CONFLUÊNCIAS ENTRE MEDIAÇÃO CULTURAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL FALANDO DE UM LUGAR Para começar este texto, sinto a necessidade de localizá-lo no tempo, uma vez que são as condições impostas pela pandemia que delinearam o mote do Programa Educativa e são elas que motivam meu desejo de investigar as confluências entre a mediação cultural e a educação ambiental. Convivendo em um contexto pandêmico, exercendo uma profissão que me pede sentido de vida e ligação com o mundo real, inicio estas reflexões desejosa de encontrar ferramentas que me/nos instrumentalizem para a construção de um mundo novo na pós-pandemia. Escrevo do Distrito Federal, onde o retrato de contaminação do coronavírus se desenvolve de forma desigual. As cidades de Ceilândia e o Plano Piloto apresentam os maiores números de infecções por Covid-19. Elas estão separadas por cerca de 30 km de distância. Na primeira, a renda per capita é R$ 1.116,10; na segunda, R$ 6.778,00. Dados do boletim informativo da Covid no DF mostram que, no Plano Piloto, das 52.042 infecções, houve 758 mortes, enquanto que, em Ceilândia, das 56.017 contaminações, o quadro de óbitos quase dobra, com 1.666 mortes atestando que a questão social pesa sobre a vida e a morte. A necropolítica11 em curso, personificada pela figura de Jair Bolsonaro, afirma, em reunião com empresários, que “a economia não pode parar”. Tal economia seria sustentada por profissionais da manutenção — equipes de limpeza,
11. Conceito desenvolvido por Achille Mbembe, filósofo, teórico político, historiador, intelectual e professor universitário camaronês, para descrever o processo de dominação e controle pelo Estado, por meio do qual a submissão da vida pela morte está legitimada. Para Mbembe, a necropolítica não se dá apenas pela instrumentalização da vida, mas também pela destruição de corpos. 127