto e fiquei em pânico, perguntei se havia vítimas e depois disseram que não houve, felizmente. Depois disseram-me que o vice-reitor estava a ir para lá, pelo que também não ia para lá fazer nada. Eu perguntei como era possível uma coisa daquelas cair assim sem dar sinais de estar a ceder. A conclusão a que chegamos é que se tratou de um erro estrutural de origem: a pala nunca foi concebida para estar assim, foi concebida para ter pilares.

Entretanto saiu o comunicado do NEQ/ AAC...

Isso não tem nada a ver com a pala. Nem tem que ver com problemas estruturais.

O que dizia lá era que tinha que ver com riscos de queda. Se não é assim, pode esclarecer?

O que foi dito é que não há condições no átrio das Químicas para fazer esse tipo de atividade (Convívio “Mega Químicas”). Não é que aquilo esteja em perigo de rigorosamente nada, mal fora. Aquela zona, do ponto de vista estrutural, foi verificada e não tem problemas nenhuns. O problema é que nós queremos requalificá-la, ainda que não saiba se o conseguiremos fazer

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- POR LUÍSA MACEDO MENDONÇA E SIMÃO MOURA -

em tempo útil. A zona das Químicas tem um aspeto que não é agradável, mas estamos a falar de uma obra de 2 ou 3 milhões de euros, o que não é fácil. Não se coloca a hipótese de queda, mas depois tenho queixa dos professores que não vão dar aulas de manhã porque dizem que ainda está lá o pessoal aos berros, aos pulos e bêbedos.

Qual a sua opinião acerca das críticas feitas pelos estudantes face à reduzida acessibilidade ao Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV)? A reitoria pode fazer alguma coisa quanto ao voto estudantil nas decisões da direção do TAGV?

Aquilo que eu sei é que foi criado um conselho consultivo onde os estudantes têm assento.

Mas é consultivo, antes havia uma comissão administrativa onde os estudantes tinham um voto nas decisões do TAGV.

Sim. É um assunto que podemos revisitar, mas também não sei se adiantamos muito com isso porque também não é um voto que vai alterar nada, apenas para dizer quem é que vota contra, mas tudo bem, eu convivo bem com tudo isso. A questão que se levanta no TAGV é outra: tem custos, pessoal e equipamentos. É

nho eu, da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), de certeza, que eu não sei dizer o nome, falou connosco e estivemos reunidos com ele. Ele é que não terá falado lá com os amigos, com os colegas, mas isso é outro tema. A ideia é dividir a zona dos grelhados em dois, mais ao menos. Do lado do TAGV, criar um mini auditório, chamemos-lhe assim, com cerca de 100/120 lugares, com uma bancada rebatível, para que essa sala à qual chamaremos "Sala B" fique ligada, do ponto de vista tecnológico, à principal. Isto permite duas coisas: espetáculos para um número de pessoas muito mais reduzido (não vamos usar o TAGV para estarem lá dez pessoas a ver o espetáculo); e permitirá, rebatendo o anfiteatro, que se tenha uma sala mais ao menos ampla para fazer ensaios, pelo menos. Ainda há outra possibilidade relacionada com a Casa das Caldeiras, mas primeiro queríamos esgotar esta solução, que nos parece ser a melhor, uma vez que permite a ligação interna com o TAGV, assim como a existência de dois espetáculos ao mesmo tempo.

Já estão planeadas as obras no espaço dos Grelhados? Quando vão avançar? O que têm a dizer aos estudantes que estão descontentes com esta situação?

Honestamente, até ao dia de hoje não sei qual é a situação ao nível de planeamento. Eu sei que a divisória apareceu lá e teve uma contestação enorme. Eu olhei para a fotografia e também não achei piada, até porque foi feita, pelos vistos, sem os estudantes saberem. Não foi essa a instrução que dei. Aquilo que eu sei é que, depois disso, já houve reuniões com a DG/AAC, onde se tem discutido o assunto e, honestamente, no dia de hoje não sei dizer se já há algum pedido de financiamento a decorrer. Penso que ainda estamos na fase de discussão do conceito, envolvendo os estudantes, porque aquela sala B é, justamente, para responder a essas questões principais que tenham. Não vou fazer aquilo se os estudantes estiverem contra, como é lógico, mas depois não podem dizer que não havia solução. Nós temos ali uma solução interessante.

Está a ser feita alguma coisa para resolver o problema do envelhecimento do corpo docente? Acha que a endogamia contribui para a noção de "ES antiquado" na UC? São duas questões diferentes. O rejuvenescimento é feito com base nas saídas das pessoas. Eu não posso matar ninguém, nem despedir. Este vai sendo feito à medida que as pessoas se vão aposentando ou jubilando. Temos uma saída prevista de cerca de 300 professores até ao final da década, o que vai injetar sangue novo na UC. A minha preocupação em relação aos últimos anos é que, quando abrimos novas vagas, entraram pessoas de 50 anos.

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Por Luísa Macedo Mendonça

Isso não é rejuvenescer. Isso aconteceu porque estivemos, pelo menos, uma década sem abrir concursos, o que fez com que pessoas com 35 anos tivessem agora 45. A nossa preocupação é que, independentemente da idade, se analise os últimos cinco anos de trabalho de produção pessoal: se, por exemplo, tivermos uma com 50 e outra com 35 e os últimos cinco anos do de 35 derem uma noção de produção idêntica à do outro, o mais novo tem uma perspetiva muito mais promissora para o futuro, e eu escolho-o. Temos mapas de pessoal de todas as faculdades e cursos, sabemos quem sai até 2030, mas não as podemos tirar do sistema. Tem que se dar tempo ao tempo.

Endogamia: quando se compara as percentagens de endogamia em Coimbra com as de Lisboa ou Porto, a diferença é de 94 por cento para 92 por cento, o que não me parece assim tão relevante. Seria relevante se em Lisboa fosse 50 por cento e em Coimbra 98 por cento. Esta questão tem duas visões:

1º. Há uma endogamia que eu abomino, mas que resulta muitas vezes da forma como se fazem as coisas ao arrepio das instruções da própria reitoria: a pessoa está a fazer uma tese de mestrado, faz uma tese de doutoramento, um pós-doutoramento, um projeto não sei do quê e acaba por ficar a trabalhar. A certa altura, é muito amiga do orientador, jantam juntos, convidam-na a dar umas aulas, dá quatro anos de aulas como convidada. Entretanto, abrese um concurso e dizem "esta pessoa trabalhou aqui, dá bom ambiente, até já cá deu bem as aulas…" e é quase inevitável a contratação dessa pessoa. Acho isso errado.

2º. Temos que perceber o que é a endogamia. Eu sou endogâmico. Eu licenciei-me e doutoreime na UC, mas estive quatro anos fora do país, vi o mundo. A endogamia deve ser vista como aquelas pessoas que são de Coimbra, fizeram a escola primária, o secundário, doutoraramse e nunca de cá saíram. O resto é uma questão de mobilidade. Nós estimulamos a mobilidade, como com o ERASMUS, também para os professores, não só estudantes, para quebrar essa ideia da endogamia. Eu não me considero parte da percentagem, porque saí de Coimbra a certa altura, embora tenha, de facto, feito o curso e ficado aqui. Acho que a minha passagem pelo mundo me deu uma visão completamente diferente, ainda que não seja a única, nem a melhor, seguramente.

A reitoria está a par da situação das repúblicas relativamente aos SASUC, como o plafond reduzido, os alimentos já enviados perto do fim da validade, entre outros? Existe algum tipo de plano para responder a estes problemas? O que é que tem sido feito nesse sentido junto dessas entidades?

Quanto à questão dos alimentos, no ano passado pediram-me um reforço para isso e eu autorizei-o. Houve um aumento de dinheiro, por um lado. Por outro, é preciso perceber que estamos a falar de um valor que não compreende nenhuma margem de lucro. Depois é assim, as repúblicas falam, falam, mas nunca

apresentaram uma coisa que lhes pedi: o número de estudantes em cada uma. Isto porque há repúblicas que nem estudantes têm, ou andam lá perto. Mas se, na verdade, nem entre elas se entendem, como é que eu hei de saber, se ninguém nos dá os números? Acho que há uma falta de diálogo, mas por radicalismo. Para as Repúblicas, o reitor é sempre, digamos, uma pessoa indesejável, seja eu ou outro qualquer. Com isso eu vivo, mas gostava que houvesse mais diálogo. Seguramente poderíamos resolver as coisas de outra forma. Agora, vamos imaginar: uma república com dez pessoas, dois estudantes e oito não estudantes. Nós estamos a dar comida a um preço de custo e nem sequer vêm buscá-la, somos nós que a vamos entregar. Não me parece que tenham razões de queixa. Querem comprar o edifício onde estão, ajudamos e até metemos dinheiro (15 por cento, o que este ano fizemos em duas). Acho que fazemos o nosso papel. Agora, se calhar, se fossem um bocadinho mais simpáticos não se perdia nada, não é?

Então se apresentarem os números todos certos haverá uma maior facilidade na resposta a estes problemas?

Claro, eu não sei se estou a alimentar cem ou mil. Vocês têm noção de que há comensais? Eu no meu ano tive amigos repúblicos e eu ia lá às vezes comer. Eram outros tempos, e, de facto, éramos todos estudantes. Era tudo mais clarinho.

Quais são as perspetivas para o novo mandato e quanto à relação com os estudantes?

Em relação a este mandato, sei que vai ser exigente. Não pelo mesmo motivo do primeiro (espero que sejam outros, embora a guerra esteja aí, e com ela, a inflação, o que leva a problemas orçamentais a todos os níveis). Vai ser exigente porque há alterações legislativas profundas em cima da mesa, o que vai obrigar a ter outro tipo de atividade, como discussão de diplomas legais. Neste momento, está-se cada vez mais a tornar o Porto e Lisboa como pólos, os outros são paisagem. Porém, temo-nos mantido relativamente bem, mas é muito visível a forma como o Governo tem privilegiado essas duas instituições. Isso seca o país. Este é um aspeto em que eu tenho especial atenção, para que a UC possa continuar a crescer e a ser cada vez mais forte.

Relativamente à ação social, que me preocupa bastante, espero conseguirmos manter o nosso nível de ação social ou superar. Nós temos, claramente, a melhor ação social do país, por mais que façam protestos. É comparar com os outros. Aliás, eu não percebo muito bem o porquê de, em Coimbra, as pessoas falarem da refeição social como se fosse um crime ser a 2,40 euros. Noutra instituição de Coimbra é superior o valor, e nunca vi ninguém queixarse dele. Vamos ainda continuar a tentar requalificar as cantinas nos diversos polos.

Quanto a residências, vamos ter novas nos Combatentes e na Luís de Camões, no âmbito do PRR, assim como a requalificação de ou-

tras tantas. Nos Combatentes e na Alegria a requalificação já está a ser começada, ou irá começar brevemente.

Ao nível do nosso orçamento para apoio social, tem sido aumentado todos os anos desde que começou a pandemia, a todos os níveis. Curiosamente, nós tínhamos um orçamento de 300 mil euros e só foram pedidos 128 mil, portanto, isso não é culpa nossa, pelos vistos os estudantes não precisam.

Que mensagem gostaria de deixar aos estudantes?

São os estudantes que fazem da UC o que ela é. Têm no reitor sempre uma pessoa dialogante e aberta a resolver os problemas. Tenho muita dificuldade em tratar com pessoas que não têm palavra ou que fazem traição, seja com estudantes ou com outra pessoa qualquer. Portanto, se os estudantes querem determinado tipo de coisas, eu acho que devem falar antes de irem para os jornais ou televisões fazerem figuras tristes, que é a minha opinião. Não se esqueçam que quem se forma em Coimbra fica para toda a vida com o selo da UC na sua carreira, pelo que dizer mal da instituição onde estão não me parece muito inteligente. O que me parece inteligente é, se uma coisa está mal, peçam pelos canais próprios para que seja resolvida. Posso estar enganado, mas não me lembro de, enquanto reitor, ter havido uma reivindicação justa que em diálogo não tenha sido resolvida. Dificilmente encontrarão alguém que tenha mais carinho pelos estudantes do que eu. Vocês todos têm idade para ser meus filhos e eu tenho filhas também, portanto, eu estimo-vos porque sei como é que funcionam as pessoas da vossa idade. Eu tenho que fazer um esforço para me adaptar, mas tenho pessoas novas à minha volta a ajudarem-me e a explicarem-me como é que as coisas funcionam na geração atual. Percebo que há formas diferentes de pensar, mas há sempre um espaço fundamental para um diálogo que nos permita resolver as situações. Não estou, quanto a isso, nada pessimista.

Tive um primeiro mandato em que só posso elogiar e agradecer aos estudantes, que foram absolutamente excecionais durante a pandemia. Estiveram com a Academia, souberam sofrer com todos os outros, passaram também provações, e conseguimos, todos juntos, sair da pandemia melhor. Espero que, no segundo mandato, possa fazer as reformas que gostaria de fazer, contando com os estudantes e trabalhando para eles. Portanto, é uma mensagem de otimismo: acho que vamos ter uma Academia, daqui a quatro anos, mais contente do que aquela que está hoje. O descontentamento que poderá haver deve ser, primeiro, exposto à reitoria. Depois, se a reitoria disser que não quer saber disso, o que não vai acontecer, então façam os protestos, digam mal de mim, o que quiserem. Deem é, pelo menos, a oportunidade de conseguir ir ao encontro das ambições e expectativas dos estudantes. É isso que eu lhes peço, e desejo-lhes a maior felicidade.

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ENSINO SUPERIOR

Uma vez associado, para sempre com a AAC

Muitos caminhos levam à Associação Académica de Coimbra (AAC). Como instituição única no país, a inscrição e matrícula na Universidade de Coimbra leva a mais um associado da Casa. Desde associados efetivos a seccionistas, a Académica pode crescer em membros de muitas vertentes. No entanto, há um título que se destaca. Um associado honorário difere na forma como se insere na Casa, na medida em que não entra em contacto ativo com a mesma, mas fica marcado na sua história.

Os Estatutos da AAC fazem menção a este tipo de afiliação. No primeiro título, referente a “Parte Geral”, no artigo décimo quinto pode ler-se: “pode ser outorgado o título de associado honorário a qualquer pessoa, singular ou coletiva sem fins lucrativos, cuja probidade, superioridade ética e percurso de vida personifiquem os princípios da AAC, através de proposta feita pela DireçãoGeral da AAC (DG/AAC) ou pelo menos 10 por cento dos associados efetivos e aprovada em Assembleia Magna (AM) convocada só para esse efeito”.

Nesse sentido, no passado dia 24 de março, a Associação também cresceu com a condecoração do antigo presidente da DG/AAC, Cesário Silva, como associado honorário. A atribuição surgiu no mês que assinala um ano após o seu falecimento e, em especial, no Dia do Estudante. Segundo o presidente da DG/AAC, João Caseiro, que integrou a equipa de Cesário Silva enquanto vice-presidente, faltava um “grande momento” para o homenagear. Os estudantes de Coimbra dirigiram-se ao Pólo II da Universidade, lugar onde o falecido dirigente estudava, e onde esta moção foi aprovada por unanimidade, numa AM que demorou cerca de sete minutos.

Para o atual dirigente associativo, um associado honorário é uma “pessoa com reconhecido mérito na Académica” e que teve um percurso ligado a ela. Este torna-se um “reconhecimento que perdura”, além de um título de associado

“muito diferente”, acrescenta. João Assunção, ex-presidente que antecedeu o mandato de Cesário Silva no órgão executivo, vê este título como uma “menção honrosa” dada àqueles que “deram a sua dedicação à causa academista”. Adiciona que esta condecoração “emérita” é comum em outras associações do país, seja a título póstumo ou não.

João Caseiro considera que a atribuição do título a Cesário Silva se justifica pelo percurso que tomou na Academia. Desde o Núcleo de Estudantes de Informática da AAC ao edifício sede, o antigo aluno “fez todo o seu percurso na Académica”, que culminou com a ascensão a presidente da DG/AAC. Além disso, enalteceu o “espírito de líder” de Cesário Silva e exemplificou com o planeamento inicial da manifestação nacional no Dia do Estudante, que decorreuem março de 2022, em Lisboa.

Como título diferenciado dos demais associados, esta nomeação está sujeita a aprovação em AM expressa apenas para este efeito. Na votação da atribuição, a taxa de aprovação tem que igualar ou exceder dois terços do quórum. Acresce também a ressalva de que a concessão do estatuto de associado honorário pode ser outorgada a título póstumo, tal como sucedeu a Cesário Silva.

João Assunção também participou na condecoração de um associado honorário. Trata-se de Manuel Alegre, escritor, antigo estudante da Universidade de Coimbra e, desde 2021, sócio eterno da AAC. Esta proposta, feita por parte da sua equipa, teve por base o passado do poeta, que o ex-presidente considera uma figura “incontornável” da Academia, que “representa de forma condigna os valores da AAC em termos culturais e desportivos”.

Junta-se assim Cesário Silva à lista em que figuram Rui de Alarcão, Francisco Salgado Zenha e Alberto Martins. Para João Assunção, estes elementos têm em comum momentos únicos na academia. Nesse sentido, afirma que também Cesário Silva ascendeu a um patamar onde devia ser homenageado, pois o ex-dirigente deixou a comunidade académica de modo “trágico” em representação da AAC, como explica. Acrescenta que se tratam de “passagens diferentes” pela Casa, mas, de igual modo, importantes para a sua história.

O antigo dirigente não descuida, no entanto, a importância dos vários associados ativos na AAC. João Assunção considera que “quem faz a Académica são os associados efetivos, seccionistas, e os anteriores interessam num ponto de vista histórico”. Desta forma, não relaciona o título de associado honorário com os restantes, visto que se tratam de “títulos muito diferentes” que não devem ser hierarquizados. João Caseiro complementa a ideia ao declarar: “Académica é maior que todos nós”, e a relevância destes títulos está a par da existência da mesma.

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João Assunção e João Caseiro reiteram valor honroso da atribuição do título de associado honorário. Atual dirigente comenta que estatuto enaltece o “espírito de líder” de Cesário Silva.
Por Tomás Barros

Coimbra tem mais encanto na hora do despejo

Estudantes apontam problemas como degradação, preços elevados e pouca oferta.

Pedro Monteiro sublinha necessidade de alargamento do PNAES.

Segundo o estudo “Acessibilidade à Habitação em Portugal”, realizado pela Century 21, desde o ano de 2019, o preço de compra de habitação em Coimbra aumentou. Contudo, a taxa de esforço, percentagem salarial do comprador destinada ao pagamento das prestações de crédito, em situações de arrendamento manteve-se. O exemplo dado pela investigação é um imóvel de 90 metros quadrados que, em 2019, tinha uma taxa de esforço de compra de 19 por cento, tendo aumentado para 27 por cento. Ainda assim, a taxa de esforço por arrendamento variou apenas um por cento, de 34 por cento para 35.

Os universitários ouvidos acreditam, unanimemente, que existe um problema habitacional na cidade de Coimbra, apesar das díspares experiências de moradia. Esta ideia é partilhada pelo vice-presidente da DireçãoGeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) com a pasta da ação social, Pedro Monteiro. Dos estudantes entrevistados, duas são moradoras de casas compartilhadas, uma reside num dos alojamentos da Universidade de Coimbra (UC) e um vive numa residência universitária particular.

De acordo com Pedro Monteiro, “os preços das habitações sociais subiram 13 por cento”, um aumento que considera “preocupante”. Irina Santos e Andreia Morais (nome fictício),

as duas estudantes moradoras de casas compartilhadas, referem ainda a condição “degradada e deteriorada” dos imóveis. Em consonância, Andreia Morais indica que “há domicílios com um preço exorbitante que não oferecem as melhores condições”. De acordo com a estudante, quando chegou a Coimbra, “encontravam-se quartos por cerca de 160 euros", algo que agora é “bastante mais complicado”.

Além disso, Irina Santos realça que “existem muitos senhorios que não fazem contrato”. Este tipo de prática pode dar abertura para a evasão de impostos na cobrança do arrendamento e, dessa forma, deixar o arrendatário numa posição fragilizada, já que não há um acordo legal que lhe ofereça proteção jurídica. Em entrevista ao Jornal A Cabra, Andreia Morais admitiu viver numa casa onde há “indícios de fuga ao fisco”.

Rita Morais, detentora do estatuto de universitária estrangeira e residente do alojamento da UC, expõe que “um estudante internacional precisa de pagar mais pelo quarto do que um português”, apesar de “terem acesso às mesmas condições". A jovem considera que o “reduzido número de vagas à disposição” é o “principal problema” dos moradores de alojamentos universitários. Acrescenta as dificuldades que teve com o processo de arrendamento dos Serviços de Ação Social da UC (SASUC), como a falta de

resposta após efetuar a inscrição. Além disso, após o contacto com os SASUC e de assinar contrato, ao chegar à residência que lhe tinha sido atribuída, foi informada de que o quarto encontrava-se em renovações, pelo que teve de ser colocada noutra casa.

Neste sentido, Pedro Henrique Vieira, morador de residência universitária particular, destacou que a “pouca disponibilidade de lugares” de “boa qualidade”, bem como processos burocráticos excessivos, fazem com que os estudantes recorram ao setor privado. De acordo com o universitário, a questão da crise habitacional é paradoxal: ainda que Coimbra “tenha o histórico de ser uma cidade de estudantes”, a indústria de arrendamento de imóveis é “pouco explorada, tanto pelo setor privado quanto pelo público”.

Como possíveis soluções, Pedro Monteiro destaca o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES). De acordo com a página oficial, o principal objetivo é disponibilizar, a preços acessíveis, alojamento aos estudantes deslocados. No âmbito da atuação do projeto na UC, o dirigente destaca a inauguração de duas novas residências anunciadas ao público. Adiciona que o PNAES “obriga a requisitos de sustentabilidade energética” e, como certas moradias da UC não cumprem estes critérios, existe financiamento para fazer a renovação, como é o caso da residência da Alegria.

Entretanto, em Assembleia Magna, foi deliberada a necessidade de um alargamento da ação do Plano na UC, proposta apresentada pela DG/AAC. O vice-presidente justificou a proposta com o facto de, em Coimbra, ter havido um aumento de apenas 15 por cento do número de camas, enquanto noutras instituições de ensino superior o acréscimo ultrapassou os 100 por cento. Além disso, Pedro Monteiro fez menção ao lançamento do pacote "Mais Habitação" pelo governo e ao projeto “Porta a Porta”. Realizada pela AAC, esta iniciativa procurou mostrar as carências das residências universitárias e transmiti-las aos SASUC.

Entre a pouca disponibilidade de alojamentos, a situação degradada dos que já existem, os arrendamentos caros para a capacidade de compra dos estudantes e as dificuldades burocráticas dos serviços sociais, os universitários de Coimbra manifestam um descontentamento com a situação habitacional atual. Faz-se necessária, portanto, uma maior intervenção para amparar os alunos deslocados.

18 de abril de 2023 06 ENSINO SUPERIOR
Por Luísa Rodrigues

Universidade, Alta e Sofia: dez anos de valor e memória

Programação

das celebrações vai abranger património material e imaterial. Vicereitores da UC Delfim Leão e Alfredo Dias realçam importância de consciencializar comunidade para preservação de edificado e expressões culturais de Coimbra.

As celebrações do 10º aniversário da classificação da Universidade, Alta e Sofia enquanto património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) teve o seu arranque de forma oficial no dia 22 de março deste ano. No entanto, a maioria dos eventos encontram-se concentrados no mês de junho. A programação é constituída por vários momentos, quer relacionados com o património material e o edificado, como com o património imaterial da própria Universidade de Coimbra (UC).

O vice-reitor da Cultura, Delfim Leão, refere que as celebrações se assentam “na valorização de dois pilares”, que se relacionam com estes dois tipos de património. De acordo com o vice -reitor das Infraestruturas e Edificado, Alfredo Dias, a vertente material encontra-se assente em “discutir e dar a conhecer este património único”, em conjunto com a comunidade académica e a própria cidade de Coimbra. Também são importantes as obras de requalificação que estão a decorrer no Paço das Escolas e que vão ter lugar no Colégio das Artes. Já o património imaterial está ligado “à língua portuguesa, tradições e à própria Canção de Coimbra” que, para Delfim Leão, vai ter um destaque no decorrer destas celebrações.

O momento de maior relevância é o concerto “No Princípio Era o Fado”, no dia 22 de junho, que marca o 10º aniversário da classificação. Segundo o vice-reitor com a pasta da Cultura, o concerto representa o “desafio de convocar toda a comunidade, dentro e fora da Academia, que trabalha esta expressão”. Realça também a importância de falar sobre o papel da mulher na Canção de Coimbra, já que “existe uma abertura para alterar o estado das coisas”.

Alfredo Dias considera que a classificação “teve uma enorme importância, não só para o bem classificado, mas também para a cidade e a Universidade”. O vice-reitor acredita que esta distinção “deu maior visibilidade e reconhecimento a um património único”, o que “traz efeitos positivos para o usufruto, salvaguarda e promoção do bem”. Por sua vez, Delfim Leão salienta a “necessidade de manter um equilíbrio entre a vontade de mostrar este património a um conjunto amplo de pessoas”, ao mesmo tempo que se tenta ter em atenção “o futuro da sua preservação”.

Ambos os membros da equipa reitoral reforçam a importância da integração dos novos

estudantes na valorização da herança da instituição em que estudam. Nesse sentido, as comemorações vão contar com um momento próprio, no início do próximo ano letivo, cujo objetivo é despertar o olhar daqueles que vão percorrer esta calçada nos próximos três anos.

“É importante passar aos estudantes a ideia de que este património também é deles”, relembra Delfim Leão, enquanto menciona o facto de que o património reconhecido, ao contrário de outros, é utilizado todos os dias, tanto por docentes, como por alunos. Alfredo Dias reforça que “os estudantes da UC frequentam uma instituição única, com um património de valor excecional que muitas vezes desconhecem”. Por essa mesma razão, o vice-reitor acredita que incluir um momento na sua receção é “uma oportunidade única” para promover esse conhecimento.

Delfim Leão adianta ainda que, em novembro, vai haver um momento de reflexão acerca do que foi feito nesta última década e “vai ser apresentado um plano de gestão para os próximos dez anos”. Alerta,

por fim, para a necessidade de atentar no edificado da Rua da Sofia, onde estão vários colégios “que precisam de uma atenção mais regulamentada”.

A ideia de haver um curador do património reconhecido é algo que o vice-reitor admite como possibilidade. Os vice-reitores fazem ainda menção, no contexto das celebrações, à abertura para um debate da criação de um ‘hub’ cultural, no contexto da requalificação dos espaços da Associação Académica de Coimbra. O vice-reitor para as Infraestruturas e Edificado realça que “as celebrações só vão ter sucesso com o envolvimento de todos”, pelo que faz o apelo para a participação nos vários eventos. Por fim, Delfim Leão acredita no valor de “devolver este património em pleno à fruição das pessoas”.

07 18 de abril de 2023 CULTURA
Foto 1: Pórtico da Sé Velha Foto 2: Paço das Escolas Por Tomás Barros Por Tomás Barros

No meu Pita Sanita com ela

Orxestra Pitagórica explica

- POR LUÍS GONÇALVES -

Asegunda edição do Pita Sanita Sound, festival organizado pela Orxestra Pitagórica, grupo da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/ AAC), vai-se realizar nos dias 28 e 29 de abril e mistura a sátira e a música, a que o grupo habituou os estudantes. O primeiro dia vai ser virado para a comédia, ainda sem nomes confirmados. No dia seguinte, nomes como David Bruno, António Bandeiras, Frandisco e Carolina da dupla Pleno&Tudo vão preencher o Jardim da Sereia.

Pedro Valente, de alcunha “Snacks”, membro da Orxestra Pitagórica, explica que a ideia de criação do festival “surgiu da necessidade de se fazer uma introdução ao mês de maio, um mês festivo, com muita cultura”. O membro do grupo satírico declara que o objetivo do evento é “conseguir trazer um espetáculo à cidade” que sirva como “um pequeno ‘warm-up’ para

Pita Sanita Sound

a Queima das Fitas”. Segundo “Snacks”, as pessoas podem esperar do festival “caras novas e muita alegria”.

Em 2017, a primeira edição aconteceu sob outros moldes, projetada pelo saudoso Paulo Martins, ou “Paulão”, nome incontornável da SF/AAC e, em particular, da Pitagórica. Por esta razão, “Snacks” refere que “fez sentido manter o nome e a ambição do projeto”, que vai contar com um ‘sunset’ no Jardim da Sereia, no dia 29, marcado pela presença de DJ's locais.

O grupo da SF/AAC sente que “o povo de Coimbra quer cada vez mais cultura e, por isso, é preciso chamar artistas de fora para vir cá”. É com base nesta linha de pensamento que surge David Bruno, proveniente de Vila Nova de Gaia. O cabeça de cartaz é descrito por Pedro Valente como “uma pessoa que utiliza a música para contar histórias, algo que a Pitagórica também faz”. Como costume, a Orxestra Pitagórica tam-

bém vai dar uso aos seus “instrumentos sérios, como a guitarra, bateria, baixo, saxofone”, assim como aos “seríssimos (SANITAS, sinal, adegofone)”.

O festival possui como principal patrocinador a Imprilar, empresa de construção gerida por Roberto Ribeiro. Em conferência de imprensa, o representante sublinha que a sua equipa “vai fazer de tudo para que a festa corra bem e incentive outras empresas a participar em edições futuras”. O evento conta também com os apoios da Câmara Municipal de Coimbra, Queima das Fitas, União de Freguesias de Coimbra, do Conselho Cultural da AAC, bar O Moelas, Luna Cervejaria e da Casa das Caldeiras.

A entrada no Pita Sanita Sound é gratuita e começa às 21 horas no primeiro dia, e às 17 horas no segundo. Em nota de imprensa, a Orxestra Pitagórica promete proporcionar “uma noite memorável, de boa música e muita diversão”.

Festival pede a palavra pela arte

Peça-Palavra visa reflexão sobre luta estudantil através do diálogo, ‘performances’ e oficinas. Repúblicas de Coimbra contribuem ao garantir alimentação e estadia.

- POR LUCÍLIA

ANJOS -

OTeatro Experimental Kagadal (TEK) traz a Coimbra a primeira edição do Festival Peça-Palavra, a realizar-se entre os dias 17 e 22 de abril. Joana Silva, membro do TEK, refere que este projeto “pretende celebrar as lutas estudantis e pensar no ensino superior atual”, dentro do prisma “das artes e do estudo e prática artísticas, enquanto motor de transformação social”.

A ideia surgiu no seio do curso de Estudos Artísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC), e tem como objetivo “debater o setor artístico e a profissionalização das artes”, expõe Joana Silva. Além disso, procura “abrir as portas das repúblicas a atividades inseridas no meio académico”, acrescenta. A estudante menciona que o festival propõe “aproximar instituições que partilham o mesmo espaço e não comunicam entre si”, como as entidades profissionais e culturais de Coimbra, os grupos académicos da cidade e

as repúblicas.

Cada dia do festival vai ser dedicado a uma arte diferente, visto que “se trata de um mundo muito abrangente”, explica Arianna Angioli, também membro do TEK. Entre conversas, oficinas e espetáculos, a iniciativa abraça a literatura e a poesia no primeiro dia, e a música, com foco no “repensar da música popular portuguesa”, e o cinema, nos restantes. No último dia, vai ser discutido o ensino das artes, numa tertúlia que conta com a presença de professores universitários e diretores artísticos. Todos os dias terminam com uma refeição comunitária numa república.

Arianna Angioli revela que não existiu ajuda orçamental para a realização do festival. No entanto, através de parcerias, foi possível ter acesso a “espaços para estar e falar”. A jovem complementa que os maiores parceiros do projeto são as treze repúblicas que “garantem alimentação e estadia a qualquer participante”.

Tudo acontece no “âmbito da amizade e partilha”, comenta.

Joana Silva realça o apoio dado por parte do Laboratório de Investigação de Práticas Artísticas, “um organismo da UC ligado a estudos artísticos”, que tem como objetivo “fazer uma ponte entre os projetos práticos dos alunos e a sua base teórica”. A atriz salienta também a presença e ajuda do Teatro dos Estudantes da UC e do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra.

As expectativas de adesão são altas e o festival acolhe qualquer pessoa que tenha interesse em participar num espaço “aberto e horizontal”, declara Arianna Angioli. As atrizes esperam que, com a realização do evento, as pessoas se “juntem ao projeto de aprendizagem e experimentação artística do TEK e avancem com novas iniciativas”.

8 18 de abril de 2023
que
vai servir de “pequeno ‘warm-up’ para a Queima das Fitas”. David Bruno é cabeça de cartaz do evento.
CULTURA

Pai, filho e os Santos da Casa

Programa Santos da Casa é classificado como segundo melhor programa nacional de rádio de autor. “Nós éramos e continuamos maluquinhos por isto”: rezam os Santos.

- POR RAQUEL LUCAS E ANA FILIPA PAZ -

Num ambiente de criação “providencial”, que se fazia sentir pelos corredores da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), surgia um programa apenas de música portuguesa, o Santos da Casa, que se vinha a consagrar, 31 anos depois, o segundo melhor programa de rádio de autor a nível nacional. Caminhando numa linha ténue entre o Santo e o Herege ao longo dos anos, Fausto da Silva e Nuno Ávila construíram um espaço de divulgação e valorização da música criada por artistas nacionais com menor projeção. Nas emissões, cobrir todos os géneros e passar o maior número de projetos possível são regra. Hoje, de prémio numa mão e terço na outra, recordam os principais marcos dos últimos anos.

Fausto da Silva foi o fundador da ideia, o que se traduziu, após a entrada e saída de colaboradores, na formação do dueto divino com Nuno Ávila, dupla que se mantém responsável pelo programa. O projeto teve como inspiração outros trabalhos de rádio já existentes, que seguiam a mesma temática, dos quais Fausto da Silva fazia parte: “Fiz o “Canto Lusitano”, o “Trovas Lusas” e era para fazer o “Cá se Fazem”, todos antecedentes do Santos da Casa”, conta o radialista. Porém, alterar o nome do programa nunca foi opção.

Tudo começou com cassetes. No entanto, “com o advento da tecnologia, as coisas melhoraram e as bandas passaram a enviar o seu trabalho em CD’s e, agora, em MP3”, explica Nuno Ávila. O locutor confessa que “às vezes se torna difícil fazer a gestão de todas as músicas que chegam ao estúdio e conseguir passá-las na emissão”. Apesar de o sistema se ter revo -

lucionado, de acordo com Nuno Ávila, a filosofia do programa permanece: “Mostrar tudo, dentro de todas as áreas, que achamos que tem mais futuro”.

Face ao percurso do projeto, Fausto da Silva conclui que este é um trabalho que, com muita paixão e dedicação, lhe permitiu desenvolver “visões diferentes em relação ao que acontece na música em Portugal e, acima de tudo, uma grande paixão por esta área”. Em tom nostálgico, brinca: “Nós éramos e continuamos maluquinhos por isto”. Na memória ficam as “histórias curiosas de emissões” feitas nas últimas três décadas, relata Nuno Ávila.

Ser considerado o segundo melhor programa de rádio a nível nacional deve-se ao facto de o programa dar visibilidade “a artistas que não têm espaço noutras rádios locais e nacionais”, relata Fausto da Silva. “Nós, para muitos artistas, somos um oásis!”, ri. O radialista sublinha que “existe uma relação de amizade com os artistas que não existe em muitos lados, e um vício em ver concertos, fotografar e estabelecer contacto com as produtoras e os músicos”, o que justifica esta atribuição.

De acordo com Fausto da Silva, a escolha dos artistas para cada programa é feita, muitas vezes, durante a sua realização. “Não existe critério, é uma questão de gosto pessoal e de diversificar a lista de temas”, refere. Nuno Ávila segue os mesmos passos: “a RUC dá-nos essa liberdade, às vezes há temas pelos quais me apaixono e, por isso, passo muitas vezes”. Para o locutor, as rádios que cumprem as quotas mínimas para difusão de música portuguesa “não têm o trabalho de escarafunchar os

temas, ficam a bater na mesma tecla”. O Santos da Casa “divulga temas nacionais porque têm qualidade”, reitera.

Após seis anos de programa, nasce o Festival Santos da Casa. A ideia surgiu em março de 1999, no 13º aniversário da RUC. “Foi uma canseira, mas conseguimos fazer com que ficasse tudo impecável, o que nos deu vontade para fazer 25 anos seguidos de Festival”, confessa Nuno Ávila. As edições seguintes procuraram realizar-se em locais distintos, como o “mítico corredor da RUC”. O festival tornou-se nómada, uma vez que “tenta não repetir bandas e atuar sempre em espaços diferentes”, acrescenta.

Segundo Fausto da Silva, “a cidade tem muitos artistas de qualidade, mais ‘underground’, que poucos conhecem”. Nuno Ávila partilha da mesma opinião e acredita que Coimbra está “bem servida” de espaços, estúdios, editoras, programas para divulgar a música portuguesa. No entanto, considera que “ainda há muito a fazer” no que toca ao fomento do consumo cultural em Coimbra. Por isso, defende o apoio a novos músicos, para que “se possam mostrar e saltar daqui para fora”. Fausto da Silva critica a facilidade com que se apoia projetos internacionais, em detrimento dos nacionais. Nesse aspeto, “o Santos da Casa não faz milagres”, remata. A qualidade deste projeto é consensual entre a comunidade artística, que faz questão de consultar a opinião dos Santos na criação de novos projetos e agradecer o apoio do programa das mais variadas formas. Um programa de uma rádio local estar entre os melhores a nível nacional não é milagre, mas só fazia sentido serem os Santos da Casa.

09 18 de abril de 2023 CULTURA
Por Raquel Lucas

25 anos de André Sardet: “Valeu a pena”

Trabalho recente do artista visa afirmar a sua vitalidade na música portuguesa. Para autor, “Acústico” “foi uma vitória conquistada pelo tempo”. Ao recordar últimos anos, Sardet confessa: “Sinto que só ao terceiro álbum é que disse: «isto sou eu»”.

Como surgiu a paixão pela música e o interesse pela composição?

Surgiu de uma forma muito natural, desde cedo que gosto muito de cantar. Lembrome de ser miúdo e imitar o Carlos Paião, tinha eu sete ou oito anos quando ele foi ao Festival da Canção. Aos 14 anos, integrei uma banda de bares e ‘covers’. Depois, aos 17 anos, quando descobri que conseguia compor, a música ganhou uma dimensão maior dentro de mim. Nessa altura percebi que conseguia comunicar através desta arte e que conseguia pôr “cá para fora” aquilo que eu sentia e observava. Nessa fase, a música deu um sentido muito maior à ideia de querer ser músico. A partir daí, fui gerindo em paralelo a minha outra paixão, a Engenharia Mecânica. Em 1993 entrei na faculdade e em 1995 assinei o meu primeiro contrato. A nível musical foram-se abrindo portas, construindose uns lados e desmoronando-se outros.

Como é que procurou conciliar a sua vida académica com a música?

A conceção de que é necessário tirar um curso para ter segurança está muito presente, e eu tentei fazê-lo, mas era impossível... Ainda por cima, por passar muito tempo em Lisboa, tornou-se difícil conciliar os estudos em Coimbra com a minha vida profissional lá.

Porquê Coimbra e não Lisboa?

Eu fiquei em Coimbra por razões familiares, porque por profissionais não faria sentido eu estar aqui, uma vez que o centro de decisão e toda a indústria musical está em Lisboa. Fez sentido criar aqui os meus filhos, porque é uma cidade que me inspira, uma cidade que não tem o stress do trânsito de Lisboa, portanto prefiro estar aqui. No entanto, leva a que eu faça de Coimbra um dormitório. Ando sempre de um

lado para o outro e, muitas vezes, venho só a casa para dormir.

Ainda assim, qual é a sua visão sobre a música que se faz em Coimbra?

Esta cidade tem a Canção de Coimbra, que é um património muito próprio e identitário. É um património que une não só os conimbricenses, como todos aqueles que passam por cá, pelo que carece de investimento local. Na minha opinião, não existe investimento, divulgação e consolidação suficiente, devia ser uma bandeira da nossa cidade e região.

Tem alguma ligação com os artistas locais e a cultura musical de Coimbra?

É engraçado, porque quando eu comecei, há 20 e tal anos, tirando os músicos que tocavam em bares, não havia ninguém a compor e a gravar discos. Felizmente, nos últimos anos, foram surgindo uma série de nomes com exposição nacional, como os Quatro e Meia, a Beatriz Rosário e os Anaquim. Também temos malta mais ‘underground’ e novas gerações e estilos a emergir. É muito positivo termos relações mais próximas uns com os outros.

Há alguém em particular com quem gostasse de colaborar?

Eu gostava de fazer um dueto com o Sting! Não sei se isso vai alguma vez acontecer ou não, mas gostava (risos). Na verdade, a partilha resultante da ida para estúdio com outros colegas é emocionante. É um momento em que as pessoas se entregam, é um ato de grande generosidade em que se tenta dar a alma a uma música que não é sua. Reconheço muito a atitude das pessoas quando se entregam às minhas músicas dessa forma.

Em 2006, gravou o álbum “Acústico” no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV). Como foi este momento?

Representa uma mudança grande na minha vida. A partir desse momento, foram reconhecidas uma série de músicas que vão ficar na música portuguesa. Não há nenhum álbum depois do "Acústico" que tenha vendido mais. Foi uma vitória conquistada pelo tempo.

Dois anos depois, foi o primeiro artista português a realizar uma ECO TOUR. Como surgiu a ideia de fazer a ponte entre a música e a consciencialização ambiental?

Certo dia, cheguei a casa do meu avô e vi-o a reciclar, e, quase por vergonha, não disse nada. Depois desta situação, fui para casa e pensei - “eu também vou reciclar. Se o meu avô, que não vai estar aqui por muitos mais anos, já faz isto, porque é que eu não faço?”. Esse foi o clique ambiental. A partir daí, fui à procura de mais informação, de me consciencializar a mim e à minha família. Depois de uma ‘tour’ como a que fiz em 2006 e 2007, em que enchíamos não sei quantos depósitos de combustível todos os dias e os meus concertos eram promovidos com pendões de plástico pregados em árvores, acreditei que faria todo o sentido que o seu impacto fosse diminuído. Embora acredite que na área ambiental é muito difícil ter certezas. É cada vez mais complicado separar o que é o marketing e o aproveitamento do que é o correto. Estamos todos a tentar emitir menos gases poluentes nos carros, mas depois comemos manga que vem do Brasil e amêijoas que vêm do Vietnam de barco, que é o meio de transporte mais poluente. Orgulho-me muito da ECO TOUR 2008, e orgulho-me de ter, sempre que posso, uma intervenção a esse nível.

10 18 de abril de 2023
CULTURA

Ambiciona fazer outros projetos na área da Ecologia no futuro?

Dentro das minhas áreas de intervenção, além da música, sou produtor de espetáculos e tenho um hotel. Neste espaço tenho mais dificuldade em ser tão sustentável como gostaria. Não posso colocar painéis solares numa zona histórica, mas a minha empresa de produção de eventos está a ser alvo de uma certificação ambiental, e vai ser a primeira do país a ter esse título.

Saltando uns anos, com que intuito produziu o álbum "Ponto de Partida", em 2022?

Quis entregar uma visão para o futuro. Não quis que fosse um balanço de carreira, nem um olhar para o passado. Quis dar uma prova de vitalidade criativa e dizer que estou cá para ficar.

Como foi regressar aos concertos nas grandes salas para celebrar 25 anos de carreira?

Foi uma prova de vitalidade conseguir esgotar as salas por onde passei e irei passar. Após o sucesso que tive, gerou-se uma “overdose”, que necessitava de ser curada. Não há nenhuma música portuguesa que tenha tocado tanto nas rádios como a “Foi Feitiço”. Durante este tempo em que estive um pouco mais distante, atribuí maior atenção a outras áreas da minha vida. Sempre disse que não quero ser escravo da música, não quero chegar aos

sessenta anos acabado e ter que tocar por necessidade.

Consegue destacar um momento da sua carreira que tenha tido um significado especial?

Lembro-me de estar a tocar, no início de agosto em 2006, no Casino da Figueira, e estava o quarteirão todo com uma fila para me ir ver. Só podia entrar um décimo das pessoas que lá estavam. Tocar pela primeira vez nos coliseus foi também um marco memorável. A noite de gravação do álbum "Acústico", no TAGV, mudou a minha vida. Além disso, cantar com o Jorge Palma no último disco foi a concretização de um sonho muito antigo. Felizmente, a minha vida vai sendo uma coletânea de bons momentos.

Quais os maiores desafios com que se deparou para singrar no mundo da música?

O maior desafio foi criar uma identidade musical. Todos nós temos influências, e isso faz com que o nosso caminho seja próximo daqueles que nos influenciam. Esse foi o meu maior desafio, e é o maior desafio de todos os músicos. Há uma altura em que tu imitas, é como o filho que imita o pai. Primeiro imitamos e depois vamos construindo coisas nossas. Sinto que só no terceiro álbum é que disse: "isto sou eu".

Que conselho dá às gerações mais jovens para ter sucesso na música hoje em dia?

É crucial ter uma relação séria com a música. Há pessoas que têm muito talento, mas são pouco autocríticas, e isso faz com que não trabalhem o suficiente para alcançar um determinado nível. No meu caso, vejo-me incapaz de ir para cima de um palco sem tocar o concerto do princípio ao fim três ou quatro vezes. Quando era miúdo não tinha o acesso à música que gostaria de ter tido, a música era muito cara, e com o dinheiro que recebia na Páscoa e no Natal conseguia comprar apenas um álbum de vinil. Hoje em dia, há um acesso à música brutal. O conselho que eu dou é: aprofundem, sejam exigentes e trabalhem. Porque lá está, o tempo dos jeitosos já não existe.

Por fim, que balanço faz destes 25 anos, tanto a nível profissional como pessoal?

Valeu a pena. Quando comecei, não fazia ideia quantos anos é que iria durar a minha carreira, e isso é um risco grande. Comecei a produzir eventos para não desistir da música. Acreditava que era uma forma de continuar com a minha carreira musical, sem ter de depender só dela. Se não, a minha vida teria sido completamente diferente e não estaria tão feliz. Senti que me tiraram o tapete algumas vezes. É um caminho muito solitário em que temos de acreditar em nós e não ter medo de nada. É preciso aproveitar as oportunidades que nos aparecem à frente, o que eu sempre procurei fazer.

11 18 de abril de 2023 CULTURA
Por Tiago Paiva

Quando a palavra silenciou o fascismo

Antigos e atuais dirigentes da AAC enfatizam importância das lutas estudantis de 1969. Falta de debates sobre impacto da crise na sociedade atual em destaque.

- POR FREDERICO CARDOSO E DANIELA FAZENDEIRO -

Adécada de 60 pautou-se pela eclosão de diversas crises e movimentos estudantis. Alberto Martins, principal rosto da crise académica de 1969 e presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) da época, recorda um Portugal “pobre, analfabeto e subdesenvolvido”.

A cidade de Coimbra, segundo o ex-presidente, era “a expressão de um país isolado no mundo, com uma forte opressão e censura política”. A Universidade de Coimbra (UC), que tinha os jovens “mais letrados e qualificados”, marcava-se pelo seu elitismo, governação a favor do regime e “uma forte presença na cidade”, refere Alberto Martins.

A primeira crise académica surgiu em Lisboa, em 1962, em resposta à proibição por parte do Estado das comemorações do Dia do Estudante. Foi no seguimento das manifestações na capital que se realizou, em Coimbra, o primeiro Encontro Nacional de Estudantes. Para Rui Namorado, doutorado em Direito Económico pela Faculdade de Economia da UC e participante das lutas estudantis nos anos 60, foram aí criadas “as circunstâncias que motivaram a segunda crise académica e o 25 de abril de 1974”.

O rescaldo da crise de 1962 na cidade e na AAC

Após a crise académica de 1962, o clima universitário era de “constante tensão e conflito”, evoca Rui Namorado. A AAC, explica, foi encerrada nesse ano e, a partir de 1965, ocupada por uma “comissão administrativa” liderada por estudantes “fascistas” ao serviço do Governo.

Esse “interregno”, conta Rui Namorado, fez com que o protagonismo estudantil fosse tomado pelas repúblicas que existiam na altura. Estas assumiram o “papel da resistência” através da sua expressão cultural e tradicional. Em conjunto com organismos autónomos e algumas secções desportivas, foi criada uma comissão eleitoral que, através do seu papel interventivo, fez com que o governo consentisse em eleições livres para a AAC.

Do ato democrático resultante, foi eleita uma lista para a DG/AAC em janeiro de 1969, encabeçada por Alberto Martins. Após tomar conhecimento da inauguração do novo edifício das Matemáticas, enfrentou uma “recusa constante das autoridades académicas e governativas” de cederem a palavra aos estudantes na cerimónia. O antigo dirigente decidiu que, perante o facto, seriam feitos “todos os esforços para que

tal acontecesse”.

Para Celso Cruzeiro, membro da DG/AAC de 1969, o gesto de “pedir a palavra” significava o desejo de inverter “o processo até então estabelecido”. Na voz dos estudantes encontrava-se a “base da reforma da UC, que na altura atuava como difusora de ideais fascistas”, esclarece.

“Em nome dos estudantes da UC, peço a palavra.”

No dia 17 de abril, uma comitiva, constituída por membros do governo, autoridades académicas e o Presidente da República do regime, Américo Tomás, abriram a cerimónia de inauguração do novo edifício. Do lado de fora, centenas de estudantes esperavam, cientes do que estava prestes a acontecer. A AAC esteve representada, já com a nova direção “progressista, democrata e reinvindicativa”, como explica Rui Namorado.

Segundo Alberto Martins, naquele momento era “mais do que ele próprio, era a academia, a honra e o direito de expressão”. Foi “um momento difícil, de vencer as resistências e o medo”, assume. Após o ex-presidente pronunciar as famosas palavras “em nome de todos os

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CENTRAL
Cardoso
Por Frederico

estudantes da Universidade de Coimbra, peço para usar da palavra”, fez-se ouvir “uma salva de palmas impressionante” que abafou os gritos dos defensores do regime.

Após a saída dos ministros da educação e das obras públicas, ocorreu uma manifestação de cerca de 1500 estudantes que também queriam fazer-se ouvir. Nesse momento, vários dirigentes discursaram em forma de celebração do que consideravam ser uma vitória dos estudantes.

Alberto Martins foi levado pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) às duas horas da manhã. A sua detenção desencadeou um protesto de estudantes, sobretudo repúblicos, em frente à sede da PIDE, que resultou numa “violência policial brutal”. Libertado na manhã seguinte, o então presidente participou na Assembleia Magna (AM) convocada pelo sucedido, que foi “muito emotiva e ditou o começo da luta académica”, revela.

Tempos de união e de solidariedade

Três dias depois foram suspensos oito estudantes, as principais caras da revolta: o evento catalisador para ser decretada greve às aulas. A AAC foi palco de uma AM permanente, que fomentou o debate ativo sobre os “problemas existentes no ensino superior” e as soluções para a “criação de uma universidade moderna”, elucida Alberto Martins.

Devido à censura existente na altura e à “falta de privacidade na comunicação”, a luta de Coimbra era “desconhecida ao país”, expressa Celso Cruzeiro. Até que, no dia 30 de abril, o ministro da educação, José Hermano Saraiva, fez um discurso televisivo “arrogante e ditatorial” em relação à crise académica. Durante 16 minutos, apresentou ao país, sem direito a qualquer resposta, a “onda de grande insubordinação que assolava Coimbra”, acrescenta o ex-dirigente.

Do discurso do ministro sobre os “agitadores que desrespeitaram o chefe de Estado”, ori-

ginou-se, segundo Alberto Martins, o oposto daquilo que o regime esperava. Os tempos que se seguiram foram de “brutal repúdio” a José Hermano Saraiva e à sua incapacidade de ”fazer cumprir a ordem na UC”, como havia proferido ao país. A UC foi, de seguida, encerrada.

No dia 28 de maio realizou-se uma outra AM que contou com a participação de mais de cinco mil alunos, na qual se determinou a greve aos exames. Esta decisão, que implicava a perda de um ano para muitos estudantes e a consequente convocação para o serviço militar para os homens, foi respeitada por 86 por cento dos estudantes. “Este protesto pela liberdade foi uma luta coletiva e de extrema solidariedade”, reitera Alberto Martins.

O antigo dirigente caracteriza a "Operação Balão" e a "Operação Flor" como momentos que ditaram a aproximação dos estudantes à cidade. Face à violência e repressão da ditadura, “respondeu-se com a paz que nos era própria", acrescenta.

A final da Taça de Portugal, a 22 de junho, foi mais um momento de protesto. Os jogadores da Académica entraram no estádio com a capa sobre os ombros, em sinal de luto. Durante o intervalo, os estudantes empunharam cartazes com palavras de ordem contra o regime. Pela primeira vez, uma final de futebol não foi transmitida na televisão nem contou com a presença de chefes de Estado. Os estudantes saíram a perder, mas, para Alberto Martins, “ganharam para a história”.

O ex-presidente assinala que “a ditadura foi enfrentada, olhos nos olhos, pela juventude universitária de Coimbra”. O Estado, como forma de punição, prendeu e enviou alguns dos grevistas para a Guerra Colonial. Para Rui Namorado, esta decisão “apenas acelerou e potenciou a Revolução dos Cravos”, dada a ligação estabelecida entre estudantes e soldados durante o serviço militar.

A memória da luta que fez nascer abril Nestes dias “menos empolgantes”, Alberto Martins considera que “a juventude” passou por momentos difíceis. A “natureza jovem é o sonho e a construção do futuro”, acrescenta, com o apelo a que estes não parem de “lutar pela liberdade e pelos seus direitos”.

Para o atual presidente da DG/AAC, João Caseiro, este acontecimento fez despertar no país “um sentimento de revolta e vontade de mudança”. Apesar da distância temporal, a importância deste momento, que alavancou a revolução de 1974, é “reconhecida e inspiradora para todos”.

O que se passou em 1969 foi, portanto, a primeira demonstração em grande escala das fragilidades do regime, realça o dirigente associativo. “Enquanto existir a AAC e a democracia em Portugal, vai existir a memória das crises académicas”, finda.

Daniel Azenha, presidente da DG/AAC aquando do cinquentenário da crise académica, partilha da mesma opinião. Segundo este, a luta pela liberdade do país “partiu de Coimbra”, apoiada num “orgulhoso exemplo de como a união e a ambição permitem alcançar grandes feitos”. Acresce que a liberdade de expressão que existe hoje em muito se deve à “coragem de todos os que passaram pela casa”.

O dever de preservar a memória e de recontar a história da academia é um sentimento comum aos dois dirigentes. Ambos consideram que a ligação dos estudantes à cidade, embora diferente da que existiu no passado, se mantém viva através da manifestação política, da cultura e do desporto.

Já Celso Cruzeiro exprime o seu desagrado sobre a ausência de mais debates acerca “do que se passou e como isso se reflete nos tempos que correm”. A essência da crise de 1969, acima das comemorações e dos reconhecimentos, tem que ser interpretada “em retrospectiva, à luz da experiência atual”, finaliza.

13 18 de abril de 2023 CENTRAL
Arquivo

Estudante da FCTUC bate recorde Mundial de Natação

Diogo Cancela almeja medalha paralímpica como concretização de sonho. Atleta entende

Diogo Cancela, estudante de Engenharia Eletrotécnica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), bateu, no dia 13 de abril, o recorde mundial da classe paralímpica nos 200 metros mariposa, numa prova realizada em Eindhoven, nos Países Baixos. O atleta do Louzan/Efapel já tinha batido o recorde europeu da prova no ano passado.

O desporto surgiu cedo na vida de Diogo Cancela que, após um acidente aos três anos de idade, teve de entrar na natação e passou a utilizá-la “como se fosse fisioterapia”, conta o estudante. Acrescenta que “o médico decidiu que era necessária fisioterapia, para que não ficasse

com desníveis grandes no corpo”. No que toca à família, “não foi um choque muito grande” quando o jovem decidiu dedicar-se a cem por cento à natação.

Em relação aos estudos, seguiu os passos do pai e do irmão quando optou por ingressar na licenciatura em Engenharia Eletrotécnica na UC, da qual diz “estar a gostar”. Além disso, Diogo Cancela entende que a conciliação entre estudos e desporto “não tem sido muito fácil”, mas tem a intenção de concluir “algumas cadeiras por semestre”. Outra dificuldade apontada pelo jovem é a de fazer “as escolhas certas” entre a licenciatura e a natação, mas que, não obstante, se encontra “contente com o resultado

desta competição”.

O jovem, que conquistou o seu primeiro recorde mundial nesta competição, declara com entusiasmo que a medalha é, para si, “um marco a bater”, e que vai ter que “abdicar de muita coisa para ter resultados”. Diogo Cancela menciona que o seu objetivo atual é preparar-se para os Jogos Paralímpicos de Paris de 2024, mas antes disso tem o Mundial, que vai ter lugar no mês de agosto em Manchester, no Reino Unido. “A curto prazo, o objetivo é defender o terceiro lugar” que conquistou o ano passado e, no que toca ao futuro, o sonho do atleta é a medalha paralímpica, que admite ser algo difícil de conquistar.

Remo da AAC/UC com medalhas nos

CNU, como tem sido habitual

Ocomité desportivo da modalidade de Remo da Associação Académica de Coimbra (AAC) e da Universidade de Coimbra participou no Campeonato Nacional Universitário, no dia 2 de abril. Nesse evento, os representantes universitários arrecadaram três medalhas de prata e outras três de bronze. A nível coletivo, ficaram em segundo lugar no Troféu Universitário de Clubes da Federação Académica do Desporto Universitário.

Tomás Vidal, vice-presidente da DireçãoGeral da AAC, considera a participação da equipa universitária na competição como “muito positiva”. Ao recordar o passado histórico da modalidade, que caracteriza como “bastante rico”, o vice-presidente tem em conta as medalhas já alcançadas, como a de bronze de Simão Simões, Marcelo Simões, Eduardo Sousa e Gonçalo Delgado na modalidade ‘Four Skiff’/quadri-scull masculino no Campeonato Europeu Universitário de Remo de 2022, na

Turquia. O dirigente assume que este passado atribui “confiança e esperança” aos futuros resultados das equipas desportivas da AAC.

Tomás Vidal salienta o financiamento como a maior dificuldade, tanto por ser uma questão que é “transversal à realidade de qualquer desporto universitário”, como também pelos “fundos serem limitados”. Explica que os encargos económicos variam consoante o rendimento desportivo e que, por isso, “a presença da academia na Europa acaba por significar custos financeiros que são difíceis de suportar”.

O dirigente afirma ainda que, em vez de se olhar para os pódios e medalhas, tem que se “criar condições logísticas e infraestruturais técnicas que permitam aos atletas treinarem e competirem nas melhores condições possíveis”. O mesmo considera que só assim é possível obter os melhores resultados. Adiciona que o foco deve estar nas condições dadas aos atletas em competição e salienta a ne -

cessidade de “não se pensar em curto prazo, nem cobrar resultados”.

Perante todas as dificuldades sentidas, Tomás Vidal refere que o Remo está bem entregue, pelo que considera que a modalidade desportiva “possui as condições necessárias e as ideias para progredir de forma positiva”. Agrega ainda que a proximidade a Montemor-o-Velho, um “centro de alto rendimento”, é uma vantagem para a prática do desporto.

A divulgação das modalidades desportivas da AAC permanece ainda “muito centrada nas redes sociais e no site da academia”, aspeto que o dirigente tenciona mudar. Tomás Vidal pretende uma maior divulgação no terreno, no sentido de a AAC se aproximar mais das faculdades e vários departamentos, com o intuito de levar a realidade do desporto universitário de “forma mais crua”, frisa.

14 18 de abril de 2023
DESPORTO
que conciliação entre estudos e desporto “não tem sido muito fácil”.
- POR SAM MARTINS -
Tomás Vidal afirma que Remo está bem entregue e “possui as condições necessárias para progredir”. Financiamento permanece como maior dificuldade no desporto universitário, destaca vice-presidente da DG/AAC.
- POR MARIA INÊS PINELA -

A Ciência está em toda a (p)arte

Sinergia entre Arte e Ciência alerta para problemas de saúde. Investigadora do CNC declara que estas áreas “complementam-se, uma vez que utilizam linguagens diferentes”.

- POR MIGUEL SANTOS E MARIJÚ TAVARES -

ACiência e a Arte são incompatíveis?

“Uma maneira possível das pessoas se tornarem mais humanas é aproximar o «mundo da verdade» do «mundo da emoção e da beleza»”, diz António Cachapuz, professor catedrático na Universidade de Aveiro, no artigo “Arte e Ciência no Ensino das Ciências”. A análise deste artigo indica que a Arte e a Ciência, que aparentam ser disciplinas antagónicas, têm-se revelado parceiras na divulgação de informação científica e na sensibilização na área da saúde.

A transdisciplinaridade que advém da colaboração entre Arte e Ciência fornece ferramentas para a promoção mais simplificada da saúde aos cidadãos. O teatro Marionet, sediado em Coimbra, pratica esta vertente da sensibilização para a Ciência por meio da Arte. Fundada em 2000 por Mário Montenegro e Nuno Pinto, esta companhia cruza as duas áreas do saber, em colaboração com investigadores e especia listas. A parceria mais antiga do Marionet é feita com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC).

Uma das temáticas abordadas pelo teatro é a apneia obstrutiva do sono. O projeto no qual se explora este tema está a ser desenvolvido há cinco anos e dele já fazem parte a peça “Morfeu e Apneia”, exibida em 2022, e o documentário “APNEIA”, estreado em março de 2023. “Estes trabalhos confrontam as pessoas com a reali dade da doença e permitem o seu melhor diag nóstico", aponta Francisca Moreira, produtora do Marionet. Acrescenta que “cada vez mais é dado valor aos gabinetes de comunicação em ciência" e, por esse motivo, criou-se a platafor ma Marionet Digital, que vai abordar temas

sobre saúde de uma forma mais apelativa.

A preparação destas iniciativas inclui a pesquisa, não só dos investigadores, como dos artistas e colaboradores na área performativa, a partir de “livros, artigos, documentários, aulas dadas nos departamentos de ciência e entrevistas a pessoas que sofrem desta patologia”, refere Francisca Moreira. “É muito importante representar não só a doença, mas a pessoa que a tem”, afirma. Deste modo, os envolvidos na produção dos espetáculos não têm apenas formações científicas, mas também um contacto mais próximo e direto com os doentes e com os seus médicos.

Esta companhia de teatro tem o intuito de sensibilizar para o mundo da representação e da neurociência e conta com projetos com crianças. Entre eles está uma oficina de arte e ciência que pretende abordar várias temáticas relacionadas com o cérebro, como a consciência e a

coordenação motora. Ana Rita Álvaro, investigadora do CNC-UC, colaborador frequente do Marionet, afirma que o que se pretende é “numa vertente mais artística, apelativa, e distinta, passar a importância de dormir e daquilo que é o impacto das doenças do sono”. De acordo com a mesma, estas duas áreas complementam-se, uma vez que “utilizam linguagens diferentes”, mas têm o mesmo intuito: “deixar a sociedade mais informada”.

A investigadora declara que “ainda não se chega ao público como se gostaria, pois as pessoas não têm sensibilidade suficiente para entender a importância da associação entre Arte e Ciência". Reforça ainda que “esta junção é experienciada apenas por um nicho de pessoas”. Não obstante, revela que “apesar de haver um longo caminho a percorrer, nota-se mais interesse e procura ao longo dos anos”.

Outros estudos, como o livro “A educação pela arte”, de Herbert Read, corroboram a visão de que a Arte é relevante para a promoção e sensibilização para assuntos relacionados com a saúde. O autor desta obra afirma que “a arte tem a virtude da experiência estética, educa por meio dos sentidos e cria significados através da vivência artística que amplifica a imaginação”. É através desta abordagem que “se criam espaços de conexão com o meio ambiente e a saúde”. Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, a comunicação em saúde é o “estudo e utilização de estratégias para informar e influenciar decisões e ações que melhoram a saúde”. Esta nova abordagem de aliar a Arte à Ciência enquadra-se dentro desta definição ao promover a literacia, tanto artística,

15 18 de abril de 2023 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Por Tomás Barros

Até ao infinito e mais além!

Iniciativas da UC exploram campos de estudos espaciais. Multidisciplinaridade da AAC passa também pelo campo da astronomia.

AUniversidade de Coimbra (UC) possui uma vasta área de investigação no campo das Ciências e Tecnologia, onde a Astronomia está incluída. Esta área é explorada através de iniciativas promovidas por estudantes e de um curso de mestrado focado na Astrofísica. Dentro da Associação Académica de Coimbra (AAC) é possível encontrar uma estrutura dedicada às três vertentes do estudo dos astros: a Secção de Astronomia, Astrofísica e Astronáutica (SAC/AAC).

A Pollux é uma iniciativa júnior, que atua como uma empresa dentro da universidade, focada na produção de serviços vinculados a estudos espaciais. Fundada há dois anos por estudantes da instituição, em parceria com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), conta já com 38 membros.

O presidente, António Cardoso, explica que a

iniciativa foca-se no “setor espacial, com projetos técnicos para o espaço, que vão de análises estruturais de peças a design e concessão de tecnologias espaciais”.O estudante esclarece que “qualquer aluno da UC pode participar”, pois a Pollux possui uma estrutura empresarial dividida em departamentos que abrangem diferentes áreas profissionais. Além desta iniciativa, a SAC/AAC também é uma alternativa para quem está à procura de aprender mais sobre o campo da Astronomia.

A presidente da secção, Inês de Castro, descreve a sua experiência nos cinco anos de associada como “única e repleta de aprendizagem, com projetos técnicos e conhecimento sobre Astronomia”. A SAC/AAC foi fundada em 1989 por estudantes interessados no campo. Hoje desenvolve diversas atividades como: observações noturnas, observações solares, círculos de

palestras com investigadores da área, projetos técnicos e um podcast com outros membros.

“A secção é única dentro da casa e traz uma multidisciplinaridade fundamental para a AAC", afirma a presidente da SAC/AAC. No âmbito académico, a estrutura contribui como um lugar de aquisição de conhecimento prático para os estudantes com as suas atividades, além de ser aberto para qualquer pessoa participar. Para os estudantes de Física, Engenharia Física e áreas relacionadas que estão à procura de um mestrado no âmbito espacial, a UC oferece o Mestrado em Astrofísica e Instrumentação para o Espaço. Este curso tem como objetivo proporcionar as ferramentas necessárias para os estudantes adquirirem experiência sobre a Astrofísica atual, assim como atividades no domínio do espaço.

Supercomputador Navigator enriquece ciência na UC

Ferramenta permite processamento de dados complexos. Docente salienta importância do sistema para desenvolvimento económico.

- POR SOFIA RAMOS -

Um supercomputador é constituído por vários computadores unidos “a trabalhar em conjunto para resolver problemas complexos”, explica Pedro Vieira Alberto, diretor do Laboratório de Computação Avançada da Universidade de Coimbra (UC).

O Navigator, instalado na UC em 2019, integra mais de 180 servidores e veio permitir o desenvolvimento de conhecimento em diversas áreas.

“Quando um estudo envolve sistemas ou processamento de dados complexos precisa desta ferramenta”, elucida o investigador. Ilustra que certas questões requerem a análise de muitos dados, na ordem de ‘terabytes’ e ‘petabytes’, que não poderiam ser analisados se não por um supercomputador. Uma destas áreas é, por

exemplo, a previsão do tempo a longo prazo, devido à abundância de fatores a considerar. Nos dias de hoje, são vários os estudos que utilizam o Navigator como ferramenta, desde análise de moléculas biológicas, propriedades de materiais e até propagação de fogos. Dos projetos a serem desenvolvidos, o diretor destaca o estudo do reconhecimento de formas e objetos pelo cérebro, levado a cabo por Jorge Almeida na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, no qual os servidores processam imagens cerebrais permitindo encontrar padrões.

Outra vertente que os supercomputadores permitem explorar é a Inteligência Artificial. É possível “acoplar com a simulação dos métodos matemáticos” e tentar descobrir padrões nessa

análise, ilustra Pedro Vieira Alberto. “Os programas de análise que se utilizam já são bastante realistas e permitem prever, com muita exatidão, o que acontece na realidade”, assegura. Este recurso é de alta importância na Europa, “não só pela investigação científica e descoberta de algo novo, mas também pelo impacto económico”, informa o docente. Refere um projeto desenvolvido em parceria com uma empresa da Marinha Grande, onde pretendem demonstrar que, com a utilização do supercomputador, é possível “desenvolver produtos melhores e mais rápido”. Garante assim que tecnologias como o Navigator “não só tem impacto científico e em áreas sociais mas também tem um eventual impacto na economia”.

16 18 de abril de 2023 CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Hospital Universitário investe em serviços de urgência mais práticos

Unidade

- POR ANDREÍNA DE FREITAS -

OCentro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) está a realizar a ampliação dos serviços de urgência do pólo principal. As obras vão custar sete milhões e quinhentos mil euros, as quais foram adjudicadas a uma empresa espanhola. Prevêse que os trabalhos estejam concluídos em junho de 2024.

A ampliação é uma “requalificação e remobilização, sobretudo, do aspeto funcional dos serviços de urgência” comunicou o diretor clínico do CHUC, Nuno Deveza. Segundo este, “a urgência está antiga e mal dimensionada” face ao grande número de pacientes que recorrem aos serviços, na sua maioria pessoas idosas com problemas de mobilidade. Além disso, aponta para a “falta de distanciamento necessário entre pessoas para evitar que haja infeções e outro tipo de complicações”.

Durante a requalificação, os serviços de ur -

gência vão continuar funcionais, o que representa, para o diretor clínico, o maior desafio , pois requer “soluções dinâmicas e proativas”, como reaeslocar espaços do serviço. Nuno Deveza clarificou ainda que as obras vão decorrer em sete fases, em que cada uma supõe a conclusão da anterior e, à medida que elas avançam, os espaços vão ser disponibilizados. Em termos funcionais, o médico explicou que os serviços de urgência funcionam em “setores por especialidade”. Isto significa que, se o doente precisar, deve deslocar-se pelos diversos espaços para ser observado. Porém, com a requalificação, os pacientes vão passar a estar localizados “em áreas de acordo com a sua complexidade clínica”, onde os diferentes especialistas vão assisti-los. Este novo circuito vai ser, nas palavras de Nuno Deveza, “mais confortável, seguro e rápido para os utentes”. Entre outras alterações previstas com esta reforma, está

planeada a ampliação da sala de emergência e a adição de um quarto de isolamento, que, com a pandemia, “revelou-se uma necessidade”.

Para o diretor clínico, esta remodelação não é representativa da situação precária do Sistema Nacional de Saúde (SNS), visto que o “problema tem a ver com as urgências serem a porta de acesso dos doentes”. Segundo Nuno Deveza, em 2022 entraram por volta de 182 mil pessoas na urgência geral dos CHUC, o que corresponde a uma média de 500 pacientes por dia.

Esta afluência causa o mau funcionamento dos serviços, “que não proporcionaram o atendimento correto”, e a sobrecarga dos profissionais de saúde, destacou o diretor. Todavia, o médico sublinhou que pode haver por parte dos lares e unidades de cuidados continuados uma melhor capacidade de resposta interna, porque “há cuidados de saúde que podem ser dados por eles aos doentes”.

CMC pretende construir residência estudantil na baixa

A

Câmara Municipal de Coimbra (CMC) tem o intuito de investir cerca de 15 milhões de euros para renovar e disponibilizar imóveis na baixa. Este montante representa 25 por cento dos 60 milhões de euros cedidos à autarquia no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. Para o presidente da câmara, José Manuel Silva, esta proposta “vai representar um forte contributo para trazer novas famílias à Baixa e impulsionar a revivificação”.

A construção de uma residência universitária é vista com bons olhos pelo executivo, já que vem dar resposta a uma das carências do município, comenta José Manuel Silva. Esta habitação estudantil não vai ser integrada nos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) e vai estar disponível para acolher estudantes do ensino superior com uma

“exploração financeira autossustentável”, como explica o autarca. Segundo o presidente da câmara, a retórica nacional de aumentar a oferta de residências estudantis não se tem verificado quando o assunto é Coimbra.

A câmara aguarda, desde o ano passado, a autorização do Ministério das Finanças para que o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) possa atribuir uma verba de cerca de 600 mil euros para que a CMC consiga dar início às obras. José Manuel Silva afirma que foi realizado um apelo público ao ministro das finanças, Fernando Medina, no que toca ao despacho da autorização, pois é intuito da CMC “iniciar o mais rápido possível a construção desta residência de estudantes na baixa da Cidade”.

O Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado em Reabilitação Urbana Coimbra Viva I, também conhecido como Fundo Coimbra

Viva, é a iniciativa pela qual a autarquia planeia realizar o empreendimento. As atividades iniciaram-se em 2011, com dedicação exclusiva à reabilitação da baixa conimbricense, e tiveram como ponto de partida as imediações da Rua da Moeda e Rua Direita. Esta iniciativa é gerida pela Sociedade FundBox, e conta com investimentos da CMC e do IHRU.

A localização desta primeira residência universitária municipal está definida para a Rua João Cabreira e para a Rua da Nogueira, nas proximidades da Loja do Cidadão. O planeamento camarário também inclui a aquisição de mais imóveis na região da baixa para a instalação de outras residências universitárias, bem como uma sala de estudos de funcionamento contínuo de 24 horas.

17 18 de abril de 2023 CIDADE
hospitalar vai continuar funcional durante obras. Nuno Deveza destaca que urgências representam porta de acesso ao SNS para doentes.
Executivo aguarda resposta do Ministério das Finanças. Projeto da autarquia não vai estar integrado nos SASUC.
- POR LUÍS GONÇALVES

São tascas de Coimbra, com certeza

- POR ANA CARDOSO E CAROLINA SILVA -

Ao chegar a Coimbra, seja-se estudante ou trabalhador, encontra-se, desde logo, um perfume vindo das ruas estreitas com pouca luz, mas com uma união e magia que os fazem deslocar no tempo carregado de mil saudades. As tascas desta cidade são vistas como um “batismo” para quem estuda em Coimbra “ao deixar um pouco delas em todos que por lá passam”, concordam os proprietários da Casa Pinto, Zé Manel dos Ossos e Taberna Casa Costa.

Pela Alta coimbrã, a conviver durante décadas, encontra-se no extremo da Rua do Cabido

a Casa Pintos, fundada por trespasse em 1978 por Luís e Adelina Pinto, poucos meses após o casal regressar de Moçambique. Com o intuito de dar uma vida melhor às suas filhas, o casal começou por confeccionar pequenas refeições e petiscos para os funcionários da universidade e dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que, de forma gradual, foram substituídos por estudantes.

Nas paredes desta casa, com meia dúzia de mesas, ficaram testemunhos da passagem de muitos, desde fotos a recortes de jornal ou até desenhos e pinturas, algumas delas a evocar

o tempo passado nesta taberna. Por cima do balcão, veem-se também bandeiras desfraldadas e dezenas de pontas de gravatas negras, que testemunham a passagem de estudantes a festejar o rasganço da Capa e Batina quando terminam o curso.

Além das várias obras gravadas nas paredes, Álvaro Amado, responsável pela Casa Pintos desde 2013, designa outro ritual obrigatório desta tasca, que passa pelos essenciais ‘packs’ de “traçadinho” e “abafadinho”, batizados pelos estudantes. O atual dono do estabelecimento partilha ainda alguns “momentos especiais, como quando o autor António Fonseca fez lá a recitação d’Os Lusíadas durante algumas noites, ou a recente homenagem a Cesário Silva".

Ao descer pelo quebra-costas até à baixa, chega-se ao Beco do Forno e aí é possível ver a rua escura que esconde uma tasca com meia dúzia de mesas, iluminação ténue e o letreiro onde se pode ler Zé Manel dos Ossos. José Manuel Ribeiro Franco estabelece-se, em 1958, numa “tasquinha sem mesas que tinha só um balcão” até que, “farto de aturar boémios”, o fundador desta casa decide servir petiscos e refeições, em especial os famosos ossos.

Rui Ferreira, colaborador nesta tasca, revela como é trabalhar no restaurante e com o seu público: “chega a uma certa parte do trabalho que o cliente é a nossa família”. Este negócio concebe ainda pratos tradicionais com um toque único, como feijoada de javali, arroz de feijão com costeletas, carne de porco e enchidos, entre outros.

Em 2018, o fundador deste restaurante fa-

18 18 de abril de 2023
Tabernas da cidade confundem-se com “saudade” e fazem de Coimbra uma eterna viagem de costumes académicos. Zé Manel dos Ossos, Casa Pintos e Taberna Casa Costa são lugares cujos proprietários chamam de casa.
CIDADE
Foto 2: Casa Pintos Por Carolina Silva Por Carolina Silva

leceu, o que fez com que os seus colegas, José Mário Simões e Rui Ferreira, assumissem o funcionamento do estabelecimento, uma vez que “eram os mais velhos” e sabiam como a “casa funciona". Em março de 2023, José Mário Simões também faleceu, o que fez com que Rui Ferreira assumisse o cargo para manter a tasca. No futuro desta casa, o responsável espera continuar o caminho feito até agora com “boa comida, serviço e saúde”. Os trabalhadores Rui, Jorge, “Carlitos” e, por vezes, Catarina, partilham o pensamento de que “toda a gente gosta do Zé Manel dos Ossos, desde o juiz até ao pedreiro, e também os turistas”.

Outro dos pontos de paragem para os estudantes é a Taberna Casa Costa. Hoje, é um restaurante onde amigos se juntam para almoços e jantares, acompanhados de um espírito de convívio. No entanto, nem sempre foi assim. A 14 de julho de 1930, nasceu em moldes diferentes dos atuais: havia vinho e petiscos, mas também carvão, carqueja, petróleo e outros bens essenciais para o dia a dia na época. “Vendia-se um bocado de cada coisa”, conta o proprietário, Manuel da Costa Gonçalves.

Durante vários anos, o avô e a mãe de Manuel da Costa Gonçalves estiveram à frente do negócio, até 1990, quando as rédeas passaram para ele. Aí, passou a ser apenas uma taberna de petiscos e comida regional, com um conceito tradicional que se mantém até hoje, explica o responsável.

Uma tradição mencionada é a de receber os caloiros que saíam à noite e lá encontravam refúgio das trupes para se esconderem dos douto -

res. Desde que se lembra, há sempre estudantes a frequentar o espaço, mas esta casa não se faz só deles. São também frequentes as visitas de construtores civis, guardas prisionais, turistas, entre outros.

Este público variado e as amizades que ficaram ao longo de mais de 40 anos são fruto da forma como os clientes são tratados, da paciência que têm e da boa disposição. De acordo com o dono, os preços que praticam, conjugados com o bom atendimento, são o segredo para o sucesso. Manuel da Costa Gonçalves espera, um dia, poder passar o legado aos filhos, que, de mo -

mento, fazem parte da equipa. Para o futuro, deseja que se mantenha a “ligação que têm com os clientes, o carinho e a vontade”, até porque “só os clientes podem definir esta casa”. Estas tascas, vistas como casa, estão marcadas por vivências singulares: três lugares diferentes, mas acarinhados por todos, e, em específico, pelos estudantes. Na base deste sentimento estão fatores comuns, referidos pelos proprietários, como o trabalho árduo, o gosto que têm pelo que fazem e a atenção que dedicam aos clientes, que chegam a ser considerados família.

19 18 de abril de 2023 CIDADE
Carolina Silva Foto 3: Taberna Casa Costa
Foto 2: Zé Manel dos Ossos
Por
Por Carolina Silva

CABRA DA PESTE REI SOL I

JOSÉ MENTES SILVA I – O REI SOL, Mata-Plátanos de Coimbra, Vereador da Cultura Sem Trabalho Atribuído, Principal Patrocinador de Rallys na Figueira da Foz, Coordenador-Geral de eventos à terça-feira, Estivador-Mor dos Parquímetros e Multímetros da Cidade, Credeniador Desacredita das Repúblicas de Coimbra, Jardineiro-Chefe do relvado Estádio Cidade de Coimbra, Bastonário do Facebook, Primeiro Fileiro dos Coldplay, Burro perante a Praxe, tal tal e tal….

20 18 de abril de 2023
- POR PEDRO MENDES -
ESPAÇO PATROCINADO PELO MCV CABRA DA PESTE
- PELO CONSELHO DE VETERANOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA - MAGNUM CONSILIUM VETERANORUM -
“Eu sou a Lei, eu sou o Estado, o Estado sou eu!”

CARTAS À DIRETORA

segunda-feira, 11 de abril de 2023

'Xora diretora, hoje dirijo-me com uma nova perspectiva para nós jovens, na esperança de um futuro melhor.

Permita-me escrever-lhe uns versos.

A utopia do amanhã...

Amanhã, gostaria de acordar de um sonho profundo.

Gostaria de acordar num mundo verde, com um céu azul, onde os Homens, pudessem viver sem limites...

onde pudesse encontrar paz.

Gostaria de sair de casa, ir até uma esplanada, beber um bom vinho, e conversar sobre a união das nações e não

sobre a guerra.

Gostaria de acordar e perceber que o mundo onde hoje sonho, mudara, onde as nações fossem respeitadas e compreendidas, onde as armas fossem nada mais do que a sabedoria.

Gostaria de acordar num mundo em que a história não fosse cíclica, onde a guerra e a fome, já não existiria. Num mundo que não fosse igual a um de ontem e como vai estar de certo depois de amanhã.

Mas para já, contento-me em tentar mudar o pequeno meio onde hoje vivo.

Post scriptum: Lutemos pela paz, e não nor -

malizemos velhos hábitos de soberania, vivamos com a esperança de dias melhores e com a certeza de que tudo fizemos para isso. Os Jovens de hoje, serão os responsáveis do amanhã.

domingo, 10 de abril de 2023

'Xora Diretora, e os "estudantes-viajantes", que é deles? Nem vê-los?

Atenção que escrevo isto do assento do comboio, portanto tenho, a meu ver, qualificações para falar sobre estas matérias. Ora, a contar desde o início do ano, quantas greves terá a Comboios de Portugal (C.P) feito? Umas três, a contar com a que se iniciou em abril. A quantos dias úteis de aulas é que isso corresponderá? Difícil contagem. Pois lhe digo que corresponderá a cerca de trinta e um dias findo este mês, mais coisa menos coisa. Assim que sinto que viajo em regime de luxo, do quão imprevisível é a realização (ou não) destes transportes. Atenção que não colocamos em causa de modo algum os direitos destes trabalhadores a exigir o seu direito de greve, longe disso. O que mais nos custa nesta situação é sentirmos que raramente nos vemos representados no seio da academia, que se esquece por vezes que nem todo o estudante pode residir na localida-

de onde estuda. Somos (a nosso ver) membros tão valiosos como os nossos conterrâneos universitários que aqui temporariamente residem para a AAC e para o corpo da Universidade de Coimbra. Não temos de dar qualquer tipo de justificações perante os porquês de escolhermos o transporte sobre a opção da habitação estudantil, embora seja de nosso credo que o leitor consiga magicar algumas possibilidades. Custa-me saber que poderemos estar em risco de chumbar a unidades curriculares por faltas, as quais não escolhemos nem tivemos alternativa em dar. Junto dos docentes, bem intencionados, dizem-nos que a secretaria não lhes permite tomar qualquer tipo de medidas relativamente a este problema. Sentimos que não reconhecem que necessitamos de medidas que nos ajudem a não "perder o fio à meada";, por assim dizer. Há dezenas, senão centenas de alunos "infiltrados"; que têm de percorrer dezenas de quilómetros todos os dias para chegar a casa

com recurso a estes serviços. À dificuldade de termos de realizar horas de viagens para chegar a casa, e do mais diminuído tempo que temos para dedicar ao nosso estudo a outro tipo de atividades extracurriculares, acresce-se o facto de nos vermos limitados em poder comparecer às aulas e de decretarem que não há nada a poder ser feito por nós. Pedimos alguma representação nestas matérias, e sensibilização para esta situação. Temos o direito de usufruir da nossa educação com a melhor qualidade possível, pois nela investimos e sobre ela nos esforçamos arduamente. Os tempos do agora têm-se revelado particularmente difíceis e desafiantes para a comunidade estudantil no geral, mas não afetando a generalidade dos estudantes, sentimos que estas situações ficam por se revelar.

Não se esqueça de nós, Xora Diretora!

21 18 de abril de 2023 CARTAS À DIRETORA

CRÓNICAS DO TRODA

Como é que é caloirada?! … mais uma oportunidade para darem um passo no sentido da inteligência e conseguiram (mais uma vez) personificar o “estudante burro e ignorante de Coimbra!”. Como é que é Matias?! Estás há anos sem conseguir ter um assunto caricato onde pegar e agora vês o dia do cortejo ter mudado para a terça, como um bom

pretexto para ganhar visualizações?! Olha que nós achamos que tu ainda és do tempo em que este não era ao domingo! Tão tradicional para umas coisas e tão pouco tradicional para outras! Vanguardismo ou oportunismo?! Irreverência ou estupidez?! Ficam as questões. Caloirada, como é que foi descer a praça com um gajo 15 anos mais velho que vocês a fazer-

vos gritar coisas que nem vocês sabem bem o que significam? … parecia uma homília para o Parque da Canção, em que o Dux fazia de padre e esperemos que vocês não tenham acabado como tantos outros: “caloiros de quatro!».

Isto tudo com jeitinho ainda tinham acabado em paso doble para o Centro de Estudos Sociais que também não perde uma boa oportunidade para apontar o dedo e quando depois se vai a ver….zau: também chupam os dedos no final dos jantares enquanto rebarbam para os mamilos das novatas bolseiras da FCT. Alegadamente, claro está!

Bem, a Pitagórica está a organizar o evento do ano. PITA SANITA SOUND. O que é? Mais uma boa oportuniade para o Dux nos vir f*der a cabeça; chatear mais umas caloiras vangloriando-se pelo facto (triste) de ser Dux, e no fundo… apanharmos todos uma grande jarda com o dinheiro que restou da Queima das Fitas. O Míssel conseguiu a proeza de fazer uma Queima com lucro e nada, nem ninguém, melhor que nós para pegarmos no mesmo e pumba, pumba, pumba… rebentarmos com isso numa noite no Jardim da Sereia.

Ficam todos convidados menos o Dux, esse pode ficar em casa!

Um abraço especial ao homem do momento e que nunca se esqueçam, um “não” é só um “sim” que precisa de ser trabalhado!

ÉXTÉGUES DA ISABEL

"Já chega bebé", diz a dona para o seu cão, um rafeiro calmeirão que gosta de se fazer notar a quem passa

#hávidanestacidade cabreando por aí...

22 18 de abril de 2023 SOLTAS
- POR ORXESTRA PITAGÓRICA -

Eco-Ansiedade Vs Resiliência

- POR JÉSSICA SÁ - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

Os impactos das Alterações Climáticas na saúde são um tópico cada vez mais pesquisado: Alergias (mudanças nos ritmos anuais das espécies), nutrição (ex: maiores níveis de ozono nas plantas), possibilidade de doenças infeciosas (migrações de espécies), as mais diretas consequências da poluição do ar, etc. Neste sentido, também as suas ligações com a Saúde Mental são cada vez mais pensadas. Eis que surge o conceito de “Eco-ansiedade”. Uma publicação da American Psychological Association com o título “Mental Health and our Changing Climate” define-a como “O medo crónico da ruína ambiental”, mas tal afirmação ter significados diferentes para pessoas diferentes. A percepção de um sentido de Estabilidade é uma base fundamental para uma mente saudável, na qual apoiamos a nossa sobrevivência e decisões de vida. Há muitas ‘Estabilidades’: Financeira, alimentar, habitacional, etc. A questão é que vivemos num período de Desestabilização Climática que coloca

estas e outras em risco. Há diferentes formas dos mecanismos climáticos afetarem alguém emocionalmente: Possibilidade de ser afectado, direta ou indiretamente, por desastres naturais; Temperaturas mais altas estarem ligadas a maiores níveis de stress; Perda de lugares importantes; Migrações e consequências nas comunidades; Enfraquecimento de estruturas e de comunidades pela perda de recursos; entre outros que são consequência destes. A tal “eco -ansiedade” poderá advir do medo de experienciar estes ou outros no futuro do próprio ou de futuras gerações.

Não há soluções fáceis. Gerir a “eco-ansiedade” é algo complexo quando há consenso científico para as consequências da inação climática (IPCC). É aqui que entra o conceito de Resiliência. A nível individual, muitas pessoas relatam que ler sobre e passar a compreender o fenómeno das alterações climáticas as ajuda a fazer sentido da situação e por vezes até as motiva a mudar o estilo de vida. Nas comunidades,

OBITUÁRIO

- POR CABRA

COVEIRA -

Everything is New, menos a minha desilusão. 440 mil para os Coldplay? Top, estamos todos fartos de fado. Viva la Vida Louca!

Os estudantes foram mandados pastar à terça-feira. Mas olhem que se derem esses 440 mil paus à AAC, até se mete o Chris Martin a servir nas Cantinas Azuis. O resto da banda vai às Cantinas Yellow. Eles tem é de levar capacete...

Não sei se o Sr. Presidente se apercebeu, mas mais uns tostões pagavam o empréstimo aos Fantasmas e à Rapo-Taxo. Mas este betinho claramente nunca bateu crânio durante um Rapo-Fest.

Realmente, teria sido golpe de génio colocar Kevinho e Coldplay no mesmo line-up. Oh , Míssil, andas a dormir...

Já que é para valorizar a Cidade, isso significa que os estudantes podem entrar à borlieu no Estádio se forem de Capa e Batina, né? Eles não saem de Coimbra sem ter ido ao Pintos ou aprendido a mandar um FRA.

saber que há apoios (quer entre vizinhos quer governamentais) e infraestrutura preparada para lidar com eventuais problemas ajuda as pessoas saber o que fazer (por exemplo, edifícios seguros para se estar quando a temperatura chega a perto de ou excede os 50ºC).

Numa perspetiva ativista, algumas pessoas relatam experienciar que as comunidades às quais pertencem também podem fazer a diferença entre essa pessoa sentir que não tem voz no mundo e que está à beira da ruína e entre ter a motivação para continuar a fazer o que faz a partir do propósito comum de todos independentemente de outras ideologias distintas, criando-se um sentimento se estabilidade providenciado por uma comunidade de apoio. O desafio que temos em frente, muito a nível social, é o de semear resiliência a partir de sistemas de apoio a nível global quer consigamos ou não manter-nos nos 1.5ºC.

23 18 de abril de 2023
* A Cabra Coveira também se demite, em solidariedade para com os membros da ARE. Fui AREar o calhau.
SOLTAS

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Editorial

Em abril, esperanças mil

Omês de Abril, quando chega, traz consigo várias coisas. Traz o início do calor e a brisa primaveril que tanto impele as pessoas a ir para a rua e aproveitarem do bom tempo, prelúdio de um verão que se encontra a espreitar. Mas não é só. Com Abril, vem o sentimento de não deixar morrer nos ecos da memória coletiva o grito daqueles que não aceitaram remeter-se ao silêncio, que foi imposto por um regime opressor. Ao chegar este mês, libertam-se os gritos que, durante décadas, foram sufocados por esta amordaça, que tanto matou o povo português.

Abril pertence aos que, por razões maiores que eles, abdicaram da juventude para travarem uma luta que viria a transformar a vida de todo o país. Aqueles que chamamos hoje de

heróis eram iguais a nós, jovens, estudantes, que não pediram para serem a força motriz de uma revolução que nos traria a liberdade. E ainda hoje não lhes é dado o devido reconhecimento, nem nos questionamos o que tiveram de abdicar, ou as sequelas que esses tempos conturbados lhes deixaram.

Para todos os que foram presos, torturados e assassinados em nome do monstro do fascismo, é importante que façamos das nossas vidas um eterno memorial da herança dos valores de Abril. Aos que sacrificaram as suas vidas em prol de eu poder estar a escrever estas palavras, não há nada que se possa dar em troca daquilo que se recebeu: a esperança de acordar e poder gritar LIBERDADE.

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Rua Padre António Vieira, 1

300-315 Coimbra

Diretora Joana Carvalho

Equipa Editorial Luísa Macedo Mendonça & Simão Moura (Ensino Superior), Raquel Lucas & Ana Filipa Paz (Cultura), Larissa Britto & Fábio Torres (Desporto), Eduardo Neves & Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Daniel Oliveira & Sofia Variz Pereira (Cidade), Gabriela Moore & Sofia Ramos (Fotografia)

Colaborou nesta edição Lucília Anjos, Ana Cardoso, Frederico Cardoso, Joana Carvalho, Matilde Dias, Gustavo Eler, Daniela Fazendeiro, Andreína de Freitas, Luís Gonçalves, Raquel Lucas, Luísa Macedo Mendonça, Sam Martins, Sofia Moreira, Simão Moura, Eduardo Neves, Mariana Neves, Ana Filipa Paz, Maria Inês Pinela, Sofia Ramos, Luísa Rodrigues, Marijú Tavares

Conselho de Redação Luís Almeida, Tomás Barros, Inês Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva

Fotografia Tomás Barros, Raquel Lucas, Luísa Macedo Mendonça, Raquel Lucas, Luísa Rodrigues, Tiago Paiva, Carolina Silva

Paginação Fábio Torres

Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A. Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Tiragem 2000

Manifestação anti-propina em 1992. Arquivo da Secção de Jornalismo

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