Hitchcock

Page 17

Introdução Ruy Gardnier

H 17

De todas as histórias, frequentemente tortuosas ou mesmo trágicas, sobre o estabelecimento das carreiras dos grandes autores cinematográficos, a trajetória de Alfred Hitchcock é sem dúvida a mais invejada. Hitchcock teve uma carreira prolífica, sem grandes hiatos ou períodos de seca criativa; sempre gozou de uma popularidade que lhe concedia um excelente poder de barganha para negociar com produtores e levar à frente seus projetos de predileção; desenvolveu rapidamente uma série de ancoragens temáticas, formas e trejeitos que logo ganhariam o adjetivo “hitchcockiano” e se eternizariam como traço estilístico e identitário; além disso, sua própria figura pública era notória, através de breves aparições em seus próprios filmes, de exposição incomum na mídia e, a partir dos anos 1950, através das séries de programas de crime e suspense que apresentava e ocasionalmente dirigia, a mais prolífica e conhecida tendo o nome Alfred Hitchcock apresenta (Alfred Hitchcock Presents). Enquanto do outro lado do Atlântico um bando de jovens críticos, futuros cineastas, lutavam arduamente para defender os diretores como genuínos autores de seus filmes, Hitchcock já adquirira a reputação de um ícone, de uma marca. Muitos anos depois, um daqueles jovens franceses, Jean-Luc Godard dedicaria a Hitchcock um dos oito episódios de suas História(s) do Cinema (Histoire(s) du cinéma(s), 1988-1998) e diria que, em toda a história do cinema, apenas Alfred Hitchcock deteve através de seus filmes o controle do universo. O relato acima é ligeiramente romanceado, omite alguns fracassos, certas brigas com produtores, confunde tipos diferentes de reconhecimento e, de uma forma geral, atribui a toda a carreira uma imagem que só foi consolidada ao longo dos anos 1950, mas de alguma forma essa imagem mítica corresponde à imagem que hoje temos de Alfred Hitchcock, o homem e o autor. Ainda mais se o compararmos a outros cineastas. Ele não foi nenhum Erich Von Stroheim que lutava filme a filme para impor sua visão original e tinha seu filme mutilado pelos produtores. Tampouco um Fritz Lang ou um Douglas Sirk para viver à deriva dentro do sistema de estúdios, aceitando comandas e convertendo sorrateiramente esses projetos estranhos a seu estilo próprio, transformando-se em autores subterrâneos. E muito menos um Michelangelo Antonioni ou Alain Resnais, que modificaram radicalmente a história do cinema mas permaneceram sendo vistos apenas por um segmento restrito do público frequentador, o público do cinema de arte. Hitchcock teve todos esses méritos e nenhum dos revezes: seu palco desde cedo foi o maior de todos, o do cinema de gênero de orçamento elevado e altas expectativas, e


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

CRÉDITOS E AGRADECIMENTOS

4min
pages 414-416

ÍNDICE DE FILMES POR TÍTULO

2min
page 413

ENTREVISTA COM PETER BOGDANOVICH

16min
pages 357-364

UM JOVEM COM MENTE DE MESTRE - ENTREVISTA COM ALFRED HITCHCOCK

1hr
pages 365-412

AS MULHERES DE HITCHCOCK SOBRE HITCHCOCK – ENTREVISTA COM JANET LEIGH, TIPPI HEDREN, KAREN BLACK, SUZANNE PLESHETTE E EVA MARIE SAINT

34min
pages 341-356

ENTREVISTA COM GUS VAN SANT

19min
pages 333-340

INTRODUÇÃO (1966) DO LIVRO

23min
pages 315-324

AMAR HITCHCOCK

5min
pages 329-332

PREFÁCIO À EDIÇÃO DEFINITIVA DO LIVRO

5min
pages 325-328

HITCHCOCK DE ROHMER E CHABROL

13min
pages 309-314

HITCHCOCK CONTRA HITCHCOCK

22min
pages 301-308

DEVEMOS ACREDITAR EM HITCHCOCK?

6min
pages 297-300

A CONSTRUÇÃO CRÍTICA DE UM GÊNIO DO CINEMA Luiz Zanin

10min
pages 291-296

ALFRED HITCHCOCK - NÃO É APENAS UM FILME

23min
pages 281-290

FILMES PERDIDOS

2min
pages 259-262

LONGAS-METRAGENS

1hr
pages 133-242

A PARTE DO SONHO A PROPÓSITO DE HITCHCOCK E DALÍ, DO SURREALISMO E DO ONIRISMO

38min
pages 103-118

CURTAS-METRAGENS

2min
pages 243-246

DO CINEMA E DO ASSASSINATO COMO BELAS ARTES HITCHCOCK E A ESTÉTICA DO CRIME

15min
pages 119-125

LONGE DO MESMO, PERTO DO OUTRO

12min
pages 89-94

HITCHCOCK E O SONHO

19min
pages 95-102

A MULHER HITCHCOCKIANA: AUSÊNCIA, OPACIDADE, TRANSPARÊNCIA

13min
pages 83-88

O CINEMA DEVORADOR DE ALFRED HITCHCOCK

28min
pages 47-58

INTRODUÇÃO

16min
pages 17-26

AS TRAMAS DO OLHAR João Luiz Vieira

9min
pages 35-40

PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA DO LIVRO

15min
pages 69-74

O BEM, O MAL E O FEIO NA OBRA DE ALFRED HITCHCOCK

10min
pages 79-82

A MORTE E O FALSO CULPADO NO CINEMA DO JOVEM HITCHCOCK

20min
pages 59-68

O CINEMA DA CUMPLICIDADE

7min
pages 75-78

O PLANO-OLHAR HITCHCOCKIANO Luiz Carlos Oliveira Jr.

14min
pages 41-46
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.