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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER
Junho de 2023
“Senti os nossos ancestrais sendo honrados nesta escola”
Mariana - MG
Por Cacica Ãngohó Pataxó, Dayane Helena Barreto, Giovana dos Santos Canuto e Simone Silva Com o apoio de Crislen Machado e Simone Silva
No dia 15 de maio, a Escola Estadual Padre José Epifânio Gonçalves recebeu a visita de integrantes da aldeia Katurãma, do povo Pataxó, de São Joaquim de Bicas-MG, atingidos e atingidas pelo rompimento da barragem do Córrego de Feijão (Vale), em 2019. A ação, planejada pela professora Simone Silva, de Barra Longa, e seus(suas) alunos(as) da turma de Artes, com o apoio das professoras Elaine, Sônia, Maria Inês, da diretora Maria Márcia e da vice-diretora Carol, buscou promover um diálogo entre as comunidades que enfrentam problemas semelhantes relacionados aos graves impactos causados pelos rompimentos das barragens, além de propiciar uma troca cultural entre pessoas de realidades distintas. A ideia da visita dos Pataxós à cidade de Barra Longa surgiu bem antes do dia 15. No ano passado, em aula, Simone e a turma do 2o ano do Ensino Médio resolveram iniciar um projeto de pesquisa sobre a história da cidade. A investigação vai desde a época em que o município era terra indígena até os dias atuais. O resultado do projeto é um livro escrito por muitas mãos, que aguarda verba para ser lançado. Toda essa busca fez nascer nos e nas jovens a vontade de conhecer mais sobre os aspectos sócio-históricos da região. Atenta a isso, Simone resolveu propor à Cacica Ãngohó Pataxó, parceira na luta pelos direitos das pessoas atingidas, uma visita à sua aldeia. Em 19 de abril, data em que é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, os estudantes foram à comunidade Pataxó para um dia de aprendizado fora dos muros da escola. Em Barra Longa, a vinda dos Pataxós mobilizou a comunidade, outras escolas do município e até de cidades vizinhas. Houve apresentações de danças tradicionais, conversas sobre os costumes e as lutas pela preservação ambiental, pela criação e fortalecimento de laços entre povos e comunidades e um momento para tirar dúvidas.
Depois das apresentações, a cacic
Hoje a comunidade precisa comerc objetos tradicionais para poder sob
“Não podemos falar sobre letramento ambiental e racial de forma separada. Se não trabalharmos isso dentro das escolas, não conseguiremos trabalhar na sociedade. Na semana passada, estávamos em uma escola particular que parecia um palacete. Nos propusemos a falar também para a sociedade branca, no centro do capitalismo, para chamar a atenção dos pais e mostrar que aquelas crianças ali precisam pisar na terra para entender o que é a terra. Alguns pais se assustaram, mas outros elogiaram muito. Decidi visitar as escolas para contar a história da minha comunidade. Eu não era cacica, quem era cacique era o meu marido. Eu disse que faria um legado diferente no meu cacicado e estou cumprindo. Sou filha de um branco com uma indígena, recebo críticas devido à minha aparência, mas conheço minha história. Minha aldeia me reconhece, sei falar minha língua e reconheço minha cultura. Precisamos fazer essa mudança juntos, não existem dois Brasis, todos merecem respeito. Estou buscando pessoas interessadas em promover esse letramento dentro das escolas. Gostaria de apresentar essa proposta ao governo do estado e sugerir aulas práticas, coletivas e multidisciplinares para as crianças. Com isso, todos saímos ganhando. Já são 11 anos de trajetória em Minas, e nós fomos acolhidos pelo povo mineiro. Hoje, quando chegamos aqui, fomos aplaudidos. Senti que nossos ancestrais estão sendo honrados nesta escola hoje.” Cacica Ãngohó Pataxó, moradora de São Joaquim de Bicas