Fleet Magazine 52 Mar 2022

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Opinião Miguel Vassalo C O U N T RY M A N AG E R A U TO R O L A

A corrida mais louca do mundo

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dia do grande desafio: 13 de Março de 2004. Das 106 equipas candidatas, naquela manhã restavam apenas 15 finalistas prontas para percorrer um circuito com cerca de 230 km através do deserto de Mojave. Na Califórnia, alguns milhares de espectadores estavam reunidos à porta de um bar para assistir a uma corrida com 15 veículos autónomos no primeiro DARPA Grand Challenge. No ano anterior, com o propósito de estimular a inovação para fins militares, a DARPA – Defense Advanced Research Projects Agency, um braço do Pentágono, tinha anunciado uma competição e oferecia um milhão de dólares a quem terminasse a corrida mais rápido. E agora, ali estava um bando de engenheiros stressados e privados de sono a dar os últimos retoques nas suas estranhas máquinas, qualquer uma digna de ter figurado no filme Mad Max. Sem qualquer humano a bordo, vários SUV, buggies, camiões e até uma mota, equipados com todo o tipo de computadores, sensores e radares, lutavam finalmente pelo ambicionado prémio. Um pequeno passo… Infelizmente para os participantes, nesse dia, nenhuma equipa arrecadou a choruda recompensa. Um após outro foram tombando deixando um rasto de postes partidos, cercas de arame farpado destruídas e ao que consta, pelo menos um extintor de incêndio ficou vazio. Ainda assim, no meio do caos, um veículo batizado de Sandstorm, criado pela universidade de Carnegie Mellon, destacou-se: percorreu autonomamente uns notáveis 12 km. Apesar do desastre, este dia fica na história como um marco no primeiro grande impulso para o desenvolvimento de um veículo completamente autónomo e o desaire inicial não impediu que, no ano seguinte, a prova se repe-

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tisse, desta feita com resultados mais animadores: cinco equipas terminaram a prova com sucesso. Um grande salto… Com lastro em projetos académicos iniciados nos anos 80, os quais muitas vezes contavam com o alto patrocínio do exército norte-americano, esta louca corrida estimulou a imaginação das empresas. Em 2009, a Google, agora Alphabet, tomou a decisão de desbravar comercialmente caminho nesta área. Contratou justamente o líder da equipa da universidade de Standford, que venceu o segundo DARPA Grand Challenge e lançou as sementes do que é hoje a Waymo. A euforia foi tal que muitas outras start-up, tecnológicas e construtores incumbentes seguiram os mesmos passos e investiram biliões de dólares em R&D (Research and

Development) nesta inovadora tecnologia. Em 2016 a Ford anunciava estar em condições de operar frotas de táxis autónomos em 2021 e a Lyft apregoava conseguir fazê-lo ainda antes. Retrospetivamente, este esforço parece não ter passado de um conjunto irrealista de promessas não cumpridas, provando o quão arrojado se revela o empreendimento. Afinal, conduzir é uma tarefa complexa, constituída por muitos ciclos de percepção-planeamento-controlo, à mercê de ambientes incertos e alguns eventos improváveis. Algo claramente fora da zona de conforto das máquinas e computadores. Período de indefinição Uma forma de analisarmos a problemática: de onde partimos, onde estamos e para onde vamos, é recorrendo ao Gartner Hype Cycle (ver o gráfico abaixo).


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