Revista Poder | Edição 121

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ISSN 1982-9469

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OUTUBRO 2018 N.121

POÇÃO MÁGICA

Como ARTUR GRYNBAUM faz do Grupo Boticário, a passos largos, uma potência do mercado mundial de beleza

ATACADÃO

Depois do fordismo, os Estados Unidos conhecem outro modelo de produção: o walmartismo

REPESCAGEM

A vida incomum do cirurgião HOSMANY RAMOS, que passou 36 anos na cadeia e agora mira a política

LINHA DE FRENTE

DENISE SANTOS, CEO da BP – Beneficência Portuguesa: lugar de mulher é no hospital, mas no comando

PÓS-GRAVATA

CHAPA QUENTE RODRIGO LOMBARDI

mostra por que se transformou em um dos curingas da dramaturgia brasileira

O novo dress code de Wall Street

E MAIS

Patinetes e outras traquitanas elétricas que todos querem ter; o cenário de sonhos dos Lençóis Maranhenses; e a nova musa dos saudáveis: a batata-doce






60 SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O ALQUIMISTA

Como Artur Grynbaum tem transformado o Grupo Boticário em uma potência do mercado mundial de beleza 22

O DRESS CODE NÃO É MAIS O MESMO

De Wall Street a Columbus Circle, a nova moda dos executivos de Nova York 28

ALMOÇO DE PODER

As histórias malucas do cirurgião plástico Hosmany Ramos, que após 36 anos preso ensaia sua carreira política 36

ATACADÃO DO TRABALHO

O modelo único de produção do Walmart, que emprega 1% da mão de obra dos EUA 42

NA PILHA

O irrequieto ator Rodrigo Lombardi estrela o Ensaio de PODER

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DOUTORA DE HOSPITAL

Denise Santos, a primeira CEO mulher do setor hospitalar brasileiro dita as regras na BP 52

RESPIRO

O Rambo eterno de Sylvester Stallone 54

ELETRIFICADOS

Novas opções práticas e elétricas para se mover pela cidade 58 60

CANTO DE PODER CASA DE AREIA A beleza inigualável dos Lençóis

64 66 68 70 72 76 77 78 79 80

PODER VIAJA É DE PODER HIGH-TECH COZINHA DE PODER CULTURA INC. ESTANTE UNIVERSO POLE POSITION CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

Maranhenses

ARTUR GRYNBAUM POR ROBERTO SETTON

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder

FOTO CORINNA SAGESSER

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INCORPORADORA

Material preliminar sujeito a alteração. Todas as imagens apresentadas neste material são meramente ilustrativas e vegetação na fase adulta. O apartamento será entregue conforme informações constantes no memorial descritivo do contrato. Coelho da Fonseca Empreendimentos Imobiliários – Av. Morumbi, 3669, São Paulo - SP - Cep: 05607-300 - CRECI J-961 SECOVI 1191


PODER EDITORIAL

Q

uem apostou em convergência, consenso e racionalidade nestas eleições quebrou a cara. O debate antagônico outra vez dividiu o país diante das urnas. Mas, mesmo nessas horas, tem gente que continua focada e olhando para a frente como Artur Grynbaum, que, apesar de seus 49 anos, fez o Grupo Boticário avançar com uma administração ousada, acreditando muito nas pessoas e reconhecendo seus méritos. Grynbaum, que chegou ao Boticário com 17, precisou trabalhar arduamente para mostrar que não se servia de privilégios familiares – ele é cunhado do fundador, Miguel Krigsner. Em 2017, o grupo cresceu 7,5%, mais do que o dobro do desempenho do segmento no período. Caminho parecido trilhou Denise Santos, CEO da BP – Beneficência Portuguesa, primeira mulher a comandar um hospital desse porte no Brasil, em que tem de lidar com uma verdadeira população se somados pacientes, funcionários e médicos. Gerir multidões é uma das tarefas do Walmart, que emprega 1% da força de trabalho dos Estados Unidos, mas não é todo mundo ali que se sente representado pelo controle impessoal que é utilizado. Chegar a consensos, aliás, também é crucial numa atividade de que se ouve falar pouco: a dos carcereiros. E é incorporando esse profissional na série da Globo baseada no livro de Drauzio Varella que o ator Rodrigo Lombardi, estrela do ensaio clicado por Maurício Nahas, voltou a brilhar na televisão. Por falar em cadeia, esta edição ainda traz a entrevista feita pelo repórter Fábio Dutra com o cirurgião plástico Hosmany Ramos, que passou 36 anos de sua vida atrás das grades – e agora ensaia uma carreira política. Traz também o novo vestuário de Wall Street, que aposentou a gravata e afrouxou o cinto, o cenário deslumbrante dos Lençóis Maranhenses pelo olhar atento da viajante Corinna Sagesser e uma seleção de veículos elétricos que cabem numa caixa e estão conquistando as ruas: patinetes, e-skates e até uma roda – isso mesmo: uma roda – que fica sob nossos pés. Celebrando o consenso e enxergando longe, venha quem vier em outubro, PODER só está começando.

G L A M URAM A . C O M



PODER JOYCE PASCOWITCH

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PODER INDICA

UM BEM À ALMA Mais um dia cheio de reuniões tensas que se encerra. Parece um sonho chegar em casa. Essa é a hora para fazer o que bem quiser: relaxar ao som de John Coltrane, beber a bebida preferida e preparar o jantar. Afinal, a contemporaneidade pode ser sinônimo de dias tumultuados, mas jamais de uma vida sem graça. É assim que a Trousseau, conceituada marca de lifestyle, entra com sua elegância e bem-estar. Sua linha White Luxury é ideal para quem aprecia o toque suave de materiais de alta qualidade, tais como cashmere, lã de baby alpaca e algodão egípcio – este escolhido para compor os duvets e os lençóis da coleção. A paleta de cor é dosada em branco, marfim e gelo, englobando ainda tons neutros e clássicos como cinza e chumbo – sempre tendo em mente a sofisticação e atemporalidade dos ambientes. É a chance de ter os quartos, salas de banho e closets invadidos por peças confortáveis, charmosas e com um toque artsy, elaboradas por essa marca que já tem quase três décadas de expertise no mercado. +TROUSSEAU.COM.BR


O novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), DIAS TOFFOLI, não descarta levar a julgamento ainda neste ano a ação sobre a validade do decreto de indulto editado pelo presidente da República, Michel Temer, em dezembro de 2017. Entre as regras do decreto, Temer estabeleceu que poderia receber o perdão quem cumpriu um quinto da pena em caso de crimes sem violência ou grave ameaça. A medida não atingiria, por exemplo, o ex-presidente Lula, condenado a 12 anos e um mês de prisão e que começou a cumprir pena em abril – ele só terá cumprido um quinto da sentença em 2020. Mas o critério poderia alcançar outros condenados da Lava Jato.

Escrito nas estrelas

“Quem assumir o comando, seja quem for, virá para melhorar o Brasil.” A frase, dita por fontes celestiais, foi interpretada pela astróloga MARIA EUGÊNIA DE CASTRO, ouvida especialmente pela PODER. Com Júpiter na casa 10, o ponto mais alto do mapa astral, como a profissional explicou, benefícios coletivos são aguardados para os próximos meses. "Porém, se ele [presidente] não for bem, cai e roda. Não conseguirá se manter no cargo." Maria Eugênia explica que Urano, um planeta de transformação, está na casa 11 e indica mudanças na forma de fazer política que deverão ocorrer nos próximos anos, até 2020. "Estamos saindo da Era de Peixes e engatinhando na de Aquário, levam-se 80 anos para uma era se estabelecer. Esses períodos geram mudanças sociais e culturais grandes, a sociedade fica mais confusa e caótica até se reorganizar. Mas vai se reorganizar", prevê, otimista, a fundadora da Sociedade de Astrologia do Rio de Janeiro e autora de diversos livros, entre eles Certezas Provisórias (Doc Editora).

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NÃO É A MAMÃE

Um empresário muito bem colocado na sociedade paulistana resolveu participar do grupo de WhastApp das mães da escola de seu filho. A ação não se revelou uma boa ideia. Único homem da comunidade, resolveu falar sobre política semanas antes das eleições, e suas posições não foram nada bem-vindas pelas demais mamães. Detalhe: o colégio em questão é o bilíngue mais caro da cidade.

FOTOS CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA/CNJ; REPRODUÇÃO FACEBOOK; ARQUIVO PESSOAL; ISTOCKPHOTO.COM; FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; ROBERTO SETTON; GETTY IMAGES; PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO

LIBERTAS


Resta um

CHAMA O MEIRELLES

Comenta-se em alguns corredores do mercado financeiro que HENRIQUE MEIRELLES tem tudo para ser um dos pivôs do próximo governo, seja ele qual for. Ainda que tenha participado do pleito presidencial, o nome dele foi ventilado por seus principais adversários, mesmo no primeiro turno, que já davam como naufragada a campanha do MDB. Uma eventual indicação de Meirelles serviria para sinalizar ao mercado que a próxima gestão tende a ser moderada e sem grandes rupturas na economia. Henrique Meirelles comandou o Banco Central entre 2003 e 2010, no governo Lula, e foi ministro da Fazenda de Michel Temer entre 2016 e 2018.

Historicamente, a classe artística costuma declarar apoio em eleições presidenciais a candidatos de esquerda. Fernando Haddad (PT), por exemplo, contou desta vez com o voto de Chico Buarque, enquanto Ciro Gomes (PDT) trouxe para o seu time Caetano Veloso. Mas outro grupo de artistas, com cerca de 90 pessoas, chegou a redigir, ainda em agosto, um manifesto por GERALDO ALCKMIN (PSDB). Indeciso que é, o tucano perdeu tempo e demorou a divulgar quem era da sua banda.

SHALOM

Além de uma sede da fundação que leva o nome do patriarca da família, os herdeiros de Moise Safra acabam de inaugurar em Nova York, nos festejos do ano-novo judaico, uma suntuosa sinagoga no coração de Manhattan. O espaço foi construído em um elegante endereço do Upper East Side (130 East 82nd Street) e também abrigará palestras, eventos e cursos de temática cultural e espiritual. Um dos fundadores do Banco Safra, Moise morreu em 2014, aos 79 anos. Deixou a mulher, Chella Cohen Safra, e os filhos Jacob, Ezra, Edmond, Esther e Olga.

MATCH POINT

Fã e amigo de ROGER FEDERER, JORGE PAULO LEMANN tem mais um motivo para estreitar relação com o tenista suíço. O empresário brasileiro, um dos homens mais ricos do mundo, acaba de construir uma quadra de grama nos padrões da ATP em uma de suas casas nos arredores de Zurique, às margens de um lago. Tudo indica que será lá que Federer, recordista de títulos de Grand Slam, fará sua preparação para o torneio de Wimbledon de 2019. Vale lembrar que Lemann foi tenista profissional nos anos 1960 e defendeu tanto o Brasil como a Suíça na Copa Davis. PODER JOYCE PASCOWITCH 11


ROTA DE FUGA

Cerca de 2 mil milionários brasileiros fizeram as malas e deixaram o país com suas fortunas em 2017, segundo dados da empresa global de pesquisa de mercado New World Wealth. Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil ficou no top 10 de países com maior fuga de indivíduos donos de US$ 1 milhão ou mais em ativos, somando 12 mil "emigrantes milionários" desde 2015. O movimento tende a aumentar.

3 PERGUNTAS PARA... POR QUE DECIDIR FALAR DOS MINISTROS DA FAZENDA?

DE TODOS, QUEM ATRAVESSOU O MOMENTO MAIS CRÍTICO?

A ideia foi tentar explicar Brasília para os brasileiros. Brasília tem mecanismos e simbolismos, uma lógica muito particular. A minha intenção era explicar como as decisões são tomadas, o que se leva em consideração, quais são as pressões... Mas para falar sobre tudo isso era preciso escrever uma enciclopédia (risos). Então, peguei a ideia-mãe e cheguei ao ministro da Fazenda. Poderia ter escolhido um ministro do Supremo ou o presidente da Câmara, mas a lógica era explicar o poder por meio de um personagem. Concluí que o ministro da Fazendo era o melhor, até porque eu tinha sido testemunha de como era essa relação e poderia escrever com muito mais vivência. Queria descrever esse processo ao longo do tempo, mostrar como tem coisas que se repetem: pode ser um governo militar, PSDB, PT, certas coisas são exatamente iguais porque o poder tem mecanismos claros e não importa quem esteja no comando.

O Maílson da Nóbrega (governo José Sarney) enfrentou um período dramático com a hiperinflação. Se você recebesse o salário no dia 5 e não gastasse nos primeiros dez dias, ele se desvalorizava 40%. As pessoas gastavam tudo nos primeiros dias, faziam estoque de alimentos, foi uma situação complicada. Tanto que ele chegou a propor para o presidente [José] Sarney renunciar para que o [Fernando] Collor assumisse antes. Para mim, isso é o símbolo de como era crítica a situação. A Zélia [Cardoso de Mello, ministra do governo Collor] também teve uma situação muito difícil no Plano Collor com o bloqueio das contas bancárias. Até hoje as pessoas têm trauma, perderam a confiança no sistema bancário e a questão da segurança dos depósitos virou um problema no Brasil. Em valores atuais, é como se ninguém pudesse mais ter R$ 10 mil livres para saque. De repente virou um pandemônio. E os resultados foram péssimos: não se controlou a inflação e caímos nu-

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ma retração. Um terceiro momento complexo veio após as manifestações de 2013 (governo Rousseff), porque elas obrigaram o governo a tomar medidas que tiveram custos fiscais absurdos. A União nunca havia feito financiamento direto para metrôs e, de uma hora para outra, o fez em 12 cidades, deu aval de empréstimos para todos os estados, tomou atitudes fundamentais para levar o país ao déficit em que está hoje. ACREDITA QUE UM DIA MINISTRO DA FAZENDA DEIXARÁ DE SER “O PIOR EMPREGO DO MUNDO”?

Seria ótimo, como o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, cuja importância é pequena na vida do cidadão americano, mas em Brasília, a curto ou a médio prazo, não vai ser assim. É só analisar a atual campanha eleitoral, em que toda semana vimos entrevistas com os conselheiros econômicos dos candidatos. Nunca houve tanto interesse sobre o que pensam esses assessores.

FOTOS ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; GETTY IMAGES; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

THOMAS TRAUMANN, jornalista e ex-ministro de Comunicação do governo Dilma Rousseff, que entrevistou 14 ex-ministros da Fazenda para o livro O Pior Emprego do Mundo


EM OUTUBRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...

MULTIMERCADO

Há pouco mais de 20 anos, instituições bancárias atuavam em várias frentes, como distribuidoras, corretoras, seguradoras e até agências de turismo. O multimercado, no entanto, acabou gerando antipatia no comércio, que se organizou e conseguiu reverter o quadro. Assim, os bancos passaram a ser só... bancos. Mas, pouco a pouco, esse cenário parece estar voltando. A dúvida é: quem leva a queda de braço? O clima é quente nos bastidores das associações representantes.

VISITAR a exposição The Art of Making Buildings, do italiano Renzo Piano, na Royal Academy of Arts, em Londres. Uma visão geral da arquitetura high-tech de Piano por meio de 16 de seus projetos mais significativos, entre eles o Centre Pompidou, de Paris.

SEPARAR um tempo para ler a

obra de James Baldwin, escritor americano que abordava questões raciais e de sexualidade. Terra Estranha e O Quarto de Giovanni, dois de seus premiados romances, acabam de ser publicados no Brasil pela Cia. das Letras.

REVER Amarcord em homenagem aos 25 anos da morte de Federico Fellini.

DESCOBRIR o sítio arqueológico

de Göbekli Tepe, na Turquia, o mais novo patrimônio mundial da humanidade segundo a Unesco.

OUVIR “Under the Staircase”,

playlist do Spotify gravada com exclusividade por Paul McCartney no icônico Studio 2 do Abbey Road. Destaque para a dançante “Nineteen Hundred and Eighty Five”, dos Wings.

MENOS É CHATO

Pensador singular, o americano ROBERT VENTURI faleceu em setembro, aos 93 anos, deixando um legado importante: "Less is a bore" ("Menos é chato"), em oposição à máxima "Less is more" ("Menos é mais"), de Mies van der Rohe. Venturi era daqueles arquitetos cujos escritos carregam o mesmo poder da obra edificada. Dois de seus livros são essenciais: Complexidade e Contradição em Arquitetura (WMF Martins Fontes), de 1966, e Aprendendo com Las Vegas (Cosac Naify), escrito com sua mulher e sócia, Denise Scott Brown, e Steven Izenour. Em 1991, ele ganhou a premiação máxima da arquitetura, o Pritzker.

OUVIR repetidas vezes o clássico OK

Computer, do Radiohead, e celebrar o aniversário de 50 anos do vocalista Thom Yorke.

CONVIDAR um amigo cinéfilo para passar o dia, de sessão em sessão, na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

ENGAJAR-SE no Outubro

Rosa, campanha mundial de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.

ESCOLHER um destino inédito para

a viagem de Réveillon.

SENTAR no balcão do Casimiro, no

novíssimo edifício Santos Augusta, e pedir um dos cocktails desenvolvidos pelo estrelado barman Kennedy Nascimento.

DANÇAR com o casal Mats Ek e Ana

Laguna nos espetáculos Memory, Axe e Old and Door. No Teatro Alfa, em São Paulo.

“Na vida, diferentemente do xadrez, o jogo continua depois do xeque-mate.” ISAAC ASIMOV

com reportagem de aline vessoni e dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 13



O LOOK

ALQUIMISTA

À frente do Grupo Boticário, no qual chegou aos 17 anos, o curitibano Artur Grynbaum expande marcas, compra concorrentes, agrega valor à enorme linha de produtos, ingressa em novos mercados e, como CEO, contribui decisivamente para o faturamento crescente que, em 2017, bateu nos R$ 12 bilhões por paulo vieira fotos roberto setton

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H

istórias de empresas que alcançaram o sucesso em meio a trajetórias rocambolescas são comuns. Algumas delas incluem lances improváveis, daqueles que um bom ficcionista cortaria na edição final de seu livro por considerar inverossímeis. O Grupo Boticário, potência do setor de beleza do Brasil, surgido como farmácia de manipulação em Curitiba, tem dois lances desses: a compra de um arsenal gigantesco de frascos e vidros de Silvio Santos, numa quantidade e num preço incompatíveis com o tamanho e com o faturamento da companhia nascente, e a relação harmoniosa entre Miguel Krigsner, fundador do grupo e hoje presidente de seu conselho administrativo, e Artur Grynbaum, que o sucedeu como CEO. Krigsner e Grynbaum são cunhados. “Nossa relação desafia a lei da física”, disse brincando o CEO a PODER numa das sedes da empresa, em São Paulo.

INDO ÀS COMPRAS

Maior empresa do setor de beleza do Brasil, a Natura pode estar a ponto de dar um passo que mete medo pela sua grandeza: a compra da tradicionalíssima Avon. Uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal registrando essa possibilidade gerou duas reações: o desmentido categórico da Natura e a valorização das ações da Avon. Seja como for, o Brasil é um mercado ainda por ser melhor explorado, e mobilizar recursos numa expansão internacional pode ser um movimento arriscado. “Embora o mercado brasileiro de beleza e cuidados pessoais tenha sido o quarto maior do mundo em 2017, somos somente o trigésimo em consumo per capita. Isso indica que o país oferece grandes oportunidades de crescimento, mesmo para quem decidir focar suas operações aqui”, diz Elton Morimitsu, analista sênior da consultoria Euromonitor. Morimitsu também destaca o crescimento da parcela de consumidores brasileiros preocupados com um tema caro ao Grupo Boticário, o cuidado com os animais. No estudo de 2017, 34% escolhiam um produto por ser “cruelty free” ou vegano, bem acima dos 21% do relatório anterior.

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“SANTO DE CASA FAZ MILAGRE. É PRECISO VALORIZAR QUEM ESTÁ SEMPRE COM VOCÊ. ESTIMULAMOS NOSSOS COLABORADORES A EMPREENDER DE DIVERSAS FORMAS” Há um repertório imenso de piadas de salão de cunhado – quase todas envolvendo comportamento indolente e pedidos reiterados de empréstimo. Ary Toledo pode fazer um set inteiro com o tema. Mas o cunhadismo também é tema acadêmico, conceito estabelecido na antropologia como mecanismo formador da população brasileira (veja box “Cunhadismo”). No Boticário, a relação entre cunhados mostrou-se, para dizer o mínimo, edificante. Foi a partir da chegada de Grynbaum às posições de comando que a companhia apontou para o sucesso. A unidade de negócios, então única, multiplicou-se em muitas outras. Os canais de venda, basicamente as lojas físicas franqueadas, também se abriram. Vieram as aquisições de marcas e de concorrentes já estabelecidos e maior presença internacional. Agora o Grupo Boticário, que faturou R$ 12,3 bilhões em 2017, aumento de receita de 7,5% em relação ao período anterior, tem diversas frentes de operação, muito diferentes entre si. Há O Boticário, onde tudo começou, de perfumes, cosméticos e outros produtos de beleza de fabricação própria, comercializados principalmente por lojas


franqueadas; Eudora, linha completa de beleza focada em venda direta; quem disse, berenice?, maquiagem e outros produtos de beleza voltados para um público mais jovem, com lojas exclusivas; The Beauty Box, um comércio de mais de 100 marcas, muitas delas estrangeiras como Dior, Chanel, Lancôme e Shiseido; Multi B, que também distribui marcas de terceiros, como Australian Gold, famosa pelo filtro solar. A corporação também consolidou a aquisição, no primeiro semestre deste ano, da brasileira Vult, empresa de produtos de beleza – maquiagem, especialmente – criada em 2004 e relevante em mercados em que o grupo tinha dificuldade de penetrar, como o Nordeste. Grynbaum entrou na empresa como assistente financeiro, aos 17 anos, antes mesmo de ingressar na faculdade de administração – a FAE, de Curitiba. Como tantos outros executivos, ele acredita que a base acadêmica é crítica na formação de um CEO, mas a vivência nos diversos setores da empresa é, no fim, a prova dos 9. E vivência ele teve à farta, pois liderou diversos setores da empresa, como o financeiro e o comercial. “Visitei mui-

to a operação, gastei sola de sapato em congressos, viajei pelo mundo para ver as tendências internacionais”, disse na entrevista a PODER. Ele aponta como crucial na história da companhia a grande virada que promoveu nas lojas d’O Boticário em 1998, quando suprimiu os balcões. O objetivo era permitir que os clientes se aproximassem dos produtos, tocassem neles. “O pessoal dizia que seria uma roubada, mas eu tinha pesquisa com consumidores, tinha os benchmarkings internacionais. A interação ficou muito mais fácil, houve mesmo uma senhorinha, eu me lembro bem, que elogiou, disse: ‘Eu só queria ler o rótulo, pegar o produto na mão’.”

CRISE? Costuma-se dizer que o segmento de beleza e cuidados pessoais é imune às constantes crises econômicas no Brasil, pois seus produtos têm o condão de reforçar a autoestima do consumidor num momento em que tudo que o cerca parece ruir. Com efeito, o Brasil é o quarto maior mercado do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Japão, e os movimentos recentes das grandes PODER JOYCE PASCOWITCH 17


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“INVESTIMOS 2,5% DE NOSSO FATURAMENTO EM PESQUISA. QUERO PODER RESPONDER QUESTÕES QUE AINDA NÃO SEI QUAIS SÃO”

empresas do segmento parecem referendar a hipótese. A aquisição da Vult pelo Grupo Boticário veio poucos meses depois da compra da histórica marca britânica The Body Shop pela Natura, a grande rival dos curitibanos, que agora, especula-se, tem interesse na Avon (veja box “Indo às compras”). Em seu último resumo executivo sobre o setor no Brasil, a consultoria Euromonitor International viu, contudo, um momento “desafiador” para os players locais, destacando o “approach conservador” do consumidor brasileiro, que agora “seleciona itens que oferecem melhor relação custo-benefício”. Uma ação relevante do Grupo Boticário, segundo o relatório, foi a contratação de Gisele Bündchen como principal “rosto” da linha de maquiagem Make B. Agregar benefício ao que se comercializa tende a ser uma estratégia hoje obrigatória para qualquer empresa que busca renovar seu mercado – há consenso de que a

CUNHADISMO

Se alguém um dia se dispuser a escrever um bestiário a partir dos personagens de Nelson Rodrigues, Palhares, o “canalha que não respeita nem a própria cunhada”, tem tudo para ser uma fera hedionda. Mesmo na pletora de desvios morais cometidos por familiares – do pai à sobrinha-neta - da obra do dramaturgo, a obsessão pela cunhada parece ser algo digno da pena capital. Rodrigues certamente não comungaria da moral dos índios brasileiros à época do descobrimento, que, para o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), exerciam o que chamou (cunhou?) de “cunhadismo”, a prática de agregar brancos à família com a oferta de uma irmã – ou filha, pensando-se do ponto de vista do sogro. Os índios não viam o cunhado como folgazão ou caloteiro, características que o anedotário fixou nesse parente, ou, se viam, não se importavam. No mundo corporativo – e agora na Presidência americana – é o genro que costuma desfrutar de um papel privilegiado na estrutura de poder. Ao alçar em 2008, o cunhado do fundador ao principal posto de comando, o Grupo Boticário inovou também aí.

geração millennial vê a decisão de compra como um ato nada frívolo. Performance e uso responsável da tecnologia são, portanto, características cada vez mais valorizadas nos materiais que se aplica ao corpo, e o Grupo Boticário não quer descurar disso. “Investimos 2,5% de nosso faturamento em pesquisa”, revela Grynbaum. “Com isso, quero poder responder perguntas que ainda não sei quais são. Hoje vivemos cada vez mais, e todos queremos envelhecer bem”, diz. Outro tema crítico para o grupo é o meio ambiente, e Grynbaum conta que a adoção de atitudes sustentáveis vem de longe, antes mesmo da realização da paradigmática Eco-92, quando o grupo criou uma fundação voltada à conservação da natureza. Em 1994, adquiriu a primeira reserva ambiental, em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. O grupo não usa animais como cobaias em testes de produtos desde 2000 e os laboratórios da casa já produzem pele 3D, que simula a pele humana. Também dispõem de tecnologia que permite reproduzir outros órgãos. “Não dá para pingar xampu no olhinho do coelho para ver se ele arde ou não. Mas é bom deixar claro que adotamos atitudes sustentáveis por crença, não por moda.” Curiosamente, Grynbaum esteve em setembro na China, um mercado em que o Grupo Boticário pretende ingressar – seria o caso de perguntar quem não. Mas há naquele país uma dificuldade, pode-se dizer, paradoxal. Na China, segundo o executivo, é obrigatório que fabricantes de cosméticos façam testes de seus produtos em animais.

RIBEIRINHOS Se não difunde imagens impactantes em slow motion de populações ribeirinhas cuidando do rico patrimônio amazônico em suas campanhas, o Grupo Boticário pode elencar diversas ações de sustentabilidade e correção política que adotou ou adota: ganhos de eficiência na produção de loções que diminuíram drasticamente o uso de energia numa das fábricas; logística reversa, uma exigência legal, aqui aplicada não apenas para inglês ver, PODER JOYCE PASCOWITCH 19


“O RELACIONAMENTO COM OS FRANQUEADOS É DE LONGO PRAZO. JÁ DEU TEMPO DE FLERTAR, NAMORAR, NOIVAR, CASAR. MUITOS DELES JÁ ESTÃO NA SEGUNDA GERAÇÃO”

já que todas as 4 mil lojas em 1.750 municípios do país recolhem e dão destino correto às embalagens; equidade de gêneros nas posições de liderança; política de sucessão aplicada aos franqueados, prática que, segundo Grynbaum, tornou-se um benchmarking internacional. “Nosso relacionamento com os franqueados é de longo prazo, a média de idade da relação é de 27 anos. Já deu tempo para flertar, namorar, noivar, casar. Muitos deles estão na segunda geração, e queremos que continuem conosco”, diz. Algumas outras ações, voltadas ao grande público, também vêm ajudando a dar um carimbo de contemporaneidade ao grupo, como a campanha do Dia dos Namorados de 2015, focada em casais gays. Todos esses movimentos vêm sendo percebidos. O Boticário recentemente foi considerada a bandeira (marca) mais admirada do varejo brasileiro, título concedido pela Ibevar

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(Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo) em seu último ranking anual, tornado público em agosto. Superou concorrentes de vários outros segmentos do comércio como Magazine Luiza, Lojas Americanas, McDonald’s e Renner.

AQUI É TRABALHO Grynbaum começou cedo na lida, realizando ainda pré-adolescente pequenas funções na loja do pai, a Samuca Modas, experiência que ele reputa como crucial hoje em sua atuação como executivo. Ao chegar ao Boticário e galgar posições, não teve dificuldades de mostrar que não estava ali por privilégio familiar. A disposição para o trabalho, que o faz ser considerado workaholic por assessores, parecia vitaminada por uma necessidade de deixar evidente sua fé na meritocracia – palavra que talvez ninguém pronunciasse na época, nem mes-


FOTOS ERBS/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

Lojas das várias marcas do Grupo Boticário. Ao lado, a Eudora, e, no sentido horário, a multimarcas The Beauty Box e O Boticário

mo ele. Nos últimos tempos, com o nascimento de seu primeiro filho, no ano passado, o CEO baixou um pouco a bola e, aparentemente, já não pode ser mais tratado como um estranho em casa. Mas trabalhar muito não é garantia de coisa alguma, e Grynbaum quer ver o grupo preparado para o futuro, algo que exige muito mais informação do que barro amassado, na velha expressão do político renitente. A leitura do livro Inevitável, do americano Kevin Kelly, fundador e colunista da revista Wired, em que o autor aponta cenários e forças tecnológicas que mudarão os produtos, a indústria e as relações de consumo, motivou o CEO a levar seu board executivo para ouvir o profeta digital numa imersão de uma semana no Vale do Silício. “Perguntei a ele se não via excessos na maneira como as pessoas usam as redes sociais, e Kelly disse que não. Ele acredita que quem não se integra pela tecnologia não colhe os benefícios dela.” O americano vê um futuro em technicolor, mas a visão otimista não contaminou a plateia. Ao sair do encontro, Grynbaum constatou que o “futuro já é o presente, mas no Brasil ainda ficamos olhando o passado. Se a gente pega o ambiente de apoio ao empreendedorismo que existe em muitos lugares lá fora e o compara com o daqui, acho que caímos do terceiro para o sétimo ou oitavo mundo”.

Para que o Grupo Boticário não faça como esse Brasil que trança perna, ou faça como o Coritiba, o Coxa, o time do coração de Grynbaum que caiu ano passado para a segunda divisão do futebol nacional, as tentativas de entender o futuro não são servidas no Grupo Boticário de maneira isolada, mas acompanhadas de práticas de gestão modernas, com diminuição dos postos de comando, configuração de times multitarefas e grande estímulo à autonomia. “Santo de casa faz milagre”, diz o executivo. “É preciso valorizar quem está sempre com você. Nós estimulamos nossos colaboradores a empreender de diversas formas, e a remuneração e os sistemas de incentivo estão alinhados com essa visão.” A própria sucessão do CEO, questão que seus 49 anos torna completamente ociosa, é de alguma forma discutida, já que todos os executivos devem atuar para formar novas lideranças para suas cadeias de comando. Que não se espere, contudo, que alguém dentro do grupo tome risco, para usar outra das expressões da moda, de maneira tresloucada, como pode-se dizer que tomou o fundador Miguel Krigsner naquela negociação de vidros com o homem do Baú. A negociação, de todo modo, selou o destino do Boticário. Santo de casa pode até fazer milagre, mas raio não cai duas vezes num mesmo lugar. n PODER JOYCE PASCOWITCH 21


COLARINHO

O DRESS CODE

NÃO É MAIS AQUELE De Wall Street a Columbus Circle, executivos e empresários de Nova York parecem ter entrado em um acordo: ninguém coloca mais a camisa para dentro da calça. Se isso soar absurdo, afrouxe a gravata e leia esta matéria...

e uma meia colorida aqui ou uma gravata divertida ali é o máximo de casualidade que seu look business pode aguentar, meu caro, você está por fora. Coisa que, aliás, a sua camisa deveria estar. Confuso? Calma, vai ficar tudo bem mais confortável. Com o Vale do Silício impulsionando mudanças na forma de se fazer negócios, o ambiente de trabalho e o guarda-roupa dos businessmen

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também já não são mais os mesmos. “Empresas de todos os portes e diferentes indústrias vêm buscando não só diversificar seu pessoal (culturas, etnias, idades etc.) como vêm incentivando seus funcionários a se expressarem – e roupas e acessórios, sem dúvida, são ferramentas essenciais para a autoexpressão”, explica Sylvie di Giusto, especialista em personal branding e autora do bestseller The Image of Leadership, ainda sem tradução para o português. “É claro que alguns am-

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POR CAROLINE MENDES


PODER JOYCE PASCOWITCH 23


bientes de trabalho seguem mais conservadores que outros (bancos e startups, respectivamente, por exemplo), mas, no geral, um dress code menos restritivo é um caminho sem volta, seja por decisão da empresa ou iniciativa da própria equipe.” Sylvie está certa: de acordo com um estudo conduzido no ano passado pela consultoria de recursos humanos americana Robert Half, 50% dos gerentes dizem que os funcionários se vestem menos formalmente do que cinco anos antes.

DESLEIXADO NÃO, DESCOLADO

Nova York vem assistindo a seus engravatados abandonarem as gravatas, afrouxarem os cintos e... tirarem as camisas de dentro da calça. Uma das principais fashion trends do mundo coorporativo nova-iorquino começou em 2010 com Chris Riccobono, um sujeito comum de Nova Jersey que te-

ve uma ideia simples demais para dar certo: fazer camisas para serem usadas exclusivamente para fora da calça. “Mas toda camisa pode ser usada para fora da calça!”, vem à cabeça. A UNTUCKit, marca criada por Riccobono, vem provando o contrário. As camisas são alguns centímetros mais curtas do que o padrão, trazem um acabamento arredondado na barra, vestem caras descolados em comerciais igualmente descolados feitos especialmente para a internet ao lado de mensagens como “untuck it and relax” e “untuck yourself” (“tire a camisa de dentro da calça e relaxe” e “se solte”, em tradução livre). Parece o suficiente para cobrar, no mínimo, cerca de R$ 350 pelo modelo mais simples. “A sacada do Riccobono foi observar que muitos caras usam a camisa para fora da calça, criar um produto específico para isso e, por meio de uma estratégia de branding e marketing eficaz, fazer disso uma necessida-

DOS & DON’TS

Perguntamos para a autora best-seller e especialista em personal branding Sylvie di Giusto como mandar o dress code caretinha para a casa do chapéu. 1. Autoconfiança é a melhor estilista – ninguém sabe vestir melhor do que ela. 2. A moda está aí para ser seguida, sim, mas seja esperto! Quer embarcar na tendência de tons pastel do próximo verão? Vá com fé, mas não gaste tanto – deixe os investimentos para peças que não saem de moda. 3. Ser descolado não significa ser desleixado. Se você se vestir bem, vai passar a impressão de que cuida de si e, passando a impressão de que cuida de si, vai fazer o cliente pensar que você também vai cuidar dele. 4. E por falar em cliente, deixe para “ser você mesmo” com o look de clientes já conquistados. Tem uma reunião de prospecção? Melhor passar a imagem de conservador do que correr o risco de ser mal interpretado. 5. Quebre as regras uma a uma. Um dia, abra mão da gravata; no outro, use meias coloridas; no seguinte, deixe a camisa para fora da calça. Nunca tudo junto! 6. É chefe? As coisas estão mudando e já faz tempo... Aceita que dói menos.

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de consoante com a tendência de um dress code menos rígido nos escritórios”, explica Diana Rojas, brand strategist e professora da Universidade de Nova York. O próprio Chris Riccobono é um deles. Em entrevista ao The New York Times, o empresário contou que sua ideia de milhões de dólares veio durante uma viagem para Las Vegas, quando ele usou a mesma camisa quatro dias seguidos porque era a única que caia bem para fora da calça. O negócio cresceu tanto que a UNTUCKit hoje vale cerca de US$ 200 milhões, possui 25 lojas – entre os endereços estão Quinta Avenida, Soho e West Village, em Nova York, e as cidades de São Francisco, Los Angeles, Boston e Chicago – e deve abrir outras 25 até o fim de 2018.

UMA TRAMA JUSTA

De um lado temos a Goldman Sachs decretando o fim do terno obrigatório e o JPMorgan Chase abraçando a causa do casual; do outro (na verdade vindo de todas as direções), estão os famigerados millennials, que já compõem mais da metade da força de trabalho dos Estados Unidos

e que simplesmente não vão deixar ninguém dizer o que eles podem ou não vestir. Mas será que são as empresas que estão incentivando, permitindo ou, no mínimo, fazendo vista grossa para a casualidade dos looks dos funcionários, ou são os próprios funcionários que estão, pouco a pouco, mudando as regras? E será que se trata de uma mudança positiva? Para Sylvie di Giusto, um dress code menos restritivo pode, sim, aumentar a produtividade de uma empresa. Mais confiante, o funcionário vai performar melhor, gerar mais resultados.”Quem nunca se sentiu orgulhoso da imagem que viu no espelho ao colocar uma roupa assim ou assado?”, questiona Sylvie. E, se pegarmos a UNTUCKit como exemplo, fica ainda mais fácil entender o auê. “A mensagem ‘untuck yourself ’ é uma ideia que o consumidor procura conceber sobre si mesmo, é um objetivo que ele quer alcançar e que pode fazê-lo com o produto e, nesse caso, principalmente no ambiente de trabalho”, acrescenta Diana Rojas. Ah, o marketing... n PODER JOYCE PASCOWITCH 25


“Memorial de incorporação do empreendimento registrado em 24/08/2018, sob R.2, na matrícula nº 101.314, do 13º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo. Todas as imagens e perspectivas nesse contidas nesse material são meramente ilustrativas, podendo sofrer alterações, quanto à forma, cor, textura e tamanho. As unidades e áreas comuns serão entregues conforme as especificações constantes do memorial de incorporação, que prevalecerá em caso de conflito com qualquer material ou informação relativa ao empreendimento.

Rooftop com obra de Vik Muniz com 20m x 2,5m*


PODER INDICA

UMA NOVA ALAMEDA NO JARDINS A Tishman Speyer aproveitou toda sua expertise no segmento de imóveis comerciais de alto padrão – só no Brasil são mais de 20 anos – e, desde 2005, vem investindo em edificações residenciais. Atualmente a empresa financia projetos em grandes capitais como Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, sempre privilegiando áreas nobres. Depois de condomínios luxuosos em São Paulo, como o Reserva Granja Julieta, Flórida Penthouses (Brooklin) e o Metropolitan, em frente ao Parque do Ibirapuera, a Tishman Speyer se volta para um projeto ambicioso nos Jardins, que vai unir as melhores soluções em edificações residenciais e comerciais em um único lugar: o Alameda Jardins. Com o savoir-faire de quem já adquiriu, desenvolveu e operou mais de 406 projetos – como os icônicos Rockefeller Center e o Estádio Yankee, em Nova York –, a Tishman Speyer traz para o Alameda Jardins uma série de inovações em relação ao que já existe na região; o que inclui as plantas em diferentes metragens – de 91 a 268 metros quadrados – com o intuito de acolher famílias em diferentes momentos da vida. Ademais, trata-se de um terreno de 3.858 metros quadrados cujas torres residencial e comercial serão interligadas por praças e uma alameda – um espaço verde aberto ao público, que surge com a proposta de construir uma área de transição única entre o empreendimento e o bairro. O Alameda Jardins torna-se uma opção preciosa para quem se preocupa com mobilidade urbana, pois permite fácil acesso às ciclovias, corredores de ônibus da avenida Rebouças e à estação de metrô Oscar Freire. Soma-se a isso um sistema de bikesharing exclusivo para moradores. Parece difícil, mas existe um jeito de tornar tudo isso ainda mais bonito e funcional: com projeto arquitetônico do escritório Aflalo/Gasperini e a parceria com as galerias Nara Roesler e Carbono, que trazem para a integração da área verde com lobby e lounge trabalhos de Laura Vinci e obras exclusivas de Raul Mourão e Vik Muniz. ALAMEDAJARDINS.COM.BR (11) 4950.9019



BISTURI

HOSMANY RAMOS

Apontado como sucessor de Ivo Pitanguy, o cirurgião plástico passou 36 anos na cadeia, condenado por dois homicídios e outros crimes mais leves. Liberto desde 2016, agora aos 71 anos candidatou-se a deputado federal e finaliza uma autobiografia “nada autopiedosa”. Nesta entrevista, critica o sistema prisional, elogia o PCC, diz-se um homme à femmes e revela uma insuspeita simpatia por Geraldo Alckmin POR FÁBIO DUTRA

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á algo de opaco nos olhos de quem passou pelo cárcere. Criminalistas experientes costumam dizer que é uma tatuagem eterna a provar que existe mesmo o tal contrato social, conceito que a sociologia usa para tentar explicar a razão da organização das comunidades pelo menos desde Thomas Hobbes – a privação de liberdade impõe o distrato. Com isso na cabeça imaginei encontrar um homem cheio de cicatrizes na alma no restaurante A Figueira Rubaiyat, local deste Almoço de PODER. Mas Hosmany Ramos é um homem vigoroso aos 71 anos, 36 deles passados na cadeia. De terno de três peças sob medida, unhas e dentes extremamente bem cuidados – sua marca registrada desde os tempos do grand monde –, penteado bem fixado e sapatos impecavelmente engraxados, ele chegou ao restaurante conduzido por motorista particular desde a clínica em que voltou a atender na avenida Brasil, em São Paulo – a mesma em que batia estetoscópio quando jovem. Tão alinhado e com algumas intervenções estéticas no rosto, sobre as quais ele desconversa, de longe nos remeteu a um âncora de telejornal prestes a entrar no ar ao vivo. Não foi apenas em seu rosto que se nota uma interferência médica: uma cicatriz na palma da mão esquerda ululava durante sua gesticulação. Ele explicou que desenvolvera “mão de bispo”, uma incômoda situa-

FOTOS PAULO FREITAS

ção em que os movimentos ficam prejudicados e, como é caso de anestesia local e ele é destro, operou a si mesmo para corrigir o problema. Esse é Hosmany Ramos, o médico-monstro do imaginário coletivo das décadas de 1970 e 1980. Inteligente, articulado e atualizado quanto ao novo mundo digital que surgiu enquanto ele penava – manobra seu iPhone 8 como garoto e tem até canal no YouTube – e também quanto ao avanço da medicina – ele agora combina cirurgia com a revolucionária doutrina ortomolecular, para “cuidar da lataria e do motor e garantir que o cara viva até os 120 com capacidade plena até para trepar (risos); veja como a Marília Gabriela parece ter 30 anos a menos por conta disso” –, ele divide seu tempo entre a clínica em São Paulo e no Tocantins, onde mora a mãe. E também se dedica à campanha para deputado federal pelo Avante, partido que disputa as primeiras eleições este ano. Sem tempo de TV, ele diz que a própria notoriedade pessoal em São Paulo, onde cumpriu a maior parte da pena, lhe garantiria “pelo menos 100 mil votos”. “Em vez de votar nos bandidos, melhor votar no ex-bandido que se regenerou”, ri. MEU AMOR BANDIDO Osmane Ramos, nascido em Jacinto, norte de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país, radicou-se no Rio de Janeiro, onde estudou medicina na UFRJ. No terceiro ano do curso, perdiPODER JOYCE PASCOWITCH 29


do quanto aos rumos profissionais, trancou a matrícula e se mandou para uma temporada nos Estados Unidos. Lá, conheceu algumas figuras da elite nova-iorquina (ele cita nome a nome, sublinhando os sobrenomes), que o aconselharam a eleger entre a cardiologia dos transplantes – o primeiro procedimento bem-sucedido desse tipo era o assunto dos jornais da época – e a cirurgia plástica, liderada pelos brasileiros. Voltou à academia na Guanabara e se especializou em cirurgia geral antes de prestar a prova de admissão na clínica de Ivo Pitanguy, o midas do assunto. Passou em primeiro. E mudou o provinciano Osmane para Hosmany, com tônica na sílaba final tal qual a fonética do idioma francês e do sobrenome do chefe notável. Talentoso, sedutor e bom com as palavras escritas, logo foi informalmente alçado à posição de sucessor do mestre – que não tinha filhos médicos –, responsável por preparar e praticamente se encarregar das principais clientes da clínica de cirurgia plástica mais famosa do mundo. O Rio era uma boemia só e logo ele era figurinha carimbada das colunas sociais mais badaladas, como a de Ibrahim Sued – “sorry, periferia!” – n’O Globo. “Logo que terminava o expediente em sua clínica em Copacabana – especializada também em implantes de cabelos masculino –, Hosmany chegava em casa, um apartamento alugado na avenida Atlântica, no Posto 4, e tomava um uísque cowboy. Mais tarde, já arrumado e sempre exagerando nas roupas de marca, frequentava jantares, boates e festas”, escreveu Renato Fernandes numa edição de 2007 da revista J.P, que foi às bancas com a atriz Cleo Pires, então neófita, na capa. Entre o Regine’s (o point da night) e as feijoadas na cobertura de Humberto Saade (fundador da Dijon, marca que revelou Luiza Brunet em suas campanhas publicitárias) no edifício Chopin, contíguo ao Copacabana Palace, Hosmany estava presente em tudo que era in. Nessa rotina frenética e ilustrada ele arrematou coração após coração com seu jeito quieto e observador combinado com a fama de gênio precoce que o precedia. Marisa Raja Gabaglia, que apresentou o Jornal Hoje, da Rede Globo, publicou o livro Meu Amor Bandido para documentar o romance quentíssimo que viveu ao lado dele. Vera Bocayuva, “prima do Marcelo Rubens Paiva”, não gostava de mencionar que fora apaixonada pelo médico mineiro depois que ele se transformou no marginal nacionalmente famoso, mas todo mundo se lembra. E Beki Klabin foi sua mulher e porta de entrada dos grandes salões por alguns anos – relacionamento que terminou

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após um roubo em seu apartamento que as más línguas insinuavam ter sido obra dele. De novo Fernandes na J.P: “Uma noite chegaram na cobertura da Vieira Souto, em Ipanema, e um ladrão havia roubado todas as joias de Beki e absolutamente nada de Hosmany. Beki nunca fez um boletim de ocorrência, mas no dia seguinte mandou trocar todas as fechaduras da casa e Hosmany nunca mais entrou lá. Depois disso, dizia a todos que ele era o ladrão. Ninguém na sociedade carioca acreditava”. O cirurgião, tomando vodca com gelo e incomodado com a versão, apresenta a sua: “O ladrão se aproveitou da obra no prédio ao lado que facilitava a entrada pela varanda da cobertura da Beki e entrou com uma faquinha de cozinha; eu acordei e lutei com ele – sempre fui bom de artes marciais – e ele fugiu levando as joias que ela havia usado naquela noite, coisa leve do dia a dia que estavam na cômoda para a empregada guardar no dia seguinte. O cofre estava aberto e o prejuízo podia ser bem maior, tenho comigo que salvei uns US$ 4 milhões, por baixo. E a Beki nunca me acusou”. HOSMANY E OS MANOS Hosmany foi condenado em 1981, segundo consta, por roubo de aviões, contrabando de automóveis e pelos assassinatos de seu piloto pessoal, Joel Avon, e do estelionatário Firmiano Angel, mas ele desconver-


ILUSTRAÇÕES ISTOCKPHOTO.COM

sa quando entro no assunto. Prefere sempre ressaltar sua capacidade de pagar pelo que fez e de se regenerar num sistema que não privilegia isso: “Naquela época, naquelas rodas, quem não usasse drogas era um outsider: mergulhei nesse mundo e ficava acordado a noite toda, dava uma cheirada de manhã e ia pro consultório. Meu organismo aguentava, mas fui perdendo a noção da realidade e acabei cometendo os erros que me marcaram a vida. Foram só três meses: comecei essa rotina em setembro e em novembro eu estava preso”, lembra. Será que ele se arrepende? “Fui muito sacaneado pela minha notoriedade, vivi no inferno. Mas pude ajudar muita gente também pelos meus conhecimentos num lugar em que falta tudo e o ser humano é tratado igual bicho. Sempre digo que a cadeia no Brasil é uma maneira muito cara de piorar um ser humano. Se eu me arrependo? Ora, com tudo que eu tinha, e sendo apontado pelo Pitanguy como sucessor, imagina o que eu poderia ter atingido profissionalmente”, admite. A Constituição Federal veda a prisão perpétua, ao passo que o Código Penal impõe o limite de 30 anos alijado da sociedade para qualquer cidadão. Hosmany ficou 36. Ele reclama e cita as sociedades europeias em que cumpriu pena onde o juiz que julga é o mesmo que solta – “ao contrário do Brasil, onde a pena vence e o cara resta lá esquecido, como tantos que conheci”. Em 1996,

“Dava uma cheirada de manhã e ia pro consultório. Mas fui perdendo a noção da realidade e acabei cometendo os erros que me marcaram a vida”

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exercendo direito de saída temporária, fugiu. Foi recapturado por ter participado de um sequestro que lhe ocasionou nova condenação de cerca de 30 anos. Participou de fugas, respondeu a vários inquéritos e acabou por lograr a liberdade forçada quando, em 2009, durante outra saída temporária, ele se recusou a voltar para a cadeia pela imprensa e escafedeu-se. Tinha manifestado a vontade de se apresentar aos juízes da Vara de Execuções Criminal na data estabelecida para retornar ao retiro forçado, mas, diante da negativa dos magistrados de o receberem, se mandou. Foi localizado na Islândia, procedente da Noruega (país em que mora seu único filho, um jovem criador de uma startup que negocia bitcoins), usando o passaporte do irmão. Após breve período nas cadeias locais em que tinha quarto privativo e telefone

va? Tenho bom conceito nos presídios porque operei, tratei e mediquei, mandando listas de materiais aos diretores para providenciar, em locais em a que os médicos não tinham acesso ou não eram chamados e que a polícia entrava para sufocar motins a bala e a porrete. Isso não pode dar certo.” Para defender essas ideias, candidatou-se a deputado federal pelo Avante. O partido apoia Ciro Gomes, mas Hosmany se diz propenso a votar em Geraldo Alckmin – paradoxalmente o governador que esteve mais tempo no comando do estado de São Paulo, responsável pela administração do sistema prisional que critica [até o fechamento desta edição, o primeiro turno ainda não havia sido realizado]. Seguro da vitória nas urnas, passa os dias a finalizar sua auto-

“Vivi no inferno. Mas pude ajudar muita gente pelos meus conhecimentos num lugar em que o ser humano é tratado igual bicho. Cadeia no Brasil é uma maneira muito cara de piorar o ser humano” à disposição (que utilizou para dar entrevistas para a televisão brasileira a elogiar o sistema carcerário islandês em oposição ao inferno brasileiro), foi extraditado. Dessa vez foi parar em Mirandópolis (SP), numa cela superlotada em que dormia, já idoso, encostado na latrina e tinha que acordar e se afastar caso alguém precisasse se aliviar. Dividia o sofrimento com diversos detentos débeis, até mesmo um cadeirante. “Cara, em toda cadeia que passei, e foram tantas, vi pichado ou ouvi a terrível frase ‘de alguma maneira, em algum lugar, alguém vai pagar por este sofrimento’. Um preso custa sete salários mínimos ao Estado para sair de lá de dentro cheio de violência no coração. Falam mal do PCC, mas acabaram com os estupros e homicídios indiscriminados, eliminaram o crack e instauraram um poder tal que hoje os carcereiros nem têm mais acesso às galerias, e num lugar onde o filho chora e a mãe não ouve”, sustenta, voz mais alta e olhar opaco. “Quantos companheiros de cela desistiram de pedir auxílio médico para não ter que passar pela revista vexatória desnecessária e agressi-

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biografia “nada autopiedosa” a ser lançada ainda este ano pela Geração Editorial, a mesma do livro A Privataria Tucana e da biografia de José Dirceu. Ele fala com respeito de admiração de Luiz Fernando Emediato, editor e publisher da Geração: “É um intelectual à moda antiga, não mero comerciante, e acreditou em mim desde 1996, quando publicou meu outro livro, Pavilhão 9 – Paixão e Morte no Carandiru”. Depois de tantos anos encarcerado, pergunto ao notório conquistador como anda o seu estado civil. Ele apenas sorri, debochado: “Estou casado com Brasília!”, diverte-se, fazendo alusão à campanha. Mas será que dentre tantas conquistas houve algum genuíno grande amor a sacudir suas entranhas? Ele rememora Marisa Raja Gabaglia – que o visitou e se correspondeu com ele já recluso até o fim da vida –, desconversa aqui e ali, mas se resolve rápido a não contrariar sua personalidade de homem sem meias palavras. Bate forte: “Sou um sujeito de muitas mulheres e poucos amores”. Nessa hora, seus olhos brilham. n


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ESPELHO

DA MEDICINA AO BUSINESS

O médico e vice-presidente da Dasa, EMERSON não havia planejado uma carreira de executivo. Pelo menos não em 2001, quando se formava em medicina pela Universidade Federal do Paraná. Naquele momento, ele só tinha certeza de que gostaria de seguir carreira acadêmica, fazer pesquisa e trabalhar com o que havia de mais inovador no mercado. Essa foi uma das razões pelas quais resolveu fazer residência em radiologia, “a tecnologia estava chegando, era a área que mais investia nisso”. Paralelamente, cursava mestrado e doutorado na Federal do Rio de Janeiro. No começo, conseguiu dividir seu tempo entre as salas de aula e as pesquisas em uma empresa privada que viria a ser adquirida pela Dasa. “Foi uma ótima experiência, já que no Brasil é impossível fazer pesquisa e viver [...]. Foi superbem, publicava muito, tinha muitos alunos de mestrado e doutorado, mas, depois de alguns anos, passei a chegar em casa às 17 horas. Eu dava conta com folga e me sentia estagnado”, relembra. Desafio é a palavra-chave para Gasparetto. “Não gosto de marasmo. Gosto de trabalhar com dor no estômago”, confessa. Por essa razão é que não hesitou em trabalhar em São Paulo com o objetivo de implantar soluções que já existiam na filial carioca. “Imagine um médico, cientista, chegar onde só havia executivos? Na época, não estava seguro dessa transição, mas, depois de uns cinco anos, eu finalmente consegui tirar o jaleco [...]. E, em empresas de saúde, se você tem conhecimento técnico, é possível aprender gestão”, conta ele, que atualmente incorporou 100% a persona empresarial. Exceção feita apenas para as meias coloridas que gosta de usar para contrastar com o restante do look “sério demais”. Sob o guarda-chuva de negócios Dasa estão importantes laboratórios, como Delboni, Alta e Lavoisier. Ao entrar para esse time, Gasparetto assumia a direção da área médica de radiologia, em 13 estados brasileiros e no Distrito Federal. Hoje, como vice-presidente, comanda milhares de funcionários e uma concorrência de alto nível. “A saúde está em crise, os EUA gastaram 18% do PIB, o Brasil com dificuldade de fechar a conta e as pessoas vivendo mais; o que significa que tomam mais remédios, fazem mais exames. É um custo. Mas a transformação digital é, sem dúvida, o nosso maior desafio.” Ou seja, o que não vai faltar para Gasparetto é frio na barriga.

GASPARETTO,

por aline vessoni foto beatriz chicca 34 PODER JOYCE PASCOWITCH


PODER INDICA

SEU SONHO É UM BOM NEGÓCIO Dados da Associação Nacional dos Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês) mostram que a Flórida continua sendo o local preferido dos brasileiros na hora de adquirir uma propriedade nos Estados Unidos. Entre agosto de 2016 e julho de 2017, a venda para cidadãos do país correspondeu a mais de 6% do total de 61.300 unidades negociadas no Sunshine State. E o que tem levado tantos brasileiros a investir na região? Segundo a consultora Fabrícia Carvalho, referência no mercado, por se tratar de um investimento seguro, com excelente liquidez e retorno – em dólar – garantido. “Nossos clientes estão 100% satisfeitos. Costumo dizer que o sonho de ter uma casa no exterior é um ótimo negócio e uma boa forma de diversificar a carteira de investimentos”, explica a consultora, que destaca o financiamento de fácil aprovação para brasileiros, com juros simples, e a alta taxa de ocupação dos imóveis – Orlando recebe mais de 70 milhões de turistas por ano – como principais atrativos. Resumo: o próprio imóvel se paga. Fabrícia Carvalho discorre sobre o tema com conhecimento. Sua em-

presa de consultoria está entre os principais players do segmento no Brasil e oferece completa assistência para quem deseja comprar um imóvel no exterior, desde a busca pela oferta ideal, passando por todas as etapas burocráticas até o cuidado com a decoração – uma parceria firmada com a arquiteta e designer de interiores Joia Bergamo dá o toque de elegância ao serviço. “Cuidamos de tudo, até mesmo da manutenção da residência para os investidores que optam em alugar o imóvel nos períodos ociosos”, ressalta Fabrícia. De acordo com as leis americanas, o programa de vistos EB-5 é uma das

maneiras de obter o Green Card e garantir residência permanente nos Estados Unidos por meio de um investimento. Quem aplica US$ 500 mil em determinados imóveis, gera emprego ou investe no país é candidato a esse tipo de visto, válido para cônjuge e filhos de até 21 anos. “E para fins de lazer não é preciso visto permanente para ter sua casa na Flórida. Basta definir quanto deseja investir e escolher o local. A entrada corresponde a 30% do valor do imóvel, com juros de 4% a 6% ao ano, e o prazo para pagar é de 30 anos.” No mais, Fabrícia Carvalho resolve tudo para o cliente.


BOLSA-EMPREGO

ATACADÃO DO

TRABALHO Empresa que emprega 1% da mão de obra dos EUA e que controla seus funcionários com algoritmos, o Walmart criou um novo modelo de produção. É o que acadêmicos da Universidade Columbia chamam de walmartismo POR CHICO FELITTI

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urante seis anos, a brasileira Jéssica Espinosa acordava às quatro da manhã, pegava um ônibus que a deixava a 12 quilômetros de sua casa, em Nova Jersey, e, às 6h, começava a trabalhar num supermercado Walmart que ocupa um quarteirão inteiro da cidade americana. Essa foi a rotina da brasileira quando deu expediente como caixa e atendente da empresa. Ela não ganhou um centavo de aumento nesse período. Aquela dura realidade de Jéssica é uma regra nos EUA: o Walmart emprega 1,5 milhão de pessoas em mais de 4 mil lojas em solo americano. A cifra corresponde a 1% da mão de obra civil do país, de acordo com a maior análise já feita desse gigante, que virou um livro best-seller, publicado este ano. Working for Respect, ou “Trabalhando por Respeito”, foi escrito por Adam Reich e Peter Bearman, professores de sociologia da Universidade Columbia, em Nova York. A pesquisa tomou quatro anos da vida da dupla. E seguiu um novo caminho quando eles já tinham um manuscrito pronto, em 2016. “A gente estava pesquisando havia dois anos. Tínhamos dados e números, mas nos demos conta de que precisávamos de mais experiência dentro das lojas. Mais histórias humanas”, contou Reich a PODER.


Foi aí que os professores recorreram aos seus alunos. Logo antes das férias de verão, eles reuniram duas dúzias de graduandos em um auditório da faculdade, que já serviu como set de seriados como Gossip Girl. Mas a aula que propuseram não seria ali, e sim um trabalho de campo. Os estudantes foram contratados para viajar por todos o país por por nove semanas. Os jovens abastados conviveram nesse período com os ativistas da Organization United for Respect at Walmart (OUR Walmart). A OUR, cuja sigla significa em português “nosso”, é

o que se pode chamar de entidade mais próxima de um sindicato de funcionários do Walmart. Muitas empresas americanas inibem a organização de seus colaboradores. Em 2000, os funcionários de uma rede de açougues decidiram, por voto, se unir ao sindicato de trabalhadores do ramo alimentício (United Food and Commercial Workers Union). Duas semanas depois, a rede anunciou que fecharia suas 180 lojas para apenas vender carne empacotada. Em 2004, uma loja inteira foi desativada, após seus funcionários decidirem se sindicalizar.

No Walmart, como mostrou uma reportagem da Bloomberg Businessweek de 2012, há uma central telefônica para gerentes reportarem à matriz possíveis greves, além de manuais para impedir a realização de piquetes. A empresa teme, acredita o professor, que seus funcionários consigam um aumento de salário que teria de mexer nos preços baixos oferecidos ao consumidor (lema e estratégia da empresa) ou nos lucros altos entregues aos acionistas. O salário de um caixa vai de US$ 7,25 (o mínimo nacional) a US$ 15 por hora, sempre beirando o mínimo exigido pelas

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Manifestações contra o Walmart nos Estados Unidos, empresa que emprega 1% de toda a força de trabalho civil daquele país

leis trabalhistas – há 29 estados no país com salários mínimos maiores do que o federal. Os alunos que conduziram a pesquisa ganhavam mais pelo trabalho do que os próprios trabalhadores do mercado. Além dos baixos salários, outra dificuldade para o funcionário é a imprevisibilidade do expediente. O colaborador não decide quantas horas vai trabalhar por dia, ele recebe seu cronograma da empresa. Jéssica explica essa história: “É um trabalho picado. Você não sabe o quanto vai trabalhar numa semana, não sabe quanto vai ter na conta do fim do mês. Não tinha

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controle nenhum sobre as minhas finanças ou minha vida profissional”. Esse foi um dos motivos que levou Jéssica, que pediu para ter seu sobrenome alterado nesta reportagem, a pedir demissão da empresa em dezembro passado. “Os trabalhadores do Walmart falam mais de uma busca por respeito do que exatamente por melhorias financeiras”, afirma o pesquisador.

ESTRELATO FUGAZ

Um funcionário entrevistado pelos estudantes no trabalho foi Anthony Thompson. Estrela do Walmart, Thompson apareceu em

um comercial em que funcionários davam depoimentos reais sobre como era trabalhar na firma. Thompson apareceu no vídeo estudando macroeconomia na mesa da cozinha, enquanto dizia: “E eu recebo apoio financeiro para me formar!”. Ele tinha 19 anos quando gravou o depoimento e estava animado com o emprego. Depois, se mostrou arrependido. “Assim que conseguiram o que queriam de mim, foi como se tivessem me largado”, contou aos pesquisadores. Em 2017, três anos após aparecer na TV defendendo a empresa, disse aos pesquisadores que sua vida


“No Walmart, você vai encontrar pessoas com menor poder de escolha na hora de encontrar emprego” ADAM REICH

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no Walmart era como um relacionamento abusivo. “Você não está feliz, mas não sabe como sair.” A bolsa de estudos para ele se formar nunca veio, nem a promoção para gerente, e seu plano de saúde minguou. Essas promessas de ascensão são um grande atrativo no recrutamento de mão de obra, já que os funcionários vêm de setores mais fragilizados da força de trabalho. “No Walmart você vai encontrar pessoas muito jovens, cidadãos de idade e trabalhadores que acabaram de sair do sistema prisional. São as pessoas com menor poder de escolha na hora de encontrar emprego”, diz Reich, um dos autores do livro. E por isso, ele completa, são facilmente substituíveis.

O livro dos professores de Columbia sobre o Walmart

Depois do fordismo, que popularizou a linha de produção com uma função única por trabalhador, e do toyotismo, que trouxe de volta um dinamismo de função que facilitava a substituição de funcionários, os professores de Columbia encontraram um novo modelo: o walmartismo. O walmartismo, o livro explica,

MERCADO FECHADO

Quando o maior grupo de varejo do mundo anunciou que entraria no mercado brasileiro, ainda na década de 1990, muitos empresários perderam o sono. Imaginavam uma concorência predatória do Walmart, impulsionado pelo gigantismo da operação global. Mas não foi bem assim. Depois de anos de expansão baseada em aquisição de concorrentes, o Walmart chegou a ter mais de 400 unidades. E estacionou aí. Analistas apontam que o Walmart falhou ao não seguir dois movimentos do setor: adotar as lojas de “atacarejo”, em que produtos são vendidos em grandes quantidades por preços menores; e estar presente nos bairros com lojas menores. Em 2018, pressionado por maus desempenhos seguidos no país, o Walmart decidiu passar nos cobres a operação brasileira. O novo controlador, com 80% de participação, é o fundo de private equity Advent International. “O walmartismo parece feito sob medida para a economia política dos EUA, que é baseada em leis trabalhistas desdentadas e onde não há um sistema de seguridade social. Talvez por isso não tenha sido bem-sucedida no Brasil”, analisa Reich. Mas é cedo para a concorrência estourar rojões. O grupo ocupa o terceiro lugar entre as maiores redes de varejo em terras brasileiras – no ano passado, faturou R$ 28,2 bilhões.

mistura um controle imediato dos funcionários com outro mais distante e difuso. A definição, nas palavras dos autores, é um modelo que combina a “autoridade presente dos gerentes” e um “sistema de observação e avaliação de resultados” que utiliza imagens das câmeras das lojas, scanners [de vendas dos produtos] e informações fornecidas pelo cliente. As informações são analisadas pela matriz na cidade de Bentonville, no Arkansas. É lá que decisões essenciais são tomadas, como gerenciamento de estoque e o número de horas de trabalho de cada loja. A partir daí entram em cena os gerentes locais, que repassam as informações para seus subordinados após análise com algoritmos. Até a temperatura do ar-condicionado das lojas é determinada por Bentonville. O modelo de gestão parece estar funcionando. O Walmart tem uma receita anual na casa dos US$ 500 bilhões e a 26a. posição no ranking Forbes de marcas mais valiosas do mundo de 2018. E, por mais que tenha passado por turbulências nos últimos anos (como no Brasil, veja no box ao lado), a valorização das ações da empresa segue bastante razoável. O site Yahoo Finanças fez uma simulação: o investidor que tivesse comprado US$ 1 mil em ações do Walmart em 1980 teria perto de US$ 2 milhões em julho de 2018. Quando a conversa com os autores da teoria do walmartismo está chegando ao fim, a reportagem aponta uma ironia: no site do Walmart, o livro sai por US$ 26,01, enquanto todos os concorrentes consultados vendiam pelo preço de tabela, US$ 29,99. Os autores então fizeram um contra-ataque: “Quem se filiar à OUR Walmart ganha 40% de desconto e só paga U$ 18 pelo livro. Vamos ver se assim a gente vence eles”, ri o sociólogo.. n PODER JOYCE PASCOWITCH 39


ESPELHO

TIPO EXPORTAÇÃO Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão, Collor, Collor II, Real. ESTHER e MURILLO SCHATTAN poderiam contar a trajetória da Ornare por meio de planos econômicos. Com mais de três décadas de história, a empresa deles de móveis sob medida tornou-se líder no mercado de alto padrão engavetando crises. Não à toa, ao surgir a possibilidade de internacionalização da marca, o casal não hesitou. Atualmente a Ornare investe em um plano de expansão com a abertura da sua quarta loja nos Estados Unidos, na famosa Beverly Boulevard, em Los Angeles. A unidade, que abre as portas este mês, soma-se às de Miami, no Design District, de Nova York, no A&D Building, e à de Dallas, no Texas – Houston também receberá uma filial em breve. “O plano é ter uma boa distribuição, com presença nas costas leste e oeste dos EUA”, conta Murillo, que há 12 anos levou a Ornare para solo americano e hoje vê a operação internacional representar 20% do faturamento. Além de conquistar o exigente público local, firmandose como um dos principais players high-end do mercado, a Ornare estabeleceu nesse período significativas parcerias com empresários do ramo imobiliário. Móveis, armários e

cozinhas da marca podem ser encontrados em alguns dos mais luxuosos empreendimentos do país, como o condomínio butique Fendi Château, em Miami Beach. Responsável pela área de relacionamento, Esther lembra que o início não foi nada fácil. Não bastasse terem superado as crises no Brasil, a marca desembarcou nos Estados Unidos diante da tempestade das hipotecas subprime, a bolha de crédito que colocou em colapso a economia mundial. “Foram dois anos difíceis, apenas investindo, mas pouco a pouco entramos no mercado e passamos a distribuir para outros estados como Califórnia e Texas.” Dividindo atualmente a direção com os filhos Pitter e Stefan, a família agora aspira novos horizontes. “Nosso foco está nas Américas. Na do Sul fechamos contrato em Buenos Aires, na Argentina, e em breve deveremos ter uma loja em Puerto Madero. Temos ainda prospects no Peru, Chile, Colômbia e Bolívia. E no Norte, enxergamos também um bom potencial de vendas no México e no Canadá”, indica Murillo. E Portugal? “É uma oportunidade e estamos de olho. Mas a busca agora está em Los Angeles. Queremos pegar os artistas de Hollywood”, brinca Esther.

por dado abreu foto bruna guerra 40 PODER JOYCE PASCOWITCH


PODER INDICA

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CHECK LIST

Alimentação saudável, atividades físicas e todos os temas que envolvem hábitos para uma vida com mais saúde e bem-estar nunca estiveram tão em alta. Para alcançar esses objetivos um acompanhamento médico constante também se faz necessário. E desmistificando essa história de que é preciso procurar auxílio apenas quando os problemas aparecem é que a CENEGENICS chega ao Brasil. A clínica de medicina integrada, recém-inaugurada em São Paulo, está aberta a todas as pessoas que buscam mais qualidade de vida ou que estão prontas para fazer uma mudança benéfica a longo prazo. A Cenegenics desenvolve um plano de saúde específico para cada caso, chamado de ELITE HEALTH, que engloba consultas de medicina preventiva, de tratamento e acompanhamento, visando a longevidade e a vitalidade. Nesse processo, um médico gerencia

cada programa e ainda é possível contar com a ajuda de um coordenador pessoal e de um nutricionista e fisiologista do esporte – tudo em forma de assinatura mensal e com um só propósito: envelhecer com saúde. +CENEGENICSBRAZIL.COM | @CENEGENICSBR | TEL. (11) 2157-7283/6958 | AV. REPÚBLICA DO LÍBANO, 460 – SÃO PAULO


ENSAIO

ur s h t Ar reiro auzio ve e d rce Dr vi a i ç pe os ca o de bard rar em m d livr om pa o r L u o eat mo da n rigo e: sem t no V co sea Rod sab z ta a T l ba eto que r a as c e n loba qui ito ah m e n r e E ille ie g irr co j ndo í c i o e i r a M sér la, o úni egu m a u rl f e r r da rel do m s f o t o s e z u e Va vida or u o n i s s o a a m p vess no pe ne a l i n e j u l i a g r po ylin t s


Casaco, blusa e calรงa Salvatore Ferragamo, sapato Christian Louboutin, relรณgio Hublot para Frattina


izem que a primeira impressão é a que fica, mas no caso do ator Rodrigo Lombardi é a segunda. Pois a primeira, a simpatia que seu sorriso escancara, é, digamos, hors concours. A segunda impressão, a que realmente fica, é a inquietude. Alguns minutos de conversa e o veredito se confirma: “Não consigo parar. Se eu fico parado em casa, minha mulher diz que eu me torno insuportável”, brinca. Algo dessa inquietude é evidenciada na trajetória profissional desse ator de 41 anos, vivida em ritmo frenético. Neste ano, por exemplo, Lombardi já protagonizou série, novela e peça de teatro. No dia seguinte ao término das gravações de Carcereiros, série da TV Globo baseada no livro do médico e escritor Drauzio Varella, ele estava em São Paulo para começar a ensaiar a peça Um Panorama Visto da Ponte, do dramaturgo americano Arthur Miller, que está em cartaz no Teatro Raul Cortez. Em cena, Lombardi dá vida ao personagem Eddie Carbone, um estivador do porto do Brooklyn nova-iorquino que, com a morte da irmã, fica incumbido de criar a sobrinha. A vida

sofrida de quem trabalha nas docas logo transparece na body language do ator. As dificuldades, que se avolumam ao longo do espetáculo, vão encurvando-o e empapando-o de suor. A potência do personagem no palco é compatível com o da televisão, o de Adriano, de Carcereiros. “É [um papel] difícil, porque se trata de um universo com uma energia que não queremos, mas somos obrigados a mergulhar nela.” O trabalho foi exaustivo, muito diferente das novelas: 12 horas diárias de gravação durante dez semanas. Tudo isso sem pausas, sem descanso entre uma cena e outra. “Eu estava em todas as cenas e isso pesa psicologicamente, mas também no físico.” Mas o ano está acabando, a temporada no teatro também e ele sonha em dar uma desacelerada com a família e seu filho, Rafael, de 10 anos. Mas o perfil irrequieto de Lombardi indica outra situação, mesmo durante as férias. “No fim do ano, viajo com a família para os Estados Unidos, mas não tem essa de só viajar. Rafa e eu vamos estudar inglês e praticar esporte. Acho que toda pessoa deve ter um processo evolutivo constante. O ator tem também de estudar coisas do mundo que não tenham nada a ver com sua profissão.” n


Casaco, blusa e calรงa Salvatore Ferragamo



Camisa Alexandre Won, calça Ermenegildo Zegna, gravata Hugo Boss, relógio Hublot para Frattina Beleza: Marcos Padilha Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistente de styling: Guilherme Klein Produção de moda: Renata Bonvino Assistentes de fotografia: Daniel Omaki e Debora Freitas Agradecimento: Teatro Raul Cortez


GESTÃO

DOUTORA

DE HOSPITAL Primeira CEO mulher do setor hospitalar brasileiro, a engenheira Denise Santos tenta fazer da Beneficência Portuguesa, agora BP, marca de referência. Ter tirado a operação da UTI sem demissões foi seu cartão de visitas

POR PAULO VIEIRA

U

FOTOS JOÃO LEOCI

ma franquia do Starbucks é tudo o que não se espera encontrar na entrada da Beneficência Portuguesa, o mastodôntico hospital de São Paulo com mais de mil leitos que este ano completa 159 anos. Mas o café está ali desde 2015, marcando visualmente a profunda mudança que ocorre na veneranda instituição. Ela passa, para usar o jargão administrativo, por um ‘‘reposicionamento”. A ideia é que a BP, seu novo nome, deixe de ser vista como uma espécie de Santa Casa – um desses lugares que todos concordamos que deve existir, mas de que preferimos passar longe – e mais como um Einstein. Trata-se de um “polo de saúde”, como se diz por lá, com marcas diversas para especialidades e públicos diversos, inclusive para o povo “premium”. Para tocar a transformação contratou-se, no começo da década, uma gestão profissionalizada, egressa do mercado, cuja primeira missão, na verdade, foi bem mais pé no chão: fazer a BP, que segue sendo uma entidade filantrópica, sair do vermelho. O azul veio com a chegada de Denise Santos, convidada por Rubens Ermírio de Moraes, sucessor do pai, o empresário Antônio Ermírio, na presidência da BP, a assumir o cargo de CEO em 2013. A executiva havia se tornado a primeira mulher CEO do setor hospitalar do Brasil na São Luiz, onde ficou de 2008 a 2011, quando a empresa foi comprada pela Rede D’Or. A engenheira formada pela FEI, uma palmeirense de 50 anos recém-completados, mãe de um garoto de 7 anos e que forjou sua carreira executiva dentro da Siemens, chegou à entidade, portanto, com a tarefa de reverter o resultado negativo que demandava aportes privados dos benfeitores e, ao mesmo tempo, de implantar os processos de gestão com vistas a modernizar e reposi-

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cionar a BP. Trocar não um pneu, mas talvez os quatro com o carro andando. Sem lançar mão de downsizings, segundo ela, de cara comandou a revisão de todos os contratos, fossem eles com clientes (operadores de convênios e agentes públicos), fossem com fornecedores. Além disso, fez o basicão ao unificar RHs e TIs e evitar que a área de suprimentos de cada unidade seguisse atuando isoladamente e gastando além do razoável, sem os descontos que um único grande comprador conseguiria. Com tudo isso, a entrega veio: o Ebtida deixou de piorar em 2014, tornou-se positivo em 2015, dobrou no ano seguinte e cresceu 50% de 2016 para 2017. Administrar um hospital não é tarefa das mais simples. “Mexo com vidas o tempo inteiro, a qualidade de atendimento ao público é mandatória. Além disso, quase todas as profissões trabalham na BP, é um mini Brasil. Digo que aqui 4% do país lidera os outros 96%. Todas as questões sociais estão no ambiente hospitalar”, falou a PODER. Hospital é também negócio de capital intensivo – o custo de manutenção, em 2017, ficou em R$ 100 miA sede da nova BP, a velha Beneficência, em São Paulo

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lhões –, e isso significa ter um planejamento azeitadíssimo para que as coisas não falhem nem por um minuto. O superávit é reaplicado lá dentro, mas é preciso mais combustível que o lucro de R$ 3 milhões de 2017 para sequer arranhar os objetivos propostos. Pois não basta deixar a BP atraente para públicos com muita ou nenhuma grana. É preciso fazê-la existir por “mais 160 anos pelo menos”, como disse Denise a PODER. Para isso, a saída é torná-la capaz de dropar na onda tecnológica que impacta a área de saúde. Muito dinheiro vem sendo aplicado na BP. Só em 2017 foram R$ 114 milhões, fração dos R$ 750 milhões previstos para os próximos dez anos. Grande parte disso em infraestrutura, como na construção de salas para endoscopia ou no reaparelhamento da pediatria; outro tanto vai para tecnologia. Uma das estrelas do Mirante, a marca “premium” da casa, é o robô Da Vinci Xi, que realiza cirurgias minimamente invasivas. Com os custos de instalação, bateu nos R$ 15 milhões. O robô pode ser a imagem fofa dos likes, mas a verdadeira ideia de um hospital de ponta tem muito menos


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“O paciente conta toda sua vida no Facebook, mas não revela suas informações de saúde para o convênio” glamour, e passa pela digitalização de todos os prontuários e prescrições médicas, um trabalho de Hércules que foi feito nos últimos três anos e que inclui a instalação de notebooks em carrinhos e o uso de softwares para evitar, por exemplo, que pacientes sofram reações alérgicas por tomar remédios inadequados. Mas saúde, de qualquer forma, é uma das áreas mais impactadas pela tecnologia, e tomar essas providências, jogar a massa de dados gerada na nuvem e ter um sistema robusto para evitar ciber ataques já não basta. Denise acha que, se a tecnologia é abundante hoje em dia, há por outro lado um déficit de gestão na área de saúde, notadamente na gestão pública, o que impede que a ficha médica de um paciente possa ser consultada por instituições e profissionais diversos, o que implicaria menos retrabalho e, principalmente, menos exames. Mas ressalva que a questão é cultural e passa por uma mudança de hábitos do consumidor. “O paciente conta toda sua vida e mais um pouco no Facebook, mas não revela suas informações de saúde ao convênio.”

Tecnologia, contudo, nem sempre é sinônimo de inovação, mas na BP há também inovação envolvida. Um dos projetos mais instigantes foi aplicado com o próprio público interno de 7.500 funcionários do hospital antes de ser oferecido à população via operadores de saúde. Trata-se de acompanhar o paciente antes de sua chegada à BP e também depois da partida. Na primeira parte, um médico de família já promove uma senhora triagem, evitando, na imagem de Denise, “que uma dor de cabeça entupa o pronto-socorro”. Ao fim faz-se controle do uso da medicação. Há ainda ênfase em prevenção. Entre seus colaboradores, segundo ela, caiu em 20% a taxa de sinistralidade – quando o sujeito dá um perdido no trabalho por razões médicas. A consequência natural disso seria o esvaziamento dos hospitais, o que seria bastante temerário para quem administra um. Ainda que na BP ela não tenha de gerar dividendo para investidores, Denise rejeita o paradoxo: “Se estivesse em qualquer outro hospital privado e não aqui, pensaria do mesmo jeito”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 51



RESPIRO

RAMBO ETERNO RAMBO

FOTO TRISTAR/GETTY IMAGES

A duríssima política externa dos Estados Unidos que ficou conhecida como Big Stick (Grande Porrete) é do começo do século 20, mas ela talvez só tenha encontrado sua melhor representação cinematográfica, anacronicamente, nos anos 1980. Foi quando Sylvester Stallone incorporou o personagem John Rambo, um veterano do Vietnã que traz latente em si a violência da mais amarga guerra em que os americanos colocaram os pés. Qualquer fagulha pode trazer à tona o Vietnã incubado nele, e isso acontece com frequência nos quatro longas da franquia. Ronald Reagan, que governou os Estados Unidos por praticamente toda aquela década, chegou a dizer numa coletiva de imprensa durante a crise dos reféns do Líbano, quando o Hezbollah fez sequestros e assassinatos em série de americanos e europeus, que, “após ver Rambo II: a Missão, já sei o que fazer”.


MOTOR

ELETRIFICADOS Ir de carro para o trabalho pode ser entediante. Seja pelas horas desperdiçadas em congestionamentos, seja pelo incômodo de poluir. Existem outras alternativas, é claro. Veículos elétricos são ótimas opções para fugir do trânsito, aproveitar belos dias de sol e sentir-se parte da cidade. Acabou o martírio na busca de lugar para estacionar

QIEWA Q1HUMMER

O look futurístico talvez não entregue a sua verdadeira potência. A bateria de lítio dá excelente performance, podendo percorrer até 96 quilômetros a uma velocidade de 55 km/h. O desempenho invejável faz dela uma das mais velozes da categoria. Por causa da agilidade e rapidez que pode performar, o modelo conta também com amortecedor duplo e é capaz de enfrentar terrenos mais acidentados. A PARTIR DE US$ 1.389

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POR ALINE VESSONI


AIRWHEEL A3

A estrutura de liga de alumínio e magnésio é polida e à prova de arranhões, podendo carregar até 120 quilos. O design ergonômico proporciona deslocamentos confortáveis e com excelente visibilidade. A bateria Sony consegue deslocar o A3 a uma velocidade média de 12,8 km/h. Mesmo em descidas, ele não se torna mais veloz, pois é o momento em que a bateria se recarrega. A distância que ele pode alcançar vai depender de inúmeros fatores, entre eles o peso do condutor e o tanto de subidas e descidas percorridas. A PARTIR DE US$ 1.499 AIRWHEELUNICYCLE.COM

GENZE 2.0

Com uma bateria removível que pode ser carregada em qualquer lugar, um bagageiro espaçoso e velocidade máxima de 48 km/h, essa scooter pode ser uma das melhores soluções em mobilidade para o dia a dia. O painel moderno somado a guidões baixos formam um look esportivo. Dentre os recursos tecnológicos está a capacidade de rastrear e desativar sua GenZe remotamente, protegendo-a contra eventuais roubos. A estrutura minimalista de alumínio é mais leve e tem melhor performance e durabilidade que o aço. A PARTIR DE US$ 3.699 GENZE.COM

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SCROOSER PURE

Feita de aço e disponível em quatro diferentes cores, esta Scrooser mais parece a Harley-Davidson das mobiletes. De fabricação alemã, ela precisa de uma autorização especial para enfrentar rodovias; é possível escolher o modelo que alcança velocidade máxima de 20 ou de 25 km/h. A bateria de lítio precisa de duas horas e meia para carregar a fim de percorrer um trajeto de até 54,7 quilômetros. Para tornar mais eficiente o processo de frenagem, a dianteira possui freio a disco hidráulico, enquanto a parte traseira ficou com os freios a disco mecânicos. A PARTIR DE US$ 5.999 SCROOSER.COM

V10F INMOTION

Este veículo elétrico sobre uma roda é tão inovador como seu precedente, o V10, mas aparece no mercado com uma autonomia ainda maior. Ou seja, é possível se deslocar por (impressionantes!) 100 quilômetros sem se preocupar com a bateria. Leve, com apenas 21 quilos, o V10F suporta até seis vezes o seu peso. A velocidade máxima é de 40 km/h. Com pneus de alta qualidade e aderência, torna possível o deslocamento em diversos terrenos. O farol dianteiro e o traseiro tornam mais seguro o deslocamento noturno.

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A PARTIR DE US$ 2.340 EMOVE.MOBI

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SEGWAY DRIFT W1

Eles são leves, portáteis e únicos. Foram desenhados para proporcionar conforto e diversão, mas também podem ser utilizados como uma nova forma de se locomover. Cada um dos e-skates pesa 3,5 quilos, o que torna fácil a tarefa de levá-los antes de começar a patinar efetivamente. Com um cabo conector é possível carregar os dois ao mesmo tempo. Com carga completa o passeio chega a durar até 45 minutos dependendo do terreno percorrido e pode alcançar até 12 km/h. A PARTIR DE US$ 369 SEGWAY.COM

M365 XIAOMI

Com um design simples, mas funcional, o M365 proporciona uma condução confortável e divertida. Usado como meio de mobilidade ecossustentável, possui guidão longo e pneus com aderência que absorvem os solavancos. Basta dar a partida com o pé – como se faz com patinetes mecânicos – e com o equilíbrio alcançado aciona-se o acelerador para fazer o motor funcionar. A velocidade máxima em modo normal é de 25 km/h, que pode ser diminuído para 18 km/h quando acionado o modo econômico. Tem autonomia de 30 km por carga, que leva cerca de cinco horas e meia para ser carregada. A PARTIR DE US$ 1 MIL MI.COM

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CANTO DE PODER POR ALINE VESSONI FOTOS BEATRIZ CHICCA 1

NA DIANTEIRA

O edifício de tijolo à vista tem quatro alas de salas e escritórios, em formato quadrangular, arrematado por um belo jardim central. Para chegar à diretoria da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo é preciso atravessar um corredor com as fotos de todos os diretores que passaram pela direção da faculdade. O cargo hoje é ocupado pela professora Liedi Bernucci – primeira mulher em 124 anos a desempenhar tal função. Trata-se de uma pessoa sem medo de romper paradigmas: quando ela escolheu estudar na Poli, apenas 4% dos estudantes eram mulheres. Esse percentual hoje quintuplicou, mas continua pequeno. “Eu não imagina-

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1. Mesa de trabalho da nova diretora da Poli, Liedi Bernucci; 2. Reproduções de quadros famosos de Gustav Klimt, Henri Rousseau e Pablo Picasso para serem pendurados; 3. Um Gustav Klimt que já encontrou seu espaço no ambiente; 4. Artesanato; 5. Vista para o jardim em que se destaca uma primavera; 6. e 7. Lembranças de ex-alunos

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va o quanto uma mulher na direção poderia significar para as engenheiras e professoras, para as mulheres em geral. Assim, eu entendo que tenho um novo desafio, o de deixar um bom exemplo. É uma tarefa que eu não acho pesada, mas de muita responsabilidade”, diz a professora. Comandar a Poli não afastou Liedi das salas de aula, um lugar que ela diz sempre fazer questão de estar. E para dividir seu tempo entre o ensino e a administração, ela contabiliza entre 50 e 60 horas de trabalho semanalmente. Sim, sempre tem um artigo ou outro que precisa ser corrigido em casa. Das 7h30 às 10h, a professora se dedica a seus alunos, dali em diante à diretoria. Sua sala é simples, com boa divisão de espaço entre uma mesa de reuniões, uma escrivaninha em que fica o computador, um armário com livros e um sofá pequeno usado pela professora para leituras mais longas. As paredes são revestidas de madeira escura e decoradas com quadros, alguns deles de temática religiosa. Embora não frequente templos, a 6

professora gosta de iniciar seu dia de trabalho com uma oração. “Acho muito importante ter fé e acreditar que as coisas vão dar certo. Gosto de olhar pelo ângulo positivo e valorizar as coisas boas. O meu dia começa com uma oração, em que eu sempre peço para ser justa com as pessoas.” Além da fé e da pitada de otimismo, o que não pode faltar em seu ambiente de trabalho são flores. Um vaso aqui, outro ali, e uma vista incrível para o jardim – em que uma primavera rosa carregada é a grande estrela. Os pouquíssimos registros fotográficos emoldurados foram todos presentes de alunos. A explicação é um dos “bons exemplos” que Liedi teve em sua vida, seu orientador. “Ele era suíço e adorava estudar [Carl Gustav] Jung e o comportamento humano. E todas as vezes em que se deparava com uma tese em que o autor colocava uma foto de si na contracapa, ele achava estranho do ponto de vista psicológico. Para ele, isso significava que o autor gostava mais de si próprio, e, para ser um bom engenheiro, era preciso gostar do mundo”, diverte-se ela. n 7

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VIAGEM

CASA DE AREIA

Contemplar e caminhar. Assim são os dias no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, situado a 260 km da capital São Luís. Margeada pelos municípios de Barreirinhas, Primeira Cruz e Santo Amaro do Maranhão, a reserva escondida é tomada de dunas de areia branca, centenas de lagoas de água doce da chuva e um arrebol sem igual texto e fotos corinna sagesser

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Durante todo o ano é possível aproveitar os Lençóis Maranhenses e encontrar lagoas para se banhar. Mas, como elas se formam com o acúmulo da água da chuva, a falta delas pode esvaziar alguns charcos dependendo do período do ano. Os melhores meses vão de maio a outubro.

São 155 mil hectares de paisagens deslumbrantes, favorecidas por dunas de até 40 metros de altura e incontáveis lagoas doces, cujas águas represadas variam em ton sur ton entre o verde e azul. Um verdadeiro oásis tropical, resultado de um raro fenômeno formado ao longo de milhares de anos que assemelha-se a um grande deserto – não fosse o fato de chover por lá 300 vezes mais do que no Saara africano. A região também tem praia e já virou point de gringos que aportaram atraídos pelos ventos favoráveis para a prática de kitesurfe. Dica: contate a Mirotur Viagens para realizar os passeios – o simpático guia Thylan conhece cada duna e carrega sempre o sorriso no rosto.

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Restaurantes recebem os visitantes em Atins com pescados do dia e comida caseira da melhor qualidade. Sempre acompanhada por um bom prato de farinha de macaxeira, uma das delícias locais. Após o almoço, pausa para uma siesta na rede.

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

NO CLIMA DE SAN FRAN

Inspirado pelo clima despretensioso que marcou São Francisco nos anos 1960, o Bikini Island é o hotel da vez em Mallorca, na Espanha. A localização é especial: fica entre o mar, os olivais e as montanhas da Serra de Tramuntana, no vilarejo espanhol de Port de Sóller. Alguns features: o restaurante Neni aposta em receitas israelenses de família com toques contemporâneos; o bar Pikkini, na sangria de melancia que já virou favorita dos locais; mas é o spa Santaverde que rouba a cena, com todos os seus produtos feitos à base de aloe vera, planta cultivada em uma finca orgânica da Andaluzia há 30 anos. +BIKINI-HOTELS.COM

CENTRAL DE ALTITUDE

Provar as invenções gastronômicas de Virgilio Martínez, chef do premiadíssimo Central, de Lima, é uma experiência e tanto, mas fazê-lo em pleno Vale Sagrado, na região de Cusco, é o máximo. O Mil, seu restaurante aberto há poucos meses, fica ao lado das ruínas de Moray, a cerca de 45 minutos de Cusco. Ali, a ideia é degustar a cozinha ancestral dos Andes e explorar todas as possibilidades dos ingredientes daquela altitude – de 3.500 metros acima do nível do mar. Por isso, todos os alimentos são de produção própria ou originados na região – a água vem do degelo da neve andina e diversos tipos de grãos são cultivados por comunidades indígenas. +MILCENTRO.PE


FELICIDADE EM ESTADO BRUTO

Novidade imperdível para incluir no próximo roteiro pela Ásia: a rede Six Senses está prestes a inaugurar um projeto grandioso no Butão, país famoso por trocar o PIB pelo “FIB”, o índice que privilegia a felicidade interna bruta. São cinco lodges, todos focados na cultura de bem-estar que consagrou a marca – deixar os spas e voltar para casa é sempre um desafio. O maior deles, na capital, Thimphu, fica num vale entre pomares e pinheiros. Com vista para as plantações de arroz, o lodge de Punakha tem biblioteca, além de centros de ioga e meditação, e serve como ponto de partida para visitar a fortaleza Punakha Dzong. Em Gangtey, a atração é o birdwatching. A unidade de Bumthang está imersa na floresta, e a de Paro aproveita o cenário de antigas ruínas de pedra. +SIXSENSES.COM

STALKER

Só podia estar em Tóquio o novo teamLab Borderless. Situado na ilha artificial de Odaiba, trata-se de um museu totalmente high-tech – são 520 computadores e 470 projetores em um espaço de 10 mil metros quadrados – dedicado à arte digital. A ideia é que os visitantes participem das obras, daí as projeções em larga escala que acompanham seus passos. +BORDERLESS.TEAMLAB.ART

RAQUEL PIROLA,

DIRETORA DE MARKETING & INOVAÇÃO DA ÓTICAS CAROL

FOTOS DIVULGAÇÃO

LUXO À VISTA

Estão abertas as reservas para a primeira temporada de cruzeiros do RitzCarlton, que devem redefinir o conceito de luxo a bordo. Batizado de Yacht Collection, o projeto envolve três embarcações feitas sob medida – do design à programação – para seguir o padrão dos hotéis da rede. Com previsão de partida para 2020, o primeiro iate terá 140 suítes, todas com terraço, restaurante comandado pelo chef Michelin Sven Elverfeld, spa e diversas atividades customizadas. Os roteiros têm até dez noites e englobam paradas em cidades como Cartagena, Bordeaux, Mykonos e Portofino. +RITZCARLTONYACHTCOLLECTION.COM

“Embora eu tenha morado na Europa por 17 anos e visitado a Itália com frequência a trabalho, foi apenas depois de voltar ao Brasil que passei a visitá-la a turismo. E não me canso. A Itália é imbatível na arte de surpreender. No país, recomendo conhecer Cinque Terre. Como o próprio nome sugere, são cinco vilarejos, antigas e remotas localidades de pescadores que hoje formam um parque nacional. Casinhas coloridas, praias, bons restaurantes... cada vila tem algo único. Ficam suspensas num penhasco e têm acesso por trem ou barco. Opte pelo trem que parte de La Spezia com bilhete exclusivo Cinque Terre e prefira os meses de maio, junho ou setembro para curtir sem restrições.” PODER JOYCE PASCOWITCH 65


É DE PODER POR ANA ELISA MEYER

FRANÇOISE HARDY E JACQUES DUTRONC

Nomes icônicos do pop da França da década de 1960, Françoise Hardy e Jacques Dutronc formaram um dos casais mais emblemáticos da música daquele país. Sempre lembrada pelo sucesso “Tous les Garçons et les Filles”, Françoise, hoje com 74 anos, é dona de uma voz suave e de uma beleza marcante. Conheceu o “bad boy” Dutronc, um ano mais velho do que ela, em 1967. Reservados, oficializaram a união, em 1981, e tiveram um filho, Thomas Dutronc. Hoje moram separados, apesar de ainda legalmente casados.

BOTA Tommy Hilfiger preço sob consulta tommy.com

SAIA TIG R$ 690 tigstore.com.br

RELÓGIO IWC R$ 130 mil iwc.com

OMBRO AMIGO

Os homens aderiram de vez às mochilas, que estão cada vez mais versáteis e luxuosas. A Goyard acaba de apresentar o modelo Citadin de couro, com o Goyardine, a estampa icônica da marca. Pontos positivos: leveza, bolsos interno e externo, além de alças planas removíveis e ajustáveis, que prezam pelo conforto e podem ser usadas transversalmente ou com a proposta de pasta. Por R$ 12.500, na loja do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. GOYARD.COM

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PARA PROFISSIONAIS

A Rolex acaba de apresentar novos modelos da linha GMT-Master II, que são equipados com mecanismo totalmente novo, com dez patentes e o Certificado de Cronômetro Suíço, título dado aos relógios de alta precisão aprovados no Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres (Cosc). A nova série é mais resistente a choques e variações de temperatura. O must? A versão Rolesor Everose, feito de aço Oystersteel e ouro Everose 18 quilates, que traz o disco Cerachrom bicolor de cerâmica marrom – uma nova tonalidade no modelo – e a tradicional preta. Os marcadores de horas também são de ouro, feitos à mão, para evitar descoloração e garantir precisão. ROLEX.COM

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BOLSA Burberry R$ 6.690 burberry.com

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LUMINÁRIA Lumini R$ 528 lumini.com.br

ÓCULOS Ray-Ban para Luxottica R$ 530 luxottica.com

PULSEIRA Vivara R$ 15.990 vivara.com.br POLTRONA Breton preço sob consulta breton.com.br PODER JOYCE PASCOWITCH 67


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

A NOVA GERAÇÃO DE UTILITÁRIOS Você pode não acreditar, mas existem gadgets e robôs para quase tudo o que você precisa. Confira nossa seleção. Estes produtos certamente farão parte da sua vida

APPLE WATCH SERIES 4

Para cuidar da saúde, a nova geração do smartwatch recebeu melhorias no leitor de batimentos cardíacos. Ele é capaz de detectar o nível de oxigênio no sangue do usuário, junto de um novo recurso que realiza uma espécie de eletrocardiograma direto no pulso. A nova medição é feita com base em um sensor que detecta, em 30 segundos, os pulsos elétricos que são emitidos pelo coração e os dados são analisados pelo watchOS. Toda a informação coletada é enviada ao app Saúde. Outra novidade é que a tela é até 35% maior do que a da geração anterior. APPLE.COM.BR A PARTIR DE US$ 399

KOLIBREE ARA INTERACTIVE TOOTHBRUSH

A inteligência artificial já pode fazer parte da sua higiene pessoal. Além de ter vibrações suaves para evitar danos às suas gengivas, esta escova de dentes high-tech tem um app que analisa seus hábitos de escovação e monitora tudo – duração, frequência e até superfície escovada. KOLIBREE.COM PREÇO: R$ 527

WITHINGS BODY CARDIO

Para quem quer cuidar do coração – literalmente – este aparelho pode dar uma mãozinha. Ele é capaz de fornecer peso e IMC altamente precisos, além de gordura corporal e porcentagem de água, massa muscular e massa óssea. Para completar, claro, faz um check-up da sua saúde cardiovascular por meio de frequência cardíaca. Funciona em parceria com um app. Segundo a fabricante, quem define uma meta de peso no aplicativo costuma perder o dobro. Será? WITHINGS.COM PREÇO: R$ 3.490

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FOODMARBLE AIRE

BRUNO WAISMAN,

* PREÇOS PESQUISADOS EM SETEMBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO

diretor da Frattina

Existe tracker para quase tudo hoje em dia, inclusive este para monitorar o seu sistema digestivo. Essa é a proposta do Aire Personal DigestiveTracker, que, por meio de um teste de respiração, é capaz de dizer como anda a sua digestão e ainda sugerir o melhor alimento para você. O aparelho trabalha em parceria com um aplicativo. Primeiro, ele avalia como seu intestino responde aos carboidratos comuns, como frutose e lactose. Depois, sugere substituições de alimentos que você não tolera muito. Por fim, gerencia sua dieta acompanhando tudo o que você ingere, níveis de fermentação, estresse e sono. FOODMARBLE.COM PREÇO: R$ 510

“Meu iPhone está sempre comigo, seja para ouvir minhas playlists no Spotify, para fazer pagamentos com Apple Pay ou para desbloquear uma bike Yellow e pedalar pela cidade. Também uso muito a caixa de som Bose, a palito, que recomendo para todo mundo que gosta de música.”

GRILLBOT

Que tal um robô que limpa as grelhas depois do churrasco? Sim, ele existe e seu nome é Grillbot. Funciona assim: você coloca o aparelho sobre a grelha suja e aperta um simples botão. Pronto, ele faz a limpeza sozinho e deixa a churrasqueira pronta para outra rodada. Uma maravilha! GRILLBOTS.COM PREÇO: R$ 370

SAMSUNG SMARTTHINGS TRACKER

Equipado com GPS, este dispositivo pode facilitar a vida de muita gente. Sabe a chave do carro que você esqueceu onde deixou ou o seu cachorro que adora se esconder no quintal? Essa novidade pode ser acoplada a mochilas, coleiras, chaveiros ou qualquer outro objeto (inclusive o seu pet) que você queira saber onde foi parar. Além disso, a família pode usar o SmartThings Tracker para se manter conectada, enviando uma notificação de localização para o aplicativo que alerta o grupo sobre o paradeiro de cada um. SAMSUNG.COM/BR PREÇO: R$ 410

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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

F O T O S G I O VA N N A B A L Z A N O

A MUSA DA ESTAÇÃO Dez em cada dez adeptos da malhação têm na batata-doce a estrela de seu cardápio funcional. Ela tem alto valor energético, altíssimo, na verdade, ao se pensar a quantidade irrelevante de calorias que agrega à conta: 77 a cada porção de 100 gramas. “Verdadeiro reservatório de energia, a batata-doce fornece também boas quantidades de vitaminas A, C e do complexo B”, diz Mariana Poletto, nutricionista funcional e esportiva. “Ela ainda é fonte de fibras, antioxidantes, fósforo e cálcio”, completa. Para alegria geral, o hype do alimento saiu das academias e ganhou o menu dos melhores restaurantes. Diversas receitas agora incluem o ingrediente, e não só as da cozinha limenha, em que a batata-doce faz par fidelíssimo, tipo Cosme e Damião, com o ceviche. A bem da verdade, em muitas mesas a batata-doce já substitui a tradicional batata inglesa, que é de outra família. Por aqui, ela também ganha ares de sofisticação nas receitas a seguir. Para comer sem culpa!

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FOTO ISTOCKPHOTO.COM

Alimento preferido dos adeptos da vida fitness por seu grande poder energético, a batata-doce é cada vez mais a estrela da hora


DOCE DE BATATA-DOCE CREMOSO

ANA LUIZA TRAJANO, CHEF DO INSTITUTO BRASIL A GOSTO INGREDIENTES • 4 batatas-doces roxas descascadas • 200 g de açúcar cristal • 2 cravos-da-índia • 1 pedaço de canela em pau MODO DE PREPARO Cozinhe a batata em água; escorra (reserve o líquido) e amasse ainda quente. Faça uma calda com uma xícara da água do cozimento, açúcar, cravo e canela. Quando engrossar um pouco, junte a batata, misture e cozinhe em fogo baixo até ficar cremoso. Espere esfriar antes de servir.

FRALDINHA GRELHADA COM BATATA-DOCE FRITA E FAROFA DE ALHO

RAUL GODOY, CHEF DO RESTAURANTE BIO

FOTOS GIOVANNA BALZANO; MARCOS REIS/DIVULGAÇÃO

PARA FAZER A FAROFA DE ALHO: • 3 colheres de sopa de manteiga • 10 dentes de alho (5 laminados e 5 picados) • 1 xícara de chá de farinha de mandioca crua • Sal a gosto MODO DE PREPARO Derreta a manteiga em fogo baixo, refogue o alho laminado até dourar, junte o alho picado e refogue mais um pouco. Acrescente a farinha de mandioca e refogue até a farofa estar levemente dourada e crocante. Acerte o sal. PARA FAZER A BATATA-DOCE: • Batata-doce frita

• 4 batatas-doces médias • Óleo para fritar • Sal e páprica doce a gosto MODO DE PREPARO Enrole as batatas no papelalumínio e asse a 170 graus, até estarem bem macias. Deixe esfriar. Quebre as batatas em pedaços desiguais, frite em óleo até estarem douradas e crocantes. Escorra e salpique sal e páprica doce. PARA FAZER A FRALDINHA: • 1 kg de fraldinha • Sal grosso MODO DE PREPARO Limpe os excessos de gordura, corte a fraldinha em pedaços e tempere com sal grosso. Grelhe a carne na churrasqueira a carvão até o ponto desejado. Sirva a fraldinha grelhada no meio do prato, colocando a farofa de alho ao lado e as batatasdoces fritas em volta.

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

MENU INDIGESTO

Em seu segundo filme, Daniela Thomas retrata contradições de elite intelectual dos anos 1990, entre os sonhos da liberdade e a dominação patriarcal

S

exo, política e poder se entrelaçam na mesa de O Banquete, segundo longa de Daniela Thomas. “É um filme sobre a tragicomédia humana”, sentencia a diretora, que, depois de Vazante (2017), filme sobre patriarcado e opressão que se passa numa fazenda mineira do século 19, retrata agora dramas pessoais e tensões políticas num jantar da elite paulistana nos anos 1990. O filme se desenvolve em um único cenário: a sala de jantar de

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Nora, vivida pela atriz Drica Moraes. À mesa, um poderoso editor de uma revista comemora seu aniversário de casamento e vive a expectativa de ser preso naquela mesma noite, já que publicara uma cartadenúncia contra o então presidente do país. Em seu entorno, tipos irreverentes e desbocados. Com uma estrutura dramática entre o teatro e o cinema, O Banquete tem pouquíssimos cortes, com planos-sequência longos, sem intervalos ou correções. “Acho que

O Banquete é um híbrido das minhas vivências nos dois lugares, usando o que há de mais incrível na experiência do fazer teatral, que são os longos ensaios, o mastigar do texto, mas mantendo o tom naturalista da interpretação mais própria do cinema”, observa a diretora. À mesa estão personagens inspirados na literatura e em figuras que Daniela Thomas conheceu na sala de casa ainda criança, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Filha do cartunista Ziraldo, então editor de O Pasquim,


MÚSICA

FOTOS DIVULGAÇÃO

VIOLÃO ECLÉTICO

ela cresceu em meio à efervescência de uma geração transgressora. “Eles eram humanistas acima de tudo, odiavam a arbitrariedade, a truculência e a ignorância dos militares que comandavam o governo do país e desejavam a volta das liberdades democráticas”, lembra Daniela, que explora no filme as contradições desses personagens. “Queriam um país inclusivo, eram muito progressistas. Por outro lado, eram escancaradamente machistas, uma coisa impressionante. Não viam nenhuma contradição no convívio dessas posturas tão díspares.”

Os dois séculos que separam a trama de Vazante e de O Banquete guardam ainda a marca de dominação patriarcal. “Passados 200 anos, a mulher mostrada em O Banquete ainda está numa posição subalterna em relação ao homem. No momento em que se passa a história, esse patriarcalismo está mais velado, escondido sob um manto pseudoprogressista, mas o que eu quis mostrar é que a mulher continua capturada pela lógica masculina, como diz o filósofo [Theodor] Adorno.” n

Yamandu Costa não gosta de pensar a música instrumental como categoria isolada. “Não tem por que colocar num gueto a música culta que a gente faz”, diz um dos maiores violonistas do mundo, com agenda de shows em quatro países em outubro: Brasil, México, EUA e Japão. Vencedor do último prêmio Petrobras da Música Brasileira nas categorias melhor álbum instrumental (Quebranto, pela Biscoito Fino) e melhor solista, Yamandu conjuga as raízes da música regional gaúcha, que aprendeu ainda menino, com muitas outras influências. “Sou um cara muito curioso. A carreira de músico é muito interessante por isso. Não existe ponto de chegada: você está sempre procurando coisas novas.” O último álbum, parceria com o violinista Ricardo Herz, mistura sons da música gaudéria a xotes e baiões. “É um disco que abraça a cultura brasileira”, afirma. PODER JOYCE PASCOWITCH 73


LIVROS

A BRUTALIDADE QUE NOS DEFINE

Com A Noite da Espera, romance premiado que articula memórias pessoais e história política, o amazonense Milton Hatoum discute a violência de Estado

M

ilton Hatoum ocupa agora o panteão de laureados com o Prêmio Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE), já entregue a nomes como Jorge Amado, Sérgio Buarque de Holanda e Carlos Drummond de Andrade. “O prêmio pertence aos leitores”, diz esse escritor amazonense de 66 anos que estreou no romance, em 1989, com Relato de um Certo Oriente. Na entrega do prêmio, no fim de setembro, ele fez uma homenagem a Graciliano Ramos, cujo clássico Vidas Secas leu ainda jovem, em Manaus. “Os romances dele sondaram a alma humana e as contradições e tensões sociais numa terra hostil”, diz. É também nesse cenário de opressão, em que fato e ficção se costuram,

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que se passa A Noite da Espera (Companhia das Letras), romance que Hatoum lançou no ano passado e que lhe valeu o prêmio da UBE. Primeira de uma trilogia, a trama se passa em uma Brasília entre a ânsia de modernidade redentora e a sombra tétrica de um regime de exceção. No romance, Martim é um jovem que chega à capital em transe, no fim dos anos 1960. Vindo de Manaus, Hatoum aportou naquela mesma cidade, em 1967, para cursar o secundário. “Há alguns traços autobiográficos: minha vida de estudante em Brasília, a solidão e o desamparo de um garoto de 15 anos num ambiente opressivo”, conta o escritor, que, ao contrário de Martim, morou sozinho na capital da República.

Se há diferenças entre aquele Brasil e o país de hoje, reminiscências da violência de Estado perduram, avalia Hatoum. “Há liberdade na frágil democracia, agora ameaçada pelo obscurantismo. Mas a violência policial, o autoritarismo e o patrimonialismo permanecem intactos”, afirma o escritor, que recorda a brutalidade da Guerra de Canudos, ainda no começo da República, como marca da violência perene do país. “Hoje, o perigo reside no discurso que apela à violência e ao autoritarismo como formas de resolver nossos problemas. São formas falsas e enganadoras. Muita coisa do livro parece atual, mas não pensei nisso em 2007, quando fiz o primeiro esboço do romance.” Martim não é um militante nem está interessado em política, explica o autor. “O drama interior dele é o silêncio e a possível perda da mãe, que se apaixonou por um artista e se separou do marido. Além disso, a relação do Martim com o pai é tensa e problemática. Tentei escrever um romance de formação de um grupo de jovens, uma história de pais e filhos num momento bruto da vida brasileira.” A Noite da Espera é o primeiro livro da trilogia O Lugar Mais Sombrio. O segundo está previsto para março ou abril de 2019. A ambiência agora vai se dividir entre São Paulo e Paris, com algumas cenas em Brasília. “Nessa nova tribo paulistana, as personagens já atravessaram uma linha de sombra, que separa a juventude da vida adulta. O romance evoca essa passagem da ingenuidade ao purgatório. Nesse sentido, é um romance da desilusão, das perdas, da derrota”, diz Hatoum. “Mas nada disso exclui o amor, o desejo, o sonho, a imaginação. É essa liberdade que move a vida.”


FOTOS MARCOS VILAS BOAS/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

PODER É

RAFAEL INÉDITO Gravuras do ateliê de Rafael Sanzio (1483-1520) trazidas ao Brasil na comitiva de dom João 6º, em 1808, fazem parte da exposição Rafael e a Definição da Beleza, que segue até 16 de dezembro no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo. Com curadoria de Elisa Byington, a mostra tenta revelar o que o pintor renascentista italiano, o mais jovem da trindade formada também por Leonardo e Michelangelo, tinha na conta de “belo”. ESTREIA AOS 67 Aos 67 anos, depois de duas décadas de carreira como compositor, Cézar Mendes assina o primeiro disco, Depois Enfim (Uns Produções). O álbum tem a primeira música composta por Mendes, “Aquele

Frevo Axé”, uma parceria com Caetano Veloso de 1997, gravada pela atriz Fernanda Montenegro. Arnaldo Antunes, a fadista portuguesa Carminho e o próprio Caetano estão entre as vozes do disco.

três atrizes no palco (Dandara Mariana, Heloísa Jorge e Fernanda Jacob). O enfoque é no protagonismo exercido pela compositora na cena do samba, a despeito do tradicional domínio masculino desse ambiente.

EU ESTOU AQUI Depois da polêmica envolvendo a seleção da atriz para interpretar Dona Ivone Lara (1922-2018) no teatro – em junho, militantes e grupos ligados ao movimento negro questionaram a escolha de Fabiana Cozza, considerada clara demais para o papel –, o musical Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro, sobre a sambista carioca morta este ano, chega ao palco do Teatro Carlos Gomes, no Rio, onde fica até 25 de novembro. De menina à fase madura, Yvonne Lara da Costa é interpretada por

CINEMA EM SP A 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que vai de 18 a 31 de outubro, trará, entre seus destaques, a exibição das cópias restauradas de Pixote, a Lei do Mais Fraco (Hector Babenco, 1980) e Central do Brasil (Walter Salles, 1998). O evento também homenageia o polêmico cineasta dinamarquês Lars von Trier. A Casa que Jack Construiu, longa que causou debandada durante exibição no último Festival de Cannes e que coloca em cena um serial killer, será exibido na programação. PODER JOYCE PASCOWITCH 75


CABECEIRA

ARQUITECTURA NEOCOLONIAL - ARACY AMARAL

“Neste trabalho pioneiro, relançado no Itaú Cultural, a crítica de arte e curadora Aracy Amaral busca as matrizes de uma identidade latinoamericana na arquitetura.”

ESTANTE

POR ALINE VESSONI

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DA POESIA HILDA HILST

“Aqui estão alguns dos meus poemas favoritos, como ‘Sobre a Tua Grande Face’.”

OS PARCEIROS DO RIO BONITO - ANTONIO CANDIDO

“Enquanto estudiosos olhavam para fora, Antonio Candido mergulhou na simplicidade da cultura caipira e encontrou nela uma grande riqueza.”

O BUDISTA E O CRISTÃO: UM DIÁLOGO PERTINENTE HERÓDOTO BARBEIRO E FREI BETTO

“Duas mentes brilhantes falam sobre o sentido da vida a partir de perspectivas espirituais diferentes, mas que têm muito em comum.”

OLHOS D’ÁGUA CONCEIÇÃO EVARISTO

“Personagens femininas fortes, mães em sua maioria, enfrentam os desafios da vida com dignidade e poesia.”

GRANDE SERTÃO: VEREDAS – GUIMARÃES ROSA

“Além da trama cheia de ação e de reviravoltas inesperadas, os personagens levam o leitor a um mundo ao mesmo tempo próximo e distante.”

FOTOS BRUNA GUERRA;DIVULGAÇÃO

Milú Villela, ou mais formalmente Maria de Lourdes Egydio Villela, até poderia abrir mão de trabalhar. Não é definitivamente o caso. Herdeira de uma das maiores fortunas do Brasil, desde que os filhos cresceram e saíram de casa, Milú, que é psicóloga de formação, voltou-se para o trabalho voluntário com foco na educação. “É por meio da educação que o mundo e o Brasil se transformam e que são garantidas as conquistas das próximas gerações”, diz. Esse caminho começou a ser trilhado em 1991, quando ela passou a dedicar algumas horas de sua semana a uma creche. Em 1995, ingressou na Associação Comunitária Despertar, no Jardim Miriam, zona sul de São Paulo, entidade que atua na formação profissional de pessoas entre 15 e 59 anos e que ela hoje preside. Ainda em 1995, assumiu a presidência do Museu de Arte Moderna, o MAM, de São Paulo, tornando a instituição, que vinha de anos de ostracismo, novamente relevante. “A arte tem forte apelo educacional”, revela. Desde 2001, sua expertise em arte e educação levou-a a colaborar com o cada vez mais efervescente Itaú Cultural. Com tudo isso, as horas regulamentares do dia acabam sendo insuficientes para que Milú dê conta de tantos compromissos. Mesmo assim, ela encontra tempo para acompanhar o noticiário e para a leitura de seus livros preferidos. “Gosto de estar sempre bem informada. Leio vários jornais e revistas diariamente e acompanho o cenário político, econômico, cultural e social”, conta.


POLE POSITION por josé rubens d’elia

Q

uem nunca fez dieta ou se preocupou com o peso ideal? Minha experiência com atletas e empresários mostra que a grande maioria das pessoas tem como objetivo conquistar o peso correto. Apenas uma parcela pequena pode se dar ao luxo de comer do jeito que quiser, sem que isso cause alterações drásticas na balança. Todos que vivem a experiência do emagrecimento, uma atividade perene, sabem como é difícil vencer esse desafio e, principalmente, mantê-lo de forma saudável, sem os altos e baixos do processo. Agora a neurociência oferece novos caminhos. Não é um milagre, mas a possibilidade de conhecer melhor o funcionamento do cérebro. No livro Código Secreto do Emagrecimento (ed. Gente), a auto-

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ra Gladia Bernardi joganovas luzes sobre o tema. Eis uma passagem esclarecedora: “Segundo a neurociência, o cérebro forma, com novos pensamentos e novas experiências, novas estradas neurológicas, que são chamadas conexões neurais. O cérebro treinado tem a capacidade de se adaptar e de aprender a agir de modo diferente daquilo que vinha fazendo antes”. A ideia, portanto, é treinar o cérebro para mudar o entendimento do que antes era interpretado como privação. Uma das propostas de Gladia é que o leitor desenvolva o “pensamento de magro”. Para tanto, é preciso treinar diariamente. A primeira tarefa é eliminar o “não” da pergunta “por que não consigo emagrecer?”. Quando afirmamos que não conseguimos, não po-

demos fazer alguma coisa, nosso cérebro faz tudo para provar que estamos certos. A simples mudança de chave da pergunta já faz com que a energia mobilizada na operação seja canalizada para novas possibilidades e soluções. Por isso, o caminho das pedras é aprender a falar o que queremos – e não o contrário. A capacidade do cérebro se adaptar a novas situações comportamentais e ambientais recebe cientificamente o nome de plasticidade. Em seu livro, Gladia afirma ainda que “emagrecer é uma ciência”. Da mesma maneira que aprendemos física, química e matemática, podemos aprender a emagrecer e a ficar magro para sempre. Que privilégio viver nesse momento de avanço da neurociência, que nos possibilita tantos aprendizados. Ao entendermos cada vez mais as possiblidades do nosso cérebro, abrimos um enorme caminho para erradicar velhos hábitos e incorporar outros, que podem nos deixar muito mais saudáveis. Bem-vinda, neurociência! Bem-vindo todo aquele que deseja usufruir de seus ensinamentos para evoluir e ser muito mais feliz. n José Rubens D’Elia é fisiologista e treinador de pilotos, atletas, empresários e executivos. É diretor da Pilotech – Clínica de Performance de Pilotos, em São Paulo

ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM; FOTOS DIVULGAÇÃO; ARQUIVO PESSOAL

A CIÊNCIA DO EMAGRECIMENTO


TERRAÇO

FOTO PAULO FREITAS

Oscar Niemeyer viveu até 104 anos, e Paulo Mendes da Rocha, que o sucede no título de maior arquiteto e urbanista vivo do Brasil, faz aniversário de 90 este mês. Talvez não fosse recomendável extrair daí uma relação de casualidade, mas que se dane: bons arquitetos vivem muito neste país. Vivem e, felizmente, produzem muito. Uma das obras icônicas de Mendes da Rocha, a reforma do prédio que agora abriga o Sesc 24 de Maio, foi concluída em 2017. Para homenagear o arquiteto, uma exposição no Itaú Cultural, em São Paulo, mostra 100 itens de seu acervo pessoal e joga luz sobre 11 projetos, nove deles não executados, como um porto fluvial à beira do rio Tietê. Capixaba de Vitória, Mendes da Rocha é o único brasileiro, além de Niemeyer, a receber um Pritzker, principal prêmio da arquitetura mundial. Programe-se para visitar a mostra no sábado, 27 de outubro, quando a arquiteta Marta Moreira guia os espectadores por algumas obras capitais do mestre, como o Centro Cultural Fiesp e a reformulação da velha praça do Patriarca.

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