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MAIS SORT QUE Sou um apaixonado por navegação. Na infância, as férias passadas junto ao mar certamente são a semente dessa paixão. Ter morado quase a vida inteira no Rio de Janeiro ajuda também. Hoje dou vazão a essa paixão brincando de navegar em águas abrigadas com meu pequeno veleiro e me aventurando em travessias virtuais em um simulador de navegação oceânica na internet. Mas, quando era criança, foi a leitura de A Ilha do Tesouro que me levou em viagens “por mares nunca dantes navegados”, em busca de ilhas desertas e tesouros enterrados. Eu lia e relia esse livro durante as férias, enquanto o sol estava quente demais para brincar lá fora, e acho que em todas as vezes fiquei confuso entre ficar desconfiado ou deslumbrado com John Silver. Mesmo que tenham inspirado vários filmes sobre o tema, os
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piratas de A Ilha do Tesouro são bem menos idealizados e limpinhos que os mostrados nos filmes de piratas. Além de serem durões e destemidos, são desleixados e cruéis. Nesse sentido, os recentes Piratas do Caribe se parecem mais com os piratas apresentados por Stevenson. Ele nos conta sobre piratas que seriam capazes de matar covardemente um garoto e sua mãe, mas que respeitam religiosamente sua própria hierarquia e seus rituais. Isso é um dos aspectos mais interessantes da forma que a história se desenrola. Quase todos os personagens acabam apresentando uma ou outra contradição. Ben Gunn pode ter perdido um pouco da lucidez com o isolamento, mas se demonstra astuto e sagaz no momento decisivo. O barão fanfarrão e boquirroto não deixa de ser também um comba-
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