Energia
A IMPORTÂNCIA DO HIDROGÉNIO VERDE NA DESCARBONIZAÇÃO DA INDÚSTRIA CERÂMICA EM PORTUGAL
p o r Isa be l Ma i a e Si l v a , Marke t Re se arch Ma na g e r, Sm a r t e ne r g y
A indústria da cerâmica é, em Portugal, um importante motor para a criação de emprego e de valor. De acordo com dados de 2018, esta indústria emprega aproximadamente 17.500 pessoas, tem um volume de negócios agregado de 1.164 milhões de euros, gerado por mais de 1.100 empresas. Contudo, a indústria caracteriza-se por processos produtivos que tem associados emissões de carbono em volume muito relevante, e que resultam principalmente de processos de secagem e queima. As emissões de CO2, contabilizadas a partir do consumo de energia primária em 2019 ascendem a aproximadamente 649.000 t CO2eq. Aproximadamente 84% das emissões de CO2 do setor da cerâmica estão relacionadas com o consumo de energia. Este valor pode ser desagregado entre o que é devido à combustão de combustíveis fósseis, principalmente gás natural (em alguns casos diesel, GPL, carvão ou coque), responsável por cerca de 66% das emissões de CO2, e os restantes 18% que advém da composição da matriz energética da eletricidade consumida, nomeadamente gás natural e residualmente algum carvão. Os restantes 16% das emissões de CO2 estão intrinsecamente associadas aos processos industriais. São causados pela decomposição de carbonatos em matérias-primas como calcário, dolomite ou magnesite. Por serem inerentes à matéria-prima, estas emissões são um subproduto natural do processo de queima e não podem ser evitadas. Em janeiro de 2021 o preço das licenças para emissão de CO2 atingiu os 38 €/t. Prevê-se que o preço das licenças aumente durante os próximos anos devido à redução do seu número e dos volumes disponíveis. Em 2030 estima-se que preço poderá ser superior a 50 €/t de CO2, colocando a indústria cerâmica sob pressão para cumprir a legislação aplicável nesta matéria. Como se pode ver na Figura 1, a nível europeu, as emissões do setor da cerâmica já excedem as licenças emitidas. Esta situação tende a agravar-se já que o número de
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licenças disponíveis no futuro será mais reduzido (Fase IV do sistema de comércio de emissões da UE (CELE)). O hidrogénio verde é um vetor energético essencial para a diminuição das emissões no setor da cerâmica industrial, uma vez que: i) está isento de emissões de CO2; ii) não compromete o desempenho da indústria. O hidrogénio verde, produzido a partir de fontes de energia renováveis endógenas, e a ser consumido localmente, permite o processo de queima em fornos com o maior potencial técnico entre as soluções verdes. Numa fase transitória pode ser utilizado num blend à base de gás natural. A adoção do hidrogénio verde constitui uma mudança de paradigma, tornando a indústria imune às próximas reduções do número de licenças/aumentos de preços no âmbito do ETS, mantendo a sua competitividade. Como os processos industriais da cerâmica consomem sobretudo calor a altas temperaturas, os potenciais benefícios do uso de hidrogénio verde incluem: • Potencial para remodelação/conversão no local do equipamento de queima de gás natural existente (evitando assim a substituição integral e mantendo genericamente os processos); • Redução do impacto de eventuais alterações ao processo na rede elétrica; • Benefícios operacionais decorrentes de sistemas de armazenamento de hidrogénio.
Janeiro . Fevereiro . 2021