Versus#55

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Rage

Thy Catafalque

Bölzer

“A complexidade não tem mesmo nada a ver comigo.”

“Nós não compomos para agradar a ninguém.”

“Como é possível não te emocionares com a reação que tens pelo mundo?”

+

Lunar Shadow | Crimson Moon | Cyhra Críticas - Testament, Nightwish, Blind Guardian, Ulcerate, Sepultura e Master Boot Record


EDITORIAL

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D IR E C Ç Ã O

Tempo de “guerra”

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

E s te s prime ir os dias do an o não po d i a m s er p i o r es ,

G R A F IS M O

c o m a sit ua ção do COV ID 19 a confin a r a p o p u l a ç ã o à s

Eduardo Ramalhadeiro

s u a s ca sas e a obrigar muitas pro moto ra s a c a n c el a r o s

COLABORADORES

r e s pe ct ivos eve ntos. Lá po r fo ra o s p r i n c i p a i s g ra n d e

0 4/ 0 7. Aqui por terras Lusas ainda não h á n o tí c i a s s o b r e

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

o c a n ce lame nt o do s grandes concertos e f es ti v a i s , c o mo

F O T O G R A F IA

I r o n Maide n - 2 3/07, A ero smith - 06/0 7 , Va g o s M eta l

Créditos nas Páginas

Fe s t - 3 1 / 0 7 a 01/08 o u VOA Heavy R o c k Fes t - 0 2 /0 7

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f e s t iv ais j á f ora m cancelados e adiados p a ra 2 0 2 1 : W : O: A - 3 0/ 0 7 a 0 1 / 0 8 , Ro ck A m Ring e Rock Im Pa r k - 5 a 7 d e J u n ho e re ce ntemente o Ressurecti o n Fes t - 0 1 /0 7 a

a 0 3/ 0 7 . C omo será? E stes even tos irão m es m o r ea l i z a r s e? E s ta e dição t e mos os Wi l derun co mo de s ta q u e p r i n c i p a l ; u m a banda Ame rican a que lan çou o seu ter c ei r o d i s c o - j á ape lidado por muito s de obra p r i ma - d e f o r m a t o ta lme nt e inde pen den te. No en tan to, n es ta s ema n a q u e a go ra t e rminou, assin aram um co n trato d i s c o g rá f i c o c o m a Ce n t ury Me dia . Po r is s o, e m t e mp o s de co n finamen to vam o s a p r ovei ta n d o pa ra ouvir música. Bo a música e f iquem em casa, Eduardo Ramalhadeiro

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O U T IL IZ A D O R P O D E : copiar, distribuir, exibir a obra

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46

WILDERUN

C O N T E ÚDO Nº55 04/20

0 4 N O TÍC IA S

26 RICAR D O P E R E S TAT U A G E N S

6 2 N E R O D IM A RT E

0 5 T R IA L B Y FIR E

28 CRITIC A S V E R S U S

6 4 P O S TA S D E P E S C A D A

0 6 C Y HR A

40 ALBUM V E R S U S

6 6 A N T R O D E F O L IA

1 0 L U N AR SH A D O W

42 RAGE

70 GARAGE POWER

1 4 Á LVA R O JO S É

52 THY C ATA FA L Q U E

7 4 PA L E T E S D E M E TA L

1 9 H O ME M DA MO TOSERRA

54 GABR IE L S O U S A

8 3 G R Ê L O S D E H O RT E L Ã

2 0 B Ö LZ ER

56 DENIE L O F G O D

2 2 C R IMS O N MO O N

59 EM ANU E L R O R IZ

2 5 N U NO LO P E S

60 PURE W R AT H

MOSH

MASTER BOOT RECORD

(SU)POSIÇÕES

8 4 D O D IC I C IL IN D R I

I V O B . | ED U A R D O R .

O C D ES TÁ MO RT O , V I VA O C D

BORN-FOL K & V I LA M A RT EL

3 , 2 , 1 . S U R P R ES A !

2020, O ANO DO ELÉCTRICO?

A C U L PA É D O C E M I T É R I O

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Notícias V

ários foram os músicos que foram apanhado nas malhas do COVID19: Segundo a declaração oficial que pode ser lida na página dos Testament , Chuck Billy, juntamente com outros membros da equipa, acusaram positivo. Gary Holt, guitarrista dos Exodus e Slayer e Will Carroll, baterista dos Death Angel também acusaram positivo. No entanto, todos estes músicos já se encontram recuperados De recordar que os Testament serão um dos cabeças de cartaz do Vagos Metal Fest 2020 e os Death Angel estiveram presentes na Quinta do Ega , em 2019

O “

s Wilderun, capa desta edição, viram recompensado o seu trabalho com a assinatura do primeiro contracto discográfico - Assinaram oficialmente com a Century Media. “Veil of Imagination“ é o álbum de que se fala. Um prémio bem merecido para uma banda excepcional!

Trata-se de um momento maior da comunicação portuguesa.” (Miguel Esteves Cardoso in Publico). Este foi um dos elogios que o vídeo “É o Corona!” recebeu de Miguel Esteves Cardoso na sua coluna do passado domingo no jornal Público. Coluna essa simplesmente intitulada: “Um vídeo do caraças”. Este vídeo, lançado às 15:00 da passada sexta-feira, obteve em 3 dias mais de 35.000 visualizações, estando agora a despertar o interesse em países como o Brasil, Espanha ou Estados Unidos. Nele estão reunidos 38 músicos de 28 das principais bandas portuguesas de hard’n’heavy, com destaque para nomes como Ramp, Tarantula, Sacred Sin ou Iberia. O “My Sharona” dos Knac passou a “É o Corona!”, numa letra que tenta de forma divertida alertar para os perigos do COVID-19. Este projeto foi desenvolvido em tempo recorde durante o período de quarentena por Caminhos Metálicos, Blind & Lost Studios e G Media, com a produção de Carlos Guimarães e Guilhermino Martins.

Podem visualizar o vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=pQyaw3_GWpw Press-release e áudio (mp3 e wav): https://bit.ly/eocorona

N

ovas datas The Mission A mítica banda de rock gótico regressa a Portugal para dois concertos no Porto, integrados na digressão “The United European Party Tour”. Após terem passado por Lisboa no passado mês de março, e de terem interrompido a tour por conta da pandemia global, a banda já tem novas datas e o regresso ao território nacional fica agendado para os dias 12 e 13 de março de 2021, no Hard Club (Porto). Os bilhetes já adquiridos mantém-se válidos no seguinte pressuposto: - Bilhetes adquiridos para dia 13 de março de 2020 são válidos para dia 12 de março de 2021 - Bilhetes adquiridos para dia 14 de março de 2020 são válidos para dia 13 de março de 2021 Os espetáculos mantém a particularidade de não se repetirem, dando a oportunidade aos fãs de ouvirem diferentes temas em cada uma das datas.

O

s lendários Benediction estão de regresso a Portugal com a formação mais clássica do death metal inglês, agora, com o retorno do vocalista Dave Ingram (ex-Bolt Thrower, ex-Hail Of Bullets) depois de ter deixado a banda em 1998. Dave Ingram, fez parte do período considerado clássico da banda entre os anos de 1990-1998, e gravou clássicos inegáveis do Death Metal britânico como: "The Grand Leveller" e "Transcend The Rubicon". Os Benediction têm vindo a fazer vários concertos mundiais tocando os seus grandes clássicos, tal como irá acontecer nos próximos dias 18 e 19 de Novembro em Portugal. A primeira parte está já assegurada pelos Espanhois PERPETUAL bem como duas bandas nacionais a confirmar.

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Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforรงado

3

Esperado

2

Bรกsico

1

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Hugo Melo

JP Madaleno

Nuno Lopes

3

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4

5

3,4

Mร DIA

CATTLE DE CAPITATION De a t h A t l a s

(Metal Blade)

REGARDE L E S HOMME S TOMBE R Ascension

(Season of Mist)

SE PULTURA Qua dra (Nuclear Blast)

SONS OF APOL L O MMXX

(InsideOut Records)

S TRIGOI

A band o n A l l F a i t h

(Nuclear Blast)

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Foto: Linda Florin

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Bestial o besta? A maioria opta pela primeira hipótese, mas há vozes discordantes bem negativas. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

Eduardo Ramalhadeiro e CSA – Olá, Euge! Obrigado pelo tempo que despendeste para responder a estas perguntas. Euge – Olá! É um prazer! Obrigado pelo vosso interesse na nossa banda. Ficamos gratos. Eduardo – Há uma lenda urbana que diz que o lançamento de um segundo álbum é sempre complicado. Depois do sucesso de «Letters to myself», sentiram que «No Halos in Hell» é um passo em frente? Penso que é mesmo um mito. Na realidade, com «No Halos», tudo correu às mil maravilhas e da forma que tínhamos planeado. E de facto penso que este novo álbum é um passo em frente. «Letters» foi escrito apenas pela dupla Jake & Jesper, mas desta vez eu fui muito envolvido na composição das canções e toda a gente na banda contribuiu para os arranjos, portanto este lançamento é muito mais um esforço da banda do que o primeiro e parece-me que desta vez encontramos mesmo o nosso som característico. Eduardo – O álbum foi lançado em novembro. Que tipo de críticas recebeu a banda até agora?

Maravilhosamente positivas! Na primeira review, tivemos logo 10/10, portanto depois disto só podia ser igual ou inferior. Mas nós sabíamos que tínhamos feito um grande álbum e estamos francamente encantados por ver que a maioria das pessoas pensa como nós. É claro que houve algumas críticas menos boas, mas isso é inevitável. Por exemplo, eu adoro o Bruce Springsteen e tudo o que ele fez, mas conheço pessoas que não gostam mesmo nada da sua música. As opiniões são como os idiotas: cada um tem os seus. CSA – Eu gostei realmente deste álbum, mas parece-me que, de facto, nem todos são da minha opinião. Obrigado. Fico muito contente por ver que gostaste. - Gostava de saber como reages ao facto de algumas pessoas o julgarem com grande severidade e dizerem que é bom porque foi criado por uma super banda, mas que, na realidade, é uma espécie de “álbum preguiçoso”. Preguiçoso? Não sabia disso até agora. Mas é como já disse: as opiniões são como os idiotas, logo cada um tem os seus. E é assim que tem de ser.

- Em que é que o facto de serem uma super banda pode dificultar o processo de criação? Não temos nada essa ideia. Somos apenas bons amigos que fazem música juntos. Irmãos de sangue. O Jake é um dos meus melhores amigos já há dez anos, apesar de nunca termos estado juntos numa banda antes desta. Corre tudo maravilhosamente bem e estamos a divertir-nos imenso juntos. Eduardo – De que forma contribuíste para o álbum e como decorreu o processo de criação? Como já referi, fui muito envolvido na composição das canções. Eu, o Jake e o Jesper escrevemos algumas canções juntos. Eu escrevi outras com o Jake e o Jesper escreveu algumas com ele também e, embora o Alex não tivesse participado no processo de criação do álbum, também o envolvemos muito nos arranjos. Eu toquei quase todas as partes de guitarra no álbum e absolutamente todas as partes de baixo, O Jesper esteve sobretudo de serviço nas teclas (com o Jake), portanto ficou decidido que, desta vez, eu tinha de assegurar a guitarra e o baixo.

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[…...] este novo álbum é um passo em frente. […...] é muito mais um esforço da banda do que o primeiro e parece-me que desta vez encontramos mesmo o nosso som característico.

CSA – Penso que o desempenho do Jake melhorou muito desde o primeiro álbum (embora seja sempre excelente). Concordas comigo? Sim, concordo. Desta vez, ele focou-se mais nos sentimentos e nas vibrações do álbum e preocupou-se menos com detalhes técnicos do que no primeiro álbum. CSA – Como reagiria ele à ideia de que a sua voz me recorda a do Tobias Sammet (dos Edguy e de Avantasia)? São ambos grandes vocalistas e compositores, são realmente capazes de cantar e têm uma amplitude vocal bastante alargada, portanto parece-me que há realmente similaridades. Como reagiria ele a esse comentário? Não sei. Mas provavelmente, de forma bem positiva. CSA – A capa do álbum agradame muito também. Li que era da autoria do Gustavo Sazes (que conheço pessoalmente, porque vive no Porto). - Por que o escolheram? [Tenho de dizer que foi mesmo uma boa escolha.] Trabalhámos com ele no primeiro álbum e eu pessoalmente lidei com ele durante muitos anos, quando trabalhava na Spinefarm Records. O Jake também trabalhou muito com ele, quando estava com os Amaranthe, o que não é surpreendente, porque ele é simplesmente fabuloso. E, ainda por cima, é um gajo super simpático. - A ilustração representa o inferno? Isso tens de perguntar ao Gustavo!

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Eduardo – Tu és um novo membro da família Cyhra. Como correu a integração na banda? Na realidade, estive sempre com eles desde o início, mas só revelaram a minha pertença pouco depois do lançamento do «Letters», porque eu na altura fazia parte dos Shining e tínhamos acabado de gravar um álbum novo e havia digressões previstas para a primavera de 2017. Portanto, por respeito para com Shining e o Niklas K. e também devido a algumas questões contratuais, decidimos fazer as coisas assim. Foi uma decisão tomada por ambas as partes. E como eu gosto sempre de me envolver a 100% em tudo o que faço, queria participar naquelas digressões dos Shining, antes de me juntar oficialmente a Cyhra. Eduardo – Jesper Strömblad é um artista muito carismático e tem um som muito característico como guitarrista. - Como te sentiste quando tiveste a oportunidade de tocar com ele? Sempre gostei de In Flames, portanto foi mesmo fixe, sobretudo no início. Infelizmente, ele não tem estado em boa forma neste último ano e meio e não tem podido participar nos concertos. Felizmente, temos o Marcus Sunesson a tocar connosco. Penso que ele nos está a acompanhar desde novembro de 2018. É um músico fantástico e um sujeito muito simpático. Mas o Jesper continua com a banda e a apoiarnos mesmo à distância. Somos mesmo irmãos de sangue e apoiamo-nos uns aos outros em quaisquer circunstâncias. - Tiveste que mudar algo no teu

equipamento ou forma de tocar? Antes de Cyhra, tocava sempre ao vivo com amplificadores reais e cabinets mas no início nós decidimos que iríamos tocar digital, então, precisei de fazer algumas alterações, uma vez que ainda queria usar alguns dos meus pedias analógicos old school (principalmente distorção e overdrive). Assim, os pedais são ligados a um emulador de coluna Neunaber Iconoclast, em vez do amplificador a válvulas e cabinet. O sinal sai directamente para o PA e para os nossos in-ears. Basicamente, o meu equipamento tem sido o mesmo durante 20 anos, exceptuando a substituição no palco dos amplificadores e cabinets pelo Neunaber. No álbum usei amplificadores a válvulas e cabinets, juntamente com alguns plugins e Kemper tones. Eduardo – O teclista Mark Mangold – muito conhecido pelo seu trabalho com Michael Bolton e Cher – participou em “Lost in Time”. - Quem teve a ideia de o convidar? O Jake travou conhecimento com ele há algum tempo e penso que uma coisa levou à outra. - De que forma contribuiu ele para essa balada? Escreveu-as com o Jake e tocou piano nela. CSA – Já começaram a trabalhar no vosso terceiro álbum? De certo modo, sim. Eu já escrevi quase 20 canções novas e fiz as respetivas demos e o Jake também já gravou algumas ideias. Mas não estamos “oficialmente” a trabalhar no #3, porque estamos a planear uma digressão para promover o «Halos», que irá durar pelo menos até 2021. No entanto, como estou sempre a tocar guitarra e tenho um estúdio em casa, entre as digressões, vou-me entretendo a compor, tocar e gravar material novo. Tenho de dizer que soa muito bem. Saudações! Facebook Youtube


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Lunar Shadow

Entre as trevas e a luz «The Smokeless Fires», o segundo álbum dos alemães Lunar Shadow debate-se entre estes dois opostos e não espera encontrar resposta. Afinal a morte é o grande mistério que todos os seres vivos têm de enfrentar.

Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

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CSA e Eduardo – Olá, Max! Esperamos que os teus maus momentos estejam ultrapassados há muito tempo e aproveitamos para vos dar os parabéns – a ti e à banda – por mais um álbum magnífico! É fantástico ver jovens como vocês a fazerem trabalho tão bom. CSA – Mudaram de vocalista entre o lançamento do primeiro álbum e o deste. O que aconteceu? De que forma essa mudança afetou a banda? Que tipo de esforço tiveram de fazer para adaptar o teu estilo de composição à voz do Robert? [O resultado é verdadeiramente sensacional.] Max – Não quero entrar em detalhes, no que diz respeito a esse aspeto, mas tenho de dizer que havia problemas entre o Alex Vornam e o resto da banda. Por conseguinte, decidi que Lunar Shadow precisava de um novo vocalista. A mudança de vocalista é sempre complicada, sobretudo porque é difícil encontrar bons cantores. Felizmente, conseguimos trazer o Robert para a nossa banda. É amigo dos outros membros, que o conhecem da sua outra banda: Orbiter. Portanto, o Robert nunca foi um “membro novo” e todos nos habituámos uns aos outros muito rapidamente. Tivermos de aprender a trabalhar juntos no estúdio, mas correu tudo bem, apesar de o Robert nunca ter gravado linhas de voz profissionalmente e de eu não saber como é que ele gostava de trabalhar. Não mudei nada no meu estilo de composição. Perguntei ao Robert se preferia uma determinada afinação, mas ele disse que não. Portanto, eu diria que não houve realmente problemas e que é bom trabalhar com o Robert. Eduardo – Parece-me que «The Smokeless Fires» é mais melódico que o seu antecessor. Como viveste alguns momentos difíceis entretanto, porque escolheste

esta abordagem em vez de uma mais tenebrosa e pesada? Esse comentário é curioso, porque, na minha opinião, «The Smokeless Fires» é mais rápido e mais pesado que «Far From Light». Neste novo álbum notam-se mais as influências de Black Metal e até surgem alguns blastbeats. Penso que a minha música é sempre melodiosa, que a guitarra é a imagem de marca da nossa banda, logo não vejo grande diferença entre os dois. No entanto, é preciso ver que eu ouço a nossa música de uma maneira diferente da dos outros elementos da banda, porque eu sou o único compositor. Do ponto de vista lírico, penso que há mais luz neste álbum, mais esperança. Eduardo – Parece-me óbvio que este álbum é muito pessoal e introspetivo. Esperas que as pessoas se revejam na tua música ou «The Smokeless Fires» é apenas o teu bode expiatório? À primeira vista, eu escrevo música para mim, como uma espécie de terapia. Mas isso não significa que outros não se possam rever nela. De facto, essa ideia agradame muito, porque isso também me acontece em relação a outros artistas. Nunca consigo saber ao certo o que levou um artista a escrever uma determinada canção, mas, se começo a sentir algo especial quando a ouço, faço-a minha, ligando-a às minhas experiências, ao meu passado, aos meus pensamentos. CSA – Devemos encarar «The Smokeless Fires» como um testemunho de resiliência? De certa forma, é isso, sim. Porque eu queria saber o que nos mantém vivos e por que razões isso acontece. Não ouvimos todos os dias dizer que milhões de pessoas se suicidaram? Então, o que nos faz continuar a viver, porque persistimos nesse caminho? A vida é dura, logo tem de haver algo aí e eu decidi escrever sobre essas ideias.

CSA – Qual era o teu tema central neste álbum? A paixão. Cada uma das canções trata desse tema, de uma forma diferente. A paixão não tem sempre o mesmo aspeto, pode assumir muitas formas. “Catch Fire”, por exemplo, é muito simples, verdadeiramente primordial, fala de sexo e mais nada. Outras tratam da resiliência que temos de mostrar para enfrentarmos a luta da vida diária. Falam de perda e amor (“Roses”), do esforço para lutar e vencer (“Hawk of the Hills”) ou enfrentar os nossos demónios íntimos (“Pretend”). Duas das canções (“Conajohara No More” e “Red Nails”) foram influenciadas por histórias de Robert E. Howard, e uma outra (“Laurelindórenan”) pelos escritos de Tolkien. Eduardo – Entre estes dois álbuns, interrogas-te sobre a tua própria mortalidade. De que forma isso se reflete na música e nas letras? «Far From Light» é um álbum muito sombrio e sinistro, porque o seu conceito de base é a morte. Muitas coisas mudaram na minha vida depois desse álbum e essas mudanças fazem-se ouvir em «The Smokeless Fires». Este álbum tem uma abordagem muito mais humanista, mostrando que os problemas podem ser resolvidos, os inimigos vencidos, as montanhas abaladas. Essa é a grande diferença: a vontade de lutar, de perseverar. Eduardo – No fim, conseguiste obter respostas para as tuas perguntas? Perguntas sobre a mortalidade ficam sempre sem resposta. A morte é certa, a vida não. Contudo, há coisas pelas quais podes lutar, foi isso que eu aprendi., Eduardo – A produção e – por que não o dizer – toda a atmosfera e ambiente do álbum vão contra as tendências modernas: compressão excessiva e música demasiado produzida. O que pensas destas tendências atuais? Para «Far From Light», escolhi uma produção muito minimalista,

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P

enso que a minha música é sempre melodiosa, que a guitarra é a imagem de marca da nossa banda, logo não vejo grande diferença entre os dois [álbuns].

porque queria opor-me de forma visível ao tipo de som que se ouvia por todo o lado nessa altura. Com «The Smokeless Fires», foi diferente: esse modelo não ia funcionar bem neste álbum. Queria algo mais pesado, mais quente e natural. Muitos álbuns atuais de Heavy Metal são impossíveis de ouvir para mim: aquelas guitarras com ganho excessivo e “milhares” de compressores, e um bombo de bateria que soa a ClickClackClickClack”. Fico louco ao fim de 20 segundos.

CSA – Quem toca piano de uma forma tão bela em algumas das canções? [Adoro as partes em que esse instrumento e a guitarra entram numa espécie de dueto.] Zehner, o nosso baterista, é construtor de pianos e tivemos a sorte de poder gravar as partes de piano no seu local de trabalho, num piano de concerto que custa 65.000 euros. Infelizmente, nenhum de nós sabe tocar piano como deve ser, pelo que tivemos de recorrer ao Daniel Delgado, um colega do Zehner.

Eduardo – Quem produziu «The Smokeless Fires»? O álbum foi produzido pelo Max Herrmann, um amigo meu daqui de Leipzig. É engenheiro de som e começou agora mesmo a promover o seu pequeno estúdio. Era a escolha ideal, visto ser um indivíduo de bom gosto e ouvir com atenção as minhas ideias. Passámos os dois muito tempo à procura do equipamento certo, dos microfones adequados, tentámos muitas combinações antes de ficarmos satisfeitos e começarmos a gravar.

CSA – A capa do álbum não é surpreendente e é surpreendente ao mesmo tempo. - Consegues compreender a minha reação a ela? É importante dize que eu não queria uma capa de Heavy Metal “clássica”. Nada de dragões, de espadas, de crânios, de motas. Queria algo que impedisse os ouvintes de adivinhar a que género pertencia a música só por olhar para o artwork. Sabia que ia acabar com algo fora do habitual, mas isso não me parece mal. Eu vejo Lunar

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Shadow como uma banda de Heavy Metal clássica e, portanto, queria um artwork que desafiasse essa conceção. - O fundo vermelho tem algum significado especial ou é só para sublinhar o aspeto sombrio das figuras humanas? Não, não tem nenhum significado especial, mas era importante para mim que a imagem tivesse o mínimo de cor possível. Apenas algumas figuras negras e cinzentas e um fogo vermelho brilhante: a paixão que circunda o par de amantes. CSA – Onde vão tocar para promover este belo álbum, tão triste e ao mesmo tempo tão cheio de luz? Vamos fazer dois concertos em 2020 e penso que será tudo. Não me sinto com vontade de continuar a tocar ao vivo. Na realidade, para mim Lunar Shadow não é uma banda que tenha essa vocação. Facebook Youtube


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Um fragmento de vida Provavelmente é a expressão que melhor descreve as fotografias de Álvaro José. Entrevista: CSA | Fotos: Álvaro José

O

lá, Álvaro! Adorei as tuas fotos (risos) Álvaro José – Obrigado. É um verdadeiro prazer para mim falar contigo acerca do meu trabalho. No primeiro link que me enviaste, vi fotos com veteranos da cena Metal (por exemplo, Iron Maiden, Metallica, Judas Priest, Megadeth, Kiss, Saxon e até Uriah Heep). Como é fotografar artistas que já foram “apanhados” por tantas câmaras? É algo muito aliciante, mas também uma grande responsabilidade. Não tem sido fácil. Foram precisos anos de trabalho e de uso da estratégia de tentativa e erro para eu ter o direito de estar à frente destas bandas para as fotografar. Tive de aprender a confiar nos sites e nos media com quem trabalho e que me escolheram dentre outros

fotógrafos. Tenho precisado de um grande esforço e paciência, mas sobretudo de muito, mesmo muito trabalho… ninguém consegue pôrse à frente de um artista como o Richie Blackmore só com alguns dias de prática. Quem não gostaria de fotografar bandas como Iron Maiden, Judas Priest, Metallica or Ozzy, quando se tem a minha profissão? É realmente fantástico trabalhar com músicos que admiramos e que são admirados por muitos mais. Mas também é difícil, porque, tal como disseste, essas bandas já foram fotografadas pelas câmaras dos melhores, portanto tens mesmo de fazer um grande esforço para estares à altura do desafio, preparando-te muito bem e tentando seriamente seres cada vez melhor. Mas tens de pensar num concerto de cada vez, porque, de certo modo, através das tuas fotografias, também acabas

por fazer parte da história dessas lendas. Também vi muitas fotos de bandas recentes. Estou a pensar em Mgla, por exemplo (que dão fotos boas, porque tocam com as faces cobertas por panos negros). Como é promover essas bandas através da fotografia? Penso que há prós e desafios, tanto em fotografar bandas mais recentes como bandas de nomeada e não tem forçosamente a ver com o lugar que ocupam na cena. Como profissional, adoro fotografar um concerto bem preparado com acessórios e maquilhagem bem escolhidos, porque, como dizes, esses elementos ajudam a fazer fotografias realmente boas. No entanto, podes encontrá-los em concertos de megabandas como Kiss ou de outras bem menos conhecidas como Marduk ou Mgla.

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Além disso, procuro ir a concertos que proporcionem um espetáculo notável ao público, mas fotografálos é para mim um verdadeiro pesadelo, o que não me assusta. No que toca a promover bandas, é verdade que o público interessado em bandas mais recentes é certamente menos numeroso do que o que se foca nas lendas, mas uma boa foto pode valer mais que mil palavras e ir mais longe do que estas. Mas muitas dessas bandas recentes e os seus fãs ficam mesmo agradecidos pelo interesse que revelas ao fazeres boas fotos dos seus concertos e partilham o meu trabalho, tal como eu dou a conhecer o deles e isso pode não acontecer com tanta frequência, quando se trata de outros tipos de bandas. Verdade seja dita, eu adoro fazer fotos de concertos de um modo geral e não me importo muito com o tamanho/a trajetória/o estilo da banda em questão. Já fiz fotos de festivais em estádios esgotados e também em minúsculos bares apinhados de gente e cada contexto à sua maneira proporciona-te sempre algo fantástico para captares. No entanto, admito que, quando estou a fotografar bandas mais recentes, me sinto motivado pela possibilidade de testemunhar em primeira fila/mão a sua evolução e registá-la com a minha câmara. Isto aconteceu-me, por exemplo, com uma banda como Leprous, que fotografei pela primeira vez num espaço minúsculo, continuei a seguir em 5 dos seus concertos em Espanha, quando já estavam em crescimento, e recentemente (há apenas uma semana atrás) fotografei novamente num concerto esgotado em que eles eram a atração principal. Mas isto acontece-me frequentemente. Também me sucedeu o mesmo com os teus compatriotas Moonspell, de quem gosto muito, com Mayhem, Gaahls Wyrd, etc. E – last but not least – podes encontrar muitas dessas bandas no meu portefólio muito simplesmente porque sou um grande fã de Black Metal e esse género está cheio de bandas underground geralmente

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pouco conhecidas. De um modo geral, o que fazer para teres a certeza de que vais fazer uma boa foto? É difícil responder a essa pergunta. Sou muito crítico em relação a mim próprio e ao meu trabalho e estou constantemente a interrogar-me sobre o que poderei fazer para melhorar as minhas fotos. Nunca estou 100% satisfeito, apesar de dar sempre o meu máximo cada vez que faço uma foto. Por isso, estou sempre à procura de novas abordagens, a experimentar novas técnicas, lentes, iluminação, etc. Essa é uma das coisas que eu aprecio na fotografia: leva-me a estar sempre a experimentar, a melhorar, a ser mais criativo e a explorar novos caminhos para ir mais um passo à frente. Penso que uma boa foto tem, no mínimo, de estar correta no que diz respeito a todos os aspetos técnicos, ou seja, tem de estar bem exposta, bem focada, sem trepidações (a não ser que estejas a fazer uma experiência que envolve movimento, logo este seja intencional). Também tem de ter uma composição correta e – o aspeto que é mais difícil de obter – tem de emocionar as pessoas, tem de conseguir comunicar com elas. Isto é algo que eu tento sempre atingir com as minhas fotos. Podes não conseguir sempre adequar entre si os elementos que mencionei, mas, se conseguires fazê-lo, provavelmente terás uma foto verdadeiramente poderosa. Gostei especialmente da foto do Joan (Fiar de Foscor) que vi no Facebook. Foi essa foto que me fez sentir a necessidade de te entrevistar. Há alguma das tuas fotos que seja especial para ti por alguma razão? Sim, muitas, de facto. É difícil escolher só uma, porque cada uma tem os seus problemas, a sua história e o seu significado. No entanto, posso mencionar uma foto que é verdadeiramente “especial”: a de Attila Csihar, o vocalista dos míticos Mayhem. Foi tirada durante

a digressão de «De Mysteriis Dom Sathanas», um álbum que marcou um “antes” e um “depois” na cena do Metal extremo e lançou o Black Metal norueguês. Attila é um dos meus vocalistas favoritos e Mayhem uma das minhas bandas preferidas. Foi a primeira vez que tive a oportunidade de os fotografar, mas também de assistir a um concerto deles. Além disso, toda a gente sabe como é difícil fotografar bandas de Black Metal no palco, devido à falta de luz, ao fumo excessivo e ao uso recorrente de luz estroboscópica (que pulsa). Portanto, posso dizer que me sentia muito motivado e, ao mesmo tempo, a enfrentar um grande desafio. No fim de contas, apesar de tudo, fiz uma das minhas fotos favoritas. Desde essa altura, já tive a oportunidade de fotografar Mayhem mais algumas vezes e é sempre um desafio e uma experiência extraordinária. Fotografar concertos de Iron Maiden também é uma experiência fantástica. São uma banda que não só dá fotos especiais, como se preocupa ao máximo em facilitar o trabalho dos fotógrafos, porque o respeita muito. Posso dizer o mesmo sobre Emperor, outra das minhas bandas favoritas, e King Diamond, que se revelou um grande desafio devido à iluminação, mas acabou por ser um grande prazer por causa da fantástica atuação. Foscor é uma dessas bandas que eu tive a sorte de poder fotografar sempre que veio a Madrid, nestes últimos 6 anos. Adoro os seus concertos e a sua música. Conheço o Joan pessoalmente e já o tinha fotografado quando era vocalista de Graveyard. Se não estou em erro, é essa foto que mencionaste. Vi que fazes fotos para revistas e até cartazes. Podes dizer-nos algo sobre essa parte do teu trabalho? A fotografia não é só uma das minhas paixões, é também a minha profissão. Atualmente, entre outras coisas, sou o diretor de fotografia da Duckout Magazine, uma revista interativa, que, pelo seu 10º aniversário, começou a sair


C

omo profissional, adoro fotografar um concerto bem preparado com acessórios e maquilhagem bem escolhidos, porque […] esses elementos ajudam a fazer fotografias realmente boas. […] 17 / VERSUS MAGAZINE


em papel. Também faço capas para outras revistas, sobretudo porque gosto muito de fazer retratos. Se observares atentamente o meu trabalho, verificarás que há um tema recorrente: PESSOAS. Gosto de fotografar lugares, mas são as pessoas que assumem o protagonismo nas minhas fotos. Por essa mesma razão, fiz fotos promocionais para o novo álbum da banda espanhola de Power Metal que dá pelo nome de Taken. Também tenho alguns projetos pessoais, que tive a sorte de poder expor. Fiz cartazes para peças de teatro… Tenho um carinho especial pelas artes.

Estudaste para seres fotógrafo? Sim. Estudei Fotografia Profissional no EFTI de Madrid e ainda hoje continuo a estudar e a aprender. Acredito piamente na ideia de que é necessário ter formação técnica em fotografia para poder comunicar o que quer que seja recorrendo a esse meio. Na minha opinião, é inútil gastar dinheiro em equipamento que não sabes usar adequadamente. Não são as câmaras que fazem as fotos, mas sim os fotógrafos. As câmaras são apenas instrumentos, meios para atingir um fim. Creio tão firmemente na necessidade de ter uma boa formação em fotografia

que me dedico a ensinar a minha arte. Adoro dar aulas e fazer conferências sobre fotografia e tratamento digital de fotos. E já fizeste alguma exposição individual ou participaste nalguma exposição coletiva? Sim. Fiz as duas coisas. Fiz algumas exposições individuais, uma das quais com um projeto chamado Panoptic, que, mais tarde, veio a fazer parte de uma exposição coletiva. Esse projeto não tem nada a ver com fotografia ligada ao universo da música. Está sobretudo focado no corpo humano como sujeito e objeto de poder e corresponde a uma série de “corpos” construídos a partir de fotografias de diferentes partes de corpos impressas numa escala real. É difícil explicar por palavras, precisas de ver mesmo. A outra exposição individual que fiz estava ligada ao mundo da música e intitulava-se “From the pit”. Incluía uma pequena amostra do meu trabalho dos últimos 6 anos, através da qual eu procurava fazer o público envolver-se numa viagem através dos fossos dos concertos de locais e festivais de Heavy Metal na minha tentativa de captar através de uma imagem a paixão, a obscuridade e a ferocidade de um género como o Metal em todas as suas metamorfoses. Num futuro próximo, gostaria de levar esta minha exposição ao estrangeiro e alarga-la, porque há muito material de boa qualidade que ficou de fora e que eu adoraria partilhar com todos. Uma última pergunta, produto de uma grande curiosidade: é diferente fotografar homens ou mulheres? Não tenho a certeza de que o género desempenhe um papel muito importante no meu caso. Há outros fatores que me parecem bem mais importantes, como a iluminação ou a forma como o palco se apresenta. Instagram Alvarophoto

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Fechem o Alentejo!!! Aqui há uns dias, estava eu na pacatez da minha rotina diária, a ir levantar a medicação psiquiátrica, quando reparo que todos os transeuntes à minha volta estavam a usar máscara e luvas. Levantei o braço e achei que meu cheiro a suor não estaria muito pior que nos outros dias. Sim, é verdade que as plantas de casa já morreram, mas os vizinhos ainda não tinham ligado à polícia a avisar de um possível cadáver em decomposição no meu apartamento, logo, não achei que o caso fosse assim tão crítico. A falar com o Farmacêutico percebo que há um vírus que anda a dizimar a população mundial. A minha primeira reação foi de alívio. Porém, à medida que ia ouvindo a explicação, percebi que este Covid-19 não escolhe idades, géneros e muito menos quantidades de neurónios activos que ainda possuímos. Isso sim, trouxe-me algum pavor. Tal como todos os Portugueses tenho acompanhado a evolução da disseminação do vírus neste canto à beira mar plantado, e verifico que para minha surpresa, e à data que vos escrevo, os casos no Alentejo não chegam literalmente a meia dúzia. Sendo eu alentejano e vivendo no Alentejo, este facto trouxe-me algum alívio, e ao mesmo tempo perplexidade. Tentei perceber o porquê do vírus, e dizendo-o em bom Português, não nos pegar. Pensei que pudesse ser uma questão genética, afinal não são todos os portugueses que estão fisicamente aptos em viver nalgumas zonas do nosso Alentejo. Falo por exemplo da zona da Amareleja, em que com 35ºC de temperatura máxima, os habitantes acendem as suas lareiras, porque arrefeceu de repente e ainda se constipam. Pode ser também porque a nossa água ardente mata bicho é de facto mata bicho e deixa o vinho do porto a milhas em termos de propriedades bactericidas. Ou será que a convivência íntima de alguns Alentejanos menos privilegiados com gado ovino, bovino e caprino nos conferiu resistências diferentes? E porque é que no Norte isso não acontece? Será porque as espécies são diferentes? São de facto boas questões, ou então apenas devaneios de quem tem a sua medicação habitual em rutura no mercado. Uma coisa sei com toda a certeza: É preciso fechar o Alentejo! Estamos com uma incidência mínima de vírus apesar de toda a extensão do Alentejo. Por isso mesmo, estamos a ver Lisboetas a chegarem à nossa bonita região, mas desta vez não estão apenas de passagem para o Algarve. Querem mesmo cá ficar. Pois eu digo com toda a educação: Vão-se catar oh palhaços! Urge fechar o Alentejo e impedir que o vírus nos entre planície a dentro. Planície, e não só. Para isso temos de delinear uma estratégia. Uma hipótese será fechar todas as estradas que dão acesso ao Alentejo. Penso que a comunidade cigana nos pode ajudar nesse aspecto. Um acampamento em cada estrada para demover quem quer que se aproxime. Ninguém, e mesmo ninguém vai querer enfrentar uma família de ciganos determinada a manter alguém afastado. A não ser, claro, outra família de ciganos. É por isso que depois desta primeira barreira, vamos ter um bloqueio com tratores, e agricultores armados com pulverizadores contendo uma fortíssima e abrasiva solução de sabão azul de branco. Quem por ventura conseguir passar por estes obstáculos, terá de se aventurar pelo calor do Alentejo e fazer vários kms a pé até chegar perto de alguma habitação, onde seriam, obviamente, recebidos à paulada. O máximo que poderia acontecer era alguém superar todas estas provas, havendo assim a certeza que era descendente de Alentejanos, e como tal seria bem-vindo à nossa região. Mas isto é para ser já, mas mesmo já, posto em prática!!!!! Atenção, isto não é um exercício. Eu até tenho de ir ao bairro dos ciganos…fazer…….hã….. umas compras. Aproveito falo já com eles. Alguém por favor fale com os jovens agricultores! Ah! O que acham de abrir excecionalmente a fronteira do Alentejo para algumas profissões, como por exemplo a mulheres modelos de lingerie. Só assim uma hipótese que estou… sei lá, a lançar para o ar… só naquela… Despeço-me atarefado, porra! O Homem da Motoserra.

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Da Suíça com muita originalidade É o que se nos oferece dizer sobre Bölzer, uma banda que – no mínimo – intriga pela sua originalidade!!! Entrevista: CSA

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Saudações, Okoi! Tenho estado à espera da oportunidade de entrevistar Bölzer. Assisti a um concerto vosso no Vagos Metal Fest de 2018. Gostei muito do vosso estilo musical, mas consigo perceber por que razão pode parecer estranho aos olhos de alguns fãs de (Black) Metal. Como criaram esse estilo? Quais são as vossas influências? Okoi – Saudações! É um prazer. Fomos sempre muito bem acolhidos em Portugal e agradeço esta entrevista. Compreendo perfeitamente por que razão há pessoas que não gostam da nossa música, especialmente se forem fãs de Black Metal puristas, muito simplesmente porque não somos uma banda de Black Metal. Haha! Antes de mais, nós não compomos para agradar a ninguém em particular. Tudo o que criamos é porque nos dá prazer. É um processo muito intuitivo para nós, que nos permite exprimir muitas emoções que desaguam na música. Também não gostamos de forçar a criatividade de forma pouco natural. As canções exigem muito tempo para serem consolidadas e amadurecerem, antes de considerarmos que estão “acabadas”. Para abreviar, o nosso “estilo” é simplesmente muito pessoal e honesto. As nossas influências são muito variadas, porque ambos temos gostos musicais muito ecléticos. Não fazemos nada para que essas preferências se manifestem na nossa música, pelo contrário. Estamos especialmente focados em criar algo apaixonado e tão único quanto possível. O facto de terem nascido num país onde as pessoas falam três línguas diferentes e que tem contactos com pessoas do mundo inteiro influenciou a vossa música? Não me parece que a natureza sociogeográfica do nosso país de origem seja de grande relevância. O facto de a Suíça ser vergonhosamente conhecida por


Essa “majestade” pode […] ser vista como uma força governante, um obstáculo que se opõe à liberdade e à evolução do Homem.

produzir e promover “artistas” sem qualquer talento ao mesmo tempo que dá origem a talentos geniais de uma natureza menos acessível não a torna diferente de nenhum outro país, a não ser os territórios escandinavos, que parecem disponibilizar o elixir secreto na sua água potável. Pode dar-se o caso de o ambiente capitalista ou a faceta conservadora deste estado e das suas instituições levarem alguns a rebelarem-se e a saírem das suas fronteiras. E o facto de o teu pai ser também um músico apesar de ter nascido noutro país e de representar um estilo musical muito diferente do teu? O meu pai e a sua música tiveram certamente muito mais influência em mim. Tenho a sorte de ser filho de pais que têm um excelente gosto musical e, por conseguinte, tive a oportunidade de apreciar uma grande variedade de estilos desde muito cedo. O facto de eu me ter dedicado a um estilo diferente do dele também é irrelevante. Bem mais importante é o facto de ele me ter mostrado o que significa exprimir-se apaixonadamente através de um género musical usando um mínimo de instrumentos. Desde essa altura reconheci que nos assemelhamos no facto de ambos sermos músicos, apesar das diferenças de estilo. O Fabien tem uma “história musical” tão rica como a tua? Foi sempre baterista, mas também ele deve muito aos seus pais, que são ambos pessoas muito criativas e desempenham um papel de relevo na sua atual carreira musical e artística.

Ele é um percussionista extraordinário. Onde e como o encontraste? De facto, ele é único no seu género e penso que estávamos destinados a encontrarmo-nos, antes de mais como irmãos e depois como músicos que se entendem maravilhosamente a nível estético. O homem é autodidata e eu sintome abençoado por tê-lo ao meu lado. Fazem tudo juntos em Bölzer, não é? Depende do que entendes por “fazer tudo”… embora eu componha os riffs, escreva as letras e trate da maior parte da estruturação das canções, cada um de nós contribui de forma igual para o resultado final do que quer que façamos, seja de natureza gráfica ou musical. Logo, somos uma equipa. Quem é a “majestade” a que este álbum se refere? O título do álbum – «Lese Majesty» – deriva da expressão francesa “lèse majesté” que significa “fazer mal a uma majestade”. O uso que faço desta expressão está aberto a interpretações, embora o seu significado se possa tornar bastante evidente para quem ler as letras, que tratam essencialmente da denúncia de várias chagas sociais relacionadas com a religião e a natureza despótica da elite que nos governa, tanto em contextos históricos como contemporâneos. Essa “majestade” pode, então, ser vista como uma força governante, um obstáculo que se opõe à liberdade e à evolução do Homem. Que tópicos são abordados em cada canção? Tendo em conta a resposta dada à pergunta anterior, prefiro deixar isso em aberto para que o leitor possa interpretá-las à sua maneira. De uma forma muito sucinta, a mensagem de base é: destrói – cria. E por que razão as canções são tão desiguais no que diz respeito à sua duração (variando entre 9 e 2 minutos)?

Isso não é relevante. São assim, porque foi assim que foram concebidas. A tua interpretação vocal neste álbum soa muito dramática aos meus ouvidos. Em «Hero», era mais ou menos monótona (parece-me a mim). Gosto dos dois estilos, porque são ambos muito expressivos. Concordas comigo? Nem por isso… embora concorde que «Lese Majesty» apresenta um maior dinamismo, que resulta sobretudo do facto de que eu sou agora um vocalista mais experiente. No entanto, tenho que dizer que cada um desses lançamentos foi concebido à sua maneira e não vejo grande interesse em me alongar sobre as diferenças que os separam. Se tudo correr bem, a mensagem de cada um refletirse-á nos que quiserem deixar-se influenciar por ela. A quem encomendaram a capa para «Lese Majesty»? E de que forma se relaciona com o conceito do álbum? Também fomos nós que criámos a capa. Duvido muito que tenhas podido ver a segunda parte dela, mas posso dizer-te que as duas se completam dando origem a uma interpretação abstrata da oposição Homem vs Natureza, que dá o devido valor à futilidade humana. Li na informação fornecida pela editora que Bölzer vai fazer uma longa digressão pelo Centro, Leste e Norte da Europa. Por que não previram concertos em Portugal ou na Espanha? Não gostam do Sul? Pelo contrário, adoramos visitar os países do Sul e tocar neles, mas é difícil chegarmos lá com um orçamento limitado. De facto, estamos neste preciso momento em negociações para fazer uma curta digressão nessa zona da Europa no próximo ano. Portanto, mantenham-se atentos aos anúncios que formos fazendo! Facebook Youtube

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Crimson moon Eis duas qualidades que definem a arte musical de Crimson Moon, de acordo com Scorpios Androctonus o seu mentor. Entrevista: CSA

Saudações, Scorpios! Adorei o último álbum de Crimson Moon. Scorpios : Olá e obrigado. Já estamos a ter retorno sobre o álbum e as reações têm sido muito boas. Na realidade, o lançamento só vai acontecer no fim deste mês [agosto de 2019]. Esperamos ansiosamente por esse momento. Até agora, limitamo-nos a enviar cópias promocionais em suporte digital para se fazerem críticas, logo ninguém tem acesso à embalagem do CD digipack e do vinil duplo até as cópias físicas serem distribuídas. Embora eu não tenha dúvida de que a música vale por si só, penso que o artwork e o layout da autoria do Daniele Valeriani dão uma nova dimensão à experiência de ouvir este álbum. É curioso. Recebi agora mesmo as respostas de Mord’A’Stigmata à entrevista sobre o seu último álbum («Dreams of Quiet

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Places»), que trata igualmente da Morte. Também vês esta entidade como um “lugar tranquilo”? Eu não vejo a Morte como uma entidade, apenas como um conjunto de formas simbólicas que fazem parte da mitologia. Vejo a Morte como o grande desconhecido. Tudo o resto parecem-me conjeturas e especulação baseadas em crenças que não se apoiam em nenhum conhecimento exato. Eu diria que este álbum é muito litúrgico. Estou a pensar nos títulos das faixas (que se referem a tópicos de natureza religiosa), mas também na música (que tem uma toada solene que podemos associar a uma espécie de missa). Concordas comigo? Sim, tem uma atmosfera de Funeral [Metal], criada por elementos clássicos que evocam a morte e o luto. Também me parece que os

coros em Latim e o uso pontual do órgão de tubos desempenham um papel muito importante na evocação dessa atmosfera. A segunda faixa – “Altars of Azrael” – até me fez lembrar Batushka, uma banda polaca de Black Metal de que gosto muito. Que pensas disto? É a primeira vez que me deparo com essa comparação. Não tenho grande opinião sobre esse assunto, porque apenas ouvi algumas canções dessa banda (ou bandas?) há algum tempo atrás e apenas me lembro de que não me pareceram muito interessantes. O vosso som parece-me muito old school. Eu diria que é mais True Black Metal que o som das bandas norueguesas que atualmente adotam esse estilo. Como reages a este comentário? Vou considerar esse comentário como um elogio. As minhas maiores influências, no que toca ao Black Metal, datam dos velhos tempos. Mesmo as bandas e lançamentos mais recentes que me parecem interessantes de alguma forma, acabam por não me dizer nada pessoalmente. Penso que esse


- Dirias que a tua escolha de artistas convidados mostra que o Black Metal é realmente uma “grande família” com gente que vem de todas as partes do mundo? Nunca vi as coisas dessa maneira. Tratou-se apenas de convidar alguns músicos com quem já trabalhei ou estive em contacto ao longo de todos estes anos e que me pareceu que poderiam dar um contributo interessante para o álbum. sentimento se deve sobretudo à nostalgia, que resulta de anos de ouvir material de que eu aprendi a gostar. Sempre disse que não estamos a tentar reinventar a roda no que diz respeito ao Black Metal. No entanto, fico contente, quando uma banda traz algo de novo a um estilo que se tem tornado progressivamente mais redundante devido a um enorme fluxo de bandas durante os últimos 25 anos. Também há tendências que se vão manifestando ao longo dos anos e daí resulta muita música com um som muito genérico. Pareceme que um dos maiores desafios inerente à criação de música deste género é ser inovador sem comprometer as bases do género. Trato de escrever material que eu gostaria de ouvir, portanto não dou muita atenção ao que as outras bandas estão a fazer ou ao que é popular junto das massas. Daqui resulta que o nosso trabalho é honesto, na minha opinião. Convidaste vários músicos excelentes para atuar neste álbum. Por que os escolheste? Todos foram escolhidos pelas suas qualidades musicais e por causa da admiração que eu sinto pelo que eles criaram em termos musicais. - Foste tu que decidiste em que parte do álbum eles entrariam ou foram eles que escolheram? Embora a ideia de recorrer a convidados tenha sido pensada com antecedência, foi só na fase da gravação que surgiram as partes em que eles iriam participar.

Adoro a capa do álbum da autoria de Daniele Valeriani. Podes dizernos algo acerca da sua conceção e significado? Sim. O Daniele é, sem dúvida, um dos melhores artistas da actualidade para o Black Metal e uma pessoa com quem é fantástico trabalhar. Ultrapassou todas as previsões no que diz respeito ao layout, que foi extremamente difícil de fazer. Para além do seu talento inegável, o Daniele não trabalha para qualquer artista/banda, dedicando-se exclusivamente àqueles cuja música lhe agrada. Crimson Moon teve sempre a sorte de trabalhar com artistas maravilhosos, que ainda não estão demasiado vistos. Tentei sempre evitar contratar artistas quem fazem muitas encomendas para outras bandas e que trabalham para qualquer que esteja disposto a pagar o preço pedido. De facto, recuando no tempo, verifico que todos os artistas a quem recorremos no passado (Blood Moon Ausar, Kitti Solymosi, Sang Ho Moon) ou já não fazem trabalho encomendado e/ou praticamente desapareceram do domínio público. Mas isso não vai acontecer com o Daniele (haha), porque é fantástico trabalhar com ele, que é excelente numa grande variedade de estilos de artwork. Tenho a impressão de que esta é a primeira vez que tivemos o artwork pronto antes de termos o álbum escrito. Quando fiz o primeiro contacto com o Daniele, ele já tinha produzido esta obra de arte e eu pensava que ela já tinha sido usada e, portanto, não estava disponível,

mas gostei tanto dela que a usei como inspiração para compor. Tivemos sorte, porque afinal o artwork ainda não tinha sido usado e todos concorda mos que se adaptava na perfeição ao conceito do álbum. Verifiquei que a dada altura abandonaste os EUA para ires viver na Alemanha. Isso aconteceu porque te pareceu que a Europa é melhor para músicos de Black Metal? Sim, essa foi uma das muitas razões que me levaram a tomar essa decisão. Saí dos EUA em 1998, porque nessa altura, na minha opinião, não havia lá nada de particularmente interessante para um músico de Black Metal. Tenho a impressão de que a primeira banda de Black Metal que tocou onde eu vivia foi Dissection, que esteve em Corona, na Califórnia, lá por 1996. Vieram abrir para Morbid Angel na sua digressão para apresentar o álbum «Domination». Mas – para veres como as coisas eram nessa altura – os Dissection tocaram quatro músicas e vieram dizer-lhes que tinham de ficar por ali por uma razão desconhecida relacionada com o local ou o promotor. Provavelmente, estavam atrasados. Tenho a impressão de que ainda tenho esse concerto gravado em VHS. Nessa gravação, vê-se o Jon, com um ar muito surpreendido, a pedir desculpa ao público porque têm de ir embora e a banda a abandonar o palco. Crimson Moon começou em 1994. É muito tempo. - Podes dizer-nos quais foram os momentos mais importantes nessa longa jornada? Penso que estão relacionados com a constituição da atual formação da banda. Foi um trabalho árduo para mim encontrar os músicos certos para esta banda, o que é fácil de perceber, se tivermos em conta o facto de que demorei duas décadas a fazê-lo. - «Mors Vincit Omnia» é o vosso quarto álbum. Por que não tiveram oportunidade de lançar

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[…] Vejo a Morte como o grande desconhecido. Tudo o resto parecem-me conjeturas e especulação baseadas em crenças que não se apoiam em nenhum conhecimento exato.

mais álbuns durante todos esses anos? Foi uma opção da banda ou uma fatalidade? A certa altura, cansei-me de trabalhar com outros, de procurar uma editora que realmente quisesse apoiar a banda e decidi que iria fazer as coisas apenas para mim, quando e como eu quisesse. Dediquei-me muito a tocar com outras bandas e só comecei a escrever «Oneironaut» (2016), sozinho, quando me senti verdadeiramente inspirado para o fazer. Foi durante a gravação desse álbum que tudo começou a caminhar para a constituição da atual formação da banda e que eu tomei a decisão de fazer de Crimson Moon o principal foco da minha atividade. Portanto, abandonei Melechesh, que estava a consumir muito do meu tempo, energia e sanidade, e dediquei-me a algo bem melhor. Perdia mais dinheiro do que o que ganhava com essa música (se tivermos em conta o tempo, os sacrifícios, o equipamento, etc. que tinha de dedicar a este projeto). Quando algo que fazes começa a tornarse um fardo para ti, acabas por perder a motivação. Agora está tudo no seu devido lugar, pelo que

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posso dizer – com segurança – que Crimson Moon vai prosseguir a sua carreira e ser uma banda muito mais ativa do que até ao momento. Na Metallum, está anunciado que a banda se está a preparar para tocar ao vivo. - É a primeira vez ou um renascimento? Esse anúncio data dos fins de 2016. Não consigo compreender por que razão esse website não permite às bandas editarem as suas próprias páginas. Isto significa que nem tudo o que se lê na Metal Archives é um facto. Essa informação corresponde a um anúncio que foi feito há 3 anos e que se tem mantido na descrição da nossa banda. As nossas primeiras atuações ao vivo correspondem a mini digressões feitas na América do Norte em 2006 e também em 2007. Voltamos a tocar 10 anos depois e a nossa primeira atuação ao vivo fora da América do Norte ocorreu no Speyer War Mass Festival, na Alemanha. Desde essa altura, temos continuado a tocar, sobretudo em festivais. Vamos dar um novo concerto a 17 de agosto [de 2019] no Barther Open Air Festival.

- O que podes dizer aos nossos leitores que os faça sentir que ouvir Crimson Moon tocar ao vivo é uma experiência que não podem perder? Trabalhamos muito para os nossos concertos e levamo-los muito a sério. Não estamos interessados em fazer centenas de concertos por ano ou grandes digressões. Portanto, quando tocamos ao vivo, é sempre uma ocasião especial. Nos últimos anos, as coisas mudaram muito no que diz respeito aos festivais e às digressões. São quase sempre as mesmas bandas a tocar, o que faz com que os ache aborrecidos. Tocar ao vivo não é a nossa maior prioridade, logo somos bastante selectivos relativamente aos lugares e às datas em que o fazemos. Nada é definitivo, pelo que tudo é possível… incluindo fazermos uma paragem com duração indeterminada no que diz respeito a tocarmos ao vivo. Essa decisão ainda não está tomada de momento, mas, como já disse, tudo é possível. Posto isto, penso que quem quer que seja que nos tenha visto tocar ao vivo não deve pensar que isso vai durar para sempre! Facebook

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Uma Sexta-Feira Qualquer! Por: Nuno Lopes

Muito bem! É sexta-feira (não 13) e está um dia chuvoso, que até faz parte da ementa nesta altura do ano, até aqui tudo, o grande problema começa na chegada à estação dos comboios e se constata o habitual. A CP e o seu (mau) funcionamento Linha da Azambuja e, parece-me a nível da região de Lisboa e comum a todas as redes de transportes! Até aqui muito de estranho mas nada de anormal. Depois disto nada melhora. Entro num comboio «ao barrote» e, pior que chapéus de chuva e roupas molhadas, só mesmo a classe infanto-juvenil-teenager wanna be que encha a carruagem, agindo como se aquilo fosse o Sudoeste, ou o Festival do Panda. Manos, existe uma grande diferença entre Transportes Públicos e Locais Públicos. Pode parecer estranho, mas estar com as colunas Bluetooth da moda, com os seus muitos Kwh de potência, não vos dá o direito de obrigar os outros a aturarem a vossa música (de merda, vá!) Malta, isso não é cool! É só demasiado parvo, irritante e justiça bem o facto das miúdas preferirem homens maduros e sedentos de orgias, como o fulano de Cascais. Para além disso, torna-se demasiado desgastante a vossa linguagem. Eu adoro praguejar, quem me conhece sabe disso, mas, lá está, a liberdade de um acaba quando começa a do outro! Não sou obrigado ao vosso praguejo académico! A questão primos, é simples, comportem-se man! Isso que vocês fazem não é fixe ao nível social! Tornavos ignóbeis, estupidos e o resultado disso são uma cambada de imagens decalcadas de uma MTV que não cumpre o seu dever, ou de um qualquer reality show, who fucking cares!... vocês vivem numa ilusão de que não há regras, de que é tudo «à bacano». Caguem nisso, primos! Pais, wake the fuck up! Eles não mandam nada! Muitos dos pais de hoje foram adolescentes como eu fui, como podem permitir! Avós que um dia foram pais, permitem isto? É certo que é apenas uma viagem de comboio e que a culpa é, claramente da CP!

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( COVID ) dizer que isto está complicado Por: Ricardo Pires

Normalmente esta rubrica é dedicada a assuntos relacionados com a Tatuagem, mas para tempos extraordinários, como o que estamos a viver, vou incluir todas as artes que dependem de público para a sua subsistência. Sim, é verdade, ninguém estava à espera de uma situação assim, e todos nós estamos a “levar porrada da grossa”, simplesmente porque fomos proibidos de trabalhar. Tenho que incluir neste role não só os “front men” mas também todos os que trabalham para que esses o sejam. Falo dos roadies, técnicos, managers, dançarinos, encenadores, pessoal das montagens dos palcos, músicos, barmans, seguranças e afins, todos os que proporcionam a efectividade do espectáculo. Para cinco subirem a um palco, secalhar vinte ou trinta trabalharam para esse efeito. Não se enganem, o nosso meio de subsistência foi-nos tirado sem a certeza de que iremos ter ajuda nestes tempos tão difíceis. Incluo-me nesta maralha porque não sou só tatuador mas também músico. Agora de volta às Tattoos: Acho incrível como é que numa altura destas, ainda existem pseudo tatuadores que tentam romper esta quarentena sanitária, pondo em risco toda a sua família e a dos seus clientes somente para fazer uns trocos. Tendo ainda a lata de postar publicamente o que andam a fazer e ainda ofendendo quem, muito bem, os critica. Será que acham que são os únicos a receber propostas de trabalho? Pois... não são. Todos nós, tatuadores, recebemos diariamente, mensagens de clientes a requererem os nossos serviços. Cabe-nos a nós, profissionais, termos ética para não cairmos neste engodo. A situação é séria! E o acto de tatuar é propicio à contaminação. É tão culpado o que tatua como o que é tatuado. Pessoalmente eu acho que é uma falta de respeito para com os profissionais de saúde, que tanto estão a dar para conter esta pandemia, permitir e facilitar a propagação da mesma. Sejam conscientes , se todos ajudarmos, todos vamos ultrapassar estas dificuldades. Portanto “FIQUEM EM CASA” Só me resta desejar que isto passe depressa para que possamos voltar à nossa vida normal e recuperarmos deste “ximbalau” que nos foi imposto. #EuFicoEmCasa

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CRITICAS VERSUS A LCEST «Spiritual Instinct»

(Nuclear Blast) Com uma carreira construída a estilhaçar as fronteiras do black metal, com o shoegaze a ter aqui a função similar à de um solvente, os Alcest comprovam em «Spiritual Instinct» por que razão são das bandas mais excitantes do selo Nuclear Blast. Neige, uma vez mais, revela todo o seu talento enquanto compositor em músicas como “Sapphire”, “Protection” ou “Spiritual instinct”, mas em lugar de oferecer destaque a uma ou outra faixa, há que dizer que este é claramente um álbum a valer pelo seu todo e que solicita ser escutado de fio a pavio. E já que falamos de Neige, deve valorizar-se igualmente o seu labor enquanto letrista: “Le miroir”, por exemplo, quiçá na sua parte instrumental a música menos conseguida e interessante deste «Spiritual Instinct», é compensada pela sua parte lírica, estando ao nível das melhores letras que se podem encontrar na carreira dos Alcest, fazendo valer a pena desenferrujar o francês. Não há por aí muitas bandas como esta; mesmo partindo da evidência que a mistura de black metal com post-metal, shoegaze e afins seja cada vez mais uma trend, os Alcest parecem nitidamente estar na linha da frente dessa tendência (que eles próprios ajudaram a criar), e «Spiritual Instinct» é mais um atestado dessa liderança, sendo ao mesmo tempo um dos melhores lançamentos do último trimestre de 2019. Nota final para a prestação dos Alcest no mais recente Under The Doom, onde se comprovou que os novos temas também funcionam bem ao vivo. [8.5/10] HELDER MENDES

A N AC R U S I S

«Manic Impressions» & «Screams and Whispers» (Metal Blade Records) Ainda obscuros para muitos metaleiros, os Anacrusis figuram nos anais do Metal como um dos mais curiosos (e subestimados) fenómenos de criatividade a marcar o início da década de 90. A reedição dos dois últimos discos da banda norte-americana é pois uma óptima oportunidade para (re)descobrir música que ainda hoje soa a aventureira, apesar de somar mais de 15 anos de idade. Com origem na cidade de St. Louis, em 1986, o colectivo encabeçado pelo talentoso Kenn Nardi viria rapidamente a distinguir-se pela sonoridade thrash muito própria, exibida no seu estado mais apurado no terceiro registo, «Manic Impressions», publicado em 1991. Este é um disco excêntrico, com um tipo de composição deliberadamente apostada em evitar os clichés do género, que acabou por resultar, segundo confissão posterior do próprio Nardi, em material desafiante, nada fácil de reproduzir ao vivo. Com «Manic…» ficam para a posteridade pérolas intemporais do thrash mais técnicista como “Paint a picture”, “Something real”, “What you became”, ou mesmo a genial cover de “I love the world”, original dos New Model Army, todas marcadas por um peculiar registo vocal que vai desde o suave e melódico até aos bramidos mais agudos. Mas o verdadeiro golpe de génio dos Anacrusis viria a acontecer em 1993, na forma do álbum «Screams and Whispers». Aqui a banda afasta-se dos cânones do thrash, em favor de tendências mais progressivas e de uma sonoridade rica em teclados. Os riffs não perdem pitada do peso, mas o enfoque agora é menos na velocidade e mais na melodia e nos fraseados de guitarra. O dramatismo e as atmosferas hipnóticas protagonizadas pelos teclados e pelas orquestrações são a grande novidade deste disco, tendo surgido, note-se, numa altura em que estes elementos eram ainda relativamente inexplorados nas vertentes mais duras do Metal. Este quarto álbum é claramente o trabalho mais criativo da formação, não havendo uma única faixa que se possa considerar inferior. Como se sabe, é também o canto de cisne da banda de Ken Nardi (o grupo viria a dissolver-se logo a seguir), o que nos deixa uma dúvida no ar: terá sido «Screams...» o clímax criativo absoluto dos Anacrusis? Se não foi, então isso significa que a perda para o Metal causada pelo seu desaparecimento, foi ainda maior do que imaginávamos. MANIC IMPRESSIONS [8.5/10], SCREAMS AND WHISPERS [9.5/10] ERNESTO MARTINS

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B ERZERKER LEGION «Obliterate the Weak»

(Listenable Records) Formados em 2016 os Berzerker Legion não são meros desconhecidos. Aliás, isso está bem longe da realidade dado que neste supergrupo temos a presença de músicos cujo talento foi já ouvido em bandas como Therion, Asphyx ou Hypocrisy. Por isso, falta de qualidade não há. «Obliterate the Weak» é um disco que, mesmo sendo Death Metal, se escuta de forma leviana. Com uma produção que tem tanto de moderno como old school, a banda traz um conjunto de temas que se escutam bem e onde há alguns momentos interessantes, sem que para isso tentem reinventar o que seja. É certo que poderemos sempre comparar com o passado, mas será que vale mesmo a pena? O que este disco tem de melhor é a honestidade com que foi feito e a certeza de que a banda não pretende nada mais do que mostrar que os seus elementos são mais do que mostram nos seus projectos principais. Um disco ameno que é feito, sobretudo, para fans do género. [6.5/10] NUNO LOPES

B LIND GUARDIAN «Twilight Orchestra: Legacy of the Dark Lands»

(Nuclear Blast) Isto até pode parecer estranho dito desta forma mas, este novo disco dos veteranos Blind Guardian merece um Oscar. «Twilight Orchestra...» é, efetivamente, um disco que nos permite ter um autêntico filme de fantasia. Para qualquer artista um dos melhores elogios que se pode dar é o da sua arte mexer com as emoções e este é o caso deste audiofilme que os Blind Guardian apresentam em 24 temas que nos tranportam para um épico de proporções gigantestas onde há espaço para o confronto, para o amor, para a vingança, para o ódio. Tudo servido numa narrativa envolvente e que se vai soltando num enredo que pode ser o que se quiser, onde se quiser. É certo que estes guardiões não necessitam de provar nada a ninguém mas, caramba, tinham de fazer um disco tão completo, tão grandioso que mexe com tudo o que tenha poros! O melhor de tudo é que a banda se desligou dos amplificadores e consegue, ao fim de tantos anos de carreira, trazer algo de novo (e surpreendente) que apanha seguidores (e não só!) de surpresa! Genial! [10/10] NUNO LOPES

BLOOD INCANTATION «Hidden History of the Human Race»

(Century Media) Formados em 2011, cedo os Blood Incantation se impuseram como uma força a ter em conta no cenário Death Metal, facto que não passou alheio à influente Century Media que rapidamente aos adicionou ao seu roster. Ora pois bem, este conjunto de quatro faixas é qualquer coisa de abismal, seja pela tormenta sonora, seja pela qualidade e versatilidade das mesmas. Os Blood Incantation conseguem, de forma genial, combinar os elementos do oldschool Death Metal com um qualquer espectro progressivo que assenta que nem uma luva na vertente scy fi que a banda incute aos seus temas e onde prospera o que vai alem da realidade mística. Se existem duvidas sobre a possibilidade do Metal ter tanto de extremo como de progressivo, estes norte americanos provam essa mesma possibilidade. Este é um segredo que deve ser desvendado. [9/10] NUNO LOPES

BÖLZER «Lese Majesty»

(Lightning & Sons) Não é fácil explicar o fascínio visceral, quase mórbido, que a música dos Bölzer tem o dom de exercer. Fundindo elementos reconheciveis de black e death metal num cocktail singular com algo de progressivo, a banda suíça tem vindo a desenvolver, desde 2008, um estilo de extremidade muito próprio, que proporciona, acima de tudo, uma experiência imersiva, orgânica e aterradoramente espiritual. E o que é mais incrível é que toda a sonoridade é produzida, quase só (mesmo ao vivo), por dois instrumentos: a guitarra de dez cordas de KzR (Okoi Therry Jones) e a atroadora bateria de HzR (Fabian Wyrsch), dois músicos com uma visão comum a funcionar na mais perfeita das simbioses. O resultado é uma amálgama sónica devastadora de composições torcidas e longamente elaboradas, que passam de turbilhões furiosos de blast-beats a saturados e repetitivos riffs doomy acompanhados de percussões ritualistas e mesmo passagens ambientais. Pelo meio a voz de KzR vai revelando um inferno interior, por entre rugidos ásperos de tom ameaçador, ou através dum registo melódico, limpo, que por vezes soa como uma invocação shamanica. Com quatro temas e meia hora de duração, «Lese Majesty» retém muitos elementos já presentes em «Hero», o único álbum que a formação de Zurique publicou até agora (em 2016), ao mesmo tempo que faz a ponte com algum do material mais antigo registado nos EPs «Aura» e «Soma». Falta-lhe um pouco da veia inventiva e do dinamismo encontrado em «Hero», mas o essencial do sangue Bölzer continua lá com todo o fervor. Um disco só para quem procura desafios mais arriscados do que a média. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

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B U R D E N OF L I F E

«The Makeshift Conqueror» (Noizegate Records) Desde «In Cycles» que vou seguindo a carreira dos Burden of Life. E foi com grande curiosidade que recebi «The Makeshift Conqueror» na caixa do correio. «In Cycles» é um bom álbum de Death Metal melódico ali a meio caminho entre os In Flames e os Dark Tranquility. Portanto, quando foi altura de carregar no play a surpresa instalou-se. Grande evolução, principalmente no que diz respeito à variedade e versatilidade da banda. A parte melódica manteve-se mas o Death Metal tornou-se mais progressivo, harmonias instrumentais, mais vozes limpas – já que em «In Cycles» as vocalizações são sempre agressivas – intercalados com secções acústicas. De repente as músicas mais directas transformaram-se em temas mais trabalhados e mais longos – a música mais curta tem quatro minutos - uma balada ao piano – mas as restantes sempre acima dos cinco minutos, terminando com «The Makeshift Conqueror», o tema mais longo de onze minutos. Face a isto, a estrutura dos temas é diferente, mais complexa e progressiva, com secções acústicas e semi-acústicas, sem nunca nos fazer “perder o norte” e mantendo sempre a fluidez dos temas. Só para citar um exemplo interessante, de toda esta variedade e versatilidade, destaco o interlúdio de samba no tema “Anthem Of The Unbeloved”. Samba, perguntam vocês. Sim, uns largos segundos de samba perfeitamente enquadrados no tema. Esta variedade de diferentes tempos e “texturas” musicais é feito de uma forma absurdamente coerente e tendo em conta os dois álbuns anteriores, «The Makeshift Conqueror» é uma tremenda evolução musical. [8.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

EARTH DRIVE «Helix Nebula»

(Raging Planet) Helix Nebula é um título que consegue descrever bem o som que nos envolve, quando ouvimos este novo trabalho dos portugueses Earth Drive. Porquê? Pode ser em parte respondido pela faixa de abertura do álbum: “Cosmic eye”, onde os sons me fazem cair num filme de Terrence Malick numa daquelas cenas onde o espaço está lentamente em movimento, sentindo-se a força inerte nos movimentos lentos que demoram milhões de anos. Este é o meu primeiro contacto com os Earth Drive, por isso apenas poderei falar deste trabalho, sem comparação com trabalhos passados. Se bem que sabemos este ser o seu segundo longa-duração. Trata-se de uma sonoridade que me conquistou logo nas primeiras notas, as guitarras são duras, o baixo é fortíssimo, os ritmos são pilares a erguerem-se e dar azo a um templo que alberga a voz feminina que navega por entre os momentos instrumentais de forma intoxicante, romântica, venenosa até. O trabalho tem alguns temas completamente instrumentais, de mais curta duração (exceptuando “Amazon”, que com os sons de slides de guitarra acústica dá um toque “rústico” que encaixa incrivelmente no conjunto) – acentuam a característica atmosférica deste trabalho, dá-lhe um toque mais pessoal, a meu ver, que nos faz aproximar mais deste ambiente criado por um conjunto de faixas que constituem este «Helix Nebula». Um trabalho que soa muito profissional, muito cuidado, o que é de admirar num mundo cada vez mais apologista do fast. [9/10] ADRIANO GODINHO

EM PTY V «Mus-Pri»

(Raging Planet) Enquanto o Homem procura alternativas a este planeta tóxico nos confins da Galáxia, não se apercebe que já fomos encontrados por três seres de outro Mundo que nos trazem o vírus porco e imundo de um Planeta Amarelo. Mero sci-fy, ou talvez nem tanto. O que é certo é que este trio faz da música instrumental a sua força, e esse será talvez o maior elogio, dado que, por estas terras, não abundam este tipo de sonoridades. Aliando a tudo isso uma imagem e uma estética cuidada e pensada, os Empty V apresentam neste «Mus-Pri» algo de refrescante a uma cena que tantas vezes carece de imaginação. É certo que este não é um disco para todos os que pisam a Terra, mas os que se encontrarem com ele vão ficar surpreendidos com este vírus para o qual ainda não foi encontrada uma cura, mas que interessa isso. Este é um verdadeiro exemplo de que quem cala nem sempre consente. Produzido por Wilson Silve (More Than a Thousand), «Mus-Pri» é um disco que vale por um todo e revela três seres alienígenas na pele de homens. Um bom disco vindo de uma galáxia perdida no espaço temporal. [7.5/10] NUNO LOPES

END OF M ANKIND «Faciem Diaboli»

(Malleus Records) Combinando letras em inglês e em francês, embora estas em menor quantidade, os gauleses End of Mankind são mais uma banda apostada em associar o “pós” ao black metal, sendo «Faciem Diaboli» um longa-duração de estreia bem conseguido. “Vision” ainda abre o disco de forma mais ou menos convencional, remetendo-nos para a segunda vaga do black metal (aquele feito à maneira escandinava), mas é a partir da segunda faixa “Howlings and lurid figures” que as coisas começam a tomar um rumo mais interessante. Como curiosidade, faça-se notar que esta mesma “Howlings and lurid figures” termina com um sample de “Fado Menor”, um dos fados mais reconhecíveis, em particular na interpretação de Amália Rodrigues. À terceira faixa, “Drowning in solitude”, memorável pelo seu riff, os End Of Mankind convencem em definitivo e o restante de «Faciem Diaboli» acaba por manter a competente

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fasquia, mesmo que uma faixa como “Limbes” não esteja aqui a fazer coisa alguma. Em termos de conceito, «Faciem Diaboli» também não é menos interessante: a reclusão feminina, mormente por motivos religiosos, é o tema escolhido pelos End of Mankind para este trabalho, e pecará certamente por defeito dizer que se trata de uma temática muito pouco abordada no âmbito das sonoridades mais metalizadas. Finalize-se afirmando que End of Mankind é um bom nome para uma banda que circula em torno do black metal, convidando a despertar a misantropia que há em cada um de nós, acostumados a viver neste mundo “humano, demasiado humano”. [8/10] HELDER MENDES

EXHUM ED «Horror»

(Relapse Records) Os apreciadores de bom death/gore/grind já sabem que os Exhumed dispensam apresentações, pois são dos maiores nomes dentro desse nicho pútrido e sangrento que os britânicos Carcass ajudaram a criar e infectar. Esses mesmos apreciadores saberão, igualmente, que pouco valerá a pena recomendar o mais recente «Horror»: a carreira dos Exhumed já é em si mesma recomendação suficiente e garantia da qualidade daquilo que aqui se pode escutar. Em 26 minutos, os Exhumed mostram como se faz; afinal já andam nestas coisas há mais de duas décadas e isso nota-se na maturidade (se é que se pode falar em maturidade quando temos letras como “Re-animated cannibals/Rise again to eat their fill/Flesh to rend and blood to spill/Return to life to fucking kill” em “Ravenous Cadavers”) que jorra destas canções, se assim lhes podemos chamar, como sangue de uma veia acabadinha de cortar. Ou seja, as letras, a estética, os riffs… tudo o que se encontra em «Horror» é exactamente aquilo que se espera – nem mais, nem menos – quando se coloca um CD de death/grind para rodar na aparelhagem. E os Exhumed voltam a cumprir com a mesma eficácia de uma picadora de carne no talho – e claro que tinha de haver referências a picar carne (em “Dead Meat”, por exemplo) num disco como «Horror»: “Corpse-grinding madness/Makes a meal out of you/Canned, sold, and devoured/Your remains now pet food”. Bom disco e garantia de tempo bem passado (no pun intended). [8/10] HELDER MENDES

FEN «The Dead Light»

(Prophecy Productions) Black metal atmosférico com influências post-rock e shoegaze, do tipo que remete para autoridades reconhecidas na matéria como os extintos Agalloch, Alcest ou mesmo Lantlôs, já não é propriamente um conceito novo. Por isso, este novo álbum dos ingleses Fen pode até não surpreender pela inovação, mas garanto-vos que é, com toda a certeza, um trabalho muito acima da média no enquadramento do sub-género referido. Estamos a falar de vastas composições, plenas de musicalidade, que fluem graciosamente através dum espectro variado de intensidades e moods, desde os momentos mais atmosféricos e nostálgicos até aos segmentos mais desenfreados e frios, sempre com base em melodias de qualidade quase transcendente. “Witness”, o sonhador tema de abertura, é o exemplo acabado de como o genial se obtém da maior das simplicidades. “The dead light (Part 1)” acusa as influências ainda presentes de Enslaved, enquanto que a (Part 2) inclui alguns dos melhores riffs em tremolo. “Nebula” e “Exsanguination” são os números mais brilhantes. No primeiro a voz de The Watcher remete por momentos para o universo dos italianos Novembre; no segundo, os tempos e as sonoridades têm algo de Opethiano. “Rendered in Onyx” inclui coros contagiosos e alterna magistralmente entre partes prog e o melhor black melódico. Depois de um disco exigente como foi «Winter»(2017), os Fen regressam aqui mais focados e dinâmicos, com um trabalho mais apelativo sem nunca ser imediatista. Uma abordagem diferente de tudo o que ouvimos do trio Londrino até agora, e talvez o registo do seu melhor momento. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

FOOL’S GHOST «Dark Woven Light»

(Prosthetic Records) Ouvi bastantes vezes este álbum durante os meus períodos mais ocupados. Agora com o COVID-19 ainda mais tempo tenho para poder estar a trabalhar com a música a tocar. Devo dizer que várias vezes a música despertou-me a atenção e acabo por ou perder a concentração ou ser invadido por um sentimento de bem-estar. Os sons deste álbum são bastante acessíveis e dóceis, tornando-se num álbum muito fácil de ouvir. A voz apaziguadora da vocalista Amber Thieneman torna este trabalho muito fácil de apreciar, com o acompanhamento instrumental de Nick Thieneman os sons criados são transcendentais, levam-nos de viagem para longe e perto ao mesmo tempo. A banda é constituída por apenas estes dois elementos e a música é, diria, minimalista e intimista. São dez temas de reflexão, todos com um certo feeling de perda, de sofrimento. Ouvir este trabalho repõe em causa os nossos pensamentos, faz-nos pensar sobre as nossas coisas e a nossa mente viajar, muito facilmente. Muito bem-vindo neste momento em que não podemos sair de casa. Esta dupla americana, do Kentucky, liberta aqui uma bomba, não das que explodem mas das que nos afectam lá dentro. Os instrumentos usados são muito simples e intimistas, órgãos, pianos, guitarras limpas,... tudo para realçar a voz cristalina e forte de Amber. Trabalho recomendado para fãs de música calma e inspiradora. Não para os fracos de coração. [8/10] ADRIANO GODINHO

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KING «Coldest of Cold»

(Indie Recordings) Se só agora tomaram contacto com este trio australiano, não se preocupem apesar de terem perdido um grande disco de estreia que foi «Reclaim the Darkness». Mas aqui o que importa é este segundo registo, novamente com selo Indie Recordings, e que surge dois anos depois do disco de estreia. «Coldest of Cold» é um disco intenso e que surpreende pela qualidade de um trio que, apesar de australiano, deve muito mais a bandas como Immortal ou Satyricon. Talvez mais melódico que o seu antecessor, «Coldest of Cold» prima pela estética apresentada e, ao mesmo tempo, pela diversidade. Há por aqui momentos como “King” ou a faixa titulo que prometem muito headbanging, sendo igualmente impossível resistir à forma quente como a banda apresenta os seus temas gélidos. Os King conseguem, assim, trazer ao de cima tudo o que o Black Metal tem de bom e com isso fazem com que, ao segundo disco, se comecem a tornar um caso sério no género. Este disco é um passo em frente e a prova que falta para se ter a certeza que este trio nasceu, efectivamente, no hemisfério errado. Façamos vénia a estes reis. [8/10] NUNO LOPES

LORD M ANTIS «Universal Death Church»

(Profound Lore Records) Depois dos tumultos internos ocorridos em 2014 e do suicídio de um elemento fundador que precipitou, em 2016, a desintegração da banda, poucos esperavam que os Lord Mantis se voltassem a reerguer. Mas os infortúnios sofridos em grupo têm o poder de inspirar união, tendo sido talvez isso que levou Charlie Fell (voz/baixo) e Andrew Markuszewski (guit.) a enterrarem o machado de guerra e reactivarem a formação (que inclui o guitarrista Ken Sorceron dos Abigail Williams) que gravou o álbum «Death Mask»(2014). O novo registo que resultou desse reagrupamento – este «Universal Death Church» – conta com o novo baterista Bryce Butler (Contrarian, ex-The Faceless), que veio ocupar o lugar do malogrado Bill Bumgardner, e não foge certamente ao cocktail único, sujo e depravado, de black metal caustico e post-doom que tem sido a imagem de marca do colectivo de Chicago. Mas traz também algo de novo: desta vez a misantropia lírica cuspida pela voz torturada de Fell é estendida a texturas sónicas mais aditivas e a temas um pouco mais fáceis de digerir. Isto é evidente a seguir à bujarda de abertura “Santa Murte”, assim que o disco entra no mid-paced triturador de “God’s animal” que conta com uma magnífica prestação do guitarrista Dallas Thomas dos Pelican. “Qliphotic alpha” é outro caso: começa maquinal mas depois muda, inesperadamente, para um registo melódico quasi prog. “Consciousness.exe” também fica no ouvido à primeira por causa do riff de contornos industriais, o que contrasta com o épico “Hole” pontuado pelas linhas sombrias de saxofone de Bruce Lamont dos Yakuza, tema que fecha da melhor maneira esta inesperada, mas muito bem-vinda lição em niilismo dos Lord Mantis. [8/10] ERNESTO MARTINS

N I G H T W I SH

(«HUMAN. :||: NATURE.») (Nuclear Blast) Os Nightwish deverão ser daquelas bandas cujos lançamentos são sempre escalpelizados até ao mais ínfimo pormenor. «HUMAN. :||: NATURE.» não será excepção e por alguns comentários entretanto lidos não irá ser consensual. Portanto, já devem desconfiar que há mudanças… Sendo assim, como é que eu vejo a direcção tomada por Tuomas Holopainen? Eu diria que os Nightwish deixaram de focar-se tanto no individual, isto é, deixaram de fazer as músicas mais direccionadas para a “actriz” principal - Floor Jansen – e em vez disso, começaram a surgir os outros “actores”. A prova disso são os temas “Harvest” cantado por Troy e “Endlessness” por Marko. As orquestrações estão cada mais elaboradas e integradas nos temas e se havia dúvidas relativamente à genialidade musical de Tuomas, «HUMAN. :||: NATURE.» é um perfeito exemplo. Ainda temos o contributo cada vez maior dos Uilleann Pipes, transformando a música cada vez mais numa música universal e cultural, ou se quiserem, numa mistura fantástica de Rock, Metal, Folk e neoclássico. Vejam estes Nightwish como um filme… um filme que conta uma história, sem protagonistas de primeira ou segunda, onde a mais valia e o trunfo é “o todo”. Não esperava que os Nightwish fizessem sempre “Oceanborn’s” ou “Once’s”, lucidamente temos de pensar que seria uma “senhora” seca. No entanto, dado o experimentalismo custou-me um pouco a entrar neste “argumento”, perceber que Floor, sendo a excelente vocalista que é, “perdeu” um pouco de protagonismo mas que isto não poderia ser de outra forma. Mas a cada audição que passa cada vez mais tudo parece fazer sentido. Os mais puritanos, aqueles que procuram os ritmos desenfreados, mais potentes, mais cavalgantes poderão ficar ligeiramente decepcionados mas «HUMAN. :||: NATURE.» faz todo o sentido. Esqueci-me… há ainda o segundo CD – mais uma vez… a genialidade de Tuomas…. um tema dividido em oito partes, totalmente orquestrado. Não sei se os Metalheads em geral irão gostar mas os fãs de Nightwish terão aqui uma bela surpresa. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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MAYHEM «Daemon»

(Century Media) São discos como estes que nos fazem sentir que, de facto, as lendas existem. É claro que, por muito que façam, os Mayhem nunca se vão desligar do passado sangrento e polémico, ainda que a banda também (por vezes) utilize isso a seu favor, e fá-lo muito bem. Mas, por outro lado, ao longo destes 35 anos de carreira estes senhores conseguem sempre suplantar o que já fizeram e com isso reinventam o seu som, o que permite aos seus seguidores serem surpreendidos. «Daemon» segue isso mesmo. Este disco é um autêntico manjar Black Metal que muitas vezes deixa de o ser. Podemos mesmo dizer que «Daemon» é uma ópera Black Metal servida por uma banda cada vez mais maléfica, atingindo o patamar de excelência em momentos dilacerantes e sombrios. «Daemon» é um disco que remete para o clássico «De Mysteriis Dom Sathanas» na sua genialidade, podendo mesmo ser um digno sucessor, tal a magnitude apresentada. Os Mayhem estão bem e recomendam-se, ensinando assim como se faz um enorme disco de Black Metal. [10/10] NUNO LOPES

RUPHUS

«Let Your Light Shine» (Karisma Records) Este é especialmente dirigido aos apaixonados pelos clássicos dos anos 70. A banda em apreço – os noruegueses Ruphus – é nada mais que o porta-estandarte histórico do rock progressivo daquele país nórdico e está a ter toda a discografia reeditada. Estiveram activos entre 1970 e 1981, tendo publicado um total de seis álbuns, o primeiro dos quais «Newborn Day»(1973), rico em referências a Uriah Heep e King Crimson, e logo a seguir «Ranshart»(1974), fortemente inspirado nos Yes. Este «Let Your Light Shine» saiu no início de 1976 e foi o primeiro disco da banda de Oslo a enveredar por um estilo de jazz rock. Reza a lenda que foi Hakon Graf, o teclista, quem bebeu essas influências dos Moose Loose, grupo de jazz onde tocou também. Verdade ou não, o certo é que este terceiro registo marcou um ponto de viragem definitivo para o grupo, abrindo-lhes as portas da Europa, especialmente as da Alemanha, onde se tornariam ainda mais populares do que na sua própria terra natal. Remasterizado por Jacob Holm-Lupo (dos White Willow), «Let Your Light Shine» traz-nos 40 minutos do melhor progressivo vintage que se possa desejar. “Sha bah wah” e “Brain boogie”, onde a vocalista Gudny Aspaas brilha no estilo scat, são as mais jazzy. A secção rítmica arrasa a todo o momento. Os instrumentais “Corner” e “Second corner” têm ambos aquele feeling naíve característico dos Camel e os solos de guitarra e de teclados são todos tão geniais que não ficam a dever nada aos Latimers e aos Bardens dos anos 70. Claramente, os Ruphus nunca alcançaram a popularidade das congéneres anglo-saxónicas, mas não foi certamente por falta de talento. [9/10] ERNESTO MARTINS

SCHAM M ASCH «Hearts of No Light»

(Prosthetic Records) Já não ouvia Black Metal vanguardista com esta classe deste os tempos áureos dos Secrets of the Moon. A banda em causa, os Schammasch (que impressionou no Vagos Metal Fest 2018), já tinha dado mostras de grande potencial neste nicho estético, em 2016, através do mastodôntico triplo CD «Triangle», mas, mesmo assim, acaba agora por surpreender com este quarto longa duração, tal é o salto qualitativo conseguido. «Hearts of No Light» adiciona mais atmosfera e musicalidade, sem nada comprometer a ambiência ritualista e a sonoridade imponente que conhecemos da banda suíça. “Ego sum omega”, “Qadmon‘s heir” e “Katabasis” são os temas que se desenvolvem segundo parâmetros mais próximos do que ouvimos em «Triangle», embora com mais dinâmica e um trabalho de guitarras incomparavelmente mais inspirado. As faixas restantes já incluem elementos mais diversos e até se aventuram por paletas estilísticas inéditas. Casos flagrantes são o vagamente gótico e experimental “Paradigm of beauty” e o delirante “I burn within you”, que se destaca pela sofisticada malha percussiva e pela performance vocal esquizofrénica do convidado Aldrahn (Thorns, ex-Dødheimsgard). Os instrumentais “Winds that pierce the silence” e “A bridge ablaze”, onde o piano, executado pela pianista clássica Lillian Liu, é o elemento central, cabem também nesta última categoria, sendo essenciais no processo de construção da aura de carvão que atravessa todo o disco. E até os sinistros 15 minutos ambientais de “Innermost, lowermost abyss” funcionam bem como terminus deste que é o melhor momento, até agora, dos Schammasch. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

SPITEFUEL «Flame to the Night»

(MDD Records) Depois da surpreendente saída de Stefan Zörner os germânicos não perderam tempo encontraram em Philip Stahl um digno sucessor de Zörner. É claro que nunca é fácil quando se altera um membro como o vocalista mas, neste caso, a resposta do quinteto revela-se tremendamente eficaz, mostrando que a banda manteve inalterada a sua génese mas, ao mesmo tempo refresca a sua própria identidade. «Flame to the Night» é um disco feito para os palcos e em nada fica a

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dever aos seus antecessores, há por aqui azeite qb mas há, também, desenvolvimento enquanto banda e um maior equilíbrio entre as forças, tendo aqui uma maior diversidade de harmonias e, talvez, os riffs mais inspirados da dupla Eurich/Pfluger. «Flame to the Night» mostra é que este conjunto alemão sabe bem o que quer e não se deixa atemorizar pelas adversidades. Ao terceiro disco os Spitefuel revelam-se. [8/10] NUNO LOPES

S E PU LT U R A «Quadra»

(Nuclear Blast) Enquanto muitos continuam (e persistem!) o debate Cavalera vs Sepultura vs Cavalera, que surge a cada lançamento de qualquer coisa vinda das partes envolvidas, e que, a bem ver, também é alimentada pelos mesmos (pelo menos por uma das partes, não é Glória?!), há que olhar para o que são os Sepultura actualmente e tentar comparar com o passado glorioso de que tantos falam. É uma tarefa que só aos mais acéfalos podem almejar, por isso vou escrever sobre este «Quadra» e deixar isso para quem parou no tempo. «Quadra» é um disco que traz uns Sepultura revigorados e ambiciosos, sem esquecer a sua identidade construída a ferro e fogo. Para qualquer apreciador da banda, este será um disco que rodará e rodará e rodará, e onde são por demais os momentos em que nos sentimos amedrontados por Derrick Green ou pela guitarra de Andreas. Até mesmo a prestação de Eloy Casagrande nos faz pensar que, talvez, Igor Cavalera até estivesse, de facto a mais. Aqui há Sepultura para todos os gostos, num disco que encarna todas as faces da banda (sim, há tribalismo, sim à Punk, sim à Thrash) e que traz novos ingredientes e um experimentalismo digno dos predestinados. «Quadra» é uma grande «pomada» e é já um dos discos do ano. Estamos a falar de uma banda que passa das palavras aos actos, uma banda que não se esconde (nem vive) do passado ou em função dele. Este é um disco para novos e velhos mas, também para todos os que continuam, teimosamente, a olhar para os Sepultura de há 20 ou 30 anos, como se eles não tivessem mudado. Estamos no séc. XXI e os Sepultura também. [10/10] NUNO LOPES

STRIGOI «Abandon All Faith»

(Nuclear Blast) Finados os Vallenfyre, Gregor Mackintosh volta à carga com outro projecto paralelo, tão ou mais old school do que o anterior. Death metal é o que nos propõem estes Strigoi em «Abandon All Faith», chutando aqui e ali à baliza do crust (“Seven Crowns”, “Plague Nation”, etc.) – o que não é de estranhar quando no baixo temos Chris Casket, ex-Extreme Noise Terror –, outras vezes passando a bola ao doom (“Carved Into The Skin” e “Abandon All Faith” podiam pertencer à discografia dos Paradise Lost). Sendo guitarrista, vocalista, compositor e, aqui, também produtor (função que também já havia desempenhado em «The Fragile King», o álbum de estreia dos Vallenfyre), é óbvio que os Strigoi são a resposta a um apelo interior de natureza mais agressiva do que aquela veiculada pelo colectivo a que Greg mais deve a sua fama e, assim sendo, podem muito bem ser entendidos mais como continuação dos Vallenfyre do que dos Paradise Lost, pesem as já referidas “Carved Into The Skin” e a faixa-título, que encerra o álbum em alta apresentando, paradoxalmente, os seus momentos mais “down” e depressivos. A questão que se coloca, então, é de natureza comparativa: são os Strigoi pelo menos tão bons quanto os Vallenfyre?! Pondo de lado a injustiça que é comparar um disco recém-lançado com uma discografia completa (sim, só 3 álbuns e 1 EP, mas e daí?!), para já os Strigoi estão uns furinhos abaixo, mas potencial não falta e são sem dúvida um projecto a seguir, em particular pelos admiradores do talento do senhor Gregor Mackintosh. [7.5/10] HELDER MENDES

T ERM INUS «A Single Point of Light»

(Cruz del Sur Music) Primeiro disco desta dupla oriunda da Irlanda do Norte para a independente Cruz del Sur Music. Sendo, na sua essência, uma banda de estúdio, estando inclusivamente em período sabático no que diz respeito aos palcos, David Gillespie e James Beattie dispõem assim de todo o tempo em estúdio para fazer de cada lançamento o melhor possível. Neste segundo LP a banda apresenta um conceito em que ciência e humanidade se fundem numa história (quase) romântica com guitarras que devem tudo ao Heavy Metal tradicional e cujas melodias nos remetem para a Folk mais próxima do que estamos habituados a ouvir daquela região do globo. Em suma, este é um registo interessante do ponto de vista visual e, em parte pelo «síndroma» da imortalidade num filme (sempre) com olhos no futuro. No sentido conceptual e instrumental este é um disco interessante. Quanto ao género não traz nada de novo. [7/10] NUNO LOPES

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ULCERATE «Stare Into Death And Be Still»

(Debemur Morti Productions) As bandas apostadas em fazer death metal técnico e ultra complexo caiem por vezes no erro de exagerar e produzir discos impenetráveis e quase impossíveis de digerir. Foi o que aconteceu com os Ulcerate no álbum de 2011, «The Destroyers of All». De lá para cá a banda neozelandesa não só aprendeu a disciplinar-se como cresceu muito artisticamente, apresentando neste sexto registo de originais uma interpretação muito própria de post-death emocional que desafia toda a ortodoxia do género. A música mantém o cunho desafiante a que o colectivo sempre nos habituou e as passagens densas e esmagadoras continuam a ser intervaladas por segmentos vagarosos e desolados. As composições servem-se muito de atmosferas negras e claustrofóbicas e da dissonância omnipresente no black metal de última geração de bandas como Blut Aus Nord. Aqui há, no entanto, uma exploração inédita da melodia – uma melodia atípica e muito subtil que emerge dos riffs, com um feeling que se inclina por vezes para a melancolia do doom. A par dos riffs cativantes e de ocasionais padrões rítmicos recorrentes, este é um elemento que torna a audição particularmente cativante. Outro aspecto apelativo é a exibição alucinante do baterista Jamie Saint Merat, só comparável a um verdadeiro festival de fogo de artifício em termos de poder, colorido, textura e brilho – uma performance de cortar a respiração. Muito longe de ser um álbum de temas memoráveis e fáceis de ouvir, «Stare Into Death And Be Still» é, no entanto, um trabalho com um poder de atracção quase transcendente – tenho-o na minha playlist há semanas! [8/10] ERNESTO MARTINS

TE S TAM E N T

«Titans Of Creation» (Nuclear Blast) Titans of creation, ou traduzindo, Titãs da Criação. Nunca um título de um CD descreveu tão bem uma banda de Metal. Décimo terceiro álbum destes veteranos Titãs que, mais uma vez, descarregam uma furiosa e imparável energia. Apesar de «Titans Of Creation» representar uma clara evolução, a banda manteve-se leal às suas raízes do Thrash Metal tradicional, com o habitual brilhantismo e ainda, adicionando novas características… digamos… mais progressivas. Dos músicos será sacrilégio destacar quem quer que seja, pois, será esta a melhor formação dos Testament. Destacar o trabalho de DiGeorgio e da dupla Peterson/Skolnick? Mas… Devo mesmo dizer que grande parte desta evolução se deve ao trabalho desta dupla de guitarristas… solos, grandes solos e no fim, temos Gene Hoglan a suportar toda este técnica, peso e rapidez. Categoria! Ah… e Chuck Billy tem 57 anos… mas fodase, que brutalidade é esta? “Night of the Witch” com a ajuda demoníaca de Peterson – e já estão mesmo a ver este tema a puxar às raízes Black Metalianas e “Curse of Osiris” um tema assim muito ao género de “Legions of the Dead”? E o riff de “False Profect”? «Titans of Creation» vai buscar muito, de facto, aos primórdios dos Testament mas com a sonoridade, não renovada mas moderna, coesa e brilhante em todos os aspectos técnicos e musicais. «The Gathering», em 1999, marcou o fim de uma Era, talvez… mas só talvez… com dois álbuns menos consensuais pelo meio: «Low» e «Demonic». «Titans of Creation» é, quanto a mim, superior aos dois antecessores; marca um novo início e como foi possível estes gajos, já veteranos, sacarem esta bujarda de álbum? [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

VREDEHAM M ER «Viperious»

(Indie Recordings) Quem conhece minimamente os Vredehammer não ficará decerto surpreendido com a torrente trituradora de rifalhada semp’ábrir que é, do início ao fim, este novo petardo da formação norueguesa. Os teclados que aparecem pela primeira vez e de forma tão saliente num disco da banda (Per Valla, o líder da banda, descreve-os como “80’s horror keyboards”) é que poderão apanhar alguns desprevenidos, mas na verdade não comprometem o essencial da sonoridade e até funcionam bem (quase sempre) como contraponto atmosférico no seio de toda a extremidade. Em termos de estilo, «Viperious» não é tão focado no death metal que o multi-instrumentista Valla explorou em «Violator», o álbum anterior, apostando desta vez numa mescla black/death que remete vagamente para «Vinteroffer» (o disco de estreia que chegou a ser nomeado para um Grammy norueguês em 2014), embora com referências distintas. “Winds of dysphoria”, por exemplo, denuncia trejeitos inequívocos de inspiração Immortal (bebidos da origem, talvez, durante o período em que Valla fez parte do line-up ao vivo de Abbath), ao passo que “From a spark to a withering flame” parece ter sido criada segundo os pergaminhos dos Satyricon. Pelo meio há passagens de natureza bastante mecânica, quase industrial, que podem soar algo repetitivas. Mas o que melhor caracteriza este terceiro álbum é a forma como as construções brutais e hiper-rápidas saídas da pena de Per Valla soam muitas vezes cativantes, ao ponto de tornar fácil a audição dum disco sónicamente monstruoso como este. A produção do mago Jacob Hansen também ajuda. [7/10] ERNESTO MARTINS

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CURTAS ABYSM AL DAWN «Phylogenesis»

(Season of Mist) Estão de volta os Abysmal Dawn com o seu quinto álbum, seis longos anos após o antecessor – «Obsolescence». Este álbum inclui oito temas agressivos e intensos de Death Metal a roçar o Brutal, sob o ritmo fugaz e consistente da bateria frenética do James Coppolino, complementado com os riffs vertiginosos e rasgados das guitarras de Charles Elliott e Vito Petroni. Traduzindo o nome do álbum, «Phylogenesis», para português significa filogenia. Filogenia é o estudo da relação evolutiva entre conjuntos de organismos, espécies ou populações. Essa reflexão está subjacente em cada tema deste álbum, numa perspectiva de evolução da humanidade que caminha para a sua autodestruição. Os solos de guitarra surgem de forma quase imprevisível e subtil, uma espécie de tentativa de salvação e de fuga do inevitável. Não é um álbum repetitivo, cada música tem uma dinâmica e uma estrutura distinta. Faço votos de que não tenhamos de esperar mais seis anos pelo próximo álbum… ~ PAULO MADALENO [7.5/10] JOAO

ATARKA «Sleeping Giant»

(Independente) Por acaso, quando recebo música, quer seja em formato físico ou digital, de bandas amadoras que lançam o seu álbum de estreia de forma independente e com a qualidade que os Atarka têm, dá-me um prazer enorme escrever algumas palavras. «Sleeping Giant» é o álbum de estreia deste quinteto de metal de Birmingham. Os Atarka apresentam-se ao mundo com um groove bem rasgado, mesclado e enegrecido com Death Metal, ora brutal ora melódico, influenciados por bandas como In Flames, Amon Amarth ou Gojira. «Sleeping Giant» apoia-se, também, num conceito sonoro sombrio e desesperado da história, da dependência humana e mitologia. «Tollund» abre com um riff calmo… groove simples, discreto para depois, em crescendo, se transformar numa jarda bem potente, brutal e melódica. Grande malha! Apesar de alguma crueza – que me agrada, «Sleeping Giant» é suficientemente maduro para percebermos que os Atarka serão uma grande banda no futuro. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

BLACK M OOD «Toxik Hippies II»

(MDD Records) Podemos aqui deixar-nos de rodeios: os Pantera foram uma banda gigante que veio mudar o panorama Metal para sempre. O que é que isto tem a ver com a dupla germanica? Bom, comecemos com o facto da banda ser formada também por dois irmãos, havendo também o aspecto da sonoridade e atitude. Esta malta tem power, e mesmo com todas as semelhanças com a banda dos (saudosos) manos Dime e Vinnie, conseguem trazer a frescura que, em muitos momentos, faltou aos Pantera. É verdade que a dupla não traz nada de novo, mas o groove de malhas como “Personal addiction” ou “A great deceit” ficam a ecoar e a querer magoar o nosso “inimigo imaginário”. Também é verdade que este EP sabe a pouco. Não são os Pantera, mas quase… e são dois! [7/10] NUNO LOPES

DEEZ NUTS «You Got Me Fucked Up»

(Century Media) Nome grande da cena hardcore australiana, os Deez Nuts estão de regresso com um disco mais arrojado e mais vasto, e onde, porventura, a banda se aproxima mais de um certo hip hop musculado, que tanto nos faz querer dar porrada no nosso amigo imaginário como fazer um headbang cheio de groove. Isto não quer dizer que sejam tudo sorrisos, porque JJ está chateado. Por isso esperem disparos para todo o lado. Os Deez Nuts não reinventam a roda, mas trazem ao de cima todo o talento e mestria com que encaram o género. [7.5/10] NUNO LOPES

EL M ISTI El Misti

(Independente) Nós aqui na Versus assumimos um compromisso de honra: tentamos sempre escrever umas palavras de todos os CD’s físicos que nos chegam. Quando peguei no CD dos El Misti, vindo de uma habitual promotora, pensei em algo brutal… no fundo, que é o habitual. No entanto, fiquei algo surpreendido com esta banda Inglesa. Folk Acústico? Rock? Blues? Raios… por esta não estava à espera. (Portanto, se não gostam deste tipo de som, como diz o outro: “toca a circular”. )

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Bem, vamos lá ouvir. O confinamento “não mata, mas mói”, não parece mas vai-nos cansando a cabeça, juntem a isto o avançado da hora, algumas horas a ouvir música pesada e, de repente, “cai-vos no colo” uma musiquinha calma, semi-acústica, intimista, bem acessível e a cabeça como que desliga e descansa, nem que seja só pelo tempo que demora o CD a “rolar”. Os El Misti são da responsabilidade do duo Paddy Bleakley e Kieran Gilchrist que espero, sejam dois nomes a reter na senda músical. Este álbum, de grande qualidade e independente, não será ao gosto de todos mas foi ao meu. Muito bom! [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

HUBRIS «Metempsychosis»

(Art as Catharsis Records) Os Hubris são uma banda de post-rock Suíça, formada em 2014 mas que agora acaba de lançar o seu terceiro álbum «Metempsychosis». Bandas deste género, acima de tudo instrumentais, avalio pela capacidade em me deixar absorver e cativar pela música. Com algumas comparações a Sigur Ros ou aos inevitáveis Long Distance Calling, «Metempsychosis» consegue, em parte, cativar sobretudo pela sonoridade e introspeção que a música confere. É também, suficientemente variado para não cair na monotonia. O que achei interessante foi mesmo o conceito subjacente às músicas. Sim, há um conceito neste álbum (quase) totalmente instrumental. «Metempsychosis» explora o ciclo da vida e da morte, da reencarnação e do renascimento de algumas personagens da mitologia grega. Sejam bem-vindos a esta viagem. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

IN SANITY «Welcome to the Show»

(MDD Records) Para quem, como este vosso escriba, não esteja familiarizado com este grupo germânico vai apanhar uma valente surpresa. «Welcome to the Show» é um registo que marca, igualmente, a estreia da banda pela (também) germânica MDD Records, e é, sobretudo, um disco sobre a condição humana, onde tempo e espaço se misturam com a (sempre dúbia) sanidade, ou falta dela. Condimentado com doses q.b de músculo e groove e outras tantas de melodia, trazendo assim um equilíbrio perfeito, num limbo circense que penetra nos ouvidos sem nunca soar em modo «repeat». Como tal, este disco acaba por ser um bom disco, e há por aqui uma espécie de «bafo» a Mudvayne. Bela Pomada. [8/10] NUNO LOPES

IRONSWORD «Servents of Steel»

(MDD Records) Cinco anos após «None but the Brave» os Ironsword lançaram «Servents of Steel». E… é um álbum do aço! Puro Heavy Metal clássico! Nas palavras de Tann, vocalista/guitarrista, este é o álbum mais desafiante da banda que conta, ainda, com a contribuição de Bryan “Hellroadie” Patrick dos Manilla Road em dois temas. Desde a épica abertura de “Hyborian Scrolls” até “Servents of Steel” somos levados pelos temas directos, sem grandes merdas, tal como o corte da espada de Conan, o Bárbaro a decepar cabeças! Obviamente que isto tenderá a ser um óbice, já que se poderá tornar algo… previsível. No entanto, isso até nem interessa para nada, pois não deixa de ser um álbum que em toda a sua concepção respira uma extraordinária competência. O único senão são as vocalizações um pouco “escondidas” pelo instrumental, qual Tann a rezar ao deus Crom escondido numa caverna. Gostaria de as ver um pouco mais destacadas. Em resumo, este é um álbum do caraças e o culto dos Ironsword mantém-se bem vivo. [8.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

MOANAA «Torches – EP»

(Independente) Os Moanaa chegam-nos directamente da Polónia e «Torches» é um EP com somente três temas, sendo um deles a versão “Without You I’m Nothing” dos Placebo. Será relativamente complicado tentar falar de somente duas músicas e, por isso, resta-me só transmitir-vos a minha opinião de uma forma geral. Antes de mais, esta banda polaca apoia-se num postrock/metal salpicado com algumas passagens atmosféricas e imersivas, com a voz a gritar de desespero. O tema que encerra o EP – “Red” – quase 13 minutos que nos me faz lembras algumas bandas como Paradise Lost ou Woods of Ypres. A versão dos Placebo é questionável mas os Moanna transformaram e transportaram o tema para a sua filosofia musical. Não está mau… diferente. De qualquer das formas, dois temas quase nem dá para lhe “ganhar o gosto”. Esperemos pelo próximo longa duração. [6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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MORBID DEATH «Oxygen»

(Art Gates Records) Ah!!!! Tão bom quando recebemos CD’s deste calibre! Que put@ de jarda! «Oxygen» é o novo álbum dos Açorianos e veteranos Morbid Death. A banda já por cá anda há 30 anos e «Oxygen» é uma forma brutal de festejar tão redondinho número. Bem… é também uma forma brutal de rebentar com um bom par de colunas e o juízo aos vizinhos… se é que me entendem. A banda sofreu alterações ao nível da formação e, se assim lhe quisermos chamar, trouxeram uma nova identidade à banda, ao Death Metal foram adicionados elementos mais direccionados para o Prog Thrash. Esta mescla do antigo e do novo, fazem com que a sonoridade geral seja bastante diversificada e versátil mas… talvez, perdendo alguma coerência, não havendo um estilo bem vincado ou intrincado, prometendo “agradar a gregos e troianos”. Não deixa, de qualquer das formas, de ser um álbum com uma sonoridade brutal. “Away” e “Oxygen” são os temas que mais sobressaem mas como diz o outro: “As opiniões são como as vaginas...” [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

ONLY SONS «Lions and Unicorns»

(Independente) Interessante a quantidade de bandas Independentes que nos chegam da Polónia, de géneros e estilos tão díspares como o dia e a noite e com uma qualidade bem acima da média. Os Only Sons lançaram no fim de 2019 o seu álbum de estreia, «Lions and Unicorns», que é quase uma viagem no tempo até à década de 90, onde predominava o Grunge, Hard-Rock (… e stoner). Uma sonoridade (quase) nua e crua com uns riffs e groove bem rasgadinhos. No entanto, há algo na música que faz pedir mais… me parece que lhes falta qualquer coisa, uma identidade mais vincada e decidida, uma decisão… isto ganha-se, com o tempo, experiência, concertos, álbuns… Em diferentes temas os Only Sons fazem-me lembrar Foo Fighters, Audioslave ou Soundgarden mas numa versão bem menos amadurecida e ainda com muito a aprender. [6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

SECTILE «Falls Apart»

(Silver Moon Records Ltd.) Mais um álbum de estreia que nos chegou às mãos. Os Sectile são Irlandeses e fizeram-me querer, no e-mail que recebemos que «Falls Apart» se destinaria a fãs de Karnivool, Porcupine Tree, Leprous e Orphaned Land. As expectativas estavam, portanto, altas. No entanto, a sonoridade da banda nada tem a ver com as acima mencionadas, a não ser com Karnivool e, saltou-me logo ao ouvido algumas semelhanças com Leprous. Os Sectile de alguma forma supreenderamme, pela técnica e sonoridade. Muita dinâmica, energéticos, músicos bem acima da média com riffs complexos e temas muito bem estruturados. Definem-se como uma banda progressiva e definem-se bem. «Falls Apart» é um excelente álbum de estreia e tomem como exemplo o magnífico tema que encerra o álbum: “Dying Of The Lights: Purpose / Silence / Aethernity”, treze minutos que resumem o que foi dito e demonstra bem o talento deste quinteto de Dublin. As expectativas não saíram totalmente defraudadas e os Sectile são uma banda a ter em conta. [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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ALBUM VERSUS M A STE R BOOT R EC O R D «Floppy Disk Overdrive» (Metal Blade)

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Aqui na redação da VERSUS, chega-me todos os meses um sem número de álbuns para ouvir, a maioria, de bandas que nunca ouvi falar. Há uns que despertam mais interesse do que outros, sempre na esperança que surja um que me arrebate completamente e faça-me fazer um estrondoso uhau! Bem, Master Boot Record é um desses raros uhaus que acontecem muito raramente. Digo mais, ganharam um fã automaticamente a meio da primeira audição! O nome da banda e do álbum chamou-me de imediato à atenção pela particularidade e estranheza. Depois, foi o nome das suas músicas, todas centradas nos backends dos sistemas informáticos, em particular no famoso MS-DOS dos anos 80. Simplesmente interessante e única, esta abordagem temática. Deixei para o fim a música, e como diz o ditado, o melhor vem no fim, tive o prazer de descobrir a música soberba e particular dos Italianos Master Boot Record ou MBR, ou melhor do Italiano Victor Love, pois isto é obra de um só músico. Um metal industrial centrado no electrónico e synthwave incluindo demoscene e música de jogos de vídeo, thrash/ death metal e algum black metal, tal como padrões clássicos e sinfónicos e estruturas progressivas, puramente instrumental, que cola perfeitamente com a temática da banda. Eu diria que Master Boot Record, ou melhor, o italiano Victor Love é o Jean Michel Jarre do Metal. Tudo é programado e feito com um sintetizador, fazendo da música de MBR algo extraordinário e único na cena metálica. Todas as músicas tem pontos de interesse a realçar, fazendo de «Floppy Disk Overdrive» um álbum bastante coerente e homogéneo. Destacaria “Fdisk.exe”, “Dblspace.exe”, “Defrag.exe” ou o espectacular “Smartdrv.exe”, mas qualquer uma das 12 músicas é válida. Este é já o sétimo álbum dos MBR, em conjunto com 4 EPs, e, depois de ter ouvido todos os anteriores – disponíveis no youtube pelo próprio MBR, posso dizer que «Floppy Disk Overdrive» é um trabalho mais maduro e consistente da banda, mostrando-se como uma evolução natural do caminho iniciado em 2016 com «C​:​\​FIXMBR» até agora. [10/10] CARLOS FILIPE 4 1 / VERSUS MAGAZINE


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A verdadeira essência Os Rage são quase uma instituição. No principio deste ano fomos brindados com “Wings of Rage” que é, nem mais nem menos, uma reminiscência sonora de tudo aquilo que os Rage foram (e são) nestas três décadas dedicadas ao mais puro Metal germânico. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

Olá Peavy! Muito obrigado pela tua disponibilidade. Já há algum tempo que vos tento entrevistar, uma das minhas bandas preferidas de sempre. Peavey: Olá, o prazer é meu! «Wings of Rage» está na minha playlist já lá vai algum tempo e é outro excelente álbum dos Rage. Como achas que os fãs vão reagir? Claro que não o posso saber, mas tenho esperança que gostem. As reações às três músicas lançadas digitalmente, têm, até à data têm sido muito boas. Depois de 37 anos, ainda sentem nervosismo com um novo lançamento? Sim. Creio que é normal. Colocas todo o sangue no que estás a fazer e passas (neste caso) quase dois anos a criá-lo; como é possível não te emocionares com a reação que tens pelo mundo? A mais importante alteração que vejo é a mudança de editora, a saída da Nuclear Blast e o retorno ao Steamhammer/SPV. Porquê essa mudança e como é que se realizou este «Wings of Rage»? Essa foi uma simples decisão comercial. O nosso contrato havia terminado e por isso estávamos livres para aceder a novas ofertas. Olly da SVP, fez a melhor oferta,

ao mesmo tempo em que houve grandes mudanças estruturais na Nuclear, achei que seria um bom momento para trocar de “cavalos”. Não houve e não existe “mau sangue” com a Nuclear e talvez um dia no futuro possamos trabalhar novamente com eles, sempre fomos bons com eles. Neste momento, sentimos que estamos em boas mãos com a SPV. Quem pode prever o futuro do negócio da música? No entanto, essa alteração não teve absolutamente qualquer influência no álbum. Li duas declarações tuas: “O material sobre Wings Of Rage é tão colorido quanto a história de Rage” e “[…] com um estilo contemporâneo de tocar e um som ultramoderno”. Também vejo algumas influências que me remetem no tempo a «Trapped» ou «Secrets in a Weird World», juntamente com HTTS 2.0 e alguns elementos orquestrais. É seguro dizer que este álbum é um regresso às suas origens? Definitivamente sim. O plano era combinar todos os elementos estilísticos da história da banda nessas músicas, de forma homogénea e som moderno. Falando em HTTS o que é há tão especial à cerca desta música que merecia uma versão 2.0?

É uma composição atemporal e uma das nossas músicas mais populares. A versão original tem mais de 25 anos. Simulámos como seria se a tivéssemos escrito hoje, foi assim que a esta versão se desenvolveu. Todos nós gostámos muito, e no final decidimos colocála no contexto das novas músicas, para que todos a ouvissem, não destinado apenas a alguns colecionadores, como se fosse apenas uma faixa bónus... “Chasing The Twilight Zone” é uma música clássica de Rage. O que te levou a escrever este tema? Está relacionado com a série de TV Alfred Hitchcock? Essa música é sobre o meu lado negro interior. Durante toda a minha vida tenho-me debatido com a depressão e com problemas para me abrir para o mundo exterior. De certa forma, estou sempre a perseguir a vida dentro da minha própria twilight zone… O álbum é um tanto diverso, algumas faixas são mais relacionadas ao thrash, outras com uma tendência óbvia de Power Metal de Rage, «A Nameless Grave» é mais orquestrada e progressiva… Porquê esta abordagem para criar um álbum tão diversificado? Tal como expliquei anteriormente,

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queríamos combinar todos os elementos estilísticos da nossa história, o álbum é como que a essência dos Rage.

tempo, é claro, que o Rock e o Metal fizeram o mesmo, então desenvolvi um profundo e eterno amor pela música…

Existe algum conceito subjacente às letras? Gosto de escrever sobre outsiders, sobre os que não têm voz na nossa sociedade, sobre aqueles que caíram do precipício, que não têm lobby. Quero dar-lhes voz na maioria das músicas. Não lhe chamaria um conceito, mas talvez

Se não estou enganado, Rage com LMO foi o primeiro projecto/ banda alemã a gravar um álbum. - Lembraste de como surgiu essa ideia de se juntar a música de Rage e uma orquestra? Desde pequeno que ouvia muitas coisas inspiradoras que me fizeram desejar trabalhar com músicos

Rage? Ainda existem tantas músicas para serem escritas e tantos lugares onde tocar, provavelmente uma vida não será suficiente para fazêlo… Um dos meus projectos favoritos de todos os tempos é «Mekong Delta». Participaste em «Mekong Delta» e «The Music of Erich Zann». - Lembraste de algo deste período?

“O plano era combinar todos os elementos estilísticos da história da banda nessas músicas, de forma homogénea e som moderno. uma linha vermelha e condutora entre as músicas… A banda tratou a produção e o Marcos as partes de mistura. Porque é que não chamaste um produtor fora da banda? Tivemos o meu amigo Dan Swanö a fazer a mistura dos nossos dois álbuns anteriores, algo que ele fez muito bem. Mas desta vez, achámos que seria melhor se fizéssemos tudo nós mesmos, simplesmente porque sabemos melhor que ninguém como deveria ser. Enquanto isso, crescemos como equipa e, especialmente, o Marcos desenvolveu-se num talentoso técnico de estúdio. Era a hora certa! Os elementos clássicos são um aspecto importante na vossa música. Quais são as tuas influências clássicas? Quando tinha 8 ou 9 anos, comecei a aprender guitarra clássica. Aprendi muito sobre compositores fantásticos nesse instrumento, tive um grande professor que me abriu a mente para algumas das mais inacreditáveis músicas que (ainda) me inspiram. Desde J.S. Bach a Heitor Villa Lobos e Leo Brouwer, todas estes músicos formaram o meu cosmos musical. Ao mesmo

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clássicos. Outras bandas de Rock fizeram isso desde os anos 60, como os Beatles ou Deep Purple. Mas, na verdade, fomos a primeira Banda de Metal a fazê-lo… -Do que sei, a LMO está “a fazer uma pausa”. Existem alguns planos para num futuro próximo lançar algo com a LMO? Acabámos de fazer uma temporada de festivais no Verão passado com os Lingua Mortis Orchestra, onde tocámos pela primeira vez o XIII álbum completo, que tinha 20 anos. Nos próximos dois anos, vamo-nos concentrar nas tournées de “Wings of Rage”. 37 anos depois… …«Prayers of Steel» o que mudou na tua maneira de fazer e pensar música? Sou apenas mais experiente para saber melhor o que quero fazer e como alcança-lo. … De onde é que tiras inspiração para fazeres música continuamente? Através do meu amor interminável pela música! … existe um sinal STOP para ti? Sim: A morte! Com tantos e excelentes álbuns, incluindo os da LMO, ainda existe algo que queiras fazer com os

Sim, foi uma boa experiência, aprendi muito com o Ralph Hubert nesta altura, algo pelo qual sempre serei grato… - Porque deixaste os »Mekong Delta»? Havia algumas “questões” de negócios. Teria adorado continuar, especialmente porque já tinha as letras escritas para o terceiro álbum. Mas na altura já não nos podíamos encontrar novamente… - Decidiste manter tudo em segredo sobre a banda. Lembraste de qual era o teu “nickname”? Sim, era chamado Jake Jenkins… - Naquela altura, porque “assumiste que os músicos alemães não seriam aceites internacionalmente?” Não foi ideia minha, Ralph era o mentor e ele é veio com essa ideia… No Verão de 2020 irão tocar a Portugal – “Milagre Metaleiro” – o que esperas do público português e o que podemos nós esperar de vocês? Faremos um concerto energético com músicas de todas as épocas da nossa história e, é claro, esperamos ter uma resposta fantástica dos fãs. Estamos realmente ansiosos! Até lá, vemo-nos em breve! Youtube

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Educação sentimental Veio-me à mente este título de um romance do escritor francês Gustave Flaubert (o imortal autor de “Madame Bovary”) ao refletir sobre o que Fiar nos diz acerca do percurso da banda catalã, nesta entrevista sobre o segundo álbum da sua nova era. Ambos tratam de crescimento espiritual. Entrevista: CSA | Fotos: Rocío Montserrat

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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A

palavra obraprima tem sido utilizada mais de uma vez para descrever o álbum e, honestamente, ainda não estou habituado a isto Olá, Dan! Muito obrigado pelo o teu tempo e por responder às minhas perguntas. Dan: «Veil of Imagination» é o terceiro álbum dos Wilderun e parece-me que o vosso sucesso está a subir em flecha. Estão preparados para aceitar este crescendo de popularidade? Depois de nove anos a trabalhar arduamente com Wilderun, estou mais do que preparado! Quando terminaram «Veil of Imagination», estavam à espera de tantos elogios de críticos e das pessoas, em geral? Com certeza, senti-me bem em relação ao disco após o termos concluído, mas o nível de elogios que recebemos é, realmente, impressionante. Não estava à espera que fosse tão bem recebido como foi até agora. Na nossa última edição da revista (podes verificar) «Veil of Imagination» foi “Álbum Versus” (é a nossa designação de álbum do mês) [10/10]. Estavam à espera de ter em mãos uma obra-prima? A palavra obra-prima tem sido utilizada mais de uma vez para descrever o álbum e, honestamente, ainda não estou habituado a isto (risos). Em 2020, terão o vosso primeiro ProgPower in Europe. Certo? Está correcto.

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… e este será o vosso primeiro concerto na Europa ou, entretanto, terão outros concertos? Em princípio, será o nosso primeiro espectáculo europeu, mas estamos a tentar agendar mais espectáculos ou festivais europeus para a mesma altura. Caso não saiba, nós, europeus, somos uma multidão infernal. Quais são as vossas expectativas relativamente ao público europeu? Espero que cumpram a vossa reputação! O que mais me surpreendeu foi que vocês são a prova viva de que as bandas não precisam de editoras discográficas para lançar álbuns excelentes. No entanto, não está nos vossos planos arranjar uma editora discográfica? Eu acho que o principal benefício de ter uma editora discográfica é ter uma equipa de pessoas que pode tratar da promoção do nosso trabalho, pelo que isso seria uma coisa positiva para nós, assim poderíamos concentrar-nos mais em escrever e tocar. No entanto, é necessário que obtenhamos um bom acordo. Quais foram os maiores sacrifícios que fizeram em relação ao «Veil of Imagination»? Honestamente, não fizemos muitos sacrifícios na realização deste álbum. Criativamente, sentimonos muito mais livres de rótulos de género musical, em oposição aos discos anteriores e, logisticamente, fomos capazes de financiar o álbum por inteiro com o dinheiro que ganhamos com os dois discos anteriores. Eu li online algumas coisas sobre o álbum e muitas pessoas disseram que vocês fizeram o que Opeth deveria ter feito. O que pensas desta ideia? Tenho observado que as pessoas fazem comparações entre nós, mas não posso negar a influência

de Opeth sobre quase todos os elementos da banda. No entanto, não acho que seja uma descrição precisa do que é Wilderun. Estamos, constantemente, a tentar esforçar-nos por atingir os nossos limites criativos e, por isso, não somos apenas uma banda imitadora. Além disso, acho que Opeth está a direcção correcta, ao criar música que querem, mesmo que isso signifique decepcionar alguns fãs. A vossa música é realmente complexa: tantas camadas, harmonias, orquestrações, coros... Quão difícil foi juntar todos esses elementos num álbum tão espectacular? Espectacular. Passamos os últimos anos a descobrir como combinar melhor todos esses elementos, entre a banda e os elementos orquestrais. Passamos quase um ano inteiro apenas a trabalhar os elementos orquestrais. Qual é o vosso modus operandi em termos de composição? Apenas tentamos escrever músicas que soem bem quando tocadas apenas por um instrumento. Todos os elementos melódicos e de harmonia precisam ser sólidos isoladamente, antes que se considere qual o instrumento que vai tocar determinada harmonia. A música tem de existir primeiro nas nossas cabeças. As orquestrações são sintetizadas ou contrataram os músicos para tocar essas partes? As orquestrações foram todas feitas com samples e instrumentos sintetizados. Adoraríamos fazer um disco com uma orquestra ao vivo, mas infelizmente, neste momento, está fora do nosso orçamento. Têm formação musical que vos permita escrever a música em partituras? Sim. Todos temos formação musical em várias áreas. O álbum foi misturado e masterizado por dois


A banda produziu o álbum com o Justin Spaulding e o Andrew Greacen. Como correu esse processo e quem teve a última palavra? Demo-nos muito bem com os dois. Ambos, são engenheiros fantásticos e óptimas pessoas para trabalhar. Eu trabalharia, novamente, com qualquer um deles num piscar de olhos. Tecnicamente, a banda sempre teve a última palavra, mas houve muitas sugestões feitas pelos dois que acabaram influenciando as nossas decisões no disco.

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odos os elementos melódicos e de harmonia precisam ser sólidos isoladamente, antes que se considere qual o instrumento que vai tocar determinada harmonia.

monstros do som: Dan Swanö - que já entrevistei duas vezes – e Jens Bogren. Como é que os descobriram e como foi trabalhar com eles? Nós somos fãs do trabalho de produção deles há muito tempo. Portanto, quando chegou a hora de decidir sobre os engenheiros de mistura e masterização, cada um de nós fez uma lista de produtores favoritos e, depois de enviar um e-mail para vários engenheiros, decidimos que a combinação de Dan e Jens seria a melhor para este álbum, em particular. Do lado da produção: Por que é que escolheram um engenheiro para a bateria, baixo e outro para as vozes e guitarras acústicas?

Em parte, queríamos ter o maior número possível de ouvidos diferentes a ouvir o álbum, para evitar que o produtor perdesse a objectividade. Ambos os álbuns anteriores foram gravados, misturados e masterizados por Jocko Randall, da MoreSound Studios e, por mais incríveis que sejam estes álbuns, sentimos que estávamos a ir numa direcção completamente diferente da que pretendíamos para este álbum, em termos experimentais e da nossa aprendizagem. De qualquer forma, por melhor que tenha corrido desta vez, há, decididamente, algo para ser dito pelo facto de não ter sido preciso andar a enviar as demos e versões finais entre nós e os diversos engenheiros .

Vamos falar um pouco sobre as vossas influências musicais. Como ouvinte, obviamente, vejo Opeth, enquanto outros veem Turisas, Septicflesh ou Wintersun. Essas bandas fazem parte das vossas influências musicais? Cada uma delas, é… (risos) Em termos de letras, este é um álbum conceptual? Não, mas como nos álbuns anteriores, todas as letras tendem a seguir um tema único, mas não contam uma história linear, isso não. O design é bastante surpreendente. Quem é que o fez e como é que se enquadra na música? O design foi feito por Adrian Cox, que era fã da nossa música. Verificamos o seu trabalho e encontramos nele um artista que poderia, facilmente, misturar o majestoso com o macabro – algo que sentimos verdadeiramente representado no que estávamos a tentar realizar musicalmente. Mais uma vez, obrigado pelo vosso tempo e espero, sinceramente, vê-los tocar em Portugal. Também eu. Saúde, meu amigo!

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Playlist Adriano Godinho

Ernesto Martins

Svet Kant - The Visage Unbiased Symphony X - V: The New Mythology Suite Aborted Earth - Cut the Chord Elder - Lore Thelonious Monk - Solo Monk

Frank Zappa - Broadway the Hard Way Borgne - Y Batushka - Hsopodi Deathrow - Deception Ignored Grand Funk Railroad - Survival

Carlos Filipe

Gabriel Sousa

Master Boot Record - Floppy Disk Overdrive Long Distance Calling - Stummfilm Live From Hamburg Martin Templum Domini - Martin Templum Bruce Dickinson - Scream For Me Sarajevo RAMP - XXV 1988-2013 Autumn Tears - The Air Below The Water Haxandraok - Ki Si Kil Ud Da Kar Ra Lotus Thief - Oresteia

Crazy Lixx - Forever Wild H.E.A.T. - II Pretty Maids - Planet Panic Hughes & Turner Project - HTP Virgin Steele - Guardians Of The Flame

Cristina Sá Alcest – Spiritual Instinct Asphodèle – Jours Pâles Cyhra – No Halos in Hell Nero di Marte – Immoto Pure Wrath – The Forlorn Soldier

Eduardo Ramalhadeiro Testament - Titans of Creation Wintersun - TIME I Live Rehearsals At Sonic Pump Studios Trick or Treat - The Legend of the XII Saints Green Carnation - Leaves of Yesteryear Nightwish - HUMAN. :||: NATURE.

Emanuel Roriz Cattle Decapitation - Death Atlas Inquisition - Ominous Doctrines of the Perpetual Mystical Macrocosm Emperor - Prometheus, the Discipline of Fire and Demise Tool - Fear Inoculum Solar Corona - Lightning one

João Paulo Madaleno Abysmal Dawn - Phylogenesis Blackguard- Storm Rendezvous Point - Universal Chaos Maraton - Meta

Helder Mendes Akercocke - Choronzon Darkher - Realms Thy Catafalque - Naiv Damim - A Fine Game of Nihil Namek - Vaginator

Ivo Broncas Tool - Fear Inoculum Gojira - From mars to Sirius Korn - The Nothing Alice in Chains - Rainier Fog

Nuno Lopes Misery Loves Co - Zero Oceans - The Sun and the Cold Sepultura - Quadra Crest of Darkness - The God of Flesh

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Reciclando

Ou de como um objeto rejeitado se converteu no leitmotiv de um novo รกlbum de Tamรกs Kรกtai. Entrevista: CSA | Fotos: Gyรถngyi Kudlik

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Saudações, Tamás! O teu novo álbum é tão surpreendente como a sua capa, que combina elementos muito Folk (por exemplo, as flores de cores vivas) com outros geralmente associados ao advento das novas tecnologias (tais como o astronauta e a nave espacial). O que pensas deste comentário? Tamás – Fico a saber que o artwork e a música [deste álbum] se complementam e fortalecem mutuamente e era assim que devia ser na minha visão. Queria algo colorido e excitante, na linha do conteúdo áudio e das letras e, assim que consegui estabelecer o conceito para o artwork, foi muito mais fácil terminar o álbum, porque ele mostrou-me o caminho. Onde encontraste esta capa? É uma pintura em acrílico sobre madeira, que eu encontrei em Makó, na arrecadação do meu pai. Ia ser queimada no forno, mas eu salvei-a. É uma bela peça. Sempre adorei estas caixas de noivas tradicionais da cultura húngara decoradas com tulipas e veio-me à cabeça a ideia de as misturar com elementos alusivos ao espaço e à ciência. A minha namorada pintou a versão final usando a paleta de cores das pinturas khokhloma russas. Foi esse o contributo dela. Portanto, o artwork é uma miscelânea de conceitos, tal como a música [do álbum]. Aos meus ouvidos, este «Naiv» é de uma grande complexidade no que se refere aos estilos musicais. - Que “ingredientes” combinaste para o compor? Não fiz nada radicalmente diferente do meu habitual. Como sempre, limitei-me a tocar e assim fui construindo algo novo, que me pareceu interessante. Desta vez, ficou assim. Penso que as minhas raízes do Metal estarão sempre presentes em Thy Catafalque de alguma forma, através do poder do riff. E é claro que a base Folk e as influências eletrónicas saltam à vista. O que é algo inovador é o recurso a alguns elementos

orientais, que nunca tinha usado antes em Thy Catafalque. - Não é um tanto contraditório “cozinhar” um álbum tão complexo para tratar de algo que supostamente é “naïve”? A mim não me parece que isto é complexo. Penso que é apenas variado. A complexidade não tem mesmo nada a ver comigo. Nem sequer consigo tocar a minha guitarra como deve ser. Sempre preferi Burzum a Dream Theater, compreendes? E por que escolheste a arte naïf para ser o tema central de um álbum de Thy Catafalque? A essência da arte naïf tem a ver com a ideia de não ter recebido uma educação formal num certo campo, é uma espécie de profissionalismo invertido. Pareceme que é o que eu sempre fiz. Penso que a candura que existe no meu trabalho se assemelha muito ao espírito dos pintores naïf. Que mensagem querias transmitir com este álbum? Nenhuma em especial. Trata-se apenas de um punhado de canções que estavam dentro de mim. Ficas com o que quiseres. Como encontraste tantas fontes de inspiração para a tua música? Não sei bem dizer. Ultimamente, não sei bem porquê, até nem tenho ouvido muita música. Sei que é algo que tem de mudar, porque anda por aí muita música interessante. Desta vez, inspirei-me no meu íntimo e nas belas artes. Como sempre, fizeste tudo [no álbum], mas convidaste outros artistas para se juntarem a ti nesta aventura. - Quem são eles? Sim, desta vez tive 11 artistas a tocar ou cantar no álbum, o maior número na história deste projeto musical até agora. Muitos deles são velhos amigos, que já me tinham ajudado antes. Há o Zoltán e o Badó da minha antiga banda Gire, a Martina de Nulah e o Gyula [Vasvári] dos Perihelion, na voz.

Temos o Vajk Kobza no oud [N. R.: uma espécie de alaúde], Gábor Drótos de Gutted no violino, na viola, no violoncelo e na guitarra clássica, Zoltán Pál dos Sear Bliss no trombone, Marilú Theologiti no violoncelo, Péter Jelasity no saxofone e Sándor Szabó na quena [N. R.: uma espécie de flauta]. - De que forma envolveste cada um deles nesta demanda musical? De um modo geral, todos tiveram inteira liberdade para tocar ou cantar da forma que lhes apetecesse. É mais entusiasmante para mim ter em atenção as suas achegas e leva-me em novas direções em que não tinha pensado antes. São todos grandes músicos, tenho imenso respeito por eles e estou-lhes muito grato. Facebook Youtube

Não fiz nada radicalmente diferente do meu habitual. Como sempre, limitei-me a tocar e assim fui construindo algo novo, que me pareceu interessante. […] 5 3 / VERSUS MAGAZINE


(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

A Historia do Hard Rock em breves pinceladas É sempre difícil traçar um marco temporal em relação a quando um estilo se vai transformando até se tornar num novo estilo, só com “fronteiras” artificiais podemos fazer esta análise temporal. Quando é que uma parte do Rock se tornou Hard Rock? O que define o que é e o que não é Hard Rock? A equação é sempre difícil de fazer e muitas vezes é algo pessoal, há Hard Rock virtuoso, há Hard Rock marcado por riffs mais fortes e mais calcados no Blues, há Hard Rock em que a guitarra divide o protagonismo com os teclados, em resumo, bandas tão diferentes como Airbourne e Yngwie Malmsteen podem ser considerados Hard Rock, o que têm em comum que lhes dá esta unidade? Na minha opinião o que marca o Hard Rock é a guitarra, a melodia, o ritmo e uma certa forma de cantar. Muitas vezes só ouvindo para conseguir definir. É quase unanimemente reconhecido que o ponto zero do Hard Rock está nos anos 60, para uma grande maioria a tríade (Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath) é o primeiro produto musical que pode ser verdadeiramente considerado Hard Rock, eu não posso esquecer outros nomes neste surgimento, Blue Cheer, Iron Butterfly, Steppenwolf, The Yardbirds, são todas estas bandas a centelha que transformou o Rock em Hard Rock. É nesta fase que se percebe que a origem do Hard Rock e do Heavy Metal parte das mesmas bandas. Durante os anos 70 várias bandas surgiram e mantiveram o Hard Rock em alta, gostava de destacar 3 nomes que revolucionaram o Hard Rock no final dos anos 70/inicio anos 80, os Van Halen, os Ac/DC e os Boston. Os Van Halen levaram ao Hard Rock um enorme virtuosismo, especialmente marcado pela guitarra de Eddie Van Halen, que popularizou uma das técnicas de tocar guitarra mais icónica da história, o Two-Handed Tapping. Os Ac/Dc também eram liderados pela guitarra neste caso, pelas guitarras dos 2 irmãos Young (Angus e Malcolm) que pegaram no Blues e por assim dizer “aditivaram-no” com peso e energia. Por outro lado os Boston levaram ao Hard Rock um tom melódico, virtuoso e também alicerçado na guitarra, para mim, o timbre de guitarra mais belo que já ouvi é de Tom Scholz. Nomes como Alice Cooper, KISS, Bad Company, Lynyrd Skynyrd, são outros nomes essenciais do Hard Rock mas em termos sonoros não inovaram tanto, mantiveram o som de outras bandas que os influenciaram e não criaram nenhuma revolução no Hard Rock. Foi com este grande cocktail de influências que o Hard Rock atingiu o auge de sucesso nos anos 80, umas bandas “caiam” mais para o virtuosismo, outras para a melodia, outras ainda aproximavam o seu som ao Metal com o peso do Heavy Metal. Musicalmente a grande revolução no Hard Rock dos anos 80 deu-se em primeiro lugar com bandas como Twisted Sister que juntaram ao Hard Rock algum do peso do Heavy Metal. Ainda nos anos 80 há outra banda que eu gostava de destacar, os Queensryche, eles juntaram ao Hard Rock algum peso Heavy Metal, muito virtuosismo e com os seus álbuns conceptuais fizeram a ponte entre o Hard Rock e o mundo do Rock Progressivo. Várias bandas fizeram sucesso nos anos 80, Guns N Roses, Bon Jovi, Scorpions, Motley Crue, Whitesnake, Def Leppard, mas na minha opinião nenhuma delas trouxe nenhum elemento novo ao Hard Rock que se destacasse como uma revolução no som do estilo. Para muitos é aqui que termina a evolução do Hard Rock, para muitos depois dos anos 80 não houve mais nenhuma revolução mas como eu gosto de polémica, vou acrescentar aqui um ponto polémico. Na minha opinião, a última revolução no som do Hard Rock foi realizada por 2 bandas de Seattle, os Soundgarden e os Alice In Chains que foram rotuladas como sendo do famigerado (para os fãs de Hard Rock e Metal) Grunge. Mas para mim, estas 2 bandas têm algo mais que as suas conterrâneas e contemporâneas de Seattle não tinham, tinham mais peso, mais virtuosismo, num som marcadamente depressivo e mais arrastado que o Hard Rock dos anos 80. Depois desta Era quase nada no Hard Rock chegou ao mainstream, também não existiu nenhuma banda com algo novo que levasse a uma nova revolução no som do Hard Rock, apesar de eu adorar algumas bandas, mesmo algumas surgidas nos últimos anos, o som do Hard Rock ainda está marcado por estas “revoluções” que eu explicitei brevemente em cima.

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Não perdemos pela demora! É o que se nos oferece dizer depois de ouvirmos este magnífico «The Hallow Mass», precedido pelo EP intitulado «The Shapeless Mass». Entrevista: CSA

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Saudações! Denial of God é uma banda com uma longa história, no ativo desde 1991, mas só têm 3 álbuns (embora a lista dos vossos lançamentos seja muito longa). Não gostam de fazer álbuns? Azter – Se não gostássemos de fazer álbuns, nunca teríamos feito nenhum. Gostamos tanto de fazer álbuns como de fazer EP, talvez até mais. Os fãs esperaram por este álbum durante 7 anos. Por que vos pareceu que 2019 era o momento certo para lançar «The Hallow Mass»? Aos meus olhos, a nossa música é intemporal, portanto não se pode falar de momentos certos para os nossos lançamentos. O que aconteceu foi que agora já tínhamos um conjunto de canções ideal para ser apresentado como o terceiro álbum da banda. Compusemos, ensaiámos, fizemos os arranjos e refizemo-los até ao outono de 2018 e depois fomos para o estúdio para começar a gravar, o que ocupou duas sessões separadas por alguns meses. Eu componho quase toda a música e só consigo fazê-lo em alguns raros momentos de inspiração, logo o processo é demorado. Além disso, todos os elementos da banda vivem em cidades diferentes, portanto luxos como fazer vários ensaios por semana ou algo desse género não estão ao nosso alcance. O álbum é absolutamente fantástico. Pode-se dizer que é a criação de uma “banda madura”? Obrigado. Mais uma vez, não sei se percebi bem o que significa para ti a palavra “maduro”, mas parece-me que a resposta certa à tua pergunta é “sim”. De facto, criámos um álbum que certamente não teríamos sido capazes de fazer há 20 anos atrás. Ouvir este álbum deixa-nos uma forte sensação de coesão. - Concordas comigo? Sim, absolutamente. Apesar de as canções terem surgido cada uma a seu tempo e em períodos e extensões de tempo diferentes,

nada no álbum foi deixado ao acaso. Todas as canções contam as suas histórias e têm a sua atmosfera única, mas funcionam em simultâneo como peças individuais e como partes de um álbum visto como um todo coerente. Por exemplo, passámos muito tempo a pensar qual seria a ordem ideal de apresentação das canções de modo a conferir ao álbum uma dinâmica perfeita e a dar-lhe um início e um fim perfeitos. - Contudo o álbum não tem nada de monótono. Pelo contrário: é muito variado e está cheio de momentos surpreendentes. Podes comentar esta ideia? Como digo muitas vezes, para mim a música é a banda sonora da história que é contada pelas letras, que são todas muito diferentes, apesar de estarem sempre ligadas entre si por cenários mórbidos e tenebrosos. Histórias diferentes precisam de bandas sonoras diferentes e, como acontece com qualquer bom filme de horror, tem de haver elementos de que ninguém estava à espera. Portanto, gostamos de usar elementos diferentes e não apenas de criar dinamismo tocando lentamente ou, pelo contrário, rapidamente. É claro que o nosso estilo já está definido, logo há partes que te podem levar a dizer que são típicas de Denial of God, mas acredito que ainda há variação e surpresas suficientes para que o álbum seja interessante, apesar de ter uma duração superior a uma hora. - Adoro a forma como a guitarra se enrola em torno do som da bateria. Ouvi bem? É fundamental que todos os instrumentos toquem juntos, em vez de se sobreporem uns aos outros. Portanto, despendemos muito tempo a trabalhar nos arranjos para as canções. Por vezes, este é o processo mais complicado, porque frequentemente são os detalhes mais finos (sobretudo no quer diz respeito à bateria) que nos permitem decidir se duas partes diferentes podem ser ligadas sem destruir a fluidez da música.

Pode-se dizer que o álbum tem uma toada doom, não? Se usas a palavra doom para referir o fim do mundo, até concordo contigo. Mas se estás a pensar em Doom Metal, discordo em absoluto. O que é esta “hallow mass” de que se fala no vosso mais recente lançamento? De que forma as diferentes faixas ilustram esse conceito através das suas letras? A canção intitulada “Hallowmas” refere-se à ideia de abrir o além e de libertar todo o Mal que existe e fazê-lo cair sobre este mundo para acabar com ele. Decidimos dar o primeiro lugar a esta canção no álbum (apesar de ser a mais longa), porque ela introduz a cadeia de pesadelos que se segue e que nos conduz ao longo do álbum até ao seu fim. Os versos que melhor o descrevem são os seguintes: “Darkness and Death hold the Promise of new Life, into this mortal Realm we bid them inside...”. Que parte coube a cada membro da banda na criação desta magnífica peça musical? Eu compus toda a música, à exceção de duas canções: “The Shapeless Mass”, que tem um riff criado pelo nosso ex-baixista Huul, e “Hour Of The Worm”, que compus em colaboração com o nosso baixista de sessão The Unknown. Todas as letras foram escritas pelo Ustumallagam, à exceção da de “The Transylvanian Dream”, que eu comecei a escrever e ele concluiu. Todos dão o seu contributo para os arranjos (Ustumallagam, Azter e Galheim). E The Unknown está sempre presente nos ensaios, logo também colabora nesta parte. Quem fez a capa para o álbum? A ilustração parece-me bastante clássica. É da autoria de Markus Vesper, que também fez a capa para o nosso álbum anterior – «Death And The Beyond». Não sei bem em que sentido usas o termo clássico. Geralmente, designa algo antiquado, que se tornou

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clássico com o passar do tempo. A ilustração está perfeitamente adequada à canção que dá o título ao álbum – “Hallowmas” – assim como à atmosfera global do álbum, que é inteiramente noturna. Também gostei muito do EP que precedeu este álbum. Que relação existe entre eles? Estão ligados apenas pelo facto de o EP ter servido para dar a conhecer um single – “The Shapeless Mass” – que revela um pouco da atmosfera do álbum. Também nos deu a oportunidade de lançar uma velha canção que foi regravada – “The Statues Are Watching” – e duas covers de canções de Bathory e Exuma. Nenhuma dessas faixas poderia sair no álbum, logo o EP era o lugar perfeito para elas.

[…] Todas as canções contam as suas histórias e têm a sua atmosfera única, mas funcionam em simultâneo como peças individuais e como partes de um álbum visto como um todo coerente […]

Que outros planos tem a Osmose para promover «The Hallow Mass»? Não te esqueças de que o álbum foi também lançado pela Hells Headbangers, dos EUA (não apenas pela Osmose). Não há nenhuns planos especiais, mas posso dizerte que a Osmose já esgotou a primeira impressão do álbum, logo temos uma segunda impressão em curso que estará pronta em dezembro. Até ver, estamos muito satisfeitos com as duas editoras. Vão fazer concertos para apresentar este novo álbum? Sim. Esta semana vamos fazer o concerto de lançamento, na Dinamarca. Em abril, iremos fazer a nossa primeira digressão europeia desde 2007, que nos levará à Alemanha, à Holanda, à Bélgica, à Polónia, à Áustria e à Eslováquia. Mais tarde, participaremos no Steelfest, na Finlândia, no Odyssey To Blasphemy, na Alemanha, e provavelmente – esperamos nós – tocaremos em muitos outros lugares.

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A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

No início disto tudo estava o mistério. Entrar em assuntos e lugares “proibidos” através de música oculta e que só era descoberta através da procura própria ou pelo sussurro de um amigo. Esta música que estava atrás da porta, num recanto do sótão, da cave, num programa de rádio tardio, ou na posse dos mais velhos lá da rua. A primeira vez que terei ouvido um pouco de heavy metal, foi com toda a certeza, pelo disco CHAOS A.D. dos Sepultura. Fazia tempo em casa de um amigo enquanto nos preparávamos para seguirmos para as aulas da tarde, ainda na escola primária. Ao nosso lado, o irmão mais velho ouvia este disco icónico a altos berros enquanto saltava em cima do sofá e se esquivava da vassoura da mãe. Eu não entendia e pensava que nunca me iria aproximar de um disco que soasse daquela maneira… Lembro-me de ter ouvido Pantera pela primeira vez num desses programas de rádio. Se a memória não me atraiçoa o tema era a “This Love” do disco Vulgar Display Of Power. Achei aquilo extremamente pesado, o som de guitarra mais cheio que alguma vez tinha ouvido e a berrante melodia de Phil Anselmo. Certamente fiquei marcado pelo refrão. O meu primeiro contacto com o meu maior ídolo deste universo…Dimebag Darrel. De tudo o que se ouvia nestes programas fica a recordação do fascínio pelo som de guitarras carregadas de distorção… Mais tarde, não sei precisar quanto tempo, lembro-me quais foram os dois primeiros discos de heavy metal que entraram em minha casa, emprestados pelo irmão mais velho de um outro amigo. “A small deadly space” dos Fight, tinha uma voz bastante peculiar a liderar o grupo, que respondia pelo nome de Rob Halford e tinha também um groove agitador e extremamente viciante em cada riff de guitarra. O segundo disco foi o diabólico “9” dos Mercyful Fate. Este sim, foi aquele primeiro impacto mais fervoroso com uma sonoridade que parecia vir do fundo da terra…A imagem mística e incógnita, não fosse King Diamond o mestre de cerimónias deste colectivo, a mensagem, as histórias aterradoras, assombradas, a tocar de raspão na temática da religião (I don’t believe in heaven, I don’t believe in hell...) e na malvadez. Parecia corresponder 100% ao que diziam ser a música do diabo, o heavy metal, o número 666, o número dos metaleiros. As guitarras tenebrosas de “Last Rites” abriam a cerimónia, que em “The Grave” tocava forte num ponto comum da nossa infância…Parecia relatar as histórias arrepiantes das idas ao cemitério depois da meia noite. Visitas onde era proibido olhar para trás porque os mortos estavam a descansar. Nunca nos atrevemos a tal. Só me lembro de termos estado do lado de fora, a olhar ao longe, cobertos de medo enquanto os mais velhos nos queriam fazer crer que entre a trémula dos sírios tinham avistado um vulto. Alguns gabavam-se de conhecer a histórias dos que saltavam os portões e muros, de rádio às costas, para ficarem lá dentro a ouvir discos de black metal enquanto ensaiavam algo que diziam ser uma espécie de ritual. Limitei-me a imaginar que a escolha mais provável seriam os Cradle Of Filth e o EP “From The Cradle To Enslave”. Talvez estivesse enganado. Foi no fundo da minha rua, junto à casa onde pela primeira vez ouvi o batimento cardíaco de Zyon a marcar o ritmo tribalista de “Refuse/Resist”…foi lá que ouvi também pela primeira vez a música dos Iron Maiden. “Where Eagles Dare” acompanhada de exclamação. “Então é esta a música por detrás destas capas horrendas”!? Foi também lá que me apresentaram os Slipknot. “Estes gajos usam máscaras e o baterista parece uma metralhadora, experimenta ouvir, vais-te passar!”. Não sabíamos bem o que era um pedal duplo. A adrenalina corria-nos a alta velocidade pelas veias ao escutarmos em modo repeat a primeira faixa do disco “Live” dos AC/ DC…Thunder!!! Lembro-me também de ficar bastante intrigado e curioso pelo tom altivo da voz de Fernando Ribeiro, enquanto se ouvia um pouco do Irreligious e também do The Butterfly Effect…Na altura profetizavam os Iced Earth, “Something wicked this way comes”…

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Pure Wrath Da ditadura É este o tema central do EP dos Pure Wrath intitulado «The Forlorn Soldier», lançado pela Debemur Morti, que anuncia o terceiro álbum desta one man band indonésia. Entrevista: CSA

Saudações, Januaryo! O teu nome é muito português. Nós escrevemos Januário. Januaryo – Olá! Sim, soa muito português. Os meus pais puseramme este nome, porque combina referências a janeiro (o mês em que eu nasci) e aos seus nomes. És muito jovem, mas já tens uma carreira invejável. Por favor, fala-nos dos momentos mais

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importantes do teu percurso na cena Metal. O mais importante momento da minha vida foi a minha primeira digressão no Japão, em 2018. Estive em Tóquio e Yokohama com a minha outra banda, que se chama Perverted Dexterity. Foi muito emocionante para mim. Cresci em contacto com a cultura japonesa – por exemplo, com os anime, os manga, música Rock japonesa e

filmes. Portanto, ir tocar nesse país que eu adoro foi verdadeiramente fantástico. Até gravei lá o meu primeiro álbum ao vivo. Tenciono voltar lá, sem sombra de dúvidas! O que podes dizer-nos sobre a cena Metal na Indonésia? É bastante grande. No meu país, pode-se viver de ser músico de Metal. Ainda é tudo muito simpático e o público é sempre


acolhedor. Também é frequente virem cá bandas ocidentais em digressão e ficarem com vontade de voltar. Adorei este EP e, é claro, gostaria de saber mais sobre ele. - Podes dar-nos mais pormenores sobre o incidente político que escolheste para tema deste lançamento? Data do tempo em que o tirano usava a força do exército nacional para raptar e matar quem quer que fosse que alegadamente apoiasse o partido comunista. Pessoas inocentes foram acusadas e mortas, embora não tivessem qualquer envolvimento em questões políticas. Muitas famílias camponesas receberam apoio do partido comunista (por exemplo, sementes e fertilizantes mais baratos ou até grátis). Esses inocentes camponeses nem conheciam a ideologia desse movimento. Apenas se sentiam gratos pela ajuda recebida, que lhes tinha permitido sobreviver e continuar a cultivar as suas terras. Mas, mais tarde, isso foi usado pelo tirano como pretexto para os acusar e mandar matar. - Gostei muito do contraste entre a tua voz áspera, a atmosfera Black Metal da música de Pure Wrath e a bateria obsessiva e, do outro lado, a beleza dos elementos melódicos e atmosféricos. De que forma servem os teus propósitos estéticos? Pessoalmente, assumo uma posição artística baseada no contraste. Gosto de misturar todo o tipo de coisas, desde que o resultado seja interessante e soe bem. Para mim, elementos que podem parecer estranhos sublinham a natureza da música de Pure Wrath e isso é realmente maravilhoso. - A capa do álbum é fantástica. Li que foi pintada por Aghy Purakusuma. Fala-nos um pouco dessa colaboração. Aghy é um bom amigo e membro de uma das minhas bandas de Death Metal favoritas na Indonésia: Digging Up. Sempre gostei da sua

pintura e, por conseguinte, decidi que todos os álbuns de Pure Wrath terão capas pintadas por ele. A Debemur informa-nos de que convidaste dois músicos para tocar contigo neste EP: um baterista e um pianista. - Como os encontraste? Já conhecia o Yurii Kononov devido ao seu trabalho em Marunata e White Ward. A Dice Midyanti é a pianista e compositora da minha banda indonésia de Symphonic Metal favorita que dá pelo nome de Victorian. - Envolveste-os de alguma forma na criação deste EP? Enviei-lhes o EP quando estava todo escrito, incluindo bateria programada e uma versão simples das partes de piano tocadas por mim. Mais tarde, eles reenviaramme a gravação, depois de terem trabalhado as suas partes. Ficaram no seu estilo próprio, depois dos arranjos feitos a partir do meu “rascunho”. Uma vez que este lançamento é um EP, podemos esperar para breve o lançamento de um terceiro álbum de Pure Wrath? Sim. Neste momento, estou a escrever esse terceiro álbum. Este EP é a ponte que o liga a «Sempiternal Wisdom» [Pest Productions, 2018]. Deverá estar pronto no fim de 2020. A Debemur também nos diz que este EP é diferente do que podemos ouvir nos teus lançamentos anteriores. Podes comentar? Para mim, este EP também é diferente. Incluí nele partes vocais que nunca tinha usado antes. Os riffs e outros elementos são mais tenebrosos do que nos lançamentos anteriores. Eu diria que este EP é muito triste e mais depressivo, enquanto os meus lançamentos anteriores têm vibrações bem mais positivas. Calculo que vais fazer concertos no teu país para apresentar este

[…] No meu país, podese viver de ser músico de Metal. Ainda é tudo muito simpático e o público é sempre acolhedor.

EP. Vais também tocar em países estrangeiros? Neste momento, estou a ensaiar muito com os meus músicos ao vivo. Vamos tocar em Singapura em março e em breve teremos mais datas no nosso calendário de concertos. Cada um dos teus lançamentos foi feito com uma editora diferente, certamente devido à qualidade da tua música. Como é que a Debemur entrou em contacto contigo? Foi o Yurii Kononov que me apresentou à Debemur Morti. Enviou-lhes a versão demo do EP e, para minha grande surpresa, eles gostaram imenso dele. Geralmente, não lançam EP, pelo que fiquei encantado por eles se terem interessado pelo meu e avançado para o lançamento. Queres deixar uma mensagem especial aos teus fãs portugueses (já que espero que esta entrevista leve os metal heads do meu país a ouvir a tua música)? Espero poder encontrar-me com os meus fãs em Portugal no próximo ano. Estamos a trabalhar para esse efeito. Muito obrigado a todos os que procuram a minha música e se interessam por ela! Saudações da Indonésia! Facebook Youtube

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te disso facilmente se consultares o nosso catálogo. Na verdade, é apenas uma consequência de tocarmos juntos, com os membros da banda a interagirem e a desenvolver sensibilidades. Nunca pararemos de nos reinventar. Estou muito agradecido às pessoas que nos têm acompanhado nesta jornada.

Inércia evolutiva «Immoto», o novo álbum dos Nero di Marte, remete para a inércia, pelo seu título, ideia que é completamente desmentida pelo dinamismo da música. Entrevista: CSA

Penso que o ano está a começar muito bem para a banda, porque têm um novo álbum a apresentar aos fãs depois de um jejum de seis anos. - O que vos impediu de lançar este álbum mais cedo? Sean – Saudações, Versus Magazine. Obrigado pela entrevista. Sempre nos preocupámos em gastar o tempo de que precisássemos para lançar algo que seja significativo para nós em termos de material acumulado, de experimentação e de gestação. Mas aconteceu que, durante estes seis anos, a nossa formação se alterou, entrou um novo baterista e mudámos de editora, passando para a Season of Mist. Tudo isso contribuiu para o “atraso”. - E o que fez pensar que janeiro de 2020 era uma boa altura para lançar o álbum? Não posso referir nada em particular. Tenho de agradecer à Season of Mist ter-se encarregado da produção do álbum, mas também posso dizer que o nosso novo baterista – o Giulio [Galati]

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– nos ajudou imenso a focarmonos na composição das canções e insistiu muito para que a banda lançasse algo novo depois da sua integração. - Como estão a imprensa e os fãs a reagir a este longa duração? Muitíssimo bem, penso eu, as opiniões são essencialmente positivas. Reconheço que o álbum não é para gente com pouca capacidade de concentração e falta de paciência (que são atributos da maior porção da humanidade, haha). É música que exige tempo e múltiplas audições para se revelar. Mas é a isso que este álbum convida criando um espaço de inércia dentro de ti mesmo. Como era isso que pretendíamos, sentimos que alcançámos os nossos objetivos. Este «Immoto» é muito diferente do seu predecessor? Penso que é mais dinâmico, abstrato, íntimo, extremo. Cada um dos nossos álbuns tem testemunhado uma evolução, uma expansão da nossa paleta sonora e parece-me que podes aperceber-

Como descreves a música neste álbum? [A mim parece-me bastante violenta – embora não seja particularmente ruidosa –, um tanto obsessiva, mas extremamente apelativa.] De certa forma, é violenta, mas também é muito delicada, atmosférica e meditativa. Tem qualidades dramáticas, sem dúvida, tanto pela forma como canto como pela narrativa que a voz conta, que te vai guiando através de uma música muito linear que nunca se repete. As composições são complexas e técnicas, mas felizmente os ouvintes não se sentem muito tentados a analisálas por esse prisma. Pessoalmente, pretendo relacionar-me com a música de um modo mais visceral e espero que o ouvinte sinta o mesmo com este álbum. A propósito, o que significa o título do álbum e como o relacionam com as faixas que ele contém? “Immoto” significa “parado” em italiano, O título pretende ser um convite para criar, interagir e ouvir de forma atenta e meditativa. Isto também pode descrever o trabalho que temos feito nestes anos com esta música e as letras que a acompanham. Escolhemos essa palavra para exprimir o facto de nos focarmos na reflexão e também pelas suas qualidades fonéticas. A nossa única preocupação foi se íamos usar “Immotto” como título para uma canção e também para o álbum em si. Acabámos por o fazer, visto considerarmos essa faixa como uma espécie de chave que liga tudo do ponto de vista musical e lírico.


Quem escreveu as canções e as letras para elas? Eu escrevi todas as letras, exceto as de “L’Arca” e “La Casa Del Diavolo”, que surgiram de uma parceria com o Francesco (o guitarrista). As canções resultaram todas mais ou menos de um esforço colaborativo, visto não haver um membro da banda que assuma sozinho essa responsabilidade. Cada um de nós contribui com as suas ideias e escreve as suas partes. Às vezes, alguém aparece com a estrutura completa de uma canção, outras vezes é só um riff ou uma ideia para uma atmosfera. A partir daí o trabalho é feito em colaboração. A voz é muito surpreendente. - Concordas comigo? Espero que tenha sido uma surpresa positiva! Penso que trabalhei muito as partes vocais deste álbum. Mas continuo com a impressão de que ainda há muito para melhorar. - Que efeito querias produzir? Como já referi, a voz muitas vezes funciona como uma narração ou um guia para o ouvinte, algo que me parece pouco comum dentro deste género. Pretendo que as partes vocais se caracterizem pelo máximo possível de dinamismo e variação, que a música e a voz se fundam formando uma unidade. Penso que podemos transcender ainda mais esta barreira e já comecei a trabalhar em novas composições em que quero experimentar esta ideia. Quem fez a capa do álbum? Podes comentá-la para nós? O layout foi feito pelo Alex Eckman-Lawn, um ilustrador de Fildélfia que tem trabalhado com bandas como Yakuza, Hacride, Yob e muitas outras. Tem feito todo o artwork para nós até agora. Para «Immoto», foi mais uma colaboração. A base da capa é uma pintura feita pelo Francesco (o guitarrista) e inclui também alguns elementos fotográficos. Eu fiz fotos que também foram usadas no álbum. Queríamos exprimir algo absoluto

[…] o álbum não é para gente com pouca capacidade de concentração e falta de paciência […] exige tempo e múltiplas audições para se revelar.

e transformativo de uma forma muito abstrata. A vossa editora menciona digressões com Gorguts (que entrevistei em 2016 sobre o seu quinto álbum) e Psycroptic. Vão para a estrada com eles novamente? É claro que adoraríamos fazê-lo! Mas não tenho a certeza de que o Luc dos Gorguts esteja já pronto para ir para a estrada com música nova. Temos prevista a participação em vários festivais para este ano e espero que possamos fazer uma grande digressão na Europa até ao fim de 2020. É engraçado haver uma cor que se chama “Negro de Marte”,

um planeta que as pessoas geralmente relacionam com o vermelho. Por que escolheram esse nome para a vossa banda? Essa dissonância cognitiva poderia ter-nos levado a escolher o nome. Mas a verdadeira razão para essa escolha tem a ver com o poder fonético do nome e as suas propriedades químicas do composto. Trata-se de um pigmento negro e opaco usado na pintura, que transforma muito as outras cores quando entra em contacto com elas. Não reflete a luz e é de muito longa duração. Tudo isto e outras interpretações subconscientes fizeram com que este nome nos seduzisse. Facebook Youtube

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Postas de pescada “Postas de Pescada: devaneios de dois energúmenos sobre personalidades da música” será um espaço partilhado, entre dois “jornalistas”, onde se falará sobre músicos, bandas, acontecimentos e outras coisas que tais... Como devem ter reparado, o “outro” ainda não “mandou as postas”. Para a próxima edição há a Parte 2 e depois, talvez o “outro” contribua...

Dividir para conquistar - Parte 1 Por: Ivo Broncas | Eduardo Ramalhadeiro

Para uma banda conquistar um lugar no difícil mercado da música há todo um longo e difícil caminho pela frente, e claro, há que fazer com que as suas composições sobressaiam no meio da infindável oferta que temos actualmente. A competição entre bandas é por isso uma realidade transversal a várias culturas e gerações. Mas até que ponto esta é favorável? E se o é, de que forma o pode ser? Para o fazer foram analisados movimentos musicais que tiveram sucesso comercial A competição é, quer queiramos quer não, é uma presença constante nas nossas vidas. Desde cedo aprendemos que temos de competir, mais ou menos acérrimamente, para atingirmos os nosso objectivos. No difícil mundo da música isto não será obviamente em excepção, ainda mais na músical “Metal” ou no rock pesado, nem sempre conseguem atingir o sucesso comercial de outros géneros. É, portanto, normal, sob este ponto de vista, assistirmos a uma competição entre bandas para conquistarem o seu lugar no mercado. Mas de que forma esta competição deve ser encarada pelas bandas? A própria palavra tem para muitos uma conotação hostil. Logo, o conceito de uma competição saudável que seja favorável para as partes envolvidas, é considerado completamente uma utopia se não completamente aberrante. Contudo, caso se conseguisse pôr em prática, não beneficiaria muito mais não só algumas bandas em particular, como, num sentido mais lato, todo um movimento em si? Esta dúvida ocorreu-me após ouvir alguns boatos sobre ambição desmedida e um clima de guerrilha entre bandas com a mesma nacionalidade que em nada honram o género. Em jeito de exercício, procurei analisar brevemente a cena musical do metal e rock pesado desde os anos 80 até agora, e consigo à partida identificar três movimentos que conseguiram furar a dura carapaça do pop e do hip hop e conquistaram a atenção de todo o mundo: O Thrash metal que ficou célebre na “Bay Area” de São Francisco, o Grunge de Seattle, e o mal-amado “Nu Metal”. São, indubitavelmente três estilos completamente diferentes, mas que na sua génese têm uma coisa em comum: a solidariedade entre bandas numa fase precoce das suas carreiras. É perfeitamente normal que estejam mais vivas as memórias das desavenças e de declarações polémicas à imprensa. Contudo é quase pecado olvidar que os alicerces dos movimentos acima descritos foram assentes em actos de interajuda. Outro facto interessante é que distam temporal e geograficamente o suficiente para não se conseguir estabelecer uma imediata relação entre os mesmos. Aliás, dois deles, o Thrash metal de São Francisco e o Grunge de Seattle, foram fenómenos de tal forma localizados que levou a que alguns músicos se mudassem propositadamente para aquilo que chamarei carinhosamente de “zonas endémicas”, pois era convicção que, para vingar no estilo em particular, fora das mesmas seria muito mais difícil singrar.

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Mas vamos por partes, por ordem cronológica e com alguns exemplos práticos para tentar fazer ver o meu ponto de vista. Thrash Metal de São Francisco. No início dos anos 80 o “Glam metal” ou “Hair Metal” era Rei e Senhor dentro do género, mas toda uma geração influenciada pela New Wave of British Heavy Metal queria-se demarcar deste estilo que consideravam fútil e superficial. Os expoentes máximos em termos de popularidade são sem sombra de dúvida os Metallica. Considerados por muitos como pioneiros do género, a história do Thrash passa muito por eles, mas não só. A mudança da banda para São Francisco não teve apenas a ver com o facto de ser uma exigência de Cliff Burton. A realidade é que havia pouco espaço em Los Angeles para um estilo de metal mais agressivo, o que se traduzia numa ainda maior dificuldade em encontrar locais onde tocar. Em São Francisco, bandas como os Exodus, doutrinavam desde 1979 o público da Bay Area, desbravando assim, com sonoridades nunca dantes debitadas, caminho para que outras bandas pudessem ser também aceites. Isto tornava, obviamente, a cidade muito mais atractiva para quem queria tocar Thrash. Também os Slayer, banda de Los Angeles, apesar de não terem mudado de quartel general, sentiram os mesmos obstáculos e tinham em São Francisco um porto seguro. Antes de contratos milionários e de desavenças mediáticas, a cena Thrash era constituída por jovens que tinham em comum a paixão pela música e a vontade de a dar a conhecer. Tratava-se de um meio underground, em que a solidariedade ainda falava mais alto que egos. Os músicos assistiam a concertos de outras bandas e conviviam amigavelmente com as mesmas. Dá a crer que, de uma forma qui çá inconsciente, existia a noção de que era seria mais difícil atingir o estrelato se o género em si não fosse bem divulgado. Isto deu origem a uma solidariedade expressa sobre a forma de troca de experiências, partilha de espaços e até de músicos. Um somatório de factores cujo resultado permitiu às bandas elevar a sua qualidade “individual”, e consequentemente, o movimento em si. O sucesso que os Metallica tiveram com o primeiro álbum, não foi de todo prejudicial para os outros nomes do Thrash, muito pelo contrário. Aumentou, directa ou indirectamente a visibilidade de todos eles. Um dos melhores exemplos de influência directa são sem sombra de dúvida os Anthrax. O conjunto de Nova Iorque criou laços de amizade com os “The four Horsemen” quando os receberam na sua casa aquando das gravações de “Kill’em All”, o que levou a muitos palcos partilhados. Os Megadeth beneficiaram indirectamente desta atenção, devido à visibilidade que Dave Mustaine teve na banda, e há quem seja da opinião que até os Slayer numa primeira fase tiveram um pouco de mais atenção, pois Kerry King ainda foi durante uns longos cinco concertos, o “segundo” guitarrista do projecto do ex-Metallica. Antes ainda destas trocas de músicos começarem a dar que falar, Cliff Burton e o seu companheiro de banda Kirk Hammet (ex membro dos Exodus), sendo locais, tinham um vasto número de amigos músicos que lhes facultavam inúmeras demos, o que possibilitou a circulação de mais música, e que esta chegasse aos ouvidos das editoras, ajudando assim a manter dinâmico e visível o movimento Thrash. Curioso é também perceber que à medida que o movimento foi crescendo, e assim que uma banda demonstrava uma evolução tanto técnica, como em capacidade de arranjos e composição, era exercida uma pressão saudável perante todas as outras, que fizeram por superar tanto as suas “rivais”, como e a elas próprias. Este tipo de competição trouxe indubitavelmente vantagens não só para os fãs, mas também para os próprios músicos e para o género no seu todo. A infindável guerra entre Metallica e Dave Mustaine, e entre Dave Mustaine e Kerry King, parece que ofuscou das nossas memórias o que esteve na génese deste género musical: actos de solidariedade, de interajuda e competição saudável, cuja importância é muitas vezes descurada. Não tenho recordação de existir outro fenómeno tão localizado. Isto é, até ao início dos anos 90 em Seattle.

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Como se calhar sou um dos poucos que “ainda compra CDs”, tendo para estar atento à evolução deste formato físico como meio de ouvir música. Não vou aprofundar a questão, não vou discutir puritanismos, mas a forma como se ouve música hoje está a mudar, e esta forma actual e digital de ouvir música que tomou de assalto a última década, está a deixar para trás este formato físico de 120 milímetros e 10 milímetros de espessura que gostamos de colocar a rodar, sempre através de um bom amplificador stereo e um bom par de colunas. No caos do Metal, alto, muito alto, até as telhas rufarem. Continuo a ouvir muita música – Obrigado Versus! – mas cada vez menos compro CDs, isto é, comprar música em formato físico. Pelo que, abordar esta questão e falar da minha visão e experiência pessoal, é se calhar a melhor forma de trazer à tona muito dos problemas que está na base da crise inevitável do formato físico, quer sejam os vulgos CDs, como igualmente o vinil, que parece estar tanto na berra, mas na prática passou a objecto meramente decorativo, tendo caído no mais simples dos golpe de marketing, aproveitando a onda. Eu sou um dos que gosta de ter o suporte físico, em especial o CD para poder ouvir à vontade, e de o ouvir “ao vivo” numa aparelhagem - não me chamem nostálgico - pois não há experiência sonora igualável, em especial aquando da mesma audição digital com headphones, por muito bons que possam ser. Afinal, qual é o problema actual com o formato físico? A meu ver são quatro. Primeiro, falta de tempo para ouvir musica em formato físico, segundo, o preço dos CDs – para não falar do vinil que como nicho consegue ser ainda mais caro, terceiro a mudança tecnológica para o streaming na sequência do desenvolvimento dos smartphones - que mudaram o paradigma de ouvir música - e por último a redução da oferta de CDs à venda nos locais habituais em contraste com a oferta excessiva existente todos os anos, em especial dos lançamentos das bandas que não são estratosféricas como uns Iron Maiden ou Metallica. Desafio-vos a pegar em qualquer banda desta edição e irem às lojas físicas habituais procurar o último CD que lançaram. Boa sorte! Comecei a minha colecção de CDs em 1992, com a compra do «Triumph of Steel» dos Manowar. Hoje tenho mais de 800 CDs, entre compras de novo e usado, mas o ritmo de aquisição tem vindo a baixar nos últimos anos e está longe dos 167 CDs de 2005. Desde 2014 que tem andado na casa dos 20 ( excepto 2016 com 6) e o ano passado de 2019, foram só 7, dos quais 5 são um pack em slipcases do Jean Michel Jarre, e 2 que vieram com o Blu Ray do concerto do King Diamond e Accept. Ou seja, não adquiri nenhum CD de qualquer banda que tenha lançado algo em 2019. Até vou escrever por extenso z-e-r-o! Ou como diria um meu(nosso) professor da universidade, “não é zero, é zero ponto zero!” Mas afinal o que se passa? Perdi o interesse na aquisição dos CDs? Passaram a ser extremamente caros? Não, nada disso e penso que as minhas respostas, poderão responder de certa forma ao problema actual. O maior problema para o CD como objecto de música isolado dos outros media é a oferta excessiva de bandas e por consequente música – E estou só a abordar o Metal! Eu faço a rúbrica do paletes de metal, pelo que oiço tudo o que passa pela versus, há muita coisa que gosto, muitas bandas interessantes, mas é-me impossível comprar tudo o que gosto – E é bastante – mesmo que quisesse, ao preço que os CDs ou edições especiais são vendidos. Isto é um dos lados da medalha, o outro é a falta de oferta nas lojas habituais - não as poucas discotecas que ainda vão

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O CD está morto, viva o CD! subsistindo - onde a máxima “quem não aparece esquece” é primordial. Se gosto do álbum de uma banda que acabei de ouvir, estou entusiasmado com a música, se for a uma destas lojas e vir lá o CD, talvez compre por impulso do momento. Se não estiver lá, passa o entusiamo e é uma comprar que provavelmente nunca mais vai acontecer. No outro dia fui a uma destas lojas e por acaso estava o novo dos SOEN (capa da versus 52), nem queria acreditar, quase que o comprei! Só havia um exemplar, que passado uns tempos foi vendido e nunca mais vi outro lá reposto no mesmo lugar. Venderam um, uhau! O melhor local para comprar o que se gosta é o grande armazenista mundial online de A a Z. Quando gosto de um álbum em particular, lá o adiciono ao cesto…. E lá fica Ad Eternum, pois o custo final (CD+Portes+Cambio) torna irracional a compra, e ao contrário dos BluRays que por lá andam que com o tempo baixam de preço, tal como nas lojas físicas, os CDs nunca baixam de preço! Há bandas que teria comprado o CD no calor do momento mas nunca aconteceu e algumas ainda lá estão no cesto. Posso mencionar: Septicflesh, Dukes Of The Orient, Night Viper, Steve Moore, Luca Turilli’S Rhapsody, Soen, Arch/Matheos, Wallachia, Rotting Christ, e sobretudo os magnânimos Thy Catafalque, os quais até me sinto mal por não comprar nada aos homens! Tudo bandas que mereciam o meu suporte com a compra do CD, mas tal não aconteceu e provavelmente nunca acontecerá pois sem ser aqui online, não os encontro em lado nenhum. Além da questão financeira, há depois tudo o resto, o acumular de coisas, a dificuldade da disponibilidade para colocar o CD a tocar, o dinheiro empatado em coisas que se pode passar anos sem voltarmos a ouvir, o valor que nunca mais vamos recuperar, até porque mesmo que se torne num artigo raro, quem é que o vai querer daqui a 20 anos se a banda não criar corpo e notoriedade? A maior partes senão todas estas bandas de hoje nunca chegarão à longevidade dos nossos dinossauros actuais. Se vermos a questão pelo lado económico e possível valorização, um vinil mantem o seu valor, o CD/digipack perde 2/3, o digital é uma mão cheia de nada e o streaming um ALD/renting de música, estamos sempre a pagar para ouvir. Pegando na questão das lojas físicas, são poucas ou raras as “discotecas” que subsistam focadas na venda do formato físico. Aqui em Lisboa, são referência o Glam-o-Rama, talvez uma das últimas que vende a sério, pois a outra, a Carbono parece mais uma feira de velharias do CD que de novidades. No Porto, do que me lembro é a Piranha a loja de referência, penso que ainda existe mas já não vou lá à.. decadas. Quanto às famosas cadeias que pautam o nosso panorama consumista, a loja com ”nome de ar condicionado” tem vindo a reduzir os expositores de CDs, sendo os únicos que aumentaram a oferta do vinil, típico de uma sociedade comercial de aproveitar a onda do momento. O “mercado dos média” também já colocou os CDs ( e DVDs) em quarentena, pois na sua última remodelação, reduziram drasticamente a oferta de música, apesar de aparecer aqui e ali, pasme-se, novidades. As outras tipo hipermercado há muito que rifaram os CDs. Os do “ao campo” nem sequer têm um expositor com os ditos há anos, não vende, está fora. Os da “popota” idem e mesmo o “primo alemão” reduziu os CDs a uma mera insignificância, apresentando essencialmente os cantores românticos de carreira do momento, onde antigamente – digo final dos 90, início dos 2000 - se encontrava novidades de metal.

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Eu não percebo este negócio actual que continua garrado ao modelo do passado. As bandas lançam álbuns, certo, em formato físico, certo. Mas para venderem aonde? Nos concertos? Alguma banda de média estatura ganha alguma coisa com o negócio do streaming? Se calhar se virassem youtubers – a banda não os membros individuais - no final do ano ganhavam mais dinheiro. Acho que muito da culpa do estado actual é das editoras, que continuam a desenvolver o seu negócio numa fórmula do século passado que não se adequa aos dias de hoje, com medo de perder o seu poder e negócio. De certeza que haverá uma nova fórmula vencedora para todos e em particular para as bandas, só que ninguém ainda a descobriu. E não é o streaming… esse é vencedor é para a plataforma que o disponibiliza. Todos os anos é publicado um relatório da industria da música, é o Global Music Report, e de toda a informação lá presente, há um gráfico que quero destacar e bem elucidativo, o qual mostra a evolução da música. No geral, o que o gráfico mostra é que a soma das partes dá menos.

Como podemos ver, nos últimos anos, a receita global tem vindo a recuperar ligeiramente desde 2011, mas em 2018 (últimos dados conhecidos) estamos a níveis de 2006! Para este números contribuem 5 categorias: O formato físico que inclui o vinil, a música digital (excluindo o streaming), a música em streaming, os direitos de autor e os direitos musicais de utilização também apelidados de sincronização. O próximo gráfico espelha bem a tendência do formato físico e o crescimento do streaming. Curioso é a música em formato digital, vulgo mp3, estar igualmente em decréscimo com o surgimento do streaming. O que este gráfico mostra é a continuação nos próximos tempos da redução do formato físico e digital às custas do streaming. Veremos, se no global, os valores não acabam por estagnar ou mesmo diminuir. Como digo na brincadeira, o streaming até da pirataria do CD deu cabo! O panorama é negro para o formato físico e digital da música. Questiono-me porque razão as editoras continuam a lançar discos da mesma forma tradicional. Eles lá no fundo acabam por apanhar umas migalhas aqui e ali

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que fazem um bolo grande. Duvido é que as bandas ganhem alguma coisa com este panorama e acho que as editoras acabam por ser os coveiros de muitas boas bandas. Este cenário é injusto para muitas das bandas que apareceram e continuarão a aparecer nos próximos anos, que a meu ver e apesar de por vezes se repetirem demasiado, tem um nível muito superior a muitas das bandas que apareceram nos anos 80 e aguentaram-se até hoje. Música é cultura, é uma arte erudita, mas ninguém ainda aqui a aquecer as cordas da guitarra para passar o tempo. É necessário que o esforço dos artistas compense e que se torne financeiramente viável, ou então, haverá muitos Ava Inferi por aí, que ao fim de 4 CDs e uma música e estilo muito bem conseguidos, fecharam “a loja”, partindo os seus membros para outra coisa afim de se manterem à tona da água. A sociedade como um todo vai evoluindo, tornando muito objectos ou equipamentos obsoletos – a lista é infindável, deixando-os no final apenas ligados à uma certa nostalgia. A chegada primeiro dos leitores de MP3 – também esses praticamente extintos - e depois do desenvolvimento dos smartphones, potenciando o desenvolvimento de plataformas de serviço de música e uma nova abordagem na forma como a ouvimos, aliado a uma nova geração bem menos materialista, foram as mudança cruciais para esta mudança cultural. Só mesmo as editoras e bandas é que continuam a tentar sobreviver ligados ao modelo do passado, restando-lhes apenas fazer concertos e vender merchandising, se quiserem mesmo ganhar a vida. Voltando aos CDs, estes, enquanto o modelo de negócio se manter, estão seguros, mas em morte lenta, pois aquela barra azul irá diminuir ano após ano até desaparecer. E nem as actuais edições especiais, earbooks e outros digipack, serão tábua de salvação desta morte anunciada. O CD está morto, viva o CD! (E o digital também)

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GARAGE POWER Nesta edição do GARAGE POWER temos duas bandas portuguesas acabadinhas de nascer no panorama musical nacional. Com sonoridades e filosofias diferentes mas com o mesmo amor à música, eis os Born-Folk e Vila

Martel

Entrevistas: Eduardo Ramalhadeiro

Born-Folk

Olá, antes de mais esperamos que esteja tudo bem convosco. Luís vieira: Olá Versus Magazine e muito obrigado pela entrevista. Os Born Folk formaram-se em 2019 e entretanto, já lançaram um EP. Como é que foi o vosso trajecto até verem nos escaparates o fruto do vosso trabalho? Bem, juntámo-nos pela primeira vez os três no final de 2018 e começamos a trabalhar temas que eu tinha, na verdade foi tudo muito rápido, em Junho surgiu o nome da banda e em paralelo já estávamos a ultimar as gravações dos 5 temas que estão no EP que saiu em outubro. Quando é que está previsto lançarem o novo álbum... O vosso álbum de estreia? Álbum propriamente dito, talvez

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apenas 2021. Ainda estamos na senda da promoção do nosso ep de estreia, mas podemos adiantar que vai sair um single (lado a + lado b) muito provavelmente já este mês de maio, já havia essa intenção (mesmo sem pandemia) e é bem possível que face aos tempos que estamos a viver, lançaremos uma espécie de compilação em formato de ep de 6 temas (fase pré BornFolk) e que estão a ser tocados ao vivo. É importante perceber que não temos apenas estas 5 musicas :) de todo, temos muitas!!! Vocês têm uma sonoridade muito característica. Quais foram (ou são) as vossas influências e de que forma se manifestam na vossa música? Há bastante influência do indie americano, mas também do brit-pop Inglês. Mas acho somos ecléticos, livres, não estamos agarrados a um movimento em particular, somos nós. Na press release que recebemos vocês dizem que “tentam explorar diferentes ideias sonoras”: - “tentam”: vocês conseguiram isso? Sim, neste EP apesar da haver uma unidade em termos temáticos, há sonoridade diversa entre as cinco musicas e acho que isso se percebe bem

– “diferentes ideias sonoras”: que tipos de ideias vocês tentam/ tentaram explorar? A ideia é explorar as nossas valências enquanto músicos, e influências. O nosso baixo tende para o word music/funk, o nosso baterista mais pro rock convencional, eu mais o Indie americano mas com veia pop. Há no geral também uma dose boa de experimentalismo. Como é que vocês pretendem chegar ao “âmago do coração” dos ouvintes através da vossa música? Musica é frequência e isso transmite sensações nas pessoas, cada uma vai receber uma informação de bem estar ou não. Não sabemos se as letras ficarão na mente (são um pouco ambíguas por vezes), mas a musica ficará no coração :) essa é a ideia. “Fall-inn” parece ter uma história interessante. Qual é a historia por detrás deste tema e o álbum segue algum conceito liricamente? Sem duvida, há sempre uma historia, a Fall-Inn fala duma “coelhinha aventureira” que gostava de se expressar em alemão, é no fundo um misto de all-in com fall, ou seja uma aposta que saiu gorada do ponto de vista pseudoromântico :) no final de contas


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usica é frequência e isso transmite sensações nas pessoas, cada uma vai receber uma informação de bem estar ou não.

Foto: Ana Cristina Figueiredo

criamos um belo hotel (inn) para acolher o outono. A letras do álbum seguem uma linha muito irónica e ambígua (isto não é o q parece, como se diz nos filmes) adoro trocadilhos e o inglês é óptimo para isso. A relação masculino/feminino está sempre presente, até no titulo “Come inside!” Usando a terminologia surfista

Como é que vocês definem a vossa música e como se definem como músicos? Gostaríamos que a nossa musica traga uma boa energia, sem estar agarrada a movimentos muito restritos. Temos uma bitola é certo, que ainda não sabemos na verdade o tamanho dela. Boa onda acima de tudo, e beleza. Somos estetas musicais

Para terminar, o que podemos esperar dos Born-Folk nos anos vindouros? Esperem coisas boas, novidade, esperança, acho que somos péssimos a imitar outros, muito menos seguimos tendências do momento. Facebook Youtube

Vila Martel

Olá, antes de mais esperamos que esteja tudo bem convosco. Francisco Botelho : Os Vila Martel ainda são muito jovens mas já lançaram um álbum. Como é que

foi o vosso trajecto até verem nos escaparates «Nunca mais é sábado»? Foi algo atípico e repentino. Vila Martel começou com dois elementos em 2018, Francisco e Rodrigo, numa altura em que os dois decidiram compor e gravar um ep caseiro e experimental. Por ter sido muito bem recebido por quem o ouviu, a etapa de gravar um primeiro disco apareceu naturalmente. O Vítor, com quem gravámos o Nunca Mais É Sábado propôs que nos juntássemos para o realizar, e assim foi! Um par de meses antes de irmos para estúdio procurámos ativamente membros para tornarem a banda tecnicamente mais completa e o

Afonso e o Tiago foram os eleitos. Depois de tudo gravado, já em sala de ensaio e sem as maravilhas do overdub, achámos que seria interessante adicionar mais um músico, e foi aí que entrou o Inácio. Todo o instrumental e vozes foi gravado pelos membros dos Vila Martel. Contem lá um pouco do porquê e como é que foi o processo de criação? No fim, quem teve a palavra final? A grande maioria do processo criativo foi realizado só com os dois primeiros membros da banda que foram compondo as ideias das oito músicas do alinhamento do disco. Começando sempre pelo instrumental, surgiam riffs ou

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emos todos influências bastante díspares, [...] António Variações, Os Velhos, Pink Floyd, Samuel Úria, Beatles e tantos outros.

melodias que se tornavam uma canção. Só no final da composição foram adicionadas as letras. Depois, nos ensaios pré-gravação, o Afonso e o Tiago deram os últimos toques e apreciações. Vocês têm uma sonoridade muito característica. Quais foram (ou são) as vossas influências musicais e de que forma se manifestam na vossa música? Temos todos influências bastante díspares, mas que encontram os pontos comuns que podem servir de fundação para o nosso som. António Variações, Os Velhos, Pink Floyd, Samuel Úria, Beatles e tantos outros. No final do dia percebemos que fomos beber a muitas mais fontes do que estas, mas estes nomes são alguns dos que mais nos têm acompanhado. … no seguimento da pergunta anterior: como é que vocês definem a vossa música e como se definem enquanto músicos? Andamos a definir a nossa música como “rock com petazetas”. Fomos classificados desta forma uma vez, e achámos imensa graça à referência! Acaba por ser verdade. É um rock muito jovem e descomprometido. Percebemos a necessidade de catalogar a música por géneros, tantas vezes também o fazemos, mas preferimos deixar assim ao imaginário das pessoas. “(…) o indie rock ainda pode ser feito de amplificadores barulhentos e vozes berradas.” Afirmação interessante. Podem-

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nos dar a vossa opinião sobre esta declaração? Essa frase surgiu como forma de explicar a intenção do produto final que apresentámos. Queremos ser nós e soar diferente. Sentimos que muita da música que consumimos está a rumar para um universo em que tudo está perfeitamente no sítio. Aquilo que gostamos é da desordem e despreocupação característica do rock ‘n roll. Por isso, decidimos pegar nós nas guitarras e fazer aquilo que gostaríamos de ouvir! Vocês disseram que “(…) este projecto, procura ser o início de uma carreira musical para os cinco”. Estamos em Portugal e retirando estes tempos excepcionais que estamos a viver, como é que vocês esperam conseguir isto, sabendo que Portugal não é um país propriamente muito dado a oportunidades? Trabalho, trabalho e mais trabalho! Somos novos, mas tentamos ser o mais profissional possível. Estamos acompanhados de uma estrutura na qual confiamos e que achamos que nos poderá ajudar a chegar mais longe. Portugal não é dado a oportunidades, mas ainda é possível agarrar numa ou outra. Quem é o responsável pelas letras? Há algum conceito subjacente às palavras? O responsável de todas as letras foi o Rodrigo. O conceito do disco são as vivências partilhadas pelo comum dos jovens-adultos. Etapas

de grandes mudanças e desafios que podem traduzir-se em tantas alegrias como amargos de boca. Acreditamos que há bocadinhos capazes de falar a muita gente da nossa geração! … por falar em letras: “Ninguém” parece ter/ser uma história engraçada. Qual é o conceito que suporta este tema? Esta música baseia-se numa carta aberta que declara o amor por alguém. Mas declara a quem? Ninguém? Através a repetição presente no refrão “Eu estou bem, quem ninguém”, lançamos a dúvida sobre se a canção é uma demonstração de um amor que traz alegria e bem-estar sem fim, ou um manifesto que visa esclarecer que com amor ninguém é feliz. A dúvida persiste para sempre, tal como o amor. Para terminar, o que podemos esperar dos Vila Martel nos anos vindouros? Podem esperar de tudo um pouco ou nada mais! Não adivinhamos o futuro, portanto teremos de respeitar aquilo que ele nos reservar. Neste momento podemos afirmar que queremos muito fazer música nova, dar concertos por todo o país, partilhar mais experiências os cinco, aprender com quem nos queira ensinar e continuar a conhecer pessoas tão boas como aquelas com que nos temos vindo a cruzar. Só o tempo o dirá! Facebook Youtube


Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

3, 2, 1. Surpresa!

Conta agora o que fizeste e não apontes o dedo Nada faz sentido Quando não entendes

E grita Grita até te doer a voz Apaga o passado Começa de novo

Anda Consegues por uma vez brincar

Encontra-te Chama por mim Diz-me quem és E talvez façamos fusão

Atira frases Constrói castelos Adorna as tuas princesas e os guerreiros malvados da tua alma Forçada é a nossa limitação Atira-te de uma vez ao lago materno e profundo do desconhecido Diz o que realmente pretendes E não tenhas vergonha de ser um caso perdido

Repete Assiste E deixa passar É um jogo Ninguém sabe jogar Anda Repete Faz valer! Puxa-me Empurra-me Vem comigo Vamos cair o dois

Vai Vai por onde poucos passam E dança Onde todos gostariam de saltar

E assim Ninguém ganha Mas tudo acontece De forma Igual.

Não tenhas medo Por uma vez esquece o medo

Repete-me Para poder ser melhor

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PALETES Por: Carlos Filipe

Baleful Abyss - «Death Propaganda» (Alemanha, Old School Death Metal) Com «Death Propaganda», os Baleful Abyss apresentam o seu primeiro álbum, que na verdade não é um álbum de estreia. O quarteto Alemão lançou três álbuns com o nome «Zombieslut» desde 2008, antes de decidirem em 2019 reiniciarem com um novo nome, mantendo a orientação musical, porque ainda é o clássico Old School Death Metal. Baleful Abyss significa Death Metal obscuro e maciço e apresenta 11 faixas, para além da introdução cheia de brutalidade groovy e doom. (MDD Records) Out Of Order - «Facing The Ruin» (Alemanha, Hard Rock) A mistura inicial de Power e Speed ​​Metal tornou-se mais difícil e complexa ao longo dos anos e, com o terceiro «Facing The Ruin», a banda apresenta o experiente e tecnicamente notável Thrash / Power Metal, que não nega as suas influências musicais. É o combinar do Thrash Metal da Bay Area dos anos 80 com uma boa parte de melodia. (MDD Records) Batushka - «Hospodi» (Polónia, Black Metal) Enquanto a civilização continua a consumir-se, a busca espiritual sombria da música pesada nunca pareceu mais vital. Emergindo das sombras do leste da Polônia em 2015, os Batushka já se estabeleceu como uma das bandas mais poderosas e evocativas da era moderna. Aproveitando o fogo e a fúria do black metal arcano e canalizando-o através da grandeza reverberante dos antigos rituais de adoração, o álbum de estreia da banda «Litourgiya» destacou-se das hordas extremas de metal, como um monumento à originalidade, profundidade e misticismo sombrio. (Metal Blade) Majestica - «Above The Sky» (Suécia, Power Metal) Tommy Johansson é conhecido como o guitarrista dos suecos SABATON. Desde então, as suas atividades com SABATON atrasaram o processo criativo dos REINXEED, pelo que o grupo voltou agora - aparentemente do nada - com um novo álbum intitulado »Above The Sky« e um novo nome, MAJESTICA. (Nuclear Blast) Rhapsody, Turilli, Lione - «Zero Gravity (Rebirth And Evolution)» (Itália, Symphonic Power Metal) Quando se trata de álbuns que definem géneros, não há como negar que geralmente é uma dupla icônica que tece a sua mágica inexplicável e extraordinária. E quando se trata de metal sinfónico, não há como contornar a química criativa de Luca Turilli e Fabio Lione. Depois de oito longos anos, os dois irmãos de armas estão finalmente juntos novamente, para começar um novo capítulo que levará o som da marca registrada de suas bandas antigas, não apenas para outro nível, mas para um universo completamente diferente. Turilli / Lione RHAPSODY é um sonho tornado realidade para todos os fãs de metal sinfónico cinematográfico, bombástico e épico. (Nuclear Blast) Walkways - «Bleed Out, Heal Out» (Israel, alternative metal) Cada um de nós escolhe o seu próprio caminho e passa a sua própria passagem. Foi nesse sentimento que se reuniram os WALKWAYS, para tocarem juntos e começarem a fazer o seu próprio caminho. Com uma mistura de tudo o que é relevante à beira da música pesada e alternativa, os WALKWAYS chegaram como uma tempestade no cenário metal Israelita. (Nuclear Blast) Lingua Ignota - «Caligula» (EUA, neoclassical, death industrial) «Caligula», o novo álbum dos LINGUA IGNOTA levam a visão da embarcação de Kristin Hayter a um novo nível

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de grandeza. A sua visão auditiva purgante e vingativa vai além de qualquer coisa que a anteceda e alcança um novo plano sonoro sem paralelo na sua obra. Com uma apresentação nada menos que demoníaca, «Caligula» é uma ópera fora da caixa; magnífico, hediondo e cru. Aqui, personifica completamente o apelido Lingua Ignota, do místico alemão Hildegard de Bingen, que significa “língua desconhecida” - essa música não tem lar. (Profound Lore) Drown - «Unsleep» (Ucrânia, Atmospheric/Ambient Black Metal) Drown, ao lado de Aureole e Tchornobog, assume um papel central no trabalho do músico ucraniano Markov Soroka. O álbum «Unsleep» foi lançado originalmente em 2014 sob o apelido de Slow, contendo cinco músicas que contam a história de um homem que se afoga, e o seu corpo e espírito vagueiam para sempre no fundo do mar. Melódico e infinitamente assustador. (Prophecy Productions) Tchornobog - «Tchornobog» (Ucrânia, death/black metal) Tchornobog é ucraniano para “deus negro”, uma figura mitológica eslava frequentemente associada a trevas, morte e mal. O projeto vem da mente de Markov Soroka, o ucraniano nascido em Portland, que também é o criador de Aureole e Drown. Tchornobog reflete as origens profanas de seu homónimo, mas não o adora, explorando o caos da Terra, através das narrativas do Death e do black metal. A combinação de elementos do som clássico do death metal com black metal, jazz, piano e uma dose inebriante dos pesadelos internos de uma pessoa deu a Tchornobog uma vantagem incrível. (Prophecy Productions) Ashbringer - «Absolution» (EUA, black metal) Especializada em partes iguais de brutalidade, melodia e etéreo, Ashbringer é a metamorfose de black metal. Após vários lançamentos, eles aperfeiçoaram o seu ofício neste terceiro LP. Enquanto o par que faz Ashbringer fez muitos planos futuros e começou a trabalhar para o terceiro álbum, os dois passaram mais de dois anos a criar o álbum e fazendo o certo. (Prosthetic Records) Cherubs - «Immaculada High» (EUA, noise rock) Por direito, aclamado como “a música pop mais barulhenta do planeta”, o trio de rock cult CHERUBS, é provocador de confusão sonora desde o início em 1991. Após um retorno imprevisto à cena após um hiato de duas décadas em 2014 , os CHERUBS uniram agora forças para o lançamento do quinto álbum «Immaculada High». Os CHERUBS proclamam o título em voz alta como lendas do rock autêntico que continuam a forjar punk transgressivo. (Relapse Records) Victims - «The Horse And Sparrow» (Escócia, hardcore crust-punk) A teoria do cavalo e do pardal assiste aos 28 minutos de insurreição implacável. A abordagem intransigente do VICTIMS no d-beat e no hardcore é uma declaração definitiva de intenções, pois a banda deve desconstruir o clima sociopolítico actual, as perspectivas sombrias da divisão de classes em massa, a industrialização e a busca autoabsolvida de ganância e corrupção. (Relapse Records) Faithsedge - «Bleed For Passion» (EUA, Hard Rock/Metal) «Bleed for Passion» é o novo álbum do grupo de Melodic Hard Rock, Faithsedge. Produzido, mixado e masterizado pelo ex-guitarrista de Dokken, Alex De Rosso, «Bleed For Passion» leva o ouvinte de volta aos grandes dias das guitarras e poderosas linhas vocais melódicas dos anos 80 e início dos 90. (Scarlet Records) Impavida - «Antipode» (Alemanha, Black Metal) Após um sono de onze anos, o enigma alemão do black metal IMPAVIDA cresce mais uma vez. Após «Eerie Sceneries» de 2008, o iminente e imponente «Antipode» é um acto de equilíbrio do black metal. A própria banda dividiu-se à força entre a escuridão e a luz, a purificação e a profanação, a vida e a morte. Não há obscuridade sem sua contraparte. Nas suas quatro faixas, «Antipode» medita sobre a santificação e destruição do sagrado e corporal. (Van Records) Sorcery - «Necessary Excess Of Violence» (Suécia, Swedish Death Metal) Uma das mais antigas bandas suecas do Death Metal, SORCERY, acabou de terminar o processo de gravação e mixagem de seu novo e quarto LP da sua carreira. Este novo trabalho será intitulado «Necessary Excess Of Violence». Os SORCERY sempre se

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mantiveram fieis ao seu estilo de Death Metal agressivo, brutal e intenso, e com este novo trabalho, consolidam a sua posição como uma das bandas suecas mais respeitadas. (Xtreem Music) Hope Drone - «Void Lustre» (Inglaterra, Black Metal) Os HOPE DRONE de Brisbane voltam com uma nova meditação sobre o desespero pessoal e existencial na forma de «Void Luster». Criado com paciência e contenção, o álbum vê a banda percorrer mais adiante os caminhos texturizados e dinâmicos forjados pelos seus trabalhos anteriores, enquanto dançam de atmosferas austeras a paredes de som. Misturando estilos como black metal, Sludge e pós-rock com influências ainda mais distantes, a banda cria um som rico que é tão bonito quanto devastador. (All Noir) Orm - «Ir» (Dinamarca, Black Metal) ORM (dinamarquês para ‘serpent’), lançou o seu primeiro e homónimo álbum por meio da Indisciplinaria. «Orm» surgiu com as suas histórias míticas do homem e da natureza, acompanhadas por um grandioso, melódico, mas cru e direto black metal que, de maneira idiossincrática, une música e narrativa num todo incorporado e presente. (All Noir) SednA - «The Man Behind The Sun» (Itália, Black Metal) De blast-beats e a peças pesadas em ritmo lento, alcançando interlúdios limpos e macios - este é o som dos SednA! «The Man Behind The Sun» é uma obra sonora de 33 minutos que se aprofunda nas névoas de Black Metal, Post Rock e Doom. «The Man Behind The Sun» será o último capítulo da jornada dos SednA antes de se aprofundarem em novas galáxias. (All Noir) The Offering - «Home» (EUA, Heavy/Power Metal) THE OFERING inventaram a sua versão exclusiva do power metal progressivo, furioso e técnico, com uma forte abordagem de death e thrash. A mistura selvagem de elementos de vários géneros de metal coloca THE OFERING numa classe própria: composições musicais profundas, performances vocais extremas e adequadas, um som moderno e poderoso e um arranjo profundo de músicas separam THE OFERING do pacote de metal. (Century Media) The Neptune Power Federation - «Memoirs Of A Rat Queen» (Australia, Psychedelic Rock N’ Roll) Curve-se à Sacerdotisa Imperial! Em «Memoirs of a Rat Queen», os ocultistas australianos de rock and roll psicadélicos THE NEPTUNE POWER FEDERATION chegaram para leválo numa jornada sonora como nenhuma outra. Eles vieram do espaço sideral com vocais desumanos e uma presença divina no palco. (Cruz Del Sur Music) Eclipser - «Pathos» (Canadá, blackened death) Um nome derivado do som todo obscurecedor que produzem, os ECLIPSER lançam uma polaridade sinistra de melodias altíssimas e dissonância de pesadelo, enroladas num conjunto para criar um mal-estar terrível do blakened death metal. Instrumentalmente, os ECLIPSER oferecem uma paisagem sonora emocionalmente perturbadora, composta de atmosferas densas e transcendentes, interrompidas por riffs frenéticos e indutores de ansiedade, batidas explosivas e uma enxurrada multidimensional de gritos vorazes, gritos de gelar o sangue e graves guturais. (Earsplit) Sleeping Ancient - «There Is No T» (EUA, atmospheric post-black metal) Emergindo de uma cena mais consumida por stoner rock e death metal, SLEEPING ANCIENT manifesta uma aura sonora que é ao mesmo tempo épica e orgânica; monolítica e hipnotizante. Centrando-se em temas de pavor interminável, existencial e culto depressivo e melancólico, o álbum é a estreia iminente da banda em sete hinos sombrios e construídos no fluxo e refluxo das guitarras em cascata, bateria fervendo e inflexões vocais atormentadas. (Earsplit) The New Death Cult - «The New Death Cult» (Noruega, Heavy Rock) A banda conduz o rock pesado numa direcção avançada, preparando o século 21, enquanto permanece fiel aos maiores artistas do rock dos anos 90. Esteticamente, a banda explora um ponto de fusão único, onde o sólido ‘desert rock’ colide com riffs pesados, melodias arrepiantes e refrões de grandeza cósmica. (Indie Recordings)

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White Ward - «Love Exchange Failure» (Ucrânia, Post-Black Metal) A contemporaneidade enegrecida da majestade num conjunto eclético de hinos visionários que fundem a contemplação metropolitana tardia da noite, o horror psicológico, o melodicíssimo inebriante e a ferocidade primitiva do estado animal, definem na perfeição os WHITE WARD. Encharcado de compostura, criatividade e dinamismo, «Love Exchange Failure» combina bateria escovada, piano reverberante, uma variedade de vocalistas limpos convidados e saxofone neo-noir dentro de uma arquitetura de black metal misantrópico contemporâneo de primeira linha. (Debemur Morti Productions) Oxx - «The Skeleton Is Just A Coa» (Dinamarca, hardcore) OXX está descaradamente a fazer o que lhes agrada. A banda trabalha num direção de surto auditivo desde 2012. Todos os três membros do OXX já atuaram anteriormente na cena punk / metal dinamarquesa e em montes de coisas estranhas, como música avant / free, afrobeat e banda sonoras de filmes. O seu mais novo lançamento, «The Skeleton Is Just A Coat Hanger», OXX leva o seu género esquizofrénico aos limites do meticuloso. (Earsplit) Pale Grey Lore - «Eschatology» (EUA, psychedelic garage doom) Misturando elementos de garagem psych, space rock, pós-punk e a stoner doom, os PALE GREY LORE manifestam rock ‘n’ roll focado, movido a gancho, pesado. Os vocais melódicos e as harmonias subtis ecoam ao lado do sulco derretido na guitarra, baixo e bateria, adoptando uma fórmula testada pelo tempo e provada ser realmente intemporal. (Earsplit) Walking Bombs - «Sphinges Sibling» (EUA, Punk) Localizado na área de Woodstock, em Nova York, os WALKING BOMBS existem há quase uma década. criado por Morgan Y. Evans como uma saída a solo ou colaborativa para a sua música entre bandas. Um projeto de género cruzado que combina groove alternativo dos anos 90, hinos populares, anti punk furiosos e pedaços de tudo o mais. O espírito dos cantores e compositores clássicos são alimentados com um pulso punk enérgico centrado nos vocais melódicos e penetrantes de Evans. (Earsplit) Ereb Altor - «Järtecken» (Suécia, Viking Pagan Metal) O novo álbum dos Ereb Altor «Järtecken» é um futuro clássico! Um sinal do que está para vir! Ereb Altor sempre promete uma coisa a cada lançamento: Épico, Metal folk inspirado nas lendas nórdicas. «Järtecken» agita as coisas novamente com um verdadeiro e sincero tema pagão. Cada música oferece riffs majestosos e alguns dos melhores trabalhos vocais da banda. Riffs agudos do Heavy Metal, melodias nórdicas, refrões cativantes e batidas fortes de bateria são o tom geral do álbum. Uma música que deve ter feito Quorthon (do lendário Bathory) sorrir em Valhalla. (Hammerheart Records) Sammath - «Across The Rhine Is Only Death» (Holanda, Black Metal) Sammath entrega « Across the Rhine is Only Death», um verdadeiro conto de morte e destruição! Tal como um martelo de guerra a esmagar a cabeça, «Across The Rhine Is Only Death» é o Extreme Metal que leva à submissão. O conceito centra-se nos meses finais da Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha se apega desesperadamente ao Reno como a fronteira ocidental, daí o nome do álbum. Difícil de definir se Sammath pertence ao Death ou Black Metal, ou mesmo ao War Metal. (Hammerheart Records) Eternity - «To Become The Great Beast» (Noruega, Black Metal) Os ETERNITY da Noruega finalmente voltaram com o seu segundo álbum! Este é o trabalho da vida do vocalista Evighet e o ponto culminante de anos de esforço. É uma tentativa de criar o álbum último do Black Metal, um esforço para abrir um portal para a iluminação através da iluminação do blacklight. Com Blasphemer no baixo, uma aparição vocal de Brynjard Tristan e membros da Nocturnal Breed e Den Saakaldte, algo verdadeiramente mágico foi criado! (Independentes) Nightfell - «A Sanity Deranged» (EUA, Black/Death Metal) Regressando tal um fantasma quatro anos depois de «Darkness Evermore», toda a tempestade que consome o terceiro álbum dos Nightfell é lançada num mundo em tumulto. Um som de loucura de dark metal, um hino para aqueles imemoriais e um derramamento sonoro de vitríolo e desprezo, «A Sanity Deranged» é NIGHTFELL na sua forma mais deliberada. (Independentes)

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Tides From Nebula - «From Voodoo To Zen» (Polónia, Instrumental Atmosférico progressivo) Depois de um intervalo de três anos, os Tides From Nebula retornam com o seu quinto álbum de estúdio, intitulado «From Voodoo to Zen». Este é sem dúvida o álbum mais épico e enorme que os Tides From Nebula criaram até agora. (Independentes) Vorna - «Sateet Palata Saavat» (Finlândia, Finnish melancholic metal) Os clichés quase sempre têm um núcleo verdadeiro. Que os artistas do extremo norte europeu tendem à melancolia, é algo já confirmado muitas vezes. VORNA não é diferente. A banda de Tampere existe desde 2008 e ainda hoje está com a sua formação original. É com orgulho e autoconfiança, que os músicos entendem a sua música como “metal melancólico finlandês”. A melancolia ocorre em diferentes níveis, mas sem nunca cair na melancolia pessimista. (Lifeforce Records) Illdisposed - «Reveal Your Soul For The Dead» (Dinamarca, melodic death metal) Após as influências do black metal do álbum anterior «Gray Sky Over Black Town», a composição da música foi focada desta vez no death metal puro. Afinal, é nisso que ILLDISPOSED é melhor! Para obter uma nova expressão, a banda escolheu ninguém menos que Dan Swanö para mixar e masterizar o álbum, um novo impulso de energia ao som que é a sua marca registrada! (Massacre Records) Ivory Tower - «Stronger» (Alemanha, Modern Progressive Metal) «Stronger» marca o 5º lançamento dos Ivory Tower, e o título do álbum fala por si: Eles estão mais fortes do que nunca e apresentam o poderoso metal progressivo no seu melhor! Encontraram a combinação perfeita com o novo vocalista Dirk Meyer. Preparese para 12 músicas divertidas, melancólicas, sombrias e pesadas! Melodias vocais sofisticadas, coros e riffs de guitarra kick-ass são o fundamento das músicas. (Massacre Records) Sacred Reich - «Awakening» (EUA, Thrash Metal) Vinte e três anos depois de lançar o seu último LP, os Sacred Reich está de volta em força com o grande «Awakening», demonstrando sem esforço que eles continuam sendo uma força formidável no metal. Este é uma coleção atemporal composta de thrash empolgante, grooves esmagadores, solos incríveis e letras socialmente conscientes que demonstram uma verdadeira compreensão de tudo o que mais importa no mundo hoje. (Metal Blade) Carnifex - «World War X» (EUA, Deathcore) Death metal que escurece a alma, ensanguentado e esmagando a carne é esperado deste grupo de músicos com o seu novo álbum «World War X». Com este novo trabalho surge uma noção única de desesperança inevitável; a podridão inevitável da humanidade. (Nuclear Blast) Destruction - «Born To Perish» (Alemanha, Thrash Metal) Este é um novo capítulo na longa e impressionante história da banda. «Born To Perish» começa como um trovão, atingindo-o imediatamente com a música-título. Este é o clássico Thrash Metalque desde 1982, quando os DESTRUCTION foram fundados, que eles nunca perderam a agressividade. (Nuclear Blast) Thy Art Is Murder - «Human Target» (Australia, Deathcore) Nesse cenário de distopia, caos e confusão pós-modernos, chega «Human Target», o quinto álbum dos titãs do metal extremos THY ART IS MURDER. Encontramos aqui uma luz ardente de desânimo niilista antes da escuridão final. Ao fundir o death metal autêntico e esmagador com a fúria enegrecida e lampejos de socos, THY ART IS MURDER exorciza as dores da mortalidade e as dores de trauma político-social. (Nuclear Blast) Twilight Force - «Dawn Of The Dragonstar» (Suécia, Symphonic Power Metal) A épica irmandade de metal TWILIGHT FORCE está prestes a lançar a sua aventura mais ambiciosa, épica e ousada até ao momento. Afie as suas lâminas, prepare as suas poções, conserte os seus escudos e prepare-se para a tempestade. Uma missão para terminar todas as missões, um desafio tão perigoso e fascinante que apenas os Cavaleiros do Poder do Crepúsculo são capazes de realizá-lo. (Nuclear Blast)

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Patronymicon - «Ushered Forth By Cloven Tongue» (Suécia, Black Metal) Abençoado pelos deuses das trevas em 2008, os Patronymicon trouxeram o seu black metal intransigente para esse mundo através de uma jornada de sangue, caos e violência. 11 anos depois, eles permanecem mais fortes e mais orgulhosos do que nunca, apresentando a sua terceira obra-prima do assombroso orgulho violento do black metal, desde as batidas mais rápidas até os riffs e tambores mais assombrosos e assustadores. (Osmose Productions) Venereal Baptism - «Repugnant Coronation Of The Beast» (EUA, Black Metal) Juntos com a formação de baixo e bateria da Deviant Castigation Liturgy, a dupla voltou ao estúdio para entregar o seu segundo LP, «Repugnant Coronation of The Beast», o seu LP mais longo e brutal. Desta vez, as regras foram todas obliteradas! Todas as “zonas seguras” serão destruídas à vista e não haverá compromissos! (Osmose Productions) Meth - «Mother Of Red Light» (EUA, experimental noise) Meth é um coletivo de ruído experimental com sede em Chicago, Illinois. Os surtos de metanfetamina que alteram a mente fazem florescer a criação do multi-instrumentista Seb Alvarez. Mudando das inflexões mais sérias de metalcore e mathcore dos seus lançamentos anteriores, sem nunca permitir que seu brilho seja totalmente esmaecido, «Mother Of Red Light» desenterra exibições estonteantes de um terror auditivo estridente que pode abrir um buraco no tempo e no espaço com ondas enlouquecedoras de esplendor dissonante e inundações ofuscantes de ruído. (Prosthetic Records) Devourment - «Obscene Majesty» (EUA, Slam/Brutal Death Metal) Após 6 anos, os DEVOURMENT regressam à sua forma bruta, com seu novo álbum feroz de brutalidade, «Obscene Majesty», e desencadeia alguns dos mais repugnantemente e pesados s​​ lam de todos os tempos! As guitarras do Buzzsaw rasgam os membros contra a cabeça, a bateria martelando, enquanto os vocais mortais e encharcados de sangue personificam pura dor e tortura. «Obscene Majesty» é o epítome da destruição incontrolável do começo ao fim, à medida que os DEVOURMENT esmagam tudo ao longo do caminho. (Relapse Records) Excalion - «Emotions» (Finlândia, Power Metal) «Emotions» é o quinto álbum dos veteranos do Power Metal, Excalion. Após o aclamado «Dream Alive», esta nova obra-prima da força de poder finlandesa leva-o numa jornada através do ódio e confiança, tristeza e alegria, pelo meio do Metal vibrante, melódico e até agressivo, sem descuidar algumas nuances folclóricas que lhes dão uma sensação muito distinta. (Scarlet Records) 1349 - «The Infernal Pathway» (Noruega, Black Metal) Os titãs noruegueses do black metal 1349 regressam com o seu tão esperado sétimo LP: «The Infernal Pathway». O álbum promete uma jornada através do caos e loucura, escuridão e perigo, terror e aniquilação. «The Infernal Pathway» é um paralelo sonoro para convocar e desencadear a besta do abismo em todo o seu esplendor temível, feroz e poderoso. (Season of Mist) Cloak - «The Burning Dawn» (EUA, Blackened Death Rock) Os CLOAK estão de volta com «The Burning Dawn», uma banda de peso e cheio de riffs que prova que a banda ainda está repleta de novas ideias. Musicalmente, a exploração leva as nuances góticas de seu antecessor, enquanto abandona qualquer hesitação em troca de um espírito mais agressivo e veemente. (Season of Mist) Profanatica - «Rotting Incarnation Of God» (EUA, Black Metal) Uma das primeiras vagas de bandas de black metal americanas, trouxeram os PROFANATICA, que produzem blasfêmia primitiva há quase três décadas. «Rotting Incarnation of God», seu último álbum, vomita uma variedade mais vulgar de black metal. PROFANATICA caminha como reis nas profundezas sombrias da cena do black metal, e «Rotting Encarnation of God» cimenta uma merecida reputação como uma das criações mais perversas do género com um black metal furioso e implacável. (Season of Mist) The Great Old Ones - «Cosmicism» (França, Lovecraftian Black Metal) Canalizando o espírito e a herança literária do autor H.P. Lovecraft, os franceses do Atmospheric black Metal The Great Old Ones estão de volta com o seu trabalho mais impressionante até hoje. «Cosmicism» atrai o

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ouvinte mais profundo na escuridão, com melodias intricadas, bonitas e distorcidas. «Cosmicism» é uma filosofia literária desenvolvida por H.P. Lovecraft. (Season of Mist) Lindy-Fay Hella - «Seafarer» (Noruega, Rock) LINDY-FAY HELLA tem aqui o seu primeiro álbum a solo, «Seafarer». Lindy-Fay Hella criou um novo caminho profundamente pessoal, embora, haja alguns fragmentos de DNA que a ligam aos seus compatriotas de Wardruna, mas não se enganem, «Seafarer» é criado inteiramente na visão de seu criador. A frente e o centro deste trabalho está a voz evocativa de Hella; abrasador, saudoso e sensível. O álbum foi construído inteiramente a partir de melodias e entonações da voz humana, entrelaçam tudo o resto para fornecer uma estrutura pela qual os vocais deliciosos fluem. (Ván Records) Alchemical Wake - «Cassiopea» (Itália, Doom/Sludge Metal) Vindo da ensolarada Sardenha, Itália, a unidade de blackened sludge e doom metal ALCHEMICAL WAKE está pronta para lançar o seu primeiro álbum. Misturando os elementos de Stoner, Dark Rock, Sludge e Doom Metal a um nível altamente inovador, a banda evoluiu o seu som para uma variedade estreita e empolgante de músicas pesadas e doom. (All Noir) Verheerer - «Monolith» (Alemanha, Black Metal) Verheerer, a banda de Black Metal de Flensburg, Alemanha, reuniu forças novamente para trazer o seu segundo álbum «Monolith» para este mundo. Um pedaço escuro atemporal de metal extremo frio e hostil, com sete músicas que oscilam entre black e death metal, temperadas com algum heavy metal que o levará numa jornada das raízes podres no coração do homem ao frio e impiedoso alvorecer da extinção. (All Noir) Funeral Oration - «Eliphas Love» (Itália, Black Metal) Funeral Oration é um dos segredos mais bem guardados de Itália. Juntamente com os vocais, os teclados são extremamente proeminentes, com um som muito oculto, lembrando as bandas sonoras clássicas dos filmes de terror italianos. Apesar dessas diferenças, Funeral Oration ainda é uma banda de black metal da velha escola. (Avantgarde Music) Ison - «Inner Space» (Suécia, drone, post-rock, darkwave) O fascínio de ISON pelo plano astral é aqui igualmente evidente, e as paisagens sonoras de outro mundo vão fazer vaguear no espaço sideral. Músicas de downtempo, ondas obscuras suaves e enxertos góticos são os pilares sobre os quais a dupla constrói a sua música e efeitos de guitarra. (Avantgarde Music) Sur Austru - «Meteahna Timpurilor» (Roménia, atmospheric folk/black metal) Sur Austru é um novo conceito musical criado a partir das cinzas dos pioneiros da Transilvânia, o black metal dos Negura Bunget. Reunindo inspiração e emoções com a estética da natureza, tradição antiga e rituais esquecidos, Sur Austru propõe uma jornada eterna pelas paisagens místicas da Transilvânia. Folclore local, contos e lendas da Transilvânia encontram o seu caminho através de um som firmemente enraizado no black metal. (Avantgarde Music) The Ember, The Ash - «Consciousness Torn From The Void» (Canadá, blackgaze/post-black metal) O multi-instrumentista canadiano é a mente hiper-criativa por trás da banda unreqvited de blackgaze / pósblack metal. Os sons primordiais são definitivamente marcos DSBM dos anos 90 e início dos anos 2000, onde os sons da velha escola e uma produção essencial se fundem nas paisagens sonoras do ambiente / teclado. Riffs cortando como lâminas, gritos aguçados e pulmões são os pilares sobre os quais The Ember, The Ash constrói sua música. (Avantgarde Music) Vitriol - «To Bathe From The Throat Of Cowardice» (EUA, Death Metal) Os VITRIOL orgulham-se de apresentar uma banda disposta e autoconfiante o suficiente para assumir riscos, com a sua produção crua, sufocante e natural, musicalmente apresentando abundância de riffs estelares e secção de ritmo não-mundano. «To Bath from the Throat of Covardice» negligencia o conformismo convencional em favor de uma interpretação sincera das influências da fusão do Death Metal (Century Media)

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Crepuscle - «Heavenly Skies» (EUA, symphonic/melodic death metal) CREPUSCLE - uma referência à hora do dia imediatamente após o pôr do sol – tem com «Heavenly Skies» músicas épicas e intensas da banda combinam elementos de death metal melódico e requinte sinfónico e orquestral, oferecendo excelentes composições e movimentos instantaneamente infecciosos. (Earsplit) Entrail - «Eater Of Starlight» (EUA, Experimental drone) ENTRAIL emerge do noroeste do Pacífico, envolto em sombras, com drone vocais e paisagens sonoras etéreas que assombram e desafiam. Combinando violino, voz, baixo e sintetizador, o som dos ENTRAIL é tão amplo quanto a sua história musical. «Eater Of Starlight» medita, fervilha e explode em breves explosões de vocais emotivos e impetuosos, cordas inventivas pontuadas por sintetizadores latejantes. (Earsplit) Fought Upon Earth - «Grave Miscal» (EUA, instrumental progressive metal) FOUGHT UPON EARTH foi forjado em 2013 pelo guitarrista / baixista Mark Lamb e pelo baterista Lance Lea, logo após a ex-banda Scorched-Earth Policy entrar em hiato indefinido. Vasculhando o seu extenso catálogo de riffs e ideias não utilizados, para criar algumas violentas jam metal instrumentais. A auto-intitulada estreia da banda foi em 2015. (Earsplit) Mortiferum - «Disgorged From Psyc» (EUA, death/doom metal) MORTIFERUM declara a chegada iminente de seu tão ansioso e esperado álbum de estreia, «Disgorged From Psychotic Depths». Os MORTIFERUM já haviam trazido a consciência de si mesmos como uma das novas e mais promissoras bandas de death metal dos EUA. Sombrio e agourento através de riffs monolíticos brutais e rítmicos dissonantes e malformados, «Disgorged From Psychotic Depths» é um benefício imponente e terrível da imponente ruína atmosférica do death. (Earsplit) Pissed Regardless - «Imperial Cul» (EUA, thrash metal/crossover) Tendo lançado uma demo e dois EPs desde a sua formação em 2013, «Imperial Cult» marca o primeiro LP dos PISSED REGARDLESS. Apresentando dez faixas de hardcore incansável e movido a thrash, a banda expandiu as suas influências mais sombrias para criar um álbum que se sente tematicamente coeso e pesado. (Earsplit) Netherbird - «Into The Vast Uncharted» (Suécia, melodic death/black metal) A banda sueca de black metal / death metal NETHERBIRD tem o prazer de anunciar seu próximo quinto álbum, «Into The Vast Uncharted». Produzidas por Hiili Hiilesmaa e masterizadas por Dan Swanö, as sete faixas do álbum abrem um rastro de fúria escandinava por meio de tremolo intenso, solos abrasadores e percussão pronta para a batalha. Os NETHERBIRD obscureceram as fronteiras entre o black, o death e outras tensões extremas do heavy metal desde 2004. (Eisenwald) Apprentice Destroyer - «Permanent Climbing Monolith» (EUA, experimental Music) A ideia do multi-instrumentista Steve Peacock, APPRENTICE DESTROYER é um projeto experimental que se concentra em paisagens sonoras densas. As suas melodias carregadas de feedback pesado, vocais cavernosos e fervor rítmico repetitivo compartilham a dinâmica com o sintetizador dos anos 70, punindo o rock do ruído e preparando a academia da guitarra de garagem. (Independentes) IQ - «Resistance» (Inglaterra, Progressive Metal) O novo trabalho dos Britânicos do metal progressivo é um álbum duplo e apresenta o lado mais sombrio e pesado da banda. Os britânicos IQ lançam o seu novo álbum composto por onze músicas, duas delas com mais de vinte minutos de duração e um tempo total de duração de quase duas horas. como sempre, «Resistance» é uma montanha-russa. Como nenhuma outra banda do género, os IQ combinam ecos de sua própria herança musical com novos elementos para criar uma atmosfera única. (Independentes) Belenos - «Argoat» (França, Pagan Black Metal) Os BELENOS oferecem um estilo na encruzilhada entre um Black Metal atmosférico e depressivo e um Black Metal pagão contaminado com tons folclóricos e celtas. o novo álbum «Argoat», não foge às origens e ainda é em bretão. (LADLO Productions)

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Numen - «Iluntasuna Besarkatu Nuen Betiko» (Espanha, Cult Black Metal) Os Numen são uma banda de Black Metal do País Basco, inspirada nas antigas crenças desta região. A banda está de volta com uma nova obra implacável, com músicas épicas e impiedosas que nos levam a eras frias e primitivas das suas terras sombrias. Esses hinos escritos em basco, são um ponto de ancoragem que está moldado no robusto e singular black metal. (LADLO Productions) Imperial Jade - «On The Rise» (Espanha, bluesy hard rock) IMPERIAL JADE é uma banda de blues hard rock nascida em Barcelona. A banda foi fundada por cinco amigos, adorando o rock clássico estrondoso, tingido com as psicadélicas orgânicas dos anos 70. Este álbum mostra uma banda aprimorando o seu som numa qualidade quase cinematográfica, adicionando-lhe mais contraste às suas composições, produzindo riffs de juggernaut que sustentam vocais melódicos impressionantes. (Listenable Records) Wolf Jaw - «The Heart Wont Listen 2019» (Inglaterra, Hard Rock) WOLF JAW, anteriormente conhecido como THE BADFLOWERS, nasceu nas profundezas do País Negro, no Reino Unido. Lar de grandes nomes como Black Sabbath e Judas Priest, para citar alguns, essas bandas são influências pesadas que despertaram a máquina de Riff WOLF JAW, cheia de fúria e alimentada por grooves. (Listenable Records) Mystery Blue - «8Red» (França, True Heavy Metal) Impulsionada por uma nova abordagem artística, uma produção moderna com um som único, «8RED» é composta por uma coleção de hinos inesquecíveis de metal, ao lado de peças épicas, originais e melódicas! As letras foram inspiradas em experiências pessoais, bem como em tópicos mais gerais, como questões sociais. (Massacre Records) Who Brought The Dog - «No World Order» (Internacional, Alternative Rock) Combinando estilos orientados ao jazz com bolinhos sonoros de Bollywood, uma vibração de uma grande banda do AOR ou um clube de dança supera o rock, surge a atitude “sem medo” que faz o Who Brought The Dog se destacar num cenário musical desordenado. O álbum mostra várias facetas de sua personalidade musical, desde a diversão peculiar até rock direto, provocativo e sombrio. (MDD Records) Endseeker - «The Harvest» (Alemanha, old school death metal) Com o seu segundo LP, os Endseeker encontraram o seu som. É death metal da velha escola com influências de Entombed, Dismember, Grave e outras bandas de death suecas, mas «The Harvest» é provavelmente uma versão adulta dos Endseeker. (Metal Blade) Aviana - «Epicenter» (Suécia, Progressive Alternative metal) Depois de deixar a sua marca na cena metal escandinava com o LP de estreia, os filhos de Gotemburgo, os AVIANA estão de volta em uma nova forma neste seu segundo álbum, «Epicenter». Inspirado no Nu-Metal dos anos 90, misturando umas impecáveis guitarras progressivas como base, apresentam uma era moderna na maioria de suas músicas, os AVIANA são um novo tipo de heavy, uma nova era do Metal. (Nuclear Blast) Kurgan - «Yggdrasil Burns» (Dinamarca, Melodic Death Metal) «Yggdrasil Burns» é um caldeirão de vários géneros de metal, já que Kurgan decidiu encontrar inspiração em todas as músicas de metal que lhes dizem alguma coisa. Kurgan é uma amalgada de melodic / black / death / thrash metal, tudo com um toque de old school heavy e viking metal. Cuidado, a magia do metal dos anos 80 está de volta com um novo som! Como a banda optou por remover todas as fronteiras entre os subgéneros, Kurgan teve dificuldades em definir a sua própria música, mas no final, todos concordaram que o selo death metal melódico abarca a maior parte. (Massacre Records) Black Star Riders - «Another State Of Grace» (EUA, hard rock) Os BLACK STAR RIDERS estão de volta - com um novo álbum, uma nova formação e uma nova energia e química. Nos sete anos desde que Warwick e Scott Gorham montaram os BLACK STAR RIDERS, fizeram três dos melhores álbuns de hard rock dos tempos modernos. Os BLACK STAR RIDERS percorreram um longo caminho estes sete anos, para apresentarem o melhor álbum dos BLACK STAR RIDERS até agora. (Nuclear Blast)

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Equilibrium - «Renegades» (Alemanha, Epic Folk/Viking Metal) Progresso sem estranhamento é uma arte rara que poucas bandas realmente dominam. Com demasiada frequência, uma banda aventura-se tão longe de suas raízes que perde o seu som de marca registrada. E de vez em quando, a estagnação de uma banda drena todo o seu charme. Encontrar esse raro equilíbrio entre os dois é uma tarefa enorme que não é fácil de realizar. No entanto, há uma banda que vem-se aproximando desse equilíbrio perfeito, uma banda que, ironicamente, já possui esse equilíbrio no seu nome: EQUILIBRIUM. (Nuclear Blast) Vitja - «Thirst» (Alemanha, Experimental Groove Metal) O híbrido de género alemão VITJA regressa com o poderoso álbum «Thirst». Com um novo vocalista e uma nova atitude, o quarteto lança as amarras para a liga principal. Com o anterior álbum «Mistaken» VITJA encerrou uma era cheia de altos e baixos. «Thirst» é o nome do novo capítulo de uma banda versátil e ambiciosa, que agora quer aproveitar os sucessos do passado e com isso escalar o cume. (Nuclear Blast) E-L-R - «Manad» (Suiça, Doom Metal) Os doomers suíços E-L-R oferecem uma nova perspectiva sobre vistas musicais panorâmicas. Baixista I.R. e o guitarrista S.M. e o baterista M.K. inventaram uma bebida atmosférica, pesada e inebriante que soa familiar e fresca ao mesmo tempo. Profundamente enraizados no seu ambiente como indivíduos, os E-L-R compartilham uma qualidade xamanista e uma consciência espiritual aguda. (Prophecy Productions) Noekk - «Waltzing In Obscurity» (Alemanha, Progressive/Doom Metal/Rock) Dez anos passaram-se até que Helm e Schwadorf, dos Empyrium, enfrentaram os seus alter-ego Funghus Baldachin e F.F. Yugoth para homenagear o prog rock clássico da sua maneira especial. Mostrando um novo rumo ao estilo da marca registrada de Noekk - em grande parte mais pensativo, tornando as peças mais pesadas. Mantendo o seu ambiente pastoral, toques folclóricos e florescimento de órgãos, Noekk deu um passo para trás de sua antiga farsa e letras míticas, avançando para uma encarnação mais madura de seu antigo eu. (Prophecy Productions) Pencey Sloe - «Don T Believe Watch Out» (França, Shoegaze) Com «Don’t Believe, Watch Out», Pencey Sloe desenrola um tapete bastante distinto de guitarras sem peso e vocais extasiados em densas dimensões de shoegaze. É o primeiro LP do trio parisiense. Pencey Sloe é excepcional pela sua capacidade de combinar harmoniosamente e intrincadas vozes angelicais, todas impulsionadas por uma seção de ritmo viciante e direta. Assim, as músicas tornam-se sombras sonoras. (Prophecy Productions) Kayo Dot - «Blasphemy» (EUA, Avant-garde/Experimental/Ambient) Kayo Dot, o projeto infinitamente eclético do compositor e produtor Toby Driver. A musa do grupo tem mostrado o seu rosto através de cascatas lentas e maciças de guitarras e violinos, e paisagens sonoras que abrangem desde a fusão gótica ao black metal suicida hiper-rápido, angular e atonal. Os membros de Kayo Dot são de origens muito diferentes, variando de garotos punk DIY aos músicos performáticos mais eruditos de Nova York, educados em conservatórios. (Prophecy Productions) Monolord - «No Comfort» (Suécia, Hard Rock) Este lançamento marca a primeira vez que o trio permitiu que uma voz externa fizesse parte do processo, trabalhando com Kim Gravander na gravação. O baterista Esben Willems lidou com a mixagem. O pintor Alexander Fjelnseth criou a capa do álbum. Nos anos que se seguiram, tornaram-se uma das estrelas em ascensão da música pesada. Monolord é o cantor / guitarrista Thomas Jäger, o baterista Esben Willems e o baixista Mika Häkki. (Relapse Records) Necronomicon - «Unus» (Canadá, blackened death metal) Com cada registro que a NECRONOMICON criou no período de seus 31 anos de carreira, a banda evoluiu constantemente em som e poder; «Unus» não é excepção a isso. Inspirado por H.P. Lovecraft, NECRONOMICON foi formado em 1988 pelo guitarrista e cantor fundador Rob “The Witch” nas profundezas do norte da província do Quebec, Canadá. «Unus» é uma cacofonia abrasadora de riffs empolgantes, bateria semelhante a uma máquina e um ambiente sinfónico, culminando num som que chama vários ícones do metal. (Season of Mist)

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Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

2020, o ano do Eléctrico? O ano que findou, deixou antever uma ofensiva “eléctrica” por parte dos construtores para o corrente ano de 2020, deixando no ar a ideia que este ano é que a mobilidade eléctrica irá arrancar com toda a força, com a chegada de pelo menos 34 novos veículos eléctricos, abrangendo todas as gamas desde o utilitário Peugeot 208 ou Skoda Citigo ao supercarro Pinnifarina Battista ou Lotus Evija. A questão que deixo no ar é: será mesmo o ano do eléctrico? Será que as vendas dos eléctricos vão chegar aos 10% do mercado? É que a mobilidade eléctrica levanta muitas questões. E o ambiente geral está repleto de nevoeiro e navegação à vista, com políticos à mistura, onde há ainda muito (quase tudo) para fazer e provar que este eléctrico, e sublinho “este eléctrico” é mesmo o futuro e não irá ser um monumental desastre para a industria automóvel europeia, com a conivência cega dos legisladores europeus, com o impingir do carro eléctrico ou a solução electrificada aos fabricantes. O discurso utilizado é sempre o mesmo da redução das emissões ou das alterações climáticas – que é efetivamente um problema global - apenas para convencer as pessoas a abraçar - forçando! - a troca de um carro a combustão por um eléctrico em nome do ambiente, o qual para tal, terá de desembolsar bem mais por um automóvel novo. Como ouvi dizer, se o grosso do público não abraçar o eléctrico, principalmente por razões financeiras, isto vai ficar muito complicado para a industria automóvel, a qual continua a assentar o seu negócio e lucro no carro convencional, pelo menos até 2035. Apesar de nada substituir um bom e nobre motor a combustão atmosférico, de preferência com 12 cilindros, numa utilização adequada e responsável, não deixo de estar atento e informado a respeito da mobilidade eléctrica, em particular do sector automóvel, tentando no meio de toda a informação e contrainformação “para inglês ver” e convencer, chegar às minhas próprias conclusões e abstrair-me da pseudo luta combustão versus eléctrico e toda a “coisa” em redor da Tesla e do seu “Electric Jesus”(Elon Musk) como refere um famoso jornalista youtuber australiano. O que se segue são os meus pontos de vista sobre o eléctrico e valem o que valem, esperando que cada um tire igualmente as suas conclusões. Há alguns anos que defini 4 pontos fulcrais para o eléctrico vingar com força na sociedade, os quais são: A autonomia, o tempo de carregamento, o preço de aquisição e uma rede de postos de carregamentos adequada ao mercado existente do eléctrico. Passados estes anos, só um dos pontos é que foi completamente atingido, o da autonomia, pois já há muitos modelos a anunciar +400 km e alguns mesmo +500 km de autonomia, o que a meu ver é mais do que o suficiente. O tempo de carregamento continua a ser um problema por resolver e só à força bruta com recurso a supercarregadores de 350kw é que conseguem anunciar 20 minutos de carregamento, mas sem ninguém saber ao certo o impacto que isto terá na vida útil da bateria. Os carros eléctricos continuam a ser opções bem mais caras do que o equivalente a combustão, logo a sua aquisição nunca será racional mas sim na óptica de outros valores pessoais ou ambientais. Bem, se a compra de carro fosse racional, andávamos todos de Dacia Sandero. Deixei para o fim aquilo que penso ser actualmente o maior dos entraves, os postos de carregamento e existência de uma rede funcional. O grosso está concentrado em Lisboa ou Porto, a maioria não tem manutenção elevando o risco de encontrar um posto desligado, a adesão é caótica, onde cada fornecedor, a sua sentença. A gratuitidade acabou e para cimentar a coisa, o estado passou

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a rede mobi.e para as câmaras e estas nada fizeram. Agora, abriram concurso público para delegarem a rede de carregamento eléctrica nos privados, arriscando a tornar a utilização de um eléctrico mais cara do que um carro convencional (a combustão). A reciclagem das baterias em fim de vida é um desastre ambiental, e nem trago aqui todas as questões da extração do lítio necessário ao seu fabrico. A complexidade e o custo económico e ambiental é enorme, para recuperar todos aqueles materiais nobres e raros que são necessários à produção de uma nova bateria. No global, se compararmos o CO2 libertado na construção, utilização e reciclagem de um eléctrico e de um convencional, no final o eléctrico terá libertado menos CO2, tendo transferido o CO2 da utilização para as duas outras fases, ao contrário de um convencional que tem o grosso do seu CO2 na utilização. Isto quer dizer que temos de passar a ver o carro como um todo e não somente por aquilo que emite à saída do escape. Isto significa que um eléctrico não pode ser visto como um veiculo “Zero Emissions”, pois no final, também acaba por ser de algum modo também nocivo para o ambiente, só o é, menos. O terreno de eleição para o eléctrico é a cidade. É na utilização urbana que este veiculo é mais eficiente, sendo a sua utilização em autoestrada muito menos eficiente do que um carro convencional, alias, os dois tipos de carros contrapõem-se, pois o carro convencional gasta mais em cidade e consegue consumos mais eficientes a velocidade constante em autoestrada, exactamente o contrário de um eléctrico. A Tesla é e continua a ser o benchmarking do carro eléctrico. A sua principal força é a tecnologia das baterias, o software desenvolvido para o carro e a rede de supercharger que desde o início Elon Musk desenvolveu. Este é o segredo da receita do sucesso da Tesla. A qualidade de construção geral e dos materiais utilizados é que deixa um bocado a desejar comparativamente ao que os outros construtores presentam. Como alguém disse, a Tesla sabe fazer software mas não sabe construir carros – Bem, já não é bem assim. Os outros fabricantes estão a aproximar-se da Tesla, numa vertente mais convencional e pouco simplista, mas falta-lhes a rede de supercarregadores. Vejam o Mercedes EQC… porque raio um carro eléctrico tem um túnel de transmissão sem nada? Porque na prática é um GLC transformado em EQC. Por isso, se pensar em comprar um eléctrico novo que custe mais de 40.000 €, opte por um Tesla, pois irá diminuir o risco de a experiencia ser exasperante e afinal, tem o último grito em carro eléctrico seja ele S, X, Y ou 3. A compra de um qualquer eléctrico novo é um risco enorme, a não ser que o mesmo esteja dentro da garantia. Eu costumava dizer isto para um Tesla, mas agora digo para todo e qualquer eléctrico. Nunca compre um eléctrico fora da garantia de fabrica, em especial, no que respeita a garantia que vem com as baterias. Comprar um em segunda mão fora da garantia é um risco enorme de perder todo o dinheiro investido no carro, a não ser que esteja preparado para abarcar os custos de uma substituição de bateria ou reparação de qualquer componente do sistema eléctrico. Por falar em manutenção, de facto os eléctricos têm menos manutenção corrente, para não dizer quase nenhuma, apesar de ter ouvido à pouco de uma mudança de óleo de um componente eléctrico no Porsche Taycan, estranho. É a natureza do veículo, mas quando algo se avaria, em especial as baterias ou qualquer dos sistemas eléctricos, a reparação que na prática é meter uma peça nova, pode custar uma fortuna. Por exemplo, num Tesla Model S, a substituição da bateria pode ficar perto de 20.000 € tudo incluído, a Peugeot já anunciou que uma substituição de baterias no 208-e custará 15.000 €. Por isso digo que ter um eléctrico só na garantia. E não julguem que os híbridos a coisa fica mais em conta. É pior, pois além da manutenção da componente térmica, ainda têm de lidar com as possíveis reparações da parte híbrida, a qual torna todo o carro muito mais complexo e custoso de reparar. Ainda por cima, não é um trabalho que o mecânico da esquina possa fazer a um custo razoável. A titulo de exemplo, no ano passou chegoume aos ouvidos dos 5.800 € de reparação num volvo hibrido… da parte híbrida, claro está. Ah, os híbridos… aqueles carros que quando são eléctricos andam com a carapaça térmica às costas e quando são a combustão arrastam atrás as baterias e o sistema eléctrico. Ainda por cima são carros poucos preformantes em modo a combustão por causa do motor com o ciclo Atkinson, desenvolvido para ser mais eficiente, logo menos performante. É o que se costuma dizer, nem são um bom eléctrico, nem um bom convencional. Um híbrido simples ainda pode fazer algum sentido mas os híbridos plug-in não. Faziam sentido há uns anos atrás quando os eléctricos ainda eram uma miragem ou inacessíveis. Hoje, se quer andar em modo eléctrico, compre um eléctrico ou se faz muitos quilómetros e a maioria em autoestrada, compre um diesel, não

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um plug-in híbrido. Não faz qualquer sentido quando o eléctrico, se calhar, aplica-se na perfeição a 95% ou mais da sua utilização. E se por acaso, necessitar de ir mais além do que a autonomia do seu eléctrico permitir, alugue um carro a combustão. No final do ano, fica mais barato toda esta a operação do que ter um carro tudo em 1. Já agora, se pensar em comprar um híbrido, só há um que interessa: O Toyota Prius. Este é o créme de la créme dos híbridos e leva 20 anos de evolução. Não comprarás um eléctrico se não tiveres onde colocar uma wallbox lá em casa, na garagem. Este, a par da garantia, é um dos três mandamentos do eléctrico. Tal como já referi anteriormente, o verdadeiro desafio de ter um eléctrico são os carregamentos no espaço publico. Os políticos querem a mobilidade eléctrica mas esqueceram-se de fazer os trabalhos de casa, e nós Portugueses, tal como muitos países, estamos muito atrasados neste capítulo - e há mesmo um, França, em que houve um certo retrocesso. No início do ano, o meu canal de youtube favorito, Harry’s Garage, teve a testar o Jaguar I-Pace. O Sr. Harry foi a Londres e em três tentativas não consegui carregar o carro, uma estava tudo ocupado e havia 2 Leafs em fila de espera e nos outros dois pontos tinha de ser subscritor de um cartão de carregamentos. Teve de regressar a casa com a autonomia que o carro mostrava. Ao contrário, quando pegou num Tesla Model 3, toda a experiência correu bem melhor porque a Tesla tem uma rede própria. Por isso, é fulcral não estar dependente da rede pública/privada de carregamentos. Ter onde carregar em casa e deixar o carro a carregar à noite, teremos sempre uma autonomia mais do que suficiente para uma utilização diária, e se essa autonomia não chegar, então é porque comprou o carro errado. Os eléctricos são caros como o raio. A compra de um eléctrico é algo que se faz mais com o coração do que com a razão. Tirando os Tesla que são incomparáveis a não ser à sua categoria onde se inserem, pois não há versão a combustão, os restantes carros são todos comparáveis e graças à Peugeot – Obrigado, Carlos Tavares - podemos mesmo comparar dentro da mesma gama. O que se assiste grosso modo é pagar mais 10.000 € a 15.000 € pela versão eléctrica. Dizem que em 2023 os carros eléctricos custarão o mesmo que os a combustão. Acredito, mas vai ser os a combustão a ficarem mais caros, não os eléctricos a ficarem mais baratos. Um exemplo: O Peugeot 208 active eléctrico, 32.100 €, e o equivalente a gasolina 18.700 €, ou seja +13.400€. Aquele honde-e, o pequeno citadino eléctrico com ar retro mas ao mesmo tempo muito moderno, fala-se em 38.000 €! Uma barbaridade que irá aniquilar o sucesso daquele engraçado carro logo à partida. O carro eléctrico mais equilibrado do mercado em termos de preço versus carro que se leva para casa, é o Tesla Model 3 Standard range. Mas com outras jantes do que as base que mais parecem saídas de uma fiambreira. Resumidamente, têm-se de pensar primeiro qual a utilização que vamos dar ao nosso novo automóvel, e depois escolher aquele que se adequar mais às nossas necessidades diárias, >95% da utilização, e deixar os restantes 5% a serem preenchidos com outras soluções de mobilidade. Se optar por um eléctrico, tenha em mente que tem de ter um local onde instalar uma wallbox para carregar o carro em casa e que o carro tenha uma boa garantia – Se oferecerem extensão de garantia, não hesite. Depois o resto é uma questão de escolha e carteira pessoal. Os Tesla ainda têm a vantagem de ter uma rede própria de superchargers e ainda oferecem uns quantos kws grátis por ano. Deixo aqui os meus três mandamentos do eléctrico: 1. Não comprarás um eléctrico se não tiveres onde carregar em casa. 2. Não comprarás um eléctrico se necessitares de fazer diariamente mais quilómetros do que aqueles que o teu eléctrico pode fazer. 3. Não comprarás um eléctrico fora da garantia de fábrica das baterias.

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