Revista Kéramica n.º 368 Janeiro / Fevereiro 2021

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KÉRAMICA revista da indústria cerâmica portuguesa

Publicação Bimestral €8.00

nº368

Edição Janeiro/ Fevereiro . 2021

DESCARBONIZAÇÃO


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de 22 a 26. 3. 2021

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Index

Editorial . 03

Energia . 24 A Importância do Hidrogénio Verde na Descarbonização da Indústria Cerâmica em Portugal

Destaque . 04

Secção Jurídica . 29

Descarbonização da indústria: pilar para a neutralidade climática

O Poder Disciplinar do Empregador

Descarbonização . 07 07 Descarbonização da Indústria Rumo à Neutralidade Carbónica 15 Descarbonização na Arch - Valadares

Associativismo . 31 A Criação do Núcleo de Aplicadores de Cerâmica

Transição Energética . 10

Entrevista . 33

As Renováveis no aumento da competitividade da Indústria Cerâmica Nacional

À Conversa com o José Martos, CEO da Saint-Gobain Portugal

Neutralidade Carbónica . 12

Notícias & Informações . 40

12 A Pegada em Recursos da Neutralidade Carbónica 21 Neutralidade Carbónica e a Indústria Portuguesa – Elementos de Leitura

Sustentabilidade . 18

40 Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas 44 Outras Notícias

Calendário de eventos . 48

18 O Caminho para a Sustentabilidade 26 A Odisseia das Empresas Portuguesas Rumo à Sustentabilidade

Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023 Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício C 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt Tiragem 500 exemplares Diretor Marco Mussini Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Marco Mussini, Martim Chichorro e Susana Rodrigues Capa Nuno Ruano

Colaboradores Ana Paula Rodrigues, Albertina Sequeira, Celso Pedreiras, Filomena Girão, Francisco Ferreira, Henrique Barros, Isabel Maia e Silva, João Loureiro Rodrigues, João Wengorovius Meneses, José Rocha Ferreira, Júlia Seixas, Manuel Ferreira Ramos, Marta Frias Borges, Pedro Amaral Jorge, Pedro Martins Barata, Sofia Simões e Susete Soares Paginação Nuno Ruano Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números); Portugal €32,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00 Versão On line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal Notas Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores. Esta edição vem acompanhada da revista Técnica n.º 7 Janeiro / Fevereiro 2021 (CTCV)

Índice de Anunciantes CERTIF (Verso Contra-Capa) • INDUZIR (Página 45) • ISH (Verso Capa) • Saint-Gobain (Contra-Capa) • Saint-Gobain (Página 35) • SEW Eurodrive (Página 1) Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem Publicação Bimestral nº 368 . Ano XLVI . Janeiro . Fevereiro . 2021

Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php

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Editorial

DESCARBONIZAÇÃO O mundo vive hoje confrontado com uma situação delicada associada ao que os especialistas classificam de alterações climáticas, provocadas pelo aumento da concentração na atmosfera de gases com efeito de estufa, com destaque para o dióxido de carbono (CO2), resultante da combustão de combustíveis fósseis. Nos últimos anos a Europa tem mundialmente assumido a liderança das políticas do ambiente, da energia e do clima, tendo conseguido reduções significativas das suas emissões de gases com efeito de estufa, contribuindo assim para a sua descarbonização. Essas emissões europeias representam hoje cerca de 10% das emissões totais, contudo as emissões mundiais não têm decaído como era desejável, o que certamente evidencia que muitas dessas suas emissões foram deslocalizadas para outras geografias. Ora, a resolução global dos problemas relacionados com as alterações climáticas só é possível quando enfrentados e resolvidos de forma coordenada e justa, por todas nações. Visto num contexto global, parece-me ousada a decisão europeia de fechar as suas centrais termoeléctricas a carvão, enquanto, por exemplo, a China e a Índia continuam a ampliar as suas capacidades de geração a partir desse combustível fóssil. Neste capítulo, o que se passa em Portugal é paradigmático. Portugal decidiu antecipar para o ano 2021 o encerramento de todas as suas centrais a carvão, contudo há outros países europeus, por sinal bem mais ricos, que pretendem manter as suas em funcionamento. É incompreensível tamanha ambição, sabendo-se que as nossas emissões de gases com efeito de estufa representam cerca

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de 1,5% das emissões europeias. Se, amanhã, Portugal deixasse de emitir gases com efeito de estufa, a sua contribuição para a melhoria climática do planeta não representaria mais do 0,15% das emissões mundiais! O Plano Nacional Energia e Clima que Portugal aprovou, mostra uma visão estratégica ambiciosa, com indicadores e metas que superam em muito, as que a União Europeia apresentou no seu Pacote Energia Limpa para todos os Estados Membros. Agora, com a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, Portugal insiste em assumir a liderança europeia, na produção de hidrogénio “verde” parecendo querer ignorar as consequências, para os consumidores, provocadas pelos actuais elevados preços de produção desse gás. Como é facilmente demonstrável, a incorporação de hidrogénio nas redes de gás natural, conduzirá inevitavelmente ao agravamento do preço, por unidade de energia consumida. O sector cerâmico, sendo o maior consumidor de gás natural da indústria transformadora, irá sofrer as consequências da implementação destas imprudentes políticas, indo perder competitividade e sustentabilidade. A produção de hidrogénio através da electrólise da água é uma tecnologia em crescente evolução, pelo que seria aconselhável e prudente que, um país pobre como nós aguardasse pelo seu desenvolvimento para então investir nesses futuros sistemas de produção de gases renováveis. Num passado recente Portugal cometeu erro idêntico ao apostar em tecnologias, imaturas e caras (eólica e solar), de produção de electricidade a partir de fontes renováveis intermitentes com tarifas garantidas, que geram enormes sobrecustos, contribuindo assim para preços de electricidade dos mais altos da Europa. Portugal, país com graves problemas de sustentabilidade económico-financeira, deveria ser mais prudente e menos voluntarista nestas matérias, promovendo antes sim políticas em prol do seu desenvolvimento, apoiando e fomentando a criação de empresas produtoras de bens e serviços transaccionáveis, isto é, gerando riqueza. Não pondo em causa a necessidade da promoção da descarbonização das sociedades e das economias, julgo contudo que as políticas ambientais, energéticas e climáticas europeias e mundiais, para produzirem os efeitos globais desejados, terão de ser concertadas e justas. Nenhum país conseguirá, isoladamente, resolver o problema climático do planeta!

Celso Pedreiras (Engenheiro, Administrador da Coelho da S i l v a , C o n s e l h e i r o d o C E N E d a C I P, C o n selheiro do CT da ERSE)

Editorial . Kéramica . p.3


Destaque

DESCARBONIZAÇÃO DA INDÚSTRIA: PILAR PARA A NEUTRALIDADE CLIMÁTICA

p o r Jú l i a S e i x a s, P r o fe s s o ra n a FCT NOVA 1 e Fr a n ci sco Fe r r e i r a , P r o fe s s or n a FCT NOVA 1 , P r e s i d e nt e d a Z E RO 2

das emissões em pelo menos 55% entre 1990 e 2030, consubstanciada no Plano Nacional de Energia e Clima para 2030 (PNEC 2030) e (b) atingir a neutralidade carbónica em 2050. Outros objetivos pertinentes do Pacto incluem o fornecimento de energia limpa, a mobilização da indústria para uma economia circular, a construção e renovação eficiente na utilização de energia e recursos, e ainda a ambição de poluição zero por um ambiente livre de substâncias tóxicas. O PRR será um instrumento fundamental de investimento na próxima década, onde Portugal excede em 10% o objetivo mínimo de 37% relacionado com a transição climática, com um foco muito grande na descarbonização. Convém realçar que muitos outros países fora da Europa3 assumiram o objetivo da neutralidade climática, incluindo a China para 2060, aspeto fundamental para garantir condições de equidade na competitividade da indústria europeia e nacional.

1 Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa – https://eciu.net/netzerotracker 2 ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável

3 https://eciu.net/netzerotracker

Júlia Seixas

-

Francisco Ferreira

-

Professora FCT NOVA

Professor FCT NOVA, Presidente da ZERO

As múltiplas crises ambientais que a União Europeia enfrenta, num mundo altamente interligado, precisam ser abordadas por políticas horizontais – o Pacto Ecológico Europeu, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o 8º Programa de Ação Ambiental, o Quadro Financeiro Plurianual e o Pacote de Recuperação e Resiliência (PRR) – e também por políticas temáticas específicas e comerciais. O Pacto Ecológico Europeu é uma grande oportunidade para responder às ameaças existenciais de degradação do clima, perda de biodiversidade e poluição, incluindo riscos de produtos químicos. Constitui a peça central na resposta à crise COVID-19, ajudando a impulsionar a transição da economia para um mundo mais resiliente. A descarbonização da Europa e de Portugal deve ser enquadrada neste contexto, em que se pretende aumentar a ambição de redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para 2030 através da Lei Europeia do Clima, com objetivos finais, ainda em negociação, de (a) reduzi-

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Lidar com as alterações climáticas tem obrigado a mudar a forma como pensamos na sua solução, pelo menos em três aspetos. Não sendo um problema específico a um setor económico, é necessário abordar de forma sistémica todas as atividades económicas e a sociedade, levando-nos a questionar transversalmente modelos de produção e de consumo. Não sendo um problema específico de um país, é necessário ter em conta os esforços de redução das emissões de GEE noutros países por questões de competitividade dos produtos e serviços, bem como os esforços de adaptação e resiliência às alterações climáticas nos países fornecedores, sobretudo a eventos climáticos extremos, que podem pôr em causa a cadeia de fornecimento das indústrias. Não sendo um problema rápido de resolver por mera substituição tecnológica, é necessário considerar perspetivas de futuro, mais ou menos longínquo. A descarbonização das economias requer uma visão de longo prazo, mesmo para lá de 2050, enquanto as metas do PNEC acautelam o prazo de uma década (2030), alinhadas com o objetivo da neutralidade carbónica que se pretende alcançar nos próximos 30 anos (2050). Esta perspetiva temporal é importante para a definição dos ciclos de investimento na indústria. A neutralidade climática coloca a indústria em geral, incluindo a indústria cerâmica, perante desafios estruturais. Bastará a substituição das fontes energéticas fósseis para renováveis? As tecnologias de produção poderão permanecer iguais no essencial, embora mais eficientes, ou terão de ser transformadas? Os mercados de produto final permanecerão iguais, mesmo sabendo que os produtos já são produzidos com baixa intensidade carbónica? Quais os novos produtos a surgir, fruto da inovação e mudança de paradigma dos modelos de consumo e dos novos consumidores? Planear, a prazo, a atividade de um setor industrial intensivo em energia, não é fácil pela incerteza que decorreda fortíssima inovação que se avizinha, seja tecnológica seja de novos produtos substitutos. A opção mais segura é fazer parte deste processo, enquanto agente ativo, orientado por uma visão de longo prazo. Em Portugal, o total das emissões de GEE da indústria, originadas pelo consumo de energia e pelos processos industriais, tem variado entre as 14 e 20 milhões de toneladas de CO2 e anuais nos últimos 28 anos, com uma representação entre 28% e 21% do total das emissões nacionais. A evolução das emissões das duas componentes tem sido em sentido oposto, ou seja, as emissões do consumo de energia têm-se vindo a reduzir (-15,5% em 2018/1990), muito embora em 2019, 75% do total de energia consumida na indústria tenha sido assegurada por energia fóssil (DGEG, 2020),

Figura 1 - Evolução das emissões de gases comefeito de estufa na indústria em Portugal, geradas pelo consumo de energia e processos industriais (eixo da esquerda) e representatividade no total nacional de emissões (eixo da direita). Fonte: Dados APA (2020)

Destaque

enquanto as emissões de processo têm vindo a aumentar (+20% 2018/1990), convergindo para montantes similares a partir de 2013, como se observa na figura. Muito embora a oportunidade para a descarbonização na indústrias eja visível, uma análise mais consequente requer informação detalhada sobre a indústria da cerâmica. As oportunidades variam consoante o tipo de indústria, pelo que o posicionamento da indústria da cerâmica no processo de descarbonização a que está obrigada exigirá a compreensão de vários aspetos. Importará desde logo avaliar o impacto do preço do carbono no mercado europeu de licenças de emissão (CELE) que abrange 32 unidades industriais portuguesas e que, de acordo com a Agência Europeia do Ambiente4, têm recebido licenças gratuitas em número superior ao montante das emissões verificadas até 2019, o que indicia um impacto negligenciável deste instrumento. Importará antecipar o impacto da IV fase do CELE que se iniciou no início deste ano. Será importante avaliar o sector da cerâmica de forma integrada, nomeadamente sobre o potencial de redução das suas emissões, os custos das opções alternativas de redução, do impacto destes custos na competitividade dos seus produtos e a exposição destes a cenários diferenciados de custo de carbono nos mercados de exportação, para além do potencial de inovação que o setor deve tornar visível. O setor da cerâmica é caracterizado pelo uso de fornos de alta temperatura para fazer produtos que vão desde produtos familiares como tijolos, azulejos e louças até produtos especializados como refratários de alta temperatura. Será importante identificar antecipadamente opções de descarbonização até 2050, isto é, combinação de opções tecnológicas (e.g. eficiência energética, substituição de fontes de energia, alterações de processo, novos produtos) para níveis crescentes de redução de emissões, identificando custos de investimento, formação e know-how adicionais, exigência denovos inputs, com o objetivo de

4 https://www.eea.europa.eu/data-and-maps/dashboards/emissions-trading-viewer-1

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Destaque

manter a competitividade internacional. Numa altura em que muitos mercados começam a ficar sujeitos a instrumentos regulatórios para a neutralidade climática, e dada a taxa de cobertura das importações pelas exportações da indústria da cerâmica de 350%verificada em 2019, é crucial antecipar aqueles aspetos. Ao mesmo tempo, convém referir que a prevenção e controlo integrados da poluição têm sido determinantes para todo um vasto conjunto de setores industriais. A Diretiva inicial 96/61/CE, do Conselho, de 24 de setembro de 1996 substituída posteriormente pela Diretiva 2008/1/ CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de janeiro de 2008, têm procurado assegurar a concretização de uma abordagem integrada do combate à poluição. No contexto da indústria cerâmica, foram quase quatro anos entre 2003 e 2007 para a Comissão Europeia e os Estados-Membros, em conjunto com os representantes de organizações não-governamentais da indústria e do ambiente chegarem a um documento de referência das melhores tecnologias disponíveis (MTD), o denominado BREF em Inglês. No processo de revisão do documento de referência sobre as MTD, que está atualmente em curso para o setor da cerâmica, há um conjunto de elementos fundamentais que estão em discussão e que deverão refletir uma maior integração e sustentabilidade rumo à descarbonização e à implementação de uma economia circular. Entre estes elementos, salienta-se: a necessidadede uma análise

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mais abrangente para a cadeia de valor na implementação das tecnologias, incluindo uma perspetiva intersectorial, o reconhecimento da importância das emissões de CO2, procurando identificar e avaliar caminhos para a descarbonização, ou ainda a consideração do consumo específico de energia e a sua origem no sentido de melhorar o seu desempenho, com impactes diretos no esforço de redução de emissões. A redução de consumo matérias-primas, na embalagem dos produtos e na produção de resíduos num contexto de economia circular, é um objetivo também a ter em conta, dada a redução indireta de emissões de CO2 a que pode conduzir A indústria da cerâmica deve conhecer as oportunidades e barreiras que a neutralidade climática lhe proporciona, levando em conta as especificidades das unidades industriais nacionais e os mercados que tem conquistado. Sistematizar informação e conhecimento e antecipar cenários de evolução do setor deve ser o primeiro passo. As medidas previstas no PRR atribui uma verba de 715 milhões de euros para a descarbonização da indústria, nomeadamente para apoiar processos e tecnologias de baixo carbono, medidas de eficiência energética, a incorporação de energia de fonte renovável e armazenamento de energia, a capacitação das empresas e a elaboração de instrumentos de informação. Esta é uma oportunidade fundamental que a indústria cerâmica não pode perder.

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Descarbonização

DESCARBONIZAÇÃO DA INDÚSTRIA RUMO À NEUTRALIDADE CARBÓNICA.

po r Ana Pau la Ro d r i g u e s, A d j u nt a no G a b i ne te do Min ist ro d o Am b i e nt e e d a Açã o C li m á t i ca

Ana Paula Rodrigues Ação Climática

-

Adjunta no Gabinete do Ministro do Ambiente e da

Em 2030 a Europa terá de ter reduzido as suas emissões de gases com efeito de estufa em pelo menos 55%, em relação a 1990 e em 2050 deverá ter atingido a neutralidade carbónica. Estes objetivos só serão atingidos com uma disrupção na forma como a sociedade lida com os combustíveis fósseis, com os recursos naturais e com a natureza. A pandemia veio evidenciar os riscos associados aos desequilíbrios na relação do Homem com a natureza, dando razão aos apelos da ciência para que os equilíbrios sejam restabelecidos. A ciência diz-nos que um aumento da temperatura média do planeta superior a 1,5oC, face aos níveis pré-industriais, pode ter consequências graves e irreversíveis sobre o clima, apelando a

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reduções urgentes e efetivas das emissões de gases com efeito de estufa até 2030. A presente década é por isso determinante para inverter a atual tendência de aumento de emissões. O Pacto ecológico Europeu que consiste na nova estratégia de desenvolvimento para a Europa, tem como objetivo central tornar a europa no primeiro continente neutro em carbono ao mesmo tempo que promove o crescimento, o emprego e a justiça social. Entre as várias iniciativas que este Pacto contempla, destaca-se a primeira Lei Europeia para o Clima que consagra o objetivo europeu de alcançar a neutralidade climática até 2050 e estabelece uma meta revista de redução de emissões de gases com efeito de estufa de “pelo menos 55%”, em relação a 1990, reforçando a ambição europeia em 15 pontos percentuais. Cabe nesta fase à Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia conduzir as negociações com o Parlamento Europeu tendo em vista a sua aprovação. A Comissão apresentou também a nova Estratégia Industrial para a Europa destinada a ajudar a indústria europeia a liderar a dupla transição para a neutralidade climática e a liderança digital e que, entre outras, contempla medidas destinadas a modernizar e descarbonizar as indústrias com utilização intensiva de energia, promover a eficiência energética e garantir um abastecimento seguro de energia de baixo carbono, a preços competitivos. A Comissão Europeia prepara agora o chamado pacote “fit for 55” que consiste na adequação do acervo legislativo europeu às novas metas climática, contemplando a revisão de um conjunto de diretivas e regulamentos em diversas áreas de atividade. Destaca-se o regulamento de partilha de esforços entre os Estados-membros da União Europeia em matéria de redução de

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Descarbonização

emissões e a diretiva relativa ao Comércio Europeu de Licenças de Emissão, que devem refletir esta nova ambição, a assumir tanto pelos Estados como pelas empresas. Portugal está bem posicionado para cumprir com os novos desafios. O país está comprometido em alcançar a neutralidade carbónica até 2050, reduzindo as emissões nacionais em pelo menos 85% até 2050, tendo o Roteiro para a Neutralidade Carbónica identificado a trajetória e as principais linhas de atuação para alcançar este objetivo. Para além disso, o Plano Nacional Energia e Clima 2030 estabelece como metas reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 45% e 55%, em relação a 2005, alcançar 47% de fontes renováveis no consumo final de energia, entre os quais 80% de incorporação de renováveis na produção de eletricidade e 20% nos transportes e reduzir o consumo de energia primária através de ganhos de eficiência energética de 35%. A indústria, que representa a nível nacional, cerca de 22% das emissões de gases com efeito de estufa, é um dos setores especialmente visado neste plano. O PNEC 2030 contempla entre os seus objetivos “Desenvolver uma indústria inovadora e competitiva e de baixo carbono” e identifica as tendências com efeitos na atividade industrial como sejam as alterações nos padrões de produção e consumo, a reorientação da economia para a economia circular e a gestão eficiente dos recursos, a eletrificação, o papel da inovação tecnológica e a plena implementação da Indústria 4.0, apostando na robotiza-

p.8 . Kéramica . Descarbonização

ção e na digitalização. Para operar esta transição, entre as medidas que podem ser adotadas pela indústria contemplam-se a eficiência energética e de utilização dos recursos, a eletrificação, a adoção de fontes de energia renovável, o recurso a gases renováveis como o hidrogénio, a adoção de processos e tecnologias de baixo carbono, a adoção de modelos de economia circular, incluindo o reaproveitamento de recursos, as simbioses industriais ou a adequação dos produtos e serviços visando reduzir a sua intensidade carbónica, ou oferecer produtos alternativos, de baixo carbono. Grande parte destas medidas não serão novidade para a indústria nacional que tem vindo a reduzir a sua intensidade carbónica e energética e a apostar na sustentabilidade. Contudo, apesar dos progressos significativos registados, existe potencial para ir mais longe, tal como identificado no Roteiro para a Neutralidade Carbónica. A inovação tecnológica é fundamental em várias dimensões desta transição, permitindo dar resposta a setores da indústria em que as soluções existentes possam não ser adequadas ou para reduzir os custos das tecnologias de descarbonização, sobretudo as emergentes. Alguns setores têm sido pioneiros na apresentação dos seus próprios roteiros para a descarbonização, identificando para o seu caso particular as medidas mais ajustadas, partilhando boas práticas e promovendo a sensibilização dos agentes envolvidos. Este exercício é

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Descarbonização

fundamental para criar a dinâmica e a capacidade crítica para fomentar o investimento na descarbonização. Este novo enquadramento cria a oportunidade para o desenvolvimento dos setores industriais que se enquadrem na oferta de produtos e serviços necessários à transição para uma economia neutra em carbono, na energia, na mobilidade, nos equipamentos, nas infraestruturas sustentáveis, entre outros. É neste quadro que a Estratégia Industrial Europeia prevê a criação de alianças industriais em setores chave para a dupla transição climática e digital: baterias, plásticos, microeletrónica, hidrogénio limpo, matérias primas, indústrias de baixo carbono e plataformas e cloud, unindo as empresas, os cidadãos e o setor público na resolução dos principais desafios para alcançar estes objetivos, ao mesmo tempo que reforçam a autonomia estratégica da Europa. Prosseguir no caminho da descarbonização é também estrutural para que as empresas reduzam a sua exposição ao aumento dos custos dos combustíveis e das licenças de emissão, no caso de estarem abrangidas pelo comércio europeu de licenças de emissão (CELE). Por um lado, porque há uma tendência crescente para os combustíveis fósseis incorporarem o preço das externalidades ambientais, por exemplo através da taxa de carbono ou da eliminação das isenções fiscais de que atualmente ainda usufruem, por serem consideradas prejudiciais ao ambiente. Por outro, por ser expectável um aumento de preço das licenças de emissão no âmbito do CELE. O preço das licenças de emissão no âmbito do CELE atingiu no mês de fevereiro o valor mais alto de sempre, aproximando-se dos 40 €/tCO2, embora muito abaixo dos preços estimados para 2020. Este instrumento, harmonizado a nível europeu, está finalmente a atingir o nível de preço de carbono capaz de fomentar a preferência por tecnologias mais limpas em detrimento da aquisição das licenças no mercado e a sua revisão será no sentido de acelerar o ritmo de descarbonização. Com o quadro estratégico conferido pelo Pacto Ecológico Europeu, também o financiamento europeu está agora direcionado para dar resposta aos grandes desafios da atualidade, com destaque para a transição climática e digital. O Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 tem como exigência que, em média, 30% do financiamento seja alocado à transição climática. O Instrumento de Recuperação e Resiliência, criado no âmbito do “NextGeneration EU” e que visa apoiar a recuperação económica pós pandemia, prevê uma alocação de 37% do orçamento na ação climática. Simulta-

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neamente, todos os investimentos devem estar alinhados com o objetivo de atingir a neutralidade carbónica e não causar “Prejuízo significativo para os objetivos ambientais” (“Do No Significant Harm”), nos termos definidos no âmbito do Regulamento Europeu para o estabelecimento de um Regime para a Promoção do Investimento Sustentável (Regulamento “Taxonomia”). O acesso ao financiamento poderá assim ficar condicionado ao cumprimento dos critérios definidos nos atos delegados que se sucedem a este regulamento e que, em várias atividades, vai além do nível de exigência da legislação aplicável. O Regulamento “Taxonomia” passará a ser o referencial Europeu para a atribuição de financiamento a investimentos sustentáveis, promovendo a reorientação dos fluxos financeiros neste sentido, desincentivando o financiamento de atividades não elegíveis para esse efeito. Em síntese, as empresas que desenvolvam atividade em determinadas áreas ou que se posicionem na vanguarda do desempenho ambiental poderão vir a ser favorecidas no acesso a financiamento. Os recursos financeiros à disposição das empresas para apoiar a transição climática e digital são relevantes. Destaca-se a proposta de Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal que contempla uma Componente especificamente destinada à “Descarbonização da Indústria” com uma dotação de 715 milhões de euros e que contempla as vertentes “tecnologias de baixo carbono” que inclui medidas de economia circular e a eletrificação da indústria, “eficiência energética”, “energia de fonte renovável e armazenamento” e “capacitação das empresas e a elaboração de instrumentos de informação”, fundamental para alavancar o investimento na descarbonização deste setor. Adicionalmente, o Fundo Europeu de Apoio à Inovação, que recorre a receitas do CELE, tem também como um dos focos a descarbonização da indústria. Este é um desafio que convoca os vários quadrantes da sociedade e em que todos podem ter um papel a desempenhar: empresas, sistema científico nacional, Estado e cidadãos. O atual contexto de uma recuperação económica alinhada com a transição climática e digital é a oportunidade para acelerar a necessária transformação, fazendo o melhor uso do financiamento disponível, garantindo prosperidade dentro dos limites do sistema natural. O foco na descarbonização da economia deve ser o objetivo mobilizador de uma nova economia que sirva ambos os propósitos.

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Transição Energética

AS RENOVÁVEIS NO AUMENTO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA CERÂMICA NACIONAL

p o r Pe d r o Am a r a l Jo r g e , P r e si de n te d a D i r e çã o d a A PR E N

Pedro Amaral Jorge

-

Presidente da Direção da APREN

O objetivo da neutralidade carbónica em 2050 encontra-se totalmente justificado do ponto de vista ambiental, dando origem ao principal projeto global da humanidade: o de criar as infraestruturas e modelos de sociedade de consumo que origine mudanças no comportamento dos cidadãos como forma de evitar e/ou mitigar o efeito das alterações climáticas no planeta e no quotidiano das pessoas. Os comportamentos de consumo dos cidadãos e do setor público, de acordo com estudos recentes, irão exigir que as empresas lhes ofereçam produtos e serviços ambientalmente sustentáveis. As empresas irão ter aqui um desafio de equilibrar a sua competitividade económica com as pre-

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ferências e exigências dos consumidores. O próximo passo das empresas neste paradigma será, muito provavelmente, a conquista de quota de mercado com a rendibilidade mínima exigida para posteriormente crescerem em rentabilidade do seu equity. Para além destes comportamentos, com a implementação do Pacto Ecológico Europeu, é espectável que os preços da tonelada de CO2 atinjam já em 2030 valores acima dos 60€/ton e que o sistema de emissões seja alargado ao setor industrial. Como tem sido também muito debatido e se encontra técnica e economicamente comprovado, o setor com a maior contribuição para a redução das emissões GEE /CO2 equivalentes na década 20-30 será o energético, através da incorporação de fontes renováveis produção de electricidade e calor. O que se verifica há já alguns anos, com ainda mais incidência atualmente, é que os custos de produção de eletricidade (LCOE) são inferiores ao preços médios do mercado grossista ibérico, como se pôde observar nos preços obtidos no leilão de solar fotovoltaico realizado em 2020 em Portugal, e o leilão de eólica e fotovoltaico realizado em Espanha em janeiro de 2021. Daqui se conclui que a forma mais custo-eficaz de reduzir as emissões oriundas dos consumos e usos de energia é através da eletrificação dos mesmos, gerando essa eletricidade a partir de fontes renováveis (a chamada eletrificação direta). Onde a eletrificação direta não é custo-eficaz ou sequer ambientalmente sustentável, há que recorrer à eletrificação indireta, ou seja, à produção de um combustível, como o H2

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Transição Energética

ou CH4 sintético, a partir da eletrólise da água com recurso a corrente elétrica gerada a partir de centros electroprodutores renováveis, por forma a que seja viável obtenção de calor de processo de alta temperatura. A indústria cerâmica, pela sua necessidade de calor de alta temperatura, não tem hoje soluções custo-eficazes de eletrificação direta para utilizar na sua produção, pelo que, com a tecnologia que hoje conhecemos, a eletrificação indireta será o caminho a seguir. Isto implica a substituição gradual dos consumos de gás natural por hidrogénio verde, mesmo que no arranque desta mudança se recorra ao sistema de mistura (blend) de gás natural com hidrogénio verde. As indústrias terão à sua disposição diversas opções para utilização de recursos renováveis para suprir as suas necessidades energéticas. Poderão ter sistemas de autoconsumo para geração de eletricidade, podendo esta ser utilizada para gerar calor ou hidrogénio verde. Obviamente que toda esta mudança de paradigma energético, de gás natural para hidrogénio verde e/ou metano sintético, irá ser apoiada pelos países através dos auxílios de estado providenciados pela bazuca financeira europeia. Assim, a migração de consumo de energia de origem fóssil para consumo de energia de fontes renováveis irá criar

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um conjunto de oportunidades para o tecido empresarial português e não uma ameaça, como muitas ouço ser dito ou vejo escrito, nas mais diversas fontes de divulgação de conteúdos. Os argumentos são muito simples: (i) o potencial ibérico para geração de eletricidade renovável é o mais elevado da europa; (ii) os custos de produção de eletricidade renovável em Portugal são os mais baixos do Espaço Europeu; (iii) o H2 verde produzido em Portugal será dos mais baratos da Europa; (iv) o preço do CO2, muito provavelmente, irá subir até aos 60€/ton em 2030; (v) é muito provável que a comissão europeia implemente o “carbon border tax adjustment mechanism”, que irá funcionar como uma taxa aduaneira paga por poluentes resultante das emissões equivalentes geradas para fazer chegar produtos de zonas fora da União Europeia; (vi) Portugal tem condições para passar a ser um país muito competitivo em custos de eletricidade; (vii) Portugal irá incorporar na legislação a possibilidade de sistemas de autoconsumo individuais e coletivos, estes últimos inseridos em comunidade industriais de energia renovável; e muitos se podem ainda acrescentar. Concluindo, a transição energética é uma oportunidade para a indústria cerâmica em Portugal, e não uma ameaça.

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Neutralidade Carbónica

A PEGADA EM RECURSOS DA NEUTRALIDADE CARBÓNICA

po r S o f i a Si m õ e s, Co o rd e nadora da Un i dade de E co no m i a d e Re cur s o s , d o L NE G – L ab oratór i o Na ci o na l d e Ene r g i a e G e o log i a

Já fazem parte do nosso léxico termos como descarbonização, neutralidade carbónica, transição energética e desenvolvimento sustentável. Sabemos que os limites do planeta¹ estão a ser alcançados (ou até ultrapassados) em alguns casos e que temos de mudar radicalmente a forma como produzimos e consumimos energia. Em Portugal, assim como na Europa e um pouco por todo o globo, instalam-se painéis solares fotovoltaicos, turbinas eólicas onshore e offshore e compram-se veículos elétricos, entre outros. O hidrogénio verde, produzido a partir de eletrólise da água alimentada com eletricidade renovável, fez a sua fulgurante entrada na agenda dos Portugueses no ano de 2020. A bioenergia, as biorefinarias e os combustíveis sintéticos de baixas ou nulas emissões de carbono também têm um papel a desempenhar nesta corrida das economias para a neutralidade carbónica. Estamos a postos - investigamos, desenvolvemos, testamos e implementamos soluções tecnológicas inovadoras. Ambicionamos (e ainda bem) criar emprego qualificado e promover um desenvolvimento sustentável.

A neutralidade carbónica (i.e. emissões líquidas nulas) é um objetivo para Portugal em 2050, estabelecido pelo Roteiro para Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050)² onde se refere que o setor energético nacional (eletroprodutor e refinação) deverá reduzir as suas emissões de gases de efeito de estufa (GEE) em 96% face aos valores emitidos em 2005. Em 2030 esta redução de emissões deverá ser de 80 a 81% face a 2005. O setor dos transportes em Portugal deverá reduzir as emissões de GEE em 43-46% em 2030 e em 98% em 2050 face aos valores de 2005. Um pouco mais a nordeste, em Bruxelas, está atualmente em discussão a aprovação de uma Lei do Clima que tornará legalmente obrigatória a meta de neutralidade carbónica na Europa em 2050, o que até agora era apenas uma ambição estratégica. Para chegarmos a 2050 neutros em carbono temos que adotar um ritmo vertiginoso. Em setembro de 2020, num intervalo da pandemia de COVID19, a Comissão Europeia apresentou a decisão de aumentar o grau de exigência de redução de emissões de GEE já em 2030. O valor de redução de emissões de GEE passa a ser -55% das emissões verificadas em 1990 (era -40% na versão anterior). Mais de 65% da eletricidade gerada na Europa em 2030 deverá vir de fonte renovável (atualmente este valor é de 32%). Implementar novas tecnologias a um ritmo sem precedentes Para alcançar estes objetivos será necessário ins-

1 Ver os 9 limites planetários apontados pelo Stockholm Resilience Centre: https://www.stockholmresilience.org/research/planetary-boundaries/planetary-boundaries/about-the-research/the-nine-planetary-boundaries.html 2 Resolução do Conselho de Ministros n.º 107/2019

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talar nova capacidade de geração de eletricidade a um ritmo sem precedentes. O RNC2050 aponta para que em 2050 estejam instalados em Portugal ~13 GW de eólica onshore, ~26,4 GW de solar fotovoltaico e cerca de 4 GW de baterias para armazenamento de eletricidade. Os valores correspondentes instalados em dezembro de 2020 eram de 1 GW de solar e 5,5 GW de eólica. O RNC2050 não refere valores de stock de veículos em circulação, mas o consumo de eletricidade no setor dos transportes deverá aumentar de 0,3 TWh em 2015 para 17-18 TWh em 2050. Esta transição massiva também se perspetiva à escala Europeia e mundial. A ratificação do Acordo de Paris em 2015 por 195 países (incluindo Portugal) visa “assegurar que o aumento da temperatura média global fique abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais e prosseguir os esforços para limitar o aumento da temperatura a até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais”. Para cumprirmos com esse objetivo, segundo a Agência Internacional da Energia teremos que instalar por ano, no período entre 2040 e 2050, cerca de 190 GW de solar fotovoltaico, 5060 GW de eólica onshore, 40 GW de concentrado solar e 30 GW de centrais hidroelétricas, para além de unidades de produção de eletricidade com base nuclear, eólica offshore, energia oceânica, e geotérmica. Serão necessários em 2050 cerca de 1600 milhões de veículos híbridos ou elétricos. A escala de adoção tecnológica é esmagadora e o desafio é enorme.

Necessidades de materiais para tecnologias de baixo carbono Acresce que todas estas tecnologias, em maior ou menor escala, integram na sua composição diversos recursos materiais, desde elementos relativamente comuns no planeta como o ferro (Fe), cobre (Cu) ou alumínio (Al), até outros que são considerados raros, como o neodímio (Nd) ou disprósio (Dy) (ver Figura 1). Com o que conhecimento que temos à data, claramente são os veículos elétricos aqueles que integram um maior número de elementos / materiais, sendo que muitos são necessários para o funcionamento das suas baterias. Com exceção do ferro, alumínio e cobre, a maioria destes elementos são necessários em quantidades muito pequenas. Por exemplo, estimam-se que sejam necessários 1g de térbio para cada kW de eólica onshore, 5g de selénio para cada kW de solar fotovoltaico ou ainda 2 g de vanádio para cada kW de concentrado solar. Mesmo assim, as cadeias de abastecimento de muitos destes elementos são caracterizadas por vários estrangulamentos e são condicionadas por um número relativamente reduzido de fornecedores. A Europa (e Portugal) encontra-se numa posição vulnerável dado que é dependente de países terceiros para a produção em larga escala de muitas das várias tecnologias de baixo carbono de que iremos necessitar. Por sua vez, esses países dependem de outros para a entrega de componentes e de recursos primários como os atrás referidos. 55% da extração mundial de cobalto (fundamental para as baterias) ocorre na Repúbli-

Figura 1 - Necessidades de materiais para diversas tecnologias de baixo-carbono. Ag (prata), Al (alumínio), B (boro), Cd (cádmio), Ce (cério), Co (cobalto), Cr (crómio), Cu (cobre), Dy (disprósio), Fe (ferro), Ga (gálio), Ge (germânio), In (índio), La (lantânio), Mg (magnésio), Mn (manganês), Mo (molibdénio), Nb (nióbio), Nd (neodímio), Ni (níquel), Pb (chumbo), Pd (paládio), Pr (praseodímio), Se (selénio), Sm (samário), Sn (estanho), T a ( t â n t a l o ) , T b ( t é r b i o ) , Te ( t e l ú r i o ) , T i ( t i t â n i o ) , V a ( v a n á d i o ) , Yt (ítrio), W (tungsténio), Zn (zinco), Zr (zircónio).

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Neutralidade Carbónica

ca Democrática do Congo, bem como 50% da produção mundial de tântalo. O Brasil é responsável por mais de 90% da produção mundial de nióbio, fundamental para turbinas eólicas, veículos elétricos e concentrado solar. A China produz cerca de 90% do germânio atualmente no mercado mundial, entre muitos outros recursos, incluindo o grupo das “terras raras”. Reconhecendo a sua fragilidade nesta matéria, a União Europeia desde 2011 publica a lista Europeia de matérias primas críticas. A última versão de setembro de 2020³ identifica 30 matérias primas que são consideradas críticas para a economia europeia, incluindo-se aqui outros setores de atividade como a indústria e a defesa, para além das tecnologias de baixo carbono atrás referidas. Note-se, no entanto, que mais de metade destas 30 matérias primas críticas são necessárias também para a neutralidade carbónica.

No momento atual que vivemos assistimos em primeira mão à disrupção no fornecimento de vacinas de COVID-19 causados pela enorme procura e pelas fragilidades das cadeias de abastecimento internacionais, com poucos fornecedores e motivados por preocupações geopolíticas. Até que ponto poderão vir a ocorrer problemas semelhantes no fornecimento de materiais necessários à transição energética? Saberemos nós desenvolver novas tecnologias menos intensivas em matérias primas críticas? Seremos capazes de nos tomarmos mais circulares a caminho da neutralidade carbónica e reciclar os materiais que já se encontram incorporados em diversos produtos? Em complemento, importa não esquecer os pilares social e ambiental do desenvolvimento sustentável. A extração destes recursos é em muitos casos feita com grave prejuízo dos direitos humanos dos trabalhadores, incluindo trabalho escravo e infantil. Muitas das explorações mineiras localizam-se em áreas importantíssimas para a preservação da biodiversidade. Será esse um custo que aceitamos pagar rumo à neutralidade carbónica? Apesar de termos como “descarbonização” já fazerem parte do nosso léxico, convém ter presente outros novos termos, talvez menos comuns, como disprósio, cobalto, telúrio ou vanádio. E sobretudo, nunca esquecer velhos conceitos como “eficiência energética” e “suficiência”. Não conseguiremos ser neutros em carbono sem pensar à escala global e sem respeitar os outros limites do planeta, como a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas.

3 https://ec.europa.eu/growth/sectors/raw-materials/specific-interest/critical_en

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Descarbonização

DESCARBONIZAÇÃO NA ARCH - VALADARES

por He nr i q u e Bar r o s, D i r e t o r G e ra l/ C E O - Jo sé Ro c h a Fe r re i ra, Di r e t o r Eng e nh a r i a / I D &T e Sus e t e S oare s , D i r e t o ra Té cni ca

Introdução As fábricas de sanitários, por exigência do seu processo produtivo, lançam para a atmosfera, diariamente, uma quantidade apreciável de gases com efeito de estufa decorrentes do consumo de energia a partir de combustíveis fósseis. Todo o circuito desta indústria, desde a extração das matérias-primas até à chegada das louças Sanitárias ao cliente apresenta um impacto significativo na produção daqueles gases, decorrentes das operações de transformação e dos transportes utilizados. Este facto determina a necessidade de um esforço de toda a cadeia de processos e empresas no ciclo cerâmico para a minimização do impacto no ambiente, através da minimização dos consumos e da racionalização dos processos que consomem energia. Antes das matérias-primas iniciarem a sua transformação no fabrico de Sanitário, estas já implicaram um

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impacto ambiental relativo às operações de mineração, transformação e transporte até ao local de utilização. Uma vez chegadas à fábrica de Sanitário, estes materiais iniciam um ciclo de operações industriais que ocorrem nas Olarias, Vidragem e Cozedura, e que necessitam invariavelmente de grandes quantidades de energia para as transformações pretendidas, com uso preponderante de Gás Natural como fonte de energia. Ao serem enviadas para os diferentes clientes, as peças de Sanitário ainda vão necessitar do consumo de combustíveis para o seu transporte até aos diferentes destinos. Além do impacto direto, ainda está presente em diversos momentos o consumo energético relativo aos materiais subsidiários e às embalagens usadas na proteção dos artigos a vender, pois o seu fabrico ou transporte implica o uso de energia, frequentemente dependente de uma fonte de combustíveis, logo com impacto na emissão de gases como o CO2.

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Descarbonização

Desenvolvimento A ARCH Valadares está implantada num centro urbano de elevada densidade (Valadares, em Vila Nova de Gaia) o que desde sempre determinou grande atenção com o impacto ambiental nos limites das suas instalações, pois a sua viabilidade industrial depende fortemente do respeito pela envolvente. Este enquadramento obrigou a empresa a implementar um conjunto de medidas que visam a mitigação dos impactos ambientais, mas que foram encarados como a oportunidade de melhoria de eficiência dos seus processos e da redução dos seus custos. Para que estes objetivos ambientais fossem conseguidos, a ARCH adotou a uma estratégia industrial orientada para a eficiência e a minimização de impactos ambientais. Foram assim implementadas diversas medidas para esse objetivo de que destacamos: • Processo industrial muito flexível e adaptável à variação da atividade (minimização de stocks) • Prioridade no uso de matérias-primas nacionais e Redução de importações diretas. • Racionalização energética das instalações com recuperação de mais de 50% da energia perdida pelos fornos. • Recuperação de resíduos de processo e reutilização de diversos materiais intermédios

O último ponto teve uma especial importância, uma vez que a recuperação dos resíduos de caco (sucata cerâmica decorrente das perdas do processo) permitiu produzir diversos efeitos do maior interesse para a atividade e o ambiente. Por cada milhão de peças boas produzidas, uma fábrica de sanitários precisa de cerca de dezassete milhões de quilogramas de matérias primas e produz (embora sem o querer) cerca de dois milhões e meio de quilogramas de desperdícios traduzidos em peças inutilizáveis, não vendáveis. Tradicionalmente, este desperdício é retirado de forma contínua das unidades de produção tendo como destino diversos agentes que se dedicam depois à sua distribuição quer por aterros quer por empresas (p.ex. cimenteiras) que o incluem nas suas argamassas. Basicamente, podemos dizer que 15 a 20% das matérias primas extraídas irão originar resíduos destinados a aterro. A ARCH Valadares encarou este problema como uma oportunidade e desenvolveu um processo de reciclagem que evoluiu até poder reutilizar todo desperdício (caco) produzido. No essencial, os objetivos passavam por: 1. Reutilização parcial das quebras cozidas (40 a 60% 2. Redução de consumo de matérias-primas virgens (5 a 10%) 3. Redução do consumo de energia da preparação Barbotinas 4. Manutenção de todas as características físicas do produto final Na verdade, a aplicação das alterações de formulação de barbotinas e os resultados alcançados no processo, permitiram revelar um comportamento muito positivo e com resultados surpreendentes quanto ao impacto obtido. No final do processo de ajuste os resultados principais revelaram-se como sendo os seguintes: • O caco de quebras em cozido passou a ser todo reintegrado como matéria prima • Redução de consumo de matérias-primas em cerca de 3 mil toneladas / milhão de peças • Redução da temperatura dos fornos em 30ºC e redução do consumo de GN em 7% • Melhoria de algumas das características dos materiais cozidos.

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Descarbonização

Para além dos impactos diretos já referidos, a recuperação dos resíduos de processo, representam um impacto importante noutros vetores da componente ambiental: • Diminuição dos consumos de água e energia no processo de fabrico de Barbotinas (6 a 8%) • Eliminou os consumos de água e energia na mineração e transporte. • Eliminou a deposição em aterros dos desperdícios produzidos, naquela quantidade, bem como dos combustíveis fósseis associados ao seu transporte. Impacto nas emissões de CO2 As medidas adotadas pela ARCH Valadares permitiram ganhos de eficiência energética e redução de consumos de energia decorrentes das alterações técnicas das barbotinas, após a introdução do caco moído como componente normal da sua composição. Neste contexto optamos por só apresentar os impactos decorrentes das alterações ao nosso processo industrial, sem preocupação em quantificar os impactos terceiros nas emissões evitadas com a redução do consumo de matérias primas e dos resíduos enviados para aterro.

Tabela 1 – Redução da extração de matérias primas naturais, poupança energética e redução de emissões de CO2 nos últimos 6 anos. Período de 6 anos Redução de Matérias-primas Extraídas

1.850 ton

Poupança de Energia (Gás Natural)

5.550 Mwh (*

Redução da Emissão de CO2

1.031 tonCO2

(*) – Emissão de 0,1855 kg CO2 / kwh de Gás Natural

Conclusões e o Futuro Os resultados obtidos permitem acalentar a expectativa que será possível reduzir o impacto ambiental desta indústria, pois há ainda muito a fazer para a melhoria dos desempenhos ambientais e também do desempenho dos processos de transformação e logísticos que suportam a atividade Cerâmica. Existem muitas frentes onde podemos melhorar e o futuro da indústria de Sanitário passará por uma estratégia de otimização processual com denominador co-

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mum na redução dos consumos por unidade fabricada, em particular da componente energética. Antes de pensarmos em substituir combustíveis fósseis como o Gás Natural (que dificilmente pode ser eliminado da nossa indústria nos próximos anos), teremos de nos preparar para repensar e melhorar processos e cadeia logística como meio de contribuir para a descarbonização da atividade. As opções mais racionais passam pela eliminação do consumo de Gás Natural em processos de aquecimento de baixa temperatura (secagem, geradores de calor, etc), com investimentos na auto-produção de energia elétrica em instalações fotovoltaicas com capacidade de armazenamento de energia. A energia elétrica autoproduzida substituirá o Gás Natural em algumas funções em que ainda é usado e reduz a dependência de terceiros e das importações. A substituição do Ar comprimido como utilidade de processos em Olaria, permitirá reduzir o consumo de energia de compressão, processo com rendimentos reduzidos quanto à conversão energética que lhe está associada. O desenvolvimento de refratários mais leves e otimizados como suporte aos artigos a cozer, permitirá reduzir a massa de cozedura dos fornos e com impactos interessantes no consumo específico de energia. A pesquisa de matérias-primas alternativas que permitam, por exemplo, cozer a temperaturas ainda mais baixas, terá um efeito sensível no consumo de energia e redução das emissões de CO2. A ARCH Valadares irá continuar o caminho que já vem a seguir há anos e estamos confiantes que os investimentos em curso irão assegurar resultados positivos nos objetivos ambientais da empresa para os próximos anos. Sabemos que é longo e difícil o caminho a percorrer, mas, como antes, iremos assumir as mudanças que se avizinham com um incentivo para melhorar processos e assegurar o futuro da empresa e da sociedade de que fazemos parte. A nossa experiência revelou que este caminho pode trazer benefícios ainda não antecipados e que podem acrescentar vantagens competitivas. Para nós é garantido que os conhecimentos adquiridos com a implementação das mudanças para um melhor desempenho ambiental, vão resultar no apuro tecnológico e na consolidação da nossa atividade. Não encaramos outro cenário.

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Sustentabilidade

O CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE

p o r Jo ã o Lo u r e i r o Ro d r i g u es , Sustainability Officer (CSO), NOVA 4 The Globe

NOVA 4 The Globe | Sustainability at NOVA A Universidade NOVA de Lisboa, como jovem instituição generalista de ensino superior público, orgulha-se do seu dinamismo e proatividade no combate aos grandes desafios do século XXI. No centro da sua atividade estará sempre a educação de jovens talentos, bem como a promoção de investigação colaborativa e interdisciplinar, fundamental e aplicada. A NOVA tem 9 Unidades Orgânicas que trabalham em torno de diversas áreas do conhecimento, nomeadamente Saúde, Ciências, Tecnologias, Engenharia, Matemática e Ciências sociais. Alinhada com a sua missão, a Universidade criou o NOVA 4 The Globe, uma plataforma interdisciplinar que promove o diálogo entre os membros da Comunidade NOVA e as diferentes áreas de conhecimento, com vista a contribuir para a sustentabilidade. Ancorada na excelência do conhecimento científico e competências que as Unidades Orgânicas da NOVA produzem e transmitem, a plataforma

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é a expressão do seu compromisso com os desafios globais. Para além de estimular o diálogo entre investigadores, com foco na sustentabilidade, ela procura também identificar e amplificar o impacto societal da Universidade nas comunidades locais e facilitar a transformação organizacional em torno nas melhores práticas sustentáveis. Alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Pacto Ecológico Europeu, a Universidade NOVA de Lisboa ambiciona ser uma referência, entre as jovens universidades europeias, no compromisso com uma política de sustentabilidade inovadora e orientada pelo conhecimento, que promova o impacto científico, tecnológico, económico, ambiental e social. O planeta é um sistema de agentes interdependentes, como mostra a mais recente pandemia. Tendo em conta as diferenças entre si, o grande desafio da sociedade será encontrar a base de confiança e motivação que os fará convergir para um foco coletivo. As universidades podem aqui desempenhar um papel importante, ajudando-os a ver para além dos seus modelos mentais previamente estabelecidos, facilitando o diálogo, promovendo investigação de ponta e educando as futuras gerações de cidadãos mais responsáveis. Elas são responsáveis por estabelecer uma relação cada vez mais próxima entre a investigação e os interesses da sociedade, estreitando relações com a indústria e o setor público. A Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, adotada por todos os estados-membros das Nações Unidas em 2015, reforça a necessidade desta ação coletiva. Ancorada nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ela reconhece o valor do pensamento sistémico nos desafios globais e convida a um compromisso transversal, que envol-

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Sustentabilidade

va também organizações e cidadãos. Contrariamente à agenda definida pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, esta ultrapassa o contexto político e as fronteiras geográficas dos países em desenvolvimento. Ela sublinha que o fim da pobreza, por exemplo, deverá estar de mãos dadas com estratégias que melhorem a saúde e educação, ao mesmo tempo que é promovido o crescimento económico. Tudo isto enquanto são enfrentadas as mudanças climáticas e se trabalha na preservação dos oceanos e florestas. Estes são de facto desafios globais com os quais todos estamos familiarizados, e só trabalhando em conjunto poderemos fazer a diferença. Embora algumas organizações tenham a sustentabilidade no centro dos seus valores, e em alguns casos perfeitamente contextualizada na sua missão, é importante reconhecer que este processo implica uma transformação organizacional profunda que nem todas estão dispostas a seguir. Em alguns casos, ela faz apenas parte de uma estratégia de marketing, não estando minimamente integrada na cadeia de valor dos produtos comercializados. Só identificando e avaliando as motivações e investimento necessários para levar a cabo este empreendimento, poderão iniciar o caminho da sustentabilidade de forma verdadeiramente eficiente e relevante.

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Refletindo sobre o principal tópico desta edição da revista, a neutralidade carbónica, sublinharia a importância de compreender o grau de preparação para o processo de transformação organizacional, nomeadamente as motivações por trás da vontade de mudança. É uma longa caminhada, que exige planeamento e compromisso, e uma avaliação prévia à pegada carbónica das organizações é aconselhada. Uma vez definido o ponto de partida, é possível escolher entre as diferentes opções disponíveis, que vão desde a simples mitigação do contributo negativo para o ambiente, à profunda reestruturação da cadeia de valor. O planeta, por seu lado, pode não avaliar contribuições positivas e negativas para as emissões carbónicas utilizando uma escala única. De facto, variando de indústria para indústria, se as intenções da empresa vão para além da imagem que passam para os seus clientes, plantar árvores como um programa de compensação da pegada carbónica pode ficar aquém das necessidades do planeta. Apesar da ideia de neutralidade que essa ação pode sugerir, vale a pena refletir no efeito verdadeiramente devastador que algumas indústrias podem ter no ambiente e na sociedade. Só um pensamento sistémico poderá acautelar de forma holística todos os valores da sustentabilidade.

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Sustentabilidade

A NOVA está comprometida com os desafios globais e trabalha focada nos 17 ODS. O site do NOVA 4 The Globe, bastante intuitivo, é uma oportunidade para descobrir as diferentes iniciativas e investigação levadas a cabo pela Universidade. Curiosamente, até na área da cerâmica a NOVA está bastante ativa. A NOVA School of Science and Technology é parceira de um novo projeto Erasmus + para preservar as tradições na arte da cerâmica. “CRAFT: Activating Pedagogy for Ceramic Education Futures” é uma resposta à crescente perda de tradições em cerâmica, uma das formas de artesanato mais antigas da história da humanidade. Durante três anos, as instituições envolvidas pretendem mapear o estado atual das competências artesanais e industriais, e reunir o conhecimento fragmentado existente no setor. Tem como objetivo criar um programa de ensino inovador em educação artística, com foco no desenvolvimento de novas formas de transferir conhecimento e tradições, e criar um repositório sólido de práticas de produção. Este projeto espera contribuir para a sua preservação, trazendo essas práticas para audiências e alunos, e salvaguardar o futuro da fabricação de cerâmica. Entre as prioridades estabelecidas pela NOVA, está um forte compromisso com a agenda internacional das mudanças climáticas e com a neutralidade carbónica. Visando o ODS 13, Ação Climática, a Universidade colabora a nível europeu para acelerar a transição para o uma economia neutra

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em carbono e uma sociedade climaticamente resiliente. O maior pilar desta ação está no contributo da NOVA School of Science and Technology para a definição da estratégia de longo prazo para a neutralidade carbónica da economia portuguesa, em 2050. A nível europeu, a NOVA colabora no projeto EIT Climate-KIC, uma plataforma de conhecimento e inovação para acelerar a transição que identifica e apoia inovação que ajuda a sociedade a mitigar os efeitos das alterações climáticas. O NOVA 4 The Globe, por seu lado, estimula a interdisciplinaridade na investigação e o envolvimento comunitário, alinhando também a sua ação com as cinco missões definidas pela União Europeia no contexto do Horizonte Europa, o maior programa transnacional de sempre que apoia a investigação e inovação. O Horizonte Europa oferece um importante apoio às mudanças sistémicas necessárias para assegurar uma Europa verde, saudável e resiliente. Apoia também a investigação colaborativa relacionada com os desafios societais e reforça as capacidades tecnológicas e industriais através de agregados temáticos. O agregado “Clima, Energia e Mobilidade”, por exemplo, irá aumentar os recursos da investigação e inovação em domínios relacionados com o clima e assegurar que as empresas europeias têm acesso às tecnologias e aos dados de que necessitam. Este programa é uma oportunidade para universidades e empresas, mas sobretudo para o planeta.

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Neutralidade Carbónica

NEUTRALIDADE CARBÓNICA E A INDÚSTRIA PORTUGUESA – ELEMENTOS DE LEITURA

por Pe dro Mar t i n s B a r a t a , CEO na Get2C

No início do século XXI, as alterações climáticas são um dos principais, se não mesmo o principal desafio com que a Humanidade se confronta. Sabemos já que a mudança no clima implicará mudanças profundas a nível planetário em todos os aspetos das nossas sociedades. Os impactes que já se fazem sentir vão aumentar, seja através de mudanças imediatas e visíveis, como sejam a maior frequência e intensidade de fenómenos climáticos extremos, seja através de tendências lentas, mas inexoráveis, como a subida do nível do mar ou a migração de ecossistemas inteiros. Em 2015, a pressão destas evoluções e a coincidência do momento político combinaram-se para a celebração do Acordo de Paris, o qual veio a tornar-se efetivo em tempo recorde. Peça fundamental do Acordo de Paris foi o reconhecimento de que o objetivo final da Conven-

ção-quadro das Alterações Climáticas – a estabilização do sistema climático a níveis seguros – só poderia ser alcançado com uma redução drástica das emissões globais, a qual atingisse a “neutralidade carbónica” na segunda metade do século XXI. Dadas as responsabilidades especiais dos países desenvolvidos, tal reconhecimento implica a adoção de metas de neutralidade carbónica em 2050. Portugal foi um dos primeiros países a nível internacional a anunciar publicamente esse objetivo e a colocá-lo nos seus instrumentos de planeamento. Perspetiva-se agora que o mesmo seja traduzido em letra de lei, na futura lei do Clima, em discussão na Assembleia da República.

Pedro Martins Barata

-

CEO na Get2C

Do Acordo de Paris à Estratégia de Longo Prazo O Acordo de Paris foi por isso a espoleta para o planeamento climático de longo prazo em Portugal. O Roteiro de Neutralidade Carbónica assumiu o objetivo traçado pelo Governo e consubstanciou-o numa estratégia que tem três vetores fundamentais: a) a eletrificação dos consumos de energia, acompanhado de b) a construção de um sistema elétrico completamente renovável, ao mesmo tempo que c) promove a utilização cabal do potencial de sequestro de carbono nacional, nomeadamente através de uma gestão florestal sustentável (ver figura 1 sobre resultados do Roteiro para a Neutralidade Carbónica).

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Figura 1 - Resumo dos resultados dos cenários do Roteiro Neutraidade Carbónica

Neutralidade Carbónica

Figura 2 - Evolução recente das emissões de GEE em Portugal

A tendência da descarbonização, senão mesmo a estratégia, está já claramente em curso: a desativação das duas centrais térmicas a carvão, bem como os leilões de energia solar e a expansão da eólica em Portugal permitem prever um sistema elétrico cada vez mais renovável (ver figura 2 sobre evolução recente das emissões em Portugal). No que diz respeito à eletrificação dos transportes, em particular dos transportes urbanos, Portugal acompanha a tendência europeia, situando-se no pelotão da frente da adoção de frotas elétricas. No entanto, tal como nos outros países europeus, a descarbonização em Portugal passará inevitavelmente por lidar com sectores e atividades de maior custo de mitigação/descarbonização. No Roteiro, os últimos sectores a descarbonizar – e nem sempre a 100% - são justamente os sectores industriais (juntamente com o transporte marítimo e aéreo), onde as opções de descarbonização custo-eficazes aparentam ser reduzidas (ver figura 3 sobre repartição do esforço sectorial da redução de emissões).

Figura 4 - Evolução do custo da energia solar fotovoltaica

Figura 3 - Evolução das emissões por sector no cenário Camisola Amarela do RNC

Quais as opções para uma descarbonização industrial? Elas passam sobretudo por, por um lado, eletrificar ao máximo os consumos energéticos onde a densidade e intensidade do consumo energético é relativamente baixa. Contudo, em sectores industriais como o cimento, o aço ou a cerâmica, os processos industriais não são facilmente eletrificáveis, se o são de todo. Se por um lado, é possível identificar em muitas situações opções de descarbonização através da mudança dos próprios processos e produtos industriais – por exemplo, através da incorporação de materiais biológicos na construção ou através do aligeiramento das estruturas de construção, tal é, em muitas situações, impossível. É, contudo, necessário não tomar o conjunto de possibilidades tecnológicas como fixo. Pelo contrário, a história recente da inovação e disponibilização da tecnologia renovável e de mobilidade elétrica mostra como a mudança tecnológica disruptiva pode acontecer a velocidades não antecipadas (ver figura 4 sobre inovação tecnológica e mobilidade eléctrica). A necessidade de altas densidades de energia implica neste momento a impossibilidade de eletrificar estes consumos industriais, mas não implica o afastamento destes sectores do esforço climático global. Há essencialmente duas formas em que esse esforço se irá fazer: através da sua inclusão no mecanismo de comércio de emissões, por um lado, e através do

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Neutralidade Carbónica

reforço do esforço de investigação e desenvolvimento na procura de alternativas de processo ou produto para estas emissões “inevitáveis”. Finalmente, e muito no âmbito de iniciativas voluntárias empresariais, os sectores industriais serão sempre entre os primeiros na procura de unidades de compensação de emissões (“offsets”) que lhes permitam, de uma forma credível, apresentarem-se como “neutros em carbono”. A competitividade industrial e o preço de carbono

Figura 5 - Expansão mundial do mercado de carbono

Para todos estes sectores industriais, a sua inclusão no mercado de carbono poderia levar muito possivelmente a distorções competitivas significativas – assumindo que os produtos que comercializam estão expostos à concorrência internacional (já que a concorrência europeia está assegurada pelo mercado comum de carbono e a sujeição a um preço único europeu, com condições de acesso igualitárias entre empresas do mesmo sector). Importa reconhecer que o argumento da perda de competitividade das empresas europeias por terem que pagar um preço de carbono só é válido para aqueles sectores onde o preço de carbono afeta significativamente o preço final do produto, ou seja, sectores intensivos em emissões de carbono, e que tenham uma proporção de vendas significativa fora da Europa, ou seja, produtos verdadeiramente transacionáveis. Falta dizer também que a União Europeia já não é um “player” único a nível mundial no mercado de carbono, e que muitas das mais importantes geografias concorrentes a nível industrial da Europa já têm preços de carbono, em alguns casos superiores ao prelo europeu. Finalmente, durante os primeiros anos de vigência do mercado, o custo de carbono foi em regra relativamente baixo, o que minou também por essa via a ideia da distorção competitiva. A ideia de uma

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indústria europeia acossada pelos altos custos de carbono não é historicamente comprovada pelos factos. Ainda assim, a União Europeia estabeleceu um mecanismo de proteção aos sectores vulneráveis, que se baseou na alocação gratuita de licenças de emissão. Efetivamente, uma alocação gratuita de uma licença que tem valor no mercado é um subsídio à exploração que contraria a ideia de um custo acrescido. A questão que atualmente se coloca, em face da evolução a política internacional de clima é o grau de sustentação deste mecanismo, e a sua compatibilidade com um outro mecanismo, ainda mais agressivo de proteção – a imposição de ajustamentos fiscais na fronteira europeia a produtos por via do seu conteúdo em carbono. Prima facie, tal imposição deveria imediatamente levantar alertas na Organização Mundial de Comércio (OMC), onde não é legítimo, em princípio, levantar barreiras que discriminem produtos na base do seu processo ou método de produção. Contudo, as conversações em curso entre a Comissão Europeia e a própria OMC levam a Comissão a ter uma razoável certeza de que há formas de desenhar a taxa aduaneira de uma forma que seja compatível com as disciplinas da OMC. Tal poderá passar, por exemplo, por sujeitar os importadores de produtos de sectores sensíveis oriundos de fora da Europa à obrigação de comprar direitos de emissão europeus (não os podendo comercializar posteriormente e sendo a receita assegurada revertida para o orçamento da União Europeia). Tal asseguraria que para muitos sectores o “playing field” seria um pouco mais equilibrado. Importa, contudo, dizer, que este ajustamento fiscal na fronteira deverá ditar a prazo a possibilidade de acesso à distribuição gratuita de licenças de emissão e será utilizado apenas em circunstâncias-limite. Por um lado, porque o mercado de carbono está rapidamente a expandir-se a nível mundial (ver figura 5 sobre expansão do mercado mundial de carbono). Por outro, porque a tensão gerada entre as grandes economias, que tal mecanismo pressupõe, só é compatível com a criação de um “clube de carbono” entre as grandes economias que reconheçam entre si a validade dos seus preços de carbono. É nesse sentido que se irá caminhar nos próximos anos. À indústria portuguesa importará seguir com atenção este tema. Se as previsões de preços de carbono de €100 na retoma económica se concretizarem, este deixa de ser apenas um tema esotérico de ambientalistas em cimeiras internacionais, e passará a afetar diretamente a competitividade e a viabilidade de muitas empresas e operações.

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Energia

A IMPORTÂNCIA DO HIDROGÉNIO VERDE NA DESCARBONIZAÇÃO DA INDÚSTRIA CERÂMICA EM PORTUGAL

p o r Isa be l Ma i a e Si l v a , Marke t Re se arch Ma na g e r, Sm a r t e ne r g y

A indústria da cerâmica é, em Portugal, um importante motor para a criação de emprego e de valor. De acordo com dados de 2018, esta indústria emprega aproximadamente 17.500 pessoas, tem um volume de negócios agregado de 1.164 milhões de euros, gerado por mais de 1.100 empresas. Contudo, a indústria caracteriza-se por processos produtivos que tem associados emissões de carbono em volume muito relevante, e que resultam principalmente de processos de secagem e queima. As emissões de CO2, contabilizadas a partir do consumo de energia primária em 2019 ascendem a aproximadamente 649.000 t CO2eq. Aproximadamente 84% das emissões de CO2 do setor da cerâmica estão relacionadas com o consumo de energia. Este valor pode ser desagregado entre o que é devido à combustão de combustíveis fósseis, principalmente gás natural (em alguns casos diesel, GPL, carvão ou coque), responsável por cerca de 66% das emissões de CO2, e os restantes 18% que advém da composição da matriz energética da eletricidade consumida, nomeadamente gás natural e residualmente algum carvão. Os restantes 16% das emissões de CO2 estão intrinsecamente associadas aos processos industriais. São causados pela decomposição de carbonatos em matérias-primas como calcário, dolomite ou magnesite. Por serem inerentes à matéria-prima, estas emissões são um subproduto natural do processo de queima e não podem ser evitadas. Em janeiro de 2021 o preço das licenças para emissão de CO2 atingiu os 38 €/t. Prevê-se que o preço das licenças aumente durante os próximos anos devido à redução do seu número e dos volumes disponíveis. Em 2030 estima-se que preço poderá ser superior a 50 €/t de CO2, colocando a indústria cerâmica sob pressão para cumprir a legislação aplicável nesta matéria. Como se pode ver na Figura 1, a nível europeu, as emissões do setor da cerâmica já excedem as licenças emitidas. Esta situação tende a agravar-se já que o número de

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licenças disponíveis no futuro será mais reduzido (Fase IV do sistema de comércio de emissões da UE (CELE)). O hidrogénio verde é um vetor energético essencial para a diminuição das emissões no setor da cerâmica industrial, uma vez que: i) está isento de emissões de CO2; ii) não compromete o desempenho da indústria. O hidrogénio verde, produzido a partir de fontes de energia renováveis endógenas, e a ser consumido localmente, permite o processo de queima em fornos com o maior potencial técnico entre as soluções verdes. Numa fase transitória pode ser utilizado num blend à base de gás natural. A adoção do hidrogénio verde constitui uma mudança de paradigma, tornando a indústria imune às próximas reduções do número de licenças/aumentos de preços no âmbito do ETS, mantendo a sua competitividade. Como os processos industriais da cerâmica consomem sobretudo calor a altas temperaturas, os potenciais benefícios do uso de hidrogénio verde incluem: • Potencial para remodelação/conversão no local do equipamento de queima de gás natural existente (evitando assim a substituição integral e mantendo genericamente os processos); • Redução do impacto de eventuais alterações ao processo na rede elétrica; • Benefícios operacionais decorrentes de sistemas de armazenamento de hidrogénio.

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Energia

Figura 2 - O ecossistema de toda a cadeia de valor do projeto ORANGE.BAT.

Figura 1 - Emissões de carbono e licenças para a indústria da cerâmica. Fonte: EEA; Comissão Europeia; Smartenergy; Roland Berger

A indústria cerâmica em Portugal pode, e deve beneficiar desta mudança de paradigma, e começar agora a alavancar os seus benefícios para o futuro. Existe uma clara oportunidade de reduzir os custos com a descarbonização através de candidaturas a apoios financeiros que serão muito em breve disponibilizados, quer a nível nacional, quer a nível europeu. Para aproveitar este momento único, e tal como acontece noutros países da Europa, tem-se revelado fundamental o estabelecimento de parcerias público-privadas, envolvendo especialistas não só na área da cerâmica, mas também na área da energia e do chamado project finance, contribuindo dessa forma para um correto desenho dos programas operacionais e consequente atribuição de fundos públicos. A título de exemplo, apresentamos um projeto concebido para descarbonizar um dos maiores clusters cerâmicos da Europa, localizado na região de Valência, em Espanha. Este projeto será implementado em Castellón, onde se concentra 95% da indústria cerâmica de Espanha e 33% das emissões de CO2 da região de Valência. O projeto, designado por ORANGE.BAT, é uma iniciativa ambiciosa cujo objetivo é a incorporação do hidrogénio verde na indústria da cerâmica. É promovido por um consórcio internacional de 40 organizações oriundas de vários países europeus (Espanha, Alemanha, Suíça, Itália e Grécia). Conta com o apoio institucional estratégico da Generalitat Valenciana, o Governo da Comunitat Valenciana, que é membro do consórcio. O consórcio

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é liderado pela ETRA, foi estruturado financeiramente pela Smartenergy, e está baseado em tecnologia alemã, com eletrolizadores e sistemas auxiliares desenvolvidos pela Sunfire. Integram ainda o consórcio a Naturgy, a Enel Green Power, o ITE (Instituto Tecnológico de la Energía), duas associações representativas de todo o setor (ASCER e ANFFECC) e diversas empresas. O projeto ORANGE.BAT estabelece o caminho para a total descarbonização de um setor industrial intensivo em termos de energia, e consequentemente em CO2, substituindo o gás natural por hidrogénio verde como combustível, e é impulsionado por 26 consumidores industriais, juntamente com as duas associações representativas do setor. O projeto foi submetido à convocatória do EU Green Deal para a concessão de apoios necessários para superar o atual gap financeiro da solução e permitir a sua viabilidade comercial. O arranque operacional da unidade de produção de hidrogénio está planeado para o início de 2024. A Figura 2 mostra o papel e o posicionamento de cada interveniente na cadeia de valor do projeto. A parceria inclui grandes players industriais, empresas de investimento, centros de investigação, organismos institucionais e um vasto conjunto de empresas cerâmicas que irão consumir o hidrogénio a ser produzido. Desta forma o projeto ORANGE.BAT cobre toda a cadeia de valor, desde a geração e armazenamento do hidrogénio verde até ao seu consumo, passando pela distribuição aos consumidores finais. Este projeto pode ser replicado no setor da cerâmica em Portugal, com as necessárias adaptações à especificidade nacional. Entendemos que a experiência da Smartenergy e dos seus parceiros em Espanha e em Portugal poderá ser útil. A Smartenergy é uma empresa sediada na Suíça, com filiais nos principais mercados da Europa, incluindo Portugal e Espanha, que desenvolve, financia e constrói projetos de energias renováveis, nomeadamente envolvendo energia solar fotovoltaica, energia eólica e hidrogénio verde. A Smartenergy assume-se como um early mover na área do hidrogénio verde, tem um track-record comprovado no desenvolvimento de projetos e disponibiliza aos seus investidores um pipeline maduro de projetos solares fotovoltaicos adequados à produção de H2 (até 1 GWp só em Portugal). A Smartenergy está empenhada na implantação de projetos para a produção de hidrogénio verde em Portugal à escala comercial. Como exemplo deste compromisso, a Smartenergy apresentou em Julho passado, a candidatura de quatro projetos à "manifestação de interesse para a candidatura ao IPCEI de Hidrogénio” lançado pelo Governo português. Todos os quatro projetos foram selecionados como elegíveis para a segunda fase do processo.

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Sustentabilidade

A ODISSEIA DAS EMPRESAS PORTUGUESAS RUMO À SUSTENTABILIDADE

po r Jo ã o We n g o r o v i u s Me n es es , S e cr e t á r i o - g e ra l d o B C S D 1 Portug al

Jo ã o We n g o r o v i u s Me n e s e s

-

Secretário-geral do BCSD Portugal

Ao longo das últimas décadas, sobretudo após a adesão à CEE (em 1986), as empresas portuguesas têm tido de lidar com vários choques e desafios para se manterem competitivas. De uma economia assente numa indústria pouco qualificada e com baixos índices de produtividade, até à economia moderna e aberta que hoje somos, o nosso tecido empresarial teve de lidar com várias exigências: i) a de incorporar tecnologia para aumentar a sua produtividade; ii) a de melhorar a qualidade e fiabilidade da sua oferta; iii) a de ser capaz de criar marcas fortes e estratégias de marketing mais sofisticadas; iv) a de inovar, diferenciar-se e incorporar mais conhecimento na sua proposta de valor; e v) a de acelerar a transformação digital dos seus modelos de negócio e cadeias de valor. É neste contexto, ou seja, depois de todos estes desafios no espaço de décadas, que surge o desafio da sustentabilidade. Hoje, para serem competitivas, as empresas são, também, chamadas a tornar as suas cadeias de valor e modelos de negócio susten-

táveis. Não apenas por exigência do planeta e das futuras gerações, mas, sobretudo, por exigência dos seus atuais clientes, investidores, reguladores e, até, trabalhadores e comunidades impactadas pelos seus negócios. Para uma empresa ser sustentável tem de ser capaz de integrar os ESG factors em todas as suas decisões, isto é, dar a mesma importância às dimensões ambiental, social e de governance que dá ao seu desempenho económico. Numa fórmula simples, o desafio é criar modelos de negócios não orientados apenas para o lucro, capazes de integrar os 3Ps – People, Planet e Profit –, de criar valor a partir da integração dessas três dimensões. As empresas do futuro são as que forem capazes de ter um modelo de negócio regenerativo e justo, as que não quiserem ser as melhores do mundo, mas as melhores para o mundo. Integrar a dimensão ambiental no modelo de negócio significa encontrar formas de reduzir a intensidade de uso de energia e de recursos naturais (matérias-primas, água, etc.), bem como de redução do volume de emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera, de poluição e de produção resíduos, ao longo de toda a cadeia de valor. Para tal, as cadeias de valor têm de se ser muito mais frugais, circulares e biológicas do que são atualmente. Já a dimensão social tem a ver com o modo como a empresa lida com os seus stakeholders ou partes interessadas, nomeadamente, clientes, fornecedores, colaboradores e comunidades impactadas. Por exemplo, há que procurar pagar o preço justo aos fornecedores, assegurar a qualidade dos bens aos clientes, ter uma relação de empowerment com os traba-

1 Business Council for Sustainable Development

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Sustentabilidade

lhadores e valorizar as comunidades impactadas. Obviamente, promover os Direitos Humanos e os Direitos do Trabalho é pedra angular desta dimensão. Por último, assegurar um modelo de governance correto tem a ver com a integração de diversos aspetos na gestão quotidiana, tais como: cumprimento das regras legais (da segurança e higiene, ao pagamento de impostos e zero corrupção); valorização da diversidade e da igualdade de género; reportar informação de carácter não financeiro, ou seja, tornar a cadeia de valor transparente no que diz respeito aos seus impactos positivos e negativos; e assegurar a independência dos seus diversos órgãos de gestão e controlo. Tal como a transformação digital, a transformação para a sustentabilidade é uma jornada composta por várias etapas. Depois de definida uma equipa, a empresa deve começar por fazer um diagnóstico das suas cadeias de valor, após o que poderá, então, desenhar uma estratégia. Obviamente, a execução de qualquer estratégia para a sustentabilidade implicará mudanças, isto é, capacidade de inovação – incremental e disruptiva. Poderá ser necessário: i) reforçar as competências da equipa; ii) rever processos e tecnologias ao longo de toda a cadeia de valor; iii) repensar o design dos produtos e serviços – o que inclui repensar aspetos como os seus materiais e embalagens; iv) rever as regras de procurement e de due diligence dos investimentos; v) revisitar o tipo de modelo de negócio da empresa; e, muito importante, vi) rever a missão, os valores e a cultura organizacional. Curiosamente, a sustentabilidade beneficia dos desafios e choques que a antecederam. Por exemplo: i) a eficiência produtiva é um requisito para a otimização dos recursos disponíveis: ii) a qualidade é um imperativo para que os produtos tenham maior longevidade; iii) a capacidade de inovação e marketing é decisiva para que a transição para a sustentabilidade possa ocorrer com a escala e a rapidez necessárias; iv) e a transição digital tem múltiplos potenciais – por exemplo, a otimização das cadeias de valor e a transição para modelos de negócio assentes na partilha em lógicas de prosumer. Sumariamente, os benefícios da sustentabilidade para as empresas são os seguintes: • Redução de custos: ao diminuir a intensidade de uso de matérias-primas, energia, água e outros recursos, as empresas economizam, enquanto dão um importante contributo para a sustentabilidade do planeta, dada a escassez e finitude dos recursos naturais, e para as metas internacionais de diminuição das emissões de gases com efeito de estufa, da poluição e da produção de resíduos;

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• Melhor gestão de risco: num contexto em que a regulação é cada vez mais exigente, ao integrar melhor os fatores ESG, as empresas mitigam o risco de falhas no cumprimento de normas de compliance legal, as quais são cada vez mais exigentes. Adicionalmente, mitigam o risco de rutura ou aumento de preço de matérias-primas essenciais, assim o risco de campanhas lesivas da reputação por práticas menos corretas ou lesivas das pessoas ou do planeta; • Diferenciação face à concorrência e fidelização de clientes: Os novos consumidores esperam poder fazer do consumo um ato de cidadania, ou seja, através das suas opções de consumo quotidianas poder contribuir para um mundo melhor. Ao conferir uma identidade diferente aos produtos, a sustentabilidade ou o propósito são capazes de atrair e fidelizar clientes. • Atração e retenção de talento: a sustentabilidade, como propósito maior do que apenas o lucro, também é um argumento cada vez mais relevante para a atração e manutenção de colaboradores com talento. Mais uma vez, e tal como diversos estudos corroboram, as gerações Millennial e Z até estão disponíveis para um trade-off entre propósito e salário. • Capital mais barato e fortalecimento das relações com os stakeholders: dado que as empresas mais sustentáveis já são percecionadas pelos investidores como tendo menos risco, as menos sustentáveis pagarão um prémio de risco cada vez maior. Se analisarmos o comportamentos das principais bolsas internacionais durante a pandemia, constatamos que os cabazes e índices de ações de empresas que integram melhor os fatores ESG tiveram muito melhor performance do que os tradicionais. Mas a sustentabilidade não melhora apenas a relação com os investidores, também fortalece as relações com todas as outras partes interessadas, ao melhorar a sua confiança e empatia pela empresa. • Oportunidade de investimento e negócio: os mecanismos de financiamento da sustentabilidade são cada vez mais variados e têm uma escala cada vez mais interessante. Vejamos: ◆ Subsídios: o envelope de subsídios europeus e nacionais para a financiar a transição para a sustentabilidade é cada vez maior. Só o Pacto Ecológico Europeu vai investir 1,8 biliões de euros, até 2027, e o Pacto de Recuperação e Resiliência 750 mil milhões de euros, até 2026, dos quais 19 mil milhões são para Portugal (neste momento em consulta pública). Segundo o Ministro do Am-

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Sustentabilidade

biente e Transição Energética, só a neutralidade carbónica de Portugal obrigará a um investimento superior a um bilião de euros, até 20502; ◆ Fundos de investimento (capital de risco e private equity): nunca houve tanta liquidez no mundo para investir. Em 2019, havia 89 biliões de USD de ativos geridos por instituições financeiras3, estando a crescer a dois dígitos ao ano a percentagem de ativos sustentáveis4. ◆ Dívida: segundo uma previsão da Moody’s, a emissão de obrigações sustentáveis deverá atingir os 850 mil milhões de USD em 20215. Por outro lado, as linhas de crédito para a sustentabilidade. Dando um exemplo, a AB InBev acaba de receber um crédito de 10,1 mil milhões de USD para investir na implementação do seu plano de transição para sustentabilidade6. ◆ Vendas: mas a melhor notícia é que, dado que o comportamento do consumidor está a mudar, as empresas já conseguem financiar a transição para a sustentabilidade através da venda dos seus produtos (por exemplo, os ténis da Adidas feitos de plástico recolhido no mar venderam 1 milhão de pares em 2017 e 11 milhões em 2019). A generalidade dos estudos de mercado da Nielsen7 atestam que nas mais diversas categorias de produtos – da alimentação, à moda, passando pela higiene –, as novas gerações de consumidores optam preferencialmente por produtos sustentáveis. O Acordo de Paris sobre o clima exige a neutralidade carbónica a nível mundial até 2050, de modo a que o aumento da temperatura média do planeta não ultrapasse os 1,5ºC face à era pré-industrial (1890)8. Para tal, será necessária uma redução das emissões em 50%, até 20309. Com o aumento da temperatura em curso, se a Gronelândia derreter, o nível do mar subirá 6 metros, mas se for a Antártida a derreter, subirá 61 metros10. Ou seja, temos um asteroide a aproximar-se da Terra em câmara lenta. A boa notícia é que sabemos o que fazer. Para além do Acordo de Paris, temos também como referencial os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas. Pegando na neutralidade carbónica, o que há a fazer é adotar os 6 Rs que têm o poder para transformar as cadeias de valor das empresas e os nossos estilos de 2 https://rr.sapo.pt/2019/12/12/pais/1017300000000-euros-este-numero-paga-a-neutralidade-carbonica-em-portugal/noticia/174937/ 3 www.bcg.com/en-pt/publications/2020/global-asset-management-protect-adapt-innovate 4 www.gsi-alliance.org/ 5 www.afr.com/companies/financial-services/green-bonds-to-hit-850b-in-2021-20210205-p56zzn 6 www.bloomberg.com/news/articles/2021-02-18/ab-inbev-signs-10-billion-loan-tied-to-sustainabilitytargets 7 www.nielsen.com/eu/en/insights/article/2019/a-natural-rise-in-sustainability-around-the-world/ 8 www.europarl.europa.eu/news/en/headlines/society/20190926STO62270/what-is-carbon-neutralityand-how-can-it-be-achieved-by-2050

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vida: Reinventar, Reduzir, Reparar, Reutilizar, Reciclar e Recusar. Vejamos: • Reinventar: nunca a Humanidade teve tanto conhecimento acumulado e tanta capacidade de inovação. Este R representa a esperança na possibilidade do crescimento verde, isto é, separar crescimento económico e impactos no planeta ou pegada ecológica. Será que através da inovação seremos capazes de separar aumento da riqueza de consumo de recursos naturais, poluição e emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera? Historicamente, tem sido muito difícil, mas o poder da inovação não tem limites. • Reduzir: quanto menos bem-sucedidos formos a reinventar, mais dependentes ficaremos da necessidade de reduzirmos os atuais níveis de produção e consumo. Em 2019, o mundo consumiu 100 mil milhões de toneladas de recursos naturais (minérios, minerais, combustíveis fósseis e biomassa) para construir casas, carros, telemóveis, fármacos, roupa, alimentação e tantos outros bens. Ora, a generalidade desses recursos é finita, quando acabarem, acabam para sempre. Por isso, o seu uso tem se ser mais frugal e equitativo. • Reutilizar, Reparar e Reciclar: a par da necessidade de reinvenção e redução, para que o nosso modelo de desenvolvimento seja sustentável, é fundamental assegurar a reutilização, a reparação e a reciclagem de todos os bens em fim de vida, bem como de todos os subprodutos, de modo a estendermos o mais possível as suas vidas úteis, evitando a extração de mais recursos naturais e a produção de mais poluição e resíduos. Porém, em 2019, o mundo foi circular em apenas 8,6%11. • Recusar: por último, há desafios perante os quais somos chamados a simplesmente recorrer ao R de recusar. Por exemplo, palhinhas de plástico ou balões como solução de decoração. A ilha de plástico flutuante no Oceano Pacífico já tem a dimensão de três Franças12, já é um continente. Em 2050, teremos mais plástico do que peixe no mar, sendo que a maioria desses plásticos são simplesmente desnecessários, pelo que deveriam ser recusados. Não será fácil, mas ainda vamos a tempo de assegurar a sustentabilidade do nosso modelo de desenvolvimento. O BCSD Portugal existe precisamente para apoiar as empresas portuguesas na odisseia rumo à sustentabilidade. 9 www.bcg.com/publications/2021/ai-to-reduce-carbon-emissions?utm_medium=Email&utm_ source=esp&utm_campaign=none&utm_description=ealert&utm_topic=none&utm_geo=global&utm_ content=202102&utm_usertoken=b7cafbf5cf3f7a6faeb59600930184dd6ef9df51 10 https://nsidc.org/cryosphere/quickfacts/icesheets.html#:~:text=If%20the%20Greenland%20Ice%20 Sheet,also%20influence%20weather%20and%20climate. 11 www.circularity-gap.world/2020 12 https://theoceancleanup.com/great-pacific-garbage-patch/#:~:text=The%20GPGP%20covers%20 an%20estimated,times%20the%20size%20of%20France.&text=To%20formulate%20this%20number%2C%20the,elaborate%20sampling%20method%20ever%20coordinated.

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Secção Jurídica

O PODER DISCIPLINAR DO EMPREGADOR

por Fi lome n a Gi r ã o e Ma r t a Fr i a s B o r g e s, FAF Ad vo ga do s

É consabido que a Entidade Empregadora dispõe de poder de direcção e autoridade, ao abrigo do qual tem legitimidade para definir os termos em que o trabalho deve ser prestado, por meio de ordens e instruções dirigidas aos seus Trabalhadores. A par deste poder de direcção, e como forma de garantir a sua efectivação, a Entidade Empregadora dispõe do designado poder disciplinar, que lhe permite a instauração de processos disciplinares perante a violação de qualquer dos deveres laborais a que os Trabalhadores estão obrigados. Contudo, o exercício deste poder disciplinar é, não raras vezes, encarado como um poder de última ratio em razão das consequências que pode importar à relação de trabalho, levando a que o seu exercício seja reservado para condutas particularmente gravosas e tendentes à aplicação da sanção disciplinar mais gravosa, o despedimento sem indemnização ou compensação. Sucede, porém, que aquela forma de encarar o poder disciplinar e o consequente evitamento da instauração de processos disciplinares levam a um desaproveitamento das suas potencialidades, enquanto instrumentos que poderão prosseguir uma (muito desejável) finalidade ordenadora das relações laborais. Ao invés, com um uso demasiadamente restritivo do poder disciplinar, a Entidade Empregadora não promove a correcção atempada de qualquer comportamento desadequado do Trabalhador faltoso e nem logra a prevenção de futuras infracções por parte dos demais Trabalhadores. Neste conspecto, e com vista a facilitar um uso racional do poder disciplinar, dedicar-nos-emos, ao longo das próximas linhas, à explicitação da tramitação do respectivo processo, aludindo, ainda, às diferentes sanções disciplinares que no seu âmbito podem ser aplicadas.

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Veja-se: 1. O processo disciplinar inicia-se, tendencialmente, com a comunicação ao Trabalhador da Nota de Culpa, da qual deverá constar a indicação circunstanciada dos factos que lhe estão a ser imputados. Tal Nota de Culpa deve ser apresentada ao Trabalhador no prazo máximo de 60 dias subsequentes à data em que o Empregador (ou o superior hierárquico com competência disciplinar) tomou conhecimento da infracção em apreço. Há, todavia, casos em que o Empregador não dispõe de toda a informação que lhe permita a elaboração (e respectiva comunicação) da Nota de Culpa, pelo que, nessa circunstância, deverá promover uma fase de inquérito, prévia à Nota de Culpa e tendente ao apuramento integral dos factos. Caso o Empregador recorra a esta fase (facultativa) de inquérito prévio, interromper-se-á a contagem dos prazos de prescrição e caducidade, desde que o inquérito seja iniciado nos 30 dias seguintes à suspeita de comportamentos irregulares, que o procedimento seja conduzido de forma diligente e que a nota de culpa venha a ser notificada ao Trabalhador até 30 dias após a sua conclusão.

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Secção Jurídica

2. Após a notificação da Nota de Culpa, o Trabalhador dispõe de 10 dias úteis para, querendo, consultar o Processo Disciplinar (que deve estar organizado e ser diligentemente disponibilizado) e responder à Nota de Culpa, alegando factos e requerendo prova que se mostre pertinente para o esclarecimento da verdade. 3. Seguidamente, inicia-se a fase de Instrução, devendo o Empregador, ou o Instrutor por si nomeado, realizar as diligências probatórias requeridas pelo Trabalhador, a menos que as mesmas se revelem manifestamente dilatórias ou impertinentes, devendo nesse caso justificar a sua não realização. 4. Findas as diligências instrutórias (ou recebidos os pareceres da Comissão de Trabalhadores ou da competente Associação Sindical, nos termos definidos no artigo 356.º, n.º 5 do Código do Trabalho), o Empregador terá 30 dias para proferir Decisão no âmbito do processo disciplinar em curso. Esta decisão poderá determinar o arquivamento do processo (nos casos em que se conclua pela inexistência de infracção disciplinar) ou a aplicação de sanção disciplinar. As sanções disciplinares previstas no Código do Trabalho (sem prejuízo do disposto no Contrato Colectivo de Trabalho aplicável1) são: (i) Repreensão; (ii) Repreensão Registada; (iii) Sanção Pecuniária); (iv) Perda de Dias de Férias; (v) Suspensão do Trabalho com perda de retribuição e de antiguidade e (vi) Despedimento sem indemnização ou compensação; e podem ainda ser agravadas por divulgação no âmbito da empresa. Antes de mais, importa reforçar que qualquer sanção disciplinar deve ser proporcional à infracção ou culpabilidade do infractor, sob pena de a mesma poder ser judicialmente sindicável pelo Trabalhador. Assim: As sanções de Repreensão e de Repreensão Registada visam advertir e censurar o Trabalhador relativamente a um determinado comportamento irregular, distinguindo-se uma da outra pelo facto de a primeira revestir forma oral, enquanto a segunda deve ser objecto de registo em livro, ou registo electrónico, próprio e, ainda, no Registo do Trabalhador (de resto, a Repreensão poderá eventualmente ficar assente em documento rubricado pelas partes, não podendo, em circunstância alguma, constar do Registo do Trabalhador, por forma a não se confundir com a Repreensão Registada).

Discute-se há muito a natureza de verdadeira sanção da Repreensão, havendo quem entenda que a mesma não assegura o direito de audiência prévia do Trabalhador, que exigiria um processo escrito com apresentação de resposta. No entanto, somos de entendimento que a Repreensão tem natureza sancionatória, que é compatível com a apresentação oral de defesa pelo trabalhador e, mais, que, não obstante a singeleza da sua forma, desempenha uma função importante em matéria disciplinar, permitindo regular as relações laborais desde as mais pequenas irregularidades, prevenindo-se, assim, muitas vezes, as penosas consequências de comportamentos mais gravosos. A Sanção Pecuniária aplicada ao Trabalhador por infracções praticadas no mesmo dia não pode exceder 1/3 da sua retribuição diária e, em cada ano civil, a retribuição correspondente a 30 dias. A sanção de Perda de Dias de Férias não pode pôr em causa o gozo de 20 dias úteis de férias. Por seu turno, a Suspensão do Trabalho não pode exceder 30 dias por cada infracção, e nem 90 dias por cada ano civil. Finalmente, alertamos para a importância de o Empregador (ou o Instrutor por si nomeado – muitas das vezes advogado) ser capaz de aferir, no caso em concreto, da existência de infracção que justifique sanção disciplinar, da sua justa medida e, nos casos mais graves, da probabilidade séria de existência de justa causa para despedimento, já que só assim será possível alcançar o seu objectivo maior, a finalidade ordenadora de relações laborais profícuas e salutares, que todos, Empregador e Trabalhadores, desejam.

1 O Contrato Colectivo de Trabalho entre a APICER e o SINTICAVS prevê as seguintes sanções disciplinares: a) Repreensão verbal; b) Repreensão registada e fundamentada, comunicada por escrito ao infractor; c) Sanção pecuniária; d) Perda de dias de férias, até três dias; e) Suspensão da prestação de trabalho com perda de retribuição e de antiguidade, até doze dias; f) Despedimento com justa causa, sem qualquer indemnização ou compensação.

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Associativismo

A CRIAÇÃO DO NÚCLEO DE APLICADORES DE CERÂMICA

por Manuel Ferreira Ramos, Consultor na APICER

Os produtos cerâmicos que integram a fileira dos materiais de construção, só cumprem a sua função, só estão aptos a cumprir a sua função, quando são integrados ou aplicados no sistema construtivo. A sua concepção, o seu fabrico, e a sua produção é essencial para garantir a sua intrínseca qualidade, os seus indiscutíveis méritos, o seu, quando falamos da generalidade dos produtos cerâmicos portugueses, elevado padrão de valor. Aqui, na aplicação de produtos cerâmicos em sistemas construtivos, é ainda mais séria esta questão, dir-se-ia até mais visível. Por vezes, muitas vezes, uma excelente imagem, construída ao longo de anos, é afectada, beliscada por um pormenor, por algo que se afasta do modelo idealizado.

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Os produtores conseguiram minimizar essa possibilidade de ocorrência de algo que danificasse essa imagem percepcionada através de rigorosos processos de controlo de qualidade que normalmente exigem investimentos elevados, e a consolidação de conhecimento e forte dinâmica de equipa. Os selos e as certificações são a garantia para o consumidor de que não estão a comprar gato por lebre! Quando os produtos cerâmicos que integram a fileira dos materiais de construção saem do distribuidor, é descarregado na obra ele é ímpar e magnífico. Falta a sua colocação! E esse é um momento importante, determinante. Torna-se necessário garantir a qualidade da aplicação para manter a qualidade do produto. Só assim se cumprirá a função dos nossos produtos. O que acontece por vezes, e enquanto acontecer uma é demais, é que uma errada aplicação, uma errada escolha dos materiais para a aplicação, que provoca danos literalmente visíveis no valor marca. Aliás, sabêmo-lo, é fácil sempre atirar as culpas para a primeira peça da cadeia. Quando um azulejo fica torto, quando um painel cai, o mais fácil é dizer “que é da qualidade do azulejo, foi o painel, já nada é o que era”. É algo que não pode ser rebatido no momento, é algo que fica a pairar, é uma dúvida que se instala.

Associativismo . Kéramica . p.31


Associativismo

São danos de imagem incomensuráveis. Ora, sabe-se que os produtos mudaram de dimensões, mudaram de peso, mudaram de técnicas para a sua correcta aplicação. Como sabemos é necessário formar e valorizar. É necessário reaprender. Daí esta extraordinária decisão da APICER de avançar para a criação de um Núcleo de Aplicadores. A ideia, que não é nova nem original mas que nunca foi concretizada, é juntar fabricantes de produtos cerâmicos, de produtos de aplicação e os aplicadores desses produtos. Identificá-los, propor workshops, avançar com acções de formação e de valorização, interagir com todos os intervenientes na perseguição de um objectivo comum. Valorizar os produtos e as pessoas, aumentar o valor da cadeia, uniformizar pela máxima qualidade. Num curto espaço de seis meses temos como missão estabilizar esse Núcleo de Aplicadores de Produtos Cerâmicos. É um desafio que necessita da colaboração de todos. Lançámos já um inquérito e falámos já com a APFAC, a APCMC e a ASSIMAGRA. É um objectivo que se alargou e que já está a dar frutos visíveis também – realização de Seminários. Ainda, já só!, faltam três meses mas acreditamos que, todos juntos, conseguiremos alcançar mais este objectivo – produtos de excelência aplicados excelentemente.

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Entrevista

À CONVERSA COM O JOSÉ MARTOS, CEO DA S A I N T-G O B A I N P O R T U G A L

por Alb e r t i na S e qu e i r a , Diretora-Geral da Apicer

José Martos

-

CEO Saint-Gobain Portugal

Kéramica – Conte-nos o seu percurso pessoal dentro do mundo dos materiais de construção e como começou o relacionamento com o sector cerâmico. José Martos – Estudei Engenharia Civil em Espanha e desde o início da minha carreira profissional estive ligado ao setor da construção e obra civil. Em 2001, tornei-me Diretor de Obra para construir uma fábrica de argamassas no sul de Madrid. Antes de finalizar o projeto, o Diretor Geral convidou-me a dar continuidade à minha carreira profissional na empresa como Diretor de Fábrica. Foi assim que há 20 anos iniciei a minha carreira na área de materiais de construção e em particular nas argamassas. Desde então, foram 20 anos repletos de desafios em países como Espanha, China, Indonésia e agora Portugal. Kéramica – A presença da Saint-Gobain em Portugal está quase a comemorar os 60 anos e curiosamente iniciou-se no sector do vidro. Poderia contar-nos um pouco a história da empresa em Portugal? A aposta em Portugal da multinacional francesa é uma aposta ganha?

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José Martos – A Saint-Gobain está presente em Portugal desde 1962, quando adquiriu parte das ações da Companhia Vidreira Nacional (Covina). Desde então, o grupo Saint-Gobain tem investido ativamente no mercado português, tanto em materiais de construção como no setor automóvel, chegando a 12 empresas distribuídas por todo o país e representadas por marcas líderes nos seus respetivos mercados, tais como a Weber, a Placo, a Isover, a Climalit, a Glassdrive, a Sekurit, a Norton, etc. Sem dúvida que foi uma excelente aposta para a Saint-Gobain investir no mercado português. O reconhecimento das nossas marcas representa a liderança da Saint-Gobain nas diferentes áreas de negócio em que está presente. Kéramica – Como está a ser vivido, na Saint-Gobain Portugal, este período de pandemia que atravessamos? Quais as principais dificuldades sentidas e medidas tomadas? As medidas de apoio do governo, têm sido adequadas? José Martos – Este período tem sido muito desafiante. Por um lado, priorizamos a saúde de todos os nossos colaboradores e temos trabalhado muito para garantir um ambiente seguro e livre do vírus. Como consequência, os nossos colaboradores têm demonstrado um grande sentido de compromisso e uma imensa capacidade de adaptação e resiliência para manter o nosso negócio ativo e atender às necessidades dos nossos clientes.

Entrevista . Kéramica . p.33


Entrevista

PRODUÇAO Kéramica – Como caracteriza a produção da Saint-Gobain Portugal? Que segmentos de produtos abrangem e quais as marcas? Quantos trabalhadores existem na empresa? José Martos – Atualmente, a Saint-Gobain Portugal S.A. projeta, fabrica e distribui materiais e soluções que são ingredientes-chave para o bem-estar de cada um de nós e para o futuro de todos. As nossas diferentes propostas para o setor da construção proporcionam conforto, desempenho, proteção e segurança, enquanto enfrentam os desafios da construção sustentável, eficiência de recursos e mudanças climáticas. Além disso, podem ser encontrados em qualquer um dos nossos locais diários de coexistência, edifícios, transportes, infraestruturas, que proporcionam bem-estar, poupança de energia, desempenho e segurança de uma forma sustentável, eficiente e lutando contra as alterações climáticas. Em 2020, no ano em que celebramos 30 anos, transformamo-nos em Saint-Gobain Portugal S.A., com a integração das marcas Weber, Placo® e ISOVER, nas atividades de argamassas industriais, gesso e isolamento. No que diz respeito a colaboradores, contamos com cerca de 750 no mercado português. Kéramica – A Saint-Gobain Portugal tem uma série de marcas, umas mais conhecidas que outras pelo público, mas todas sobejamente conhecidas no meio da construção. É uma estratégia de penetração/evolução no mercado português ou é o resultado de aquisições pela empresa? José Martos – O portefólio de marcas atuais da Saint-Gobain S.A. é, de facto, um mix entre as duas estratégias, por um lado a evolução no mercado português, como a marca de argamassas Weber, e por outro, a aquisição de empresas, como a marca Placo, que é o resultado de uma aquisição a nível global no ano 2005. Através do projeto do grupo Saint-Gobain “Transform and Grow” estamos a trabalhar em Portugal para integrar a nossa oferta de produtos de construção e apresentar ao mercado uma nova proposta de valor, capaz de acrescentar uma série de mais-valias para os nossos clien-

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Saint-Gobain Portugal

O resultado deste fantástico trabalho de equipa vislumbra-se no nosso excelente desempenho de vendas e rentabilidade em 2020, que felizmente nos permitiu não recorrer a ajudas governamentais. Estou extremamente orgulhoso e agradecido pelo compromisso e desempenho das nossas equipas.

tes comparado com o que anteriormente usufruíam de cada marca individualmente. Kéramica – Recentemente a Saint-Gobain Weber foi eleita a marca ‘Escolha dos Profissionais’ na categoria de Colagem e Betumação de Cerâmica. Quais são os critérios que consideram ter sido determinantes para esta escolha? José Martos – Começamos o novo ano com a excelente notícia de que somos a marca “Escolha dos Profissionais”, distinção que em muito nos honra. Os critérios determinantes para a atribuição do prémio são, entre outros, a durabilidade, resistência, versatilidade e facilidade de aplicação dos produtos. Não podíamos estar mais satisfeitos com a recetividade e agrado do mercado perante os nossos produtos, uma vez que a nossa solução foi a escolhida num universo de mais de 900 marcas, que apresentaram diferentes propostas, todas elas excelentes. Kéramica – Como uma das poucas empresas portuguesas que obteve a certificação TOP EMPLOYER, quais são os principais desafios futuros na formação e requalificação dos quadros profissionais da empresa? José Martos – O Grupo Saint-Gobain foi distinguido como Top Employer Global pelo sexto ano consecutivo. Para se ser “Top Employer Global”, as empresas devem obter a certificação em, pelo menos, 20 países de vários continentes nos quais operam. No nosso Grupo foi conseguida esta certificação em 36 dos seus países, um a mais do que no ano passado, e em cinco regiões, renovando a certificação como "Top Employer Middle East",

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Entrevista

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mundo em constante mudança, tem desenvolvido a sua atividade focando-se em mitigar e valorizar os resíduos gerados, em reutilizar os excedentes, em substituir determinados recursos por outros alternativos e em reciclar os materiais com que trabalha. Através das múltiplas ações desenvolvidas, a Saint-Gobain compromete-se, até 2025, a reduzir em 20% a sua pegada de carbono. Enquanto empresa social e ambientalmente responsável definimos 3 pilares fundamentais para alcançar estes objetivos, que assumimos também como nossos: • Eficiência energética dos edifícios tanto em obra nova, como em reabilitação, de forma a assegurarmos o objetivo de descarbonização em 2050. Para isto, a Saint-Gobain desenvolve e fornece soluções de isolamento térmico para edifícios, como por exemplo os sistemas ETICS/ITE da WEBER ou o sistema de isolamento com lãs minerais da ISOVER para sistemas de condutas de ar condicionado.

Saint-Gobain

"Top Employer Europe", "Top Employer North America", "Top Employer Asia-Pacific" e "Top Employer Latin America”. No que diz respeito à certificação local, para cada país, o estudo é baseado num levantamento que abrange mais de 400 práticas em termos de condições de trabalho, que são auditadas, validadas e agrupadas em 6 categorias. Este reconhecimento em Portugal aplica-se à sociedade Saint-Gobain Portugal, presente hoje no mercado português com as marcas Weber, Placo® e ISOVER®. A Saint-Gobain destaca-se nesta certificação, em particular pelo bom desempenho em termos de ética, integridade, liderança e política de RSC, com uma melhoria significativa em relação ao ano passado. Por último, a maior importância dada ao compromisso dos colaboradores: medir o compromisso, o envolvimento dos colaboradores e desenvolver planos de ação. Nesse sentido, os resultados evidenciam a gestão do desempenho profissional da Saint-Gobain através da sua atuação na área de feedback e reconhecimento dos colaboradores. O Grupo distingue-se também pela política de recrutamento de talentos, pela atenção que dispensa à implicação dos seus colaboradores durante o processo e pela utilização de soluções inovadoras como a gamificação ou programática. Neste momento, e a nível local, um dos nossos maiores focos passa pela digitalização dos nossos processos de RH de uma forma mais intensa, não só para dar resposta à estratégia do Grupo, mas também pelas necessidades que enfrentamos há cerca de um ano com a situação pandémica que vivemos. O outro tema a reforçar será a robustez da marca Saint-Gobain em Portugal como Employer Brand. Kéramica – A propósito do tema de capa desta revista, a descarbonização, a empresa tem um roadmap de sustentabilidade, com um plano de ação estruturado para 2025. Fale-nos um pouco sobre esse plano e como pretendem implementá-lo. José Martos – Segundo as Nações Unidas, na União Europeia, os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia, por 36% das emissões de CO2 e por um terço do consumo dos recursos naturais. Com um impacto ambiental a este nível, o setor da edificação tem que, de forma responsável e pró-ativa, implementar soluções que ajudem a preservar o nosso planeta e a melhorar a nossa forma de vida. A Saint-Gobain, seguindo estas diretrizes e consciente da imperativa necessidade de se adaptar a um

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Entrevista

Novo produto webercol flex lev

Colle à carrelage weber

• Economia circular utilizando materiais e soluções que possam ser recicladas e que ajudem a minimizar o impacto ambiental. Como exemplo, o mais recente produto que lançamos – o adesivo multiuso webercol flex lev, que utiliza mais de 30% de materiais reciclados na sua composição. • Saúde e conforto nos edifícios. Na Saint-Gobain acreditamos que para nos sentirmos bem num edifício é necessário ter a quantidade perfeita de luz, o nível adequado de som e a temperatura ideal. Trata-se de design, estética, tecnologia, qualidade, segurança, eficiência e sustentabilidade – um lugar para se adaptar a cada um de nós. Os edifícios têm o potencial não só de proteger as pessoas de todos os aspetos menos positivos do mundo exterior, tais como o ruído, o clima e a poluição, mas

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também de fazer com que cada um de nós se sinta mais feliz podendo viver, trabalhar e brincar em ambientes mais saudáveis. Kéramica – Em Aveiro está sediado o Centro de Competências de Argamassas da Saint-Gobain Portugal, com foco na Investigação e Desenvolvimento. Qual a importância da I&D na empresa? José Martos – A Saint-Gobain foi nomeada pelo 9º ano consecutivo como Derwent Top 100 Global Innovator ™ 2020 pela Clarivate Analytics, que determina o ranking global das empresas e instituições mais inovadoras. É um reconhecimento da quantidade, da qualidade e do impacto das nossas patentes, o que aclama a prioridade da Saint-Gobain na inovação e I&D há vários anos. Mais concretamente, a Saint-Gobain Portugal tem apostado fortemente na inovação como pilar fundamental da sua liderança no mercado português. A título de exemplo, o laboratório em Aveiro da Saint-Gobain Weber Portugal é o centro de competências global para argamassas industriais de colagem de cerâmica, o que faz com que sejam os nossos engenheiros portugueses a liderar os projetos mais avançados nesta área, o que, consequentemente, nos permite ter e lançar sistematicamente produtos inovadores no mercado português. Atualmente 1 em cada 3 produtos da Saint-Gobain Weber não existiam há 5 anos, o que representa o alto nível de inovação da empresa. Kéramica – O ambiente, a flexibilização do mercado, a aposta na reciclagem, a qualificação de quem trabalha na indústria, a transformação digital,… como encara estes desafios crescentes no contexto da empresa que atualmente gere? José Martos – No nosso setor da construção, existem, na minha opinião, três desafios fundamentais: • Digitalização, tanto para aumentar a eficiência dos nossos processos operacionais, como para potenciar o relacionamento com os clientes e para a criação de novos modelos de negócios baseados em tecnologias digitais. • Sustentabilidade, na União Europeia os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia, por 36% das emissões de CO2 e por um terço do consumo dos recursos naturais. Com um impacto ambiental a este nível, o setor da edificação tem que, de forma responsável e pró-ativa, implementar soluções que ajudem a preservar o nosso planeta e a melhorar a nossa forma de vida.

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Entrevista

• Produtividade, existe uma grande falta de mão de obra especializada no setor da construção em Portugal. Acredito que isso irá acelerar o uso da pré-fabricação e construção industrializada para satisfazer a procura de habitação no país.

Cerâmica juntas

Para dar resposta a estes desafios, estamos a trabalhar no investimento em várias áreas prioritárias: • “Customer Journey”, onde temos vários projetos em curso para digitalizar o mais possível as interações com os nossos clientes, desde a avaliação dos nossos produtos e soluções, encomendas, etc., até à formação. • “Plano de Sustentabilidade”, em setembro de 2019, a Saint-Gobain anunciou o seu compromisso de alcançar zero emissões líquidas de carbono até 2050, um objetivo alinhado com a tarefa de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Este compromisso requer um ambicioso plano de ação que influenciará a forma como fazemos negócios, as matérias-primas que utilizamos, os nossos processos produtivos, a forma como reutilizamos materiais para minimizar o desperdício. Ou seja, de uma forma geral, todas e cada uma das nossas ações visam contribuir positivamente para o futuro do nosso planeta. • Excelência Operacional e Indústria 4.0 para garantir a máxima produtividade e eficácia dos nossos processos de fabrico de forma a, por um lado, otimizar o nosso desempenho industrial, e por outro lado, maximizar a satisfação dos clientes.

Kéramica – As vossas soluções têm uma preocupação cada vez maior ao nível do conforto e da segurança dos edifícios, mas hoje, cada vez mais, há a preocupação da pegada ambiental dos produtos e da economia circular. Também é uma preocupação vossa? José Martos – Sim, é um dos requisitos fundamentais no desenvolvimento de novos produtos. Assim, em maio de 2020, lançamos o novo produto webercol flex lev, o primeiro adesivo com metade do peso e com o mesmo rendimento. Cada saco pesa 12,5kg e equivale a um saco tradicional de 25kg. Numa atividade onde o transporte e manuseamento do produto tem forte impacto, o peso é um dos elementos com elevada relevância. Outra componente essencial considerada foi a questão da sustentabilidade. Com a sistemática pesquisa de matérias-primas alternativas, foi possível encontrar uma combinação que incorpora mais de 30% de matérias-primas revalorizadas. O webercol flex lev diminui consideravelmente a pegada ecológica. Kéramica – Recentemente a APICER e a APFAC formaram um Grupo de Trabalho constituído por elementos de ambas as associações e técnicos das empresas associadas com a finalidade de criar uma Tabela de Equivalências entre Classes de Cerâmica e Adesivos. Concorda que há um problema geral de má aplicação dos produtos cerâmicos, por via da incorreta utilização das respetivas argamassas? Como o ultrapassar? José Martos – Temos grandes profissionais no setor da cerâmica em Portugal, tanto fabricantes, como distribuidores e instaladores. A realidade é que nos últimos anos tem havido um enorme desenvolvimento de novos

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Entrevista

produtos, formatos maiores e consequentemente novas soluções de colagem. Este desenvolvimento técnico pode não ter sido acompanhado pelo mercado em algumas aplicações, que ainda podem utilizar as formas tradicionais de instalação de cerâmicas. Isso é um problema? Pode ser, mas na minha opinião é mais uma oportunidade em que com a colaboração entre a APFAC e a APICER podemos mostrar ao mercado quais são as técnicas corretas e seguras de instalação de cerâmica, incrementar o fornecimento de soluções de valor acrescentado e garantir a satisfação dos clientes finais. MERCADO Kéramica – Quais são os principais sectores para onde fornecem os vossos produtos na construção? Qual o peso dos produtos complementares à cerâmica na vossa produção? José Martos – A Saint-Gobain Portugal S.A. está presente nos principais canais de distribuição de materiais de comunicação, desde os mais generalistas ao mais especializados. Relativamente ao peso dos produtos complementares à cerâmica, estes têm um peso de 50% na nossa produção. Kéramica – A Saint-Gobain Portugal exporta os seus produtos? Se sim, para que mercados e qual o peso das exportações? José Martos – Temos algumas exportações, mas são residuais, o nosso foco é sem dúvida o mercado nacional. Kéramica – Têm notado algum decréscimo de vendas no mercado nacional em virtude desta época de pandemia? O sector da construção diminuiu as encomendas? José Martos – Felizmente, o setor de construção foi muito resiliente durante a pandemia. Um grande volume de obras em curso, uma forte procura de habitação e o facto de termos podido continuar a atividade sem interrupções, fizeram com que as nossas atividades relacionadas com a construção tivessem crescido para dois dígitos em 2020. INVESTIMENTO e FUTURO Kéramica – Recentemente fizeram um investimento de 1.2 milhões de euros numa nova linha de pastas de produção para a Saint-Gobain Weber, na cidade de Aveiro. Há outros investimentos em vista?

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José Martos – A Saint-Gobain está totalmente comprometida em continuar a crescer em Portugal e, consequentemente, a nossa política de investimento é contínua em todos os ativos que ajudam o nosso crescimento e rentabilidade. Assim, em janeiro, finalizamos um investimento de 1,5 milhões de euros num novo forno nas instalações da Saint-Gobain Covipor, e atualmente estamos a concluir um novo armazém logístico na fábrica da Saint-Gobain Weber no Carregado. Enquanto houver projetos interessantes, a Saint-Gobain está em Portugal para investir, para criar novos empregos e desenvolver o mercado da construção. Kéramica – Como encara o futuro da construção em Portugal? A reabilitação vai continuar a crescer ou haverá a tendência da construção fora dos grandes centros urbano fugindo dos espaços mais fechados? José Martos – Na minha opinião, o governo tem uma agenda estratégica clara para 2030, na qual um dos pilares fundamentais é a transição climática e a sustentabilidade dos recursos. Para atingir estes objetivos, é fundamental a melhoria energética dos edifícios. Por meio do Plano de Recuperação e Resiliência, o governo vai disponibilizar incentivos financeiros que serão um fator chave para impulsionar o segmento de reforma. Acho que este segmento será nos próximos anos um dos maiores no crescimento da construção. Kéramica – Em jeito de despedida, refira uma obra nacional ou internacional, que tenham aplicado os produtos da empresa e que o tenha deixado orgulho. José Martos – A nível nacional temos muitos projetos de referência de grande importância, mas talvez destaque um dos mais recentes, que é a Residência Universitária Milestone Porto, onde fornecemos materiais isolantes ISOVER para contribuir para um projeto que é o primeiro edifício da Península Ibérica com certificação LEED Gold na categoria "Hospitalidade". Internacionalmente, tive a sorte de trabalhar na China de 2004 a 2015. Durante esse período, o país teve um “boom” de construção incrível e pudemos participar em vários projetos para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, Expo-Shanghai 2010 e toda a infraestrutura construída em torno desses eventos (aeroportos, comboios de alta velocidade, metro, etc.) foi uma experiência irrepetível.

Entrevista . Kéramica . p.39


Notícias & Informações

NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS

p o r Al be r t i n a S e q u e i r a , Diretora-Geral da Apicer

GRESART Helexia e GRESART apostam na transição energética com instalação de central fotovoltaica A HELEXIA assina parceria com Gresart e instala na sua cobertura uma central fotovoltaica em regime de autoconsumo com uma potência de 1.886 kWp, um investimento na ordem dos 2.2 milhões de euros. Esta unidade irá produzir anualmente 2.765 MWh de energia limpa e renovável, evitando a emissão anual de 1.244 toneladas de gases com efeito de estufa, o equivale à plantação anual de 31.900 árvores. Este projeto tem a dupla vantagem da substituição da cobertura do edifício, com remoção total do amianto existente, eliminando um fator de risco, que é substituído pela produção de energia limpa, ganhando assim a Empresa e o Planeta. Esta produção de energia é um fator de competitividade para qualquer negócio, uma vez que há uma redução de custos operacionais e um consequente aumento da capacidade competitiva (preço, margem e lucro). A Gresart quer continuar a ser reconhecida e a basear o seu crescimento como uma indústria de pavimentos e revestimentos cerâmicos sustentável, baseada na utilização de tecnologia de ponta e orientada para um mercado globalizado. A empresa afirma-se como produtor europeu de referência em termos de design e competitividade, valorizando a excelência na gestão dos recursos,

na procura contínua da qualidade, nas soluções apresentadas ao cliente e flexibilidade na abordagem às necessidades do mercado. A sua responsabilidade social e ambiental promove a qualidade de vida dos colaboradores e população em geral, com respeito pelo meio ambiente. Cerca de 30% da produção da GRESART é para exportação, tendo como principais mercados Alemanha, França, Bélgica, Inglaterra, Países Baixos, Espanha, Irlanda, Suécia, Canadá e Estados Unidos da América. Segundo Orlando Oliveira, que coordena o departamento financeiro da Gresart “Toda a produção assenta na utilização intensiva de energia, devido à total automatização do processo produtivo, com reflexo na dependência elevada de energia elétrica, por um lado, e do Gás Natural por via dos processos de atomização, secagem e cozedura. Tendo isto em consideração, a promoção do projeto da instalação da central fotovoltaica surgiu como uma oportunidade de promover a eficiência energética com relevantes vantagens económicas, assegurando mais um passo no caminho da descarbonização e redução no impacto ambiental desta atividade. Ao mesmo tempo, promove a melhoria da qualidade de vida dos colaboradores pela via da substituição da cobertura do edifício, permitindo melhorar a iluminação natural no interior da unidade industrial e a remoção total do amianto existente”. PORCEL PORCEL Primavera’21 – Novas Coleções: Sunstone & Matcha

Edifício Gresart

A Porcel inicia o ano com um tom determinado e positivo, apresentando duas novas coleções a 20 de janeiro. Sunstone e Matcha são serviços independentes que se unem sobre a mesa para transmitir esperança através da sinergia entre a cor e o ouro. Ao desenvolver uma coleção durante um período de incerteza a nível internacional, a Porcel deu continuidade à inovação, focando-se no futuro e em produtos que promovam motivação e optimismo.

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Notícias & Informações

Recer - Magnes Black 7,5x30 e Magnes Clay 7,5x30 e Carbon Soft Graphite 60x60R)

RECER MAGNES – um “brique” intemporal Na Recer os formatos dos pavimentos e revestimentos são cuidadosamente estudados para evidenciar o design, as cores e os matizes singulares do produto. São detalhes que potenciam a estética e a ambiência desejada na métrica de cada espaço. A Recer lança uma nova coleção SIB (“Small is Beautiful”). O pequeno formato está de volta e em força. Muito versátil e altamente decorativo, proporciona inúmeras combinações para criar ambientes exclusivos.

Porcel

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Sunstone Matcha 13

Recer - Magnes Blue 7,5x30 e Edit White M20x20 e Edit Anthracite M20x20 e Edit Decor Anthracite - White M20x20

Porcel - Sauce boat 35cl coupe sunstone

Sunstone é um serviço de mesa completo decorado com finas linhas a ouro, resultando num padrão geométrico espelhado. Semelhante a um cristal aprimorado, Sunstone exibe um desenho caleidoscópico composto por ténues linhas douradas sobre cada peça de porcelana. O nome Sunstone provém do resplandecente reflexo metálico que cria uma ilusão de ótica. A designação transportanos, ainda, a tempos medievais, quando a Pedra do Sol (Sunstone) era usada na navegação para localizar o sol, até num céu nublado, sendo metaforicamente apropriada para 2021. Elegante, sofisticada e de acordo com a identidade da Porcel, Sunstone é uma notável coleção contemporânea que irá destacar-se naturalmente em cada mesa. Matcha é uma coleção num verde suave, inspirada na bebida japonesa proveniente das folhas do chá verde. A cor internacional da esperança é, assim, incorporada nesta seleção de nove peças. Matcha é igualmente vibrante e otimista, tal como esperamos que seja o ano de 2021. A composição de peças da coleção Matcha é a mesma de Passion e Apricot, oferecendo aos clientes diferentes cores como opção, para que possam adaptar-se a diferentes ocasiões. As três coleções complementam-se entre si, podendo ainda combinar-se com outras coleções Porcel, como Sunstone, Golden Orbit ou Pantheon, para uma mesa mais colorida e sofisticada.

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Noticias das Empresas . Kéramica . p.41


Notícias & Informações

Magnes é um “brique” intemporal, no tradicional formato 7,5x30 com superfície mate acetinado, um acabamento macio e extremamente elegante e com o encanto do artesanal, numa gama de tons sofisticados composta por 8 cores e 7 decorações. Cores em tons quentes e frios que conferem aos revestimentos cerâmicos da coleção Magnes um aspeto distinto. O efeito “brique” é eleito para revestimentos, podendo ser combinável com diversos pavimentos/revestimentos da gama Recer, capaz de dar forma a diversos estilos criativos. Ambientes mais simples ou mais sofisticados, mais sóbrios ou mais irreverentes, mais minimalistas ou mais exuberantes, mais clássicos ou mais contemporâneos, mais intemporais ou mais trendy. Magnes é magnético. Ninguém vai ficar indiferente. RECER recebe pelo 6º ano consecutivo o Prémio Cinco Estrelas A Recer foi reconhecida com o Prémio Cinco Estrelas 2021, num evento on-line apresentado pela atriz e apresentadora Filomena Cautela. Durante vários meses, estiveram em avaliação 990 marcas em diversas categorias. No universo de várias marcas portuguesas e espanholas do setor dos revestimentos e pavimentos cerâmicos, a preferência dos consumidores e dos profissionais recaiu sobre a marca Recer. O prémio avalia as marcas e produtos em vários aspetos, como a inovação, o preço, a notoriedade da marca, entre outros. “Vencemos este prémio consecutivamente nos últimos 6 anos. Esta escolha demonstra que a Recer e os nossos produtos são valorizados

e reconhecidos pelos nossos clientes, ano após ano, num setor tão competitivo como é o dos pavimentos e revestimentos cerâmicos”, afirmou Liliana Rodrigues, administradora. Para a atribuição deste importante prémio, foram contactadas mais de 1900 pessoas (profissionais e não profissionais), que avaliaram os produtos e as marcas do sector de pavimentos e revestimentos cerâmicos, através de uma empresa independente selecionada pela organização do Prémio “Cinco Estrelas”. O produto distinguido este ano com o Prémio Cinco Estrelas é a série GRAND. Liliana Rodrigues explica que “é um 3 em 1, ou seja, são três soluções que se conjugam e em que cada elemento combina com o outro, adaptadas às necessidades atuais dos espaços em que o exterior assume uma nova relevância”. GRAND STONE é um cimento que incorpora delicadas pedras. A sua produção em porcelânico é garantia de elevadas prestações técnicas, com características de anti escorregamento e ideal para espaços exteriores (terraços, varandas, piscinas, etc.). Para possibilitar uma leitura contínua do espaço através da uniformização das cores dos pavimentos desde o exterior ao interior, esta série apresenta o GRAND CONCRETE: um cimento aguado e de toque suave, ideal para o interior da casa. No revestimento GRAND, destacam-se os movimentos longilíneos e as suaves volumetrias das suas bases. Utilizado em paredes, reproduz em cerâmica a naturalidade de um cimento aguado de acabamento, criando superfícies elegantes. As três soluções conjugam-se num jogo harmonioso em que cada elemento comunica e combina com o outro sem perder a sua individualidade, podendo também ser conjugado com outros materiais como madeiras, pedras, tintas, etc.

Revigrés

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Fachada

Recer - Grand Concrete Sand 60x60R e Grand Stone Sand 60x60R

Recer - Grand Concrete Grey 45x90R e Grand Stone Grey 30x60)

REVIGRÉS REVIGRÉS apresenta novas soluções no CATÁLOGO GERAL 2021 A Revigrés acaba de lançar o seu novo Catálogo Geral, já disponível online e nos revendedores da marca, com as suas mais recentes coleções de revestimentos e pavimentos cerâmicos. Em linha com as atuais tendências de decoração, a suavidade das cores e relevos dos revestimentos da nova coleção

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Revigrés

Revigrés

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Coleção Soft

Coleção Uni Color

Notícias & Informações

Janeiro . Fevereiro . 2021

Num ano que colocou à prova a solidez das marcas e a forma como estas conseguiram adaptar-se a uma nova realidade, é um orgulho para a Revigrés continuar a merecer a confiança dos portugueses e, ao mesmo tempo, um incentivo para manter o bom trabalho, indo ao encontro das suas expetativas.

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Prémios Design Internacional

VISTA ALEGRE VISTA ALEGRE conquista 17 prémios de design internacional A Vista Alegre, marca que há 197 anos inova no fabrico e design da porcelana, vidro e cristal, voltou a ser reconhecida em 2020 com 17 prémios internacionais, atribuídos pelas principais e mais prestigiadas organizações mundiais de design. O reconhecimento do trabalho que a Vista Alegre vem desenvolvendo nos últimos anos, em que se associou aos “mais notáveis designers mundiais”, deu frutos no German Innovation Award, no qual a colecção Vortex by Ross Lovegrove foi vencedora do principal prémio.

Vista Alegre

SOFT - com o novo formato 20x60cm - promove serenidade e bem-estar em ambientes que se destacam pela simplicidade. A coleção de revestimentos UNICOLOR - agora no formato 40x120cm – surge atualizada com novas cores e peças decoradas que permitem desenhar padrões diferenciadores, para criar espaços arrojados ou mais intimistas. Além de novos produtos, a marca apresenta ainda serviços complementares para profissionais do setor e consumidor final. Destaque para a Biblioteca de Objetos BIM, da qual já constam as referências que resultam das 6 cores, 5 formatos e 4 acabamentos da nova coleção OMNI. Estão disponíveis em www. revigres.com e agora também no portal internacional BIM Object, juntamente com os Objetos BIM da Coleção Cromática. No Catálogo Geral 2021 da Revigrés, encontramos ainda informação sobre as diversas plataformas digitais que a marca tem à disposição dos seus clientes. No atual contexto, destacamos a visita virtual aos showrooms de Águeda e Lisboa, em que é possível observar com detalhe os ambientes e produtos em exposição nos dois espaços, sem sair de casa. REVIGRÉS no ranking das marcas com melhor reputação em Portugal A Revigrés volta a marcar presença na lista das empresas e marcas mais relevantes e com melhor reputação em Portugal, do Global RepScore 2021. Realizado pela On Strategy, em parceria com a Corporate Excellence Foundation, este estudo avalia, anualmente, o posicionamento e os níveis emocional e racional de reputação associados a mais de 2.000 marcas em Portugal. Deste estudo, resulta um ranking elaborado a partir da opinião recolhida, ao longo de um ano, junto de mais de 50 mil pessoas representativas da sociedade Portuguesa, no que respeita à distribuição geográfica, género, idade e grau de formação. A Revigrés conquistou o 3º lugar entre as empresas com melhor reputação no Setor Industrial.

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SEW EURODRIVE

CDM®: Condição para uma manutenção orientada para os objetivos Será a inteligência Artificial (IA) o novo aliado na tomada de decisão? Há muitas empresas a adaptar a tomada de decisão operacional a uma abordagem "baseada em dados", informações valiosas que possibilitam a criação de modelos preditivos e se tornam facilitadores. Mediante dados históricos são criados programas e algoritmos que preveem o que acontecerá e sugerem ações de procura dos melhores resultados. A IA ajuda a ter mais e melhores dados e, embora ainda esteja longe de ser tão boa como um ser humano, é um aliado importante e sê-lo-á cada vez mais. Os dados permitem examinar todas as opções de custo, minimizar riscos, otimizar processos, detetar e prevenir possíveis falhas mesmo antes que estas ocorram. Os sistemas adaptativos reconhecem procedimentos, aprendem, adaptam e eliminam erros futuros. Este é, por exemplo, o caso do nosso Maintenance Management CDM® (Complete Drive Management), um pacote completo de benefícios que fornece proteção máxima contra falhas e paragens não planeadas que geram custos elevados.

A SEW-EURODRIVE PORTUGAL é uma PME com sede e estabelecimento industrial na Mealhada, dedicada à produção/montagem e assistência técnica completa a toda a gama de equipamentos SEW: moto-redutores, variadores electrónicos de velocidade e redutores industriais. A SEW-EURODRIVE PORTUGAL desenvolve uma intensa actividade na engenharia mecatrónica e sistemas de automação, combinando novas tecnologias de accionamentos industriais mecânicos e electrónicos. Assegura um serviço de assistência técnica durante 24 horas por dia e 7 dias por semana.

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A SEW-EURODRIVE é um líder global no desenvolvimento e produção de equipamentos e soluções de transmissão e controlo do movimento. Está presente em todo o mundo através de uma rede de unidades de montagem e serviço especializado, oferecendo e suportando a mais vasta gama de soluções de accionamento modulares e integradas, a par com um conjunto modular de serviços de manutenção CDS® (Complete Drive Service) e assistência técnica. Conta mais de 16 000 colaboradores, dos quais cerca de 550 dedicados à investigação e desenvolvimento. A presença global da SEW-EURODRIVE proporciona aos construtores e utilizadores de máquinas a garantia de serviço local em todo o mundo

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CERTIF: GRANDE PROCURA NA ÁREA DE PRODUTOS PARA EXPORTAÇÃO

• Certificação de produtos para exportação constituiu a parte maior da atividade da CERTIF em 2020. Setores eléctrico e de construção estiveram em destaque. • Emitidos mais de 120 novos certificados na área da marcação CE. O ano de 2020 ficará na memória de todos pelas piores razões, pelo impacto social e económico na sociedade e pelas dificuldades que trouxe às empresas e que se irão fazer sentir nos próximos anos. Na atividade de certificação os desafios foram enormes com a necessidade de adaptação, quer dos organismos de certificação, quer das empresas, com vista à viabilização das ações de avaliação indispensáveis à manutenção dos certificados. Sendo o core business da CERTIF a certificação de produtos e serviços, com a necessidade de um maior contacto com as empresas, foi possível manter um elevado número de ações presenciais, tendo sido realizada a quase totalidade das ações de acompanhamento. Tendo em conta os constrangimentos resultantes da situação, foi dada uma enfâse ainda maior à ligação aos clientes, respondendo a várias solicitações de certificações para apoio a exportações. Ao nível financeiro há a realçar o facto de a faturação do exercício, ter ficado próxima do ano anterior. Certificação de produtos Sendo o core-business da CERTIF a certificação

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de produtos (em conjugação com a Marcação CE) o volume de negócios desta área representou cerca de 77% do total. Não foi, como seria expetável, um ano de crescimento em novas áreas ou novos produtos. No entanto, a atividade de certificação de produtos manteve-se ao nível do ano anterior, com a entrada de poucos clientes novos, mas com bastante dinâmica dos clientes atuais, com novos processos, destacando-se o setor elétrico, nas luminárias e, com maior relevo, nos cabos elétricos. Destinados à exportação foram emitidos vários certificados CB para equipamentos elétricos, o que reforça o papel da CERTIF neste domínio. No setor dos produtos de construção também há a realçar a certificação de novas gamas de produtos para clientes atuais, com relevo para tubos metálicos, louça sanitária e telhas cerâmicas. Uma grande parte destas certificações envolve produtos para exportação, continuando a CERTIF a desenvolver, em parceria com organismos estrangeiros, processos que se destinam somente à obtenção de certificações indispensáveis ao acesso a esses mercados.

Janeiro . Fevereiro . 2021


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Certificação de serviços A certificação do serviço de instalação, manutenção e assistência técnica de equipamentos fixos de refrigeração, ar condicionado e bombas de calor que contenham gases fluorados com efeito de estufa manteve a sua dinâmica de crescimento, tendo sido emitidos este ano 125 novos certificados, estando válidos mais de 1.400, e mantendo-se vários processos em curso. Para além deste esquema merece relevância o FER – Fim do Estatuto de Resíduo, onde a CERTIF tem trabalhado com a APA e com a associação do setor e que tem tido procura por empresas que pretendem, desta forma, valorizar os resíduos que se destinam a exportação. Certificação de sistemas de gestão A situação no final do ano, relativamente a certificados válidos, era a seguinte: • Sistemas de Gestão da Qualidade 104 • Sistemas de Gestão Ambiental 14 • Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar 4 • Sistemas de Higiene e Segurança no Trabalho 2 • Sistemas de Gestão da Energia 1 • Outros 1 Certificação de processos Foi feito o acompanhamento da certificação de sistemas de controlo da produção de betão em centrais instaladas em barragens bem como de processos de controlo de fabrico de empresas em Angola, que beneficiam da certificação conjunta CERTIF/IANORQ, fruto do acordo estabelecido. Certificação de pessoas A certificação de pessoas resulta de duas parcerias, uma com a ADENE, na área das energias renováveis e eficiência energética, e outra com o CTCV, para auditores de sistemas de gestão da qualidade e ambiente. Também aqui se fez sentir o confinamento, com menor procura, tendo sido emitidos apenas 18 novos certificados, estando, no final do ano, certificados 111 técnicos nos seguintes domínios: • Auditores para a norma ISO 9001 4 • Auditores para a norma ISO 50001 16

Janeiro . Fevereiro . 2021

• Instaladores de janelas CLASSE+ • Projetistas de sistemas solares térmicos • Projetistas de térmica de edifícios

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Dada a sua característica individual este tipo de certificação tem uma grande rotatividade, existindo sempre um elevado número de desistências que vai sendo compensado com a emissão de novos certificados. Marcação CE A CERTIF manteve a política de procurar responder às solicitações das empresas portuguesas, sendo de referir que, para várias normas, a CERTIF é o único Organismo Notificado nacional no âmbito do Regulamento dos Produtos de Construção, que pode oferecer esse serviço às empresas e que, se isso não acontecesse, teriam de recorrer a organismos noutros países europeus. Durante o ano foram emitidos mais de 120 novos certificados, com várias reemissões para enquadrar novos produtos de clientes já existentes, destinando-se uma grande parte dos certificados emitidos a processos de exportação. Foram concretizados novos processos, sendo de destacar, pela primeira vez, os sistemas de construção em aço leve no âmbito das estruturas metálicas e novos processos de painéis luminosos para autoestradas, área que só a CERTIF desenvolveu. Na Marcação CE existem clientes na Alemanha, Angola, Brasil, Chipre, Dinamarca, Espanha, Grécia, Itália, Irão, Reino Unido, República Checa e Suíça. A CERTIF manteve a Coordenação do Grupo de Organismos Notificados Nacionais no âmbito do Regulamento dos Produtos de Construção. DAP – Declarações Ambientais de Produto A CERTIF é a única entidade reconhecida pela Plataforma para a Construção Sustentável como organismo de certificação que, com a sua bolsa de verificadores, atua no âmbito do Sistema DAP Habitat. Em 2020 foi concluído um novo processo de verificação de DAP relativo a grés porcelânico.

Outras Notícias . Kéramica . p.47


Calendário de eventos

ISH’2021 (Louças Sanitárias) Bienal – Frankfurt – Digital De 22 a 26 de Março de 2021 ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html

COVERINGS’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Orlando (USA) De 7 a 9 de Julho de 2021 coverings.com/

TOKYO BIG SIGHT SOUTH’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Tokyo (Japão) De 18 a 30 de Outubro de 2021 ifft-interiorlifestyle-living.jp.messefrankfurt.com/ tokyo/en.html

EXPOREVESTIR’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – S. Paulo – Digital De 23 a 26 de Março de 2021 exporevestir.com.br/

INTERNATIONAL BATHROOM EXHIBITION’2021 (Louça Sanitária) Anual – Milão (Itália) De 9 a 10 de Setembro de 2021 https://www.salonemilano.it/en

HOSTMILANO’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Milão (Itália) De 22 a 26 de Outubro de 2021 host.fieramilano.it/en

MOSBUILD 2021 (Materiais de Construção) Anual – Moscovo (Rússia) De 30 de Março a 2 de Abril de 2021 mosbuild.com

MAISON & OBJET’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual - Paris (França) De 9 a 13 de Setembro de 2021 maison-objet.com

LONDON BUID ‘2020 (Materiais de Construção) Anual – Londres (UK) De 17 a 18 de Novembro de 2021 www.londonbuildexpo.com

THE NEW YORK TABLETOP SHOW’ 2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual – NY (USA) De 13 a 16 de Abril de 2021 41madison.com

INTERIOR LYFESTYLE CHINA’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Shangai (China) De 16 a 18 de Setembro de 2021 interior-lifestyle-china.hk.messefrankfurt.com

EQUIPOTEL’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – São Paulo (Brasil) De 22 a 25 de Novembro de 2021 equipotel.com.br/

AMBIENTE’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Frankfurt (Alemanha) 20 de Abril de 2021 ambiente.messefrankfurt.com

BIG 5 SHOW´2021 (Materiais de Construção) Anual – Dubai (EAU) De 12 a 15 de Setembro de 2021 www.thebig5.ae/

MAISON & OBJET’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual - Paris (França) De 21 a 25 Janeiro de 2022 maison-objet.com

INDEX DUBAI2021 (Design/Tendências) Anual – Dubai (EAU) De 31 de Maio a 2 de Junho de 2021 indexexhibition.com

100% DESIGN’2021 (Design/Tendências) Anual – Londres (R.U.) De 22 a 25 de Setembro de 2021 100percentdesign.co.uk/

SURFACE DESIGN SHOW’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Londres (R.U.) De 8 a 10 de Fevereiro de 2022 surfacedesignshow.com/

THE HOTEL SHOW’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Dubai (EAU) De 31 de Maio a 2 de Junho de 2021 thehotelshow.com/

CERSAIE’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Bolonha (Itália) De 27 de Setembro a 1 de Outubro de 2021 cersaie.it

CEVISAMA’2022 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Valencia (Espanha) De 7 a 11 de Fevereiro de 2022 cevisama.feriavalencia.com

BATIMATEC’2021 (Materiais de Construção) Bianual – Argel (Argélia) De 7 a 11 de Junho de 2021 batimatecexpo.com/

TECNARGILLA’2021 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Rimini (Itália) De 27 de Setembro a 1 de Outubro de 2021 https://en.tecnargilla.it/

AMBIENTE’2022 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Frankfurt (Alemanha) De 11 a 15 de Fevereiro de 2022 ambiente.messefrankfurt.com

THE INTERNATIONAL SURFACE EVENT’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Las Vegas (USA) De 16 a 18 de Junho de 2021 Intlsurfaceevent.com

NEOCON’ 2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa/Ladrilhos) Anual – Chicago (USA) De 4 a 6 de Outubro de 2021 neocon.com/

CERAMITEC’2022 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Munique (Alemanha) De 21 a 24 de Junho de 2022 ceramitec.com

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Janeiro . Fevereiro . 2021


Parceiro de Confiança no seu Negócio CREDIBILIDADE - IMPARCIALIDADE - RIGOR reconhecidos na certificação de produtos e serviços e de sistemas de gestão Membro de vários Acordos de Reconhecimento Mútuo Presente em 20 países

Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão

R. José Afonso, 9 E – 2810-237 Almada – Portugal — Tel. 351.212 586 940 – Fax 351.212 586 959 – E-mail: mail@certif.pt – www.certif.pt


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