Revista Abranet . edição 35 . agosto/setembro/outubro 2021

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INTERNET

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ano IX . edição 35 . ago/set/out 2021

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EDITORIAL Eduardo Neger Presidente da Abranet

A NOSSA HISTÓRIA, A GENTE ESCREVE Em novembro, a Abranet completa 25 anos de atuação. São duas décadas e meia de participação ativa na construção e na defesa dos direitos das empresas de internet. O momento é de celebração e de contar a trajetória de quem lutou para fazer vingar o negócio de internet no Brasil. Mas também é tempo de refletir sobre o presente e, especialmente, acerca do futuro. Como estaremos daqui a 25 anos? É um exercício importante a ser feito. A participação dos associados nessa celebração é fundamental, e queremos que vocês nos procurem para enviar fotos, para contar fatos curiosos. É assim que escreveremos a nossa história e poderemos traçar novas diretrizes. E se o passado se mistura com o futuro, esta edição da Revista Abranet traz um tema que está bastante em voga – governança – sob a sigla ESG - Environmental, social and compliance. Fiquemos atentos: ESG não é só para as grandes empresas. Vai fazer parte também do negócio das pequenas e médias, e é hora de entender como incorporá-la a seu dia a dia. Empresas de todos os portes serão cobradas por suas responsabilidades ambientais e sociais e pela governança. E as grandes estão, cada vez mais, exigindo que as PMEs tenham seus processos produtivos em conformidade com práticas sustentáveis. Construir novas etapas é um desafio que aceitamos desde nossa fundação. Foi assim que sobrevivemos e criamos o nosso espaço. Tanto é que está ficando para trás o tempo em que as prestadoras de serviços de internet ofereciam apenas conexão. Avançamos e, hoje, estamos presentes dentro das residências e dos escritórios com outros serviços. À medida que passamos a oferecer mais funcionalidades, expandindo o portfólio de atuação, criamos um modelo de rentabilidade ao ouvir os usuários. Se inovar é palavra de ordem para as empresas bem-sucedidas, apostar em produtos que solucionem problemas é o motor propulsor da inovação. Nos últimos 16 meses, a internet reescreveu o modo de viver, estudar e trabalhar no mundo por conta do isolamento social devido à Covid-19. Mais do que nunca percebemos que a educação do futuro tem de ser conectada e unir três pilares: a conectividade, o conteúdo e o uso de metodologias de aprendizagem. Até porque, como lembra o nosso diretor Dorian Lacerda, em artigo para esta edição, “sem método não há educação, sem conteúdo não há educação, porém sem conectividade não há educação, conteúdo ou aplicação de método.” Identificar oportunidades na crise é nossa tradição. E mais uma vez isso se verifica com a oferta de novos serviços a reboque da telemedicina. Vários associados estão atuando nesse campo, junto a médicos, clínicas e hospitais. A inovação também está reescrevendo o setor financeiro. O Pix revolucionou os meios de pagamento e há muito por vir, e nós vamos participar dessa história, com absoluta certeza. Boa leitura! abranet.org.br agosto / setembro / outubro 2021

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ÍNDICE 05 | ESPECIAL

CONSELHO EDITORIAL Eduardo Neger

Abranet completa 25 anos e segue na vanguarda. A Associação Brasileira de Internet sempre esteve alinhada com os desejos e conquistas das empresas do setor, atuando fortemente para viabilizar toda a cadeia de valor que surge com a internet.

neger@abranet.org.br

Eduardo Parajo

parajo@abranet.org.br

06 | CAPA

Sua empresa está engajada em

ESG?

GERÊNCIA EXECUTIVA Roseli Ruiz Vazquez

Governança e sustentabilidade estão fazendo a diferença nos negócios, e não apenas para grandes empresas. Pequenas e médias começam a incorporá-las em seus processos.

gerente@abranet.org.br

PROJETO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO

Editora Convergência Digital

12 | NEGÓCIOS

editora@convergenciadigital.com.br Tel: 011-3045-3481

Muito além da última milha. O atendimento das empresas de internet deixou de ir apenas até o conector fixo do cabo nas instalações do cliente e passou a oferecer outras funcionalidades. Os provedores ampliaram o portfólio de atuação – e também o faturamento.

DIREÇÃO EDITORIAL / EDITORA-CHEFE

Ana Paula Lobo

analobo@convergenciadigital.com.br

16 | MERCADO

EDIÇÃO

Telemedicina avança na pandemia. A aprovação do atendimento médico remoto durante a pandemia abriu caminho para iniciativas inovadoras que surgiram na cadeia de valor da internet brasileira. Acompanhe um balanço do que ocorreu e das oportunidades que surgiram.

Bia Alvim

bia.alvim@pebcomunicacao.com REPORTAGEM / REDAÇÃO

20 | INCLUSÃO DIGITAL

Roberta Prescott

prescottroberta@gmail.com

Como atuar nas escolas públicas. Projeto que faz diagnóstico da conectividade na educação aponta gargalos que podem ser supridos por provedores de internet.

Luis Osvaldo Grossmann

24 | TENDÊNCIAS

EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO

Moedas digitais: o que está em jogo? A emissão de moedas digitais está na pauta do setor financeiro em vários países, e o Banco Central do Brasil já divulgou diretrizes. As CBDCs animam o mercado, mas requerem cautela.

pedro@convergenciadigital.com.br

ruivo@convergenciadigital.com.br

Pedro Costa

26 | PANORAMA TIC Provedores 2020: quem somos? Pesquisa contabiliza 12.826 empresas provendo acesso à internet no Brasil, das quais apenas 7.007 declaram, mensalmente, dados de acessos à Anatel. Conheça o perfil das empresas de internet brasileiras.

28 | CONEXÃO Empresas de internet: prazo para envio de dados à Anatel vai até 31 de agosto. Falta de chips preocupa. IPOs aquecem negócios na internet. No Brasil, mais de 70% das vendas online são feitas via celular. Maior parte dos brasileiros desconhece o open banking.

30 | OPINIÃO Marco legal das startups: faltou um tanto de ousadia Por Felipe Monteiro Head do Sztartup Desk by Kasznar Leonardos

Rua MMDC, 450 cj 304 - Butantã - São Paulo / SP CEP: 05510-020 Fone: ( 11 ) 4564-7227 www.abranet.org.br

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ESPECIAL

ABRANET COMPLETA 25 ANOS E SEGUE NA VANGUARDA A Associação Brasileira de Internet sempre esteve alinhada com os desejos e conquistas das empresas do setor, atuando fortemente para viabilizar toda a cadeia de valor que surge com a internet. INTERNET SIGNIFICA RUPTURA. Desde que foi lançada comercialmente no Brasil, a internet tem proporcionado a criação de novos modelos de negócios e obrigado diferentes setores a se reinventarem. Passo a passo nessa jornada, a Associação Brasileira de Internet (Abranet) sempre esteve alinhada com os desejos e conquistas das empresas do setor, atuando fortemente para viabilizar toda a cadeia de valor que surge com a internet. “Todos os negócios que as empresas de internet desenvolvem hoje no Brasil estão fundamentados em regulamentos e legislações para os quais a participação da Abranet foi decisiva. Apoiamos a construção dos marcos regulatórios”, afirma Eduardo Neger, presidente da entidade. Tônica da Abranet desde a sua fundação, estar na vanguarda continuará a direcionar a associação nas próximas décadas. Em novembro, a Abranet completa 25 anos de atuação – e para celebrar a data estão sendo preparados conteúdos especiais para o site e a Revista Abranet, não apenas com a retrospectiva das principais realizações, mas também com um olhar à frente. “Vamos promover uma reflexão desses 25 anos e pensar nos próximos”, adianta Neger. A linha condutora da comemoração será o balanço dos últimos 25 anos com as perspectivas para os próximos 25 anos. “Muitos dos associados estiveram no início, lançando a internet, fazem parte dessa história no País e a maioria continua no mercado”, diz. Neger recorda que, à época do lançamento da internet comercial no Brasil, o setor de telecomunicações ainda era estatal. “A primeira grande briga – e de onde

“Todos os negócios que as empresas de internet desenvolvem hoje no Brasil estão fundamentados em regulamentos e legislações para os quais a participação da Abranet foi decisiva” EDUARDO NEGER Presidente da Abranet

a entidade surgiu – foi justamente para defender que a internet não fosse monopólio estatal [da Embratel, à época] e também a separação do SVA [Serviço de Valor Adicionado], que culminou na Norma 004/95 e possibilitou o surgimento dos primeiros provedores de internet”, aponta. “A entidade nasce dessa luta para desenvolver um mercado mais competitivo.” A internet se caracteriza por ser disruptiva e estar sempre incomodando algum segmento da economia. Revolucionou o setor de mídia e avançou para o conteúdo multimídia, consagrando o streaming, revolucionou o comércio e agora as fintechs têm imposto mais competição à indústria financeira. A internet é perita em gerar conflitos devido a seu carácter de disrupção. Neger lembra das disputas com a Anatel para não enquadrar – e regular – voz sobre IP (VoIP) como serviço de telefonia fixa convencional. “Brigávamos com todo mundo, e é sempre assim a relação na internet. Ela dá o sprinting inicial, muito fora do que tem no mercado, e quem está estabelecido faz de tudo para atrasar a novidade”, sublinha. Para os associados, portanto, é fundamental acompanhar as discussões técnicas e políticas do setor e o trabalho da entidade. Mais recentemente, a Abranet exerceu papel fundamental nos debates relacionados ao Marco Civil da Internet e à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Atualmente, a associação está engajada nas discussões acerca de meios de pagamentos, participando de diversos comitês do Banco Central do Brasil, como o de open banking, que promoverá uma mudança significativa no setor.

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CAPA

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Sua empresa está engajada em

ESG?

Governança e sustentabilidade estão fazendo a diferença nos negócios, e não apenas para grandes empresas. Pequenas e médias começam a incorporá-las em seus processos. A SIGLA ESG – environmental, social and governance, em inglês – está incorporada ao vocabulário de sua empresa? Se ainda não faz parte, saiba que está na hora de entender o conceito e colocá-lo em vigor. Empresas de todos os portes serão cobradas por suas responsabilidades ambientais e sociais e pela governança. E as grandes estão, cada vez mais, exigindo que as PMEs tenham seus processos produtivos em conformidade com práticas sustentáveis. “As pequenas empresas precisam trabalhar com o conceito até porque as

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Roberta Prescott


grandes companhias que as contratam começam a avaliar se seus fornecedores têm práticas ESG. Isso será um diferencial para as pequenas e médias, que terão de inserir ESG no dia a dia, nos projetos”, ressalta Marcus Nakagawa, professor da ESPM, autor e palestrante sobre o tema. “Muito se tem falado sobre ESG, e temos certeza de que isso não é uma moda, é definitivo. O dinheiro vai para quem é sustentável. Não é só produzir, é como produzir. E essa premissa acaba valendo para todas as áreas de atuação, já que envolve preservar o meio ambiente, trabalho digno, oportunidades para as pessoas, entre tantas ações”, aponta Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU (leia mais no box na página 11). Para Pereira, ESG é como o mercado financeiro enxerga a sustentabilidade corporativa nos pilares meio ambiente, social e governança. “O acrônimo ESG foi cunhado numa publicação de 2004 do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do então secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais”, explica o diretor-executivo. “Então, ESG nada mais é do que a sustentabilidade corporativa, que faz parte do cotidiano também das PMEs. E precisamos da união e do esforço de todo o setor privado para impactar realmente o planeta”, acrescenta. Nos últimos anos, o interesse empresarial na gestão ambiental e social, integrada com a governança corporativa, aumentou de forma significativa. As empresas estão cada vez mais interessadas em legitimar boas práticas perante a sociedade. “A gestão responsável dos recursos naturais e do capital humano é, claramente, uma parte importante da missão empresarial. Uma estratégia sustentável é aquela que visa a minimizar os efeitos negativos das operações de uma empresa no meio ambiente e comunidades locais, tratando as externalidades negativas. Nesse contexto, todas as

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empresas de grande, médio e pequeno porte podem adotar práticas responsáveis considerando os fatores ESG na gestão empresarial”, explana Maria Teresa Saraiva de Souza, professora do Centro Universitário FEI no programa de pós-graduação de gestão ambiental e sustentabilidade. Em muitos casos, diz ela, adotar práticas sustentáveis não requer investimentos vultosos. Como exemplo, cita a adoção de medidas simples de redução de consumo de recursos naturais como água e energia, o que não implica aumento de custos.

MARCUS NAKAGAWA

COMO COMEÇAR Carlo Pereira, da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, afirma que muitas empresas já praticam o ESG, ainda que não o chamem assim. “ESG nada mais é do que sustentabilidade. E sustentabilidade não é apenas o impacto no meio ambiente, como sabemos. Uma empresa que está em conformidade com práticas ESG entende quais são seus impactos negativos e positivos na sociedade e consegue agir sobre eles”, reforça. É necessário minimizar os efeitos negativos e potencializar os positivos, assim como equacionar os prejuízos já provocados. Uma estratégia é a empresa estar alinhada aos dez princípios universais advogados pelo Pacto Global da ONU. “Não há um caminho mais fácil ou melhor para iniciar esse processo, são caminhos paralelos. E isso deve estar

CARLO PEREIRA Diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU

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Professor da ESPM

inserido nas estratégias de negócio das empresas. Não é apenas o mercado que vai diminuir o investimento em empresas que não são sustentáveis. Outras companhias não farão negócios com essas empresas, os consumidores não comprarão mais os produtos. Além, é claro, do dever compartilhado de cuidar do planeta, oferecer trabalho digno, diversidade ou ter práticas anticorrupção”, aponta Pereira. O diretor-executivo explica que alguns compromissos são mais difíceis e exigem investimentos, como o carbono zero, por exemplo, mas isso não é uma “exigência para amanhã”. O importante, frisa, é começar. Outros pontos a serem observados pelas empresas são aumentar a participação de mulheres e pessoas negras em cargos de alta liderança, preocupar-se com a gestão dos resíduos, a utilização racional de água e outros recursos. “Estamos atrasados dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, então precisamos acelerar. E as PMEs fazem parte dessa luta também.” Marcus Nakagawa, da ESPM, enfatiza que as boas práticas podem ser simples. “A primeira coisa que estamos discutindo é seguir as leis; e, muitas vezes, as PMEs não conseguem fazê-lo, até por falta de conhecimento e burocracia. Então, tem de conhecer a legislação, que é o básico para operar, e fazer varredura dentro da empresa para ver se estão sendo cumpridas leis e normas”, ensina o professor. O segundo ponto, diz ele, é ir além da lei. Na

“Estamos atrasados dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, então precisamos acelerar. E as PMEs fazem parte dessa luta também.”

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“As grandes companhias começam a avaliar se seus fornecedores têm práticas ESG. Isso será um diferencial para as pequenas e médias empresas.”


A visão do mercado EM ABRIL DE 2021, a Amcham Brasil realizou uma pesquisa com 178 lideranças, a maioria de nível de diretoria (C-levels, 63% sendo CEOs, presidentes, vice-presidentes, sócios e diretores) ou gestores executivos (28% sendo gerentes). Segundo 91% dos entrevistados, o tema ESG pode trazer benefícios para a empresa e eles já identificaram vantagens na prática, sendo que 68% apontaram o conhecimento de benefícios diretos para a empresa e a gestão e 23% falaram em benefícios ainda indiretos. Além disso, 89% das empresas pesquisadas afirmaram possuir algum nível de investimentos direcionados para inovação tecnológica e/ou metodológica, rumo a práticas mais sustentáveis, sendo que 46% delas têm implementado na organização um conjunto de tecnologias ou metodologias capazes de mitigar impactos ou criar soluções nesse sentido. Com relação a normas e legislação ambiental, a pesquisa da Amcham apontou que 40% cumprem a legislação e vão além, investindo também para obter certificações e selos na área ambiental. O escopo da pesquisa ESG: Expectativas, Empresas e Gestão 2021 abrangeu grandes multinacionais brasileiras e estrangeiras (62%), PMEs brasileiras e estrangeiras (31%), além de startups e microempresas (8%). Um estudo do Capgemini Research Institute, que inclui o Brasil entre os mercados pesquisados, apontou que, enquanto metade das empresas já definiu uma abordagem de sustentabilidade, ape-

nas 18% possuem uma estratégia abrangente de TI sustentável. O documento TI Sustentável: Por que é hora de uma revolução Verde para a TI da sua organização afirma que, enquanto 22% das empresas pesquisadas planejam reduzir mais de um quarto de sua pegada de carbono por meio de TI sustentável nos próximos três anos, 89% das organizações reciclam menos que 10% de seu hardware de TI. Companhias que construíram um roteiro abrangente para acelerar a implementação sustentável de TI receberam, no estudo da Capgemini, melhores pontuações em governança ambiental, social e corporativa (ESG), somando 61%. Já as que viram melhor satisfação do cliente foram 56% e as que testemunharam economia fiscal como resultado direto de práticas sustentáveis de TI chegaram a 44%. Mesmo assim, só 6% já alcançaram um alto nível de maturidade sustentável de TI. E 53% dizem que não têm os conhecimentos necessários para implementação de TI sustentável. O estudo traçou também um roteiro de três estágios para impulsionar a TI sustentável, sendo o primeiro deles o estabelecimento das bases com uma estratégia que se alinhe com a estratégia de sustentabilidade organizacional. A criação de um processo de governança com uma equipe de TI sustentável dedicada e suporte da liderança vem em seguida e, em terceiro, está a operacionalização de iniciativas de TI com sustentabilidade, um pilar fundamental da arquitetura de software.

Acesse a pesquisa da Amcham ESG: Expectativas, Empresas e Gestão 2021 (Formato: PDF)

https://bit.ly/tendencias-cases-sustentaveis

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PONTAPÉ INICIAL Marcus Nakagawa, professor da ESPM, autor e palestrante sobre ESG, enumera alguns itens pelos quais as empresas podem começar a incorporar conceitos de ESG em seu dia a dia. Meio ambiente: [ Cuidar da energia [ Economizar água [ Cuidar dos resíduos - e isso vale não apenas para o lixo do escritório, mas indo além e aderindo a programas de reciclagem [ Avaliar o impacto ambiental nos processos desde a implantação [ Buscar equipamentos mais sustentáveis, ecologicamente corretos [ Apoiar projetos ambientais [ Apoiar a comunidade na qual está inserida [ Cuidar das pegadas de carbono Social: [ Seguir as leis trabalhistas, ligadas aos funcionários e prestadores de serviço [ Trabalhar o desenvolvimento da equipe [ Neste momento, a questão de saúde e segurança são muito importantes devido à Covid-19 [ Fazer investimentos em questões sociais, doar para ONGs, apoiar projetos e estimular o voluntariado Governança: [ Ter muito claro quais são todos os processos internos da organização [ Transparência com funcionários [ Hierarquia definida [ Missão, visão e valores definidos e transparentes para todos

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questão social, por exemplo, é promover programas de desenvolvimento pessoal dos funcionários, cursos, projetos de saúde e segurança e também trabalhar com projetos ambientais e de apoio à comunidade. “É muito mais fácil do que podem achar, mas sabemos que, no dia a dia do empreendedor, o foco é a venda, fechar negócio, e esses pontos acabam sendo colocados de lado”, ressalta Nakagawa. Porém, é necessário entender que ESG é processo e que futuramente os clientes vão acabar olhando essa questão também. Maria Teresa Saraiva de Souza, professora do Centro Universitário FEI, aponta que cada um dos fatores ESG tem vários aspectos que podem ser explorados pelas empresas. Na parte ambiental, ela enumera o uso de recursos naturais, as emissões de gases de efeito estufa (GEE), a eficiência energética, a poluição de efluentes e a gestão de resíduos sólidos. Como fatores sociais, as empresas devem olhar para as políticas e relações de trabalho, promover a inclusão e diversidade, o engajamento dos funcionários, treinamentos, direitos humanos, relações com comunidades, privacidade e proteção de dados. Já na área da governança, a professora chama a atenção para a independência do conselho, a política de remuneração da alta administração, a diversidade na composição do conselho de administração, a estrutura dos comitês de auditoria e fiscal, ética e transparência. “As empresas podem priorizar os aspectos de cada fator de acordo com o seu ramo de atividade, buscando identificar aqueles que são mais críticos e com maior impacto ambiental ou social negativo, por exemplo”, pondera. Sobre as empresas de internet, Souza lembra que as provedoras de conectividade não diferem das demais firmas em relação aos fatores sociais e de governança. “Os exemplos mencionados anteriormente podem ser adotados por essas empresas, com políticas consistentes de gestão da diversidade, projetos comunitários, privacidade e proteção dos dados”, diz. Em relação aos fatores ambientais, ela destaca a importância de todas as empresas identificarem seus impactos significativos, aqueles que são mais agressivos ao meio ambiente. No campo dos provedores de internet, eles estão nos resíduos de cabeamento, eletroeletrônicos, entre outros, que devem ser encaminhados para a reciclagem, buscando o reaproveitamento. “Essas empresas podem estabelecer metas de ‘resíduo


MARIA TERESA SARAIVA DE SOUZA Professora do Centro Universitário FEI

timentos priorizam em suas carteiras empresas com ações voltadas ao meio ambiente, social e de governança, explica Maria Teresa Saraiva de Souza. “Os investimentos em ESG são semelhantes, em muitos aspectos, aos índices de sustentabilidade das bolsas de valores, que abarcam praticamente as mesmas dimensões: ambiental, social e econômica. A dimensão econômica também está contemplada no ESG, ou seja, os investidores esperam ter retorno financeiro ao comprar ações de fundos ESG”, diz. No Brasil, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 é composto por um conjunto de empresas de diversos setores que adotam práticas de sustentabilidade em seus respectivos ramos de atividade. Mais recentemente, explica a professora, surgiram investimentos em fatores ESG, também conhecidos como investimentos sustentáveis. O ESG está cada vez mais presente na tomada de decisão dos investidores em fundos de ações. “Existe uma correlação positiva com o nível de desempenho financeiro das organizações e os retornos positivos para o investidor. A maioria dos investidores é motivada por razões financeiras e espera retornos consistentes de longo prazo em investimentos relacionados ao ESG”, diz Souza.

“As empresas podem priorizar os aspectos de acordo com o seu ramo de atividade, buscando identificar aqueles que são mais críticos e com maior impacto negativo.”

zero’, por exemplo, mostrando à sociedade o seu compromisso com o meio ambiente. O importante é criar indicadores para o acompanhamento da evolução dessas ações. Além disso, deve-se evitar o uso da proteção ambiental como um apelo mercadológico e melhoria da imagem corporativa. As empresas devem ter ações efetivas”, ensina. DO LADO DOS INVESTIDORES Os fatores ESG estão relacionados às grandes companhias de capital aberto, uma vez que fundos de inves-

Pacto Global LANÇADO EM 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global é uma chamada para as empresas alinharem suas estratégias e operações a dez princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade. Hoje, é, segundo Carlo Pereira, diretor -executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU,

a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais, que abrangem 160 países. “Fazer parte do Pacto Global da ONU hoje está muito ligado a quem você de fato é. O que e como a sua empresa vai impactar o planeta e as pessoas que vivem nele. Cuidar do planeta já deixou de ser opcional, é mandatório. O setor privado e sobretudo os consumidores tornam-se dia a dia mais e mais exigentes”, diz Pereira. Essa mentalidade chega também aos investidores, que estão exigindo que esses compromissos sejam assumidos.

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Roberta Prescott

MUITO ALÉM DA

última milha O atendimento das empresas de internet deixou de ir apenas até o conector fixo do cabo nas instalações do cliente e passou a incorporar outras funcionalidades. Os provedores ampliaram o portfólio de atuação – e também o faturamento. ESTÁ FICANDO PARA TRÁS o tempo em que as prestadoras de serviços de internet ofereciam apenas conexão. Os provedores avançaram e, hoje, estão presentes dentro das residências e das empresas. Ao mesmo tempo em que passaram a oferecer mais funcionalidades, expandindo o portfólio de atuação, eles vislumbraram um faturamento que, antes, não era fácil de imaginar. Para chegar a esse ponto, as empresas de internet ouviram os usuários e alinharam seus produtos e serviços à demanda de mercado. Se inovar é palavra de ordem para as empresas bem-sucedidas, apostar em produtos que solucionem problemas é o motor propulsor da inovação. Foi assim na Life, que iniciou suas atividades na época da internet discada, evoluiu, em 2003, para fornecimento via rádio e migrou para cabo e fibra ótica. “Em 2010, fizemos a primeira cidade 100% de fibra ótica, mas, na época, não tinha GPON. Comprávamos switches óticos e colocávamos armários nos postes para chegar com a fibra ótica à casa do cliente e depois Ethernet. Fizemos em Garça e depois Marília [ambas cidades no estado de São Paulo]”, conta o diretor-administrativo, Alair Mendes Fragoso. Em 2011, após o governo liberar para as empresas o provimento de telefonia fixa, a Life deu mais um passo ao obter licença para STFC (Serviço Telefônico Fixo Comutado) e começar a operar com telefonia fixa. A licença para SeAc (Serviço de Acesso Condicionado) veio em 2014, quando o provedor expandiu o portfólio, incluindo

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IPTV. “Fomos uns dos primeiros a trabalhar com IPTV no Brasil”, ressalta. De dois anos para cá, a Life decidiu mudar a estratégia e ofertar outros serviços. “Vimos que passar cabo não estava dando mais, porque toda cidade tem provedores e lugares que não têm mais onde passar cabo no poste”, aponta Fragoso. Antes da pandemia, a empresa lançou um serviço de monitoramento de câmeras, começando pelo setor público, com as prefeituras. A ideia da oferta surgiu a partir da observação do mercado. “Percebemos que o pessoal que instala câmera IP vendia o serviço, mas não fazia a manutenção, não tinha suporte”, conta, explicando que o modelo da Life é por assinatura e que, conforme o plano, os clientes podem acessar as imagens das câmeras, que ficam armazenadas em servidores da Life. A Life não parou aí. Olhando para o mercado doméstico, a provedora lançou um serviço de gerenciamento das redes internas. Com o aumento de dispositivos conectados ao Wi-Fi, a configuração é chave para que a velocidade contratada seja a percebida pelos clientes dentro de suas casas. “Lançamos um produto de configuração e suporte para cuidarmos da rede da casa da pessoa. Por exemplo, há casas que precisam de mais de um roteador ou de redes mesh. É o Home Life, e temos planos diferentes, de acordo com a quantidade de equipamentos ou suporte que o cliente precisa”, detalha.


nós antes de o cliente sequer notar”, completa Fragoso. Em paralelo, a Life criou uma solução para condomínios autônomos, nos quais é o próprio morador que faz o controle de acesso, abre o portão, acompanha a movimentação pelas câmeras etc. “Temos avançado neste mercado e agora estamos acertando também para IPTV, com essa abertura que a Anatel e a Ancine propuseram, que a TV por streaming é SVA (Serviço de Valor Agregado) e não SCM (Serviço de Comunicação Multimídia)”, adianta.

A oferta foi lançada no fim de 2019 e, com a necessidade de isolamento devido à Covid-19, caiu no gosto dos clientes. “Antes da pandemia, as pessoas ficavam vendo WhatsApp, Facebook no celular, mas, quando foram todos trabalhar e ter aulas em casa, o negócio ‘pegou’ para as redes. Tivemos uma demanda grande”, relata Alair Fragoso. Em 2020, segundo o diretor-administrativo, a Life aumentou em 50% sua base de assinantes. A estratégia consiste em melhorar a experiência do cliente com a internet contratada. Para tanto, são feitos análise e um projeto da casa para saber quantos roteadores são necessários para montar uma rede que atenda ao consumo. “Instalamos, monitoramos e cuidamos da rede, inclusive, remotamente. Estamos trabalhando e melhorando os sistemas para que, se o cliente tiver qualquer problema, um alarme soe para

O CAMINHO DA EXPANSÃO A evolução dos provedores de internet vai em direção da expansão do escopo e do portfólio. Essa abertura de serviços e produtos faz o tíquete médio aumentar, além de levar a uma fidelização maior. Até porque, com a chegada das redes neutras, cedo ou tarde, a presença física de redes enormes de fibra ótica não será mais um diferencial. “Cuidar da última milha, da assinatura do cliente, é mais difícil do que ter a rede”, enfatiza Alair Fragoso. Além disso, o aumento da concorrência no provimento unicamente do acesso à internet tende a cair em uma briga de preço. Ao entrar nessa seara, o provedor se vê diante de um tíquete médio que vai se reduzindo mês a mês. Por isso, é importante contar com outros produtos para superar essa queda nos preços. “Acredito que os provedores vão precisar buscar novos produtos e serviços para ter pacote para assinante”, pondera Fragoso, da Life, que também está entrando na telefonia móvel a partir de parceria com a Surf Telecom. “O provedor de internet tem de ir além do telhado (wireless) e do muro (fibra ótica)”, resume Fabiano André Vergani, CEO da Bitcom, que também se reinventou para “invadir” a casa do cliente provendo serviços

“Os provedores vão precisar buscar novos produtos e serviços para ter pacote para assinante.” ALAIR FRAGOSO Diretor-administrativo da Life

Divulgação

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inteligentes, como a transformação da televisão convencional em inteligente, fechadura digital e assistente virtual. Mas tudo, ressalta Vergani, precisa estar muito bem conectado a um bom Wi-Fi. A Bitcom apostou no roteador mesh Twibi,da Intelbras, um sistema Wi-Fi inteligente que distribui sinal com mais alcance de cobertura, eliminando os pontos cegos onde a conexão não chega. O provedor, que tem 26 anos de atuação, começou comercializando equipamentos como computadores, na sequência entrou na oferta de conexão internet e por muitos anos esteve focado no acesso. “Em 2012, entendemos que estávamos fazendo errado e que precisávamos voltar a estar na casa do cliente, porque somente assim poderíamos fidelizá-lo. Usamos nosso antigo conhecimento de informática, de compra e venda de equipamentos. O cliente não tem dono, mas tem necessidades; e as casas inteligentes precisam de pessoas que conheçam tecnologia para instalar tudo, e é um técnico de TI e não de telecom quem faz isso”, explica, ressaltando que a Bitcom é, desde seu surgimento, uma empresa de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação). Mais recentemente, de uns cinco anos para cá, a Bitcom começou a surfar a onda da Internet das Coisas. “Vamos além do cabo, adentramos a casa do cliente, seja com ferramentas como inteligência artificial, fechaduras digitais, Wi-Fi de ultra velocidade... Fazemos projetos para as casas terem Wi-Fi em todos os cômodos e temos expertise porque somos TIC”, enfatiza Vergani. A Bitcom conta com dois tipos de profissionais: o de telecom tradicional e o especializado em TIC. A empresa criou, inclusive, uma nomenclatura para chamar o técnico especialista: é o Doutor Bitcom. A expansão

abrangeu ainda a venda de equipamentos para casa digital em marketplace desde 2018. A empresa comercializa produtos Intelbras. “A indústria nacional ‘tropicaliza’ os produtos e eles cabem melhor no bolso do brasileiro”, justifica o CEO. Hoje, a Bitcom é um grupo com atuação em diversos segmentos: para além do provimento do acesso à internet, há loja em formato de container com showroom de serviços e produtos da casa digital em Caxias do Sul (RS), atendimento para transformação das residências para se tornarem inteligentes e também um braço que atende ao mercado corporativo. O CEO diz que não vai parar de prover o acesso, mas quer ser o ‘Posto Ipiranga’, não vendendo apenas internet, mas todo o entorno dela. “Na minha opinião, 95% do mercado – para não dizer mais – é de empresas focadas apenas no acesso, mas o acesso é commodity, é comum e, hoje, você tem à frente da sua casa umas três, quatro empresas para fazer isso. Estamos colocando esforço em não ficar apenas no acesso e, desde 2012, temos diversificado o business, trazendo multiprodutos e serviços, com os pilares sendo a internet e a tecnologia”, detalha Vergani. O CEO da Bitcom sublinha que essa guinada é essencial para os provedores de internet saírem da briga pelo menor preço no acesso. “Indo para o serviço de valor agregado, não vamos mais falar de preço, mas de valor. Temos de ser alguém reconhecido como resolvedor de problemas, e por isso colocamos o nome Doutor Bitcom. Se o cliente não visualizar o valor e você entregar valor, sua empresa será vista como mais uma na prestação de serviço e será avaliada por preço”, diz. Entregar muito mais do que commodity é o caminho

“O provedor de internet tem de ir além do telhado (wireless) e do muro (fibra ótica).” FABIANO ANDRÉ VERGANI CEO da Bitcom

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“Estamos começando a olhar para dentro da casa do cliente.” BASILIO R. PEREZ Presidente da BCMG Internet

que prestadoras de serviços de internet têm percorrido para se manterem relevantes, fidelizando clientes e aumentando faturamento. EXTENSÃO DA OFERTA Assim como nos casos da Life e Bitcom, a trajetória da BCMG Internet foi marcada por identificar nichos de mercado e expandir os serviços. Basilio R. Perez, presidente, conta que a empresa começou em 1995 com acesso discado e passou por todas as tecnologias e tipos de serviços que vieram da internet. Indo além do acesso (que era discado no início), o provedor tem oferta de hospedagem e colocation em datacenter. Atualmente, depois da migração do rádio para fibra ótica, quase a totalidade dos acessos é por meio da fibra. Em rádio, sobraram alguns clientes corporativos e poucas dezenas de clientes pessoa física em locais onde não há opção de levar fibra ótica. “Estamos começando a olhar para dentro da casa do cliente. Chegamos com fibra e velocidades altas, mas têm problemas com roteador”, diz. Sem a configuração adequada e mesmo uma análise da rede interna, a velocidade pode ficar reduzida e o cliente não usa toda a velocidade que contratou. “Tem ficado frequente reclamarem que a velocidade não alcança. Por isso, começamos a oferecer o roteador na casa do cliente e a fazer conexões de cabo de rede, por exemplo, se o cliente é gamer. Esse serviço na casa faz o cliente ter resposta e satisfação melhores”, destaca Perez. Ele conta que, hoje, mais da metade da base da empresa está sendo atendida por esse serviço, mas ressalta que são necessários investimentos para tanto. “Tem de colocar roteador bom, não adianta levar roteador barato. Temos tentado levar roteadores que são gerenciados pelo prove-

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dor, são mais caros e exigem investimentos altos, mas o resultado é bom. Notamos que o cliente fica satisfeito e podemos dar um suporte melhor, por exemplo, entrando no roteador, vendo quantos dispositivos estão conectados e resolvendo problemas.” Orientar o usuário, aliás, tem sido papel dos provedores de internet desde o começo da conectividade de dados. “Levamos o cliente pela mão para mostrar como funciona. Quando começamos a internet no acesso discado, isso era ainda mais frequente. Tínhamos de ir à casa do cliente configurar o Windows. Hoje em dia, o suporte remoto faz muita coisa”, lembra. Com relação ao modelo de negócios, Perez explica que os planos atuais incluem roteador compatível com a velocidade contratada. Contudo, se o cliente quiser usar o roteador dele, fica sem o suporte. “Mas não é a maioria; a maioria prefere saber que o provedor está cuidando da rede Wi-Fi dele”, diz. Segundo Perez, 100, 200 megas ou 1 giga não é o mais importante. “O uso não está relacionado à velocidade contratada. Normalmente, esses clientes usam a mesma quantidade. É a experiência e a latência que contam. Por isso que o foco na casa do cliente é muito importante para levar a percepção de qualidade e garantir que a casa esteja coberta pelo Wi-Fi”, destaca. A chegada dos equipamentos prontos para Wi-Fi 6 deve melhorar ainda mais esta percepção. Outro ponto levantado por Perez é com relação à interferência – e para isso o trabalho do provedor é essencial. “O problema é a interferência, por exemplo, com apartamentos do lado, mas as novas frequências de Wi-Fi vão dar mais canalização e será possível ter canais dentro da residência que não vão conflitar com equipamentos do lado, de cima”, analisa.

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MERCADO

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Roberta Prescott

Telemedicina AVANÇA NA PANDEMIA

A aprovação do atendimento médico remoto durante a pandemia abriu caminho para iniciativas inovadoras que surgiram na cadeia de valor da internet brasileira. Acompanhe um balanço do que ocorreu e das oportunidades que surgiram. QUANDO A PANDEMIA se instalou, logo em seguida, em abril, a telemedicina foi autorizada temporariamente no País, por meio da Lei 13.989/20. A medida valeria apenas durante a crise da Covid-19, e agora – fruto das experiências positivas – discute-se uma regulamentação permanente. Há projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados. A abertura do atendimento médico remoto propiciou o surgimento de iniciativas inovadoras na cadeia de valor da internet brasileira, tanto de empresas oferecendo sistemas para realizar os atendimentos quanto serviços de gerenciamento da rede e aprimoramento da conexão. Ofertas de produtos para monitoramento de pacientes de forma remota também ganharam força, ainda que de modo mais embrionário. Para as empresas prestadoras de serviços de internet, representou uma oportunidade, visto que boa parte dos profissionais de saúde não estava preparada para lidar com a tecnologia necessária. Um exemplo foi no Nordeste. Em maio de 2020, a

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Aloo Telecom firmou parceria com o Hospital do Coração e a Fundação Cardiovascular de Alagoas (Cordial) para entregar acessos da sua rede de fibra óptica com o objetivo de viabilizar uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Virtual 1. A ideia consistia em utilizar recursos da telemedicina para que especialistas do Hospital do Coração de Alagoas pudessem auxiliar profissionais de diferentes unidades da capital e do interior. Uma pesquisa realizada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) e divulgada no fim de maio deste ano apontou que metade dos 200 gestores de empresas de pequeno, médio e grande portes entrevistados quer que a telemedicina perdure após o fim da pandemia 2. De acordo com uma outra pesquisa, da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), nos últimos 12 meses, foram contabilizadas 2,5 milhões de teleconsultas no Brasil. Cerca de 90% delas resolveram o problema do paciente 3. “Com o respaldo legal, o que antes era proibido pas-

1 https://www.aloo.com.br/com-backbone-de-fibra-optica-da-aloo-telecom-alagoas-lanca-primeira-uti-virtual-do-pais-no-combate-covid-19/ 2 https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/saude-e-qualidade-de-vida/a-telemedicina-veio-para-ficar/ 3 https://blog.abramge.com.br/saude-suplementar/brasil-contabiliza-25-milhoes-de-teleconsultas-nos-ultimos-12-meses/


Tecnologia que salva Em 2015, nasceu a proposta de um dispositivo vestível para crises epiléticas. O aparelho capta sinais do cérebro e os processa. Quando entende que algo está errado, manda alertas para o paciente e o cuidador da pessoa. O propósito, explica a CEO da Epistemic, Paula Gomez, é trazer autonomia para o paciente, que hoje é muito dependente do cuidador. “Se ele souber quando a crise vai acontecer, chama o cuidador.” Esse dispositivo é exemplo do que pode despontar com a evolução tecnológica e o aumento da conexão. A Epistemic conta ainda com um aplicativo e uma plataforma web. “A empresa começou comigo e minha mãe; e, logo depois, nos reunimos com mais dois sócios que são engenheiros, um especializado em eletrônica e outro em software. Minha mãe é física e estuda a teoria do caos”, conta a também engenheira Paula Gomez. Para ela, a internet das coisas faz parte das soluções para um futuro no qual a medicina será mais preventiva e na mão do paciente e menos na mão do médico. “Óbvio que o remédio continua na mão do médico, mas coisas mais simples podem ser resolvidas; e a tecnologia ajuda a chamar o cuidador; a comuni-

sou a ser permitido, e o governo regulamentou a receita digital. Rapidamente, foram desenvolvidas plataformas de telemedicina e teleconsulta. Cerca de 50 startups surgiram, e planos de saúde ou cooperativas desenvolveram plataformas próprias adaptadas para uso deles e para médicos, que começaram a incentivar a teleconsulta”, resume Renato Sabbatini, professor, pesquisador e consultor de informática em saúde e telessaúde, fellow do American College of Medical Informatics e da International Academy of Health Sciences Informatics. Para Sabbatini, foi uma evolução de 20 anos em apenas um ano. Hoje, ele avalia que a teleconsulta está bem estabelecida e acredita que, quando acabar a pandemia, as teleconsultas vão ficar. “As portarias foram específicas para a pandemia, não sabemos o que vai acontecer. O Congresso tem uma comissão mista de telessaúde e acredito que deva passar uma lei definitiva. O CFM [Conselho Federal de Medicina] está elaborando um regulamento, porque o

cação entre as pessoas da família é essencial”, enfatiza. Paula Gomez diz enxergar a tecnologia como aliada da medicina. Dentro do escopo da Epistemic, a plataforma permite ao paciente fazer um diário relatando seu dia a dia como portador de doenças crônicas. “Numa consulta, o médico pergunta como você passou os últimos meses, mas você não vai lembrar de tudo. Anotando na hora, você gera dados riquíssimos para o médico. Para fazer histórico, o aplicativo e a plataforma ligada a ele ajudam demais.” Na visão dela, os dispositivos vestíveis, os wearables, são mais aplicáveis a doenças crônicas, por exemplo, quem tem diabetes poderia usar um aparelho que vê os níveis de insulina ou açúcar. “O principal mesmo é a autonomia, porque a tecnologia permite que a pessoa tome conta de si sozinha no dia a dia. Não precisa estar com cuidador ou ter orientações todos os dias.” Entre os desafios, a CEO assinala que ainda não é possível confiar 100% nas redes. “Começamos a fazer o diário só online, mas vimos que teria de funcionar offline também, com os dados subindo para a nuvem quando tivesse conexão”, aponta. Ela analisa que o mercado de internet das coisas na saúde é dominado por startups e, justamente por isso, há limitação de recursos, o que pode levar a atrasos nos projetos até conseguir atenção de alguém para investir.

[que está em vigor é] de 2002, está obsoleto e proíbe a teleconsulta”, pondera. A expectativa de Renato Sabbatini é que o método de consulta a distância ocorra concomitantemente ao tradicional, sendo usado para quando a proximidade não é necessária, como um retorno, ajuste de medicação, acompanhamento de pacientes crônicos e até em casos de emergências, em uma situação na qual o indivíduo está em uma cidade sem o médico especialista, por exemplo. OPORTUNIDADES À VISTA Na esteira da abertura para a telemedicina, abriu-se um leque de oportunidades para empresas de diversos setores. “Grandes companhias se estabeleceram no Brasil e outras adaptaram seus sistemas. Houve oportunidade para empresas de internet, porque houve aumento de banda, do tráfego e um uso maior de vídeo. Também foi preciso expandir a cobertura, porque tem muito lugar abranet.org.br agosto / setembro / outubro 2021

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“Cresceram muito as empresas que fornecem serviços clínicos a distância, têm plataforma própria ou contratam plataforma white label.”

sem internet cabeada. E teve oportunidade para big data, analytics”, enumera Sabbatini. O número de startups ligadas à telemedicina explodiu, segundo o RENATO SABATTINI consultor de informática em saúde Professor, pesquisador e consultor de informática em saúde e telessaúde. e telessaúde, com incremento da oferta de plataformas, inclusive white label, focadas no baixa latência e profusão de dispositivos vestíveis enatendimento médico, sendo possível personalizar com viando, por exemplo, sinais vitais para acompanhamento nome, logo da clínica etc. “Cresceram muito as empresas remoto de equipes médicas. A Eretz.bio é uma iniciativa da Sociedade Beneficenque fornecem serviços clínicos a distância, têm plataforma própria ou contratam plataforma white label”, detalha. te Israelita Brasileira Albert Einstein, criada em 2017 Do lado dos provedores de internet, garantir a qualida- com o objetivo de transformar o setor e apoiar o desende da rede tornou-se ponto fundamental, uma vez que os volvimento de novas soluções na área de saúde. Em comédicos, ao atenderem remotamente, dependem de ban- laboração com diversas áreas assistenciais, laboratoriais da larga de qualidade. Tornou-se uma necessidade básica. e lideranças de pesquisa do Einstein, a equipe multidisciPara o consultor, serviços de acesso à internet; produtos plinar tem se dedicado ao desenvolvimento de negócios de hardware conectados à internet e empresas baseadas na com soluções de softwares e de equipamentos tecnologiinternet para prover serviços de telemedicina destacam-se camente avançados, assim como projetos de propriedade intelectual sofisticada, incluindo patentes, desenhos entre as principais oportunidades. De acordo com Renato Sabbatini, esse é um mercado industriais e registros de softwares. “A Eretz.bio faz a convocação para startups de doenças que está apenas começando e tem um enorme campo a ser crônicas, porque a grande coisa é fazer explorado. “O número de atendimento a prevenção, acompanhar e cuidar através distância é ínfimo perto das cerca de 2 CENÁRIO ENTRE da jornada digital. O grande movimento bilhões de consultas por ano. As telecon2020 E 2021 será a telemonitoração”, diz Sabbatini. sultas ainda são poucas, o mercado ainA Saúde 4.0 preconiza o monitoramenda é pequeno. Estamos com uma fração 7,5 milhões to do paciente em tempo real. pequena do que pode crescer”, aponta. de atendimentos “Na Saúde 5.0, a diferença será que Nesse caminho, vão surgir muitas emnão vai ter gente na ponta, vai ser inpresas; algumas vão morrer, mas outras 52,2 mil médicos teligência artificial, aplicativos de IA vão crescer e há ainda as que farão moPercentual de primeiras extremamente desenvolvidos orientanvimentos de fusão e aquisição. consultas: 87% do pacientes”, adianta o especialista em telemedicina. “A conectividade e SAÚDE 4.0 Índice de resolutividade: a camada de aplicação têm de garantir O próximo passo, indo não apenas 91% a criptografia, as bases armazenadas além da telemedicina, como também Vidas salvas: estimativa no provedor e na nuvem têm de ser integrando-a aos dispositivos móveis de 75 mil pessoas seguras”, ressalta. Segundo ele, a dica e conectando-os à internet, é a chamaé que as empresas tenham vendedores da Saúde 4.0. É a próxima onda que Fonte: Associação Brasileira de Empresas especializados na área, porque, quanas empresas devem surfar. Com a tão de Telemedicina e Saúde Digital do se vai conversar com um médico, esperada chegada do 5G – que ainda é necessário saber fazer as perguntas certas e entender os depende de leilão e das prestadoras de serviços de telecomunicações efetivamente instalarem a rede –, have- termos médicos e as necessidades. O ideal, portanto, é ter rá uma combinação perfeita entre cobertura de internet, vendedores especializados na vertical de saúde.

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A conexão das UBSs COM O INÍCIO DA PANDEMIA veio a necessidade de levar conexão às Unidades Básicas de Saúde. À época, o governo contabilizou cerca de 16 mil unidades carentes do serviço e abriu chamada para que prestadoras de serviços de internet enviassem propostas à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). A conexão de 16,2 mil Unidades Básicas de Saúde (UBSs) foi uma demanda do Ministério da Saúde ao então Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Hoje, diz Paulo Cesar Alvim, secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, a questão está com o Ministério das Comunicações (que até o fechamento desta edição não respondeu às solicitações de entrevista). “Do conjunto das UBSs, uma parcela muito significativa, principalmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, não tinha acesso à internet e, quando fomos a campo, vimos que parte tinha acesso, mas sem qualidade. Com base nisto, a Secretaria de Telecomunicações montou uma estratégia para garantir o acesso, que seria útil na troca de informações e também um caminho inicial e básico para trabalhar telemedicina”, detalha Alvim. Na ocasião, a RNP fez um planejamento para levar internet às 16 mil UBSs. “Houve as chamadas e entendemos que era oportunidade aos pequenos ISPs. Eles cumprem o papel de dar acesso à internet ao País, de colocar internet em pequenas cidades e conseguem viabilizar acesso a uma parcela. Vão até aonde ninguém vai, na última milha. Os pequenos ISPs são estratégicos”, acrescenta o secretário. O cenário encontrado, segundo ele, foi de muitas UBSs com soluções de conectividade, mas algumas muito precárias e outras sem nada. E a precariedade não era apenas pela internet, como também pela falta de equipamentos. “Não bastava ter o sinal sem equipamentos. E isso envolveu novo conjunto de iniciativas do MCTIC para disponibilizar equipamentos.” Alvim diz não ter o balanço das UBSs, uma vez que o programa passou para a pasta das Comunicações, mas garante que houve avanços. “Conseguimos avançar. O desafio é a continuidade dos acessos a essas UBSs e levar serviço e soluções digitais para elas ”, acrescenta, explicando que foram montadas diversas soluções com equipamentos oriundos de contribuições do poder público. Apesar do possível avanço, a Covid-19 escancarou as desigualdades no acesso à internet na saúde do Brasil. A infraestrutura tecnológica para suporte ao sistema brasileiro de saúde está aumentando, mas ainda há muito espaço para

melhorias, conforme ressaltou, no ano passado, a coordenadora científica da TIC Saúde, Heimar de Fátima Marin, durante a apresentação dos resultados de pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Contudo, conforme salientou Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, ainda que o cenário nas Unidades Básicas de Saúde tenha apresentado melhoria, existe uma parcela significativa de UBSs sem computador e sem acesso à internet. Isso, afirma, é bastante relevante em um momento em que enfrentamos a pandemia da Covid-19 e precisamos, mais do que nunca, que esses estabelecimentos estejam informatizados e conectados, de forma que possam contribuir com informações atualizadas para o controle e combate à doença. Em 2019, 92% dos estabelecimentos públicos de saúde tinham computador e 85% possuíam acesso à internet, enquanto 100% dos privados declararam ter acesso à rede. O estudo também mostrou que ainda existem diferenças regionais na infraestrutura de TIC disponível nos estabelecimentos: nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, 92% e 90% fazem uso do computador e 82% e 83% possuem acesso à internet. A presença de computadores e internet é maior nos estabelecimentos da região Sul (98% têm computador e 98% têm acesso à internet), Sudeste (96% têm computador e 95% têm acesso à internet) e Centro-Oeste (97% têm computador e 95% têm acesso à internet). Com relação à telemedicina, Paulo Alvim apontou que, em fevereiro de 2020, dentro do programa de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), foi assinado com o Ministério da Saúde o Saúde 4.0. Foi antes da pandemia; e uma das questões era a qualidade das informações e como a conectividade ia garantir a questão do acesso à informação. “Já vínhamos conversando. A pandemia acelerou o processo por pressão de levar informação e atendimento médicos. No ano passado, a partir de uma articulação entre MCTI, Saúde e Defesa, foram feitas algumas experiências de telemedicina. Nós, via RNP, temos alguma experiência em telemedicina com a rede de hospitais universitários”, assinala.

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INCLUSÃO DIGITAL

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Roberta Prescott

COMO ATUAR NAS

escolas públicas Projeto que faz diagnóstico da conectividade na educação aponta gargalos que podem ser supridos por provedores de internet. SABER QUAIS SÃO as escolas públicas estaduais e municipais do Brasil com demanda por internet de qualidade pode ser uma ótima oportunidade de novos negócios para as empresas de internet. E o Mapa da Conectividade na Educação pode ser uma ferramenta para lá de útil. “É um sonho de consumo unir os provedores de internet com as escolas e redes de ensino, porque todos têm muito a ganhar se trabalharem em parceria”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação do NIC.br [Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR], vinculado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil. “As pessoas precisam de internet, e precisamos dar um salto na conectividade na educação. Os provedores de internet podem ter uma clientela fiel e que vai fazer uso

qualificado da rede, casando oferta com demanda. Vale a pena para os provedores de internet entrarem no portal Conectividade na Educação e verem onde tem demanda e que tipo de demanda a escola tem”, continua. Apresentado em 30 de março, o Mapa da Conectividade na Educação é uma das iniciativas do projeto Conectividade na Educação, lançado no final do ano passado. O projeto é coordenado pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) e pelo NIC.br com o objetivo de reunir dados e referenciais técnicos que possam apoiar a formulação de políticas públicas nessa área. A ferramenta oferece a gestores e secretários de educação uma análise de parte das cerca de 140 mil escolas municipais e estaduais brasileiras em atividade. Em 27 mil

Para interagir com os mapas dos municípios e estados de sua escolha, acesse https://conectividadenaeducacao.nic.br/

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“Os provedores de internet podem ter uma clientela fiel e que vai fazer uso qualificado da rede, casando oferta com demanda.” DANIELA COSTA Coordenadora da pesquisa TIC Educação do NIC.br

delas, onde há medidores do NIC.br instalados, é possível verificar o desempenho da banda larga, o que permite estimar se ela está adequada ou deficiente. MAPA DE OPORTUNIDADES O Mapa da Conectividade na Educação reúne bases de dados de diversos órgãos para traçar um retrato mais completo da conectividade nas escolas e permitir análises mais aprofundadas a respeito dos principais desafios e oportunidades para seu aprimoramento. O Medidor Educação Conectada é a principal fonte de dados sobre a qualidade da internet nas escolas. Com o medidor, a escola consegue, a qualquer momento, mensurar a qualidade de sua conexão, visualizando os resultados, assim como o histórico das medições anteriores. Atualmente, há 27 mil medidores instalados, mas esse número pode aumentar à medida que mais escolas forem instalando medidores, que são distribuídos gratuitamente. De acordo com Paulo Kuester Neto, analista de projetos do NIC.br e um dos idealizadores da ferramenta, por ora, os medidores estão em colégios públicos de aproximadamente 3.500 municípios, nas cinco regiões do País. Esse medidor, conforme aponta Daniela Costa, foi desenvolvido no âmbito da parceria, em 2017, entre o NIC. br e o Ministério da Educação. “Era necessário monitorar o programa de educação conectada do MEC, e o NIC propôs o uso do Simet para o monitoramento da qualidade de conexão das escolas. O NIC desenvolveu um medidor específico para as escolas que os instalam e as medições são enviadas para um portal onde há um mapa da conectividade. O medidor ainda está ativo e é bem usado”, explica a

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coordenadora da pesquisa TIC Educação do NIC.br. “O Mapa da Conectividade na Educação traz a sistematização de diversas bases, compartilhando dados. Ele traz o diagnóstico geral do que existe de conectividade nas redes públicas de ensino e possibilita ao gestor ter visualização em tempo real da qualidade da internet que chega às escolas, qual é a internet que chega, com qual velocidade etc. A partir disso, se faz o planejamento mais adequado”, acrescenta Thalles Gomes, coordenador jurídico de parcerias públicas do Cieb. O Mapa começou a ter tanto uso pelos gestores públicos e escolares que foi necessário criar outro, mais focado na gestão. O NIC.br e o Cieb lançaram um mapa mais completo, com os dados de 140 mil escolas públicas, estaduais e municipais, que puxa os dados do censo escolar e de outras fontes, como a Anatel e algumas operadoras. Os mapas se completam e fornecem informações valiosas para os provedores de internet, apresentando um retrato da situação atual que pode ser lido como oportunidades a serem endereçadas. FERRAMENTA ANALÍTICA O Mapa é uma ferramenta analítica que permite verificações diversas. Possibilita, por exemplo, explorar recortes, como escolas de estados e municípios que possuem conectividade adequada e as que não têm acesso à rede, velocidade da internet naquelas com acesso e, com o medidor, tecnologias para conectividade disponíveis (fibra óptica, satélite, rádio etc.), que são fontes para a contratação do serviço, entre outras. É possível ainda comparar diferentes indicadores de conectividade, como velocidade de download e upload, latência entre as instituições de ensino e seu entorno, e se abranet.org.br agosto / setembro / outubro 2021

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“É preciso adequar-se às realidades estaduais e municipais, de forma a oferecer serviço de qualidade, garantir acesso e fazer com que ele chegue às escolas.” THALLES GOMES Coordenador jurídico de parcerias públicas do Cieb

a internet é utilizada durante atividades pedagógicas ou se fica restrita à parte administrativa do colégio. “O objetivo é medir qual a oferta de acesso à internet nas escolas e qual a qualidade desta oferta. Não é só velocidade, mas como a internet chega, qual é a capacidade da rede para permitir o desenvolvimento de atividades pedagógicas. Isso tudo vai para o mapa e os gestores públicos podem acessar, tendo ali uma forma de monitorar se o que se contratou está sendo entregue à escola”, explica Daniela Costa. Da mesma forma, é possível analisar as medições e verificar onde estão os pontos de atenção, quais são as escolas que precisam de quais tipos de oferta de internet. Com esses dados disponíveis, os provedores de internet podem traçar estratégias de vendas, identificar escolas para as quais possam ofertar não apenas serviços de conexão à internet, como também gerenciamento de Wi-Fi, segurança de rede, entre outros. Costa aponta que, tendo como base a última pesquisa TIC Educação, é possível levantar oportunidades de negócios. Por exemplo, há muitas escolas nas quais o acesso à internet está somente na sala dos professores ou na do diretor, mas não para os alunos. Nas áreas rurais, apenas 40% das escolas tinham acesso, de acordo com a TIC Educação. “A questão da conectividade na educação não é só dizer que precisamos melhorar apenas pela questão pedagógica; não é luxo ter internet na escola, mas, sim, uma necessidade. Ainda mais quando se pensa em ensino híbrido”, detalha. A próxima edição da pesquisa será lançada no segundo semestre deste ano. Além do mapa, o Grupo Interinstitucional de Conectividade para Educação (GICE) está elaborando um relatório técnico sobre o tema. Segundo Thalles Gomes, do Cieb,

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será uma ferramenta crucial para apresentar informações ao gestor público e ajudá-lo a planejar a contratação dos serviços de internet. A expectativa é que o relatório seja lançado em agosto e inclua quais os modelos possíveis para contratar serviços de internet. O GICE é formado por órgãos governamentais, operadoras, provedores regionais, empresas de tecnologia, associações e organizações do terceiro setor interessados em co-construir soluções técnicas para os desafios de conectividade da educação pública no Brasil. “Tanto o diagnóstico como o relatório servem para os dois lados – para o poder público e para os ISPs – e mostram, por exemplo, os modelos de contratação possíveis e como financiar a contratação pública. Estamos tentando fazer com que o GICE seja um ambiente seguro de discussão e articulação para que todos os atores consigam encontrar um meio termo”, diz Gomes. Ele destaca que para as empresas de internet o mapa traz um diagnóstico para entenderem onde há necessidade, quais são as demandas e os gargalos. Com tais informações nas mãos, ressalta o coordenador jurídico de parcerias públicas do Cieb, os fornecedores podem adequar seus modelos de negócios. “É preciso entender que no poder público há diferentes entes e que uma solução que funciona para a Secretaria de Educação de São Paulo não é a mesma a ser usada por uma secretaria de um município menor”, pontua. “É preciso adequar-se às realidades estaduais e municipais, de forma a oferecer serviço de qualidade, garantir acesso e fazer com que ele chegue às escolas. Vemos lugares que têm acesso, mas em que as escolas não conseguem acessar a internet com a qualidade”, acrescenta.

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ARTIGO

Dorian Lacerda Guimarães

O futuro caminha via a educação conectada A EDUCAÇÃO DO FUTURO é conectada, fruto da transformação digital, provocada pela evolução das tecnologias. Falando em boa educação, entendo que precisamos trabalhar com três pilares: a conectividade, o conteúdo e o uso de metodologias de aprendizagem. Sem método não há educação, sem conteúdo não há educação, porém sem conectividade não há educação, conteúdo ou aplicação de método, então vou enfatizar a conectividade e deixar para os educadores e profissionais complementarem a perspectiva.

CONECTIVIDADE NAS ESCOLAS O bom acesso à internet nas escolas promove a inclusão social e digital dos mais jovens na sua etapa de formação pessoal e profissional. Provedores de internet, empresas de telecomunicações e o governo são atores e os protagonistas. Atualmente, no Brasil, são cerca de 180 mil escolas públicas espalhadas nos 5.564 municípios (https://abres.org.br/estatisticas/ ). O ambiente da educação conectada nas escolas hoje já transcende o simples acesso físico à internet. Já se disponibiliza um amplo portfólio de soluções de acesso por diferentes meios, tais como fibra ótica, rádio, Wi-Fi, satélite, móvel 3G/4G e 5G e serviços para a implementação, sustentação das escolas e modelos de financiamento e contratação de serviços. PROFESSORES, PAIS E ALUNOS A perspectiva da educação exige contemplar o acesso de educadores, professores, pais, alunos e comunidade, estendendo os limites da escola para a casa dos alunos, os ambientes públicos e o uso dos dispositivos móveis. O acesso acontece na sala de aula, no recreio, no celular em casa, sendo cada vez mais utilizado pelo celular, segundo estudos da TIC Educação (NIC.br). A conectividade á cada vez mais exigida, visto que vídeos e multimídia substituem os textos e as leituras dos alunos, o que acaba exigindo mais da conectividade. PLATAFORMAS, CONTEÚDOS E AULAS Alinhado à conectividade, viabiliza-se acesso a conteúdo, acervos, notícias atualizadas e ainda a serviços que suportam

a aplicação de metodologias de aprendizagem, seja nos exercícios, lições de casa e experiências de sala de aula de professores e alunos, seja no formato a distância ou presencial suportado por ferramentas digitais. As plataformas são recursos de gestão das escolas, dos alunos e da participação das famílias, contribuindo com organização e otimização de recursos necessários ao desenvolvimento da educação. PROJETO CONECTIVIDADE NA EDUCAÇÃO O projeto da educação conectada tem apoio do NIC.BR, da Abranet, do Cieb, das empresas de tecnologia e do governo e busca auxiliar os protagonistas a alinhar demandas e recursos para atender as escolas do Brasil, fornecendo indicadores, orientação e ações de comunicação que auxiliam gestores da educação, governos e fornecedores a fazer uma melhor conectividade na educação (https://conectividadenaeducacao.nic.br/ ). DESAFIOS E OPORTUNIDADES A realidade do Brasil exige que cada região se utilize de soluções disponíveis, dos recursos locais e do apoio das empresas e das comunidades para enfrentar desafios e enxergar oportunidades nesta jornada pela educação do futuro. Em uma sociedade dinâmica e conectada, nós vivemos um filme em evolução. Há constante geração de novos conhecimentos, surgimento e avanços da tecnologia e recursos onde a velocidade se multiplica e as formas de aprender e ensinar se alternam na formação das pessoas; estamos todos juntos e conectados. Levar a internet a todos, construir uma relação positiva com educadores, pais e alunos é promover o futuro da educação conectada.

Dorian Lacerda Guimarães é fundador e diretor da Abranet, com experiência de mais de 25 anos em tecnologia e conectividade aplicadas a educação, comunicação e empreendedorismo. É fundador e idealizador de negócios e projetos corporativos e sociais. abranet.org.br agosto / setembro / outubro 2021

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TENDÊNCIAS

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Moedas digitais: O QUE ESTÁ EM JOGO? O PAÍS CAMINHA para ter a sua própria moeda digital. No final de maio, o Banco Central do Brasil (BCB) divulgou as diretrizes gerais para a criação do que vem sendo chamado de real digital. A iniciativa, espera-se, irá promover inovação e contribuir para o aumento da eficiência do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), além de colaborar para o surgimento de novos modelos de negócios e incentivar a interoperabilidade de pagamentos e transações transfronteiriças. A nota do BCB veio a reboque de um debate que ganha corpo há algum tempo. A discussão sobre a emissão, pelos bancos centrais, de moedas digitais (CBDCs, na sigla em inglês para Central Bank Digital Currencies) ganhou proeminência ao longo dos últimos anos. China, Índia e EUA estão analisando a criação de CBDCs. Para executivos do sistema financeiro, a CBDC representa uma nova forma de negócios digitais. Na visão de Aristides Cavalcante, chefe-adjunto do departamento de tecnologia da informação do Banco Central do Brasil, as CBDCs são importantes para novos modelos de negócios e devem estar acessíveis ao varejo, mas por meio dos participantes do sistema de pagamento. Durante sua participação no Ciab Febraban, evento de tecnologia bancária realizado em junho, Cavalcante reforçou que as CBDCs têm a característica de não serem remuneradas, ou seja, não têm incidência de taxa de juros e devem cumprir os aspectos de privacidade. “O Banco Central acredita que a emissão de CBDCs tem de ser aderente à lei do

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Roberta Prescott

A emissão de moedas digitais está na pauta do setor financeiro em vários países, e o Banco Central do Brasil já divulgou diretrizes. As CBDCs animam o mercado, mas requerem cautela.

sigilo bancário e à LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais]”, disse, acrescentando que a moeda digital pode impulsionar novas tecnologias justamente por carregar a ideia de dinheiro programável, com troca de ativos digitais. INTEROPERABILIDADE O aspecto da interoperabilidade com outros ativos digitais é uma preocupação do setor com relação às moedas digitais. Executivos avaliam que blockchain é uma possível tecnologia para estar na base das CBDCs, mas o essencial é que o sistema tenha capacidade de interagir ou de se comunicar com outro, atendendo, claro, a todas as necessidades do sistema financeiro, como aspectos de segurança. “Acredito que a CBDC emitida pelo Banco Central traria um meio de pagamento aceito por jurisdição e segurança para o cidadão”, destacou Cavalcante. Líder da R3 para o Brasil, Keiji Sakai destacou o burburinho que as CBDCs vêm causando no mercado. “No estudo que fizemos, identificamos 64 modelos diferentes de implementação de CBDCS. Na China, a CBDC de varejo está na frente. Na Suécia, a maior parte dos casos está relacionada a pagamentos realizados por meios eletrônicos”, disse, dando um panorama global do estágio das CBDCs. Do lado do atacado, Sakai ressaltou as ações que vêm acontecendo na Ásia, na Europa e no Canadá. “O que percebemos é que a interoperabilidade para a troca de moe-


PIX É O NOVO ‘QUERIDINHO’ DO BRASIL das entre países é uma questão muito O Pix caiu no gosto do brasileiro e arrebatou o mercado de transações financeidiscutida”, apontou. Para ele, o Banras no País. Em quatro meses – de novembro de 2020 a maio de 2021 –, as transaco Central do Brasil está no momento ções por Pix passaram de 7% para 30%, o que ocasionou um ‘roubo’ do mercado certo para iniciar o projeto. dos DOCs/TEDs, que caíram de 25% para 19%, e das próprias maquininhas de André Portilho, sócio do BTG Pacpagamentos, que tiveram as transações reduzidas de 68% para 51%. “O Pix é o tual, contou que começou a olhar o queridinho do brasileiro”, afirmou o gerente-geral de TI do Banco do Brasil e diremundo de criptoativos em 2017 e entor setorial de TI da Febraban, Rodrigo Mulinari, ao apresentar os números da 29ª controu um ambiente polarizado: de Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2021, com ano-base 2020. um lado, a turma que achava que não Vale lembrar que, hoje, os bancos não cobram taxas pelas transferências de servia para nada e, do outro, a que acrePix entre as pessoas físicas, enquanto as transações TED/DOC e via máquinas de ditava que era a resposta para tudo. O pagamento têm custo considerável na cesta de tarifas. “Mesmo que os bancos veBTG teve uma experiência em 2019, nham a cobrar, não acredito que o Pix venha a cair, por conta das facilidades ofertaquando ‘tokenizou’ o portfólio de imódas pelo modelo”, sublinhou Mulinari. veis e, segundo Portilho, foi um bom As transações por Pix são impulsionadas pelas pessoas físicas, que respondem aprendizado. “Independentemente do por 83% do total. Já as empresas aparecem com apenas 17%, mas com forte tencaso, tem uma tecnologia nova que dência de alta, mesmo com a cobrança de taxas. “Três em cada quatro transações tende a amadurecer. Fazemos analogia do Pix são de pessoas físicas, mas as empresas observam o movimento e increcom o surgimento da internet, mas não mentam o uso do Pix entre elas. Em 2021, teremos um consolidado diferente no dá para entrar com vieses. Hoje, nossa chamado B2B”, disse Rodrigo Mulinari. (Ana Paula Lobo) visão é de convergência”, apontou. Ele revelou que o BTG já começou a ter demanda de clientes para acessar esse mercado olhos o movimento global na direção de CBDCs”, atestou de forma segura, o que culminou com o lançamento de Luís Kondic, diretor de produtos listados e dados da B3. fundos. “Estamos animados com o que está acontecendo “Cada vez mais o preconceito que o mercado tinha, no Brasil e no mundo. Não poderia ter ambiente melhor seja de reguladores, seja de instituição grande, com repara fazer negócio que esse, tendo regulador que não inibe lação a criptoativos está diminuindo, e eles estão sendo e que entende a tecnologia”, acrescentou. vistos como oportunidade. Acho que é um caminho sem “Os criptoativos são cada vez mais mainstream e volta; e a volatilidade traz esta oportunidade”, acrescentou CBDC é extensão da moeda física. A B3 vê com bons Keiji Sakai, também da B3.

BOOM DOS CANAIS DIGITAIS O isolamento e as restrições a serviços e estabelecimentos comerciais impulsionaram o uso dos canais digitais bancários. “No último ano, avançamos uma década no processo de bancarização e no maior uso de canais digitais para brasileiros”, apontou Renato Meirelles, presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva, no Ciab Febraban 2021. Apesar do avanço, ainda há desafios a vencer. Para Meirelles, o maior deles é ganhar do dinheiro em papel e, para isso, é necessário avançar no processo de digitalização e manter os que foram inseridos no sistema. O auxílio emergencial foi um importante impulsionador.

“Logo no início da pandemia, 5,44 milhões de pessoas que poderiam receber auxílio emergencial não tinham conta em banco. A bancarização mudou de um ano para cá. E isso mudou o cash-in, o processo de entrada de dinheiro para essas pessoas”, disse Meirelles. Na pandemia, as preferências dos meios de pagamentos também mudaram. “Algumas opções se tornaram quase impraticáveis, e até quem nem tinha familiaridade com pagamento online começou a fazer. Pessoas passaram a preferir pagamentos por aproximação. Isso tanto em relação aos consumidores quanto aos lojistas”, disse Janaína Pimenta Attie, chefe de subunidade no departamento de competição e de estrutura do mercado financeiro do Banco Central do Brasil.

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PANORAMA | PESQUISA TIC PROVEDORES

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Roberta Prescott

Pesquisa contabiliza 12.826 empresas provendo acesso à internet no Brasil, das quais apenas 7.007 declaram, mensalmente, dados de acessos à Anatel. Conheça o perfil das empresas de internet brasileiras.

TIC PROVEDORES 2020:

quem somos? O DOMÍNIO DA FIBRA ÓTICA como a tecnologia usada pelos provedores de internet para oferecer serviços; a expansão, ano após ano, do número de empresas com licença para prestação de Serviços de Comunicação Multimídia (SCM); o aumento da presença dos ISPs nos pontos de troca de tráfego; e maior entrega de IPv6 para os clientes foram destaques da TIC Provedores 2020, pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), divulgada no início de julho pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic. br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), responsável por sua condução. A pesquisa TIC Provedores 2020 aponta que havia 12.826 empresas provendo acesso à internet no Brasil no ano passado. A maioria delas (61%) começou a prestar serviços de internet nos últimos dez anos, entre 2011 e 2020, e pouco mais da metade (54%) iniciou suas atividades entre 2014 e 2020, o que, segundo ressalta a pesquisa, coincide com o período recente de mudanças regulatórias que visaram a facilitar a entrada de empresas no setor. A maior parte das empresas atuava em um mercado restrito a poucas localidades: 43% atendiam a apenas um município e 44%, de dois a cinco. Entre os provedores com menos de 100 acessos e de 100 a 300 acessos, a maio-

Confira todos os indicadores da pesquisa TIC Provedores 2020 https://www.cetic.br/pt/pesquisa/ provedores/indicadores

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ria estava em apenas um município. Já os que contabilizaram a partir de 301 acessos atuavam, em sua maioria, em ao menos dois municípios. Já com relação ao porte, as microempresas (48%) somam o maior número, seguidas das pequenas empresas (43%). PESQUISA DE 2017 VERSUS 2020 Há uma lacuna: das 12.826 empresas provendo acesso à internet no Brasil, apenas 7.007 delas declaram mensalmente seus dados de acessos à Anatel. E o gap é ainda maior considerando que, em 2020, 15.135 empresas tinham licença SCM. “Partimos do número de licenças SCM, que são as 15.135, mas para a ponderação final, levantamos os CNAEs [Classificação Nacional de Atividades Econômicas] e chegamos a 12.826”, explicou Leonardo Melo Lins, coordenador da pesquisa no Cetic.br|NIC. br, em entrevista à Abranet. “Algumas empresas ficaram no caminho; outras se fundiram. Das que têm CNAEs ativos, consideramos para a apresentação dos resultados as que fornecem mensal-


mente os dados de acessos à Anatel para podermos comparar os números da TIC Provedores 2020 com a pesquisa de 2017, que usou essa base”, acrescentou. Assim, a pesquisa apresentada em 2021 considera o universo de 7.007 ISPs, ainda que existam muito mais – cerca de 5 mil – que não enviam regularmente seus dados à Agência Nacional de Telecomunicações e, portanto, ficaram fora da amostra. No site do Cetic é possível obter os dados referentes ao universo das 12.826 empresas provedoras no País. Segundo Melo, ainda que os montantes sejam diferentes, as tendências reveladas pela pesquisa são iguais. Por

exemplo, no fornecimento de fibra ótica, ele apontou que 89% das empresas considerando o universo das 12 mil oferecendo têm o acesso, versus 91% levando em conta as 7 mil. O crescimento de empresas no País que ofertam fibra como conexão em relação ao último levantamento, de 2017, foi de 13 pontos percentuais (saltou de 78% das empresas que declararam acessos para 91%). Com isso, a fibra ótica passou a liderar o ranking. Em números absolutos, a pesquisa estimou que 6.401 empresas tinham esse tipo de acesso em 2020, contra 2.416 de 2017. A fibra ótica está presente em todas as regiões do País. Na análise do gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa, “o volume de tráfego de internet vem aumentando e, por isso, é importante que o provedor ofereça fibra óptica para dar conta de demandas, proporcionando uma conexão mais rápida e estável.” A pesquisa identificou que a maioria das empresas, de todos os portes e em todas as regiões, oferece essa opção. Isso, segundo Barbosa, não quer dizer que todo mundo no Brasil esteja conectado via fibra óptica, mas que a maior parte dos provedores tem capacidade de ofertá-la ao cliente final.

A pesquisa também mostrou que aumentou o número de ISPs conectados em algum dos Pontos de Troca de Tráfego (PTTs ou Internet Exchange - IX, em inglês), passando de 1.289 em 2017 para 2.442. Há, contudo, uma participação menor de provedores de pequeno porte e de provedores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. PTT, IPV6 E SEGURANÇA Barbosa ressaltou que o aumento da presença de provedores em um PTT colabora para melhorar o tráfego da internet como um todo. Apontou que ainda há boa margem para crescimento, pois o estudo concluiu que uma parcela considerável de provedores de pequeno porte ainda está fora dessa infraestrutura. Com relação à IPv6, ainda há uma entrega menor entre provedores com menos de 300 acessos, mas o número total de ISPs que entregam IPv6 passou de 922, em 2017, para 3.102 em 2020. Foi um marco, na visão de Leonardo Melo Lins. “É um crescimento enorme comparando com a última pesquisa e está um pouco mais distribuído entre as regiões, mas ainda vemos um porcentual interessante com espaço para crescer”, ponderou. Já em segurança, 1.793 (26%) provedores com declaração de acessos afirmaram que sofreram ataques de negação de serviços (DDoS). Além disso, 35% dos provedores que receberam ataques tiveram seus serviços paralisados e 51% continuaram operando, mas com lentidão. Esses dois impactos foram os mais relatados pelos provedores de vários portes, o que demonstra que os ataques são fatores de preocupação para a resiliência da rede de todas as empresas, independentemente do tamanho. A principal atividade exercida pelas empresas provedoras foi o serviço de acesso à internet, sendo o de trânsito IP (43%) e o de transporte (41%) os mais frequentes nos provedores com mais de 1.000 acessos. Em comparação com a edição de 2017, houve uma redução na proporção dos que oferecem serviços de e-mail (de 26%, em 2017, para 16%, em 2020); infraestrutura, como hosting ou colocation (de 24% para 19%) e telefonia sobre IP (de 23% para 19%).

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CONEXÃO

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Empresas de internet: prazo para envio de dados à Anatel vai até 31 de agosto Pleito foi feito pela Abranet e acatado pelo órgão regulador. A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INTERNET (Abranet) pleiteou e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) atendeu: o prazo para o envio da coleta de dados referentes aos terceiro e quarto trimestres de 2020 vai até o dia 31 de agosto. O pedido da Abranet foi feito a partir de demanda dos associados, preocupados com a nova prática e a possível aplicação de sanção por parte do órgão regulador. Em ofício encaminhado à Anatel, a Abranet destacou que “em sua maioria as empresas associadas prestadoras de serviços de telecomunicações são empresas de pequeno porte que, em geral, não atuam no regime de lucro real, assim muitas ações se fazem necessárias para o fornecimento de informações corretas no caso das financeiras e que em seus serviços de dados ou de telefonia não oferecem serviços medidos, assim a informação possível será a de capacidade disponibilizada e não o tráfego de dados efetivamente utilizados.” O pedido de mais tempo, explicou a Abranet, foi para evitar possíveis sanções por atraso ou erro. A Anatel, por meio da Superintendência Executiva, reconheceu o pleito. O prazo para o envio do primeiro e segundo trimestres de 2021 ainda não foi divulgado pela agência reguladora.

Falta de chips preocupa A ESCASSEZ MUNDIAL de semicondutores só deverá ser superada no segundo trimestre de 2022, de acordo com o Gartner. As fundições estão aumentando os preços dos wafers e, por sua vez, as empresas de chips estão aumentando os preços dos dispositivos. A avaliação é que a escassez de semicondutores afetará severamente a cadeia de suprimentos e limitará a produção de muitos tipos de equipamentos eletrônicos em 2021. O mesmo deve ocorrer aqui, como mostra levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Segundo sondagem feita em junho pela Abinee, 12% dos fabricantes do setor tiveram que parar parte da produção naquele mês por falta de componentes eletrônicos. É o maior registro desde que, em fevereiro, a pesquisa começou a acompanhar o impacto da falta desses insumos no mercado. Situação mais comum, 32% das empresas relatam atrasos na produção e na entrega dos produtos ao cliente. A maior parte das empresas do setor (42%) trabalha com a previsão de o abastecimento de chips voltar ao normal apenas em meados do ano que vem.

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IPOs aquecem negócios na internet DUAS EMPRESAS – uma prestadora de serviços de internet, a Desktop, e outra provedora de serviços e distribuidora de tecnologia, a WDC Networks, foram ao mercado para obter capital. A Desktop, associada da Abranet, conseguiu R$ 715 milhões e vai usar o montante para expandir as atividades e brigar pela liderança do mercado no estado de São Paulo. O grupo Desktop reúne as empresas Netell Internet S.A., Isso Internet e Telecomunicações, Netion Soluções em Internet Via Radio e C-Lig. A WDC Networks obteve R$ 450 milhões, que também serão usados para a expansão das atividades e para aquisições estratégicas. Com a oferta pública de ações, a empresa ganhou 34 acionistas, entre investidores profissionais, fundos de investimentos e instituições financeiras.


No Brasil, mais de 70% das vendas online são feitas via celular AS PEQUENAS E MÉDIAS empresas aumentaram em 140% o faturamento com as vendas online no primeiro semestre de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, esses empreendedores movimentaram mais de R$ 1 bilhão, contra os R$ 428 milhões calculados no mesmo período de 2020. Houve crescimento de 121% no volume de produtos vendidos, que saltou de 9,3 milhões no primeiro semestre de 2020 para mais de 20 milhões no mesmo período de 2021. Esses resultados são da Nuvemshop, plataforma de e-commerce na América Latina com mais de 85 mil lojas virtuais na região. Os segmentos que mais faturaram com o e-commerce nos primeiro seis meses deste ano foram Moda (R$ 342,8 milhões), Saúde & Beleza (R$ 85,8 milhões), Acessórios (R$ 72,3 milhões), Casa & Jardim (R$ 42,2 milhões) e Eletrônicos (R$ 27,7 milhões). Em contrapartida, os que mais aumentaram suas vendas e estão ganhando cada vez mais força no e-commerce são o de Antiguidades (+782%), Joias (+174%), Brinquedos (+127%) e Artes & Artesanatos (+126%). Na primeira metade do ano, 73% das vendas online foram feitas por celular, enquanto 26% foram realizadas por computadores. Outro dado que chama a atenção é o ticket médio, calculado em R$ 218 neste semestre. No ano anterior, o ticket médio foi de R$ 213. Isso significa que os consumidores estão comprando em mais quantidade, além de estarem pagando mais pelos produtos.

QUEM GANHOU NO E-COMMERCE Moda.............................. R$ 342,8 milhões Saúde & Beleza............... R$ 85,8 milhões Acessórios........................ R$ 72,3 milhões Casa & Jardim................. R$ 42,2 milhões Eletrônicos....................... R$ 27,7 milhões Fonte: Nuvemshop

Maior parte dos brasileiros desconhece o open banking POTENCIAL DE ADESÃO Com certeza irão aderir ao 16% open banking 46% Podem ou não aderir Com certeza não irão 30% aderir ao open banking Não sabem / 8% Não responderam Fonte: Radar Febraban – junho 2021

AINDA QUE A IMPLANTAÇÃO do open banking esteja em andamento no País, ele é desconhecido para 57% das pessoas ouvidas para a segunda edição do Radar Febraban. O levantamento foi feito com 3 mil entrevistados, de 18 anos e mais, de todas as cinco regiões do País, realizado de 18 a 25 de junho. Depois de serem informados de que se trata de “um sistema em que a pessoa autoriza o compartilhamento dos seus dados e seu histórico financeiro entre bancos que desejar, de forma que o setor bancário possa conhecer o perfil do cliente e oferecer-lhes novos produtos e serviços mais personalizados”, 45% dos entrevistados pela pesquisa expressaram opinião positiva sobre o produto, 20% consideraram negativo e 28% disseram que não é nem positivo nem negativo. O potencial de adesão ao open banking, segundo o Radar Febraban, é de 16% (pessoas que “com certeza” irão aderir) e mais 46% que “podem ou não” aderir; ao passo que 30% disseram “com certeza” que não irão aderir e 8% não souberam ou não quiseram responder. Os menos informados sobre o open banking são as mulheres (60%), pessoas entre 18 e 24 anos (70%), as que têm ensino fundamental (62%) e com renda de até 2 SM (63%). Ao passo que entre os de escolaridade superior e renda mais alta, cerca de metade tem conhecimento sobre o tema.

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OPINIÃO Felipe Monteiro

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Head do Sztartup Desk by Kasznar Leonardos

MARCO LEGAL DAS STARTUPS: FALTOU UM TANTO DE OUSADIA Entre acertos e erros, o novo marco legal das startups representa um avanço, que precisa ser lapidado. DOIS ANOS DEPOIS de tramitação no Congresso Nacional, foi sancionada, em junho, a Lei Complementar 182/2021, que ficou conhecida como Marco Legal das Startups. A nova lei representa um primeiro passo, mas faltou coragem para abordar campos que impactariam de forma definitiva a expansão das startups no País, principalmente das empresas mais novas e com menos poder de investimento. A definição legal das startups, clara e objetiva, e o reconhecimento dessas empresas como parte do ecossistema de inovação do Brasil certamente são medidas importantes para o desenvolvimento do setor. Com a nova lei, quem investir em uma startup será remunerado por seus aportes, mas não precisa se tornar sócio, nem se preocupar com possíveis passivos da empresa, desde que não faça parte da administração. Essa segurança jurídica, aliada à taxa Selic baixa, torna as startups uma boa opção de investimento, para quem busca maior rentabilidade e não tem aversão a risco. Outra vitória foi a simplificação para se constituir como Sociedade Anônima (SA), modelo mais adequado para atrair investimentos e que permitirá às empresas atuar com livros digitais. As startups também ficarão dispensadas de publicações impressas, podendo fazê-las na internet, o que reduz custos. Mas a bola fora foi o corte da proposta inicial de incluir startups estabelecidas como SAs no regime Simples Nacional. Com isso, não ficam sujeitas a uma regra fiscal especial, o que penaliza, particularmente, as de menor capital.

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O novo marco legal perdeu a oportunidade de apresentar soluções importantes para reduzir a alta carga tributária brasileira para essas empresas e alavancar ainda mais este ecossistema. Hoje, a maioria dos empreendedores tem dificuldade em se manter e muitos possíveis empreendedores não têm condições de sequer abrir seu negócio e implementar seus projetos inovadores. Por outro lado, um golaço da nova lei foi a criação de normas que facilitem o acesso das startups a licitações de órgãos públicos, por meio de uma modalidade especial para contratar pessoas jurídicas, com o objetivo de testar soluções inovadoras. A criação de um ambiente regulatório experimental, que permite a testagem de novidades com mais liberdade de atuação, os chamados sandboxes regulatórios, é outra mudança positiva. Antes, com setores regulados por normas rígidas, ficava difícil inovar. Com a nova lei, as agências reguladoras poderão suspender temporariamente para as startups determinadas normas exigidas das empresas que atuam no setor. Além de não trazer soluções para a questão tributária, o texto final deixou de tratar das normas referentes às relações trabalhistas. Hoje, por questões financeiras, grande parte das startups não possui condições de contratar funcionários no regime CLT. Em sua maioria, essas empresas optam por contratar os profissionais como Pessoas Jurídicas (MEI). Entre acertos e erros, o novo marco legal das startups representa um avanço, que precisa ser lapidado. Saímos do zero e podemos andar mais rápido para solucionar, sobretudo, as questões tributária e trabalhista. É preciso um pouco mais de ousadia, ouvindo os representantes do setor. O Brasil só tem a ganhar.

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