José Pracana

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A MARIA NATÁLIA (1946-2016)
Ser Inteiro Cantar, Sentir e Saber o Fado: Memória do Zé Pracana O Meu Primo Zé A Arte de Ser Toda a Gente Grande Recordando Zé Pracana Fado, Guitarra Portuguesa e Humor Um Curador do Fado O Zé Pracana Quanta Saudade Memórias do Amigo Sempre Bem-Humorado Pracana, o Aprendiz Mais Antigo Muitos Amigos Discos Troféus e Condecorações Sinopse Cronológica 5 13 33 43 51 65 77 81 85 87 89 93 107 129 133 137 índice SARA PEREIRA RUI VIEIRA NERY CLARA PRACANA JOÃO BRAGA PAULA MOURA PINHEIRO NUNO DE SIQUEIRA CARLOS DO CARMO CAMANÉ KATIA GUERREIRO JOÃO VEIGA PEDRO CALDEIRA CABRAL PEDRO FÉLIX RICARDO BÓIA

Ser Inteiro

SARA PEREIRA

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive1

Fernando Pessoa, 1933

Toda a retrospectiva procura conter, dentro de limites inevitavelmente estreitos, a presença inteira que os transcende. José Pracana é consensualmente reconhecido como uma das grandes figuras da história do Fado. Músico, intérprete, imitador, colecionador e investigador, José Pracana foi, seguramente, uma das personalidades mais completas que o Fado conheceu. Mesmo cientes de que o seu vasto património humano dificilmente caberá na pequena geografia de uma exposição, este exercício, para lá de imperioso, é pretexto de celebração da admirável existência de alguém que soube ser grande e inteiro em tudo o que fez.

Assumindo-se como amador até ao final, tal estatuto nunca o impediu de acompanhar e de conviver com os grandes pilares da tradição fadista – de Amália Rodrigues a Maria Teresa de Noronha, de Alfredo Marceneiro a João Ferreira-Rosa - de actuar em concertos nos vários palcos do mundo ou de nos ajudar a compreendermos colectivamente a história do Fado e a consolidarmos os nossos conhecimentos sobre uma tradição popular, tão profundamente enraizada na nossa sociedade.

1 - Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa. Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor. Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994), p. 148.
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A sua biografia artística acompanhou um período de importantes transformações no Fado, desde a segunda metade do século XX até às primeiras décadas do século XXI. Espírito livre e autêntico, cultivou, por opção e convicção, o estatuto de amador, no sentido mais literal da palavra: José Pracana amou profundamente uma tradição para se lhe entregar, abnegada e generosamente. Foi, seguramente, o amador mais distinto que a história do Fado conheceu. Ao longo de décadas sucessivas, tal estatuto nunca o impediu de testemunhar, de contribuir e de protagonizar alguns episódios do maior significado para a história do Fado.

Profundamente exigente consigo-mesmo, José Pracana pôs exigência em tudo o que fez. Essa exigência, artística e ética, foi nele, o outro nome da integridade. Fundada na exigência e no rigor, a sua biografia artística foi também a história de um amor profundo pelo Fado tradicional que abraçou e elevou a um tom maior. Nele se combinaram autenticidade humana e artística, em perfeita simbiose.

A sua aproximação ao universo do Fado fez-se no circuito privilegiado de ligação à tradição fadista mais legítima, rodeado das grandes figuras de referência, de Alfredo Marceneiro a José Nunes, Fernando Freitas ou Raul Nery. Do convívio quotidiano com os grandes pilares do Fado do século XX, José Pracana colheu um conhecimento, tão sólido, quanto profundo, da matriz tradicional. Esse entendimento, transbordante de respeito e gratidão, fez dele o mais generoso e o mais feliz dos Mestres, para quem a partilha de conhecimentos e referências foi sempre motivo do maior entusiasmo. Aventurando-se na história do Fado, o seu encantamento crescia à medida que se adensavam os mistérios: a identificação das melodias do fado tradicional, o estudo do repertório, a pequena história da criação de cada fado, as histórias de vida dos seus criadores, a identificação dos executantes nas gravações dos alvores do século XX, foram apenas alguns do vastíssimo inventário de temas que constituíam para José Pracana, matéria de inesgotável curiosidade e fascínio.

Às mais jovens gerações de intérpretes e músicos, ensinou os segredos de fazer da repetição uma permanente reinvenção, a verdade que tem de transparecer em cada palavra, em cada frase musical. Com ele, todos passámos a compreender melhor a dimensão do legado de Alfredo Duarte Marceneiro, Armando Augusto Freire, Frederico Valério ou José António Sabrosa, entre tantas outras figuras cujo legado enalteceu ininterruptamente.

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Capaz de uma entrega absoluta à narrativa intrínseca de cada tema cantado, as suas interpretações, bem distantes de uma mera exibição de malabarismo vocal, correspondiam sempre a um exercício de expressão autêntica. Mais tarde, o seu talento artístico viria a consagrar-se também na guitarra portuguesa, que dedilhava com uma expressão inigualável. Dotado de uma invulgar versatilidade e conhecendo como ninguém a sonoridade dos grandes mestres da guitarra portuguesa, toda uma luz interior se acendia quando ilustrava, na perfeição, o som da guitarra de Raul Nery, de José Nunes, Jaime Santos ou Fernando Freitas.

Esta empatia profunda com o outro, a extraordinária capacidade de sair de si, cimentou nele o raríssimo dom da heteronímia. Como se todas as vozes e todas as sonoridades da guitarra habitassem nele. Uma inteligência emocional apurada, uma notável capacidade de observação e o talento incomum para, saindo de si e entregar-se a cada tema, cantado ou tocado, foram alguns dos ingredientes mágicos desta sua arte de ser toda a gente, que o seu grande amigo, João Braga, tão bem descreve nas páginas deste catálogo. Como imitador, Pracana arrebatou plateias e fez as delícias das audiências televisivas.

Conhecedor profundo da história do Fado, dirigiu séries televisivas consagradas ao género, colaborou em variadíssimas edições de livros e de antologias discográficas. Não lhe devemos apenas a preservação de um legado musical do maior significado para a nossa identidade cultural mas também o seu justo reconhecimento como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, candidatura à qual deu um contributo inestimável.

Ao longo da vida reuniu uma vasta colecção de testemunhos artísticos fundamentais para ilustrar a história do Fado, que cuidadosamente dispôs nas paredes da sua casa em Ponta Delgada onde criou um retiro para receber os amigos.

Homem de cultura, de permanente abertura ao outro, movia-o o calor do convívio. O convívio da taberna ou do salão. A sua humanidade contagiou, da mesma forma, o coração de príncipes e de plebeus. Desembainhando a espada do seu sentido de humor, José Pracana desafiou o mundo à gargalhada, ciente, tal como Almada, de que a alegria é a coisa mais séria da vida.

Capaz das graças mais inusitadas, a sua crónica espirituosa do quotidiano devolvia-nos o mundo num espelho onde nos revíamos, inevitavelmente, mais felizes. Observador astuto e atento, tudo em seu redor inspirava o seu sentido de humor, que tinha tanto de inesgotável como de desarmante.

Tive a honra da amizade de José Pracana. A mais singela memória do seu convívio deita por terra o velho adágio de que não existem pessoas insubstituíveis. Existem, sim. Para ele, todos os aplausos. Para nós, em todos nós que com ele convivemos, permanece a insubstituível memória de uma presença tão absoluta que era capaz de ser toda a gente e ninguém para que, aquilo que nos dava, de mais pessoal, pudesse ser afinal pertença de todos.

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Sara Pereira José Pracana com Dinis Raposo, Ponta Delgada, 2010. Colecção José Pracana José Pracana e Alfredo Marceneiro, O Arreda, Cascais, 1970. Colecção José Pracana

Cantar, Sentir ----e Saber o Fado: Memória --do Zé Pracana

Reza o velho ditado que “tão fadista é quem canta o Fado como quem o sente” – e eu atrever-me-ia a acrescentar-lhe ainda “e como quem o sabe”. Se assim é, o meu Amigo Zé Pracana, na sua tripla condição de intérprete inspirado, de amador fervoroso do Fado, e de conhecedor profundo da sua prática e da sua História, e pela forma como estas três facetas nele interagiam de forma inseparável e inimitável, terá sido por certo um dos grandes fadistas que eu conheci.

Do seu talento de fadista ficaram-nos, infelizmente, poucas gravações que possam atestar a quem não teve o privilégio de o ouvir ao vivo o que era a sedução do seu canto: alguns discos de 45 rotações – muito poucos – e uma meia dúzia de vídeos que se podem ainda encontrar no YouTube. Destes, deixem-me recomendar-vos o de A Lenda das Rosas, acompanhado pelo grande Fontes Rocha, numa magnífica noite de fados que julgo ter sido captada em 1976 em Pintéus, em casa do João Ferreira-Rosa, e de que sobraram também outros momentos fabulosos com Alfredo Marceneiro e com o próprio anfitrião1 . Ou então o de Um Fadista Já Cansado, com outro Mestre da guitarra portuguesa, José Nunes2 . Em ambos vemos e ouvimos um fado intenso mas sereno, sentido com sinceridade mas sempre elegante no seu desenho, com uma dicção e uma compreensão perfeitas do texto, e com uma arte de estilar que consegue ir variando subtilmente a melodia de estrofe em estrofe, mas ao mesmo tempo ir construindo do princípio ao fim uma narrativa eficaz, com uma curva exemplar em que há um princípio, um clímax emocional e uma conclusão. Não sei quantos fadistas conseguem hoje cantar-nos/contar-nos assim um fado, mergulhando nas raízes mais remotas do género, em que o fadista era, precisamente, e antes de mais, um contador de histórias.

1 - youtube.com/watch?v=ljstEoVHcy0

2 - youtube.com/watch?bv=H89yy0Tuqlk

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O Zé Pracana tinha, de resto, em relação ao Fado, duas atitudes muito claras. Por um lado uma humildade de princípio, enquanto intérprete, para com a nobreza essencial que reconhecia no Fado, o que excluía à partida, da sua parte, qualquer truque fácil de expressão que não fosse estritamente decorrente da sua compreensão do poema e da música que estava a cantar. Cantar o Fado era para ele, acima de tudo, servi-lo. Por outro lado, e talvez como consequência da primeira destas posturas, um fortíssimo sentido de tradição, que o fazia ver-se, enquanto fadista, como um mero elo adicional numa cadeia de transmissão de um repertório canónico e de uma prática interpretativa consagrados. Cantar o Fado era também, para ele, respeitá-lo religiosamente nas características que considerava fazerem parte de um núcleo duro definitório do próprio género, passado de geração em geração.

Isso não implicava, de modo algum, que a sua relação com o Fado fosse de algum modo tristonha ou acabrunhada. O Zé Pracana tinha um profundo sentido de humor e uma capacidade inesgotável de brincar com as coisas e as pessoas que mais amava. Os seus dotes de imitador eram únicos, e num serão entre amigos o auge da festa era, invariavelmente, uma série interminável de imitações suas de grandes fadistas que, mesmo quando não podiam produzir sonoridades absolutamente idênticas às dos visados, lhes conseguiam captar com a finura de um grande caricaturista os traços mais característicos de colocação vocal e de expressão interpretativa. Mais uma vez vos sugiro uma visita ao Youtube, para uma pequeníssima amostra, no palco do Casino do Estoril, em 1987, de algumas das suas imitações de Vicente da Câmara, Manuel de Almeida ou Alfredo Marceneiro, entre outros – acompanhado, já agora, por outro grande Senhor da guitarra, desta vez Raul Nery 3

Não sei bem por que razão o Zé Pracana decidiu a um dado momento deixar de cantar, primeiro como fadista “sério”, depois até no que toca às suas imitações. A razão que ele invocava era a de uma súbita anomalia nas cordas vocais que lhe teria dificultado o canto, e é evidente que não tenho motivo para questionar essa justificação. Mas não deixo de pensar que, no fundo, terá havido da sua parte, nesta decisão, essa mesma humildade a que já me referi, e, por conseguinte, um excesso de autocrítica que o terá porventura levado, face ao termo de comparação dos fadistas que mais admirava, a não querer contrapor-lhes o seu canto, que considerava menor.

3 - youtube.com/watch?v=m4K6wB7NMHI

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Amália Rodrigues e José Pracana, O Arreda, Cascais, 1971. Colecção José Pracana
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Amália Rodrigues e José Pracana, O Arreda, Cascais, 1971. Colecção José Pracana

Continuou, contudo, até ao fim da vida, a tocar guitarra, faceta em que talvez se sentisse mais seguro de si próprio. E como guitarrista era mais uma vez evidente o seu conhecimento das técnicas e dos motivos de acompanhamento instrumental tradicionais, remontando aos exemplos remotos das gravações de Luís Petrolino, de José Marques Piscalarete ou – muito em particular – do grande Armandinho. Era um acompanhador seguro, e como tal não só tinha um élan rítmico sólido, que dava total apoio e confiança ao fadista, como sabia exactamente quando devia recuar para deixar sobressair a voz e quando lhe podia responder, entre os versos do poema, com um motivo instrumental adequado à expressão emocional do momento. Para lá de, também neste aspeto, ter um domínio técnico da guitarra que lhe permitia imitar na perfeição a sonoridade e a técnica dos grandes guitarristas que tinha conhecido: Nery, Nunes, Fontes, Casimiro Ramos, Jaime Santos, Camarinha, ou Carvalhinho. Fadista autêntico como intérprete, era-o também – regressemos ao provérbio inicial – pela forma como sentia o Fado em todas as suas manifestações. Chegado a Lisboa aos dezoito anos, em 1964, vindo da sua querida São Miguel natal, com o propósito de ingressar na Universidade, depressa mergulhou, em vez disso, no circuito fadista de raiz da capital, onde, cumpridos todos os passos da iniciação tradicional de qualquer meio desconfiado do universo exterior, foi aceite de pleno direito. Tornou-se amigo de figuras icónicas da boémia fadista, como o poeta Hermano Sobral, foi quase que adoptado como mais um filho por Alfredo Marceneiro, a quem muitas vezes acabaria por acompanhar a casa de manhãzinha, no final dessa ronda das casas de Fado que constituía a rotina do velho patriarca no final da vida, partilhou copos e amores com fadistas maiores e menores. Circulava com o mesmo à-vontade, a mesma elegância e a mesma naturalidade pelas tabernas do Bairro Alto ou pelos salões aristocráticos, e dessa vivência intensa foi absorvendo experiências, confidências, histórias e memórias.

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Amália Rodrigues, José Pracana, O Arreda, Cascais, anos 70. Colecção José Pracana

Daí lhe veio a terceira faceta do ditado. O Zé Pracana sabia, como poucos, o que eram o Fado e os fadistas. Conheceu os mais velhos, que vinham ainda da era do início da profissionalização do género, na viragem para a década de trinta, como o próprio Marceneiro, conviveu com todos os das sua geração, aproximadamente, que integraram os elencos da rede de casas de Fado a partir dos anos 50, na época de ouro deste circuito, mas foi também íntimo de grandes figuras cuja carreira, por diferentes razões, se processou fora desse contexto, como Amália ou Maria Teresa de Noronha. Dessa rede extensa de amizades e cumplicidades nasceu o projecto da casa de Fado que ele próprio chegou a abrir em Cascais, o Arreda, por onde, entre 1969 e 1972, passavam informalmente os maiores nomes do Fado da época, por vezes em sessões improvisadas que se prolongavam, fechadas já as portas para cumprimento do horário oficial e com um público exclusivo de amigos, até altas horas da madrugada.

De todos eles foi aprendendo, de todos foi registando episódios pessoais e artísticos, acumulando uma sabedoria que era unanimemente respeitada, dentro e fora do meio fadista. Poucos, como ele, por exemplo, podiam dizer com segurança quem era o autor original de cada melodia de fado, ou quais de entre os fadistas o tinham cantado de forma mais emblemática e como o tinham feito, exemplificando-o logo com a voz ou com a guitarra. Escusado será dizer que essas memórias, evocadas com um brilhozinho nos olhos, vinham acompanhadas quase sempre de pequenos episódios picarescos divertidíssimos, ainda que na sua maioria impublicáveis… E ao património imaterial desta sua sabedoria ia-se juntando a recolha de uma coleção pessoal riquíssima de fontes materiais em alguns casos únicas: fotografias, cartazes e programas de concertos, instrumentos, cartas, adereços pessoais e uma infinidade de peças depositadas com carinho na sua casa de Ponta Delgada.

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Acácio Gomes, José Pracana, Alfredo Marceneiro, Adelina Ramos, O Arreda, Cascais, c.1969. Colecção Museu do Fado Maria Teresa de Noronha e José António Sabrosa com José Pracana, O Arreda, Cascais, s/d. Colecção José Pracana
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José Pracana, Alfredo Marceneiro, Rodrigo, O Arreda, Cascais. c.1966. Colecção Museu do Fado

O seu papel como transmissor para as novas gerações de um legado de conhecimento ímpar sobre a prática fadista tradicional foi decisivo. Nunca me esquecerei da lição que lhe vi dar em Agosto de 2009 a uma jovem estrela então em ascensão no panorama fadista das novas gerações, durante um dos “Cruzeiros de Fado” promovidos a bordo do paquete Funchal. Quando o Zé Pracana começou à guitarra o acompanhamento característico do Fado Corrido e a menina em causa lhe pediu que mudasse de tom para a tonalidade em que estava habituada a cantar, a resposta, num tom de autoridade paternal simultaneamente reconfortante e inapelável, foi: “Não, agora a minha amiga, em vez de repetir as voltinhas que está habituada a dar, vai estilar de improviso a melodia dentro deste tom!”. E logo a seguir começou ele mesmo a ensinar-lhe como se fazia – de resto, devo dizer, com excelentes resultados imediatos de aprendizagem por parte desta aluna inesperada, ainda que porventura de pouca permanência a longo prazo...

Para grande pena minha, que constantemente o espicacei para que o fizesse e não deixasse perder esse conhecimento precioso, nunca quis – tanto quanto sei – passá-lo a escrito. Mas estava sempre disposto a partilhá-lo com quem lho pedisse, e quando o fazia os seus conselhos e sugestões eram sempre precisos e enriquecedores. Foi o que sucedeu quando escrevi o meu primeiro ensaio de fundo sobre a História do Fado, para a entrada-âncora sobre este tema destinada à Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, dirigida pela minha Colega Salwa Castelo Branco 4 , e lhe enviei o primeiro esboço do meu texto, que muito beneficiou, tanto das suas recomendações como do seu encorajamento. Como consolação pela obra escrita que não nos quis deixar, ficaram-nos os programas televisivos que realizou sobre o Fado para a RTP (Vamos aos Fados, em 1976, e Silêncio que se Vai Contar o Fado, em 1992, esta para a RTP Açores).

Também por essa competência que lhe era reconhecida, o Zé Pracana foi repetidamente chamado a colaborar como consultor em projectos patrimoniais de reedição de discografia clássica do Fado, como sucedeu na edição da série Biografia do Fado, lançada em 1999 pela Ediclube, com a disponibilização, pela primeira vez, de um extenso acervo de livros, discos e vídeos essenciais para a História do

Fado. E o 4 - Rui Vieira Nery, “Fado”, in Salwa El-Shawan Castelo Branco, coord., Enciclopédia da Música em Portugal do Século XX. Lisboa: Círculo de Leitores, Vol. II, pp. 433-453
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José Pracana, Alfredo Marceneiro e Adelina Ramos, Acácio Gomes, António Salsa, O Arreda, Cascais, c. 1969. Colecção José Pracana

mesmo ocorreu com a reedição das gravações históricas da colecção Biografias do Fado, lançada pela Valentim de Carvalho a partir de 2004, com a série de CDs Todos os Fados, editada com a revista Visão em 2005, ou com a avaliação do fundo discográfico do colecionador inglês Bruce Bastin, para efeitos da sua aquisição pelo Ministério da Cultura e pela Câmara Municipal de Lisboa. Por sua vez, quando em 2009 a RTP decidiu produzir a série documental Trovas Antigas, Saudade Louca, sobre guião original da minha autoria, e nos convidou – ao Carlos do Carmo, à Sara Pereira e a mim – para a sua conceção final, não tivemos qualquer dúvida de que esta nossa equipa precisava de o integrar também, e o seu contributo para o nosso trabalho foi essencial na primeira fase de definição do alinhamento do programa. Foi nesse preciso momento que se identificou a doença terrível que o haveria de matar em 2016, num processo tragicamente lento e doloroso, em que a cada momento de aparente recuperação se sucedia uma nova recaída, perante a raiva impotente de todos os que o amavam. Mas durante toda essa saga de esperanças frustradas e de sofrimento, o Zé Pracana mantinha o seu senso de humor de sempre, o gosto de estar com os amigos, a alegria de participar em tertúlias informais de Fado sempre que as forças lho permitiam, com o sorriso e o olhar luminosos que faziam da sua companhia uma fonte constante de alegria para os que estavam à sua volta.

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Segismundo Bragança, Alfredo Marceneiro, José Pracana, Maria Teresa de Noronha, José António Sabrosa, O Arreda, s/d. Colecção Museu do Fado
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A última vez que nos encontrámos foi em Março de 2015, quando fiz na Brown University, em Providence, a Vasco da Gama Lecture anual da Cátedra de Estudos Portugueses daquela Universidade, para a qual tinha escolhido como tema, precisamente, a História do Fado. Só no final da conferência o vi avançar direito a mim, sorridente, apoiado numa bengala e no braço cúmplice da Maria Natália. Estava a sair de um longo período de internamento e terapêutica num hospital ali perto, tinha claramente recuperado peso e agilidade, e tinha feito questão de estar ali presente, sabendo que aquele era para mim um momento importante da minha carreira académica. Abraçámo-nos longamente, felizes com o reencontro e com as perspectivas aparentes de uma regressão da doença. Mas quando voltei a falar com ele, pelo telefone, algum tempo depois, o próprio som da sua voz já não deixava dúvidas sobre o desfecho inevitável deste combate condenado.

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José Pracana, Hugo Ribeiro, José Nunes, Alfredo Marceneiro, gravação do disco Uma Noite de Fado em Cascais, O Arreda, Cascais, 1972. Colecção José Pracana
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A História tem destas injustiças de produzir por vezes protagonistas fundamentais, que marcaram profundamente o seu tempo e o seu espaço, mas dos quais não nos deixa depois testemunhos materiais relevantes. Do Zé Pracana ficaram-nos, a este nível, poucos discos, poucos registos filmados, quase nada escrito e um acervo de recordações reunidas na sua coleção pessoal. Nada que chegue para, por si só, atestar suficientemente o que foram o seu papel decisivo no circuito do Fado do seu tempo, o impacto da sua voz e da sua guitarra nos que o puderam ouvir, a relevância do conhecimento sobre a História e a prática do género que ao longo da sua vida sempre soube recolher e partilhar. É por isso que esta exposição, em boa hora promovida pelo Museu do Fado, tem o mérito de ajudar a fixar de forma indelével na memória colectiva da comunidade fadista o testemunho de homenagem e de gratidão de todos os que o admirámos, que com ele aprendemos, e que o amámos.

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José Pracana, José Nunes, Alfredo Marceneiro, Vítor Duarte e Rodrigo, gravação do disco

Uma Noite de Fado em Cascais, O Arreda, Cascais, 1972. Colecção Museu do Fado

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Fernando Freitas e José Pracana, O Arreda, Cascais, 1970. Colecção José Pracana
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José Pracana, José Nunes e Hugo Ribeiro, gravação do disco Uma Noite de Fado em Cascais, O Arreda, Cascais, 1972. Colecção José Pracana
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Rui Vieira Nery e José Pracana, Ponta Delgada, 2009. Colecção José Pracana
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José Pracana e o avô, s/d. Colecção José Pracana

O Meu Primo--Zé

CLARA PRACANA

Falar do meu primo Zé é um pouco como falar de mim própria, sobretudo da minha adolescência. Até lá, o Zé esteve grande parte do tempo em Moçambique e pouco o vi, excepto na infância.

Partilhávamos um amor desmedido pelo nosso avô, personagem rara porque conseguia ser, ao mesmo tempo, muito carinhoso e muito autoritário.

Lembro-de passear de mão dadas com um dos meus primeiros namorados (que já morreu), debaixo do olhar paternalista do Zé e da sua namorada, ambos já “crescidos”. Assim, a figura do Zé foi-se confundido com a do meu avô, o que provavelmente não terá sido alheio à minha própria história, nem à dele.

Foi com o Zé que tive o meu primeiro contacto com o fado, fatal experiência que me deixou marcas para toda a vida. Ainda hoje tenho sempre comigo no carro os dois CDs intitulados “Biografia do Fado”, uma excelente selecção que ele dirigiu. Tenho oferecido vários exemplares a amigos estrangeiros, seduzidos por esta música dolente e dolorosa, aqui e ali salpicada de vida e mesmo de picaresco.

Com o Zé conheci o chamado fado das hortas. É que o fado não tem de ser necessariamente uma música para ser tocada e cantada a altas horas da noite, como muita gente pensa. Era muitas vezes cantada aos domingos à tarde, às vezes fora de Lisboa, em casa deste ou de aquele. Eram tardes longas, por vezes debaixo de uma parreira - até parece letra de fado! Às tantas, alguém puxava de uma guitarra, outro levantava-se para cantar, limpando a garganta, puxando pela alma.

As memórias são tantas que tenho dificuldade em enumerar, mas talvez uma das mais curiosas tenha sido uma visita a casa do Tio Alfredo (Marceneiro), um velhote mal disposto, mas com um inigualável talento. Lembro de me surpreender com a solicitude do Zé para com ele - o Zé não era propriamente um homem solícito - e de me perguntar em que medida teria aquilo a ver com o nosso avô. Hoje, sei que tinha tudo a ver.

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José Pracana e Amália Rodrigues, Lisboa, 1985. Colecção José Pracana

Com o Zé, além de ter aprendido o quer era o bom fado, e de ter percebido que nem sempre o melhor cantor era o melhor fadista, e vice-versa, compreendi também o infinito poder da guitarra, esse instrumento que sempre foi para mim um mistério e também fonte de estremecimento e jubilação.

Com o Zé conheci muitos fadistas, quase todos os que estavam vivos, a começar por esse génio que era a Amália Rodrigues. E mais nomes não refiro, para não ofender ninguém. Apreciar uma voz no fado é algo de muito subjectivo, tenho as minhas preferências, sobretudo entre as vozes masculinas, mas prefiro mantê-las para mim.

A guitarra do Zé era uma coisa, o humor dele outra. Julgo que ele próprio fazia essa distinção, porque nunca vi ninguém levar tão a sério o seu métier. Métier e mestre têm a mesma raiz, e o Zé era um mestre. O seu entusiasmo pela guitarra e pelo fado eram contagiantes e não acredito que alguém, que o tenha conhecido bem, possa não gostar de fado.

O Zé em novo também cantava - ainda hoje adoro ouvir a “Lenda das rosas”, poema neogótico de Linhares Barbosa, que na voz do Zé, com o seu ligeiro sotaque micaelense, resulta uma verdadeira delícia. O “Fadista já cansado” é outro fado comovente, que nunca me canso de ouvir.

No meio da sua enorme sensibilidade artística, o Zé era o maior gozão que alguma vez conheci. Gozava com tudo e todos e - coisa espantosa! - os visados nunca pareciam ofender-se. Eu, que fui vítima das suas constantes piadas toda a vida, sou a primeira a reconhecê-lo: até era bom ser gozada pelo Zé. Era, por estranho que isto possa parecer, um privilégio ser gozado pelo Zé - e quem me conhece sabe que eu não sou masoquista.

Tinha uma graça indescritível, inenarrável, difícil de imaginar para quem nunca o conheceu. Com ele, passavam-se horas a rir, até a barriga doer. Às vezes até me doíam os maxilares, de tanto gargalhar. Era uma festa contínua.

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Como ele conseguia manter um tal sentido de humor no meio das maiores provações, nunca consegui perceber. Sobretudo no últimos anos de vida e já muito doente, era uma surpresa e um encantamento vê-lo conseguir pôr a rir toda a gente, incluindo as enfermeiras e os médicos do hospital em Boston, onde tanto tempo passou. Até não sei se não estaria a dizer alguma piada quando lhe rebentaram as carótidas, uma fase particularmente difícil da sua doença.

Por circunstâncias que têm a ver com essa horrível doença chamada cancro, coincidimos por duas vezes em tratamentos nos hospitais, em Boston. O meu marido, que também já partiu, estava a fazer um agressivo tratamento para o cancro, o Zé também lá estava, por idênticas razões. Pode parecer difícil de acreditar, mas os nossos encontros no hospital (o Zé e a Natália, o Carlos e eu) eram mais uma ocasião para piadas e gargalhadas. Nunca vi o Carlos rir tanto e com tanto gosto, como quando estava com o Zé.

Punha toda a gente a rir enquanto viveu, partiu deixando-nos um riso amargo e muita tristeza e saudade. Não haverá outro como ele. Como homem, como guitarrista, como amante e conhecedor do fado.

O Zé partiu, deixando-nos a todos mais tristes. Ficou o mundo mais triste. Quase sem graça. E por mais piadas que nós, os da família, tentemos dizer, parece que ficamos sempre sem jeito, como se faltasse qualquer coisa.

Falta ele.

Clara Pracana, Outubro de 2019
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Amália Rodrigues e José Pracana, Ponta Delgada, 1992. Colecção José Pracana
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Amália Rodrigues e José Pracana, 1992. Colecção José Pracana Alfredo Marceneiro, José Pracana, Francisco Perez Andión (Paquito), Bica, Lisboa, 1979. Colecção José Pracana
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Alfredo Marceneiro, José Pracana, s/d. Colecção José Pracana
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Alfredo Marceneiro, Francisco Perez Andión (Paquito) e José Pracana, Taverna do Embuçado, 1973. Colecção José Pracana
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João Braga e José Pracana, Nova Iorque, EUA, 1978. Colecção José Pracana

A Arte de-Ser Toda a ---Gente

J OÃO BRAGA

Conviver durante mais de cinquenta anos com José Pracana foi um privilégio e a oportunidade de apreender as pessoas e o mundo com um olhar irónico, mas isento de maldade, foi partilhar a capacidade de observação aguda e a fonte inesgotável de criatividade e de transfiguração que são os dotes que melhor o caracterizam.

Outrora os alquimistas aludiam a uma alma de diamante que seria a aptidão de prescindir de uma visão pessoal, narcisista e adulterada do real para se identificar e confundir com toda a criação: ano após ano, José Pracana explorou esta arte de ser.

Tal como a dupla espiral de fogo que vai circulando por todos os reinos da natureza e vai irmanando a rocha, a árvore, a couve-flor e o ser humano na mesma aventura ascendente, ele deu inesquecíveis espectáculos de se “converter” em formiguinha atarefada, macaco irrequieto, cavalo de cortesia, criatura anónima afligida por doença insanável, palavroso escritor de sucesso, inumeráveis políticos sem norte, bardos românticos, cançonetistas exaltadas, ou fadistas atormentados. Sobre ele descia esse dom admirável de ser a voz e o gesto de toda a gente; deslumbrava os amigos quando era, entre muitos outros, Vitorino Nemésio, Marcelo Caetano, Tony de Matos, Simone de Oliveira ou Alfredo Marceneiro. Como um vulcão que explode as potencialidades reprimidas, José Pracana prescindiu quase sempre de ser ele mesmo para plasmar uma poderosa personalidade universal que o tornava um ente especial, atraente e inimitável. É a arte de ser toda a gente.

Tinha uma conexão íntima com o som, cultivava a paixão de dedilhar a guitarra portuguesa e perscrutava a génese de cada fado como se fosse o verbo que determina a natureza dos seres.

José Pracana exibiu quase sempre um perfume de felicidade nostálgica e de liberdade reencontrada que lhe permitiram encarar toda a sua vida com uma boa disposição à prova de bala e um sentido de humor desprovido de qualquer compromisso. Dotado de um físico invejável e de um talento transbordante, José Pracana foi um conquistador em série até encontrar o porto por achar, que lhe ofereceu Maria Natália, com quem casou e de quem teve um filho.

“Os deuses vendem quanto dão”. A labareda que alimentava o ímpeto vulcânico que o levava a viver com radical intensidade, foi um dom e também uma maldição; foi motivo de se tornar sinónimo de alegria e de entretenimento para os amigos e para o público, que o aplaudia nos concertos ou se deliciava com os programas de televisão em que participou. Mas

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foi, igualmente, origem da doença que lhe iria minar a traqueia, e fonte de pesquisa e estudo para os investigadores que em Boston procederam à remoção do órgão afectado pelo cancro para o substituir por um pioneiro instrumento artificial feito à medida.

Durante anos, sem queixas nem arrependimentos, José Pracana submeteu-se e disponibilizou-se nos EUA aos esforços complexos e inovadores da cirurgia de ponta que luta, um pouco por todo o mundo, para entender a causa dos carcinomas e a forma de combater ou minorar a devastação que anualmente provocam. E fez tudo isto sem nunca mostrar angústia, sem se lhe ouvir um queixume, preferindo teimar numa correria pela parte lúdica da vida, fazendo rir e rindo.

Não me parece estulto afirmar-se que José Pracana terá sido o artista açoriano mais benquisto dos portugueses entre as últimas três décadas do século XX e as duas primeiras do século XXI, mormente nos meios fadistas em geral e do Fado tradicional em particular, que ele enalteceu como poucos o fizeram ou farão. Personagem complexa, Pracana cantava o Fado de uma forma muito rara, com uma entrega que simultaneamente comovia ou empolgava quem o escutava, dependendo das características do fado que estivesse interpretando. Mais do que isso parecia imprimir uma heteronímia fadista ao seu estilo, reunindo num só todos os que ele ia assimilando à medida que se embrenhava pelos misteriosos e indecifráveis caminhos do Fado.

Escutá-lo era quase como ler Pessoa a criar muitas pessoas para lá da sua. Convivia visivelmente com alguma ansiedade, numa busca incessante de tudo quanto dissesse respeito ao Fado, que é como quem diz, à Vida, numa infatigável ânsia do que reportasse à música fadista até encontrar a causa que teria levado determinado melodista de fados a crismar cada uma das suas obras com um nome e não com um outro, ou os motivos que teriam alguns guitarristas para disputar a autoria de conhecidos temas, por vezes em tom mais do que enérgico, e até o porquê da cedência de certos versos ao ou à fadista que acabariam por celebrizá-los. Tendo dito que José Pracana foi um exímio cantador de fados, quando perdeu a capacidade de os cantar como estimava, cedo demais, diga-se, transmudou toda a sua emoção fadista para a guitarra portuguesa, que ele já dedilhava com inusitada paixão, sendo mesmo capaz de a tocar horas a fio e isto sem prejuízo da atenção de quem o escutava lhe dedicasse, muito por culpa da versatilidade da sua execução mas, sobretudo, pelo empenho arrepiante que punha em todos os temas do seu repertório.

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José Pracana, João Maria Tudela, João Braga, Taverna do Embuçado, Lisboa, 1968. Colecção José Pracana Rei Umberto II de Itália, José Pracana, Alfredo Marceneiro e João Braga, Palácio de Pintéus, 1973. Colecção José Pracana João Braga, José Pracana, Teresa Silva Carvalho, Francisco Perez Andión (Paquito), Segismundo Bragança, António Luís Gomes, Nova Iorque, EUA, 1978. Colecção José Pracana
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José Pracana, João Braga, Jaime Santos Jr., s/d. Colecção José Pracana Filipe Brito, José Pracana, Francisco Perez Andión (Paquito) e Amália Rodrigues na residência de João Braga, 1983. Colecção José Pracana
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José Pracana, Amália Rodrigues, residência de João Braga, 1983. Colecção José Pracana

A contragosto do seu fado mais emblemático, Um Fadista Já Cansado, José foi um incansável fadista e, a partir do momento em que se cruzou mais de perto com o lendário Alfredo Marceneiro, muito cedo na sua vida, passou a pautar a sua conduta nos lugares do Fado por uma espécie de heteronímia que o fazia parecer um outro Alfredo Duarte, com os mesmos termos, o mesmo andar gingão, a mesma gestuália, a mesma mimese, tal era a perfeição com que ele imitava a voz e o gesto do até então inimitável Marceneiro. E não se pense que ele se confinava ao gesto e à fala, porque na sua pracaniana forma de vida, o José personificava Alfredo de tal ordem que quem apenas o ouvisse cantar os seus fados ou contar as suas historietas julgaria estar na presença do Mestre.

Foi essa vertente heteronimista que permitiu a José Pracana trazer consigo o dom da palavra, o sentimento, a acção e demais características de quem decidia personificar, muito para lá do que, repete-se, mimetizar. E por isso quem teve a dita de ser presenteado com tais momentos cria estar a ver e a ouvir António Salazar, Vitorino Nemésio, Pedro Homem de Mello, António Ramalho Eanes, Aníbal Cavaco Silva, Carlos Ramos, Tony de Matos, Francisco José, Simone de Oliveira, Tristão da Silva, Vicente da Câmara, Manuel de Almeida, Vasco Santana ou António Silva, entre outros.

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José Pracana, António Luís Gomes, João Braga, Francisco Perez Andión (Paquito), Segismundo Bragança, Nova Iorque, EUA, 1978.

Colecção José Pracana

Por tudo quanto aqui fica dito, o universo fadista terá de mostrar gratidão ao Museu do Fado por em boa hora ter tomado a iniciativa de organizar esta exposição, que visa homenagear uma das mais completas figuras que o Fado já conheceu, perpetuando o trabalho desenvolvido, quase ininterruptamente, por José Pracana, em busca da clarificação de muitos pequenos mistérios do Fado, da intensidade emocional de o cantar, da comovedora plangência de o tocar, numa actividade ímpar em prol da música que Amália celebrizou em todo o mundo.

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José Pracana, com dedicatória para Alfredo Marceneiro, 1975. Colecção José Pracana

Grande

Pareceu-me gigante, a primeira vez que o vi. Forçada a inclinar para trás a cabeça para o olhar nos olhos lá nos cumes, dou com um José Pracana também perplexo com a minha mínima estatura. Só havíamos conversado ao telefone. Numa fracção de segundo, como o artista que era, José Pracana deu a volta ao embaraço e galanteou lá muito de cima: “a menina tem uns olhos que chegam ao céu”.

Rimos a bom rir e, durante horas, deliciei-me a ouvi-lo desfiar histórias dos quase 50 anos de fadistagem que já levava. Tinha a graça de quem as vivera por dentro, escapando ileso à amargura. Contada por ele, a vida era bela e vibrante e cúmplice. Deu-me, a mim (que adoro o fado só com o coração), e a todos os que nos ouviam, uma lição com a sua talentosa guitarra. Uma preciosa lição sobre as três bases harmónicas que são o chão do fado todo. O chão da invenção melódica dos cantadores que são fadistas verdadeiros. Os que inventam e não sabem repetir-se.

José Pracana, que dizia de si ser um amador, era todo ele fado: inventivo, como os fadistas de lei, afirmativo na entrega, vigoroso no ataque, subtil na retirada. Como deve ser. O breve encontro deixou-me saudades para sempre.

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José Pracana com Francisco Perez Andión (Paquito), Taverna do Embuçado, s/d. Colecção José Pracana
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João Ferreira-Rosa, José Pracana, O Arreda, Cascais, s/d. Colecção José Pracana
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João Ferreira-Rosa, José Pracana, O Arreda, Cascais, 1970. Colecção José Pracana
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João Braga, José Pracana, João Ferreira-Rosa, Carlos Gonçalves, O Arreda, Cascais, 1966. Colecção José Pracana
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João Ferreira-Rosa, José Pracana, O Arreda, Cascais, 1970. Colecção José Pracana
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José Pracana, João Ferreira-Rosa, Palácio Pintéus. Colecção José Pracana
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José Pracana com João Ferreira-Rosa e Celeste Rodrigues,, Taverna do Embuçado, Lisboa, s/d. Colecção José Pracana João Ferreira-Rosa, José Pracana, Raul Nery, Francisco Perez Andión (Paquito), Belém, 1989. Colecção José Pracana
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José Cid, João Ferreira-Rosa e José Pracana, 1996. Colecção José Pracana
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Segismundo Bragança, José Pracana, Companhia Nacional de Bailado do Teatro S. Carlos, 1987. Colecção José Pracana
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José Pracana, Raul Nery, Torres Vedras, 1987. Colecção José Pracana
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José Pracana, Raul Nery, Segismundo Bragança, Torres Vedras, 1987. Colecção José Pracana
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José Pracana com Artur Agostinho e Raul Nery, Tivoli, 1989. Colecção José Pracana José Pracana, Nuno de Siqueira, Vicente da Câmara, Armando Figueiredo, Museu do Fado, 2010. Colecção Museu do Fado José Pracana, Nuno de Siqueira, Ponta Delgada, 2009. Colecção José Pracana
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José Pracana, Nuno de Siqueira, Manuel Cardoso de Menezes, 2003. Colecção José Pracana

Recordando Zé Pracana ----

NUNO DE SIQUEIRA

Circunstâncias familiares fizeram com que, na última década, eu tivesse viajado com frequência para São Miguel. Mal aterrado em Ponta Delgada, logo eu pegava no telefone e falava ao Zé Pracana, para combinarmos um encontro na sua bela casa da Rua de Lisboa. Naquelas salas que ele afectara à sua extraordinária colecção fadista, passámos tardes de tranquila cavaqueira, falando disto e daquilo, recordando com saudade o fado antigo e divagando com algum cepticismo sobre o fado novo.

Nessas salas, estava, em fotografias e em objectos, toda a vida fadista do Zé Pracana. Numa parede, com Amália Rodrigues; noutra, com Alfredo Marceneiro; noutra ainda, com Maria Teresa de Noronha e José António Sabrosa; e nas demais, com inúmeros fadistas, guitarristas e violistas com quem o Zé Pracana se cruzara ao longo de décadas de fado. Parafraseando uma letra popular, ele tinha mais anos de fado que propriamente de vida!

Todas aquelas peças tinham uma história que o Zé Pracana – bom cicerone e bom comunicador – ia contando. Lembro-me de certa tarde lhe ter perguntado que fotografia era aquela, em que as cabeças de um grupo fadista estavam praticamente cortadas. “Isso foi uma vez com os Sabrosas”, respondeu-me ele, “a seguir ao almoço, numa altura em que o fotógrafo já não estava grande coisa. Eu ainda lhe recomendei que apanhasse o grupo todo”. “Está descansado”, retorquira-lhe o fotógrafo, “todo o grupo ficou”. De facto, todo o grupo ficara, mas… quase sem cabeças! O que não impediu o Zé Pracana de, com o seu apuradíssimo sentido do humor, ter colocado a fotografia em local destacado, certo de que ela afinal retratava da melhor maneira o ambiente daquela tarde de fados em S. Pedro de Sintra.

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Vicente da Câmara com José Pracana, s/d. Colecção José Pracana

As histórias do Zé Pracana eram inesgotáveis. Um dia, contou-me como, desejoso de vir a ter aulas com o grande guitarrista José Nunes, resolvera fazer-lhe uma “espera” à saída do seu local de trabalho, nas Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (empresa antecessora da EDP), na Rua da Boavista, em Lisboa. Arvorando o seu melhor sorriso, o Zé Pracana apresentouse ao José Nunes, manifestando-lhe a enorme admiração que tinha por ele. O José Nunes, fazendo jus ao seu conhecido mau feitio, respondeu-lhe: “Mais um com mau gosto!”. Ficaram amigos.

Hoje, continuo a viajar com frequência para São Miguel, ilha lindíssima de que tanto gosto, mas sei bem que nela houve uma luz que se apagou.

Obrigado ao Museu do Fado por, com esta magnífica exposição, nos trazer à memória as recordações e as saudades que temos do Zé Pracana.

L isboa, Setembro de 2019 Nuno de Siqueira
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José Pracana, José Inácio, Rodrigo, Alfredo Marceneiro, O Arreda, Cascais, 1971. Colecção Museu do Fado
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José Pracana com Joel Pina, s/d. Colecção José Pracana
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José Pracana com Joel Pina, Ponta Delgada, 1992. Colecção José Pracana Manuel de Almeida, José Pracana, 1990. Colecção José Pracana António Parreira, José Pracana, Francisco Gonçalves, Manuel de Almeida, 1992. Colecção José Pracana
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Manuel de Almeida com José Pracana, 1986. Colecção José Pracana José Pracana, Carlos Zel, s/d. Colecção José Pracana Vicente da Câmara, Carlos Zel, José Pracana, Segismundo Bragança, s/d. Colecção José Pracana
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José Pracana com Carlos Zel, Ponta Delgada, 1992. Colecção José Pracana

De cima para baixo: José Fontes Rocha, José Pracana, Joel Pina, Amália Rodrigues, s/d. Colecção José Pracana

José Fontes Rocha, José Pracana, Senhor Vinho, 1993. Colecção José Pracana

José Fontes Rocha, José Pracana, Ponta Delgada, 1993. Colecção José Pracana

José Pracana com

José Fontes Rocha, s/d.

Colecção José Pracana

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Tony de Matos, José Pracana, 1981. Colecção José Pracana
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José Pracana, Segismundo Bragança, Tony de Matos, 1981. Colecção José Pracana José Maia, Carlos Guedes de Amorim, José Pracana, Ponta Delgada, s/d. Colecção Museu do Fado José Pracana, Carlos Guedes de Amorim, José Maia, s/d. Colecção Museu do Fado
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José Pracana, Teresa Siqueira, José Maia, s/d. Colecção Museu do Fado
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José Pracana, José Maia, Vimeiro, 1986. Colecção José Pracana
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Fado, Guitarra Portuguesa e Humor

CARLOS DO CARMO

Zé Pracana é sinónimo de fado, guitarra portuguesa e humor.

Conhecia muito bem os meandros do fado e foi um companheiro muito útil na construção da candidatura do fado a património da humanidade.

Uma faceta sua menos conhecida: era um excelente imitador, não só de fadistas como de artistas de outros géneros musicais.

Tinha uma personalidade forte e era amigo do seu amigo.

Os seus guitarristas favoritos eram o José Nunes e Fernando Freitas, que ele visitava regularmente, porque tinha perdido a vista numa idade já avançada.

Que descanse em paz e que vá tocando com eles, um dia destes vou ter com vocês e vou-me deliciar a cantar com este rico trio fadista!

O meu abraço amigo

Carlos

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José Pracana com Judite do Carmo e Carlos do Carmo, Ponta Delgada, 2004. Colecção José Pracana
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Fernando Freitas, José Pracana, José Luís Nobre Costa, O Arreda, Cascais, s/d. Colecção José Pracana.
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Maria Teresa de Noronha com Camané, 1978. Col. Camané Camané com José Pracana, Ponta Delgada, 22 de Agosto de 1993. Colecção José Pracana
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Camané, 1978. Colecção Camané

Um Curador--do Fado CAMANÉ

Conheci o José Pracana quando comecei a ouvir fados. Um dia os meus pais levaramme a Cascais e ouvi-o pela primeira vez n’O Arreda, a casa de que era proprietário e que era frequentada por Maria Teresa de Noronha, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, João Braga, e tantos outras figuras de referência do Fado.

A primeira vez que fiz um espectáculo foi nas Lages do Pico e tive o gosto de ser acompanhado à guitarra pelo José Pracana. Convidou-me para ficar uma semana nos Açores e para mim foram dias de imensa alegria e de grande aprendizagem.

Para além de ser um extraordinário guitarrista, um músico cheio de expressão, com uma enorme sensibilidade e bom gosto, José Pracana teve um papel importantíssimo na divulgação do Fado e dos grandes nomes que fizeram a sua história.

Graças a ele todos conhecemos e compreendemos melhor a importância do legado de Alfredo Marceneiro, Armandinho e de tantos outros criadores fundamentais da história do Fado que é, essencialmente, uma tradição viva.

Talvez por isso sempre olhei para o José Pracana também como um curador do Fado, à semelhança do que sucede com os grandes historiadores, que desempenham um papel fundamental para o entendimento das obras de arte que vemos.

Habituei-me a ver no José Pracana um curador do Fado, alguém que conhece profundamente a história desta expressão musical, dotado de uma noção estética apuradíssima, de enorme bom gosto, que nos consegue transmitir toda a sua essência. José Pracana teve um papel central na salvaguarda e na divulgação da história do Fado, resgatando memórias dos grandes pilares da tradição fadista para o contexto do universo do fado, em particular, e junto do público, em geral.

Devemos-lhe muito do que conhecemos hoje sobre a história do Fado.

Camané

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José Pracana com José Nunes na inauguração d’O Arreda em Cascais, 5 de Dezembro de 1969. Colecção José Pracana.

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Actuação de José Pracana acompanhado pro José Nunes e Castro Mota, 1968. Colecção José Pracana.
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O-----ZéPracana

KATIA GUERREIRO

Cresci a gostar dele. Como cresci nos Açores, ali mesmo em Ponta Delgada na ilha de São Miguel, tinha o privilégio de saber bem quem era este personagem, que no meio das suas viagens enquanto Comandante, se dedicava ao Fado. Era amigo de minha mãe e achava-me graça. Não por cantar, porque eu nem sabia que a minha voz seria o que me mudaria a vida, mas porque tinha aquele jeito giro de se meter com as crianças.

Depois cresci e, em Lisboa, ao ouvir falar do Zé, sempre se me enchia o peito de orgulho por conhecê-lo.

No dia em que me puseram a cantar na Taverna do Embuçado ele estava lá. Eu, humildemente fui apresentar-me pois já não nos cruzávamos há muito tempo. “És a filha da Fátima??”, “Quem diria...!” comentando depois de me ouvir.

Ouvi um sem número de suas histórias no Fado, daquelas que nos levam às lágrimas no riso, contadas pelo seu companheirão João Veiga.

Um dia fui convidada a cantar num programa de televisão e, acho que pela primeira vez, dispensei os meus músicos porque finalmente seria acompanhada pelo Zé. Recebeu-me em sua casa, aquela para onde eu olhava sempre por sabê-lo lá, e ensaiámos na sua adega contandome as inúmeras histórias das relíquias que foi guardando pela vida fora.

Fez o favor de gostar de mim, como eu sempre gostei dele.

Obrigada Zé!

Katia Guerreiro

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Katia Guerreiro, José Pracana e Dinis Raposo, Ponta Delgada, 2010. Colecção José Pracana
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Quanta----Saudade

JOÃO VEIGA

Tocávamos quase sempre quando nos encontrávamos! Era o tempo da “Tasquinha“ , do “Queijo e Vinho“ do “Altair“, lugares que marcaram uma época gloriosa do Fado em Lisboa. Foi exatamente por estes recantos que me cruzei com o “Cana“, como era tratado carinhosamente pelo Tio Alfredo.

Noites sem fim com muito Fado à mistura ….!

E o Zé tocava, o Zé cantava ….! Com a alma fadista que com ele nasceu.

Vivi com ele, talvez, as estórias mais incríveis que o Fado me fez viver.

Inesquecíveis as noites em sua casa no “Pateo do Calças “, com o Marceneiro, a Batê, o Braga, o João, a Quadros, e tantos outros! Trinavam as guitarras do José António Sabrosa e do Zé, e as violas do Segismundo Bragança, Zé Maia…! E eu, timidamente, dava os meus primeiros passos.

Aprendi muito com ele…Com ele me fiz Fadista. Saudades desses tempos, da nossa Fadistagem, mas sobretudo de ti, querido “Cana“.

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José Pracana, Museu do Fado, 17 de Maio de 2010. Colecção Museu do Fado
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Memórias---do Amigo-----------Sempre--Bem-Humorado

PEDRO CALDEIRA CABRAL

O nosso primeiro encontro decorreu em Paço d’Arcos, em 1965, por intermédio de um amigo de ambos que possuía uma cítara portuguesa e uma viola de João Pedro Grácio Júnior não sabendo tocar nenhum dos instrumentos.

Nesse primeiro encontro, passado quase todo o tempo a rir com o humor contagiante do Zé Pracana, combinámos as reuniões e ensaios seguintes em casa do José Carlos da Maia (viola), em Caxias, e mais tarde, com regularidade, as idas ao fim de semana ao Cartola, ao Estribo e ao Galito, tudo casas de fado frequentadas por amadores na linha do Estoril, em Cascais e em Birre. Nesse tempo, o Zé Pracana ainda só cantava e contava anedotas e era eu que assegurava os acompanhamentos em conjunto com o Zé Maia.

Éramos todos ainda estudantes liceais e havia nessa altura muitas festas em casas particulares de amigos e conhecidos ao fim de semana. Quando todos já estavam cansados de dançar, vinha o momento de apresentação do Zé que geralmente se iniciava em tom de gozo, em jeito de imitador, por um fado do repertório do Vicente da Câmara e logo seguia a imitação do Carlos Ramos e do Marceneiro com todos os jeitos e trejeitos próprios de cada um deles e com a imitação vocal perfeita.

Passados os momentos de risota vinham então a apresentação de alguns fados em voga nos quais o talento artístico do Zé Pracana ficava totalmente confirmado.

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Pedro Caldeira Cabral, Amália Rodrigues e José Pracana na residência da artista em S. Bento, 1993. Colecção José Pracana
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César Seabra, Amália Rodrigues e José Pracana, S. Bento, 1993. Colecção José Pracana

Recordo também o período em que iniciou a aprendizagem da cítara portuguesa e me pedia para interceder junto do José Nunes para que este lhe desse lições, ao mesmo tempo que eu lhe explicava algumas digitações simples dos fados corrido e mouraria, etc. No período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, convivemos sobretudo em Cascais, no Arreda e em ocasionais tertúlias fadistas em casa de João Ferreira Rosa e de outros amigos comuns e sempre com a sua natural bonomia e curiosidade, que demonstrava pela minha evolução musical nas áreas diferentes em que me ia especializando.

Ao longo de muitos anos de convívio sempre me demonstrou a sua amizade e admiração pelo meu trabalho, tendo-me inclusive convidado para participar como solista numa série de programas para a RTP, que tiveram a sua direcção artística.

Recordo aqui o seu imenso talento musical e histriónico, com que tantas vezes nos brindava, e que ficou registado na memória de todos os que tiveram o gosto de assistir às suas participações em programas da RTP ou nos inúmeros espectáculos que realizou em Portugal e no estrangeiro.

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Pracana, o Aprendiz Mais Antigo

PEDRO FÉLIX

Retira-se grande vantagem em sair dos modos convencionais de pensar quando nos propomos invocar pessoas como José Pracana. Para conhecer com mais justiça a sua plural identidade (músico, caricaturista, estudioso, colecionador) devemos abandonar a faixa reduzida criada pela ultra-racionalidade descritiva e tipológica, e aventurarmo-nos usando ideias “amaldiçoadas e proscritas” por uma ciência neo-positivista no seu afã legitimador. Devemos falar do músico e esquecer o caricaturista? Falar do colecionador e esconder o imitador? Quando coleccionava melodias, jornais antigos, ou construía a “sala de fados” na sua casa açoriana, Pracana estava a traçar mapas da sua história pessoal e, ao mesmo tempo, consubstanciar a comunidade a que pertencia, a comunidade que o procurava para esclarecer alguma dúvida ou refinar e ajuizar alguma interpretação.

Eu, ambicionando amar aquelas músicas, julgava precisar da “tralha” moderna que acreditava ser o caminho correcto. Pracana, suave e discretamente, propôs-me um outro caminho. Não fizemos nenhuma entrevista etnográfica formal, mas a etnografia fez-se da conversa simples entre quem ama o fado e o neófito que desejava ser amador.

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José Pracana actuando na inauguração da exposição Fado 1910 na Sociedade Nacional de Belas Artes, 25 de Junho de 2010. Colecção Museu do Fado.

O adjectivo “amador” é vulgarmente usado para descrever aquele que “por gosto e não por profissão” exerce uma qualquer actividade. Consequência dessa definição, vulgarizou-se a ideia do “amador” como aquele que, pela relação apaixonada relativamente ao objecto do seu gosto, fica impedido de operar criticamente com a sua razão, toldado que está pela emoção. Não. O “amador” é aquele que elabora um constructo reflexivo sobre a sua actividade. O amador não crê num gosto inerente às coisas e está longe de ser o actor manipulado por forças que ignora (ou desconhece). Pelo contrário. O amador testa constantemente o seu gosto, inquirindo e explorando as propriedades do objecto do seu amor. Isto faz do “amador” um sujeito altamente mobilizado, com intenções claras, competências codificadas, e meios técnicos para levar a cabo a sua acção, acção que planeia com desvelo e rigor. Quanto ao gosto, o amador sabe que não decorre nem determina o objecto. Não é um enunciado estético, autónomo, neutro (e naturalizado) que regula a relação entre o sujeito (que determina) e o objecto (que se sujeita). O gosto é, entre os amadores, uma pragmática crítica dirigida ao objecto, assente numa perplexidade inquisitiva e atenta aos sinais. O “amador” é o virtuoso da experimentação (técnica, corporal, conceptual, estética). Cada acção suaacção que exige preparação, obstinação, obsessão, envolvimento, treino e repetição - visa o estabelecimento de ligações absolutamente simétricas e bidireccionais entre o sujeito (o amador) e o objecto (do seu amor). Cada som, cada gesto tem, para o amador, o gosto das possibilidades associativas que encerra, unindo passado, comunidade, memória, modos de fazer, técnicas, identidade(s). O acto faz o fado, o fado faz o acto; o processo é de co-criação simultânea.

Para cumprir este modelo ideal, José Pracana explorava duas capacidades, tão raramente reunidas: a técnica de tocar e a técnica de ouvir eram, aos seus olhos, igualmente necessárias, não dando prevalência a qualquer delas. Sabia que quando se focasse numa delas em detrimento da outra tornar-se-ía um sujeito tipológico (historiador, musicólogo, etnomusicólogo,…). Mas Pracana era todos esses sujeitos, e mais ainda: era “amador” no sentido completo (e complexo) do termo.

I
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II

Se o “amador” faz do gosto uma prática de mediações incertas e dinâmicas entre actores (sujeitos e objectos), a ideia de “comunidade de prática” torna-se central.

É na comunidade de prática que reside o saber colectivamente construído e partilhado pelos seus membros. O conhecimento; que congrega e define a comunidade de prática; baseia-se necessariamente na mediação entre saber e prática, reflexão e acção, abstração e experiência, memória e criação, sujeito e objecto, indivíduo e colectivo. Nestas comunidades, o conhecimento não é um conjunto de ideias sem prática, nem uma trama de conceitos reificados nos actos. A comunidade de prática não se faz de relações entre elementos atomizados, mas do envolvimento de actores mobilizados que, detendo em si saber e “arte de fazer” altamente especializados, fabricam a comunidade.

Nas comunidades de prática, aprender é integrar a própria comunidade e, a partir dela, gerar práticas significativas em que o legítimo e o ilegítimo, a tradição e a inovação, o transmitido e o construído, se dissolvem num processo de “fazer comunidade”. Conhecer é “existir na comunidade”, o que supõe que aquele que se revê como membro absoluto e total da comunidade é também aquele que a constrói, reflecte, dinamiza e muda.

Deste modo, a comunidade de prática é o garante da transmissão de saber e, ao mesmo tempo, espaço vivo de criação. Não basta aprender e reproduzir para ser reconhecido como membro da comunidade, é sobretudo necessário que o actor se envolva no próprio acto de ser membro. Pensar com as mãos, pensar no que faz e fazer o que sabe e pensa são as suas funções. Se, convencionalmente, aprender é adquirir conhecimento, nas “comunidades de prática” conhecer é “ser-se no mundo”. Por isso, as comunidades de prática não se estruturam em relações assimétricas entre “mestres” e “aprendizes”.

Era assim que José Pracana estava no mundo, que encarava o seu papel e via a sua comunidade. Pracana era o ponto de encontro a que tantos caminhos desembocavam. Poder-seía, naturalmente, abordar a comunidade de prática do fado de muitas maneiras, mas o caminho que fazíamos ao lado de José Pracana era seguro, certo, útil, rico e, de certa forma, muito raro (para não arriscar introduzindo a ideia que seria “único” como, no entanto, julgo ser). Pracana era o anfitrião da comunidade de prática do fado. Não se revia como mestre (por saber que os mestres eram distantes e tinham de impôr a sua legitimidade), via-se antes como “o aprendiz mais antigo” a quem cumpria acolher, com alegria e disponibilidade, os “aprendizes mais novos” na comunidade que sabia estar a construir com esse gesto de imensa dádiva.

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Raros, muito raros, são aqueles que estão confortáveis nesse lugar onde os Mestres sabem que são aprendizes, reunindo, gerindo e partilhando o que sabem sobre aquilo que amam, participando na construção da comunidade de prática onde buscam o que sabem, num fluxo virtuoso e perfeito.

Com uma arte de fazer tão própria e gentil, José Pracana tudo relacionava: aprender e ensinar, conhecimento e prática, o impulso de exploração de todo o potencial de cada registo sonoro e o movimento de mão sobre as cordas da guitarra portuguesa, a consciência discreta da modelização das identidades da, e na comunidade. Todos estes elementos que entram em conflito em tantos contextos, afirmavam-se com naturalidade em Pracana como uma unidade. Pracana, e nós com ele, participávamos no mundo, construindo comunidade.

Para Pracana não havia uma mundivisão utilitarista, ainda que soubesse que a realidade estava tristemente dominada por objectivos, propósitos, tarefas e aquisição de conhecimento… mas também não havia “idealismo”. Havia, pelo contrário, um gesto bem prático e concreto. A sua pessoa e os objectos do seu amor eram actores epistemológicos criadores de comunidade. Também não havia um uso didáctico da linguagem enquanto discurso que enforma a prática. Falando de dentro da comunidade, contando histórias e anedotas, Pracana coordenava saberes, sincronizava conhecimento, reforçava memória, ilustrava ideias. A mim, neófito, não me cabia aprender o que era verbalizado, mas aprender a verbalizar… Hoje, simplesmente espero que a minha falta de conhecimento tenha gerado perguntas construtivas e que estas tenham desencadeado reflexão.

Pracana, “o aprendiz mais antigo”, provocou em mim um novo modo de entender o mundo, um modo que envolve aprendizagem, técnica, conhecimento, memória, comunidade de prática… Um modo que suavemente ultrapassa a concepção objectivista do gosto (enquanto propriedade física dos objectos) e, ao mesmo tempo, a conceptualização sociologisante (o gosto como construção social). Transmitiu-me o modo pelo qual é possível abandonar um mundo de dualidades e de actores autónomos, inertes, passivos e isolados. Para Pracana o mais importante era a mediação, a ligação, a associação, os gestos produzidos em conjunto, mutuamente e em simultâneo.

III
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Silêncio. Aquele momento transiente do silêncio, surpreso e reflexivo [não no sentido Moderno, mas enquanto sofisticação de acto de conhecer o mundo], perante o objecto que provocava e desafiava. O objecto (uma melodia antiga ouvida num 78 rotações acabado de digitalizar) impunha uma interrupção. Silêncio, e um momento fortuito instalava-se, suspendia o tempo, mobilizava conhecimento, memória, comunidade, saber, e prática. Aquele segundo deixava de ser uma divisão do “tempo” e tornava-se num constante presente em que se movia a comunidade de prática viva. Era assim que Pracana me mostrava a comunidade.

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Pedro Félix
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José Pracana, s/d. Colecção José Pracana
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Residência de José Pracana, Ponta Delgada, s/d. Colecção José Pracana
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Residência de José Pracana, Ponta Delgada, s/d. Colecção José Pracana
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Residência de José Pracana, Ponta Delgada, s/d. Colecção José Pracana
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Residência de José Pracana, Ponta Delgada, s/d. Colecção José Pracana
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José Pracana com Orlando Duarte, Restaurante D. Pedro I, Cascais, 27 de Agosto de 1971. Colecção José Pracana.
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José Pracana, Maria Natália, António Zambujo e Aldina Duarte, Ponta Delgada, 16 de Abril de 2009. Colecção José Pracana

Muitos Amigos

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José Pracana, Argentina Santos e José Maria Carvalho na Parreirinha de Alfama, 14 de Setembro de 1983. Colecção José Pracana José Pracana com Abel Coutinho, João Ferreira-Rosa, Vicente da Câmara, Manuel Cardoso Menezes, Alcochete, 9 de Março de 2000. Colecção José Pracana
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José Pracana com Armando Figueiredo, Ponta Delgada, 2008. Colecção José Pracana José Pracana com António Chaínho, Raul Silva e José Luís Nobre Costa, Ponta Delgada, 11 de Fevereiro de 2004. Colecção José Pracana.
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José Pracana com Mário Estorninho, Museu do Fado, 4 de Abril de 2010. Colecção José Pracana.
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José Pracana com Manuel Cardoso de Menezes e Armando Figueiredo, Museu do Fado, 29 de Abril de 2010. Colecção Museu do Fado
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José Pracana com João Nunes e Dinis Raposo, Ponta Delgada, 27 de Novembro de 2010. Colecção José Pracana.

Tertúlia no restaurante A Muralha, em Alfama, 3 de Dezembro de 2010. De cima para baixo: José Pracana com Francisco Mendes, João Nunes, Leonel Pontes; Abel Coutinho, José Pracana, Paulo Machado e João Nunes; João Nunes, Abel Coutinho, Eduardo Vantacich, José Pracana. Colecção José Pracana.

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José Pracana com Gisela João, Maria da Fé, Joana Amendoeira no restaurante Senhor Vinho, Lisboa, 8 de Janeiro de 2013. Colecção José Pracana. José Pracana e Maria João Quadros, s/d. Colecção José Pracana.
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José Pracana e Ruben de Carvalho, Lisboa, 11 de Novembro de 1998. Colecção José Pracana. José Pracana com Francisco Mendes e Hugo Ribeiro, Lisboa, 2007. Colecção José Pracana.
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José Pracana com Maria João Avillez, Ponta Delgada, 25 de Abril de 2007. Colecção José Pracana.

De cima para baixo: José Pracana com Vicente da Câmara, Cuca Roseta e Dinis Raposo, Ponta Delgada, 5 de Novembro de 2009. Colecção José Pracana

José Pracana com Francisco Gaspar, Bernardo Couto, Cuca Roseta, Dinis Raposo, Ponta Delgada, 16 de Junho de 2012. Colecção José Pracana.

José Pracana com Marta Pereira da Costa, Ponta Delgada, 6 de Abril de 2012. Colecção José Pracana.

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José Pracana com Paulo Paz, Pedro Amendoeira, Rui Vieira Nery, Joana Amendoeira, Américo Lourenço, Pedro Pinhal, Ponta Delgada, 18 de Maio de 2009. Colecção José Pracana. José Pracana com Teresa Lopes Alves e Dinis Raposo, Ponta Delgada, 22 de Fevereiro de 2013. Colecção José Pracana.
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José Pracana com Carmo Moniz Pereira, Ponta Delgada, 27 de Abril de 2012. Colecção José Pracana.
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José Pracana com Beatriz Costa, Tia Ló, 1981. Colecção José Pracana.
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Bilhete manuscrito de Beatriz Costa com dedicatória para José Pracana, 30 de Setembro de 1978. Colecção José Pracana.
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João Braga, Pedro Homem de Mello e José Pracana, Tavares Rico, 8 de Julho de 1983. Colecção José Pracana.
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Oásis, manuscrito de Pedro Homem de Mello, 1978. Colecção José Pracana.
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José Pracana acompanha João Ferreira-Rosa, Alcochete, 17 de Junho de 1995. Colecção José Pracana.
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Fado da Partida, manuscrito de João Ferreira-Rosa, s/d. Colecção josé Pracana.
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José Pracana com Álvaro Duarte Simões, 21 de Junho de 1986. Colecção José Pracana
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José Pracana, Moniz Pereira e Armando Figueiredo, 17 de Maio de 2010. Colecção Museu do Fado.
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Manuscrito de Carlos Conde com dedicatória para José Pracana. Colecção José Pracana. Manuscrito do poema Espelho Quebrado, com dedicatória de David Mourão-Ferreira, 27 de Novembro de 1994. Colecção de José Pracana.
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David Mourão-Ferreira e José Pracana, Ponta Delgada, 8 de Outubro de 1993.

José Pracana

EP Alvorada, 1969, Colecção José Pracana

Lenda das Rosas

EP EMI Valentim de Carvalho, 1972.

Colecção José Pracana

Uma Noite em Cascais

LP EMI Valentim de Carvalho, 1972. Colecção José Pracana

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Raúl Ferrão LP EMI Valentim de Carvalho, 1977.
A Ceia dos Intelectuais EP EMI Valentim de Carvalho, 1973. Colecção José Pracana 131
Discos Recordando
Colecção José Pracana

Balada da Neve, Orlando Duarte

EP Roda, s/d.

Colecção José Pracana

É Mesmo Fado, Orlando Duarte

EP Roda, 1973.

Colecção José Pracana

132
Do João Braga para a Amália LP Sassetti, 1984. Colecção José Pracana Paz
A do Teu Amor, João Braga LP Sassetti, 1983. Colecção
José Pracana
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Participações Especiais

Os 10 Mais

Correio dos Açores, 1991.

Colecção José Pracana

Prémio Amália Rodrigues

Fado Amador, 2005.

Colecção José Pracana

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Troféus e Condecorações

Medalha de Mérito Municipal

Câmara Municipal de Ponta Delgada, 2010.

Colecção José Pracana

Homenagem ao Fado

SPA - Sociedade Portuguesa de Autores, 2011.

Colecção José Pracana

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Medalha de Mérito Municipal

Grau Ouro, Câmara Municipal de Lisboa, 2012. Colecção José Pracana

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Medalha da Ordem Soberana e Militar de Malta 2013.

Colecção José Pracana

Comenda da Ordem do Infante D. Henrique

Presidência da República Portuguesa, 2015.

Colecção José Pracana

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José Pracana com a mãe, Rosa Emília Flores da Silva Pracana, ca. 1947. Colecção José Pracana

SinopseCronológica

RICARDO BÓIA

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José Pracana com os irmãos, Manuel da Silva Pracana Martins e António da Silva Pracana Martins, década de 50. Colecção José Pracana.
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José da Silva Pracana Martins nasce a 18 de Março de 1946, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, filho de Cristiano Cordeiro Martins e Rosa Emília Flores da Silva Pracana. José foi o mais novo dos três filhos do casal, irmão de Manuel da Silva Pracana Martins e António da Silva Pracana Martins.

No dia 7 de Março vai pela primeira vez a uma Casa de Fados, em Lourenço Marques (actual Maputo), para assistir a uma noite de Fados n’A Toca, de Benvinda Correia. Este dia assinala o início de uma ligação afectiva com o Fado que perdurou até ao final da sua vida. Ainda no decorrer deste ano, reúne os seus amigos José Carlos da Maia e Carlos Rocha e inicia o seu percurso artístico como amador, estatuto que sempre fez questão de manter apesar de ter tocado regularmente com os mais notáveis fadistas da sua geração. Na qualidade de guitarrista e profundo conhecedor da linguagem musical do Fado, José Pracana acompanhou nomes como Alfredo Marceneiro, Teresa Tarouca, Maria do Rosário Bettencourt, João Sabrosa, Vicente da Câmara, Manuel de Almeida, Alcindo Carvalho, João Ferreira-Rosa, João Braga, Carlos Zel, Carlos Guedes de Amorim, Orlando Duarte, entre outros.

1964 1946
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José Pracana n’A Cesária, 12 de Março de 1964. Colecção José Pracana

1969 1972

É inaugurado O Arreda, em Cascais, espaço que José Pracana projectou e geriu até 1972, e no qual conviveu com algumas das maiores referências da história do Fado, designadamente Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Raúl Nery, José Nunes e José Fontes Rocha. Estes três últimos por si respeitosamente considerados como seus mestres, ao longo de toda a vida.

Edita o seu primeiro EP em nome próprio, com a etiqueta discográfica Alvorada, e que contém os temas Primavera Perdida, Porque Choraste em Mim, Pelas Ruas da Cidade e Saudades de Mil Lembranças.

Ainda no decorrer deste ano, foi um dos convidados do Zip Zip, o primeiro programa em formato talk-show da televisão portuguesa, apresentado por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raúl Solnado.

Ano que marca o regresso de José Pracana a estúdio para gravar o seu segundo EP, Lenda das Rosas, produzido pela EMI Valentim de Carvalho. Há ainda a destacar a sua participação no LP Uma Noite de Fado em Cascais, gravado e distribuído igualmente pela EMI Valentim de Carvalho. Neste disco, interpreta o tema Saudades do Fado, com um arranjo musical da sua autoria.

Três anos volvidos e com muitas histórias para partilhar, José Pracana decide abandonar o projecto empresarial e artístico que encetou com O Arreda para ingressar na TAP, empresa na qual se estabeleceu profissionalmente. Não obstante, nunca se distanciou objectiva e emocionalmente do Fado.

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José Pracana e Raúl Solnado, 1969. Colecção José Pracana José Pracana com o uniforme da TAP, Texas, 1987. Colecção de José Pracana.
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José Pracana actua pela segunda vez em público, acompanhado por Carlos Rocha (guitarra) e José Carlos da Maia, Oeiras, 1964. Colecção José Pracana

José Pracana actua pela segunda vez em público, acompanhado por Carlos Rocha (guitarra) e José Carlos da Maia, Oeiras, 1964. Colecção José Pracana

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No presente ano grava o EP A Ceia dos Intelectuais, editado pela EMI Valentim de Carvalho e que conta com a participação do Conjunto de Guitarras de Raúl Nery. Fado Mouraria, Ó Tempo Volta para Trás, Canoas do Tejo, Lisboa, Lugar Vazio e Milagre de Santo António são os temas que compõem este registo discográfico.

A série idealizada por José Pracana – Vamos aos Fados – é emitida em 1976 pela RTP.

1976 1973
148
José Pracana e José Nunes numa emissão do programa de televisão Vamos aos Fados, RTP, 1976. Colecção José Pracana

1977 1989

A 10 de Junho deste ano é homenageado, no Rio de Janeiro, pelo Clube Português de Niterói.

O ano fica também marcado pela sua participação no LP Recordando Raúl Ferrão, da EMI Valentim de Carvalho, no qual assina o tema Fado Campino.

José Pracana casa com Maria Natália de Sousa Borba Vieira, a 4 de Outubro de 1989.

O casal passa a residir na Fajã de Baixo em S. Miguel, com André Borba Vieira Almeida e Sousa e João Nuno Borba Vieira Almeida e Sousa, filhos de Maria Natália.

Condecoração no Rio de Janeiro, a 10 de Junho de 1977.

Colecção José Pracana
149
Maria Natália e José Pracana, s/d. Colecção José Pracana.

É

Maria Natália, José Pracana e o filho António, anos 90. Colecção José Pracana. Nasce António Borba Vieira Cordeiro Pracana, primeiro e único filho do casal. distinguido com o prémio Os 10 Mais, pelo Correio dos Açores, que destaca as dez personalidades do ano de 1991.
1991 1990
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Maria Natália, Amália Rodrigues, José Pracana e o filho António, Ponta Delgada, Abril de 1992. Colecção José Pracana.

A RTP Açores emite o programa Silêncio que se Vai Contar o Fado, com autoria e apresentação de José Pracana.

Juntamente com David Ferreira, José Pracana foi coresponsável pela selecção do repertório incluído na colectânea Biografia do Fado. Durante a produção deste disco, deslocou-se várias vezes aos estúdios de Abbey Road, em Londres.

1992 1994
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Pedro Caldeira Cabral, Manuel de Almeida, José Pracana e Fontes Rocha no programa televisivo Silêncio que se Vai Contar o Fado, RTP Açores, 1992. Colecção José Pracana

2000 1999

Em 2000, é novamente encarregue de realizar a escolha de repertório para a colectânea da EMI Biografia do Fado de Coimbra.

José Pracana foi um dos colaboradores do audacioso projecto editorial Um Século de Fado, da Ediclube, publicado em 1999.
152
José Pracana, Teresa Siqueira, s/d. Colecção José Pracana

20052006

José Pracana recebe o prémio Amália Rodrigues, na categoria Fado Amador, em 2005.

Ainda neste ano, volta a ser responsável pela recolha e selecção dos temas incluídos na colectânea Biografia da Guitarra, editado pela EMI.

Ano que marca o lançamento da longa-metragem Rio Turvo, realizado por Edgar Pêra. José Pracana foi um dos músicos responsáveis pela banda sonora deste filme.

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José Pracana actua após receber o Prémio Amália Rodrigues em 2005. Colecção José Pracana.

2009 2007

Coordenou, em 2007, no Museu do Fado, um ciclo consagrado às memórias do Fado e da Guitarra Portuguesa. Neste ciclo, José Pracana prestou tributo ao percurso artístico de Armando Augusto Freire (Armandinho), Alfredo Marceneiro, José António Sabrosa e Carlos Ramos. No dia 21 de Abril, participa no concerto de Plácido Domingo no Pavilhão Atlântico.

No ano de 2009, participa no conjunto de noites temáticas dedicadas ao Fado no Teatro Micaelense, intituladas Fado e Guitarradas.

Juntamente com Carlos do Carmo, Rui Vieira Nery e Sara Pereira, foi co-autor do primeiro documentário audiovisual sobre a história e o património do Fado – Trovas Antigas, Saudades Loucas, transmitido pela RTP. No decorrer deste ano, assume a direcção artística da primeira edição do Cruzeiro do Fado.

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José Pracana e José Luís Nobre Costa acompanham Plácido Domingo no concerto realizado no Pavilhão Atlântico, 21 de Abril de 2007. Colecção José Pracana.

20102011

Em 2010, José Pracana foi consagrado pelo município de Ponta Delgada, com a atribuição da Medalha de Mérito Municipal. No Museu do Fado, realiza uma conferência sobre a construção da guitarra portuguesa, com Óscar Cardoso. No quadro da inauguração da exposição Fado 1910 actua na Sociedade Nacional de Belas Artes.

No mesmo ano, a bordo do paquete Funchal, José Pracana continua a assumir a direcção artística do Cruzeiro do Fado.

A 7 de Novembro de 2011, recebe o troféu Homenagem ao Fado da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores.

A 27 de novembro a candidatura do Fado à Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade é aprovada pela UNESCO. José Pracana foi um dos signatários e apoiantes desta candidatura.

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Filipe de Brito, José Pracana, Dinis Raposo, Lina Rodrigues, Teatro Micaelense, Ponta Delgada, 2010. Colecção José Pracana

2013 2012

No dia 27 de Novembro de 2012, é agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa com a Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro. Esta distinção é um reconhecimento do seu inestimável contributo nos trabalhos preparatórios da candidatura do Fado à Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO).

No decorrer deste ano é gravado o documentário FADO, realizado por Aurélio Vasques e Sofia de Portugal. José Pracana é uma das personalidades que integra o elenco desta obra documental.

Destaca-se ainda a realização da segunda edição do Festival de Fado de Madrid. A programação deste festival incluiu um workshop conduzido por José Pracana.

José Pracana é distinguido pelo Grão-Mestre Matthew Festing com a medalha e diploma da Ordem Soberana e Militar de Malta, no dia 7 de Junho deste ano.

156
Filipe de Brito, José Pracana, Dinis Raposo, Teatro Micaelense, Ponta Delgada, 2010. Colecção José Pracana

2015 2016

No âmbito do seu papel meritório enquanto agente de divulgação da cultura portuguesa, foi condecorado, a 10 de Junho de 2015, pela Presidência da República Portuguesa, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

José Pracana morre na madrugada de 26 de Novembro de 2016, com 70 anos, em Ponta Delgada, cidade que o viu nascer. Deixará uma marca indelével na história do Fado. Figura multifacetada, titular de uma invulgar paixão pelo Fado, destacou-se como fadista, guitarrista, coleccionador e historiador, e conseguiu granjear o respeito e a admiração de todas as personalidades com quem se cruzou.

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José Pracana, Museu do Fado, 17 de Maio de 2010. Colecção José Pracana.
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José Pracana e Maria Natália, S. Miguel, Açores, s/d. Colecção José Pracana.
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Uma Produção: EGEAC | Museu do Fado

Conselho de Administração da EGEAC

Joana Gomes Cardoso

Sofia Meneses

Manuel Veiga

Coordenação: Sara Pereira

Textos: Carlos do Carmo, Camané, Clara Pracana, João Braga, João Veiga, Katia Guerreiro, Nuno de Siqueira, Paula Moura Pinheiro, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Félix, Ricardo Bóia, Rui Vieira Nery, Sara Pereira

Projecto Museográfico: António Viana

Design Catálogo e Exposição: Luís Carvalhal

Projecto Luminotecnia: Vítor Vajão

Documentação e Catalogação: Patrícia Parrado, Ricardo Bóia

Produção Executiva: Cristina Duarte

Comunicação: Isabel Marques

Transportes: Feirexpo

Seguros: Hiscox | Corbroker

Mediação Cultural | Serviço Educativo: Andreia de Brito, Arlindo Santos, Claudia Oliveira, Dalila Martins, Márcia Martins, Renata Costa, Ricardo Almeida, Susana Fouto, Vanessa Sousa Dias

Loja: Agostinha Sousa (coord.), Márcia Martins

Impressão: Rigor das Cores

ISBN: 978-989-8763-21-1

Depósito Legal: 463541/19

Tiragem: 500 exemplares

Agradecimentos: António Borba Vieira Cordeiro Pracana, João Nuno Borba Vieira Almeida e Sousa, José Frade, Maria Natália de Sousa Borba Vieira Pracana Martins, Carlos do Carmo, Camané, Clara Pracana, Duarte Manuel Espírito Santo Melo, João Braga, João Veiga, Katia Guerreiro, Nuno de Siqueira, Paula Moura Pinheiro, Paulo Machado, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Félix, Rui Vieira Nery

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