de atendimento integral, para avaliação de risco e intervenções pontuais. A busca por uma responsabilização criminal improvável, muitas vezes, pode ser ainda mais revitimizante para a criança e sua família. Pior, pode passar a falsa sensação de que nada aconteceu, deixando a criança ainda mais vulnerável e a mercê de um abusador já “inocentado” aos olhos de terceiros. Existem inúmeros casos semelhantes em que, por envolverem crianças pequenas sem condições de relatar os fatos, estes são relatados de forma insuficiente sob a ótica adultocêntrica. De qualquer forma, aponta-se para a necessidade de proteção dessa criança, que demanda um olhar atento da rede de proteção, diante dos indícios apresentados. Isso, porque o arquivamento do inquérito policial não significa que a criança esteja protegida e que o caso não demande atenção.
6.2 CASO 2 - A História de Luiza S. Luiza tem 11 anos de idade. Mora com a mãe, Ana, o pai, João, e uma irmã de 6 anos de idade chamada Luciana. Luiza é ansiosa e sofre de depressão. Reservada, tem poucos amigos. Seu desempenho escolar é muito fraco. Apresenta episódios de automutilação desde os 10 anos de idade, ferindo-se nos pulsos. Faz acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) com pouca regularidade, ausentando-se frequentemente. Em um dos atendimentos com a psicóloga, acabou relatando que o pai “mexia com ela”. Em seguida, calouse, demonstrando intenso sofrimento e incapacidade de fornecer mais detalhes. O Conselho Tutelar foi acionado. Um boletim de ocorrência foi lavrado. Luiza foi acolhida e encaminhada para escuta especializada. Fez questão da permanência da psicóloga do CAPSi no ato com ela e recusou a presença da mãe. Com imensa dificuldade, conseguiu relatar mais alguns fatos: os abusos pelo pai começaram quando tinha seis anos de idade e ocorriam, preferencialmente, durante o banho e de madrugada, enquanto todos dormiam. Os suaves toques nos genitais, aos poucos, foram se transformando em toques mais invasivos, sempre sob o pretexto de cuidado e carinho. Ao sentir dor, por volta dos 9 anos, pediu ao pai que parasse, ao que ele prosseguiu, dessa vez, mediante intimidação. Resolveu contar agora apenas para proteger
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