A parte do sonho: a propósito de Hitchcock e Dalí, do surrealismo e do onirismo¹ Nathalie Bondil-Poupard “Tudo o que vemos ou aparece, não é mais que um sonho dentro de um sonho.”2 Edgar Allan Poe
Alguns criticaram a “falta de rigor que expõe para encontrar a marca [do surrealismo] em quase qualquer lugar em que Hitchcock ou Fuller necessitaram. O surrealismo certamente deixou vestígios concretos de sua passagem em todas as áreas, mas vamos nos reservar de colocar, em uns tantos quantos, todos os temperos. Estar em qualquer lugar seria como estar em lugar nenhum”3. Na verdade, nós podemos dizer, de preferência, que Hitchcock está em toda parte, mas ele é, sobretudo, ele mesmo. Referindo-se conscientemente ou não em todas as influências estéticas, do romantismo ao expressionismo, do simbolismo ao surrealismo, ele se apropria, assimila e as transcende. Esta é a característica de todo grande artista. Além de que o centenário de seu nascimento não ter terminado a exegese de sua obra. Consideramos aqui a dimensão surrealista de seus filmes, a colaboração Alfred Hitchcock - Salvador Dalí4, a parte dos sonhos nos trabalhos do diretor.
A América estava sofrendo de “Dalinite aguda” Quando Dalí deixou a Europa pelos Estados Unidos, ele voltou ao campo da politicagem mesquinha (ele foi expulso do grupo surrealista) e à própria guerra. Ele vê um país novo e energético, ansioso por Dalí, por seu dinheiro e por sua fama, ele não se esconde. O Museu ....................................................................................... Publicado originalmente com o título “La part du rêve: à propos de Hitchcock et Dalí, du surréalisme et de l’onirisme” no livro Hitchcock et l’Art: coïncidences fatales. Montreal e Paris: Centre Pompidou e Mazzotta, 2001, pp. 155-171. 2 Edgar Allan Poe, “Un rêve dans um rêve”, Poèmes, traduzido por Stéphane Mallarmé. Paris: Gallimard, 1982, p. 57. 3 Alain e Odette Virmaux, Les surréalistes et le cinéma, Anthologie. Paris: Seghers, 1976, p.6. 4 A bibliofrafia essencial para a sequência do sonho de Quando fala o coração (Spellbound) é: Donald Spoto, The Art of Alfred Hitchcock, Fifty Years of His Montion Pictures, 1976, Nova York, Anchor Books, reedição 1992, pp. 135-44; James Bigwood, “Solving a Spellbound Puzzle”, American Cinematographer, junho de 1991, vol. 72, nº 6, pp. 34-40. Eu agradeço vivamente a M. James Bigwood por suas informações. E pelo surrealismo em Hitchcock: Michael Gould, Surrealism and the Cinema (Open-Eyed Screening), South Brunswick e New York, A.S. Barnes and Company; Londres, The Tantivy Press, 1976, pp. 97-116. 1
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