Linguística
COMO A INTERTEXTUALIDADE E A INTERDISCURSIVIDADE SÃO IMPRESCINDÍVEIS NA CONSTRUÇÃO DO HUMOR NAS TIRINHAS DA MAFALDA Maria Luísa Rodrigues Sousa
RESUMO A intertextualidade e a interdiscursividade constituem dois temas de estudo da Linguística Textual e se fundamentam na ideia de que um texto não se materializa como discurso primário, mas sim a partir de outros discursos e outras enunciações anteriores. O corpus de análise deste estudo são as tiras da personagem Mafalda, do desenhista Joaquin Salvador Lavado, mais conhecido como Quino. Tratam-se de narrativas humorísticas com um tom crítico que recusa o mundo como ele é e se apresenta a partir de duas linguagens: a verbal e a não-verbal, ambas importantes para a compreensão da tira. Percebe-se que o intertexto está presente em várias tiras da Mafalda, de diversas formas: alusões a personagens bíblicos, a pessoas famosas e ao contexto histórico vivido pela personagem (ditadura e guerra no Vietnã), envolvendo o receio aos chineses e a crítica ao discurso socialista. O universo da Mafalda não é apenas o de uma América Latina urbana e desenvolvida, mas de um universo latino, em meio a uma ditadura, o que a torna mais verossímil do que muitos personagens de quadrinhos norteamericanos. Para atingir o humor a partir da leitura do quadrinho, o leitor deve ser capaz de reconhecer a presença do intertexto pela ativação do texto-fonte em sua memória discursiva, pois se isso não ocorrer a construção do sentido de humor da tira estará prejudicada. Palavras-chave: Intertextualidade; Interdiscursividade; Mafalda; Narrativas humorísticas.
INTRODUÇÃO
No dicionário, o conceito de intertextualidade é: qualidade do que é intertextual, relação entre dois ou mais textos (AURÉLIO, 2018). Nesse sentido, entendemos que a criação de um texto se dá a partir de outro pré-existente, podendo haver uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto verbal, como em: músicas, pinturas, filmes e novelas. Toda vez que uma obra faz alusão à outra, ocorre a intertextualidade. Por outro lado, a interdiscursividade é a relação entre discursos, cujo sentido de um discurso é produzido, retomado ou complementado por outro. Um grande estudioso dessa área é Mikhail Bakhtin2 e seu livro “Marxismo e filosofia da linguagem”, escrito ao final do século de 1920, faz parte dos fundamentos das mais atuais teorias textuais e semióticas 3. No capítulo 2
Bakhtin foi um pesquisador da linguagem e seus escritos inspirou trabalhos de estudiosos em um número de diferentes tradições: o marxismo, a semiótica, estruturalismo, a crítica religiosa; e em disciplinas tão diversas como a crítica literária, história, filosofia, antropologia e psicologia. É criador de uma nova teoria sobre o romance europeu, incluindo o conceito de polifonia em uma obra literária. Bakhtin é autor de diversas obras sobre questões teóricas gerais, o estilo e a teoria de gêneros do discurso. Ele é o líder intelectual de estudos científicos e filosóficos desenvolvidos por um grupo de estudiosos russos, que ficou conhecido como o "Círculo de Bakhtin". 3 Estudo da construção de significado, o estudo do processo de signo (semiose) e do significado de comunicação.
DISPOSITIVA, V.4, N.5, P. 1-89, 2º SEMESTRE 2020
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