HISTÓRIA DA IGREJA 1 - MÓDULO CALCEDÔNIA - SEMINÁRIO BATISTA LIVRE

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HISTÓRIA DA IGREJA

De Cristo até a Reforma Protestante

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 157 1. A IGREJA NOS PLANOS DE DEUS 159 2. A IGREJA APOSTÓLICA 161

A EXPANSÃO DA IGREJA 169

AS PERSEGUIÇÕES IMPERIAIS 172

OS PAIS DA IGREJA 182

O APARECIMENTO DAS SEITAS 192

A IGREJA IMPERIAL 201

A IGREJA MEDIEVAL 203

CRESCIMENTO DO PODER MAOMETANO 206

AS CRUZADAS 208

A REFORMA RELIGIOSA 211

A CONTRA - REFORMA CATÓLICA 220 REFERÊNCIAS 223

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INTRODUÇÃO

Começamos dizendo que é impossível a produção de um livro detalhado sobre história da Igreja. Não importa quantas páginas sejam escritas, parece sempre que a história se estende além delas. Por mais dedicado que seja o autor, a realidade é que acabam omitindo alguma coisa, esquecendo outras e assim por diante. Diante dessa perspectiva, nesta disciplina procuraremos apenas fornecer uma visão panorâmica da história da Igreja e do seu entro samento com a história do mundo. Não se trata, porém, de um manual de história eclesiástica.

Nossa intenção é apresentar de forma abreviada os principais eventos que durante a caminhada da Igreja de nosso Senhor percorreu até chegar à Refor ma Protestante. A Igreja passou por séculos de perseguição, onde inúmeros mártires demonstraram sua fé, entregando suas vidas, pela causa do mestre.

Jesus havia dito que “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (João 12.24). Esta divina palavra aplica -se perfeitamente aos primórdios da história do Cristianismo. Os três primeiros séculos de sua história foram a época da semeadura. E a semente caiu por terra e morreu. Por mais de duzentos anos a Igreja viveu sob a opressão do Império Romano. Escondida na terra, oprimida, martirizada. Três séculos de luta renhi da entre o politeísmo dominante no mundo e o monoteísmo de tradição judaica que o cristianismo vinha afirmar.

A história da Igreja é, pois, um assunto de enorme relevância para o cristão que deseja estar informado sobre sua herança espiritual para imitar os bons exemplos do passado, e evitar os erros que a Igreja freqüentemente tem cometi do ao longo de sua existência. Paulo nos lembra em 1 Coríntios que os eventos do passado deve nos ajudar a evitar o mal e buscar o bem (1 Coríntios 10.6,11).

O conhecimento dos fatos que marcaram a sobrevivência da Igreja é de suma importância para todo aquele que deseja entender como se deu a funda

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ção e a configuração de todo o arcabouço teológico e eclesiológico, que seria a partir daí a cristandade e teve por objetivo a atualização em sua própria vida, que nós denominamos cristianismo.

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1A IGREJA NOS PLANOS DE DEUS

Não é nada fácil falar sobre a origem da Igreja, porém podemos refletir sobre dois momentos distintos: o do projeto e da execução dela. Na primeira fase pode mos dizer que a Igreja sempre existiu no eterno propósito de Deus. Ela já existia antes da fundação do mundo, pois estava determinada por Ele desde a eternidade. Na segunda fase, a Igreja que antes era desconhecida dos homens tornou-se ma nifesta em Cristo. Ela que era um projeto de Deus, na plenitude dos tempos, por meio do ministério terreno de Jesus Cristo veio a ser conhecida. Por tudo o que fez e ensinou, Cristo é mais o fundamento que o fundador da Igreja. Isto fica evidente pelo uso do tempo futuro que está mencionado em Mateus 16.18, que diz: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Em uma ordem lógica, evidenciada pelas Escrituras, sem diminuir as pessoas da Trindade, podemos dizer que: Deus Pai é o Criador e Arquiteto da Igreja, Jesus Cristo a materializou e o Espírito Santo a edifica. Paulo ao escrever aos efésios disse que: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepre ensível” (Efésios 5.25-27). Com esta e outras declarações bíblicas, torna-se claro que Deus planejou a igreja, Cristo deu sua vida por ela, seu corpo, e o Espírito Santo foi enviado para lhe dar poder para cumprir sua missão de testemunhar de Cristo em toda a parte da terra (João 14.16-17; Atos 1.8) e chamar pecadores para a comunhão nesta nova sociedade que Ele está edificando, guiando e preservando para a eternidade.

Seja qual for a data que viermos a estabelecer para o nascimento da nova asso

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ciação, seja na ocasião da grande confissão de Pedro em Cesaréia de Felipe ou na noite da ressurreição do Senhor, há poucas dúvidas de que, depois do Pentecostes, os doze estavam conscientes de sua missão como propagadores do evangelho. A igreja iniciou sua história com um número reduzido de pessoas, entretanto o Espí rito Santo exerceu grande influência na fundação da mesma. Isto estava de acordo com a promessa de Jesus Cristo, quando nas últimas semanas de Sua vida, prome teu enviar “outro Consolador” que lideraria a Igreja após Sua ascensão.

Judeus de todas as partes do mundo estavam presentes em Jerusalém para par ticipar da Festa de Pentecostes, onde na mesma ocasião os discípulos foram cheios do Espírito Santo, evento que se tornou um marco divisor na vida dos primeiros seguidores de Cristo (Atos 2.5-11). A manifestação sobrenatural do poder divino no falar em línguas, claramente evidenciava uma nova etapa para a Igreja. Todos os membros da recém formada Igreja eram judeus, nenhum dos seus membros, bem como nenhum dos integrantes da companhia apostólica, a princípio aceitava que algum gentio fosse admitido como membro da Igreja. Quando isso acontecia, o gentio teria que se tornar judeu para depois ser aceito no círculo cristão. Este fato perdurou até que Deus levantou Paulo para corrigir tal atitude, deixando patente a igualdade entre todos os servos de Jesus Cristo.

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2A IGREJA APOSTÓLICA (30 d.C. – 90 d.C.)

A Igreja do primeiro século era formada por um pequeno grupo de cristãos, primeiramente reunidos em Jerusalém, posteriormente espalhados por diferentes regiões do vasto império romano, seguidores diretos de Jesus, sendo eles: “Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes” (Mateus 10.2-4). Com a pregação dos apóstolos a Igreja foi se multiplicando, entretanto sua grande maioria eram pessoas humildes, sendo alguns escravos, embora houvesse cristãos da classe mais alta, especialmente na Igreja de Roma. 5

O período apostólico abrange o espaço de tempo desde o dia de Pentecostes até a morte do último apóstolo, João, por volta de 90 d.C. Isto significa cerca de 60 anos em que a Igreja se desenvolveu, tendo a supervisão direta ou indireta de algum apóstolo. De acordo com alguns historiadores podemos seguir os passos dos primeiros apóstolos, vejamos:

2.1 PEDRO

Visto que o apóstolo Paulo faz referência a Pedro em (1 Coríntios 1.12; 3.22), havendo inclusive um partido que se identificava com ele, não se pode negar seu trabalho nesta cidade e provavelmente um trabalho demorado. Pode-se presumir ainda de 1 Coríntios 9.5 que ele esteve ali com a sua família. O historiador Eusébio de Cesaréia, em sua obra História Eclesiástica confirma essa informação. 6

5. NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2000, p. 32.

6. CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002, Livro II, capítulo XXVII.

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Este mesmo historiador fala do ministério de Pedro em Antioquia da Síria, cidade de extrema importância da História do Cristianismo. Nela houve gran des nomes da Igreja, dentre eles Inácio, apontado como sucessor de Pedro naquela cidade.

Há controvérsias sobre um trabalho de Pedro na região da Mesopotâmia, baseado na citação de 1 Pedro 5.13. Alguns crêem que seja uma referência literal, outros que se trata de uma referência simbólica à cidade de Roma. De qualquer forma permanece a possibilidade.

Todavia há outro campo missionário onde as evidências do trabalho de Pedro parecem ser plenamente reconhecidas – a região da Gran Bretanha (ou Inglaterra). Sabemos que o Império Romano havia conquistado pelo menos metade da Ilha. Muitos são os pesquisadores que reconhecem um ministério efetivo do apóstolo nesta região.

Por fim, há grande evidência histórica de que ele teria morrido em Roma, por ordem do Imperador Nero. Nero teria colocado fogo na cidade para ter a glória de reconstruí-la a seguir. Jogou a culpa do incêndio sobre os cristãos, iniciando um cruel período de perseguição que levou muitos ao martírio. Por esta ocasião teria mandado matar Pedro no ano 67 d.C. e Paulo no ano de 68 d.C. Devido à cidadania romana, Paulo foi decapitado enquanto Pedro foi crucificado. Conta-se que pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, pois não se julgava digno de morrer como seu Senhor.

2.2 JOÃO

João foi o último dos apóstolos a morrer e o único que morreu de morte natu ral. Há ampla literatura sobre ele posterior ao período apostólico. A mais forte in formação sobre o seu trabalho foi que ele teria habitado em Éfeso. Embora existam contestações à informação de que ele teria habitado ali com Maria mãe de Jesus, a presença de João ali não é questionada.

Parece bastante evidente até mesmo pelo material bíblico que ele ali tenha ha

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bitado. Como vemos em Atos 19. 1-4, Paulo encontrou ali discípulos de João Ba tista, o que mostra uma forte influência deste na região. Quando João escreveu seu Evangelho ele enfatiza bastante a distinção entre João e o Messias, de uma forma mais incisiva do que a feita pelos demais Evangelhos. Isto demonstra a necessidade de esclarecer o assunto perante os seguidores de João Batista que talvez o tivessem como o Messias.

Parece bastante plausível seu trabalho em toda aquela região. No ano de 81 d.C. o apóstolo teria sido exilado na Ilha de Patmos pelo imperador Domiciano. A intenção era que ele morresse, uma vez que a ilha era infestada de serpentes vene nosas. Mas ele não pereceu e ainda retornou a Éfeso para escrever seu Evangelho e o Apocalipse.

Ainda segundo a tradição ele teria morrido de morte natural e sido sepultado na própria cidade de Éfeso com mais de 90 anos.

2.3 BARTOLOMEU

Há duas tradições referentes ao trabalho missionário de Bartolomeu. Uma diz que ele teria feito seu trabalho na Ásia Menor, enquanto que outra afirma que ele também foi para a região do Oriente, mais precisamente para a Índia. Panteno, um missionário enviado para aquela região em certa ocasião, descobriu que Bartolomeu já havia estado lá e deixado um Evangelho, conforme Mateus, escrito em hebraico. Também os armênios possuem uma tradição da presença de Bartolomeu em suas terras. Segundo algumas tradições ele teria sido crucificado por um rei ar mênio que depois mandou decapitá-lo.

2.4 MATEUS

Este discípulo que nos deixou uma brilhante narrativa da vida de Cristo foi missionário nas regiões do Egito e da Etiópia. Embora uma minoria afirme que ele morreu de velhice, a maior parte da tradição o coloca perecendo ferido por lança ou por espada nestas regiões.

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2.5 SIMÃO, O ZELOTE

Este humilde discípulo de Cristo derivou seu sobrenome provavelmente de seu envolvimento com a seita dos zelotes, grupo extremista que desejava se insurgir militarmente contra Roma. Era um nome muito comum nos tempos do Novo Tes tamento.

Segundo a tradição ele também teria feito sua obra missionária nas Ilhas Bri tânicas. Além disso, teria também ido a outras regiões distantes, principalmente do Norte da África como Egito, Cirenaica, Mauritânia e Líbia. Teria morrido na Inglaterra por ordem do procurador romano, embora algumas tradições narrem um trabalho posterior na Mesopotâmia, sendo duvidosa esta afirmativa.

2.6 TOMÉ

A riqueza de tradições sobre a vida e obra de Tomé é muito grande. Ele é o apóstolo do qual existem mais informações históricas. Entre as regiões por ele visitadas constam na tradição Babilônia, Pérsia, Média e China. Mas seu trabalho mais expressivo foi realizado na Índia. Assim se encontra escrito em O ensino dos Após tolos: “A Índia e todas as regiões a ela pertencentes, assim como suas adjacências até o mais distante mar, receberam a ordenação apostólica de Tomé, que se tornou o guia e o líder da Igreja ali estabelecida, na qual ele mesmo ministrou”. Embora sejam muitas as tradições sobre sua morte, há muitos pontos em co mum entre elas. É possível que ele tenha perecido no sul da Índia, sendo assassinado pelos sacerdotes brâmanes que invejavam seu sucesso com a nova doutrina que ele estava proclamando.

2.7 ANDRÉ

O Leste Europeu foi o lugar onde este discípulo do Senhor teria exercido a or dem missionária. Uma das mais fortes tradições endossadas pelo historiador Eusé bio diz respeito ao sul da Rússia, especialmente as regiões outrora conhecidas como

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Cítia e Partia próximas ao Mar Negro. Outros lugares em que ele teria trabalhado seriam Bizâncio, na Trácia, em Épiros, e no Peloponeso, como também na Bitínia.

A tradição diz que seu martírio teria ocorrido na Grécia. Como curiosidade ele teria perecido em uma cruz em forma de “X” que ganhou por isso o nome de cruz de Santo André.

2.8 FILIPE

Este apóstolo algumas vezes tem sido confundido com Filipe o Evangelista, que foi colocado como diácono e se tornou um personagem de destaque no livro de Atos (Atos 6.5; 8.5-40; 21.8,9). Segundo a tradição ele teria trabalho na região da Frigia, tendo antes pregado na Cítia, região do Mar Negro. Teria também feito tra balhos missionários na Gália (uma região da atual França) e em Atenas na Grécia, onde entrou em conflito com os filósofos que ali abundavam. Morreu como mártir na Ásia Menor.

2.9 JUDAS TADEU

Há muito pouca informação a respeito deste apóstolo, mesmo nos evangelhos sua figura permanece muito obscura. Há conexões que ligam seu trabalho missio nário com a Igreja Armênia, mas trata-se apenas de especulação. Alguns historia dores afirmam que ele teria morrido em tenra idade.

2.10 TIAGO, FILHO DE ZEBEDEU

Este Tiago era o irmão de João. É geralmente chamado de Tiago o Maior, para distingui-lo de Tiago, Filho de Alceu que recebeu o título de Tiago, o Menor.

Sua carreira foi bastante curta. Ele foi morto por Herodes (Atos 12.2) e que nos foi dito nesta ocasião é que isto agradou aos judeus, pelo que entendemos que seu ministério era bastante impactante entre os judeus de Jerusalém.

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2.11 TIAGO, FILHO DE ALFEU

Também não há muito material sobre este apóstolo, chamado de Tiago o Me nor. O que se pode dizer é que se fala muito nas tradições de uma semelhança entre ele e o Senhor Jesus Cristo. É comum também nas tradições confundi-lo com Tiago irmão do Senhor.

As tradições apontam uma semelhança muito grande entre o seu martírio e o do irmão do Senhor. Teria sido jogado de cima do Templo e apedrejado em segui da, mas pode tratar-se de mera confusão com Tiago, o Justo, irmão do Senhor.

2.12 MATIAS

Foi o substituto de Judas Iscariotes, o traidor. Da pouca tradição que restou, ele teria feito sua obra missionária na região da Armênia. Teria sido martirizado por mãos judaicas em Jerusalém, após retornar de uma campanha na Macedônia entre 61 e 64 d.C.

2.13 PAULO

Paulo foi um homem de grande estatura moral, intelectual e espiritual. Era cidadão de Tarso, na Cilícia, região da Ásia Menor (atual Turquia), educado por Gamaliel, um dos grandes mestres do judaísmo (Atos 22.3). Dessa forma ele ad quiriu uma dupla formação: gentia e judaica. Tarso era um centro cultural grego e Jerusalém um centro cultural judaico. Isto o capacitou ao ministério de apóstolo aos gentios que lhe foi confiado.

Por meio dele o evangelho tornou-se compreensível ao mundo de cultura grega naquela época. É bom lembrar que os judeus tinham uma cultura completamente distinta do mundo ao seu redor. Por sua própria natureza o judaísmo era fechado em si mesmo e quando alguém queria servir ao Deus de Israel ele tinha que tornar -se um prosélito, isto é, judeu convertido ao judaísmo.

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No conjunto das epístolas paulinas, treze ao total (a autoria paulina de Hebreus é questionada), encontramos uma ampla exposição do Evangelho nos aspectos teológico, ético, moral e espiritual. A Igreja tem uma enorme dívida para com este gigante da fé. Após dois mil anos a força de seus escritos continua orientando as vidas e moldando o pensamento da Igreja.

Além de seu trabalho como pensador, sua obra missionária também merece destaque. Aliás, ele é o único que teve seu trabalho registrado no livro de Atos. Nele temos descritas três viagens missionárias e mais uma viagem a Roma como prisioneiro do Império. Todas estas viagens expandiram o cristianismo muito além das terras da Judéia.

A primeira viagem iniciou a partir de Antioquia da Síria e dirigiu-se para a Ilha de Chipre. Depois seguiu para a região da Ásia Menor (Turquia). Nesta primei ra viagem Paulo foi auxiliado por Barnabé. Seu método permaneceu sempre o mesmo, obedecendo à ordem “primeiro do judeu” (Romanos 1.16). Ele ia para a sinagoga, que na ocasião estava espalhada por toda a região do Império Romano, buscando convencer aos judeus que Jesus era o Messias. Após a recusa destes, ele se voltava para os gentios. Dessa forma as Igrejas iam se formando com um misto de judeus e não judeus. Paulo percorreu diversas cidades plantando Igrejas até que retornou.

Após o Concílio de Jerusalém, Paulo iniciou sua segunda viagem, desta vez acompanhado por Silas. Visitou as cidades nas quais havia deixado Igreja, comu nicando o parecer do Concílio com respeito aos gentios. Foi nesta ocasião em que eles foram conduzidos pelo Espírito Santo para a região da Europa. Na cidade de Filipos surgiram os primeiro convertidos. A partir daí o trabalho continuaria por outras cidades européias como Tessalônica, Beréia, Atenas, Corinto. Este aconteci mento seria de extrema importância, uma vez que o Cristianismo criaria profundas raízes neste Continente, para depois se espalhar pelo mundo inteiro. Paulo então retornou para Jerusalém e depois foi para Antioquia.

Na terceira viagem missionária Paulo deteve-se na grande cidade de Éfeso por um ano e meio. Vinham muitos de toda a Ásia para aquela cidade e eram instruídos no Evangelho. Foi um trabalho muito proveitoso que permitiu a mui

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tos ouvirem a Palavra de Deus. Dali ele visita novamente a Europa, mais pre cisamente na Grécia. Depois ele retorna passando por Mileto (Ásia Menor) até chegar a Jerusalém onde é preso.

Sua viagem a Roma não foi como as anteriores, desta vez ele foi como prisio neiro. Mas ele teve oportunidade de pregar aos nativos de Malta devido ao naufrá gio do navio. Uma vez em Roma teve a oportunidade de ficar em uma casa alu gada às suas custas. Nesta ocasião ele realizou um bom trabalho evangelístico na capital do Império. Geralmente se crê que o apóstolo foi solto por esta ocasião, pois sua segunda epístola a Timóteo, a última a ser escrita, fala de viagens não narradas à Ilíria e Espanha. O que indica novas viagens missionárias posteriores.

Este é um resumo do trabalho missionário da Igreja que nos da uma idéia da amplitude adquirida pelo evangelho. Mesmo que não tenhamos detalhes do traba lho dos demais apóstolos já é possível ter uma idéia da expansão do cristianismo. Este primeiro século de semeadura foi bastante eficaz.

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A EXPANSÃO DA IGREJA

O crescimento da Igreja foi rápido. Outros eram acrescidos diariamente ao nú mero dos três mil até chegarem logo a cinco mil: “muitos, porém, dos que ouviram a palavra creram, e chegou o número desses homens a quase cinco mil” (Atos 4.4). Há menção de multidões se integrando à Igreja: “E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais” (Atos 5.14). Nem mesmo os sacerdotes ficaram imunes ao contágio da nova fé, “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (Atos 6.7).

Este crescimento tão rápido não se fez sem a oposição da parte de judeus. As autoridades eclesiásticas logo perceberam que o cristianismo representava uma ameaça a suas prerrogativas como intérpretes e sacerdotes da lei; por isto, reuniram suas forças para combater o cristianismo. A perseguição iniciou-se primeiramente por meio de um organismo político-eclesiástico, o Sinédrio, que, com permissão do Império Romano, supervisionava a vida civil e religiosa do Estado. Pedro e João tiveram que comparecer perante este egrégio órgão duas vezes e foram proibidos de pregar o evangelho, mas eles se recusaram a cumprir a ordem. Mais tarde a perseguição tomou cunho mais político. Herodes matou Tiago e prendeu Pedro (Atos 12) nesta fase de perseguição. Daí por diante a perseguição tem seguido esse padrão eclesiástico ou político.

Esta perseguição deu ao cristianismo seu primeiro mártir, Estevão. Fora ele um

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dos mais destacados dos sete homens escolhidos para administrar os fundos de caridade na Igreja de Jerusalém. Testemunhos falsos, que não podiam resistir ao es pírito e à lógica com que ele falou, obrigaram-no a comparecer diante do Sinédrio. Após um emocionante discurso em que denunciou líderes judaicos por sua rejeição de Cristo, foi retirado e apedrejado até a morte. Sua morte como primeiro mártir da fé cristã, foi um fator importante na divulgação e crescimento do cristianismo. Saulo, depois Paulo, guardou as capas daqueles que apedrejaram Estevão.

A perseguição que se seguiu foi mais dura e acabou sendo o meio usado pela igreja nascente para que sua mensagem fosse levada à outras partes do mundo (Atos 8.4).

O cristianismo primitivo promoveu uma grande mudança social em certas regiões. A Igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade espiritual dos sexos e deu muita importância às mulheres na Igreja. A liderança de Dorcas na promoção do trabalho de caridade foi registrada por Lucas (Atos 9.36). A criação de um grupo de homens para tomar conta das necessidades foi outro acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos primeiros anos do nascimento da Igreja. A caridade deve ria ser administrada por um corpo organizado, os precursores dos diáconos. Com isto, os apóstolos ficaram completamente livres para o exercício de sua liderança espiritual. A necessidade, devido ao rápido crescimento e possivelmente à imitação das práticas da sinagoga judaica, levou à multiplicação de ofícios e oficiais bem cedo na história da Igreja. Algum tempo depois, os presbíteros (anciãos) passaram a integrar o corpo de oficiais, finalmente formado de apóstolos, presbíteros e diáco nos, que dividiam a responsabilidade de liderar a Igreja de Jerusalém. A natureza da pregação dos líderes dessa Igreja primitiva desponta logo no relato do surgimento do cristianismo. O sermão de Pedro é o primeiro sermão de um apóstolo registrado nas Escrituras (Atos 2.14-36); nele, Pedro apelou aos profetas do Antigo Testamento que haviam pré-anunciado o Messias sofredor. Ele propôs, então, que Cristo era este Messias, porque ele havia sido levantado dentre os mor tos por Deus, como disseram os profetas. Portanto, somente Ele era capaz de trazer a salvação para aqueles que O aceitassem pela fé. O Cristo crucificado e ressurreto era o conteúdo de sua pregação tanto a judeus como a gentios (João 5.22, 27; Atos

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10.42; 17.31).

A Igreja judaica em Jerusalém, cuja história foi descrita, logo perdeu seu lugar de líder do cristianismo para outras Igrejas. A decisão tomada no Concílio em Je rusalém, de que os gentios não eram obrigados a obedecer à lei, abriu o caminho para a emancipação espiritual das igrejas gentílicas do controle judaico. Durante o cerco de Jerusalém no ano 70 por Tito, os membros da Igreja foram forçados a fugir para Pela, do outro lado do Jordão. Depois da destruição do templo e da fuga da Igreja judaica, Jerusalém deixou de ser vista como o centro do cristianismo; a lide rança espiritual da Igreja Cristã se centralizou, então, em outras cidades, especial mente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se libertasse dos quadros do judaísmo.

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AS PERSEGUIÇÕES IMPERIAIS

O cristianismo era considerado uma ameaça à sociedade romana, afinal, os cristãos eram contra a ganância, a escravidão, e principalmente contra a adoração prestada ao imperador. Isso fez com que a igreja fosse perseguida por mais de du zentos anos. Milhares de cristãos pagaram um alto preço por sua fé ousada.

Surpreendente é o fato de se constatar que durante esse período, alguns dos melhores imperadores foram mais ativos na perseguição ao cristianismo, ao passo que os considerados piores, eram brandos na oposição, ou então nem se quer per seguiam a Igreja.

As perseguições aos seguidores de Cristo começaram com o Imperador Nero e perdurou até o ano 313 d.C. quando Constantino, o primeiro Imperador Romano, convertido ao cristianismo fez cessar todos os propósitos de destruir a Igreja.

Como não bastasse o ataque externo, nesse meio tempo surgiram grupos he réticos, que introduziram doutrinas estranhas aos ensinos do Novo Testamento, principalmente na cidade de Colossos. O apóstolo Paulo sem demora escreveu aos fiéis nessa cidade dizendo: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2.8-9).

O gnosticismo com seus diversos sistemas filosóficos surgiu durante o século II, na Síria, Egito e Ásia Menor. Os ebionitas e os nazarenos pregavam a volta do Cristianismo aos moldes judaicos; os gnósticos procuravam reduzi-lo aos moldes pagãos; os ebionitas rejeitavam as cartas de Paulo, tachando-o de impostor; os gnosticistas rejeitavam todo Antigo Testamento e também o Novo Testamento, com exceção das cartas de Paulo.

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4.1 OS MOTIVOS DAS PERSEGUIÇÕES

As causas que desencadearam as perseguições que perdurou por mais de dois séculos foram as mais variadas, a saber:

a) Religiosa

O paganismo romano tinha seus altares, ídolos, ritos e práticas que o povo podia ver, enquanto os cristãos não tinham ídolos e rejeitavam qualquer forma ou objeto de adoração. O culto era espiritual, suas orações não eram dirigidas a ne nhum objeto visível.

A adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os aspectos da vida. As imagens eram encontradas em todos os lares, e nas cerimônias cívicas, eram ofere cidas libações aos deuses. Os cristãos, não participavam dessas formas de adora ção. Por essa razão os cristãos eram considerados de anti-sociais, ateus e aborrece dores de seus companheiros. Com a reputação tão desfavorável por parte do povo em geral, apenas um passo os separava da perseguição.

Outro fator preponderante era a adoração ao Imperador, considerada como prova de lealdade. Havia estátuas dos imperadores reinantes nos lugares mais vi síveis para o povo adorar. Os cristãos, é claro, não participavam dessas formas de adoração, recusando-se a prestar tal ato.

b) Política

Enquanto a Igreja era vista como uma facção do judaísmo pelas autoridades, ela sofreu pouco. Mas quando o cristianismo foi distinguido do judaísmo, passou a receber a interdição do Império Romano que não admitia nenhum rival à obedi ência por parte de seus súditos. O cristianismo em seu rápido crescimento prestava lealdade moral e espiritual a Cristo. Quando a escolha entre a lealdade a César tinha de ser feito, César era colocado em segundo plano.

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c) Social

O cristianismo considerava todos os homens iguais, conseqüentemente ga nhou simpatizantes das camadas mais pobres, especialmente os escravos. Temendo a influência do cristianismo na sociedade, a classe dominante romana espalhava difamações da religião cristã.

Naquele tempo, a sociedade romana era controlada pelas grandes famílias de aristocratas (nobres), donas dos maiores e melhores pedaços de terras. Os mem bros das famílias ricas e nobres eram chamados de patrícios. As decisões mais im portantes das cidades romanas eram tomadas por uma assembléia formada apenas por patrícios, que se tornou conhecida como Senado. Havia também os plebeus, composto por trabalhadores, mas quase não possuíam terras. Estes não podiam participar das assembléias dos patrícios, embora possuíssem alguns direitos políti cos. E por fim havia os escravos, que não possuíam nenhum direito. Quando qualquer desses se convertia ao cristianismo, não havia qualquer dis tinção entre eles, por isso foram considerados como “niveladores da sociedade”, portanto anarquistas, perturbadores da ordem social.

4.2 OS PRINCIPAIS PERSEGUIDORES DA IGREJA

Depois da morte de Jesus a igreja enfrentou um período de semeadura, como havia dito o mestre: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, cain do na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (João 12.24). A semente caiu por terra e morreu. Por mais de duzentos anos a Igreja viveu sob a opressão do Império Romano. No decorrer desses dois séculos, quatro dinastias ocuparam sucessivamente o poder em Roma: a Júlio-Claudina (14-68 d.C.), a Flá via (68-96 d.C.), a Antonina (96-193 d.C.) e a Severa (193-235 d.C.).

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a) JÚLIO-CLAUDINA

Depois de vencer Marco Antônio e Emílio Lépido, Otávio se auto proclamou Imperador. A partir deste momento, esse período da história romana passou a ser denominado pelos historiadores de Império.

A partir deste momento o poder seria concentrado em uma única mão: do Imperator (Imperador). Era ele quem comandava os exércitos e a marinha, ele é quem governava, indicava os senadores e outros magistrados, porém ele quem fazia as leis e controlava os cidadãos e era também a maior autoridade religiosa, recebendo em 27 d.C. o título de Augusto (consagrado, divino). Ninguém podia realizar um culto religioso sem sua autorização. O imperador nomeava as pessoas para os cargos de confiança, como o de prefeito de uma cidade ou governador (chamado procônsul) de uma província.

Antes de morrer, Augusto prevendo uma possível anarquia, instituiu a conti nuidade dinástica que, embora fosse disfarçada, permitiu que quatro membros da família de Júlio-Claudina ocupassem o comando do império depois dele. Tibério (14-37 d.C.) chegou ao poder por determinação de Augusto; Calígula (37-41 d.C.) o conseguiu por proposta do prefeito pretoriano; Cláudio (41-54 d.C.), por imposi ção da guarda pretoriana, e Nero (54-68 d.C.) pela vontade de sua mãe, Agripina, mulher de Cláudio, que também teve o apoio da guarda pretoriana.

Durante a administração Júlio-Claudina ocorreram vários conflitos com o Se nado romano. Jesus nasceu na época do imperador Augusto, sendo crucificado no governo do Imperador Tibério. No tempo de Nero começaram acontecer as primei ras grandes perseguições aos cristãos.

Nero (54-68 d.C.)

Muito já foi escrito sobre o imperador Nero, sobre sua fama de cruel. Mas com relação ao cristianismo são interessantes dois registros históricos: o de Tácito e o de Eusébio de Cesaréia. O primeiro deixou registrado em seu livro chamado Anais, os seguintes fatos:

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Assim, Nero, para desviar as suspeitas, procurou achar culpados e castigou com as penas mais horrorosas a certos homens que, já dantes odiados por seus crimes, o vulga chamava cristãos. O autor deste seu nome foi Cristo, que no governo de Tibério foi condenado ao último suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. A sua perniciosa superstição, que até ali tinha estado reprimida, já tornava a aparecer não só por toda a Judéia, origem deste mal, mas até dentro de Roma... Em primeiro lugar prenderam os que se confessavam cristãos, e depois pelas denúncias destes, uma multidão inumerável, os quais todos não tanto foram convencidos de haverem tido parte no incêndio, mas de serem inimigos do gênero humano. O suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriam com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram crucificados, ou os queimaram de noite para servirem como de archotes e tochas ao público. Nero ofereceu seus jardins para este espetáculo... (Anais, Livro XV, 44).

Já Eusébio de Cesaréia atribui a ele o martírio de Paulo e Pedro: “Dessa maneira, aclamando-se publicamente como o principal inimigo de Deus, Nero foi conduzido em sua fúria a assassinar os apóstolos”. Relata-se, portanto, que Paulo foi decapitado em Roma e que Pedro foi crucificado em seu governo (História Eclesiástica, Livro II, 25). Sobre a tumba dos dois apóstolos foram edificadas, no tempo de Constantino, duas basílicas. Nessa época inúmeros cristãos foram aprisionados. Próximo ao Vaticano, onde hoje se eleva a monumental Basílica de São Pedro, erguia-se outrora o circo de Nero, em meio aos jardins imperiais. Nero expôs os cristãos aos mais cruéis suplícios: crucificação, caçada de animais, tochas vivas que iluminavam o espetáculo noturno. Não sabemos o número exato de mártires, porém Tácito afirma que “foi uma multidão ingente”.

b) OS FLÁVIOS

Após a morte de Nero, em 68 d.C. iniciou-se o governo dos Flávios. Sob o comando de Vespasiano e Tito, os cristãos viveram dias tranqüilos. Apenas Domi

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ciano (81-96 d.C.), no fim da vida mudou de política. Não se sabe por que ele per seguiu os cristãos no final de seu reinado, mas provavelmente devido seu respeito às tradições Romanas. Supõe-se que a perseguição se originou porque os judeus não queriam enviar a Roma o dízimo antes pago a Jerusalém. Como ainda não estava bem definida a diferença entre cristianismo e judaísmo, os cristãos também sofreram as conseqüências.

Entre os mártires da época, enumera-se Tito Flávio Clemente, primo do impe rador, cônsul em 95 e sua esposa Flávia Domitila. Condenado sobre a acusação de ateísmo (negação do culto aos ídolos) e de costumes judaicos (prática da vida cristã). Foi durante esta perseguição que João foi exilado para a ilha de Patmos (Apocalipse 1.9).

Por volta do ano 95 d.C. a perseguição diminuiu e foi reprimida pelo mesmo imperador. No ano seguinte, Domiciano morreu assassinado. Nerva seu sucessor por dois anos deixou em paz os cristãos, proibindo qualquer violência contra eles. As perseguições cristãs do século I abrangeram, pois, um total de 8 anos no máxi mo: 4 anos sob Nero e 4 anos sob Domiciano.

c) ANTONINOS

O século II esteve sob o governo dos chamados Antoninos: Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo. Este foi um dos períodos mais prósperos do Império Romano devido à estabilidade política, que favoreceu o aumento e expansão das atividades produtivas e comerciais, inclusive cultural do Império. Ne nhum deles se manifestou declaradamente contra os cristãos, entretanto perdurava uma ordem que proibia a propagação do cristianismo.

Entre os documentos mais importantes dessa época está a consulta de Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, ao imperador Trajano sobre o tratamento dispen sado aos cristãos. Plínio exigia que os cristãos acendessem incenso ao imperador e

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que maldissessem a Cristo, caso recusassem eram condenados à morte por deso bediência. A resposta do imperador foi que: “eles não devem ser perseguidos, mas se surgirem denúncias procedentes, aplique-se o castigo, com a ressalva de que, se alguém nega ser cristão e, mediante a adoração dos deuses, demonstra não o ser atualmente, deve ser perdoado em recompensa de sua emenda, por mais que o acusem suspeitas relativas ao passado”.7

Entre os mártires mais importantes do século merecem atenção Inácio de An tioquia, Policarpo de Esmirna, Justino e os mártires de Lião.

d) SEVEROS

Com a morte do imperador Cômodo, ascende ao poder a dinastia Severa: Sétimo Severo (193-211 d.C.), Caracala (211-217 d.C.), Heliogábalo (218-222 d.C.) e Severo Alexandre (222-235 d.C.). A partir deste momento, o império roma no começou a ser ameaçado internamente pela corrupção e, nas fronteiras, pelos confrontos militares. A hegemonia de Roma não era mais como antes, pairava no ar um rumor de decadência.

Com a subida de Sétimo Severo ao trono imperial reiniciaria a perseguição aos cristãos. Na primeira metade do século III as perseguições orientaram-se contra determinada classe de pessoas. Em 201 o imperador promulgou um decreto em que proibia, sob severas penas, a conversão ao judaísmo. No ano seguinte foi a vez do cristianismo.

A perseguição teve origem em sua política religiosa. Sua intenção era unir to das as religiões sob um único culto – o culto ao deus Sol, de modo que fortalecesse a unidade tão necessária ao Império Romano. Com esta atitude se defrontou não só com os judeus, mas também com os cristãos que se recusavam a tal ato. Para que sua ordem fosse obedecida ele instituiu pena de morte para quem se conver tesse ao cristianismo.

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7. BETTENSON. H. Documentos da Igreja Cristã. 3ª ed. São Paulo: ASTE, 1998, p.6.

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No mesmo ano em que foi promulgada tal ordem, Irineu foi martirizado como também uma cristã de nome Felicidade com sua escrava Perpétua.

Nos últimos anos de seu governo os cristãos gozavam de relativa paz que per durou por um período de quarenta anos sendo interrompida com a ascensão de Maximino Trácio.

4.3 PERSEGUIÇÕES GERAIS

Os anos seguintes foram caracterizados por uma profunda crise institucional, social. Dentre os imperadores que subiram ao poder deve ser lembrado o nome de Décio. Este monarca celebrizou-se principalmente como perseguidor dos cristãos. Inaugura-se com ele uma nova fase: as perseguições gerais.

Em 249 d.C. ou inícios do ano seguinte, decretou um edito onde todos seus súditos deveriam por meio de um ato solene sacrificar aos deuses. Funcionários públicos registrariam em listas oficiais o nome das famílias dos sacrificantes. Desta forma ele teria em seu poder o número exato de pessoas que lhe eram sujeitas.

Difícil conjuntura para os cristãos: renegar a fé por ato idolátrico ou expor -se a cruéis penas. Novamente a igreja seria colocada à prova. Nas grandes cida des como Alexandria, Cartago, Esmirna, Roma muitos renegaram sua fé. Todavia enorme multidão de fiéis, de ambos os sexos e de todas as idades deram com seu sangue testemunho da própria fé. Tão terrível perseguição foi de breve tempo, di minuindo na primavera de 251 d.C. Valeriano (253-260 d.C.), sucessor de Décio, no inicio de seu governo foi favorável aos cristãos, perseguindo-os nos últimos anos. Eusébio de Cesaréia registrou o relato que Dionísio fez sobre estes dois últimos monarcas: “Mas nem Galo com preendeu a perversidade de Décio, nem prenunciou o que havia destruído, antes, tropeçou na mesma pedra colocada diante de seus olhos. Pois quando seu reinado avançava com prosperidade, e seus negócios sucediam-se de acordo com seus de sejos, perseguiu aqueles homens santos que intercediam com Deus por sua paz e

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segurança”. 8 Em Cartago, morreu decapitado o bispo Cipriano.

Na segunda metade do século III registram-se, pois, duas grandes perseguições gerais, de curta duração: a de Décio, pouco mais de um ano e a de Valeriano, cerca de três anos.

Em 284 d.C. subiu ao trono imperial Diocleciano. Durante seu governo, várias foram as reformas realizadas, permitindo a sobrevivência do Império ao longo de um século. Ele decidiu que o imperador não devia morar em Roma, mas se esta belecer o mais perto do possível das fronteiras. Mudou completamente a forma de governo, pois entendia que uma única pessoa não era suficiente para atender todas as complexas necessidades do Império. Assim, instituiu a Tetrarquia, um sistema de governo que previa a divisão de poder entre Augustos – ele mesmo e Maximiniano – ajudados por dois Césares que, no caso de morte ou abdicação dos dois impera dores, assumiriam o poder e nomeariam dois outros Césares.

Influenciado por Galério, Diocleciano iniciou a última e mais sangrenta perse guição contra o cristianismo. Em 303 d.C. publicou uma série de editos determi nando que todos os exemplares da Bíblia fossem queimados, os templos fossem destruídos além de exigir que seus súditos queimassem incenso a sua imagem. Aqueles que não fizessem ficariam sem a cidadania romana, e conseqüentemente sem a proteção da lei.

Em alguns lugares os cristãos eram encerrados nos templos e depois ateavam fogo, com todos os membros no seu interior. Consta que o imperador Diocleciano erigiu um monumento com esta inscrição: “Em honra ao extermínio da superstição cristã”.

Em 305 d.C. Diocleciano retirou-se à vida particular e induziu Maximiniano a fazer o mesmo. Os dois Césares, Galério e Constâncio, assumiram o poder, deflagrando uma luta acirrada entre os dois aspirantes a César e que não chegaram a ser: Maxêncio e Constantino. Constantino venceu Maxêncio no campo de batalha em 312 d.C. Neste ano Constantino, às portas de Roma e sobre a Ponte Mílvio pro clamou sua devoção à cruz, o símbolo cristão. No ano seguinte, 313 d.C. foi pro

8. CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.249.

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mulgado o Edito de Milão, que encerrava para sempre o capítulo das perseguições imperiais e concedia aos cristãos total liberdade de adoração.

Próximo do Coliseu de Roma contempla-se ainda hoje o arco de Constantino, erigido em comemoração à vitória. “Por inspiração da divindade” realizou-se o evento – recorda a grande inscrição que encabeça o monumento.

Constantino não escondeu suas predileções para com a nova religião. Por sua ordem e com seu auxílio, foi construída a principal basílica romana: a de São Pedro no Vaticano.

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OS PAIS DA IGREJA

O período que comumente é chamado de pós-apostólico é de intenso desen volvimento do pensamento cristão. O trabalho e influência desse meio milênio ga rantiram a unidade da Igreja nos séculos seguintes.

Os antigos escritores cristãos dos primeiros séculos e suas obras conhecidas eram considerados pela tradição como testemunho particular autorizado da fé, daí serem chamados de “Pais da Igreja”. Eram homens que devido ao zelo e amor que tinham pela Igreja não mediam esforços para defender a fé que fora dada aos fiéis. Assim sendo, podemos dizer que “Pais da Igreja” foram aqueles que forjaram, construíram e defenderam a fé, a disciplina, a doutrina e os costumes da Igreja, decidindo assim, os rumos da Igreja. Seus escritos tornaram fontes de discussão, de inspiração, de referências ao longo de toda tradição posterior.

Para facilitar a compreensão do estudante, dividiremos os Pais da Igreja em três grandes grupos: os Pais Apostólicos, os Apologistas e os Polemistas. Todavia devemos levar em conta que muitos deles podem se enquadrar em mais de um desses grupos devido à vasta literatura que produziram para a edificação e defesa do Cristianismo.

5.1 PAIS APOSTÓLICOS

Os “Pais Apostólicos” é o título utilizado para descrever os escritores ortodo xos da Igreja primitiva que de alguma maneira tiveram contato com os apósto los. Pertence à chamada “era subapostólica”. 9 Esses escritos datam geralmente do primeiro e segundo século, sendo cartas que serviam de instrução e exortação.

9. Lane, Tony. Pensamento Cristão: Dos Primórdios à Idade Média. São Paulo:Abba Press, 2003, p.14-15.

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Assemelham-se bastante em conteúdo e forma, às cartas apostólicas; seus autores buscavam mostrar a seus destinatários a importância da salvação manifestada em Cristo e fortalecer-lhes a esperança da volta de Cristo, em meio a uma geração que estava cercada de falsos evangelhos e ataques de céticos pagãos. Não há entre os estudiosos uma concordância quanto aos “pais apostólicos”. Primeiramente era enumerado Barnabé, Clemente de Roma, Inácio, Policarpo e Hermas. Mais tarde, foi acrescentado Papias e a Carta a Diogneto e Didaquê. Para o estudo ora propos to faremos menção apenas de escritores que efetiva ou provavelmente estiveram em contato mais ou menos direto com os apóstolos, ou que sem esse conhecimento pessoal, seus escritos são bem semelhantes ao espírito do Novo Testamento.

a) Clemente de Roma (30 a 100 d.C.)

Foi uma pessoa muito reconhecida na Antiguidade, de grande autoridade, mas que pouco sabemos de sua vida e atos, salvo sua carta aos Coríntios, “que Igreja Siríaca contou entre as Sagradas Escrituras e que foi inserida também no Codex Alexandrinus da Bíblia”.10

Muitas são as informações sobre Clemente de Roma, desde lendárias até teste munhos fidedignos. De acordo com um romance siríaco, Clemente teria vagueado o mundo em busca da verdade, quando encontrou Pedro e se tornou seu discípulo. As Pesudo-Clementinas identificou Clemente com o cônsul Tito Flávio Clemente, parente do imperador Domiciano, executado em 95-96, por professar a fé cristã. Orígenes e Eusébio de Cesaréia o identificaram como sendo aquele colaborador que o apóstolo Paulo cita em sua carta aos Filipenses: “E peço-te também a ti, meu verdadeiro com panheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros cooperadores, cujos nomes estão no Livro da Vida” (Fili penses 4.3). Irineu de Lião, por sua vez escreveu que Clemente teria sido o 3º sucessor de Pedro no episcopado de Roma, e que conhecera pessoalmente o apóstolo Pedro. Tertuliano acredita que Clemente teria sido consagrado pelo próprio apóstolo Pedro. 11

10. ALTANER, Berthold; STUIBER, Alfred. Patrologia. São Paulo: Paulinas, 1988, p.55.

11. CHAMPLIN, Russell Norman; BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia Teologia Filosofia. São Paulo: Candeia, p.769.

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Clemente escreveu uma carta aos Coríntios, conhecida como I Epístola de São Clemente, datada por volta do ano 95, citada na carta de Policarpo. Nessa carta encontram dados sobre o desenvolvimento do cânon do Novo Testamento, práticas litúrgicas e eclesiásticas da igreja primitiva e muito mais. Esta carta possuía tama nha semelhança com a carta do apóstolo Paulo aos Coríntios que “alguns cristãos do século II no Egito consideravam-na parte das Escrituras, assim como muitos pais apostólicos”. 12

b) Inácio de Antioquia (35-107 d.C.)

De acordo com Eusébio de Cesaréia, Inácio foi “o segundo a obter a sucessão de Pedro no episcopado de Antioquia”. 13 Antioquia era uma cidade muito impor tante do Império Romano na Síria, além de ser uma cidade importantíssima para os cristãos. Foi ali que pela primeira vez foram chamados de cristãos e foi a partir dali que Paulo iniciou as primeiras viagens missionárias (Atos 11.26).

Poucas informações têm sobre sua família, sua formação, se era de família cristã ou convertido. Tudo quanto sabemos sobre sua vida se encontra em suas sete cartas escritas a caminho de Roma, desde a Síria pela Ásia Menor, rumo ao martírio. Os títulos indicam os lugares para onde estas cartas foram endereçadas, a saber: aos Efésios, aos Magnesianos, aos Romanos, aos Tralianos, aos Filadelfia nos, aos Esmirnneanos e uma a Policarpo, jovem bispo de Esmirna. 14 Inácio é o primeiro escritor a apresentar claramente o padrão tríplice de minis tério: um bispo numa Igreja com seus presbíteros e diáconos. 15 Opôs-se às heresias gnósticas. Sua preocupação principal era com a unidade da Igreja. Foi martirizado em Roma, durante o reinado de Trajano (98-117 d.C.).

12. OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001, p.41.

13. CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.107.

14. Idem, 2005, p.108.

15. Lane, Tony. Pensamento Cristão: Dos Primórdios à Idade Média. São Paulo:Abba Press, 2003, p.15.

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c) Papias (60 a 140 d.C.)

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Pouquíssimas informações se têm a respeito dele, salvo o que escreveu Eusébio e Irineu. Segundo os testemunhos que se têm, era bispo de Hierápolis, na Frigia, atual Pambukcallesi turca. Foi contemporâneo de Inácio de Antioquia e de Policar po de Esmirna. Escreveu uma coleção de cinco livros intitulada Logíon kuriakon ecsegéseis (Exegese das Palavras do Senhor).

Foi por intermédio de Papias, registrada por Eusébio, que nos chegou ás infor mações sobre os evangelhos de Marcos e Mateus. Sobre Marcos disse ele que: “foi interprete de Pedro, pôs por escrito, ainda que não com ordem, o quanto recordava do que o Senhor havia dito e feito”. 16 Sobre Mateus nos diz que: “ordenou as sen tenças em língua hebraica, mas cada um as traduzia como melhor podia”. 17 Sobre a veracidade histórica do testemunho de Papias, atualmente, pesa sobre suas afir mações sérias críticas, principalmente porque a crítica literária da Bíblia demons trou que os evangelhos são escritos baseados em tradições orais e não produto da memória.

d) Policarpo (69-155 d.C.?)

Nada sabemos de sua infância, sua formação, sua família. De acordo com Irineu, Policarpo foi discípulo do apóstolo João. Com a morte de João finda-se a classe de líderes cristãos primitivos chamados apóstolos. Policarpo fora instruído na fé por João e, portanto, era considerado um vínculo vivo com os discípulos de Jesus e os apóstolos. Sobre seu contato com os apóstolos escreveu Eusébio usando as palavras de Irineu: “não somente foi instruído pelos apóstolos e conviveu com muitos que haviam visto o Senhor, mas também foi instituído bispo da Ásia pelos apóstolos, na igreja de Esmirna. Nós inclusive o vimos em nossa idade juvenil. Já que viveu anos e morreu muito velho, depois de dar glorioso e esplêndido testemu nho. Sempre ensinou o que havia aprendido dos apóstolos, que é também o que a

16. CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.113.

17. Idem, 2005, p. 113.

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igreja transmite e o único que é verdade”. 18 Não é por menos que, das sete cartas destinatárias às sete Igrejas do Apocalipse, a de Esmirna é a única não recriminada por alguma falta: “E ao anjo da igreja que está em Esmirna escreve: Isto diz o Pri meiro e o Último, que foi morto e reviveu: Eu sei as tuas obras, e tribulação, e po breza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2.8-10).

Relacionadas a Policarpo existem duas obras das quais podemos reconstruir sua personalidade: a Carta aos Filipenses na qual revela toda sua alma, seu cora ção e sua compreensão para com os fracos e talvez a mais conhecida, o Martírio de Policarpo, onde se encontra registrado as famosíssimas defesa de Policarpo em prol de Cristo: “Oitenta e seis anos há que sirvo a Cristo. Cristo nunca me fez mal. Como blasfemaria contra meu Rei e Salvador”.19

Tudo indica que Policarpo conhecia alguns personagens ilustre de sua época, como Inácio, Irineu, Aniceto de Roma e Marcião o qual resistiu sua doutrina e lhe chamando de “primogênito de Satanás”. Sofreu o martírio no ano de 155 d.C. com 86 anos de idade, em um domingo.

5.2 APOLOGISTAS

No decurso da história da teologia, a filosofia tem tido um relacionamento de amor-ódio com o cristianismo e a teologia cristã. A teologia foi profundamente influenciada pela filosofia, especialmente a filosofia grega (helenística). Um dos mais influentes pais da Igreja, Tertuliano, ficou pasmado ao constatar que alguns de seus contemporâneos faziam uso da filosofia grega como o platonismo e o estoicismo para explicar as idéias cristãs. Por este motivo uma de suas frases tornou-se celebre até os dias de hoje: “O que Atenas e Jerusalém têm a dizer uma à outra? Que concordância existe entre a Academia (Platônica) e a Igreja? E entre hereges e cristãos?”. 20

18. Idem, 2005, p.127.

19. BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: ASTE, 1998. p.41.

20. GEILER, Norman L; FEINBERG, Paul. D. Introdução a Filosofia. São Paulo: Vida Nova, 2005.

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Desde aqueles tempos uma fenda divide os pensadores cristãos, alguns têm considerado que a filosofia é a serva da teologia, vendo a tarefa dela como sendo a formulação de argumentação para a defesa do cristianismo. Outros têm conside rado a filosofia como sendo a ferramenta do diabo, como Tertuliano.

O pensamento de Tertuliano foi minoritário, a maioria buscava demonstrar semelhanças entre a mensagem e cosmovisão cristã e o que havia de melhor na filosofia grega, a ponto de considerar o cristianismo como sendo a “verdadeira filosofia”, buscando demonstrar sua superioridade, como filosofia, ao pensamen to helenístico. Embora essa idéia fosse escandalosa para Tertuliano e para outros pensadores cristãos primitivos, foi amplamente aceita em grandes centros difusores do cristianismo, como Alexandria e Roma, dois centros culturais mais proeminentes do Império.

Dessa forma no século II e III teremos duas classes de pais apologistas: os que defenderam o cristianismo à luz da filosofia grega e os que rejeitavam a filosofia. Portanto os apologistas foram aqueles que empregaram suas habilidades intelectu ais e literárias em defesa do Cristianismo.

Assim como nos pais apostólicos, não há concordância universal a respeito do grupo de apologistas. As listas de apologistas variam e boa parte da diversidade surge das tentativas de incluir ou excluir o autor da obra anônima Epístola a Diogneto. Geral mente este grupo se situa no segundo século e os mais proeminentes entre eles foram:

a) Justino o Mártir († 165 d.C.)

Nasceu em “Flávia Neápolis” (hoje Nablus), a antiga Siquém, na Palestina. Filho de pais pagãos, em sua infância entrou em contato com um mestre estóico, passando logo após para um peripatético e, finalmente, a um pitagórico se tornan do um devoto aos interesses intelectuais e logo um “filósofo”. Quando conheceu o cristianismo, provavelmente em Éfeso, disse: “Esta é a única filosofia realmente confiável e útil que eu encontrei” (Dial. 8). Depois de sua conversão peregrinou até Roma onde fundou uma escola.

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HISTÓRIA DA IGREJA

Ele merece a reputação de o apologista mais importante do século II d.C. por sua criatividade e idéias a respeito de Cristo como o Logos e o Cristianismo como a filosofia verdadeira.

Eusébio de Cesaréia conta-nos que Justino escreveu um grande número de obras, 21 mas só três são aceitas como genuínas: Primeira Apologia, Segunda Apo logia e o Diálogo com Trifão, o Judeu. Sua Primeira Apologia é dirigida ao Impe rador Antonino Pio que reinou de 138-161 d.C. seus filhos Lúcius e Marco Aurélio, todo o senado romano. A Segunda Apologia é dirigida a Antonino Vero. Ambas as cartas foram escritos para contestar a perseguição contra os cristãos. No Diálogo com Trifão, Justino explica de que modo a graça divina o levou à doutrina da fé. Justino foi decapitado em Roma, junto com seis outros cristãos.

b) Tertuliano (160- 220 d.C.)

Quintus Septimius Florens Tertullianus nasceu em Cartago, um dos principais centros culturais do Império Romano. Filho de um centurião proconsular romano recebeu esmerada educação, principalmente jurídica e retórica. Aos vinte anos se guiu para Roma, onde ampliou sua formação. Conhecedor do grego e do latim era advogado notável, lecionando oratória em Roma, onde se converteu ao cristianismo. Regressou a Cartago por volta do ano 195, dedicando-se ao estudo das Escrituras, da literatura cristã e profana, e dos tratados gnósticos. Iniciou então uma produtiva atividade literária voltada para a consolidação da Igreja no norte da África.

Tertuliano foi o principal apologista da Igreja Ocidental e o primeiro teólogo cristão a escrever em latim. Ele contribuiu com seus escritos para fixar o léxico e a doutrina do cristianismo ocidental. Suas contribuições de maior importância foram suas discussões sobre a Trindade e a Encarnação do Logos. Tanto quanto Irineu ele considerava o gnosticismo o pior inimigo do cristianismo. Para combatê-lo escreveu duas importantes obras: Adversus Marcionem (Contra Marcião) e De praescriptio

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CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.137.

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ne Haereticorum (Prescrição contra os Hereges). Escreveu ainda vários tratados: Contra Hemógenes (Adversus Hermogenem), Contra Práxeas (Adversus Praxean). Escreveu ainda sob questões práticas e morais: como De Monogamia (Sobre Mo nogamia), De exhortatione castitatis (Sobre Exortação da Castidade), De patentia (Sobre a Paciência), De paenitentia (Pobre a Penitência), De cultu feminarum (So bre o Vestir das Mulheres) e outros.22

Tamanha fora sua influência que “seus escritos contribuíram, juntamente com a “Vetus Latina” e a “Vulgata”, com maior cabedal para a formação do latim cris tão da Antiguidade”. 23

c) Hipólito (160-236 d.C.)

Pouco se sabe sobre sua vida, entretanto foi um escritor complexo e fecundo. Foi discípulo de Irineu, seguindo com o mesmo vigor que seu mestre, o combate aos gnósticos. Eusébio oferece uma lista com alguns de seus escritos: “Do Hexae meron, Das Obras Sobre o Hexaemeron, A Marcião, Dos Cânticos, Sobre Partes de Ezequiel, Da Páscoa, Contra Todas as Heresias”. 24 Hipólito não concordava com a posição teológica do papa Calisto, acusando-o de sabelianista. Recebeu apoio de uma facção da Igreja, tornando-se uma espécie de antipapa. Em 235 d.C. durante a perseguição levantada por Maximino, Hipólito e Ponciano foram exilados para a ilha de Sardenha, aonde vieram a falecer. No episcopado de Fabiano, em 250 d.C. seus ossos foram trazidos para Roma, onde receberam homenagens como mártires.

5.3 POLEMISTAS

Diferentemente dos apologistas do segundo século que procuraram fazer uma explanação e uma justificação racional do Cristianismo para as autoridades, os Polemistas empenharam-se por responder ao desafio dos falsos ensinos dos heré

22. GONZÁLEZ, Justo L. Dicionário Ilustrado dos Interpretes da Fé. São Paulo: Academia Cristã, 2005, p.613.

23. ALTANER, B; STUIBER, A. Patrologia: vida, obras e doutrinas dos Padres da Igreja. 2ª Ed. São Paulo: Paulus, 1998, p.156.

24. CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.211.

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ticos, condenando com veemência, suas doutrinas e seus mestres. Apesar de a maioria viveram no Oriente, os grandes Polemistas veio do Ocidente. Os pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã das falsas doutrinas surgidas fora e dentro da Igreja. Geralmente estão situados no terceiro século. Os mais destacados entre eles foram:

a) Irineu (130- 202 d.C.)

Natural da Ásia Menor, provavelmente de Esmirna, onde foi discípulo de Poli carpo de Esmirna, com quem aprendeu as tradições do apóstolo João, discípulo de Jesus. Em 170 d.C. como presbítero, estabeleceu-se na Gália (França), na cidade de Lião, junto ao vale do Ródano, onde tornou-se notável defensor da fé cristã.

Em 177 d.C. o imperador Marco Aurélio iniciou terrível perseguição aos cristãos da Ásia Menor, especialmente daqueles que habitavam o vale do Ródano. Foram mortos centenas de leigos e presbíteros, juntamente com o bispo daquela região. Irineu escapou da morte durante este ataque contra os cristãos da Gália, porque havia sido enviado a Roma a fim de contestar as heresias que de lá chegavam ao seu conhecimento. Quando retornou de lá, foi eleito pelo povo bispo de Lião.

Irineu foi autor de diversos livros, porém, somente duas obras atualmente são conhecidas: Adversus haereses (Contra as Heresias) e Epideixis tou apostolokou kerygmatos (Demonstração ou Exposição da Pregação Apostólica). A primeira é essencialmente teológica enquanto que a segunda é cristológica e soteriológica. Enquanto no Adversus haereses a ênfase recai sobre a doutrina de Deus criador, em Demonstração, o enfoque se faz desde a economia da salvação.

b) Cipriano (210-258 d.C.)

Thascius Cecilius Cyprianus era de família nobre e influente de Cartago. Con verteu-se ao cristianismo em 246 d.C. sendo posteriormente eleito bispo em sua cidade natal, por volta do ano de 249 d.C. Exerceu um ministério pastoral influente produzindo vários escritos antes de ser perseguido e decapitado nos dias do impe rador Valeriano.

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As principais obras de Cipriano são: Tratado Sobre a Unidade da Igreja (De ecclesiae unitate) e Dos Caídos (De lapsis) ambas escrita em 251 d.C., enviadas aos confessores romanos da fé. De habitu virginum (249 d.C.), De mortalitate (252 ou mais tarde), De opere et eleemosynis (252 d.C.) e a coleção de cartas. Algumas de suas obras são revisões dos escrito de Tertuliano, a quem Cipriano chamava de mestre. 25

c) Orígenes (185-254 d.C.)

Orígenes foi o maior dos interpretes alegóricos e mais prolíficos da antiguidade cristã. A maior parte das informações sobre a vida de Orígenes pode ser localizada no sexto livro da história Eclesiástica de Eusébio. Nasceu em Alexandria, no Egito, onde foi aluno de Clemente, o que o faria sucessor deste, anos mais tarde. Ficou à frente da escola por vinte e oito anos, levando uma vida extremamente ascética e piedosa. Devido ao seu zelo, interpretou literalmente o texto de Mateus 19.12 que diz: “Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castra dos pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus. Quem pode receber isso, que o receba”; mutilou-se a si mesmo. Seu pai Leônidas morreu martirizado em 202, o que fez com que ele tivesse o mesmo sentimento, a ponto de dizer ao pai que se encontrava preso: “não vás mudar de idéia por causa de nós”. Em 212 esteve em Roma, Grécia e Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Maméia chamou-o a Antioquia para ouvir suas lições. Morreu em Cesaréia durante a perseguição do imperador Décio.

A produção literária de Origens foi enorme. Segundo a estimativa, Origens foi o autor de seis mil pergaminhos. 26 Uma vez que seus conhecimentos bíblicos eram enormes e estava consciente de que o texto das Escrituras continha ligeiras varian tes, compôs a “Hexapla”, 27 uma obra monumental de erudição bíblica que não foi conservada na íntegra.

25. GONZÁLEZ, Justo L. Dicionário Ilustrado dos Interpretes da Fé. São Paulo: Academia Cristã, 2005, p.174.

26. CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova. 1995, p 91.

27. GONZÁLEZ, Justo L. E Até os Confins da Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo Vol. I. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 129.

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O APARECIMENTO DAS SEITAS

Enquanto viveram os apóstolos escolhidos por Cristo, a reverência era geral para com eles, como fundadores da Igreja bem como homens dotados de inspira ção divina. Segundo os Atos dos Apóstolos, os primeiros cristãos viviam em comu nhão de bens, celebravam o partir do pão em suas casas e oravam diariamente no templo (Atos 2.42).

O fervor dos primeiros tempos gerou nos cristãos um elevado nível de vida mo ral. Notória nos primeiros tempos da Igreja foi a prática da caridade como se pode observar: “E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha” (Atos 4.35). Os diáconos e diaconisas encarregavam-se dos enfermos, órfãos, viúvas, escravos, prisioneiros, peregrinos, de modo que todos recebiam cuidados especiais.

No final do primeiro século, o cristianismo espalhou-se por todas as partes do Império. Juntamente com o desenvolvimento da doutrina teológica, desenvolve ram-se também as seitas. Além das perseguições do mundo pagão, os cristãos tam bém tiveram que enfrentar as heresias e doutrinas corrompidas, dentro do próprio rebanho.

Vários foram os grupos que se levantaram contra a Igreja de Deus, dentre eles podemos destacar:

6.1 JUDAIZANTES

O rompimento doutrinário com o judaísmo não se deu sem muita luta. O cris tianismo poderia ter permanecido uma mera seita judaica, não fosse a visão e a persistência de Paulo, frente às tentativas de alguns grupos de transformar a mensa

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gem do Evangelho em um apêndice da lei mosaica. Paulo foi o homem usado por Deus para fazer a conexão entre o mundo judaico e gentio. Seu conhecimento de ambos os lados, foi um importante fator de ligação.

Ao ler os escritos paulinos, é fácil perceber que este foi um dos piores proble mas enfrentados pelo apóstolo. Sua insistência na salvação pela graça, à parte da lei mosaica, valeu-lhe a inimizade de pregadores com fortes raízes judaicas. Para atacar Paulo, estes opositores buscavam invalidar sua autoridade apostólica, uma vez que ele não fazia parte dos doze. Por conseqüência, ele se via obrigado a defen der não apenas o Evangelho, como pregava, mas também sua própria autoridade. Dos escritos mais significativos sobre este debate, temos a epístola aos Gálatas. Nesta carta ele defende tanto sua autoridade apostólica, quanto combate elementos judaizantes que estavam se introduzindo nas Igrejas daquela região. Definitiva mente ele exorta aos seus destinatários cristãos, a não aceitar “outro evangelho” sob pena de maldição (Gálatas 1.8-9). O tom da carta é severo, pois caso estas heresias não fossem rejeitadas, o cristianismo não seria mais do que um judaísmo com um Messias. Paulo sabia muito bem que não se tratava disto. Entre os elemen tos judaicos existentes entre eles, podemos identificar:

a) A prática da circuncisão – A circuncisão era um sinal do pacto de Deus com o povo de Israel, a descendência física de Abraão (Gênesis 17.10). Mas os judaizantes exigiam dos convertidos a Cristo que se circuncidassem. Paulo protesta veementemente contra aqueles que se deixaram circuncidar (Gálatas 5.3-4). Mos trou que os que assim procederam, o fizeram por motivos falsos. Mostrou que estas coisas não tinham valor em si mesmo, mas que o valor era se tornar nova criatura em Cristo e viver uma vida de fé e amor (Gálatas 6.15). Para o apóstolo a verda deira circuncisão era do coração e isto estava de acordo com a lei e os profetas (Romanos 2.28-29; Deuteronômio 30.6).

b) A guarda de dias especiais e das festas judaicas – Quando os gála tas começaram a guardar festas judaicas, tanto o sábado quanto as luas novas e demais festividades, Paulo viu isto como um retrocesso chegando a duvidar da

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eficácia da mensagem do Evangelho entre eles (Gálatas 3.3). Na epístola aos Co lossenses, entre os quais parece ter havido uma heresia semelhante, ele mostra que as festas eram apenas “sombras”, em contraste com a realidade revelada em Cristo (Colossenses 2.16-17).

c) A lei como padrão de comportamento para o crente – O terceiro ele mento da judaização do evangelho envolvia a questão da santificação. A lei não era mais o padrão para o viver diário e Paulo vai colocar a lei como provisória (2 Co ríntios 3.11), como aio (Gálatas 3.24-25), como impossível de herdar as promes sas (Gálatas 4.30). Ele classifica a tentativa de aperfeiçoar-se pela lei, como uma tentativa carnal, dizendo que: “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gálatas 3.3). Condena o pecado tal qual a lei fazia, entretanto demonstra que a cruz e o Espírito Santo são os meios existentes para levar o crente à santificação (Gálatas 5.24-25). Quando foi escrita a primeira epístola a Timóteo, este problema subsistia ainda, pelo que ele teve que mostrar o verdadeiro caráter da lei (1 Timóteo 1.8-10).

Esta foi sua postura frente às heresias judaizantes. Suas colocações inspiradas foram causas da ruptura definitiva entre cristianismo e judaísmo. Seria só questão de tempo e estes elementos desapareceriam do seio da Igreja, pelo menos nestes moldes.

6.2 GNOSTICISMO

Foi uma das piores doutrinas inimigas do Cristianismo. Embora existissem vá rias correntes diferentes de gnosticismo, todas elas foram influenciadas pelo neopla tonismo e pelo pensamento grego em geral. Segundo o historiador Edward Gibbon, havia mais de 50 seitas gnósticas diferentes. Não podemos chamar o gnosticismo de seita ou religião. O mais correto seria classificá-lo como uma corrente de pensa mento, dividida em vários sistemas e escolas. Ao que parece foi uma das primeiras heresias cristãs visto que, conforme a opinião de alguns, os escritos do apóstolo João foram escritos visando combater essas idéias errôneas a respeito de Cristo.

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Podemos classificar o gnosticismo, como a tentativa racionalista grega, de in cluir o cristianismo em um sistema filosófico-religioso, com forte predominância do elemento cognitivo. Em outras palavras, embora a fé fosse o elemento primordial no cristianismo apostólico, este movimento tratou de transformar o conhecimento e a sabedoria em elemento chave, bem ao sabor da cultura grega. Embora variassem os costumes litúrgicos e os elementos mitológicos, é possível descobrir principais conceitos básicos.

a) Dualismo da natureza – O gnosticismo enfatizava a dualidade da nature za. Havia o mundo físico e o mundo espiritual. Até este ponto, nenhum problema. Mas o mundo físico era identificado com o mal, como algo inferior, enquanto o mundo espiritual era identificado com o bem, sendo superior àquele. A partir deste princípio, originado do platonismo e do neo-platonismo, o cristianismo foi desfigu rado. Este conceito atingiria toda a doutrina cristã.

b) O Deus criador – Pelo fato do mundo físico ser mal, ele não poderia ter sido criado por um Deus bom. Logo, a criação não foi obra do Pai de Jesus Cristo, o Deus do Novo Testamento, mas foi obra do Deus judaico, que se revela no An tigo Testamento. Esse “deus” criador foi chamado de demiurgo. Ele só podia ser um Deus inferior uma vez que era o criador da matéria. Também por causa disto, o gnosticismo era antagônico a tudo que dizia respeito ao Antigo Testamento, re jeitando a lei e ensinando que o homem se libertava dela adquirindo “percepções superiores”. Os pais eclesiásticos, principalmente Irineu, combateram este ensino, mostrando que só havia um Deus único que foi o criador de todas as coisas e que se revelou aos profetas e por fim revelou-se a si mesmo em seu Filho.

c) Doutrina dos éons – Para explicar essa distinção entre o Deus verdadeiro e o demiurgo , entre o mundo espiritual e o mundo material, os gnósticos criaram a doutrina dos éons. Um dos principais gnósticos, Valentino, ensinava que existia uma corrente de 30 éons que emanavam da divindade, sendo que o mundo ma terial fora originado pelo mais baixo éon da cadeia, não como resultado de um

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desejo criativo, mas como resultado de uma queda. O Deus supremo ou progenitor formava o primeiro éon, também conhecido como buthos (abismo). Depois vi nham, em ordem, o silêncio ou idéia, e depois, o espírito e a verdade. Depois por sua vez vieram razão e vida e deste veio o homem e a Igreja. Então os outros 10 éons apareceram. O último éon teria caído como resultado de um ataque de paixão e ansiedade e foi por causa desta queda que o mundo material chegou a existir. O demiurgo que criou o mundo procedeu deste éon caído.

d) Salvação – Os éons mais elevados teriam dado origem a Cristo e ao Espí rito Santo. A tarefa de Cristo seria livrar as almas dos homens de seu cativeiro ao mundo material e trazê-las de volta ao mundo dos espíritos. Este era o conceito gnóstico de salvação – um retorno das almas do mundo material, onde tinham ca ído e sido aprisionadas, para o mundo espiritual. Mas esta salvação só era possível através da percepção superior (gnosis). Era um tipo de sabedoria esotérica que pro porcionava conhecimento relativo ao “Pleroma” ou mundo superior espiritual e ao caminho que conduzia para lá. Nem todos podiam alcançar esta salvação, apenas os chamados pneumáticos, que possuíam o poder necessário para receber este co nhecimento. Os que não eram capazes disso eram classificados como materialistas. Alguns gnósticos criaram uma classificação intermediária chamada de “psíquicos”, na qual os cristãos eram geralmente inclusos. A grande refutação dos polemistas (pais da igreja que se combateram este e outros tipos de heresias) era que os gnósti cos excluíram a fé do seu sistema, substituindo-a por um conhecimento pertencente a um pequeno grupo seleto.

e) Cristologia – A posição gnóstica a respeito de Cristo recebeu o nome de “docetismo”, palavra originária do grego “dokeo” , que significa parecer. Como a matéria era má, Cristo não podia ter um corpo humano apesar de a Bíblia dizer o contrário. Como bem espiritual absoluto, Cristo não se misturava com a matéria. O homem Jesus era ou um fantasma com aparência de corpo material ou o Cristo tomou seu corpo por ocasião do batismo e o deixou no começo de seu sofrimento na cruz.

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6.3 NICOLAÍTAS

Este é um termo que aparece nas cartas do Apocalipse por duas vezes e por isso ganhou a atenção de estudiosos das heresias primitivas. Se considerarmos o ano 90 como data provável para o Livro do Apocalipse, então já temos aqui uma seita bastante desenvolvida, mas de difícil identificação. O Novo Testamento fala em “obras dos nicolaítas” (Apocalipse 2.6) e em “doutrina dos nicolaítas” (Apoca lipse 2.15) o que dá a entender um grupo organizado com práticas e doutrinas.

Temos uma referência de Irineu sobre o assunto que diz: “Os nicolaítas têm por mestre Nicolau, um dos sete primeiros diáconos que foram constituídos pelos apóstolos. Vivem sem moderação. O Apocalipse de João manifesta plenamente quem são: ensinam que a fornicação e o comer das carnes oferecidas aos ídolos seja coisa indiferente”. Também Tertuliano de Cartago atribui ao diácono helenista a paternidade da seita ao dizer: “Nicolau de Antioquia, um gentio que seguia a religião judaica, mencionado em Atos 6.5, teria, para se justificar, apresentado sua esposa à assembléia dos crentes dizendo: Quem a quiser pode desposá-la, pois é necessário ter em pouca estima a carne”.

Embora combatido, este movimento herético conseguiu sobreviver até por vol ta do ano 200, quando então se dissolveu em um tipo de gnosticismo denominado ofita, ligado ao culto às serpentes.

Como podemos ver, o desenvolvimento de certas heresias a partir da doutrina cristã foi bastante amplo. O risco de perder a identidade em meio a tantos desvios diferente era grande. Mas a Igreja reagiu nos momentos certos e se não conseguiu refrear completamente certos elementos, conseguiu firmar sua doutrina de modo coerente, deixando fundamentos que mais tarde possibilitariam o renascimento do Cristianismo bíblico no século XVI

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6.4 EBIONISMO

Os ebionitas tiveram sua origem no cristianismo judaico de Jerusalém. Embora alguns tenham tentado conceber certo “Ebion” como sendo o fundador desta seita, o certo é que o nome deriva de uma palavra hebraica que significa “os pobres”. A princípio este era um nome honroso para os cristãos em Jerusalém. Este grupo religioso migrou para leste do Jordão e misturou de forma inadequada elementos judaicos e cristãos.

A diferença substancial que separava os ebionitas dos demais judeu-cristãos e dos helenistas consistia na maneira de conceberem a pessoa e a obra de Je sus. Por seu monoteísmo restrito, não admitiam qualquer insinuação sobre a divindade de Jesus.

Alguns supõem que os ebionitas se misturaram e conseqüentemente recebe ram forte influência dos essênios, povo que praticava um judaísmo ascético e vivia na região do Mar Morto. Com o pouquíssimo material existente sobre eles, é im possível fazer uma descrição minuciosa. Mas podemos ter um pequeno vislumbre do pensamento desta seita.

6.5 MANIQUEÍSMO

Antiga religião que recebeu o nome de seu fundador, o sábio persa Mani, ou Manes ou ainda Maniqueu (216-276 d.C.). Ele afirmava que um anjo lhe havia aparecido e o nomeara como profeta de uma nova e última reve lação. Pregou por todo Império persa, inclusive enviou missionários ao Império Romano. Foi preso acusado de heresia e morreu pouco tempo depois. O maniqueísmo reflete uma forte influência do agnosticismo. Sua doutrina baseia -se em uma divisão dualista do Universo, na luta entre o bem (Deus) e o mal (Satã). Esses dois âmbitos estavam separados, porém a escuridão invadiu a luz e se mesclaram. A espécie humana é o produto desta luta. Com o tempo, poder-se-ia resgatar todos os fragmentos da luz divina e o mundo se destruiria; depois disso, a luz e a escuridão estariam novamente separadas para sempre. É difícil não notar a

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forte influência do zoroastrismo nos conceitos estabelecidos por Mani. Podemos dizer que era uma combinação do pensamento cristão, do zoroastris mo e de idéias religiosas orientais. Em muitos pontos se assemelhava a outros ra mos do gnosticismo. Seu ascetismo, por exemplo, era extremo, exaltando o celibato como a maior das virtudes.

Os maniqueístas dividiam-se em duas classes: os eleitos, celibatários rigorosos, eram vegetarianos e se dedicavam somente à oração; e os ouvintes, cuja esperança era voltar a nascer convertidos em eleitos.

O maniqueísmo exerceu influência durante um bom tempo após a morte de Mani. Agostinho de Hipona, por exemplo, no século IV, foi discípulo deles por 12 anos. Ele se viu atraído por este grupo, devido à sua explicação racional do mundo, bem como pelo seu código moral ascético, que temporariamente lhe ofereceu uma solução para os seus problemas espirituais. Com o tempo, o caráter fraudulento da doutrina maniqueísta foi se tornando evidente para Agostinho, até que decidiu deixá-la. Depois de sua conversão, porém, trabalhou arduamente para refutá-los.

6.6 MONTANISMO

Foi um movimento bastante forte, principalmente na região da Frígia. Seu fun dador foi Montano. Ele intitulava seu movimento de Nova Revelação ou Nova Profecia. Montano rejeitava a crescente autoridade dos bispos (como sendo suces sores herdeiros dos apóstolos) e a autoridade dos escritos apostólicos. Considerava as igrejas e seus líderes espiritualmente mortos e reivindicava uma “nova profecia” com todos os sinais e milagres dos dias da igreja primitiva no pentecostes.

Ele alegava ter recebido uma revelação direta do Espírito Santo de que ele, como representante do Espírito, lideraria a Igreja durante o último período dela aqui na Terra. Por isso se intitulava porta-voz do Espírito Santo e acusava os líderes da Igreja de prender o Espírito Santo dentro de um Livro, pois limitavam a inspi ração divina apenas aos Livros apostólicos. Montano cria na inspiração contínua e colocou-se como alguém por meio do qual o Espírito Santo falava, no mesmo nível que falara através de Paulo e dos outros apóstolos. Na sua visão, o “mais elevado

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estágio da revelação” havia sido atingido nele. O fim do mundo estava próximo e o Espírito o havia escolhido, juntamente com duas profetisas, Maximila e Priscila, para falar à humanidade sobre os últimos julgamentos de Deus sobre o mundo. Montano cria piamente que ele era o último profeta escolhido por Deus para reve lar seus eternos planos Tertuliano, o mais famoso adepto do Montanismo, em sua obra De Anima (Sobre a Alma), deu o seu relato sobre o movimento. Falando sobre uma das pro fetisas, ele disse o que segue:

Nós temos entre nós uma irmã que tem sido agraciada com muitos dons de revelação, os quais ela vivencia no Espírito, por meio de visões extáticas, na Igreja, no meio dos ritos sagrados do Dia do Senhor. Ela conversa com anjos e, às vezes, até com o Senhor. Ela vê e ouve comunicações misteriosas. Ela consegue discernir o coração de alguns homens e recebe instruções para a cura sempre que precisa. Seja lendo as Escrituras, cantando salmos, pregando ou oferecendo orações - em todos estes serviços religiosos, oportunidades são oferecidas a ela para que tenha visões.

Além das visões e conversas com anjos, uma das profecias do movimento era a de que, após à morte de uma de suas profetisas, Maximila, viria o fim, com tu multos e guerras por toda a parte. A história provou a falsidade desta profecia. O movimento também se caracterizou por uma moral ascética onde o casamento era proibido e algumas vezes, até mesmo as relações sexuais dentro do casamento. Os jejuns eram extremamente severos.

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A IGREJA IMPERIAL

Desde o Edito de Constantino até a Queda de Roma em 476 d.C.

Durante este período, o fato mais notável e mais influente foi a institucionali zação do cristianismo como religião oficial do Império Romano. No ano de 305, quando Diocleciano abdicou o trono imperial, a religião cristã era terminantemente proibida, e aqueles que a professassem eram castigados com tortura e morte. Por muitos anos os cristãos foram privados de sua dignidade e de seus direitos civis.

Essa brutal e sangrenta perseguição só teve fim com a promulgação por Galério do edito de tolerância no dia 30 de abril de 311.28 Logo foram abertos os cárceres donde brotou uma torrente humana; eram pessoas marcadas pela violência, porém exultantes por terem sido afligidas por causa de sua fé em Cristo.

Em 313 d.C. Constantino proclamou o edito de Milão, fazendo cessar a perse guição aos cristãos e devolvendo-lhes as igrejas, propriedades e outros bens que o Estado havia confiscado. Assim terminou o período de tirania e crueldade.

Mesmo diante de tamanhas afrontas e dores, a igreja cresceu e produziu mui tos frutos, como disse Tertuliano: “O sangue dos mártires tornou-se a seiva para a sementeira do Evangelho”.

A partir de Constantino, o cristianismo deixou de ser religião perseguida, para ser a religião oficial do Império. Os cristãos passaram do anfiteatro romano, onde ti nham que enfrentar leões, a ocupar lugares de honra junto ao trono que governava o mundo. Em vez de perseguidos eram privilegiados; em vez de espoliados, eram ajudados. Se antes, confessar o nome de Cristo era motivo para ser morto, agora significa projeção e segurança.

28. WAND, J. W. História da Igreja Primitiva até o ano 500. São Paulo: Custom, 2004, p.148.

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HISTÓRIA DA IGREJA

A declaração do cristianismo como religião oficial do império trouxe várias van tagens à religião cristã, dentre elas podemos relatar: o rápido crescimento do cris tianismo, a isenção de impostos e serviço militar ao clero, a construção de grandes catedrais nas principais cidades do império, a devolução dos bens confiscados pelo Estado. Cessaram como já dissemos todas as perseguições para sempre, desde 313 até o termino do império, a espada foi não somente embainhada, mas enterrada. Por outro lado, a oficialização do cristianismo com religião oficial do Império trouxe conseqüências trágicas para a Igreja, como por exemplo, a sua paganiza ção. Milhares de pessoas que ainda eram pagãs penetraram na Igreja a fim de obter vantagens especiais e favores que advinham de tal filiação. Essas pessoas vinham para a Igreja não porque tinham plena consciência de seus pecados, mas por causa das benesses que recebiam. Dessa forma permaneciam com seus hábitos e costumes, sem se importar em agradar a Deus. Vieram em quantida des muito maiores do que podem ser instruídos ou assistidos. Acostumados aos rituais pagãos mais complicados, não gostaram da simplicidade do culto cristão e começaram a introduzir práticas e crenças pagãs no seio da Igreja. Gradualmente, por causa da negligência da Bíblia e por causa da ignorância do povo, a Igreja foi se contaminando, perdendo paulatinamente sua identidade de Igreja cristã fiel a Jesus Cristo e à doutrina dos apóstolos.

Assim, com o decorrer do tempo, a Igreja tinha um sacerdócio suntuosamente vestido que fazia ofertas de sacrifícios, um ritual complicado, imagens, água benta, incenso, monges, freiras, a doutrina do purgatório e, de um modo geral, a crença de que a salvação podia ser alcançada por meio de obras e não pela graça. A igreja em Roma e, de um modo geral, as Igrejas por todo o império, deixaram de constituir a Igreja cristã apostólica, transformando-se numa grande monstruosidade religiosa.

Permaneceram, entretanto, alguns grupos numericamente pequenos, geral mente isolados, que mantiveram a fé cristã em pureza, perdurando por toda Idade Média até o século dezesseis quando um reavivamento religioso do Ocidente, co nhecido como Reforma, sacudiu a Igreja nos seus alicerces.

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A IGREJA MEDIEVAL

Desde a queda de Roma em 476 d.C.

até a queda de Constantinopla em 1453.

A partir deste momento, nossa atenção estará voltada para a Igreja do Ociden te, ou Latina, cuja sede do poder estava em Roma, que permaneceu sendo a cida de imperial, apesar de seu poder político haver desaparecido. Pouca atenção será dada a Igreja do Oriente, ou grega, governada de Constantinopla, salvo quando alguma de suas decisões envolverem o cristianismo.

Após a morte de Constantino, o fato mais notável no desenvolvimento da Ida de Média foi o desenvolvimento papal. Havia bispos espalhados em várias cidades, sendo as mais importantes: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma. Os bispos que dirigiam estas cidades eram chamados de “metropolitanos” e algum tempo depois de “patriarcas”.

Havia freqüentes e fortes disputas entre esses patriarcas pela supremacia ecle siástica. Dos cinco grandes líderes eclesiásticos metropolitanos, apenas o patriarca de Constantinopla e o bispo de Roma viviam em 590, em cidades de importância mundial, ficando entre esses dois a disputa papal. O bispo de Jerusalém perdera seu prestígio com a rebelião judaica contra Roma, no segundo século. Alexandria e Antioquia declinaram logo em importância, chegando mesmo a serem perdidas pela cristandade quando invadidas pelas hostes islâmicas no século VII.

O bispo de Roma tomou o título de “pai”, que mais tarde foi modificado para “papa”. Roma afirmava ser a capital da Igreja. O bispo de Roma, que já se chamava papa, reclamava ousadamente seus direitos ao governo universal na igreja, como su cessor legítimo do apóstolo Pedro insistia em ser reconhecido como cabeça da Igreja.

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HISTÓRIA
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Damaso I (366 – 384) foi possivelmente o primeiro bispo de Roma a expor a sua diocese como a “sé apostólica”. Foi nesse período que Jerônimo traduziu as Escrituras para o latim a pedido desse bispo, de quem era secretário.

Jerônimo tinha um alto conceito com relação ao bispo de Roma, pois entendia que Damaso era o “sucessor do pescador” a ponto de afirmar que: “com ninguém me comunico senão com Vossa Santidade, isto é, com a cátedra de Pedro, pois ela é a rocha sobre a qual está edificada a Igreja, a arca de Noé, na qual, se alguém não estiver, perecerá quando o dilúvio cobrir todos”. 29

O Concílio de Constantinopla reconheceu em 381 d.C. a primazia romana. Ao patriarca de Constantinopla foi dada a “primazia de honra imediatamente depois do bispo de Roma, pois Constantinopla é a nova Roma”.30

A palavra “papa” nome pelo qual o cabeça da Igreja Romana é conhecido, e a palavra “papado” que se refere ao sistema de governo eclesiástico, no qual o papa é reconhecido como chefe supremo, não se encontram na Bíblia. A palavra “papa” vem do latim papa que significa “pai”. Na Itália o termo “papa” veio a ser aplicado a todos os bispos como título de honra e então ao bispo de Roma exclusivamente como bispo universal. Foi pela primeira vez concedido a Gregório I, pelo ímpio Im perador Focas no ano de 604 d.C. Ele o fez para irritar o bispo de Constantinopla, que acabara de excomungá-lo por ter causado o assassinato de seu predecessor, o imperador Maurício. Gregório, entretanto, recusou o título, mas o sucessor seguinte, Bonifácio III, aceitou-o e desde então, essa tem sido a designação dadas ao bispo de Roma.

O papa de Roma afirmava ser “bispo universal”, “chefe da Igreja”, governante de nações, acima de reis e Imperadores. O período de crescimento do poder papal começou com o pontificado de Gregório VII, mais conhecido por Hildebrando (1021 – 1085).

No começo do século IV, certas Igrejas em Roma e vizinhanças tinham sido designadas como lugares exclusivos para batismo. Os pastores dessas igrejas eram

29. BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 1998, p. 143.

30. Idem, 1998, p. 146.

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conhecidos como sacerdotes cardeais. As divisões de Roma em distritos para obras de caridade eram anteriores e os sacerdotes dessas regiões eram conhecidos como diáconos cardeais.

No século IX, os bispos próximos de Roma eram conhecidos como bispos cardeais. Estas pessoas formavam o núcleo daquilo que viria a ser o Colégio dos Cardeais. Hildebrando foi encarregado das finanças da sé romana e tornou-se um cardeal.

Hildebrando exerceu um grande poder no governo de Nicolau II (1058 – 1061), quando ajudou na aprovação de uma legislação eclesiástica que tomava o poder de eleger o papa das mãos da população do arcebispado de Roma. Os bispos de Roma eram eleitos, desde os primórdios, por voto popular, embora os imperadores do santo Império Romano tenham interferido quase sempre nas eleições e nos dias de Hildebrando a aristocracia de Roma tenha controlado as eleições de forma corrupta.

No Concílio de Latrão, em 1059, Nicolau, aconselhado por Humberto, mudou o método de eleição dos papas, a fim de que a influência aristocrática ou imperial pudesse ser eliminada. Morto o papa, os bispos cardeais se reuniam para escolher seu sucessor. Deveriam então consultar os sacerdotes cardeais e os diáconos carde ais. Só então o povo do arcebispado de Roma tinha permissão de votar nos nomes indicados pelos cardeais. Em termos práticos isto colocava a eleição do papa sob controle do Colégio dos Cardeais.

Desenvolveu certas doutrinas na Igreja romana, especialmente a adoração de imagens, o purgatório, a transubstanciação, isto é, a crença de que na missa ou comunhão o pão e vinho se transformam milagrosamente no verdadeiro corpo e sangue de Cristo.

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CRESCIMENTO DO PODER MAOMETANO

A partir do século VII, os árabes muçulmanos começaram a invadir territórios e organizar um grande império. A necessidade de controlar novas rotas e cidades comerciais e a busca por terras férteis foram motivos importantes, porém o mais significativo para os homens e mulheres da época foi a necessidade de espalhar a fé religiosa muçulmana.

O movimento que agora chama a nossa atenção é a religião e o império fun dados por Maomé, no início do século VII, o qual tomou uma após outra, várias províncias (nações) dos imperadores gregos que moravam em Constantinopla, até a sua extinção final.

O fundador da religião maometana foi Maomé, nascido em Meca, Arábia saudita, no ano 570. Iniciou sua carreira como profeta e reformador no ano 610, aos quarenta anos de idade. No início do movimento ele conquistou poucos discípulos, porém o suficiente para sofrer perseguições. Maomé fugiu para a cidade de Meca em 622 e sua fuga, a Hégira, fornece a data em que se baseia o calendário mao metano.

Maomé alcançou pleno êxito na conquista das tribos árabes, impondo-lhes a sua religião. Voltou à cidade de Meca como conquistador. Quando morreu, no ano 632, Maomé era profeta e governador reconhecido por toda a Arábia. Antes de sua morte, Maomé conquistou a Arábia, e sua religião dominou todas demais terras conquistadas, como Damasco em 635 d.C. Antioquia em 637 d.C. Jerusalém em 638 d.C. daí os Árabes não tiveram nenhuma dificuldade em submergir o Império Persa, apoderar-se de Chipre, de Creta, de Rodes. Em 712 d.C. encontravam-se já nas fronteiras da Índia, bases de um novo impulso que transportaria o Islã para a

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Indochina. Para o Ocidente a vitória árabe foi mais rápida. Alexandria é tomada em 638 d.C., a Tripolitana é invadida e passam apenas oitos anos (700-708) para atirar ao mar os últimos Bizantinos da África, ocupar o Magrebe até o Atlântico. Em 711 d.C. doze mil berberes muçulmanos desembarcam em Gibraltar e em 713, apesar da sua valentia, não restam cristãos godos na Espanha, a não ser nas montanhas do Noroeste. Em 718 d.C. os muçulmanos franqueiam os Pirineus, mas os Francos de Carlos Martelo coloca um fim no avanço dos Árabes na Europa na batalha de Tours, na França em 732. 31

Cada vitória militar era também uma vitória religiosa, porque os habitantes eram convertidos ao islamismo. Além disso, os árabes passavam a controlar novas rotas, terras e cidades. Ainda no século VII, a capital do império árabe foi transferida para Damasco, na Síria. Em 750, a capital do império foi transferida para Bagdá, na Pérsia.

31. MATHER, George A; NICHOLS, Larry A. Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo. São Paulo: Vida, 2000, p. 231.

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AS CRUZADAS

Outro grande movimento da Idade Média, sob inspiração e mandado da Igreja, foram as Cruzadas, que se iniciaram no fim do século onze e prolongaram-se por quase trezentos anos. As cruzadas foram expedições militares organizadas pelos pa pas, reis e nobres europeus ocidentais para tomar a cidade de Jerusalém em posse dos muçulmanos.

A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde atualmente fica o Estado de Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito remotas, judeus, cristãos e muçulmanos faziam peregrinações a Jerusalém para venerar os Lugares Santos.

Em 638 d.C., os muçulmanos tomaram a Palestina, inclusive, Jerusalém. Du rante séculos aquela ocupação não chegou a criar problemas para os cristãos, pois os árabes respeitam a religião cristã e, portanto, as peregrinações seguiam permiti das. Em 1071, porém, a Terra Santa foi capturada pelos turcos otomanos, também muçulmanos, mas, intolerantes para com os cristãos, passaram a criar todo o tipo de dificuldades para os peregrinos.

Além do motivo religioso, as cruzadas envolveram outros interesses. A Igreja católica queria expandir o cristianismo pelo Oriente Médio e eliminar a influência da Igreja Ortodoxa de Bizâncio (a primeira cruzada iniciou-se apenas meio século após o grande cisma entre católicos romanos e ortodoxos gregos em 1054). Cida des italianas como Gênova e Veneza comercializavam com o Oriente Médio desde o século VIII e apoiaram os cruzados porque sonhavam em tomar postos de comér

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cio dos bizantinos e dos árabes do Egito.

Para atender aos fiéis desejosos de retomar as peregrinações e escoar o excesso de mão-de-obra ociosa na Europa, o papa Urbano II declarou guerra aos “infiéis” muçulmanos conclamando as multidões sob o brado de “Deus o quer! Deus o quer!”. O fervor religioso espalhou-se por toda a Europa. As pessoas acreditavam firmemente que o cristianismo estava em perigo e que defendê-lo, portanto, era cumprir a vontade de Deus. O papa Urbano II prometeu a todos os que partissem para a guerra contra os “infiéis”, que teriam seus pecados perdoados e iriam para o céu após a morte. Os cavaleiros que, a partir de 1095, atenderam ao chamado do papa para fazerem parte de uma expedição à Terra Santa, escolheram como símbolo uma cruz pintada na armadura ou bordada nas vestes. Por isso foram chamados “cruzados”. Eles seriam os guerreiros da cruz, os defensores do cristianismo.

E lá foram eles, de quase todos os lugares da Europa Ocidental, da França, da Alemanha, da Itália, e também da Inglaterra, da Holanda... Os nobres no comando, protegidos por armaduras, em cima dos vigorosos cavalos, os camponeses na in fantaria, os homens da igreja em carroças, maltrapilhos e descalços, todos vestiam um pano com a cruz vermelha simbólica. Fé no coração, idéias de conquista na cabeça e armas nas mãos, séculos de guerra começaram então.

Os cruzados deixaram um rastro de roubos, incêndios, estupros, assassinatos. Pilharam a Constantinopla cristã e a Jerusalém muçulmana e judaica, mataram milhares de crianças, mulheres e velhos desarmados.

No final, as Cruzadas fracassaram. Depois dessa houve mais seis, provocadas pelas vitórias dos maometanos, devido Jerusalém continuar no poder dos maome tanos. As primeiras cruzada foram convocadas pelos papas, por isso a Igreja as dirigia, unindo e conclamando para isso toda a Europa cristã. Mas depois a liderança desse movimento passou às mãos dos reis. Com o passar dos anos, o entusiasmo religioso, sem o qual as Cruzadas jamais se teriam organizados, foi arrefecendo. Os nobres europeus não conquistaram grandes extensões de terras como desejavam. Alguns se arruinaram, outros conseguiram retornar ricos à terra natal, dessa for

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ma surgiram outros motivos que impulsionaram outras cruzadas: a de conquista e apreensão de riquezas.32

A própria Igreja Católica foi abalada, as Cruzadas provaram a incapacidade dos papas para dirigir a cristandade, os quais se preocupavam com o enriquecimento da Igreja, onde levou os sacerdotes à arrogância e o abuso do poder, gerando um descontentamento que mais tarde daria início a Reforma religiosa.

32. NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000, p. 105.

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11A REFORMA RELIGIOSA

A principal característica do período medieval era o teocentrismo, ou seja, que Deus estava no centro de tudo. Vamos entender bem o que significa isso. Teo centrismo significa que os valores religiosos predominavam sobre quase todos os aspectos da vida dos indivíduos. Os homens e as mulheres acreditavam que os fenômenos da natureza eram o resultado direito da vontade de Deus. Se uma chu va destruísse uma plantação era porque Deus queria punir aquela aldeia. A peste parou de matar graças às orações. O mundo era daquela maneira por vontade de Deus, sem qualquer influência do homem.

Nas questões espirituais o homem medieval não tinha acesso direto a Deus, ele somente poderia se comunicar com Ele se pertencesse à Igreja Católica. Desse modo, o papa e os bispos exerciam exclusiva autoridade sobre todas as verdades (ninguém podia contrariar as declarações desse seleto grupo de religiosos). Para a mentalidade medieval, a verdade estava na Bíblia e a Igreja Católica era a “única” que podia dar sua interpretação. Com isso a igreja abusava de sua posição de “por ta voz dos céus”.

Ao contrário desse pensamento que dominava os intelectuais da Idade Média, surgiram os renascentistas que diziam que o homem deveria estar no centro das atenções. Este movimento conhecido como Renascentistas, traz como principais características o florescimento das artes, e um vigoroso despertar de todas as for mas de pensamento. A redescoberta da antiga filosofia, da literatura, das ciências e a evolução dos métodos empíricos de conhecimento, caracteriza todo este período que se inicia no século XV e prolonga-se até o séc. XVII. Em oposição ao espírito escolástico e ao conceito metafísico da vida, busca-se uma nova maneira de olhar e estudar o mundo natural. Esse naturalismo vincula-se estreitamente à ciência em

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pírica e utiliza suas descobertas para aplicá-las nas obras de arte. Os novos conhe cimentos da anatomia, da fisiologia e da geometria são prontamente incorporados, possibilitando, por exemplo, a representação do volume pelo uso da perspectiva, dos efeitos de luzes e cores. Do ponto de vista filosófico, surge uma nova concepção do mundo e do destino do homem, uma visão mais realista e humana dos proble mas morais.

Isso foi um choque para a época, pois a vida intelectual esteve durante mui to tempo vinculada à Igreja Católica. Os padres e monges eram praticamente os únicos que liam e escreviam livros. O Renascimento gerou um novo critério para reconhecer a verdade sobre as coisas do mundo. A visão do mundo Medieval res peitava a tradição e a autoridade dos antigos. Para os renascentistas, a verdade era obtida empiricamente, ou seja, fruto da experimentação e da observação racional.

A filosofia renascentista procurava substituir a visão transcendentalista medie val pela visão imanentista do mundo. Enquanto que a mentalidade medieval dava prioridade para a vida religiosa, espiritual, celeste, transcendental (superior a este mundo) os renascentistas da Idade Média olhavam a vida terrena, imanente (que pertence a este mundo), o ser humano de carne e ossos, a natureza, o corpo e a experimentação. O Renascimento provocou a secularização da cultura, isto é, o afastamento da vida cultural da autoridade da Igreja.

Nos séculos XV e XVI, a cultura renascentista se espalhou da Itália para ou tros países europeus. Na França, o Renascimento foi representado por Rabelais (1490-1553) que escreveu Gargântua e Pantagruel, na Espanha destacou-se Mi guel Cervantes (1547-1616), autor da célebre obra Dom Quixote, na Alemanha destacou-se os pintores Holbein e Dürer, a Inglaterra foi representada por William Shakespeare (1564-1616), e a Holanda foi representada por Erasmo de Rotterdam (1466-1536).

Durante este período, a Igreja Católica recebeu muitas doações de nobres e comerciantes. Terras, ouro, castelos e rebanhos eram deixados em testamento. A abundância de riquezas e poder acabaram por corromper parte do clero. Padres e bispos desonestos pouco se importavam com os assuntos religiosos, viviam como

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príncipes, cercados de luxo e pecado. Enquanto isso, milhares de pobres e doentes perambulavam pelas cidades em busca de alimento e proteção.

Os padres vendiam objetos anunciados como milagrosos. Por exemplo, o pe daço da cruz onde Cristo teria sido crucificado. O pensador humanista Erasmo de Rotterdam, autor de (O Elogio da Loucura) ironizou, dizendo, que, se juntassem todos esses pedacinhos da cruz que a Igreja vendia, daria para construir um navio. O mais chocante era a venda de indulgências. Literalmente, indulgência quer dizer perdão. Era isso mesmo. O sujeito pagava para a Igreja Católica uma quantia e recebia um atestado de que estava absolvido dos pecados. Dessa forma começam a surgir as Igrejas cristãs que não obedeciam ao papa. Vejamos alguns dos grandes movimentos de reformas que surgiram na história, que foram reprimidos com sangrentas perseguições.

11.1 VALDENSES

Os valdenses, discípulos de Pedro Valdo, rico comerciante francês de Lyon, França, que, no século XII, dá todos os seus bens aos pobres e reúne os fiéis dispos tos a lutar contra o luxo e a opulência do clero. Valdo lia, explicava e distribuía as Escrituras ao povo contrariando os costumes e doutrinas, espalhando-as na região de Lião, depois na Provença, até ao Norte de Itália e à Catalunha. Valdo congregou em volta de si vários discípulos que foram conhecidos como “os pobres de Lião”. Os valdenses mostraram os absurdos da busca do absolutismo papal e como a Re forma viria a ser inevitável. Foram cruelmente perseguidos e expulsos da França, porém encontraram refúgio nos vales ao norte da Itália. Existem evidências da so brevivência dos valdenses até o século XV, sendo que o destino mais provável desse grupo tenha sido a assimilação no Protestantismo e no Anabatismo.

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11.2 JOHN WYCLIFF

Iniciou um movimento na Inglaterra a favor da libertação do domínio e poder romano, bem como da reforma da Igreja Católica. Nasceu em Yorkshire, Inglaterra, por volta de 1330. Wycliff foi filósofo de destaque na Universidade de Oxford, onde lecionou filosofia. Conselheiro do Rei, João Wycliff atraiu a ira da Igreja Católica pela primeira vez ao defender o direito do governo de confiscar as propriedades de sacerdotes corruptos. Escreveu várias obras de cunho teológico e apologético, dentre a mais importante chamada de “Suma Teológica”, que abordou assuntos sobre a predestinação, a justificação pela fé, o estado da graça, a au toridade papal e a Igreja como comunidade dos santos. Outro assunto que lhe causou grande adversidade foi sua negação da doutrina da transubstanciação que havia se tornado em dogma em 1215. “Além de não aceitar a transformação das substâncias, Wycliff insistia na prática de oferecer ao laicato, não somente a hóstia, mas também o cálice”.33 Sua maior obra foi a tradução do Novo Testamento para o inglês, terminado em 1380. O Antigo Testamento foi publicado em 1384, ano de sua morte.

O seu ataque à doutrina da transubstanciação fez Wicliff criar inimigos influen tes. Ele e seus seguidores foram expulsos de Oxford. Por decreto papal, as obras de Wycliff foram proibidas. Numa atitude que só pode ser considerada mesquinha, Wicliff foi postumamente declarado herege em 1415, tendo seu corpo desenterrado e queimado na fogueira em 1427.

Apesar da morte de seu líder, os seguidores de Wycliff foram conhecidos como “lolardos”, continuando firmes e intrépidos, formando um grupo organizado com os seus próprios ministros.

11.3 JOHN HUSS

João Huss (1369/1415), na Boêmia, condenava o culto dos santos e a venda de indulgências pela Igreja. Huss também condenava o luxo excessivo em que vivia

33. GONZÁLEZ, Justo L. Dicionário Ilustrado dos Intérpretes da Fé. São Paulo: Academia Cristã, 2005, p.673.

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o alto clero católico e pregava a livre interpretação da Bíblia pelos cristãos. Foi per seguido e morto na fogueira, mas suas idéias deixaram adeptos. De 1378 a 1418, a cristandade encontrou-se dividida pelo “Cisma do Ocidente”, provocado pela eleição simultânea de dois papas, devido a um desentendimento entre os cardeais, fato que abalou profundamente o prestígio da Igreja.

11.4 MARTINHO LUTERO

Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano, vivia na cidade de Witten berg, na Alemanha, onde conquistou o título de doutor em filosofia, tornando-se professor da Universidade e pregador oficial de seu convento. Protestava contra o pagamento de indulgências, porque acreditava que somente Deus poderia perdoar o pecador.

Inicialmente, Lutero não pretendia criar uma nova igreja, queria reformar o ca tolicismo. Na busca do verdadeiro caminho para se encontrar a vida eterna, Lutero, encontrou na epístola aos Romanos finalmente uma resposta às suas indagações: a doutrina da salvação alcançada unicamente pela fé em Deus, tema central de sua futura teologia.

Em 1517, o papa Leão X, desejando terminar a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, determinou nova venda de indulgências, principalmente na Alemanha, onde a Igreja era possuidora de imensos territórios. Em protesto a essa falsa “segurança” religiosa proporcionada pelas indulgências, Lutero fixou suas 95 Teses na porta da Igreja de Wittenberg, a 31 de outubro do mesmo ano.

Em 1518 e 1519, o papa Leão X exigiu que Lutero se retratasse e reconhecesse o valor das indulgências, mas não foi obedecido. Nesse período, Lutero escreveu os livros que serviriam de base para a sua nova doutrina: “O Papado de Roma”, “O Apelo à Nobreza Cristã da Nação Alemã”, “O Cativeiro Babilônico da Igreja” e “Da Liberdade do Cristão”.

Em 1520, o monge queimou publicamente a bula papal Exsurge Domine que declarava heréticos seus escritos. Levado perante Carlos V na Dieta de Worms, re cusa retratar-se e é expatriado do império e seus livros queimados em 1521. Lutero

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conseguiu refúgio no castelo de Warlburg, do príncipe Frederico da Saxônia, de onde traduziu a Bíblia para o alemão, tornando-a acessível ao povo. Cidades como Constança, Nurenberg, Erfurt, Magdeburgo, Bremen se recusaram a aplicar o Edito de Worms. O ex-monge transformava-se no líder espiritual de um número cada vez maior de alemães, entre humanistas, artistas, burgueses, príncipes, pequenos, nobres e camponeses.

Em 1526 a cidade de Espira não aceitou empregar o Edito de Worms contra Lutero. Carlos V tentou forçá-la, provocando o protesto de 6 príncipes e de 14 cidades (donde se originou a palavra protestante). Em 1529, as cidades protes tantes se reuniram na Liga de Smaikalde contra Carlos V que, em guerra contra a França e contra o Império Otomano, nada pode fazer para impedir o avanço do Luteranismo.

Em 1539, em Augsburgo, foi apresentada a doutrina de Lutero, redigida por Felipe Melâncton, seu principal colaborador. Baseava-se nos seguintes princípios:

1) A única fonte de fé é a Bíblia, livremente interpretada pelos cristãos;

2) O único meio de salvação é a fé em Cristo Os sacramentos e as boas obras não são válidos como meio de se obter a salvação;

3) A Igreja é a simples reunião dos crentes, que têm todos os mesmos direitos;

4) O culto consiste na pregação feita pelos pastores ou “ministros de Deus”.

Quando Martinho Lutero morre, em 18 de dezembro de 1546, na sua cidade natal de Eisleben, já o rosto da Cristandade se encontra profundamente modificado.

A Reforma Protestante ultrapassou largamente as fronteiras da Alemanha; atingiu a Dinamarca, a Noruega, a Suécia, a Suíça, os Países Baixos, a Inglaterra e parte da França, Favorecidas pelos princípios de livre interpretação da Bíblia, nova seitas surgiram e se propagaram pela Europa. As razões iam desde o verdadeiro intuito de reformar a Igreja e atender melhor à devoção dos fiéis, até os motivos políticos como os que levaram Henrique VIII da Inglaterra a romper com o Papa, criando a Igreja Anglicana, da qual se tornou chefe, em 1534.

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11.5 ZWINGLIO (NA SUIÇA)

Huldreich Zwinglio (1484-1531) foi o líder da reforma na Suíça, onde esta se deu de forma mais amena. Por meio de uma votação, cada parte da Suíça escolheu sua própria religião. Embora mais tarde fosse influenciado pelos ensinos de Lutero, chegou ao conhecimento do Evangelho por sua própria busca pessoal. Discordou de Martinho Lutero na questão da transubstanciação (transformação do pão e do vinho no corpo do Senhor) e por isso não foi possível uma união efetiva. Zwinglio exigia o recurso exclusivo da Bíblia como fundamento da fé e da autoridade e o uso da língua alemã na liturgia. Atribuía maior importância ao problema da santi ficação do que ao da justificação. O batismo e a ceia já não são sacramentos, mas simples memoriais, ou seja, a afirmação da comunhão dos fiéis.

11.6 ANABATISTAS

Com o surgimento da Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero, criou-se a oportunidade de que muitos grupos dissidentes intensificassem suas pre gações, e entre eles haviam aqueles que eram chamados de “anabatistas”. Estes sustentavam que o batismo infantil não tinha validade e requeriam o rebatismo daqueles que quisessem se tornar membros de seu grupo.

Os anabatistas não formavam um grupo particular ou coerente, mas represen tavam vários graus de ortodoxia. Os grupos variavam de uma relativa ortodoxia, como era a posição de Conrado Grebel (1485-1528) até a posição mais radical e menos ortodoxa de Baltasar Huebmaier.

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HISTÓRIA DA IGREJA

No século XVII, surgiria na Inglaterra um movimento de Igrejas Batistas, que defendiam idéias como a do batismo em idade adulta, nenhum credo oficial, a Bíblia como única regra de fé e prática. Embora não propusessem o radicalismo social dos anabatistas na Alemanha, não aceitavam a ingerência do Estado sobre assuntos religiosos, o que ocasionou severas perseguições contra eles. A maioria acabou imigrando para as treze Colônias (EUA).

11.7 CALVINO

Calvino, cujo nome francês era Jean Cauvin ou Calvin, nasceu em Noyon, na Picardia, norte da França, em 10 de julho de 1509. Filho do secretário episcopal daquela cidade. Teve a sua infância em dias que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influência sobre o povo que se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. Estudou em algumas das melhores escolas de Paris com o objetivo de seguir a carreira eclesiástica, desistindo mais tarde para seguir a carreira jurídica. Em 1533/34 se tornou protestante. Depois de convertido escreveu uma obra chamada De psychopannychia (Sobre os Sonhos da Alma) onde refuta a doutrina de alguns anabatistas segundo a qual as almas dormem até o dia da ressurreição final. Com o desejo de escrever um catecismo para os protestantes de língua francesa, publicou em Basiléia, em 1536, a obra Christianae religionis institutio (Institutas da religião cristã). Em Genebra, “escreveu comentários sobre quase todos os livros da Bíblia, vários tratados sobre a teologia e sobre o governo da Igreja, e, sobretudo uma série de reedições das Institutas, cada uma mais extensa do que a anterior”. 34 A principal idéia de Calvino era a teoria da predestinação. Segundo Calvino, Deus tem poder infinito (é Onipotente) e tem sabedoria infinita (é Onisciente). Nada no Universo pode existir sem sua autorização, e não há nada que Ele não saiba, nem no pas sado nem no futuro. Assim antes de nascermos, Deus já sabe o que irá acontecer

34. GONZÁLEZ, Justo L. Dicionário Ilustrado dos Intérpretes da Fé. São Paulo: Academia Cristã, 2005, p.147.

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HISTÓRIA DA IGREJA

conosco. A conclusão que Calvino chegou foi que Deus já traçou o destino de todos os seres humanos antes deles nascerem. Se vai ser salvo ou não, não depende da vontade, do que faça ou sente, logo todos foram predestinados. A salvação seria uma graça que Deus concede a alguns e não concede a outros. E não adianta al guém perguntar a Deus o porquê de ter predestinado uns à salvação e outros à condenação. Ele decidiu e ponto final.

Calvino, auxiliado por seus seguidores, tomou o poder em Genebra (Suíça) e exerceu comando até sua morte em 1564.

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A CONTRA - REFORMA CATÓLICA

A Igreja Católica não ficou passiva frente ao avanço do protestantismo. Para combater a expansão do protestantismo na Europa, a Igreja Católica reuniu-se na cidade de Trento, no final do ano de 1535, e após muitas hesitações e desentendi mentos entre o papa, bispos e reis, editou um documento contendo as principais medidas que julgava necessárias para eliminar os abusos (ou os abusos mais evidentes): reafirmar a doutrina Católica e reprimir os que pensassem diferente.

A primeira medida foi uma faxina geral na Igreja. Corruptos foram expulsos e a venda de indulgencias foi cancelada. Reforçou o poder do papa, criou o Índex (re lação de livros proibidos à leitura dos cristãos), 35 eliminou a comunhão de ambos os elementos da ceia (pão e vinho), mantendo apenas a comunhão do pão, obri gou os bispos a residirem em suas sedes, conservou os sete sacramentos, reforçou o Tribunal da Inquisição, afirmou que somente a Igreja poderia interpretar a Sagrada Escritura e fixou regras para a formação e a vida dos padres.

O instrumento muito importante da Contra-Reforma foi o tristemente célebre Tribunal do Santo ofício, mais conhecido como Santa Inquisição que durou até o século XVIII. Nesse Tribunal as pessoas eram julgadas, por crimes contra a fé cató lica. Para se obter confissões, havia uma técnica toda especial: a tortura e por fim a morte. “A Igreja Católica na Espanha empregava regularmente a tortura para conseguir ‘confissões completas’, e, em 1480, o papa Sisto IV deu aprovação aos processos inquisitórios e teve o apoio de Torquemada. Este, em 1483, aprovou o emprego de torturas”. 36

35. A lista de livros condenados pela igreja incluía todos os escritos protestantes e todas as versões da Bíblia, exceto a Vul gata. O Index não se limitava a combater as crenças protestantes, mas, igualmente, todo o pensamento que conduzisse ao progresso.

36. PERES, Alcides Conejeiro. A Inquisição e os Instrumentos de Tortura da Idade Média. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p. 162.

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HISTÓRIA DA IGREJA

Foram tantas atrocidades as quais, hoje, a simples menção nos causa pavor, porém foram fatos reais vividos pela humanidade, tremendamente tristes, mas ver dadeiros.

Todos aqueles que a Igreja Católica considerava culpados de heresias era per seguidos e mortos pela “santa inquisição”. Entre os hereges estavam, lógico, os protestantes, os filósofos, os cientistas, os judeus, as bruxas etc. As penas variam de uma simples multa até a prisão ou a execução na fogueira. Milhares de pessoas foram executadas pela Inquisição.

Muito importante para divulgar os ideais da Contra-Reforma foi a criação, em 1543, da Companhia de Jesus. Esta entidade, fundada pelo nobre militar espanhol Ignácio de Loyola, adotou uma estrutura militar, chegando mesmo a ser conhecida como o Exército de Cristo. Ao contrário das antigas ordens religiosas, não se afastavam do mundo, mas atuavam nele, procurando ter o apoio dos governantes europeus na sua luta contra o protestantismo, fundando escolas, e catequizando os aborígenes nos novos mundos surgidos com a expansão marítima.

A Contra-Reforma não conseguiu eliminar o protestantismo, mas conseguiu evitar que ele se espalhasse mais ainda.

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AVALIAÇÃO

HISTÓRIA DA IGREJA I

1. Não é nada fácil falar sobre a origem da Igreja, porém podemos refletir sobre dois momentos distintos, quais são eles?

2. Qual era a Festa judaica que se tornou um marco divisor na vida dos primei ros seguidores de Cristo?

3. A Igreja do primeiro século era formada por um pequeno grupo de cristãos, quais seus nomes?

4. O período apostólico abrange o espaço de tempo que inicia onde e termina com quem?

5. Quem foi o imperador romano que mandou matar Pedro e Paulo? Em que ano esse fato ocorreu?

6. Quem foi o último apóstolo a morrer?

7. Quem foi o apóstolo que deixou uma brilhante narrativa da vida de Cristo nas regiões do Egito e da Etiópia?

8. Quem foi o discípulo do Senhor que foi martirizado em uma cruz em forma de “x”?

9. Qual dos discípulos do Senhor foi morto por Herodes?

10. Comente a primeira viagem missionária do apóstolo Paulo.

11. A perseguição iniciou-se primeiramente por meio de um organismo político -eclesiástico que se chamava?

12. Quando começou a perseguição à Igreja e quando terminou?

13. Cite a três causas que desencadearam as perseguições:

14. Por mais de duzentos anos a Igreja viveu sob a opressão do Império Romano. No decorrer desses dois séculos, quatro dinastias ocuparam sucessivamente o poder em Roma, quais eram elas?

15. Qual o significado do título “pais apostólicos”?

16. Quais eram as duas classes de pais apologistas?

17. Qual o nome que se deu à posição gnóstica sobre Cristo?

18. Qual foi o fato mais notável e mais influente durante o período da Igreja Im perial?

19. Qual foi o fato mais notável no desenvolvimento da Idade Média?

20. Faça um breve comentário sobre as Cruzadas

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