Correntes D’Escritas 81
“Agora não consigo...”
Dossier
Enza Campino e Riccardo Campino
Com Riccardo Campino | Orvieto. 2011
“Agora não consigo pensar para além do amanhã quando espero a prova da tua vida pela boca de outros” Depois de termos lido os delicadíssimos versos de Carmen que concluem o poema dedicado a Luis investe-nos a enorme responsabilidade de utilizar com maior consciência as palavras escolhidas para o recordar. E soa incrivelmente autêntica a definição concebida por um outro ilustre poeta, Attilio Bertolucci, “ausência mais aguda presença”, para todos aqueles que o amaram mesmo não gozando da sua constante proximidade! Nós, livreiros, tentamos honrar Luis Sepúlveda cuidando para que nunca faltem todos os seus livros nas nossas lojas, prontos para serem entregues aos leitores que os pedem, ou expondo-os com o maior cuidado possível para atrair a atenção de quem não o conhece. Na nossa consciente loucura sabemos bem que quem lê um determinado livro nunca mais será a mesma pessoa, a sua vida vai ficar mais rica e a sua alma nutrida. Luis, generoso, sempre reconheceu este papel aos livreiros, e todos nós tivemos com ele uma relação especial.
Os seus livros inflamaram-nos desde o início, mesmo sem o conhecermos pessoalmente sentíamos que éramos membros do mundo editorial em que cada elemento leva a bom termo a sua própria missão como numa estafeta: alargar a base dos leitores, conquistar continuamente leitores novos e veicular palavras e pensamento dos autores em que acredita, tarefa que Luis Sepúlveda nos facilitou. Não creio que existam leitores de um único livro seu. Quer se tenha iniciado com um romance, com contos, com uma fábula, não parou aí. E depois, os seus livros são daqueles que fazem bem mesmo fechados, uma vez terminados ou mesmo antes de serem lidos, mantidos perto como fonte de energia que se pode tocar a cada momento, carburante puro! Quando sobre eles se pousa o nosso olhar vêm à tona todos os estímulos que nos transmitiram, o prazer que sentimos ao comprá-los, ao lê-los, e somos literalmente inundados por um sentimento de gratidão. Eu e o meu irmão Riccardo, livreiros desde sempre, temos o privilégio de organizar encontros entre escritores e leitores que não são simples apresentações de livros mas, agora temos a certeza,