TRIBUNA GABRIELA FIGUEIREDO DIAS
Presidente, CMVM e Presidente do Comité Permanente sobre a Gestão de Ativos, ESMA
PRIORIDADES PERANTE A MAIOR CRISE DAS NOSSAS VIDAS
Na liderança do Comité Permanente sobre a Gestão de Ativos da ESMA (IMSC) viveu-se o ano mais desafiante de todos. Para 2021, o plano de ação da entidade na área da gestão de ativos visa atingir maior convergência e consistência nas abordagens e práticas de supervisão das autoridades nacionais.
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020 foi um ano de profundo impacto nas nossas vidas e os mercados financeiros não ficaram, naturalmente, à margem dos impactos do dramático e prolongado choque pandémico que atravessamos. Confrontados com este choque e seus impactos, na CMVM tivemos de adaptar a supervisão e a comunicação com as entidades supervisionadas, identificando os maiores riscos e adequando, consequentemente, a nossa resposta. Esta foi particularmente facilitada pela partilha de informação e coordenação de medidas a nível nacional e internacional, em especial ao nível da Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários (ESMA). No Comité Permanente sobre a Gestão de Ativos da ESMA (IMSC), que tenho a honra de liderar desde fevereiro de 2019, este terá sido o ano mais exigente da sua história. Logo no início da crise, a ESMA identificou a gestão de ativos como objeto de especial atenção, considerando a sua dimensão, as fortes ligações ao restante setor financeiro e, portanto, a sua capacidade de causar impactos sistémicos relevantes, pedindo ao IMSC um reforço da sua atuação de coordenação. 52 FUNDSPEOPLE I JANEIRO E FEVEREIRO
Em face da agitação dos mercados verificada em março, no IMSC passámos a centralizar e analisar semanalmente informação sobre a utilização de medidas de gestão de liquidez nos fundos, partilhando informação e acordando as melhores formas de reação às várias manifestações da crise no setor, incluindo dificuldades de reporte e de valorização de ativos, ou análise da capacidade de reação dos fundos de investimento europeus a um segundo choque. Pelo seu lado, também o mercado mostrou capacidade de resiliência, adaptação e ajustamento, aproveitando também as medidas de apoio orçamental, monetário e prudencial. Na área da gestão de ativos, os movimentos negativos do primeiro trimestre foram compensados pela recuperação intensa que se seguiu, apesar do contexto de enorme adversidade e incerteza, determinando o descolamento do valor dos ativos face à realidade económica, mais deprimida, o que causa preocupação quanto à evolução futura. 2021 apresenta-se, assim, como um ano de grandes incertezas, ao nível da evolução da pandemia e dos principais riscos acumulados no sistema financeiro, como o risco de crédito, o risco de mercado e os riscos ambientais, sociais e de governação.