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aquelas dos coletivos de artistas, podem ser vistas como estratégias de enfrentamento das restrições e dos gargalos do sistema de arte. (OLIVEIRA, 2014, p. 69). Deste modo, ao pensarmos a singularidade dos eventos como os do Aterro do Flamengo, do MAC/USP, do MASP e até mesmo os do MAM Rio, podemos enxergálos como modos de resistência também ao sistema de arte. Para Léger, ao deixar seu ateliê em busca de espaços outros para sua produção de arte, esses/as artistas encontram contextos outros que carreiam questões que se recusam a ser antecipadas mesmo por mentes criativas como as desses/as artistas. “ o deixar seu ateliê, lugar identificado tradicionalmente com a criação de objetos de arte, e ao articular seus projetos plenos da imaterialidade dos encontros com outros, esses/as artistas revelam a recusa em prover o mercado de arte com novos objetos”. Segundo o autor, esses/as artistas atacam igualmente um dos pilares desse mercado com práticas que propõem a subtração da autoria como tradicionalmente tem sido tratada e valorizada pelo sistema de arte. Os projetos de arte desenvolvidos a partir desses encontros tendem a estampar autorias fluidas de processos que raramente resultam em objetos de arte a ser cobiçados pelo mercado. Vale lembrar também que o mercado de arte no Brasil nos anos 1960 e 1970 ainda não abarcava a produção experimental. Diante disso, escolhemos exemplos emblemáticos da historiografia artística brasileira para elucidarmos melhor sobre essa ideia de arte, educação e espaço público. Não se trata de um levantamento totalizante, o motivo pela escolha ocorreu devido a facilidade de registros encontrados e afinidades entre aproximações conceituais e geográficas.
2.6 Arte no Aterro: um mês de arte pública (1968) O evento “ rte no aterro — um mês de arte pública”, segundo Gogan (2017, p.254), parte do porto recuperado e fundamental para a expansão modernista da cidade na década de 1950, o Aterro, como Frederico (1975, p.65) anota, pode ser considerado uma extensão do museu. A exposição pública Arte no Aterro: um mês de arte pública, ocorrida em 1968, em que mesmo sendo promovida de modo institucionalizado ocupou espaços não convencionais no campo artístico comum à época, e que a ideia de participação explodiu em diversas ações que assimilavam a estrutura de jogo. Para Francisco Dalcol (2018, p.134), trata-se de “ rte no aterro — um mês de arte pública”, o evento que Frederico Morais promove novamente com patrocínio do Diário