Perspectivas de gênero na discografia dos Mutantes (1968-1976)

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Lê-se, principalmente no trecho “...que a gente já tinha dentro de nós, e que, afinal, eram verdadeiras porque faziam parte da gente” uma inclinação a assumir essas informações como constituidoras de identidade, coerentemente com o que aponta Bahiana quando afirma que “falar de seu estilo de vida lhes parecia importante e suficiente”. Da mesma maneira, Rita Lee aponta essa tomada estética como questão de identidade em entrevista à revista International Magazine:

Eles vieram com uma coisa não machista, mas musical, mesmo. (...) Criou-se uma discussão nesse sentido, porque eu queria os Mutantes, gostava deles, mas eu os queria naquele esquema gostoso, continuando a coisa da gente. Fazendo solo com tampinha de garrafa, saca? Sabe: misturar, esculhambando com os clássicos da MPB; enfim, ser maldito. Mas eles queriam ser eruditos.84

A questão do uso da música como expressão de individualidade é bastante discutida em “Perspectives on Musical Aesthetics”, de John Rahn – e sua abordagem é coerente com a deste trabalho ao apontar as questões musicais a quem as produz, e não a quem as consome. De maneira sintética, o autor afirma que

Many who have approached the questions from another perspective, that of the producer of music rather than its receptors, have asserted that the value of music lies in its ability to function as a medium in which the producer can express himself. (…) Expression is often parsed as reference. Thus, music that expresses an emotion does so by referring to that emotion.85

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FROÉS, Marcelo, e PETRILLO, Marcos. Entrevistas: International Magazine. Rio de Janeiro, Gryphus, 1997. 85 RAHN, John. Perspectives on musical Aesthetics. Nova Iorque, Norton & company, 1994.p. 57-58. Em tradução livre, “Muitas pessoas que abordaram a questão da música à partir de outro ponto de vista, de quem a produz ao invés de quem a recebe, tomaram a assertiva de que a música tem valor em sua habilidade de médium, através da qual quem a produz pode expressar a si mesmo. A expressão é frequentemente tida como referência. Por exemplo, a música que expresse uma emoção o faz referindo-se a essa emoção.”

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