“ADORÁVEIS E DISSIMULADAS”: as relações amorosas e sexuais de mulheres pobres na Belém do final do século XIX e início do XX
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sabiam escrever; ir a ladainhas; participar de sessões de pajelança; buscar constantemente água no poço; fugir aos compromissos familiares para ficarem sós em casa: essas foram algumas das estratégias usadas por essas meninas para encontrarem-se com seus namorados. Caminhos conhecidos, outros curiosos, que efetivavam o relacionamento a cada novo encontro.
2.2 E o encontro se fez namoro... Ao falarem de suas relações com os acusados, algumas menores se referem a elas como sendo ora relações de namoro, ora de amizade. Naqueles processos em que o namoro do casal era de conhecimento da família da menor, há a referência ao fato de os encontros serem frequentes e se realizarem na casa dos pais e/ou parentes e tutores da menor, à noite, ou em dias e horas corriqueiramente determinados. Esse dado é sempre ressaltado nos depoimentos, pois a partir da quantidade e continuidade dos encontros podia se caracterizar ou não a relação de namoro entre o acusado e a ofendida. Por vezes, no entanto, os encontros amorosos ocorriam às escondidas em praças, casa de vizinhas amigas, em quartos alugados, ou mesmo na casa do namorado, o que também não impedia que eles fossem corriqueiros. Julieta, de 18 anos, filha de pai francês, ia sempre à casa de seu namorado, que ficava em frente à sua69. Hermano ia costumeiramente à casa de Mônica, de 17 anos, que residia com a mãe, e lá se demorava normalmente até à meia noite70. Cosma encontrava-se às tardes com Lídio, no arraial de Nazareth, quando ia passear com a filhinha de seu patrão71. Francisca encontrava-se com Bennevento na casa de sua vizinha, que era uma messalina que recebia homens em sua casa72. As cercas do quintal da casa de Mirandolina já ficavam arrancadas para que seu namorado, Antonio, entrasse pelos fundos e a esperasse, o que ocorria com mais frequência aos domingos73.
69
Ver Processo-crime n° 52.
71
Ver Processo-crime n° 62.
70 72 73
Ver Processo-crime n° 74. Ver Processo-crime n° 48. Ver Processo-crime n° 6.