N.º 10
Janeiro/Fevereiro 2022
DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS
PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL
HEMOFILIA: TRATAMENTO PECA POR TARDIO DIA MUNDIAL DO CANCRO
Gonçalo Rodeia Marques aborda os progressos da Roche no domínio da Oncologia COVID-19 EM ANGOLA
Dra. Joana Morais aborda a situação epidemológica no país DOENÇA DE CROHN
Dr. Elmo Brandão fala de uma das doenças raras mais prevalecentes no mundo
ÍNDICE SAÚDE PARA SI
02 04 06 10 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde
Adalia Rose, de 15 anos, faleceu no passado dia 14 de Janeiro. Através do seu canal no YouTube, com mais de 2,91 milhões de seguidores, tocou muitas vidas. Adalia era especial, em todos os sentidos da palavra. Padecia de uma doença rara chamada de Progeria de Hutchinson-Gilford, a mesma da criança do filme “O curioso caso de Benjamin Button”, interpretado por Brad Pitt. Uma síndrome que afecta cerca de 500 crianças em todo o mundo e que causa um rápido envelhecimento precoce. A expectativa de vida dos seus portadores é de apenas 13 anos. Esta é apenas uma das muitas doenças raras identificadas pela medicina, que, no seu conjunto, se estima que acometam cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Algumas delas, como a doença de Adalia, têm também manifestações físicas, podendo gerar preconceito e discriminação. Outras são invisíveis. Em comum têm o facto de gerar medo e muita angústia. Para sensibilizar sobre as dificuldades que os portadores de doenças raras enfrentam diariamente, foi escolhido o dia 29 de Fevereiro para assinalar o Dia Mundial das Doenças Raras, precisamente, por ser, também ele, raro. Nos anos não bissextos, como é o caso de 2022, é assinalado a 28. Mas Fevereiro é, também, o mês de homenagear e recordar aqueles que, diariamente, lutam contra o cancro. Apesar do desenvolvimento de tratamentos cada vez mais precisos e avançados, que garantem mais anos e uma melhor qualidade de vida, não se pode descurar a importância do diagnóstico precoce. Tanto mais que se estima que 27,5 milhões de pessoas, em todo o mundo, venham a ser diagnosticadas com cancro em 2040. Neste ano de 2022, a Covid-19 continua a dominar a atenção mediática e a absorver muitos dos recursos em saúde. Mas a pandemia não nos pode fazer esquecer o caminho que ainda se tem de percorrer no combate e resposta a outras doenças. O cancro, as doenças raras, mas também a saúde mental. Em 2022, o mundo precisará de reconhecer o trauma deixado pela pandemia, reflectir sobre toda a aprendizagem feita nestes dois anos extraordinários e procurar capitalizá-la para a construção de um futuro melhor.
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Será 2022 o ano do fim da pandemia de Covid-19?
Dr. Peliganga Baião fala sobre a problemática da Ómicron em Angola
ANÁLISE As tendências no sector da saúde, em 2022, segundo a consultora Deloitte
A Hemofilia em Angola, segundo o Dr. Luís Bernardino Dra. Marisa Sousa aborda a importância da reabilitação para os doentes hemofílicos Dr. Djalme Fonseca fala sobre as complicações da Hemofilia e do Cancro Ocular para a saúde visual
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REPORTAGEM
Dra. Joana Morais, directora do Instituto Nacional de Investigação em Saúde (INIS), aborda a situação epidemiológica que o país está a atravessar
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EDITORIAL
ENTREVISTA Dr. Gonçalo Rodeia Marques aborda os desenvolvimentos da Roche em oncologia
O desafio do farmacêutico no uso racional de medicamentos Dr. Elmo Brandão aborda a temática da Doença de Crohn em Angola A importância da farinha de múcua integral na culinária e o seu valor nutricional Quem são os clientes das farmácias, segundo as várias categorias de produto
Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, n.º3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/
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REPORTAGEM ENTREVISTA
“ESTOU CONFIANTE QUE 2022 SERÁ O ANO EM QUE VAMOS ACABAR COM A PANDEMIA, MAS SÓ SE O FIZERMOS JUNTOS” O DIRECTOR GERAL DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS), DR. TEDROS ADHANOM GHEBREYESUS, ACREDITA QUE 2022 PODERÁ MARCAR O INÍCIO DO FIM DA PANDEMIA, MAS APENAS SE SE ACABAREM COM AS DESIGUALDADES NO SEU COMBATE. NUMA MENSAGEM INTITULADA “A MINHA ESPERANÇA EM ACABAR COM A PANDEMIA DE COVID-19 EM 2022”, FALA COM ESPERANÇA SOBRE O FIM DA CRISE SANITÁRIA NO MUNDO: “SE ACABARMOS COM A DESIGUALDADE, ACABAREMOS COM A PANDEMIA E COM O PESADELO GLOBAL QUE TODOS VIVEMOS. E ISSO É POSSÍVEL”.
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A véspera de Ano Novo marca o segundo aniversário da pandemia de Covid-19, servindo como um lembrete pungente do que conquistámos, do que ganhámos e do que perdemos, como comunidade global, na nossa resposta colectiva a uma crise verdadeiramente global”, começa por dizer o director geral da OMS. “O poder está nas nossas mãos para mudar o curso desta crise, de uma vez por todas”. Com dois anos de pandemia, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus destaca o que se
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aprendeu e o que se conquistou, como as 10 vacinas que receberam autorização da OMS para uso de emergência, as mais de 8,5 mil milhões de doses que foram administradas mundialmente e os novos tratamentos que foram desenvolvidos. Meios que, no entanto, continuam a ser distribuídos de forma desigual. “Estamos a ver algumas nações a levarem a cabo programas de reforço, num momento em que apenas metade dos Estados-Membros da OMS alcançou a meta de imunizar 40% das suas populações, até ao
final de 2021, devido ao fornecimento global desigual”. Refira-se, ainda, que três em cada quatro profissionais de saúde. em África. não foram vacinados, ao mesmo tempo que, na Europa e nos Estados Unidos da América, as populações já começaram a receber a terceira dose de reforço. Resoluções de Ano Novo Para o director geral da OMS, quanto mais a desigualdade persistir, maior será a possibilidade de surgirem novas variantes do SARS-CoV-2, que não se podem prevenir nem prever, levando a “um ciclo contínuo de perdas, privações e restrições”. Nas suas resoluções de Ano Novo, afirma a vontade de fazer de tudo para acabar com a pandemia, dando prioridade à distribuição de vacinas para iniciativas globais, como a Covax Facility e a AVAT, com a meta de vacinar 70% das pessoas, em todos os países, até meados de 2022. “Em segundo lugar, temos de construir uma estrutura mundial mais forte para a segurança global da saúde”, tanto mais que 2022 marca o início das negociações para um acordo mundial de combate a pandemias. Finalmente, todos os países devem investir numa estrutura de cuidados de saúde primários mais forte, como pilar da cobertura
de saúde universal. Se for possível avançar nestas metas, o final de 2022 poderá marcar o regresso à vida pré-Covid. Ómicron Mas fica o aviso da OMS: “há ainda muitas oportunidades para o vírus se espalhar e gerar novas variantes”, pelo que a Ómicron não será a última que causará preocupação. Assim o afirmou a líder técnica de resposta à Covid-19, Dra. Maria van Kerkhove. A epidemiologista realçou, numa referência à Delta e à Ómicron, que as variantes estão a competir e a evoluir, apontando a vacinação, que previne a doença grave, e medidas como o uso de máscaras, o distanciamento físico e a lavagem frequente das mãos, como os aspectos fundamentais para travar as oportunidades do vírus circular e originar novas variantes mais ou menos severas.
Veja o vídeo “Three resolutions to help achieve Health for All in 2022”
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ENTREVISTA
“ACREDITO QUE ESTAMOS PRONTOS PARA NOVAS PANDEMIAS”
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Dra. Joana Morais Directora do Instituto Nacional de Investigação em Saúde (INIS). Doutorada em Biologia Parasitária e Doenças Infecciosas pelo Instituto Oswaldo Cruz. Mestre em Imunologia pelo King’s College London
JÁ COM DOIS ANOS DE PANDEMIA DE COVID-19 E UM PLANO DE VACINAÇÃO EM CURSO, ANGOLA DEPARA-SE COM UM 2022 EXTREMAMENTE DESAFIANTE, COM UMA EVOLUÇÃO ENORME NO NÚMERO DE CASOS POSITIVOS. A DRA. JOANA MORAIS, DIRECTORA DO INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE (INIS), ABORDA A SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA QUE O PAÍS ESTÁ A ATRAVESSAR.
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que podemos atribuir o aumento exponencial de casos positivos de Covid-19? Deve-se à nova variante Ómicron ou, na sua opinião, existem também outras perspectivas que devem ser tidas em conta? Já temos bastantes evidências de que o aumento exponencial de casos no país se deve à transmissão comunitária da variante Ómicron. Sabemos que, para além de ser altamente transmissível, há vários relatos científicos de outros países, onde a Ómicron foi inicialmente detectada, de que os indivíduos infectados permanecem assintomáticos por muito tempo, recorrendo mais tardiamente às unidades sanitárias, o que tarda o diagnóstico e promove uma transmissão silenciosa. Acredito que foi o caso em Angola. Além do mais, desconfiamos que alguns dos testes rápidos em comercialização no mundo carecem de repetidas e contínuas avaliações sempre que surgem novas variantes. Só desta forma poderemos garantir a sua eficácia na detecção atempada das várias formas do SARS-CoV-2.
O plano de vacinação em Angola conseguiu imunizar grande parte da população. Estamos já, neste momento, a vacinar crianças e adolescentes e a atribuir a terceira dose da vacina. Fala-se já numa quarta dose em alguns países. Estamos preparados? Em que medida vacinação está a aligeirar a pressão no nosso Sistema Nacional de Saúde, no que diz respeito à corrida às urgências? Penso que, no meio de tantas dificuldades, quer técnicas, quer sociais e económicas, Angola, os angolanos e os profissionais de saúde estão todos de parabéns. A vacina veio provar que, mesmo não curando, salva, de facto, vidas, evitando que os casos de Covid-19 evoluam para doença grave, que requer cuidados hospitalares especiais, com recursos humanos
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“TODOS PERCEBEMOS QUE O MUNDO ESTÁ EM CONSTANTE MUDANÇA, O AMBIENTE EM DESEQUILÍBRIO E QUE ESTES FACTORES PROVOCAM ALTERAÇÕES E IMPACTOS IMPORTANTES NA SAÚDE GLOBAL. DEVEMOS SABER QUE NÃO ESTAMOS IMUNES A ESSAS ALTERAÇÕES E QUE, DE FACTO, PRECISAMOS DE NOS TORNAR RESILIENTES PARA MELHOR NOS ADAPTARMOS A ESTAS CONSTANTES ALTERAÇÕES”
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especializados, os quais sabemos que são desafios contínuos no nosso país. Quando me pergunta se o facto de estarmos vacinados está a aligeirar a corrida às urgências, a resposta é única e sem margem de dúvida: sim. Temos evidências de que 95% dos casos hospitalizados e óbitos acontece em pessoas não vacinadas. Um doente vacinado tem menor probabilidade de contrair Covid-19? Ou a vacina apenas atenua os sintomas? A resposta a esta pergunta ainda não é conclusiva e muitas teorias continuam a ser estudadas, principalmente, no que toca aos factores genéticos e imunológicos dos indivíduos saudáveis e dos que já contraíram a Covid-19, ou foram vacinados, bem como a infecciosidade de novas variantes resultantes das mutações que os vírus vão sofrendo. Sabemos que a imunidade ao SARS-CoV-2 em indivíduos vacinados varia e que pode diminuir, em média, entre quatro a seis meses após a toma da primeira dose e que, em indivíduos que já estiveram infectados e foram vacinados, essa imunidade adquirida pode durar, em média, entre seis e nove meses. Contudo, cada caso é um caso. O provável é que, nesse período, e continuando a cumprir com as
regras de prevenção, como o uso da máscara, a lavagem regular das mãos e evitar lugares fechados sem ventilação, há uma grande diminuição da susceptibilidade e, por conseguinte, de se ser infectado. Portanto, diria que, efectivamente, existem menores probabilidades de se contrair Covid-19 em pessoas saudáveis vacinadas e, igualmente, que as vacinas têm a capacidade de atenuar sintomas e manifestações graves da doença. Na sua opinião, é possível prevermos uma data para voltarmos à normalidade, mesmo com cuidados extra, tal como o uso de máscara? Os seres humanos, por norma, gostam de previsões concretas. Não sabemos lidar com o desconhecido, com as incertezas. Os vírus passam por um processo evolutivo e de adaptação ao meio ambiente e, a meu ver, olhando pelo lado da virologia, ainda estamos nesse processo. Acredito que entraremos, agora, numa fase em que, se não contivermos as variantes Delta e Ómicron, ainda surgirão algumas variantes de preocupação e, portanto, poderemos ter novas vagas, em que medidas de restrição serão novamente impostas e necessárias. Tudo depende de todos. Do comportamento da sociedade e do vírus, igualmente. Qual o impacto da pandemia na avaliação e contacto de doentes com outras patologias? A pandemia trouxenos coisas positivas e negativas. O nosso sistema de informação e de notificação de doenças foi reforçado, a introdução de profissionais de saúde no Sistema Nacional de Saúde e investiu-se bastante na formação especializada dos quadros, no intuito de melhorar os serviços e a resposta às doenças de maior impacto na saúde da população, em Angola. Porém, a oferta de recursos médicos e medicamentosos sofreu bastante com a falta de matéria-prima, a nível global. Não foi apenas Angola que sofreu, mas o mundo. E, como todos podemos calcular, a falta de acesso e a escassez afectou bastante a sustentabilidade dos
programas de saúde pública e o seguimento de pacientes com doenças diferenciadas. Como especialista, estas novas medidas implementadas – com todo o impacto na economia nacional - são a única solução para Angola? Devemos fazer algo mais? Para além do impacto na economia nacional, tivemos outros impactos tão preocupantes quanto este. Falo-vos da saúde mental, da educação, da estrutura social, entre outros. Contudo, o nosso dever é olhar sempre para obtenção do equilíbrio global, principalmente, em questões de saúde pública. Sabemos da nossa realidade, que é diferente de muitas outras e, portanto, as medidas tomadas têm sempre que levar em conta o contexto do nosso Sistema Nacional de Saúde e das condições que oferece. Se devemos fazer algo mais? Claro que sim! Devemos ser todos participativos e, dentro dos limites que se impõem, contribuir para o bem-estar global. O que é que Angola e os angolanos devem aprender com a pandemia? Na sua opinião, o mundo estará mais bem preparado para uma próxima pandemia? Penso que todos percebemos que o mundo está em constante mudança, o ambiente em desequilíbrio e que estes factores provocam alterações e impactos importantes na saúde global. Devemos saber que não estamos imunes a essas alterações e que, de facto, precisamos de nos tornar resilientes para melhor nos adaptarmos a estas constantes alterações. Dito isto, acredito que estamos prontos para novas pandemias e que o trabalho que temos feito com a Covid-19, para além de exemplar, será muito bem aplicado no futuro, mesmo que este traga novos desafios, porque cada pandemia tem particularidades, principalmente, quando a sua origem é desconhecida.
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ENTREVISTA
“PENSO QUE IREMOS PASSAR DE PANDEMIA PARA ENDEMIA, NUM FUTURO BREVE” A NOVA ESTIRPE ÓMICRON CHEGOU A ANGOLA E, SIMULTANEAMENTE, ESTÁ A CONQUISTAR O MUNDO. O DR. PELIGANGA BAIÃO, MÉDICO INFECCIOLOGISTA, FALA-NOS DESTA PROBLEMÁTICA NO NOSSO PAÍS, QUE CONSIDERA DE UM BOM EXEMPLO, A NÍVEL MUNDIAL, NO COMBATE À COVID-19.
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inferiores, o que se reflete, nomeadamente, nos internamentos observados. Angola comprova este facto? No nosso contexto, o número de óbitos em relação ao aumento exponencial dos casos sustenta esta hipótese, mas a Europa já está a reportar um aumento do número de óbitos por Ómicron, sobretudo nos indivíduos não vacinados.
Dr. Peliganga Baião Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto. Mestre em Ciências Área de Concentração Medicina Tropical pelo Instituto Oswaldo Cruz. Especialista em Infecciologia pelo Conselho Nacional de Especialização Pós-Graduada em Ciências Médicas de Angola. Pós-Graduado em Doenças Infecciosas pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto/Angola. Coordenador da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias. Chefe de Departamento de Controlo de Doenças/Direcção Nacional de Saúde Pública - Ministério da Saúde de Angola. Doutorando em Medicina Tropical no Instituto Oswaldo Cruz/Rio de Janeiro
Qual é a principal diferença da variante Ómicron em relação às outras estirpes de Covid-19 já identificadas? A grande diferença desta estirpe é que tem uma grande capacidade de transmissão: é cerca de três vezes mais transmissível, com um menor volume de inóculo, que as outras estirpes. Assim como tem um período de incubação mais curto e um quadro clínico predominantemente leve. Alguns especialistas afirmam que, quanto mais depressa a Ómicron se disseminar, melhor será devido à obtenção de imunidade de grupo. Qual é a sua opinião a este respeito? A imunidade de grupo é conferida quando há cerca de 80% da população, numa determinada área, com imunidade natural a um determinado agente. É de realçar que este conceito não se pode aplicar quando esse agente não confere imunidade cruzada. O que quer dizer que só podemos falar de imunidade de grupo quando uma estirpe que acomete uma determinada população garante imunidade natural, após o surgimento de outra. Até agora, essa situação não se confirmou com o SARS-CoV-2, porque os indivíduos que tiveram outras variantes estão a ser acometidos pela Ómicron. Podemos dizer que a Ómicron é a estirpe “boazinha”? Alguns estudos demonstram que a transmissibilidade desta variante é muito superior à das outras, no entanto, os seus efeitos são muito
Como é que Angola está a lidar com esta variante, uma vez que o aumento de casos está a ser exponencial? Angola, desde o início da pandemia, foi um exemplo para o mundo. O Ministério da Saúde de Angola (MINSA) tem orientado e reforçado as medidas de biossegurança para o SARS-CoV-2, com campanhas de mobilização social. Mas a população tem que fazer a sua parte, acatando as orientações emanadas e aderindo à campanha de vacinação. A vacinação é essencial para controlar esta pandemia? Na sua opinião, a terceira dose é fundamental? Sem dúvida que sim! A redução do número de doentes hospitalizados e de óbitos demonstra as vantagens da imunização. Cientificamente, está comprovado que, após seis meses de imunização, há queda dos títulos de anticorpos, motivo pelo qual há necessidade de se efectuar o reforço. O período de isolamento mantém-se com esta nova estirpe e com a vacinação ou pode ser diminuído? As evidências científicas demonstram que, após sete dias do início dos sintomas, não há replicação viral, logo, o volume do inóculo diminui consideravelmente e a possibilidade de transmissão é ínfima. Actualmente, o isolamento de sete dias é o recomendado. Na sua opinião, quando é que a pandemia terá um final? Penso que iremos passar de pandemia para endemia, num futuro breve, e cada Governo vai traçar as suas estratégias de combate e controlo semelhantes às da gripes causadas por outros agentes.
“PENSO QUE IREMOS PASSAR DE PANDEMIA PARA ENDEMIA, NUM FUTURO BREVE, E CADA GOVERNO VAI TRAÇAR AS SUAS ESTRATÉGIAS DE COMBATE E CONTROLO SEMELHANTES ÀS DAS GRIPES CAUSADAS POR OUTROS AGENTES”
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ENTREVISTA ANÁLISE
TENDÊNCIAS QUE IRÃO MARCAR O SECTOR DA SAÚDE EM 2022 UMA COLISÃO DE FORÇAS – UMA PANDEMIA DE PROPORÇÕES HISTÓRICAS, AVANÇOS EXPONENCIAIS NAS CIÊNCIAS MÉDICAS, A EXPLOSÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS, O ACESSO À INFORMAÇÃO, O EMPODERAMENTO DOS UTENTES E A DESLOCAÇÃO DO FOCO DO TRATAMENTO DA DOENÇA PARA A PREVENÇÃO E O BEM-ESTAR – ESTÁ A SERVIR DE CATALISADOR PARA AS TRANSFORMAÇÕES NO SECTOR DA SAÚDE. 2022 MARCA O SEGUNDO ANO COMPLETO DE COVID-19 EM TODO O MUNDO, QUE CONTINUA A DOMINAR AS ATENÇÕES E OS RECURSOS DOS SISTEMAS DE SAÚDE. GLOBALMENTE, A 14 DE DEZEMBRO DE 2021, OS CASOS ASCENDIAM A MAIS DE 270,9 MILHÕES E O NÚMERO DE MORTES EXCEDIA OS 5,31 MILHÕES. EM 2022, OS ACTORES DO SECTOR DA SAÚDE DEVERÃO MANTER-SE ALERTA E FLEXÍVEIS PARA LIDAR COM OS PICOS E VALES DOS CASOS E MORTES POR COVID-19, MAS TAMBÉM DE OUTRAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. EIS AS TENDÊNCIAS QUE IRÃO MARCAR ESTE ANO, SEGUNDO A CONSULTORA DELOITTE.
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om as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde a persistirem, as baixas taxas de vacinação estão a inibir muitos países de conter a pandemia. Mais de metade da população mundial tem ainda de receber uma dose da vacina contra a Covid-19. Mesmo nas economias desenvolvidas, aspectos relacionados com o acesso à vacinação, como a relutância de muitos utentes, as dificuldades no agendamento, os meios de transporte e a conveniência dos horários, estão a constituir obstáculos à imunização. Reconhecendo a interconexão da população global, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros grupos de interesse têm apelado aos líderes das 20 maiores economias mundiais que colaborem no financiamento de um plano, avaliado em 23,4 mil milhões de dólares, para distribuir vacinas, testes e medicamentos contra a Covid-19 nos países mais pobres, ao longo dos próximos 12 meses.
Ao mesmo tempo, a resposta à pandemia está a testar os limites emocionais, físicos e de stress dos profissionais de saúde. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, 55% dos profissionais na linha da frente reporta situações de esgotamento, com a taxa mais elevada, cerca de 69%, a registar-se entre os mais jovens. As organizações de saúde estão a debater-se com a necessidade de apoiar os seus colaboradores e de reter talento, especialmente nas populações clínicas. Paralelamente, a pandemia também reduziu o acesso e a procura de cuidados de saúde não-Covid. Os pacientes estão a adiar uma série de consultas e tratamentos, incluindo de emergência para condições agudas, consultas de rotina e rastreios recomendados do cancro. Os efeitos, a longo prazo, pela incapacidade de intervir precocemente, pela falta de gestão das doenças crónicas e pelos subdiagnósticos, serão significativos. Mas, apesar dos muitos efeitos devastadores, a Covid-19 também apresenta ao sector da saúde uma poderosa oportunidade para acelerar a inovação e reinventar-se. A pandemia acelerou várias tendências já existentes ou emergentes, a integração das ciências da vida e dos cuidados de saúde, a rápida evolução das tecnologias digitais, os novos talentos e modelos de entrega de cuidados e a inovação clínica. Apesar dos desafios em múltiplas frentes, existe um crescente optimismo de que muitos países estão, hoje, mais preparados para gerir o impacto da pandemia. Os especialistas vêem a Covid-19 evoluir de pandemia para endemia, o que significa que se manterá entre nós, mas com níveis mais previsíveis e geríveis. Em 2022, os actores do sector da saúde deverão manter-se alerta e flexíveis para lidar com os picos e vales dos casos e mortes por Covid-19 e outras doenças transmissíveis. Eis as tendências que irão marcar este ano, segundo a consultora Deloitte. Equidade As organizações de saúde estão na linha da frente a pedir equidade. Este conceito vai além da igualdade no acesso aos cuidados, tem que ver com a capacidade de cumprir com o potencial humano em todos os aspectos da saúde e do bem-estar, representando uma oportunidade de atingir um estado global de bem-estar clínico, mental, social, emocional, físico e espiritual, sendo influenciado não só pelos cuidados de saúde, mas também por factores sociais, económicos e ambientais. A equidade na saúde tem estado em foco, após os estudos terem demonstrado que a Covid-19 tem impactado desproporcionalmente os grupos historicamente marginalizados
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ou de rendimentos inferiores e que estes experienciam barreiras que levam a uma saúde mais pobre que a de outros grupos populacionais. Na verdade, esta conclusão não constitui novidade. Muitas destas barreiras são partilhadas, como as falhas estruturais nos sistemas de saúde. Em 2020, a pobreza extrema aumentou globalmente, pela primeira vez, em 20 anos, com a Covid-19 a exacerbar os problemas das alterações climáticas e dos conflitos geopolíticos. Cerca de 100 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza, como resultado da pandemia. Ao mesmo tempo, as alterações climáticas, particularmente severas nos países da África subsariana e do sudeste asiático, deverão conduzir entre 68 milhões a 132 milhões de pessoas a uma situação de pobreza, até 2030. Mais de 40% dos pobres em todo o mundo vive em economias afectadas pela fragilidade, por conflitos e pela violência. Menos de 50% dos africanos tem acesso a instalações de saúde modernas. Outra barreira partilhada são os preconceitos não intencionais. Tradições culturais intricadas, percepções e preconceitos em torno da idade, raça, género, orientação sexual, deficiência física e mental, entre outros, podem interferir com os esforços para promover cuidados de saúde mais equitativos. A confiança nas organizações de saúde é fundamental, uma vez que influencia a vontade de obter cuidados médicos cruciais,
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rastreios preventivos e cuidados de saúde mental. A confiança também está ligada à perceção dos cuidados recebidos. No entanto, está bem documentado que nem todas as comunidades sentem o mesmo nível de confiança nas organizações de saúde. A confiança continua a ser um dos principais obstáculos ao aumento das taxas de vacinação contra a Covid-19, especialmente entre certas etnias. De acordo com a Kaiser Family Foundation, nos Estados Unidos da América, 38% dos adultos não vacinados enumerou a desconfiança no Governo como uma das principais razões pelas quais não foi vacinado. Paralelamente, alguns estudos estimam que os factores económicos e ambientais (também conhecidos como determinantes sociais da saúde) podem representar até 80% dos resultados. Estes impulsionadores da saúde incluem factores como o rendimento, a localização da residência e a qualidade das redes de apoio social. A discriminação e o preconceito, incluindo o racismo, fazem frequentemente com que estes factores sejam negativos. Isto compromete a saúde, tanto através da criação de um ambiente e estilo de vida pouco saudáveis, como de desafios de acesso aos cuidados de saúde e à sua cobertura. Ambiente, sociedade e governança A comunidade de saúde pública apelidou as alterações climáticas como a maior ameaça do século XXI. Nenhum país ou continente é imune
aos impactos para a saúde do agravamento das alterações climáticas. O aquecimento global aumenta o risco de incêndios florestais, subida do nível do mar, calor extremo, mau tempo e secas. Estes factores podem ter um efeito directo na saúde da população e pressionar ainda mais as infraestruturas de cuidados de saúde. Por exemplo, o fumo dos incêndios florestais e a elevação dos níveis de pólen podem levar a doenças respiratórias ou piorar as condições de asma. O calor extremo e as secas, por sua vez, podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Os efeitos das alterações climáticas para a biodiversidade do planeta também representam riscos para o microbioma humano, potenciando alterações prejudiciais ao sistema imunitário e bem-estar mental. Também a poluição está a ser objeto de um escrutínio cada vez maior pelos seus impactos prejudiciais na saúde. De acordo com a OMS, a poluição contribui para 4,2 milhões de mortes prematuras em todo o mundo, todos os anos, com a região do Pacífico Ocidental entre as mais afectadas. O esforço de combate à poluição assumiu um perfil particularmente elevado na China, onde as autoridades dizem que os defeitos congénitos aumentaram 70%, entre 1996 e 2010. Mas os sistemas de saúde mundiais são responsáveis por 4% das emissões globais de dióxido de carbono, mais do que a aviação ou o transporte marítimo. Se o sector da saúde fosse um país, seria o quinto maior emissor de gases com efeito de estufa (GEE). As emissões provenientes directamente dos centros de saúde representam 17% da pegada mundial do sector. As emissões indirectas, provenientes da electricidade, vapor, arrefecimento e aquecimento, compreendem mais 12%. E a maior fatia - 71%- provém, principalmente, da cadeia de fornecimento de cuidados de saúde, a produção, transporte, utilização e eliminação de bens e serviços que
o sector consome. Equipar os administradores hospitalares, clínicos e pessoal de apoio com maior conhecimento e formação para compensar o impacto das alterações climáticas no ecossistema de saúde é, assim, determinante. Assim como as iniciativas, ao nível das instalações, para, por exemplo, reduzir e eliminar correctamente os resíduos clínicos e os equipamentos de protecção individual (EPI). No entanto, as organizações de saúde também precisam de associar-se a reguladores e outros grupos de interesse para abordar questões de maior envergadura. O sector tecnológico tem um papel fundamental na disponibilização de infraestruturas digitais e soluções que permitam descarbonizar o ecossistema dos cuidados de saúde. Por outro lado, as recentes crises de saúde, climáticas e políticas têm destacado e exacerbado os desafios da saúde mental em todo mundo. Em particular, a pandemia de Covid-19 trouxe à luz as fissuras e falhas no sistema global de saúde mental e nas instituições que o apoiam. As organizações de saúde pública alertaram para uma onda de depressão e ansiedade, transtorno de stress póstraumático e outros problemas de saúde mental, incitando a acções urgentes. Além dos impactos da Covid-19, vários estudos encontraram uma forte ligação entre o uso massivo das redes sociais e um risco acrescido de depressão, ansiedade, solidão, automutilação e, até, pensamentos suicidas. A saúde mental e comportamental está, assim, a subir na lista de prioridades. O custo humano é imenso: entre um quarto e metade da população mundial é afectado por um problema de saúde mental, em algum dado momento da sua vida. Cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio, todos os anos, o que significa aproximadamente uma morte a cada 40 segundos. O suicídio é a segunda causa de morte no mundo para pessoas entre os 15 e os 24 anos. Entre 2011 e 2030, prevê-se que a perda acumulada de produção económica, associada a questões de saúde mental, seja de 16,3 biliões de dólares, em todo o mundo. Os custos directos
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e indirectos da saúde mental são estimados em mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) global, mais do que os custos do cancro, diabetes e doenças respiratórias crónicas combinados. A pandemia concorrente de 2022 é da saúde mental. Existem obstáculos significativos para normalizar os cuidados em larga escala e, em muitas partes do mundo, a doença mental é estigmatizada e considerada vergonhosa. Embora tenha havido algumas mudanças de percepção durante a pandemia, e os governos de países tradicionalmente conservadores, como Singapura, Índia e China (os dois últimos países representam um terço do fardo global da doença mental), estejam a começar a lançar programas, muitas sociedades não entendem que a doença mental é como qualquer outra doença. Requer literacia em saúde para reconhecer sintomas em todas as idades, estratégias de prevenção estabelecidas em crianças em idade escolar primária, diagnóstico precoce e acesso atempado a tratamentos eficazes. Outro desafio para permitir programas de saúde mental eficazes é a persistente escassez de recursos humanos especializados. Os países de baixos rendimentos gastam, em média, apenas 0,5% dos seus orçamentos com a saúde mental. Convergência do modelo de transformação digital e prestação de cuidados
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A prestação de cuidados de saúde tem estado sob uma crescente pressão e escrutínio, numa altura em que os sistemas de saúde, em todo o mundo, se debatem com o aumento do número de pacientes, o esgotamento e a escassez de profissionais, as perturbações da cadeia de abastecimento, a falta de equipamentos e instalações insuficientes e/ou desactualizadas. As proibições de viagens estão a dificultar o recrutamento de pessoal estrangeiro, pelo que os governos têm vindo a recorrer a médicos e enfermeiros reformados e estudantes de medicina para ajudar a mitigar estas dificuldades. As preocupações com as infraestruturas incluem a disponibilidade de camas de cuidados intensivos, ventiladores e equipamento de protecção individual. Paradoxalmente, a recessão económica e os custos crescentes dos sistemas de saúde, derivados da pandemia, proporcionam a tempestade perfeita para forçar os sistemas de saúde a alterar a sua força de trabalho, os modelos de infraestruturas e de prestação de cuidados, para continuarem a cumprir metas de qualidade e acesso, mas a partir de uma base de custos reduzida. Uma solução reside na convergência do modelo de transformação digital e de prestação de cuidados de saúde, uma tendência que acelerou durante a
pandemia. As medidas de distanciamento social já obrigaram muitos a utilizarem tecnologia para consultas programadas em ambulatório. Os hospitais e sistemas de saúde estão a adoptar a computação em nuvem, o 5G, a inteligência artificial e a análise de dados para enfrentar os desafios actuais e construir digitalmente modelos de prestação de cuidados. Futuro da ciência médica A ciência médica está a ser transformada por descobertas científicas que irão avançar drasticamente na forma como diagnosticamos e tratamos diferentes doenças. Os avanços digitais, na nanomedicina, na genómica, na microbiometria, entre outros, estão a ocorrer a um ritmo sem precedentes, com base em estruturas transformadas de ensaios clínicos. A moldar o futuro da ciência médica está, ainda, a capacidade aumentada dos ecossistemas de saúde para a captura e análise de dados. As organizações estão a aplicar soluções virtuais, inteligência artificial e outras tecnologias para personalizar a medicina e permitir intervenções em tempo real. Nos últimos anos, assistimos a uma proliferação de produtos de medicina digital, software e hardware baseados em evidências que intervêm ao serviço da saúde. Os avanços na sequenciação genómica, por outro lado, podem permitir, por exemplo, a utilização de uma análise ao sangue para identificar vestígios de ADN cancerígeno e as mutações genéticas que o causam. Investigadores nos Estados Unidos e no Reino Unido usaram a sequenciação do genoma do coronavírus para entender como este está a mudar e, depois, basearem-se nesse conhecimento para melhorar as vacinas contra a Covid-19, para que possam responder melhor às variantes emergentes. Embora a investigação farmacológica tenha levado a muitos tratamentos que salvam vidas, é também um processo longo. As soluções ativadas pela inteligência artificial estão a transformá-lo e a permitir o desenvolvimento de tratamentos direccionados e mais precisos. No futuro, a medicina será mais personalizada, preditiva, preventiva e participativa. Saúde pública reimaginada É um facto: a pandemia de Covid-19 alterou a dinâmica da saúde pública. O âmbito e a persistência desta crise global expuseram as vulnerabilidades nos sistemas de saúde pública e afectaram a sua capacidade de detectar e responder eficazmente de uma forma multidimensional, que poderia ter atenuado o seu impacto. Apesar de alguns bons exemplos (Nova Zelândia e Coreia do
Sul, por exemplo), a gestão e o rastreio de contactos revelaram-se inadequados para a escala dos surtos iniciais e subsequentes da pandemia. Os profissionais de saúde pública foram colocados sob uma pressão significativa e prolongada, resultando em situações de esgotamento generalizado e de stress póstraumático, especialmente em países onde a escassez de profissionais já era um problema pré-pandemia. Ao mesmo tempo, a pandemia está a actuar como um catalisador para reimaginar o futuro da saúde pública: trata-se da saúde da população, não de um modelo individualista. A pandemia despertou os governos, as partes interessadas do sector e os próprios utentes para os desafios inerentes aos sistemas de saúde pública, gerando uma compreensão alargada de que só se alcançarão resultados drasticamente melhores se se proceder a mudanças sistémicas e se apostar na coordenação intersectorial. A pandemia provocou um reconhecimento crescente da necessidade de investir na saúde da população. Somos tão fortes quanto as nossas populações mais vulneráveis e a promoção, detecção e intervenção precoces são essenciais para prevenir, reduzir ou atrasar o aparecimento de doenças crónicas. Vários estudos sugerem que entre 30% e 55% dos resultados de saúde são afectados por factores sociais, económicos e ambientais. Estes determinantes sociais incluem o ambiente físico, a alimentação, as infraestruturas, a economia, a riqueza, o emprego, a educação, as conexões sociais e a segurança. A resposta eficaz aos desafios de saúde pública exigirá, assim, abordagens integradas em saúde, habitação, educação, transportes e emprego.
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REPORTAGEM ENTREVISTA REPORTAGEM
REPORTAG
KASSAI KASSAI KASSAI OO QUE ESPERAR QUE ESPERAR O QUE ESPERAR EM 2022? EM 2022? EM 2022?
PARAACEDER ACEDERAO AOKASSAI, KASSAI,VÁ VÁAAWWW.KASSAI.AO WWW.KASSAI.AONO NOSEU SEU PARA
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REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
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EM 2021, O MINISTÉRIO DA SAÚDE FEZ O LANÇAMENTO OFICIAL DA PLATAFORMA KASSAI, RECONHECENDO-A E INDICANDO-A PARA USO, A NÍVEL NACIONAL, COMO PARTE DA FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. O DESENVOLVIMENTO DESTA PLATAFORMA FOI POSSÍVEL COM O FINANCIAMENTO DA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID)/INICIATIVA PRESIDENCIAL CONTRA A MALÁRIA (PMI) E COM A EXECUÇÃO DA PSI ANGOLA, EM PARCERIA COM A APPY PEOPLE.
O
primeiro ano de vida do Kassai é marcado por um investimento aprofundado na área da malária. Foram cinco os cursos lançados e realizados por milhares de profissionais de saúde em Angola. 4.061 certificados de aprovação foram emitidos, entre janeiro e dezembro de 2021, com o curso de Malária – Visão Geral a ser o mais frequentado, com 1.345 profissionais de saúde a obterem uma nota igual ou superior a 80%. Os cursos de Malária em Crianças e de Malária em Grávidas ocupam os segundo e terceiro lugares, quanto ao número de certificados emitidos, com 1.100 e 1.012 profissionais de saúde aprovados, respectivamente. O Kassai conta actualmente com 3.177 profissionais de saúde inscritos e a frequentar os seus cursos, registando-se 9.562 inscrições em curso – isto porque cada profissional de saúde se inscreve e completa vários. Com o apoio da USAID/PMI, o Programa Nacional de Controlo da Malária iniciou a implementação do Kassai priorizando seis províncias: Cuanza Norte, Malanje, Lunda Sul, Lunda Norte, Zaire e Uíge. Destas seis províncias, destaque para as de Lunda Sul e Uíge que registaram, cada uma, mais de 600 profissionais de saúde aprovados em cursos de malária no Kassai (Lunda Sul 625 e Uíge 607). Apesar do esforço na priorização das províncias mencionadas, é possível perceber, pela análise demográfica dos profissionais de saúde inscritos no Kassai, que esta plataforma é já uma realidade, a nível nacional, registando inscrições provenientes de 16 das 18 províncias de Angola. Crescimento do Kassai em 2022 Em 2022, o Kassai irá continuar a crescer. Não só em número de inscritos e de certificados emitidos, mas também em termos da oferta curricular, pretendendo-se que tenha uma relevância crescente e um portfólio de cursos cada vez mais diverso.
O mês de Fevereiro marca a expansão do Kassai para duas áreas de saúde, além da malária. O curso de Informação sobre a Vacina contra a Covid-19, desenvolvido em conjunto com o Departamento de Higiene e Vigilância Epidemiológica da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), será uma realidade já no início do mês. Este curso irá permitir aos profissionais de saúde uma visão geral sobre a vacinação contra a Covid-19, incluindo a segurança e eficácia das vacinas, a oferta disponível em Angola, a informação e comunicação sobre esta vacina, incluindo mitos e factos, entre outros temas. Por sua vez, o curso sobre o Novo Caderno de Saúde - Materno Infantil (CSMI) foi desenvolvido com o apoio da Agência de Cooperação Internacional do Japão – JICA. A equipa do Kassai trabalhou conjuntamente com o Departamento de Cuidados Primários de Saúde/DNSP e com a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola (AGOA) para o desenvolvimento e validação de conteúdos. O CSMI é uma ferramenta valiosa na prestação de cuidados de saúde à grávida e ao bebé, desde a gravidez até aos cuidados em puericultura. Integra, ainda, várias áreas de saúde importantes e determinantes para reduzir a mortalidade materno-infantil, como, por exemplo, a prevenção da malária na gravidez, os cuidados neonatais, a vacinação ou o planeamento familiar para garantir o espaçamento recomendado entre gravidezes. Este curso estará disponível no Kassai também no início do mês de Fevereiro. A área da saúde sexual e reprodutiva terá um crescimento substancial, em 2022. Com o financiamento da USAID, e em conjunto com o Departamento de Cuidados Primários de Saúde/ DNSP e a AGOA, vários cursos estão em fase final de desenvolvimento, com previsão de estarem disponíveis nos próximos meses: Contracepção Oral Combinada, Contracepção Oral apenas com Progesterona, Contracepção de Emergência, Aconselhamento para a Escolha Informada e Planeamento Familiar – Visão Geral são alguns dos cursos a serem ultimados e que serão disponibilizados nos próximos meses. Mais de 14 mil horas de formação Com o apoio da UNITEL, toda a plataforma é acessível a custo zero. Basta aceder a www.kassai.ao e, mesmo sem saldo de dados, o formando consegue aceder à plataforma e realizar a sua formação. Em 2021, formandos no Kassai investiram mais de 14.600 horas de estudo nos cursos, usufruindo do acesso gratuito à Internet para aceder e usar a plataforma. A oferta de cursos vai crescer e cada vez mais cursos vão estar disponíveis e à distância de apenas um clique. Já conhece o Kassai? Vá a www.kassai.ao e inicie a sua viagem nesta corrente de conhecimento.
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TEMA ENTREVISTA DE CAPA
“O DOENTE HEMOFÍLICO TEM, EM ANGOLA, UMA VIDA DIFÍCIL” 20 SAÚDE
prevalente em Angola, Anemia de Célulasa perda de sanguíneos, as quaisa visam a estancar Falciformes, que, muitos deles, não sangue. Ase acresce etapas da hemóstase são, sucessivamente, sãovasoconstrição diagnosticados, porque implicam estudosconstituição de (mecanismo vascular), coagulação que de nãoplaquetas estão disponíveis na maioriae de rolhões (fase plaquetária) dosgelificação laboratóriosdo do sangue, territórioconvertendo-o nacional. Na prática, num só se identifica a doença em Luanda, onde o o fluxo coágulo (coagulação), de forma a estancar Hospital Pediátrico faz o seguimento de cerca sanguíneo e colmatar as brechas dos vasos.deEstes três 100mecanismos crianças e jovens, a maioria de Luanda, actuam sinergicamente paramas atingir a também de algumas províncias, como o Huambo. hemóstase. MasAssesuas fizermos as histórias familiares, perturbações podem associar-se em várias detectamos referência deuma casostem da uma mesma e doenças, acontudo, cada expressão de anteriores gerações que tinham um quadro clínica própria: Purpuras Vasculares (por deficit quedadeve corresponder sequelas de Hemofilia. parede vascular),aPurpuras Trombocitopénicas Esta(por falta de percepção e de diagnóstico torna a(por baixa das plaquetas) e Coagulopatias doença negligenciada pelaCoagulação sociedade, -pelos deficit de Factores de FC). meios Dr. Luís Bernardino de informação e, até mesmo,ao pelas autoridades. As hemofilias pertencem grupo das coagulopatias, Médico pela licenciado pela Universidade Médico licenciado Universidade de Lisboa. Especialista Ainda dedicada à Hemofilia em não que há há uma deficitárea de um dos cerca de duas no dezenas de Lisboa; Especialidade em Pediatria, em Pediatria, em Glasgow, na Escócia. Ex-docente/Chefe Glasgow; Ex-Docente/Chefe do de Medicina do Departamento de Pediatria da Faculdade programa das Doenças Não Infecciosas MINSA. face de FC existentes no sangue e que sãodoactivados Departamento de Pediatria da Faculdade da Universidade Agostinho Neto. Ex-director do Hospital Convém, ainda, acentuar sendo umade doença a um traumatismo. Doque, ponto de vista prevalência de Medicina da Universidade Agostinho Pediátrico de Luanda. do sexo masculino,asashemofilias mulheres que portadoras e importância, nos interessam são Neto; Ex-Director do Hospital Pediátrico de Luanda podem ter tendências hemorrágicas háe a Hemofilia B a Hemofilia A (deficit do Factor eVIII) uma(deficit doença apresentação semelhante à docom Factor IX). Hemofilia, a Doença de Von Wildebrand, que atinge sexo feminino. EmoAngola, qual a situação epidemiológica? Não há conhecimento seguro da prevalência AS DOENÇAS RARAS SÃO Actualmente, queterritório opçõesnacional, terapêuticas da doença, em porque a sua CARACTERIZADAS POR AMPLA DE A HEMOFILIA REFERE-SE A UMA UM CONJUNTO existentes no nosso país são maisfazer-se eficazes confirmação laboratorial só pode em DIVERSIDADE DE SINAIS E HEREDITÁRIOS, SINTOMAS, DISTÚRBIOS DE COAGULAÇÃO para os doentes? laboratórios com tecnologias para coagulação. VARIAM NÃO SÓANOMALIA DE DOENÇA PARA NOSQUE QUAIS EXISTE UMA na administração Além terapêutica disso, sendoconsiste uma doença pouco frequente, DOENÇA, COMO TAMBÉM DE PERMANENTE NO MECANISMO DEPESSOA COAGULAÇÃO A opção endovenosa factores de coagulação (FC) emque passa, pordos vezes, desapercebida aos clínicos PARA PESSOA ACOMETIDA PELA DO SANGUE. O PROFESSOR LUÍS BERNARDINO falta, VIII ou IX, doentes extraídosque do sangram. plasma de pessoas lidam com MESMADESTE CONDIÇÃO. EXISTEM VÁRIAS FALA-NOS DISTÚRBIO E DA SITUAÇÃO normais ou produzidos por bactérias em cultura Por essa razão, os casos identificados em Angola são DOENÇAS RARAS, NOMEADAMENTE, EPIDEMIOLÓGICA DE ANGOLA. de tecidos (recombinantes). pouco mais de uma centena, todos em Luanda, no A HEMOFILIA QUE AFECTA MUITAS Há Hospital outros medicamentos, como um agente Pediátrico David Bernardino (três quartos PESSOAS NO NOSSO PAÍS. fibrinolítico, o Ácido Tranexâmico a referem-se a Hemofilia A e umequarto a Hemofilia Desmopressina, que podem ser úteis, mas nãoe de outras B). Estes doentes são oriundos de Luanda estão facilmente disponíveis. províncias, como Huambo, Malange e Benguela. Os Contudo, próprios FC VIII e IX, devido aospela seusOrganização elevados as estimativas feitas omo é que a Hemofilia impacta a nossa preços, faltam frequência hospitaismundial, Mundial de com Saúde (OMS) nanos população sociedade? públicos. Ultimamente, WFH (Federação que apontam para oanascimento de umMundial doente com Estima-se que a Hemofilia A afecte uma de Hemofilia) que têm sidoe de Hemofilia Atem porfeito cadadoações 10 mil nados vivos um com em cada cinco mil crianças nascidas do sexo grande ajuda.B por cada 25 mil, permitem projectar, para Hemofilia masculino e a Hemofilia B um em cada 25 mil O maior progresso recente, em termos uma população de 30 milhões, que édea de Angola, que rapazes. Portanto, deverá haver em Angola, tratamento, foi o uso umdoentes anticorpo possam existir trêsdemil commonoclonal Hemofilia A e aproximadamente, três mil doentes de Hemofilia - EMICIZUMAB - que imita 600 com Hemofilia B. a acção do factor VIII A e 600 de Hemofilia B. Não são os números na cascata da coagulação e permite tratar os que se encontram na outra doença hereditária doentes que criaram contra factor. O nosso sangue anticorpos é composto por este diferentes elementos. Qual é a importância dos factores de coagulação nesta patologia e como é que actuam? Os FC, nomeadamente VIII e IX, são produzidos pelo SAÚDE fígado e circulam no plasma sob forma inactivada, até que um traumatismo os torne activos através da cascata da coagulação. A concentração normal do uando falamos em Hemofilia, a que tipo de FVIII é de 100U/dl ou 100%. patologia nos referimos? Nos doentes, a programação genética determina A Hemofilia pertence ao grupo das doenças de níveis mais baixos, variáveis, de FVIII, dando lugar a deficit da hemóstase, caracterizadas por hemorragias diferentes graus de gravidade da doença: uma baixa frequentes a nível da pele, das mucosas e dos orgãos até 40% não tem grandes consequências clínicas; se profundos, que podem ser importantes e, mesmo, mortais. o FVIII baixar até 5%, trata-se de uma hemofilia leve, A hemóstase é o conjunto de acções desencadeadas no onde pode haver hemorragias anormais em cirurgias organismo por um traumatismo com ruptura dos vasos
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ou grandes traumatismo; entre 5 e 1UI/dl, estamos na presença de uma hemofilia moderada, em que há hemorragias espontâneas e sangramentos prolongados com traumatismos menores; e com valores de FVIII<1 U/ dl, trata-se de uma hemofilia grave, com hemorragias espontâneas nos músculos e articulações, com perigo de vida e sequelas osteoarticulares graves. Ser doente portador de Hemofilia é complicado no nosso país? Permita-me precisar a terminologia: em linguagem corrente, “o portador de doença é doente”, mas em medicina e genética, reserva-se a designação de “portador” para alguém não doente, mas que pode transmitir a doença, seja porque (em infecciologia) alberga o germe transmissor da doença, sendo assintomático, seja porque (em genética) tem um gene transmissor da doença que é recessivo e, portanto, impedido de se manifestar nele pelo outro gene, que é normal e dominante, mas que, transmitido a um descendente, que recebe do outro progenitor também o gene recessivo, reúne os dois genes da doença e cria um doente. Direi, portanto, que o doente hemofílico (não o portador, que é assintomático, até certo ponto) tem, em Angola, uma vida difícil, porque não existe um serviço abrangente de diagnóstico, tratamento atempado e, de preferência, profilático, seguimento clínico, cuidados domiciliares, fisioterapia e reabilitação ortopédica. Presentemente, há apenas um serviço de administração dos FC centralizado, a título de urgência, num hospital da capital, que é feita a pedido do doente. Não há consultas dedicadas à doença, não há fisioterapeutas treinados e não há apoio ortopédico. A maioria dos doentes é tratada tardiamente e apresenta sequelas articulares e atrofias musculares, mais ou menos, incapacitantes. A Hemofilia é uma doença hereditária. Qual é o padrão genético, isto é, como se transmite esta doença? Podemos sintetizar assim: o gene da doença localiza-se no cromossoma X, que, na mãe, é controlado pelo gene normal do outro cromossoma X e, portanto, a doença não se manifesta. Contudo, no homem, o par do cromossoma X é o cromossoma Y, que é mais pequeno e não tem um gene
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“O DOENTE HEMOFÍLICO (NÃO O PORTADOR, QUE É ASSINTOMÁTICO, ATÉ CERTO PONTO) TEM, EM ANGOLA, UMA VIDA DIFÍCIL, PORQUE NÃO EXISTE UM SERVIÇO ABRANGENTE DE DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO ATEMPADO E, DE PREFERÊNCIA, PROFILÁTICO, SEGUIMENTO CLÍNICO, CUIDADOS DOMICILIARES, FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO ORTOPÉDICA”
normal para dominar o da doença no cromossoma X. Portanto, neste caso, um gene no cromossoma X herdado pela mãe é suficiente para que a doença se manifeste. Na grande maioria das situações, a mãe portadora tem 50% de filhas portadoras e 50% de filhos doentes. A mãe portadora é, em geral, assintomática, mas pode ter uma taxa de FC abaixo de 40% e alguma tendência hemorrágica, por exemplo, nas grandes cirurgias. Um pai doente terá todos os seus filhos saudáveis e todas as sua filhas doentes. Em situações deste tipo, o aconselhamento genético tem um papel limitado, mas o diagnóstico pré-natal pode evitar, nos casais de risco, o nascimento de filhos doentes. Estão a ser desenvolvidas tecnologias genéticas que permitem inserir o gene normal nos doentes e corrigir a doença. A Liga dos Amigos dos Doentes Hematológicos de Angola (LADHA) tem um papel fundamental para os doentes. Quais são os seus principais objectivos? A LADHA abarca duas doenças muito importantes, em Angola, a Hemofilia e a Anemia de Células Falciforme, e procura reunir os esforços e contribuições das famílias dos doentes, dos profissionais de saúde, do Ministério da Saúde e da sociedade civil e das organizações internacionais, no sentido de tornar a doença mais visível junto do público, em geral, e junto dos profissionais e promover o apoio técnico e institucional, no sentido de assegurar uma assistência moderna, integral e reabilitadora a todos os doentes e suas famílias. A LADHA já foi reconhecida pela Federação Mundial de Hemofilia (WFH, pela sua sigla em inglês), da qual tem recebido auxílio logístico e formativo. Presentemente, a associação tem como único suporte financeiro o pagamento de quotas dos seus associados e tem sido, sobretudo, por iniciativas da sociedade civil, e de fundações como a Novo Nordisk, que tem podido executar certas acções.
NOVA TERAPIA PARA A HEMOFILIA
MAIS PROTECÇÃO, MAIS LIBERDADE.
O Hemlibra é uma inovadora solução terapêutica para a hemofilia. Com uma toma semanal ou a cada duas semanas, Hemlibra demonstrou permanecer no corpo durante muito mais tempo e alcançou um significativo aumento de eficácia em relação a outras terapias, tanto na profilaxia de hemorragias, como na diminuição do número de hemorragias que carecem de tratamento. Está nas suas mãos dar uma melhor protecção e mais liberdade a todos Angolanos que sofrem de hemofilia.
91%
M-AO-00000073, JAN2022
dos doentes com zero hemorragias
>50%
dos doentes com melhoria de saúde física
68%
menos de hemorragias vs FVIII em profilaxia
97%
dos doentes pediátricos com zero hemorragias espontâneas
Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas. As suspeitas de reações adversas poderão ser notificadas à Roche (telefone: 214257000; email: amadora.farmacovigilancia@roche.com). Medicamento de receita médica restrita. Roche Farmacêutica Química, Lda. | Estrada Nacional 249-1, 2720-413, Amadora | Tel.: +351 214 257 000 Fax: +351 214 186 677 | Cont. nº 500 233 810 | africa.palop@roche.com | www.roche.com | www.palopmed.com
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OPINIÃO ENTREVISTA
DIÁRIO DE UM HEMOFÍLICO 24 SAÚDE
Kaúnda Daniel Maneco da Gama Estudante do curso de Engenharia Informática pela Universidade de Luanda. Vice-presidente da Liga dos Amigos dos Doentes Hematológicos de Angola
DE ACORDO COM A MINHA MÃE, OS SINTOMAS DE HEMOFILIA SURGIRAM QUANDO TINHA, APROXIMADAMENTE, UM ANO E SEIS MESES. DE LÁ PARA CÁ, FORAM MAIS AS IDAS AOS HOSPITAIS DO QUE QUALQUER OUTRA COISA. MESMO SENDO JÁ UMA DOENÇA DE QUE A MAIOR PARTE DOS MEUS IRMÃOS MAIS VELHOS SÃO PORTADORES, AINDA REPRESENTA UM TORMENTO PARA MINHA FAMÍLIA, EM ESPECIAL, PARA A MINHA MÃE E PARA A SUA IRMÃ. VÁRIAS FORAM AS VEZES EM QUE TIVE QUE FAZER TRANSFUSÕES, PORQUE O SANGUE NÃO PARAVA DE JORRAR.
A
gengiva é, normalmente, o local que não pára de jorrar quando se trata de uma hemorragia externa. Para as hemorragias internas, os joelhos e os tornozelos são o local “preferido”. Sem nenhum motivo visível, o sangue sai sem parar. Às vezes, deitava-me bem e, durante a noite, quando despertava, os lençóis estavam cheios de sangue. Parecia que tinha sido baleado ou esfaqueado. Sempre fiz várias transfusões de sangue e, mesmo assim, este não parava de jorrar. O desconhecimento da hemofilia levou-me aos quimbandas e às igrejas, numa tentativa de solucionar a doença. Houve uma época em que cheguei mesmo a “fixar residência” no hospital e fui apelidado por Maria Pia, porque estava constantemente lá. A Hemofilia danificou totalmente o meu joelho direito, que está tão deformado que quase não olho para ele, por vergonha. Tenho várias sequelas articulares, tal como o caminhar deformado, que gera em mim
um conflito interno. Mas mais doloroso ainda é caminhar, porque, a cada passo que dou, sinto dor na articulação. Durante quase toda minha vida, não aceitei a doença e, fruto disso, desde a infância à fase adulta, senti vergonha de ir ao hospital e de dizer aos mais próximos o que realmente tinha. Como consequência, fiz coisas que sabia que trariam consequências, mais tarde. Houve vezes em que preferi morrer e já fui, até, mais longe, ao ponto de pensar em tirar a própria vida. Privei-me de relacionamentos com o sexo oposto, por causa da doença, não suportava a ideia de outra pessoa ver-me doente. Mas há sensivelmente quatro anos, passei a olhar para a Hemofilia de outra perspectiva, tudo graças ao meu irmão, que me incentivou a fazer parte da Liga dos Amigos dos Doentes Hematológicos de Angola, órgão que luta por uma melhor assistência médica aos hemofílicos. Confesso que está a ser uma experiência muito boa, procuro ajudar os novos pacientes a entenderem a Hemofilia e como lidar com a doença, o que devem e não devem fazer e que é possível viver com a Hemofilia, que não é uma doença do fim do mundo. Por sermos africanos, temos a tendência de ir aos quimbandas para procurar uma solução milagrosa, mas na Liga oferece-se ajuda. No passado, não tinha ninguém que me fizesse entender a doença e isso foi frustrante para mim. Por isso, procuro que se advogue a doença, a nível das entidades governamentais, para que haja medicação eficaz. É possível viver uma vida saudável e, com a medicação correcta, as crises diminuem significativamente.
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PERSPECTIVA
A REABILITAÇÃO NA HEMOFILIA A HEMOFILIA É UMA DOENÇA CAUSADA PELA DEFICIÊNCIA FUNCIONAL DO FACTOR DE COAGULAÇÃO ESPECÍFICO, LEVANDO A UMA ANORMALIDADE NO MECANISMO DE COAGULAÇÃO (HEREDITÁRIA, RECESSIVA E LIGADA AO SEXO). MANIFESTA-SE NO HOMEM E É TRANSMITIDA PELA MULHER. É CARACTERIZADA POR EPISÓDIOS HEMORRÁGICOS, NA MAIOR PARTE, NO SISTEMA ARTICULAR.
Dra. Marisa Sousa Licenciada em Medicina/Clínica Geral pela UAN (Universidade Agostinho Neto – Angola); especialista em Medicina Física e Reabilitação/Fisiatria pela USP (Universidade de São Paulo – Brasil); especialista em Terapia da Dor e Acupuntura pela USP – Brasil. Membro do Colégio de Especialidade de Medicina Física e Reabilitação; membro do grupo de treinamento da OMS em Serviços para Cadeira de Rodas pela USP – Rede Lucy Montoro – Brasil; pós- graduada em Medicina do Trabalho pela faculdade BWS São Paulo - Brasil
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árias são as manifestações da Hemofilia, com distintos graus de gravidade Pode ser leve e ocorre devido à realização de procedimentos, como cirurgias e tratamentos dentários, moderada, devido a traumas menores, como quedas de baixo impacto, entorses, entre outros, ou grave, com hemorragias espontâneas, hemartrose e hemorragias musculares. Quando falamos em reabilitação, o quadro clínico deve ser avaliado por vários especialistas. Na área da reabilitação, o médico fisiatra faz a anamnese para obter informações clínicas sobre dor, aumento de volume, incapacidade funcional, lesões musculares e nervosas. Não se deve puncionar os hematomas. Pode haver acometimento estrito do subcutâneo, por exemplo, nas regiões com menos
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músculos, como o osso frontal, occipital e região anterior da tíbia, e acometimento articular mais frequente joelho (na maior parte das vezes), cotovelo, tornozelo, ombro e quadril. A avaliação passa, ainda, pela solicitação e realização de exames radiológicos, ecográficos e ENMG. O diagnóstico da artropatia hemofílica é realizado tendo em conta os vários graus: • Grau 1 – Sinovite transitória (sem sequelas por hemartrose) • Grau 2 – Sinovite permanente (tumefação articular, espessamento sinovial) • Grau 3 – Artropatia (deformidade articular) • Grau 4 – Anquilose (fibrosa ou óssea) A reabilitação é dividida em três fases: • 1.ª fase – atenção precoce ao paciente hemofílico: profilaxia da deformidade, manutenção do trofismo muscular e amplitude de movimento articular. Deve-se evitar vestuário apertado e o ortostatismo precoce.
Deve-se acolchoar superfícies resistentes, para evitar compressões, e apostar no repouso, durante a presença de lesão. Os familiares e cuidadores devem ser orientados para o controlo e manutenção do tratamento. • 2.ª fase – cuidados fisiátricos durante o episódio hemorrágico: tratamento da artropatia hemofílica por alteração da hemodinâmica articular e instabilidade. Prescrição de medicação analgésica, anti-inflamatória e lubrificante articular. • 3.ª fase – tratamento reabilitador, para evitar as deformidades: exercícios terapêuticos para distensão e impotência funcional. Deve-se prevenir deformidades, retracções e assimetrias. Caso seja necessário, procede-se à prescrição de ortoses e ou meios auxiliares de locomoção. O paciente deve manter o acompanhamento contínuo, em simultâneo, com a hematologia.
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PERSPECTIVA
A HEMOFILIA E O CANCRO OCULAR VÁRIAS CONDIÇÕES PATOLÓGICAS PODEM AFECTAR O NOSSO CORPO, INCLUSIVAMENTE OS NOSSOS OLHOS. APESAR DE, MUITAS VEZES, SEREM PATOLOGIAS RARAS, QUANDO ATINGEM OS OLHOS, PODEM AFECTAR E DANIFICAR GRAVEMENTE A NOSSA VISÃO, ATÉ DE FORMA IRREVERSÍVEL. NESTE ARTIGO, ABORDAMOS DUAS DELAS: A HEMOFILIA E O CANCRO OCULAR.
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Hemofilia é a deficiência hereditária mais comum e mais grave do factor de coagulação. Ocorre em 1:5-10.000 homens, num padrão de herança ligado ao cromossoma X, sem predilecção racial. Existem vários subtipos de hemofilias, 85% dos quais são de deficiência de factor VIII ou Hemofilia tipo A. Contudo, clinicamente, as hemofilias são praticamente idênticas e manifestam-se da mesma forma, que é a coagulação retardada ou o sangramento prolongado numa área de distúrbio vascular. A semelhança clínica de todas as hemofilias deve-se à semelhança nas suas fisiopatologias, afectando a mesma via de coagulação do corpo humano, porém, em pontos diferentes para cada tipo. Na via de coagulação, a formação de trombina e fibrina é o parâmetro final necessário para uma coagulação eficaz. Cada etapa requer um factor diferente para completar a sua activação. A deficiência de um factor, numa determinada etapa, identifica o tipo de Hemofilia presente e impede a conclusão de todo o caminho. Então, manifesta-se como sangramento prolongado, com a manifestação clínica característica das hemofilias a ser as hemartroses ou sangramento das articulações. O sangramento intramuscular também é comum, especificamente, o iliopsoas. Outros sangramentos, que incluem sangramento ocular e trauma, compreendem apenas 5% dos casos relatados de apresentação inicial de Hemofilia.
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Dr. Djalme Fonseca Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika
A hemorragia ocular pode ser de causas traumáticas e não traumáticas. Numa metaanálise de dados de 2014 de relatórios publicados anteriormente, a hemorragia orbitária não traumática foi atribuída a distúrbios hemorrágicos inerentes em apenas 24/124, ou 19%, dos casos relatados na literatura nos últimos 30 anos. Desses 24 casos, apenas 1/24, ou 0,8% do total, foi devido à Hemofilia, mostrando a raridade do sangramento ocular não traumático como apresentação de Hemofilia. A hemorragia orbitária traumática é mais comum. No entanto, o sangramento de trauma ocular, como a única manifestação inicial de uma condição de Hemofilia subjacente, é raro. Pacientes hemofílicos, geralmente, teriam de apresentar outras formas de episódios prévios de sangramento. Complicações Como a maioria desses pacientes é submetida a cirurgias ou intervenções com a condição
hemofílica geralmente negligenciada/não diagnosticada, devido à avaliação pré-operatória incompleta, podem surgir complicações. Alguns casos de sangramento ocular também são, de um modo geral, facilmente descartados ou tratados rotineiramente, no entanto, tais apresentações, num paciente hemofílico, podem ter sérias implicações. Deve-se prestar atenção a uma diminuição da acuidade visual desproporcional ao trauma, de modo que o oftalmologista deve ficar alerta para a presença de uma condição subjacente mais grave. O sangramento para a órbita ocorre dentro de um espaço pouco expansível, fazendo com que o globo se proponha anteriormente, agindo como um tampão para selar o
sangramento. Num paciente hemofílico, pode ocorrer sangramento contínuo, que não é visto no exame macroscópico. A hemorragia subconjuntival é outro achado clínico também comumente sinalizado, com apenas a compressa fria como tratamento. Mas, caso se apresente num paciente hemofílico, pode realmente evoluir para hemorragia peribulbar total dentro de 24 horas. Todos estes casos levam a uma diminuição da visão, devido à neuropatia óptica compressiva, hemorragia da bainha do nervo óptico, oclusão da veia/artéria da retina ou aumento da pressão intraocular, possivelmente em curso num paciente, mas não adequadamente verificada. Se não tratada ou não diagnosticada, esta condição pode causar não apenas danos permanentes ao olho, mas choque hipovolémico, com risco de vida, especialmente se o dano à integridade da vasculatura for grave, como em casos de trauma, ou se houver manipulação cirúrgica. Diagnóstico A Hemofilia é uma condição importante a ser considerada ou descartada em pacientes que apresentem qualquer forma de sangramento inesperado. A hemorragia ocular ou orbital, embora bastante comum, pode realmente ser um sinal de uma condição contínua e mais emergente, portanto, nunca deve ser tomada de ânimo leve. O diagnóstico da Hemofilia e a atenção médica são mais vitais nesses pacientes que serão submetidos a qualquer tipo de cirurgia, ocular ou não, especialmente em crianças. Os distúrbios
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hemorrágicos hereditários são condições potencialmente fatais, que são subdiagnosticadas, e podem representar problemas para o oftalmologista. Sintomas oculares aparentemente frequentes podem, na verdade, ser uma manifestação rara de Hemofilia. Portanto, os oftalmologistas devem estar mais vigilantes. Dado o número limitado de relatos publicados sobre hemorragia ocular em hemofílicos, o acompanhamento desses pacientes deve ser sempre individualizado, com ênfase na monitorização e acompanhamento mais próximos dos mesmos. Em resumo, embora a Hemofilia raramente afete os olhos, quando acontece, pode haver vários efeitos colaterais negativos, como sangramento na conjuntiva, reposicionamento anormal dos olhos ou sangramento atrás do olho. Quando não tratada imediatamente, pode levar à perda de visão. Cancro Outro dos temas da nossa edição relaciona-se com o cancro. Tal como resto do corpo, os nossos olhos também podem ser afectados. O cancro no olho é um termo geral usado para descrever muitos tipos de tumores, que podem começar em várias partes do olho. Ocorrem quando células saudáveis, dentro ou ao redor do olho, mudam e crescem descontroladamente, formando uma massa chamada de tumor. Um tumor pode ser benigno ou canceroso. Um tumor benigno significa que pode crescer, mas não se espalhará. Um tumor canceroso é maligno, o que significa que poderá crescer e se espalhar para outras partes do corpo. O cancro que se forma no globo ocular é chamado de malignidade intraocular (dentro do olho). O olho é o órgão que colecta a luz e envia mensagens ao cérebro para formar uma imagem. As três partes principais do olho são: • Globo ocular • Órbita • Estruturas anexas (acessórias), como a pálpebra e as glândulas lacrimais. A parte externa do olho é composta pela esclera, retina e úvea. A esclera é a parede externa do globo ocular. A retina é uma estrutura de camadas finas que reveste o globo ocular e envia informações do olho para o cérebro. A úvea nutre o olho. Tanto a retina quanto a úvea contêm vasos sanguíneos. A úvea consiste em: • Íris: parte colorida do olho, que controla a quantidade de luz que entra • Corpo ciliar: tecido muscular que produz o líquido aquoso no olho e ajuda a focar • Coroide: camada de tecido abaixo da retina, que contém tecido conjuntivo e melanócitos, que são células pigmentadas (coloridas), e nutre o interior do olho. A coroide é o local mais comum para um tumor.
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Tipos de cancro intraocular O cancro intraocular mais comum em adultos são as metástases uveais, que é um cancro que se espalhou para a úvea a partir de outro local do corpo. Isso é chamado de cancro secundário. Este artigo versa sobre cancro intraocular primário, que significa que o tumor começou no olho. O melanoma é o tipo mais comum em adultos. Começa quando as células, chamadas melanócitos, crescem descontroladamente. O melanoma intraocular também é chamado de melanoma uveal. Outros tipos menos comuns de tumor intraocular incluem: Linfoma intraocular: um linfoma que começa no globo ocular. Esta condição é rara e pode ser difícil para os médicos diagnosticarem. Muitos médicos consideram o linfoma intraocular um tipo de linfoma do sistema nervoso central. A maioria dos linfomas intraoculares são linfomas não Hodgkin. • Retinoblastoma: uma forma rara de cancro ocular infantil. • Hemangioma: um tumor benigno da coroide e da retina, que começa nos vasos sanguíneos. •
Outros cancros raros do olho incluem: • Melanoma conjuntival: um tumor da conjuntiva, que é uma membrana que reveste a pálpebra e o globo ocular. Se não for tratado, pode-se espalhar para os gânglios linfáticos, que são pequenos órgãos em forma de feijão, localizados em todo o corpo, que combatem as doenças. Um melanoma conjuntival tende a repetir-se (voltar após o tratamento) na superfície do olho e parece-se com manchas escuras. Os médicos, geralmente, realizam uma biópsia num local que pareça ser um melanoma conjuntival. Uma biópsia é a remoção de uma amostra do tecido para exame ao microscópio. • Carcinoma da pálpebra (células basais ou escamosas): uma variação do cancro de pele. Este tumor pode ser removido cirurgicamente e, geralmente, não é perigoso se for tratado precocemente. • Tumor da glândula lacrimal: um tumor benigno ou maligno das glândulas que produzem lágrimas. Conforme verificámos ao longo deste artigo, várias condições patológicas podem afectar o nosso corpo, inclusivamente os nossos olhos. Apesar de, muitas vezes, serem patologias raras, quando atingem os olhos, podem afectar e danificar gravemente a nossa visão, de forma irreversível.
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ENTREVISTA
DIA MUNDIAL DO CANCRO
“TODA A INOVAÇÃO SÓ FAZ SENTIDO SE ESTIVER DISPONÍVEL E CHEGAR AOS DOENTES QUE DELA NECESSITAM” DE ACORDO COM AS ESTIMATIVAS DA ORGANIZAÇÃO MUNDAL DE SAÚDE (OMS), NOS PRÓXIMOS 20 ANOS, HAVERÁ 10 MILHÕES DE MORTES DE CAUSA ONCOLÓGICA E 15 MILHÕES DE NOVOS CASOS DE CANCRO POR ANO. A ROCHE TEM TIDO UM PAPEL FUNDAMENTAL NESTA ÁREA. O DR. GONÇALO RODEIA MARQUES, RESPONSÁVEL PELA ROCHE PARA OS PALOP, FALA-NOS SOBRE OS DESENVOLVIMENTOS FEITOS POR ESTE LABORATÓRIO DE REFERÊNCIA NA ÁREA ONCOLÓGICA.
Dr. Gonçalo Rodeia Marques Responsável pela Roche Farmacêutica para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa - PALOP. Farmacêutico de formação, com licenciatura pela Universidade de Lisboa, MBA e Mestrado em Gestão pela ISG - Business & Economics School, dedicou os últimos 10 anos à área da saúde nos mercados africanos, nomeadamente, na direcção de empresas na área logística, no retalho farmacêutico e, mais recentemente, na indústria farmacêutica. Apaixonado pelo impacto que o desenvolvimento do sector da saúde gera para a sociedade em geral, e para os doentes em particular, a sua actividade foca-se, hoje, na dinamização de parcerias estruturantes com os governos, ministérios e instituições nacionais e internacionais a actuar nestes países, com vista à melhoria dos cuidados de saúde das populações.
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abemos que uma das principais áreas de interesse da Roche é a oncológica. Em Angola, este também é um dos focos? Em cerca de 125 anos de história, que aliás estamos a celebrar este ano, a Roche tem vindo a investir constantemente em investigação e desenvolvimento (I&D), sendo, inclusivamente, e há 12 anos consecutivos, considerado o maior investidor mundial na área da saúde. Este investimento em I&D é transversal a todas as áreas da medicina, mas focando-se em áreas onde se verifica uma “unmet need”, ou seja, para as quais não há alternativas terapêuticas, pelo menos satisfatórias. O cancro, sendo hoje uma das principais causas de morte mundiais, centra, portanto, uma grande parte das nossas atenções. Com as equipas de investigação e desenvolvimento focadas em encontrar novas armas terapêuticas para este flagelo, numa medicina cada vez mais personalizada e adaptada às características de cada indivíduo e de cada tipo de cancro, sabemos também que toda esta inovação só faz sentido se estiver disponível e chegar aos doentes que dela necessitam. Para isso, temos diversas equipas a trabalhar para que esta inovação possa chegar a todos nós. E os doentes angolanos não são excepção. Sabemos, no entanto, que países e realidades diferentes apresentam desafios e dificuldades distintas. Por isso, ao longo dos últimos anos, temos vindo a trabalhar em estreita colaboração com as diferentes instituições e organizações angolanas do sector da saúde, no sentido de identificar os desafios e as barreiras existentes e, trabalhando em conjunto, encontrar soluções de forma a proporcionando aos doentes oncológicos
angolanos os melhores cuidados de saúde. Um bom exemplo disso têm sido as actividades desenvolvidas com o Instituto Angolano de Controlo do Câncer e a Liga Angolana contra o Cancro, quer ao nível da sensibilização para a doença e diagnóstico precoce, da capacitação local de profissionais de saúde por via de cursos e participação em conferências científicas nacionais e internacionais, a doação de um equipamento de Imunohistoquímica para capacitar o laboratório de anatomia patológica para o diagnóstico dos diferentes subtipos tumorais, entre muitas outras actividades. Quais têm sido os principais desenvolvimentos nesta área da ciência e da medicina? A medicina e a ciência avançaram muito, nos últimos anos, nomeadamente, ao nível do conhecimento das causas e dos mecanismos biológicos associados a muitas patologias. A oncologia é um dos exemplos onde a prática clínica se encaminha para o que chamamos a era da medicina personalizada, na qual o conhecimento do tumor, a nível molecular, permite a selecção do tratamento certo para o perfil genómico específico de cada um. Tradicionalmente, todos os doentes diagnosticados com uma determinada patologia recebiam o mesmo tratamento. Esta abordagem, em que o mesmo produto se aplicava a todos os casos, poderia ser benéfica para alguns doentes, mas também poderia revelar-se ineficaz para outros, podendo provocar efeitos secundários. Hoje, os médicos conseguem identificar a origem da doença e, assim, predizer melhor a resposta do doente ao tratamento. Com ajuda de testes e ferramentas de diagnóstico sofisticados, podem detectar-se e tratar-se anomalias genéticas ou outras. Em oncologia, passámos de uma abordagem essencialmente baseada na localização do tumor no organismo, utilizando a quimioterapia tradicional, para terapêuticas dirigidas, com os doentes estratificados pela localização e presença ou não de biomarcadores tumorais, à mais actual medicina personalizada, com tratamentos personalizados adaptados ao perfil genómico do tumor do doente. Com tudo isto, sabe-se, hoje, que existem 250 a 300 tipos e subtipos de cancro, muitos deles com alvos terapêuticos dirigidos. Esta abordagem beneficia os doentes, com uma melhor qualidade de vida e esperança de vida aumentada, menos tratamentos desnecessários, menos efeitos secundários e custos associados e mais e melhor previsibilidade dos resultados clínicos; os profissionais de saúde, com maior confiança no tratamento e melhoria dos resultados para os doentes; e os países, pelo uso optimizado dos recursos da saúde e melhores resultados clínicos.
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Num país onde a saúde ainda necessita de evoluir muito, devido, especialmente, às dificuldades económicas, como é que a Roche consegue fazer a diferença? Na Roche, temos um compromisso com todos os doentes. Acreditamos que qualquer pessoa merece ter os melhores cuidados de saúde, independentemente da região ou país em que se encontre. Para isso, definimos como ambição, para os próximos 10 anos, disponibilizar o dobro dos benefícios para os doentes, a metade do custo para a sociedade. Nomeadamente em África, e mais concretamente em Angola, acreditamos que podemos fazer mais, para ajudar a ultrapassar as dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, do que apenas disponibilizar as nossas terapêuticas Roche. Trabalhamos para mapear cada etapa do percurso dos doentes, identificando as barreiras e dificuldades que estes encontram pelo caminho, trabalhando, depois, com todos os intervenientes e parceiros do sector para ultrapassar essas barreiras e proporcionar
“DEFINIMOS COMO AMBIÇÃO, PARA OS PRÓXIMOS 10 ANOS, DISPONIBILIZAR O DOBRO DOS BENEFÍCIOS PARA OS DOENTES, A METADE DO CUSTO PARA A SOCIEDADE. NOMEADAMENTE EM ÁFRICA, E MAIS CONCRETAMENTE EM ANGOLA, ACREDITAMOS QUE PODEMOS FAZER MAIS, PARA AJUDAR A ULTRAPASSAR AS DIFICULDADES NO ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE, DO QUE APENAS DISPONIBILIZAR AS NOSSAS TERAPÊUTICAS ROCHE” uma melhor qualidade de vida aos seus doentes, garantindo, ao mesmo tempo, a sustentabilidade do sistema. Angola é um país onde a Roche tem interesse em investir? Eu diria que a Roche não só tem interesse em investir, como já investe fortemente, e há vários anos, nos PALOP, e em Angola mais concretamente. Contamos,
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hoje, com uma estrutura robusta, de recursos próprios e de uma vasta rede de parceiros, para fazer face às necessidades e desafios que a nossa abordagem em Angola e a nossa ambição a 10 anos nos colocam. Esta capacidade e investimento acompanharão, obviamente, as necessidades locais do sector e os compromissos assumidos com e pelo país. Se, em prol dos doentes angolanos, do seu sistema de saúde e dos compromissos assumidos, verificarmos a necessidade de aumentar esse investimento, assim o faremos, sendo que muito nos alegraria poder vir a abrir uma delegação e escritório próprios em Angola, nos próximos tempos. A pandemia de Covid-19 dificultou, de alguma forma, o trabalho desenvolvido pela Roche? A pandemia veio desafiar-nos a todos. Desde os doentes afectados pela doença e suas famílias, muitos dos que sobreviveram, com marcas físicas e psicológicas para sempre; à sociedade em geral, que se viu confrontada com medidas de contenção, nomeadamente, confinamentos, encerramento de diversos sectores da economia e outros em serviços mínimos; aos sistemas de saúde, sobrecarregados ou mesmo em colapso, quer na capacidade de tratar doentes Covid-19, quer de dar continuidade ao funcionamento normal de outros serviços e tratar devidamente doentes com outras patologias; aos próprios países, a braços com uma gestão difícil e de grande impacto económico e social. De referir, ainda, o impacto que se espera no pós-pandemia, resultante do receio e adiamento das idas ao hospital e de muitas consultas, com o consequente atraso no diagnóstico de muitas patologias, que, em muitos casos, como acontece com o cancro, pode revelar-se fatal. A nossa actividade foi, obviamente, também ela impactada, mas conseguimos adaptarnos rapidamente, por via da adopção rápida dos canais digitais de comunicação e de uma nova forma de trabalhar, centrada no doente e na melhoria da sua jornada patológica, que, conforme referi anteriormente, tenta ultrapassar os desafios que os doentes enfrentam, desde o diagnóstico ao tratamento. Acreditando que isso só é possível alcançar em estreita colaboração com as instituições do sector, nomeadamente com o Ministério da Saúde e o Instituto Angolano de Controlo do Câncer, comprometemo-nos a co-criar soluções à medida das necessidades específicas do país, trabalhando com os diversos parceiros com o objectivo de proporcionar uma melhor qualidade de vida e saúde a todos os angolanos.
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ENTREVISTA OPINIÃO
O FARMACÊUTICO NO DESAFIO DO USO RACIONAL DOS MEDICAMENTOS O USO IRRACIONAL OU INADEQUADO DE MEDICAMENTOS É UM DOS MAIORES PROBLEMAS A NÍVEL MUNDIAL. A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) ESTIMA QUE MAIS DE METADE DE TODOS OS MEDICAMENTOS SÃO PRESCRITOS, DISPENSADOS OU VENDIDOS DE FORMA INADEQUADA E QUE METADE DE TODOS OS PACIENTES NÃO OS UTILIZA CORRECTAMENTE.
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mundo tornou-se num lugar tão complexo, perigoso e doente, que fazer boas escolhas é mais importante do que nunca. Veja o corpo humano. Quando os investigadores somam o valor dos químicos que compõem as diversas partes do nosso corpo, poderão concluir que não valemos muito. Contudo, a revista Wired estimou que, se considerarmos o valor monetário dos nossos corações, pulmões, rins, ADN e medula óssea, valemos, individualmente, uns 65 milhões de dólares. Como ser humano racional, pensante, vivo, com a enorme capacidade de Amar e Vivenciar as maiores alegrias da vida, ainda somos mais valiosos do que os 65 milhões de dólares estimados. A medicina moderna criou técnicas sofisticadas para melhorar a saúde humana. Contudo, ninguém que conheça os dados pode dizer que a guerra está ganha. Procurar ter saúde é um desafio diário para cada Governo e cada pessoa. Os especialistas em saúde pública concentram-se no tratamento, no controlo ou na eliminação de doenças infecciosas (ou transmissíveis); as não transmissíveis, ou causadas pelo estilo de vida, subiram em flecha. Hoje, as doenças não transmissíveis entrincheiraram-se em todas as sociedades do mundo: nas economias desenvolvidas e em vias de desenvolvimento, nas opulentas e nas pobres. São, na sua maioria, relacionadas com o estilo de vida e representam uma enorme ameaça à nossa saúde, felicidade e longevidade. Se colocarmos atenção na nossa vida, honestamente, vamos dar-nos conta de que sempre temos alguma coisa
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Dra. Zola Mayamputo João Técnica média de Farmácia pelo IMS de Luanda; licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas; agente de Segurança Higiene e Saúde no trabalho; directora técnica da Australpharma
para pedir e outra para agradecer e, nesta senda, é sempre tempo de corrigir, amadurecer e fazer o que é correcto. Farmacêutico como agente de saúde pública Existem várias doenças não transmissíveis e, pelo menos, 40% de todas as mortes causadas por esses tipos de doenças resultam do consumo irracional de medicamentos, de alimentos ricos em gorduras saturadas e gorduras trans, de sal e de açúcar (e hidratos de carbono refinados). Se gosta de comida de plástico, se fizer refeições irregulares, se abusar do sal, de grandes quantidades de gordura, se tiver uma alimentação com produtos muito refinados, ou ingerir porções grandes, saiba que mudar pode ser muito melhor e que essa é a razão pela qual os farmacêuticos são também os agentes de saúde pública e fazem toda diferença na dispensação de informações ou conselhos valiosos para a população que acorre aos seus serviços e da qual vão também ao encontro. Actualmente, um dos sectores de grande crescimento, na área farmacêutica, é a actuação no segmento de dispensação de medicamentos, acompanhada de conselhos valiosos sobre o fármaco/alimento (estilo de vida). Sabia dos grandes desafios e dificuldades que são encontrados neste sector? A compreensão, a cortesia, a simpatia e o grande conhecimento técnico do farmacêutico são as grandes buscas de todo o paciente, para esclarecê-lo e orientá-lo. Por isso, o profissional deve estar totalmente actualizado nos seus conhecimentos, pois estar em contacto é factor essencial para o sucesso. Na linda actividade farmacêutica, gera preocupação o facto de, por um lado, existir a missão de realizar actividades para prevenção de doenças e o uso racional de medicamentos e, por outro, a necessidade de comercialização de medicamentos e de manutenção do negócio. Pode-se afirmar que ambos os lados devem ter o mesmo peso para que o sucesso aconteça. O desequilíbrio entre os interesses de saúde e os económicos pode levar à quebra na saúde ou à falência da farmácia ou depósito. Estamos a viver esta dinâmica, nos dias de hoje. Entendemos que a melhor saída é a união dos dois interesses nas mãos do farmacêutico. O uso racional de medicamentos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entende-se quando “pacientes recebem medicamentos para as suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menos custo para si e para a comunidade”. O uso irracional ou inadequado de medicamentos é um dos maiores problemas a nível mundial. A OMS estima que mais de metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que metade de todos os pacientes não os utiliza correctamente. O uso excessivo e indevido de medicamentos resulta em riscos para a saúde, além de desperdício de
recursos financeiros. Farmacêuticos: somos chamados, muitos de nós, nas áreas de actuação, a pôr os nossos serviços em alta e em busca de melhorias no atendimento. Por isso, é dado o momento para sairmos da zona de conforto, com a criação da ARMED, e juntos colaborarmos em: • Propor directrizes e estratégias nacionais para a promoção do uso racional de medicamentos, em consonância com as políticas nacionais de medicamentos de assistência farmacêutica e legislação afim; • Propor e identificar estratégias e mecanismos de articulação, monitoramento e avaliação direccionadas à promoção do uso racional de medicamentos, de acordo com os princípios e directrizes do sistema de saúde; • Contribuir, por meio da promoção do uso racional de medicamentos, para a ampliação e a qualificação do acesso ao medicamento de qualidade, seguro e eficaz; • Propor iniciativas de pesquisa e desenvolvimento científico, tecnológico e profissional relacionadas ao uso racional de medicamentos. Mas, em vez de se sobrecarregar com múltiplas mudanças, escolha começar por dar pequenos passos e procedimentos simples para a nossa saúde comunitária. O sofrimento desnecessário continua a ser um grave problema no mundo, pois apenas um em cada 10 daqueles que necessitam de cuidados paliativos, incluindo alívio da dor, os recebe actualmente. Tem sido pouco divulgado o uso racional de medicamentos e vemos a automedicação e a passagem de boca a boca em alta dimensão, em particular nosso país. “Eu não tenho como impedir a morte, mas, entre o nascimento e a morte, estou neste meio para fazer a diferença”. Um cliente, cedo ou tarde, perceberá quando for vítima de indicações descabidas e não retornará àquele estabelecimento ou farmacêutico. A qualidade objectiva dos serviços prestados é nossa a responsabilidade.
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ENTREVISTA
“A GROSSO MODO, A PREVALÊNCIA DE DOENÇA DE CROHN EM ANGOLA É MUITO BAIXA” A DOENÇA DE CROHN É UMA DAS DOENÇAS RARAS MAIS PREVALECENTES NO MUNDO. MAS, EM ANGOLA, A AUSÊNCIA DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS DIFICULTA AFERIR COM PRECISÃO QUAL A SUA PREVALÊNCIA, QUE SE ESTIMA SER MUITO RARA. O DR. ELMO BRANDÃO ABORDA DE QUE MODO É FEITO O SEU DIAGNÓSTICO, QUE OPÇÕES DE TRATAMENTO EXISTEM NO PAÍS E QUAIS AS COMPLICAÇÕES DA DOENÇA DE CROHN.
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Dr. Elmo Brandão Presidente do Colégio de Especialidade de Gastrenterologia da Ordem dos Médicos de Angola
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endo considerada uma doença rara, como é realizado o diagnóstico da Doença de Crohn? Por se tratar de uma doença inflamatória do intestino, que se caracteriza por inflamação transmural, que pode envolver qualquer porção do tracto gastrointestinal, desde a cavidade oral até à região perianal, o diagnóstico é baseado nos aspectos clínicos, laboratoriais, imagiológicos, endoscópicos e histológicos. No que se refere aos aspectos clínicos, pacientes com Doença de Crohn (DC) podem apresentar sintomas por muitos anos, antes do diagnóstico, ou podem apresentarse de forma aguda. Os sintomas cardinais incluem dor abdominal, diarreia (com ou sem sangramento grave), fadiga e perda de peso. Alguns pacientes podem apresentar manifestações extraintestinais, como artrite das grandes articulações, artrite central ou axial, como sacroileíte ou espondilite anquilosante; manifestações oculares (uveíte, irite e episclerite); manifestações dermatológicas (eritema nodoso e pioderma gangrenoso) e manifestações hepatobiliares (colangite esclerosante primária). No que diz respeito aos aspectos laboratoriais, os exames de rotina podem ser normais ou revelar anemia, leucocitose, PCR elevada, alterações electrolíticas, deficiência de ferro, deficiência de vitamina B12 e deficiência de vitamina D. Os marcadores inflamatórios fecais (calprotectina fecal ou lactoferrina) podem estar elevados, devido à inflamação intestinal. O intestino delgado pode ser estudado por Ressonância Magnética por Enterografia (RME) e Tomografia Computorizada por Enterografia (TCE). Ambos os exames
imagiológicos conseguem demonstrar o local afectado, evidenciando espessamento e realce da parede, linfonodos aumentados, envolvimento de gordura perivisceral, bem como a detecção de estenoses. Pacientes com suspeita de Doença de Crohn, que apresentem sintomas gastrointestinais superiores (por exemplo, epigastrialgias e vómitos), devem realizar Endoscopia Digestiva Alta. Os achados incluem nodularidade, friabilidade da mucosa, úlceras estreladas, lineares ou serpiginosas. Também ocorrem úlceras aftosas. A Colonoscopia é o estudo preferencial para avaliação do intestino grosso, pois permite obter biópsias dos segmentos colónicos. O padrão inflamatório da Doença de Crohn é tipicamente descontínuo (intermitente). Segmentos de inflamação podem estar adjacentes ao tecido normal, que resulta em lesões salteadas. As anormalidades da mucosa incluem eritema, friabilidade (menos frequente), ulcerações aftosas e serpiginosas, com presença ou não de pseudopólipos (que resultam de hiperplasia crónica da mucosa, devido a episódios repetidos de inflamação e ulceração que foram resolvidos). A Ecoendoscopia pode avaliar a espessura da parede intestinal do cólon sigmoide e do recto e a gravidade das alterações inflamatórias para ajudar a distinguir a inflamação transmural da mucosa. Finalmente, as características histológicas específicas que ajudam no diagnóstico da Doença de Crohn são presença de granulomas não caseosos, presentes em, aproximadamente, 5% a 25% das amostras de biópsia. Os achados histológicos tendem a ocorrer num padrão descontínuo (espacialmente intermitente), semelhante ao padrão dos achados da endoscopia digestiva alta e da colonoscopia. Em termos de prevalência, como é que se encontra Angola em relação ao mundo? A ausência de publicações científicas relativamente à Doença de Crohn, no nosso meio, dificulta a resposta a esta questão. A grosso modo, a prevalência da Doença de Crohn em Angola é muito baixa (rara). Segundo informações da literatura, alguns países recémindustrializados de África começam a apresentar um aumento na incidência. Quanto ao tratamento desta patologia, o que é que temos disponível? Quanto ao tratamento, podemos dizer que uma variedade de medicamentos está disponível e a escolha da medicação, geralmente, depende da localização anatómica da doença, da gravidade e se o objectivo do tratamento é induzir ou manter a remissão. Essas terapias podem ser agrupadas como terapias de indução (que têm um início de acção relativamente rápido) e terapias de manutenção (que são para uso a longo prazo). Nas opções para a terapia de indução, temos a destacar os glucocorticoides (prednisolona, metilprednisolona e
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“A GROSSO MODO, A PREVALÊNCIA DA DOENÇA DE CROHN EM ANGOLA É MUITO BAIXA (RARA). SEGUNDO INFORMAÇÕES DA LITERATURA, ALGUNS PAÍSES RECÉMINDUSTRIALIZADOS DE ÁFRICA COMEÇAM A APRESENTAR UM AUMENTO NA INCIDÊNCIA”
budesonida) e aminossalicilatos (sulfasalazina e mesalasina). A prednisona e prednisolona são alternativas como terapia inicial para pacientes com Doença de Crohn leve, envolvendo o íleo e/ ou cólon proximal. A budesonida é eficaz para induzir a remissão em pacientes com Doença de Crohn ileal e ileocecal. O uso de 5-aminossalicilatos (5-ASA) é controverso e limita-se a pacientes com Doença de Crohn leve com envolvimento ileocolónico limitado, em que se quer evitar glucocorticoides. Neste caso, um agente oral de 5-ASA de libertação lenta é preferível, como a mesalasina. Por outro lado, a sulfassalazina (o pró-fármaco do 5-aminosalicilato) é menos útil para a ileíte, porque as bactérias colónicas clivam o fármaco para libertar a fracção activa do 5-ASA, por isso, é reservada para casos de colite. Nos medicamentos para a terapia de manutenção, temos os agentes biológicos de primeira linha, como infliximab e adalimumab, que são anticorpos monoclonais dirigidos contra o factor de necrose tumoral (TNF). Esses medicamentos são opções importantes para pacientes com Doença de Crohn moderada ou grave e tornam-se a base do tratamento de indução e de manutenção na América do Norte e na Europa, mas não estão disponíveis em Angola. Já os imunomoduladores (6-mercaptopurina [6-MP], azatioprina [AZA] e metotrexato [MXT]) são uma das várias opções para o tratamento de manutenção da Doença de Crohn moderada ou grave. A 6-MP ou a AZA podem exigir dois a quatro meses de tratamento para atingir o seu efeito máximo. Assim, a 6-MP e a AZA não são tidos como agentes de indução. Os anti-diarreicos são uma opção para pacientes que não respondem completamente à terapia de primeira linha e que apresentam doença leve e sem complicações, como estenoses. Sugere-se a loperamida em pequenas doses (dois a quatro miligramas), após um episódio de diarreia, devido à sua eficácia e segurança relativa em doses baixas. A colestiramina, ou outros sequestrantes biliares, é outra opção para pacientes com doença ileal não estenosante que apresentam diarreia aquosa crónica.
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Geralmente, não se usa antibióticos em pacientes com Doença de Crohn leve. Os dados referentes ao uso de antibióticos para o tratamento da Doença de Crohn luminal activa têm sido inconsistentes. Alguns estudos relatam benefícios modestos dos antibióticos para melhorar os sintomas clínicos em pacientes com doença activa. Os antibióticos mais utilizados incluem metronidazol ou ciprofloxacina. A alimentação é fundamental para o controlo da patologia, especialmente nos períodos de diarreia. Na sua opinião, as pessoas respeitam a alimentação e os conselhos alimentares? O acompanhamento por um nutricionista deve ser tido em conta? Na minha opinião, a maioria dos pacientes respeita as orientações e conselhos nutricionais dados pelo seu médico. Dos relatos em consulta, apercebemo-nos sempre que existem alimentos que precipitam ou agravam a actividade da doença. Daí, a importância da multidisciplinaridade no acompanhamento por outro especialista, neste caso, por um nutricionista especializado em doenças inflamatórias, que orienta a melhor dieta em função da fase da doença (activa/remissão). Relativamente às complicações, o que é que esta patologia pode trazer aos seus portadores? A Doença de Crohn pode causar complicações nos seus portadores. Nas complicações intestinais, temos fístulas que podem desenvolver-se entre o intestino doente e uma variedade de tecidos adjacentes, por exemplo, as fístulas enteroentéricas (entre diferentes segmentos do intestino), fístulas enterovesiculares (do intestino para a bexiga), fístulas enterogenitais (do intestino para a genitália) e fístulas enterocutâneas (do intestino para a pele). Nos casos de peritonite localizada, os pacientes podem apresentar febre, calafrios, leucocitose, náusea ou vómito e dor abdominal localizada, muitas vezes, no quadrante inferior direito, resultante de uma microperfuração. Se ocorrer uma complicação abdominal adjacente às alças intestinais activamente inflamadas, pode evoluir para uma fístula. Dependendo da localização e gravidade, pode causar obstrução intestinal parcial ou completa, apresentando-se com sintomas de náuseas, vómitos e dor abdominal. Finalmente, pode ocorrer envolvimento perianal leve (consistindo em pequenas marcas na pele ou fissuras anais) ou mais grave (abscessos e fístulas). Do conjunto de complicações fazem também parte a falha no crescimento, observada em 10% a 30% das crianças com Doença de Crohn, deficiências de vitaminas e minerais, nomeadamente, vitaminas A, D, E, zinco e vitamina B12 (esta última, mais comum em pacientes com Doença de Crohn ileal). Outras complicações envolvem osteopenia, litíase renal, cálculos biliares, pancreatite e cancro. É possível prevenir a Doença de Crohn? Não é possível prevenir a Doença de Crohn. As doenças preveníveis são aquelas em que a etiologia é bem conhecida. No caso da Doença de Crohn, não se sabe ao certo quais os factores que determinam no surgimento da doença.
REPORTYAGEM
DOENÇAS RARAS AFECTAM MAIS DE 300 MILHÕES DE PESSOAS As doenças raras, geralmente, são crónicas, progressivas, degenerativas e, muitas vezes, com risco de morte. Não existe uma cura eficaz existente, mas há medicamentos para tratar os sintomas. Entre as várias Doenças Raras, constam duas abordadas nesta edição, a Hemofilia e a Doença de Crohn. TODAS AS SEMANAS, SÃO DESCOBERTAS NOVAS DOENÇAS RARAS. ESTIMA-SE QUE EXISTAM DE SEIS MIL A OITO MIL TIPOS DESTAS DOENÇAS, 80% DAS QUAIS COM ORIGEM GENÉTICA. 30% DOS PACIENTES MORRE ANTES DOS CINCO ANOS DE IDADE. NO ÚLTIMO DIA DE FEVEREIRO, É ASSINALADO O DIA MUNDIAL DAS DOENÇAS RARAS, COM O OBJECTIVO DE ALERTAR A POPULAÇÃO PARA A SUA EXISTÊNCIA E SENSIBILIZAR SOBRE AS DIFICULDADES QUE OS SEUS PORTADORES ENFRENTAM DIARIAMENTE. FOI ESTABELECIDO EM 2008, ESCOLHENDO-SE O DIA 29 DE FEVEREIRO POR SER UM “DIA RARO”. NOS ANOS NÃO BISSEXTOS, É ASSINALADO A 28 DE FEVEREIRO.
S
egundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerada uma Doença Rara a que afecta até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos, ou seja, 1,3 para cada duas mil pessoas. Embora, individualmente, a prevalência das Doenças Raras seja baixa, colectivamente, representam enormes encargos para a saúde pública, para as pessoas afectadas e para os países. Mais de 300 milhões de pessoas são acometidas por Doenças Raras, em todo o mundo.
ONU aprova resolução Recentemente, e pela primeira vez, a Organização das Nações Unidas aprovou uma resolução que vem reconhecer os desafios dos pacientes de Doenças Raras, desde o acesso ao diagnóstico e tratamento, até ao preconceito e exclusão social. A resolução centra-se na importância da não discriminação e avança os principais pilares dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), incluindo o acesso à educação e ao trabalho digno, a redução da pobreza, o combate às desigualdades de género e o apoio à participação na sociedade. Proposta por Espanha, Brasil e Catar e copatrocinada por 54 países, foi aprovada por consenso com o apoio de todos os 193 Estados-Membros da Assembleia Geral da ONU. Representa uma grande mudança no panorama da política global, prometendo uma maior integração das Doenças Raras na agenda e nas prioridades das Nações Unidas. A resolução estimula os países a fortalecerem os seus sistemas de saúde, adotando estratégias, planos de acção e legislação que impulsionem o bem-estar destes doentes e das suas famílias. É também pedido que os países fomentem a criação de redes de profissionais e centros especializados em Doenças Raras.
41 SAÚDE
PERSPECTIVA
A IMPORTÂNCIA DA FARINHA DE MÚCUA INTEGRAL NA CULINÁRIA E OS SEUS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE
Dra. Angelina de Sales Agostinho Miguel Licenciada em Nutrição pela Universidade do Extremo Sul Catarinense/Brasil e membro da Associação Angolana de Nutricionistas. Trabalhou em projectos de extensão, nomeadamente, no Programa Emagreça Feliz 2009-2010 e no Programa de Acompanhamento Nutricional aos Praticantes de Actividade Física 2009-2010 no Brasil. Pesquisou as propriedades nutricionais da múcua de Angola e desenvolveu um método artesanal para a extracção da polpa da múcua sem danificar as sementes. Foi professora da Faculdade de Nutrição da Universidade de Belas/ Luanda. Responsável pelo Projecto Mega Nutrição 5.1 Através da GONUTRI, lançou a farinha de múcua integral, no mercado angolano. Tem o consultório online de nutrição Doce Leveza. Nutricionista do projecto Plano Emagrece.
42 SAÚDE
A MÚCUA É O FRUTO DO IMBONDEIRO, O SUPER FRUTO DE ÁFRICA, QUE TEM COMO NOME CIENTÍFICO ANDASONIA DIGITATA, SENDO UMA FRUTA MUITO APRECIADA EM ANGOLA, CONSUMIDA NA FORMA DE SUMO, GELADOS E MOUSSE. É MUNDIALMENTE CONHECIDA COMO BAOBÁ E, NOUTROS PAÍSES AFRICANOS, A MÚCUA É USADA NO COMBATE À DESNUTRIÇÃO, DIARREIA E COMO COADJUVANTE NO TRATAMENTO DE DOENÇAS COMO A MALÁRIA.
O
s valores nutricionais da múcua não eram do conhecimento da maioria dos angolanos e, por esse motivo, no ano de 2010, foi feita uma análise físico-química sobre os mesmos. Com a ajuda de uma técnica artesanal, foi possível a extracção da polpa da múcua sem a danificar as sementes, o que hoje é chamado de farinha de múcua integral. Na análise feita, os nutrientes que mais se destacaram foram as quantidades de fibra (41,81 g), cálcio (280,71 mg), ferro (3,18 mg), potássio (1.695,8 mg), zinco (6,63 mg), vitamina C (71,31 mg), e sódio (13,6 mg), em 100 gramas. Levar a múcua à mesa dos angolanos, na forma de farinha, permite facilitar as preparações (diminuir o tempo de cocção, aumentar a practicidade no manuseamento do produto e possibilitar a criação de novas receitas). Graças a essa nova forma de apresentação da múcua, hoje, é possível fazer um sumo natural de múcua em menos de cinco minutos, com a
vantagem de que o consumidor tem a liberdade de escolher fazê-lo apenas usando água fresca. É possível também colocar uma colher de farinha de múcua integral no pote de um iogurte natural e, assim, obter o iogurte de múcua, fazendo dessa preparação uma excelente fonte de probióticos e prebióticos, visto que a múcua é muito rica em prebióticos e, assim sendo, obtém-se um excelente reparador da flora intestinal. Podemos fazer bolos, biscoitos, bolachas e tudo na vertente integral, visto que a múcua é uma das frutas mais ricas em fibra, a nível mundial, e, sendo um fruto, não possui glúten, o que é uma boa alternativa para pacientes celíacos. Propriedades da múcua Por ser muito rica em fibras, a múcua pode ser usada por pessoas que sofrem de prisão de ventre, porque regula o trânsito intestinal, e por diabéticos, por diminuir o açúcar no sangue, assim como por pessoas com colesterol alto, por fazer o organismo absorver menos gordura. As fibras também ajudam a dar saciedade, o que é ideal para quem quer perder peso. Por ser um dos alimentos mais ricos em potássio e ter baixo teor em sódio, a múcua pode ser consumida como auxiliar no tratamento da pressão alta. O ferro presente na múcua é bem absorvido pelo organismo, devido à sua riqueza em vitamina C, o que previne anemias e aumenta a imunidade, deixando o organismo mais resistente a gripes, resfriados e mal-estares passageiros, lembrando que é uma fruta rica em anti-oxidantes, prevenindo o envelhecimento precoce das células e, até mesmo, doenças como o cancro. É uma alternativa para intolerantes à lactose, devido à boa quantidade de cálcio que possui. A divulgação das propriedades nutricionais da múcua vem embasar a sabedoria milenar, mas, como angolanos, precisamos de ter atenção à quantidade de açúcar que colocamos quando a consumimos, pois pode prejudicar os benefícios desta rica fruta.
Referências:: DONATIEN, Kaboré, et al. A review of baobab (Adansonia digitata) products: Effect of processing techniques, medicinal properties and uses. African Journal of Food Science Vol. 5(16) pp. 833-844, 23 December, 2011. MIGUEL, Angelina de Sales. Características físico-químicas da farinha de múcua integral e elaboração de um biscoito. 2010. Monografia (Licenciatura) – Universidade do Extremo Sul Catarinense/Brasil, 2010.
43 SAÚDE
ANÁLISE ENTREVISTA
FARMÁCIAS: CATEGORIAS DOS PRODUTOS E SEUS CLIENTES
44 SAÚDE
NUMA ANÁLISE GERAL, É ESPERADO QUE O GÉNERO DO CLIENTE E A SUA FAIXA ETÁRIA VARIEM, DEPENDENDO DA CATEGORIA DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS PROCURADA. POR ISSO, CONSIDERAMOS IMPORTANTE PARTILHAR ALGUMAS DAS CARACTERÍSTICAS DE QUEM PESQUISA E COMPRA ATRAVÉS DA PLATAFORMA APPY SAÚDE, POR CATEGORIA.
S
eleccionámos as cinco principais categorias nas farmácias da rede Appy Saúde, que representam 90% das vendas:
• Medicamentos Sujeitos a Receita Médica, com 50% das vendas • Cuidados gerais de saúde (por exemplo, vitaminas e minerais, sistema digestivo e dor e febre), com 15% das vendas • Bebé e mamã (por exemplo, alimentação, limpeza e cuidado infantil), com 15% das vendas • Beleza (por exemplo, corpo, rosto e cabelo), com 6% das vendas • Cuidados pessoais (por exemplo, higiene e cuidado oral e higiene e cuidado íntimo), com 4%. Para os medicamentos sujeitos a receita médica, o género feminino representa 62% dos clientes, estando 43% na faixa dos 25 aos 34 anos, 38% entre 35 e 44 anos e 10% entre 45 e 54 anos.
Os clientes que procuram cuidados gerais de saúde têm um perfil semelhante ao dos clientes que procuram medicamentos, sendo ligeiramente mais jovens. Para os produtos de bebé e mamã, o género feminino representa 78% dos clientes, estando 59% na faixa dos 25 aos 34 anos e 35% entre os 35 e 44 anos. Para os produtos de beleza, o género feminino representa 81% dos clientes, estando 8% na faixa dos 18 aos 24 anos, 52% entre os 25 e 34 anos e 34% entre os 35 e 44 anos. Finalmente, para os cuidados pessoais, o género feminino representa 70% dos clientes, estando 5% na faixa dos 18 aos 24 anos, 42% entre os 25 e 34 anos, 40% entre os 35 e 44 anos e 7% entre os 45 e 54.
Vendas - Categorias e faixa etária do Cliente 2,5 2 1,5 1 0,5 0
Medicamentos
Cuidados Gerais 25 - 34
Bebé e Mamã 35 - 44
45 - 54
Beleza
Cuidados Pessoais
Outros
Público-alvo Independentemente da categoria de produto, o público-alvo principal das farmácias parece estar identificado: são mulheres entre os 25 aos 44 anos. De qualquer forma, é importante notar que os medicamentos e cuidados gerais também têm uma procura relevante de clientes do sexo masculino (+-40%) e que a faixa etária dos 45 e 54 anos (10%) é representativa, considerando que a nossa análise é feita através de um canal digital. Os produtos de beleza atraem clientes mais jovens, entre os 18 e 24 anos (8%), um valor que,
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Público-alvo Independentemente da categoria de produto, o público-alvo principal das farmácias parece estar identificado: são mulheres entre os 25 e os 44 anos. De qualquer forma, é importante notar que os medicamentos e os cuidados gerais também têm uma procura relevante de clientes do sexo masculino (+-40%) e que a faixa etária dos 45 aos 54 anos (10%) é representativa, considerando que a nossa análise é feita através de um canal digital. Os produtos de beleza atraem clientes mais jovens, entre os 18 e 24 anos (8%), um valor que, apesar de baixo, indica um interesse deste grupo para esta categoria, em particular, que talvez possa ser explorado.
“INDEPENDENTEMENTE DA CATEGORIA DE PRODUTO, O PÚBLICO-ALVO DAS FARMÁCIAS PARECE ESTAR IDENTIFICADO: SÃO MULHERES ENTRE OS 25 E OS 44 ANOS. DE QUALQUER FORMA, É IMPORTANTE NOTAR QUE OS MEDICAMENTOS E OS CUIDADOS GERAIS TAMBÉM TÊM UMA PROCURA RELEVANTE DE CLIENTES DO SEXO MASCULINO E QUE A FAIXA ETÁRIA DOS 45 AOS 54 ANOS É REPRESENTATIVA”
Nota: O nosso artigo é baseado nas
Distribuição das farmácias em Luanda: vendas e pesquisas das farmácias da rede Appy Saúde. Esta rede conta com 52 farmácias, 43 em Luanda (82%), seis em Benguela, uma no Lubango, uma no Huambo e uma em Malanje.
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Distribuição das das farmácias farmácias em em Luanda: Distribuição Luanda:
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APRENDA SEM SAIR DE CASA! SAÚDE
ANOS YEARS
CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!
Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.
48 SAÚDE
SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.