sonhar em almejar, pois nossos sonhos são do tamanho das nossas possibilidades. O filho do pedreiro pode estudar engenharia. A filha da empregada doméstica pode estudar Direito e se tornar juíza. Numa sociedade onde cada um tinha que saber qual o seu lugar, tamanha mudança não foi pouca coisa. Então, era preciso fazer com que as coisas voltassem a ser como era antes dos governos Lula e Dilma, ou seja, “devolver” o poder de decidir para as elites, mas como dificilmente os partidos representantes das elites e da parcela da classe média conservadora venceriam pela via das urnas depois de tamanha transformação social no país, tratou-se de planejar um golpe para tirar a chance do PT se “perpetuar no poder”, como diziam seus ferrenhos adversários. Sabemos que um golpe não se dá do dia para a noite, mas é sempre planejado com muita antecedência. Era, portanto, preciso deslegitimar o PT perante a opinião pública. Acusar o governo Lula e o PT de corrupção, como sempre aconteceu quando governos foram contra os interesses da elite do dinheiro, como aconteceu com Getúlio, com Jango e em 2016 com Dilma, foi o recurso utilizado para golpear a democracia, tirando do poder a soberania popular para dar lugar à soberania do mercado, do neoliberalismo agora em sua fase ultraliberal na economia e ultraconservadora nos costumes. O processo para tirar o PT do poder central teve início com a acusação de compra de apoio parlamentar, que ficou conhecido como “mensalão”. Lula foi reeleito e elegeu Dilma Rousseff como sua sucessora. Depois veio o julgamento da AP 470. Dilma foi reeleita em 2014 por uma pequena margem de diferença de seu adversário, Aécio Neves. Sabemos como se deu o golpe de 2016, travestido de impeachment. Como não foi dado um golpe para depois permitirem que Lula volte a presidir o país, trata-se de condena-lo criminalmente para torna-lo inelegível, custe o que custar. É preciso impedir que Lula volte à presidência para garantir o modelo neoliberal implantado por Michel Temer, atendendo aos interesses do capitalismo financeiro. Considero que o golpe de 2016 ainda não terminou e que sua consolidação pode se dar com a inelegibilidade do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Considerando que o impeachment contra Dilma foi um golpe parlamentar-jurídico-midiático, a condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro e confirmada no TRF-4 revela o papel do poder judiciário nos golpes contra a democracia e o estado de direito democrático, sob o pretexto do combate à corrupção. Podemos pensar que, se o Chile foi o laboratório para o neoliberalismo, o Brasil pode ser o laboratório para o neoliberalismo fundamentalista do mercado financeiro, com todas as suas implicações e objetivos a serem alcançados e para isso não é preciso mais o recurso aos quartéis, quando se tratar de derrubar um governante ou impedir que um candidato que represente
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