SAÚDE E BEM-ESTAR nº 315 - abril 2021

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[SAÚDE OFTALMOLOGIA]

Monitores A e visão EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA das últimas décadas revolucionou transversalmente a nossa existência. A relação com os ecrãs de computadores depressa deixou de estar limitada aos espaços de trabalho para invadir a nossa vida pessoal, de relação e social, potenciado com a emergência dos tablets e smartphones. Embora com perfis distintos, a utilização deste tipo de dispositivos cresce rapidamente em todas as classes etárias. Estudos desenvolvidos em países como o EUA e o Reino Unido revelam que 2/3 dos adultos até aos 50 anos e 40% da população com mais de 60 anos tem um uso superior a 5 horas por dia. As alterações impostas pela pandemia, nos últimos 12 meses, com os vários confinamentos e o teletrabalho vieram, certamente, aumentar dramaticamente esses números.

SOBRECARGA DO SISTEMA VISUAL Mas será que a exposição aos ecrãs prejudica os nossos olhos? O problema não são os monitores ou os ecrãs, mas sim o tempo que despendemos nessa atividade. A comunidade oftalmológica há muito que conhece os impactos que a exposição elevada aos ecrãs tem sobre o sistema visual – síndrome visual dos computadores.

Pelo

ABRIL 2021

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DR. NUNO ALVES

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Médico oftalmologista especialista em córnea e cirurgia refrativa

COMO MANTER UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL?

Esta define-se por uma sobrecarga do sistema visual – que é responsável por manter a imagem focada – e pela perturbação do filme lacrimal que protege a superfície dos nossos olhos. A exposição prolongada aos ecrãs pode, assim, provocar sintomas visuais e oculares frequentes, mas transitórios, que reduzem o conforto, designadamente visão turva, dor de cabeça, dor e desconforto ocular, lacrimejo e sensibilidade à luz. Além disso, vários estudos confirmam que a leitura num formato digital é mais exigente e provoca um maior impacto sobre os nossos olhos e sistema visual, quando comparada com a leitura em formato papel. MENOR LUBRIFICAÇÃO Quando estamos atentos na leitura de um ecrã, a nossa frequência de pestanejar reduz para cerca de 1/3 do normal. Sabemos também que, durante a atividade com os ecrãs, pestanejamos mais vezes de uma forma incompleta – isto significa que áreas da nossa superfície ocular não são devidamente lubrificadas. Pelas razões apontadas, a nossa superfície ocular fica mais seca, influenciando negativamente a visão e o conforto ocular. Um doente com olho seco tem menor margem ou reserva funcional para gerir este impacto. Manifesta sintomas com maior frequência, com maior gravidade e recupera pior de crises instaladas, diminuindo de forma significativa a sua capacidade de trabalho.

DANOS PERMANENTES? Uma preocupação comum é: conduzirão essas alterações a danos permanentes? A exposição aos ecrãs não provoca perda de visão. Sabemos, sim, que pode influenciar negativamente, de forma transitória, a visão e o conforto ocular e, consequentemente, diminuir de forma significativa a nossa qualidade de vida. Quando é que nos devemos preocupar e procurar ajuda? A consulta com o oftalmologista deve ser realizada regularmente, em função da idade e/ou de alguma patologia ocular diagnosticada. Não obstante, o aparecimento de sintomas oculares persistentes e/ou recorrentes deve motivar uma visita ao oftalmologista, de modo a ser diagnosticada a causa e definir-se um plano para o resolver ou atenuar. O QUE DEVEMOS FAZER? É importante reconhecer os sinais e sintomas já descritos e ter uma atitude preventiva e proativa. Podemos reduzir eventuais problemas relacionados com o uso de ecrãs, com medidas simples, intervindo em duas dimensões: otimizando a nossa capacidade visual e otimizando a forma como usamos os ecrãs. Em primeiro lugar, é importante que os nossos olhos consigam focar sem esforço a imagem que é o alvo da nossa atenção. Para isso, é necessário corrigir a miopia, hipermetropia, astigmatismo e a presbiopia (dificuldade de ver ao perto decorrente da perda de acomodação com o envelhecimento do cristalino), usando óculos.


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