MARIANA LUIZA BEZERRA SAMPAIO
projeto arquitetônico
para estaleiro no
escola
museu da vila bairro coqueiro | luís correia | piauí
MARIANA LUIZA BEZERRA SAMPAIO
projeto arquitetônico
para estaleiro no
escola
museu da vila bairro coqueiro | luís correia | piauí
Projeto Arquitetônico para estaleiro Escola no Museu da Vila © Copyright 2020 Bairro Coqueiro | Luís Correia | Piauí
Mariana Luiza Bezerra Sampaio
PROJETO ARQUITETÔNICO PARA ESTALEIRO ESCOLA NO MUSEU DA VILA Bairro Coqueiro | Luís Correia | Piauí Relatório dos resultados da pesquisa-ação sob o título “PROJETO ARQUITETÔ NICO PARA ESTALEIRO ESCOLA NO MUSEU DA VILA: Bairro Coqueiro | Luís Correia | Piauí”, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional, da Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba, sob a orientação da Profª Drª Rita de Cássia Moura Carvalho. Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba Reitor da Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. José Arimateia Dantas Lopes Vice-reitora Universidade Federal do Piauí Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira Pró-reitor de Ensino de Pós-graduação Universidade Federal do Piauí Profª. Drª Regina Lúcia Ferreira Gomes Reitor da Universidade Federal do Delta do Parnaíba Prof. Dr. Alexandro Marinho Oliveira Vice-Reitora Universidade Federal do Delta do Parnaíba. Profª. Drª Ivanilza Moreira de Andrade Pró-reitor de Ensino de Pós-graduação Pesquisa e inovação Prof. Dr. Daniel Fernando Pereira Vasconcelos Coordenação do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia Prof. Dr. Josenildo de Sousa e Silva | Prof. Drª. Áurea da Paz Pinheiro Revisão Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro Orientação Profª Drª. Rita de Cássia Moura Carvalho Capa | Conceito Visual | Diagramação | Projeto gráfico Victor Veríssimo Guimarães S192p Sampaio, Bezerra Mariana Luiza Projeto Arquitetônico para estaleiro Escola no Museu da Vila Bairro Coqueiro | Luís Correia | Piauí. [recurso eletrônico] / Mariana Luiza Bezerra Sampaio. – 2020. 1 Arquivo em PDF Dissertação (Mestre em Artes, Patrimônio e Museologia) - Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Velloso, 2020. Orientação: Prof.ª. Drª. Rita de Cássia Moura Carvalho 1. Museologia. 2. Estaleiro Escola. 3. Patrimônio Cultural. 4. Piauí. I. Titulo. CDD: 069.122
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PROJETO ARQUITETÔNICO PARA ESTALEIRO ESCOLA NO MUSEU DA VILA Bairro Coqueiro | Luís Correia | Piauí
Trabalho Final apresentado ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí, como requisito para a obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia Moura Carvalho Co-orientadora: Profª Drª Áurea da Paz Pinheiro
Trabalho apresentado e aprovado em 22 de setembro de 2020.
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª Rita de Cássia Moura Carvalho (Orientadora) Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba
Profª Drª Áurea da Paz Pinheiro (Co-orientadora) Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba
Prof. Dr. Josenildo de Souza e Silva (Avaliador Interno) Universidade Federal do Delta do Parnaíba
Prof. Mestre Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés (Avaliador Externo) Unidade Vocacional Estaleiro Escola de São Luís, Maranhão
Luís Correia 2020
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DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Eu, Mariana Luiza Bezerra Sampaio declaro que este trabalho, com o título, “Projeto Arquitetônico para Estaleiro Escola no Museu da Vila Bairro Coqueiro | Luís Correia | Piauí”, é o resultado de meus estudos e intervenções no Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) | Universidade Federal do Delta do Parnaíba(UFDPar). O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tais como todas citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Mariana Luiza Bezerra Sampaio
Parnaíba (PI), 22 de setembro de 2020
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TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Em atendimento ao Artigo 6º da Resolução CEPEX nº 021/2014, autorizo a Universidade Federal do Piauí-UFPI a disponibilizar gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais, o texto integral ou parcial da publicação supracitada, de minha autoria, em meio eletrônico, no Repositório Institucional (RI/UFPI), no formato especificado* para fins de leitura, impressão e/ou download pela Internet, a título de divulgação da produção científica gerada pela UFPI a partir desta data.
Mariana Luiza Bezerra Sampaio
Parnaíba (PI), 22 de setembro de 2020
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À Equipe do Museu da Vila, colaboradora deste trabalho.
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agradecimentos “O segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. É então, só então que estarás no país das maravilhas”. (Chapeleiro Maluco)
Finalizar mais uma etapa acadêmica-profissional e de vida nos faz parar, olhar para trás, e perceber que todo o roteiro, trajetória e percurso vivenciado só foi possível, só foi leve, só foi feliz, por causa das pessoas com as quais pude compartilhar os momentos e aprendizados ao longo da jornada. Agradeço à minha família, mãe, pai e irmãs, que sempre estiveram ao meu lado, acreditando na minha capacidade, competência e força, oferecendo apoio, logística das viagens, cuidados com meu filho e tudo mais que fosse necessário nos momentos das minhas ausências. Ao meu filho, Luís Guilherme, que foi o maior motivo da busca de desenvolvimento profissional-humano, minha motivação para querer sempre crescer e ser melhor. Ao meu cunhado Laurindo, pelas múltiplas ajudas na área da engenharia. Ao meu esposo, André, que me apoiou desde o início de tudo, possibilitando estar livre para estudar e me preparar para a seleção do Programa, acompanhando na prova, acreditando a cada etapa que eu venceria, um parceiro em todas as áreas, nos cuidados com nosso filho, nos cuidados com minhas viagens, colaborador também de forma direta neste trabalho, elaborando mapas e maquetes, vídeos e desenhos e, principalmente, me trazendo calma para vivenciar o presente, me transmitindo a certeza de que o futuro é sempre melhor do que qualquer passado. Às amigas do Programa, Laline, Hanna, Jessica e Rayla, pelo apoio logístico, companhia nos momentos divertidos, trabalhos juntos, aprendizado em suas experiências, e que experiências! Foram momentos muito felizes, que nossa amizade perdure, pois quero continuar a aprender com vocês! Aos amigos da nossa amada “casinha da praia”, Isa Marilia, Hanna, Pedro, Stefano, que alegria ter tido vocês como colegas de turma, de casa, como aprendi com vocês, como me sinto grata pela oportunidade de dizer que são meus amigos! Era muito riso, muita música e muita museologia social!
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À querida Teresa, sempre com uma palavra de incentivo, um braço forte, com autêntica alegria e uma boa refeição para esquentar nossos corações. Aos demais colegas de turma, Cristiana, Sabrina, Sandro, João Carlos, Suzana, nossa turma não podia ter um grupo melhor e mais diversificado, onde pudemos aprender tanto uns com os outros. Ao querido amigo Danilton (in memoriam), conheci em você o que é de fato uma pessoa que sabia viver a vida! Obrigada por ter tido a oportunidade de te conhecer e partilhar de sua amizade tão sincera. Aos amigos, por cada pensamento positivo, palavra, experiência repassada, cada um teve sua parcela de colaboração para a conclusão deste trabalho. Aos colegas das turmas 3 e 5, obrigada pelas oportunidades de aprender e conhecer cada um de vocês. Ao professor Luiz Phelipe Andrès e sua equipe da Unidade Vocacional Estaleiro Escola de São Luís, Maranhão, pela atenção, receptividade, pela força e por me fazer acreditar que esse trabalho era possível. A experiência de vocês me deu coragem, um combustível foi capaz de superar meus medos. Ao meu ex-aluno e colaborador Jonas, por ter me auxiliado na compreensão do desenho naval e nas técnicas do modelismo, sem seus conhecimentos e sua disponibilidade o caminho teria sido muito mais difícil. À minha orientadora Profª. Drª. Cássia Moura e minha Co-orientadora Profª. Drª. Áurea Pinheiro, quanto conhecimento pude adquirir, não só acadêmico, mas de vida, de força, de coragem, exemplos de mulheres lutadoras e fortes, mães, no sentido mais puro dessa palavra, mãe é aquela que acolhe, que incentiva, que proporciona, que mostra os caminhos que devemos trilhar, que nos corrige, que é capaz de nos fazer olhar pra si e entender quem somos e pra que viemos. A Deus, que colocou em meu coração o desejo, trilhou o caminho, iluminou as possibilidades, fortaleceu minha fé e me abençoou com a conquista! “Eu aprendi que as pessoas vão esquecer o que você disse, as pessoas vão esquecer o que você fez, mas as pessoas nunca esquecerão como você as fez sentir” (Maya Angelou) Obrigada a todos que me fizeram sentir!
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No Barco onde não durmo Flutuo num mar de sonhos Encontro doce aventura Um rumo que não me oponho Da minha pesca farta Estrelas, pérolas raras Entre todos os tesouros Lhe entrego a lua de prata!” (Marcia Bandeira)
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lista de figuras _
Figura 1: Mapa da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba _ Figura 2: Mapa de localização do município de Luís Correia, Piauí. _ Figura 3: Embarcação artesanal (canoa), Cajueiro da Praia, APA Delta do Parnaíba _ Figura 4: Construtor naval em estaleiro às margens do rio Parnaíba Ilha das Canárias, na divisa do Piauí com o Maranhão _ Figura 5: Macrolocalização cidade de Luís Correia. Indicação do Bairro Coqueiro da Praia _ Figura 6: Contexto urbano bairro Coqueiro da Praia, cidade de Luís Correia, Piaui. _ Figura 7: Microlocalização, bairro Coqueiro da Praia. Indicando Museu da Vila e Edificação sem uso. _ Figura 8: Fachadas das edificações sem uso, bairro Coqueiro da Praia, rua José Quirino. _ Figura 9: Planta baixa esquemática, proposta marcenaria. _ Figura 10: Levantamento técnico inicial _ Figura 11: Mapa de zoneamento da cidade de Luís Correia-PI _ Figura 12: Vias Coletoras e Locais do entorno da Edificação _ Figura 13: Desnível do lote em relação a rua. _ Figura 14: Canoa e Suporte.
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Figura 15: Canoa _ Figura 16: Canoa e base _ Figura 17: Canoa Vovó. _ Figura 18: Prospecção Canoa Vovó. _ Figura 19: Canoa Vovó. Prospecção das camadas de policromia _ Figura 20: Aspectos gerais da proa e da popa. _ Figura 21: Canoa Vovó. Perda de suporte. _ Figura 22: Canoa Vovó. Aspectos da policromia. _ Figura 23: Edificações existentes _ Figura 24: Medição da “Canoa Vovó”. Assistência dos mestrandos Isa Marília e Sandro David. _ Figura 25: Foto do piso como ficou _ Figura 26: Construções existentes e cobertura em madeira. _ Figura 27: Pesqueira do Senhor Juvenal. Ilhas das Canárias, Delta do Parnaíba, Piauí. _ Figura 28: Representação de um estaleiro artesanal - Unidade Vocacional Estaleiro Escola, em São Luís, Maranhão. _ Figura 29: Proposta 1 expografia. _ Figura 30: Proposta 2 expografia. _ Figura 31: Caixa de ar-condicionado existente. _ Figura 32: Maquete expografia. Distância de 80cm da edificação existente.
Figura 33: Maquete eletrônica expografia. _ Figura 34: Painel família de pescadores. Artista Isa Marilia e colaboradores. _ Figura 35: Maquete eletrônica expografia 2. _ Figura 36: Maquete eletrônica expografia 3. _ Figura 37: Croquis propostos pela artista Isa Marilia, história da canoa Vovó. _ Figura 38: Maquete eletrônica expografia 4. _ Figura 39: Desenho humanizado, com medidas gerais. _ Figura 40: Desenho humanizado, com medidas gerais 2. _ Figura 41: Desenho humanizado, especificações gerais. _ Figura 42: Desenho humanizado, especificações gerais 2. _ Figura 43: Ecomuseu Municipal do Seixal _ Figura 44: Núcleo Naval do Seixal _ Figura 45: Imagem interna espaço expositivo, Núcleo Naval do Seixal. Figura 46: Imagem interna espaço oficina, Núcleo Naval do Seixal. _ Figura 47: Fachada Museu Nacional do Mar _ Figura 48: Fotos do curso gratuito de modelismo e artesanato naval, promovido pelo Projeto Liceu de Modelismo Naval e o Programa Monumenta. _ Figura 49: Embarcações brasileiras. Acervo do Museu Nacional do Mar.
Figura 50: Imagem da sala da história da navegação. _ Figura 51: Imagem da sala Rancho de pesca _ Figura 52: Sala da cultura popular _ Figura 53: Sala e artesanato e modelismo. Figura 54: Sala Amyr Klink _ Figura 55: Maquete da cidade de São Francisco do Sul, ainda em construção. _ Figura 56: Mapa de localização Unidade Vocacional Estaleiro Escola, em São Luís, Maranhão. _ Figura 57: Espaço para construção de embarcações, U.V. Estaleiro Escola. _ Figura 58: Embarcação em escala reduzida, Unidade Vocacional Estaleiro Escola. _ Figura 59: Embarcação em escala reduzida, Unidade Vocacional Estaleiro Escola. _ Figura 60: Ficha questionário. _ Figura 61: Modelo preliminar, maquete eletrônica. _ Figura 62: Instruções de medição de linha curva. _ Figura 63: Desenho faces popa e proa. _ Figura 64: Construção do modelo. _ Figura 65: Construção do modelo 2. _ Figura 66: Construção do modelo 3. _ Figura 67: Construção do modelo 4. _ Figura 68: Construção do modelo 5.
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Figura 69: Modelo físico, referência de escala. _ Figura 70: Processo construtivo cavernas. _ Figura 71: Processo construtivo casco. _ Figura 72: Processo construtivo, detalhes. Figura 73: Material em água morna, processo de flexibilização. _ Figura 74: Exposição de modelos e técnicas construtivas, F eira do Patrimônio 2019. _ Figura 75: Montagem de modelos de canoas. _ Figura 76: Divulgação oficina de educação ambiental e patrimonial. _ Figura 77: Ações oficina de educação ambiental e patrimonial. _ Figura 78: Divulgação oficina “Que canoa é essa?” _ Figura 79: Atividade de medição canoa Evelyn. _ Figura 80: Recursos e instrumentos. _ Figura 81: Croquis elaborados durante oficina. _ Figura 82: Fluxograma. _ Figura 83: Planta baixa humanizado pavimento térreo. _ Figura 84: Planta baixa humanizada, pavimento superior. _ Figura 85: Vista pé-direito duplo. _ Figura 86: Propostas de layouts para sala multiuso. _ Figura 87: Estudo volumétrico. Cena 1
Figura 88: Mapa caminho do sol, nascente ao poente. _ Figura 89: Estudo volumétrico. Cena 2. _ Figura 90: Estudo volumétrico. Cena 3. _ Figura 91: Imagem 3D, lounge pavimento superior. _ Figura 92: Imagem interna, sala multiuso, modelo janela. _ Figura 93: Indicação de parede livre para exposição. _ Figura 94: Modelos representativos de granilite e instalação aparente.
lista de tabelas
_
Tabela 1: Materiais e equipamentos para marcenaria. _ Tabela 2: Identificação de usos permitidos no lote. _ Tabela 3: Exigências mínimas código de obras municipal
lista de gráficos _ Gráfico 1: Identificação por sexo. _ Gráfico 2: Identificação por itens.
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este trabalho, ao realizarmos estudos e intervenções na vila-bairro Coqueiro da Praia, litoral do Estado do Piauí, tivemos a oportunidade de conhecer a comunidade, que guarda um rico patrimônio natural e cultural, com destaque para as artes de pesca e construção de embarcações artesanais, hoje, patrimônio em risco. Notamos a redução, dia a dia, da quantidade de canoas artesanais em uso na orla da praia do Coqueiro, a 100 metros do Museu da Vila; o desinteresse de jovens da comunidade pelas atividades relacionadas ao ofício e modos de saber-fazer das artes de pesca, o que inclui as técnicas de construção de embarcações e seus artefatos; uma ausência de conhecimento e reconhecimento dos patrimônios locais. Há um conjunto de memórias e histórias associadas à tradição familiar, sociocultural desse ofício e modos de saber-fazer, que precisam ser registrados, salvaguardados. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho foi elaborar um projeto arquitetônico e seus complementares para um Estaleiro Escola, em uma edificação sem uso social, localizada na Rua José Quirino, em frente ao Museu da Vila, como uma extensão desse equipamento cultural na vila-bairro Coqueiro da Praia, vinculado ao Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia(PPGAPM), da Universidade Federal do Piauí, que possa ser um instrumento de promoção desses patrimônios. Esperamos este projeto se realize a curto, médio e longo prazos. A curto prazo já conseguimos realizar junto com a comunidade local ações sócio educativas para sensibilização e reconhecimento do ofício e modos de saber-fazer, com o uso de ferramentas de educação e interpretação patrimonial e museal, com a promoção de rodas de memórias, oficinas de construção de maquetes de embarcações artesanais e projeto arquitetônico e complementares para o Estaleiro Escola; à médio e longo prazo, esperamos que a Coordenação do Mestrado, Museu da Vila e Associação de Moradores do Bairro Coqueiro da Praia, viabilizarem a captação de recursos para execução do Projeto Arquitetônico, que elaboramos e doamos à Universidade Federal do Delta do Parnaíba, bem como a implantação o equipamento com foco em uma didática de formação de mestres carpinteiros, pintores, marceneiros e modelistas, que possam atuar na produção artesanal de embarcações, a exemplo do que já ocorre no Estaleiro Escola do Maranhão, vinculado ao Instituto
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Estadual de Educação daquele Estado e no Museu do Mar em São Francisco do Sul no Estado de Santa Catarina. Esta natureza de trabalho proporcionou à profissional-mestranda uma convivência com a comunidade local, de modo a criar formas de sensibilização para formação de públicos para a colaboração no trabalho. Usufruímos de técnicas de educação para o patrimônio, de forma a proporcionar aos nossos colaboradores (membros da comunidade local), possibilidades de aprendizagem, que lhes permitiram conhecer e reconhecer o valor econômico e cultural do patrimônio associado às artes de pesca e construção de embarcações. Palavras-chave: Estaleiro Escola; Museologia de Inovação Social; Patrimônio Cultural; Piauí
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a b s t r a c t In this paper, when studies and interventions were carried out in the village-neighborhood Coqueiro da Praia, coast of the State of Piauí, we had the opportunity to know the community, which holds a rich natural and cultural heritage, with emphasis on fishing gear and construction of artisanal vessels, today, heritage at risk. Day by day, we noticed the reduction of the amount of handmade canoes in use on the shore of Coqueiro beach, 100 meters from the Museu da Vila (Village Museum); the lack of interest of young people in the community for the activities related to the craft and ways of knowing fishing gear, which includes the techniques of building vessels and their artifacts; lack of knowledge and recognition of local heritage. There is a set of memories and stories associated to the family, sociocultural tradition of this work and ways of knowing how-to, which need to be recorded, safeguarded. In this perspective, the objective of this paper was to elaborate an architectural project and its complementary for a School Shipyard, in a building without social use, located on José Quirino Street, in front of the Museu da Vila (Village Museum), as an extension of this cultural equipment in the village-neighborhood Coqueiro da Praia, linked to the Post - Graduation Program, Professional Master’s Degree, in Arts, Heritage and Museology (PPGAPM), of the Federal University of Piauí, which can be an instrument for promoting these assets. We hope this project will take place in the short, medium and long term. In the short term we have already managed to carry out together with the local community socio-educational actions to create knoledge and recognition of the craft and ways of know-how, with the use of tools of education and patrimonial and museal interpretation, with the promotion of chat group of memories, workshops of craft models construction and architectural design and complementary to the Shipyard School; in the medium and long term, we hope that the Coordination of the Master´s Degree, Museu da Vila (Village Museum) and Association of Residents of the Neighborhood Coqueiro da Praia, enable the fundraising for the execution of the Architectural Project, which we elaborated and donated to the Federal University of the Delta of Parnaíba, as well as the implementation of the equipment focused on a didactic training of master carpenters, painters , joiners and modelers, who can act in the artisanal production of vessels, as it already occurs at the Escola do Maranhão Shipyard,
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linked to the State Institute of Education of that State and the Museum of the Sea in São Francisco do Sul in the State of Santa Catarina. This kind of work has provided this master’s student with a coexistence with the local community, in order to create ways of creating knowledge for the formation of audiences for collaboration at work. We use education techniques to the heritage, in order to provide our collaborators (members of the local community), learning possibilities, which allowed them to know and recognize the economic and cultural value of the heritage associated with fishing gear and craft construction.
Keywords: Shipyard School; Museology of Social Innovation; Cultural Heritage; Piauí State
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1. 2. 3. 4. 5.
Introdução // 23
Públicos // 30
sumário
Problema // 32
Objetivos // 36
Justificativa // 37
21
6.
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Revisão de Literatura // 41
7.
Desenho Metodológico // 49
6.1 O processo de gentrificação e o surgimento de vazios urbanos 6.2 Museus, Educação e interpretação patrimonial 6.3 Museologia de inovação social e Acupuntura urbana 7.1 Local de estudo 7.1.1 Acupuntura: análise e ocupação do vazio urbano 7.1.2 Levantamento técnico e legislação 7.2 Imersão no território 7.2.1 A “Canoa Vovó”: pesquisa e expografia 7.3 Boas práticas 7.3.1.1 Núcleo Naval do Ecomuseu de Seixal, Seixal, Portugal 7.3.1.2 Museu Nacional do Mar, São Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil 7.3.1.3 Unidade Vocacional Estaleiro Escola, São Luís, Maranhão, Brasil 7.4 Identificação e formação de público 7.4.1 Aplicação e análise de questionários 7.4.2 Ações de sensibilização 7.4.2.1 Maquetes canoa Evelyn: estudos preliminares 7.4.2.2 Oficinas de sensibilização
8.
8. Estaleiro Escola do Museu da Vila:
O projeto arquitetônico
// 118
9. 10. Conclusão // 124
Referências // 131 22
8.1 Estudo preliminar 8.1.1 Projeto arquitetônico: o conceito e o partido 8.1.2 Proposta arquitetônica
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1. Introdução Este trabalho e iniciativa têm como referência a museologia de inovação social, parte do Projeto Matriz “Ecomuseu Delta do Parnaíba” (ECOMUDE). O Estaleiro Escola do Museu da Vila pretende ser um espaço de construção de modelos de embarcações artesanais e de geração de renda, de sensibilização para a produção de salvaguarda e comunicação desse ofício e modos de saber-fazer artesanais. Iniciamos com as atividades de pesquisa documental e bibliográfica sobre a Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba, para posterior imersão no território e análise de pesquisas realizadas. Como parte da pesquisa de natureza colaborativa que atravessa este trabalho, usamos técnicas de entrevistas semiestruturadas, com aplicação de questionários e observação participante, para identificar, na vila-bairro, os moradores que tinham habilidades ou pretendiam adquirir conhecimentos de marcenaria, carpintaria e modelismo naval. Realizamos oficinas de educação ambiental e patrimonial
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// Figura 1: Mapa da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba. // Fonte: ICMBio. Disponível em: <http://bioteia. com.br/apadelta/ wp-content/uploads/ DocumentosAPA/ Cadernos_oficinas_comunitarias/ CadernoOrientador1. pdf>. Acesso em: 27 jul. 2020
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O Projeto Arquitetônico, produto e serviço deste Trabalho Final de Mestrado, contempla uma marcenaria/carpintaria para o ensino-aprendizagem de marceneiro/carpinteiro e a formação de aprendizes em modelismo naval, como uma possibilidade de transferência de conhecimentos e ressignificação do patrimônio cultural imaterial, salvaguardando técnicas artesanais ancestrais e as transmitindo às presentes e futuras gerações. O modelismo naval é uma atividade complexa, encantadora, na qual são reproduzidas formas em maquetes, em uma escala reduzida de embarcações com o uso de técnicas construtivas e materiais similares àquelas das embarcações originais. Associado às atividades educativas e culturais do Museu da Vila, o Estaleiro Escola auxiliará na salvaguarda do patrimônio natural e cultural, a longo prazo, a partir de sua implantação e realização sistemática de oficinas de modelos de embarcações artesanais, educação ambiental e patrimonial, inglês básico, informática, marcenaria, agente de informações turísticas, letramento e operações básicas de matemática. Os espaços funcionais se materializarão em salas de aula, informática, exposições, biblioteca, oficinas. O Projeto Arquitetônico que apresentamos neste trabalho para um Estaleiro Escola, vinculado ao Museu da Vila (MUV) e doamos ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia (PPGAPM) da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), deverá ter execução compartilhada entre a UFDPar e a Associação de Moradores do Bairro Coqueiro da Praia (AMBC), o que se justifica por ter sua origem em estudos e intervenções no campo da museologia de inovação social, com foco na educação para os patrimônios e ao longo da vida, no contexto do Projeto Matriz ECOMUDE, no território da APA Delta do Parnaíba, Unidade de Conservação criada por Decreto do Governo Federal em 1996. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO São protegidas por lei. Isso inclui o território e seus recursos naturais, como a fauna, a flora, as águas e em alguns casos, as populações que moram nelas. A sigla é UC. A Lei Nº 9.985, de 18 de junho de 2000, dispõe normas sobre as
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áreas que serão protegidas e é chamada de Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). As UCs são criadas pelo Poder Público e têm objetivos claramente definidos. Seu território também precisa ser delimitado assim como o tipo de gestão que vai existir. USO SUSTENTÁVEL O SNUC agrupa as Unidades de Conservação em dois grupos: Proteção Integral e Uso Sustentável. Nas UCs de Proteção Integral não é possível consumir, coletar ou causar algum dano sobre os recursos da natureza. Em alguns casos, é permitido o uso indireto dos recursos naturais, como atividades de educação ambiental e turística. As UCs de Uso Sustentável têm o objetivo de combinar a conservação da natureza com o uso dos recursos naturais. Nestas unidades é possível utilizar os recursos da natureza desde que sua renovação seja assegurada para as próximas gerações. APA - ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL São territórios com a presença de populações humanas que vivem do uso dos recursos naturais existentes. Quando são criadas, observam-se características importantes como: animais e plantas, ecossistemas (manguezais, restingas, lagunas e outros), paisagens e traços culturais (tradições, histórias e modos de vida). O objetivo básico das APAs é proteger a natureza, ordenar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais. (ICMBio. Disponível em: < http://bioteia.com.br/apadelta/wp-content/uploads/DocumentosAPA/Cadernos_oficinas_comunitarias/CadernoOrientador1.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2020)
O MUV, primeiro Polo Museológico do ECOMUDE, está localizado na vila-bairro Coqueiro da Praia, na cidade de Luís Correia, no Estado do Piauí, um dos dez municípios que integram a APA Delta do Parnaíba, que abrange municípios dos Estados do Piauí, Maranhão e Ceará, no Meio Norte do Brasil.
// Figura 2: Mapa de localização do município de Luís Correia, Piauí. // Fonte: Karina Cadena, 2019.
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Construímos ao longo destes estudos e intervenções um percurso de identificação e seleção de temas, problemas e abordagens, associados à Nova Museologia. Desde as primeiras disciplinas cursadas no PPGAPM, no início de 2018, acessamos os conceitos-chaves da museologia (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013) e da educação e interpretação patrimoniais, o que inclui a interpretação do patrimônio ambiental (ICMBio, 2018), os associamos à nossa formação acadêmica inicial em arquitetura e urbanismo, o que nos permitiu construir um olhar mais sensível para os usos sociais dos espaços urbanos, além de nossa experiência profissional na docência, que nos atraiu para as propostas metodológicas de educação patrimonial (TOLENTINO, 2012) e interpretação do patrimônio natural e cultural (MURTA; GOODEY, 2002; ICMBio 2018). Em 1957, a convite do Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos, o autor Freeman Tilden publicou Interpreting our Heritage. Este livro ajudou a definir e lançar a ´interpretação´ como uma profissão e afirmá-la como um componente importante na protecção e gestão de terras públicas. Desde então, os acadêmi- cos aumentaram nosso entendimento sobre interpretação eficaz e os intérpretes profissionais agora trabalham nos Estados Unidos em áreas protegidas nacionais, estaduais e locais, bem como museus, zoológicos, aquários, centros de natureza e empresas de viagens do setor privado. Em 2007, o Brasil criou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com a atribuição de implantar, na esfera federal, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Desde o início, os gestores do ICMBio entenderam a importância de conectar os brasileiros ao seu patrimônio natural e cultural e a necessidade da Instituição desenvolver e implementar um programa interpretativo para realizar esta tarefa. Em 2012, o ICMBio convidou o setor de Programas Internacionais do Serviço Florestal dos Estados Unidos para realizar um curso sobre Interpretação Ambiental, dando o primeiro passo no que seria uma incrível jornada. (p. 9)
Ao longo de 2018, a Coordenação do PPGAPM nos proporcionou a oportunidade de fazer parte da equipe de programação de três exposições, o que permitiu contatos com públicos diversos e conhecimentos sobre educação e interpretação patrimonial. As exposições foram: “Caixa de Memórias” (maio), no Centro Cultural Ministro Reis Veloso (sob a gestão do Serviço Social do Comércio - SESC Piauí), Centro Histórico de Parnaíba, cidade Patrimônio Nacional desde 2008; “Por entre rio e mar” (agosto a outubro), no Museu da Vila; e “Manguezal: raízes, lama e vida1” (agosto a outubro), no 1 Mangues são as árvores resistentes à salinidade da água das marés; a palavra Manguezal se refere aos seres vivos, às características do ambiente onde vivem e suas associações, ou seja, o ecossistema como um todo. Os manguezais são fundamentais à vida marinha, importantes berçários, reprodução, alimentação e desova para diversos animais. Nos ambientes estuarinos, as raízes de mangue, praticamente, são os únicos substratos verticais estáveis disponíveis, constituindo micro habitats únicos. Os mangues são plantas que crescem na interface entre terra e mar em latitudes tropicais e subtropicais, onde existem em condições de alta salinidade, marés, ventos fortes, altas temperaturas e solos lamacentos e anaeróbicos. Os sedimentos lodosos ou arenosos dos manguezais são ambientes ecológicos únicos que hospedam ricas espécies. O Delta do Parnaíba foi considerado pela Agência Nacional das Águas ANA como área de extrema importância, caracterizado por
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espaço em construção do Museu Tartarugas do Delta, sob a gestão do Instituto Tartarugas do Delta (ITD) e SESC Piauí. Participamos ainda da produção das 3ª e 4ª edições da Feira do Patrimônio (outubro de 2018 e outubro de 2019), um projeto educativo-cultural do PPGAPM, reconhecido em nível nacional como ação educativa no campo do patrimônio cultural, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Feira foi uma das finalistas da 30ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade em 2017, e pelo Fórum Nacional Mestres e Conselheiro, Minas Gerais em 2018. Como parte da Equipe de Arquitetura, da Turma 4 do PPGAPM, com mais três profissionais de arquitetura, elaboramos os desenhos das exposições e da Feira, aplicando nossos conhecimentos, habilidades e competências, adquiridas ao longo do percurso acadêmico e profissional, o que inclui o trabalho com o gerenciamento da produção de desenhos de exposições e arquitetônicos, técnicos, humanizados e maquetes eletrônicas. Durante a montagem das 3ª e 4ª edições da Feira do Patrimônio, trabalhamos também com atividades de marcenaria, manejo com madeiras no formato pallets e assemelhados, produzimos mobiliários e suportes para as exposições e para as edições da Feira. A partir dessas atividades teórico-práticas do Mestrado Profissional, percebemos o potencial de agregar e transferir conhecimentos técnicos de desenhos e habilidades com maquetes e marcenaria, associados às ferramentas de educação e interpretação patrimoniais. Na convivência com a comunidade local, ao longo das atividades técnico-profissionais do PPGAPM, percebemos a necessidade promovermos ações educativas e culturais, que pudessem colaborar com a interpretação e ressignificação dos patrimônios natural e cultural, para criarmos juntos, com a comunidade, novas formas de estudos e interpretação dos patrimônios, no contexto de uma museologia de inovação social (LEITE, 2014), para ressignificar a maneira de ser e existir no território, de dialogar com as pessoas e de as permitir se relacionarem de forma mais próxima com os patrimônios. Promovemos na comunidade, de forma sistemática, um projeto associado à proposta de museu de comunidade, base do Projeto Matriz do Mestrado ECOMUDE. A proposta deste trabalho nos permitiu promover ações de educação e interpretação dos patrimônios, associadas ao lazer, geração de renda e transferência de conhecimentos, para que as populações locais reconhecessem expressivo manguezal, sendo um ambiente rico em diversidade biológica filética e abrigando o peixe-boi-marinho. Esse ecossistema tem sofrido grandes pressões antrópicas de salinas, carciniculturas, riziculturas com o uso inadequado de agrotóxicos, desmatamentos e sobrepesca de caranguejos e camarões. Na exposição, realizada pelo PPGAPM, Museu da Vila e Museu Tartarugas do Delta, ocorreu entre 2018, na sede do Museu Tartarugas do Delta, no SESC Praia, Luís Correia. O manguezal foi apresentado com destaque para a Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba. Estiveram expostos fotografias, objetos, narrativas, poemas, conhecimentos sobre os manguezais fruto de investigações e diálogos com seres vivos, o que inclui os humanos que habitam ou vivem desse ecossistema. A Exposição teve o apoio financeiro da Shell Brasil e SESC Piauí.
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os patrimônios dos quais são detentoras, dentre eles, o patrimônio cultural imaterial (UNESCO, 2003) – as artes de pesca e as técnicas de construção de embarcações. Usamos métodos de investigação participativos e colaborativos, como a pesquisa-ação, vislumbrando a possibilidade de criação de um Estaleiro Escola, um espaço de ensino e prática de modelismo naval, de técnicas artesanais de construção de embarcações. As embarcações artesanais, que ainda existem na vila-bairro Coqueiro da Praia, bem como os objetos e ferramentas de uso cotidiano, são objeto de estudo iniciado ainda em 2008, pelas Professoras Áurea Pinheiro e Cássia Moura, que em 2017, orientaram alunos do Programa no trabalho de atualização de inventário do ofício e modos de saber-fazer das artes de pesca na vila-bairro Coqueiro da Praia.
// Figura 3: Embarcação artesanal (canoa), Cajueiro da Praia, APA Delta do Parnaíba // Fonte: Cássia Moura, 2008
Este projeto-ação é parte do desdobramento desses estudos e intervenções em andamento no território há mais de 10 anos. Elegemos para este trabalho a educação e interpretação patrimoniais como possibilidades de imersão na comunidade. Dentre as ações socioeducativas que realizamos destacamos a construção de maquetes, como forma de sensibilizar e voltar o olhar dos usuários do Museu da Vila para o ofício e modos de saber-fazer associados às artes de pesca e técnicas de construção de embarcações. Dentre os métodos e técnicas que usamos destacamos a pesquisa bibliográfica, visitas técnicas presenciais e on-line a projetos similares, identificação e análise de boas práticas em estaleiros escola no Brasil, nos estados de Santa Catarina e Maranhão e em Portugal (Seixal). Em janeiro de 2019, visitamos a Unidade Vocacional Estaleiro Escola, em São Luís, que promove ações de educação patrimonial desde 2006, com aprendizagem teórico-prática de construção artesanal de embarcações e modelismo naval. 28
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Estudamos projetos arquitetônicos de estaleiros artesanais e industriais, com missão e vocação para o ensino do ofício e modos de saber-fazer de marcenaria e carpintaria, para a elaboração de um programa de necessidades e fluxograma do espaço objeto de intervenção, um dos produtos e serviços finais deste trabalho, qual seja: um projeto arquitetônico e seus complementos para criação de um estaleiro escola vinculado ao Museu da Vila, com gestão compartilhada – PPGAPM-UFDPar e AMBC. A escolha pelas metodologias participativas e colaborativas, como a pesquisa-ação, se justifica por sua natureza de método, que “Planeja-se, implementa-se, descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo mais, no correr do processo [...]” (TRIPP, 2005, p.446), por nos permitir a nossa inserção na comunidade local, proporcionando trocas de conhecimentos com a participação direta dos detentores dos patrimônios.
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2. Públicos Participantes Para este projeto-ação, propomos a criação com e para a comunidade da vila-bairro Coqueiro da Praia de um Estaleiro Escola, vinculado ao MUV, primeiro Polo Museológico do ECOMUDE. Elegemos como públicos participantes os usuários do Museu, equipamento cultural que tem realizado estudos, documentação, comunicação e salvaguarda do ofício e modos de saber-fazer associado às artes de pesca e construção de embarcações. Construímos uma proposta de trabalho para se realizar a médio prazo em outras comunidades ribeirinhas e praieiras da APA Delta do Parnaíba. A curto, médio e longo prazos, atendemos: Comunidade local: a)Usuários do MUV, com faixa etária entre 10 a 19 anos, considerados na fase de adolescência, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU); adolescentes matriculados nos 7º, 8º e 9º anos da escola local, a Unidade Escolar Carmosina Martins da Rocha;
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b) grupo de adolescentes em situação de vulnerabilidade social, que residem na comunidade, com os quais desenvolvemos ações socioeducativas que lhes despertaram interesse para as técnicas de construção de embarcações tradicionais-artesanais e modelismo naval; c) pescadores e construtores, entre 30 a 60 anos, proprietários e trabalhadores em embarcações artesanais, por serem, os detentores da tradição, do ofício e modos de saber-fazer, bem como pela necessidade que percebemos a importância que tem o espaço seja familiar ou comunitário, como lócus privilegiado de transmissão e compartilhamento de saberes, experiências entre gerações; d) a médio e longo prazos, públicos externos à vila-bairro, agentes públicos, privados, sociais e comunidade em geral, o que inclui: pesquisadores, profissionais, acadêmicos, interessados em tecnologias de construção de embarcações e modelismo naval; e) visitantes, que buscam um turismo cultural, que desejam vivenciar e experienciar métodos e técnicas de pesquisa, documentação, comunicação e preservação do patrimônio imaterial, natural, técnicas de construção de embarcações artesanais e modelismo naval.
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3. Problema As embarcações tradicionais da região do rio e delta do Parnaíba são canoas de pesca artesanal, denominadas simplesmente - canoas, a maioria é produzida por construtores da própria região, que não usam plantas, croquis ou desenhos, o que justifica a necessidade de recorrermos ao longo da pesquisa à metodologia da história oral e à etnografia, recolhendo depoimentos e produzindo registros fotográficos das embarcações, dos saberes e fazeres dessas populações. No contato com os construtores e com os pescadores foi possível capturar informações sobre técnicas de construção, de navegação e de pesca. (PINHEIRO; MOURA, 2010, p.08)
O fragmento e a imagem adiante são parte do relatório de pesquisa histórico-etnográfica “Por entre rio e Mar [Delta do Parnaíba]”, que tem como desdobramento uma série de trabalhos, dentre eles, a Tese de Doutorado da Profª Rita de Cássia Moura Carvalho, defendida em 2019, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Portugal. Nesses estudos e intervenções as autoras nos informam da existência de um rico patrimônio cultural (material e imaterial) associado ao ofício e modos de saber-fazer das artes de pesca e técnicas de construção de embarcações artesanais no território. O trabalho das pesquisadoras é pioneiro no campo da pesquisa e documen32
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tação do patrimônio e da museologia de inovação social. Há conhecimentos transmitidos oralmente sobre as embarcações artesanais, que só uma pesquisa etnográfica pode documentar, vez que não há desenhos ou projetos, os conhecimentos são transmitidos de pais para filhos ao longo do tempo. Percebemos, hoje, no território de estudo, que o Projeto Matriz ECOMUDE permite a salvaguarda desses ofícios, modos de saber-fazer, associados às embarcações, à navegação e à pesca, em um contexto no qual a pesca comercial, industrial, a modernização da construção de embarcações e a ausência de interesse de jovens aprendizes do ofício e modos de saber-fazer; preferem outras atividades profissionais, o que coloca em risco os patrimônios do lugar.
// Figura 4: Construtor naval em estaleiro às margens do rio Parnaíba, Ilha das Canárias, na divisa do Piauí com o Maranhão // Fonte: Cássia Moura, 2008
Como desdobramento do Inventário das Artes de Pesca e Construção de Embarcações Artesanais, em andamento desde 2008, resultou a Série de Documentários Etnográficos “Povos do Delta”, que narra a vida cotidiana de populações ribeirinhas e praieiras da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba. São memórias e histórias de rios e praias da região, que nas últimas cinco décadas perderam a função de vias de transporte, que marcaram suas existências, momentos significativos da história da navegação no Piauí, mesmo antes da chegada dos colonizadores europeus, uma colonização de exploração que trouxe consigo outras técnicas de navegação e construção de embarcações com intuito comercial, nos séculos XIX e XX, com destaque para as populações ribeirinhas, praieiras e deltaicas. (CARVALHO, 2019). Esses acontecimentos demonstram o quanto as artes de pescas têm importância na construção de territórios sustentáveis para as populações ribeirinhas, praieiras e deltaicas, com atividades reguladas pela 33
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natureza, pela passagem das embarcações pelo rio Parnaíba, estrada líquida para essas populações. O problema de pesquisa que apresentamos para este trabalho diz respeito à necessidade de intensificar as pesquisas, documentação, comunicação, salvaguarda, o que inclui ações de educação e interpretação dos patrimônios, para o conhecimento e reconhecimento da importância de proteger um rico e complexo patrimônio natural e cultural associado ao ofício e modos de saber fazer das artes de pesca e técnicas de construção de embarcações, patrimônio cultural de natureza imaterial em risco na APA Delta do Parnaíba. Nesse território, as embarcações artesanais são dia a dia substituídas por embarcações de médio porte, o comércio da pesca causa efeitos na pesca artesanal, familiar, nos territórios pesqueiros, provoca a redução de construtores de canoas nos estaleiros artesanais às margens dos rios e orla de praia. Os jovens não têm interesse pelo ofício e modos de saber-fazer das artes de pesca, que um dia seus pais e tios aprenderam com os avôs. Pesquisar, documentar, comunicar e possibilitar formas de ressignificar o ofício e modos de saber fazer relacionados as artes de pesca e técnicas de construção de embarcações é uma forma de promover a salvaguarda da paisagem cultural (UNESCO, 1992; IPHAN, 2009), de valorizar o ofício e os modos de saber-fazer ancestrais, além de possibilitar a geração de renda e a fixação das populações no território. O MUV tem a missão de formar gestores dos patrimônios natural e cultual, museólogos. O Museu é um museu-escola, vinculado ao PPGAPM, que desde 2015 forma profissionais de várias áreas do conhecimento, que dialogam e aprendem com as comunidades locais; pesquisadores que estudam, documentam, comunicam e promovem ações educativas de salvaguarda dos ricos e complexos patrimônios da APA Delta do Parnaíba, por acreditarem na importância da salvaguarda de conhecimentos ancestrais, ligados aos patrimônios, para ressignificação dos modos de ser, viver e se relacionar com a natureza. Há dificuldades de reprodução social de famílias de pescadores na vila-bairro Coqueiro da Praia, por uma série de problemas que não são específicos do lugar, como problemas ambientais e de gestão de recursos pesqueiros, que comprometem a renda das famílias de pescadores artesanais e os levam a abandonar o ofício (CAPELLESSO; CAZELLA, 2011) Como atividade de pesquisa e intervenção nos aproximamos da comunidade local e a refletimos sobre as possibilidades de ressignificar o ofício e modos de saber fazer das técnicas de construções artesanais de embarcação, com a proposta de criar um espaço para abrigar um estaleiro escola, como uma extensão do MUV, para a construção de modelos artesanais de canoas usando as técnicas construtivas, ferramentas e materiais similares ao de uma canoa tradicional- artesanal. Além disso, a criação desse equipamento, promoverá o uso social de um espaço urbano abandonado, em situ34
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ação crítica, igualmente recorrente em outras cidades, bairros brasileiros, são os chamados vazios urbanos. Diante dos riscos de perda dos patrimônios sobretudo das artes de pesca e construções de embarcações artesanais, diante da necessidade visível de ocupar vazios no território do Bairro, nos questionamos: Como um projeto arquitetônico, um equipamento cultural como um Estaleiro Escola pode contribuir para oferecer uso social ao espaço público e com isso valorizar os patrimônios locais associado às técnicas de construção de embarcações artesanais?
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4. Objetivos 4.1 Geral O objetivo geral deste trabalho foi elaborar um Projeto Arquitetônico e seus Complementares para a edificação de um Estaleiro Escola, uma extensão do Museu da Vila – ECOMUDE – PPGAPM da UFDPar, um espaço de aprendizagem ao longo da vida, com diálogos entre gerações de profissionais do modelismo naval, pescadores, construtores e jovens da APA Delta do Parnaíba
4.2 Específicos // Mapear as tipologias de embarcações artesanais, ofícios e modos de saber-fazer, o que inclui ferramentas e materiais usados nas técnicas de construção de embarcações na vila-bairro Coqueiro da Praia; // Diagnosticar, na comunidade praieira, o interesse pelo aprendizado do ofício e modos saber-fazer associados às técnicas de construções de embarcações artesanais; //Realizar oficinas de sensibilização para o ofício e modos de saber-fazer das artes de pesca e técnicas de construção de embarcações artesanais; // Elaborar projeto arquitetônico e seus complementares para a criação de um Estaleiro Escola vinculado ao Museu da Vila.
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5. Justificativa O litoral do Piauí é pequeno, tem uma área de apenas 66km, no entanto, em sua origem, a extensão era ainda menor. Por volta de 1880, com acordos entre os Estados do Piauí e Ceará, foi ampliado até o rio Timonha. (MENDES, 2007). Paula (2000) afirma que apesar da pequena extensão litorânea, a navegação era um dos principais escoadouros da produção do Piauí e uma importante ligação marítima entre o Norte do Brasil e a Europa. O Porto de Amarração, hoje cidade de Luís Correia, ganhou importância com a inauguração da Estrada de Ferro Central do Piauí, quando passou a receber cada vez mais embarcações, desde pequenos barcos de pescadores locais até grandes navios que traziam ferramentas e peças, para a construção da estrada. (VIEIRA, 2010; PINHEIRO; MOURA, 2010). O Bairro Coqueiro teve a sua origem a partir da formação da cidade de Luís Correia, antigo povoado Amarração. Essa região que outrora pertencia ao Estado do Ceará, foi fundada por pescadores que se instalaram ali e posteriormente foi reconhecida como vila. (VIEIRA, 2010) A vila-bairro Coqueiro da Praia tem sua história atravessada por uma ancestralidade indígena ainda pouco investigada, é um território de transição, 37
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de migrações de etnias locais, do Ceará e Maranhão. A pesca artesanal da Vila é um ofício e modos de saber-fazer associados às etnias de hábeis nadadores e pescadores, que foram expulsos do território ou se hibridizaram com os colonizadores de origem portuguesa que avançaram sobre o território e trouxeram consigo técnicas de artes de pesca e construção de embarcações, sobretudo, portuguesas. Portanto, sua origem como uma vila de pescadores artesanais, está atravessada pela cultura das artes e artefatos de pesca, o que inclui as técnicas de construção e reforma de embarcações, canoas artesanais em suporte de madeiras diversas. A partir dos anos 1970, a vila-bairro Coqueiro da Praia passou por um processo acelerado de ocupação de terras e orla da praia, antes habitadas pelos pescadores locais. Os abrigos de pesca e as casas dos pescadores foram sendo substituídas por bares e casas de veraneio, com grande especulação de lotes e descaracterização dos patrimônios natural e cultural. Essa ocupação impactou e continua a impactar não somente a paisagem visível, arquitetônica e urbanística, mas também na vivência do lugar e na relação das pessoas umas com as outras e com o meio ambiente. Ressaltamos uma importante diminuição do número de pescadores artesanais e, em consequência também, de suas embarcações e artes de pesca, o que tem despertado interesse de vários pesquisadores. Varine, um dos estudiosos da museologia de base comunitária, nos auxilia a justificar parte deste trabalho: [...] O desenvolvimento não se faz ´fora do solo´. Suas raízes devem se nutrir dos numerosos materiais que, na sua maioria, estão presentes no patrimônio: o solo e a paisagem, a memória e os modos de vida dos habitantes, as construções, a produção de bens e de serviços adaptados às demandas e às necessidades das pessoas etc. [...] O patrimônio, sob suas diferentes formas (material ou imaterial, morto ou vivo) fornece o húmus e a terra fértil necessária ao desenvolvimento. [...] (VARINE, 2013, p.16)
Neste contexto, lançamos o olhar para a vila-bairro Coqueiro da Praia e percebemos como um lugar de terra fértil, parte do território onde o Programa está a construir com e para as comunidades locais, ribeirinhas e praieiras, o Ecomuseu Delta do Parnaíba, com a finalidade de afirmar a existência de territórios sustentáveis, colaborando para o conhecimento e reconhecimento dos patrimônios, potencializando a autoestima das comunidades para a salvaguarda das memórias e histórias associadas às artes de pesca e às técnicas de construção de embarcações. Com a criação do MUV em 1º de junho de 2018 e início de suas atividades educativas e culturais e de pesquisa, documentação, salvaguarda e comunicação dos patrimônios locais, dia a dia são ampliados os olhares para as potencialidades do território, das pessoas, dos patrimônios o que incluem às artes de pesca e construção de embarcações. 38
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O acervo do MUV é de natureza operacional (in situ) ou institucional (objetos musealizados nos espaços físicos do Museu, constituído por 03 embarcações de pesca artesanal e seus apetrechos, objetos que fazem parte da documentação museológica, disponível no Repositório Ecomude Tainacan. O MUV, em 2020, passará a ser Órgão Suplementar da UFDPar. Portanto, um olhar especial para as embarcações contribui para aprofundar a pesquisa cientifica, a prospecção e salvaguarda de técnicas de construção, materiais, ferramentas, memórias e histórias de vida associadas às embarcações, que se apresentam como o húmus perfeito para a criação do presente trabalho. O declínio dos barcos tradicionais também faz diminuir o interesse pela profissão de carpinteiro naval, e compromete a sobrevivência dos que se encontram ainda em atividade. Diante desse quadro, torna-se urgente identificar, registrar, salvaguardar e divulgar nosso acervo e seus métodos de transmissão oral, como também criar e implementar políticas de preservação para evitar o desaparecimento completo de tecnologias seculares. (IPHAN/MONUMENTA, 2008, p.46)
Ao observar atentamente o território da APA Delta do Parnaíba, particularmente, a vila-bairro Coqueiro, nos motivamos a transferir nossos conhecimentos de arquitetura, trabalhos com maquetes e a experiência na área de educação, para apresentar um produto, que possa colaborar para a salvaguarda do patrimônio imaterial das artes de pesca e construção de embarcações artesanais, colaborando para o desenvolvimento local. Propomos, então, a criação de um Estaleiro Escola. Além de fomentar a construção de territórios sustentáveis, o Museu da Vila e o Estaleiro Escola como sua extensão, são equipamentos para uma educação ao longo da vida, que criam possibilidades de diálogos intergeracionais e com diversos setores sociais e econômicos. A valorização de ofícios e profissionais que os exercem, os verdadeiros doutores do saber, trazendo autoestima para a comunidade e possibilitando a salvaguarda desse saber-fazer. Uma forma de alcançar esse objetivo é a construção de maquetes das embarcações [...]. Esse trabalho requer o levantamento minucioso das dimensões e outras características do barco, para que se possa fazer seu plano de linhas e a respectiva planta, detalhada. Esses dados, mais fotografias, o histórico da embarcação, além de informações sobre o mestre carpinteiro que a construiu e outras de caráter econômico e social podem ser depositadas em local seguro. (IPHAN / MONUMENTA, 2008, p.51)
Com o edifício do Estaleiro Escola, em funcionamento, pretendemos como contribuição social, permitir que o espaço seja usado para a formação de pessoas para o exercício de atividades diversas, desde modelismo naval (maquetes), mediação com conhecimentos sobre as embarcações e suas histórias, o aprendizado da conservação e restauro de embarcações, informática, inglês, matemática, português, educação ambiental e patrimonial. 39
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Sem dúvida, a educação não-formal, que ocorre nos museus (MARANDINO et al, 2008) e ambientes culturais, colabora de forma eficiente para o desenvolvimento de um território e sua população, a partir das trocas entre o meio acadêmico e saberes tradicionais. A escolha do local para a instalação do estaleiro escola se justifica por três motivos principais: primeiro, a proximidade do Museu da Vila, tornando-se assim uma extensão do espaço museal especializado nas artes de pesca e técnicas construtivas de embarcações, bem como para a educação ao longo da vida entre gerações, de formação profissional de museólogos, museu-escola; segundo, por sua proximidade da orla da praia, o Museu da Vila e o Estaleiro estão localizados a 100 metros da orla, criando um caminho de descida quase que obrigatória para acessar o acervo de embarcações in situ e em uso na Praia do Coqueiro; terceiro, para oferecer uso social a duas edificações em estado de abandono, proporcionando ao território equipamento cultural e educativo, oportunidade de trabalho, movimento e vida ao meio urbano, transformando o espaço em lugar seguro e agradável. A construção só existe porque somos capazes de habitar; a Arquitetura (esta, a base da construção) se estabelece sobre a necessidade de habitar, aqui entendida em sentido amplo, como a materialização dos espaços que o homem precisa para se estabelecer no mundo; (CARSALADE, 2007 p.108)
Justificamos ainda a proposta arquitetônica como um elemento de acupuntura urbana, conceito trazido ao Brasil pelo arquiteto Jaime Lerner, tema muito difundido no campo da arquitetura e urbanismo, na contemporaneidade, como sendo um conjunto de ações pontuais e de revitalização que podem mudar progressivamente a vida na cidade ou no bairro, como é o Coqueiro da Praia “Muitos dos grandes problemas urbanos ocorrem por falta de continuidade. O vazio de uma região sem atividade ou sem moradia pode se somar ao vazio dos terrenos baldios. Preenchê-los seria boa acupuntura.” (LERNER, 2011)
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6. Revisão de Literatura 6.1 O processo de gentrificação e o surgimento de vazios urbanos O conceito de gentrificação é discutido há mais de 50 anos e difundido como fenômeno por todo o mundo globalizado. Reconhecido em diversas regiões, entre camadas sociais e econômicas distintas, esse fenômeno se relaciona conceitualmente às questões específicas de cada área por ele afetada. (RIBEIRO, 2018). Relação essa que envolve desenvolvimento e espaço territorial das cidades. Segundo Ribeiro (2018, p. 02), “[...] a palavra ‘gentrificação’ expressa um processo social, econômico e espacial que vai muito além da saída de moradores ocasionada pelas forças do capital, ou ainda da reforma de espaços físicos na cidade.” Mas envolve também mudanças ou remoção, nas relações de trabalho e costumes dessa população que sofre o afastamento. É neste contexto que trazemos o conceito para nosso campo de estudo, que se apresenta como um processo de elitização de determinadas áreas, provocando a substituição, mesmo que de forma indireta, sem a tomada ou expulsão radical da população tradicional do território por pessoas com maior 41
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poder político e econômico. Esse fenômeno provoca uma reestruturação territorial, altera a infraestrutura da cidade ou bairro em que ocorre. As reestruturações urbanas exigem mudanças tanto no tecido urbano e planejamento urbanístico, como também nas setorizações, organizações e tipologias arquitetônicas. A arquitetura nas cidades está associada não somente às edificações e suas funções de uso tipológico, que trata somente das atividades que serão realizadas internamente nestes espaços, mas se relaciona de forma muito intensa ao movimento, ao fluxo do bairro ao qual se insere, à estrutura territorial da cidade. Dessa forma se torna peça fundamental no planejamento urbano e nas relações sociais exercidas nos espaços, privados e públicos como: ruas, calçadas, praças, como também nas relações das pessoas com os edifícios e com as zonas da cidade. Quaisquer edificações, a depender do uso e localização, podem conferir maior ou menor movimento, podem provocar sazonalidade em meses do ano ou horários do dia, isso interfere diretamente nos principais locais públicos de uma cidade ou bairro. Quando ocorre um processo de gentrificação, como em nosso território de estudo, no qual a orla da praia foi ocupada por bares e restaurantes, hotéis, resorts e casas de veraneio ou segundas residências, as moradias antes existentes nesses locais bem como as relações profissionais e sociais que existiam ali se afastaram para o interior do Bairro, provocando esse tipo de sazonalidade. O uso se restringe de forma intensa a altas temporadas, como férias (julho, janeiro e fevereiro de cada ano), feriados e fins de semana, e nos demais meses do ano e dias da semana com menor intensidade. Há reflexos na organização territorial, nos preços dos imóveis, nos espaços mais ou menos valorizados do território, provocando esvaziamento humano e também o que se nomeia como “vazio urbano.” Segundo Gonçalves (2010, p. 03),
O mercado imobiliário, via de regra, conduz ao processo especulativo, que por sua vez mantém a tendência à expansão e à formação de vazios. A expansão e a criação dos vazios urbanos podem ser consideradas causa e consequência da especulação imobiliária e da busca incessante da valorização de terras urbanas. O traçado urbano ocorre também por uma combinação de fatores como: interesses privados e do governo, especulação e valorização imobiliária, por núcleos de ocupação afastados das áreas centrais ou valorizadas (como orlas de praia), que prova expansão e espraiamento. À medida que a chamada malha urbana cresce horizontalmente, formam-se estes vazios. (GONÇALVES, 2010)
No entanto, o que vemos não são vazios formados apenas por terrenos especulados pelo sistema imobiliário, mas muitos imóveis que perderam seu uso ou função com o crescimento e espraiamento das cidades e bairros. 42
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No território de estudo deste trabalho, a vila-bairro Coqueiro da Praia são muitos imóveis de veraneio em estado de abandono, muitos por questões de herança, ou mesmo por falta de condições em se manter um imóvel de uso sazonal. Com o espraiamento do bairro e o afastamento da população autóctone para o interior deste, equipamentos de uso público também perdem seu uso. Assim sendo, vazios urbanos indicam alguma alteração ou interrupção na malha urbana. [...] a expressão ´vazios urbanos´ pode ser considerada dupla, pois o espaço não precisa estar necessariamente vazio de uso, pode ser um espaço desvalorizado, mas que tenha um potencial de reutilização. Borde (2006) complementa dizendo que esses vazios também podem ser espaços que contém infraestrutura sem uso, ou seja, não desempenham sua real função diante do cenário econômico ou social da cidade. (DE ANDRADE; SONDA, 2017, p. 04)
De Andrade e Sonda (2017) ainda complementam que os vazios urbanos não devem ser considerados somente como problemas das cidades e bairros, mas sim espaços que esperam por recuperação. Com estratégias de requalificação ou recuperação urbanas é possível promover uma maior continuidade, minimizando os problemas que esses vazios podem provocar no espaço, problemas, por exemplo, como a descontinuidade, o desinteresse e a insegurança. Jabobs (2011, p. 30) aponta que a falta do que ela nomeia como “olhos”, causa desinteresse e insegurança. “Se as ruas de uma cidade parecerem interessantes, a cidade parecerá interessante; se elas parecerem monótonas, a cidade parecerá monótona.” O que quer dizer que quanto mais usos diversificados tivermos, fachadas ativas voltadas para as ruas, mais olhos teremos atentos a elas. O movimento e a continuidade promovem também uma sensação de segurança. Em suma, tanto os vazios urbanos como os vazios humanos, usos sazonais, que provocam em um certo horário ou em uma certa época do ano, o esvaziamento do local torna esse espaço propício à violência, falta de interesse etc.
6.2 Museus, educação e interpretação patrimonial Os museus são equipamentos políticos e sociais, culturais e educativos, devem, segundo Gomes (2017), a partir das ideias de Ana Mae Barbosa (2008), ser um espaço da ludicidade, de interesse, onde as coisas, objetos, acervos não necessitem ser explicados, mas vivenciados. Deve-se considerar que o conhecimento adquirido no museu não acontece de uma única forma, mas pode despertar nos visitantes e usuários a ação, reflexão, interação e afetividade. 43
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A principal proposta do Estaleiro Escola, enquanto núcleo do Museu da Vila, é contribuir na educação ao longo da vida, entre gerações, educação e interpretação patrimonial, com ênfase nas artes de pesca e técnicas de construção de embarcações artesanais, permitindo experiências e vivências dos habitantes da APA Delta do Parnaíba, a começar pela vila-bairro Coqueiro da Praia. Não pretende ser um espaço expositivo de embarcações, mas um lugar onde se possa além de conhecer o ofício e modos de saber-fazer proporcione aprendizagem, geração de renda, redução das vulnerabilidades sociais. A educação e interpretação patrimonial são técnicas, didáticas de sensibilização para a salvaguarda do patrimônio. Horta; Grumberg e Monteiro (1999) afirmam que para a educação patrimonial ocorrer de fato é necessário um processo permanente de educação pautado no patrimônio cultural, considerando-se esse, fonte primária de conhecimento, um conhecimento já existente, no qual se busque a apropriação e valorização das heranças culturais lhes fornecendo capacidade para melhor usufruir desses bens e gerando novos conhecimentos num processo de criação cultural contínuo. Compreendemos que primeiramente deve haver uma sensibilização para reconhecimento dos bens culturais, materiais e imateriais, enquanto patrimônios. Para tal, ferramentas de interpretação patrimonial se relacionam à educação como meios-técnicas que auxiliam a promover essa sensibilização. A interpretação patrimonial não esteve sempre ligada ao conceito de educação, mas sim ao de comunicação, associado principalmente aos parques ambientais (PIRES; FERREIRA, 2007). O conceito primário de interpretação não se distancia das necessidades de aplicação do trabalho realizado, uma vez que, a partir de um inventário de artes de pesca, incluindo as embarcações, já realizado, entendemos a necessidade de uma forma de comunicação, uma interpretação dos resultados. A interpretação patrimonial se apresenta como uma ferramenta de educação que se diferencia, na forma de comunicar o patrimônio cultural, fazendo uso de ferramentas livres e lúdicas trazendo para o processo educativo uma sensação de lazer, gerando aprendizados. (BRUSADIN, 2012) Diversas são as ferramentas interpretativas de educação para o patrimônio, a depender de sua natureza: [...] interpretar é a arte de comunicar mensagens e emoções a partir de um texto, de uma partitura musical, de uma obra de arte, ou de um ambiente ou de uma expressão cultural. E o que é interpretar o patrimônio? É o processo de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de informações e representações que realcem a história e as características culturais e ambientais de um lugar. (MURTA; GOODEY, 2002, p. 13)
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Para a escolha dos meios e técnicas para interpretar o patrimônio, há de se considerar o conhecimento do território, do objeto a ser interpretado e dos públicos aos quais se destina. Considerando que a comunidade local usuária deve ser a primeira a reconhecer o próprio patrimônio, permitindo a construção de formas, ferramentas e mecanismos de apresentação e comunicação. (TOFOLLO; CARDOZO, 2013) A interpretação, ao comunicar a história e a cultura de um lugar, além de destacar o diferencial que estimula visitantes, também acaba por despertar na própria comunidade orgulho sobre seu patrimônio cultural, sensibilizando e favorecendo práticas de preservação. (ALBANO, 2002). Baseados nestes conceitos de educação e interpretação patrimonial, buscamos fundamentar a prática principal do Estaleiro Escola do Museu da Vila, em que pretendemos usufruir de ferramentas interpretativas com o apoio da comunidade local, para a valorização e salvaguarda do patrimônio cultural associado às artes de pesca. A estratégia interpretativa a ser adotada dependerá das características culturais e ambientais do lugar, dos recursos humanos e financeiros disponíveis e do perfil do público que se quer atingir. Tal estratégia pode incluir trilhas e roteiros sinalizados, treinamentos de guias e condutores para acompanhar grupos de visitantes; publicações de mapas ilustrados e folders [...]. (MURTA; GOODEY, 2002, p. 23 e 24)
Segundo Murta e Goodey (2002), as estratégias de interpretação podem ser agrupadas em 3 categorias, textos e publicações, design e interpretação ao vivo (com auxílio de guias). No Estaleiro Escola sugerimos o uso da técnica baseada no design, caracterizada pelas autoras como modelos e reconstruções. Os modelos que podem ser miniaturas ou cópias de figuras em tamanho real têm um poder atrativo e mantém atenção, por serem muito próximos à realidade. Um exemplo do uso desta técnica são os modelos em cera de Mme. Tussaud. (MURTA; GOODEY, 2002) Baseamo-nos nas técnicas interpretativas e nos estudos de casos trazidos na obra das autoras, apresentados como boas práticas e buscamos aplicar usando os modelos de embarcações artesanais, como principal ferramenta interpretativa do patrimônio ligado às artes de pesca da vila-bairro Coqueiro da Praia. A proposta é uma forma de educação na qual “os visitantes devem tocar todas as exibições para experimentar e compreender princípios científicos e processos tecnológicos.” (MURTA; GOODEY, 2002, p. 33) Quando buscamos formas e metodologias diversas para proporcionar uma educação para o patrimônio, principalmente voltada para uma comunidade, ou seja, o nosso público não é somente o que nos visita, mas também é partícipe do processo, tratamos também de uma inovação na área social. É 45
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necessário, portanto, a compreensão da relação entre Ecomuseu, museologia, território e inovações sociais que ocorrem com o fenômeno museu.
6.3 Museologia, inovação social e acupuntura urbana Iniciamos esta sessão com o questionamento: Qual a relação entre a museologia social e a inovação social? Essa proposição está atravessada por tensões. Iniciamos pela museologia, uma ciência social aplicada, interdisciplinar, em construção, que estuda os museus, atualmente não mais associados a coisas velhas, do passado, mas um equipamento que promove a inovação, no caso do ECOMUDE, uma modalidade de museu, um ecomuseu, que objetiva com e para as comunidades da APA Delta do Parnaíba, construir territórios sustentáveis. A 23ª conferência geral do ICOM, em 2013, no Rio de Janeiro, Brasil, teve como tema: memória e criatividade produzem mudança social. Naquela ocasião, o colombiano Jorge Melguizo trouxe questionamentos relacionados à transformação que o museu deveria exercer nas pessoas, pontuando a relevância de se pensar o que acontece com as pessoas quando saem do museu, ou seja, de que forma o museu impacta, influencia ou as transforma. A partir do questionamento sobre o que acontece quando saímos dos museus, começamos a pensar então, o que o museu nos deu, não no sentido de um objeto ou souvenir, mas sim aquilo que nos tocou. (LEITE, 2014) A função social do museu está associada à participação efetiva do usuário de forma interativa, pessoa que traz consigo ao museu vivências e experiências, que colaboram para a construção de novos conhecimentos apreendidos no espaço museológico. Leite (2014) trata o museu contemporâneo como um espaço de encontro, mediador, facilitador e não como tradicionalmente era conhecido, como transmissor de narrativas, deslocadas de interação com os mais variados públicos. Os museus e os processos museológicos, entre as várias configurações sociais, são locais que podem facilitar esse processo de encontro entre os seres humanos consigo mesmo e com os outros. Esse reconhecimento de si e dos outros pode ser uma base para experimentar os processos de inovação social e empresarial. (LEITE, 2014, p. 02)
A inovação traz uma proposta de dar vida, para que o visitante ou usuário possa sentir o que acontece cotidianamente no contexto do território e comunidade. Um museu pode e deve ser um espaço de criatividade, que suscita a ideia de um museu não mais conservador de patrimônios, mas construtor de novos patrimônios. (LEITE, 2014) Segundo Leite (2014), esta escolha pela inovação e não pela tradição parte também dos preceitos abordados pelas ideias da Nova Museologia, que pro46
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põe um museu mais inclusivo no qual o território, a cidadania e a comunidade são os principais atores sociais. O curador é a própria comunidade, de forma participativa. Há a mobilização de saberes e narrativas construídas a partir de encontros. O que não significa que devamos abandonar totalmente a tradição, mas trazer para o conhecimento da comunidade o reconhecimento do que é o patrimônio cultural tradicional e juntos ressignificar para construir novas narrativas e novos saberes. O Ecomuseu, no caso deste estudo no contexto do Projeto Matriz Ecomuseu Delta do Parnaíba, de característica descentralizada e polinuclear, tem esse caráter de uma museologia de inovação social. O Ecomuseu pode se apresentar em diversas formas e estruturas, ter o território como espaço museológico, como alguns espaços urbanos (núcleos) no território, a exemplo edificações sem uso social ou terrenos vazios, os já citados vazios urbanos, a fim de colaborar no reconhecimento e ressignificação de patrimônios. Para Rivière (2015, p. 191): Un ecomuseo es un instrumento que un poder público y una población conciben, fabrican y explotan continuamente. Dicho poder, con los expertos, las facilidades, los recursos que él le proporciona. Dicha población, según sus aspiraciones, su cultura, sus facultades de aproximación. Un espejo en el que esa población se mira, para reconocerse en él, donde busca la explicación del territorio al que está unido, junto al de las poblaciones que la han precedido, en la discontinuidad o la continuidad de las generaciones. Un espejo que esa población presenta a sus huéspedes, para hacerse comprender mejor, en el respeto a sus trabajos, sus comportamientos, su intimidad.
Ao oferecermos uso social a um espaço vazio em um território, estamos a desenvolver processos museológicos inovadores. Ocupar vazios e espaços públicos é estratégico na requalificação urbana, também conhecida, a partir do discurso de Jaime Lerner, como acupuntura urbana (LERNER, 2011 ), que pode ser uma aliada para pensarmos as estruturas voltadas para a gestão dos patrimônios na vila-bairro local deste estudo. Promover a inovação social com a criação de um equipamento arquitetônico, com a estratégia da acupuntura urbana, nos aproxima do ideal de uma museologia de inovação social. Cada etapa do processo de construção da ideia com a participação da comunidade a ser beneficiada. A estratégia da acupuntura urbana faz uma analogia à tradicional terapia oriental, na qual se realizam determinados procedimentos em pontos específicos do corpo e com isso se melhora o sistema interligado do organismo vivo. Arquitetos e urbanistas compreendem os territórios e as relações das pessoas com o espaço urbano, como organismos vivos, em constante mutação e interferência.
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Acredito que algumas ´magias´ da medicina podem, e devem, ser aplicadas às cidades, pois muitas delas estão doentes, algumas em estado terminal. Assim como a medicina necessita da interação entre médico e paciente, em urbanismo também é preciso fazer a cidade reagir. Cutucar uma área de tal maneira que ela possa ajudar a curar, melhorar, criar reações positivas e em cadeia. É indispensável intervir para revitalizar, fazer o organismo trabalhar de outra maneira. (LERNER, 2011, p. 07)
A afirmação do autor trata de possibilidades de requalificação nos e dos espaços urbanos, já muito difundida no campo de estudos do urbanismo contemporâneo, no entanto, com a nova nomenclatura, nos apresenta como uma técnica inovadora, com características próprias e que foram usadas neste trabalho. Para ser considerada uma acupuntura urbana devemos compreender alguns itens essenciais de intervenção. Primeiro, é necessário determinar ou identificar um ponto sensível no território para ser reanimado, requalificado; o local deverá compor e criar um ambiente que se comunique com a identidade local, deve ser um ato rápido, justamente em rebate ao planejamento urbano tradicional que é bastante demorado. É importante a participação das pessoas, comunidade local no planejamento da intervenção, ter um fundo educativo de apreensão e pertencimento. O ideal da acupuntura é que tenha uma abordagem holística, conferindo mais responsabilidades à população, que deve replicar a compreensão e apreensão dos espaços urbanos, que podem acontecer em pequena escala mas com o intuito de se replicar em mais e mais ações pontuais e com isso criar lugares que promovam ou resgatem a identidade cultural de um território ou de uma comunidade. (SILVA, 2019) A partir desses itens de intervenção, compreendemos que a estratégia da acupuntura urbana se aplica de forma adequada aos diversos equipamentos, Polos e Núcleos do ECOMUDE, com é o caso do Museu da Vila e do Estaleiro Escola, bem como as intervenções e eventos temporários, a exemplo a Feira do Patrimônio em suas várias edições anuais (de 2016 a 2019). Esses procedimentos podem gerar não somente conhecimentos para a salvaguarda dos patrimônios, mas a apreensão de modos de saber-fazer antigo e novos, que podem ser transformados em valorização, reconhecimento e geração de emprego e renda, contribuindo na construção de territórios sustentáveis, melhoria da qualidade de vida nas comunidades.
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7. Desenho Metodológico Este trabalho se caracteriza como uma pesquisa-ação, uma pesquisa participativa, com estudos e intervenções, o que inclui um relatório e produto finais, resultado da colaboração e participação da sociedade e comunidades locais, intervenções e atividades diversas realizadas no território. O planejamento de uma pesquisa-ação é muito flexível. Contrariamente a outros tipos de pesquisa, não se segue uma série de fases rigidamente ordenadas. Há sempre um vaivém entre várias preocupações a serem adaptadas em função das circunstâncias e da dinâmica interna do grupo de pesquisadores no seu relacionamento com a situação investigada. (THIOLLENT, 1986, p.47)
Pela natureza deste trabalho usamos uma pluralidade de métodos e técnicas ao longo do percurso da pesquisa-ação, dos estudos e intervenções. Usarmos a estratégia da triangulação metodológica, na qual o pesquisador, a partir de um ponto de vista, se posiciona em outros dois pontos de vista no mínimo, a fim de ajustar sua análise e adequar a avaliação. Há a possibilidade de uma melhor precisão na avaliação quando se usa diferentes metodologias, o que inclui a coleta de dados de diversas formas, análise por métodos 49
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distintos, com pontos de vista de diferentes pesquisadores para o mesmo estudo. (AZEVEDO et.al, 2013) Em nossos estudos e intervenções em território da APA Delta do Parnaíba, identificamos e analisamos pesquisas bibliográficas e relatórios técnicos e trabalhos de campo realizados pelas equipes do ECOMUDE e do ICMBio. O que incluem os conhecimentos elaborados no e sobre os territórios ribeirinhos, praieiros e deltaicos, com diversas ações educativas e culturais, aquelas entre 2008 a 2018 e de 2018 e 2019, nas quais participei como mestranda, a exemplo, a Feira do Patrimônio nas edições de 2018 e 2019, inserção nos grupos de trabalhos de produção da Feira que contribuiu sobremaneira para a efetivação desta pesquisa-ação, proporcionando a convivência com as pessoas, comunidade acadêmica, moradores do Bairro e usuários do MUV. O caminhar com o olhar atento, observando o cotidiano, formas de ser e viver, o espaço urbano e as lógicas de uso dos espaços do Bairro, nos permitiram compreender as necessidades e potencialidades do lugar, orientando a pesquisa.
// Figura 5: Macrolocalização cidade de Luís Correia. Indicação do Bairro Coqueiro da Praia // Fonte: Google Earth, 2019. Editado por Victor Veríssimo
Partimos para estudos mais aprofundados sobre o acervo operacional e institucional do ECOMUDE, sob a guarda do Museu da Vila. Esse momento, nomeado por Michel Thiollent, como fase exploratória da pesquisa, “[...] que consiste em descobrir o campo de pesquisa, os interessados e suas expectativas e estabelecer um primeiro levantamento (ou ‘diagnostico’) da situação, dos problemas prioritários e eventuais ações.” (THIOLLENT, 1986, p. 48). Usamos a observação direta e participante, pesquisa etnográfica (CARVALHO, 2019) e também a história oral (ALBERT, 2013). Passamos para análise bibliográfica e documental das pesquisas realizadas no território, como o Inventário das Artes de Pesca, realizado pela turma 3 do PPGAPM 50
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e relatório do Projeto Por entre Rio e Mar [Delta do Parnaíba - Piauí], das professoras Áurea Pinheiro e Cássia Moura. Percebemos nesses estudos, a importância de um olhar especial para as embarcações e suas técnicas de construção artesanais, a significativa perda desse patrimônio cultural imaterial. O Inventário foi atividade de 15 mestrandos sob a orientação das referidas professoras. Cada mestrando foi responsável por identificar um pescador e documentar a embarcação (canoa) e os artefatos de pesca usados no cotidiano do ofício, totalizando 15 pescadores e embarcações. A metodologia usada foi a pesquisa social aplicada e qualitativa, com métodos e técnicas da etnografia e da história oral, as orientações do Manual de Aplicação do INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Nos relatórios do Inventário estão as referências teóricas, fichas com informações técnicas, tesauro, medidas dos objetos, técnicas construtivas, materiais usados, entrevistas, memórias, histórias etc. (Cf.: Repositório Digital do ECOMUDE). No Repositório Digital do ECOMUDE sob a gestão do PPGAPM em parceria com o Projeto Tainacan encontramos a base teórico-prática deste trabalho, partimos para a coleta das informações contidas nos relatórios, o que inclui as embarcações inventariadas, parte do acervo operacional do ECOMUDE. Em 2018 uma das embarcações do acervo operacional foi adquirida pelo MUV e passou a ser parte do acervo institucional, portanto, ao longo da pesquisa necessitamos compreender os procedimentos do ECOMUDE e MUV. Com os estudos bibliográficos e de campo buscamos uma compreensão técnica das artes de pesca, construção de embarcações e modelismo naval. Como resultados fizemos estudos preliminares, desenhos técnicos e maquetes (eletrônicas e físicas em madeira) de uma canoa, a partir das informações disponíveis naquele Inventário e Tesauro, bem como o contato direto com os pescadores e construtores locais. Recorremos à metodologia usada por Andrés (1998), “[...] para familiarizar todos os integrantes da equipe com a linguagem [...], adotamos o estudo da ‘anatomia’ da embarcação [...]”. Durante essa etapa, que consideramos como parte de uma imersão no território, nos valemos também da história oral, com a realização de entrevistas temáticas. Nesse percurso, descobrimos memórias interessantes como as histórias da “Canoa Vovó”, narrada por um dos contadores de histórias locais, o Senhor Antônio da Laura. A história daquela embarcação nos orientou em pontos da pesquisa e reafirmou a importância da documentação, dos inventários participativos para a salvaguarda dos patrimônios, o que inclui o patrimônio imaterial. A Canoa do Senhor Antonio da Laura, a Canoa da Vovó, foi doada por ele para o MUV. Essa embarcação está a ser usada nas aulas de conservação e restauro do PPGAPM, que ocorrem no MUV, e estará totalmente recuperada até o segundo semestre de 2021. O contato direto 51
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com a canoa, nos intrigou um olhar mais atento para o território urbano, que a partir dos conhecimentos como arquiteta e urbanista, nos despertou para os vazios urbanos e edificações em estado de abandono, que nos sugerem a implementação de uma ação de intervenção, em forma de um produto arquitetônico, que permitirá conservar e salvaguardar patrimônios material e imaterial. Como referência de boas práticas, identificamos projetos bem-sucedidos de salvaguarda dos ofícios e modos de saber-fazer associados às artes de pesca e técnicas artesanais de construções de embarcações. Dentre os quais, o Núcleo Naval do Seixal (Ecomuseu de Seixal), Portugal; o Museu Nacional do Mar, São Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil); e a Unidade Vocacional Estaleiro Escola, São Luís, Maranhão, Brasil. Essas instituições trabalham com educação patrimonial associada às construções de embarcações artesanais, incluem oficinas e escolas vocacionais de construção e/ ou de modelismo naval. Em um segundo momento da pesquisa, fizemos visitas in loco, à Unidade Vocacional Estaleiro Escola em São Luís, para conhecimento da pesquisa realizada e também para conhecermos a infraestrutura do projeto, desde a arquitetura da edificação até o funcionamento dos diversos cursos e oficinas e os recursos necessários. Nesse momento, usufruímos da observação direta, para análise, nomeadamente em arquitetura, como estudo de caso correlato. A nomeada imersão no território foi a principal forma de nortear os métodos e técnicas de pesquisa, que permitiu a construção do produto final deste trabalho. No entanto, era necessário ainda identificar junto à comunidade a importância desses patrimônios e as perspectivas de sucesso na implementação de um projeto desta natureza, um Estaleiro Escola. Aplicamos um questionário semiaberto com o público interessado na proposta, os convidamos a participarem das oficinas de modelismo e rodas de memórias, onde foi possível as trocas de conhecimentos. Promovemos ações de sensibilização com atividades educativas e interpretativas que trataram especificamente das embarcações como forma de fomentar e ressignificar os modos de saber-fazer. Oficinas de maquetes de canoas em madeira, percepção afetiva e técnica das embarcações, que colaboraram tanto para a constituição de acervo do MUV como também como ações educativas e culturais, que ajudam a promover a pesquisa, documentação e salvaguarda do patrimônio material e imaterial. Para a elaboração do projeto arquitetônico do Estaleiro Escola do Museu da Vila, usamos metodologias para projetos de arquitetura: estudos de caso correlatos, observação direta e pesquisa bibliográfica, para elaborar um programa de necessidades e fluxograma, análise de entorno e contexto, análise do terreno insolação e ventilação, análise da legislação do município de Luís Correia ( Lei nº 697 Uso e ocupação do solo urbano e Lei nº 699 Comple52
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mentar do código de obras) e normas ( NBR-6492 representação gráfica de projetos de arquitetura e NBR-9050 Acessibilidade a edificações) e Instruções técnicas estaduais do Corpo de bombeiros. Para a produção gráfica do projeto arquitetônico usamos os softwares Autocad (2016, educacional), Sketchup Make (2017), Lumion e Revit (2019).
7.1 Local de estudo 7.1.1 Acupuntura: Análise e ocupação do vazio urbano
// Figura 6: Contexto urbano bairro Coqueiro da Praia, cidade de Luís Correia, Piaui. // Fonte: Google Earth, 2019. Editado por Victor Veríssimo
Este projeto-ação beneficiará 300 famílias da vila-bairro Coqueiro da Praia. Apesar da ação prática ser locada em um ponto estratégico nas proximidades do Museu da Vila, ela abrange o todo da paisagem cultural ao entendermos que a comunidade já faz parte dessa paisagem enquanto patrimônio, ou seja, as pessoas e seus modos de saber-fazer são também patrimônio e são ao mesmo tempo protagonistas das ações que realizamos. Que local é este? O porquê de sua escolha? Estas respostas surgem junto com as vivências do lugar e de nossas experiências ao imergir com as pessoas no território. A observação participante em um complexo de edificações em estado de abandono, dentre elas um Grupo Escolar do Governo do Estado, há mais de 7 anos desativada, sem uso, que foi requalificado e hoje é sede do PPGAPM e do MUV. Karina Cadena, mestranda da 3ª Turma 3ª elaborou o projeto arquitetônico e complementares para novo uso social da referida edificação, localizada com sua fachada principal voltada para a Rua José Quirino em frente à edificação para a qual estamos a propor a criação do Estaleiro Escola. 53
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// Figura 7: Microlocalização, bairro Coqueiro da Praia. Indicando Museu da Vila e Edificação sem uso. // Fonte: Google Earth, 2020. Editada pela autora
Em frente ao MUV há outras duas edificações em estado de abandono, uma delas funcionou uma Agência da Companhia de Energia Elétrica do Estado do Piauí. É um espaço pequeno, porém com área externa disponível, para possíveis ampliações; a outra edificação, funcionou o Posto de Saúde do Bairro e está cedido para um projeto esportivo de artes marciais.
// Figura 8: Fachadas das edificações sem uso, bairro Coqueiro da Praia, rua José Quirino. // Fonte: Google Earth, 2020. Editada pela autora
Estamos a usar o espaço livre das edificações em frente ao MUV, que nos serve de apoio, de local de encontro, sociabilidade, boas conversas, descanso, intervenções de arte, de lazer e criação. Nesse espaço começamos a fabricar mobiliários com madeira de pallets. Projetos de mobiliário para o MUV e para a 3ª Feira do Patrimônio (2018), que faz parte da Programação Educati54
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va e Cultural do MUV e do PPGAPM. Quando as pessoas passavam e estávamos trabalhando, perguntavam: quanto custa? Referindo-se aos mobiliários e objetos que estavam sendo desenvolvidos pelos mestrandos para o MUV, percebemos o potencial do lugar, do ofício da marcenaria e dos produtos. Pensamos inicialmente que o espaço poderia ser usado para abrigar uma marcenaria, que chamamos de Marcenaria da Vila. O lugar escolhido para instalar a marcenaria atingia as primeiras necessidades de uso, com intenção de criar produtos para o MUV e também trabalhar com oficina de modelismo naval, para ressignificar os modos de saber-fazer das artes de pesca, associando o espaço arquitetônico ao MUV e valorizando os patrimônios locais. A escolha do lugar se aproxima do conceito da acupuntura urbana, no momento em que lançamos o olhar para um local em estado de abandono, próximo ao já em funcionamento Museu da Vila, com grande potencial para se tornar um equipamento cultural, educativo, social e pela efervescência das atividades que já aconteciam de forma efêmera e natural no espaço. Um terreno quando fica vazio, tem que ser preenchido imediatamente, de preferência com alguma atividade de animação. Defendo até se instalarem atividades provisórias para consolidar algumas atividades até que surjam novos projetos. É a acupuntura das novas estruturas através da instalação de estruturas portáteis, que possam ser colocadas no local até para garantir vida, revitalizar uma região, gerando a função urbana que está faltando. (LERNER, 2011, p.37-38)
// Figura 9: Planta baixa esquemática, proposta marcenaria. // Fonte: Desenho elaborado por Mariana Bezerra em software Sketchup MAKE, 2019
De início, os espaços foram pensados para o mínimo de intervenção na parte construída original da edificação, a intenção era ocupar de forma mais 55
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efetiva e consolidar a movimentação que já estava em ebulição. Usamos somente uma parte do complexo, visando, assim, rapidez e menor custo. Conforme a figura acima, o espaço foi setorizado para atividades diferentes: 1) ferramentas de menor porte, expostos em painel perfurado e mesa de apoio para desenho, planejamento e pequenos ajustes. No espaço também permaneceria um depósito original, onde se pretendia armazenar as máquinas e equipamentos de maior valor, para segurança, banheiro também já existente, e uma mesa com computador, para uso de softwares de modelagem, projetos, orçamentos e demais necessidades de escritório. 2) a ser construído como anexo, foi pensado um espaço mais amplo e arejado, com acesso por dentro da marcenaria ou pela parte externa, com mesas grandes para servirem de apoio a cortes e montagens de maior porte. Espaço que também abrigaria um bom ambiente para os cursos e oficinas previstos. 3) externo, criaríamos um lounge, para ser um local de espera e convivência, um lugar para exposição dos produtos a serem criados na marcenaria.
Durante estudos e análise para realização do projeto, visando a implementação de uma marcenaria completa, para uso de pelo menos 3 ou 4 pessoas ao mesmo tempo, na oficina, para o trabalho com madeira, foi estimado uma lista de materiais e ferramentas necessárias ao uso compartilhado, listados a seguir: Ferramentas Serra Circular Bancada de Corte Serra Tico-Tico Furadeira Parafusadeira Martelo Serrote Kit Chaves Fita métrica – trenas Grampo Seco Grampo Seco Marcenaria Grampo Multiuso Plaina Manual Plaina Elétrica Esmerilhadora/Lixadeira Formão Kit Brocas Furadeira de Bancada Arco de Serra Aspirador de pó Compressor de Pintura Computador NTC Intel Core i3-4170, 4GB, 500GB Impressora jato de Tinta Licença de softwares de desenho e modelagem computacional
Mobiliário | Equipamentos Mesa escritório Cadeiras Bancadas multiuso Bebedouro Splits
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Quantidade 1 1 2 2 2 4 4 2 4 6 4 6 3 1 1 4 1 1 2 1 1 1 1 2
Quantidade 1 2 3 1 2
// Tabela 1: Materiais e equipamentos para marcenaria // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
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Ao refletirmos e avançarmos com os estudos e pesquisas, com o uso temporário do espaço objeto deste trabalho, percebemos as necessidades de ampliar as funções da marcenaria, sua ligação mais próxima do MUV e dos patrimônios locais, o que incluem proximidade e acesso fácil à orla da praia e ao acervo operacional. Buscamos, então, aproximar a temática das artes de pesca, transformando o espaço em um lugar de ressignificação das técnicas de construções de embarcações. Essa proposta ganhou força com a chegada da “Canoa Vovó”, que necessitava de um espaço para ser restaurada, interpretada, exposta e estudada, por seu valor como patrimônio da comunidade. Ampliamos o Projeto Arquitetônico para abrigar objetos de artes de pesca que não mais comportavam no Museu da Vila, bem como atender às necessidades que começaram a surgir à medida que o MUV se afirma como equipamento cultural na comunidade. O Projeto da Marcenaria da Vila cede lugar ao Projeto de um Estaleiro Escola, espaço planejado para o exercício do ofício e modos de saber-fazer de carpinteiro naval e demais atividades associadas às construções de embarcações artesanais, ao modelismo naval, como ferramenta interpretativa dos ricos e complexos patrimônios salvaguardados em equipamentos semelhantes ao Estaleiro Escola propusemos.
7.1.2 Levantamento Técnico e legislação Com a necessidade de ampliar a proposta arquitetônica para a nova demanda, buscamos conferir medidas, no próprio local, agora, ampliado para todo o complexo de edificações, considerando as duas estruturas existentes e também os espaços vazios perimetrais do lote disponível. Somente com as reais medidas disponíveis foi possível iniciar o planejamento dos espaços, elencando prioridades para o programa de necessidades da nova edificação.
// Figura 10: Levantamento técnico inicial // Fonte: Mariana Bezerra, 2019
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As medidas foram calculadas de forma participativa, agregando conhecimentos e técnicas de colaboradores, como do engenheiro civil Francisco de Assis dos Santos Barbosa, mestrando da 5ª Turma do PPGAPM. A participação de um profissional de engenharia no levantamento foi de suma importância pela experiência prática, colaborando na conferência de ângulos, presentes no perímetro do lote, como também a constatação de níveis no terreno. Para as medidas e conferências de perímetro, usamos trena de fita e trena a laser, grafite e papel para as anotações. O local não apresenta significativos desníveis no solo, no entanto se apresenta com uma planta bem irregular em sua forma, tornando a área útil reduzida. Por conter construções dentro do perímetro do lote, conferimos todas a medidas do terreno e das construções para propor aproveitamento e demolição. Os primeiros estudos se basearam no aproveitamento máximo do terreno. Necessária foi uma análise da legislação municipal vigente. O primeiro parâmetro que buscamos nos ancorar foi a lei nº 697, de 30 de junho de 2010, que dispõe sobre o uso e a ocupação do solo urbano no município de Luís Correia. Para implantação de qualquer tipologia de arquitetura é necessária a compreensão do zoneamento do município e os usos permitidos para cada zona e subzona. Essa foi nossa principal preocupação: conferir se na zona na qual nosso terreno escolhido estava inserido permitiria a construção de um Estaleiro, oficina, marcenaria ou similar.
// Figura 11: Mapa de zoneamento da cidade de Luís Correia-PI // Fonte: Plano Diretor da cidade de Luís Correia, editado por André Sampaio, 2020.
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O terreno está localizado na Zona de Consolidação II - ZCO II, que apresenta alguns dos usos permitidos em quaisquer lotes que estejam inseridos nesta região.
// Tabela 02: Identificação de usos permitidos no lote. // Fonte: Lei complementar nº697. Editado por Mariana Bezerra, 2019.
Os usos permitidos para a zona conforme tabela acima, Anexo II da legislação, são: comercial e serviços tipos 1 e 2, institucional tipo 1 e industrial e abastecimento tipo 1. Todas essas tipologias se apresentam detalhadas no Anexo I da legislação. Analisando cada uma das tipologias permitidas, em que a) marcenarias e carpintarias estão inseridas dentro da tipologia A1, constatamos como permitida a construção e instalação do Estaleiro Escola no lote escolhido. Em seguida, partimos para análise do terreno, das condicionantes legais. Ainda na mesma legislação verificando quais recuos mínimos devem ser adotados para o projeto e construção, ou seja, qual a área útil para construção da futura proposta. Segue imagem do anexo II, do código de obras, que dispões sobre as exigências mínimas obrigatórias:
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As edificações existentes no lote não seguem as normas atualizadas, possivelmente por terem sido executadas em época anterior à sansão da legislação vigente, que é do ano de 2010.
// Tabela 03: Exigências mínimas código de obras municipal
Quanto aos gabaritos, alturas permitidas para edificações tomamos como base o estudo realizado para a proposta arquitetônica de novo uso do edifício que hoje abriga o Museu da Vila. A legislação nos permite construir até uma altura de 12,5m, algo em torno de 4 pavimentos (CADENA, 2019). Porém, se pretendemos criar um complexo com unidade visual, necessária se faz a busca por uma identidade, e um dos parâmetros adotados foi a altura da edificação, limitando nosso gabarito em função de uma proporcionalidade ao gabarito adotado para o Projeto Arquitetônico do MUV, ou seja, 2 pavimentos.
// Fonte: Plano Diretor da cidade de Luís Correia, editado por André Sampaio, 2020.
As vias de acesso são importantes parâmetros de análise para o planejamento da proposta. O posicionamento das fachadas, dos ambientes devem ter relação direta com acessos de pessoas, o trânsito no Bairro, a interação com o Museu da Vila e com a orla da praia. O Acesso pela rua José Quirino se torna uma espécie de “boulervard” que integra o complexo, Museu da Vila e Estaleiro Escola (ambos em destaque no mapa). É importante o diálogo entre os dois edifícios que têm suas fachadas voltadas para a referida rua, principalmente quanto ao movimento de pedestres de um edifício ao outro. É necessário pensar na constituição de uma sinalização efetiva e um sistema de redução de velocidade para os veículos que acessam ao bairro por essa via.
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// Figura 12: Vias Coletoras e Locais do entorno da Edificação // Fonte: Karina Cadena, 2019, editado por Mariana Bezerra, 2020.
Outra via de importância e parâmetro para o projeto é a Rua Antonieta Reis Veloso, que dá acesso direto à orla da praia. O lote estudado apresenta um desnível significativo em relação ao nível da rua, na lateral voltada para a avenida Antonieta Reis Veloso, o que nos motiva a planejar acesso mais fácil ao lote seguindo também as normas de acessibilidade vigentes, NBR 9050/2015.
// Figura 13: Desnível do lote em relação a rua. // Fonte: João Paulo Brito, 2019.
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7.2 Imersão no território 7.2.1 Pesquisa no Acervo do Museu da Vila para composição da expografia Como parte do Curso de Museografia no PPGAPM realizado no MUV sob a coordenação dos Professores Áurea Pinheiro e Jonei Bauer, nos unimos aos discentes da 5ª Turma, que foram desafiados a realizar uma nova programação de exposição, de longa duração para o MUV, no contexto do Projeto Exercícios Museográficos2, iniciado pelo PPGAPM ainda em 2015, sob a coordenação das professoras Áurea Pinheiro, Ana Rita Antunes e Cássia Moura. O desafio foi que os mestrandos usassem os acervos institucional e operacional do MUV para comunicar a missão, visão e vocação do Museu. Os acervos estão documentados e foram usados pelos mestrandos nas atividades de estudos e intervenções. São embarcações e artes de pesca, registros fotográficos e audiovisuais que representam o cotidiano das comunidades locais, suas memórias e histórias. Três embarcações artesanais compõem o acervo institucional do MUV: _01(uma) Canoa Monóxila, uma canoa confeccionada em um só tronco de árvore, conhecida na linguagem popular - canoa de um pau só, de origem indígena. Está no MUV na condição de comodato-empréstimo. Pertence ao padre alemão, membro do corpo docente do PPGAPM, Henrique Hegemann, etnólogo e colecionador, que reside em Luís Correia há mais de 30 anos. Dados atualizados (2019) – documentação e estado de conservação Canoa Monóxila, de autoria da Professora Mestre Elenilce Soares Mourão em trabalho realizado no MUV com mestrandos da Turma 5 do PPGAPM, na disciplina Conservação e Restauro.
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O Projeto Exercício Museográficos teve início em 2016 e tem a coordenação das professoras do PPGAPM da UFPI Áurea Pinheiro, Cássia Moura e Ana Rita Antunes. A primeira exposição resultado desse Projeto tem raiz no trabalho da fotógrafa e documentarista Cássia Moura, imerso no contexto de produção do Inventário Nacional de Referências Culturais da Arte Santeira do Piauí. Naquele momento, elaboramos o conceito dos exercícios museográficos e assumimos construir a exposição como um aprendizado teórico-prático no campo da museologia e museografia colaborativa e experimental. A Exposição “Senhores de Seu Ofício” esteve na Casa Grande dos Dias da Silva, no Centro Histórico de Parnaíba, um dos municípios da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba. A ideia foi a equipe selecionar do acervo de Cássia Moura fotografias, vídeos, textos e conceber oficinas de conservação e restauro e viva da arte santeira; produzir fotografias, vídeos do trabalho em construção e os editar, em uma oficina de edição de imagem, que se realizaria no próprio espaço expositivo onde ocorreram os exercícios museográficos. Estivemos atentos aos diálogos mais recentes no campo da programação de exposições, o que envolve ação educativa-cultural em museus. A equipe foi convidada a emitir ideias, elaborar um diário gráfico, tomar notas, registrar o trabalho que realizamos dia após dia, para termos uma memória crítica e visual dos exercícios. O Museu da Vila tem a missão de ser um espaço socioeducativo aberto à comunidade, um equipamento cultural a abrir portas para construirmos sociabilidades, solidariedades, encontros livres uns com os outros, de partilha, engajamento e consciência coletiva. A visão do Museu é ser um museu em constante construção com e para as pessoas, porque um museu sem pessoas é distante, frio, incompreensível, irrelevante. No que refere à vocação, o Museu está vocaciona à pesquisa, documentação, preservação e comunicação do rico e complexo patrimônio cultural da vila-bairro Coqueiro, habitada por famílias de pescadores artesanais.
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TÍTULO/TEMA: Embarcação fluvial MATERIAL: madeira (possivelmente tamboril) TÉCNICA: Artesanal (entalhe/por subtração) Monóxila (construída sobre bloco único) DIMENSÕES: Canoa: 3,65 m x 0,49 m x 0,58 m; Base: 0,98 m x 0,74 m x 0,23 m AUTOR: não identificado ORIGEM DA MANUFATURA: desconhecida PROCEDÊNCIA: APA do Delta do Parnaíba (divisa do Piauí com o Ceará) PROPRIETÁRIO: Padre Henrique Hegemann (alemão), gestor da Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes, na Ilha Grande (um dos dez municípios que integram a APA Delta do Parnaíba) DESCRIÇÃO: embarcação fluvial em madeira opaca acinzentada, entalhada em bloco único, sem tratamento de verniz, predominância de forma: horizontal, disposta sobre suporte com dois pés, também em madeira entalhada com baixo relevo, parcialmente policromado na lateral externa. Apresenta na parte inferior da embarcação, decomposição da madeira. DIAGNÓSTICO: A peça (canoa) apresenta sujidades generalizadas, com marcas de umidade, de tinta branca, desgastes de uso por abrasão, gretas, perfurações com perdas no suporte, ressecamento da madeira, infestação biológica por térmitas (cupins), A base sobre a qual está assentada apresenta desgastes, sujidades generalizadas, infestação biológica por cupins, intervenção anterior (enxerto de madeira) e uniões defeituosas. PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO: Canoa: Fichamento, registro fotográfico, higienização completa; descupinização; aplicação de resina paralóide para enrijecimento da madeira; preenchimento das lacunas do suporte; tratamento para estabilização da madeira; aplicação de camada de proteção. Base da canoa: Fichamento, registro fotográfico, higienização completa; descupinização; aplicação de resina paralóide para enrijecimento da madeira; retirada e substituição de intervenções anteriores, preenchimento das lacunas do suporte; nivelamento, reintegração cromática; aplicação de camada de proteção.
// Figura 14: Canoa e Suporte. // Fonte: Desenho de Bruna Negreiros
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// Figura 15: Canoa // Fonte: Desenho de Moisés Rego
// Figura 16: Canoa e base // Fonte: Desenho de Valdeci Freitas
_02 (duas) embarcações artesanais Canoa Evelyn. Estava dentre as 15 canoas inventariadas em 2017, pelos alunos da 3ª Turma PPGAPM, sob a coordenação das Professoras Áurea Pinheiro e Elenilce Mourão. Naquele ano, a embarcação ainda era parte do acervo operacional, usada nas artes de pesca artesanal. Em 2018, Fernando Rocha, seu antigo proprietário, por motivo de saúde, não pode mais pescar e vendeu a embarcação para o MUV. Os dados documentados da Canoa 64
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Evelyn estão no item 7.4.2.1, deste trabalho Canoa Vovó. Passou a fazer parte do acervo institucional do MUV em 2018. Foi doada pelo Sr. Antônio Vieira (Antônio da Laura), um dos pescadores mais antigos da vila-bairro Coqueiro. Dados (2017) – documentação e estado de conservação de autoria da Professora Elenilce Soares Mourão em trabalho realizado no MUV com mestrandos da Turma 4 do PPGAPM, na disciplina Conservação e Restauro. TÍTULO/TEMA: Embarcação marítima MATERIAL: madeira (possivelmente tamboril e piquiá) TÉCNICA: Artesanal, feita em estaleiro DIMENSÕES: Canoa: 7,16 m x 2,28 m x 0,65 m; AUTOR: não identificado ORIGEM DA MANUFATURA: Cajueiro da Praia PROCEDÊNCIA: APA do Delta do Parnaíba PROPRIETÁRIO: Sr. Antônio Vieira, conhecido como Antônio da Laura/ Vila do Coqueiro, Luis Correia - Piauí (doador) DESCRIÇÃO: embarcação marítima em madeira policromada, com predominância de azul claro e branco, com friso vermelho. Cerca de 20 anos de uso, composta por estrutura toda em madeira com 14 cavernas, banco de vela/ meia-nau, proa e popa. DIAGNÓSTICO: Peça em estado crítico de conservação; apresenta sujidades generalizadas, ressecamento, manchas e marcas de oxidação, retração, empenamentos, uniões defeituosas, perdas generalizadas de suporte, perdas generalizadas nas camadas de preparação e de policromia; oxidação e pulverização nas camadas de policromia; perdas generalizadas no suporte e em todas as camadas subsequentes provenientes de abrasões, queima/combustão, desgastes de uso e envelhecimento dos materiais componentes das camadas e movimentações do próprio suporte madeira; gretas (rachaduras) nos encaixes e oxidação nos pontos de fixação da estrutura pelo contato com elementos metálicos (pregos). Realizada prospecção nas camadas de policromia e detectadas cerca de sete camadas de repintura, com cores que variam do azul ao cinza e vestígios de preto, verde e vermelho. PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO: Fichamento, registro fotográfico, higienização completa; tratamento para estabilização da madeira; aplicação de resina paralóide para enrijecimento da madeira; preenchimento/complementação das lacunas do suporte; desmontagem parcial e ajustes das uniões defeituosas; retirada de repinturas; calafetagem/nivelamento; reintegração cromática e aplicação de camada final de proteção. Providenciar suporte para suspender/expor a peça após restauro.
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// Figura 17: Canoa Vovó. // Fonte: Elenilce Mourão, 2017
// Figura 18: Prospecção Canoa Vovó. // Fonte: Áurea Pinheiro, 2017
// Figura 19: Canoa Vovó. Prospecção das camadas de policromia // Fonte: Elenilce Mourão, 2017
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// Figura 20: Aspectos gerais da proa e da popa. // Fonte: Elenilce Mourão, 2017
// Figura 21: Canoa Vovó. Perda de suporte. // Fonte: Elenilce Mourão, 2017
// Figura 22: Canoa Vovó. Aspectos da policromia. // Fonte: Elenilce Mourão, 2017
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7.2.2 O Projeto Expográfico O projeto expográfico que elaboramos especificamente para a Canoa Vovó faz parte deste Trabalho Final de Mestrado (TFM) “Estaleiro Escola do Museu da Vila”, como um dos resultados de nossa imersão no território, o que inclui pesquisa e documentação das embarcações locais, memórias, histórias, características, valor afetivo e a importância do ofício e modos de saber-fazer das artes de pesca artesanal. A embarcação é um dos objetos do acervo institucional, que faz parte da nova exposição de longa duração do Museu da Vila, “Nós do Coqueiro”, inaugurada em janeiro de 2020. A nossa pretensão foi apresentar à comunidade local uma história desse objeto emblemático para a vila-bairro, a “Canoa Vovó”, bem como a proposta de criação do Estaleiro Escola do Museu da Vila e a importância deste trabalho para salvaguardar e ressignificar as memórias e histórias, o ofício e modos de saber-fazer associados à construção de embarcações. A Canoa é um exemplar singular, com marcas das atividades de uso, construção e reparo, que nos serviu para propor a criação de modelos de embarcações, maquetes, emblemáticas da vila-bairro Coqueiro.
7.2.2.1 A Escolha da “Canoa Vovó” Justifica-se por ser o 1º objeto doado e parte do acervo institucional do Museu da Vila desde 2018. Segundo seu antigo proprietário e doador, Sr. Antônio da Laura, o nome que deu inicialmente à embarcação era Magnólia. Nos informa que é uma das mais antigas canoas de pesca artesanal do lugar e nos contou uma história inusitada e conhecida pelos moradores locais. O pescador nos contou que a canoa ainda era usada no seu ofício para a pesca e sustento da família, mas por diversas razões, muitas vezes, ficava cerca de 3 a 4 dias sem ir ao mar. Em uma dessas ocasiões, um homem, na madrugada, colocou a canoa no mar, sozinho, e seguiu de mar a dentro na direção do Maranhão. O Sr. Antônio, ao constatar o desaparecimento da embarcação na manhã seguinte, quando foi à orla da praia para um dia de trabalho na pesca, ficou surpreso e buscou informações sobre o acontecido. Passaram-se muitos dias, foi uma busca intensa por cidades e vilas, por todo o litoral do Piauí, algumas cidades do Ceará e Maranhão, sem sucesso. O Sr., por onde passava, deixava seu contato, caso alguém soubesse de alguma informação sobre a canoa. A perda era grande, além da canoa, todo o equipamento de pesca fora levado, embarcação e apetrechos de pesca que garantiam o sustento da família. Muitas informações iam e vinham e, quase sem esperanças, o Sr. Antônio resolveu fazer uma promessa a São Francisco - caso encontrasse sua canoa faria uma “canoa de metro”, um ex-voto, referindo-se a uma maquete, igual à canoa Magnólia, e a levaria para o Canindé, em devoção ao Santo. Passados 68
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13 dias do desaparecimento da canoa, mais uma informação chegava. o Sr. Antônio foi em busca de sua canoa na Ilha das Canárias no Maranhão. Havia finalmente sido encontrada, “emborcada”, pois naufragara junto com aquele que a havia levado sem a autorização de seu dono. Essa pessoa faleceu e a canoa estava danificada pela ação do tempo. Os apetrechos de pesca, redes e pontas de redes, estavam enrolados de tal forma que o mar não os pôde levar. A Canoa teve que ser trazida para o Bairro de carro. Como prometido ao santo, o Sr. Antônio mandou fazer uma canoa com cerca de 90 cm, igual à sua canoa roubada, por um artesão, construtor de embarcações em Cajueiro da Praia, os “panos” (referindo-se as velas), o Sr. Antônio fez pessoalmente e pagou a sua promessa. Posteriormente, a canoa Magnólia foi reformada e ainda usada por cerca de 1 ano. Por seu desgaste foi carinhosamente chamada de “Vovó”, e virou “museu”; segundo o Sr. Antonio, sem uso, uma coisa velha largada na orla da praia do Coqueiro. A Profª Áurea Pinheiro, ainda em 2017, solicitou ao Sr. Antonio que doasse a canoa para o Museu da Vila, logo que foi instalado, para que sua memória fosse contada, conhecida. Uma história de força, resistência e fé. Após o conhecimento deste relato e a importância de comunicar essas memórias partimos para os trabalhos técnicos da expografia.
7.2.2.2 A Elaboração do Projeto Expográfico O levantamento das informações teve início com a conferência das medidas do espaço livre, onde há 2 edificações sem uso, espaço para o qual propomos o Projeto Arquitetônico para o Estaleiro Escola do Museu da Vila. O levantamento geral do local e das edificações existentes já havia sido realizado em setembro de 2018. No entanto, para o projeto expográfico usamos um espaço livre na lateral de uma das edificações existentes.
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// Figura 23: Edificações existentes. // Fonte: Áurea Pinheiro, 2019.
Posteriormente, medimos a embarcação em sua totalidade para compatibilizar as dimensões, com o espaço expositivo desenhado. Por suas dimensões, 6,91 m de comprimento (proa a popa) e 2,26m em sua maior largura (boca), com 14 cavernas, banco de vela/meia-nau, proa e popa, foi necessário, ainda, algumas intervenções no espaço expositivo, como a remoção de uma cerca de madeira e arame, em estado avançado de degradação, que se encontrava próximo à Canoa.
// Figura 24: Medição da “Canoa Vovó”. Assistência dos mestrandos Isa Marília e Sandro David. // Fonte: Hanna Morganna, 2019.
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Após a constatação que seria possível o uso do espaço para exposição da Canoa, começamos a elaborar o desenho expositivo. Para o programa de necessidades, sugerimos a criação de uma cobertura para proteção da embarcação, mas que já fizesse parte do conceito da expografia, bem como de um piso de garrafas de vidro, as quais tinham sido coletadas e armazenadas no MUV.
// Figura 25: Disposição final do piso // Fonte: Áurea Pinheiro, 2019.
Os estudos iniciais apontaram alguns desafios. Pela existência de 2 edificações e mais uma coberta externa de madeira, a criação de mais uma cobertura para proteger a embarcação, teve que atender tanto as questões estruturais, como as funcionais e estéticas, se adequando da melhor forma às construções existentes no local.
// Figura 26: Construções existentes e cobertura em madeira. // Fonte: Hanna Morgana. Editada por Mariana Bezerra, 2019.
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A nova cobertura, para a proteção da Canoa foi elaborada como forma de representar os estaleiros artesanais comuns na região, conforme estudos feitos das imagens presentes no Relatório do Projeto Por Entre Rio e Mar (Delta do Parnaíba – Piauí) (2010) e Tese de autoria Rita de Cássia Moura Carvalho (2019). Consideramos igualmente à visita técnica que realizamos à Unidade Vocacional Estaleiro Escola em São Luís, acompanhada do gestor e idealizador do Projeto, o engenheiro e professor, Mestre Luiz Phelipe Andrés. A cobertura que construímos é semelhante aos abrigos de pesca existentes na orla da praia do Coqueiro, construída com materiais locais, estrutura em madeira e cobertura em palha, criando um espaço, que serve de descanso, abrigo para pescadores, embarcações e trato dos peixes quando os homens retornam do mar; servem também como abrigo para os reparos nas embarcações e apetrechos de pesca. É um local de convívio e encontro dos pescadores, onde se escutam memórias e histórias do mar, suas vivências e experiências com a pesca artesanal.
// Figura 27: Pesqueira do Senhor Juvenal. Ilhas das Canárias, Delta do Parnaíba, Piauí. // Fonte: Cássia Moura, 2008
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// Figura 28: Representação de um estaleiro artesanal. Unidade Vocacional Estaleiro Escola, em São Luis, Maranhão. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
Partimos, então, para um estudo volumétrico, para estabelecer a relação conceitual, estrutural e estética entre as estruturas existentes e a nova estrutura proposta. Usamos para a representação em 3D o software Sketchup Make (2016). A considerar as dimensões da embarcação, necessário foi o uso de uma cobertura em padrão duas águas, com dimensão suficiente para abrigar a Canoa. Traçados dois modelos em 3D (maquete eletrônica) para serem apresentados às equipes de Programação da Exposição, para que pudessem aprovar de forma coletiva e dar continuidade ao desenho expográfico. Propusemos também a mudança de uma cobertura, que atualmente tem uma leve inclinação, onde antes abrigava um lounge feito de pallets, para se tornar reta em forma de pergolado, conferindo mais leveza ao espaço.
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// Figura 29: Proposta 1 expografia. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software Sketchup MAKE
// Figura 30: Proposta 2 expografia. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software Sketchup MAKE
Após apresentação, o modelo escolhido foi o da proposta 2, tanto por sua estética, como pela facilidade de execução, em virtude das dimensões das peças de madeira necessárias. Partimos, então, para a elaboração de uma volumetria mais completa e detalhada, com ideias conceituais para a expografia. Seguimos para os detalhamentos do projeto da cobertura, percebemos que uma caixa de ar-condicionado existente se tornaria um obstáculo às ideias iniciais, que seria usar todo o espaço livre, como mostra a figura 31. Então, optamos por afastar a nova cobertura 80 cm da construção existente, iniciando um pouco mais à frente do lote. Assim, foi possível atender as dimensões necessárias, sem a necessidade de intervir na estrutura existente.
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// Figura 31: Caixa de ar-condicionado existente. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
// Figura 32: Maquete expografia. Distância de 80cm da edificação existente. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
Ao relembrar um passeio de reconhecimento do território com parada na “pesqueira” (abrigo de pesca orla da praia, apoio aos pescadores artesanais), do Bairro Coqueiro, trabalhamos a memória e trouxemos a rusticidade do espaço, interrogando como poderíamos representar aquele mesmo ambiente na expografia. Elementos como o tronco natural de carnaúba, usado como banco e uma rede de descanso, trazem essas referências. No projeto expográfico, o tronco foi posicionando de forma que o usuário, os públicos podem sentir e observar a canoa, suas memórias e histórias narradas com desenhos de Isa Marília, artista e mestranda da 4ª Turma.
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// Figura 33: Maquete eletrônica expografia. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE e renderizada em Lumion.
A rede foi um elemento acrescentado ao lounge já existente onde se pode visualizar um painel construído pelos mestrandos Isa Marília e Sandro David de forma colaborativa com outros alunos e participantes da comunidade local durante a 3ª edição da Feira do Patrimônio (2018). O painel representa uma família de pescadores artesanais da vila-bairro (figura 34).
// Figura 34: Painel família de pescadores. Artista Isa Marilia e colaboradores. // Fonte: ©Isa Marilia, 2019.
// Figura 35: Maquete eletrônica expografia 2. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE e renderizada em Lumion.
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// Figura 36: Maquete eletrônica expografia 3. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software Sketchup MAKE e renderizada em Lumion,
Na parede ao fundo, propomos desenhos em quadros narrando as memórias do Sr. Antonio da Laura sobre a “Canoa Vovó”, de autoria de Isa Marília.
// Figura 37: Croquis propostos pela artista Isa Marilia, história da canoa Vovó. // Fonte: Isa Marilia, 2019.
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// Figura 38: Maquete eletrônica expografia 4. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE e renderizada em Lumion.
Os desenhos com medidas e especificações:
b
// Figura 39: Desenho humanizado, com medidas gerais.
a
// Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE
Medida a: 5m | Medida b: 7m
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// Figura 40: Desenho humanizado, com medidas gerais. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE
Medida c: 2,3m (altura) 78
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[D]
[A]
[C]
[B] // Figura 40: Desenho humanizado, especificações gerais.
A. Cobertura em Palha B. Piso em Garrafas de Vidro C. Estrutura em troncos de madeira natural D. Pergolado em madeira
// Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE e renderizada em Lumion.
[F]
[G]
[H]
[E]
// Figura 41: Desenho humanizado, especificações gerais 2. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Software sketchup MAKE e renderizada em Lumion.
E. Tronco natural elemento de ambientação do estaleiro artesanal F. Espaço para textos e desenhos sobre a história da “Canoa Vovó” G. Pintura existente, família de pescadores artesanais H. Rede elemento de ambientação do estaleiro artesanal
Durante a montagem e execução do projeto, algumas adaptações se fizeram necessárias para atender as demandas de tempo, funcionalidade, segurança e o material disponível para tal estrutura.
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7.3 Boas Práticas 7.3.1 Núcleo Naval do Ecomuseu do Seixal, Seixal, Portugal Como forma de conhecer formas de implantação e estruturação para o Estaleiro Escola do Museu da Vila, acessamos websites, blogs e artigos disponíveis on-line. Estudamos boas práticas, que nos permitiram análises de casos semelhantes, referências, soluções técnicas e conceituais. Dentre esses estudos, destacamos o Núcleo Naval de Seixal, localizado em antigo estaleiro naval na freguesia de Arrentela, compondo um dos cinco núcleos do Ecomuseu de Seixal.
// Figura 43: Ecomuseu Municipal do Seixal // Fonte: Disponível em: <http:// www.cm-seixal.pt/ ecomuseu-municipal/ ecomuseu-municipal-do-seixal>. Acesso jan. 2020.
O interesse por esse núcleo ocorreu principalmente pela semelhança conceitual, espaço museológico em território outrora habitado por pescadores artesanais, a opção pelo conceito de Ecomuseu, poli nuclear, para salvaguarda dos patrimônios locais, uma correlação com o Ecomuseu Delta do Parnaíba, O Ecomuseu Municipal do Seixal (EMS) tem por missão investigar, conservar, documentar, interpretar, valorizar e difundir testemunhos do Homem e do meio, reportados ao território e à população do concelho, com vista a contribuir para a construção e a transmissão das memórias sociais e para um desenvolvimento local sustentável. (Disponível em: <http://www.cm-seixal.pt/ecomuseu-municipal/ecomuseu-municipal-do-seixal>. Acesso em: 15 jan. 2020)
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Segundo informações disponíveis no website da Câmara Municipal de Seixal, em 1982, o equipamento foi criado e aberto ao público como Museu Municipal de Seixal, em instalações localizadas na Torre da Marinha de Arrentela. Em 1983, o equipamento foi denominado e reconhecido como Ecomuseu, assumindo na estrutura geral de sua programação e atividades abrangendo o território, a conservação do patrimônio, sempre que possível no próprio local, e a interação participante da população e das comunidades. No território, o Ecomuseu contempla 5 Núcleos, dentre eles o Núcleo Naval, mais emblemático para a natureza deste trabalho; núcleos de propriedade e gestão do Município. Localizado na Avenida da República, no povoado de Arrentela, fica em zona ribeirinha do Seixal, margeando o rio Judeu, um dos afluentes do rio Tejo. Inaugurado em 1984, o edifício foi remodelado, a partir de um antigo estaleiro que ali funcionou até o final da década de 1970, abrigando a partir de então uma oficina de construção artesanal de modelos de barcos do Tejo, inaugurada em 1993, e um pavilhão de exposições, em uma requalificação arquitetônica e museográfica de responsabilidade do arquiteto Cândido Chuva Gomes. A oficina de barcos é ocupada por artesãos que reparam e constroem modelos (maquetes) de embarcações em escala, a partir de plantas originais ou reproduções adquiridas no Museu da Marinha. Ao visitar o Núcleo temos a oportunidade única de conhecer e ter contato com os diversos barcos tradicionais que costumavam preencher o estuário do Tejo. (Disponível em <http://www.cm-seixal.pt/ecomuseu-municipal/nucleo-naval>. Acesso em 15 jan. 2020) No espaço expositivo são apresentados vários modelos de embarcações tradicionais, complementadas por diversos suportes audiovisuais. É possível ver e ouvir as imagens e os sons mais característicos da construção naval como uma forma de transmitir a memória dos antigos estaleiros do Rio Judeu, à beira do Tejo. O espaço foi criado para transmissão da memória do lugar, exposição e interpretação do patrimônio fluvial e marítimo principalmente do estuário do rio Tejo, aplicando e comunicando as técnicas artesanais de construção de modelos de embarcações para valorizar o patrimônio náutico. (Disponível em <http://www.cm-seixal.pt/ecomuseu-municipal/ nucleo-naval<. Acesso em 15 jan. 2020) O Núcleo possui um blog que contribui para a divulgação e comunicação das atividades realizadas na oficina, onde ocorrem atividades artesanais e de modelismo relacionadas às embarcações que representam a tradição regional da construção naval. Sobre a edificação e o projeto de requalificação, não há muitas informações técnicas disponíveis, a partir de imagens do website do arquiteto responsável e também do próprio Ecomuseu, podemos observar que os espaços 81
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- expositivo e oficinal estão divididos a partir do aproveitamento da arquitetura original do antigo estaleiro.
// Figura 44: Núcleo Naval do Seixal // Fonte: (Disponível em <http:// www.cm-seixal.pt/ ecomuseu-municipal/ nucleo-naval<. Acesso em: 15 jan. 2020)
No Projeto de Seixal foram usadas duas edificações, uma para a oficina e outra para exposição, com estrutura simples, telhado em duas águas, uma forma muito comum para galpões e oficinas, encontradas em estruturas efêmeras como os estaleiros artesanais. Dessa forma, a arquitetura desse Núcleo se integra à paisagem, não alterando esteticamente a forma original da edificação. Percebemos nas imagens duas edificações, a maior delas na qual visualizamos a imagem (figura nº 44) no sentido horizontal, que abriga o espaço de exposição, com vitrines e painéis, que apresentam exemplares de embarcações da região.
// Figura 45: Imagem interna espaço expositivo, Núcleo Naval do Seixal. // Fonte: (Disponível em <http:// www.cm-seixal.pt/ ecomuseu-municipal/ nucleo-naval<. Acesso em: 15 jan. 2020)
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No espaço interno, o piso é em madeira e tesouras de madeira para sustentação do teto, sem forro, deixando a estrutura simples aparente, valorizando a arquitetura original do espaço. A iluminação é feita por trilhos com spots direcionáveis, que compõem o projeto expográfico, focando nos objetos expostos. Nas vitrines, há os objetos principais expostos: os modelos em escala de embarcações. A estrutura do espaço destinado a oficina se apresenta também em materiais simples, iluminação própria para áreas de trabalho e grandes bancadas para elaboração do trabalho dos artesãos e cursos oferecidos.
// Figura 36: Imagem interna espaço oficina, Núcleo Naval do Seixal. // Fonte: Disponível em: <http://nucleo-naval. blogspot.com/>. Acesso jan. 2020.
Além da exposição e dos cursos oferecidos na oficina, o Núcleo abriga três embarcações tradicionais, em operação, permitindo um passeio no rio para conhecer mais de perto as técnicas de navegação. Há, portanto, uma vista na qual é possível perceber a integração entre o patrimônio natural e cultural. (Disponível em: <nucleo-naval.blogspot.com>. Acesso em 15 jan., 2020)
7.3.2 Museu Nacional do Mar O Museu Nacional do Mar está localizado na cidade de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, em edificação que no início do século XX abrigava um armazém da empresa Hoepecke. Foi reformado e passou a abrigar o Museu. Posteriormente, recebeu recursos do Programa Monumenta, do extinto Ministério da Cultura. Aquele Programa visava recuperar de maneira sustentável o patrimônio histórico brasileiro, diminuindo a degradação de sítios históricos, conjuntos urbanos tombados para elevar a qualidade de vida de comunidades envolvidas. Com os recursos, o Museu foi completamente requalificado recebendo novas estruturas, equipamentos e acabamentos. (IPHAN/MONUMENTA, 2008)
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// Figura 47: Fachada Museu Nacional do Mar // Fonte: Fonte: Disponível em: <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/museudomar/imagens>. Acesso em: 15 jan. 2020.
A instituição é mantida pela Associação de Amigos do Museu e por algumas empresas. Inaugurado em 31 de dezembro de 1992, conta com um acervo que preserva a diversa e rica variedade construtiva de embarcações brasileiras. O acervo está organizado em 18 salas divididas por temas. Entre as peças disponíveis à visitação dos públicos estão mais de 91 barcos em tamanho natural, cerca de 150 peças de modelismo e artesanato naval e a Coleção Alves Câmara, do século XX (reprodução da coleção original que se encontra no espaço cultural da Marinha, no Rio de Janeiro). As peças estão apresentadas com textos, imagens explicativas e trilha sonora com músicas folclóricas das diversas regiões brasileiras. (Disponível em: <http://www. cultura.sc.gov.br/espacos/museudomar>. Acesso em: 18 jan. 2020) Para atender as demandas de uma instituição museal, o Museu Nacional do Mar não se restringe apenas a salvaguardar objetos representativos do patrimônio naval brasileiro. Percebemos por diversos fatores, o risco da perda desse conhecimento, intangível, recorrente também na APA Delta do Parnaíba. O primeiro fator, e a já citada, precariedade da transmissão dos conhecimentos relativos à construção, métodos e técnicas, materiais que variam para cada região. Passadas oralmente, por gerações, sem registros, ficam ameaçados de se perder para sempre caso algum mestre venha a falecer sem transmiti-los a um aprendiz. Dessa forma, o Museu busca permanentemente estratégias e incentivo à salvaguarda dessa riqueza cultural: apetrechos, equipamentos, manejo e o conhecimento das técnicas. Um marco dessa atuação foi o 1º Seminário do Patrimônio Naval Brasileiro, realizado no museu, em março de 2005, com o apoio do Programa Monumenta. Edson Fogaça, o arquiteto, Dalmo Vieira Filho, do IPHAN, idealizador do Museu Nacional do Mar, e outros especialistas de diversas partes do país,
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como Luiz Phelipe Andrés, participaram das discussões. Foram propostas ações e diretrizes para um plano nacional de preservação do patrimônio naval, entre outras iniciativas. (IPHAN/MONUMENTA, 2008, p. 46)
Uma das iniciativas elencadas para uma preservação urgente foi a construção de maquetes em escala reduzida, de embarcações. Uma vez que para tal era necessária uma pesquisa minuciosa, em andamento. Junto ao histórico da embarcação, as medidas, fotografias, informações do mestre que a construiu, entende-se que o patrimônio está salvaguardado. O Brasil precisaria formar modelistas profissionais. Esta tarefa está em andamento com o projeto Liceu de Modelismo Naval, desde 2006, que já formou 19 alunos divididos em duas turmas, tanto de São Francisco do Sul como de outras regiões do país. O curso tem dois objetivos principais, melhorar a qualidade técnica e artística dos artesãos que já trabalhavam com o artesanato naval, potencializando suas rendas, e colaborar para divulgar e salvaguardar o patrimônio naval, uma vez que são representadas as miniaturas de forma mais fiel aos modelos reais.
// Figura 48: Foto do curso gratuito de modelismo e artesanato naval, promovido pelo Projeto Liceu de Modelismo Naval e o Programa Monumenta. // Fonte: IPHAN/ MONUMENTA, 2008
Não há muitas informações disponíveis sobre a obra de requalificação da edificação. Quanto à estrutura física, a partir de imagens, podemos ver o grande aproveitamento da estrutura original do antigo armazém, que foi recuperado para a nova função do edifício. Os espaços apresentam grandes janelas com iluminação natural para as salas, estrutura de telhado em tesouras de madeira aparentes (sem forro), e piso em madeira. Trazendo também um conceito industrial, as instalações elétricas e luminárias se apresentam externas às paredes e estruturas, facilitando com isso também a manutenção.
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// Figura 49: Embarcações brasileiras. Acervo do Museu Nacional do Mar. // Fonte: IPHAN/ MONUMENTA, 2008
As salas estão divididas por temas, sendo ao todo 18 ambientes que podem ser visitados. Sala da história da navegação, que conta a história das navegações desde os primórdios, com destaque para as réplicas das caravelas portuguesas que chegaram as américas.
// Figura 50: Imagem da sala da história da navegação. // Fonte: Fonte: Fotos Márcio Henrique Martins / Assessoria de Comunicação FCC. Disponível em: <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/ museudomar/acervo> Acesso em: jan., 2020
Sala rancho de pesca, espaço que narra as histórias e lendas, apresenta os apetrechos e ferramentas principais usados para o ofício da pesca artesanal. O espaço conta com o piso coberto por areia, para aproximar-se da situação 86
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real do espaço que representa. No Delta do Parnaíba, conhecido como “pesqueira”.
// Figura 51: Imagem da sala Rancho de pesca. // Fonte: Fonte: Fotos Márcio Henrique Martins / Assessoria de Comunicação FCC. Disponível em <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/ museudomar/acervo>. Acesso em: jan., 2020.
A Sala da Cultura Popular apresenta o tema dos principais festejos brasileiros, relacionados à navegação, com músicas, vestimentas e textos expostos. Traz ainda informações sobre a culinária a base de frutos do mar e como essa se diferencia nas diversas regiões do país.
// Figura 52: Sala da cultura popular // Fonte: Fonte: Fotos Márcio Henrique Martins / Assessoria de Comunicação FCC. Disponível em: <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/ museudomar/acervo>. Acesso em: jan., 2020.
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Na Sala de Artesanato e Modelismo estão expostas obras de modelismo de vários artesãos, dentre eles os movidos a motor como a velas para pesca industrial e artesanal. Além dos modelos de embarcações, há o artesanato, como rendas, redes e cestarias, uma réplica de uma mulher rendeira, também está exposta demonstrando a transmissão do ofício e modos de saber-fazer para as gerações.
// Figura 53: Sala e artesanato e modelismo. // Fonte: Fonte: Fotos Márcio Henrique Martins / Assessoria de Comunicação FCC. Disponível em: <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/ museudomar/acervo>. Acesso em: jan., 2020.
Cinco salas estão organizadas pelos tipos de embarcação que expõem: das canoas, do sarilho, das baleeiras, botes e sala das jangadas. São tipos encontrados em várias partes do país, em que se pode conhecer os detalhes e características. Há ainda outras quatro salas em homenagem a determinadas regiões do país: maranhão, Amazônia, rio São Francisco e Bahia. Contam com embarcações provenientes desses territórios. Há uma sala dedicada ao grande navegador Amyr Klink, com exposição de uma réplica do barco I.A.T, no qual o navegador fez a travessia do Atlântico Sul a remo em 1984.
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// Figura 54: Sala Amyr Klink // Fonte: Fonte: Fotos Márcio Henrique Martins / Assessoria de Comunicação FCC. Disponível em: <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/ museudomar/acervo>. Acesso em: jan., 2020.
Por fim há outras três salas, tecnologia e meio ambiente, que apresentam o tema da extração de petróleo, amadrinhados ou amadrinhamento, ato em que os pescadores amarram as embarcações umas as outras para o descanso e navegação de lazer, onde estão expostas embarcações para este fim. O Museu Nacional do Mar, também conta com a biblioteca Kelvin Palmer Rothier Duarte, logo na entrada do Museu. Está aberta à pesquisa para estudantes, professores, pesquisadores e apreciadores da história naval, modelismo, pesca e folclore, pois reúne um acervo de plantas, livros, cartas náuticas, fotografias, manuscritos, obras raras, coleções especiais entre outros itens. Uma maquete que retrata a cidade de São Francisco do Sul da década de 1930, ainda inacabada, segue em desenvolvimento e em exposição. Apresenta a área do porto e o prédio do Museu Nacional do Mar quando ainda abrigava o armazém da empresa Hoepcke. // Figura 55: Maquete da cidade de São Francisco do Sul, ainda em construção // Fonte: Fonte: Fotos Márcio Henrique Martins / Assessoria de Comunicação FCC. Disponível em: <http://www.cultura. sc.gov.br/espacos/ museudomar/acervo>. Acesso em: jan., 2020.
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7.3.3 Unidade Vocacional Estaleiro escola, São Luís, Maranhão, Brasil A partir de contato inicial via e-mail com o Professor Luiz Phelipe Andrés, da Unidade Vocacional Estaleiro Escola, relatamos a proposta deste trabalho e solicitamos uma visita técnica ao Estaleiro Escola, na cidade de São Luís, Maranhão. A escolha desse espaço se justifica pela importância do trabalho ali realizado e pela proximidade geográfica e cultural de nossa proposta. Em conversas iniciais, ainda por e-mail, no mês de dezembro de 2018, apresentamos a proposta a ser realizada, pesquisa e intervenção no mestrado profissional em Artes, Patrimônio e Museologia. Criação de um Estaleiro Escola, com foco no modelismo naval, como extensão do Museu da Vila, possibilitando a ressignificação em forma de maquetes, deste rico patrimônio cultural, as embarcações artesanais. Anteriormente, estudamos o Projeto do Maranhão via internet, website, redes sociais, fotos, vídeos, textos, entrevistas do Prof. Luiz Phelipe, que nos permitiu conhecer algumas dinâmicas daquele contexto, que nos despertou o interesse e necessidade de visitar e conhecer in loco as instalações, o trabalho de formação, a pesquisa, os relatos e experiências dos gestores e instrutores no Projeto. A Unidade Vocacional Estaleiro Escola se localiza no bairro Sítio Tamancão, em uma edificação histórica reformada e ampliada para receber a diversidade de atividades educativas e interpretativas relacionadas à construção de embarcações artesanais, daquele estado. O local escolhido para a escola foram as ruínas do Sítio Tamancão. Situado bem em frente ao Portinho que é porto da pesca artesanal no centro histórico de São Luís e também nas proximidades do Cais da Praia Grande e da barragem do rio Bacanga onde ainda se verifica até os dias de hoje um expressivo movimento de embarcações artesanais. (ANDRÉS, 2018, p.236)
// Figura 56: Mapa de localização Unidade Vocacional Estaleiro Escola, em São Luis, Maranhão. // Fonte: Google Maps, 2019.
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A Unidade Vocacional Estaleiro Escola oferece diversas oficinas e cursos como também espaços adequados para cada uma delas, além de refeitório, alojamentos e área de exposição da pesquisa e livro Embarcações do Maranhão, e produtos provenientes das oficinas. Segundo Andrés (2018, p. 237), uma forma de “assegurar a perpetuação dos conhecimentos tradicionais da arte da construção artesanal de embarcações de madeira [...]”. Em janeiro de 2019, agendamos uma visita técnica, diretamente com o Professor Mestre Luiz Phelipe Andrés, que nos informou do início das atividades de cursos e oficinas previsto apenas para o início do mês de abril de 2019, porém os espaços oficinais estariam em funcionando, com os funcionários do estaleiro, em plena produção, só não teriam alunos em aprendizado das diversas atividades exercidas no local. Marcamos, então a visita para 15 de janeiro, com possibilidade para um retorno quando começassem as aulas da unidade. Foi organizado um cronograma para a visita. Iniciamos por uma apresentação com uma visão geral da pesquisa sobre as Embarcações do Maranhão e da gênese do Estaleiro Escola, para em seguida conhecer o Centro de Pesquisa e Documentação e o salão de exposições da Escola e visita às oficinas. Por um imprevisto, nosso roteiro de atividades foi modificado, não prejudicando o aproveitamento do conteúdo. Portanto, iniciamos nossa visita somente na parte da tarde do dia 15/01/2019 e continuamos durante todo o dia 16/01/2019. Chegando ao Estaleiro Escola, fui apresentada aos professores das oficinas e instalações gerais. Durante todo o tempo ouvia relatos do Professor Luiz Phelipe sobre como teve início o Projeto, com uma pesquisa conveniada à Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, na década de 1980. A pesquisa teve início em 1996, quando foi constituída uma equipe multidisciplinar, que viajava ao longo da costa praieira do Estado, e que adentrou a cidades onde havia rios e lagos, trabalhando em busca de três vertentes: embarcações, operários navais e estaleiros artesanais. (ANDRÉS, 1998). Os estudos e pesquisas que deram origem ao livro perduraram por cerca de 2 anos, permeado pela busca das tipologias de embarcações, principalmente feitas de forma artesanal, em madeira. Foi-se aprofundando na temática e as descobertas se ampliaram para a identificação não só das embarcações e suas características, mas também, os estaleiros onde eram construídas e o perfil das pessoas, os operários navais, carpinteiros e calafates, pintores, veleiros e toda a hierarquia da atividade de construção naval. (ANDRÉS, 1998) Percebemos que os mestres e operários são detentores de um conhecimento empírico transmitido por tradição oral; que se trata de um ofício e modos de saber-fazer em risco, uma vez que os filhos e netos dos construtores navais não mais se interessam por atividades dessa natureza. A desvalorização da profissão e as necessidades de adaptações sociais foi um fator condicionante para que os construtores não mais passassem este conheci91
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mento adiante. Como afirma Andrés (2018, p. 236): De fato, os jovens não se interessavam mais em aprender: Assistindo aos velhos mestres, detentores do conhecimento, terminarem a vida na pobreza não se sentiam estimulados a abraçar a profissão. Assim, a carpintaria naval parecia condenada à extinção, tendo em vista a diminuição gradativa do número de profissionais na ativa.
Os registros feitos na pesquisa coordenada por Andrés estão materializados em entrevistas, visitas nos locais usados como estaleiros artesanais, fotografias, desenhos artísticos e técnicos, reuniões com associações de pescadores, relatos etc. No que refere às embarcações foram feitos estudos voltados para a técnica artesanal de construir, incluindo o ofício e modos de saber-fazer, os materiais utilizados, as ferramentas, a arquitetura do estaleiro e o profissional construtor envolvido, para cada tipologia encontrada. A partir das informações coletadas foram delineados meios de transformar a técnica empírica em projetos técnicos de embarcações, os chamados de planos de linhas. Para a elaboração dos planos foi necessária uma medição minuciosa das embarcações e o auxílio dos construtores. Na época, com o auxílio de Kelvin Duarte, especialista do Museu Naval e Oceanográfico, foi necessária a adaptação do conceito de um instrumento já conhecido para levantamentos arquitetônicos, denominado “pente”, que serve para registrar perfis, cornijas e cimalhas de fachadas ou detalhes de interiores, criando-se a partir de tal instrumento o nomeado “cavernômetro”, com a função de medir a curvatura das cavernas da embarcação. (ANDRÈS, 1998). Os desenhos técnicos e em perspectivas, coloridos que ilustram o livro foram todos elaborados à mão e pintados com aerógrafo pelo arquiteto da equipe, Edson Fogaça. A pesquisa foi também registrada em fotografias e textos, que relatam o histórico de cada embarcação, local em que foi encontrada, a situação do local de construção e o construtor, fichas padronizadas com informações técnicas de cada embarcação, relatos da pesquisa, acontecimentos registrados, transcrição das entrevistas. Ao visitarmos a biblioteca da Unidade Vocacional Estaleiro Escola tivemos contato com todo o material de pesquisa, materializado em muitos cadernos, organizados em capa dura, contendo cada etapa da pesquisa, minuciosamente ordenado. Nesse material, datilografado, constam diversas informações sobre toda a pesquisa realizada na década de 1980, a partir dos quais foi elaborado o livro, que é uma ferramenta importante para publicizar, comunicar, divulgar a pesquisa e salvaguardar modos de saber-fazer. O material da pesquisa está acessível na biblioteca, assim como o livro 92
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Embarcações do Maranhão, lançado em 1998. Há ainda muitas outras bibliografias relacionadas à pesca, navegação, embarcações e meio ambiente, um espaço da maior valida para o tema. A bibliotecária nos apresentou a todo o acervo bibliográfico do Projeto, fez relatos sobre o desejo da digitalização de toda a pesquisa, como também dos próprios projetos e desenhos artísticos das embarcações estudadas, facilitando o acesso para mais interessados na temática. Para cada tipologia de embarcação foi feito um relatório completo, incluindo cada elemento que consta no sumário. Há também cadernos com relatórios sobre as madeiras usadas, glossário com nomenclaturas diversas e toda a proposta para a criação do Estaleiro Escola, hoje já em funcionamento. Logo, desde à época da Pesquisa, já se idealizavam formas de transmissão desses modos de ser e existir, mediadas por atividades educativas, como forma de salvaguardar esse patrimônio do saber-fazer artesanal das construções de embarcações. O contato com o material da pesquisa foi primordial para a compreensão da dimensão do trabalho; do plano de necessidades a construção de um Estaleiro Escola na vila-bairro Coqueiro da Praia. Os relatos das experiências vividas durante a pesquisa foram de extrema importância para então chegarmos ao resultado que apresentamos para o Estaleiro Escola do Museu da Vila. Após o contato com conteúdo da pesquisa, passamos para as oficinas, conhecemos a realidade do Estaleiro como ferramenta educativa-cultural. O carpinteiro naval e instrutor da oficina de carpintaria, no momento de nossa visita estava no processo de execução de uma embarcação. Em conversa informal, notamos que com o uso de ferramentas e técnicas simples é possível reproduzir as tipologias artesanais, sem necessidade de maquinários sofisticados e pesados. Porém há necessidade de conhecimentos e experiência na construção, além de materiais de boa qualidade e espaço físico amplo.
// Figura 57: Espaço para construção de embarcações, U.V. Estaleiro Escola. // Fonte: Fonte: Mariana Bezerra, 2019
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O espaço reservado para as aulas de construção naval está na parte que foi ampliada, entre a edificação histórica original e o anexo construído. Na intenção de valorizar a concepção projetual foi instalado um setor museográfico, com exposição de modelos náuticos, representando a diversidade de embarcações maranhenses, com painéis pedagógicos, utensílios e ferramentas raras utilizados pelos mestres carpinteiros navais. (ANDRÉS, 2018). O edifício contempla ainda um Centro de Documentação e Pesquisa Amyr Klink com biblioteca especializada, auditório e uma bateria de computadores para pesquisa. No anexo, o estaleiro (carpintaria naval), as oficinas de modelismo naval, reciclagem (papel e PET), cerâmica, biojóias, pintura, marcenaria, refeitório e alojamentos. Ao lado do espaço das construções está a oficina de modelismo e reaproveitamento de madeira (marcenaria), onde é dedicado mais tempo para observações. A partir dos relatos e experiências do instrutor de modelismo naval, compreendemos as necessidades técnicas para o funcionamento da oficina, tanto relacionadas ao espaço físico, quanto aos materiais e equipamentos necessários. O instrutor e modelista mostrou alguns dos trabalhos que realizou, o que demonstra sua experiência em modelismo desde a infância. Segundo relata, seu avô, além de construtor de embarcações se dedicava a fazer miniaturas, no entanto, quando iniciou, não dispunha da técnica necessária para ser considerado modelismo, que aprendeu com o avô foi potencializado com o trabalho no estaleiro, que lhe concedeu a oportunidade de estudar e aprender construir, a realizar o trabalho com modelismo, maquete em escala reduzida, com as características de uma embarcação em tamanho real. Nos relatou que passou cerca de 3 meses estudando no Projeto Liceu de Modelismo Naval no Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul, Santa Catarina. A partir de então se tornou instrutor no Projeto do Estaleiro Escola em São Luís, transformando o que antes era uma brincadeira herdada do avô, em uma profissão. Sobre os cursos oferecidos no estaleiro, relacionados a modelismo naval, relatou as dificuldades que tem em relação ao conteúdo técnico, pois muitos dos alunos tem uma educação básica deficiente, tornando um pouco mais complexo o trabalho, que necessita de compreensão espacial, matemática, entendimento sobre escalas, visualização de planos e perspectivas. Porém, é possível em pouco tempo de curso, viabilizar a introdução ao modelismo, e produção de modelos, que com a experiência e desenvolvimento no tema podem evoluir. Percebemos que a oficina de modelismo, assim como a de construção, não necessita de maquinários complexos, pois a ideia é realmente executar o trabalho de forma artesanal, como faziam os carpinteiros navais do passado, com ferramentas muitas vezes construídas exclusivamente para executar tal serviço, como podemos visualizar nas imagens das oficinas, a seguir: 94
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// Figura 58: Embarcação em escala reduzida, Unidade Vocacional Estaleiro Escola. // Fonte: Fonte: Mariana Bezerra, 2019
// Figura 59: Embarcação em escala reduzida, Unidade Vocacional Estaleiro Escola. 2 // Fonte: Fonte: Mariana Bezerra, 2019
O trabalho realizado no Estaleiro Escola em São Luís, apesar de ter um espaço expositivo no próprio local, há necessidade de maior comunicação do trabalho e projeto. Em 2017, foi inaugurado o Museu das Embarcações do Maranhão, no Forte de Santo Antônio, ponto turístico da cidade, bem frequentado. O prédio foi adaptado e tem um acervo de Modelos navais feitos na Unidade Vocacional Estaleiro Escola como exposição de longa duração e 95
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também espaço para vídeos e exposições de curta duração. No local, encontramos profissionais de mediação e também a possibilidade de adquirir produtos feitos nos projetos do estaleiro: modelos de embarcações, artesanatos dos cursos de cerâmica, biojóias, reciclagem de papel etc.
7.4 Identificação e formação de público 7.4.1 Aplicação e análise de questionários Entender a função educativa dos museus e a importância da relação com a comunidade escolar fez parte desta pesquisa-ação, que incluiu a equipe educativa-cultural do Museu da Vila e outras pesquisas de mestrandos em processo, com coleta e análise de dados sobre a comunidade escolar da Unidade Escolar Carmosina Martins da Rocha. Foram aplicados questionários para mensurar e identificar a natureza, as características do público, o que incluiu a Creche Tia Neuza, espaços de formação localizados no entorno do Museu. Estudos que nos permitiram compreender a formação desses públicos e colaborar na formação de mediadores dos patrimônios locais. [...] ao longo de sua existência, os museus foram assumindo cada vez mais (e de formas diferenciadas) seu papel educativo. Nesse aspecto, os museus vêm sendo caracterizados como locais que possuem uma forma própria de desenvolver sua dimensão educativa. Identificados como espaços de educação não-formal, essa caracterização busca diferenciá-los das experiências formais de educação, como aquelas desenvolvidas na escola, e das experiências informais, geralmente associadas ao âmbito da família. (MARANDINO et al, 2008)
Nossa imersão no território potencializou a nossa busca por uma participação da comunidade local na construção da proposta de criação de um Estaleiro Escola, que se constitui parte de um complexo de edificações de uso educativo-cultural, que para efetivamente existir e funcionar, necessita sobretudo dos significados que lhe possam atribuir os públicos, que se interessem em participar, serem usuários do projeto proposto. Aproveitamos o já realizado trabalho de pesquisa nas escolas para adensar os questionamentos, enfatizando o interesse das pessoas por um equipamento que propomos. A equipe do educativo-cultural do Museu, Turma 4, do PPGAPM, primeiramente analisou as fichas cadastrais de alunos e famílias existentes na Escola e Creche, para estar informada da quantitativa do público escolar local e ter base de referência para as necessidades das pesquisas e intervenções em andamento no Programa. Posteriormente, foi aplicado questionário semiaberto contemplando indagações não constantes nas fichas escolares cadastradas e incluindo pontos de interesse para as atividades do Museu. Para proposta de formação, encontramos nesse trabalho inicial um supor96
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te de identificação de públicos, para o Estaleiro Escola e suas instalações, buscamos encontrar a partir dos questionários aplicados aqueles estudantes interessados no ofício de marcenaria, um dos questionamentos constantes na ficha ou que fora preenchido como sugestão. A maioria dos estudantes que optaram por tal ofício são estudantes do ensino fundamental maior da Unidade Escolar Carmosina Martins da Rocha, tornando-se a partir de então nosso público prioritário. Para aprofundar o conhecimento e estreitar as relações com esse público específico, elaboramos um novo questionário semiaberto, aplicado para aqueles que demonstraram interesse em marcenaria. Pelo leque de opções de produtos que podem ser fabricados em madeira, buscamos entender o que o público gostaria que tivesse como opção de cursos e oficinas no Museu e futuramente na Marcenaria do Estaleiro Escola, o que nos auxiliaria a pensar mais ações de sensibilização, que viabilizassem a proposta, bem como na construção de um programa de necessidades para a arquitetura do equipamento. Aplicamos os questionários ampliados, aproveitamos para explicar e exemplificar muitas das atividades que poderiam ocorrer em uma marcenaria e em um estaleiro escola, promovendo assim uma ampliação da quantidade de interessados. O questionário aplicado versava sobre o interesse em oficina de marcenaria e maquetes, quais produtos desejavam produzir nas oficinas com as opções: móveis, reaproveitamento de madeira, brinquedos, canoas, casas (maquetes), produtos para casa e reforma de móveis.
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// Figura 60: Ficha questionário. // Fonte: Elaborado por Aurea Pinheiro e adaptado por Mariana Bezerra, 2019.
No relatório que norteou nossa pesquisa, 26 alunos haviam demonstrado interesse em marcenaria, no entanto ao aplicar o questionário específico para a marcenaria e Estaleiro escola, obtivemos o retorno de 33 estudantes interessados. Os questionários foram aplicados nas turmas de 7º, 8º e 9º anos, para meninos e meninas. Segue gráficos: 98
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// Gráfico 01: Identificação por sexo // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Tabulação elaborada em software Excel.
Houve uma quantidade de interessados maior do sexo masculino, no entanto com uma diferença bem pequena em relação ao interesse feminino. Percebemos equilíbrio de gênero também nas oficinas de sensibilização já ministradas inseridas na temática da criação do estaleiro escola.
// Gráfico 02: Identificação por itens. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Tabulação elaborada em software Excel.
Um dos objetivos do Estaleiro Escola do Museu da Vila, quando de sua implantação, será colaborar com a promoção de formas de educação patrimonial e ambiental. Vimos a partir da análise das respostas que temos um público de interesse maior, nas áreas correlatas à proposta: como reaproveitamento de madeira, canoas e maquetes. Com esta análise foi possível planejar mais ações de sensibilização, com foco na formação educativa e de público para as instalações do Estaleiro Escola do Museu da Vila.
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7.4.2 Ações de sensibilização 7.4.2.1 Maquetes canoa Evelyn: primeiros estudos Atendendo à demanda coletada com a pesquisa e formação de público, resolvemos estudar a técnica construtiva de uma canoa que faz parte do acervo institucional do museu exporta na área externa ao Museu. Escolhemos iniciar a coleta de informações por essa canoa, identificada na análise das fichas de documentação do Museu da Vila como Canoa Evelyn, pertencente outrora ao pescador Fernando Rocha da Silva. O entendimento técnico, além de ser um método de mapeamento de tipologias de embarcações, nos permite colaborar na sensibilização do público, com o planejamento de ações educativas e interpretativas a partir deste objeto museal. Analisamos prioritariamente as informações técnicas que pudessem nos fornecer subsídios para uma reprodução desta canoa em desenhos técnicos (planos de linhas), maquetes eletrônica e física. Dentre as informações coletadas, constam as medidas gerais e imagens da embarcação, tornando possível a elaboração de uma maquete eletrônica simplificada. Durante a composição do desenho, percebemos a necessidade do aprofundamento da pesquisa relacionado ao processo construtivo da embarcação, para que pudéssemos reproduzir etapa a etapa em desenhos técnicos necessários para elaborar modelos de embarcações em escala reduzida, maquete eletrônica e física que respeitassem a técnica, os materiais e as dimensões do objeto em escala 1:1.
// Figura 61: Modelo preliminar, maquete eletrônica. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software Sketchup MAKE.
Tomamos como base os estudos feitos por um dos colaboradores deste trabalho, Antônio Jonas, modelista autodidata. Para a modelagem de uma embarcação são necessárias diversas medidas, que variam dependendo da complexidade do modelo. A ficha técnica, extraída do inventário das artes de pesca (suporte de documentação do acervo do Museu) não continha me100
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didas suficientes para a perfeita construção do modelo. Nela existiam medidas: Faces da proa e popa; Comprimento (parte superior); Quilha (comprimento parte inferior); Boca (largura da seção que se encontra no centro do barco); Cavernas (pode-se dizer que são as costelas do barco) – estas apenas com espessura e distância entre elas. Foi possível, então, realizar esses estudos de modelagem preliminares a partir das medidas e imagens que constam naquele Inventário, uma oportunidade de reconhecer quais medidas e informações seriam necessárias para que pudéssemos elaborar um modelo com maior fidelidade. Para tal, precisamos conferir de perto medidas e detalhes construtivos da embarcação. Medidas necessárias •Cavernas – cada caverna tem característica única, logo cada uma deve ser considerada uma seção importante do barco e medida com precisão, devendo ser considerado altura, comprimento, espessura e possíveis curvas, distância entre elas e a distância delas para as extremidades, evitando assim a soma de erros milimétricos de medida. •Comprimento e Quilha – Estas peças são curvas, logo devem ser medidos da seguinte forma, comprimento (A e B) e flecha (altura da referência horizontal para a linha curva) •Boca – deve ser medida como as cavernas e também a distância para as extremidades (proa e popa), conferindo assim mais precisão às medidas. •Faces da proa e popa – devem ser medidas em altura, comprimento, suas curvas e o ângulo que fazem em relação a um plano horizontal.
// Figura 62: Instruções de medição de linha curva. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software AutoCAD
Medidas da Canoa Evelyn: •Cavernas – 8 cavernas de 0,05m de espessura, 0,59m entre uma caverna e outra. •Comprimento e Quilha – 5,72m e 5,50m, respectivamente. •Boca – 1,70m (largura) e 0,59m (profundidade). •Faces da proa e popa – (largura x altura) 0,53m x 0,67m e 0,91m x 0,79m, respectivamente. 101
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Processo de modelagem Começamos a trabalhar com as medidas que havia na ficha do inventário, com isso foi possível desenhar a face da proa e popa, também sabendo a distância entre elas, como representado abaixo:
// Figura 63: Desenho faces popa e proa. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software AutoCAD
Depois mais medidas se fizeram necessárias, começamos a supor medidas através de fotos na ficha técnica. A embarcação é cheia de curvas além de ser envergada, presumimos que a boca, a parte mais larga, é bem centralizada na embarcação.
// Figura 64: Construção do modelo. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software Sketchup MAKE
Com esse “gabarito” feito, as curvas restantes do casco foram facilitadas, pois tinha ajuda das fotos e do conhecimento do estilo de embarcações nordestinas, já coletados das bibliografias específicas, a exemplo o livro Embarcações do Maranhão.
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// Figura 65: Construção do modelo 2. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software Sketchup MAKE
// Figura 66: Construção do modelo 3. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software Sketchup MAKE
A partir das curvas mais desenvolvidas, através de recursos do software Sketchup Make concluímos a forma do casco da embarcação. Com o casco concluído direcionou-se para modelar a estrutura interna.
// Figura 67: Construção do modelo 4 // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software Sketchup MAKE
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As medidas da ficha técnica do inventário auxiliaram a posicionar os gabaritos para detalhar melhor as cavernas, que são ao todo, 8 cavernas de 0,05m de espessura, 0,59m entre uma caverna e outra do barco. Na falta das dimensões das cavernas baseou-se nas fotos, onde um homem colocou sua mão sobre uma caverna a partir da proporção mão em relação ao barco foi possível presumir a largura e altura da madeira da caverna.
// Figura 68: Construção do modelo 5. // Fonte: Antônio Jonas, 2019. Software Sketchup MAKE
Finalizando essa etapa com a pintura das tábuas que servem de assento e apoio para outras estruturas do barco como a vela, como curiosidade, “nota-se a inexistência de quilha, que é como a coluna vertebral das embarcações, este detalhe diz muito sobre seu processo construtivo, instigando para uma pesquisa mais profunda deste processo”. (ANTÔNIO JONAS, 2019) Com os planos desenvolvidos com o auxílio dos softwares AutoCAD e Sketchup MAKE, os modelos e a maquete eletrônica já elaborados, fizemos um protótipo de um modelo em madeira para aprimorar técnicas, habilidades e exercitar uma metodologia e didática no processo executivo da maquete da canoa.
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// Figura 68: Modelo físico, referência de escala. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
A construção do primeiro modelo:
O tempo de elaboração de um modelo varia de embarcação para embarcação e seu tamanho, mas o objeto é a embarcação Evelyn, uma canoa de pesca de pequeno porte construída no município de Luís Correia, por um construtor naval proveniente do Estado do Ceará. Com as instruções e auxílio de Antônio Jonas, o tamanho adotado para o modelo foi de 25 – 30cm de comprimento. Foi realizada a criação de um projeto da embarcação, contendo os desenhos das partes principais da canoa, utilizamos o software AutoCAD (versão educacional), para desenhar as cavernas, popa e proa, que são estruturantes para a construção da embarcação. Com a base desenhada no software, com medidas fiéis a realidade, é possível efetuar a impressão em qualquer escala desejada, servindo como gabarito para a construção do modelo em materiais diversos. O material utilizado para o primeiro modelo foi: Palitos de madeira pinus (mexedor de café); Cola (cascola, cola de madeira instantânea transparente); Lixa para madeira; Serra de madeira; Alicate de unha. 105
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Primeiro passo: Construímos as cavernas, popa e proa. As cavernas determinam o formato do casco e são uma das principais características da embarcação, com o auxílio de um desenho guia ou gabarito impresso, os palitos flexíveis são colados para conseguir fazer as cavernas. Para proa e a popa os palitos foram cortados posicionados e colados, também com o auxílio do gabarito impresso.
// Figura 70: Processo construtivo cavernas. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019
Segundo passo: Unimos as cavernas com a popa e proa, com ajuda de um gabarito, criado para este fim, posicionamos e colamos as cavernas com as peças da popa e proa, colamos também dois palitos na base, formando assim a “quilha”, que une todas as peças, após a secagem, podemos retirar o gabarito criado para estruturar.
// Figura 71: Processo construtivo casco. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019
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Terceiro passo: Com as cavernas posicionadas e presas às extremidades (popa e proa), os palitos são colados para o fechamento do casco. Este é um processo demorado e que requer bastante habilidade manual, para os ajustes necessários à adaptação às curvaturas da embarcação. Para viabilizar isto, utilizamos a técnica de umedecer em água morna os palitos para que fiquem mais maleáveis e se adaptem melhor às curvas necessárias sem quebrar. Este processo remete ao de “cozinhar” a madeira para atingir as curvaturas exigidas pela embarcação, que são feitas nos estaleiros navais artesanais.
// Figura 72: Processo construtivo, detalhes. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
// Figura 73: Material em água morna, processo de flexibilização. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
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Finalização: Lixamos a embarcação para ter um bom acabamento. Uma pintura com tinta impermeabilizante é importante para garantir a proteção do suporte (madeira), impedir que absorva umidade, como também reproduzir com fidelidade as cores da embarcação original. No entanto até o presente momento do trabalho, a embarcação permanece sem pintura, como um demonstrativo do material utilizado no processo. A partir desses estudos e aprendizados iniciais, aprimoramos a técnica, treinamos e exercitamos com materiais diferentes, como palitos de picolé. Aprimoramos usos de ferramentas e partilhamos esses exercícios durante a 4ª feira do patrimônio em outubro de 2019. Nesta ocasião, tivemos a oportunidade de apresentar um pouco da proposta deste trabalho, e alguns modelos da canoa Evelyn em diferentes etapas do processo. Também aproveitamos o evento para demonstrar as técnicas utilizadas para a construção dos modelos, os materiais e as ferramentas.
// Figura 74: Exposição de modelos e técnicas construtivas, Feira do Patrimônio 2019. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019
Em sequência, durante a montagem da exposição “Nós do Coqueiro”, que ocorreu na primeira semana de novembro de 2019, também aproveitamos para partilhar a experiência de construção dos modelos ainda inacabados da feira do patrimônio, com um jovem do bairro Coqueiro da Praia, que já havia demonstrado interesse. De forma espontânea, sentamo-nos na calçada do futuro estaleiro escola e começamos a recortar, colar e montar canoas.
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// Figura 75: Montagem de modelos de canoas. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
7.4.2.2 Oficinas de sensibilização
Foram realizadas como parte da metodologia de aproximação, imersão na comunidade e mobilização das pessoas, com ênfase nos usuários identificados na aplicação dos questionários, em duas oficinas realizadas no Museu nos meses de julho e agosto de 2019 respectivamente, oficina de educação ambiental e patrimonial, em parceria com a mestranda Hanna Morganna, e a oficina “Que canoa é essa?”. Pesquisa e estágio foram atividades concomitantes realizadas por mim e Hanna no Museu da Vila. IDENTIFICAÇÃO OFICINA 1- FÉRIAS NO MUSEU TEMA/ TÍTULO: Educação Ambiental e Educação Patrimonial FACILITADORES: Hanna Morganna e Mariana Bezerra LOCAL: Museu da Vila DATA:26.07.19 (SEXTA-FEIRA) CARGA HORÁRIA: 4 horas HORÁRIO: 15h A proposta da oficina foi apresentar conceitos e boas práticas de educação ambiental e patrimonial com o uso de recursos didáticos como vídeos, fotografias, slides, música e atividades práticas in loco, usufruindo do acervo técnico expositivo do espaço do museu. No contexto da pesquisa que propõe a criação do Estaleiro escola do Museu da Vila, a atividade se relacionou aos conceitos de educação e interpretação do patrimônio, em que apreendemos o patrimônio ligado às embarcações e artes de pesca. Conecta-se também à proposta expográfica de uma 109
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embarcação do acervo institucional do Museu, nomeada “Vovó”, para a nova exposição de longa duração, em que será feito um trabalho colaborativo de construção de um piso com garrafas de vidro, reaproveitadas, como base para a embarcação a ser exposta e interpretada. A Oficina se justificou pela inserção do Museu da Vila no território da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, que é uma área de conservação federal que abrange 3 estados do Nordeste, Piauí, Ceará e Maranhão e 10 municípios. A paisagem é formada por dunas, manguezais, igarapés e uma fauna e flora ricos em biodiversidade. Sua diversidade se aplica também no âmbito cultural e patrimonial pela presença de populações ribeirinhas, praieiras e deltaicas e suas atividades tradicionais de saberes e fazeres se relacionam diretamente com esta paisagem natural. Visto isso, há uma necessidade de promover uma sensibilização e voltar o olhar para a preservação desse rico patrimônio natural e cultural. Teve como objetivos: A) Promover uma sensibilização acerca do meio ambiente para a preservação do território local e a biodiversidade B) Apresentar boas práticas de preservação, reaproveitamento e reutilização de materiais que seriam descartados no meio ambiente. C) Conceituar, de forma interativa, patrimônio, preservação e identidade. D) Mobilizar por meio de vídeos, formas de contribuir com a limpeza e o reaproveitamento de lixo. E) Identificar um grupo que possa replicar os conhecimentos e compartilhá-los com os demais usuários do Museu da Vila. Como públicos prioritários tivemos os mediadores mirins do Museu da Vila, crianças e adolescentes (faixa etária de 12 a 16 anos) e como colaboradores mestrandos da turma 4 do mestrado, representada por Cristiana Brandão. Com apoio do programa Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI), Museu da Vila e Associação de Moradores do Bairro Coqueiro da Praia.
PROGRAMAÇÃO PROPOSTA 15h Dinâmica de Acolhida - Facilitadora Profª Cristiana Brandão (mestranda MAPM-UFPI) 15h20m Apresentação dos conceitos de educação patrimonial e ambiental- Profª Hanna Morganna e Professora e Arquiteta Mariana Bezerra. • 110
Apresentação de conceitos com auxílio de imagens e projetor.
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Exibição de vídeos informativos sobre a temática
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Apresentação da maquete da Canoa Evelyn
•
Mostra interativa dos objetos feitos com materiais reaproveitados.
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Dinâmica de apresentação dos objetos do Museu da Vila
16h30m Atividade prática colaborativa de reuso de garrafas de vidro para a criação de piso da expografia da embarcação “Vovó” •
Orientação por meio de vídeo educativo sobre a técnica de reutilização de garrafas de vidro.
•
Demonstração de limpeza colaborativa das garrafas que serão utilizadas no processo.
•
Escavação no local, posicionamento e fixação das garrafas no piso.
17h00m Lanche coletivo 17h30m Música e dança “Xote Ecológico” ARTE PARA DIVULGAÇÃO VIRTUAL
// Figura 76: Divulgação oficina de educação ambiental e patrimonial. // Fonte: Hanna Morganna, 2019. Canvas App
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RELATÓRIO DA ATIVIDADE •
Descrição do que foi realizado
A oficina iniciou com uma atividade dinâmica conduzida pela Mestranda Cristiana Brandão, com referência ao patrimônio local. Introduzimos conceitos sobre o que é patrimônio, e formas de preservação, reconhecimento e interpretação. Também foi abordado temas como meio ambiente, reciclagem, reaproveitamento e reuso. Dentro da temática foi apresentado o projeto expográfico da canoa “Vovó” e o trabalho a ser realizado de reuso de garrafas de vidro para a construção de um piso. •
Metodologia utilizada
Utilizamos a apresentação expositiva dialogada com recurso audiovisual para exemplificar, além de atividades práticas. •
Recursos
Notebook, projetor, papel, lápis e prancheta. •
Produtos e serviços
Como produtos, realizamos o assentamento de algumas garrafas de vidro no piso, e fizemos a atividade “adote um copo”, com o intuito de reduzir a quantidade de copos de plástico que vão para o lixo.
// Figura 77: Ações oficina de educação ambiental e patrimonial. // Fonte: Hanna Morganna e Mariana Bezerra, 2019
•
Avaliação e Resultados
Os participantes que já se apresentavam como mediadores do Museu, aprimoraram seus conhecimentos sobre o patrimônio cultural, sua relação com o meio ambiente e a função do museu naquela comunidade, ampliando seu potencial como replicadores e gestores do patrimônio. 112
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IDENTIFICAÇÃO OFICINA 2 - MUSEU (A)GOSTO TEMA/ TÍTULO: “Que canoa é essa?” Uma compreensão técnica do acervo institucional do Museu da Vila FACILITADORES: Mestranda Professora Arquiteta. Mariana Bezerra LOCAL: Museu da Vila DATA:21.08.19 (QUARTA-FEIRA) CARGA HORÁRIA: 4 horas HORÁRIO: 15h A proposta da oficina “Que canoa é essa?”. Compreensão técnica do acervo do Museu da Vila proporciona aos residentes da vila-bairro Coqueiro da Praia, usuários do museu, mais especificamente ao já formado grupo de mediadores mirins, noções básicas de educação patrimonial, de forma dinâmica e interativa, focado no conhecimento técnico de geometria e representação gráfica (MONTENEGRO, 2009; CHING; JUROSZEK, 2010) mais aprofundado do acervo institucional do Museu da Vila, com destaques paras as 3 canoas. Esse conhecimento técnico, abrangeu nomenclaturas, tecnologias de construção, bem como as dimensões e materiais empregados na construção dos objetos do acervo. O Estaleiro Escola do Museu da Vila se relaciona à temática da oficina, a partir das necessidades de compreender melhor as técnicas construtivas do já institucionalizado acervo de embarcações, aproximando os usuários deste importante saber. O Museu da Vila, mantém constantes atividades relacionadas ao conhecimento de seu acervo institucional e operacional e de forma colaborativa vem formando mediadores em toda a comunidade para que repliquem o conhecimento sobre o patrimônio local. Desta forma é importante o aprofundamento do conhecimento sobre este acervo, e também formas de se reconhecer objetos do patrimônio local, como também ferramentas de educação e interpretação patrimonial. Os objetivos da oficina foram detalhados de forma a gerar conhecimentos específicos de interesse do trabalho, como também diagnosticar possíveis demandas futuras. Que são: A) Compreender as técnicas utilizadas, as dimensões, usos e materiais das embarcações do acervo institucional do Museu da Vila. B) Apresentar nomenclaturas e tecnologias de construção de embarcações. C) Conceituar, ferramentas de interpretação patrimonial (a exemplo maquetes de embarcações). D) Identificar um grupo que possa replicar os conhecimentos e compartilhá-los com os demais usuários do Museu da Vila. 113
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O público previamente escolhido foi o grupo de mediadores mirins do museu da vila, crianças e adolescentes (faixa etária de 12 a 16 anos), no entanto a divulgação foi realizada de forma ampla e aberta nas redes sociais e também em convites pessoais na Unidade Escolar Professora Carmosina Martins da Rocha, prioritariamente às turmas de 7º, 8º e 9º anos do ensino fundamental. Este público foi definido como prioritário pois se enquadram na faixa etária de interesse. Tivemos como colaboradores alguns colegas mestrandos da turma 4 do mestrado. Isa Marilia, Sabrina Castro e Hanna Morganna, colaborando no preparo e organização e durante a oficina de forma também participativa e na divulgação. Contamos com o apoio do programa de Mestrado profissional em Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI), Museu da Vila, Associação de Moradores do Bairro Coqueiro da Praia. PROGRAMAÇÃO PREVISTA 15h Recepção apresentação dos objetos e ferramentas que iremos utilizar - Facilitadora Professora Arquiteta Mariana Bezerra (mestranda MAPM-UFPI) 15h20m Apresentação das tecnologias, ferramentas e nomenclaturas dos objetos do acervo e Professora Arquiteta Mariana Bezerra. •
Apresentação de conceitos com auxílio de imagens e projetor.
•
Apresentação da maquete da Canoa Evelyn
•
Mostra interativa dos objetos do acervo
15h50m Atividade prática orientada colaborativa medição dos objetos do acervo e reconhecimento das partes que compõem. Os alunos irão representar através de desenhos técnicos as partes dos objetos do acervo. 17h Lanche coletivo ARTE PARA DIVULGAÇÃO VIRTUAL
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// Figura 78: Divulgação oficina “Que canoa é essa?” // Fonte: Isa Marília, 2019, Canvas App.
RELATÓRIO DA ATIVIDADE •
Descrição do que foi realizado
Durante a tarde do dia 21/08/2019, foi realizada a explanação do que seria um modelismo, o modelismo naval e maquetes (MILLS, 2007) feitas como artesanato. Também abordamos os conceitos de escala e proporção, demonstrando como se reduz e se amplia uma medida e os instrumentos utilizados para o desenho técnico. A partir dos conceitos abordados, fomos para uma atividade prática. Utilizando um roteiro para medição da embarcação, previamente elaborado, fizemos uma medição minuciosa das partes da canoa Evelyn, e realizamos croquis com as medidas e nomenclaturas das partes que a compõe. •
Metodologia utilizada
Utilizamos a apresentação expositiva com uso de imagens para exemplificar, além da atividade prática, como exercício sobre o conteúdo apresentado.
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// Figura 79: Atividade de medição canoa Evelyn. // Fonte: Isa Marília, 2019.
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Recursos
Notebook, escalímetro, réguas e esquadros, papel, roteiro de medição, lápis e trena para medição.
// Figura 80: Recursos e instrumentos. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019
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Produtos e serviços
Como produtos, elaboramos croquis e extraímos informações mais detalhadas sobre a embarcação, nomeada Evelyn.
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// Figura 81: Croquis elaborados durante oficina. // Fonte: Isa Marília e Mariana Bezerra, 2019
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Avaliação e Resultados
Os participantes em sua maioria em idade escolar aprimoraram conhecimentos matemáticos de geometria e de desenho, exercitando a conversão da unidade de medida de metro para centímetro, e aprendendo soluções para medição de elementos curvos, através dos croquis e anotações realizadas. Compreenderam também o modelismo como forma de arte, e preservação do patrimônio local e demonstraram um grande interesse em aprofundar o conhecimento e habilidades para elaborar maquetes fiéis a realidade a qual representa. Percebemos durante a atividade, uma construção de mentalidade dentre os jovens, principalmente em relação aos objetos do acervo e os cuidados que se deve ter com estes objetos. No momento da medição, às vezes se fazia necessário se debruçar sobre a canoa e um dos participantes em certo momento exclamou: “cuidado isso é uma peça do museu!”, demonstrando a percepção apreendida sobre a preservação patrimonial em diversas atividades já realizadas. Com esta atividade tornou-se mais nítida a viabilidade da construção do Estaleiro Escola e seu uso para a ampliação dos diversos conhecimentos que foram abordados neste percurso.
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8. O Estaleiro Escola do Museu da Vila 8.1 Projeto arquitetônico: O conceito e o partido Planejar arquitetura é deixar uma marca na paisagem, no território e no imaginário de quem usa ou vê a obra. O impacto que uma arquitetura provoca na paisagem de um lugar pode exercer reações positivas ou negativas. Por esta demanda que a arquitetura nos exige pensamos que intervir no espaço urbano não deve ser feito sem critérios, e a busca por uma contextualização com o entorno e com quem irá utilizar e se reconhecer no espaço físico arquitetônico foi o nosso primeiro passo “criativo”. O conceito em arquitetura é a ideia que se deseja comunicar, a sensação que irá provocar nas pessoas que ali usufruem o espaço. Para o Estaleiro Escola do Museu da Vila, baseamos nosso conceito em 2 pontos principais: a simplicidade, extraída do contexto dos estaleiros artesanais, e o industrial, que remete à ofícios, trabalho, técnicas e tecnologias. Adequando com isso o contexto urbano e o contexto funcional da futura edificação. O partido arquitetônico, são todas as diretrizes que iremos usufruir, dentre elas, técnicas, leis, normas, estilos, materiais, o território para atingirmos o nosso conceito arquitetônico inicialmente pensado.
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Portanto nossa proposta se inicia, desde os parâmetros legais apresentados, também analisamos condicionantes necessárias à tipologia do projeto, ao ambiente natural e cultural ao qual está inserido.
8.1.1 Proposta arquitetônica Para o equipamento educativo-cultural, parte de um complexo em extensão ao Museu da Vila, buscamos além dos estudos de caso a projetos similares e boas práticas com o propósito de criar um programa de necessidades básico, perceber também quais espaços poderiam atender também às atividades do museu, formando assim um complexo composto por: Salão de exposição para embarcações de médio porte, depósito, recepção, copa, banheiros adaptados, sendo um masculino e um feminino e biblioteca, no pavimento inferior. Hall multiuso, sala de modelismo naval (marcenaria), sala de informática, almoxarifado, apartamento/alojamento (composto por um quarto, cozinha e banheiro), e uma sala multiuso, no pavimento superior. Conforme fluxograma:
// Figura 82: Fluxograma. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019.
No fluxograma apresentamos uma divisão setorial por funções dos espaços: em cinza, os espaços de circulação e interligação dos ambientes, em vermelho os espaços de serviço, em verde os ambientes com função predominantemente educacional, e em laranja áreas molhadas e afins. A partir deste fluxograma preliminar, pudemos então esboçar os primeiros estudos de dimensionamento para esses espaços, buscando atender dimensões mínimas exigidas pela legisla-
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ção municipal, lei complementar nº 699, de 30 de junho de 2010, do município de Luís Correia, Piauí, que dispõe sobre o Código de Obras do município de Luís Correia e dá outras providências.
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Encontra-se nessa legislação parâmetros de dimensionamentos mínimos para compartimentos e ambientes para áreas comuns edifícios comerciais, industriais e de uso misto no anexo III desta mesma lei, que nos norteou para o início da proposta. Foi fundamental para estes primeiros estudos também pensar o layout, como parâmetro de dimensionamento dos espaços compreendendo as necessidades de cada ambiente e as diferentes formas de uso.
// Figura 83: Planta baixa humanizada pavimento térreo. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE.
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No pavimento inferior (figura 83), tomamos como partido, a dimensão da maior canoa do acervo institucional do museu, nomeada “Vovó”, propomos um espaço com pé-direito duplo, para que seja possível a exposição e reparo de embarcações com maior porte. Também foram pensados 2 acessos: Acesso 1 pela avenida Antonieta Reis Veloso, com dimensões suficientes para carga e descarga de embarcações ou objetos de maior porte e o Acesso 2 pela Rua José Quirino, projetado como saída e entrada exclusiva de pessoas e mobiliário de menor porte. Pelo acesso 1, criamos uma rampa aproveitando o desnível de cerca de 70cm em relação ao nível da rua, facilitando, com isso, a mobilidade de embarcações ou materiais de maior porte, para a parte interna do estaleiro. Pelo acesso 2, os usuários terão a possibilidade de adentrar aos demais espaços pensados, com múltiplos usos dentro da edificação. Além disso também poderão transitar entre os diversos espaços, que apesar de entradas independente contém uma interligação.
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// Figura 84: Fluxograma. // Fonte: Planta baixa humanizada, pavimento superior.
No pavimento superior (figura 84), optamos por posicionar a sala de modelismo/marcenaria com uma visão para o salão de exposições que tem pé-direito duplo, fazendo-a como um mezanino, proporcionando um efeito mais integrador dos espaços, esta integração visual proporciona a sensação de amplitude e fluidez das funções exercidas em cada ambiente. As demais salas: informática, multiuso, almoxarifado e o apartamento/alojamento tem acesso direto pelo longe/hall central.
// Figura 85: Vista pé-direito duplo. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Maquete eletrônica em Sketchup MAKE e renderizada em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
Para a sala multiuso pensamos 3 opções de layouts diferentes como sugestão. Podendo ser nos moldes de sala de reunião (apresentado na planta humanizada do pavimento superior (figura 84), sala de estudos e/ou sala de aula (figura 86).
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// Figura 86: Propostas de layouts para sala multiuso. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE.
Para a volumetria preliminar observamos as referências locais e também os estudos sobre estaleiros, tanto artesanais como industriais para chegarmos num modelo adequado à tipologia e à paisagem de entorno. Seguindo um dos princípios clássicos da arquitetura, proferido pelo arquiteto modernista do século XX, Louis Sullivan, “a forma segue a função”, propusemos uma edificação com telhado em duas águas e aparente, remetendo aos modelos de estaleiros analisados, a exemplo o Núcleo Naval do Seixal, em Seixal, Portugal, e os estaleiros artesanais vistos nas referências estudadas, além da própria forma da nomeada “pesqueira”, estrutura simples as margens da praia utilizada eventualmente pelos pescadores locais para reparos de embarcações. A escolha da forma se baseia no perfil urbano do bairro e do entorno próximo, se adequando assim, em estilo e acabamentos, de forma que haja uma unidade e identificação visual clara. Por se tratar de um complexo associado ao Museu da Vila, tornando-se uma espécie de extensão ou anexo do prédio, compondo este núcleo museal buscamos também referências no projeto arquitetônico feito para o Museu pela arquiteta e mestranda da 3ª turma, Karina Cadena, como trabalho final de mestrado, para que os projetos sigam uma única identidade, na paisagem urbana. Alguns dos elementos utilizados foram, o modelo de cobogós, e de janelas e a escolha de materiais de acabamentos internos e externos similares, aos propostos para o Museu da Vila.
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// Figura 87: Estudo volumétrico. Cena 1 // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Maquete eletrônica em Sketchup MAKE e renderizada em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
Para a entrada do salão de exposições, utilizamos um portão metálico com dimensões para passagem de embarcações e produtos de médio a grande porte. Um letreiro em alto relevo com a sinalização do que funciona no prédio e a logomarca, preenche o espaço de parede acima do portão, colaborando também com a identificação de um dos acessos. Buscamos neste espaço manter as paredes internas limpas com relação a aberturas, proporcionando mais área expositiva, e protegendo a edificação da incidência solar nos horários em que recebem luz direta nestas superfícies.
// Figura 88: Mapa caminho do sol, nascente ao poente. // Fonte: Karina Cadena, 2019, editado por André Sampaio, 2020.
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As tesouras de sustentação da cobertura ficarão aparentes tanto interna como externamente, propomos um fechamento em vidro, na parte frontal (testada secundária, acesso ao espaço expositivo) da edificação, para que a visão rústica das tesouras permaneça como elemento decorativo na fachada, mas também funcionando como entrada de luz natural para o edifício.
A marquise, foi utilizada no acesso da fachada, voltada para a rua José Quirino, e é um elemento que proporciona um efeito convidativo às edificações, demarcando também o acesso para os usuários do edifício. A parede lateral ao salão de exposição permanece propositalmente “cega”, ou seja, sem nenhuma abertura de portas ou janelas, assim é possível que se use esse espaço como um painel expositivo, para publicidade e programação do Museu da Vila e do próprio funcionamento do Estaleiro Escola ou até como espaço para projeção de vídeos, filmes e documentários. Para compor esteticamente a fachada propusemos uma espécie de grid metálico a partir do desenho da logomarca do Museu da Vila. Este espaço serve como suporte para banners ou lonas de projeção, bem como cria um elemento decorativo na fachada quando não houver nenhuma publicidade fixada.
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// Figura 89: Estudo volumétrico. Cena 2. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE e Renderizado em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
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// Figura 90: Estudo volumétrico. Cena 3 // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE e Renderizado em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
Parte da parede da fachada principal, foi projetada para ser executada em elementos vazados “cobogós”, sendo a principal fonte de iluminação natural para a recepção e circulação vertical (escada) até o lounge do pavimento superior. Seguidas de janelas para iluminação e ventilação dos ambientes da biblioteca (pavimento inferior) e sala multiuso (pavimento superior). Para os ambientes que se voltam para as fachadas lateral direita e posterior, priorizamos aberturas de iluminação e ventilação natural, que fornecem qualidade do ar aos espaços, como também mantem uma identidade visual nos acabamentos propostos. Todas as esquadrias que são feitas em alumínio e vidro, terão seu acabamento em pintura preta fosca. Este estilo remete ao conceito industrial ao qual pretendemos. As portas internas de separação das salas e ambientes, também receberão pintura fosca preta mantendo a identidade do estilo.
// Figura 91: Imagem 3D, lounge pavimento superior. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE e Renderizado em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
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Apenas as janelas em madeira com venezianas e vidro, voltadas para as fachadas, manterão sua cor original, sendo apenas envernizadas, para dialogar visualmente ao edifício do Museu da Vila.
// Figura 92: Imagem interna, sala multiuso, modelo janela. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE e Renderizado em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
O aproveitamento de espaço não se limita as paredes voltadas para a área interna e os espaços criados por elas. Nosso espaço expositivo, interpretativo e útil é o território e tudo o que o envolve, possibilitar que toda a arquitetura seja ativa nos motiva a pensar também os espaços externos. Como já citado nossa fachada frontal (frente principal), contém um grid para informações visuais, e nesta mesma compreensão sugerimos que nossa fachada posterior (em relação à frente principal), que também contempla uma parede sem aberturas, se torne parte expositiva útil.
// Figura 93: Indicação de parede livre para exposição. // Fonte: Mariana Bezerra, 2019. Sketchup MAKE e Renderizado em Lumion por Marcos Figueiredo, 2020.
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Para atender ao conceito industrial, propusemos também que toda a instalação elétrica e iluminação seja feita com eletrodutos aparentes, externos às paredes e forros, na cor preto fosco, mantendo o estilo visual planejado. O piso em granilite cinza, também colabora ao estilo proposto, além de ser resistente e de relativo baixo custo. Toda a iluminação dos ambientes externos e internos foi planejada a partir da função e necessidades de cada espaço, bem como os custos de manutenção da edificação, por isso indicamos lâmpadas em LED, que tem em suas especificações técnicas um baixo consumo de energia elétrica.
// Figura 94: Modelos representativos de granilite e instalação aparente. // Fonte: Google Imagens, 2020.
Buscamos com este projeto arquitetônico não só criar espaços uteis e funcionais, mas valorizar o ofício, preservar o conhecimento das técnicas e os saberes tangentes à pesca artesanal do nosso litoral. Valorizar as pessoas, que afinal são quem usam os espaços, ou seja, humanizar. Vitruvius, nome de conhecimento obrigatório para os estudiosos da arquitetura, autor do primeiro tratado sobre o assunto, definiu arquitetura como o produto gerado pela subdivisão em elementos, deste citamos 3, que compõe a conhecida tríade vitruviana: Firmitas, Utilitas e Venustas. Firmitas significa, firmeza, estrutura, a busca de materiais e técnicas que mantem um edifício de pé e seguro precisa fazer parte do pensamento e planejamento do arquiteto. Utilitas, a função, o uso, norteando a arquitetura a partir de sua tipologia, ou seja, a que ela servirá. Venustas, a estética, a beleza e a arte envolvida no pensamento criativo arquitetônico. (COLINS, 2000) Para nosso pensamento projetual sempre buscamos agregar um quarto elemento a este tripé, que é a humanidade ou humanização. Ou seja, planejar não considerando somente a que se destina, mas a quem se destina o espaço, como as pessoas deste lugar, os usuários, se portarão, se reconhecerão e visualizarão o espaço arquitetônico. Esta é uma preocupação constante durante a vida útil de uma edificação e não se finda no projeto ou na obra pronta, mas sim nas relações construídas no processo, do projeto, da obra e do futuro uso, nos momentos que serão vividos, nos aprendizados adquiridos, nas descobertas e nas oportunidades.
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Buscamos formas de imprimir em nossa arquitetura, pessoas que fizeram e fazem parte da construção de toda a ideia, embasamento conceitual e projetivo, nomeando alguns espaços em homenagem àqueles que são e/ou foram colaboradores diretos ou indiretos neste processo. O Salão de Exposições, onde se localiza a “Canoa Vovó”, nomeamos de Sala dos Grandes Mestres. Nesse espaço, pretendemos expor histórias de vida, a arte e ofício dos mestres carpinteiros da região, os verdadeiros detentores e doutores deste saber, que é a técnica construtiva de embarcações artesanais. Na parede externa (fachada posterior, em relação à frente principal) do edifício, propomos uma espécie de “parede da fama”, onde cada carpinteiro naval possa deixar suas mãos marcadas, mãos estas, que trabalham duramente no ofício de construção de canoas artesanais. O espaço da biblioteca, nomeamos Professora Áurea Pinheiro, referência na vila-bairro no trabalho de formação profissional no campo da gestão do patrimônio cultural imaterial e da museologia de inovação social. Com a comunidade concebeu o Ecomuseu Delta do Parnaíba – ECOMUDE, o seu primeiro Polo, o Museu da Vila e idealizou um Estaleiro Escola para o território. O espaço lounge é uma homenagem ao amigo Danilton Nóbrega (in memorian), entusiasta deste Projeto, colaborador em diversas atividades. O espaço é uma representação daquele amigo, livre, multifuncional, aberto, simples e iluminado. As demais salas podem ainda ser nomeadas a partir das vivências e experiências no percurso que este Projeto ainda irá trilhar, construção, uso e vivências.
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9. Conclusão Concluímos esta fase do trabalho com indagações e incertezas, receios e anseios sobre a possibilidade de o PPGAPM conseguir executar o Projeto Arquitetônico, criar o Estaleiro Escola. Ao longo do processo de construção deste trabalho, buscamos harmonizar conhecimentos técnicos, científicos, profissionais ou da própria vontade, para conquistarmos a sensibilidade de perceber o lugar e as pessoas como parceiras e colaboradoras. Não foi um processo simples, não foi fácil. Somente no momento em que nos permitimos conhecer, reconhecer as nossas potencialidades e limitações, conseguimos ver o outros seu modo de ser e viver, os saberes, conhecimentos que detém. Acreditamos que aqui está a essência de um projeto como este, no qual buscamos na investigação, intervir e, principalmente, perceber a importância deste trabalho para a comunidade da vila-bairro Coqueiro da Praia, uma comunidade pequena e ao mesmo tempo complexa em suas relações com o espaço, com as pessoas e com o próprio tempo. Como conseguir conversar, entrevistar, conhecer pessoas se não entendermos esses tempos de uma comunidade de pescadores, onde quem dita o tempo é o mar, não o tempo cartesiano, linear dos pesquisadores. Preci129
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samos aprender a usar esse tempo, entende-lo, compreender essa relação e assim gerenciar nossas ações, pensadas, planejadas e organizadas. Tinham que ter sentido, precisavam estar inseridas nas lógicas sociais e temporais da comunidade. Portanto, ao propormos um Estaleiro Escola, pensamos em muitas lógicas de ser, e não só a interpretação e educação para os patrimônios, não só o reconhecimento dos diversos profissionais da pesca artesanal, não só um novo aprendizado para os jovens, mais que isso, o que não é pouco, pretendemos que as pessoas vejam também arte nesse saber-fazer, vejam técnica, percebam que através dessa ferramenta podem melhorar seus conhecimentos básicos de matemática, geometria, suas habilidades manuais, uso de ferramentas e uma forma também de gerar renda. Muitas são as percepções geradas em cada momento das atividades, junto aos jovens e os adultos. Percebemos que este produto básico, maquetes de embarcações, podem ter um valor místico agregado, ao se fazer maquetes como “ex-votos” em manifestações religiosas, pode ter um valor lúdico, como um brinquedo para uma criança, pode ter um valor cultural, como representação histórica no Museu, podem ter um valor artístico e até comercial, como um souvenier. São muitas as possibilidades que surgem a cada encontro e a cada aprendizado conquistado. Pensamos como produto “final” para este trabalho e pomos final entre aspas, pois na verdade é ainda o início, um projeto arquitetônico que possa abrigar todas as atividades pensadas e citadas neste texto. O desenvolvimento de um projeto arquitetônico inicia-se por uma demanda de um cliente pessoa física ou jurídica ou ainda de uma necessidade coletiva, aqui representados pelo Museu da Vila. Este Estaleiro Escola se apresenta como uma extensão do referido Museu, formando um complexo cultural, que ainda se agregará a mais projetos, como a Associação de Moradores do Bairro Coqueiro (AMBC), todos os demais Trabalhos Finais do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia. Cada um desses projetos e muitos outros que estão sendo realizados em diversas áreas, tornam-se não mais acupunturas urbanas como já citado, mas uma atuação sistêmica para o desenvolvimento local. Esperamos que com a conclusão deste trabalho possamos continuar com as atividades de educação, interpretação e artes em modelismo naval. Que a construção deste edifício, seja apenas o começo de um grande projeto educativo e cultural e que possamos evoluir a longo prazo para mais e mais demandas relacionadas ao estudo das embarcações, que ainda irão surgir. Um projeto desta natureza, um projeto-ação, é um ciclo interativo, entre a comunidade acadêmica e local, os visitantes externos, os colaboradores, e sempre em evolução, buscando a avaliação do que foi realizado e a melhoria das ações, para que se mantenha a continuidade dos processos. 130
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10. Referências
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