Conexão 2.0 - O TRABALHO É SAGRADO

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TEXTO E CONTEXTO: A bênção de Deus e as habilidades de José P. 20

Abr-Jun 2020 – Ano 13 no 54

Exemplar: 9,50 – Assinatura: 30,20

ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE

O TRABALHO É SAGRADO Saiba como servir a Deus no ambiente profissional P. 10

AO PONTO: DICAS PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO A CARREIRA P. 5

ARTIGO: COMO TESTEMUNHAR ONDE É PROIBIDO PREGAR? P. 16

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LIÇÃO DE VIDA: O PREPARO E A MOTIVAÇÃO CORRETA PARA A MISSÃO P. 30

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Editor(a)

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Da redação

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Editor Wendel Lima

TEOLOGIA DO TRABALHO Daniel Oliveira

NÃO É A PRIMEIRA VEZ que nossa revista trata da relação entre trabalho e religião. Na reportagem de capa que escrevi para a edição de abril-junho de 2011, procurei refletir sobre a ideia de sucesso profissional e entrevistei sete jovens adventistas na faixa dos 30 anos que procuravam vivenciar sua fé no contexto corporativo. Os tempos eram outros. A revista se chamava Conexão JA em vez de Conexão 2.0, e o clima no Brasil era de otimismo, pois se alardeava que 30 milhões de brasileiros haviam deixado a condição de pobreza para ingressar na chamada “nova classe C”. No texto, argumentei que o trabalho foi uma “invenção” de Deus, pois Ele trabalha (Jo 5:17) e deu atribuições ao ser humano (Gn 2:15). Porém, após a queda moral no Éden, as condições de trabalho foram radicalmente alteradas. A humanidade teria que conseguir a subsistência por meio do cansaço físico e mental (Gn 3:17-19), e, muitas vezes, sob exploração e opressão. Por isso, o ideal contemporâneo de autorrealização profissional parece ser um conceito ideologicamente fabricado para incentivar que se trabalhe mais, quando, na verdade, a maioria dos trabalhadores não pode se dar ao luxo de buscar autorrealização, mas apenas se contentar com a própria sobrevivência. A reportagem também destacou como os profissionais entrevistados lidavam com conflitos éticos e espirituais no trabalho e de que maneira procuravam testemunhar para seus colegas e gestores. Apesar de aqueles jovens terem pontuado que alguns de seus princípios religiosos eram desafiados no ambiente profissional, a formação espiritual que receberam na igreja os ajudou a desenvolver habilidades importantes para a carreira, como a facilidade de falar em público e trabalhar em equipe, além das experiências de voluntariado. O texto está disponível (conexao.cpb.com.br/arquivos) e, como ocorre com as demais pautas da revista que são pensadas para ter relevância por mais tempo, ainda vale a leitura. Nesta edição, contudo, optamos por outra abordagem dentro dessa proposta de pensar numa “teologia do trabalho”. A reportagem de capa, por exemplo, procura questionar a separação artificial que fazemos aqui no Ocidente entre sagrado e secular, mostrando que o testemunho cristão ocorre não somente quando “fazemos” missão, mas principalmente quando vivemos em missão, o que inclui o exercício de nossas habilidades num trabalho digno. Nessa linha, a revista traz uma entrevista com um executivo que dá dicas para conseguir o primeiro emprego; um infográfico que explica as tendências da educação; a resenha de um livro que apresenta exemplos práticos de integração entre profissão e missão; a história de um missionário criado no interior que hoje serve a igreja em nível mundial; e uma reportagem sobre como estudantes e empreendedores testemunham em países onde é proibido pregar. Como você sabe, nossas edições estão alinhadas com o PMDE (Plano Mestre de Desenvolvimento Espiritual) da rede educacional adventista que, neste bimestre, tem a proposta de ajudar você a desenvolver suas competências para servir a Deus abençoando o mundo. Boa leitura! 2 |

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4 CONECTADO

A OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A REVISTA

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GLOBOSFERA

SÉRIES, LIVROS, NÚMEROS E FRASES PARA REFLETIR

8 ENTENDA

AS TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

24 PERGUNTAS

SONO, MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL, EMOTICONS E SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES

32 APRENDA 33 NA CABECEIRA

5 AO

EXE COM EMP

1

A SE CONHECER

A CARREIRA QUE POSSIBILITA VÁRIAS FRENTES DE ATUAÇÃO E ESPECIALIZAÇÃO

34 GUIA DE PROFISSÕES LIVRO EXPLICA COMO USAR SEUS TALENTOS PARA A MISSÃO

16 REPORTAGEM

ESTUDANTES E EMPREENDEDORES TESTEMUNHAM ONDE É PROIBIDO PREGAR

ENTRADA

PROIBIDA

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GUE

ROS E R

ÓCIO S

26 IMAGINE

... AS MISSÕES CRISTÃS SEM A COLONIZAÇÃO

5 AO PONTO

EXECUTIVO COMPARTILHA DICAS COM QUEM PROCURA O PRIMEIRO EMPREGO

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CAPA

O DESAFIO DE CONCILIAR O SONHO PROFISSIONAL E A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA

IBILITA UAÇÃO

Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Abr-Jun 2020 Ano 13, no 54 Ilustração da capa: Gabriel Nadai

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br

SÕES

Serviço de Atendimento ao Cliente Ligue grátis: 0800-9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 Domingo, das 8h30 às 14h

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TEXTO E CONTEXTO

TUDO O QUE JOSÉ FAZIA PROSPERAVA

28 MUDE SEU MUNDO

EVENTO SERVE DE VITRINE E INCENTIVO PARA VOLUNTARIADO NO BRASIL E NO EXTERIOR

Editor: Wendel Lima Editores Associados: André Vasconcelos e Márcio Tonetti Projeto Gráfico: Éfeso Granieri e Marcos Santos Designer Gráfico: Renan Martin Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Colaboradores: Alexander Dutra, Almir Augusto de Oliveira, Eder Fernandes Leal, Edgard Luz, Henilson Erthal de Albuquerque, Ivan Góes, Luiz Carlos Penteado Jr., Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques, Rubens Paulo Silva, Samuel Bruno do Nascimento e Vanderson Amaro da Costa

A

Assinatura: R$ 30,20 Avulso: R$ 9,50 www.conexao20.com.br 9115/41156

30 LIÇÃO DE VIDA

MISSIONÁRIO BRASILEIRO FALA SOBRE O PREPARO E A CORRETA MOTIVAÇÃO PARA SERVIR

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da editora.

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Informação Conectado & Opinião Globosfera Ao ponto Entenda

VIDA COM PROPÓSITO Lendo a primeira edição de 2020, pude entender um pouco mais sobre missão e abrir a mente para a possibilidade de participar de algum projeto, ainda que de curta duração. Quero dedicar meu tempo e habilidades para ajudar outras pessoas. É bom ver que Deus capacita os que são enviados para o campo missionário. A revista é muito esclarecedora e desfaz diversos mitos a respeito da vida de missionário. Anne Zaroni Águas Claras (DF)

O FUTURO DO MERCADO DE TRABALHO (P. 8-9) É inegável que a tecnologia tem se tornado cada dia mais presente em nossa vida e que ela fará parte de nosso futuro profissional. Contudo, como mostrou o infográfico, não poderemos descuidar da questão ambiental nem da luta feminina por espaço no mercado de trabalho. A meu ver, não faz sentido falar de evolução, desenvolvimento ou progresso neste mundo que alarga as desigualdades. Ana Luísa Gouveia Sousa Goiânia (GO)

PREENCHA AS LACUNAS (P. 10-15) Iniciei minha jornada acadêmica aos 17 anos de idade. Porém, decidi que seria jornalista somente no dia da inscrição para o vestibular. Até ali, eu simplesmente não havia conseguido escolher o que faria pelo resto da minha vida. E isso não é uma decisão fácil. É verdade que algumas pessoas sabem qual é sua vocação desde criança; porém, outras demoram mais para se encontrarem. Mas todos temos habilidades e a capacidade de ser bons em alguma coisa. Todos queremos preencher as lacunas da vida com sucesso. A reportagem de capa da edição passada me lembrou que o melhor é buscar fazer o que amo e o que me completa. O resultado disso será um acróstico preenchido por felicidade, autorrealização e serviço ao próximo. Aeny Layce Toronto, Canadá 4 |

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PARA QUE VIVER? (P. 16-19) Imersos em nosso cotidiano, sempre somos levados a pensar no sentido da vida. Por que estudar? Para que acordar cedo? Tudo isso não teria nenhum sentido se não tivéssemos objetivos como trabalhar, viajar, comer fora e comprar algo que nos agrade. Tudo isso vale a pena; porém, como cristãos, temos um propósito maior e melhor: viver no Céu! Gláucia Bernardes São Paulo (SP)

O SONHO DE DEUS PRA MIM (P. 20-23) Gostei do paralelo que o autor fez entre a experiência de Victor Frankl com a história bíblica de José. Ambos tiveram que passar por situações difíceis que se transformaram em degraus para uma trajetória de destaque. Entendi também que, se mantivermos em mente o sentido da nossa existência aqui na Terra, as dificuldades e frustrações não irão nos abater. Douglas Ramos Porto Alegre (RS)

IMAGINE A VIDA SEM PROPÓSITO (P. 26-27) Excelente matéria abordando uma nova forma de enxergar um dos motivos recorrentes da depressão e de outras doenças. Também nos faz refletir que é possível estar vivendo numa bolha de egoísmo, fazendo com que objetivos mal escolhidos nos levem a lugar nenhum. Por isso, penso que uma vida ao lado de Deus é que pode nos dar propósito e forças para trabalhar em favor do próximo, tornando nossa existência mais significativa.

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Letícia Dobelin Engenheiro Coelho (SP)

Uma vida sem propósito é vazia porque somos feitos de sonhos. Queremos êxito nos estudos, no trabalho e no vestibular. Eu, por exemplo, tenho muitos objetivos. Estou cursando o terceiro ano do ensino médio e sonho em fazer Medicina. Porém, mais do que isso, desejo ver Jesus voltar, para que minha família e eu vivamos eternamente com Cristo. Glenda Moura Aracaju (SE)

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S m E p á m e A e a fu b

Q in n É q ju b h li c e e


Ao ponto

Texto Wendel Lima Ilustração Gabriel Nadai

DE OLHO NO PRIMEIRO

EMPREGO ELE TEM 39 anos de idade, mas já acumula mais de 20 anos de experiência profissional em empresas de engenharia e na indústria farmacêutica, trabalhando em áreas como recursos humanos, marketing e relações públicas. Nas organizações pelas quais passou, muitas vezes Eduardo Lopes foi o único negro a ocupar cargos executivos. Atualmente, ele divide seu tempo entre a diretoria de uma empresa suíça, a docência no Unasp e o cuidado de sua esposa e três filhos. Doutorando em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, Eduardo compartilha algumas dicas para quem está começando a carreira.

Se hoje você estivesse no ensino médio, o que priorizaria? Eu estudaria tecnologia, não para ser um profissional da área, mas para conhecer melhor as ferramentas digitais e a lógica de programação. Além disso, o inglês é básico, e ter fluência nesse idioma antes de terminar a faculdade é fundamental para ter acesso a bons programas de trainee.

crescimento na hierarquia da empresa. Eles crescem em forma de “W”, mudando horizontalmente de organizações. Por outro lado, os baby boomers, pessoal que está se aposentando, tendem a ser desprezados pelos mais jovens; porém, essas pessoas têm experiência para compartilhar que poderia ajudar os mais novos a errar menos.

Quais são os principais conflitos intergeracionais que ocorrem no mercado de trabalho? É a primeira vez que temos quatro gerações trabalhando juntas nas organizações: baby bommers, X, Y e Z. É comum hoje, por exemplo, ver jovens liderando pessoas mais velhas, com a diferença que eles não estão preocupados com a estabilidade da carreira e o

Você diria que mais importante que ter um diploma é desenvolver competências? Certamente, porque competência é a combinação de conhecimento, habilidades e atitudes. Conhecimento você adquire nas universidades e na web; habilidade vem com treino, agora atitude depende de uma disposição interna e individual. E esse fator é o mais importante.

Como conseguir o primeiro emprego? O programa jovem-aprendiz é uma boa oportunidade para quem não tem experiência. Por sua vez, as vagas de estágio exigem que você esteja cursando algo profissionalizante. E, por fim, tem os programas de trainee, que são mais seletivos, aceleram a carreira, mas são voltados para os recémformados. Que peso o envolvimento em voluntariado tem hoje nas contratações? O voluntariado é um caminho para desenvolver várias competências valorizadas no mercado, como a disposição de servir, proatividade, comunicação interpessoal e trabalho em equipe. Então, mais importante do que colocar no seu LinkedIn

que você faz trabalho voluntário, é dizer que competências tem desenvolvido com isso. E para quem pensa em empreender? Esse caminho pode ser mais atraente ainda para a geração Z, que busca realização pessoal acima de tudo. Algumas dicas importantes: (1) observe as lacunas do mercado e veja se pode oferecer o que ninguém está oferecendo ainda; (2) junte-se a pessoas que tenham habilidades complementares às suas; (3) a melhor alternativa pode ser trazer algum produto ou serviço do exterior que não tem no Brasil; ou (4) até mesmo criar algo do zero. Saiba que é mais fácil empreender na juventude, com menor investimento e mais tempo para errar e acertar, do que no meio da carreira. abr-jun

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Texto Wendel Lima

PARA ASSISTIR E OUVIR

t t p s u m u d

Tudo disponível na plataforma feliz7play.com Séries Retratos: Histórias Não Contadas (2019, 12 episódios, 25 min.): relatos de pessoas comuns que tiveram a vida impactada pela ajuda da ADRA, agência humanitária da Igreja Adventista.

Resgatados (2020, dez episódios, 5 min.): testemunhos de pessoas que haviam abandonado a fé, mas que reencontraram seu caminho espiritual com o apoio da igreja.

E e

Documentário Vidas Entre Páginas (2019, 75 min.): conta como uma família adventista, os Samoylenko, compartilhou sua fé mesmo sob a opressão do regime comunista na Ucrânia. Filme O Método de Cristo: Ninguém Resiste ao Amor (2016, 50 min.): produção peruana que retrata de forma simples como seria testemunhar como Jesus.

Podcast Papo Missionário (semanal, 20min.): a missionária de autossustento Liz Motta discute conceitos e dá dicas bem práticas sobre missões de curto prazo. Disponível no Spotify.

© Pixel-Shot | Adobestock

Música Tudo Por Ele (2019, 4 min.): canção-tema do ministério jovem adventista para 2020, com base em Romanos 11:36.

PARA LER

51 Atitudes Para a Pesquisa Inteligente (CPB, 2010, 112 p.), de Eliel Unglaub e Delton Lehr Unglaub 6 |

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Missão e Voluntariado: Teologia, História e Desafios Atuais (Unaspress, 2018, 368 p.), de Marcelo Dias, Rodrigo Follis e Wagner Kuhn (orgs.)

O Poder do Voluntariado: Reflexões e Relatos Sobre o Voluntariado no Unasp, Campus São Paulo (Unaspress, 2018, 224 p.), de Derson Lopes Jr. e Antonio Braga (orgs.).

e p c u g d f c e

R H (d


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PARA PENSAR

PARA SABER Uma pesquisa realizada pelo Instituto Barna com 1.459 cristãos norte-americanos em 2018 revelou como esse grupo vê a integração entre fé e mercado de trabalho.

White Estate

53%

dos que frequentavam regularmente os cultos disseram que sua igreja os ajudava a entender como testemunhar no mercado de trabalho.

Ellen G. White (1827-1915), cofundadora da Igreja Adventista e escritora norte-americana, no livro Parábolas de Jesus, p. 328.

45%

se sentiam apoiados pela igreja para exercer a própria carreira.

ram-charan.com

Descubra, por meio de seus amigos, no que você é bom e no que pode ser bom, e então persiga isso. Não pense em carreira nos termos antigos, de uma trajetória ascendente numa grande empresa, mas pense em novos tipos de trabalho, tarefas e desafios. [...] Encontre funções que lhe tragam satisfação e dobrem sua capacidade produtiva; não pense mais em cargos e promoções salariais.”

64%

© kuroksta | Adobestock

Os talentos não são distribuídos a esmo. Quem tem capacidade para usar cinco talentos recebe cinco. Quem só pode utilizar dois, recebe dois. Quem só pode usar sabiamente um, recebe um. Ninguém precisa lamentar que não recebeu maiores dons; porque Aquele que repartiu a cada um é igualmente honrado pelo desenvolvimento de toda dádiva, seja ela grande ou pequena.”

dos entrevistados que estavam empregados entendiam que estavam servindo a Deus ou a um propósito nobre por meio da sua profissão.

Ram Charan, professor na área de liderança na Universidade Harvard (EUA), num evento da Fundação Estudar, em setembro (disponível em youtube.com/NaPraticaBR).

© cafa | Adobe Stock

Fonte: livro Christians at Work: Examining the Intersection of Calling & Career (Barna Group, 2018, 128 p.)

O Evangelho em Roupa de Trabalho: Princípios Para Colocar o Cristianismo em Prática (Unaspress, 2016, 172 p.), de Günther Wallauer (org.).

Transformação Radical: Em Busca do Evangelho Integral (Unaspress, 2016, 270 p.), de Wagner Kuhn.

Missiologia Intercultural: Refletindo a Realidade Brasileira (Unaspress, 2016, 150 p.), de Marcelo Dias e Francisca Costa (orgs.). E-book disponível em digital.unaspress.com.br.

Passaporte Para a Missão (DSA, 2008, 174 p.), de Erich W. Baumgatner. Disponível em downloads. adventistas.org. abr-jun

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Entenda

Texto Guilherme Cavalcante Ilustração Kaleb

A PERGUNTA LEVANTADA pelo título provocativo do livro A Escola Tem Futuro? (Penso, 2006), do sociólogo português Rui Canário, ainda precisa de uma resposta. Se a resposta for sim, que futuro será esse? E como podemos nos preparar para ele? Descobrir caminhos melhores para esse futuro interessa a muita gente, ou pelo menos deveria. Afinal, em janeiro de 2019, o número de brasileiros matriculados no ensino fundamental e médio no Brasil era de 48 milhões de alunos. Além disso, de acordo com o Instituto Paraná Pesquisas, em levantamento realizado em meados do ano passado, a educação era um dos problemas nacionais que mais preocupavam os cidadãos, vindo atrás da saúde, emprego e segurança. A demanda e os desafios são grandes, principalmente se pensarmos na rede pública de ensino, que recebe a esmagadora maioria dos estudantes do país. Os problemas passam por falta de verba, estrutura precária, qualificação dos docentes, dinâmica das aulas e a relação entre o conteúdo e a realidade dos alunos. As famílias que podem escolher a rede privada também esperam bons resultados e desejam, entre outras coisas, que seus filhos sejam competitivos no mercado de trabalho. É por isso que preparamos este panorama do futuro da educação no país. Saiba o que pode vir por aí.

Educação integral

Se há mais de 120 anos no Brasil a educação adventista tem se preocupado com o desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e espirituais dos seus alunos, as principais entidades e lideranças educacionais no país e no mundo têm “batido na tecla”, nas últimas décadas, que educação é mais do que a mera transmissão de conteúdos em sala de aula. Segundo, por exemplo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a adoção de um modelo educacional mais integral geraria maior satisfação nos professores e estudantes, pois estaria focado no desenvolvimento de competências, de habilidades para a vida. 8 |

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De olho nas competências

Fontes: sites do Instituto Paraná Pesquisas (http://bit.ly/ prioridadesbrasileiras), Inep (bit.ly/inepcenso) e Unesco (bit.ly/unescofutures); OCDE “The Future of Education and Skill – Education 2030” (bit.ly/OCDEfuture); Sebrae (bit.ly/ relatoriodosebrae); BNCC (bit.ly/bnccold); novo ensino médio (bit.ly/bnccnew) e British Council (bit.ly/pesquisadoBC); e os livros A Escola Tem Futuro?, de Rui Canário (Penso, 2006), e Educação (CPB, 2008), de Ellen G. White

Para quem vê pouca aplicabilidade no que estuda e acha que há excesso de conteúdo para dar conta, o futuro é promissor. As disciplinas continuarão a existir, mas a proposta de organizações como a OCDE e a Unesco é que na próxima década o conteúdo curricular seja radicalmente mudado. A ideia é que o ensino envolva a realização de projetos e o desenvolvimento de habilidades específicas, trazendo mais flexibilização e personalização para o processo de ensino-aprendizagem.

Mais empreendedorismo

Num cenário de desemprego formal alto, e que deve se agravar, um dos desafios educacionais será preparar uma geração com capacidade de abrir o próprio negócio. Para se ter uma ideia, em 2017, 57% dos empreendedores no Brasil tinham entre 18 e 35 anos. Porém, engana-se quem pensa que o preparo para empreender inclui necessariamente disciplinas de administração e contabilidade no ensino médio. Projetos de Educação Empreendedora, como os promovidos pelo Sebrae, envolvem desde a estruturação de atividades em torno de resolução de problemas, com foco na criatividade e inventividade, até o incentivo de participação e organização do grêmio estudantil.


IRO O ENSINO BÁSICO BRASILE

um No Brasil, a Base Nacional Com ento normativo um doc o é CC) (BN lar ricu Cur imo das que determina o currículo mín cada unidade CC, BN da o tind escolas. E, par posta curricular educacional elabora uma pro ades e icid acrescentando suas especif documento um que o , necessidades. Porém a dizer tem s ano três nas aprovado há ape ira? sile sobre o futuro da educação bra

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Inglês turbinado

O ensino da língua inglesa, que em alguns contextos era facultativo, agora passa a ser obrigatório em todas as etapas do ensino básico. Dados do British Council divulgados no ano passado apontam que 5% dos brasileiros falam o idioma e apenas 1% da população é fluente nele. A expectativa da nova BNCC é mudar essa realidade.

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Novo ensino médio

A possibilidade de o aluno escolher eixos temáticos que lhe interessem mais (Linguagens, Ciências Humanas e Ciências Naturais), a redução de aulas expositivas, maior enfoque em oficinas e projetos são algumas das propostas da BNCC. Em contrapartida, a carga horária do ensino médio aumentará 25%, subindo de 2,4 mil para 3 mil horas.

Interdisciplinariedade em alta

Outro movimento importante que se observa nos círculos educacionais é a tentativa de se olhar de modo interdisciplinar para os desafios do cotidiano. Ou seja, se para resolver os problemas reais é preciso o trabalho integrado de profissionais de várias áreas, na escola, as disciplinas não podem ser vistas de modo estanque. Contudo, essa mudança passa pela formação dos docentes, que foram ensinados a ver as disciplinas de modo isolado. Para tanto, é preciso um novo modelo de formação inicial e continuada dos professores, a fim de que eles trabalhem em sala de aula de maneira integrada com outras áreas.

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Alfabetização em dois anos

para que o A BNCC reduziu o prazo-limite r. Antes, reve esc e estudante aprenda a ler ização bet alfa a que era a recomendação damental, o fun ino ens do ano 3 o até ocorresse era-se esp ra, tendo o 4o ano como limite. Ago o até os alun os que as escolas alfabetizem de s ncia eriê exp as o o 2 ano, fortalecend damental. leitura e escrita no ensino fun

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Interpretação Capa & Reflexão Reportagem

Texto Lucas Schultz Ilustração © drawlab19 | Adobe Stock

Texto e contexto Perguntas Imagine

MEU TRABALHO, MEU MINISTÉRIO Saiba como conciliar o sonho profissional com o ideal da missão

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ALBERTO PSEUDÔNIMO NASCEU numa cidadezinha do interior e desde cedo aprendeu o valor do trabalho suado acompanhando seu pai na lavoura. Ao longo dos anos, a rotina diária na fazenda ensinou o garoto a ser organizado, responsável, econômico e empreendedor. “É nossa tradição”, dizia seu pai num português cheio de sotaque alemão. Alberto sempre soube que a lavoura em que trabalhou com dedicação um dia seria sua herança. Como a maioria dos colonos daquela região, a família dele era muito religiosa. Por isso, ele cresceu desempenhando diversas atividades na igreja, procurando utilizar suas habilidades para a pregação do evangelho. Contudo, quando chegou à maioridade, entrou num dilema: administrar a fazenda da família ou trabalhar em tempo integral como funcionário da igreja, trabalho que ele tanto admirava. Alberto passou noites em claro, olhando para o teto e pensando nos prós e contras de cada possibilidade. Na mente dele, ao escolher entre a lavoura e o campo evangelístico, ele estava optando entre ser um empreendedor ou missionário. Angustiado, Alberto fez algo que quase todos nós já fizemos: tentou “pensar como Deus”, como se fosse possível sondar Aquele que nos sonda (Sl 139). Ponderando sobre a iminência da volta de Jesus (Ap 22:12) e a urgência da pregação do evangelho (Mt 24:14), ele raciocinou que não faria nenhum sentido trabalhar em algo “seu”. Acumular “tesouros” pra quê? Para a traça comer e a ferrugem desgastar (Mt 6:19, 20)? Decidiu então que trabalhar num escritório da Igreja Adventista seria algo mais digno para um cristão como ele. E assim foi: candidatou-se e conseguiu uma vaga numa sede administrativa regional da igreja. De lá pra cá, ao contrário do que imaginava, Alberto tem vivido longos cinco anos de dúvidas. Ele tem se questionado se Deus não o teria abençoado caso tivesse feito qualquer outra escolha profissional. Não seria muita ganância pensar numa carreira à parte do campo missionário? Porém, até o fechamento desta edição, Alberto ainda não tinha conseguido seguir seu sonho e assumir os negócios da família. Mesmo atuando no que crê ser sua missão, não se sente realizado. Na verdade, ele tem dúvidas se sabe realmente o significado de “missão”. E está longe de ser o único.

TRABALHO SAGRADO E SECULAR A noção de encarar o trabalho como mero caminho para acúmulo de riquezas é vista por muitos cristãos como pura vaidade, perda de tempo. Refletindo de maneira que hoje soaria existencialista, Salomão eternizou em Eclesiastes 3 a angústia de olhar para a obra de uma vida e não enxergar nada mais interessante que a própria morte. Porém, se um autor bíblico – que acreditamos ter sido divinamente inspirado – apresentou uma visão “tão negativa” do trabalho, valeria a pena sonhar com uma carreira e suar a camisa para construí-la? Para o teólogo Charles Timothy Carriker, autor do livro Trabalho, Descanso e Dinheiro: Uma Abordagem Bíblica (Ultimato, 2000), Deus realmente fez o homem para trabalhar na terra (talvez Alberto devesse bater um papo com esse teólogo). Para Carriker, a ideia imediatista de “parar com o trabalho cotidiano” em função da volta de Jesus é uma compreensão errada que vem desde o começo do cristianismo. Paulo, por exemplo, tratou disso em 1 Tessalonicenses. “Já havia na cidade de Tessalônica uma seita que aguardava o retorno do deus Cabirus; e, alguns desses adoradores, recémconvertidos ao cristianismo, trouxeram consigo a convicção de que Cristo, tal qual Cabirus, estaria voltando. Então se difundiu entre os cristãos o senso emergencial de parar de trabalhar e viver apenas para aguardar o retorno messiânico”, explica o teólogo presbiteriano. Na carta, o apóstolo não poupou palavras, repreendendo e conscientizando os fiéis de que o trabalho era algo bom e necessário. O pensamento de Paulo tinha como base os escritos judaicos do Antigo Testamento, dos quais ele herdou a noção de que a “história da humanidade é [...] de criação e recriação”, complementa Carriker. A teóloga e arqueóloga adventista Christie Goulart Chadwick concorda com Carriker. Para ela, fomos todos criados para trabalhar. “Mesmo antes de haver pecado, havia um jardim, animais e terra para serem administrados. Após Adão e Eva, os outros personagens bíblicos também tiveram diversos ofícios. Davi, por exemplo, adorava e glorificava a Deus do meio do rebanho de ovelhas.” Para ela, a separação entre sagrado e secular é ilusória. “Não importa a tarefa: é no dia a dia que eu mostro aos meus semelhantes o retrato de Deus que eu sou”, detalha. “O aspecto mais importante do trabalho, e sua conexão mais forte

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com a religião, é que em todas as áreas da vida somos representantes de Deus. Mesmo se trabalhamos num ambiente em que as pessoas já O conhecem, ainda assim podemos revelar novos aspectos do caráter divino”, garante a professora da Faculdade de Teologia do Unasp. Tal qual Christie, Carriker acredita numa “teologia do trabalho” que tem como base a noção de criação e recriação. Para ele, o convertido se torna uma nova criatura em Cristo (2Co 5:17). Ou seja, a Bíblia é a narrativa da queda humana no jardim e da retomada dessa condição. Logo, a função do ser humano permanece a mesma. “Continuamos a nos multiplicar, provendo novas gerações e organizando-nos em sociedade, e também sujeitando a terra, num sentido de domínio e cuidado”, sintetiza. VIDA EM MISSÃO Fernando Rochael tem vários trabalhos. Administrador, pregador, compositor, professor e coach, mas prefere resumir sua atuação como “estrategista comportamental”. Para ele, a relação do cristão com seu trabalho

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só pode ser construída a partir do reconhecimento da própria identidade. “A missão de Jesus foi e é fazer a gente ser um com Ele e um com o outro, formando o corpo de Cristo. Então, se Cristo tem uma missão, eu acabo sendo parte disso também. Porém, a missão Dele não me pertence; eu é que pertenço a ela”, diferencia. Seguindo esse raciocínio, quem vive em conexão com Deus não “sai” da missão porque, mais do que “fazer missão”, ele vive em missão. Carriker também defende uma visão mais integral da vida. Ao pensar na separação que fazemos hoje entre sagrado e secular, ele diz que, apesar de o Antigo Testamento diferenciar entre coisas “puras” e “impuras”, e o Novo Testamento apresentar a ideia de “carne” e “espírito”, tudo isso era material. A influência desmaterializadora veio com uma vertente do pensamento grego que separava corpo e alma. E, segundo Carriker, a noção de que existe uma esfera religiosa e outra não religiosa ganhou mais força após a Revolução Francesa, num processo histórico que veio separando a Igreja do Estado. Para a cientista social Tânia Torres, também professora no Unasp, não há como negar essa dualidade tão antiga. “Durkheim, sociólogo francês, faz uma nítida separação entre o sagrado e o profano. John Locke, filósofo político inglês, defendia a consciência individual livre do controle do Estado. O ponto é que Deus foi deixado em segundo plano quando a doutrina política e legal sobre a relação entre Igreja e Estado foi estabelecida”, explica. A professora complementa dizendo que, hoje, em geral no Ocidente, convivem dois princípios: o do Estado secular e o da liberdade religiosa. Porém, para aqueles que, como disse Jesus, vivem no mundo, mas buscam não se contaminar com o mal (Jo 17:15), a tentativa constante é

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de conciliar o que a sociedade separa. “Assim, o mundo saberá que estamos nele, mas não fazemos parte de suas imposições”, contrasta Tânia. Carriker também lembra que, por influência dos gregos, o trabalho intelectual acabou sendo mais valorizado do que a atividade braçal. “Na lógica grega, era mais proveitoso o prazer advindo das ideias, da contemplação, do pensar a realidade. O trabalho manual para eles era algo vil. Os reformadores se debruçaram bastante sobre esse assunto, tentando superar essa visão conflitante com a nossa vocação divina ao ofício”, destaca o pastor aposentado que, ao longo da vida, aprendeu a surfar e a mexer com marcenaria, cutelaria e a fabricar peças de couro. EMPREENDER E EVANGELIZAR O ponto é, se o jovem é cristão quando estuda, se diverte, sonha e vota, por que não o seria também ao exercer uma carreira ou fazer negócios e investimentos? Rebeca Almonacid é privilegiada: consegue viver o melhor dos dois mundos. Empresária e investidora, a jovem de 25 anos concilia a administração de seus negócios com projetos missionários de médio

prazo na América do Sul e África. Além de ajudar constantemente com doações, “O sucesso ela mantém a meta de se envolver em em qualquer duas expedições missionárias por ano. “Quando estou em algum projeto voárea exige um luntário, sempre compro um chip para ter objetivo definido. internet. Assim, mesmo de longe consigo acompanhar meus investimentos, e-mails Aquele que e tarefas que preciso entregar. Então, pardesejar alcançar ticipar desses projetos não me atrapalha o verdadeiro em nada profissionalmente, muito pelo contrário”, garante ela. Rebeca é parte de sucesso na vida uma geração de empreendedores que redeve manter verte uma parcela de seus ganhos e tempo firmemente em para projetos humanitários, empenhados em conciliar negócios e missão. vista o alvo digno Patrick Passos é uma dessas prode seus esforços. messas do mundo corporativo. Com apenas 22 anos, o marqueteiro de EuEsse alvo achanápolis (BA) migrou para São Paulo a se posto diante fim de fazer seu nome como consultor da juventude de inovação para diversas empresas. Dono também de um negócio, ele ainatual. O propósito da não saiu para um projeto transindicado por cultural, mas nem por isso se sente Deus de levar menos missionário. “Missão pra mim é apresentar o evangelho para outra o evangelho ao pessoa. E a beleza dessa definição é mundo nesta que eu posso testemunhar de várias geração é o mais formas e em diversos lugares. Não preciso deixar de fazer o que faço tonobre que possa dos os dias, só preciso olhar pra tudo apelar para que faço como uma oportunidade de testemunhar para alguém”, explica. qualquer ser Como Rebeca, ele usa a consciência humano.” missionária que tem para impulsionar projetos evangelísticos. E entre uma Ellen G. White, no livro entrevista e outra, ele presta consulEducação (CPB, 2016), toria para sua igreja naquilo que é sua p. 262). principal especialidade: a inovação. Porém, é no cotidiano da atividade profissional que ele procura exercitar o espírito missionário: “Uma das maiores demonstrações de graça que posso dar é olhar para a pessoa que trabalha do meu lado no escritório e pensar em como posso deixar o dia dela mais leve e feliz”, exemplifica. Na experiência como missionária transcultural, Rebeca avisa que o maior desafio é o retorno para casa. “Quando a gente termina um projeto voluntário, no calor da emoção, acha que pode mudar o mundo! Mas, na realidade, a verdadeira missão começa quando chegamos em casa. É com nosso vizinho, o porteiro do prédio, nossos tios, amigos ou até desconhecidos na rua”, contrapõe. abr-jun

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VOLUNTARIADO E TESTEMUNHO A exemplo de Rebeca, inúmeros jovens têm se dedicado ao voluntariado a fim de tentarem amenizar os sofrimentos do Brasil e do mundo. Apesar de o voluntariado estar em voga, e o discurso da empatia e solidariedade “ter pegado”, a cientista social Tânia Torres enxerga algumas nuances. “Se a pessoa está ligada a Deus, ela manifesta naturalmente a bondade que vem Dele”, explica a professora, ao diferenciar o amor cristão do discurso humanístico de “amor ao próximo”. “Em contrapartida, o discurso social da empatia é algo imposto pela sociedade, e cada pessoa é coagida a agir de acordo com os ditames de seu meio social. Não há escape: ou ela faz ou faz”, compara. Sobre quanto é genuíno e natural esse interesse pelo próximo, Fernando Rochael argumenta que a vivência da missão vai muito além de convencer alguém a estudar a Bíblia, ser batizado ou se unir a uma igreja. Isso tem que ver com seu estilo de vida. “Enquanto pensar que minha missão precisa acabar na decisão do outro e eu depender disso para me sentir satisfeito ou um cristão de verdade, só vou me frustrar. Tenho que viver a missão naturalmente, sendo o que sou de fato: parte do corpo de Cristo”, esclarece. Rochael acredita que enxergar dessa maneira ajuda a pessoa a ter uma visão mais ampla sobre igreja, espiritualidade, missão e a própria identidade como cristão. DO OUTRO LADO DO MUNDO E AQUI O cristão pode muito bem viver em missão sem deixar sua terra natal, mas, de alguma forma, todos devemos também participar da missão além­ mar, seja orando, doando, enviando pessoas ou indo para lá. É isso que defende Rodrigo Sampaio, recentemente nomeado diretor do Núcleo de Missões do Unasp. “O ‘ide’ de Mateus 28 é e não é literal ao mesmo tempo: nem todos precisam viajar pelo mundo, mas muitos precisam. A própria Bíblia deixa claro isso, ao falar da pregação em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da Terra (At 1:8)”, explica. Embora todos os cristãos sejam missionários onde estão, o sentido original da palavra “missão”, no latim, tem que ver com envio. E isso, segundo Rodrigo, “envolve sim o deslocamento numa expedição transcultural”. O jornalista Cristiano Stefenoni, autor dos livros Gestão de Carreira (CPB, 2011) e Profissional de Sucesso (CPB, 2006), acredita que não seja saudável encarar o ideal de “trabalhar para Deus” como um fardo que mata os sonhos. Para ele, há certa dicotomia entre vocação religiosa e carreira profissional. “É uma questão de vocação. Quem escolhe o caminho religioso deve estar ciente de 14 |

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De acordo com uma pesquisa divulgada pela agência de notícias do IBGE, o voluntariado foi praticado por

7,2 milhões de brasileiros em 2018, sendo a

mulheres, o que configura 4,3% da

maioria deles

população nacional a partir de 14 anos. A duração média desse envolvimento foi de

6,5 horas semanais, e quase metade dos voluntários (48,4%) se dedicou

quatro ou mais vezes por semana. Números que parecem indicar uma participação séria e consistente dos voluntários.

que não terá lucros financeiros nem será promovido a um cargo elevado, muito menos receberá prêmios por desempenho. O objetivo é outro”, distingue. Entretanto, ele entende que não há nada de reprovável em um jovem cristão abrir o próprio negócio e ganhar muito dinheiro de modo honesto. No entanto, ele chama a atenção para o fato de que em ambos os caminhos há um preço a pagar. “Quer trabalhar para a igreja? Vá, mas não espere retorno financeiro nem aplausos por isso. Quer ser um empreendedor? Vá, mas entenda que existem riscos e que ninguém faz um negócio vingar sem muito sacrifício”, avisa.

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Para os que pretendem, como Rebeca, conciliar as duas carreiras, Cristiano recomenda equilíbrio. “Donos de empresas têm poucas horas de sono, quando dormem. E como alinhar projetos missionários com essa rotina? Usando criatividade, bom senso e boa vontade. É preciso pensar, por exemplo, como os donos da empresa testemunharão por meio do seu negócio, qual será o percentual dos lucros a ser investido em ações evangelísticas e se a empresa pode prestar algum serviço gratuito para a comunidade. Acima de tudo, o empresário cristão nunca pode se esquecer de que Deus é seu Sócio majoritário”, aconselha Stefenoni. É nisso que acredita o publicitário André Urel, diretor de comunicação da Federação de Empresários Executivos e Profissionais Adventistas do Brasil (FE). “Ao contrário do que muitos pensam, o propósito da FE não é expandir negócios, mas inspirar pessoas – independentemente da área de atuação – a viver a missão também em seu contexto de trabalho”, garante. Com 29 anos, André lamenta que a atual geração de jovens empreendedores ainda não tenha aprendido a internalizar o ideal da missão cristã, deixando que esse espírito norteie a rotina deles. Ele acredita que o envolvimento de muitos tende a ser mais esporádico e superficial, no que ele classifica como um descompromisso maquiado de compromisso casual. Andrey Masson, pastor associado da Igreja Adventista Nova Semente, em São Paulo, acredita que o trabalho é algo sagrado, que confere sentido à existência humana. Portanto, ao trabalhar, o ser humano se percebe cooperador de um Deus trabalhador. “O desejo de criar, construir e empreender é um traço da personalidade divina em nós. No contexto da entrada do pecado na Terra, dadas as devidas proporções, o trabalho é a dimensão humana que melhor sinaliza o reino de Deus: trabalhamos para tentar de alguma forma trazer ordem ao caos do mundo”, explica. Masson defende a ideia de que o jovem não tem que necessariamente trabalhar vinculado a um CNPJ religioso para cumprir a missão. “Em geral, toda carreira honesta é válida, contanto que minha relação com o lucro não se sobreponha à minha relação com Deus e Seu reino. Caso contrário, estou fazendo do ganho financeiro um deus e vivendo no reino de César”, adverte o pastor. Para Najla Rios, sócia de uma empresa de desenvolvimento humano, o ambiente corporativo é o maior campo missionário do empreendedor cristão. Ali, por meio de suas palavras e conduta, o jovem pode intencionalmente testemunhar. “Às vezes nem é preciso pregar. Um simples gesto de respeito, não interrompendo alguém quando fala, dando sua vez numa fila, agradecendo ou fazendo uma gentileza, ele estará vivendo seu propósito. Chegar cedo e

concentrar-se no trabalho. Dar atenção a um colega que precisa ser ouvido. E inclusive não emprestar o ouvido para fofocas”, enumera a empresária. Cristiano também dá suas dicas: “Não reclamar do serviço, não falar mal do chefe, não defender partido político, respeitar hierarquias, ser educado com todos (da faxineira ao dono), ter a humildade de pedir orientação, não usar o tempo do trabalho para ficar à toa nas mídias sociais, saber elogiar, respeitar o espaço dos outros, não discriminar ninguém por sua orientação sexual, religião, etnia ou time de futebol; enfim, agir como um cristão”, aconselha. Para o escritor, pode até parecer simples, mas há empresas que pagam uma fortuna treinando seus funcionários para que aprendam lições que nossos pais e a Bíblia já nos ensinavam há muito tempo. Assim como os demais profissionais e acadêmicos entrevistados nesta matéria, Fernando Rochael acredita no poder contagiante do evangelho. Ele resume a dinâmica da missão desta maneira: “As pessoas se apaixonam por mim e querem ser como eu. Mas o grande detalhe é que eu sou apenas um imitador de Cristo. Uma testemunha do evangelho, dessa mensagem transformadora que se expressa na minha vida”.

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Reportagem

Texto Márcio Basso Gomes Ilustração © vospalej | Adobe Stock

ENTRADA

PROIBIDA Saiba como estudantes e profissionais testemunham sobre Cristo em regiões onde o evangelho não é bem-vindo

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O MEDO ALIMENTADO por uma visão equivocada a respeito de Deus foi um mecanismo muito forte de controle da consciência durante a Idade Média na Europa. Esse período escuro da história ocidental foi marcado pela hegemonia do cristianismo católico, dominação papal e íntima relação entre política e religião. Porém, a partir do século 12, inspirados no texto bíblico de João 1:5, os valdenses formaram um movimento religioso que tinha como lema lux lucetin tenebris “a luz brilha sobre as trevas” e que desafiou os ensinos e a autoridade da igreja medieval. Descendentes espirituais do comerciante Pedro Valdo (11401217), eles consideravam a Bíblia a única regra de fé, rejeitavam a ideia de que fosse necessária qualquer intermediação humana para chegar a Deus e acreditavam que possuíam uma grande mensagem para compartilhar com o mundo. De acordo com o site da Sociedade Americana Valdense (waldensian.org), o movimento ficou conhecido na França como os “pobres de Lyon” e, na Itália, como os “pobres lombardos”. Eles foram considerados hereges e posteriormente sofreram repressão e perseguição das autoridades civis e religiosas. Apesar de enfrentarem até a violência da Santa Inquisição, o grupo se refugiou nos Alpes e tem algumas dezenas de congregações hoje, principalmente na Europa e América do Sul. O que chama a atenção nos valdenses, além da coragem e fidelidade que manifestavam em relação à Bíblia, eram suas estratégias missionárias. Eles tinham o Livro Sagrado no próprio idioma, e seus filhos eram ensinados a memorizar diversos textos bíblicos. Além disso, os valdenses faziam cópias manuscritas de

trechos das Escrituras para compartilhar “secretamente” enquanto viajavam pela Europa comercializando tecidos e joias. O propósito deles era iluminar as trevas com a luz da Palavra. No entanto, segundo Virgil Robinson, no livro Heróis de Todas as Épocas: A Maravilhosa História dos Valdenses (CPB, 1988), os valdenses tinham ainda um método mais sofisticado de divulgar suas crenças: “Alguns de seus jovens mais inteligentes partiam de casa, no vale, e iam às grandes escolas de Paris, Milão, Bolonha, Barcelona ou mesmo Roma. Ali, eles se misturavam nas universidades com outros estudantes”, onde procuravam conversar a respeito da fé e fazer perguntas aos colegas de classe. Dessa maneira, eles conseguiram convencer muitos a se unirem ao movimento. Em pleno século 21, grupos protestantes ainda continuam usando essa abordagem, inclusive os adventistas. “VALDENSES” DE HOJE Os atuais estudantes “valdenses”, no programa organizado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, são definidos como “missionários acadêmicos” que ingressam numa universidade secular, seja em nível de graduação ou pósgraduação, a fim de testemunhar de sua fé. Isso implica muitas vezes ter que aprender uma terceira língua, já que o inglês é obrigatório, e decidir a área de estudos em consulta aos líderes do programa. Espera-se também do candidato uma postura e conduta condizentes com os ensinos adventistas, como hábitos devocionais de oração e estudo da Bíblia, pureza sexual, habilidades relacionais, fidelidade à guarda do sábado e respeito pela cultura alheia.

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De acordo com um casal envolvido no projeto há e mental, passar por uma sabatina de perguntas feitas mais de dois anos, a abordagem no campo missionápor psicólogos e líderes locais e mundiais da igreja. rio deve seguir o método de Cristo. E eles entendem Arnaud explica também que é preciso ter paciênisso à luz da explicação que Ellen White oferece em cia para fazer amizades e testemunhar de Cristo. “Às A Ciência do Bom Viver (CPB, 1997), p. 143, de covezes evangelizamos de forma equivocada, pois nos mo Jesus evangelizava as pessoas: Ele Se misturava concentramos na forma e nos esquecemos de que todo com elas, identificava e atendia suas necessidades, o trabalho de conversão é de Deus.” Diferentemente ganhava a confiança e depois as convidava a segui-Lo. do Ocidente, em que há liberdade para as pessoas se “O princípio está na Bíblia, mas a gente acha reunirem em templos, em alguns países do Oriente que tem que ir longe. Fazer missão não é somente Médio os encontros religiosos ocorrem somente nas batizar pessoas, é representar Jesus”, ensina Pascale casas, tipo de reunião que muitas denominações evan(nome fictício). Ele e a esposa Virgínia (pseudônimo) gélicas chamam de “pequeno grupo” ou “células”. conheceram o programa de Estudantes Valdenses por meio do Serviço Voluntário Adventista (SVA). OPORTUNIDADES Porém, o interesse deles pela missão transcultural foi Pascale e Virgínia já vivenciaram situações em que, despertado na graduação, quando estudavam numa mais do que curiosidade, colegas manifestaram dúviuniversidade cristã. da. Certa vez, alguém os questionou sobre qual seria O casal diz que o objetivo deles na universidade a diferença entre islamismo e adventismo. Para quem em que pretendem ingressar no Oriente Médio é os interrogou, as duas tradições religiosas pareciam ter fazer amizade com colegas de classe e professores, muitas semelhanças: rejeitam a veneração de imagens, testemunhando de sua fé em Cristo e do breve rerestringem o consumo de carne de porco e bebidas torno Dele por meio do estilo de vida e, quando alcoólicas e acreditam que Jesus veio à Terra. possível, através de palavras. O missionário deu a reposta que gerou grande mal­ E para gerar oportunidades de testemunho, um dos estar e revolta do questionador: “A diferença é que para caminhos usados pelos missionários no mundo islâminós Jesus é Deus e não apenas um profeta.” Porém, no co é provocar a curiosidade. “O árabe é muito curioso. mesmo dia, o colega de classe pediu desculpas por Coisas que fazemos por princípio, como se abster sua maneira de ter reagido. Naquela oportunidade, de carne de porco e álcool, gera curiosidade Pascale e Virgínia estavam ajudando aquele neles”, revela o casal. Eles explicam que, se estudante a encontrar uma casa para morar. os muçulmanos percebem “que você é Em outra oportunidade, mais reuma pessoa fiel, espiritual, eles vão cente, o casal de missionários foi Um dos confiar em você e passarão a perinterrogado sobre a razão de caminhos usados guntar coisas mais profundas”. crerem no que acreditam Virgínia destaca que, e fazerem o que fazem. por missionários cristãos para servir no campo O nativo se surpreendeu no mundo islâmico é missionário no exterior, com o preparo de Pascale despertar a curiosidade é “preciso estar bem f ísica, e Virgínia, que lhe explicamental e espiritualmente”. Isso ram sem titubear, enquanto ele dos nativos por causa dos riscos, do desgaste, da não tinha muita convicção sobre o necessidade de adaptação e do inevitáislamismo. Resultado: o colega muçulvel senso de solidão. Talvez seja por esse mano ficou muito feliz em saber que Deus motivo também que fazer amizades esteja havia reservado um dia especial na semana entre os grandes objetivos desses missionários para o repouso e a adoração; por isso, decidiu “disfarçados” de estudantes. seguir o exemplo do casal missionário e também guardar o sábado. CONTATO INTENCIONAL Para outro estudante valdense, chamado Arnaud TENTMAKERS (nome fictício), a amizade é o primeiro passo para Se os “valdenses” se caracterizam por evangelizar apresentar o evangelho com segurança nesses conno contexto da universidade e dos estudos, os chatextos de restrição da liberdade religiosa. “Quando mados tentmakers (fabricantes de tendas, em inglês) eles abrem a porta, então falamos de Jesus”, resuusam a profissão ou o próprio negócio para testemume. Ele conta que já passou pelo treinamento a que nhar da fé. Essa modalidade de serviço missionário todo “valdense” é submetido. O processo envoltem como base o texto de Atos 18:3, no qual Paulo, ve orientações sobre o cuidado com a saúde física Áquila e Priscila são retratados como evangelistas 18 |

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de autossustento, pois dividiam o tempo entre a POSSIBILIDADES pregação e a fabricação de tendas. Os que chegaram até aqui podem estar questio“Esse modelo de missão de sustento próprio nando: Como me engajar em alguma modalidade envolve profissionais movidos pelo interesse de missionária? Liz responde: por meio da sua igreja salvar pessoas, que buscam um emprego ou abrir local, do apoio de uma instituição, de um patrocinaum empreendimento em determinado local, com dor, de um grupo de doadores ou do autossustento. objetivo de testemunhar de Cristo para aqueDepois de servir a Igreja Adventista por 38 anos le povo ou comunidade”, explica o brasileiro como pastor e professor de Teologia, Natanael Mauro Nogueira, um dos recrutadores Moraes decidiu ser um tentmaker. Enquanto do programa de tentmakers. lecionava no seminário, ele teve a Os Os tentmakers têm sido uma oportunidade de liderar missões de millenials são alternativa cada vez mais utilizada curta duração na África; contudo, para a pregação do evangelho após a aposentadoria em 2017, bons candidatos a em contextos com sérias decidiu com a esposa, tentmakers, porque se restrições à liberdade Keila, embarcar para adaptam mais facilmente a outra religiosa, colocando misDakar, no Senegal. sionários em contato com Agora, eles estão cultura, apredem rapidamente pessoas que nunca ouviram trabalhando numa camoutros idiomas e nem ouviriam falar a respeito panha que tem por objetivo de Cristo. Oriente Médio, Norte da levantar 1 milhão de reais para a lidam bem com a África e Ásia são os destinos em que os construção de um centro comunitecnologia tentmakers se mostram mais úteis, além do tário que ofereça atendimento médico, trabalho com refugiados na Europa. odontológico e o ensino de idiomas. Na opinião de Mauro, os jovens da geração “A ideia de dedicar o restante de minha vida millennial são bons candidatos para esse tipo de como missionário foi dada por Deus. Tenho projeto, porque apresentam maior facilidade de se convicção disso”, garante Natanael. adaptarem a outras culturas e aprenderem novos idioO experiente pastor faz uma recomendação aos mas, além da familiaridade com o uso da tecnologia. jovens: que comecem participando de projetos missionários mais curtos, como a Missão Calebe, que PROPÓSITO, CARREIRA E CASAMENTO ocorre nas férias de janeiro e julho no Brasil. “Depois, É o caso da artista plástica Liz Motta, que nos eu aconselharia você a se voluntariar num projeto mais últimos anos tem servido como professora de inglês longo, como Um Ano em Missão e, por fim, dedicar­ no campo missionário e atualmente é diretora se a Deus como missionário de longo prazo”, explica. do Instituto de Missões da sede adventista para a Essa foi a vida escolhida por Natanael e Keila, Liz Região Centro-Oeste do Brasil. Ela foi a representante e Lukas, Pascale e Virgínia e Arnaud. Eles acreditam da América do Sul num projeto-piloto de missão que o princípio que ilumina o mundo é o amor, pois urbana realizado pela Igreja Adventista em Nova quando se ama alguém, “você quer dar o melhor a York, no ano de 2013. Foi lá que Liz conheceu o aleessa pessoa, e o melhor que nós temos é nosso tesmão Lukas Hermann, um profissional da área de TI. temunho a respeito de Jesus”. Eles se casaram e vivem na Alemanha, atendendo às necessidades da igreja e da comunidade local, como no cuidado de imigrantes. Porém, essa “misPara saber mais sionária de carreira”, como gosta de ser chamada, Estudante Valdense também viaja discipulando novos missionários. Ela Para se candidatar a uma vaga no Oriente Médio e Norte da África, acesse on.menau.org/apply-ws ou mande um e-mail para ws@menau.org. me concedeu essa entrevista por telefone, enquanTentmaker to estava no Brasil ministrando um treinamento te.adventistmission.org/pt/ no Instituto Adventista Brasil Central (IABC), um Instituto Mundial de Missões internato adventista no interior de Goiás. iwm.adventist.org Além das palestras e treinamentos presenciais que Adventist Mission ministra, Liz mantém o site ideatodomundo.org e perfis am.adventistmission.org nas mídias sociais (a indicação do podcast dela está na Serviço Voluntário Adventista (SVA) sva.adventistas.org/pt e voluntarios@adventistas.org seção Globosfera). Ela usa esses canais para compartilhar experiências, discutir conceitos sobre missão e dar dicas bem práticas da realidade do campo missionário. abr-jun

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Texto e contexto

Texto André Vasconcelos Ilustração Vandir Dorta Jr.

Mãos à obra “O SEnHOr era com ele, e tudo o que ele fazia o SEnHOr prosperava” (Gn 39:23)

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ALGUMA VEZ VOCÊ já culpou as circunstâncias ou alguém pelas coisas ruins que lhe aconteceram? Se a resposta for sim, até que ponto esses fatores externos determinaram seu futuro? E como você poderia reescrever sua história, assumindo uma postura mais responsável e menos vitimista, quando se deparar com situações adversas? Essas são algumas das perguntas que podem surgir ao lermos mais atentamente Gênesis 39 a 41, trecho que narra os altos e baixos que José experimentou em três lugares diferentes: (1) a casa de Potifar, (2) a prisão do comandante da guarda e (3) o palácio de Faraó. Vamos estudar cada um desses cenários e ver como José reagiu a eles. NA CASA DE POTIFAR Depois de ter sido vendido pelos irmãos a uma caravana de ismaelitas, José foi comprado por Potifar, oficial do Faraó e comandante da guarda real (Gn 39:1). Mas quem era Potifar? O termo “oficial” (do hebraico saris) pode se referir tanto a membros da corte (1Sm 8:15; 2Rs 18:17) como a eunucos (2Rs 20:18; Et 1:10), oficiais que eram castrados para assumir funções administrativas na corte. Já a expressão “comandante da guarda” indica uma alta patente militar, assim como a de Nebuzaradã, o general babilônio que incendiou Jerusalém sob o comando de Nabucodonosor (2Rs 25:8). A Bíblia menciona que “o SENHOR era com José” (Gn 39:2). Essa fórmula se repete outras três vezes na narrativa (v. 3, 21, 23), mostrando que, embora José fosse escravo e tivesse sido expatriado, Deus não o havia abandonado. O narrador utilizou várias repetições para transmitir a mensagem. Por exemplo, para expor o contraste entre Potifar e José, o primeiro é chamado de “homem egípcio” (do hebraico ’ish mitsri), e o segundo, de “homem próspero” (’ish matsliach). As repetições também são usadas como molduras narrativas: Potifar comprou José “da mão” (miyyad) dos ismaelitas (v. 1, tradução literal), e Deus fez prosperar tudo o que era feito pela “mão” (beyado) de José (v. 3). Ao perceber que Deus abençoava aquele prisioneiro, Potifar confiou todos os seus bens à “mão” dele (beyado, v. 4, 6, 8). A ênfase na palavra “mão” é retomada na cena da mulher de Potifar, na prisão de José e no discurso de Faraó, como veremos mais adiante. O narrador também usou cinco vezes a palavra “tudo” em Gênesis 39:3 a 6. Robert Alter, professor de hebraico e literatura comparada na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, observa que essa repetição indica uma afirmação temática: “O alcance da bênção ou sucesso que esse homem obtém é praticamente ilimitado; tudo prospera, tudo é confiado aos cuidados dele. Numa escala reduzida, vemos confirmados seus sonhos grandiosos, num esboço do seu futuro de glória como governador do Egito” (A Arte da Narrativa Bíblica, p. 165). Podemos dizer que, mesmo em meio a um ambiente hostil e desafiador, José colocou “a mão na massa” e empregou suas habilidades para administrar as propriedades de seu patrão. O texto nos informa que Potifar nomeou José “mordomo de sua casa” (v. 4). A palavra “mordomo” é, na verdade, uma tradução

do verbo paqad, cuja raiz nessa conjugação significa “ordenar” (Holladay, Léxico, p. 420). Ou seja, Potifar concedeu autoridade a José, que poderia ter enterrado seus dons, mas decidiu empregá-los em tudo o que era confiado às suas mãos. Quando as coisas pareciam estar indo bem, surgiu a mulher de Potifar. O narrador já havia preparado o leitor com um anúncio de enredo: “José era formoso de porte e de aparência” (v. 6). A ironia do texto é clara, José havia achado “graça aos olhos” de Potifar (v. 4, tradução literal), mas a mulher de seu patrão “pôs os olhos” sobre ele. A esposa de Potifar não hesitou em revelar sua intenção: “Deita-te comigo” (v. 7). Curiosamente, José parece ter “enrolado” na resposta que deu a uma proposta sexual tão direta (v. 8, 9). Ele disse que não poderia cometer tamanha maldade contra Deus, traindo a confiança de seu patrão, que havia confiado tudo às mãos dele, menos sua esposa. A prolixidade de José demonstra seu equilíbrio e domínio próprio diante da tentação. Para a infelicidade do escravo hebreu, sua patroa não desistiu de seduzi-lo. Ela continuava insistindo com ele “todos os dias”, ainda que José não lhe desse ouvidos (v. 10). Essa atitude nos ensina uma lição muito importante: é melhor nos afastarmos das influências sedutoras do pecado e ignorá-las do que confrontá-las diretamente e nos expormos ao perigo. O narrador nos diz que a mulher de Potifar decidiu adotar uma estratégia mais agressiva. Certo dia, quando não havia ninguém na casa, ela “pegou José pelas vestes e lhe disse: Deita-te comigo” (v. 12), mas ele deixou as vestes na mão dela e saiu correndo. Contrariada, a mulher de Potifar chamou os homens da casa e acusou o servo hebreu de ter tentado violentá-la. Como Robert Alter observa, o fato de José ter deixado as vestes na mão dela é um “eco perfeito” do verso 6, “ironicamente arrancado de um contexto de confiança para outro de traição conjugal” (A Arte da Narrativa Bíblica, p. 167). Ao apresentar algumas diferenças marcantes entre a versão dos fatos apresentada pela mulher (v. 15) e a do narrador (v. 12, 13), o texto esclarece que tudo se tratava de uma armação. Em primeiro lugar, embora usasse as mesmas expressões do narrador, a mulher de Potifar inverteu a ordem dos fatos dizendo que gritou por socorro quando José tentou forçá-la e que, por causa disso, ele fugiu. Já o narrador diz que a mulher de Potifar tentou seduzir José e que ela gritou depois da fuga dele. Logo, na versão da mulher, o grito precedeu a fuga. Em segundo lugar, o narrador menciona que as vestes de José ficaram nas “mãos” dela. Para não se comprometer, a esposa de Potifar disse que as vestes foram deixadas do seu “lado”. Essas diferenças nos ajudam a entender um fenômeno curioso da narrativa bíblica: as repetições. Com frequência, “o narrador relata uma ação e, em seguida, os protagonistas a relatam de novo, usando praticamente as mesmas palavras. […] À medida que os agentes humanos reformulam a recorrência de acordo com suas intenções ou ideias falsas, vemos como a linguagem pode servir para mascarar ou enganar, tanto quanto para revelar” (A Arte da Narrativa Bíblica, p. 172). abr-jun

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NA CASA DE DETENÇÃO Quando Potifar retornou ao lar, a esposa lhe contou tudo o que havia acontecido, de acordo com a versão dela, é claro! Irado, Potifar ordenou que José fosse lançado no cárcere onde ficavam os prisioneiros do rei (v. 20). A palavra “cárcere” (do hebraico beit hassochar) pode ser traduzida literalmente como “casa de detenção”, conforme propõe Alter (A Arte da Narrativa Bíblica, p. 171). O mérito dessa tradução está na preservação do termo “casa”, uma das palavras-chave da narrativa. Gênesis 41:10 nos informa que essa “casa de detenção” estava localizada na “casa” do comandante da guarda, isto é, na residência do próprio Potifar (ver 39:1). Naquele local de sofrimento, a cena inicial do capítulo 39 se repetiu. O texto diz que o “S era com José” e que ele achou “graça aos olhos” do carcereiro. A Bíblia ainda afirma que o carcereiro “confiou às mãos [beyad] de José todos os presos” e que “tudo” o que José “fazia o S prosperava” (v. 21-23). Mais uma vez, José empregou suas habilidades para administrar uma “casa”. Em pouco tempo, o hebreu se tornou um tipo de mordomo na prisão. Isso nos ensina que não existe desculpa para deixarmos de desenvolver nossos talentos e usálos para servir a outros. Não devemos cruzar os braços diante de situações difíceis, mas encará-las como oportunidades de crescimento. Afinal, nada nos impede de nos esforçarmos para melhorar nossa situação e a realidade ao nosso redor. Depois de algum tempo, Faraó enviou dois oficiais, o copeirochefe e o padeiro-chefe, para a mesma prisão em que José estava. Gênesis 40:4 nos informa que o comandante da guarda, Potifar, encarregou José de servi-los. Algum tempo depois, ambos os oficiais de Faraó tiveram um sonho. Eles ficaram preocupados porque não havia quem pudesse interpretá-los (v. 8), uma possível alusão aos magos e sábios do Egito mencionados em Gênesis 41:8. O copeiro-chefe sonhou com uma videira de três ramos que, ao brotar, produziu flores e cachos cheios de uvas maduras. Na sequência do sonho, ele as espremeu num copo e as serviu ao Faraó (Gn 40:9-11). O padeiro-chefe, por sua vez, sonhou que havia três cestos de pão sobre sua cabeça. No cesto mais alto, encontrava-se a comida de Faraó, mas as aves a devoravam (v. 16, 17). José ouviu os sonhos e os interpretou. Ao copeiro, disse que seria restituído à sua função em três dias. Também lhe pediu que se recordasse dele quando as coisas melhorassem e que fizesse menção de seu caso ao rei, pois desejava sair daquela “casa” (v. 14). José ainda se justificou dizendo que tinha sido sequestrado de sua terra e que não havia feito nada para estar naquela “masmorra” (do hebraico bor), a mesma expressão usada em Gênesis 37:22 para se referir ao poço no qual havia sido lançado pelos irmãos. Ao padeiro, disse que seria decapitado e pendurado numa estaca e que as aves comeriam a carne dele (v. 18-20), uma imagem que evoca as maldições da aliança descritas em Deuteronômio 21:23 e 28:26. Em três dias, as predições de José se cumpriram, o que de fato não se concretizou foi a palavra do copeiro-chefe. O texto põe em destaque essa atitude de ingratidão ao afirmar 22 |

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que o copeiro-chefe “se esqueceu” e não “se lembrou” de José (Gn 40:23). NA CASA DE FARAÓ Dois anos depois daquele episódio, Faraó teve dois sonhos. No primeiro, estava às margens do Nilo quando sete vacas gordas saíram do rio e começaram a pastar. Depois delas, saíram sete vacas magras que devoraram as outras (Gn 41:1-4). No segundo, sete espigas bonitas nasceram de uma só haste, mas, após elas, surgiram sete espigas feias que devoraram as anteriores (v. 5-7). Na manhã seguinte, Faraó buscou todos os magos do Egito, mas não havia ninguém que fosse capaz de interpretar os sonhos. Então o copeiro-chefe “se lembrou” de José e reconheceu seu erro (v. 9). O copeiro contou ao Faraó sobre sua experiência na prisão e como um hebreu havia interpretado corretamente seu sonho e o do padeiro-chefe (v. 10-13). Faraó, então, mandou que o escravo fosse levado ao palácio. Como no caso anterior, José interpretou dois sonhos. Disse para Faraó que ambos transmitiam a mesma mensagem: Deus enviaria ao Egito sete anos de fartura que seriam seguidos por sete anos de fome (v. 14-32). José lhe instruiu a colocar um homem “ajuizado e sábio” para coordenar um grupo de administradores que deveria recolher a quinta parte das colheitas durante os anos bons (v. 33-36). Também disse que tudo isso deveria ser feito “debaixo da mão de Faraó” (v. 35, tradução literal). O conselho agradou o rei e seus oficiais: “Acharíamos, porventura, homem como este, em quem há o Espírito de Deus? […] Visto que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão ajuizado e sábio como tu. Administrarás a minha casa, e à tua palavra obedecerá todo o meu povo; somente no trono eu serei maior do que tu” (v. 38, 39, itálico acrescentado). Faraó deu a José roupas finas, um colar de ouro e, o mais importante, seu anel de sinete. O ato de retirar o anel de sinete e colocá-lo na “mão” de José transmite a ideia de que Faraó, assim como Potifar e o carcereiro, estava confiando “tudo” ao escravo hebreu. Da casa de Potifar à casa do Faraó, José teve que enfrentar muitos desafios: assédio, injustiça, prisão, esquecimento e ingratidão. Embora essas experiências tenham lhe causado dor, elas não o forçaram a assumir uma postura fatalista. Ao contrário, ele fez o melhor que podia com o que tinha. Além de interpretar sonhos e administrar fielmente o que estava sob sua responsabilidade, José permaneceu leal a Deus; por isso, tudo o que era confiado às suas mãos prosperava. Sempre que você enfrentar um desafio ou estiver passando por um momento difícil, lembre-se de que, não importa em que “casa” você esteja, mas o que fará com o que lhe foi confiado. Então, mãos à obra! Para saber mais

A Arte da Narrativa Bíblica, de Robert Alter (Companhia das Letras, 2007). Genesis, de Jacques B. Doukhan (Pacific Press, 2016). Os Escolhidos, de Ellen G. White (CPB, 2015).


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Básica

Texto Wendel Lima Imagem siraanamwong | Adobestock

O sacerdócio é de todos os crentes

TODOS PODEM SERVIR Durante séculos, o catolicismo sustentou um modelo de igreja que separava os leigos dos sacerdotes. Com uma hierarquia muito verticalizada, a igreja medieval se colocou como mediadora da graça de Deus, por meio dos sacramentos (ritos) ministrados pelo sacerdócio ordenado. A crença era de que fora da igreja não havia salvação. No século 16, porém, Lutero e Calvino protestaram contra vários problemas do catolicismo. Lutero, por exemplo, definiu igreja como uma “congregação” ou “comunhão dos santos”. Para ele, o “poder das chaves” não havia sido dado ao papa, e sim a toda a igreja (Mt 18:15-20; 1Pe 2:9). O reformador alemão entendia que a distinção entre leigos e sacerdotes não era de status, mas apenas funcional. Todos os cristãos eram chamados a servir. Calvino foi além, ao tentar experimentar em Genebra, na Suíça, as implicações coletivas da mensagem protestante. Inspirado na metáfora de “corpo de Cristo” usada por Paulo, ele foi o primeiro a estabelecer um modelo representativo de igreja. No entanto, Calvino e Lutero não abandonaram a ideia de que a salvação depende da igreja nem deixaram de buscar o apoio do poder civil para questões religiosas. Já os protestantes radicais, como os anabatistas, rejeitaram a crença nos sacramentos e se opuseram à união entre igreja e estado. Para eles, a salvação não estava na vinculação com uma igreja nem na aceitação de credos. Seus ministros eram eleitos pela congregação local, mas não recebiam remuneração. Nenhum segmento do cristianismo levou tão a sério o conceito de “sacerdócio de todos os crentes”. Contudo, isso gerou divisões e o surgimento do denominacionalismo. A visão adventista seria um meio-termo dos extremos aqui apresentados. Entende-se que a igreja não é “a arca da salvação” e que não deve se unir ao Estado. A Bíblia tem autoridade sobre a igreja, e a igreja, primazia sobre a pessoa. Por razões práticas e não teológicas, os ritos são realizados por um pastor ou líder ordenado. Porém, todos são chamados a servir de acordo com suas habilidades e nível de compromisso (Rm 12; 1Co 12; Ef 4). Por sua vez, o modelo de governo é representativo e mescla autonomia local com superintendência mundial. Fonte: Message Mission and Unity of the Church (Review and Herald, 2013), de Ángel Manuel Rodríguez (org.), p. 191-217.

Curiosa

Texto Julie Grüdtner

O PREÇO DO BOM SONO Quando lê sobre o sono, você boceja e até tem vontade de tirar uma soneca? Se sim, talvez seja porque não dormiu o suficiente à noite. E essa parece ser a rotina de muitos brasileiros. Com base numa pesquisa realizada em 2017, a Associação Brasileira de Neurologia estimou que 60% da população nacional dormiam apenas de quatro a seis horas por noite, o que é insuficiente. O levantamento foi feito para dar suporte a uma campanha de prevenção de acidentes causados por quem dorme ao volante. Afinal, a expressão “estar bêbado de sono” não é exagero nem brincadeira. Um estudo realizado por pesquisadores de psicologia da Universidade de New South Wales, na Austrália, descobriu que o efeito de ficar mais de 15 horas sem dormir é semelhante ao da intoxicação alcoólica. Dormir pouco compromete as funções cognitivas e motoras do cérebro. Logo, só deve pegar no volante quem está descansado. Além disso, se você quer fixar o que está aprendendo nas aulas, deve esquecer a ideia de virar a noite estudando. 24 |

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Isso porque enquanto estamos descansando, o cérebro organiza e armazena as novas informações obtidas durante o dia. Para quem deseja controlar o apetite e manter o peso na medida certa, precisa descansar também. Noites maldormidas desregulam a produção do hormônio do apetite, gerando aquela vontade intensa de comer besteiras o tempo todo. Foi o que mostrou um estudo realizado pela Universidade de Stanford (EUA), no qual crianças que dormiam pouco apresentaram 89% mais probabilidade de se tornarem obesas.

Se ainda não está convencido, segue mais uma informação. Dormir bem também reduz o estresse e diminui as chances de desenvolver depressão e ansiedade. Por isso, se você quer acordar com o pé direito, invista no seu sono. Ele vale muito. Fontes: Boletim da Associação Brasileira de Neurologia (ABNews) março/abril de 2017, p. 13 (abneuro.org); Cappuccio FP e outros, “Meta-analysis of short sleep duration and obesity in children and adults”, em Sleep de maio de 2008, número 31, p. 619-626; e A. M. Williamson e Anne-Marie Feyer, “A moderate sleep deprivation produces impairments in cognitive and motor performance equivalent to legally prescribed levels of alcohol intoxication”, em Occupational and Environmental Medicine, de outubro de 2000, p. 649-655.

P d z v O c r c

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Ponto de vista

Tudo ligado

Texto Alex Machado Imagem © atdigit | Adobe Stock

Texto Márcio Tonetti

DOS EMOTICONS AOS DONS Emoticons

MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL Prática oriental milenar, a meditação transcendental tem se popularizado no Ocidente nas últimas décadas. Suas diversas modalidades, como ioga, mindfulness, zazen, apresentam um denominador comum: o esvaziamento da mente na tentativa de um encontro com o “eu interior”. O controle das emoções e a melhora da qualidade de vida são alguns dos benefícios destacados pelos adeptos dessa antiga filosofia. Embora a medicina moderna reconheça a contribuição do estado meditativo para a saúde física e emocional, os cristãos têm assumido diferentes posturas quanto à sua prática.

Sim

Com o slogan “100% Jesus e 100% ioga”, o movimento cristão Holy Yoga tenta propagar o exercício da meditação transcendental entre os evangélicos. Fundado nos Estados Unidos por Brooke Boon, o movimento utiliza técnicas que mesclam costumes indianos e preceitos cristãos. Para Jo Ann Bauer, divulgadora do projeto, essa espécie de meditação aprimora a visão tradicional de adoração, possibilitando o uso de todas as faculdades que Deus concedeu ao ser humano. Atualmente, essa comunidade conta com milhares de instrutores e está presente em dezenas de países.

Depende

Em carta publicada no dia 15 de outubro de 1989, a Igreja Católica se posicionou oficialmente quanto ao uso de métodos orientais de meditação. De acordo com Joseph Ratzinguer, autor do documento e que depois se tornaria o papa Bento 16, é possível que alguns elementos da meditação oriental ajudem a “acalmar as paixões internas” e alcançar a “paz interior”. No entanto, tal prática deveria servir para os católicos somente como complemento da meditação cristã e jamais substituir a oração e o estudo da Bíblia. Portanto, deveria ser usada como um meio, mas não como um fim.

Não

Para os adventistas do sétimo dia, a meditação recomendada pela Bíblia não requer postura específica nem repetição de uma palavra para atingir determinado nível de concentração. O pastor Mark Finley argumenta que a meditação bíblico-cristã é sempre ativa, nunca passiva, e leva a pessoa a olhar para fora de si mesma, a fim de enxergar Jesus. Em contrapartida, a meditação transcendental conduz a estados alterados de consciência, abrindo a mente para todo tipo de influência, inclusive a maligna. Ellen White, cofundadora da Igreja Adventista, entendia que a resposta para as inquietações humanas jamais pode ser encontrada no próprio eu – o que contraria a pretensão da meditação oriental. Esse também é o entendimento de denominações como as Testemunhas de Jeová. Fontes: artigos “Território proibido: Por que o misticismo oriental não combina com a espiritualidade bíblica”, em Revista Adventista, dezembro de 2015, p. 12-17, e “Serve a meditação transcendental para os cristãos?”, em revista Despertai!, maio de 1977, disponível na biblioteca on-line da Torre de Vigia (wol.jw.org/pt); livro Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 84 (CPB, 2014); sites holyyogafoundation.org, holyyoga.net; artigo acadêmico “Os benefícios da meditação: melhora na qualidade de vida, no controle do stress e no alcance de metas”, de Denise Assis, na revista Interespe, no 3, 2013. (revistas.pucsp.br/interespe); e “Carta aos Bispos da Igreja Católica Acerca de Alguns Aspectos da Meditação Cristã”, do então cardeal Joseph Ratzinger (vatican.va).

:) Nome dado aos sinais gráficos criados a partir da pontuação. Eles deram origem aos famosos emojis (), que nos últimos anos viraram febre nas mídias sociais. Curiosamente, cerca de 100 anos antes da internet, eles já apareciam em algumas publicações. Porém, do jeito como conhecemos, a invenção é atribuída a Scott E. Fahlmann, que, na década de 1980, sugeriu o uso de ícones como uma forma de aproximar a linguagem escrita da falada e transmitir emoções que não poderiam ser expressadas simplesmente por meio do

Texto Mais do que um conjunto de letras e frases, na realidade é um conceito bem amplo, podendo se referir a outras formas de narrativa que utilizam recursos verbais ou não verbais. Etimologicamente falando, a palavra vem do latim, texere, que quer dizer “construir”, “tecer”. Mas acredita-se que foi só por volta do século 14, com a evolução semântica do termo, que o vocábulo incorporou o sentido de “tecer”ou “estruturar” palavras, isto é, de composição literária, na qual as ideias e significados se entrelaçam, formando algo

Coeso Qualifica o que é ou está unido. Por exemplo, quando os ingredientes de uma receita de pão ou bolo se misturam bem, diz-se que a massa tem consistência ou coesão. Deu liga! Já no caso da redação do Enem, o que se espera é a coesão textual (relação entre palavras, frases, parágrafos e ideias, para que o conjunto da obra faça sentido). Um trabalho harmônico, lógico, coerente, contínuo e conectado com as necessidades das pessoas também é o que torna “coeso” e eficaz o uso dos

Dons No senso comum, aptidão natural, talento. Porém, do ponto de vista religioso, designa uma habilidade concedida por Deus para um propósito especial (Rm 12:3-8; 1Co 12; Ef 4:1-16; 1Pe 4:10). Ao transformar suas aptidões em dons, você pode levar pessoas a entender melhor o personagem central do texto sagrado, a ver que sua vida é coerente com a Bíblia e a entender a mensagem do evangelho de maneira simples e clara como um emoticon ou emoji. Fontes: Dicionário Michaelis; site dicionarioetimologico.com.br; “Você sabe qual é a história da invenção do emoticon? Aqui está ela ;-)”, no site nexojornal.com; “Quem inventou o emoticon?”, no site super.abril.com.br abr-jun

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Imagine

Texto Jessica Manfrim Design Fábio Fernandes

... as missões cristãs sem a

colonização TERRA DE SANTA CRUZ, 1549. Dois homens e uma missão entrelaçada: Tomé de Souza, primeiro governador­ geral da colônia, e Manuel da Nóbrega, padre jesuíta que chefiou a primeira missão para converter os indígenas ao catolicismo. Juntos, eles representam a força política e religiosa dos invasores para manter a posse da terra, de­ senvolver um comércio rentável para a metrópole portu­ guesa e construir uma sociedade colonial nos moldes do cristianismo europeu. Estado e Igreja formavam a unidade civilizadora para um Novo Mundo selvagem e pagão. Essa união entre a fé católica e os reis portugueses ficou ainda mais forte no

período da Contrarreforma, a tentativa do papado de conter o avanço protestante e garantir as terras que estavam sob o domínio de nações católicas. Isso incluía colônias como o Brasil, para onde os portugueses trouxeram também sua religião. Nos séculos 16 e 17, o protestantismo tentou atracar em terras brasileiras, com os franceses calvinistas no Rio de Janeiro (1555-1565) e os holandeses em Salvador (1624-1625) e Pernambuco (1630-1654). Porém, os protes­ tantes só criariam raízes no Brasil na segunda metade do século 19, quando migraram para cá, também com uma visão civilizadora. Entenda como foi esse processo.

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CRU

Z E ESPADA Hoje o Brasil é um país laic o, diferentem período coloni ente do al, quando ha via uma relig Naquela époc ião oficial. a, Portugal e a Igreja Catól um acordo co ica tinham nhecido como padroado régi qual o papado o, no delegava ao re i português a de gerenciar tarefa e financiar as atividades da território bras igreja no ileiro, incluind o as missões tas. Mesmo co dos jesuím algumas m odificações, es durou até a pr se pacto oclamação da república. Contudo, na pr ática, o contro le estatal sobr religião foi lim ea itado pela Com panhia de Jesu tinha grande s, que influência no governo portug Brasil Colonia uês. No l, as grandes ordens religio quistaram po sas conder e autonom ia ao se tornar prietárias de em proextensas área s de empreend agrícola e de imento mineração, al ém da particip tráfico de escr ação no avos. Nesse contex to, a evangeliz ação de indíge negros acabou nas e tendo dupla fu nção: ensinar diência aos pr a obeeceitos religio sos e ao gove nial. Essa sim rno colobiose entre a cruz e a espa moldando a ec da acabou onomia e a so ciedade brasile séculos. ira por

q M c ( v C O o c p in d p


“PREGUIÇA” E TRABALHO BRAÇAL

Seis jesuítas vieram com o governador-geral Tomé de Souza, entre eles o padre Manuel da Nóbrega. Os indígenas foram reunidos em aldeias, onde aprendiam a fé católica e trabalhavam nas plantações. O objetivo era transformar os nativos em “bons cristãos”, o que também significava trabalhar como os europeus. No entanto, os indígenas tinham uma forma de organização social e de subsistência diferente da conhecida pelos missionários e colonos europeus. Os nativos se alimentavam de frutas, peixes e animais de caça, e usavam o tempo restante em seus rituais, celebrações e guerras. Por isso, foram caracterizados pelos estrangeiros como selvagens e preguiçosos. A mão de obra era uma grande necessidade para um processo de colonização que tinha como base a ocupação de extensas áreas. A solução encontrada foi escravizar o negro africano que, além de estar acostumado a trabalhar com a agricultura, criação de gado e o ferro, representava um negócio lucrativo para a metrópole. A associação entre escravidão e trabalho braçal fez com que esse tipo de atividade fosse visto como algo indigno. Pelo fato de o batismo de escravos ser um dever do senhor, muitos negros que para cá vieram acabaram aderindo a um sincretismo religioso entre cristianismo e as tradições espirituais africanas. Vale lembrar que a escravidão de nativos e africanos também foi praticada nos Estados Unidos e justificada por boa parte do protestantismo. Lá, os colonizadores ingleses não se preocuparam muito com a evangelização dos indígenas, pois eram considerados selvagens; nem com a conversão dos africanos, pois eram vistos como não humanos pela legislação local.

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CONVERSÃO E IDENTIDADE CU LTURAL Um projet

O evangelho da Bíblia pode ser abraçado por qualquer pessoa, em qualquer tempo e lugar (Gl 3:28; Jo 3:16; Mt 28:18-20). A conversão não é sincretismo (mistura de crenças e práticas) nem destruição da identidade cultural (imposição de crenças e práticas), mas transformação voluntária. Por isso, todo missionário deve se inspirar em Cristo, como modelo de serviço, cura, ensino e pregação. O apóstolo Paulo, o grande missionário intercultural, seguiu os passos de Jesus. Ele codificou os valores e princípios do cristianismo de acordo com a cultura das pessoas a quem pretendia evangelizar, fazendo com que a mensagem fosse inteligível para Seus ouvintes, construindo pontes em vez de muros (1Co 9:19-23). O verdadeiro testemunho se dá por meio de palavras, ações e da própria vida.

o civilizador sem pre traz embates e conflitos. Ca tequizar e evan gelizar eram sinônimos de in corporar os valo res e estilo de vida dos euro peus católicos ou protestantes sobre os na tivos e escravos africanos. O padre Manue l da Nóbrega, po r exemplo, não compreend ia a diversidade linguística das etnias indíge nas. Por isso, el e adotou o nheengatu com o língua geral pa ra ensinar os nativos. Dess e modo, todos os indígenas que chegavam ao s aldeamentos tinham que aprender o nhee ngatu, a fim de re alizar o sacramento da confissão auricul ar . No caso dos afric anos, o senhor tinha o dever de batiz ar seus escravos até seis meses após a ch egada deles ao Brasil, com o risco de perdêlos caso não cu mprisse a lei. Infelizmente, es ses missionário s não entenderam que seus métodos não er am de conversão, mas de desconstrução de identidade. Nesse processo , a conversão ta mbém ficou associada a cast igos e trabalho árduo e não à bondade e prox imidade. Em 15 91, por exemplo, Anthony Kn ivet, um pirata in glês abandonado por seus companheiros nu ma praia paulista, preferiu se colocar “nas mãos da piedade bárbara do s selvagens devo radores de homens do que na da crueldade sanguinária dos portugueses cristãos”. Ele er a protestante e, como tal, era considerado pa gão pelos portugueses católic os, podendo ser escravizado ou morto. Dura nte séculos, a es pa da convertia nominalmente muitos ao cristia nismo antes que a cruz pude sse fazer sentid o na mente e no coração.

Fontes: História do Brasil, de Boris Fausto (Edusp, 2008), p. 46-54, 59-62, 84-90; História dos Estados Unidos: Das Origens ao Século XXI, de Leandro Karnal e outros (Contexto, 2010), p. 58-66; Evangelização Protestante na América Latina, de Arturo Piedra (Sinodal, 2006), v. 1, p. 48-57; As Incríveis Aventuras e Estranhos Infortúnios de Anthony Knivet, de Anthony Knivet (Zahar, 2008); Evangelismo e Testemunho: A Sua Autêntica Missão de Apresentar Jesus às Pessoas, de Marcelo Dias (Ed. do autor, 2013), p. 51-57, 79-85; “Conversão e Colonização na América Latina e Brasil: Desconstruir e Destruir para Salvar”, artigo de Guilherme Burjack em Revista Caminhando, v. 18, n. 2, p. 115-121, jul./dez. 2013; “O papel da Igreja frente à escravidão indígena e africana nos séculos XVII e XVIII: Um olhar sob a perspectiva dos padres Antônio Vieira e João Antônio Andreoni (Antonil)”, de Mendell Barreto Ferreira (TCC em História na Universidade Federal de Juiz de Fora).

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Ação Mude seu mundo

Texto Jenny Vieira Imagens Ellen Lopes; Gustavo Leighton; Nassom Azevedo

Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões

O poder de fazer juntos CERCA DE 9 mil jovens estiveram reunidos na capital do Brasil, no fim de novembro de 2019, para um grande evento de voluntariado. O congresso Together atraiu pessoas de várias regiões do país e do mundo que desejavam conhecer e apresentar as oportunidades de missão oferecidas pela Igreja Adventista. E mais do que saber, essa turma estava disposta a experimentar na prática o que significa servir ao próximo a fim de testemunhar da fé em Cristo. Para tanto, os participantes interagiram com programas de inteligência artificial, games e cenários que simularam a sensação de visitar os cinco continentes do planeta. Eles também se engajaram em palestras e ações sociais e conversaram com quem está na linha de frente da missão. Cinco meses se passaram desde que a multidão se despediu de pontos turísticos de Brasília, como o Centro de Eventos Ulysses Guimarães e o Parque da Cidade. Mas como uma onda de boas ações, os jovens deixaram sua marca na cidade que repercutiu e ainda repercute mesmo após o evento. Prova disso é que o Together teve pelo menos 80 inserções na imprensa regional, além de ter suas imagens divulgadas na campanha publicitária do programa Pátria Voluntária, que foi lançado pelo governo federal em dezembro. “O que vemos hoje é uma juventude mais unida. Nós sentimos que a nova geração está se erguendo e por todos os lados 28 |

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ouvimos pessoas nos falando que o Together foi um marco. Não por causa das programações bem-feitas ou dos cantores e pregadores que ali se apresentaram, mas porque os participantes entenderam na prática o que é viver para Cristo, e para nós é isso que importa”, avalia o pastor Alijofran Brandão, presidente da Igreja Adventista para a Região Centro-Oeste do Brasil e coordenador geral do evento. Durante os quatro dias do encontro, cerca de 32 ações sociais e missionárias foram realizadas no Distrito Federal, beneficiando milhares de pessoas e despertando em 300 delas o interesse de estudar a Bíblia. Além disso, centenas de jovens se inscreveram em projetos missionários de curta e longa duração e outros milhares decidiram levar o “espírito” do Together para casa, comprometendo-se a participar de ações comunitárias em suas cidades. DE VOLTA PARA CASA No Tocantins, por exemplo, um grupo de jovens decidiu dar continuidade a uma das ações realizadas no Together. Depois de reunir os amigos que haviam participado com ela do evento, a fim de mensurar o impacto do congresso na vida deles, Deusny Rodrigues percebeu que o grupo estava disposto a fazer rodas de conversa nas escolas públicas. Desde então, esses voluntários visitam regularmente um colégio de um bairro

Cinco meses depois, evento que reuniu 9 mil jovens em Brasília continua a inspirar voluntários a servir no país e no exterior carente da cidade de Porto Leal para dialogar com crianças e jovens a respeito de depressão, bullying, prevenção ao suicídio e violência doméstica. O grupo ainda pretende abrir um Clube de Desbravadores para envolver os estudantes em atividades recreativas, cívicas e espirituais aos domingos. “Nesse mundo cheio de confusão, creio que estamos ajudando essas crianças a enxergar as coisas de outra forma”, justifica Kamily Vaz de Lima, 16, uma das voluntárias que teve a iniciativa. Por sua vez, em Mato Grosso do Sul, um projeto que já existia acabou recebendo reforço após o Together. Lançado no início de 2019, por iniciativa da rede educacional adventista no estado, o programa Esperança Pantanal ocupou um dos estandes do evento em Brasília. A iniciativa, que em sua primeira edição nas férias de julho havia recrutado 30 estudantes dispostos a realizar

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ações sociais no período de recesso das aulas, teve seu número de inscritos multiplicado por dez durante o Together. AJUDA PARA A ALBÂNIA Dono de uma escola de programação de games e inovação tecnológica, Alex Roger sentia que podia fazer mais pela missão adventista usando sua empresa e habilidades. Mesmo morando em São Paulo, quando ouviu falar da proposta do Together, ele decidiu se inscrever e voar para Brasília. “Fui para o evento achando que seria uma exposição sobre as novidades em relação aos ministérios e projetos da Igreja Adventista. Contudo, ao chegar ali, fui surpreendido, porque era um evento para viver experiências missionárias e sentir na pele o que os voluntários espalhados pelo mundo experimentam. Nunca havia visto algo do tipo”, confessa Roger. Passeando pelos 40 projetos que estavam sendo expostos na feira de missões, Alex parou aleatoriamente num estande e deu de cara com uma TV. Na tela, uma chamada de vídeo via streaming o colocou em contato com Juliana Ortolan dos Anjos, uma enfermeira missionária que trabalha na Albânia. O estande era do Serviço Voluntário Adventista (SVA), que oferecia a oportunidade de conversar em tempo real com missionários transculturais, a fim de tirar dúvidas e conhecer o trabalho deles.

Na Albânia, 56% da população são muçulmanos. O restante se divide entre católicos e outras religiões. Há somente 1% de protestantes e apenas 120 adventistas em todo o país, que já foi uma nação comunista. Lá, as igrejas evangélicas oferecem vários serviços gratuitos para a comunidade, como aulas de música, teatro, idiomas e culinária. Tudo isso com o objetivo de estabelecer contato com os nativos e testemunhar sobre Cristo. Quando tomou conhecimento desse contexto, Alex entendeu que aquele grupo de missionários adventistas podia oferecer um serviço diferenciado. “Perguntei a Juliana o que ela achava de oferecer para albaneses, além das aulas que já eram ministradas, cursos na área de tecnologia e inovação, como, por exemplo, uma escola para youtubers, aulas de edição de vídeo e de programação para aplicativos. Ela adorou a ideia”, relembra Alex. “Quando Alex explicou o conceito por trás do nome da empresa dele, percebemos que havia uma grande conexão entre algumas de nossas necessidades e o que ele gostaria de oferecer”, enfatiza Juliana. Na semana seguinte, ela e o pastor Delmar Reis, outro brasileiro que serve na Albânia, voaram para o Brasil a fim de se reunirem pessoalmente com Alex. Atualmente, o projeto já está em andamento, e os missionários estão sendo

treinados para oferecer os cursos na Albânia, que serão fornecidos e custeados pela empresa de Alex. “Acredito que Juliana e eu estávamos no lugar certo, na hora certa; e Deus conduziu tudo. Se não fossem aquelas circunstâncias, nada disso teria acontecido. Eu estava muito impressionado com tudo o que havia escutado durante as palestras e ministrações do Together, e isso me motivou a fazer mais para pregar o evangelho”, reconhece o empresário. Os organizadores do evento ressaltam que o objetivo do congresso não foi ser um fim em si mesmo, mas inspirar os voluntários a multiplicar a experiência de voluntariado que vivenciaram no Together em suas cidades, em outras regiões do país e do mundo. “Nós acreditamos que os jovens são colaboradores na missão de Deus, e eles têm um papel significativo na finalização da pregação do evangelho. Esse evento teve como foco plantar o senso de missão no coração de cada participante para que eles preguem o evangelho por meio da vida e das ações”, concluiu o pastor Alijofran. Para saber mais

togethermission.com.br youtube.com/adventistascentrooeste

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Lição de vida

Texto Thamires Mattos Ilustração Joseílton Gomes

DO INTERIOR PARA O

MUNDO CERTAS PESSOAS TÊM o dom de fazer qualquer conversa se tornar melhor e mais leve, por mais que as circunstâncias sejam adversas. O pastor Elbert Kuhn está entre elas. E talvez tenha sido essa característica que o habilitou para uma tarefa especial: trabalhar como missionário na Mongólia por 11 anos, chegando a liderar as atividades da Igreja Adventista no país asiático que tem a capital mais gelada do mundo. Entre 2016 e 2018, Elbert retornou ao Brasil para trabalhar como coordenador do Serviço Voluntário Adventista (SVA) na sede sul-americana da igreja. Agora, ele coordena o SVA na sede mundial da denominação, nos Estados Unidos. Por isso, não foi difícil perceber que ele é um homem atarefado. Mesmo assim, ao topar me conceder esta entrevista, foi amável e solícito. Recebi sua resposta às 17 horas de um dia de janeiro, mas, para ele, era madrugada. Elbert estava no Japão supervisionando alguns projetos da igreja. Avisou que responderia minhas perguntas durante uma das escalas de sua viagem para casa. Os áudios enviados refletem sua personalidade calma, centrada e atenciosa, mesmo num contexto agitado como de um aeroporto. Aliás, essa situação parece ilustrar sua vida como um todo: foco em meio à multidão. O CONVITE INESPERADO Já nos conhecíamos antes do contato para escrever este breve perfil. Antes de Elbert ter sido chamado para trabalhar na Mongólia, ele serviu como pastor da igreja que minha família frequentava em Porto Alegre (RS). Lembro do dia em que ele e Cleide, 30 |

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Elbert Kuhn descreve como o chamado de Deus virou sua vida de cabeça para baixo e, ao mesmo tempo, o colocou no lugar certo

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sua esposa, se despediram da congregação a fim de partirem para outro continente: buquês de flores foram entregues, e lágrimas foram derramadas. Fotos do país asiático foram mostradas no telão, e com perplexidade meus olhos infantis as contemplaram. Lembro de ter procurado e achado a Mongólia no mapa-múndi, entre a China e a Rússia, e de ter pensado um pouco no tamanho do desafio que o casal Kuhn teria: além de grande em território, a Mongólia era longe de tudo que já haviam conhecido. As casas eram diferentes; a comida e o clima, mais ainda. O que eu não sabia era que a mudança fora repentina e inesperada. “Simplesmente aconteceu. Minha esposa e eu não havíamos orado em favor de nada disso, mas, quando o chamado veio, tivemos a certeza de que era um plano divino”, reflete Elbert. Nenhum dos dois era fluente em inglês – algo fundamental para um missionário transcultural – e, muito menos, em mongol, o idioma oficial do país. Essa foi, no entanto, apenas uma das muitas barreiras. Naquela oportunidade, poucas pessoas os encorajaram a trocar um ministério de relativo sucesso e conforto no sul do Brasil por uma aventura num país frio, esparso e com poucos cristãos. O próprio Elbert chegou a duvidar se conseguiria se adaptar ao estilo de vida missionário. “Meus dois irmãos mais velhos são [missionários], mas queria uma carreira distinta. Sempre fui muito feliz no ministério pastoral, e não havia necessidade de sair; porém, sempre levei bem a sério a submissão à Deus. Creio que Seus planos são muito maiores e melhores do que os meus”, justifica. Ao perceberem que uma carreira “estável” e um estilo de vida relativamente confortável não estavam nos planos de Deus para eles, Elbert e Cleide arrumaram as malas. Hoje, depois de muitas experiências vividas e histórias A ligação afetiva de Elbert e Cleide com a Mongólia foi tão forte, que eles adotaram duas crianças de lá: o Mendee (12) e a Khongoroo (10)

acumuladas, os dois têm o espírito missionário e consideram a missão como parte do próprio DNA. “Uma das coisas que mais me realiza hoje é saber que trabalho para manter viva nos jovens a chama da missão, que é a essência da igreja. Na verdade, nem deveríamos separar as duas coisas: a igreja só existe para cumprir a missão! Sem esse foco, nos perdemos no tempo”, explica. Em geral, missionários e missionárias têm a oportunidade de estudarem sobre a cultura na qual serão inseridos. Desse modo, a transição de um país para outro se torna menos brusca e complicada. Com a família Kuhn não foi diferente: eles participaram de um programa de capacitação de algumas semanas do Instituto Mundial de Missões da igreja. Detalhe, há alguns anos, Ronald, o irmão mais velho de Elbert, faz parte da equipe de treinadores desse instituto. “Sempre gostei de aventura, de conhecer e fazer coisas novas, mas, jamais havia me preparado para aquilo que acabamos enfrentando. A Mongólia é um lugar completamente diferente e distante de tudo aquilo que qualquer pessoa possa sequer imaginar”, frisa Elbert. Ele também lembra que, durante a capacitação, aprendeu noções de interação intercultural. “A gente precisa ter muita sensibilidade, adaptabilidade e a noção de que você não está indo para brilhar, mas para preparar e apoiar o ministério daqueles que já estão no país. Devemos ajudá-los nessa caminhada”, argumenta. O PREPARO NA INFÂNCIA No campo missionário, toda habilidade é útil. Elbert é natural de Taquara (RS), mas foi criado numa cidade vizinha, Rolante, berço de muitos líderes adventistas. Sua família morava num sítio e, desde cedo, ele e seus irmãos foram incentivados a ajudar famílias carentes vizinhas. Eles também foram treinados nas tarefas de casa e no cuidado com os animais e a lavoura. Elbert acredita que a simplicidade e disciplina da vida no campo, modo de vida que seus pais escolheram quando deixaram Belo Horizonte, o ensinaram a encontrar felicidade no serviço ao próximo. “Isso é essencial para trabalhar no campo missionário. Você tem que gostar

de estar com pessoas, servi-las, amá-las, apreciá-las e cuidar delas. Se não, a missão não será natural”, garante o pastor. Ao resgatar memórias de sua infância, ele também chegou à conclusão de que seu pai e sua mãe o influenciaram diretamente para que aceitasse o convite que, inicialmente, não imaginava receber. “Eles sentavam comigo e com meus irmãos e liam histórias sobre missionários. Aquelas aventuras ficaram gravadas em meu coração e me levaram a tomar decisões importantes no futuro.” As lembranças de Elbert me fizeram pensar que tudo que aprendemos na infância e adolescência pode ser útil. Para ele, até mesmo conhecimentos básicos de mecânica fizeram diferença nas viagens que realizou pelo interior da Mongólia. “A vivência no campo missionário é muito mais prática do que teórica; e, pensando bem, todas as lições aprendidas no começo da vida são benéficas no dia a dia de qualquer pessoa. Sempre precisamos resolver problemas, seja no meio de uma estrada ou preparando uma refeição em casa”, observa. Mas, afinal, como saber se a vida de missionário fora do país é para você? A resposta está na motivação. Caso o interesse principal seja conhecer novos lugares ou fugir de circunstâncias desagradáveis, e não a pregação do evangelho e o serviço às pessoas, então é preciso repensar a possibilidade. “Os motivos precisam ser corretos a fim de que sejamos uma bênção. Você precisa fazer uma análise muito honesta, porque, até hoje, todos os que saíram com a intenção equivocada acabaram se frustrando e dificultando o trabalho naquela região”, adverte o missionário. Por isso, ele aconselha a pensar e a orar muito a respeito. No entanto, não é preciso sair do Brasil para servir a Deus. Seu campo de trabalho pode ser o bairro, a escola ou até mesmo sua casa. O importante é testemunhar de Cristo em qualquer lugar. “Hoje, meu lema e sonho é ser usado para incentivar as novas gerações a colocar talentos, energia, criatividade e recursos no cumprimento da missão. O missionário não precisa cruzar o oceano. Às vezes, basta atravessar a rua.” abr-jun

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Aprenda

Texto Nádia Teixeira Design Renan Martin

A se conhecer VOCÊ SE CONHECE? Essa pergunta pode causar algum estranhamento de início, mas pensar sobre ela é fundamental para o sucesso na vida. Talvez seja por isso que esse questionamento tem sido repetido desde o tempo de filósofos da Grécia antiga, como Sócrates. Na Bíblia, a ideia do autoconhecimento também está presente; porém, esse autoexame (Sl 139) precisa ser guiado pelo Espírito de Deus, pois a consciência humana é enganosa (Jr 17:9).

Na área vocacional e de gestão de carreira, muitos cursos são oferecidos para ajudar estudantes e recém-formados a se conhecerem melhor. Apesar de ter 27 anos de profissão, fui desafiada pela equipe da Conexão 2.0 a fazer um curso gratuito e on-line da Fundação Estudar. O pessoal dessa fundação já treinou 59 mil jovens de 170 cidades, e eles oferecem mentoreamento para novos talentos com potencial de gerar transformações no Brasil. Ao lado compartilho o que vi.

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PROPOSTA

Você vai precisar investir de dez a 14 horas num curso de quatro semanas. A proposta dele é ajudá-lo a reviver sua história, a fim de, se preciso for, ressignificar suas memórias e auxiliá-lo a traçar uma trajetória que seja significativa para você e que, consequentemente, gere impacto em quem está ao seu redor.

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MÓDULOS E MISSÕES

O curso é organizado em sete módulos e cinco missões parciais mais a tarefa final. Nessa caminhada, você é convidado a contar sua biografia, refletir sobre a imagem que acredita ter de si mesmo e que os outros têm de você. Além disso, é levado a rever suas memórias, explorar novas conexões e traçar metas e objetivos.

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MÉTODO

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TAREFA FINAL

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RESUMO E DICA

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No decorrer do curso, você terá acesso a vídeos específicos para contextualizar a proposta de cada módulo, num formato bate-papo, com linguagem acessível; e vídeos complementares bem interessantes para engajá-lo no cumprimento das tarefas e na interação com outros participantes no fórum. Existem dois tipos de “missão”, a de nível 1 (mais previsível) e 2 (“fora da caixa”).

Fonte: curso de autoconhecimento (napratica.org.br).

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Posso sintetizar o curso em cinco passos: (1) conheça-se; (2) tenha um objetivo norteador; (3) conte sua história e entenda como ela molda você; (4) ressignifique suas memórias; e (5) faça novas conexões e trace metas. A minha dica é: faça o curso, aproveite o máximo o fórum de interação com outros participantes e encare as “missões fora da caixa”, que não são obrigatórias, mas podem ajudá-lo bastante a refletir e a tomar decisões.

Foto: © zenzen | Adobe Stock

Gostei muito (aviso de spoiler) da tarefa final do curso, pois tive que escrever um e-mail para mim mesma e escolher quando queria recebê-lo na minha caixa de entrada. Defini a data para daqui um ano. É uma excelente ideia de “cápsula do tempo”, pois assim você pode futuramente avaliar se conquistou seus objetivos e, talvez, repensar as próximas metas e criar novas estratégias. Um ponto positivo do curso é que você é incentivado a todo momento a pensar sobre quem é e qual é seu propósito, além de ter que interagir com outros participantes.


Na cabeceira

Carreira com propósito

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Trechos

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“Você precisa começar a ser um poderoso instrumento nas mãos de Deus. Determine sua meta de conquista e comprometa-se a fazer alguma coisa para que esse desafio possa ser alcançado” (p. 50).

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“[...] Deus tem espalhado seus filhos em diversos ofícios para que sejam seus embaixadores nas diversas áreas em que exercem suas profissões” (p. 64).

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“Todos podem usar suas habilidades, profissões e hobbies legítimos como meios poderosos para fazer o reino de Deus crescer”

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(p. 89).

Foto: © zenzen | Adobe Stock

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Texto Alessandra Guimarães Design Renan Martin

MILHÕES E MILHÕES de pessoas passam pela vida resumindo sua existência ao nascimento, desenvolvimento e morte. Mas poucos fazem de sua trajetória um instrumento de transformação de outras vidas. Você já parou para pensar qual é seu propósito aqui? Já pensou que sua contribuição para o mundo pode estar alinhada à sua vocação profissional? O ponto de partida para responder a essa indagação é pensar nos talentos que você tem. Ah, e antes que passe pela sua cabeça que você não é bom em nada, vai aqui um spoiler: Deus já o presenteou com habilidades específicas, que podem ser utilizadas de maneira única. Então, chegou a hora de descobrir quais são elas! Pense no que você mais gosta de fazer e que estaria até disposto a pagar para fazer isso. Talvez tenha imaginado algo como jogar bola, conversar, desenhar, consertar equipamentos, tirar fotos, fazer bolo, contar piadas e por aí vai. Você sabia que essas habilidades são talentos que Deus lhe deu? Mais ainda, que isso que você mentalizou – por mais simples que seja – pode ir muito além do que um ganha-pão ou passatempo? O que o livro Meu Talento, Meu Ministério (CPB, 2017, 160 p.), do pastor Jair Miranda, traz é um convite para que você use as habilidades dadas por Deus – sejam elas vindas por herança genética ou desenvolvidas – como um meio de servir em favor dos propósitos Dele para a humanidade. O autor mostra, com base na Bíblia e em histórias reais, o que acontece quando alguém usa suas capacidades não apenas para ganhar dinheiro ou crescer na carreira, mas com um objetivo espiritual. Além disso, a cada capítulo é possível entender que não é preciso ter um talento extraordinário ou sobrenatural para fazer a diferença na sua comunidade. Basta se comprometer com a vontade de Deus.

Outro ponto interessante nesse livro é que, além da compreensão teórica sobre o assunto dos dons espirituais, de forma prática, o autor busca ajudar cada leitor a encontrar seu papel no time de Cristo. E de que forma? A obra oferece um guia prático de como transformar talentos em ministérios. Por ministério, Jair Miranda entende que são aquelas atividades que realizamos de modo contínuo, intencionalmente e com uma boa dose de satisfação e sacrifício, a fim de testemunhar de nossa fé em Cristo. O nível de identificação com a tarefa é tão grande que entendemos isso como parte de nós. É nessa seção do livro que o autor relaciona as grandes áreas profissionais e suas subdivisões com sugestões de como exercer essas profissões visando transformar pessoas. As ideias apresentadas são criativas e ajudam o leitor a olhar para sua profissão como uma atividade que vai além de ganhar dinheiro. Por exemplo, um veterinário pode atuar voluntariamente num mutirão comunitário de castração de animais; um músico pode tocar gratuitamente em hospitais, asilos e orfanatos; e um educador físico pode organizar e liderar um grupo de caminhada para idosos. Meu Talento, Meu Ministério é uma leitura que expande a mente para além do que conhecemos sobre propósito de vida. Por isso, ao fim do livro, muito provavelmente você estará pensando em como ter uma carreira mais útil e significativa. abr-jun

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Guia de profissões

Texto Wiliane Passos Ilustração © yindee | Adobe Stock

ADMINISTRAÇÃO A carreira generalista que possibilita várias frentes de atuação e especialização

PERFIL PROFISSIONAL

O egresso deve estar habilitado para atuar em organizações públicas e privadas, além de organizações do terceiro setor. Para tanto, espera-se que esse profissional tenha capacidade técnica para executar tarefas, mas também possua espírito de liderança, flexibilidade, autonomia, visão empreendedora e conhecimento dos avanços e tendências do setor. Além disso, espera-se que atue com base em valores éticos.

MATRIZ CURRICULAR

Contempla disciplinas gerais, como Matemática, Economia, Contabilidade e Teoria da Administração. E outras mais específicas da prática profissional, como Logística, Marketing, Processos Gerenciais e Recursos Humanos. O objetivo da graduação em Administração, seja na modalidade presencial ou a distância, é formar um profissional com visão estratégica de negócios.

ÁREAS DE ATUAÇÃO

POR MEIO DO desenvolvimento de habilidades socioafetivas, técnicas e conceituais, o administrador resolve problemas, gera inovações, planeja e define estratégias para o melhor funcionamento de uma organização. É o profissional qualificado para organizar e aplicar processos de gestão em diversas áreas da empresa. Pode ser, por exemplo, o responsável por acompanhar o andamento das atividades e tomar decisões relacionadas à contratação de colaboradores, investimentos em marketing e compra de matéria-prima. Em resumo, a formação é ampla e generalista, o que possibilita a atuação e especialização em várias áreas. Saiba mais a seguir.

ONDE ESTUDAR Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) São Paulo (SP) Nota 3 R$ 765,00 Noite, oito semestres unasp.br/sp Hortolândia (SP) Nota 3 R$ 889,00 Noite, oito semestres unasp.br/ht 34 |

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Por ser uma formação de caráter generalista, possibilita a atuação em vários setores do mercado e oferece diversas áreas de especialização, tanto pela experiência de trabalho adquirida como por meio de cursos de pós-graduação. O administrador também pode atuar como autônomo, prestando consultoria, e até abrir o próprio negócio. Polos industriais e grandes centros urbanos concentram as melhores oportunidades, como em indústrias privadas, órgãos públicos, empresas de serviços e instituições de ensino e do terceiro setor.

REMUNERAÇÃO

Não existe um piso salarial nacional para profissionais da administração; porém, fatores como a região, área de atuação, qualificação e experiência vão interferir no valor da remuneração. As médias salariais desses profissionais variam de R$ 1.788,00 para assistente de departamento pessoal; R$ 2.639,00 para administrador de empresas; R$ 3.388,00 para gerente de loja e até R$ 17.345,00 para diretor-geral de uma organização.

Engenheiro Coelho (SP) Nota 3 R$ 799,00 Noite, oito semestres unasp.br/ec Educação a distância (EAD) R$ 297,00 Oito semestres, com três encontros presenciais a cada seis meses unasp.br/ead

Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas) Lavras (MG) Nota 3 R$ 825,00 Noite, oito semestres fadminas.org.br Instituto Adventista Paranaense (IAP) Ivatuba (PR) Nota 4 R$ 860,72 Noite, oito semestres iap.org.br

Faculdade Adventista da Bahia (Fadba) Cachoeira (BA) Nota 3 R$ 626,05 Fontes: doutor Ivo Gonzales Jr., coordenador do curso de Administração da Fadba; núcleo de carreiras do IAP e do Unasp, campus São Noite, oito semestres Paulo e Engenheiro Coelho; Fadminas; e sites guiadacarreira.com.br, adventista.edu.br catho.com.br e guiadoestudante.abril.com.br.


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APRENDA

2min
page 32

NA CABECEIRA

3min
page 33

GUIA DE PROFISSÕES

2min
pages 34-36

LIÇÃO DE VIDA

7min
pages 30-31

MUDE SEU MUNDO

6min
pages 28-29

IMAGINE

5min
pages 26-27

PERGUNTAS

8min
pages 24-25

GLOBOSFERA

2min
pages 6-7

ENTENDA

22min
pages 8-15

CONECTADO

3min
page 4

TEXTO E CONTEXTO

12min
pages 20-23

REPORTAGEM

9min
pages 16-19

AO PONTO

2min
page 5
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