Essa questão do domínio sobre seu desejo será retomada adiante, no capítulo seguinte, ao discutir-se as letras das músicas desse momento. Retomando as colocações de Pimentel a respeito de Leila e Rita:
Leila Diniz e a geração do Tropicalismo, logo em seguida, irão redesenhar novos comportamentos femininos que alteram lentamente os fazeres convencionais, modificando indelevelmente a face da cultura nacional. Carnavalização, coloquialismo e irreverência acabam por invadir a área sagrada da alta cultura e do conhecimento canônico. (...) Se o feminismo no Brasil só se fez movimento aberto e exposto às forças políticas públicas após 1975, nem por isso ações significativas deixaram de apontar os novos tempos. As pegadas de Leila Diniz, especulando liberdades para além da palavra morta em propostas partidárias, marcarão, com irreverência e rebeldia, o Tropicalismo e em especial Rita Lee, que reconheceu nela um marco dessas mudanças. Indumentárias, linguagem, canções, arranjos e performances Mutantes foram diretamente endereçados a ela.44
Apesar de parecer a esta abordagem estar um tanto equivocada em alguns pontos, como ao definir feminismo como uma singularidade e na excessiva associação entre elementos discursivos dos Mutantes e a figura singular de Leila, percebe-se que a autora contribui com a idéia central desta abordagem ao relacionar as posturas e suas importâncias para o período (que caracteriza como “ações significativas”) não através do que ela chama de “palavra morta”, de uma retórica específica, mas através do que aqui categorizam-se como performances de gênero. Note-se que no texto de Gláucia Pimentel surge novamente o termo “performance” em uma conotação diferente da apresentada por Butler, ao passo que neste trabalho a performance é associada ao conceito apresentado em “Gender Trouble”, passando assim a problematizar outros aspectos de sua discursividade. Como o próprio livro aponta,
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Idem.
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