Opinião Pedro Miranda D E P U T Y C O M M E R C I A L D I R EC T O R – B U S I N ES S D E V E LO P M E N T | L E A S E P L A N P O R T U GA L
Gestão de frotas: perspetivas para 2022
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stamos praticamente no final do primeiro trimestre do ano e as perspetivas para o sector automóvel, e em particular para a gestão de frotas empresariais, permanecem muito desafiantes, destacando-se, entre os principais constrangimentos, o alongamento dos prazos de entrega, o aumento dos preços de venda dos veículos e ainda algumas barreiras por transpor para prosseguir o caminho de transição para a mobilidade elétrica. À data em que este texto é redigido, antecipo igualmente o impacto nefasto do conflito militar a leste, cujos efeitos, seguramente duradouros, mas ainda difíceis de quantificar, representarão, no curto prazo, um fator desestabilizador dos índices de confiança de empresas e particulares quanto a decisões de investimento. Insuficiência na oferta de veículos A insuficiência de oferta de veículos manter-se-á durante a maior parte do ano, em resultado de dois fatores cumulativos: a persistente falta de componentes para o fabrico de automóveis e o facto de Portugal não ser um mercado prioritário para fornecimento por parte dos fabricantes. O desequilíbrio criado entre oferta e procura materializa-se, já hoje, num aumento generalizado dos preços de aquisição e num alongamento significativo dos prazos de entrega, dificultando o exercício das empresas no planeamento de renovações do seu parque automóvel e na orçamentação dos custos com a sua frota. Neste contexto de incerteza, e durante o período em que perdurarem os constrangimen-
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tos atuais, as empresas de renting têm assumido um papel determinante enquanto agente facilitador, pelo facto de disponibilizarem soluções aos seus clientes que reduzem a necessidade de estes assumirem compromissos de longo prazo, assegurando-lhes toda a conveniência e previsibilidade de custos que um contrato de renting habitualmente incorpora. O melhor exemplo destas soluções é a possibilidade de prolongar contratos em vigor, tipicamente por pelo menos mais doze meses, período a partir do qual se espera que o mercado possa retomar alguma da sua normalidade. Complementarmente, e sempre que a possibilidade de prolongamento contratual não seja exequível – seja pela idade e/ou quilometragem do veículo, seja porque a necessidade advém da atribuição de um veículo a um novo colaborador –, poderão as empresas clientes recorrer a um contrato de renting de menor duração, para o qual existem opções de veículos novos, mas também de veículos usados provenientes do parque próprio das locadoras, sendo estes últimos naturalmente mais económicos. Não é esperada uma normalização total da capacidade de fornecimento de veículos por parte da generalidade dos fabricantes antes de 2023, pelo que viveremos mais um ano invulgar no qual serão tomadas menos decisões de cariz estruturante, em especial, aquelas que possam implicar aumentos de custos de forma duradoura. Transição para a mobilidade elétrica O caminho da transição para a mobilidade elétrica permanece firme e irreversível. Ano após ano, assistimos a uma redução progressiva dos fatores inibidores da opção por veículos elétricos.
Do lado dos fabricantes, em resultado das imposições legais ao limite de emissões de CO2, existe uma oferta cada vez mais diversa de opções de veículos elétricos e os planos de produto apontam para um mix predominantemente elétrico nos próximos anos, assumindo, alguns deles, que a sua produção será de veículos 100% eletrificados até 2030. Do lado da infraestrutura, os números recentemente publicados pela entidade gestora da rede de mobilidade elétrica (Mobi.E) refletem um crescimento de 67% da rede de carregamento pública em 2021, a que corresponde um total de 2.360 postos de carregamento, o que representa uma cobertura territorial de 98% dos concelhos a nível nacional. Do lado da tecnologia temos cada vez maiores avanços e, em especial, uma autonomia crescente das baterias e uma redução do seu custo, cujo peso no preço final do veículo tenderá a ser menos significativo. Não obstante a redução das barreiras à entrada na mobilidade elétrica, a transição por parte das empresas está ainda fortemente condicionada pela capilaridade da infraestrutura de carregamento, seja ela pública ou privada, mas também por alguma instabilidade fiscal que tornou obsoletas algumas decisões de gestão tomadas pelas empresas com base em legislação que tem vindo a ser progressivamente atualizada. Se relativamente à infraestrutura, podemos antecipar um aumento dos investimentos por parte dos diversos operadores na exata medida em que o parque circulante também aumente, relativamente à fiscalidade permanece alguma expectativa.