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A
s menores desses processos acionavam estratégias para conseguirem manter seus relacionamentos, como afigurar a si mesmo imagens depreciativas, mentir para proteger o namorado acusado, aceitar a relação de amasiamento, afirmar ter tido relação sexual por livre e espontânea vontade; outras vezes, no entanto, utilizavam-se de diversas formas, e, com astúcia, dos mecanismos jurídicos, assumindo imagens, representações e práticas que não necessariamente correspondiam à sua vivência e expectativa cotidiana. Da mesma forma, encontrarmos, na maior parte dos depoimentos dos homens acusados de defloramento, imagens e práticas socialmente valorizadas. Mas, paralelamente a elas, também vemos formas cotidianas de lidar com essas mesmas práticas e imagens, à medida que percebemos que alguns desses personagens masculinos assumem relacionamentos públicos de amasiamento com as menores, e nem sempre a virgindade é determinante no estabelecimento de uma união formal, mesmo que potencialmente valorizada, menos do que o fato em si da mulher ser ou não virgem, o que parece prevalecer é a imagem de “honestidade” que está possui socialmente, particularmente no meio em que circulam. Estudar o universo amoroso, percorrido através dos dramas de amor que encontramos nos processos-crimes de defloramento, significa percorrer situações singulares que carregam, em cada história, imagens e representações múltiplas acerca das formas de perceber e viver a relação amorosa. Esses dramas de amor são vividos em um jogo marcado por práticas e representações em que, menos do que optar por este ou aquele campo do jogo, o que parece estar presente na vida desses personagens é a vivência desses múltiplos universos recriados a cada nova situação presente na dinâmica de suas relações sociais. Talvez a “queda” não significasse sempre só dor, sofrimento e desencanto na vida dessas particulares mamelucas, ou, talvez, apesar de tudo, namorar fosse melhor do que todo o resto...