Editorial
Há vaticínios que vale a pena fazer, mesmo que sejam meros exercícios mais ou menos especulativos, feitos a propósito e com base naquilo que nos parece. Mas vale a pena fazê-los porque ninguém vai estar cá para os comprovar, nem deles vai rezar a História daqui por 400 ou 500 anos. Pode ser um exercício puramente lúdico, mas se nos der prazer e for inócuo, valeu a pena porque deu prazer! É o que vai acontecer com a afirmação que aqui faço de que, lá para os séculos XXX, a História deverá tratar-nos como Idade do Verde, tal como a Pré-história classificou as Idades da Pedra, do Bronze ou do Ferro, consoante o tipo de materiais e ferramentas com que se iam catalogando as mudanças e as inovações. É que na nossa era tudo tem que ser verde ou parecer verde, para que se torne são e aprazível; tudo tem que ser verde ou parecer verde para que se torne bem acolhido ou bem feito; e tudo tem que ser verde ou parecer verde para poder ser apontado como símbolo de modernidade, com garantia de futuro. Nada tenho naturalmente contra esta cor, e muito menos ainda tenho contra o sentido da mudança, mais virado para as preocupações climáticas, com as quais procuramos, e bem, preservar o futuro do nosso ambiente e o nosso ecossistema. Porém e quando atentamos nestas preocupações, não podemos esquecer que as soluções verdes não são
Maio . Junho . 2021
aquelas que nos tocam à vista desarmada ou numa primeira vista de olhos, mas sim aquelas que nos permitem responder por mais tempo e com mais eficácia, às necessidades e aos objetivos com que foram executadas. Por outras palavras, o ciclo de vida dos produtos e das soluções construtivas, podem não só tornar mais verdes essas soluções, como permitem que a mesma cor se mantenha por muito mais tempo, e cumpra com mais eficácia os compromissos ambientais que teremos de preservar, para bem do nosso conforto e da nossa saúde. Vem isto a propósito de um comentário que vi e ouvi aqui há dias do Professor Raimundo Mendes da Silva (ver o Telha Talks https://www.youtube.com/watch?v=1DEjoQ2nLhQ) que, com a competência, conhecimento e autoridade que se lhe reconhece em matéria de construção e dos materiais para construção, chamava a atenção para os riscos das coberturas planas dos edifícios, tendo em atenção sobretudo os efeitos que podem ser provocados nas construções em zonas sísmicas, e fora destas, nos edifícios que possam estar mais expostos a oscilações frequentes provocadas por agentes externos. Em boa verdade e nas coberturas planas, os riscos de fissuras provocadas por esses agentes ou abalos, obrigam a reparações caras e morosas, muitas das vezes mal sucedidas, e sempre com caráter temporal muito limitado. É aqui que as soluções verdes perdem a cor, e se tornam amarelas ou mesmo pretas, quando não recuperadas de imediato. Parabéns ao Professor Raimundo Mendes da Silva pelo desenho e pelas cores com que pintou o futuro da construção!
Dr. José Luís Sequeira (Presidente da Direção da APICER)
Editorial . Kéramica . p.3