Revista Líder - Abril 2021 | #87

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CULTURA E COMPORTAMENTO / DIA DO ÍNDIO

PUTIRA SACUENA: MÃE, ÍNDIA E BIOMÉDICA Em homenagem ao dia do índio, comemorado na data de 19 de abril, te apresentamos a história de uma indígena da etnia Baré que é mãe de cinco filhos, biomédica formada pela Universidade Federal do Pará e defensora da mata e da ciência. Por: Bianca Teixeira Fotos: Arquivo Pessoal

Do território indígena médio Rio Negro, localizado no estado do Amazonas, veio Eliene Rodrigues Putira Sacuena. Ela é a primeira indígena do território a se formar e ter uma graduação superior. O povo Baré é das águas, as cosmologias vêm dos encantos das águas negras. Como tradição indígena, têm os e as pajés que fecham os corpos contra todos os males. “Somos indígenas mulheres fortes e nossos saberes são ancestrais. O meu povo sofreu a colonização pelos jesuítas, salesianos e pelo ouro branco (auge do látex). Nas escolas, a língua indígena era proibida de ser falada. Por isso, acredito que nós, indígenas mulheres, nos tornamos fortes e lutamos contra o silenciamento e o etnocídio”, defende.

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Putira recorda que quando a mãe terminou o ensino médio os filhos já eram crescidos e trabalhavam na roça, mas ela sempre falava para eles estudarem, pois a educação era uma das formas mais concretas de se alcançar o direito a igualdade. A comunidade sempre recebia pesquisadores que iam “estudá-los” e o fato sempre chamava bastante a atenção da indígena. “Lembro que uma vez chegamos na aldeia Boa Vista e tinha uma mulher na rede sentada. Ficava olhando quieta, aí ela me perguntou quem eu era. Os parentes relataram que era uma antropóloga e que queria aprender como vivia aquela comunidade”, relembra. Seguindo os passos da mãe, Eliane concluiu o ensino médio, mas queria

mais. Na época, não existia muitas perspectivas para cursar uma faculdade principalmente na área da saúde. Porém nada é impossível. Quando um primo a chamou para uma experiência em um curso de microscopia, Putira viu o destino se encarregou do depois. “Descobri que a biomedicina podia me proporcionar ser uma indígena pesquisadora. Passei no processo seletivo especial para povos indígenas pela Universidade Federal do Pará e logo que terminei a graduação entrei no mestrado”, comemora. Chegar a este posto não foi fácil. Putira afirma que passou por muitos estranhamentos tanto por parte dos parentes indígenas como dos não indígenas, pois discutir os dois mundos é muito complexo e as culturas são


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