elétricas, que perderam em muito sua matiz rebelde. De toda maneira, Calado aponta que Sérgio Dias chegou a ser injuriado e apedrejado nas ruas por andar com uma guitarra elétrica. De qualquer forma, percebe-se fortemente as cargas performáticas presentes nestes usos instrumentais, que, uma vez que causavam polêmica e revolta em segmentos da população, condizem com estratégias apontadas por Butler quando esta afirma que Como estratégia apontada para descaracterizar e dar novo sentido às categorias (...), descrevo e proponho uma série de práticas parodísticas baseadas em uma teoria performativa de atos de gênero que rompem as categorias de corpo, sexo, gênero e sexualidade, ocasionando sua re-significação subversiva e sua proliferação além da estrutura binária.76
Pode-se aqui contra-argumentar que essas performances musicais não estavam relacionadas com a categoria sexo apontada por Butler. Deve-se então levar em consideração todo o longo histórico de associações entre a música rock e a sexualidade (apontada pertinentemente por Simon Frith em obras como Sound Effects77) e a vaia que Calado afirma que direcionou-se a Sérgio quando este subiu ao palco com uma guitarra no Festival Internacional da Canção: “Bicha, Bicha, Bicha...”. Esta vaia foi incluída ao final deste segundo disco dos Mutantes. O quão definidora de um papel de gênero que se faz ausente da mencionada estrutura binária essa inclusão pode ser? De que maneira esses papéis foram sustentados e reafirmados? Através das “performances de afirmação”, exemplificadas aqui através da releitura da canção “Rua Augusta”.
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BUTLER, Op. Cit, p.11 FRITH, SIMON. Sound Effects. Youth, Leisure, and the Politics of Rock'n'Roll. New York, Pantheon Books, 1981. Trata-se de uma obra altamente referenciada no estudo da música rock, que define a existência de relações bastante estreitas entre sexualidade e rock, principalmente neste período abordado. 77
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