Básica
Texto Bruno Ribeiro Imagem Vandir Dorta Jr.
Os hebreus não enxergavam o ser humano dividido entre corpo e alma, mas como um ser integral
CORPO E ALMA Pouco antes de morrer, Sócrates fez um provocativo discurso sobre o status da alma, descrito por Platão na obra Fédon. Segundo a obra, Xantipa, esposa de Sócrates, o filho deles e um grupo de amigos estavam angustiados com a situação. Mas o humor de Sócrates era “uma mistura incomum de prazer e dor”, pois ele parecia feliz e sem medo. E por qual razão? Sócrates explica que o verdadeiro filósofo deve estar preparado para a morte, visto que ela consiste na separação entre o corpo e a alma. Para Sócrates, o corpo era uma prisão em que sua alma estava confinada. Segundo ele, corpo e alma seriam de substâncias radicalmente opostas entre si, pertencentes a duas realidades distintas e completamente diferentes. Sendo assim, a mente humana seria compelida a investigar a verdade por meio do corpo, mas reconhecendo que não conseguiria acessar o conhecimento daquilo que é mais elevado, pois isso estaria restrito à alma. Portanto, caberia ao filósofo o exercício de entender a essência das coisas por meio da reflexão, enquanto a alma não se separasse definitivamente do corpo. Essa perspectiva socrática teve influência em todo o Ocidente. Por exemplo, a sociedade valoriza mais o trabalho intelectual (alma), como o ensino e o jornalismo, do que o trabalho físico (corpo), como a jardinagem e a limpeza. Além disso, há no imaginário coletivo a tentativa de controlar de forma radical qualquer apetite, uma vez que impulsos como esse são vistos como irracionais e prejudiciais. Por fim, o cuidado do “mundo interior” é entendido como mais importante do que o cuidado com o corpo. Contudo, a perspectiva socrática é o oposto da integralidade apresentada pela Bíblia. Na narrativa bíblica, o mundo físico não é algo mau que deva ser rejeitado, mas algo para ser desfrutado. Não é uma manifestação do mal, embora tenha sido contaminado por ele, e sim um reflexo da glória de Deus (Sl 19). O corpo, por sua vez, também é bom (Gn 1) e não deve ser entendido como a prisão da alma (ver a seção Texto e contexto, p. 20-23). Ele, junto com o fôlego de vida, forma a “alma vivente” (Gn 2:7). Portanto, os seres humanos são um organismo indivisível entre carne e espírito, de tal modo que a alma/fôlego de vida não pode sobreviver à parte do corpo (Ec 12:7). Por fim, a fé cristã sustenta duas crenças centrais que apontam para essa integralidade do ser humano e para a grande dignidade do corpo: a encarnação e a ressurreição corpórea de Cristo, o que garante a ressurreição final dos justos (Ap 1:18). Fontes: Fédon (Edipro, 2016), de Platão; Uma Breve Introdução à Filosofia (Martins Fontes, 2011), de Thomas Nagel; Judas e o Evangelho de Jesus (Loyola, 2008), de N. T. Wright; Imortalidade ou Ressurreição? (Unaspress, 2007), de Samuele Bacchiocchi; Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? (Wipf & Stock Publishers, 2000), de Oscar Cullmann.
Curiosa
Texto Julie Grüdtner
ESCOLHA AS CALORIAS CERTAS Um estudo realizado com 327 adolescentes de 14 a 19 anos de Teresina (PI) mostrou que 25% da dieta deles eram baseados em alimentos ultraprocessados. Em outras palavras, era como se, a cada quatro refeições, uma delas fosse composta apenas de batata frita afogada no queijo cheddar, nachos, refrigerante e algum doce grudento. Se considerarmos que um jovem nessa faixa etária consome 2.300 calorias por dia, então 575 delas seriam 24 |
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2021
desperdiçadas em gorduras ruins, realçadores de sabor e outros elementos químicos que diminuem as taxas de colesterol bom e aumentam os níveis de triglicerídeos no sangue. Na prática, além de ganhar peso e alterar vários indicadores da própria saúde, esse grupo pesquisado corre o risco de desenvolver, em médio e longo prazos, várias doenças crônicas e evitáveis, além de morrer precocemente. Os ultraprocessados são produtos que perderam água e outros nutrientes, a fim de serem
fabricados de forma rápida, em escala industrial e de modo a durar mais. Ou seja, não são alimentos de “verdade”. Em casa, eles costumam sair do congelador ou geladeira diretamente para o microondas a fim de depois estacionarem na mesa. É um tipo de alimentação prática, que se encaixa bem no ritmo da vida moderna, mas que traz consigo todas as desvantagens de um hábito não saudável. Portanto, não se deixe levar por embalagens coloridas e
sabores “irresistíveis”. Afinal, a receita para esse sabor realçado é o abuso de sal, açúcar e gordura, ingredientes que se tornam vilões da dieta, quando consumidos sem equilíbrio. Sendo assim, prefira alimentos frescos e pouco processados. Fontes: Agência Bori (abori.com.br); o artigo “Associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e parâmetros lipídicos em adolescentes”, de Laurineide Rocha Lima e outros, em Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, nº 10, outubro de 2020, p. 4055-4064; e Alicia Kowaltowski, professora de bioquímica na USP, em sua coluna no Nexo Jornal, em 23 de setembro de 2020.
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