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15. A literatura po é' i ola Para se descrever o lado misterioso de Deus, do amor e dos demais valores decorrentes deste, bem como da experiência esp iritual e da beleza das cerimón ias religiosas, um especia l género literário surge em diversos texto s bíblicos, Text os como Job, Cântico dos Cânticos, Salmos e porções poéticas de obras do Novo Test ament o, tal como o Magnificat de Lc. 1,46-11, o prólogo do Evangelho segundo João de Jo . 1,1 -18 e o Cântico de Cristo de Flp. 2,5-11 . Trat a-se do género poético que - nas suas três grandes formas (lírica, narrat iva e dramática) - , sendo mais figurativo e sugestivo do que expos itivo, foi desde sempre usado no contexto religioso ju daico-cristão.
A parti lha poética a que se fez referência, pode ser considerada por si mesma, ou, entã o, como uma forma de, sob uma expressão musicada t ambém pensada (ou não) para ser usada na lit urgia, convidar os seus leitores a servirem -se dela para expressarem e (ou) moldarem as suas próprias emoções espiri tuais . Dito isto, t rata-se de uma poesia que, como é evidente, só será bela e duradoira quando for excelente poesia por si mesma. Do vasto elenco de obras de poetas cristãos, pode-se mencionar: a Divina Comédia de Dant e Alighe ri (ca. 1265-1321), imenso poema retratando, com o imaginário teológ ico medieval, uma viagem imaginária do próprio Dante até Deus; o Cântico espiritual do carmelita espanhol João da Cruz (1542-1 591), que descreve o processo místico que a alma vive até lograr a união, apresentada em chave amorosa, com Deus; os Poemas do franciscano português Agost inho da Cruz (1540-1619), que, através de uma lírica afectiva e uma linguagem provinda dã natureza conte mplada , exaltam a saudade de Deus e do Céu; a Obra poética do jesuíta inglês Gerard Manley Hopkins (1844-1889), que test emunha que o amor a Deus não é impe ditivo de um encant o com a natureza e os dramas humanos; e, por fim, os poemas present es em Dos líquidos, daquele que, com Soph ia de Mello Breyner Andrese n, é dos únicos poeta s cristãos portu gueses conte mporâneos relevant es: Daniel Faria (1971-1999), obra na qual se contacta com uma discreta felicidade espirit ual mistu rada com um fascínio pela Criação. Fique- se, aqui, apenas co m um breve poema - Beleza malhada - de Gerard Manley HOPKINS a ilust rar este género (Gerard Manley Hopkins - "Pied bea uty", ed. Thomas Crofts - "God's Grandeur" and Oth er Poems, Mineo la: Dover, 1995, 18s):
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Manuscrito do séc . XIII com o fim do Inferno e o começo do Purgató rio da Divina Comédia de Dante Alighe ri e pintura deste mesmo .
"Glória a Deus pelas coisas manchadas - , pelos céus de cores emparelhadas como vacas malhadas, pelas manchas rosadas pintalgando trutas que nadam , pelas castanhas caídas cor-de-brasa , pelas asas do ten tilhão; pela terra repartida e quadriculada - pasto, pousio e arada - , e todos os ofícios, suas engrenagens e roldanas e enfeites. Todas as coisas contrárias, originais, avulsas, estranhas; tudo o que é instável, sardento (quem sabe como?), rápido , lento; doce , azedo; brilhante, obscuro; Ele as gera Cuja beleza não muda: louvai -O".
Educação Mora: e Religiosa Católica
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