Da mesma maneira segue a maioria das canções desse período, de maneira que as análises de gênero tornam-se bastante imprecisas ao se tratar desses diálogos. Por outro lado, as estéticas sonoras são bastante precisas em suas referências. No fonograma “Tudo Foi Feito Pelo Sol”, escutamos o grande destaque das “camas sonoras” constituídas pelos teclados Hammond e Mini Moog com timbres bastante similares às referidas bandas de rock progressivo; da mesma maneira que os timbres agudos e com saturação em boost adotados pelas linhas de contrabaixo, os vocais agudos e harmonizados que remetem diretamente aos da banda inglesa Yes, bem como as marcações de bateria bastante fraseadas características desses mesmos padrões. Dessa maneira, a mudança discursiva das letras parece acompanhar uma mudança discursiva em todo o conjunto da identidade artística, que acompanha a caracterização de identidades de gênero. As masculinidades dos membros da banda parecem aqui se caracterizar dentro de um processo apontado por Antônio Carlos Miguel em seu texto “Em busca do aqui e agora” como tipicamente hippie, que no Brasil ganhou espaço nos anos 70, como conseqüência das possibilidades de aberturas de comportamento apontadas anteriormente por Novais em seu “Capitalismo tardio e sociedade Moderna”. Bom exemplo de texto que trata do tema é o de Heloísa Buarque de Holanda em seu “Impressões da viagem”80. Miguel, por sua vez, define esse processo a partir de um conjunto de Slogans e palavras chave:
Uma revolução individual. De dentro pra fora. A partir de cada um, o todo. Subvertendo as regras do sistema. Rompendo as amarras. Cabelos compridos. Orientalismo. Expansão da mente. Cada pessoa uma bandeira. O Nirvana aqui e agora. Muito som e sol. Curtir a pele. Viajar.
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Hollanda, Heloisa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960/70. Rio de janeiro: Aeroplano, 2004. Trata-se de uma conceituada obra de referência acerca do tema.
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