No entanto, o ativismo judicial contaminou vastos setores do aparato judicial brasileiro e do sistema de justiça como um todo. A polarização política foi transferida para o judiciário, ministério público e autoridades policiais que passaram a atuar de forma seletiva, constituindo parte da disputa política. Agentes públicos, legitimados e promovidos pelo oligopólio midiático, transformaram suas convicções políticas, ideológicas e religiosas em instrumento de atuação profissional. Quando o aparato judicial se posiciona em uma das pontas da disputa política, voltando-se exclusivamente ao enfrentamento de uma agremiação ou agente político, elegendo adversários, deixa de exercer o ativismo judicial e pratica o lawfare, utilizando da pior hermenêutica para legitimar a perseguição do inimigo político, relativizando garantias de direitos fundamentais, em nome do “Estado de Direito”. No Brasil dos contrassensos, das adaptações antropofágicas de conceitos jurídicos alienígenas, vivenciamos a esdrúxula contradição de termos uma das maiores lideranças populares de nossa história vítima do lawfare ou da inversão dos direitos humanos que preconiza nenhum direito para os “inimigos do direito”, exatamente como estrategicamente pensado pelos autores internacionalistas que pretendem menosprezar o arcabouço protetivo dos mecanismos de proteção dos direitos humanos. O lawfare à brasileira ao que Lula vem sendo submetido encontra-se em tal estágio que o rol de supressão de direitos fundamentais é extenso, mas podem ser condensados na violação absoluta do princípio do devido processo legal. Assim como a sentença, o acórdão do TRF4 já era anunciado, mas inovou no rol das maldades ao aumentar a pena para evitar a prescrição dos crimes imputados. Ademais, era preciso acelerar a prisão, dai a unanimidade dos três Desembargadores, para impedir a candidatura do réu, que segue com os mais altos índices de intenção de votos. Com a decisão, o judiciário atinge o âmago da democracia brasileira, elegendo os partícipes do processo eleitoral de outubro. Afinal, o impeachment de Dilma Rousseff deixaria de ter sentido, caso o próprio judiciário não mantivesse Lula fora do jogo.
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