Aprofundamento Gonçalves Dias e o indianismo No famoso poema de Gonçalves Dias (18231864), I-Juca-Pirama, o índio tupi que dá nome à obra teria sido aprisionado pelos timbiras, e o destino que estaria reservado a ele seria a morte por meio de um ritual antropofágico. Antes, porém, o prisioneiro deveria cantar suas proezas, pois, assim, toda a sua coragem passaria para os inimigos devoradores. I-Juca-Pirama vai então falar de sua coragem, de suas andanças, do encontro com tribos inimigas, dos embates contra os aimorés, mas, ao se lembrar do pai cego e doente, pede que lhe deixem viver, o que vem a ser interpretado como um ato de covardia. Por isso, o chefe timbira manda soltá-lo para que volte ao lar. O pai de I-Juca-Pirama se decepciona com a atitude do filho, e ele mesmo o conduz de volta aos rivais para que o destino seja cumprido com honradez. Para mostrar que não é covarde, o filho vai à tribo timbira e começa a atacar a todos, até que o chefe pede que aquilo cesse. E assim a honra do herói vem a ser recuperada. O mote “Meninos, eu vi!” – que provém da boca de um eu lírico timbira que guardou a história de I-Juca-Pirama em sua memória – também é empregado no livro O grumete e o tupinambá, mas, vindo da boca do personagem narrador. Se, por um lado, representa perplexidade, por outro, esse recurso estilístico revela um desejo de que o leitor não duvide das coisas que serão narradas, alusivas aos tempos em que Jean ingressou em terras brasileiras. Neste sentido, e alusivamente, pode-se considerar que o adolescente protagonista é propositalmente colocado na situação de alguém que narra feitos memoráveis aos futuros leitores.
Em I-Juca-Pirama, nota-se que a visão de Gonçalves Dias sobre o indígena é idealizada, mas, ao mesmo tempo, há uma busca de certo realismo pelo poeta, o que se dá na descrição dos costumes nativos. Já no poema Os timbiras, o autor romantiza o índio ao nível dos heróis gregos, deixando evidente que a chegada da civilização europeia lhes roubou as terras e lhes afetou enormemente a cultura. Gonçalves Dias na poesia e José de Alencar na prosa são os consolidadores do Romantismo nacional, adotando o culto ao bom índio, símbolo de brasilidade em um país cujas elites sempre se esforçaram por detrair as próprias origens.
O grumete e o tupinambá – romance da França Antártica – Material Digital do Professor
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