A PERSPECTIVA DA BALEIA Há um ano Luís Sepúlveda deixou-nos, vítima da pandemia e sobre a qual eu não tenho paciência para escrever pois, muito sinceramente, estou farto dela. E ainda, tenho mais do que fazer do que falar do vírus. Pelo contrário, sobre Sepúlveda haverá sempre muito que dizer, e por vezes, mais do que dizer, haverá que sentir. Sou a crer que li todos os seus livros, mas sinceramente não me recordo, por vezes, em que livro concreto é que li certa história ou, em que momento me apercebi de certa passagem, mas seja como for, com ele aprendi que não se deve romantizar a caça à baleia quando descreveu, num dos seus episódios, um rapaz, que depois de ler o Moby Dick, ficou convencido que a caça à baleia envolvia aventura, adrenalina, nobreza de carácter, espírito de missão, entre outras coisas que, afinal não se revelaram reais quando o mesmo optou por embarcar num baleeiro com vista a apreender a verdadeira experiência relatada por Herman Melville.
Também conheci um caracol que se chama “rebelde” o qual, com a ajuda de uma tartaruga chamada “memória” não só conseguiu ir muito longe na vida como ainda conseguiu salvar toda a sua comunidade. Mas, sempre muito devagar, como é próprio dos caracóis. Sobre um cão chamado “fiel”, e após a sua leitura, fiquei um bom par de horas perturbado pois, só me apetecia abraçar o cão a que Sepúlveda se refere na sua obra muito embora, por experiência própria, saiba que os cães não apreciam abraços, ou pelo menos, nos termos em que os humanos os sentem. Há ainda uma gaivota e o gato que a ensinou a voar, um gato e um rato que se tornaram amigos numa referência a amizades impossíveis ou, pelo menos improváveis tornando-as não só possíveis como igualmente frutíferas. Há sempre uma consciência ecológica de referência, em que a ligação humana aos animais é carregada
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