PANO PARA MANGAS Margarida Vargues
Há lá coisa melhor que um caderno a estrear, uma esferográfica, ou lapiseira, de pontas macias e uma tarde com todo o tempo do mundo? Haver, até há, mas não cabe no universo da escrita, pelo menos desta que faço sobre o papel. As minhas folhas, ainda virgens de palavras e, sobretudo, de emoções e sentimentos - não tenho como os separar uns dos outros - estão, ainda, sobre a cama, junto da qual gosto de me sentar. Passo muitas horas de pé ou em cadeiras pouco confortáveis, por isso o prazer do chão frio, da subtileza do tapete ou do acolchoado de um almofadão são o conforto que me acompanha nesses momentos.
Hoje escrevo um poema sem nexo. Amanhã uma frase solta que me vem à cabeça - quem sabe não a consigo transformar em seiscentas ou setecentas palavras… E depois uma teoria sobre o absurdo que é ter a mania de que se sabe escrever, como a que me acompanha desde que, no terceiro ano da Primária, a minha professora elogiou um qualquer texto que escrevi na altura. Desde então nunca mais parei. Escrevinho. Escrevo Apago. Amarroto. Deito fora. Mais tarde, volto a fazer tudo como se nada se tivesse passado anteriormente. Já perdi a conta aos caracteres desenhados. Já perdi o rasto às palavras
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