Revista Kéramica n.º 370 Maio / Junho 2021

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Arquitetura

SOLUÇÕES GLOBAIS COM SABERES LOCAIS

po r Pe d r o Re ssa n o G a r ci a , arqui te cto

A marca Architecture made in Portugal tem força, está saudável e recomenda-se. No nosso atelier, em Portugal, estamos interessados no futuro e em conhecer como pensam as futuras gerações. Privilegiamos uma abordagem contemporânea e ecológica, alinhada pela perspectiva da biofilia. Atualmente, as cidades enfrentam enormes custos para fazer face às alterações climáticas. Segundo os dados disponíveis, os três principais efeitos (o efeito de ilha de calor urbano, as inundações e as cheias) podem ser combatidos com a mesma estratégia: o efeito esponja. As autarquias, investidores público-privados e os particulares melhorarão a sua resiliência e terão menos custos (mitigação) ao implementar soluções de adaptação a novos padrões climáticos, ao mesmo tempo que apoiam e mobilizam a sociedade civil para comportamentos mais sustentáveis, pessoais ou em redes comunitárias. A concretização do conceito da cidade esponja permitirá absorver inundações e marés, estabilizar a temperatura, para combater o efeito de ilha de calor urbano, e garantir menores consumos energéticos. O investimento na vegetação, em espaços públicos permeáveis, e a sua aplicação nas fachadas e coberturas dos edifícios, combinado com a aplicação do isolamento térmico com cortiça (sendo Portugal o 1º produtor mundial desta matéria-prima), a utilização de águas cinzentas para rega a custo zero, e a micro-produção de energia, permitirão ao país promover estratégias de Construção Sustentável/ Economia Circular. Atualmente há legislação desatualizada e, por conseguinte, serviços municipais que travam esta oportunidade. O governo é responsável por atualizar procedimentos de maneira a viabilizar a convergência entre o conceito e a sua implementação. Portugal tem ótimas condições para implementar, otimizar e exportar conhecimento sobre as melhores

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práticas de adaptação, resiliência e descarbonização. A liderança a nível europeu permitirá angariar fundos comunitários suplementares e vender a outros países este know-how. Desde o início de 2019 que tenho feito a coordenação de um projeto de investigação H2020 (sos climate waterfront 823901), na Universidade Lusófona, que desenvolve soluções para as cidades ribeirinhas face às alterações climáticas, centrado em cinco casos de estudo: Estocolmo, Roma, Gdansk, Tessalónica e Lisboa. A subida do nível do mar, marés altas, tempestades e inundações aumentam a vulnerabilidade dos territórios ribeirinhos urbanos. As transformações necessárias enfrentam anos de discussões e/ou ações judiciais envolvendo perdas e custos significativos, antes que as cidades adaptem efetivamente as frentes ribeirinhas às mudanças climáticas. A resiliência é transformadora e, em cada transformação, tenta criar uma cidade mais forte e melhorada. O efeito das mudanças climáticas está a aumentar a um ritmo sem precedentes que exige adaptação e transformação de territórios vulneráveis. Esses problemas afetam não apenas o meio ambiente e a economia local, mas também todos os cidadãos ou mesmo os turistas. Soluções duradouras, estratégias eficientes e imaginativas criam cidades mais resilientes, apoiam uma orla urbana sustentável e melhoram comunidades saudáveis, – esses fatores são essenciais para sustentar a vida na frente ribeirinha. A costa portuguesa, se seguir a tendência de outros países, tenderá para aquilo que o Eric Van Hooydonk escreveu no seu livro Soft Values of Seaports e que reúne um consenso junto de outros autores sobre a valorização de soft edges, as linhas de costa que não procuram controlar a natureza mas dialogar e negociar com as suas forças. A solução soft edge dá prova de ser mais eficaz, mais resiliente e menos dispendiosa. O diálogo e a

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