moçambique no rumo certo moçambique Habitação Como as Casas modulares podem ser alternativa Hcb opv da hidroeléCtriCa está a mexer Com o merCado iDai o balanço da ConferênCia de doadores da beira comércio o que vai mudar Com a Zona afriCana de ComérCio livre fid da área 1 vai mudar a faCe da eConomia naCional JUlHO 2019 • ano 02 • nO 16 Preço 200 MZn 9 789895 408504 00016
Observação
CAN 2019 a imagem forte do Campeonato africano das Nações que arrancou em Junho, no egipto 8 Radar
Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País 12 MaCro
Habitação
Uma análise ao mercado das casas modulares e as vantagens e desvantagens deste segmento 22 Nação
Gás NAtuRAl
22 áREA 1 Com o anúncio da dFI da anadarko a economia e o país vão mudar. dizemos-lhe como, quando e em que áreas 30 Na voz de... omar Mithá, o PCa da eNH, explica o que vem aí na exploração de gás 34 ProvÍNCIa
sofala a Conferência de doadores realizada na beira não correu como o esperado. Mas há esperança 40 MerCado e FINaNças
Comércio
Com a abertura da Zona de Comércio Livre africana avaliamos o impacto directo no país 44 EMPresas
Jason Moçambique a história de um negócio cujo foco é... criar novos negócios no país
MegaFoNe
Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora
ócio
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 3
Sumário 6
46
48 fIgUra
HCB Manuel
54
59
60 Escape Uma viagem ao Jardim do Tunduro 62 Gourmet descobrimos o g, um gentlemen club
63 Adega
64 Agenda
livros, filmes 65 Arte
Museu
66
50
do MÊs
gamenro, administrador da hidroeléctrica, explica os contornos da oPv em curso
lÁ Fora Angola os seguros e fundos de pensões em angola ainda não ultrapassam 1,2% do PIb
em Maputo
o Hennessy Xo, um clássico no universo dos conhaques
Música,
o novo
da Mafalala
Ao volante Jet ski para todos os gostos
soCIedade Internet 5g Há uma guerra silenciosa em curso sobre quem irá dominar a nova internet: eUa ou China?
Conferências E&M, um espaço privilegiado de debate de ideias
Iacumba Ali Aiuba
a economia & mercado (e&m), enquanto veículo de comunicação económica e de negócios que já se tornou numa referência no mercado editorial moçambicano, lançou em Maio último, a primeira de um ciclo anual, ao rea lizar a conferência dedicada à Responsabilidade Social e Corporativa (RSC) em Moçambique.
Dada a importância da RSC na promoção do desenvolvimento social e económi co, foi uma oportunidade para a reflexão profunda e conjunta sobre como as acções de responsabilidade social das empresas que operam em Moçambique têm estado a ser implementadas, bem como debater os desafios e oportunida des que estas mesmas acções apresentam quer para a promoção do tão alme jado desenvolvimento sustentável do país, quer para a própria sustentabilida de do negócio das empresas. Contámos com a presença honrosa de representantes de empresas e institui ções, figuras e operadores do mercado nacional que apresentaram as suas visões, políticas, estratégias e investimentos na área da Responsabilidade Social e Corporativa em Moçambique.
Auguramos, com a criação das Conferências E&M, uma área especializada da E&M Moçambique direccionada para a organização de fóruns, conferências, se minários, palestras, debates, workshops e outros eventos, construir parcerias que perdurem no tempo, salvaguardando os valores da nossa publicação: Plu ralismo de Opinião, Isenção, Profissionalismo e Rigor.
A E&M está, igualmente, a lançar um leque de produtos editoriais direccionados para a publicação de um conjunto de boas práticas, que muitas empresas em ac tividade no país têm vindo a desenvolver e para o qual tenderemos a contribuir com um espaço editorial, cada vez mais significativo, nas páginas da revista. ‘Porque quem lê, sabe mais.’
MÊS ano • nº 01
JuLho 2019 • Nº 16
PROPRIEDADE Executive Moçambique
DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba
DIRECTORA EDITORIAL GRUPO
propriedade Executive Mocambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi
EXECUTIVE Ana Filipa Amaro
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos COnsELhO EDITORIAL
Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo JORnALIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade
lorem ipsum Executive Mocambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi
PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido
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REVIsÃO Manuela Rodrigues dos Santos
PRODUÇÃO Executive Moçambique
PUBLICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal)
ADMInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO
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E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com
DELEGAÇÃO EM LIsBOA Telheiras, Rua Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; iona@iona.pt
IMPREssÃO E ACABAMEnTO
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Minerva Print - Maputo - Moçambique
TIRAGEM 4 500 exemplares núMERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018
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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
Editorial
4
revista Economia & Mercado
Director da
observação
A tAçA nAs mãos dos fArAós
Dos 24 países apurados para a 32ª edição do CAN, há dois que falam português mas nenhum deles é Moçambique por ‘um bocadinho assim’ devido a um golo sofrido para lá da hora, sina que parece acompanhar Abel Xavier, o actual seleccionador, desde os tempos de jogador. No mais, o CAN é o evento do ano em África e o Comité Executivo da CAF, organizador da prova, escolheu o Egipto para receber o Campeonato Africano das Nações pela quinta vez em substituição dos Camarões que deveria ter sido o anfitrião mas que, por razões de segurança e atrasos na logística, decidiu retirar-se. Em meados de Julho saberemos então, quem será o novo rei (ou faraó) da África do futebol.
D.R.
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Egipto, Junho dE 2019
FotogrAFiA
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 7
EUA E MOçAMbIqUE qUErEM IMpUlsIONAr trOCAs COMErCIAIs
partes interessadas”, incluin do a sociedade civil e as ins tituições financeiras do Esta do, tais como o Banco Central e o Ministério da Economia e Finanças.
Cooperação. Os governos de Moçambique e dos Esta dos Unidos da América as sinaram um memorando de entendimento para im pulsionar as trocas comer ciais através e a remoção de barreiras ao investimento. Agricultura, pescas, turis mo, energia e infra-estru turas são, então, algumas das áreas incluídas no me morando assinado entre os dois países, rubricado pelo Presidente da República, Fi lipe Nyusi, e pela secretária de Estado adjunta do Comér cio dos EUA, Karen Kelley, durante a Cimeira de Negó cios EUA-África, que decor
ECONOMIA
reu em Maputo, em Junho passado. “Moçambique é o quarto país africano a ru bricar este tipo de acordos com os EUA”, disse Kelley. O memorando vai permi tir a identificação de pro jectos prioritários e o apro veitamento de instrumen tos de dinamização das tro cas comerciais.
“O Governo norte-americano tem à disposição instrumen tos financeiros e de incenti vo ao investimento das PME no exterior”, mas advertiu para o facto de “as compa nhias do país estarem a fa zer pouco aproveitamento dessas vantagens.”
Fundo Soberano. O Governo ain da não tem data para o Fundo Soberano a ser criado a par tir das receitas provenientes da indústria extractiva. A definição do modelo do Fundo a seguir, tem sido o principal ponto fraco para que o país possa avançar em definitivo com a criação deste fundo. O director nacional do Tesouro, Adriano Ubisse, admitiu du rante o debate nas jornadas científicas anuais do Banco Central que esta “é uma re flexão que está a acontecer e estamos a colher contribui ções da sociedade para o me lhor modelo que se ajuste a Moçambique.”
Financiamento. O Banco Mun dial anunciou um pacote de fi nanciamento de 47 milhões de dólares para gestão florestal nas províncias da Zambézia e Cabo Delgado. O investimento visa garantir condições pro pícias de gestão de florestas e terras em áreas já seleciona das naquelas duas províncias do centro e norte do país. Numa acção desenvolvida em coordenação com o Ministério da Terra Ambiente e Desen volvimento Rural (MITADER), o projecto inclui a promoção de plantações florestais em nove distritos da Zambézia e outros sete da Cabo Delgado..
Crescimento. FMI prevê que Moçambique atinja um cres cimento económico de dois dí gitos a partir de 2023, ano em
que se deverá iniciar a pro dução de gás natural liquefei to pelo consórcio liderado pela multinacional petrolífera ENI, na bacia do Rovuma, provín cia de Cabo Delgado. O repre sentante a instituição em Mo çambique, Ari Aisen, disse que “o crescimento a médio prazo de Moçambique vai dar um salto significativo tendo em conta as receitas resultantes da exploração do gás natural.” Aisen defende, contudo, “transparência na gestão dos recursos de forma a evitar a eclosão de conflitos e, para o efeito, recomenda um maior envolvimento de todas as
OE. Com o financiamento di recto ao Orçamento do Estado (OE) suspenso desde Abril de 2016, na sequência da des coberta das dívidas ilegais, o FMI abre novas perspec tivas para o país. Segundo o representante do FMI em Moçambique, um retorno ao financiamento a Moçambi que só será discutido “depois das eleições gerais de 15 de Outubro próximo.” No entan to, Aisen revela haver boas perspectivas para o retorno ao financiamento visto que, a recente Decisão Final de In vestimento (DFI) do consórcio liderado pela Anadarko, na Área 1 da bacia do Rovuma, no norte do país “trouxe um voto de confiança para a co munidade internacional”.
Reconstrução. A União Euro peia (UE) vai disponibilizar cerca de 10 milhões de dóla res para apoiar a segunda época da campanha agrícola. O valor destina-se as regiões centro de norte do país, asso ladas pelos ciclones tropicais Idai e Kenneth.
Paralelamente a isso, a or ganização das Nações Unidas para a Alimentação e Agri cultura (FAO) vai assegurar o acesso aos meios mecaniza dos através de vários projec tos em carteira. A informação foi avançada pelo coordena dor do programa de FAO em Moçambique, Alberto da Gra ça, durante o encerramento do seminário da primeira fase do projecto sobre a agri cultura e educação nutricio nal que teve lugar na cidade da Beira.
Alberto de Graça anunciou ainda que “vão ser disponibi lizadas um conjunto de linhas de crédito para que os pro dutores aumentem as áreas de cultivo.”
RADAR 8 www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019
Exportação. A Agência dos Es tados Unidos para o Desenvol vimento Internacional (USAID) vai apoiar os exportadores de produtos agrícolas afectados pelos ciclones IDAI e Kenneth, na reconstituição das suas ac tividades, decisão que resulta do facto de a agricultura ser “o motor da economia nas zo nas afectadas pelos ciclones.” O chefe do gabinete do Admi nistrador da USAID, William Steiger disse, então, “ser im portante restabelecer a base económica afectada pelos ci clones, e referiu que os Estados Unidos têm “as portas abertas para o investimento de em presas moçambicanas, no âm bito da cooperação bilateral.”
EMprEsAs
Missão empresarial. O Sector privado nacional pretende reforçar a cooperação com a classe empresarial italiana para a exploração eficaz de petróleo e gás. Nesse sentido, realiza-se entre 8 e 10 de Ju lho, uma missão empresarial à cidade italiana de Milão, com uma série de encontros com potenciais investidores interessados não só nas opor tunidades extractivas do país, mas também na agricultura e no agronegócio.
Segundo Eduardo Sengo, Di rector Executivo da CTA, a missão empresarial moçam bicana “será composta por pouco mais de 30 empresas, que terão a oportunidade de estabelecer parcerias de de senvolvimento de conteúdo local no país.”
COMErCIAlIZAçÃO DE prODUtOs AGrÍCOlAs
VIA lEIlÃO
Reestruturação. Ao longo do ano passado, o Governo mo çambicano concluiu os pro cessos de reestruturação de um conjunto de oito empresas públicas com as contas “no vermelho” ao longo dos últi mos anos.
Este esforço visa, anunciou o Executivo, “revitalizar o teci do empresarial do Estado.”
Há anos que um número con siderável de empresas pú blicas constituem um fardo pesado para o Estado, por não serem rentáveis, daí que o Governo decidiu iniciar com um longo processo de rees truturação. Em 2018, foram oito as empresas abrangidas, nomeadamente, a TDM/Mcel, LAM, PETROMOC, SEMOC, Medimoc, Transmarítima, Complexo Agro-industrial de Chókwè e FARMAC.
prOVÍNCIAs
Moçambique e União Euro peia (UE) estão em busca de oportunidades de negócios na província de Manica. Para o efeito, a capital da cidade de Chimoio aco lheu em Junho passado a 27ª sessão de diálogo polí tico entre as partes, even to que decorreu sob o lema “Moçambique e União Eu ropeia: por um diálogo po lítico no contexto dos novos desafios e oportunidades de negócio”.
Além de trocar impressões sobre a situação política bi lateral, as delegações “busca ram novas oportunidades de negócios”, avançou o Minis tro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, José Pacheco.
A Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM), em funcionamento desde 2014, tem como missão regular a transacção comercial, in termediando commodities através da realização de leilões presen ciais e virtuais.
A BMM definiu como prioridade para o presente ano, a realização de leilões de venda de produtos agrícolas. Para o alcance deste desiderato, a instituição já realizou, na localidade de Nanjua, Distrito de Ancuabe, Província de Cabo Delgado, o seu primeiro ensaio; es tando previsto a realização de mais dois (2): no Distrito de Malema, na Provincia de Nampula, e outro, na presente edição da FACIM, em Maputo.
Os leilões podem ser realizados de forma presencial ou vitual. Este último, permite que qualquer pessoa singular ou colectiva, inde pendentemente do lugar onde se encontra, possa participar do lei lão. Deste modo, realizar leilões virtuais aumenta a abrangência de participantes, quer sob ponto de vista geográfico como temporal. Contudo, neste momento, a BMM apenas realiza leilões presenciais, enquanto se prepara para montar e testar plataforma electrónica para os leilões virtuais.
telefone: (+258) 21 902503 ou pelo (+258) 84 3203371
Email geral: info@bmm.co.mz
Economia informal e os desafios do crescimento económico inclusivo
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique
a informalidade pode ser identificada nas ruas de Mumbai (Índia), num mercado em Bamako (Mali), nas favelas do Rio de Janeiro (Brasil), ou mesmo nos “Dumba Nengue” de Maputo (Moçambique). Definir o fenómeno significa encontrar um fac tor comum: a falta de reconhecimento ou protecção diante dos enquadramentos trabalhistas legais e regulatórios. A partir da década de 1990, mudanças económicas e no mer cado de trabalho, influenciadas pela globalização, fizeram com que a discussão sobre a economia informal ganhasse novos contornos. O surgimento de novas expressões desse fenómeno foi responsável por alargar ainda mais o nicho das actividades informais, possibilitando que o trabalho de estágio e o comércio ambulante fossem incorporados às ac tividades informais, ao ponto do debate centrar-se não na condenação ou aprovação da informalidade, mas na relação entre a economia informal e o trabalho decente, um conceito criado pela Organização Mundial do Trabalho (OIT) em 2002. A “economia informal” é considerada como o conjunto de ac tividades e práticas económicas legais realizadas por agen tes económicos total ou parcialmente ilegais (Feliciano, 2004). Antes, era comum usar o termo “sector informal”, populari zado na década de 1970 pela OIT em estudos sobre a situação económica no Quénia (OIT, 1972). Na altura, definir o sector in formal significava confrontá-lo com a formalidade a partir de sete factores, a saber: i) pequena escala produtiva; ii) proprie dade familiar; iii) dependência de recursos locais; iv) activi dade intensa do trabalho com tecnologia adaptada às condi ções locais; v) habilidades adquiridas fora do sistema escolar formal; vi) facilidade de ingresso na actividade, e; vii) opera ção em mercados não regulamentados (Swaminathan, 1991). Os sete itens arrolados anteriormente indicavam como as ac tividades informais eram realizadas, e como a produção era organizada, baseando-se nas previsões optimistas da OIT que acreditava que as intervenções estatais – como o treinamento dos trabalhadores e facilidades de acesso a crédito – teriam o condão de conter a expansão do sector informal. A realidade prática contou uma outra história e, longe de estancar o fe nómeno, em alguns países até o ampliou significativamente. Conceptualizar o sector informal como um domínio específico
colocava a informalidade à parte, como se estivesse separa da dos sectores primário, secundário e terciário da economia. Em contrapartida, o conceito de economia informal engloba o grupo de trabalhadores informais de diferentes áreas eco nómicas, urbanas ou rurais. As cinco principais causas que influenciam o alargamento da economia informal são: cresci mento da carga tributária, empregabilidade, rigidez da regu lação trabalhista, a problemática das transferências sociais e a moral tributária, esta última ligada às falhas do Estado em prover serviços públicos de qualidade e ligado a corrupção excessiva, burocracia e mau funcionamento das instituições. Esses factores estão ligados ao intervencionismo estatal que, numa economia social de mercado, promove o desenvolvimen to económico mas temperado com a redistribuição mais equi tativa dos recursos e a correcção das falhas de mercado. Quan do as intervenções do Estado falham ou são abusivas acabam por contribuir para a expansão da economia informal devido às falácias institucionais. Sobre este ponto, o papel do Estado é fundamental e imprescindível, quer por meio da tributação, regulação e provimento de bens públicos, quer pelo mecanis mo de implementação de políticas públicas que elevem o sa lário mínimo, melhorem os benefícios trabalhistas, criem pro gramas de transferências sociais transparentes, expandam as medidas de geração de empregos através do privado, apos tem na formação profissional e ampliem o acesso ao crédito. Há vários estudos que encaram a economia informal como prejudicial para o desenvolvimento económico dos países. Au tores como Tanzi (2002) referem que esse tipo de economias não favorecem o aumento das receitas tributárias, afectando negativamente a qualidade dos bens e serviços públicos pres tados, bem como subestima o cálculo do PIB, enviesando as esta tísticas sobre emprego e a situação económica real dos países. Apontam também que a expansão da economia informal gera efeitos negativos no mercado, propiciando uma competição in justa em benefício dos operadores da economia informal, ar gumentando que a informalidade estimula a falta de competi tividade, e desincentiva o investimento em novas tecnologias. No entanto, autores como Enste & Schneider (2004) mostram que mais de 66% da renda gerada na economia informal é gasta no
Mais de 66% da renda gerada na economia informal é gasta no sector formal, originando efeitos positivos para o crescimento da economia no geral
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 10
sector formal, originando efeitos positivos para o crescimento da economia no geral, além de que, na óptica do consumidor, há mais efeitos positivos que distorções, pois os bens e servi ços fornecidos não substituem os que vêm do sector formal. A economia informal tem crescido na África Subsaariana, empregando uma elevada percentagem da população activa. Evidências sugerem que estas economias são maiores que na América Latina e Leste e Sudeste da Ásia, ocupando cerca de 60% a 80% do emprego não formal. Nas cidades dos países em desenvolvimento, com manifestas dificuldades do Estado e do sector formal em dar respostas às necessidades básicas da po pulação, a economia informal supre essas falhas nas áreas da produção, distribuição, construção, serviços sociais e, sobretu do, emprego gerador de oportunidades salariais. Em Moçambique, aumentou o número de vendedores infor mais e há evidências de que uma grande percentagem da População Economicamente Activa (PAE) esteja a desenvolver actividades no sector não formal. De acordo com dados do INE (2004), os indivíduos envolvidos no sector informal correspon diam a 75,2% do total da PAE, sendo na sua maioria mulhe res, e o MPD (2015), através dos dados do IOF 2014-15, estimava que a economia informal contribuía com cerca de 40% para o PIB e que perto de 80% dos agregados familiares exerciam a sua actividade económica principal na economia informal. O Inquérito Contínuo aos Agregados Familiares (INCAF 201213) mostra que a informalidade é mais elevada entre as mu lheres e jovens rurais nas províncias do Centro e Norte do país, onde as oportunidades de emprego formal são mais li mitadas, e porque na zona Sul existe a tradição de trabalho migratório para a África do Sul. Este aumento exponencial resultou de factores como a crise económica, implementação das políticas de ajustamento estrutural, contracção do mer cado de emprego no sector formal e massivos despedimen tos de trabalhadores, aumento dos rendimentos disponíveis no sector informal e das necessidades dos consumidores de bens e serviços. Na verdade, a fraca capacidade do sector
formal gerar emprego e rendimentos em muitos países fez com que estas economias ganhassem um papel importante e acabassem por ser um meio amortecedor de tensões econó mico-sociais, assegurando a manutenção de níveis mínimos de coesão da sociedade através da criação de empregos e de oportunidades de obtenção de rendimentos para os gru pos desfavorecidos (Lopes, 1999). Nessa mesma perspectiva, Mosca (2009), refere que, a curto prazo, as economias infor mais contribuem para a mitigação da pobreza e do emprego, geram rendimentos e mantêm a sociedade em crise de inten sidade não tumultuosa, mostrando que a economia informal está articulada com a formal, reforçando-se mutuamente. A economia informal representa uma parcela tão significativa da economia moçambicana que não podemos dar-nos ao luxo de negligenciar ou marginalizar. Embora seja rotulada de sec tor informal, longe de estar a reduzir, tem estado a aumentar nos últimos anos, em virtude da crise económica, e está atrela da ao processo de urbanização, pobreza, fraca qualificação da mão-de-obra, êxodo rural, migrações e aumento demográfico. A característica mais importante da informalidade é o seu pluralismo, o que requer a compreensão da sua génese, ca racterísticas, consequências, alcance e implicações. A visão idílica de que é possível transformar mecanicamente a eco nomia informal em formal não toma em consideração que a economia informal é consequência e não causa do fraco de senvolvimento, e que só com o desenvolvimento da economia e sociedade, na sua amplitude, é que isso irá mudar. É vital aprimorar as estatísticas oficiais sobre o assunto para permitir um efectivo dimensionamento da economia informal e entender que, sendo um fenómeno que expressa estratégias de sobrevivência de milhões de pessoas em face da precarie dade e vulnerabilidade económica e social, esse tipo de eco nomias, ao ser alvo de políticas activas de emprego, podem ser um “viveiro de empreendedores e de futuros empresá rios”, funcionando como um potente motor do crescimento económico inclusivo em Moçambique.
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macro
Casas modulares são... modelo para o merCado imobiliário?
Quando ninguém espera pelo milagre de adquirir habitação a um preço razoável, eis que surge a possibilidade de alimentar esse sonho: as casas pré-fabricadas. Um conceito com potencial para vingar no mercado
ter casa própria está difícil. Porque a mão-de-obra está mais cara, assim co mo os materiais, na sua maioria, como sabemos, importados. E o mais certo é que, numa altura em que os imóveis es tão a ser transaccionados a valores as tronómicos, se torna cada vez mais uma raridade encontrar uma casa à medi da dos nossos sonhos e, principalmente, do nosso bolso. A resposta a este desejo poderia ser uma casa modular. Foi para isso, de resto, que elas foram inventadas, para serem alternativas às habitações tradicionais. Construídas em fábrica e ‘depositadas’ no lugar à escolha do com prador, e tudo numa questão de meses,
70%
Da construção moDular em moçambique ainDa é DireccionaDa a empresas, escolas e uniDaDes De saúDe, mas o granDe potencial está nos mercaDos habitacional e turístico
constituem-se, sem dúvida, num modelo de residência cujo preço constitui um dos principais aliciantes.
Em mercados como o dos Estados Unidos da América, por exemplo, existem já au tênticas cidades compostas apenas por casas pré-fabricadas.
os diversos tipos Há vários modelos de casas modula res. Algumas destas habitações são cons truídas a partir da reutilização de con tentores marítimos, mas outras há in teiramente pré-fabricadas e equipa das de acordo com o desenho do cliente. O diferencial é o custo reduzido, uma
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vez que uma casa modular ou pré-fa bricada pode apresentar um valor até 35% inferior a uma habitação tradicio nal em alvenaria, dizem-nos os espe cialistas do sector. Depois, a velocida de de entrega e adaptabilidade tam bém são factores que podem fazer in fluenciar a escolha de quem quer casa. Pode começar-se com um T1 térreo e aca bar-se com uma vivenda de dois anda res, bastando para isso ir adicionando pe ças à medida que a família for crescendo. “É fácil modificar as paredes e a estrutu ra e há uma enorme economia na mão -de-obra”, afirma João Pinto, director co mercial da Moz Modulo, empresa espe cializada no fabrico de casas modulares. Mesmo em Moçambique, são já várias as empresas que actuam neste nicho do mercado imobiliário. A Movex, uma em presa portuguesa que opera há 14 anos no país, é uma delas. Paulo Adelino, res ponsável da empresa para o mercado nacional, não tem dúvidas de que o con ceito de casas modulares ou pré-fabrica das “constitui uma excelente alternati va para suprir os problemas de habita ção que se tornou um exercício bastan te complicado nos últimos anos, sobretu do para os jovens recém-formados que procuram por uma vida independente. As casas pré-fabricadas têm mais-valias óbvias, uma vez que em duas semanas pode ter-se uma totalmente concluída, ao contrário de uma habitação tradicional”.
mercado está preparado?
Se, no passado, falar de uma habi tação modular ou pré-fabricada no país suscitava alguma estranheza, hoje em dia esse cenário está a mudar, e até já existem exemplos deste tipo de infra-estrutura.
Algumas são agências bancárias, exis tindo também instituições de ensino, saúde e estabelecimentos comerciais que têm apostado neste novo modelo. E os motivos não seriam outros que não a rapidez na construção, a amovibilida de da estrutura, a possibilidade de au mento do espaço, e a pouca necessida de de manutenção, tendo em conta que as paredes e o tecto já vêm com a com ponente de isolamento térmico e acústi co, ao contrário de uma casa em blocos. Nesse sentido, Paulo Adelino acredita que “será normal que este tipo de ha bitação venha a provocar uma mu dança no conceito de habitação em Mo çambique porque persistem enor mes necessidades a este respeito”. A Minimal Living Box é uma startup
“Esta é mais do que uma solução sustentável para o país, tomando em consideração que os problemas de habitação, sobretudo para os jovens, são muito sérios”, diz Marta Uetela, que lidera uma startup que tem investido na habitação modular
que tem investido neste conceito, apre sentando soluções que assentam num design arrojado de contentores maríti mos transformados em habitações, es critórios e instalações minimalistas para o desenvolvimento de negócios. Para Marta Uetela, que lidera um pro jecto distinguido como melhor Star tup do ano de 2018, num concurso de senvolvido pela Total Moçambique, “es ta é mais do que uma solução sustentá vel para o país, tomando em considera ção que os problemas de habitação, so bretudo para os jovens, são muito sérios. Através deste projecto é possível adqui rir uma habitação por apenas 300 mil meticais, ao contrário de uma casa tra dicional que pode custar mais do que um milhão de meticais”, assinala. “Estamos a falar de uma solução sustentável, acessí vel e flexível, pois é mais económico ad quirir um módulo de uma casa do que importar, por exemplo, um carro do Ja pão”, explica Marta Uetela.
No entanto, a componente habitacional ainda não parece ser, de todo, a mais amadurecida no negócio das modulares no país. Paulo Adelino dá o exemplo da Movex. “O volume do negócio que temos é de cerca de 70% para empresas, Estado e ONG´s, e apenas 30% para clientes par ticulares”, revela.
porquê?
Há uma relação indesmentível entre o crescimento deste segmento e o desen volvimento económico do mercado onde se inserem, nomeadamente ao nível das infra-estruturas.
O que faz uma casa modular mais bara ta é a disponibilidade de materiais, de um cluster industrial que permita, no fabri co, a reduzida necessidade de importação de matéria-prima e equipamentos e, es sencialmente, uma boa grelha de distri buição cujos custos dependem directa mente da existência de uma rede de vias de acesso de qualidade.
À E&M, os agentes ligados a esta área imobiliária em concreto explicam que no mercado nacional nenhuma destas condições existe, o que acaba por elimi nar a principal vantagem da casa mo dular: o preço. “Por isso é que a tendência continua a ser de construção tradicional pois, de uma forma geral é mais barata em relação às construções modulares”. Segundo Carlos Henriques, consul tor na área imobiliária e tecnológica, o mercado modular “só se torna mais barato quando a infra-estrutura tem uma base (uma fábrica) onde se pode
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macro
O que faz uma casa modular mais barata é a disponibilidade de materiais, um cluster industrial, uma boa grelha de distribuição e, essencialmente, uma rede de vias de acesso de qualidade
construir todos esses módulos. De pois, ainda há facilidade e bons preços de transporte.”
É preciso ver que os custos logísticos aca bam, impreterivelmente, por tornar es tas casas mais dispendiosas, ou na me lhor das hipóteses, com igual preço das habitações tradicionais em alvenaria, na medida em que o transporte do ma terial para o local da instalação da ca sa acaba por torná-las pouco competi tivas, alienando assim uma das gran des vantagens que elas apresentam no mercado: o seu preço competitivo em relação às casas tradicionais. “Sem es ta grelha logística, os diversos agen tes do mercado vêem-se obrigados a importar todos os materiais necessá rios para a construção e, não é segre do, o transporte de cargas desta dimen são no nosso país é consideravelmen te caro”, considera. Carlos Henriques sublinha ainda que “em alguns casos che
ga mesmo a ser preciso montar uma fá brica ou um armazém no local para fazer todas as estruturas que serão aplicadas.” O que também implica custos mais ele vados, claro.
Falta de conhecimento ainda é um desafio Perfilhando a mesma posição, Paulo Ade lino também entende que os valores pa ra assemblar uma casa modular ou mó dulos pré-fabricados, em relação a uma convencional casa em alvenaria, ba sicamente são idênticos. Porém, expli ca, permanecem algumas vantagens: “Apesar de tudo, e mesmo com preços pouco competitivos face a outros mer cados em que este modelo de casa está mais avançado na sua integração no sec tor imobiliário, elas são de fácil e rápida construção, e há a questão da diversida de dos materiais utilizados.”
Não há dúvidas de que as casas modulares conquistaram o seu lugar no merca
do imobiliário de inúmeros países por esse mundo fora mas, no mercado mo çambicano, há ainda um longo caminho a percorrer.
Mas se a aposta num conceito mo dular feita em pequena escala não vai alterar o modelo do negócio que hoje se vê, isso tenderá a mudar.
Até porque, explica Carlos Henriques, “se ainda não estamos preparados pa ra que sejam mais baratas pois ain da há pouca procura até por ques tões culturais, é inevitável uma altera ção da forma como se olha para o terri tório e para o que se pretende de uma habitação de uso diário ou de férias. Se começarmos a pensar em grande es cala, no turismo ou em zonas de gran de necessidade de construção rápida e de qualidade, como irá acontecer em Moçambique nos próximos anos, então sim, podemos dizer que a construção modular é a solução que apresenta mais rapidez, fiabilidade e vantagem no rácio preço-qualidade.”
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 14
Paulo Adelino, responsável da Movex Moçambique, explica que “mercado ainda está em crescimento”
texto hermenegildo langa fotografia jay garrido &
d.r.
úmeros em conta
As mArcAs de ÁfricA
em maio passado, em Joanesburgo, num evento que juntou líderes da indústria africana, organizado pela JSE em parceria com a Geopoll, Kantar e Brand Leadership, a Brand Africa anun ciou as 100 marcas mais importantes. Na sua 7ª edição, Nike, MTN, Dangote, Ecobank e BBC foram reconhecidas como as mais admiradas de um continente em que as marcas africanas têm perdido terreno numa luta cada vez mais global. “É decep cionante que, apesar de seu vibrante ambiente empresarial, África não esteja a criar novas marcas competitivas para aten der às necessidades de seu crescente mercado consumidor”, diz Thebe Ikalafeng, fundador e presidente da Brand Africa.
As líderes de segmento
A etíope Anbessa é a única marca africana ‘top of mind’ de segmento para os africanos
É o peso das marcas norte-americanas, que cresceram 17% este ano, impulsionadas pela entrada de marcas fortes, como a # 71 Levi’s,
O grande destaque é a subida de 9 lugares da etíope Anbessa, a maior produtora de calçado no continente africano
O ‘TOP 3’ de África mtn telecomunicações áfrica do sul anbessa roupa e acessórios etiópia dangote indústria nigéria
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 16
N
28%
14%
a # 91 Chevrolet e a Pepsi que estão entre as 20 entreantes. As marcas africanas caíram para um mínimo histórico nas 100 mais admiradas no continente. A África do Sul (5) e a Nigéria (4) lideram os 7 países africanos, incluindo Etiópia, Quénia, Uganda, Zâmbia e Zimbabué, cada um com uma marca no Top 100. bebidas não alcoólicas coca-cola eua desporto nike eua tecnologia samsung coreia do sul luxo gucci itália bebidas alcoólicas guiness irlanda restauração kfc eua roupa e acessórios anbessa etiópia automóveis toyota japão cuidados pessoais nivea alemanha alimentação nestlé suíça
41%
A Europa domina o ranking, com 41 marcas, das 100 mais mencionadas e até cresceu 2,5% face à edição passada. Em segundo vêm os Estados Unidos (28) seguidos da Ásia com 17 marcas.
Marcas de desporto dominam as 10 marcas mais reconhecidas em África. Segue-se a tecnologia. A primeira e única africana é a gigante das telecomunicações MTN
nike desporto eua
adidas desporto alemanha
samsung tecnologia coreia do Sul
coca cola bebidas eua
O ‘TOP 10’ global tecno tecnologia china puma desporto alemanha apple tecnologia eua mtn telecomunicações áfrica do sul gucci luxo itália lg tecnologia coreia do sul
É um ranking anual elaborado pela Brand Leadership Group em parceria com a Brand Finance, a TNS e a Geopoll. A pesquisa tem uma amostra representativa de entrevistados com 18 anos ou mais, e realiza-se em em 25 países africanos, cobrindo todas as regiões económicas africanas.
Colectivamente, a amostra representa cerca de 80% da população do continente e 75% do seu PIB. No geral, a lista é calculada a partir de 15 000 menções de marcas em África e mostra consistência anual, com 80% das 100 maiores marcas no Top 100 das Marcas Mais Admiradas nos anos anteriores.
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019
Q&A: O Que é O BrAnd AfricA 100?
Paradoxo do “Machine Learning”: privacidade e consentimento logarítmico
Bernardo Crespo • Director Académico da IE Business School
atribui-se a nietzsche a citação “não me incomoda que me tenhas mentido, incomoda-me que a partir de agora não posso confiar em ti”. O caso do acesso aos dados do Facebook nas elei ções dos EUA ou no referendo do Brexit contribuiu para a que bra de popularidade e confiança da rede social que, pela primei ra vez na sua história, perdeu utilizadores na Europa em 2018. É possível que, na região onde desenhámos a regulação mais restritiva do planeta em matéria de privacidade de dados, não perdoemos deslizes? Colocámos muito o foco em proteger a propriedade dos dados. O erro estava, está e continuará a es tar no uso desses dados pessoais como parte de interferências a nível agregado. O erro está na tirania do algoritmo. Talvez falte supervisionar o uso que se faz destes dados a nível agregado e deixar de ter discussões estéreis sobre a propriedade dos dados ao nível individual. Gostemos ou não, a regulação é um substituto imperfeito da responsabilidade individual e da confiança. Os nossos dados já não são apenas nossos. Viver na era digital representa entregar informação a cada interacção. Esta é a base do novo contrato social na era digital. A alternativa teria sido uma Internet paga. O crescimento exponencial dos dados nesta 4ª Revolução In dustrial, e a facilidade de gerar aprendizagens graças à tec nologia (Inteligência Artificial e “Machine Learning”), deixam aos humanos um falso espaço de vitimização. Se deixamos que pesem as correlações, corremos o risco de que na busca do modelo de sucesso empresarial perpetuemos o enviesamento. Só nós, humanos, podemos colocar perguntas que desenvolvam novas realidades. Só quando um humano se questiona sobre a falta de diversidade podem ser alteradas as consequências dos enviesamentos acumulados em séries históricas. Talvez a máquina não tenha de aprender sozinha. E se quem alimenta a máquina apenas tem um foco, corremos o risco de que o traba lho de pessoas tão valiosas, como engenheiros de dados ou ma temáticos, apenas seja validado pelo critério executivo mais oportunista. E essa deriva já a conhecemos: apenas vai preva lecer o crescimento ou a eficiência como indicadores de êxito. A batalha está no acesso, posse e rectificação do algoritmo que regula o comportamento da máquina. De outro modo, podemos cair no erro de perpetuar enviesamentos e aceitar decisões
quando um algoritmo se torna a entrada de dados para outro algoritmo. O desafio está na transparência e responsabilidade. Penso que, nos próximos meses, a discussão vai girar em torno da regulação, supervisão e criação de maior espaço de trans parência na gestão de modelos de dados. É possível que sur jam novas plataformas como “bancos pessoais de dados” que explorem o conceito de portabilidade? Ou que as empresas tenham a obrigação de contar com o apoio de um especialista para garantir a supervisão dos algoritmos? Da mesma for ma, começamos a falar de “Independent Data Expert Auditor”? Não seria uma má IDEiA.
Um mundo cheio de profissionais “STEM” (Science Technology Engineering and Mathematics) tira a naturalidade a algo tão valioso como o progresso. O equilíbrio talvez esteja na combi nação de profissionais das “artes” e profissões “stem”. O novo talento híbrido que procuramos encaixa mais num sincretis mo de humanismo e tecnologia. São as pessoas, na minha opi nião, que devem continuar a ser responsáveis pelas decisões que se tomam quando se antecipam consequências evolutivas a partir do trabalho com dados pessoais. A nova onda tecnoló gica e o uso massivo de dados devem ter a visão filosófica dos humanos como última garantia. Esta nova era traz consigo a tirania do algoritmo como a nova engrenagem que define o preço de produtos mediante a utili zação de modelos dinâmicos de fixação de preços. Estamos de pendentes de um modelo Montecarlo, teoria de jogos ou cadeia de Markov. É possível e o ser humano deve ter acesso ao re sultado do modelo. E as empresas que decidam expor a trans parência dos seus modelos serão geradoras de confiança. Não, temo que não. Já não temos o legítimo direito de protestar quando alguém utiliza os nossos dados. Há muito tempo que aceitámos, como parte do contrato social que representa viver na era digital, entregar os nossos dados em troca de algo. Con tudo, temos a legítima responsabilidade de zelar pela onda de dados e tecnologia superando essa falsa vitimização que sobre voa a inteligência artificial. Apenas assim poderemos encur tar o “gap” existente entre a evolução exponencial dos dados e o limitado consentimento dos humanos. “Machine learning”? Sim, e que o humanismo ensine a máquina.
Os nossos dados já não são apenas nossos. Viver na era digital representa entregar informação a cada interacção. Esta é a base do novo contrato social na era digital
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 18
Nação
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 22
Gás natural
Finalmente no rumo certo
A Decisão Final de Investimento do projecto da Área 1 da Bacia do Rovuma vai mudar a face de Moçambique. Como há anos já sabíamos, apesar de só agora finalmente termos percebido quando isso irá acontecer. Os primeiros passos da maior transformação da história do país já começaram a ser dados. Saiba quais serão os próximos e com que consequências
“um momento histórico para moçambique”. Foi a expressão mais ouvida no dia 18 de Junho, na cerimónia de apresen tação da Decisão Final de Investimento do projecto da Área 1 Moçambique LNG, liderada pela Anadarko, “e o início do ca minho para a criação de milhares de postos de trabalho, de um crescimento económico significativo e a confirmação do potencial para ser um dos maiores fornecedores mundiais de energia lim pa durante décadas. É realmente um dos projectos mais importantes e trans formadores da história do nosso país.” É na pequena península de Afungi (dis trito de Palma), em Cabo Delgado, que moram as esperanças de um país que é grande mas quer ser maior. Com uma extensão calculada de sete mil hectares, é ali que a multinacional norte-ameri cana pretende desenvolver um parque industrial para o processamento de gás natural liquefeito (LNG), que envolve rá dois trens de GNL de 6,44 milhões de toneladas por ano de capacidade, cada um conectado aos campos de produção marítima por meio de um gasoduto de 40 quilómetros. A ‘colheita’, ou o gás, se rá extraído de um conjunto de 20 poços
75
biliões de pés cúbicos (Tcf)
Os recursOs recuperáveis de gás natural na área 1, Onde a anadarkO vai desenvOlver um dOs maiOres prOjectOs de gnl dO mundO. O prOjectO de explOraçãO custa entre 20 e 25 mil milhões de dólares e é O maiOr investimentO privadO de sempre em áfrica
submarinos, alguns deles preparados para produzir 2 mil milhões de pés cúbi cos diários. O plano de desenvolvimento prevê, ainda, duas linhas de liquefação, instaladas em terra e está previsto o desenvolvimento de uma linha de abas tecimento de gás doméstico para o mercado nacional.
O investimento, já o sabemos, fica num valor entre os 20 e os 25 mil milhões de dólares. “Agora, o presente encontra-se com o futuro para projectar os caminhos que irão alavancar Moçambique na re gião e no mundo. Será o nossos legado para o futuro”. O impacto será tangível e cria expectativas para o futuro. Só com a receita das royalties e mais-valias ne gociadas com o consórcio da Área 1, será gerada uma receita, partir de 2025, ano de início da exportação efectiva, uma receita a rondar os 2,1 mil milhões de dólares por ano, ao longo de trinta anos. Claro que o que fazer com essa receita, merece debate, e o presidente não a es queceu, no seu discurso. Já lá vamos. Voltando ao negócio, o anúncio do dia 18 de Junho sublinhou uma convicção que tem vindo a ganhar forma nos últimos me ses: a indústria do GNL está a responder
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 23
Nação
a uma perspectiva do aumento da demanda global, particularmente pro veniente da Ásia, apesar da quebra nos preços da commodity registada nes te ano (apesar da subida da cotação do gás nos mercados nos últimos dias do mês). A prova-lo, a corrida dos maiores produtores de GNL em aprovarem me ga projectos antes que o mercado seja considerado excessivamente suprido. Só nos últimos nove meses, de Outubro para cá, quando a Royal Dutch Shell as sinou seu projecto de 14 mtpa de LNG no Canadá, um total de 60 mtpa (milhões de toneladas por ano) em capacidade de liquefação, incluindo os 12,88 mtpa da Anadarko, foram anunciados o que desencadeou uma onda há muito aguar dada de aprovações de projectos de produção. Moçambique agradece esta boa onda.
Quando a FDi passou a ser DFi
O momento histórico, em que a sigla em inglês passa a ser dizível em portu guês. A final Investment Decision, passou a ser Decisão Final de Investimento. Os prenúncios sucederam-se, nos últimos meses.
Em Setembro passado, Gonzalo Cabre ra, global manager de GNL e análise de mercado da Anadarko, sublinhava o ar ranque do projecto e da construção de habitações (fase do reassentamento) mas colocava o foco na conclusão dos SPAs (Sales purchase Agreements, ou con tratos de venda, em português). Essas garantias de venda, a longo prazo, mos traram-se essenciais para funcionar como colateral na, também ela mega -operação de busca de financiamento de 14 mil milhões de dólares (os restantes, resultam de capitais próprios da Anada rko e parceiros de concessão).
A esse nível, contratos de venda como os recentemente alcançados com a Jera, de Taiwan, ou a Pertamina, a empre sa de energia estatal indonésia foram decisivos. “Espera-se que sejam dos mercados de gás natural que mais cres cem na Ásia”, escrevia Mitch Ingram, vice-presidente executivo da Anada rko International, aquando do fecho dos acordos de venda, numa nota publica da pela petrolífera. Mas, para lá desses dois acordos firmados há poucos meses, só no neste primeiro semestre do ano, a Anadarko anunciou SPA’s com outros gigantes como a Bharat, a Shell, a Tokyo Gas e Centrica ou a chinesa CNOOC, a maioria deles por períodos longos que variam entre os 15 e os 20 anos.
lA WAlker
da anadardo
“Projectos desta magnitude requerem coordenação, planeamento e execução, um trabalho de amor de mais de uma década. Este é um milestone para o pais, a região e o mundo, um momento transformativo cujas receitas podem ter impacto global”
Frank Harris, director da Wood Ma ckenzie, consultora especializada em recursos energéticos, enumera como “os acordos comerciais flexíveis, incluindo um acordo de compra inovador com a Tokyo Gas e a Centrica, foram fundamen tais para garantir ao projecto uma lista de clientes de alta qualidade num mer cado lotado de GNL.”
momento em movimento Foi um movimento que prenunciou o momento que se seguiria, com oclusão no dia 18 de Junho. Mas, ainda antes da cereja no topo do bolo, e do anúncio da DFI, ainda, o Conselho de Ministros de Moçambique aprovava a estrutura de financiamento do projecto GNL Golfinho
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 24
Gás natural
CEO
Atum, e o investimento total entre os 20 e os 25 mil milhões de dólares financia dos, num acordo de financiamento que não pressupõe qualquer garantia sobe rana por parte do Estado. Na tenda erigida na Universidade Eduardo Mondlane para acolher a cele bração, Al Walker, o chairman e CEO da Anadarko, falava de “um processo lon go que representa não a oportunidade de uma geração, mas a oportunidade de uma vida”. E continuava referindo que, ao longo de anos, se assistiu a “um mo delo de colaboração em projecto entre o INP, o Ministério dos Recursos Minerais e Energia e os povos da península de Afungi e de Cabo Delgado. Projectos des ta magnitude requerem coordenação,
planeamento e execução, um trabalho de amor de mais de uma década. Este é um milestone para o pais, a região e o mundo, um momento transformativo cujas receitas podem ter impacto global. Cm o tempo o PIB de Moçambique irá duplicar, serão criados milhares de em pregos o que irá gerar sustentabilidade. Em termos ambientais, numa altura em que o mundo procura novas fontes ener géticas, o LNG está bem posicionado a esse nível e servirá de catalizador para novas oportunidades no downstream”, enunciou o CEO de uma empresa que, no final de 2018, tinha aproximadamente 1,47 mil milhões de barris de reser vas comprovadas, tornando-se uma das maiores em atividade na exploração e produção e que passa, também ela, por uma fase de mudança, com a aquisição por parte da Occidental Petroleum Cor poration que já anunciou a venda dos activos de oil&gas da Anadarko em Áfri ca (entre os quais Moçambique), ao grupo Total, por 8,8 mil milhões de dólares. Walker não foi o único exultante. “Este é um dos projectos mais significativos que a empresa já realizou, e isso é verda de não apenas pelo tamanho do esforço, mas também por seu valor transfor macional óbvio para este país e para o mundo”, dizia Tatsuo Yasunaga, CEO da japonesa Mitsui, o segundo opera dor da Área 1, com uma quota de 20%. “Continua a ser uma grande fonte de or gulho para a nossa empresa e os nossos colaboradores o papel que ajudámos a desempenhar para tornar este anún cio possível. Agora é hora de executar, e acredito que esta parceria está bem po sicionada para fazer exactamente isso. ”
engenharia financeira
Esta DFI tem, em si, toda uma engenhosa e intrincada formulação. Da negociação, à concretização e implementação passo a passo, de uma forma tão estratégica quanto complexa. A começar pelo fac to de a construção levada a cabo pela joint venture em que a Anadarko (Área 1) ter ligação com a da Área 4 (Exxon Mobil-Eni), nomeadamente ao nível dos projectos onshore de GNL. É que os ope radores da Área 1 são responsáveis pela construção de instalações de apoio a serem partilhadas entre as áreas, incluindo uma instalação de descarrega mento e um terminal marítimo de GNL. O que abre, naturalmente, mais uma porta para o próximo DFI a ser revelado, crê-se que no próximo trimestre, pela joint venture da Área 4, (Moçambique
O que MOçaMbique ganha cOM a Área 1?
Para além dos investimentos sociais já anunciados, como o reassentamento das populações, há outros benefícios directos para a economia local e nacional
2 100 000 de dólares de investimento directo 25 000 000
milhões de dólares por ano em mais valias
45 000
empregos na construção e na fase de implementação
300
100 MMcf/d para rede de gás doméstico na fase 2
MMcf/d para rede de gás doméstico na fase 1
50%
dos fornecedores ou cerca de 960 empresas, serão nacionais
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empregos directos para moçambicanos
5 000
Nação
1
a anadarko Moçambique área 1 é uma subsidiária integral da anadarko Petroleum Corporation, e o operador maioritário da área offshore Em %
anadarko mitsui e&p mozambique área 1
rovuma área 1 ongc videsh beas rovuma energy mozambique indústria extractiva
ventures mozambique b v
mozambique area 1
O histórico acordo de financiamento ratificado por Max Tonela e Al Walker na presença do presidente Nyusi não pressupõe qualquer garantia por parte do estado Moçambicano
Rovuma Venture SpA), e que está pro jectada para uma capacidade máxima de 15 mtpa por ano, mas que, numa pri meira fase ficará pelos 12. Essa planta produziria, liquefazia e comercializa ria gás de três reservatórios no bloco offshore da Área 4, sendo que dois deles reservatórios atravessam a fronteira com a Área 1 adjacente. Esse DFI, tem um investimento previsto que anda na casa dos 23 mil milhões de dólares e tem início de produção prevista para 2025. E é claro que toda a operação se segue a uma outra, ocorrida em 2017, anunciada pelo consórcio Eni- ExxonMobil, o pro jecto de GNL flutuante offshore de Coral Sul, na Área 4, com capacidade de até 3,4 mtpa por ano. “Com o forte crescimento da demanda de GNL na Ásia, agora che gou a vez de Moçambique”, escreve Jon Lawrence, analista da equipe de offsho re da Wood Mackenzie para a África subsaariana. “Com 20 mil milhões de de dólares, a FID de hoje é a maior inves timento já registada em petróleo e gás na África Subsaariana. E Moçambique vai ficar com duas das três operações mais valiosas valiosas do ano na área do
petróleo e gás, logo a seguir ao Arctic LNG-2 na Rússia, a fase dois do projecto Novatek anunciada em Abril, avaliada 25,5 mil milhões de dólares, que terá capacidade anual de produção de 19,8 milhões de tmpa.
‘2 bis’ de receita anual para o estado. e com tendência a aumentar Claro que com um investimento já ga rantido desta dimensão, e um outro quase da mesma dimensão a ser fe chado nos próximos meses, a economia se vai ressentir. O FMI prevê cresci mento económico para Moçambique na casa dos dois dígitos a partir de 2023, quando se iniciar a produção de FGNL (plataforma flutuante que será a pri meira a entrar em funcionamento, em Novembro de 2022) do consórcio lidera do pela ENI, na bacia do Rovuma. E com um crescimento na casa dos 11%, em pouco mais de uma década o PIB actual irá duplicar. No entanto, Ari Aisen, re presentante do FMI em Moçambique, é cauteloso, e diz que a arrecadação de receitas para os cofres do Estado “ain da levará algum tempo”, diz. E coloca
a tónica no impacto macro económico, e em algumas acções a seguir. “Acredi tamos que o Banco de Moçambique pode continuar os cortes nas taxas de juro de política monetária, interrompidos em Dezembro de 2018, com efeitos positivos sobre o financiamento das empresas e so bre o rendimento das famílias”, defendeu. Fausio Mussa, economista chefe do Stan dard Bank, alinha pelo mesmo diapasão. “em função do volume de entrada de fundos que resultam do investimento, o Banco Central estaria confortado em fa zer um corte na taxa de juro, dependendo da magnitude dos fundos que ficarão disponíveis no mercado moçambicano”. As empresas agradeceriam, e é por is so que a banca vem esperando, por uma espécie de onda de choque positiva dos mega investimentos, que se sucedam em outros, de média dimensão, esses sim ala vancados pela banca nacional.
Ao nível cambial, prevê-se, igualmente, um impacto imediato com algum bene fício para a economia moçambicana, ou seja, “a melhoria das perspectivas de es tabilidade macroeconómica, através da estabilização da moeda e da inflação”. No entanto, tal como Aisen, recomen da “cautela na gestão de expectativas”, até porque, refere, “há um impacto que pode ser imediatos e outro podem ocor rer num longo período”, indicou. Olhando ao quadro global, é mesmo preciso ter
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 26
Gás natural
OS OpeRADOReD DA ÁReA
26,5 20 15 10 10 10 10 8.5
enh
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FONTE Anadarko
Nação
UM pROCeSSO LONGO... MAS COM FIM (OU pRINCÍpIO) À VISTA
Quase uma década e meia irá passar entre a descoberta das terceiras maiores reservas de gás natural do mundo e a exportação da primeira remessa de GNL
ano da descoberta de uma das mais importantes descobertas de gás natural nos últimos 20 anos na área Offshore 1 da Bacia Hidrográfica do rovuma.
Finalização dos contratos com o Governo e início da operação de reassentamento.
2017 2019 2024
Fase de encerramento dos financiamentos, dos contratos de construção e de preparação do local de construção.
anúncio da Decisão Final de Investimento a 18 de Junho. até ao fim do ano prevê-se o início da megaconstrução Onshore e Offshore.
2010 2018 2020-22
Fase de assinaturas dos contratos de distribuição, continuação da construção, início do drilling e do recrutamento massivo.
Aumento exponencial da receita do estado e uma anunciada duplicação do pIB nos próximos dez anos levantará o desafio do desenvolvimento, já que o crescimento, esse, tem data marcada
calma, assegura. “O impacto sobre a ac tividade económica no geral só será relevante a partir do momento em que o país começar a exportar o gás natural, entre finais de 2023 e 2025: Aí poderemos ver a tal aceleração do PIB“, concluiu. A tal, que será impulsionada pelo au mento da receita. A partir de 2025, o país começa a ter uma receita a ron dar os 2,1 mil milhões de dólares por ano (só com a Área 1) e prevê-se que, a par tir do início da década de 2030 (e com o aumento gradual de produção que tam bém está previsto), a receita do Estado atinja os 3 mil milhões de dólares anuais. Depois, a criação de postos de trabalho é sempre um contribuinte indirecto do crescimento e ela foi muito mencionada na apresentação do DFI, com o projecto GNL Golfinho Atum a empregar já ho je mais de 2 000 pessoas, 800 das quais originárias de Palma, estima-se que no total, o projecto venha a criar mais de 5 000 postos de trabalho directo e 45 000 empregos indirectos.
Nyusi não esqueceu esse princípio e o o “interesse em que se invista no ca pital humano porque é através do conhecimento que o filho de um operá rio se pode tornar presidente. Há 960 empresas moçambicanas aptas a fa zer negócios com a Anadarko e seus parceiros na fase de construção. É uma oportunidade única de agregar valor aos mega projectos e de fazer crescer a economia, e diminuir as desigualdades sociais apostando na agricultura, turis mo, infra-estruturas, educação e saúde. Os resultados não sao para hoje ou ama nha, virão a seu tempo. Levará tempo até ao retorno do investimento feito”, dis cursou, relembrando alguns dos grandes desígnios do país, quando a riqueza pro metida pelo gás natural ainda estava longe de ser realidade. Voltando à história, esta está só no prin cípio, numa espécie de era uma vez de um presente que não se repete. Se vai ser conto de fadas ou livro do desassos sego, só o tempo o dirá.
Em finais do ano, ainda sem data marcada, acontecerá o primeiro shipping de Gnl
Karen Kelley, secretária adjunta do co mercio dos Estados Unidos voltava à história. “A Anadarko fez história pa ra Moçambique e os EUA”. O presidente
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Gás
natural
FOtOGraFIa Jay Garrido & d.r.
tExtO Pedro Cativelos
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 30 Gás natural
Na voz de...
“Estamos obrigados a uma gEstão consciEntE dos rEcursos”
omar mithá PCA da ENH - Empresa Nacional de Hidrocarbonetos
a decisão final de investimento (dfi) da Anadarko, na Bacia do Rovuma, dissipa to das as dúvidas sobre a con cretização do arranque, den tro de quatro anos, da produ ção e exportação de gás natu ral liquefeito. Ao mesmo tem po, começa a atribuir-se sen tido prioritário a todas as dis cussões sobre o pós-explora ção, nomeadamente o velho tema sobre o que fazer para tornar as receitas do gás num veículo efectivo de promoção do desenvolvimento.
Para o PCA da ENH, Omar Mi thá, os cerca de 25 mil milhões de dólares que a Anadarko vai investir no seu projecto da Área 1 terão “efeitos trans formadores significativos na economia e na sociedade.”
Depois da DFI anunciada em Junho passado, deixa de ha ver dúvidas de que Moçam bique se vai transformar numa potência energética de nível mundial, concorda?
A DFI é um sinal inequívoco de que este projecto será im plementado e está pronto pa ra ser desenvolvido, já que encerra em si uma etapa de muita complexidade. Primei ro tecnológica, depois na ga rantia da venda do gás que será produzido e na questão do financiamento, uma vez que estes projectos têm gran de necessidade de alavanca
gem financeira externa). Por tanto, quando se chega a esta fase, todas as etapas críticas necessárias para a sua imple mentação estão prontas. é um projecto com amplitude subs tancial, com efeitos transfor mativos sobre a economia mo çambicana, que serve para si nalizar ao mundo que Moçam bique passa a ser uma grande província de petróleo e gás a partir deste momento.
E agora, o que se segue?
O ano de 2022 dará início à produção do projecto do bar co flutuante que está neste momento em contrução e provavelmente com grau de acabamento acima de um ter ço. já o da Anadarko poderá levar 4 anos de construção podendo iniciar-se a produção até 2024. Depois o da Exxon Mobil provavelmente estará em funcionamento em 2025. teremos três anos consecuti vos em que poderemos ver concretizarem-se três projec tos multimilionários...
... Que fazem o país entrar na tabela, e logo pelo topo, dos maiores exportadores de gás do mundo. Estamos pre parados para isto?
A decisão da Anadarko mostra que Moçambique é capaz de acolher e estruturar grandes investimentos. No mercado internacional, estes factores
O PRIMEIRO DEsAFIO é, DE FACtO, sABER ONDE IREMOs BusCAR gRANDE PARtE DOs BENEFíCIOs.
NuMA PRIMEIRA FAsE, PRECIsAMOs DE sABER quANtOs MOçAMBICANOs PODERãO sER EMPREguEs NO PERíODO DE CONstRuçãO DOs PROjECtOs
levam a que as reservas de gás que temos sejam vistas como alternativas ao abas tecimento dos mercados do Oriente, nomeadamente o japão, China, Coreia do sul e índia. é também uma alter nativa importante para as economias que estão preocu padas com a segurança ener gética nas próximas décadas. Deste modo, entrando no mer cado concorrencial, Moçam bique passará a ser um dos maiores produtores de LNg do mundo, de facto.
Nesta altura, que números são possíveis avançar sobre os investimentos da Anada rko, bem como o impacto no crescimento económico da entrada em operação dos projectos das outras empre sas (ENI e Exxon Mobil)?
temos um projecto cuja DFI foi tomada em 2017 e que es tá neste momento em fase de construção, que é o do barco flutuante da Área 4 em que a ENI é o operador. também na Área 4 temos um projecto em terra cuja operação téc nica está com a Exxon Mobil, com capacidade de 15,6 mi lhões de toneladas por ano; e um terceiro projecto, na Área 1, operado pela Anadarko, também onshore, cujo inves timento poderá estar orça do em 25 mil milhões de dóla res para a produção de dois
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módulos de LNg são no total três projectos com capacida de de 30 milhões de toneladas por ano, uma quantidade sem precedentes em toda a África subsaariana. O impacto des tes projectos será um cres cimento económico substan cial. Na fase de investimento, terão eco na procura de bens e serviços, na criação de em prego e, por arrastamento, ao nível do consumo. Na fase operacional é expectável um crescimento significativo do PIB através do canal das ex portações e de alguns inves timentos, e depois pelo canal fiscal, podendo desencadear um processo de despesas pú blicas em infra-estruturas e outros meios que vão estimu lar a procura agregada. No seu conjunto, os projectos, que estão orçados em cerca de 70 mil milhões de dólares, terão grande impacto na economia, apesar de serem de capital intensivo.
A projecção do crescimento do PIB pelo FMI, logo no ano do início da produção, de 11,1% e com tendência a au mentar, vai mudar o país, e a sua economia, tal como os conhecemos. Estamos preparados?
A dimensão dos projectos é fo ra do comum porque os inves timentos são massivos. é ver dade que não vão ocorrer no mesmo ano, mas acumulados quadriplicam o valor do PIB actual. Na fase de exploração, grande parte do gás será ex portada ao abrigo de contra tos de cerca de 25 anos, nu ma altura em que as impor tações serão relativamente menores (uma vez que será posterior à fase da compra de equipamentos pesados), o que melhora os benefícios inter nos na óptica do rendimento nacional líquido.
Há alguns anos o Governo elaborou um plano de for mação no exterior, à luz do qual enviou jovens estudan tes para se formarem em
diversos países. Existe al gum feedback sobre a dis ponibilidade desta mão-de -obra para estes projectos?
A este nível, o primeiro de safio é, de facto, saber onde é que iremos buscar grande parte dos benefícios. E numa primeira fase, precisamos de saber quantos moçambi canos poderão ser empre gues no período de constru ção dos projectos, que é a fa se em que há maior procura de mão-de-obra diversifica da ao nível das empreitadas que estão a ser elaboradas. Penso que aí Moçambique po derá ter uma grande oportu nidade, mas é preciso formar pessoas e, neste momento, há um grande esforço do Minis tério do trabalho, Emprego e segurança social, Ministé rio dos Recursos Minerais e Energia e das próprias mul tinacionais no sentido de es tabelecer balizas e termos de referência para formar moçambicanos que possam
substituir estrangeiros no pe ríodo de construção.
E é aqui onde começa a dis cussão sobre os desafios que esta grande oportuni dade impõe às empresas nacionais, nomeadamente as PME. A janela de oportu nidade que elas têm neste mega negócio é, de facto, as sim tão alargada? é necessário começar a pre parar as PME para que se jam certificadas, e para esta rem à altura dos desafios, já que o sector petrolífero tem elevados graus de exigência, quer em termos de timing, quer de standard. Há que se fazer bem a gestão das ex pectativas, porque se a pre paração das PME não for con sistente com a procura de bens e serviços das opera doras, irá ter de se recorrer ao capital importado. E se is so for por via de empréstimos pode criar problemas finan ceiros. Assim, com esta DFI, a
questão de timing terá de ser mais bem definida e, a partir daí, os programas, a escalona gem do tempo e as acções de formação no sentido de fazer coincidir com a real procura.
Sente que todo o quadro preparatório para que o gás não seja uma maldi ção (exemplos disso há pe lo mundo) está a ser tomado em conta? Que aspectos crí ticos se levantam nesta al tura sobre esta questão?
Estão a ser tomados em con ta, porque há um sério envol vimento ao mais alto nível. Ainda recentemente, na con ferência organizada pelo Banco Mundial, FMI e Banco de Moçambique, debatemos com profundidade a ques tão dos fundos soberanos. Co mo gerir as nossas reservas cambiais é um tema impor tantíssimo para o nosso futu ro. temos de reconhecer que Moçambique é um país com problemas reais de pobreza.
Na voz
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de...
Gás natural
“PARA EvItAR A MALDIçãO DOs RECuRsOs sERÁ IMPORtANtE quE As DEsPEsAs quE FOREM APROvADAs sEjAM CONsCIENtEs, BEM EstuDADAs E quE NãO sEjAM APROPRIADAs POR uM gRuPO DE PEssOAs”
Faltam infra-estruturas, es tá em situação líquida nega tiva em termos de balanço e tudo isso vai exigir que gran de parte desses fundos sejam alocados à saúde, educação e, fundamentalmente, para col matar a pobreza absoluta e outras deficiências que te mos no país, até provocadas por catástrofes como o Idai, ou a prevenir eventos futu ros. Creio que a médio e lon go prazo, com poupanças fei tas, com um fundo e uma po lítica de estabilidade bem es tabelecida, será possível alo car com transparência esses fundos em função dessa políti ca de investimentos.
Para evitar a maldição dos recursos será importante que as despesas que forem apro vadas sejam conscientes, mui to bem estudadas e que não sejam apropriadas por um grupo de pessoas e que de pois não provoquem outros problemas que vemos em de terminados países.
Ao nível local, em Palma, haverá uma mega-opera ção de reassentamento, nu ma zona assolada por ata ques armados. É este o pri meiro grande obstáculo do projecto?
Palma terá casas melhora das com toda a rede de infra -estruturas necessárias. Não será uma cidade de prédios, mas as casas serão de alve naria com pavimentação das estradas e ordenamento ter ritorial de primeiro grau. se rá um exemplo do impacto di recto mesmo antes de come çar a construção das plantas de gNL. Nessa fase, os jovens de Palma terão emprego. Alguns dos hotéis a serem construídos na região estão já esgotados porque alguns ope radores já reservaram alo jamento antecipadamente. Portanto, já há impacto positi vo da presença destes projec tos. Paralelamente, na região de Afungi, será construída numa área de 18 mil hecta res (além dos 7 mil onde serão
erguidas as duas unidades de produção de GNL) a cidade de gás, que vai contemplar a zo na industrial, residencial e de lazer. Os grandes desafios são evidentes porque a região de Palma não tem infra-estru turas nem mão-de-obra qua lificada, daí que movimentar para lá 6 000 pessoas e ma terial pesado, sem portos su ficientes para receber a car ga, pode trazer constrangi mentos que serão gradual mente colmatados à medida que for havendo capacidade das infra-estruturas. quan to aos ataques armados, não posso fazer muitos comentá rios porque é uma questão sensível. Mas a segurança é um aspecto crítico e está cla ro que os ataques dos insur gentes são uma acção de pu ra sabotagem, já que não têm demonstrado qualquer le gitimidade ou linha política, nem qualquer ligação religio sa. Eu próprio sou natural da Mocímboa da Praia e nunca convivemos com problemas destes, ao ponto de pôr em causa a segurança de pes soas inocentes. Interpreto is to como uma acção de sabota gem. As forças armadas estão a trabalhar no terreno.
Ao contrário do que se po deria esperar, os ataques não interferiram nas de cisões de investimento das multinacionais. Que lei tura faz desta (aparente) contradição?
é sinal de que as multinacio nais estão confiantes no pro cesso. Temos de confiar nas Forças Armadas! Moçambi que é um país independen te, soberano, com boas rela ções com os países vizinhos e não temos razões para duvi dar que as acções que temos desenvolvido de ponto de vis ta de defesa terão sucesso no Norte de Cabo Delgado. va mos dizimar os insurgentes.
Dezembro 2018
texto Celso Chambisso fotoGrafia Jay Garrido
província
A esperAnçA renAsce dos escombros
Depois dos ciclones Idai e Kenneth terem deixado um rasto de devastação em várias províncias do Centro e Norte do país, os esforços de reconstrução dão lugar a acções concretas no terreno. O objectivo é que algo assim jamais se repita
os ciclones idai e kenneth abalaram as regiões Centro e Norte do país há quase três meses, tendo levado consigo a alegria e o sossego, sobretudo dos po vos de Sofala e Cabo Delegado, depois de verem o seu esforço de vários anos ser transformado em ruínas.
O desconforto e a tristeza foram minimi zados pelos gestos de solidariedade, e foi nesta lógica que aconteceu há um mês a Conferência Internacional de Doadores, na cidade da Beira. Claro que o objectivo não seria outro se não o de angariar fun dos para a reconstrução. Neste contexto, para os doadores interna cionais, como para o Governo moçambi cano, “o fundamental é definir um modelo
províNcia beira
capital sofala área 61 661 km² Número de habitaNtes 21 911 237 região Centro
integrado de reconstrução melhorada nas regiões afectadas.” E, claro, de todas as prioridades deve definir-se as que mais precisam de urgência. e quais são?
“Os ciclones testaram a nossa capacida de de resposta e solidariedade (nacional e internacional) e a situação coloca à pro va a nossa governação” disse o Presiden te Filipe Nyusi, que apelou, na abertura da Conferência de Doadores, ao urgente desembolso das doações e a respectiva simplificação dos métodos de injecção de fundos de ajuda.
Olhando a situação concreta e ao nível dos estragos causados pelas intempéries
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Sofala
tudo parece ser prioridade. Porém, exis tem aquelas que são inadiáveis, como é o caso das habitações, das vias de acesso e a reabertura de instituições públicas para a provisão de serviços básicos de saúde e educação.
Neste sentido, o Governo está de acordo: “as necessidades são muitas.”
Para tal, Francisco Pereira, director exe cutivo do Gabinete de Reconstrução Pós -Ciclones Idai e Kenneth, defende que “é preciso investir rapidamente num vasto leque de áreas, como a alimentação, ha bitação, educação, saúde e também nos sectores produtivos”.
Após o levantamento dos danos e perdas feito pelo Governo e peritos das Nações Unidas, do Banco Mundial e da União Europeia chegou-se à conclusão de que são necessários 3,2 mil milhões de dó lares para proceder à reconstrução pós-ciclones.
Aliás, o ministro das Obras Públicas, Ha bitação e Recursos Hídricos, João Macha tine, frisou isso mesmo, logo no arranque de uma conferência que juntou cerca de 700 representantes de parceiros inter nacionais, governantes, governadores provinciais, sector privado e sociedade civil para analisar o relatório sobre os prejuízos causados e tentar angariar os valores necessários para reconstruir as infra-estruturas danificadas. Coube as sim ao Ministro das Obras Públicas, Habi tação e Recursos Hídricos apresentar as necessidades para a reconstrução, expli cando que o valor seria para dar ímpeto à “reconstrução de infra-estruturas eco nómicas e sociais. O valor orçado para as necessidades (3,2 mil milhões de dólares) teve como principal pressuposto o impe rativo de uma reconstrução e recupera ção mais resiliente aos efeitos das alte rações climáticas às quais o nosso país é vulnerável. É considerando estas ne cessidades que será exigido um esforço intelectual e o sacrifício de todos na con cessão, elaboração e implementação de projectos que possam trazer resultados sustentavelmente aceites face aos efei tos das alterações climáticas”, enunciou. Segundo o plano de reconstrução apre sentado, a cidade da Beira e todas as zo nas afectadas serão mais resilientes a intempéries desta magnitude. Na verdade, o fundo solicitado pelo Governo deverá ser usado para repa rar ou reconstruir infra-estruturas e activos físicos, integrar medidas melho radas para “reconstruir com melhor qualidade” e garantir a resiliência a futuros ciclones e inundações, recupe
1,2
Mil Milhões
É o valor angariado na ConferênCia internaCional de doadores, dos 3,2 mil milhões apontados pelo governo moçambiCano durante o levantamento dos danos
rar a produção de bens e serviços, res taurar o acesso das pessoas a produtos e serviços e ainda restabelecer a go vernação (reabilitar edifícios públicos e capacitação da gestão do processo de recuperação), entre outros.
Porém, contra todas as expectativas, Moçambique apenas conseguiu anga riar 1,2 mil milhões de dólares na Confe rência Internacional de Doadores, pou co mais de um terço dos 3,2 mil milhões apontados pelo Governo como o valor ideal antes da conferência, mas de certa forma, suficiente para se começarem os projectos de reconstrução.
Segundo o plano esboçado, a ajuda de verá focar-se em quatro sectores: pro dutivo (agricultura, pescas, segurança alimentar, indústria, comércio e turis mo), infra-estruturas (energia, transpor tes, estradas, caminhos-de-ferro, água e saneamento), social (habitação, educa ção, saúde, cultura e desporto), e ques tões transversais (de género, ambiente, meios de subsistência e protecção social).
construir infra-estruturas resilientes às intempéries é o próximo passo Um tema recorrente na conferência foi mesmo a necessidade de construir novas infra-estruturas, sobretudo habitaçio nais, mais resistentes a intempéries que, de acordo com os estudos existentes, ten derão a assolar o país nos próximos anos. “Sinto que há um verdadeiro consenso sobre esta questão de reconstruir da melhor forma e não como se fazia até então”, afirmou Mathias Spaliviero, da ONU-Habitat. Mas não é só na habitação que o Gabinete de Reconstrução PósCiclones se foca quando se fala de infra -estruturas. Há que lembrar que a cidade da Beira, em particular, tem ciclicamen te sofrido problemas de erosão costeira e de saneamento.
Para isso, o município local coloca tam bém como prioridade de reconstrução os sistemas de drenagem e de um paredão para protecção do avanço do nível do mar. “A acção visa mitigar os efeitos do ciclo ne e da erosão costeira, passando pelo reforço dos paredões e outros quebra -mares para minimizar os efeitos da erosão e das ondas do mar”, justificou o presidente da autarquia da Beira.
Se por um lado várias famílias afecta das pelos ciclones Idai e Kenneth care cem de aconchego no que diz respeito à habitação, nota-se, por outro, que estas viram também a sua produção agrícola ser engolida pelas águas, ficando assim a depender das doações, e existem ain
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da largas centenas que continuam a vi ver em zonas de reassentamento e sem qualquer fonte de rendimento. Para pio rar, “milhares de postos de trabalho se perderam e as pessoas não conseguem reerguer-se sem meios de subsistência”. Assim sendo, o apoio e assistência às ví timas das calamidades “deve ser a prio ridade do Governo, até que a sua vida volte à normalidade.”
Para tal, Francisco Pereira lembrou aos doadores durante a conferência que “quase 2 milhões de pessoas continuam a precisar de ajuda urgente, entre as quais muitos órfãos e crianças vulnerá veis, e mais de 75% de idosos afectados. Após estas calamidades, 2 milhões de pessoas, cerca de 7% da população do país, vivem dependentes de assistência humanitária e isso requer uma grande atenção da parte de todos nós”, resumiu.
Apoiar, de facto, o sector privado A par de outras áreas, o sector privado é dos que mais precisam de assistên cia. Francisco Pereirare afirma, subli nhando que “mais do que apoiar este
sector que dá emprego a muita gente, ele deve ser ajudado com facilidades fiscais”. Outra das preocupações do sector priva do, auscultado pela E&M, é a distribuição dos fundos. A este respeito, Francisco Pe reira deixa uma garantia: “A gestão das doações será de tolerância zero à cor rupção”, disse, acrescentando que os doa dores “mostraram interesse em finan ciar áreas da sua competência, ou seja, onde já implementam as suas acções.”
Por agora, e apesar de um valor consi derável de fundos de ajuda estar já dis ponível, só o tempo vai ditar o que vai suceder-se, uma vez que o gabinete ain da carece de mais meios para alavan car todas as áreas necessárias a uma reconstrução efectiva. Até porque não se trata de reconstruir apenas, há que haver rigor e qualidade nas obras. Para isso, Francisco Pereira não prevê que o timing da implementação dos projectos seja inferior a quatro anos.
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Sofala
província
fotografia d.r.
texto Hermenegildo langa
“Mais do que apoiar este sector que dá emprego a muita gente, ele deve ser ajudado com facilidades fiscais”, diz Francisco Pereira
O regresso lento às rotinas diárias parece indicar que, literalmente, o mau tempo está a dar lugar a tempos de esperança
Línguas: o risco por calcular
Denise Branco • Investigadora e Consultora em Comunicação Intercultural e Tradução para Fins Empresariais, Técnicos e Científicos
a 4 de março de 2019, Moçambique foi atingido pelo ciclone Idai. Descrito como uma das piores tempestades a atingir Áfri ca e o Hemisfério Sul, afectou para sempre a vida de cerca de 1,85 milhões de pessoas de acordo com os dados publicados pela organização Translators Without Borders (TWB). Chegou a ajuda, chegaram as pessoas e com elas chegou a necessidade de gerir comportamentos e emoções resultantes da perda de vidas, de referências, de um sentido de propósito. E a ajuda chegou daqui, de nós, e de todas as partes do mundo, em vá rias línguas. Partilharam-se projecções sobre vidas perdidas, danos materiais, prejuízos económicos para o país, entre ou tras. Hoje partilho mais alguns números não só devido à sua importância para uma resposta humanitária mais eficaz para as vítimas da Beira, mas pela lição que importa reter – ou relembrar. Convido-o a reflectir sobre o papel das polí ticas linguísticas – públicas e privadas - em resposta à per gunta: quanto valem as línguas num plano de comunicação de emergência?
Na área da comunicação em cenários de crise e emergência tem-se como princípio orientador que a informação certa, no momento certo, pela pessoa certa pode salvar vidas. Atrevo -me a acrescentar: na língua certa. De acordo com os dados disponibilizados pela TWB, após a rea lização de um estudo no terreno, em Abril de 2019, junto dos sobreviventes do Idai, constatou-se que 41% da população não compreende a língua portuguesa escrita, a língua principal da ajuda humanitária; 65% das mulheres de todas as idades e 57% das pessoas de ambos os sexos acima dos 50 anos de idade
não compreende informação escrita em qualquer língua e, finalmente, 44% das mulheres não compreende português fa lado. As línguas mais faladas nos locais onde a população se encontra temporariamente alojada são Sena, Ndau e Chuabo. Não é necessária uma reflexão demasiado elaborada para compreender as consequências dos constrangimentos linguís ticos nas operações de ajuda humanitária. Acreditando que o exemplo acima é óbvio para o leitor, expan damos a reflexão de modo a incluir as indústrias que operam em contextos multiculturais e multilingues, e cuja actividade representa risco para populações e para o ambiente: o risco de não falar a(s) língua(s) necessária(s) foi calculado? A empre sa tem uma política linguística de contratação que garante que a todo o momento é capaz de interagir com o seu ecos sistema? O plano de comunicação de emergência reflecte a diversidade cultural de Moçambique onde são faladas mais de 40 línguas? A relação de confiança que permite gerir per cepções de risco, emoções e comportamentos está alicerçada nas pessoas de confiança da comunidade? A empresa sabe se deve privilegiar mensagens escritas ou orais e em que lín guas? A empresa “fala” as línguas que podem comprometer ou acelerar uma intervenção de emergência? As comunida des fazem parte da estratégia de comunicação de emergência ou são meras receptoras? O plano comunicativo foi testado? O resultado do cálculo do risco irá certamente variar por sec tor e por empresa, tal como pode variar o número de vidas salvas no caso de uma emergência. A sua organização está disposta a aceitar o risco ou a gerir a responsabilidade?
Após a realização de um estudo no terreno, em Abril de 2019, junto dos sobreviventes do Idai, constatou-se que 41% da população não compreende a língua portuguesa escrita, a língua principal da ajuda humanitária
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 38
mercado e finanças
ComérCio livre em ÁfriCa, um misto de frustração e euforia
É normal duvidar da eficácia de qualquer experiência nova, mas no caso da Zona de Comércio Livre, a incerteza é acentuada e justificada, embora valha a pena reflectir sobre as vantagens
entrou em vigor, este mês, a Zona de Comércio Livre (ZCL) em África, que an tevê a operacionalização do mercado comum, na que já é considerada a “maior mudança desde o fim do colonialismo” no continente. Trata-se de uma iniciati va que, desde cedo, agregou uma legião de adeptos (sobretudo políticos) pelo con tinente e pelo mundo. Mas também tem um número respeitável de entidades que não votam pela sua operacionaliza ção (principalmente os empresários). O ponto de discórdia está no desnível de competitividade entre as economias. Enquanto uns acreditam no risco de de pendência das mais fracas em relação às economias mais poderosas, podendo ‘ma tar’ o já incipiente nível de actividade económica de países como Moçambique,
90%
A percentAgem de isenção de tAxAs do Acordo dA ZonA de comércio Livre AfricAnA
outros entendem que faz todo o sentido correr riscos, já que a fase desafiadora será passageira, e no fim o continente ir-se-á consolidar como um bloco econó mico estável.
Em princípio, a ZCL tem como fundamen to abrir o mercado a 1,2 mil milhões de pessoas, com a possibilidade de gerar riqueza para o continente, acelerando o investimento, diversificando a econo mia e aumentando o comércio, através da eliminação de barreiras tarifárias (o recente acordo prevê isenção a 90% dos produtos).
Entre as estimativas optimistas da ini ciativa, o destaque vai para a do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD): “A zona de comércio livre vai ajudar a au mentar em cerca de 50 mil milhões de
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que esta nova realidade pode trazer
dólares as trocas comerciais, mas não é apenas isto. Se África for capaz de redu zir o desemprego entre os jovens para o mesmo nível do da população adulta, poderá acrescentar, entre 2020 e 2035, cerca de 5 mil milhões de dólares no PIB da região. E se conseguirmos aproveitar todo o potencial da Internet no continen te, em 2030 conseguiremos adicionar 3,5 mil milhões de dólares ao PIB”, estimou (em Abril) o presidente da instituição, Akinwumi Adesina. Além disso, tem o potencial de permitir que os países se tornem mais fortes na busca de vanta gens comerciais nas negociações com outros blocos comerciais fortes.
Mas para ser bem-sucedida, ainda fal ta um conjunto de coisas fundamentais: “construir capacidade industrial, inves tir de forma maciça em infra-estruturas e assegurar as capacidades que as em presas precisam”, admite Adesina, num aviso que encaixa bem como ponto de partida para avaliar o que se vai passar na economia moçambicana no contexto da integração económica do continente.
seremos “engolidos” pelos grandes? empresários acham que sim A E&M ouviu o sector privado cujo pare cer apresentou inúmeros argumentos que elucidam uma série de desvanta gens para Moçambique. Céptico (embora não o admita), o presidente do Pelouro de Política Fiscal e Comércio Externo da Confederação das Associações Económi cas (CTA), Kekobad Patel, começou por atacar a fraca matriz de exportações. “É preciso perceber que para aceder a um mercado é preciso produzir, daí que o grande problema é esse: nós não pro duzimos nada. E o pouco que produzimos é matéria-prima não transformada.”
Para avaliar o impacto da abertura dos mercados ao nível do continente, o re presentante da CTA toma como exemplo o impacto da abertura da SADC para Moçambique que considera desvantajo sa, a avaliar por um leque de problemas estruturais que encarecem a produção e a comperitividade, incluindo o custo do crédito à economia. “Neste momento Moçambique está isento de taxas adua neiras apenas com países da SADC. Se esta base for alargada ao nível do conti nente, espera-se que o processo venha a ser faseado, mas porque temos uma ba se de exportações fraca, não é vantajoso. E não é só a posição da pauta aduaneira ou os direitos que contam na produção. Os custos devem ser equacionados. É mais caro produzir em Moçambique e,
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Rei de E-Swatini
por isso, a base empresarial é fraca, daí que haja muito trabalho por fazer para assegurar que o ambiente de ne gócios seja favorável ao investimento. Há um conjunto de factores que alimen tam a produção.
Por exemplo, enquanto as taxas de juro dos empréstimos na África do Sul rondam os 9%, cá estão entre os 22%”, observou.
“Temos de fazer do comércio livre um sucesso e para isso podemos contar com os nossos parceiros dos EUA que já estabeleceram áreas de Comércio Livre há bastante tempo… tenho a certeza que se criarmos fortes parcerias poderemos ver muitos benefícios”.
ErsonMnangagwa
ME M
Presidente do Zimbabwe
empresariado excluído?
Muitas decisões sobre a formação de blocos regionais são de “âmbito político e não aprofundam as implicações eco nómicas”, defende Kekobad Patel, para quem as decisões da SADC e a da União Africana “terão sido também tomadas nessa base e só depois, quando os proble mas económicos se manifestam, o sector privado é consultado”.
“A união pode ajudar-nos a desenvolver e modernizar as nossas economias. Creio que a Zona de Comércio Livre é um passo em frente que é absolutamente necessário para África. Neste caminho podemos relacionar-nos com outros parceiros, com mais força e dignidade”.
dE g ar Lungo
Presidente da Zâmbia
“O acordo só será coroado de sucesso se nós, países africanos, desenvolvermos capacidade produtiva e criarmos mercado para o comércio”.
Falando em concreto sobre Moçambi que, revelou ainda que “não estamos a ser consultados porque a preocupação é reforçar a SADC e depois ver o que se faz”, o que acaba por dificultar a explo ração da vantagem dos acordos. “No caso da União Africana, seremos todos en golidos pelos grandes, principalmente pela África do Sul, Quénia (que tem feito um esforço notável no desenvolvimento da indústria local), pela Nigéria (quan do aderir), pelo Egipto e por Marrocos. A abertura dos mercados em África po derá conduzir ao encerramento das poucas indústrias que há”, lamenta. Um caso de estudo sobre o assunto é o da Nigéria, uma potência económica do continente que ainda não aderiu à ZCL. O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, argumenta que o país “precisa de mais tempo para analisar o documento”. Sani Yan Daki, da Associação Ni geriana de Câmaras de Comércio, Indústria, Minas e Agricultura, também é céptico quanto à eficácia da medida. “A Nigéria ainda é uma economia em desenvolvimento. Os países que estão a fazer pressão para a criação da Zo na de Comércio Livre, como Marrocos, Egipto ou Tunísia, são meno res que a Nigéria em termos de recursos nacionais, mas ao nível do de senvolvimento estão muito mais à frente”. Uma opinião que diverge da de um em presário do mesmo país, Tope Fasua, que defende que “a Nigéria é conside rada a maior economia de África. Se a Alemanha, a maior economia da União Europeia (UE), defende a criação de um mercado comum naquele continente. E creio que a Nigéria deveria, com toda a certeza, fazer o mesmo em África”.
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mercado e finanças
um ComérCio, de faCto, em pequena esCala
Na primeira fase operacional, o acordo de livre-comércio pretende remover as tarifas de 90% dos produtos de cada país, o que se espera que venha a impulsionar as trocas comerciais entre os países africanos, que actualmente representam cerca de 17% do comércio total no continente, segundo dados do Departamento de Comércio e indústria da Comissão da União Africana. No caso concreto de Moçambique, em 2018, gastou 6,1 mil milhões de dólares em importações, dos quais 2,2 mil milhões na Ásia e apenas 1,8 mil milhões em África. Do outro lado da balança, a economia nacional realizou 5,2 mil milhões de dólares principalmente na Ásia (2,2 mil milhões). Para os países africanos Moçambique exportou apenas mil milhões de dólares tendo a vizinha África do Sul como principal destino.
A adesão à ZCL foi feita sem a devida planificação. O caminho devia ter sido feito “estreitando parcerias com a China, Índia, Vietname ou Singapura, um conjunto de potências económicas que conseguem produzir a baixo custo
decisão precipitada?
Voltando ao país, o sector privado enten de que a adesão à ZCL foi feita sem a de vida planificação. Segundo o presidente do Pelouro de Política Fiscal e Comércio Externo da CTA, o caminho devia ter sido feito “estreitando parcerias com a Ásia (China, Índia, Vietname, Singapura), on de estão um conjunto de potências eco nómicas que conseguem produzir a bai xo custo e cuja quantidade de pessoas representa uma oportunidade para au mentar as exportações, aproveitando a vantagem da facilidade de acesso (ao Ín dico) para nos impor perante os concor rentes da África Ocidental que, usando a mesma estratégia, explorariam o mer cado ocidental (América e Europa) atra vés do Atlântico”, sugeriu, para de segui da criticar: “Alguém devia estar a fa zer este estudo... mas se questionar se al guém estará a fazê-lo, verá que não!” Com uma matriz de exportações de pro dutos transformados, um défice de in fra-estruturas acentuado e um ainda ambíguo ambiente de negócios (que vai
colocando Moçambique entre os piores no Índice de Competitividade Global da economia), fica nítida a necessidade de uma preparação mais profunda no qua dro da integração económica do conti nente, sob pena de ver concretizadas as previsões mais pessimistas. Mas não é o que parece estar a acontecer. Em Junho passado, a E&M procurou sa ber junto do Governo que instrumentos estariam já a ser accionados. Até à da ta, ainda não havia um posicionamen to firme. “Nesta altura, decorrem tam bém estudos para apurar o impacto da iniciativa em Moçambique”, admitiu Amílcar Arone, prometendo que só um mês depois (Julho corrente) haveria de se tornar pública a estratégia nacional neste domínio.
“suplier side”, a estratégia A expressão significa complementari dade entre as economias. Ou seja, “eu sou exportador de açúcar, a Suazilân dia (agora Eswatini) também, então nós somos competidores. Eu sou produtor
de capulanas e a Tanzânia também. En tão a abertura do mercado faz com que África dê o primeiro passo para perce ber que, para ter uma posição no mer cado mundial, tem de criar agregados de suplier side. Em vez de Moçambique ex portar caju sozinho tem que criar meca nismos para o fazer em simultâneo com a Tanzânia e a Zâmbia, é isto que o mer cado comum africano tem de começar a fazer”, esclarece o ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa. Questionado sobre as taxas que o país pretende cortar para zero, como um dos primeiros objectivos do acordo de livre -comércio, o ministro revelou que Mo çambique já colocou a zero todas as ta xas de importação e exportação dentro da SADC. No entanto, ressalvou: “tenho de ir à África do Sul falar com o meu cole ga para implementarmos, mas se não fi zermos nada a culpa não é deles, é nossa. Já o fizemos e agora falta exigir a imple mentação”. A colocação denota um nível preocupante de incertezas numa altura em que o futuro do comércio em África se tornou bem presente.
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Produção de açúcar beneficiou, em muito, com as taxas impostas à importação. Como será a partir de agora?
TExTO Celso Chambisso fOTOgRAfiA D.R.
e
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mpresas
o negócio da vocação... para os negócios
Criatividade e motivação são requisitos que as empresas necessitam num contexto de crescente competitividade. E o mercado tem respostas à altura
a par da aturada procura por com petências com o perfil apropriado para fazer parte dos seus quadros do pessoal, as empresas geralmente debatem-se com uma outra questão: a procura de profissionais com perfil para “segu rar o barco” e preparadas para substi tuir aqueles que, eventualmente, vie rem a sair, incluindo os antigos líderes. É sobre estas questões que a Jason Moçambique assenta o seu negó cio no país desde 2012. Originária da Jason Associates, de Portugal, após ter registado um crescimento assinalável durante anos, decidiu internacionali zar-se também para Angola e Brasil. Segundo a country manager da empresa, Andreia Narigão, “o foco é ajudar a enfrentar os grandes desa fios na gestão de talentos, principal mente o de entender onde é que as pessoas são, de facto, boas a trabalhar, extrair-lhes o que de melhor fazem e dotá-las do sentimento de paixão pelo trabalho tornando-as sustentáveis dentro das organizações.”
A intervenção da Jason Moçambique faz-se em sessões de formação que pro curam agir sobre a emoção das pessoas, gerando focos de motivação. “A principal preocupação é fazer com que a pessoa se sinta emocionalmente envolvida com a empresa e o eixo que contribui para este vínculo emocional é a liderança, ou seja, agimos no sentido de tornar os líde res das empresas propulsores do sen timento de paixão pelo trabalho e pela organização, quer quando as coisas estão bem mas, acima de tudo, quando assim não acontece”, esclarece Narigão.
Em Moçambique, a Jason conta com 15 clientes, todos de grande dimensão. A maior parte multinacionais do sector privado que se distribuem pela minera ção, banca, telecomunicações e oil&gas. É que, geralmente, são os “clientes mais
inovaçãoetalento
sofisticados que apostam, investindo, na importância de preparar profis sionais para a liderança e sucessão, com uma visão mais orientada para a manutenção da boa performance ao longo do tempo, inclusive em momen tos de instabilidade.”
Eventualmente não será óbvio ou ime diato entender os resultados da acção de empresas como a Jason, mas alguns exemplos ajudarão, certamente, a per ceber o seu papel. No sector finan ceiro, a quase totalidade dos bancos tem capital estrangeiro, mas o Ban co de Moçambique tem vindo a pres sionar as instituições a tornarem as suas estruturas menos dependentes de expatriados. Aqui, a solução passa pela alteração da estrutura ao nível da liderança, através da substitui ção ou da fusão de lideranças, em que o papel do líder passa a ser chave. Outro exemplo é o do sector das tele comunicações onde, com a recém -criada TMCEL (após fusão da TDM e da Mcel), já se assiste a uma gran de preocupação em reforçar inves timentos nas lideranças internas de modo a relançar uma empresa que caiu nos últimos anos, fruto de um pro cesso de fusão atribulado que terá deixado as suas marcas na equipa. “É por casos como este que nos assu mimos, de facto, como uma empre sa de nicho, mas que produz talen tos e líderes para grandes marcas”, revela a country manager. Para realizar a sua actividade, a Jason criou os chamados “Magic Makers”, equipas de design e de consultoria, que tentam fazer “magia” com as equi pas dos seus clientes. E tudo, para ter empresas melhores no mercado.
Bempresa JaSoN MoÇaMBiQUe iNÍcio de acTiVidade 2012 FUNcioNÁrios 39 VocaÇÃo Gestão de talentos e formação de líderes 15
clieNTes a maioria são multinacionais das áreas da mineração, banca, telecomunicações e oil&gas a portuguesa Jason associates expandiu a sua presença para outras geografias e, além de Moçambique, está presente em angola e no Brasil
3 mercados
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texto celso
fotografia Jay Garrido
chambisso
Lançado o Future aGro ChaLLenGe 2019
O Future Agro Challenge (FAC), a maior plataforma mundial de inovadores do sector agro-ali mentar é uma iniciativa que pro cura trazer soluções inovado ras para a segurança alimen tar e a nutrição no país, através de uma competição que envolve agro-empreendedores de todo o país. O desafio Inclui uma for mação de três dias em cada pro víncia, a partir da qual são selec cionadas as melhores empresas que participam no evento nacio nal, que terá lugar a 7 de Novem bro. A organização do FAC2019 é da Mozambique Innovation Lab sendo realizada em parceria com a Agrimag, BCI, GAPI e GAIN.
reestruturação FinanCeira
do Moza venCe PréMio
reestruturação financeira do banco dirigido por João Figueiredo distinguida pela “the banker”
aGra e GaPi reLançaM Cadeia de vaLor do arroz
Relançar esta cadeia de valor “através do fortalecimento da produção e das ligações com o mercado” é o objectivo da Alian ça para Revolução Verde em Áfri ca (AGRA) e a Gapi-SI, numa ac ção que, ao longo de três anos, envolverá mais de 100 mil pe quenos produtores dos distritos da província da Zambézia.
a publicação internacional da especialidade na área financeira, do grupo Financial Times, elegeu a operação de reestruturação financeira levada a cabo pelo banco Moza com o Award “Deal of the Year 2019 for Restructuring in Africa”.
MoviteL Lança ConCurso de ideias Criativas
“Viettel Advanced Solution Tra ck 2019 (VAS Track)” é o concur so que a Movitel acaba de lan çar e no qual um conjunto de startup’s pode concorrer apre sentando uma ideia criativa, um produto ou uma solução aca bada. De acordo com a Movitel, operadora de telecomunicações móveis que opera no país desde 2012, o concurso “oferece um prémio de 50 mil dólares e um conjunto alargado de oportuni dades de investimento.”
A fase final da iniciativa terá lu gar nos Estados Unidos da Amé rica e durante esse período os concorrentes receberão um programa de orientações de professores das universidades de Harvard, MIT e Boston.
John Everington, Editor para África e Médio Oriente da revis ta, destacou que “na avaliação para distinguir o Moza com o prémio, o painel do júri, composto por experts em econo mia, banca e finanças, analisou o complexo e bem sucedido programa de reorganização e reestruturação financeira im plementado pelo banco que, após a intervenção do Banco Central, tem observado uma assinalável recuperação, saindo de uma situação de um iminente colapso, para voltar a estar entre os cinco maiores bancos do país, operando num pata mar muito estável”.
O reconhecimento do sucesso da operação de aumento de capital culminou com a entrada de um novo investidor na estrutura accionista, a ARISE, e a aquisição da totalidade do Banco Terra de Moçambique (BTM) pelo Moza.
Denominado Moz-Arroz, o pro jecto insere-se na estratégia de apoio ao desenvolvimento ru ral que a Gapi tem implemen tado em todo o país e propõe -se a contribuir para o aumen to da segurança alimentar e ren dimento dos produtores de ar roz na Zambézia, “através de intervenções que facilitem o acesso a sementes de varieda des melhoradas.”
A “The Banker” é uma das maiores e mais prestigiadas publicações sobre o sector financeiro mundial. Com mais de 91 anos de existência, abrange as regiões de África, Ásia-Pacífico, América, Europa e o Médio Oriente.
A HRA Advogados realizou, no dia 6 de Junho, em Maputo, o Seminário “Desafios e Oportu nidades na Reforma da Lei do Trabalho & Preços de Transferên cia“. O evento serviu o propósito de antecipação de desafios para as empresas, perante a proposta de revisão da lei do Trabalho que aguarda aprovação final pela As sembleia da República.
O evento teve como oradores convidados Evaristo Madime, Presidente da Federação Mo çambicana das Câmaras de Co mércio (FMCC), e Luís Miguel Monteiro, advogado e sócio da Morais Leitão.
megafone www.economiaemercado.co.mz | Julho 2019 46
debate sobre Lei do trabaLho & Preços de transFerênCia
igura do mês
Porquê o parcelamento, em fases, da OPV?
“Transparência é essencial para a nossa consolidação”
Manuel GaMeiro Administrador para a área financeira da HCB
foi lançada em junho a pri meira fase da Operação Pú blica de Venda (OPV) de 7,5% do capital da HCB, o mais proe minente empreendimento de geração de energia em Mo çambique, e um dos maiores contribuintes do crescimento e desenvolvimento sócio-eco nómico do país. Ao nível do volume de negócios, dimen são dos activos e da produção (maior produtor independen te de energia na África Aus tral), mas também das expor tações em que, sozinha, é res ponsável por 7,5% do total das exportações do país, essen cialmente para a África do Sul. Com esta histórica opera ção lançada na Bolsa de Valo res de Moçambique, a HCB es pera obter financiamento pa ra crescer ainda mais, cau sando com isso um movimen to de tracção nunca visto no mercado de capitais.
Quanto tempo demorou a tomada de decisão da OPV? Cerca de ano e meio. A opera ção foi anunciada pelo Presi dente da República, Filipe Nyu si, em Novembro de 2017, e obe dece à necessidade de inclusão financeira dos moçambicanos. Quando começámos a prepa ração da transacção perce bemos a complexidade que is so envolvia, a população é bas tante heterogénea e o merca do de capitais em Moçambique que é ainda embrionário. En tão, era preciso encontrar me
canismos que permitissem que este objectivo fosse obser vado, e a estratégia de distri buição era fundamental, daí que a primeira questão com que nos debatemos foi a não abrangência total do sistema bancário. Considerámos im portante desenvolver plata formas adicionais aos canais bancários e lançámos as pla taformas electrónicas — es tamos a falar do SSD e da App desenvolvida para este fim.
O que presidiu a esta aliena ção de capital?
Esta operação é a maior nes tes 20 anos de existência da Bolsa de Valores de Moçam bique e irá contribuir para o desenvolvimento do mercado de capitais. A cotação em Bol sa tornará a empresa mais exposta ao escrutínio público na medida em que publicará mais e melhor informação. A transparência sobre a vi da da empresa vai aumentar e isto é um elemento central da nossa consolidação. As boas práticas de governação cor porativa e a preservação de um perfil de risco favorável irá, sem dúvida, ser um factor de extrema importância para aceder a financiamentos nos mercados doméstico e inter nacional. Importa aqui refe rir que a própria Lei das PPPE em Moçambique obriga a que projectos da dimensão da HCB coloquem até 20% do seu capi tal em Bolsa.. Portanto, ao lan
çar esta operação, além do ob jectivo de inclusão, tem esta questão de promoção do mer cado de capitais e fica em linha com a Lei das PPPE.
Que destino será dado ao fi nanciamento obtido após a conclusão da operação? Temos em marcha o plano CAPEX VITAL, de moderniza ção infra-estrutural, que irá demandar cerca de 500 mi lhões de euros e o projecto de expansão de Mpanda Nkua, que também irá exigir volu mes avultados do investimen to. Sabendo que a banca na cional não tem liquidez para suportar este grau de inves timentos, decidimos recorrer ao mercado de capitais.
Porque permitirá, nesta pri meira, um processo de apren dizagem do próprio funciona mento do mercado. A segun da tranche desta operação irá permitir a correcção de erros que eventualmente sejam co metidos na primeira fase.
Quem investir vai receber dividendos, até porque a HCB é lucrativa...
Sem dúvida! Temos estado a pagar o equivalente a cerca de 25% dos lucros distribuíveis de uma forma consistente, em média cerca de 25 milhões de dólares. Mas, para além disso, é importante notar que pode haver também ganhos de ca pitais fruto da valorização ex pectável das acções, ou enca rar a compra como um ins trumento de diversificação de poupanças.
O que leva de toda esta experiência?
vccurriculum vitae
o actual administrador para a área financeira da HCB passou, previamente, pelo banco aBC, onde foi head of risk and compliance. foi também administrador não executivo na SiMo, Sociedade interbancária de Moçambique.
HCB
A nossa estratégia de comu nicação procurou ser o mais abrangente possível e uma das acções levadas a cabo foi um roadshow por todo o país. Andámos por todas as capi tais provinciais e um dos as pectos que me marcaram foi ter sempre casa cheia e as perguntas colocadas, o que contrasta com o nível ainda bastante limitado em termos de literacia à volta do merca do de capitais. Essa forma co mo as pessoas mais simples participaram desses encon tros e demonstraram inte resse fica na minha memória.
Já quiseram comprar-lhe acções?
(sorri) Os nossos telemóveis não param, as pessoas que rem saber como fazem para comprar. Claro que todo o pro cesso passa pela BVM e pe lo sindicato bancário BIG-BCI, que são os canais de compra.
Jay Garrido
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f
texto Pedro Cativelos fotografia
INVESTIMENTO
“Temos estado a pagar o equivalente a cerca de 25% dos lucros distribuíveis anualmente”
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Onde ficamOs na ‘guerra’ glObal da nOva internet?
Numa altura em que é certo que o futuro da rede global de informação está a mudar diariamente, a grande questão é o caminho que essa mudança irá levar e que papel o continente africano terá em toda esta nova dinâmica global
no passado mês de maio, no contexto da guerra comercial a que se assiste actualmente entre os EUA e a China, a ad ministração norte-americana ordenou a empresas tecnoló gicas como a Google, a Intel, a Broadcom, a Qualcomm e vá rias outras que suspendessem qualquer tipo de relação com a tecnológica chinesa Huawei que envolvesse, nomeada mente, a transferência de hardware, software e outros serviços técnicos. Entre os vá rios argumentos esgrimidos, o boicote à Huawei justificar-se -ia pelo facto de que a tecnolo gia desta empresa lhe permi te espiar, de forma subtil e ca muflada, individuos, empresas e instituições que a usem. Em particular, no que toca à Google, a implementação deste boicote implicaria que o acor do de licenciamento que a Goo gle e a Huawei têm para a in tegração do sistema operativo Android nos smartphones da marca chinesa ficaria igual mente suspenso. E os futuros smartphones da Huawei só te riam acesso à versão do siste ma Android em código aber to ficando impedidas de re ceber as frequentes actuali zações de segurança direc tamente da Google. Os smar tphones da Huawei deixa riam também de trazer insta ladas de origem as aplicações proprietárias da Google, co
mo o Gmail ou a loja de conteú dos multimédia Google Play. O impacto desta decisão po deria ser certamente devas tador para a Huawei que é a segunda maior vendedora de smartphones a nível mundial, apenas atrás da Samsung, tendo expedido mais de 200 milhões de unidades em 2018.
E teria um impacto igualmen te devastador nos consumido res que utilizam smartphones da Huawei pois ficariam im pedidos de receber as actua lizações do sistema operativo Android o que, a prazo, torna ria os seus telemóveis, como já alguém disse, numa espécie de “casca de ovo vazia”.
under pressure
Informações recentes indi cam que a Google está, nes te momento, a exercer uma enorme pressão nos bastido res para evitar que a admi nistração norte-americana le ve por diante esta sua decisão. E não apenas a Google. Outras empresas norte-americanas, sobretudo ligadas às redes e infra-estruturas tecnológicas de comunicações, têm estado a movimentar-se para impe dir que a política definida pe lo presidente norte-america no se concretize.
Por seu turno, os chineses afir mam ter, há muito, um “Pla no B” para a eventualidade de um cenário deste tipo, ten
5G
A novA internet vAi mudAr o mundo e quem A detiver estArá mAis perto de o controlAr
do começado a desenvolver um sistema operativo alter nativo ao Android. Há mesmo quem considere que este es te novo sistema operativo não se trata, apenas, de um plano de contingência mas se insere num contexto mais ambicioso que envolve criar uma alter nativa à própria Internet tal como a temos conhecido até agora. Ou seja, estaremos, pos sívelmente, na iminência de uma “bifurcação histórica” no que toca ao futuro da internet enquanto rede global.
Acresce que, segundo infor mações recentes, este plano inclui também o desenvolvi mento, por parte da China, dos seus próprios chips de proces samento e memória, rompen do o cerco imposto por fabri cantes como a Intel, a Qual comm, a Xilinx, a Broadcom, a Micron Technology e a Wes tern Digital.
No entanto, para entender de forma adequada o que está a acontecer, é preciso perceber que o que está verdadeira mente em jogo é a emergên cia das redes super rápidas de quinta geração, a chamada tecnologia 5G, onde os chine ses levam, reconhecidamente, um considerável avanço so bre os norte-americanos e os europeus. Segundo revelava em Fevereiro passado o “Wall Street Journal”, a Huawei de tém neste momento 1 529
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patentes relacionadas com a tecnologia 5G – mais do que qualquer outra empresa no mundo. Combinando este nú mero com o de outras paten tes já firmadas por empresas chinesas, o “Wall Street Jour nal” estimava que 36% das pa tentes, ao nível mundial, as sociadas às tecnologias 5G, são chinesas.
Na verdade, a passagem pa ra o 5G não se compara a qual quer das evoluções tecnológi cas anteriores (como foi do 3G para o 4G). Já não se trata ape nas de obter “mais velocida de” mas da capacidade de co nectar biliões de objectos (a chamada “Internet das Coisas”) e de tratar quantidades as tronómicas de dados pratica mente em tempo real.
imediatismo imediato Isto será possível devido, em grande parte, à redução da la tência, ou seja, o tempo de res posta que um dispositivo le va para executar uma ordem desde que o sinal é enviado. Quanto mais baixa for a latên cia, mais rápida será a reac ção do aparelho que accionar mos à distância. O 5G reduz es se atraso a um milésimo de segundo. Será esta instanta neidade da comunicação que permitirá, por exemplo, que os “carros autónomos” (sem in tervenção do condutor) pos sam circular em “cidades in teligentes” onde a automatiza ção de inúmeros sistemas terá de funcionar sem falhas.
Ou, para dar apenas outro exemplo, os chamados siste mas de “tele-saúde” – em que operações sejam efectuadas à distância sem riscos - possam finalmente desenvolver-se.
Tendo em atenção que, no qua dro desta guerra comercial entre os EUA e a China, os nor te-americanos têm vindo a desenvolver, simultaneamen te, uma enorme pressão di plomática junto dos seus alia dos (e não só) para que o boico te a empresas como a Huawei e a ZTE tenha um alcance ver dadeiramente internacional,
“Apesar da retórica ocidental sobre a importância do acesso à internet para o desenvolvimento de África, na prática, o investimento dos ocidentais no apoio ao desenvolvimento das infra-estruturas para materializar esse acesso ficou aquém”
não foi surpresa que, no que toca a África, a União Africa na tenha sentido necessida de de vir a público no início do mês de Junho dar uma in dicação do seu posicionamen to nesta matéria.
Sem qualquer surpresa tam bém, a “resposta” veio atra vés da assinatura de um “me morando de entendimen to” entre a União Africana e a Huawei no qual ambas as partes manifestam o seu em penho em reforçar a coopera ção, em particular no que diz respeito a cinco áreas estra tégicas: Banda Larga, Internet das Coisas, Inteligência Artifi cial, Cloud Computing (compu tação na núvem) e 5G. Seria difícil imaginar um posi cionamento diferente. De fac to, na última década, a maio ria dos países africanos tive ram um apoio sistemático da China no que toca ao desenvol vimento das suas infra-estru
turas de comunicação digital. Não apenas a Huawei mas também a ZTE e a China Tele com dominam hoje quase por completo o mercado africano.
África é o palco da luta eua-china No caso de alguns países essa dependência é total. Veja-se, por exemplo, o caso do Ugan da. Desde 2008, o país tem vin do a implementar o projec to National Data Backbone Infrastructure.
Neste momento, dezenas de ci dades estão interligadas por 2 400 km de cabos de fibra óp tica. O projecto desta infra -estrutura foi financiado em 107 milhões de dólares pelo Exim Bank of China e tem si do implementado no terre no pela Huawei. Também na Zâmbia, é a Huawei, com fi nanciamento do governo chi nês, que está a contruír de raiz a grelha digital do país. Para muitos países do conti
nente africano com pouca ca pacidade de investimento, a tecnologia chinesa de teleco municações é não só eficiente mas bastante mais acessível. Países como a África do Sul, o Botswana, a Nigéria e o Qué nia, que pretendem desenvol ver projectos de “cidades inte ligentes”, têm vindo a assinar parcerias com empresas de telecomunicações chinesas. Estes projectos de “cidades in teligentes” não são apenas im portantes pelo nível de inter conectividade que permitem e por facilitarem a estrutura ção de uma economia de ser viços de base digital em sin tonia com a 4ª Revolução In dustrial já em andamento. Es tes projectos são também fun damentais, por exemplo, para garantir formas mais eficien tes e sustentantáveis no domí nio da gestão energética. Refira-se ainda que em Áfri ca a forma mais comum de
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EUA e China concorrem pelo domínio do tabuleiro global da tecnologia da informação
aceder à internet é através dos telemóveis e que, tam bém aqui, a oferta chinesa, e não apenas da Huawei, é mui to mais atractiva em termos de preço. Por exemplo, um em cada três smartphones usa dos no continente é da marca Tecno, produzidos pela Tran sision, uma empresa baseada em Shenzhen, no sul da China.
e a china leva vantagem Para Iginio Gagliardone, pro fessor na Universidade de Wi twatersrand na África do Sul, não é de admirar que o conti nente africano veja a China co mo seu parceiro preferencial: “Apesar da retórica ocidental sobre a importância do aces so à internet para o desenvol vimento do continente, a rea lidade foi que, na prática, o in vestimento dos ocidentais no apoio ao desenvolvimento das infra-estruturas necessárias para materializar esse acesso ficou sempre muito aquém das expectativas”.
E Eric Olandar, co-fundador com Cobus Van Stade, investi gador no South African Insti tute of International Affairs, do China-Africa Project, uma ini ciativa sem fins lucrativos fo cada na análise das relações entre a China e a África, su blinha que o problema é que “Washington pede para que o continente corte os seus laços com a Huawei mas não ofere ce nenhuma alternativa. Não diz, por exemplo, se o fizerem estamos preparados para vos dar um bilião de dólares para irem comprar redes e equipa mentos a outras empresas se jam elas norte-americanas ou mesmo europeias”.
Ainda segundo Iginio Gagliar done, apesar de a China ter, neste momento, uma posi ção dominante no continente, os recentes investimentos da Google no Gana (onde abriu um laboratório de Inteligência Ar tificial), da Microsoft na Áfri ca do Sul (onde estabeleceu no vos data centers) e a vontade do Facebook em começar a in vestir de forma mais substan
tiva no continente, são indica dores a ter em conta no senti do de não considerar como um dado adquirido, desde já, que o domínio da China é um facto irreversível.
Até porque, em muitas regiões do continente africano, tem ha vido manifestações, por parte de organizações da sociedade civil, preocupadas com a pers pectiva de que uma infra-es trutura tecnológica domina da pela China signifique a im portação de um modelo de In ternet baseado na censura e na limitação da “liberdade de expressão”. Adrian Shahbaz, da Freedom House, lembra, por exemplo, que, para além do modelo de Internet que os chineses estão a implementar ter uma vocação “totalitária” que se “casa” bem com a voca ção autoritária de muitos go vernos do continente africa no, também a maior parte dos projectos de “cidades inteligen tes” actualmente em desenvol vimento integram sistemas de vigilância pública altamente sofisticados.
É cedo e arriscado prever qual será o desenlace desta guerra comercial entre a China e os Estados e o seu impacto no con tinente africano (até porque se aproximam as eleições presi denciais norte-americanas e muita coisa poderá mudar, ou não, dependendo de quem for o vencedor).
Apesar da actual posição do minante da China em África - e em certas áreas tecnoló gicas como o 5G e a Inteligên cia Artificial - convém subli nhar que, em algumas capitais africanas, como Nairobi, La gos, Accra ou Kigali, não é cla ro que, por exemplo, a posição da União Africana perante a Huawei tenha sido unanimen te bem acolhida. Neste contex to, com múltiplas variáveis em jogo, os próximos meses pode rão certamente dar indicações interessantes sobre o que irá acontecer.
texto RUI TRIndade fotografia d.R.
www.economiaemercado.co.mz | Junho 2019
lá fora
CresCimento aquém da média afriCana
A taxa de penetração dos seguros e fundos de pensões em Angola ainda pesa pouco no PIB, apenas 1,2%, quando a média da África Austral é de 3%. No entanto, a meta é, ao longo dos próximos anos, atingir os 5%
em 2016, o mercado segurador em An gola começou a registar uma desace leração, em consequência da crise eco nómica registada no país, desde 2014, o que alterou o ritmo de crescimento que se vinha assinalando desde 2011. Nessa altura, o peso do sector dos seguros no Produto Interno Bruto nacional esteve à volta de 1,2%, de acordo com fontes con tactadas pela E&M. Já em 2017, apesar de não ter dados esta tísticos globais dos três anos anteriores, o director executivo da Associação Ango lana de Seguradoras (ASAN), José Araú jo, informou, em entrevista à Economia & Mercado, ter havido uma estagnação do mercado nos primeiros seis meses
46%
é quanto o kwanza se desvalorizou, no passado, face ao dólar, passando 1 usd a valer akz 309 em dezembro de 2018, contra akz 166 em dezembro de 2017
daquele ano, embora, no mesmo período, tenha havido investimentos e entrada de novos operadores. A razão, explicou a fonte, é que a massa segurável nacional não estava a crescer, “porque o país está em crise, as empresas e a população têm menos dinheiro para fazer seguros”. Na altura, José Araújo lamentou que, com a crise, muitos clientes estivessem a en frentar dificuldades para pagar os segu ros, incluindo os de carácter obrigatório. Idealizando um cenário com menor ín dice de incumprimentos, José Araújo calculava que se todos os proprietários de veículos automóveis e as empresas fizessem os respectivos seguros obriga tórios – automóvel, de responsabilidade
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civil e contra acidentes de trabalho - “o mercado de seguros duplicaria”. Infeliz mente, apontou na altura, a debilidade continua na fiscalização.
Passados dois anos, o mercado segurador nacional cresceu em número de opera dores. Porém, em termos de penetração, calcula-se que tenha regredido, consi derando que o mesmo não tem acompa nhado o crescimento demográfico na cional, estimado em mais de 3% ao ano. Actualmente, existem no país 27 segura doras, oito sociedades gestoras de fundos de pensões, 74 empresas de mediação e 634 agentes de seguros, nos ramos Vida e Não Vida, de acordo com a Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG), que pretende que famí lias e empresas entendam as vantagens de ter a protecção dada pelos seguros. Para o PCA da ARSEG, Aguinaldo Jaime, ao falar aos jornalistas à margem de uma audiência concedida à enviada especial do Comércio da Primeira-ministra bri tânica para Angola e Zâmbia, Baronesa Lindsay Northover, em 2018, a fraca lite racia financeira continuou a ser um pro blema no sector dos seguros em Angola. Contudo, pensa que para solucionar este problema, no curto prazo, é essencial in formar a população sobre os benefícios da actividade seguradora, sendo neces sário transmitir uma mensagem muito clara sobre a importância económica e social dos seguros.
Apesar dos factores acima referencia dos, em 2018 o comportamento do mer cado segurador foi positivo por diversos factores, segundo aponta o presidente da Comissão Executiva da Nossa Segu ros, Carlos Duarte. Por exemplo, expli cou, houve crescimento da oferta e da qualidade de serviços por parte das seguradoras, resultantes do aumento do número de companhias e também das entidades gestoras de fundos de pensões.
ancorado ao comportamento da economia O desenvolvimento do mercado de se guros, entretanto, está ancorado ao comportamento da economia, pelo que, de acordo com fontes contactadas pela Economia & Mercado, é difícil criar pers pectivas optimistas enquanto a econo mia continuar pouco animada. Em 2017, por exemplo, o director comer cial da AON Corretores, Sérgio Miran da, considerou, em entrevista à E&M, que o sector dos seguros acaba por ser bastante afectado pela actual realidade económica do país, sendo que o mesmo
“ainda é muito jovem, mas está numa fase ascendente e apresenta uma mar gem de crescimento muito grande”.
Para Júlio Matias, consultor de seguros, numa análise publicada naquele ano no jornal “Economia & Finanças”, “Angola tem registado um índice de crescimento em matéria de subscrição e aceitação de riscos nos mais variados tipos de segu ro”. No entanto, o número de operadores, “comparado com o crescimento econó mico nos últimos anos no país, ainda é incipiente face aos desafios que a nossa economia enfrenta, se equiparada com os países da região [SADC], e tendo como particular indicador o mercado sul-afri cano, o mais robusto em termos de ofer ta e índice de crescimento do sector”. De acordo com o especialista, que desta cava na sua análise o papel dos seguros na criação de emprego e no financia mento da economia, o Estado deve con tinuar a prestar atenção a este sector.
“As seguradoras têm feito o seu papel enquanto agentes do mercado, procu rando elevar o grau de compromisso com a sociedade e o Estado, diversifican do a oferta de produtos e respondendo a curto e médio prazo às necessidades dos segurados”, opinou.
Entretanto, Júlio Matias defende tam bém que as seguradoras “continuem a investir no capital humano e nas con dições técnicas de trabalho”, ao passo que o Estado deve reforçar o seu papel de fiscalizador e regulador do mercado, para que os seguros representem, efec tivamente, uma garantia de “sobrevi vência das empresas e da manutenção da vida em sociedade”.
Para 2019, os operadores esperam que, com base nas políticas macroeconómi cas em curso, ocorra uma redução das pressões inflacionistas e da taxa de juro. Entretanto, o sector continuará a ter, segundo perspectivam, um ano de de safios, que será acompanhado por um ambiente de elevada competitividade. Recorde-se que em consequência da elevada taxa de inflação e depreciação da moeda nacional, os fundos próprios das seguradoras ficaram vulneráveis, o que levou a ARSEG a obrigar as com panhias a actualizar o seu capital social mínimo, antes avaliado em mil milhões de kwanzas, 10 milhões de dólares, com base no câmbio base de 100 Kwanzas
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texto José Zangui e sebastião Vemba fotografia istockphoto 95.640
2 077 2 017 1 876 97 717 101 295 109 938 PrémIos emItIdos regIstAm umA suBIdA rAmo Não vIdA coNtINuA A PredomINAr rAmo vIdA APreseNtA um decrescImeNto Valores em mil milhões de kwanzas Valores em mil milhões de kwanzas Valores em mil milhões de kwanzas 2016 2016 2016 2017 2017 2017 2018 2018 2018 FONTE ARSEG
por cada dólar.
99.279 108.063
Tantos anos de vontade. E agora?
Pedro Cativelos • Director Executivo da Economia & Mercado
dizem-nos as notícias que a Fews Net, sigla que em portu guês se traduz para ‘Rede dos Sistemas de Aviso Prévio contra a Fome’, uma organização que trabalha na previsão e respos ta à insegurança alimentar na África Subsaariana, antevê que muitas famílias dependentes da agricultura esgotem as suas reservas de alimentos até Setembro.
A produção agrícola da época 2018/2019 está, já o sabíamos, com níveis bem abaixo da média dos últimos cinco anos, adian tando a Fews Net que há famílias que estão a trocar os seus animais por comida, bem como a aumentar a venda de carvão vegetal e madeira, com os danos ambientais que daí advém. “Moçambique enfrenta a pior insegurança alimentar dos úl timos anos”, refere mesmo a Fews Net, na sua análise intitula da “Perspectiva sobre segurança alimentar”, em que atribui o milhão de toneladas de culturas perdidas, incluindo milho, arroz, amendoim, feijão e vegetais aos ciclones Desmond, Idai e Kenneth, às chuvas torrenciais e consequentes inundações, no Centro e Norte, e à seca, no Sul.
A preocupação, surge poucos dias após o anúncio da Decisão Fi nal de Investimento da Anadarko na Área 1 da Bacia do Rovu ma. Há tantos anos ansiada, num processo moroso que levou o lado amoroso da chegada de muitas empresas em busca do so nho do lucro rápido, nomeadamente estrangeiras, a um preci pitado regresso à base. Como nas relações, é preciso esperar para provar que se vale a pena. Que valha a pena a espera. Lembro-me quando se dizia, numa euforia de sorriso contido mas, ainda assim confiante, que era em 2016 que se iniciava a exportação. Os prazos eram irreais, alimentados pela gula, que falava mais alto. E deveria ser ao contrário. Porque a fome, tem sempre mais vontade que a gula, e é dela que se alimenta a mudança. E se reformula a esperança. Haverá tempo, anos, na verdade, para falar sobre o gás natu ral liquefeito que colocará Moçambique no pelotão da frente do mapa mundo. E sobre as suas consequências e impactos. Na verdade, já muito se falou, e depois o tema entrou em desuso. Porque os adiamentos se foram sucedendo, contribuindo para a teoria misantrópica de que “para o ano é que é”. Só que esse ano nunca mais chegava e agora que chegou, já nin guém lhe dedicou a atenção de uma qualquer primeira vez. O fastio de um anúncio prenunciado tantas vezes cedo de mais. Claro que, com o desgaste de um tema requentado, outros
foram esquentando. Como o do sobreendividamento exter no do país que, para o FMI, se deverá manter até 2022, ano em que chegará aos 130%, a quebra de poder do metical, as dívidas ocultas, os conflitos à vista de todos, primeiro po líticos, agora aparentemente religiosos, em Cabo Delgado, com catástrofes naturais nunca vistas por aqui, pelo meio. A coisa boa, quase a única, destes quatro ou cinco anos, entre o quase gás de 2015 e o quase gás de 18 de Junho de 2019, fo ram mesmo só quase as Ideias. É que se, empreendedorismo, agro-negócio, turismo ou industrialização eram, em muitos ca sos, desenhos bonitos para emoldurar em discursos de muita pompa em demasiadas circunstâncias, a quebra do IDE que chegou a ser o segundo mais elevado em África, em 2014, com a entrada dos primeiros investimentos para a prospecção a Norte, que alavancaram o arranque da construção e do imo biliário a Sul, que hoje, já crescido, aguarda por comprador nos prédios de Maputo, levou as molduras douradas. E quase só deixou as paredes. Sobrou o que sobra sempre, nas crises. As Pessoas. E as Ideias que tiveram de se erguer, para acontecer. Moçambique é hoje um país e uma economia mais preparada para o grande crescimento que aí vem. E vem mesmo, não haja dúvidas disso. Perto de 50 bis, em cinco anos, de Inves timento directo, comprovam-no. Vão impelir a previsão de crescimento a dois dígitos em cinco anos e fazer duplicar o PIB numa década. E quem vê a riqueza duplicar, tem de estar pre parado para isso para saber o que fazer com ela. Haverá receita como nunca, num momento histórico, nunca antes vivido, acredito, na história do país. Pela primeira vez na sua História, o tal potencial de Moçambique para tudo e mais alguma coisa, e de facto ele existe em inúmeras áreas para lá do gás natural, passará a ser verdadeiramente alcan çável. É quase palpável isso. Falta o quase.
E é por isso que é importante cuidar bem das sementes lança das nos últimos anos, algumas a criar raiz, outras já as primei ras folhas verdes, ainda tímidas e ténues, é certo, do que pode ser um futuro com produção nacional, uma verdadeira classe empresarial jovem e empreendedora, tecnologia acessível e um sistema financeiro inclusivo aliado a ela, mais liderança no feminino e igualdade de verdade. Para que não voltem as molduras douradas e que tudo isto não voltem a ser só palavras. Porque vem aí muito vento.
Pela primeira vez na sua História, o tal potencial de Moçambique para tudo e mais alguma coisa, e de facto ele existe em inúmeras áreas para lá do gás natural, passará a ser verdadeiramente alcançável. É quase palpável isso. Falta o quase
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ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
Nesta edição visitamos o Jardim do Tunduro, no coração de Maputo
À descoberta do G, um gentlemen club da capital
O Hennessy Xo, um clássico no universo dos conhaques
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Jardim do Tunduro
o velho Jardim que sempre
Tunduro nos renova
elocalizado na baixa da ca pital, o jardim do Tunduro já não é o que era. Aquele ar seco, com árvores tristes e bancos menosprezados, hoje tem outra cara. Agora é um lugar confortável e agradá vel para se estar entre ami gos, a relaxar ou a contem plar a nova paisagem verde. Ana Maria Abudrasse, gesto ra do Jardim Tunduro, explica o que tem sido feito. “Temos ac ções de conservação que con sistem na recolha de semen tes e na produção de mudas para reposição e para venda ao público. Também temos um banco de dados das colecções e o registo de informações re lacionadas com os processos de produção. Através do vi veiro, fazemos a produção e a multiplicação de mudas para reposição e venda. Temos plantas exóticas para a orna mentação urbana”, revela.
Actualmente, o Conselho Mu nicipal de Maputo vela pela limpeza do Jardim, pela pro dução de plantas ornamen tais, limpeza dos lagos e se gurança do espaço. O Jardim Tunduro foi reabilitado em termos de infra-estrutura e durante a obra fez-se o repo voamento de novas espécies de plantas. “Esse trabalho é contínuo, visto que algumas espécies morrem por serem da época, outras são danifica das pelas pessoas que pisam os canteiros e algumas são danificadas pelas pragas”, ex plica Abudrasse. Em termos de repovoamento da paisagem verde que está a ser devolvida ao Jardim, esta já está completo. A estufa tem plantas especiais como os antúrios, as begónias, as plan tas carnívoras, as orquídeas, os fetos, os aloés e algumas plantas sensíveis que preci sam de muita atenção e rega bem definida. “Este é um lu gar para o público se deliciar
com a beleza que oferece. Também pode ser usado para registos fotográficos de ca samentos, saraus de música e poesia, ou até lançamentos de livros”, sugere Ana Maria Abudrasse. Além da estufa de repovoa mento de plantas, existe uma outra. “Temos também outra estufa, que denominamos de Estufa 2. Está mais dedi cada à pesquisa, ao estudo e às técnicas de propagação e produção de mudas. O que se produz na estufa é usado não só para o Tunduro, mas tam bém para outros jardins da cidade. Há aqui plantas que têm valor medicinal e outras que são aromáticas, usadas na alimentação”, revela Ana Maria Abudrasse, convidan do, assim, a que todos ajudem a preservar este espaço de Maputo.
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TeXTO Frederico Jamisse fOTOGrafia Jay Garrido
o Jardim Tunduro é hoJe um lugar conforTável e agradável para se esTar enTre amigos a relaxar e a conTemplar a paisagem verde
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grecentemente inaugurado
no Maputo Glória Hotel, o “G Club” é, como o nome sugere, um clube, isto é, um espaço re servado apenas aos membros aderentes. Embora a compo nente gastronómica consti tua certamente um elemento a ter em consideração, o con ceito, que se pretende dife renciador e único em Maputo, é o de proporcionar um espa ço que, pelas suas caracterís ticas de exclusividade, permi ta aos membros desfrutar de um convívio discreto num am biente sofisticado e selecto. Neste sentido, o “G Club” é cons tituído por uma diversida de de espaços, uns que privi legiam uma maior intimida de e outros que, pelo contrá rio, apelam à convivialidade e à informalidade dos encontros. O que marca fortemente todos esses espaços, entre outros as pectos, é o cuidado posto na de coração, apurada e luxuosa, e o desenho meticuloso da confi guração no sentido de diversi ficar os ambientes e permitir
g club: exclusividade, bom gosTo e excelência gasTronómica
aos membros desfrutar, qual quer tipo de situação, seja ela motivada por um encontro de negócios ou apenas pelo dese jo de um bom convívio. Mas o “G Club” pretende ir mais além e oferecer aos seus mem bros um conjunto de activida des. Haverá, assim, periodica mente, “Jantares de Gala” com objectivos de beneficiência. Conforme se pode ler no docu mento de apresentação do clu be, estarão centrados num te ma e, para além do preten dido convívio, o seu objecti vo será a angariação de bens e valores para apoio a cau sas sociais e culturais. Ou tras iniciativas previstas pas sam pela realização de “Ter túlias” e de eventos culturais. De referir ainda a inten ção de organizar torneios de snooker, xadrez ou bridge. Uma das componentes mais distintivas do “G Club” é, no en tanto, e sem sombra de dúvi
das, a sua oferta gastronómica. Explorando o conceito de “fine dining”, ou desgustação exten sa e prolongada do menú pro posto, também aqui o “G Club” se posiciona de forma diferen ciadora. Concebido pelo Chef Elísio Mabunda, a proposta gastronómica é a de uma cozi nha de autor requintada cuja variedade é impossível de re sumir aqui. Apesar de tudo ficam algu mas sugestões. Nas entra das destacamos o Gaspacho com influências alentejanas e filete de sardinha flameja da, o Tártaro de Atum, o Ca marão ao Coco sobre uma tos tinha de sésamo e tapena de e o Trio de empadas de ca ranguejo, espinafres e coelho. No que toca aos produtos do mar, não deixe de provar o Naco de Atum corado e tempe rado com paprika e acompa nhado de puré de favas e legu mes, o Risoto de bacalhau com ameijoas ou a Tranche de ga roupa e carabineiro acompa nhada por uma migada de ba
tata e legumes e molho espu ma de marisco.
Se as suas preferências vão para a carne, experimente a Barriga de Porco assada len tamente no forno e envolta num molho agri-doce acompa nhada de puré de maçã e be terraba, o Peito de Pato corado com puré de batata doce, fru tos secos e legumes.
Nas sobremesas, destacamos a Tarte enrolada de maçã acom panhada de creme inglês e ge lado de baunilha.
Para além de uma lista de vi nhos que deve merecer a sua atenção, a carta inclui ainda, para os apreciadores, um con junto de digestivos e charutos exclusivos em Moçambique.
Nesta sua fase de arranque, o “G Club” estará aberto a todos os que o queiram conhecer. Por isso, aproveite e desfru te da experiência. Não se irá arrepender.
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Preço médio 2 500 MZN Av. da Marginal 4441, no 1º piso do Glória Hotel +258 849 146 092
TeXTO rui Trindade fOTOGrafia Jay Garrido
g club
nesTa sua fase de arranque, o “g club” esTará aberTo a Todos os que o queiram conhecer. aproveiTe
rémy marTin x.o.
País França cor
Mogno brilhante aroma
Notas florais combinando jasmim e toques de figo e laranja cristalizada sabor
Notas de frutas e especiarias Teor alcoólico 40%
courvoisier x.o.
hennessy
País frança reGião Âmbar profundo aroma Subtil e levemente picante sabor Suave com um toque de cacau e uma presença de fruta quente Teor alcoólico 40%
hennessy xo
um clássico no universo dos conhaques
País França reGião
Mogno brilhante aroma
Muito rico e complexo, com aromas de chocolate, baunilha e âmbar sabor
Textura sedosa, redondo, notas de laranja, damasco e pêra Teor alcoólico 40%
marTell x.o. exTra old
País França cor
Âmbar suave casTas
Touriga Nacional e Syrah aroma
frutas secas, cera de abelha e couro russo sabor
Redondo e frutado com um final longo e sedoso Teor alcoólico 40%
apesar de estarem longe de ter a popularida de de outras bebidas (como os whiskeys) os co nhaques continuam a ocupar um lugar muito especial no universo das bebidas alcoólicas, so bretudo pelo seu carácter distinto e sofisticado. Mas o que é exactamente um conhaque? Es sencialmente é um brandy: um vinho destila do duas vezes num recipiente de cobre e en velhecido em cascos de carvalho, o que ajuda a desenvolver o seu bouquet complexo e a sua cor dourada. Mas nem todo o brandy é um co nhaque. Apenas o brandy produzido na região demarcada à volta do rio Charente (em França) recebe esta denominação. A longa tradição da região na produção de brandy traduz-se nu ma complexidade e riqueza que são difíceis de encontrar em qualquer outro local do mundo. Para os grandes apreciadores, um conhaque de qualidade começa no grau X.O. pois a be bida precisa de um envelhecimento suficien te para desenvolver o seu bouquet complexo. Muitas produtoras também disponibilizam co nhaques com grau Extra ou Hors d’Age, geral mente com mais de 30 anos e que, praticamen te sem exceção, são muito bons.
Algumas marcas tornaram-se referências mundiais – sobretudo a Hennessy, a Rémy Martin, a Martell e a Courvoisier – e são sem pre uma escolha segura.
A nossa sugestão deste mês vai para o Hen nessy X.O.
Os Hennessy são, entre todas as marcas de to po neste segmento, dos mais vendidos em todo o mundo. A história do renomado e sofisticado conhaque francês começou em 1765 quando o capitão Richard Hennessy, um irlandês cató lico que servia as forças armadas francesas do Rei Luis XV, fundou a sua casa de conha que na cidade de Cognac, na margem direita do Rio Charente. A marca - Hennessy & Co –só surgiu, no entanto, em 1814. Por volta de 1840, quase 90% da produção do conhaque era exportada, tendo a Inglaterra como um de seus principais mercados e durante o século seguinte a Hennessy começou a exportar pa ra praticamente todo o mundo.
Em 1971, Killian Hennessy, da quinta ge ração do fundador da empresa, organi zou a fusão da empresa com a famosa pro dutora de champanhe Moet & Chandon.
A marca tornou-se então a primeira a pro duzir mais de 24 milhões de garrafas no ano, estabelecendo-se, e 1984, como lídewr da sua categoria
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os conhaques conTinuam a ocupar um lugar muiTo especial no universo das bebidas alcoólicas
música filmes livros
exposiÇÕes
FÉ
Exposição dE FotograFias dE Mário Macilau
Fundação Fernando
Leite Couto
inauguração: 3 de Julho Hora: 18h
VÊ sÓ Maputo carMEn nhataVE , dudu MognE , FrÉdÉriquE Martin, hÉldEr ZandaMEla, hElEna MElo, MiguEl pEral, nEidE tsunaMi, silassE d’saloMon, tiago MaciEl, Victor dE JEsus E YassMin FortE | curadoria: Mário Macilau
Centro Cultural Franco-Moçambicano inauguração: 9 de Julho Hora: 18h30 Patente até 3 de agosto
World prEss cartoon
Camões - Centro Cultural Português em Maputo inauguração: 25 de Julho Hora: 18h Patente até 23 de agosto Horário: Segunda a Sexta das 11h às 18h
TeaTro
nos tEMpos dE gungunhana MonÓlogo basEado no tExto original dE ungulani ba Ka Khosa - ualalapi criação E intErprEtação: KlEMEntE tsaMba
Fundação Fernando Leite Couto Dia 2 de Julho Hora: 18h
nos tEMpos dE gungunhana MonÓlogo basEado no tExto original dE ungulani ba Ka Khosa - ualalapi criação E intErprEtação: KlEMEntE tsaMba
Fundação Fernando Leite Couto
Dia 2 de Julho Hora: 18h
a casa uMa pEça dE tEatro quE Mistura tÉcnicas circEnsEs E conVida À intEracção EntrE crianças E adultos. grupo tEatro MaKWErhu
Fundação Fernando Leite Couto
Dia 13 de Julho Hora: 10h30
liTeraTura
sarau dE poEsia ignição do luar MElita MatsinhE & aMigos
Fundação Fernando Leite Couto Dia 17 de Julho Hora: 18h
lançaMEnto da colEção “gosto dE lEr” duas Vidas À procura do Mar E outros contos albino Magaia Editora FErnando lEitE couto
Fundação Fernando Leite Couto
Dia 23 de Julho Hora: 18h
• em destaque PENSANDO O CINE MA MOÇAMBICANO Org. CArMEN TINDÓ SECCO ED. KAPulANA
esta colectânea, orga nizada por Carmen Lu cia Tindó Secco, inclui onze ensaios analisan do filmes e obras lite rárias de Moçambique. Os textos são resulta do do evento “encon tro com Luís Carlos Pa traquim”, durante a iii Mostra de Cinema afri cano, na faculdade de Letras da Universidade federal do rio de Janei ro (UfrJ), em 2017, e do curso “afeto, Literatu ra e Cinema: represen tações da História em obras literárias e filmes de angola, Moçambi que e Guiné-Bissau”, ministrado na faculda de de Letras da UfrJ, também em 2017.
Os ensaios apresen tam, analisam e com param obras cinema tográficas moçambica no, como “a árvore dos antepassados” e “Vir gem Margarida”, de Li cínio azevedo, “O Bú zio”, de Sol de Carva lho, “Ngwenya, o croco dilo” de isabel Noronha, além da adaptação para o cinema do livro “Ter ra Sonâmbula”, de Mia Couto, dirigida por Tere sa Prata. O livro é publi cado pela editora Kapulana.
mÚsica
no tEMpo dos tocadorEs: uM tributo À MÚsica MoçaMbicana (rEposição) –graVação dE dVd | tp50
Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 5 de Julho Hora: 20h30
Kongoloti sEssions tÉgui uMa das VoZEs MoçaMbicanas Mais potEntEs da noVa gEração
Fundação Fernando Leite Couto
Dia 5 de Julho Hora: 18h
sinFonia Étnica EspEctáculo dE MÚsica tradicional MoçaMbicana cantada EM nhÚnguE , Echuabo E changana
Fundação Fernando Leite Couto Dia 19 de Julho Hora: 18h
cinema
EM grandEs Ecrãs dE JaiME MahuManE , sEguido dE conVErsa coM o rEaliZador E FEliZarda MabotE
Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 1 de Julho Hora: 19h
a guErra da bEatriZ dE luigi acquisto E bEtY rEis (tiMor-lEstE , 2013, 105’) | parcEria: lusophonE FilM FEst
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Dia 8 de Julho Hora: 19h
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museu da mafalala um aconTecimenTo maior
o museu da mafalala é de base comunitária com um enfoque na cidade de Maputo e procura, por esta via, apre sentar o processo histórico de surgimento do bairro da Mafalala, os seus primeiros habitantes, os eventos im portantes que tiveram palco nesta comunidade e acima de tudo explicar a relação com a cidade de Maputo. Tudo isto, ao mesmo tempo que procura estabelecer uma ponte entre o passado e o futuro.
A “Associação IVERCA| Turis mo, Cultura e Meio Ambien te” tem vindo desde há muitos anos a desenvolver um tra balho notável trabalhando na preservação, conserva ção, documentação e pedago gia do património cultural do bairro da Mafalala. Entre as múltiplas activida des desenvolvidas, entre as quais se destaca, por exem plo, o Festival da Mafalala
que a IVERCA organiza anual mente, importa não esque cer a publicação, em 2016, do livro “Mafalala: Memórias e Espaços de um Lugar”, obra realizada em parceria com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, com coordenação de Maraga rida Calafate Ribeiro e Wal ter Cossa, e que continua a ser um trabalho de referência na matéria.
A obra foi escrita e organiza da por uma equipa mista de investigadores portugueses e moçambicanos que, em con junto, sentiram a necessidade de trabalhar e registar um assunto que, ambas as partes, de diferentes formas, tinham estudado e conheciam. Deste modo, o diálogo, as transfe rências de conhecimentos e o superior interesse de assim
servir a comunidade orienta ram os autores do livro. Conforme se refere na apre sentação do livro, “a produ ção partiu do cruzamento de olhares do Urbanismo e dos Estudos Culturais sobre as cidades de Luanda e Maputo. Teve como espaço conceptual central o conceito de cidade como texto (Lévi-Strauss) ou palimpsesto de textos (André Corboz), e olhou a cidade como espaço de fundação da ocu pação, como espaço colonial, como espaço de resistência e como espaço forjador das no vas nações”.
O livro resultou do processo de conjugação do projecto da IVERCA Mafalala Turística com a iniciativa académica Patrimónios de Influência Portuguesa coordenado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coim bra, que se dedica ao estudo e interpretação proactiva das heranças das culturas que se exprimem em língua portuguesa.
museu da mafalala
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Maputo
a infra-esTruTura represenTa um acTivo imporTanTe no processo de democraTizaÇão da culTura
JeT sKi op ÇÕes para Todos os gosTos (e bolsas)
durante muito tempo per sistiu a ideia de ter um jet ski era um luxo apenas ao alcan ce daqueles com capacidade para fazer um investimento significativo na sua aquisição. Mas os tempos mudaram, o mercado diversificou-se e é hoje possível encontrar mo delos diferenciados capazes de corresponder às expec tativas, aos tipos utilização e à disponibilidade financei ra de vários segmentos de consumidores.
Se for para usar o jet ski de uma forma recreativa e fa miliar então, talvez prefira o modelo sentado, que é mais fácil de conduzir e pode levar até 4 pessoas. Tenha atenção também à motorização. Exis tem, de uma forma genérica, jet skis com motores a 2 e a 4 tempos.
O mercado dos jet skis é domi nado, a nível mundial, por al gumas marcas, nomeadamen te a Kawasaki, a Yamanha e a Sea Doo. Deixamos-lhe, de
seguida, algumas sugestões. Se pretende (e tem capacida de financeira) para ter um modelo topo de gama que combina luxo e alta velocida de então a melhor opção é a Kawasaki Jet Ski Ultra 310LX. Com um super-compressor Eaton Twin Vortices Series (TVS), com com um motor que oferece uma excelente pro pulsão, alimentando o casco V profundo da embarcação que oferece uma estabilidade ini gualável em águas ásperas e difíceis. Este modelo também vem equipado com um siste ma de áudio JETSOUND, pio neiro em embarcações pes soais, que permite ouvir mú sica através do amplificador de 2x20 watts e altifalantes de 30 watts.
A marca lançou também o Ul tra 310R que segue a mesma filosofia. Os dois modelos vem equipados com um motor
DOHC de 310 cavalos e quatro cilindros, com injecção de 1,5 litros e resfriamento líquido. Ambos os modelos vêm equi pados com uma opção de pi lotagem “Cruise Mode”. Nes te modo de condução o jet ski consome bem menos combustível o que permi te evitar ter de parar para reabastecimento. No pólo oposto, isto é, se a sua opção é mais recreativa e fa miliar, então a melhor oferta está, provavelmente, nos mo delos da Sea Doo Spark que têm como característica prin cipal serem leves, fáceis de pilotar e poderem sere rebo cados por um carro pequeno. Uma opção intermédia entre as duas anteriormente refe ridas, é modelo EX SPORT 1050 da Yamaha, equipado com o premiado motor TR-1, que a é a nova geração dos motores Yamaha, com um design mais compacto, mas sem perder a potência e a qualidade carac terísticas da marca. O motor é de 4 tempos com 3 cilindros, o que lhe confere grande agi lidade e fácil manobra.
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se preTende um modelo Topo de gama que combina luxo e alTa velocidade enTão a melhor opÇão é o ulTra 310lx Supercompressor Eaton Twin Vortices Series (TVS) 1,498cc Injecção digital Preço 18 000 USD KawasaKi JeT sKi ulTra 310lx
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