EM REVISTA EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536
EDIÇÃO ESPECIAL DE 8º ANIVERSÁRIO DA ALL 5ª SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA
NÚMERO ESPECIAL (8.1,2) - AGOSTO 2021
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE ALL EM REVISTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Praça Gonçalves Dias, Centro – Palácio Cristo Rei 65020-060 - São Luis – Maranhão
NOSSA CAPA DIRETORIA DA ALL E MEMBROS INTEGRANTES E PARTICIPES DAS COMEMORAÇÕES DE 8º ANIVERSÁRIO E SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA 2021
EDITORIAL
“ALL EM REVISTA” é a revista oficiosa da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, publicada em formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Depois de um período ausente, por questões burocráticas – definição por parte da Comissão Editorial , em Assembléia Geral Ordinária do dia 02 de julho de 2021, decidiu-se dar continuidade à publicação da Revista, em seu formato eletrônico, permanecendo o sócio-fundador Leopoldo Gil Dulcio Vaz como seu editor responsável, submetendo-se a aprovação diretamente ao Sr. Presidente. O compromisso inicial foi o de publicação de número especial, dedicados à V SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA / VIII ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS. Em reunião virtual de maio de 2011 decidiu-se sobre a retomada da Semana Ludovicense de Literatura, em ambiente híbrido. E junto, as comemorações do Aniversário da ALL. Sábia decisão dos Confrades e Confreiras presentes – 11, dos 38. Vavá Melo sugeriu que se homenageassem literatos ludovicenses que tenham uma importante contribuição para a literatura local; chamava a atenção de que metade dos Patronos não eram nascidos na Cidade do Maranhão... Unindo as idéias apresentadas, seguiu-se a de se o fazer em dois momentos: retomando a “Pedra de Toque”, com apresentação de um literato a cada reunião mensal, com tempo de 20 minutos para cada expositor. E um panorama dos “esquecidos”, alguns já resgatados pelo locutor que vos fala... mandei, então, todo esse material, fruto dos trabalhos dos últimos doze meses; Antonio Aílton, então, sugeriu que fosse transformado em uma palestra de abertura, a ser apresentada quando das comemorações de aniversário e da Semana... Da forma como irei apresentar, em vídeo e em cores, remetendo aos trabalhos já publicados na MARANHAY, revista lazeirenta editada por mim, decidi-me a replica-los aqui, e, ainda, a edição de um numero especial da mesma, dedicada ao Aniversário e à Semana. Isso feito, recuperado os texticulos, mais de 300 páginas!!! Decidi-me, então, em editar em dois volumes, sendo o primeiro um bate-papo – fazendo algumas provocações e remetendo aos textos publicados... MARANHAY, Revista Lazeirenta 65 - AGOSTO 2021 - EDIÇÃO ESPECIAL: SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu ALL EM REVISTA, volume 7, números 1,2,3,4 - AGOSTO 2021 - edição de aniversário by Leopoldo Gil Dulcio Vaz issuu https://drive.google.com/file/d/1FCmKuaEATgjkXfH0aw-g3VS20kcJYvnG/view?usp=drivesdk
O segundo volume, este, é dedicado aos demais trabalhos: a Palavra do Presidente, de Abertura, seguida da palavra dos ex-presidentes, alusivas aos oito anos da ALL, num retrato de suas administrações; a Posse de Neres e de Jadir, com a apresentação do Aílton e de Sanatiel; A homenagem a Carlos de Lima por: Ceres, Jucey, Daniel e Dilercy, seguido de um Sarau Poético, com Ailton, Clores, Roberto, Ana Luiza, Irandi,e quem mais se apresentar; encerrando artigos sobre a literatura ludovicense contemporânea. Segue a festa... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
SUMÁRIO 2 3 4 6 17 25
EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO PATRONOS E OCUPANTES DAS CADEIRAS FOTOS HOMENAGEADOS ABENÇOADO BIÊNIO (2016-2017) DILERCY ARAGÃO ADLER
28
30
INAUGURAÇÃO DA SALA DO CRISTO REI PALESTRA DE ABERTURA – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SARAU POÉTICO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO O IMORTAL MARABÁ, de Mário Martins Meireles O MUNDO CABE NO MEU QUARTO, de Ana Luiza Almeida Ferro ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA - – Cadeira 22 – Patrono: Maranhão Sobrinho MARANHÃO SOBRINHO - Soror Teresa ANTONIO AÍLTON - Amor, página 1.145.069 IRANDI MARQUES LEITE - – Cadeira 09 – Patrono: Antonio Henriques Leal HOMENAGEM AO MEU PATRONO - Antônio Henriques Leal, Plutarco de Cantanhede, Judael de Babel-Mandeb ENGENHARIA DO CORPO ABSTRATO - Irandi Marques Leite ROBERTO FRANKLIN FALCÃO COSTA – Cadeira 40 – Patrono: José de Ribamar Sousa Reis ROSAS DE AMOR - José Ribamar Sousa Reis MULHERES - Roberto Franklin ESTRELA DA MEIA-NOITE INTEIRA JOÃOZINHO RIBEIRO DILERCY ARAGÃOI ADLER A DOR, QUE NÃO TEM CURA - Maria Firmina dos Reis CANTOS À BEIRA-MAR - À Maria Firmina dos Reis - Dilercy Adler
31 33 34 36 40
42
44 46 47
50
POSSES DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 38 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS JOSÉ NERES DISCURSO DE RECEPÇÃO DO ESCRITOR E PROFESSOR JOSÉ DE RIBAMAR NERES COSTA À ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL, COMO OCUPANTE DA CADEIRA DE Nº 38, PATRONA DAGMAR DESTÊRRO E SILVA. ANTONIO AÍLTON DISCURSO DE POSSE JADIR MACHADO LESSA
50 54 59 63
APRESENTAÇÃO DE JADIR LESSA À ALL SANATIEL DE JESUS PEREIRA
67
72
72
SARAU – CANTOS À BEIRA MAR PREFÁCIO (ALL) DILERCY ARAGÃO ADLER PREFÁCIO (IHGG) OSVALDO GOMES
74 77
79
CERES COSTA FERNANDES ENTREGA DIPLOMAS DE MEMBRO CORRESPONDENTE DA ALETRAS.
79
MINI CURRÍCULO PARA APRESENTAÇÃO NA ENTREGA DOS DIPLOMAS DE MEMBROS CORRESPONDENTES
81
PRÉ-PROJETO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: a Rosa-de-Jericó (18222022) DILERCY ARAGÃO ADLER
87
HOMENAGEM A CARLOS DE LIMA
91
CARLOS DE LIMA- MEMÓRIAS. São Luís, 1996 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA “LIEUX DU MILIEUX” DA LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ GERAÇÃO CASSAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM PAULO MELO SOUSA A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM DILERRCY ADLER O GÊNIO FLORESTAL FERNANDO BRAGA LEONETE OLIVEIRA ou Ângela Grassi brasileira – UMA BRILHANTE E DESCONHECIDA POETA DO ENTRESSÉCULOS XIX – XX ANTONIO AÍLTON NASCE O IMPERADOR DA LIRA AMERICANA, GONÇALVES DIAS. WYBSON CARVALHO
92 96 97 122 160 163 173 176 179
RELAÇÃO DE PATRONOS E OCUPANTES DAS CADEIRAS CADEIRA
ACADÊMICOS
01 CLAUDE D’ABBVEVILLE
ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA (Fundador)
02 ANTONIO VIEIRA
JOÃO BATISTA ERICEIRA (Fundador)
03 MANOEL ODORICO MENDES
SANATIEL DE JESUS PEREIRA (Fundador)
04 FRANCISCO SOTERO DOS REIS
ANTONIO AGUSTO RIBEIRO BRANDÃO (Fundador / Honorário: 2020)
VAGA
05 JOÃO FRANCISCO LISBOA
RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO. (Fundador)
06 CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA
ROQUE PIRES MACATRÃO (Fundador)
07 ANTÔNIO GONÇALVES DIAS
WILSON PIRES FERRO (Fundador/ FUNDADOR
CLEONES CARVALHO CUNHA 2º Ocupante .
08 MARIA FIRMINA DOS REIS
DILERCY ARAGÃO ADLER (Fundadora)
09 ANTÔNIO HENRIQUES LEAL
IRANDI MARQUES LEITE 1º. Ocupante
10 JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE SOUSÂNDRADE
MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO 1º. Ocupante
11 CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ (Fundador)
12 JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL
MICHEL HERBERT ALVES FLORÊNCIO (Fundador)
13 ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO
MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES 1º. Ocupante
14 ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO
OSMAR GOMES DOS SANTOS (Fundador)
15 RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA
DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA 1º. Ocupante
16 ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS
AYMORÉ DE CASTRO ALVIM (Fundador)
17 CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
RAIMUNDO GOMES MEIRELES (Fundador)
18 HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO (Fundador)
19 JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA
JOÃO FRANCISCO BATALHA (Fundador)
20 JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA
ARQUIMEDES VIEGAS VALE (Fundador)
21 MANUEL FRAN PAXCO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (Fundador)
22. JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUE MARANHÃO SOBRINHO
ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA 1º. Ocupante
23 DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES
ÁLVARO URUBATAN MELO (Fundador)
24 MANUEL VIRIATO CORRÊA DO LAGO FILHO
FELIPE COSTA CAMARÃO 1º. Ocupante
25 LAURA ROSA
MIRIAM LEOCÁDIA PINHEIRO ANGELIM 1ª. Ocupante
26 RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO
JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO 1º. Ocupante
27 HUMBERTO DE CAMPOS VERAS
JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES (Fundador)
28 ASTOLFO DE BARROS SERRA
BRUNO TOMÉ FONSECA 1º. Ocupante
29 MARIA DE LOURDES ARGOLLO MELLO (DILÚ MELLO)
AMÉRICO AZEVEDO NETO 1º. Ocupante
30 ODYLO COSTA, FILHO
CLORES HOLANDA SILVA (Fundadora)
31 MÁRIO MARTINS MEIRELES
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO (Fundadora
32 JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO
ALDY MELLO DE ARAÚJO (Fundador)
33 CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA
PAULO ROBERTO MELO SOUSA (Fundador)
34 LUCY DE JESUS TEIXEIRA
CERES COSTA FERNANDES 1ª. Ocupante
35 DOMINGOS VIEIRA FILHO
JUCEY SANTOS DE SANTANA 1ª. Ocupante
36 JOÃO MIGUEL MOHANA
RAIMUNDO DA COSTA VIANA (Fundador)
37MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD
JADIR MACHADO LESSA 1ª. Ocupante
38 DAGMAR DESTÊRRO E SILVA
JOSÉ NERES 1ª. Ocupante
39 JOSÉ TRIBUIZI PINHEIRO GOMES
JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA (Fundador
40 – JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS
ROBERTO FRANKLIN 1ª. Ocupante
FUNDAÇÃO
DEZEMBRO DE 2013
JANEIRO 2014
POSSE 1ª DIRETORIA
POSSE FUNDADORES
REUNIÕES
1º ANIVERSÁRIO
2º ANIVERSÁRIO
REUNIÃO COM A PREFEITURA
2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS
2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES
2016 – ANO DE COELHO NETO
2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO
2018 – ANO DE GRAÇA ARANHA
2019 – ANO DE MARANHÃO SOBRINHO
2020/2021 – ANO DE CARLOS DE LIMA
ABENÇOADO BIÊNIO (2016-2017) DILERCY ARAGÃO ADLER Ex-Presidente O biênio 2106-2017 foi pleno de realizações e grandes conquistas no que diz respeito à consolidação da importância e da visibilidade da Academia Ludovicense de Letras. Esta Diretoria conseguiu concretizar desde coisas mais simples, mas não menos importantes, até algumas dentre as mais vitais para a existência de uma Academia, as quais serão nomeadas mais adiante. Por sermos uma Academia fundada recentemente, muito há por fazer e, a partir dessa compreensão, esta Diretoria, apesar de todas as dificuldades objetivas e subjetivas, não mediu esforços para fazer o seu melhor em prol do coletivo da Casa de Maria Firmina dos Reis. Dentre as realizações, podem ser citadas: - a Instituição da Pedra de Toque, em atendimento à reivindicação dos confrades e confreiras, no sentido de ser incluído nas Assembleias deliberativas um momento cultural; - definição e confecção do capelo; - compra do turíbulo, de modo a cumprir o ritual de cada eleição; - criação do site da Academia; - confecção da bandeira; - cadastro na Agência Brasileira do ISBN (Biblioteca Nacional), sendo a Presidente, Dilercy Aragão Adler, a representante da Editora ALL; - realização do concurso para escolha da letra do Hino da Academia (os três primeiros lugares classificados pela Comissão julgadora receberam menção honrosa, ficando a definição da letra para uma outra ocasião); - realização da I Semana Ludovicense de Literatura juntamente com a I Semana Maranhense de Literatura e definida em Ata para ser realizada nos anos subsequentes, sempre no mês de agosto, de modo a ser comemorado o aniversário da ALL dentro dessas Semanas; - participação da ALL com exposição e vendas de livros na Feirinha de São Luís, projeto da Prefeitura Municipal; - concretização de uma réplica, por Marlene Barros, do busto de Maria Firmina dos Reis, obra de Flory Gama, de 1975; - restauração de um exemplar original do livro Cantos à beira-mar e da capa da edição fac-similar de um exemplar de Úrsula dessa escritora, ambos presenteados à ALL por Loreley Morais, filha de Nascimento Morais Filho; - publicação, em conjunto com o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães - IHGG, da 1ª edição atualizada, segundo o Acordo Ortográfico vigente, de um livro contendo duas de suas publicações: o livro de poemas Cantos à beira - mar e o conto indianista Gupeva, organizado por Dilercy Adler, Presidente da ALL e Osvaldo Gomes, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, obra financiada por estas instituições. - Também foi lançado o livro Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, de autoria da Presidente da ALL, que ocupa a Cadeira de Maria Firmina. Nele divulga resultados de pesquisa sobre a vida de Maria Firmina, dentre os quais a data de seu nascimento e a condição étnica da sua mãe (mulata forra), a certidão de batismo e a Portaria da sua nomeação. Os dois livros foram lançados na 11ª edição da Feira de Livro de São LuísFeliS. Nesse bojo dos dados novos também o conhecimento/divulgação da existência da Lei que institui o dia de nascimento de Maria Firmina como o Dia da Mulher Maranhense, o qual já é conhecido como o Dia da Mulher Vimaranenses. Assim, foi providenciado na Assembleia Legislativa o ajuste do dia de comemoração, que passou de 11 de outubro para 11 de março, e a aprovação da comemoração desse dia a partir de 2018. Foram ainda realizados um documentário em comemoração ao aniversário dos 04 anos de fundação da ALL e duas eleições (2016 e 2017) em quatro dias para preenchimento de oito cadeiras, tendo a Casa recebido oito novos membros. Foi confeccionada e instituída/regulamentada a Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural;
- foi impresso e entregue aos membros da ALL o diploma definitivo de posse. E três grandes conquistas, a meu juízo, foram a concessão do Título de Utilidade Pública para a ALL, mediada pelo vereador Silvino Abreu, e a escolha da Patrona da 11ª FeliS, pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura – SECULT, coordenada por Rita Oliveira, ter incidido sobre a ilustre figura da Patrona da Academia, a primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis, o que a levou ao âmbito da população local, nacional e internacional, igualmente ao que ocorreu no ano de 1975, quando foi comemorado o seu sesquicentenário de nascimento, momento em que se tornou centro das atenções e foco cultural, circulando nos ambientes, nos grupos e entre pesquisadores culturais neste ano de 2017. E a maior conquista de todas: a cessão, em sistema de comodato, de um imóvel destinado para a sede da Academia Ludovicense de Letras pelo Governador do Estado, Flávio Dino. O prédio é de propriedade do Estado e está situado na Rua do Giz, nº 139 – Centro Histórico em São Luís do Maranhão (em processo em finalização). No tocante ao novo momento que a ALL vai iniciar em 2018, quero deixar claro que o meu apoio pessoal não se dirige a pessoas ou a grupos, mas ao bem da Academia Ludovicence de Letras, por acreditar que as impressões e sentimentos em relação a cada confrade e confreira são de foro íntimo, enquanto que aquelas que são de interesse da Casa estão na esfera do coletivo. Por isso mesmo, tenho nas minhas ações pessoais, procurado desconsiderar qualquer atitude menos solidária ou menos amigável, infelizmente comuns em convívios em grupos ou instituições. Acredito e reafirmo que o que deve unir a todos, independentemente de simpatias ou ideologias, é a Causa e, neste caso específico, esta Casa, independentemente de qualquer outra condição ou situação. Como cada gestão deixa a sua marca, acredito que esta Diretoria, nesses dois anos, imprimiu a pressa em realizar o que é bom e necessariamente urgente para a Academia. E assim procedeu com a adesão de poucos ou muitos, em momentos diferentes, porque mesmo não parecendo, cada atividade, cada trabalho requisitava tempo e energia, mas como é essencial a paixão em tudo que se faz, lá estava ela... em cada um e em cada atividade! Afinal, é a paixão que move o mundo! Não importando a quantidade de pessoas, mas, sim a intensidade das suas paixões!… Afinal, é a paixão que move o mundo! Como somos uma Academia infante, há muito a ser realizado e por constituirmos uma confraria, todos os feitos têm o empenho de muitas mãos. Portanto, quero agradecer a todos aqueles que contribuíram ao longo destes dois anos na concretização dos objetivos da Casa, mas, sem desmerecer quem quer que seja, permitamme deixar registrado nesta minha fala dois agradecimentos essenciais para o funcionamento da nossa Academia: agradeço, de coração, ao empenho e à mediação de Felipe Camarão, em diversas atividades da ALL, mas principalmente, no que se refere à aquisição da sede, porque reafirmo que a conquista de um prédio para a instalação da nossa sede vai consolidar a ALL como Academia de relevância na cidade de São Luís. E ao confrade Raimundo Nonato Campos Filho pela dedicação às atividades, a meu ver, mais cansativas, que são aquelas referentes a organização e dos registros de documentos cartórios, publicações em Diários oficiais, mesmo cuidando da contabilidade, além de se responsabilizar pela confecção de medalhas, diplomas, entre outros afazeres. Para finalizar, renovarei os meus votos de dedicação ao engrandecimento da Casa de Maria Firmina dos Reis e desejo muito sucesso à nova Diretoria, que assumirá a partir de 2018, e que sejam anos profícuos de realizações e que a Academia cresça cada vez mais, assim como a confiança e a harmonia entre os seus membros. E que Deus, através da Sua verdade e do Seu Amor, abençoe a Casa de Maria Firmina dos Reis!
8º ANIVERSÁRIO 2021
1º dia
Abertura INAUGURAÇÃO DA SALA
PALESTRA DE ABERTURA DA 5ª SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA & 8º ANIVERSÁRIO DA ALL
Leopoldo Vaz, convidado, apresenta mais uma edição de : "MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA" (facetubes.com.br)
EM BUSCA DOS ESCRITORES ESQUECIDOS... LUDOVICENSES & MARANHENSES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Poética Brasileira Professor de Educação Física / Mestre em Ciência da Informação ALL EM REVISTA – EDIÇÃO ESPECIAL – AGOSTO 2021 7.1,2,3,4 ALL EM REVISTA, volume 7, números 1,2,3,4 - AGOSTO 2021 - edição de aniversário by Leopoldo Gil Dulcio Vaz issuu https://drive.google.com/file/d/1FCmKuaEATgjkXfH0aw-g3VS20kcJYvnG/view?usp=drivesdk MARANHAY, Revista Lazeirenta 65 - AGOSTO 2021 - EDIÇÃO ESPECIAL: SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu
Sarau
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
O IMORTAL MARABÁ1 Mário Martins Meireles2
I Ó guerreiros da raça tapuia! Ó guerreiros da raça tupi! Vossos deuses inspiram meus cantos... Ó timbiras, meus cantos ouvi! Esta noite era a lua tão linda, Entre nuvens, serena, a vagar, E eu olhava as estrelas brilhantes, No futuro, tristonho, a pensar. Relembrava o mau sonho que tive, A visão da desgraça por vir: Nossos filhos perdidos nas matas, Da desonra e da morte a fugir... Nossas tabas, sem gente, sem vida... Nossa gente, sem glória, a morrer... Nossa raça, sem força e vencida, Seu passado de glória a esquecer! 1
Extraído de MEIRELES, Mário Martins. O imortal Marabá. São Luiz: Tip. M. Silva, 1948. p. 37-39. O poema, que evoca o “O canto do Piaga”, de Gonçalves Dias, tendo como inspiração o quadro da morte do poeta caxiense, de autoria do pintor Eduardo de Sá, foi atualizado em termos ortográficos. 2
Patrono da Cadeira nº 31 da ALL.
De vergonha, eu chorava sozinho, Implorando o favor de Tupá, E pedia que a morte chegasse. Mesmo vinda das mãos de Anhangá. Eis no céu se me mostra outro quadro Diferente daquele que eu vi! Vossos deuses inspiram meus cantos! Ó timbiras! meus cantos ouvi! II Entre os gestos de igara gigante, Sobre as ondas bravias do mar, Vi um branco de pálido rosto Sobre as águas, sem vida, a boiar. Brancas folhas, que eu nunca antes vira, Apertava-as, bem vi, nesta mão; Descansava-lhe a outra no peito, Bem aqui..., sobre seu coração. O fantasma de um índio timbira – que surgiu ou do céu ou do mar – Recurvando-se sobre o cadáver, A cabeça lhe vi coroar! E o oceano, bramindo, roncando, Vi-o grande, terrível, se erguer, E o cadáver, no seio das águas, Para sempre, e de vez, se perder! Em seguida, falou-me o fantasma – o fantasma de um índio bem vi – E eu repito o que disse o guerreiro... Ó timbiras! meus cantos ouvi! III “Tu bem viste, ó piaga divino!, Este branco que eu vim coroar, Cujo corpo sagrado tu viste O oceano zeloso guardar. E não sabes, piaga, quem seja? Não t’o disse o cruel Anhangá?! Não é branco, ó piaga!, é dos nossos... Será nosso – será marabá... Entre os brancos será nossa glória, Pois que glória dos brancos será;
Dos timbiras a fama guerreira Nos seus cantos o Mundo ouvirá! E poeta será como nunca Entre os brancos se viu ou verá, Pois seus cantos serão inspirados Quais se fossem do próprio Rudá! O seu nome será venerado, Pois o quer, por vingança, Tupá: O maior dos poetas dos brancos Será nosso – há de ser marabá! Bem aí, onde estás tu sentado, Entre as palmas, olhando este mar, Hão de os brancos, em pedra esculpida, Sua estátua do chão elevar. E os seus filhos virão no seu dia – que ele um dia na História terá! – Cultuar o Cantor dos Timbiras, O sublime e imortal marabá! Ele é filho de deuses, te digo, E por isso, no fundo do mar, O seu corpo, entre flores e cantos, Hão de iaras ciumentas guardar... Os guerreiros convoca, ó piaga!, Faze ouvir teu fiel maracá... Manitôs já fugiram da taba... A vingança há de vir, ó Tupá!”
O MUNDO CABE NO MEU QUARTO Ana Luiza Almeida Ferro3
O mundo cabe no meu quarto e gira cada vez mais rápido sem controle sem filtro me atordoa me prende deixando para trás o tempo perdido nas cidades nuas que se despiram do homo que nunca foi sapiens. O mundo cabe no meu quarto e é invisível ao olho de Hórus lavo as mãos como Pilatos ou Lady Macbeth mas elas nunca estão limpas os dedos me escapam os anéis estão refugiados no fundo da última gaveta do primeiro móvel ao lado. O mundo cabe no meu quarto e não sei onde guardei a caixa onde ficou a esperança só me lembro das meias velhas e das velhas histórias contadas ao redor da fogueira cuja chama quer morrer mas é preciso vigiar sem punir meu reino por um abraço!
3
Membro fundador e efetivo da ALL, ocupando a Cadeira nº 31.
ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA – Cadeira 22 – Patrono: Maranhão Sobrinho
MARANHÃO SOBRINHO Soror Teresa ... E um dia as monjas foram dar com ela morta, da cor de um sonho de noivado, no silêncio cristão da estreita cela, lábios nos lábios de um Crucificado... somente a luz de uma piedosa vela ungia, como um óleo derramado, o aposento tristíssimo de aquela que morrera num sonho, sem pecado... Todo o mosteiro encheu-se de tristeza, e ninguém soube de que dor escrava morrera a divinal soror Teresa... Não creio que, de amor, a morte venha, mas, sei que a vida da soror boiava dentro dos olhos do Senhor da Penha...
ANTONIO AÍLTON Amor, página 1.145.069 há coisas nas profundezas eu não desacredito do amor, este sítio de buscas então quando eu digito “transtorno emotivo”, “êxtase absoluto” “deslumbramento” ainda não chego à página 1.145.069 do amor porque ele ou está num tanque submerso ou será apenas um depósito de restingas conforme o conceituamos descobrimos que outras coisas assumem o seu lugar e só chegamos até seus cookies, suas hiperpáginas: ternura, filia, ferida, devoção making love em que língua se chega à saliva do amor se o malicioso vírus corrói o corpo do seu discurso? *** há casais que exigem a todo momento que se diga: “eu te amo”, “oh, sim, amor,” e choram birrentos como se o mundo se resumisse a um retoque de cabelo maldormido ou como se precisassem a todo momento daquele dedinho para chupar alguns apenas se olham através do tempo e vislumbram o volume do mar que os submerge dar as mãos nada diz a quem não provou do sal ou não conhece a primeira porta para a solidão do outro: que não existe ao fundo o conceito em si o resto é rinha a dois, no definitivo acordo de cães assimétricos que um dia chegarão a envelhecer juntos trancafiados num baú de ferro depois do amor, acrescento às profundezas um endereço anônimo em algum lugar estará a minha pele e, a partir dela, a aparente ideia de uma aventura
IRANDI MARQUES LEITE – Cadeira 09 – Patrono: Antonio Henriques Leal HOMENAGEM AO MEU PATRONO Antônio Henriques Leal, Plutarco de Cantanhede, Judael de Babel-Mandeb Irandi Marques Leite I No espaço, mergulho no tempo, de volta ao século XIX Nas margens do caudaloso rio Itapecuru Olho meu patrono, Antônio Henriques Leal II Os ribeirinhos acompanham A natureza resplandece E reflete o canto dos pássaros A correnteza está forte, muitas embarcações As palavras navegam e deslizam na superfície do rio Parecem bolhas de sabão, saltitantes, São palavras molhadas pela água divina Eu reconheço humildemente - Deus é o criador da engenharia hidráulica III Desço do barco e piso na terra molhada Bom dia meu Patrono - Ele coça a barba O sabiá canta O vento beija as flores com plasticidade IV Antônio Henriques Leal! Nasceste em 24 de julho de 1828 No povoado Candimbas, próximo à Vila de Itapecuru V És Patrono da Cadeira 10 da Academia Maranhense de Letras És Patrono da Cadeira 9 da Academia Ludovicense de Letras Teus livros inspiram minha fala Pantheon Maranhense Dribla meu corpo E toca minha alma
ENGENHARIA DO CORPO ABSTRATO Irandi Marques Leite I Ouço gritos de um corpo com fome de leão A vibração ressoa nos telhados de telhas de barro, Molhados Pingos d’água caem na unha de Adão A ressonância se propaga suavemente A poesia sente e acolhe no coração. II O Sabiá viaja pelo espaço Na busca do alimento sagrado Do céu desce uma balança abstrata para pesar sonhos Olhos adimensionais focam o termômetro da saúde III Alma e corpo suados Conexão indelével de colo e carinho. Mágica na academia sagrada IV Raio de sol inclinado Sombras místicas na floresta divina, As sementes germinam... V O ser holístico surfa numa onda global A retina dilata, explode - meu corpo, minha mente, minha vida!
Roberto Franklin Falcão Costa – Cadeira 40 – Patrono: José de Ribamar Sousa Reis
ROSAS DE AMOR José Ribamar Sousa Reis Aconteceu. Não sei dizer nada do que aconteceu. Só o tempo dirá. Quando as flores sem canteiros, sem jardins florescerem em nós. Tu com um ardor feroz, em plena calmaria, semearás o que já colhemos. Estarei em lentos e quentes abraços no céu, na terra ou no mar . Tu e eu colhendo os frutos, onde logo os botões serão rosas vermelhas rosas, brancas rosas, coloridas rosas. Rosas de amor são lindas! Qualquer que seja a cor.
MULHERES Roberto Franklin Mulheres não precisam de nada elas já são tudo são alegrias e tristezas são pensadoras são dominantes são chegada são partida nos fazem sorrir e até chorar são contos, poesias, músicas. As mulheres são paixões têm algo que somente o “algo” poderia explicar. O poeta dizia que todas têm que ter um algo mais além da beleza até a tristeza na face da mulher é lindo, meigo, sem falar no seu andar ela nem sempre necessita de um perfume já nasce com o seu, suave aroma. Quando veio ao mundo fez-se o belo o amor, a suavidade Se repararmos, quando estão bravas, são lindas alegres são lindas quando choram são lindas tímidas são lindas apaixonadas são lindas. Só não posso afirmar como afirmam, que são frágeis. Frágeis não, nem pensar
ESTRELA DA MEIA-NOITE INTEIRA JOÃOZINHO RIBEIRO
Estrela da vida inteira Que brilha, brilha pequenina Iluminando passageira Traquinagens de Quintana Brincadeiras de Bandeira Derramadas nas esquinas Pisoteias outros astros Decaída De uma órbita distante Sideral Numa noite enluarada Distraída Nas quebradas noturnas De um quintal Estrela, estrela, minha estrela! Quantas vidas veladas no Universo? Anos-luz luzindo em muitos versos E a impossibilidade celeste de retê-la Bandeira, e o meu céu da meia-noite, Da noite inteira? Quintana, e a Rua dos cataventos? Passarando ou passarinho? Poemas em burburinho Eternos pelo caminho Até a estrofe derradeira
DILERCY ARAGÃOI ADLER
A DOR, QUE NÃO TEM CURA Maria Firmina dos Reis “O que mais dói na vida não é ver-se Mal pago um benefício, Nem ouvir dura voz dos que nos devem Agradecidos votos. Nem ter as mãos mordidas pelo ingrato Que as devera beijar.” G. Dias De tudo o que mais dói, de quanto é dor Que não valem nem prantos, nem gemidos, São afetos imensos, puros, santos Desprezados – ou mal compreendidos. É essa a que mais dói a um’alma nobre. Que desconhece do interesse a lei; Rica de extremos, não mendiga afetos, Que é mais altiva que um potente rei. É essa a dor, que mais nos dói na vida; É essa a dor, que dilacera a alma: É essa a dor, que martiriza, e mata. Que rouba as crenças, o sossego, a calma. Não sei, se todos no volver dos anos Sentem-na funda cruciante, atroz Como eu a sinto… oh! é martírio – ou vele, Ou sonhe, – ou vague mediante a sós. Eu vi fugir-me como foge a vida Afeto santo de extremosos pais: Roubou-mos crua, impiedosa morte, Sem que a movessem meus doridos ais. Vi nos espasmos de agonia lenta Morrer aquele, que eu amei na vida… Trêmulos lábios soluçando – adeus! Ouviu-lhe esta alma de aflição transida. Dores são estas, que renascem vivas A cada hora – que jamais esquecem; Enchem de luto da existência o livro,
Conosco à campa silenciosa descem. Ah! quantas vezes, recordando-as hoje, Dos roxos olhos se me verte o pranto! Ah! quantas vezes, dedilhando a lira, Rebelde o peito, não soluça um canto… Mas, se essas dores despedaçam a alma, O pranto em baga nos consola a dor: Numa outra esfera, num perene gozo, Vivem, partilham divinal amor. Mas ah! de quanto nos aflige, e mata É esta a dor, que mais nos dói sofrer; Cobrar frieza em recompensa a afetos, No peito amigo estrebuchar, – morrer!
CANTOS À BEIRA-MAR À Maria Firmina dos Reis Dilercy Adler Teus Cantos à beira-mar afogam com veemência as dores os dissabores que maculam toda a existência daqueles que apenas sonham com a igualdade e coerência em um mundo de fato melhor!... ah! os teus Cantos à beira-mar levam todo e qualquer anseio que a brisa vinda do mar litoraneamente embala e acalenta em seu seio... e os teus poemas me dizem: cuida! entoa hinos em banzeiros que a vida lenta a passar se apressa como um agouro bem-vindo de augúrio sem par que existe quando se pensa que nada mais vale a pena... a pena de festejar!... resiste!... afoga as tuas mágoas nas crivas e cavas mais altas das longínquas vagas do mar!... e se ainda puderes sonha poemas e louva comigo mistérios e amores contidos e canta-os todos à beira-mar!… GRITO Dilercy Adler O grito gutural que me sai da garganta - grito animal! exprime toda aquela dor ... da humanidade inteira dor da solidão coletiva primeira de todo amor profundo ao outro e ao mundo não concretizado!
2º dia
POSSES
DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 38 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
JOSÉ NERES
Prezado Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, doutor Daniel Blume; Prezados confrades e prezadas confreiras desta e de todas as demais academias aqui presentes; Caros amigos e familiares, meus e do agora duplamente confrade, doutor Jadir Lessa; Caros convidados, caríssimas convidadas.
Hoje, nesta noite do dia 10 de agosto de 2021, mesma data do nascimento de pelo menos dois dos mais importantes e significativos nomes de nossa literatura: o poeta maranhense Gonçalves Dias, autor de alguns dos mais conhecidos poemas de nossa lírica, e Jorge Amado, autor de clássicos como Gabriela, Cravo e Canela e Dona Flor e Seus Dois Maridos; aniversário também da mais que centenária Academia Maranhense de Letras e desta bela e jovem Academia Ludovicense de Letras, oficialmente chego a esta casa onde, de alguma forma, sempre estive e onde sempre fui recebido com afeto, atenção e carinho. Chego a esta Academia depois de percorrer um longo caminho no magistério, na pesquisa e nas lides com o texto escrito. Porém, mesmo já havendo percorrido este longo, tortuoso e às vezes áspero caminho, não chego aqui com sinais de cansaço ou de enfaro. Na verdade, entro pelos portais desta Instituição com uma bagagem repleta de alegria e de vontade de contribuir para o engrandecimento das letras de nossa Cidade, de nosso Estado e de nosso País.
E, ao chegar, já me vejo como sempre me vi nos momentos em que estive nesta Casa do Conhecimento, que recebe também o nome de Casa de Maria Firmina dos Reis. Vejo-me cercado de amigos e de amigas. Aqui encontro ex-professores, ex-alunos, colegas de profissão, companheiros de diálogos sobre educação e literatura, pessoas com quem convivo há muitos anos e que têm residência fixa em meu coração. Posso então dizer que, mesmo antes desta cerimônia de posse, eu já me sentia em casa na Academia Ludovicense de Letras. Ao ser eleito para esta Academia, no dia 22 de dezembro de 2020, recebi, entre outras missões culturais, a honra de ocupar uma cadeira que foi edificada sob o patronato da escritora, professora e advogada Dagmar Destêrro, sobre quem, a partir de agora, passo a tecer algumas considerações. Dagmar Destêrro e Silva nasceu em São Luís do Maranhão, no dia 09 de setembro de 1925. Concluiu com louvor o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e licenciatura em Pedagogia. Foi professora e diretora do ensino primário, técnica em educação, chefe do Serviço de Patrimônio da União, professora, procuradora e vice-reitora da Universidade Federal do Maranhão. Jomar Moraes (1999, pág. 81) comenta que Dagmar Destêrro foi “o primeiro concludente laureado da Faculdade de Direito e também obteve o primeiro lugar como licenciada em Pedagogia” A escritora pertenceu aos quadros do Conselho Estadual de Cultura e participou ativamente de diversas instituições, como o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Centro Cultural Gonçalves Dias e Academia Maranhense de Letras, instituição na qual ocupou a Cadeira número 24, fundada por Joaquim Dourado e patroneada pelo polígrafo Coelho Neto. Dona de uma vasta produção intelectual que inclui discursos, monografias, conferências e estudos teóricos, a escritora deixou para a eternidade, enfeixados em livros, os seguintes volumes, praticamente todos esgotados e clamando por reedições: • • • • • • • • • • •
Recordando São Luís (Poesia, 1953) Conflito (Teatro, 1956) A vida de Benedito Leite para crianças (1957) Segredos Dispersos (Poesia, 1957) O resto é solidão... e espera (Prosa poética, 1958) Parábolas do sonho quase vida (Poesia, 1973) Pedra-Viva (Poesia, 1979) Poemas para São Luís (Poesia, 1985) Canto ao Entardecer (Poesia, 1985) Dois tempos em compasso de espera (1991) Seleta Poética (Poesia, 1995)
É do livro Seleta Poética, pequeno volume cuidadosamente organizado pela Academia Maranhense de Letras, pela ocasião do septuagésimo aniversário da escritora, que retiro o seguinte trecho, que mostra um pouco do estro poético de nossa homenageada: Não basta apenas viver é preciso sentir a vida em sua essência; vivê-la em profundidade. Analisar as pedras do caminho e neste, observar os atalhos, aclives e declives pensar com realidade. (Pág. 25)
Ao longo de seus setenta e nove anos de vida, com mais de meio século dedicado à literatura, ao magistério e ao Direito, Dagmar Destêrro recebeu inúmeros elogios com relação à sua produção literária. O poeta e acadêmico José Chagas chegou a dizer que ela “conquistou seu lugar entre os intelectuais maranhenses que não fazem literatura por mero diletantismo, mas por uma profunda imposição humana que nos obriga a viver mais para o espírito, cultivando no campo do sonho o ouro das grandes ideias” (in: DESTÊRRO, 1995, quarta capa). Durante a cerimônia de Posse na AML, o professor e historiador Mário Martins Meireles, em seu discurso de recepção, disse que, em sua poética, Dagmar Destêrro era dona de “versos simples e por isso tanto mais belos”, acrescentando que: Sua poesia não se preocupa com as regras de um esteticismo acadêmico e foge aos cânones escolásticos que exigiam a certeza da métrica e o rigor da rima, não chega a atingir o excesso de liberdade de que abusam os gênios na criatividade de um hermetismo que escapa à compreensão mediana e só se comunica aos iniciados de uma arte misteriosamente secreta. Não, sua poesia é encantadoramente singela e compreensível, é uma poesia que se lê e se sente porque fácil é saborear-lhe o gostoso das ideias, aspirar-lhe o oloroso da fantasia, admirar-lhe o vivaz dos matizes, é uma poesia plena de inspiração, cheia de amor e tocada de angústia (SILVA; MEIRELES, 1976, pág. 30-31). Nessas poucas palavras, porém certeiras palavras, o autor de História do Maranhão delineia alguns traços bastante peculiares da obra poética de Dagmar Destêrro: a simplicidade dos versos e a carga de angústia que emana de seus versos. Aprofundando essas noções básicas destacadas por Mário Meireles, o professor, poeta e crítico literário Carlos Cunha, em seu livro As lâmpadas do sol acrescenta que: Dagmar Destêrro e Silva consegue neutralizar o profundo pessimismo que a domina, uma característica para desequilíbrios emocionais, com essência religiosa de suas composições. Ela se liberta desses pesadelos transferindo a explicação dos acontecimentos para a órbita da religião, que penetra nos mistérios universais através de atitude de benevolência, onde o Bem supera o Mal, ao final das intempéries. Por isso, a esperança ainda constitui um ingrediente fetichista em suas elocubrações (CUNHA, 1980, pág. 52). Além do conteúdo, parecem ser a linguagem poética e a imaginação artística de Dagmar Destêrro dois pontos que mais atraem a atenção dos estudiosos de sua obra. O romancista, crítico e historiador literário Assis Brasil é um dos que chama a atenção para o fato de que: [Dagmar Destêrro] mostra que sabe lidar com a linguagem poética com conhecimento de causa. Liberta do passado, faz ligeira reverência ao soneto, pois o domina para dar asas à imaginação criadora como um autêntico poeta. (BRASIL, 1994, p. 149) Clóvis Ramos, por sua vez, além de destacar os dotes poéticos da escritora, observa que ela não se limitou ao campo da poesia, tendo destaque também em outros gêneros textuais, conforme pode ser visto a seguir: Tendo começado sua carreira literária com poesia – Segredos Dispersos – enveredou pelo teatro e pelo ensaio, focalizando temas pedagógicos e jurídicos, e preparando biografias para crianças. Sua poesia comprova que o poeta participa, mais do que se imagina, dos problemas de seu tempo, e não é um simples espectador da vida moderna (RAMOS, 1993, pág. 52).
É possível perceber-se na leitura dos poemas escritos por Dagmar Destêrro que ela estava consciente da simplicidade formal e vocabular de seus versos e que ela colocava no papel um pouco de suas alegrias, de suas angústias e de seu modo de ver o mundo. Em Minha Poesia, ela deixa claro para o leitor seu modus operandi e sua conceção do fazer poético. Minha poesia é simples como simples é minha realidade. O essencial é que eu diga o que sinto. Já é difícil se entender a vida em sua imensa complexidade. Escrever poesia é meu consolo e a certeza de que em mim não existe deserto e nem mesmo aridez. Em mim, espontânea, a poesia nasce, floresce, cresce e surge de uma vez Quando já nada em mim restar de esperança, realidade ou fantasia, restará de vida para a minha vida a certeza de que jamais vivi em vão. Deixei ficar a minha poesia. (DESTÊRRO, 1995, pág. 21) Importante destacar que Dagmar Destêrro foi também uma vigorosa prosadora, como pode ser visto no livro Dois tempos em compasso de espera, que contém dezesseis contos escritos com maestria e nos quais a escritora trabalha bastante as relações interpessoais e as “fraturas” sociais, mesclando releituras de do anedotário popular, como é o caso do conto O papagaio e a infidelidade conjugal, com tintas de um bem elaborado quadro de costumes com desfechos que remetem a uma visão neo-naturalista, como ocorre em O trapezista, narrativa cuja tessitura literária e o desfecho surpreendente já seriam o suficiente para colocarem nossa escritora no Pantheon dos grandes prosadores brasileiros do século XX. Sobre o estilo e as temáticas dessa autora, em 05 de março de 2004, portanto, pouco mais de quatro meses antes de sua viagem para a eternidade, escrevemos no jornal O Estado do Maranhão um breve artigo no qual se encontra a seguinte passagem: Mesmo em uma rápida e descompromissada leitura, é possível perceber-se a importância das palavras “vida” e “viver” no estro de Dagmar Destêrro, não se tratando, porém de um mero uso de duas palavras que podem trazer um efeito estético. Para a poetisa maranhense, tais palavras assumem um valor muito mais profundo. Um valor que remete à sua própria concepção de poesia (...) Em versos simples, a escritora oferece ao leitor verdadeiras lições de vida (...) São Poemas que, de um modo ou de outro, combatem o sentimento negativista que toma conta das pessoas e dão uma “injeção” de ânimo em quem se sente mais sofredor do que os demais seres humanos (NERES, 2004, pág. 04). Por uma dessas coincidências perpetradas pelo destino cerca de dois meses após a publicação do artigo no jornal, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a autora de Segredos
Dispersos. Na época, a instituição de ensino na qual eu trabalhava decidiu fazer uma homenagem para a escritora. O professor e escritor Joaquim Gomes, à época coordenador do Curso de Letras, convidou-me para acompanhá-lo na visita na qual tentaríamos levar a poetisa para uma homenagem presencial no teatro da Faculdade. Ela estava voluntariamente reclusa há vários anos. Aquela visita era um verdadeiro presente para quem ama a poesia. Fomos bem recebidos e aproveitei a situação para entregar-lhe uma cópia do artigo. Ela recebeu carinhosamente, leu com calma aquelas linhas e me fez a dolorida pergunta: “Lá fora alguém ainda lembra de mim?” Disse-lhe que ela era lida, querida e estimada. Um sorriso iluminou ainda mais aquele par de olhos bem azuis e ela decidiu aceitar a homenagem que lhe seria feita dias depois, com a única condição de não chover na data do evento. Aceitamos. Não havia previsão de chuva para aqueles dias. Mas uma tempestade se formou horas antes do encontro e ela comunicou que não poderia ir. Mesmo sem sua presença, houve a homenagem. Semanas depois, no dia 06 de agosto daquele ano de 2004, recebi a notícia do falecimento daquela escritora que tanto fez por nossas letras. Hoje, senhoras e senhores, quase duas décadas depois, nesta data tão festiva, volto a responder à pergunta que me foi feita pela autora de Dois tempos em Compasso de espera naquele único e memorável encontro. Sim. Ela ainda é lembrada e é em sua homenagem que termino aqui minha fala e é para ela que peço agora uma salva de Palmas. Boa noite!
REFERÊNCIAS BRASIL, Assis. A poesia maranhense no século XX. Rio de Janeiro/São Luís: SIOGE/Imago, 1994. CUNHA, Carlos. As lâmpadas do sol. São Luís: Fon-Fon, 1980. DESTÊRRO, Dagmar. Parábola do sonho quase vida. São Luís: SIOGE, 1973. _________. Dois tempos em compasso de espera. São Luís: SIOGE, 1991. _________. Seleta poética. São Luís: Edições AML, 1995. MORAES, Jomar (org.) Perfis acadêmicos. 4ª ed. São Luís: Edições AML, 1999. NERES, José. Dagmar: lições de vida. In: O Estado do Maranhão, Opinião, 05 de março de 2004. RAMOS, Clóvis. As aves que aqui gorjeiam: vozes femininas na poesia maranhense. São Luís: SIOGE, 1993. SILVA, Dagmar Destêrro e; MEIRELES, Mário Martins. Discursos na Academia. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1976.
DISCURSO DE RECEPÇÃO DO ESCRITOR E PROFESSOR JOSÉ RIBAMAR NERES COSTA À ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL, COMO OCUPANTE DA CADEIRA DE Nº 38, PATRONA DAGMAR DESTÊRRO E SILVA.
Só a esperança anima a travessia; [...] No embrião da vida, no tempo, avanço. (Dagmar Destêrro. Corrida. Pedra-vida, 1979)
“Os meus versos dão muito mais valor Às lágrimas suadas pela mão De um pobre e sofrido trabalhador Que às gotas perfumadas de paixão.” (José Neres. Soneto 1. A dor sangra em nosso olhos, 2019)
Escritor, professor-pesquisador José Neres, saudação. Sr. Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Daniel Blume, Confrades e confreiras; Autoridades; Ilustres convidados, Senhoras e Senhores,
Talvez, depois do amor e da misericórdia, a gratidão seja o sentimento mais sublime, este reconhecimento íntimo de um bem ou uma dádiva concedida. E este é um desses momentos de agradecer. Agradecer pela vida, por esta possibilidade de esperança, que está sempre à frente, como luz de toda travessia, agradecer todos os dias e no tempo, porque nos é oferecida uma longa estrada para avançarmos e crescermos. Isto para passar a dizer, de modo mais específico, nesta noite, que estou grato por estar participando ativamente deste importantíssimo ritual, a convite do escritor e professor-pesquisador José Neres, que muito honrosamente me concedeu esta oportunidade de falar em nome desta Casa para recebê-lo, eu que sou também ainda um tímido recém-chegado, praticamente saído dos cueiros do Parto para a sala, mas que encaro com efusiva alegria essa oportunidade ímpar de estar ao batente de entrada, de braços abertos a um irmão, para dizer: seja bem-vindo, confrade José Neres. Seja bem-vindo ao sodalício, ao labor e à confraria – isto é, ao convívio fraterno – da Casa de Maria Firmina dos Reis, para ser o primeiro ocupante da cadeira 38, patroneada pela também grande poeta Dagmar Destêrro e Silva, um dos pilares da moderna literatura do Maranhão. Repito aqui, sem pudor de pedir de empréstimo tão certeiras palavras, o que foi dito por nossa confreira Ceres Costa Fernandes, no discurso de recepção de José Neres numa outra Casa, a Academia Maranhense de Letras, onde este agora nosso confrade já tem assento solidificado e imortalidade na cadeira 36, de Tasso Fragoso: “Estas gloriosas portas foram, na verdade, abertas pelo vosso talento, pela cultural e multiforme bagagem que trazeis convosco: as obras editadas, as alongadas pesquisas e os estudos efetuados, e, principalmente, na apreciação, na crítica e divulgação dos numerosos autores maranhenses a quem tendes dedicado grande parte da vossa, não tão longa, mas intensa vida intelectual”. Dito isto, é preciso fazer saber a quantos ainda não o conhecem mais de perto, que José de Ribamar Neres Costa traz no nome a sacralidade simbólica e imaginária da sua cidade natal, onde nasceu no dia 17 de fevereiro de 1970, em família de mãe humilde e de pai pescador – marcas que dizem respeito a tantos do seu lugar de origem –, mas criou-se e recebeu a primeira educação formal pelas mãos e carinho de um casal de tios, tendo sido levado para Brasília, após dificuldades e morte de duas de suas irmãs. Estudou seu primário no Gama (DF), e depois em Luziânia, Goiás. Nas palavras do próprio Neres, sua alfabetização se deu não por via do ba a bá, be e bé..., como era costume, mas lendo poemas de Ledo Ivo, Mario Quintana, Gullar, Cecília Meireles..., o que certamente lhe abriu outros caminhos, o campo de leituras e o fez ter um carinho especial pelas letras. Diz ele: “Os lugares mais marcantes em minha vida e em minha formação sempre foram minha casa (nunca fui de sair muito), as escolas que frequentei e as bibliotecas (sempre fui frequentador de bibliotecas, esperava a hora do intervalo para folhear livros)”. Desse início, já podemos ter a noção da alta competência de linguagem e bagagem intelectual que faz parte da vida desse acadêmico. De sua infância e adolescência, Neres, como chamado entre os mais próximos, recolheu a inspiração para escrever seu livro “Sombras na Escuridão”, trazendo à narrativa alguns personagens marcantes desse momento. Lembra também de alguns de seus professores marcantes de seus estudos secundaristas, principalmente os inovadores no ensino da gramática, como a freira italiana Profa. Umbelina, o Prof. Juarez Pinheiro e o Prof. José Luís Carvalho dos Santos, que conseguia utilizar músicas para ensinar gramática e redação na antiga Escola Técnica, lembrando aqui dessa Escola tão importante para muitos de nós, seus novos confrades. A grande fortaleza desse incansável homem das Letras, porém, foi e continua sendo, creio, sua vital relação com a literatura, no que diz respeito ao estudo, à criação da prosa e poesia, e à produção a partir do universo acadêmico-educacional, principalmente no que diz respeito à cultura e ao cenário maranhense: “Quando cheguei aqui no Maranhão de volta, depois de um exílio involuntário e inconsciente, descobri que eu nada sabia sobre minha própria terra. Mergulhei em bibliotecas. Li quase tudo que estava disponível sobre literatura e cultura do Maranhão. Isso fez com que despertasse em mim o senso de pesquisa e de um olhar mais aguçado para detalhes aparentemente imperceptíveis”, diz ele, em entrevista a mim concedida. Neres entrou no Curso de Letras da Universidade Federal do Maranhão - UFMA em 1991, saindo em 1995, e foi ali que construiu suas bases acadêmicas, iniciou talvez sua mais forte relação afetiva, familiar, conheceu parceiros e parceiras que seriam amigos fundamentais para as trilhas traçadas, como o parceiro de trabalho Dino Cavalcante, com participa de grupos de estudos e com quem publicou várias obras, como
O Discurso e as Ideias (2002), Os Epigramas de Artur (2003), O Século XX e a Literatura Maranhense (2016) e a revitalização do artigo A Literatura Maranhense (de autoria de Reis Carvalho, e que precisava de uma retomada). Deste então, não parou mais sua vida acadêmica: fez graduação em História, várias especializações, em áreas diferentes, desde Metodologia do Ensino de Português passando pela Pedagogia, até a Educação Ambiental e Sustentabilidade, depois Mestrado em Educação e Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, para onde levou, como estudo, uma face ecológica da poesia de José Chagas. Ao passar do curso de Construção Civil, na Escola Técnica, pelas áreas de Letras e escritas, História, Esporte, Radialismo, Engenharia, quer como cursos, completados ou não, e/ou como práticas pessoais, um homem que vai da linguagem à técnica, do amor à matemática ao amor à poiese, açambarcando também educação e atividade ambiental, José Neres emerge propriamente como um sujeito em trânsito, “ser em trânsito”, que se somam aos seus já percursos de vivências, lugares e estradas: traços e trilhas que certamente deixam sua parte de contribuição e ampliação das possibilidades do mundo, dentro daquilo que ele nos oferece para abraçar, viver, usufruir e partilhar, que não precisamos estar amarrados aos recortes, aos segmentos e especialidades. Trata-se, portanto, de um humanista que nos faz lembrar das primeiras formas de saber, dentro daquele holos grego, que aponta para a visão e a inquirição de um mundo uno e integrado. Em relação à suas publicações, entre obras individuais e parcerias, José Neres tem cerca de 20 livros publicados, além de inúmeros artigos, participações em livros. Em suas publicações podemos encontrar Negra Rosa & Outros Poemas (1999;2003), A Mulher de Potifar (2002) e, do mesmo ano, Poemas de Desamor; Estratégias para Matar um Leitor em Formação (2005), Resto de Vidas Perdidas, livro de contos sobre a realidade das ruas, com inovações formais, que recebeu o Prêmio Odylo Costa, filho/ XIX Concurso Cidade de São Luís, 2005 – publicado pela FUNC em 2006; o sarcástico 50 Pequenas Traições (2007), Montello, o Benjamin da Academia (2010), o já citado Sombras na Escuridão (2013), Lousa Rabiscada (2012), Nas Trilhas das Palavras (2015), A Dor Sangra em Nossos Olhos (2019), e como se disse outros tantos em parceria, cabendo citar, no mínimo, O Maranhão e Século XX, com Dino Cavalcante (2016), e Um Maranhão Chamado Sobrinho, com Dino Cavalcante e Samara Araújo, ambos publicados pela UFMA. Em suas atividades do magistério, consequência praticamente natural de uma vida dedicada, como vemos, às Letras e à Cultura, José Neres tem seu nome já no Ensino Médio e em diversas IES. Passou pela Faculdade Atenas Maranhense, adquirida pelo grupo Pitágoras, em 2011, e pela própria UFMA, onde frequentemente tem trabalhado com Literatura Maranhense, inclusive em grupos de pesquisa. No que diz respeito propriamente ao magistério, é notório que aqueles que com ele aprendem sempre o consideram como um mestre. Não apenas no sentido da titulação, da instrução ou da transmissão de conhecimentos, mas naquele sentido de que fala George Steiner no Lições do Mestres (2005), daquele que é capaz de modificar o destino de alguns e transformar vidas, como parte de sua contribuição de saber, sabedoria, e sensibilidade. Mas um homem é, sobretudo, aquele que é para os de sua intimidade, em sua casa, em sua família, num futebol de domingo, quando ele é aquela figura não lendária, quase anônima, que compra pão na padaria do seu bairro na segunda de manhã, o homem das horas livres. Esperamos irmanar-nos também a esse homem, marido da professora, escritora e atriz linda Barros e pais de Laura, estudante de Psicologia, e Gabriel, jornalista, ambos já inseridos nos mundos da escrita, como os pais. E para além das atribuições, das necessárias responsabilidades e tarefas, das reuniões acadêmicas, esperamos irmanar-nos também com esse homem simples, que lê, estuda, pratica esportes e sonha com dias melhores, pois esta é a grande soma e o grande espírito que aglutina a todos na fraternidade da mesma vida. A Academia de Ludovicense de Letras, esta jovem mas batalhadora Casa de Maria Firmina dos Reis, o recebe, portanto, ilustre acadêmico, professor e escritor José de Ribamar Neres Costa, na honra e na certeza de contar não apenas com sua elevada contribuição, com o seu empenho pela memória e engrandecimento dela, ou pelo resgate e memória de sua patrona na cadeira 38, Dagmar Desterro e Silva, mas também de contar com sua fraternidade e seu amor por esse pertencimento. Seja bem-vindo, confrade, à posse do bem e da imortalidade que você mesmo conquista, e que está além do que pode ser escrito. Meu
abraço, um abraço coletivo, que o recebe para sua Cadeira, em nome de todos os confrades e confreiras que fazem esta jubilosa Academia.
Antonio Aílton Santos Silva Acadêmico ALL/ Cadeira 22 – Patrono: Maranhão Sobrinho
DISCURSO DE POSSE – JADIR LESSA
Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA, Senhora Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras, CERES COSTA FERNADES, Senhora Secretária da Academia Ludovicense de Letras, JUCEY SANTOS DE SANTANA, Senhores Acadêmicos, Senhoras Acadêmicas, Ilustres Autoridades que aqui se fazem presentes, Familiares, amigos e convidados, Senhoras e senhores, Boa noite! Acima de tudo e antes de mais nada, eu gostaria de agradecer a todos os membros desta excelsa instituição literária, por terem homologado meu pedido de inscrição e escolhido meu nome para fazer parte, junto a este extraordinário grupo de acadêmicos, da Academia Ludovicense de Letras, ocupando a cadeira 37, patroneada pela ilustre escritora e acadêmica ludovicense Maria da Conceição Neves Aboud. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Estar aqui, neste momento inesquecível, para proferir meu discurso de compromisso e adesão, irreversível e irretratável, aos artigos que compõem o regimento desta academia, tornando-me um imortal da ALL, transcende os limites de minha razão e me coloca em patamares que jamais havia vislumbrado. As forças que comandam nosso universo sócio-histórico conspiraram para que eu estivesse aqui e agora, experimentando outros sabores e outros saberes que a ciência tradicional, no uso obstinado do raciocínio lógico-causal, não consegue definir nem compreender; não por falta de dados precisos, mas sim, por negarse, de início e na maioria das vezes, a utilizar metodologia própria e adequada para lidar com os complexos fenômenos humanos. Neste momento inesquecível, onde me vejo atravessado por grande emoção, percebo que quem utiliza o método teórico explicativo, que norteia as ciências naturais, pouco sabe sobre as emoções que se desencadeiam dentro de cada um de nós humanos, quando nos permitimos voar com as asas da fantasia e da ilusão. Neste momento inesquecível, sinto-me, como aquele candidato, que Platão quase afogou, no tanque de água fria, nos arredores da Academia, sua escola de conhecimento. Nessa ocasião Platão mergulhou a cabeça de um candidato a discípulo, que havia solicitado ingresso em sua Academia, e a manteve submersa, até o limite de tolerância do pobre rapaz. Ao emergir, ainda durante sua primeira respiração, Platão perguntou ao jovem candidato o que mais desejara naquele exato momento, quando estava com a cabeça em baixo da água, no limiar da fronteira espaço-temporal que separa e
distingue a vida e a morte. O rapaz em questão deu a mesma resposta dada por todos aqueles que o antecederam na mesma experiência de violência iniciática: naquele momento, seu maior desejo era respirar. De modo geral, todos aqueles que até então haviam sido submetidos a esta mesma prova ritualística de iniciação, respondiam que seu único desejo era respirar. Então, Platão afirmou, em tom de desapontamento, que o candidato somente seria aceito naquela sociedade do saber quando seu desejo de ingressar na Academia, fosse igual ou superior à vontade de respirar. Esse era o primeiro teste para ser admitido na Academia de Platão. Após aceita sua candidatura, o postulante teria que passar um período de um ano, sem poder dirigir a palavra a nem um dos acadêmicos. Deveria perambular por todos os lugares e por todas as reuniões sem denotar sua presença. Seria um fantasma no meio da multidão que falava, discutia e expressava suas ideias. Com essa determinação Platão queria, apenas, que o neófito aprendesse a ouvir e a meditar sobre os temas e ideais discutidos no plenário da Academia. Depois de um ano de completa abstinência da fala, o postulante iniciava seu segundo ano, distinguindo o que sabia de fato, de tudo aquilo que apenas imaginava saber. No final desse período o neófito já havia concluído o processo de completa desconstrução de seu modo original de pensar, de sentir e de agir. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, imaginem como devia estar se sentindo esse jovem grego, em pleno século IV, antes de Cristo. Todavia, depois de mais outro ano de convívio, aprendizagem e mudanças de atitude, o postulante ouvia de Platão, – para seu espanto e surpresa -, em seu terceiro ano de academia, que todo o conhecimento estava dentro de si mesmo. A partir daquele dia, ele teria que encontrar, dentro de si, o conhecimento sobre tudo que lhe rodeava e a compreensão do mundo. Agora, ele podia usar da palavra para perguntar, discutir e apresentar suas ideias no plenário. Ali, ele deveria praticar o método didático desenvolvido por Sócrates, que visa alcançar o conhecimento por meio do diálogo: a maiêutica. O nome Maiêutica, que significa obstetrícia, foi escolhido por Sócrates para homenagear sua mãe Fenarete, que era parteira. Enquanto Fenarete, com seu método, fazia parir corpos, Sócrates, com a maiêutica fazia parir idéias. Ou, como poderia definir Foucault: maiêutica seria o parto de si por si. Mas deixemos Foucault para outro momento porque agora a palavra final deve ser dada a Platão, discípulo de Sócrates por logos vinte anos. Platão, o inventor do Tópos Noetos ou Mundo Inteligível ou, simplesmente, o Mundo das idéias, um lugar abstrato, invisível e inatingível onde, supostamente, habitariam as formas e as idéias perfeitas do bem, do belo e do verdadeiro. Platão parte do princípio que a verdade está em nós, obscurecida pelo manto do esquecimento. Segundo ele, antes de encarnar, todas as almas percorrem o Mundo das Ideias e contemplam essas mesmas formas e idéias perfeitas do bem, do belo e do verdadeiro. Porém, ao nascermos, esquecemo-nos de tudo aquilo que foi contemplado. Assim, segundo Sócrates, precisamos da maiêutica para resgatar aquelas lembranças perdidas. E é exatamente por isso que maiêutica também pode ser compreendida como um exercício de reminiscência. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, Nesse momento inesquecível, sinto que minha responsabilidade se multiplica de forma exponencial quando, no exercício da Maiêitica, dou-me conta de que tenho como patronesse a notável e talentosa escritora ludovicense Maria da Conceição Neves Aboud, que ocupou, em seu tempo, a Cadeira nº 20, da Academia Maranhense de Letras. Maria da Conceição Neves Aboud nasceu em São Luís, em 10 de julho de 1925 e faleceu no Rio de Janeiro em 2006. Foi uma mulher para além do seu tempo, tanto por seus atributos literários, expressos em suas obras, quanto por suas atitudes ousadas dentro da sociedade em que vivia em sua época. Fez os estudos secundários no Colégio Sion, uma das mais importantes instituições de ensino do Rio de Janeiro. De volta a São Luís, na contramão dos costumes da época, foi trabalhar no estabelecimento bancário de Francisco Aguiar, onde conheceu seu futuro marido, o industrial Alexandre Aboud, de importante família árabe local. A partir do casamento, fixou residência no Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira literária. Publicou o romance Grades e Azulejos, pela Editora Pongetti em 1951. Escreveu Os Galhos do Cedro, publicado em capítulos, na Revista da Semana e Rio Vivo pela Editora O Cruzeiro, no Rio de Janeiro em 1956. Em seguida, publicou, em capítulos, o romance Ciranda da Vida, na revista O Cruzeiro, na época a revista de maior circulação no Brasil. Publicou Teias do Tempo pela SIOGE em 1993, romance que ganhou o Prêmio Graciliano Ramos, da União Brasileira de Escritores. A temática de suas obras estava inteiramente
ligada às suas raízes maranhenses, particularmente à cidade de São Luís dos anos de 1940. Deixou inéditos: O Preço - ganhador do prêmio da Prefeitura de São Luís -, Cinza e Rosa e Um Amor de Psiquiatra. Segundo pesquisei, a acadêmica Ceres Costa Fernandes, nossa ilustre Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras e, também membro da Academia Maranhense de Letras, é quem detém, com suas pesquisas bibliográficas, as maiores e mais significativas informações sobre a escritora ludovicense Maria da Conceição Neves Aboud. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, Com o coração e a mente enamorados pela a ideia de viver e trabalhar na iluminada São Luís participei, com sucesso, em 2012 de concurso público na Universidade Federal do Maranhão, para pesquisar e lecionar os fundamentos da Psicologia Clínica, no Departamento de Psicologia do Centro de Ciências Humanas. Confesso que não tinha nenhuma ideia de tudo que haveria de ver e experimentar nesta ilha encantada, situada a quatro graus do equador, onde muitos vultos da literatura deixaram suas raízes fincadas nesse solo fértil, como árvores do paraíso, que nunca deixam de nos oferecer suas flores perfumadas, não apenas na primavera, mas sim, durante todos os meses do ano. A poesia de Gonçalves Dias, imortalizada pelo mundo afora, se materializa em seu busto de pedra em plena Praça dos Amores. As ruas de paralelepípedos luzentes de São Luís, encantadas em prosa, nos romances de Josué Montelo, ainda estão aí, para quem quiser ver e sentir que esta cidade, de desenho e alma portuguesa, ainda existe e existirá para sempre, pelas mãos talentosas daqueles que publicam neste novo ciclo da literatura maranhense. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Eis-me aqui, nesse momento inesquecível, apresentando-me como operário do tempo, para ajudar, naquilo que for preciso, no sentido de enaltecer, preservar, fazer crescer e florescer o mundo intelectual ludovicense, através das suas obras. Não vim para colher flores ou frutos, venho com o firme propósito de ajudar a plantar a boa árvore que floreará e dará sombras para aqueles que estão por vir. Não vim falar dos que se foram, mas honrar suas memórias através do meu trabalho de jardineiro do amanhã. Não vim dividir, mas somar esforços para que o hoje seja sempre um bom exemplo para os que habitarão esta cidade no amanhã. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, No ano de 2017, a vida, como que para compor as prerrogativas de preparo para outras ações acadêmicas, me surpreendeu quando tive meu nome proposto, na Câmara Municipal de São Luís, pelo digníssimo Vereador Dr. Gutemberg Fernandes, para receber o título de cidadão ludovicense, tornando-me, desde então, filho adotivo da Cidade de São Luís do Maranhão. Outro grande evento que vivi nesta Ilha dos Amores, foi meu ingresso na Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES) Secção do Maranhão. Pelas minhas prerrogativas profissionais e acadêmicas, e pelas prerrogativas do Regimento Interno daquela sociedade, que aos poucos descobri tratar-se de uma verdadeira fraternidade, tive o privilégio de ter meu nome adicionado ao maior grupo de homens e mulheres da área médica do Maranhão, dedicados ao cultivo da habilidade de escrever poesias, crônicas, novelas e romances da melhor e maior qualidade, neste novo ciclo da literatura maranhense. Ali, tive minha primeira oportunidade de conviver com pensadores vivos: poetas, cronistas, contistas e romancistas de nível internacional. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Eis-me agora, ingressando na Academia Ludovicense de Letras, recebendo a honra e o privilégio de ampliar minha experiência literária convivendo e aprendendo com este grupo de ilustres pensadores vivos: poetas, cronistas, contistas e romancistas de nível internacional, membros da Academia Ludovicense de Letras. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Não poderia encerrar meu discurso sem antes apresentar e louvar o nome de um dos homens que mais inspiraram e influenciaram minha vida intelectual e profissional aqui na Cidade de São Luís. Ao longo da última década esse homem tem sido meu mentor intelectual, além de um amigo muito querido. Ele tem
me incentivado e me acompanhado, não apenas em caminhadas dominicais no calçadão da Avenida Litorânea, mas também tem me mostrando e apontando as melhores trilhas e os melhores modos de caminhar na vida intelectual e acadêmica. Com ele aprendi, não apenas a respirar o ar puro, vindo do Oceano Atlântico, como também, a encontrar dentro de mim mesmo a devida inspiração que fez disparar minha produção literária e acadêmica. Ele, que talvez como missão, se prontificou a melhorar os meus sentidos e ampliar o horizonte de minhas possibilidades profissionais e existenciais. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Não foi Platão e nem Sócrates, mas Natalino Salgado Filho, um servidor de Deus, quem me desafiou a transpor os limites da minha segurança pessoal para que eu pudesse exteriorizar, através dos meus sentidos e sentimentos, tudo aquilo que estava adormecido dentro de mim. Não foi Platão nem Sócrates, mas Natalino Salgado Filho, ocupando o lugar de Mentor e de Psicólogo Honorário, quem realizou o trabalho obstétrico da Maiêutica socrática, ajudando-me a fazer parir o pensador que ora me tornei. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, É com muita humildade, e sabedor dos meus limites físicos, emocionais e intelectuais, que colocome à disposição desta excelsa Academia, para fazer parte deste seleto grupo de homens e mulheres, que estão acima da vaidade humana, dispostos a contribuir e colaborar com o contínuo processo evolutivo desse povo, honrado e talentoso, que tem todos os motivos para se orgulhar de suas ricas tradições, de sua cultura e, principalmente, de sua postura diante dos fenômenos da vida. Por isso, clamo, nesse momento inesquecível, pelos ancestrais ludovicenses, que construíram a história da literatura maranhense, que abençoem a todos nós, que participamos desta honrada sociedade acadêmica, para que possamos adicionar, com nosso trabalho, novas obras que engrandeçam, ainda mais, a cultura e o povo do Maranhão. Muito obrigado a todos!
APRESENTAÇÃO DE JADIR LESSA SANATIEL DE JESUS PEREIRA
Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA, Senhora Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras, CERES COSTA FERNADES, Senhora Secretária da Academia Ludovicense de Letras, JUCEY SANTOS DE SANTANA, Senhores Confrades, Senhoras Confreiras, Autoridades que aqui se fazem presentes, Familiares, amigos e convidados, Senhoras e senhores, Forças poderosas, ligadas à natureza humana e à vida, me colocam novamente em frente a esta Academia para acolher, desta vez, um homem notável, que retorna do seu exílio dos campos de batalha, onde a expressão intelectual é a única arma concebível para se solucionar conflitos, de todas as ordens, criadas pela mente humana, na busca da paz integral. Tingido, nas correntes do mundo grego, pela exposição magnífica do nosso ilustre conterrâneo Odorico Mendes, na sua versão primaveril da Ilíada de Homero, do século XIX, percebi, anos atrás, que alguém, talvez, de outras vidas, tenha voltado, no tempo, para completar a sua obra. Confesso não saber quantificar ou qualificar a minha satisfação por ter sido escolhido para introduzir no mundo ludovicense esse ilustre viajante, que como Ulisses, vagou pelo mundo na busca do caminho que o levasse, de volta, aos braços da sua Penélope. As qualificações deste que, agora, adentra os portões da Academia Ludovicense de Letras para tornar-se um membro efetivo são muitas. As suas aptidões não conheço os limites, pois das ciências humanas, como um poliglota, ele transita para as sociais e exatas se o assunto assim o permitir. Desconheço os seus atributos de chef de cozinha ou das artes visuais, mas possuiu um gosto bastante apurado para ambas as áreas ligadas aos sentidos humanos. Já vi seus olhos mudarem de foco tanto diante de um Petit Gâteua, quanto o presenciar do andar cadenciado de uma figura humana. É um grande homem! Devido a esses atributos que possui e que provavelmente desenvolveu à custa de muito trabalho e exposição às intempéries do mundo em que vivemos, o torna apto e digno de ser recebido, com louvor, no seio desta Academia. Acredito que ele não somente somará aos esforços dos demais membros deste sodalício, mas como um grande catalizador de ações produtivas que só agregarão valor a esta Academia. A minha satisfação é muito grande por compartilhar, com ele, este momento único que, de uma forma irreversível, lhe colocara em um novo ciclo da sua vida. Agora, definitivamente, vivera na atmosfera da fantasia e da ficção, permitindo-se, por estar autorizado, a colocar nas suas obras literárias, tudo aquilo que o mundo real não permite. As portas da sua imaginação estão sendo abertas, de forma sustentada, para que conte, com detalhes, as suas batalhas, conquistas e as suas visões, no seu mundo onírico. Senhores Confrades e senhoras Confreiras, Neste infante, encontramos uma virtude invejável, que é a sua capacidade de ser bonachão em quase todas as oportunidades da sua vida. Dono de um humor inigualável, ele pode mudar, totalmente, o estado de espírito de qualquer outro ser humano que desejar a alegria como companhia constante. Ele provavelmente foi iniciado por Dionísio na Grécia. Ele não se institui como um animador dos salões de tertúlias ou de saraus
literários, ele é a própria festa! Transporta-se, em segundos, de corpo e alma, como um exímio ator hollywoodiano, para um personagem que pode ser um trovador a cantar suas poesias, vendo o reflexo da Lua Cheia nas águas do rio Douro, no caís de Gaia, no Porto; um crítico de arte a falar do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, caminhando pelas ruas de Florença; ou de um filósofo oriental em conferência, talvez em New York, sobre a obra A Arte da Guerra de Sun Tzu; ou, simplesmente, um poeta indianista a recitar Gonçalves Dias, na rua do Trapiche, buscando o Café do Jorge, na Praia Grande, em São Luís. Senhor Presidente, Senhores Confrades e Senhoras Confreiras, Detenho-me, na ilusória manifestação do conhecimento do postulante, porque a sua humanidade transcende aos aspectos intelectuais que, daqui a pouco, irei dissertar. Olhando-se para a sua performance como homem de ciência, envolvido com as correntes do pensamento humano desde Platão até Friedrich Nietzsche, percebe-se que ele não enlouqueceu. O que pode se observar é a desilusão do mundo diante da queda de conceitos banais e corriqueiros que dirigem a vida do homem de hoje. A verdade pode libertar como pode fazer ruir as visões coloridas da natureza e dar, para os apressados, de que o mundo está envolto em um caos sem fim. Pensar que encontrou a verdade é uma grande tolice. Continuar procurando a verdade no caminho da vida é uma prova de sabedoria e comedimento. A sua genialidade em viver, à margem das questões humanas corriqueiras, lhe faz um mestre, porque não dizer doutor, em tirar proveito da adversidade. A sua capacidade de minimizar as ocorrências lhe faz dono de um controle mental extraordinário, pois sempre termina em risos. Confesso que tenho aprendido muito com ele, principalmente naquilo que ele transpira que é liberdade. Não concordamos muito sobre a questão da solidão, ambas tratadas em um dos seus livros iniciáticos. Temo que venhamos a ter, entre nós, um membro que tomará, no mundo literário, a vez do escritor italiano Umberto Eco, não para contar o cotidiano exterior que envolve a vida dos mosteiros medievais, mas para contar o que passa pelas vidas daqueles que vivem em labirintos interiores sem saber ou querer sair daquilo que criaram em suas próprias imaginações. Senhor Presidente, Senhores Confrades e Senhoras Confreiras, Jadir Machado Lessa nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 17 de outubro de 1952. Era uma sexta-feira, véspera da Lua Nova, em plena primavera. Portanto, veio ao mundo como um fruto da Terra. Provavelmente de um fruto de árvores tropicais, cheio de sementes, para serem semeadas ao solo, por onde passasse, durante a sua caminhada nesta vida. Graduou-se em Psicologia pela Faculdade de Humanidades Pedro II em1977. Estudou dois anos de Filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi pós-graduando em Análise Existencial e Psicomaiêutica pela Sociedade de Análise Existencial e Psicomaiêutica (SAEP), tendo como seu orientador o médico Miguel Callile Júnior, criador da Psicomaiêutica, entre 1980 e 1985. Foi nesse momento, no caminhar da trilha, que encontrou o seu ideal de livre pensador. Como aqueles que se candidatavam a entrar na academia de Platão, ele encontrou Sócrates, o filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga, um dos fundadores da filosofia ocidental, na pessoa do seu mestre orientador. Miguel, encarnando o espírito do filósofo grego, o iniciou na maiêutica, um dos processos do método desenvolvido por Sócrates para se alcançar o conhecimento por meio do diálogo. A maiêutica socrática parte do pressuposto de que a verdade é inerente ao ser humano. Questionar e confrontar o pensamento original de alguém, poderia fazer a verdade aflorar e de se chegar ao conhecimento verdadeiro. Esse era o método que Platão usava para testar a aptidão, ou não, de qualquer candidato que se aventurasse a aparecer nos portões da sua escola de filosofia. Jadir Machado Lessa, quer queira ou não é um socrático, e um ateniense. Senhor Presidente, Senhores Confrades e Senhoras Confreiras,
Jadir Machado Lessa está, aqui, neste dia e nesta hora, batendo nas portas coloniais pesadas, de madeira de lei, da Academia Ludovicense de Letras, solicitando um assento no seu plenário, para encontrar novamente na parte Oriental da Ilha de Upaon Açu, a Atenas Brasileira. Tornou-se Especialista em Terapias Corporais pelo Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR) e em Psicologia Clínica pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, em 2002. Mestre em Psicologia (Clínica e Subjetividade) pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2004-2006). Doutor em Psicologia (Clínica e Subjetividade) pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2008-2011). Exerce a psicoterapia individual desde 1978. Exerce a psicoterapia de grupo desde 1983. Supervisiona Psicólogos na abordagem existencial desde 1985. Ministra Palestras e Cursos sobre os temas de seus livros e CDs em diversas cidades brasileiras. É Organizador de cursos, palestras e congressos sobre Psicoterapia Existencial desde 1982. Criou e dirigiu o Jornal Existencial Impresso até 2000. Criou e dirige o Jornal Existencial On Line desde sua fundação em 2000. Presidiu a Sociedade de Análise Existencial e Psicomaiêutica (SAEP) desde sua fundação em 1985 até 2010. Foi Professor Adjunto da Faculdade de Humanidades Pedro II, FAHUPE. Foi Professor Assistente da Universidade Católica de Petrópolis, UCP. Presidiu o I, II e Presidente de Honra do III Simpósio Brasileiro da Prática da Psicoterapia Existencial realizado no Rio de Janeiro no ano de 1996, 1998 e 1999, respectivamente. Senhor Presidente, Senhores Confrades e Senhoras Confreiras, Jadir Machado Lessa aportou em São Luís, no ano de 2013, para se submeter aos exames do concurso público para o cargo de professor da Universidade Federal do Maranhão e não voltou mais para o Rio de Janeiro, pois foi aprovado. No dia 28 de novembro de 2017, tive a grata satisfação de comparecer à Câmara Municipal de São Luís, para assistir à cerimônia, muito prestigiada e concorrida, de recebimento do título de Cidadão Ludovicense de Jadir Machado Lessa, por indicação do ilustre Vereador Dr. Gutemberg Fernandes. Jadir Machado Lessa, atualmente, é professor Adjunto e pesquisador, com dedicação exclusiva, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, lecionando nos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação dessa universidade. Já orientou dezenas de alunos, tanto na graduação quanto na pós-graduação, contribuindo na formação e qualificação profissional de jovens maranhenses. É Membro Titular do Conselheiro Editorial da Editora da UFMA (EDUFMA). É Conselheiro do Núcleo de Humanidades do CCH da UFMA. Membro da Comissão Editorial da Revista Psicologia: Ciência e Profissão do Conselho Federal de Psicologia - CFP. Membro do Conselho Editorial das Revistas Transdisciplinar de Gerontologia da Universidade Sénior Contemporânea – Porto, Portugal; Fenomenologia & Psicologia da UFMA; ECOS - Estudos Contemporâneos da Subjetividade da Universidade Federal Fluminense - UFF. Membro da Comissão Científica dos Encontros Ludovicenses de Fenomenologia, Psicologia Fenomenológica e Filosofias da Existência da UFMA. Membro dos Grupos de Pesquisa Filosofia e Psicologia Clínica da Universidade Federal Fluminense - UFF; Membro da Comissão Editorial da Revista Psicologia: Ciência e Profissão do Conselho Federal de Psicologia - CFP. Pesquisa, no momento, os seguintes temas: As modulações do conceito de essência humana e suas implicações no processo de deslocamento da clínica, do plano da moral para o plano da ética, nas Abordagens Psicoterápicas de base Existencial e Humanista. Senhor Presidente, Senhores Confrades e Senhoras Confreiras, Para nós maranhenses, que fazemos parte integrante, como acadêmicos, deste sodalício é uma honra receber este notável homem das ciências humanas como membro da Academia Ludovicense de Letras. Não se trata somente da satisfação incomensurável de tê-lo como membro, mas pelo privilégio de termos, entre os nossos, alguém de tão elevada experiência acadêmica e vir somar, aos demais membros, esforços para que esta academia tenha as melhores das referências. A vida acadêmica de Jadir Lessa é invejável. Somente para alguém que conhece a sua atividade diuturna e febril diante das arguições do trabalho, conseguirá entender como alguém, como ele, pode fazer tanto.
Ele assina a autoria de cinco livros e coautoria de dez livros. Todos ligados a sua área de conhecimento científico, sendo o Solidão e Liberdade, o seu marco inicial. Na sua maioria, foram impressos com o selo da Editora da Universidade Federal do Maranhão. Participou em sete livros assinando com a redação de capítulos. Publicou, como autor, treze artigos em revistas e jornais e dez artigos como coautor. Existem mais de vinte CDs com palestras que ele proferiu em diversos eventos científicos no Brasil. Hoje, afirmo novamente, como fiz, com louvor, na posse da nossa ilustríssima confreira Maria Thereza de Azevedo Neves, que a Academia Ludovicense de Letras se torna mais rica e digna, tanto por abrigar a memória daqueles que construíram o substrato intelectual das letras maranhenses, quanto pelas representações atuais dos seus membros. Alguns trouxeram a herança imaterial de famílias ilustres em suas bagagens, este que hora se reveste com a roupagem cerimonial desta digníssima instituição, traz, com toda certeza, a memória atávica dos nossos ancestrais europeus e das tradições que atravessaram o Oceano Atlântico para se incorporar no tempo e na história da América Latina. Confreiras, Confrades, Senhor Presidente, juntemo-nos para abrir os nossos braços inundados de alegria para recebê-lo, em nosso meio, e desejar-lhe boa sorte na missão mágica e divina do ato de escrever. Confrade, que sejas bem-vindo à Casa de Maria Firmina dos Reis e que tragas a Paz, o Amor e a União em seu coração. Muito obrigado! SLZ | 10.08.2021 | Terça-feira
3º dia
CANTOS A BEIRA MAR
PREFÁCIO (ALL) DILERCY ARAGÃO ADLER Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras-ALL Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira Nº 01 Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil
É uma grande honra a Academia Ludovicense de Letras-ALL em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães-IHGG realizarem este projeto de publicação, num único exemplar, de duas obras de Maria Firmina dos Reis, Cantos à Beira Mar e Gupeva. Cantos à Beira Mar teve apenas duas edições anteriores: a original, em 1871, e a 2ª Edição, Impressão FacSimilar publicada por José Nascimento Morais Filho, em 1976. O Gupeva conta com três publicações em jornais literários: em 1861, O Jardim dos Maranhense, inicia a publicação do conto indianista Gupeva, dividido em quatro capítulos; em 1863, nova edição do Gupeva pelo Jornal Porto Livre e, em 1865, o jornal literário Eco da Juventude. Mas a primeira edição em livro dá-se em 1975, no livro de Nascimento Morais Filho, intitulado: Maria Firmina: fragmentos de uma vida, no qual publica o Gupeva juntamente com outras obras da escritora. Como já foi referido, embora talvez não suficientemente, esta renomada autora maranhense, sem contar o montante da sua obra que aglutina várias vertentes da arte, não tem as suas obras literárias disponibilizadas no mercado editorial, com exceção do romance Úrsula, que já conta com seis edições em nível nacional e duas pela Academia Maranhense de Letras - AML. Com o intuito de preludiar de forma que traduza o mais próximo possível da riqueza e beleza destas obras, encantei-me de início com a Dedicatória de Maria Firmina para a sua mãe, no seu Cantos à Beira Mar: À MEMÓRIA DE MINHA VENERADA MÃE, e na primeira oração, me parece, de forma imperativa e doce, diz: Minha mãe – as minhas poesias são tuas (grifo meu). E continua... É uma lágrima que verto sobre as tuas cinzas! – acolhe-as, abençoa-as para que elas possam te merecer. [..]verti lágrimas de pungente saudade, de amargura infinda sobre a tua humilde sepultura, como havia derramado sobre o teu corpo inanimado. [...]a dor era cada vez mais funda, mais agra e cruciante – tomei a harpa, - vibrei nela um único som, - uma nota plangente, saturada de lágrima e de saudade... [...]Este som, esta nota, são meus cantos à beira-mar. Ei-los! É uma coroa de perpétuas sobre a tua campa, - e uma saudade infinda com que meu coração te segue noite, e dia - é uma lágrima sentida, que dedico à tua memória veneranda. [..] Eis pois, minha mãe, o fruto dos teus desvelos para comigo; - eis minhas poesias: - acolhe-as, abençoa-as do fundo do teu sepulcro. E ainda uma lágrima de saudade, - um gemido do coração... Guimarães, 7 de abril de 1871. Maria Firmina dos Reis. (grifos meus). Alguns podem achar um texto piegas, sentimental ao extremo; eu não comungo com essa interpretação. Traduzo nesses versos um amor profundo e adornado por muita admiração e gratidão de uma filha por sua mãe. Aí me vem a constatação de quão necessária é essa obra, porque vestida e revestida de sentimentos nobres e, nesse sentido, pouco usuais na nossa empobrecida contemporaneidade, na qual o consumismo e a necessidade de poder são exortados como condições indispensáveis de bem viver. Quem sabe assim possamos refletir acerca do quê estamos vivendo, para quê estamos vivendo e como estamos vivendo.
Chama a atenção, que alguns poemas são oferecidos a pessoas de sua estima e admiração, inclusive a Gonçalves Dias, mas também outros para louvar Guimarães, a Praia de Cumã e ainda aqueles que tratam das questões amorosas do amor romântico e outras dores, como Queixas, Não quero amar a mais ninguém, A dor que não tem cura, Confissão, Esquece-a, Seu nome, Melancolia, entre tantos outros. Mas um poema que muito me enternece é: No Álbum de uma amiga. [...] Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. [...] Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir. Excertos de: No Álbum de Uma Amiga In: CANTOS À BEIRA MAR, 1871. Por sua vez, O Gupeva trata de um amor impossível com final trágico. Nas suas falas, fica claro todo um ranço de desamor expressos em preconceitos e intenção clara de dominação. Mas, concomitantemente e contraditoriamente, o amor também se impõe de forma contundente no casal protagonista, sobrepujando o que há de mais sombrio na estrutura da personalidade humana, o que na linguagem analítica Junguiana (Carl Jung) diz respeito ao arquétipo primordial, incluso na estrutura psíquica, o chamado, lado sombra de todo ser humano. Assim, esse conto também, inteligentemente, é entrecortado por descrições belíssimas do amor romântico, verdadeiro e puro, e também de descrições enfáticas de uma natureza mais virgem, no sentido da inexistência, ainda, da ação predadora do homem moderno sobre ela, a exemplo de: [...]Era uma bela tarde; o sol de agosto animador, e grato declinava já seus fúlgidos raios; [...]Mas, as trevas eram já mais densas, e o coração do moço confrangia-se, e redobrava de ansiedade. Seus olhos ardentes pareciam querer divisar através dessas matas ainda quase virgens um objeto qualquer. [...] Gastão, disse procurando tomar-lhe entre as suas mãos, que loucura meu amigo - que loucura a tua te apaixonares por uma indígena do Brasil; por uma mulher selvagem, por uma mulher sem nascimento, sem prestígio: ora, Gastão sê mais prudente; esquece-a. - Esquecê-la! - exclamou o moço apaixonado, nunca! [...]Era pois na lua das flores, que à tarde um velho cacique, e um mancebo índio, do cume deste mesmo outeiro, lançavam um olhar de saudosa despedida, sobre o navio normando, que levava destas praias uma formosa donzela. [...]Como Paraguaçu, Épica havia recebido o batismo. Conquanto a jovem princesa do Brasil não poupasse esforços em chamar os homens do seu país ao grêmio da igreja; conquanto sua voz fosse persuasiva, suas palavras insinuantes; todavia foi a voz de Épica que rendeu o moço índio. Ele abraçou o Cristianismo, quando soube que Épica era cristã. Oh! mancebo, murmurou o tupinambá, quanto pode o amor, quando ele é santo, como o que há no céu! (grifos meus).
Gostaria de dar realce também à questão da relação entre os povos tratada de modo forte por Maria Firmina no conto Gupeva, ao colocar como protagonistas personagens da Europa e da Nação Tupinambá. E a esse respeito coloco num artigo meu intitulado: A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville, apresentado pela primeira vez no COLÓQUIO IBERO SUL- - AMERICANO DE HISTÓRIA: entre os dois lados do Atlântico, em Florianópolis, de 07 a 19 de setembro de 2009, e publicado na Revista Eletrônica do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Volume 31 novembro de 2009. Introduzo a temática dizendo nas páginas 44 e 45: Todos os colonizadores, sem exceção, apresentam, à primeira vista, uma lógica no discurso da dominação muito convincente e sempre permeada por uma nobreza incontestável. Os portugueses, franceses e espanhóis engendravam o fio condutor dos seus discursos de dominação dos povos das Américas Central e do Sul, principalmente a partir da fé, ou seja, da necessidade de expandir o cristianismo para salvar os pagãos através da catequese e do batismo. Demonstravam, nesse argumento, ser essa uma condição natural para o salvamento da alma dos povos indígenas (grifos meus). Essas questões nos parecem distantes, mas continuam vigentes nas sociedades atuais, embora em algumas situações com nuances diferentes. Desse modo, objetivando ampliar o conhecimento da obra da autora, inclusive com vista ao uso/estudo no ensino regular, é que disponibilizamos este livro que contempla essas duas obras de Maria Firmina dos Reis e esperamos que os frutos dessa leitura acrescente, além de mais conhecimento, mais amor na sua vida, caro leitor! São Luís, 23 de outubro de 2017. Dilercy Aragão Adler Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras-ALL Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira Nº 01 Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil
PREFÁCIO (IHGG) OSVALDO GOMES Membro fundador e Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de GuimarãesIHGG, Vice -prefeito de Guimarães Professor de História A vida é cheia de grandes desafios e momentos que marcam as nossas vidas. As vezes ficamos com medo de enfrenta-los, outras vezes vamos à luta. Como desafio, aceitei a este convite de Dilercy, pois sei que sou um humilde mortal, sem pretensões de laçar-me na literatura. Aceitei, e como é difícil começar; as palavras fogem, mas, ela também chegam e aos poucos vão preenchendo esta folha, que fará a apresentação desta importante obra de uma mulher simples e visionária que viveu a maior parte da sua vida em Guimarães, no século XIX. Esta cidade do litoral norte maranhense, banhada pela Baia de Cumã, na qual está encantado o Poeta Gonçalves Dias, que no passado áureo tinha como base econômica, a plantação de cana de açúcar, grande produtor de farinha e algodão. Muitos eram os engenhos, muitos eram os povos africanos que vinham da África, de maneira desumana a derramar o seu sangue. Nesta terra, Guimarães, hoje conhecida como a terra mãe, nasceram grandes personalidades, como Sousândrade, Urbano Santos, Monsenhor Estrela, João Pedro Dias Vieira e tantos outros que estão imortalizados nas páginas da História do Nosso País, sem esquecer dos vimaranenses que continuam a escrever com brilho. Esta obra é conduzida por uma mulher extraordinária, a Dilercy Adler, uma imortal, Presidente da Academia Ludovicense de Letras, atualmente a pessoa mais capacitada para falar de Maria Firmina dos Reis, a nossa mestra Regia que deixou um grande legado, e aos poucos vai tornando-se conhecida, estudada, e levada aos quatro cantos do mundo. Neste livro, somos contemplados com duas grandes obras, Gupeva e Cantos a Beira Mar. A primeira, um conto indianista em que Firmina se dedica a a pensar o lugar do índio. Vamos descobrir o jovem marinheiro francês, apaixonado por uma nativa da Bahia. Uma paixão capaz de desafiar a todos e a própria natureza, mas com o passar das páginas, novas surpresas, novos momentos e o leitor fica ansioso, querendo chegar logo ao final, que não poderei contar, pois é surpreendente. Vivemos as cenas e os momentos, é como se estivéssemos ali, acompanhando de perto os passos das personagens, ou como se assistíssemos a um filme, uma telenovela. Gupeva, Alberto, Gastão, e Épica, personagens de um romance forte, uma paixão proibida e separada por dois mundos, duas culturas diferentes: a indígena e a europeia. Gupeva foi pulicado como um romance brasiliense, no periódico semanal, O jardim das Maranhenses, entre os meses de outubro de 1861 a janeiro de 1862. Depois nos anos de 1863 e 1865, no Jornal Porto Livre e outra publicação no jornal Eco da Juventude. Após esse período só vamos poder achar o romance no livro Fragmentos de Uma vida, de autoria de Nascimento Morais Filhos, o responsável pela descoberta da escritora, nos porões empoeirados da biblioteca. Passados 42 anos, uma nova edição do livro mostrará para esta sociedade que chamamos de moderna, que não preserva a natureza, extermina os seus nativos, uma história escrita há 166 anos, continua viva e fazendo refletir sobre a nossa existência e contribuindo como cidadão na preservação da natureza, na busca da liberdade e no respeito pela cultura do outro. A segunda obra que faz parte deste livro, Cantos a Beira Mar, poesias escritas por uma mulher apaixonada, uma idealista que sempre esteve à frente do seu tempo, não tendo medo de escrever a palavra “Liberdade”. Os moradores de Guimarães, cidade que em 19 de janeiro de 2018 completará 260 anos de fundação, e visitantes buscam revigorar as energias do corpo e da alma, no alto da Praça dos Sagrados Corações que
avista toda a Baia de Cumã e uma parte do município de Alcântara, e nas noites o clarão da cidade de São Luís. Uma beleza ímpar admirada por todos. Local onde admiramos o nascer do sol ou da esplendida lua cheia, prateando as aguas da famosa baía, transformando-o num lugar magico e inspirador para qualquer poeta., E com toda certeza, desse mesmo local Maria Firmina dos Reis inspirou-se para escrever as suas poesias, que fazem parte do seu livro escrito em 1871, Cantos a Beira Mar. Livro este dedicado a sua falecida mãe: “Minhas Mãe! – as minhas poesias são tuas. É uma lágrima que verto sobre tuas cinzas! acolhe-as, abençoa-as para que elas te possam merecer”. (Cantos a Beira Mar, pág. ). Firmina em seu livro de poesias, homenageia pessoas, enaltece a lua, lembra dos combatentes vimaranenses na Guerra do Paraguai, dedica poemas às amigas, chora de saudade, chora de amor não correspondido, descreve uma tarde em Cumã, a expulsão dos índios que são obrigados a deixarem suas casas e tantas outras situações transformadas em versos. Esta mulher que nós homenageamos, completará no dia 11 de novembro, 100 anos de falecimento. Uma data que não podemos deixar passar em branco pela importância que foi para a Literatura. Atualmente seu nome já consta em raríssimos livros de literatura, seu nome já é mencionado em algumas rodas de conversa. Foi uma mulher forte, revolucionária, que desafiou o seu tempo ao romper as barreiras impostas por uma sociedade, paternalista e escravocrata. Foi além, ousada, determinada, algo que faz falta hoje. Filha de uma escrava forra, um pai escravo, que não se sabe realmente se existiu. Tirou o negro da senzala, como diz Dilercy, “foi teimosa, ao insistir em desempenhar funções e papeis que não cabiam ´à mulher da sua sociedade”. (Sobre Maria Firmina, 32). Morreu ao 95 anos, depois de um longo caminhar. Cega, sem poder ver a lua tão bela. Ficou esquecida por um por tempo, até ser lembrada e receber todas as honras que uma mulher maranhense possa receber por tudo que fez por um mundo melhor, mais justo e liberto! Viva Maria Firmina dos Reis!!! Guimarães 30 de outubro de 2017.
RECEBENDO DE CERES COSTA FERNANDES VICEPRESIDENTE DA ALL O DIPLOMA DE MEMBRO CORRESPONDENTE DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS.
MINI CURRÍCULO PARA APRESENTAÇÃO NA ENTREGA DOS DIPLOMAS DE MEMBROS CORRESPONDENTES.
1JÚLIO PAVANETTI. Nacido en Montevideo [Uruguay] es Poeta y Gestor Cultural, antologista Fundador y actual presidente de la asociación internacional de poetas 'Liceo Poético de Benidorm'. Desde 2013 vive en Benidorm, Alicante [España]. membro Honorário da Academia Norteamericana de Literatura Moderna. Miembro fundador de la Academia Estudiantil de Arte Contemporáneo de Río de Janeiro/Brasil. Vários livros publicados e Antologias organizadas, assim como participação em várias antologias
2ANNABEL VILLAR. Poeta, Ativista e Gestora Culural.Socia fundadora y actual Tesorera do Liceo Poético de Benidorm) REMES (Red Mundial de Escritores en Español), Movimiento Poetas del Mundo (Uruguay) World Poetry Movement (WPM) Co-directora del FIP “Benidorm & Costa Blanca”, Académica Asociada y Miembro Honorario de la Academia Norteamericana de Literatura Moderna; ; Miembro fundador de la Academia Estudiantil de Arte Contemporáneo (Río de Janeiro, Brasil, Silla Nº 6 “Gabriela Mistral”) Autora de vários livros de poesia.
3CECY BARBOSA CAMPOS. É natural de Juiz de Fora, MG. Bacharel em Direito e Mestre em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora. 16 livros solo publicados e mais 1 E-book e 1 livro com áudio descrição. Premiações em concursos da UBE/ RJ, AJEB/ RJ, AJEB/MG, ABRAMES, FALARJ, etc.
4MÁRIO PEREIRA. Nasceu em em Pistoia/Itália em 11 setembro 1959. É filho de veterano da FEB e tem dupla cidadania, italiana e brasileira. Administrador do Monumento Votivo Militar Brasileiro em Pistoia. Dedica-se ao estudo de fatos históricos. Tem participação em várias antologias, enttr as quais: Dolore re Libertà, 2015 e Pelos Caminhos da Força Expedicionária Brasileira-FEB, na Segunda Guerra Mundial: condições e contradições de uma época, lançadas em São Luís 2016.
5OSVALDO GOMES - Guimarães/ MA/ Brasil. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães. Pesquisador de Maria Firmina dos Reis.
6ANTONIO CABRAL FILHO, Escritor e poeta mineiro, radicado no Rio de Janeiro desde 1969, livreiro, editor e produtor cultural, organizador de diversas obras, entre as quais destaca-se a mais recente: MIL POEMAS PELA DEMOCRACIA.
7ANNA LIZ - de Santa Luzia-MA, professora, escritora, poeta, ativista cultural e presidente/coordenadora da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, Coordenadoria Maranhão.
8JUÇARA VALVERDE: Médica, escritora, poetisa e artista plástica - pintura e escultura. Natural de Cruz Alta/ RS, residente no Rio de Janeiro. Presidente de Honra, Vice-Presidente - Academia Brasileira de Médicos Escritores, Do Conselho do PEN Clube do Brasil e da União Brasileira de Escritores RJ, Da Diretora da Academia Carioca de Letras RJ. Da Diretora da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil RJ.
9DYANDREIA VALVERDE PORTUGAL: é Jornalista, Escritora e Artista Plástica. Editora-Chefe da Rede Mídia de Comunicação e Editora Sem Fronteiras composta pelo Jornal Sem Fronteiras, do Portal Sem Fronteiras, da Fanpage Rede Sem Fronteiras, da Mala Direta On-line e do Programa de TVWeb Sem Fronteiras. É também Pós-graduada em Psicopedagogia pela UERJ/RJ. É. 10-ANGELI ROSE: É carioca, professora, pesquisadora, Multi Dr.h.c. em Literatura, Educação e Belas artes. Dra. em Letras PUC-Rio), escritora, poeta aprendiz, Comendadora e Embaixadora da Paz (OMDDH). Atualmente, dedica-se a coordenar o Coletivo Mulheres Artistas (CMA), ao segundo Ph.D., agora em Letras, entre muitas outras atividades que desenvolve.
11ALEXANDRE SANTOS. É de Recife/Pernambuco. Escritor, Presidente da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural, da Associação Brasileira. É membro Academia de Artes e Letras do Nordeste, da União Brasileira de Escritores, da Academia Pernambucana de Engenharia. Membro internacional do Cultive Club Internacional D’Art, Littérature et Solidaritè (Suiça), do Conselho Consultivo da Revista Nova Águia (Lisboa, Portugal) e do Conselho Editorial da Revista Archiépelago (Cidade do México, México) e das Edições Moinho.
12SOCORRO LIRA- Nasceu na zona rural de Brejo do Cruz, sertão da Paraíba, Nordeste, Brasil, Poeta, compositora, intérprete, instrumentista e produtora cultural. Formada em Psicologia Social pela Universidade Estadual da Paraíba. Inicia-se ao violão como autodidata, vindo a estudar técnica violonística e introdução ao violão clássico no Departamento de Artes da Universidade Federal de Campina Grande. Reside em São Paulo, capital, desde 2004.
13 RENATA BARCELLLOS. Nasceu no Rio de Janeiro/RJ. É Pós-doutora em Língua Portuguesa pela UFRJ. É autora de Itens de análise linguística no novo ENEM e no Saerjinho e de Alma Dilacerada e do ebook Poesia Visual de Tchello d’Barros: olhos de lince. É apresentadora do programa Pauta Nossa da Mundal News FM. Canal do YouTube e página no Facebook BarcellArts.
14TONY ALVES: Nasceu no dia 17/04/1935 em Carrazedo de Montenegro/Portugal. Escritor, poeta, Presidente Honorário da Sociedade de Cultura Latina do Brasil para o Norte de Portugal. Colaborador no Recanto das letras com bastantes textos publicados, cerca de 200, assinando como Quo Vadis.
15VERA DUARTE. Nasceu em Mindelo, S. Vicente, Cabo Verde. É Juíza Desembargadora, poeta e escritora, formada em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Membro das Academias Caboverdiana de Letras, de Ciências de Lisboa, Gloriense de Letras. É investigadora correspondente do Centro de Humanidades/CHAM da Universidade Nova de Lisboa e membro do Institut for African Women in Law e do seu Global Advisory Board. Foi Ministra de Educação Ensino Superior.
16DINA SALÚSTIO – Praia /Cabo Verde. Membro fundador da Academia Caboverdiana de Letras; Vice-Presidente da Sociedade Brasileira da Cultura Latina para Cabo Verde. Publicações: “A Louca de Serrano” “Filhas do Vento”, “VEROMAR”, “Mornas eram as Noites”, (distinguido como um Clássico da Literatura Cabo-verdiana em 2021); Filhos de Deus, 2018.
17VALQUIRIA IMPERIANO. Nasceu em João Pessoa/Paraíba. Naturalizada Suíça e mora em Genebra desde 1997. É jornalista, formada em Letras. Membro da Academia Internacional da União Cultural; Academia de Letras, Juvenal Galeno em Fortaleza – ALJUG; Academia de Letras e Artes de Fortaleza -ALAF e Academia de Letras dos Municípios do Ceará – ALMECE; Academia de Letras, de Teófilo Otone; Associação Portuguesa de Poetas em Lisboa – APP; Civil Society European of Phine Arts; Membro da UBE – Pernambuco; Lyceum Iternational Club de Genève.
18DELASNIEVE DASPET. É de Porto Murtinho/ Mato Grosso de Sul. Advogada, poeta, escritora, palestrante, Embaixadora Universal da Paz, Peacemaker. Ativista das Causas Humanitárias, Cidadã da Terra do Século XXI, ID 078, UNESCO. Presidente e Fundadora da Associação Internacional de Poetas e da Academia Feminina de Letras e Artes de Mato Grosso do Sul.
19MARTA CORTEZÃO. de Tefé, no Amazonas, mas radicada na Espanha desde 2012. É escritora, poeta, trovadora, ativista cultural, tradutora (idiomas português e espanhol), antologista, produtora de conteúdo na Internet. idealizadora dos projetos Enluaradas e Tertúlias Virtuais. É graduada em Letras/Língua Latina, pós-graduada em Metodologia e Didática do Ensino superior, mestranda em Filologia Clássica/Latim e Grego. É membro da Associação Brasileira de Escritores e Poetas PanAmazônicos – ABEPPA e da Academia de Letras do Brasil – Amazonas – ALB/AM
PRÉ-PROJETO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: a Rosa-de-Jericó (1822- 2022) 1 – IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO INSTITUIÇÃO PROPONENTE: Academia Ludovicense de Letras-ALL “Casa de Maria Firmina dos Reis” TÍTULO DO PROJETO: Bicentenário de Nascimento de Maria Firmina dos Reis, a Rosa-de-Jericó (1822) OBJETO: organizar a comemoração alusiva ao aniversário de 200 anos de nascimento de Maria Firmina dos Reis. Instituições Parceiras: Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães -IHGG, “Casa de Maria Firmina dos Reis”; Academia João-Lisboense de Letras-AJL, “Casa de Maria Firmina dos Reis”; Universidade Federal do Maranhão: UFMA: Departamento de Letras, Reitoria; Universidade Estadual do Maranhão: UEMA: Departamento de Letras, Reitoria; Instituto Histórico e Geográfico da Maranhão-IHGM; Federação das Academias de Letras do Maranhão-FALMA; Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB; Sociedade de Cultura Latina do estado do Maranhão-SCLMA; Associação Maranhenses de Escritores Independentes-AMEI, Secretaria de Estado da Educação-SEDUC; Secretaria Municipal de Educação; Secretaria de Estado da Cultura; Secretaria Municipal da Cultura; Conselho Estadual de Cultura, Conselho Estadual de Educação, Conselho Municipal de educação; Conselho Municipal de Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN-Maranhão; Fundação Municipal de patrimônio Histórico-FUMPH, Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, Câmara Municipal de São Luís; Serviço Social do Comércio-SESC; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial -SENAC. 2 JUSTIFICATIVA Não há como ser refutada a grandiosidade da obra de Maria Firmina dos Reis. E no ano próximo, 2022, essa ilustre maranhense completará, no dia 11 de março, 200 anos de nascimento. Por outro lado, a Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis, desde 2013, ano da sua criação (10 de agosto), vem buscando ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais possíveis, objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, considerando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua. A exemplo do ano de 1975, de grandes homenagens à ilustre escritora Maria Firmina dos Reis, intitulado por Adler (2017): “Ano Rosa-de-Jericó de Maria Firmina dos Reis: ano de verdejar”, neste bicentenário, a Academia Ludovicense de Letras com outras instituições parceiras se dispõem a organizar uma grande festa comemorativa alusiva ao aniversário de 200 anos de nascimento dessa ilustre maranhense. A Rosa-de-Jericó é também chamada de flor-da-ressurreição por sua impressionante capacidade de voltar à vida. As Rosas-de-Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo, e ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar! Vejo muita semelhança entre Maria Firmina e a Rosa-de-Jericó. Esta permanece seca e fechada aparentando estar totalmente sem vida por algum tempo, no entanto, basta algum contato com a umidade para ela estender suas folhas, espalhar suas sementes e retornar à vida, mostrando a sua beleza. Conforme Morais Filho (1975), em São Luís e Guimarães, no ano de 1975, foi comemorado o sesquicentenário de Maria Firmina. Muitas homenagens foram prestadas a ela, entre as quais, em São Luís: a participação de Horácio de Almeida, que veio para as comemorações e entregou um exemplar do Romance Úrsula (o único que se tem conhecimento), doado ao Governador do Estado, Osvaldo da Costa Nunes Freire; a inauguração do busto da escritora na Praça do Panteon (obra de Flory Gama); foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, com tempo determinado de utilização. Um detalhe digno de realce, é que, na parte inferior do carimbo consta um grilhão de ferro rompido, como marca significativa da Campanha abolicionista que Maria Firmina empreendeu por meio da literatura, da música (compôs o Hino da Libertação dos escravos, 1988) e da própria postura, que retrata a sua orientação político-ideológica humanizada; a publicação da edição fac-similar do romance Úrsula, com Prefácio de Horácio de Almeida; além da criação, em sua homenagem, da
Medalha de Honra ao Mérito pela Prefeitura Municipal de São Luís e por fim, a Assembleia Legislativa do Estado instituiu o dia do seu nascimento, como o “Dia da Mulher Maranhense”. Em Guimarães, também o ano de 1975 foi o marco inicial de maiores homenagens a ela dedicada, entre as quais:, além do desfile em sua homenagem nesse ano, o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, desde o ano de 2007, passou a promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis. E, ainda, o dia do aniversário de Maria Firmina foi instituído feriado Municipal e comemorado o “Dia da Mulher Vimarense.” Na atualidade, existe o desejo de consolidar a ressignificação da vida e obra de Maria Firmina efetivada por Nascimento Morais Filho, de modo a ocupar o lugar que lhe é devido na Historiografia Literário-Cultural Maranhense e Brasileira. Em São Luís, essa missão é capitaneada pela Academia Ludovicense de Letras e em Guimarães, pela Prefeitura e o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães. Convém enfatizar que foi nessa cidade que ela viveu a maior parte da sua vida e, por conseguinte, além de exercer a profissão de Mestra Régia (conforme aprovação em concurso para professora de primeiras letras do sexo feminino para a Vila de Guimarães), também escreveu toda a sua obra. Assim, devemos sempre lembrar que a despeito de todas as condições e características adversas vividas e experienciadas por Maria Firmina dos Reis: mulata, pobre, “bastarda”, mulher, tudo isso em um Brasil escravocrata no século XIX, ainda assim, com os mais admiráveis méritos se estabelece, reconhecidamente hoje, como uma das escritoras mais admiráveis de toda a Literatura Brasileira. Frente ao exposto, evidencia-se a necessidade de estabelecer estratégias contínuas e articuladas com instituições das esferas governamentais e privadas para garantir o efetivo funcionamento da Casa de Maria Firmina dos Reis, assegurando recursos financeiros para sua manutenção. Desse modo, viabilizará o cumprimento da função a que se destina por meio da veiculação de um acervo que represente a importância da produção histórico-cultural, em especial da literatura do Estado do Maranhão. Na perspectiva de divulgação do acervo histórico e cultural tornam-se necessárias a publicação e reedição de obras referentes a Maria Firmina dos Reis, voltadas para públicos diversos, a exemplo de estudantes desde a Educação Infantil ao Ensino Superior. Para o alcance exitoso das ações propostas, é imprescindível o comprometimento de todas as instituições parceiras e da instituição proponente, o que, por sua vez, possibilitará a sensibilização e mobilização da sociedade em geral, no tocante à compreensão do papel determinante da autora para a construção de uma sociedade que respeite e reconheça a mulher como protagonista. 5 OBJETIVOS 5.1 GERAL Comemorar o bicentenário da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis: a Rosa de Jericó. 5.2 ESPECÍFICO Consolidar a ressignificação da vida e a obra de Maria Firmina dos Reis efetivada por Nascimento Morais Filho. Fortalecer a divulgação da vida e obra de Maria Firmina dos Reis junto às instituições educacionais, literárias e demais segmentos da sociedade. Utilizar a obra de Maria Firmina dos Reis nas instituições educacionais potencializando a criatividade artística, escritora e leitora dos estudantes das diferentes etapas de ensino. Incentivar a publicação de obras sobre a autora destinadas aos estudantes dos Anos Iniciais. Reeditar a obra de Nascimento Morais Filho, importante precursor do renascimento de Maria Firmina dos Reis. Reconhecer a força da representação feminina num contexto sociocultural da sociedade patriarcal, valorizando o processo histórico de luta e resistência da mulher até os dias atuais. Reconhecer a importância das motivações que caracterizam a sua obra, tais como, o romantismo, o nacionalismo, a campanha abolicionista, a valorização dos povos que iniciaram a história do nosso país, entre os quais, os mais injustiçados, o negro e o índio. Reconhecer a importância de Maria Firmina dos Reis como personalidade literária do Maranhão e do Brasil, destacando o contexto sociocultural em que viveu, seu posicionamento de vanguarda, seu pioneirismo e ousadia Compreender a necessidade de envolver as instâncias governamentais nos projetos, ações e atividades históricoculturais como elementos importantes na construção da identidade e da cidadania das novas gerações.
Garantir que as instâncias governamentais participem das estratégias e procedimentos de manutenção física e a administrativa da Academia Ludovicense de Letras-Casa de Maria Firmina dos Reis, por meio de provimento de recursos financeiros. 6 METODOLOGIA A proposta de trabalho desse projeto pretende agregar instituições públicas e privadas para a viabilização das diversas ações, criando comissões e subcomissões conforme sua natureza. 7 PÚBLICO ALVO: Público em geral: estudantes, professores, pais, gestores escolares de instituições públicas e privadas, sociedade civil e organizada, comunidade literária, METAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 1. Propor às instituições UFMA e UEMA a concessão do Título Dra. Honoris Causa (in memoriam) para Maria Firmina dos Reis e José Nascimento Morais Filho. Propor à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e à Câmara de Vereadores do Município de São Luís concessão de Títulos honoríficos (in memoriam) para a homenageada e José Nascimento Morais Filho. Propor à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e à Câmara de Vereadores do Município de São Luís Projeto de Lei para designar recurso financeiro para manutenção da Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis. Articular junto à Assembleia Legislativa do Maranhão Projeto de Lei designando Maria Firmina dos Reis como patrona da educação maranhense. 5. Doação de um prédio para instalação da sede da Academia Ludovicense de Letras ALL pela Prefeitura Municipal de São Luís ou Governo do Estado do Maranhão. 6. Propor o nome de Maria Firmina dos Reis para designar praças, prédios públicos, escolas, ruas, avenidas. 7 Criar PLACAS PERSONALIZADAS (sinopse da vida e obra de Firmina) colocando-as em locais que marcam a vida da escritora em São Luís: - Casa onde Maria Firmina nasceu (operacionalizar pesquisa na rua São Pantaleão); - Tipografia Progresso (onde foi impresso o romance Úrsula) na rua de Santana, próximo ao fundo do Cine Éden (confirmar); escolas; ruas; avenida. 8. PUBLICAÇÃO Livros sobre Firmina para os Anos Iniciais (história infantil); livro para estudos com os dados da vida e obra da autora para os estudantes das demais etapas da Educação Básica; Reeditar o livro de Nascimento Morais Filho-Maria Firmina dos Reis: Fragmentos de uma vida; Edição fac-similar do livro Cantos à beira-mar; Toda obra de MFR impressa para distribuir em Bibliotecas e, se possível, nas bibliotecas escolares e Farol do Saber. 9. Propor aos Correios a criação de Selo Comemorativo do Bicentenário de nascimento da homenageada. 10. Produção de uma réplica da imagem de Firmina com um grilhão de ferro rompido na parte inferior do carimbo ou selo, como marca expressiva da Campanha abolicionista empreendida por Maria Firmina. 11. Comenda Maria Firmina: Galardoar aqueles que, por suas ações meritórias, façam jus ao reconhecimento que a outorga da Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural representa. 12. Realizar em parceria com a SEDUC, SECMA, SEMED e SECULT o Concurso Artístico e Literário Maria Firmina dos Reis, com o objetivo de difundir as obras da escritora maranhense e seu pensamento. 13. Realizar atividades culturais: produções artísticas e literárias, realização de saraus, palestras, exposições, chá literário, encontros de pesquisadores, encontros de academias, Mostra de Literatura Maranhense. 14. Desenvolver projetos sobre Firmina nas escolas da Rede Estadual, Municipal e Comunitárias. 6- CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
ATIVIDADE
ABRIL/JULHO 2021
Levantamento de informações sobre parceiros, . X Estudo e discussão de material X bibliográfico. Construção do Projeto Reunião com parceiros para sistematização de ações. Planejamento de ações na perspectiva de envolver ......... Apresentação
7 AVALIAÇÃO O monitoramento será realizado durante a execução do projeto no intuito de garantir o cumprimento da eficácia e eficiência do mesmo, fazendo com que todas as ações propostas sejam executadas, garantindo a efetiva implementação das metas e ações propostas. Para realização da avaliação e monitoramento serão utilizados: Indicadores: Demandas propostas Demandas atendidas
REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor. São Luís: ALL, 2017. MORAIS FILHO, José Nascimento. MARIA FIRMINA; fragmentos de uma vida. São Luís: SIOGE, 1975.
ATIVIDADES DE GUIMARÃES
HOMENAGEM A CARLOS DE LIMA
CARLOS DE LIMA4- MEMÓRIAS. São Luís, 1996 Este trecho das “Memórias” de Carlos de Lima foi encaminhado aos autores quando estavam elaborando trabalho de resgate da história do “Liceu Maranhense – memória, pesquisa, documentação”, ainda inédito. O Prof. Carlos foi convidado a falar aos alunos do Liceu, em evento comemorativo a mais um ano de sua fundação, naquele ano de 1996. Estava escrevendo suas memórias... “O LICEU “Ingressei no Liceu Maranhense em 1933, após ter levado uma surra de mamãe por ter tirado a nota sete em Matemática, nas provas de exame de admissão. Hoje, num ‘jogo de azar’... com 3, entra-se na Universidade. “O velho colégio funcionava na Rua Direita, no prédio ainda existente, que ia da Rua da Estrela à Rua do Giz, atualmente dividido para abrigar a Secretaria de Administração e uma repartição da Agricultura. “Relembrando-o agora, vejo-me galgando os degraus de cantaria da entrada, ao lado de Mário de Moraes Rego, nós ambos protegendo as cabeças com os braços, sob as biscas e os cascudos dos alunos veteranos. “De seus Diretores, lembro-me de Mata Roma, Helvídio Martins, Dr. Cordeiro (Dr. Bundinha). “Mata Roma chamou-me, um dia, e me disse: ‘- Vamos receber a visita de uma delegação do Liceu de Teresina. Vais fazer o discurso de saudação’. Comecei a pensar no assunto, a coordenar idéias, a alinhavar frases. Mas nada escrevi. “No dia da tal visita, ao cruzar comigo no corredor, interpelou-me : ‘Está pronto?’ Fiz um gesto afirmativo com a cabeça. ‘ - Traga-o ao meu gabinete, quero lê-lo.’ Criando coragem, respondi ’- Não o tenho escrito, está na minha cabeça.’ - Pois, então, não vais falar nada! “Fiquei triste. Os colegas solidarizaram-se comigo e me incentivaram à desobediência. “Na hora da recepção, não esperei mais e... mandei brasa. Não me lembro do que disse, sei que fui muito aplaudido, principalmente pelos colegas revoltados. Decerto minhas palavras não mereciam tão vibrantes palmas, mas foi a expressão da uma rebeldia e eu, o seu porta-voz. O professor visitante veio cumprimentar-me, Mata Roma falou depois, saudando o professor chefe da embaixada. “Quando os visitantes se retiraram, Mata Roma veio ao meu encontro, abraçou-me e disse: ‘- Um belo discurso, parabéns. Estás suspenso por dois dias! “(Cabe uma explicação do porque da minha escolha para orador oficial daquela solenidade): “As provas de Português constavam de duas partes: dissertação, valendo 70 pontos, e gramática, os 30 restantes. Na prova caiu como tema de dissertação, o Forte da Ponta d’Areia. Fiquei frio. A parte de Gramática eu não sabia. (Nunca soube) e o forte eu só conhecia de longe, da amurada da Avenida Beira-mar. Nunca havia ido à Ponta d’Areia que só se atingia, naquele tempo, de barco, ou na lancha do ‘Chocolate’, um mulato gordo e bundudo, cujo defeito nas pernas obrigava-no a andar desengonçado como um boneco de mola. “E agora, José? Olhei em volta e não achei quem me socorresse na gramática. A dissertação... como ‘soprar’ uma página inteira, pelo menos? Durante muito tempo fiquei olhando para o teto, com o lápis na boca, à espera de um milagre. E ele aconteceu. De-repente, chegou-me a inspiração e comecei”’- Oh! velho epônimo dos campos, por que permaneces de pé quando os teus coévos já tombaram?!’ E por aí fui, arrimado na citação de Afonso Arinos, numa embromação de grande estilo que me valeu os 70 pontos inteiros! “Numa visita que nos fez outro professor do Pedro II, do Rio de janeiro, Mata Roma, após ler-lhe essa minha composição, mandou que eu ficasse de pé, e apresentou-me com estas palavras: ‘- Este é o autor, Carlos de Lima. Inteligente, mas vagabuuuuuundo! e encompridava o adjetivo para dar mais ênfase à esculhambação. “Não se deduza daqui que o Mata Roma fosse mau. Ao contrário, tinha um grande coração, nós o adorávamos e ele gostava de nós. Em três ou quatro domingos reuniu-nos no quintal da casa do Sr. Bandeira, na rua dos Afogados, com a rua das Flores (atual Sindicato dos Bancários) para, de picaretas e enxadas nas mãos, construirmos uma quadra de vôlei e basquetebol, com o material que ele conseguiu pedindo aos seus amigos comerciantes. E todos trabalhavam alegres e felizes para alegra o mestre! 4
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito.“LICEU MARANHENSE – MEMÓRIA, PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO”.
“Ali jogaram os times ‘Oito de Maio’, ‘Vera Cruz’, drible’ e outros mais, cujos nomes agora me escapam. Eu era muito ruim atleta e sempre mofava no banco de reservas, pois o técnico não tinha coragem de me escalar. Um dia, porém,. por premente necessidade, visto como os ‘cobras’ tinham sido eliminados por falhas, e como não havia mais ninguém, foi obrigado a me por na quadra. Por favor, acreditem, eu juro de pés juntos: perdíamos por um ponto, faltava pouco para acabar o jogo; no último minuto passaram-me a bola; lancei a ‘pedrada’ e ... fiz a cesta da vitória do ‘8 de maio’! “Eram craques desse tempo: Rubem Goulart, Paulino e José Carvalho, Gontran, Eurípedes Chaves, José Dourado e muitos outros. “No mirante dessa casa da rua dos Afogados deu-se um fato doloroso: um filho do Dr. Fontenele, Chefe de Polícia, matou, acidentalmente, com um tiro, o colega do Liceu, filho do Sr. bandeira; examinava o revólver, ou brincava com ele, quando a arma disparou mortalmente o amigo. “Foram meus colegas de Liceu, entre outros, José Chagas (não confundir com o poeta), Bernardino..., Celso Figueiredo (Banco do Brasil), Tácito Barreiros Martins (Banco do Brasil), Tasso Vieira, João Duailibe (engenheiro), Lisle Novais, Listênia Taboada, Celeste Vieira, Danúzio e Franklin da Costa, Colbert..., José Borgnhet (Nada a ver com o político), Ivar Madureira (médico), Elci Freitas, Paulo Castelo Branco, Alexandre Costa (senador), José Figueira (Não é o desembargador), por apelido ‘Carioca’, Pedro Ferreira, Jomar Roland Braga, Agderson Carvalho, Jorge Mota, Mário Rego, etc., etc. “José Chagas era um preto alto, sempre risonho, irmão do motorista de praça muito popular chamado ‘Vareta’. Nossa professora de Geografia era D. Zoé Cerveira, uma mulata enorme e meio estrábica. Severíssima. Nesse tempo faziamse duas provas parciais por ano e algumas argüições para notas mensais. Essas provas mensais eram sempre corrigidas em aula. Numa dessas correções, D. Zoé mostrou uma prova, pedindo que se identificasse o autor. Como mostrasse uma fisionomia alegre e acolhedora, o que era raro nela, o Zé Chagas, esperançoso de uma boa nota, apresentou-se. E D. Zoé, dirigindo-se à turma: ‘- Vejam o que esse imbecil escreveu: Os relevos da Europa como vêm no capítulo anterior... ’ Tudo copiado timtim por timtim do livro de Aroldo de Azevedo! “Mata Roma ensinava Português. Certo dia, discorria sobre as vantagens de recente reforma da língua, elogiando as novas regras que permitiam acentuar qualquer palavra, mesmo sem saber o significado dela. Lá atrás, o Adgerson Carvalho, péssimo aluno, rei da molecagem, ergueu a mão: ‘- Fale, disse o mestre.’. E ele, muito sério: ‘- Professor, por obséquio, acentue esta palavra: bolololocofto.’. ‘- Acentuo já, meu besta,’ e , abrindo a caderneta, pespegou-lhe um redondo zero e expulsou-o da sala. “De todos os companheiros ao que mais me ligava era o Danúzio Franklin de Oliveira Costa, o ‘Fenômeno’, irmão do grande ensaísta Franklin de Oliveira. De estatura meã, forte e feio, a cabeçorra valeu-lhe o apelido. Era calado, arredio, triste, e não sei se foi isso que nos aproximou. Gostávamos muito um do outro, eu lhe frequentava a casa, um sobrado, na ladeira da rua das Barrocas (Isaac Martins). Todas as vezes que nos encontrava, sempre juntos, sentenciava Mata Roma: ‘- Assinus assinum fricat, e traduzia: um burro coça o outro! “Uma única vez, em toda a minha vida, fui reprovado: no 4o. ano do ginásio e em Latim. Fui estudar nas férias com minha prima Marília, aluna distinta do “Santa Teresa’, para prestar exame de segunda época com o mesmo professor Arimatéa Cisne. “Por falar nele, vale a pena descrever-lhe a figura e o caráter: era alto, vermelho, gordo, o bigode cobrindo-lhe inteiramente a boca, a roupa sempre amarrotada, os bolsos cheios sei de quê, as pontas dos dedos escuras de nicotina, pois, além de fumar exageradamente, acendendo um cigarro no outro, chupava a bagana até não, poder segurá-la sem se queimar. Fora padre, tinha um simplicidade, uma candura, que beiravam a puerilidade, destes tipos desligados para quem tudo está bem. Não tolerava burrice. Contou-me o ‘Zé Careca’ (José Araújo, conselheiro do TCE) que, numa argüição de Matemática, o velho Arimatéa apertava-o, passando no quadro negro carroções, equações, que ele não conseguia resolver. Perguntou-lhe o professor, afinal, o que sabia? Respondeu o José: ‘- Eu só sei cousas difíceis, logaritmos, cálculo integral, etc.’ O velho mandou chamar a mulher: ‘- Iaiá, manda para cá todos os alunos que estiveram na casa (‘Colégio Cisne’, na rua de São João (13 de maio). Com a presença de todos, declarou: ‘Vocês estão diante de um gênio (e apontava o Zé Araújo), este homem sabe tudo, sabe mais do que eu, do que todo mundo! Não pode permanecer nesta escola. Dá baixa nele agora.’ Disse-me o Zé que só consentiu na sua permanência no Colégio Cisne por intervenção de uma pessoa muito importante, muito amiga de seu pai e do velho Arimatéa. “Aula de Latim: ‘- Seu Paulo (Paulo Castelo Branco, ou Paulo Pupupu, porque era gago), decline Ora orae. Paulo dizia apenas o começo das palavras deixando incompreensíveis as terminações, pois a verdade é que não sabia a declinação. Arimatéa não gostou daquela burla, mandou que repetisse. Ele gaguejou e repetiu sem melhor resultado. Arimatéa: ‘- Diga de novo’, ordenou, com a mão em concha no ouvido. ‘- Qui, qui, qui eu já disse e não di, di, digo mais! “De outra feita, ensinava Português, voz passiva e voz ativa. ‘- Eu comi a galinha. Passe para a voz ativa, seu Paulo. ‘- A ga, ga, galinha me, me, comeu!’ ‘- Meu filho, tu não lascas, tu não lascas mesmo nada!, respondeu o Arimatéa, esfregando a palma da mão direita no dorso da esquerda.
“Ainda a propósito, certa vez fui companheiro do velho mestre numa viagem a Ribamar [São José de Ribamar], no tempo das ‘lotações’, pequenas e muito desconfortáveis caminhonetes, que antecederam os ônibus. Viagem enjoada, demorada, com muitos ‘pregos’. Os radiadores antigos eram expostos e o do nosso carro tinha como rolha um pedaço de buriti mal talhada, que deixava escapar, a cada solavanco, na estrada esburacada, uma porção de água quente que vinha sobre nós pela abertura larga, outrora, houvera um pára-brisa. O chofer era um velho mal vestido, com uns óculos remendados com papel e barbante, um pobre coitado que tirava o sustento da família a ir e vir, todos os dias, naquele calhambeque. As reclamações eram muito grosseiras, a que ele, pacientemente, fazia ouvidos de mercador. O professor Arimatéa permanecia silencioso, alheio a todos aqueles percalços, chupando pachorrentamente, seu cigarrinho. À chegada, depois de horas e horas de percurso, todos os passageiros profundamente irritados, intimamente só desejavam bater no velho. O Arimatéa foi o primeiro a descer. Apertou a mão do motorista, abraçou-o carinhosamente e disse: ‘- Meu amigo, muito obrigado. Foi uma viagem excelente, muito obrigado !’. Depois disto ninguém teve coragem de dizer alguma coisa. “Outros professores do Liceu eram Milton Paraíso (Física), Jerônimo Viveiros (que me ensinou a gostar de História), Mário Soares (responsável por eu detestar Matemática até hoje) Flor de Lis Vieira Nina (História), Amaral de Matos (irmão do médico), professor de Matemática, Nascimento de Moraes (Geografia). Cometa compareceu uma única vez no semestre, para fazer prova. Chegou e perguntou: ‘- Qual é a matéria dada? ’. ‘-Professor, informamos, esta é a primeira aula! ’. ’- Então escrevam: dissertação: Fascismo e comunismo.’. A prova era de Geografia! O professor Braga ensinava inglês (Diziam os entendidos que não sabia inglês), mademoiselle Mariah, francês, Vicente Maia (inglês), Escrevia nos jornais muitos versos nesta língua), Maria Mendes (francês), Luís Gonzaga dos Reis (química). “Contava-se deste mestre a seguinte anedota: Gordo, corado e calvo (muito parecido com o comentarista esportivo Luis Mendes), sempre de terno branco, tinha um estranho sestro em três tempos: 1o.) um aperto com os cotovelos nas ilhargas, os braços dobrados como quem vai fazer cooper; 2o.) sungava, então, as calças com o auxílio da parte interna dos pulsos, à altura da cintura; 3o.) finalmente empalmava a genitália e dava-lhe um súbito puxão para cima. Uma vez, descrevendo a alambique, disse que se compunha de corcúbita, e comprimia a costelas, capitel (deu um aperto na cintura) e serpentina, no momento exato em que repuxava os ovos. “Foi no Liceu que conheci José Erasmo Dias, mais adiantado do que eu, inteligência brilhante, para quem todo mundo previa um futuro extraordinário. Infelizmente deixou-se vencer pela bebida... Fez muito, escreveu, discursou, foi deputado estadual; poderia, porém, chegar às culminâncias e não chegou. “O recreio fazia-se no pátio interno, onde briguei pela primeira vez. Conto: Nesse pátio jogava-se futebol com bolas de papel, pedras, apagadores de lousa, pedaços de pau, o que fosse. Os jogadores, em grande número, chocavam-se uns com os outros, chutava-se a esmo, para qualquer lado, apenas para gastar energias. Num desses lances, o pedaço de pau que chutei subiu demais e acertou a boca do Bernardino, um caboclo do interior, forte e zangado, que partiu para agredir-me. Instintivamente, em puro reflexo, dei-lhe um soco em cada olho, antes que pudesse atingir-me. Surpreso com a reação daquele fedelho magro, ele ficou por instantes meio atordoado, esfregando os olhos, enquanto os colegas entreviam e cobriam minha retirada para a sala de aula. Ele, porém, jurou-me, desafiou-me durante toda a semana, chamando-me covarde. Por mais que lhe pedisse desculpas, com este meu espírito cordato, explicando-lhe que tudo não passara de um acidente, que minha raiva momentânea se desfizera e não havia motivo para levar o desentendimento adiante, ele queria brigar. Afinal, convenceu-se e ficamos amigos e a última vez que o vi, já maduro, nos abraçamos, mas sem lembrar o ocorrido. “Lembro-me com saudade de muitos companheiros, como João Duailibe, hoje engenheiro, em São Paulo (irmão de Alfredo, Antonio e Alberto) cantando óperas, a plenos pulmões, em dueto com Tasso Vieira, este como soprano, aquele fazendo de tenor. “Os bedéis do Liceu eram Nerval Lebre Santiago, o Cunha e o Euclides, por apelido ‘Bentivi’, autor dos seguintes versos, estampados na porta do sanitário: “Jesus, Maria, José,/ santo Deus, quem nos acode?/ Helvídio Maia Martins/ a paciência nos fode/ é pior do que alastrim ceifando culhão de bode’, alusão à naturalidade piauiense do Diretor. Todos sabíamos de quem era a autoria, mas ninguém abriu o bico para denunciar o poeta. “Estes eram o Liceu e os colegas de meu tempo. Belo colégio, bons amigos, por onde andarão? Muitos, decerto, já se foram; de outros perdi o contato ... assim é a vida. Há anos, encontrei, casualmente, o Ivar Madureira, velho, grande cirurgião, no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de janeiro. Alexandre Costa é senador da República e vem se recuperando de uma trombose. “Outro episódio ressurge do passado. No largo do Carmo, na esquina da Rua do Egito, havia o bar ‘Excelsior’, dos irmãos Lobão, dois velhos gordos e sanguíneos, um dos quais tinha um belo calombo sobre a têmpora direita, do tamanho de um limão grande. Era um estabelecimento chique, amplo, com três portas para a praça e outras tantas laterais. A rua do Egito era estreita e para alargá-la demoliram o bar e a ‘Farmácia Jesus’ e ergueram, na metade do espaço, o prédio modernoso da Caixa Econômica. Nós, eu e o inseparável Danízuo, costumávamos gritar: ‘- Bicho Feio’ para o motorneiro do bonde ‘Gonçalves Dias’, quando ele fazia parada defronte do bar. Gritávamos e saíamos correndo, escapulindo pela porta lateral, perseguidos pelo ofendido, que, no entanto, era obrigado a voltar ao seu
posto, frustrado. Certo dia, lanchávamos, despreocupadamente, caldo de cana e ‘engasga-gato’ (um bolo, espécie de manuê), quando vimos, aterrados, o ‘Bicho Feio’ interditando a única porta da garapeira, que ficava na rua de Nazaré, ao lado da ‘Casa Ribamar’, especialista em instrumentos musicais e de propriedade do Sr. Almeida, pai do radialista Marcos Vinicius, espaço hoje ocupado pelo Banco Nacional. Gelamos, os dois e, sem qualquer combinação prévia, pusemos os copos sobre o balcão e desabamos para a rua, conforme nos permitia o corredor estreito entre o balcão e a parede. Ele não conseguiu agarrar-nos, mas, na passagem, deu violentos murros em nossas cabeças e costas. “De outra vez, participei de nova molecagem, no largo dos Remédios. Festa de Nossa Senhora dos Remédios, no mês de outubro, que João Lisboa imortalizou e eu ainda alcancei bela e animada, com muitas barracas de comes-e-bebes, de sortes, de leilões, multidão de povo passeando, após a reza, enquanto muitos ficavam apenas apreciando o movimento, sentados nas cadeiras que o pai de Jaime Souza, o velho ‘Cu Suado’ colocava na calçada, desde a casa das Arches da Silva até a porta da igreja. Eram duas filas longas, as cadeiras amarradas umas às outras. Nessa noite, sobraram alguns metros de corda, que ficaram emboladas, no chão. No prédio junto à Escola Normal (atual sede da Reitora da UFMA), morava o português Joaquim Braga, cuja filha era noiva do Dr. Antônio Pires ferreira, médico maranhense, recém-chegado à cidade. Todas as noites ele visitava a noiva e deixava a ‘baratinha’branca, conversível, cujo pneu socorro ficava exposto na tampa da mala, estacionada à porta. Não sei de quem foi a idéia, se do Adgerson, do Franklin (‘Mata Virgem’), do Danúzio, do Mário Rego (‘Carrapatinho’), do Jorge Mota (‘Cara Cagada’). O certo é que eu fazia parte do grupo que formou uma parede junto ao automóvel para esconder o incumbido de amarrar a ponta da corda no estepe da ‘barata’. Aí fomos para a praça defronte para esperar o resultado. Quando o Pires Ferreira despediu-se da noiva e deu partida, as cadeiras saíram arrastadas pela rua, uma fila após a outra, enquanto o Souza corria atrás, desesperado, a barriga volumosa atrapelando as pernas curtinhas, as abas do paletó aberta ao vento, gritando-lhe que parasse. Foi um Deus nos acuda, alguns pouco que ainda estavam sentados foram ao chão, felizmente sem maiores consequências, dado o adiantado da hora, de reduzida frequência. “E foi nesse meu tempo de Liceu que conheci uma menina, aluna do Colégio Santa Teresa, que seria, pouco depois, a grande paixão de minha adolescência. O engraçado é que comecei a namorar uma sua amiga, a Naná (Natália), bonita, comunicativa, e que viria a casar-se com o jornalista e político Neiva Moreira, e acabei enfeitiçado por Benzinho Mota. Mas esta já é outra estória.”.
LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA
“LIEUX DU MILIEUX” DA LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA / MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Silva (2013)5 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)6, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas: [...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. [...] as vinculações destes agentes a determinados lugares e “movimentos culturais” devem ser analisadas relacionando-se os demais posicionamentos tomados em domínios diferenciados e considerados estrategicamente como oportunidades para o estabelecimento de alianças que retroalimentam suas variadas formas de atuação – facilidades de publicação, nomeação para cargos públicos etc. Desta forma a ocupação de cargos públicos vinculados a atividades culturais como a Secretaria de Cultura, FUNC, SIOGE, Conselho Estadual de Cultura e o IPHAN, constituem-se em estratégias privilegiadas para as relações de aliança faccional, que implicam em relações de trocas e retribuições entre estes “intelectuais”, no trânsito entre os domínios político e literário. Assim considerados, justifica-se o percentual elevado dos agentes que ocuparam tais funções administrativas, buscando através do granjeamento das instâncias culturais do estado, condições de sobrevivência, econômica e principalmente literária, que um contexto como o maranhense, sem uma relativa autonomia deste espaço, não lhes poderia ofertar. 1900 ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS Transformação da OFICINA DOS NOVOS, pelo fato de alguns operários7 terem participado como membros fundadores da Academia, entre eles: Godofredo Viana, Vieira da Silva e Astolfo Marques; no entanto, Jomar Morais discorda e observa que a relação destes intelectuais com a Oficina dos Novos já não ia além do apoio e da simpatia. Jomar Morais faz esta afirmação baseado no registro de atividades concomitantes das entidades nos jornais da época. Um jantar de confraternização foi registrado entre as duas confrarias no Hotel Central em 15 de novembro de 1908, ou seja, as duas instituições existiram ao mesmo tempo, mesmo que por um curto período em razão do término da Oficina (CASTRO, 2008) 8: Convém ressaltar, que no ano de 1917, a Oficina dos Novos passou por uma reorganização e definiu como membros honorários os sócios da Academia Maranhense de Letras, outrora a ela ligados. Pelo quadro de membros efetivos que àquela data compunham o corpo social da Oficina, não é possível 5
SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 7 Assim eram denominados os membros da Oficina dos Novos. 8 CASTRO, Ana Caroline Neres. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: UM SÉCULO INVENTANDO TRADIÇÕES (1908-2008). OUTROS TEMPOS, Volume 5, número 5, junho de 2008-Dossiê História da América 6
encontrar nenhum dos nomes daqueles pertencentes à Academia Maranhense de Letras. CASTRO, 2008, obra citada. Essa autora considera que, talvez, a maior particularidade dessa instituição (AML) tenha sido a oficialização de uma história da literatura maranhense e com ela a construção de um passado para as nossas letras, elaborando uma história oficial das obras e dos autores mais importantes do Estado: [...] No próprio culto que rendemos aos nomes dos que nos engrandeceram e nobilitaram os dias idos, não vizâmos somente a homenagem que o dever nos reclama de cada um de nós, e a todos nos ordena. Evocâmo-los tanto para maior glória sua como para exemplo aos de hoje, de modo que possamos bem preparar os dias de amanhã. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 37, in CASTRO, 2008) 9. Continua: Para
tanto, além de reunir dados biográficos e literários, adotaram patronos para cada uma das cadeiras da Academia. Esses patronos deviam ser intelectuais maranhenses, já falecidos que marcaram a história literária do Estado, ou seja, na ausência de um passado literário estruturado, organizar-se-ia uma genealogia elevando alguns nomes para que formassem, de repente, o capital simbólico da instituição. 1920 TÁVOLA DO BOM HUMOR Em agosto de 1922, surge a antologia Sonetos Maranhenses, lançado pela Távola do Bom Humor, contando com: José Augusto Vieira dos Reis, Cypriano Marques da Silva, Chrysostomo de Souza, Joaquim de Souza Martins, Carlos de Castro Martins, e J. Ribamar Teixeira Leite, todos de escassa memória na história da literatura maranhense. Pretendiam reunir num volume mais de cem sonetos de autores maranhenses, dividida em duas partes, de poetas mortos e de poetas vivos, desde Gonçalves Dias e Odorico Mendes, até os novíssimos bardos. Graça Aranha deveria escrever a introdução. Compilados pela Távola do Bom Humor, conteria cento e cinquenta e seis sonetos de autores nascidos no Maranhão, contemplando desde Odorico Mendes até o ultimo aedo presente, revelando nomes ainda desconhecidos. Dedicados a nossa terra, e em homenagem a Antonio Lobo. ANOS 30/40 Barros (2005, 2013?) 10, ao analisar a literatura maranhense num recorte temporal de 1930 a 1960, afirma que, politicamente, podemos afirmar a existência de dois momentos: Primeiro, entre fins da década de 30 e metade da década de 40, quando Paulo Ramos foi Interventor (15/08/1936 – 23/3/1945). Barros (?) 11 considera ser importante destacar que, entre as décadas de 30 e 40, o fenômeno de aliciamento de poetas, romancistas e ensaístas foi um fenômeno nacional. Com Paulo Ramos, a máquina do Estado foi expandida. Houve um crescimento das instituições públicas. Surgiu um mercado de trabalho mais típico dos intelectuais. Estes, antes “reclusos à existência vacilante da boemia, de mestre-escola e do jornalismo provinciano” passaram a “compartilhar das responsabilidades administrativas do Estado” (CORRÊA, 1993): Paulo Ramos foi encontrar os intelectuais do Maranhão na Academia Maranhense de Letras (AML), “instituição concentradora da inteligência e dos mecanismos regulares e legitimados de um hipotético reconhecimento das qualidades literárias”. No contexto estado-novista, vários foram os intelectuais maranhenses que se destacaram no exercício da atividade pública, entre os quais, Agnello Costa, Clodoaldo Cardoso, Ribamar Pinheiro, Astolfo Serra, Luso Torres, Oliveira Roma e Nascimento Moraes. Tais intelectuais justificavam o Estado Novo enumerando suas consequências positivas (CORRÊA, 1993, p. 209219) 12. 9
CASTRO, 2008, obra citada. BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181, O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art10.pdf, acessado em 02/05/2014 11 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181 12 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luis: SIOGE, 1993. 10
Para Corrêa (2001), talentos ressalvados, Edmo Leda e Sebastião Corrêa morreram precocemente, e Erasmo Dias e Paulo Nascimento Moraes não construíram, de maneira organizada, obras literárias. Cedo também desapareceu Viana Guará. E alguns, como costumeiro, não confirmaram a vocação matinal, não deixando vestígio na história da literatura maranhense. Terminada a década de 30, os principais entusiastas da mocidade intelectual maranhense estavam radicados no Rio de Janeiro, onde acreditavam ter perspectivas de reconhecimento nacional como escritores e estudiosos: Neiva Moreira, Ignácio Rangel, Josué Montello, Oswaldino Marques, Franklin de Oliveira, Odylo Costa, filho, Antonio de Oliveira e Manoel Caetano Bandeira de Mello. Outros, como Erasmo Dias, Mário Meireles e Nascimento Moraes, permaneceram no Maranhão. (CORRÊA, 1993). Rossini Corrêa (1989) 13 vai identificá-los como a Geração de 30. CENÁCULO GRAÇA ARANHA Onde a jovem Geração de 30 vai congregar-se, estimulada que foram pelo Mestre Antonio Lopes da Cunha, professor do Liceu Maranhense. Josué Montello foi o orador na solene fundação do Cenáculo: De minha geração literária, em São Luis, eu era o primeiro a sair da província. Antolnio Lopes, mestre de literatura do Liceu Maranhense, professor de Faculdade de Direito e grande jornalista, havia-nos reunido à sua volta, sob a invocação do nome de Graça Aranha, num grêmio literário que tinha por sede o Largo do Carmo. [...] Do mestre de Canaã, Lopes não ensinara a insurreição exemplar, que o impelira a romper com a Academia e a tradição literária; ensinara-nos o seu lado academico, que o levara a escrever pouco antes desse rompimento, o primoroso confronto de Nabuco e Machado de Assis, na introdução à correspondência epistolar dos dois escritores. (CORREA, 2001, p. 212)14.
SUPLEMENTO “RENOVAÇÃO” Erguida por Antonio Lopes, nas páginas do Diário do Norte, que substitui tanto o Cenáculo Graça Aranha, quanto o Centro Maranhense de Artes e Letras. “Renovação” extingue-se com a debandada de quase todos os seus fundadores para fora da ilha, não deixando maiores frutos, mas deve ser lembrado pelo que representou para um punhado de jovens talentosos. Antonio Oliveira, diz que nos últimos trinta anos (1953, quando fala): Antonio Lopes da Cunha esteve sempre à frente de quase todos os movimentos literários promovidos pelos moços do Maranhão. Portanto, sua influencia na formação literária desses moços constituirá, sem dúvidas, um capitulo interessante da história da literatura maranhense . (p. 215). Foi Corrêa
da Silva quem sustentou o fogo do combate - afirma Corrêa (2001) 15. Daquela geração de 30, ninguém foi mais pranteado do que Sebastião Corrêa, que deixou inédito o livro de poemas Reminiscências. “REVISTA ATHENAS” Em 1939 aparece o primeiro número, e, nas palavras de Nascimento Moraes (1939) 16, tratar-se-ia de “uma arrancada” comprovadora de que “A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental”. Este é um momento em que a noção de cultura – e tradição – indicada pelo desejo da afirmação do termo “Atenas” ainda continua a apontar, sobretudo para uma tradição que valoriza a Europa, um texto velho, mas continuamente revitalizado. CENTRO CULTURAL GONÇALVES DIAS Nesse período, além da chamada Geração de 30, ou sob sua interferência/influencia, aparece o Centro Cultural Gonçalves Dias. No dizer de Corrêa (1989) 17, organizada com a participação de intelectuais experimentados, como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Clodoaldo Cardoso, Bacelar Portela e Nascimento de Moraes (pai), acrescido pelos representantes da mocidade, como Nascimento Morais 13
CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 15 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 16 MORAES, José Nascimento de. Uma arrancada. REVISTA ATHENAS, São Luís, p. 1-2, jan. 1939, citado ,por BARROS (S.D.). 17 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 14
Filho, Vera Cruz Santana, Arimatéia Atayde, Reginaldo Telles de Sousa, José Figueiras, Agnor Lincoln da Costa, Antonio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olimpio Tavares. Corrêa (1989, p. 66) traz o depoimento de um dos fundadores do Centro: “Sentimos que a Academia Maranhense de Letras atravessava uma fase de silencio e que a juventude não recebia estímulos no plano literário. Resolvemos, por isso, fundar uma agremiação que pudesse acordar a Academia e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens, nos encontros semanais, oportunidade para o despertar de tendências. A entidade significou, assim, um movimento de reencontro com a tradição literária do Estado e de estímulo às iniciativas no plano das letras”. Lago Burnett lançou sua primeira obra, Estrela do Céu Perdido (1949)
Outro dos fundadores declara que, teoricamente, o Centro já estava fundado, pois se reuniam no Bar Paulista, e à noite, na Galeria do Carmo, para declarar poesias e discutir literatura. Não era um movimento de escola literária, declara outro integrante a Corrêa (1989): o movimento era cultural, portanto, global. Envolvia tudo – não havendo nunca antes no Maranhão, um movimento neste sentido. Os encontros centristas aconteciam, então, já, no Casino Maranhense, no Clube Litero Recreativo Português, e na Escola Benedito Leite e, as solenidades mais representativas, no teatro Artur Azevedo. A publicação de revistas, enquanto veículos culturais foram duas, abarcando os ângulos histórico – Caderno Histórico – e literário – Caderno Literário. O então Governador Sebastião Archer da Silva deu total apoio, patrocinando algumas publicações através do sistema oficial do Estado, assim como cedendo espaço, para as jornadas semanais, difusão através da rádio oficial, e espaço na Revista da Academia Maranhense de Letras SUPLEMENTO LITERÁRIO DO DIÁRIO DE SÃO LUÍS, Do extinto Partido Social Trabalhista, começou a circular seu, sob a direção de Nascimento Morais Filho. O suplemento cultural já estava com 40 números publicados quando Lago Burnett e Ferreira Gullar assumiram a sua direção. E diferentemente de Nascimento Morais Filho, passam a exercer censura, decidindo que “Toda a matéria que não for solicitada deverá passar pela nossa censura” (CORRÊA, 1989, p. 89): “Refletiam, decerto, o contexto do CCGD, relacionado com as exigências da redação do Diário de São Luis. Entretanto, sob disfarce, o sarcasmo da história se processava, e José Sarney, polemicando sobre o poético com os centristas, começava a escrever para o publico, sob beneplácito do Senador Victorino Freire, o qual na década seguinte, o lançaria na política e a quem viria a combater e suceder historicamente”.
Depois, de meados da década de 40 até meados da década de 60, período correspondente à oligarquia vitorinista18 que será substituída por outra, a oligarquia Sarney, em 1965. Informa Barros (2005) 19: Os interventores que substituíram Paulo Ramos: Clodomir Serra Serrão Cardoso (23/3/1945 – 7/11/1945), Saturnino Belo (16/2/1946 – 10/04/1947) e João Pires Ferreira (10-14/4/1947). Os governadores no período vitorinista: Sebastião Archer (1947-1951), Eugênio Barros (1951-1956), José de Matos Carvalho (1957-1961) e Newton de Barros Bello (1961-1966). Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geração de 45” e, em ambos os momentos, vozes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto para reerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas.
“ALVORADA” Jornal do Colégio de 2º Grau “Liceu Maranhense”, então principal escola de Ensino Médio do Estado, é um dos principais jornais que significa a maranhensidade a partir dos motivos da velha Atenas de Gonçalves Dias. Em sua primeira edição, em 10/05/1945, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos 18
Após o declínio do Estado Novo, a história maranhense foi marcada pela ascensão política de Victorino Freire, um dos principais articuladores da campanha do General Dutra à presidência e responsável pela organização do PSD no Maranhão, partido que tinha fortes ligações na esfera federal e mantinha-se internamente baseado em mandonismos locais e no uso sistemático da “Universidade da Fraude” nos processos eleitorais (in COSTA, Wagner Cabral da. O SALTO DO CANGURU: DITADURA MILITAR E REESTRUTURAÇÃO OLIGÁRQUICA NO MARANHÃO PÓS-1964. CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luís, UFMA/CCH, v. 2, n. 1, p. 183-192, 2004. 19 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181
verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! [...]. SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍSTICA DO MARANHÃO Fundada por Lilah Lisboa de Araujo em 1948, é mais um dentre tantas sociedades culturais surgidas nesse período. REVISTA SACI Lago Burnett e Ferreira Gullar, agindo como autônomos em relação ao CCGD partem para sua publicação, ilustrada por Cadmo Silva e o próprio Lago Burnett, com tiragem de 3.000 exemplares, aceitava colaboração: “[...] O Saci é a figura mais importante da História do Brasil... folclórico. Saci está em toda parte, dá cabo de tudo, remexe com tudo e provoca todo mundo. Mas Saci não é mau. Ele quer apenas se divertir. Ele sempre aparece assim, de repente, sem ser esperado. Não é de cerimônias. O Saci é o tipo mais simples que existe: não tem preconceitos, nem preferências e muito menos tabu. Não tem idade, não teve principio e nem terá fim. Ele é eterno como tudo que é bom e que é belo. Finalmente, como não bebe água encanada de outras fontes, de lagoas estagnadas ou de poços obsoletos, não sofre do fígado e vive sempre sorrindo, com a consciência tranquila de quem faz o bem. O Saci é muito feliz, podem crer! Na sua humildade, é o ente mais feliz do mundo.
Tinha como mérito a abertura à congregação pluralista de colaboradores - no entender de Corrêa (1989) – haja vista a diversificação do conteúdo, reunindo desde antigos cantares de trovador até poemas sem rima e métrica. A revista, bastante satírica, foi um excelente instrumento de critica ao ambiente literário de São Luis: [...] provocando, destacadamente, Corrêa de Araujo, Assis Garrido e Clodoaldo Cardoso. Não dispensava, também, a Academia Maranhense de Letras, para onde a maioria migraria, logo a partir da década seguinte, com José Sarney, Lago Burnett e Domingos Vieira Filho. O sodalício se apresentava ao trocadilho “sódá-lixo”, com os candidatos a acadêmicos denominados de substitutos de “ilustres mortos” e chamados por uma hipotética “ordem analfabética” [...] (CORRÊA, 1989, p. 112-113) 20.
JORNAL LETRAS DA PROVÍNCIA Tão efêmero quando a Saci, um periódico de artes e letras da cidade de São Luis do Maranhão fundado por Ferreira Gullar e Lago Burnett; aberto a colaboradores de todo o Brasil, com dois endereços para correspondência; divulgavam os livros recebidos também no Suplemento Cultual do Diário de São Luis. “MOVIMENTO DA MOVELARIA GUANABARA” A geração seguinte foi a “geração de 45”. Para Rego (2010) 21, também denominada de “Movimento da Movelaria Guanabara”, onde: O contexto literário da capital maranhense vai-se dinamizar a partir de encontros realizados na Movelaria Guanabara, de propriedade do artista plástico Pedro Paiva. A Movelaria Guanabara servia como espaço para a realização de encontros e debates que, segundo Rossini Corrêa, ali eram traçados caminhos imediatos de intervenção intelectual na realidade maranhense. Silva (2011; 2013?) 22, ao investigar as diferentes estratégias, espaços e modalidades de atuação em que se insere um conjunto de agentes que ingressaram na carreira literária entre os anos de 1945 e 1964 no Maranhão, identificou sete movimentos culturais, citando – em quadro – os seguintes: Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Movelaria, Grupo Ilha, Afluente, Opinião, Apolônia Pinto, e dentre os intelectuais analisados em seu 20
CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989 REGO, Rosemary. A “geração de 45” - (Ou o Movimento da Movelaria Guanabara), In GUESA ERRANTE, edição 221, publicado em 10 de setembro de 2010, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 22 SILVA, Franklin L. A LITERATURA COMO CONDIÇÃO: APONTAMENTOS PARA A ANÁLISE DAS ENTRADAS NA CARREIRA LITERÁRIA NO MARANHÃO CONTEMPORÂNEO (1945-1964). REVISTA OUTROS TEMPOS, V. 8, número 11, 2011 – Dossiê História e Literatura. SILVA, Franklin Lopes. LITERATURA, POLÍCIA E PESSOALIDADE: LÓGICAS CRUZADAS DE ATUAÇÃO NO ESPAÇO INTELECTUAL MARANHENSE (1945-1964). Síntese da monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 2013?, disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessdo em 08/05/2014 21
trabalho, alguns não participaram de qualquer movimento (seria o sétimo, de seu quadro): [...] superado o chamado Estado Novo, que no Maranhão transcorre sob a interventoria de Paulo Ramos, destacam-se entre os “intelectuais” expoentes e os “movimentos” em que se engajavam, nomes como os de José do Nascimento Morais Filho, José Sarney e Bandeira Tribuzi (todos contidos entre os casos aqui analisados), reconhecidamente lideranças do Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Ilha e Grupo Movelaria Guanabara, respectivamente. No interior destes “movimentos” destacam-se, vinculados ao Centro, Bernardo Coelho de Almeida, Nascimento Moraes Filho, Vera-Cruz Santana, Manuel Sobrinho, Tobias Pinheiro, Dagmar Desterro, Ferreira Gullar, Lago Burnett, Bandeira Tribuzi – deslocando-se logo depois para o Grupo Ilha. Em torno deste último transitavam José Sarney, Bello Parga, Carlos Madeira e Lucy Teixeira. Quanto ao Movelaria Guanabara, uniram-se Antonio Almeida e Lago Burnett, que até então compunha o Centro Cultural Gonçalves Dias.
REVISTA ILHA Fundada pelo Grupo Ilha, sob as lideranças de José Sarney e Bandeira Tribuzi, da qual também participava Lucy Teixeira; participava do conselho editorial Luís Carlos Bello Parga, que não chegou a publicar livro. O Grupo Ilha é uma dissidência do CCGD, formalizado com a presença e influencia de Bandeira Tribuzzi que fora afastado do Centro por faltas – faltara três sessões seguidas, contrariando o seu regulamento, que previa a participação obrigatória em todas as sessões; todos são úteis, ninguém é necessário... Trouxe consigo José Sarney, Erasmo Dias, Luis Carlos Belo Parga, Lago Burnett... A experiência de A Ilha, revista mensal de arte dirigida por José Sarney e Bandeira Tribuzi, representou, portanto, um desdobramento das atividades do poeta lusomaranhense enquanto organizador da cultura. A publicação contava com um conselho de redação integrado por Lucy Teixeira, Erasmo Dias, Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho e Luis Carlos Bello Parga. A Ilha nasceu só E sempre será Mas não hermética E inacessível Pode-se chegar a ela Por qualquer ponta Da Estrela Cardeal Não é preciso bussola Basta atravessar a água Mas não vão se afogar Com o peso da roupa Para alcançar a Ilha É Preciso que dispam As roupas que ainda vestem.
“MALASARTE” Mensário de cultura dirigido por José Brasil (teatrólogo), J. Figueiredo (pintor), e pelos poetas Corrêa da Silva e Bandeira Tribuzi. Em seu editorial – aos leitores – é informado que era formado por um pequeno grupo de alguns dos modernos artistas e escritores do Maranhão atual (1948...). Seus colaboradores foram: Corrêa da Silva, Erasmo Dias, Franklin de Oliveira e Oswaldino Marques, contrapostos a Bandeira Tribuzi e seu circulo, integrado por José Sarney, Lucy Teixeira, Belo Parga, Carlos Madeira, e Domingos Vieira Filho, e temperados por figuras atomizadas, àquela altura, como José Brasil e Lago Burnett (CORRÊA, 1989) 23: De onde transparece a conclusão de que muito embora aqueles rapazes tenham ficado rotulados como o Grupo Ilha ou Grupo da Movelaria, o pioneirismo do Modernismo maranhense está radicado no mensário de cultura Malazarte, cujos responsáveis diretos e compósitos foram Corrêa da Silva e J. Figueiredo / José Brasil e Bandeira Tribuzi.
23
CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989.
Rossini Corrêa (1993) 24 considera que a “Geração de 45” foi um momento de maior embate literário e resistência política. Ferreira Gullar, jovem intelectual, travou um embate literário com Corrêa de Araújo, que resultou em grande polêmica. A relação dos jovens intelectuais com os escritores de contexto literário diferente foi marcada por discordâncias e contendas. Foi na verdade o maior período de irreverência literária vivido no Maranhão, como se pode observar na afirmação de Lago Burnett: “De modo geral, havia de parte dos velhos simpatia por nós, mas nós éramos realmente insubmissos, atacávamos, atacávamos, atacávamos”: Voltando-se à Movelaria Guanabara, as discussões ali travadas não se limitavam apenas às discussões literárias, mas passando pelas artes plásticas, entre outros assuntos. O Centro Cultural Gonçalves Dias tinha como meio de divulgação de seu pensamento crítico, um suplemento cultural publicado no jornal Diário de São Luiz, de propriedade do senador Vitorino Freire. Devido o posicionamento questionante dos jovens intelectuais, este teve a sua concessão cancelada. Era o momento de repressão política vivida pelos intelectuais da Geração de 45 e o Maranhão dominado pela oligarquia vitorinista. (REGO, 2010) 25
Como já mostrou Gonçalves (2000) 26, analisando processos de (re)invenção do Maranhão, a partir do estudo da trajetória (fabricada, deliberadamente construída, que se apresenta como natural) de Sarney no campo político e no campo intelectual, a “geração de 50” (geração de 45) idealizou o Maranhão propondo um projeto coletivo para o mesmo, tal projeto foi convertido em projeto pessoal pelo próprio Sarney. Longe de romper com o “estado dinástico”, com o velho e o retrógrado (do vitorinismo) 27, Sarney, com seu projeto “Maranhão Novo”, reinstala e reabilita aquele estado de dinastia. Longe de ser natural, “o Maranhão foi inventado e reinventado, tantas vezes quanto puderam ser construídas estratégias para tal”.
ANOS 50/60 TIPOGRAFIA SÃO JOSÉ Da Arquidiocese de São Luís. Gerenciada por Bernardo Coelho de Almeida – entrementes incluído entre importantes estreias como as de José Chagas, Nauro Machado, Macedo Neto, Manuel Lopes e Nascimento Moraes Filho REVISTA AFLUENTE Sob a direção de José Carlos e José de Ribamar – Burnett e Gullar. Essa revista teve como particularidade, uma preocupação inédita com a pesquisa, questionando a preferência literária e o problema do livro no Maranhão (CORRÊA, 1989). Lago Burnett edita alguns livros de sua autoria, como O Ballet das Palavras (1951) e Os Elementos do Mito (1953). Além destas, Voz no Silêncio, de Manuel Lopes (1953); Canção Inicial, de José Sarney (1954) e Iceberg de Macedo Neto (1955). E assim partem Ferreira Gullar, Lago Burnett, Lucy Teixeira, entre outros. Ferreira Gullar quando se despede dos seus familiares, dos amigos e dos mestres, afirmando para os novos companheiros de ofício que no Maranhão não havia artes plásticas e que vivera uma fase pré-poética. Ou, como ainda confessou para a Folha
24
CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luis, SECMA, 1993, p.226. REGO, 2010, obra citada, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 26 GONÇALVES, Fátima. A INVENÇÃO DO MARANHÃO DINÁSTICO. São Luís: EDUFMA-PROIN-CS. 2000 27 O vitorinismo (1945-1966) caracteriza-se pelo domínio, da cena política estadual, de Victorino Freire, da Ocupação, contestado pelas Oposições Coligadas, que ascenderiam ao poder em meados dos anos 60, tendo início o sarneísmo; a Ocupação era acusada pelas Oposições de consolidar um projeto contrário às verdadeiras tradições maranhenses; trata-se do período de invenção da mística “Ilha Rebelde” na Greve de 1951 e de forte reatualização do mito da Atenas Brasileira. In COSTA, Wagner Cabral da. SOB O SIGNO DA MORTE: DECADÊNCIA, VIOLÊNCIA E TRADIÇÃO EM TERRAS DO MARANHÃO. 2000. 200f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. 25
de São Paulo em 200528: “Nasci em São Luís. Era uma cidade à qual as coisas chegavam cem anos depois. Para mim, os poetas estavam todos mortos. Essa era uma profissão de defuntos. Então, comecei como poeta parnasiano, com decassílabos e dodecassílabos. Só mais tarde tomei conhecimento de que havia outra poesia que não era rimada e metrificada: nenhum princípio a priori, nenhuma norma.”
Mais tarde, em outra entrevista, agora para a revista E (nº 77, SESC) 29, ao ser lembrado sobre uma afirmativa de Mário Faustino na qual dizia que o maranhense havia saído de São Luís e chegado ao Rio sabendo tudo de poesia e de artes plásticas, Ribamar/Gullar arrisca ser mais humilde: [...] A cidade de São Luís continua a ser uma terra de poetas, de pessoas estudiosas e apaixonadas pela literatura, especificamente pela poesia. Quando saí de lá, eu não tinha o conhecimento sobre arte que adquiri um tempo depois. Um dos motivos de ter saído de lá foi exatamente esse. Eu era apaixonado pelas artes plásticas, e lá não havia praticamente nada de artes plásticas. Não tinha museu, salão, galeria de arte, não havia nada. Sequer havia livro sobre arte nas livrarias. O primeiro livro de arte que li era do pai de um amigo meu. [...]
REVISTA LEGENDA Fundada por Nascimento Moraes Filho, publica várias obras de colaboradores, além de lançar outros livros de estreia, como o de José Chagas, Canção da Expectativa (1955). GALERIA DOS LIVROS do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados livros nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais: Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97) 30. SUPLEMENTO LITERÁRIO DO JORNAL DO MARANHÃO por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José Ribamar Nascimento. Nas manhãs de sábado reuniam-se todos por lá, agregando-se ao grupo José Carlos Sousa e Silva, Jamerson Lemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex. PLANO EDITORIAL SECMA
28
MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014 29 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014 30 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006
PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em 1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009 CONCURSO LITERÁRIO E ARTÍSTICO “CIDADE DE SÃO LUÍS” O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC), atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 – Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso. Para Leão (2008) Luís”:
31
, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São
[...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros. Bruno Azevedo (2012) 32 expõe sua revolta com os diversos concursos literários que eram realizados à época, afirmando: Nossas possibilidades de edição se resumem a duas secretarias de cultura que valem menos que a merda do pombo da cumeeira do Oscar Frota. Os editais são escritos por um paquiderme, executados por um protozoário e resultam em livros tão feios que, ao longo dos anos, recusei-me a ler vários por não suportar o contato com o objeto. Os caras não se importam com algo com o qual eu me importo muitíssimo, e isso me emputecia! Me inscrevi nesses editais por anos e anos, ganhei algumas vezes, mas nunca saía nada! É preciso que vocês entendam que um dia eu levei esse povo muito a sério. Eu até lia os poemas, porra!
31
LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 32 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014
Com o tempo, passou a me incomodar mais a atitude dos autores, que se sujeitam ao Cidade de São Luís todos os anos, sabendo do embuste, como se sujeitam aos editais da Secma (quando esta os faz). O trabalho deles ficava, ao logo dos anos, tão medíocre quanto o esquema todo. Parecia que os editais, antes de promover o tal fomento à produção, a viciava. Há de se tirar o chapéu ao funcionismo, conseguir travar gerações inteiras com uma estratégia de edição tosca e migalhenta como esta é um lance de gênio. Gente que, anos antes, tava amolando as pontas das facas aos murros. ANOS 70/80 no Maranhão convencionados GERAÇÃO LUÍS AUGUSTO CASSAS: [...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) 33. MOVIMENTO “ANTROPONÁUTICA” nasceu no Liceu34 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)35; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)36. Dinacy Corrêa (2010)37 diz ser intergrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 38, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponautica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”... RUA CANDIDO RIBEIRO
33
CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 34 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 35 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. 36 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 37 CORRÊA, 2010, obra citada 38 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008
Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 39, assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Em outro contato, Corrêa 40confirma: [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 41. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968).
“A HORA DO GUARNICÊ” Sobre o Guarnicê: Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente
39
CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014. 41 ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994 40
(HAICKEL, 201442; CORRÊA, 2014) 43. Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão (CORRÊA, 2014) 44. A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 45 [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica.. (In GUERRA ERRANTE, 2012).46.
LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas Lima (2003) 47 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros.
42
HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”. 43 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 44 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 45 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm 46 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm 47 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003
JORNAL A ILHA Surge em setembro de 1974, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas.
GERAÇÃO MIMEÓGRAFO Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato. Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê...
REVISTA VIVÊNCIA Ribamar Feitosa , ao lado de poetas estudantes da UFMA, em 1979, cria a revista, porta-estandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim. Também denominada Geração Mimeógrafo, e que integrou a última fase dos Párias. Ano - 92/9348.
ASSOCIAÇÃO MARANHENSE DE ARTES PLÁSTICAS João Ewerton é o presidente, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas; transitam, entre os anos 1970 e 1980: Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide.
SUPLEMENTO SETE DIAS Entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. 48
Informações de Marcelo Chalvisnki, e de Paulo Melo, através de correspondência eletrônica, em 30/04/2014.
PLANO EDITORIAL DO SIOGE Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE ; e outros de maneira independente (LIMA, 2013)49.
REVISTA VAGALUME Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro.
GRUPO DO GUARNICÊ “Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 50. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponautica. O grupo do Guarnicê, “nascido” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim, Nagib Haickel Filho), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011)51; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê. O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. Em1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero52. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim 49
LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 51 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 52 BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 50
Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão.
“AKADEMIA DOS PÁRIAS”. Lima e Outros (2003) 53 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem54. Durante todo o período de atividade da Akademia dos Párias, Marcelo Chalvisnki55 assinava 'Marcelo Silveira': Só passei a assinar Marcello Chalvinski a partir do segundo livro de poemas "Temporal", lançado no ano de 2005. O 'Canto do Tunico' foi uma referência em entretenimento de bom gosto, à época que a nossa Praia Grande estava recém restaurada e era de fato um lindo cartão postal. O nome homenageava o grande Tunico Santos (mestre nas artes da cachaçaria e dono de uma famosa farmácia). Tunico é o pai da poetisa Lúcia Santos e doZeca Baleiro. O bar em questão era comandado por Aziz Junior e Samme Sraya Santos. O que eles fizeram naquele espaço era realmente uma coisa bonita de se ver.
UNS & OUTROS A revista atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995.
“POEME-SE” Surge em 1985, e deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 56. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos: Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou”… 53
LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. LIMA e Outros, 2003, obra citada.. 55 In Comentário no facebook em 14/03/2015, acerca de uma pergunta de Ricrdo Leão por que mudara de novo. 56 LIMA e Outros, 2003, obra citada.. 54
Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. [...] Até 1980, eu costumava freqüentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela idéia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”57
“ESPAÇO” PAPOÉTICO! O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o
REVISTA UNDEGRAU Zeca Baleiro58, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 59. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha.
ANOS 90/00 E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas 57
CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 58 Sobre o apelido de Zeca Baleiro: “Não sabe aquele teu xará (José de Ribamar Coelho Santos), de ARARI ? Chegava à universidade, no tempo de estudante, com os bolsos cheios de balas (balinhas de hortelã, de café, de chocolate…), degustandoas, distribuindo entre as garotas e pegou, também, um apelido engraçado, que hoje o identifica como a celebridade Zeca Baleiro! Viu como é o negócio? Tem apelidos carismáticos…”. In CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-deanonimos-ilustres-15/, publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 59 LIMA e Outros, 2003, obra citada.
e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmicouniversitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)60
GERAÇÃO 90 Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Para Dyl Pires61, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito62 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Morando Portela, Aberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta.
POEISIS Ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande 60
http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm 61 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 62 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254
relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde63. Sobre esse movimento, Antonio Aílton64 deu-me o seguinte depoimento: O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo. A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale65, o maior e mais importante deles66, o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público. Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal. Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª Felis, como ocorreu logo depois. Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento.
CARRANCA Outro grupo que surge nessa época, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns,
63
LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. 65 Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. 66 Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome... 64
com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense67. Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca68: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais - determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu. O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta. Leão (2008) 69 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: [...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.
GRUPO CURARE Em 1995, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. [...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro ( LEÃO, 2008) 70. Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008).
67
LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico 69 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 70 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 68
As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego71. Antonio Aílton Santos Silva (2014) 72, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). [...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... [...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego. [...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais.
71 72
LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS - DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.
Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). [...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/ UFMA/ Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). [...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.
CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE / LATINIDADE Dilercy Adler (1995) 73 organiza a antologia (a primeira)– 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade74. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da 73 74
ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998.
Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 200475. Atualmente, Dilercy dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções...
SAFRA 90 Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros: [...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poemese, ex-integrante da Akademia dos Párias. 76
O GUESA ERRANTE Alberico Carneiro77 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno78. Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores: Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas
75
ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004. 76 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 77 ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html 78 Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/
consagrados, pois dá destaque aos novos, inclusive aos quase desconhecidos e aos desconhecidos, desde que suas produções apresentem valor no processo evolutivo da criação literária maranhense.79
REVISTA/EDITORA PITOMBA, Criada por Bruno Azevedo, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha: A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora: Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões Norte-Nordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poemese e do Chico Discos (AZEVEDO, 2012)80. Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo – escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou 8 livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogia A posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub, A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com trabalhos publicados nas revistas Cult, Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa.
POESIA MALOQUEIRISTA Também de 2002, o movimento nascido em São Paulo, do encontro de poetas que veiculavam seus libretos pelas ruas, de identidade mambembe; atualmente, na era digital, o coletivo reforça tais elementos com uma posição artística multifacetada, que mantém a poesia como base de linguagem, porém abrindo o campo de criação e troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídias. Convidados para se integrar ao grupo, os maranhenses Celso Borges, Reuben da Cunha Rocha, Josoaldo Lima Rego, além do cantor Marcos Magah, que participam de uma antologia organizada neste ano de 201481.
SOBRAMES-MA A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Maranhão –– lança, em 2003, sua primeira antologia: Arte de Ser. Cinco anos depois, 2009, aparece a sua segunda – Receita poética82.
EXPOSIÇÃO TREZEATRAVÉSTREZE83 79
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014 81 Jornal O ESTADO DO MARANHÃO. LEITURAS DE UMA NOVA LITERATURA MARANHENSE. Caderno Alternativo, São Luis, 13 de março de 2014, p.1. 82 HERBERT, Michel (Organizador). RECEITA POÉTICA – antologia. São Luis: Lithograf, 2009 83 http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-na-galeria-hum/ 80
De 2001, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta ou indiretamente, apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! “Poesia não é só poesia e nunca apenas poesia, mas diálogo e atrito com outras formas de expressão”. TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego
“MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” 84 Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz organizam a Antologia em 2013, após quase três anos de intenso trabalho. Obra em dois volumes, contendo, o primeiro, 999 poemas em homenagem ao Poeta Caxiense, e o segundo, o poema: “Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia”, de Alberico Carneiro85, completando mil poemas. Ainda, um terceiro volume, coletânea sobre a vida e obra de Antonio Gonçalves Dias, reunindo 46 pesquisadores86. E um quarto volume...87. A Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias é a quarta organizada nesse sentido, em todo o mundo. Reuniu poetas do: Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Portugal, Equador, México, Canadá, Panamá, Japão, e de Moçambique; dos Estados Unidos América; da Argentina, Bolívia, Venezuela, Espanha, França, Bélgica e Áustria. Do Brasil, diversos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Piauí, Sergipe, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte. Do Maranhão, a cidade de São Luís foi representada por 89 poetas, seguida de Caxias, Esperantinópolis, Guimarães, São Bento, Sambaíba, Carolina, Balsas, Palmeirândia, Pinheiro, Pedreiras, São Vicente Férrer, Vitória do Mearim, Codó, Paraibano, Turiaçu, Lago da Pedra, Coroatá, Pio XII, Dom Pedro, Cururupu, Presidente Dutra, São Francisco do Maranhão, Itapecuru-Mirim, Viana, Barra do Corda, Vargem Grande, São João Batista, São Bernardo, Barão do Grajaú. Há outros participantes sem identificação de país e/ou estado brasileiro.
“MARCHA PELA POESIA”
84 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b__parte_2; 85 CARNEIRO, Alberico. Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia. in ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ 86 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1; 87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. “Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013... Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’. Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.” In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - DIÁRIO DE VIAGEM. São Luis, 2014, no prelo.
De acordo com Teixeira (2014) 88, um novo grupo se forma, e que nasceu numa dessas redes sociais que circulam pela Internet. Vem se reunindo no Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho”. O autor da matéria não fala quem são os seus membros, mas trata-se de jovens com idade entre 25 e 30 anos, já com uma vasta produção divulgada através dos meios digitais, que já podem compor uma coletânea.
“CATÁLOGO DOS CAFÉS LITERÁRIOS DO ODYLO” organizado por Ceres Fernandes, dos quatro anos de palestras, debates, entrevistas e mesas redondas, 30 cafés, que editado por Jomar Moraes. Certamente mais um documento de atividades literárias realizadas em São Luís89...
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 2013, surge um novo espaço para discussão da literatura ludovicense...
88
TEIXEIRA, Ubiratan. HOJE É DIA DE... POETAS SE REUNEM NO “ODYLO”. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luis, 25 de março de 2014, sexta-feira. Caderno Alternativo, p. 8, disponível em http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2014/04/25/pagina266627.asp, : Rapazes e moças que formam o grupo maranhense "Marcha pela Poesia" estarão se reunindo hoje no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho para escutar mais um luminar de nossa história literária, desta vez a poetisa, cronista e contista Arlete Nogueira da Cruz Machado e debaterem com a convidada aspectos importantes da cultura literária maranhense, sobretudo aqueles que forem destacados por Arlete ao longo de sua conversa. 89 FERNANDES, Ceres. Correspondência pessoal. Em 11 de março de 2014. Via correio eletrônico.
GERAÇÃO CASSAS90 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Poética Brasileira
A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012)91. Ramos (1972, p. 9-10)92 afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases, sendo, para este estudo, considerada as duas últimas: 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com êxito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta1 e neoconcretista , ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenômeno que também ocorreu no âmbito nacional; 9ª fase – a partir de 1969, de jovens que buscavam, através de movimentos como a Antroponáutica , novas formulas poéticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores . A poesia do Século XX é dividida em “gerações”, começando pela de Sousândrade, presidente de honra da Oficina dos Novos; seguindo-se a geração de Correa da Silva, a de Bandeira Tribuzi, e a de Luís Augusto Cassas (Corrêa, 2010)93. Rodrigues (2008)94 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala. Para Borges, Abreu, Garrone e Chalvisnki (2016 - os editores da Antologia da Akademia dos Parias) 95, a poesia produzida no Maranhão até o final dos anos 1940 permaneceu presa a uma linguagem do final do século 19, predominantemente parnasiana. Foi o poeta Bandeira Tribuzi, voltando de Portugal, onde fora seminarista, quem trouxe para São Luís, em 1947, algo do modernismo português de Fernando Pessoa e Almada Negreiros, além de poetas brasileiros da Semana de Arte Moderna de 22, principalmente Mario de Andrade e Manuel Bandeira. Ainda assim, os escritores que começaram a escrever nos anos 1950 na capital maranhense foram muito mais influenciados pela Geração de 45, cuja proposta era combater os ‘excessos’ do modernismo brasileiro. Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas96 abrem-se com o poeta:
90
7 - Issuu DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. 92 RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. 93 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 94 RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014 95 BORGES, Celso; ABREU, Fernando; GARRONE, Raimundo; CHALVINSKI, Marcelo. AKADEMIA DOS PÁRIAS: A POESIA ATRAVESSA A RUA. Teresina: Halley, 2016. 96 Microsoft Word - Revista Garrafa 22 modelo WORD (ufrj.br) 91
Jorge Nascimento (1931)97:
Jorge Nascimento nasceu em São Luís, a 8 de janeiro de 1931. Filho do senhor João Pereira do Nascimento, que nasceu no município de São Bernardo e de dona Neusa Pereira do Nascimento, nascida na Parnaíba, Piauí. O pai trabalhava como vigia do Matadouro do hoje bairro da Liberdade e de D. Neusa, que era a mãe de poetas, uma excelente cuidadora das prendas domésticas, cujo dom era fazer milagres com o pão nosso de cada dia posto na mesa, no ponto e toque certos para o paladar. A infância, a adolescência e a mocidade de Jorge e seus vários irmãos, entre eles o poeta e fotógrafo José Maria do Nascimento, aconteceu no bairro Areal, hoje Monte Castelo. Fez o curso primário, na Escola Modelo Benedito Leite e o secundário, no Colégio Ateneu Teixeira Mendes. O saudoso ensaísta e jornalista Clóvis Ramos, o único biógrafo de Jorge, resgatou sua peregrinação de jornalista e escritor: “Em Belém do Pará, trabalhou no Conselho Nacional de Petróleo, de 1950 a 1952(?). Em São Luís, trabalhou no Jornal do Povo, como revisor e repórter, 1956-58(?); no Jornal Pequeno,1975(?)-79(?); no O Estado do Maranhão, 1980-(?), como repórter e copidesque. Na Rádio Educadora, trabalhou entre 1964 e 1966. Foi um dos colaboradores da revista Legenda, na década de 1960. Em 1956, está no Rio de Janeiro, onde se submete a Concurso para revisor do Jornal do Brasil. Aprovado em segundo lugar, trabalhou nesse periódico, entre 1957(?) e 1959. (O poeta Chagas Val dá o acontecimento com data de 1956(?). Em Pernambuco, foi revisor tipográfico, respectivamente, do Jornal do Comércio, 1974; do Diário de Pernambuco, 1975; e do Diário da Tarde, também em 1975. De volta ao Rio de Janeiro, lá trabalhou no Ministério da Educação e Cultura, como revisor de textos, indicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. Foi Secretário da Fundação Joaquim Nabuco, em São Luís, entre 1981 e 1982”. Jorge Nascimento morreu no Hospital do Servidor Maranhense, na noite de 11 de agosto de 2020, após passar por duas cirurgias, do estômago e do esôfago, às quais não resistiu. Foi velado em sua residência, no São Francisco, por familiares e amigos e, sepultado, no dia seguinte, no cemitério Jardim da Paz. Jorge Nascimento: memórias de um poeta andarilho – JP Turismo
97
JORGE NASCIMENTO – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO (antoniomiranda.com.br)
Auto-retrato Cresce dentro de mim, doloroso, humilde pranto; Alma surda e esquizofrênica, inútil de tristezas, Desertei da vida pela aspiração do amargo canto E mesmo assim ainda tive que banhar-me de torpezas; Quem agora irá prover a insanidade do meu sonho, Eu, que sempre tive o bem ajustado e negro desvario De nunca permanecer nas proporções onde me ponho, Errante e só, comandado pela minha bússola de desvio Sempre a refulgir, nos oceanos de uma sinistra paz; Meu reino imbecil, descoberto por defeituoso impostor, Repetente de todas as classes da infâmia sempre audaz; Minha terra sombria de obscenidade, na voz de um homem A quem determinaram inteira sujeição ao destino opressor, Abençoado, enquanto vida tiver, as horas que me consomem! De “AUSÉNCIA RESTITUÍDA, Poesia”, edição do Departamento de Cultura do Maranhão, Secretaria de Educação e Cultura, 1972. O livro está dividido em duas partes: “Átila” e “Nódoas de Carvão”, das quais foram selecionados os sonetos: ÁTILA: Antes da Batalha Se, de repente, a presença da morte fosse mais além do pensamento, Numa definição de eternidade julgada para o obstáculo do castigo, O que seria de mim, sem filosofia para escapar deste vil tormento De dúvidas flagrantes para destruir o alvo do meu coração inimigo ? E padeço despido de metafísica ouvindo o lento suor cu.e vai crescer Dentro de minha rebelião pornográfica, contra este espírito de calma, Assassino mercenário, vindo do exterior doido para matar o meu prazer, Inútil e degenerada fortaleza da cristandade, jagunço dos céus da alma, Imaterialissimamente abstraio, caindo aos pedaços para vir saudar-me A mim, seu dono e senhor nas solidões onde o pântano nunca se atreve Com a megalomania dos seus bruxedos universais na tome de retalhar-me, Igual a tantos outros viajantes reverenciosos nas enfermarias esganados, Como as vacas esquartejadas no matadouro fulminante desta hora breve, Deslizando no corredor vermelho sem os gritos dos infortúnios lancetados ! O Arconte Executado A boca dos mortos é igual a um escorpião corrupto sem perspectiva, Observada apenas pelo verdugo quando vai se ajoelhar com o destino, Depois que os sentidos caíram com o olhar da fronte real e fugitiva, Longe do estrado, além. da crina verde do fantástico cavalo assassino, Amaldiçoando as pastagens toscas com os resíduos da geada indiferente,
Doendo a imaginação com a infinidade dos longos amores já corrompidos, Antes de receber na masmorra o candelabro para iluminar o inconsciente E devolvê-lo aos mendigos farsantes e cruéis, na pocilga dos grunhidos, Reacendendo a vergonha da nudez que recorda o Santo da montanha homicida Para destruir o ilusionismo da sobrevivência, com o logro da eternidade, Quando tudo está consumado, até mesmo a última parcela da Ceia dolorida, Repercutindo nas trevas anónimas o grito selvagem do Inquisidor no cansaço, Onde a luz do jazigo será insculpida para a nascente origem da deslealdade, Com a epiderme da Face cravando-se nos antropofágicos filamentos do espaço!
NÓDOAS DO CARVÃO: Desencontro Sol é coletivo de relâmpagos, quando chovem estacas do pensamento, Descendo em verticalidade dolorida ao remontar o passado no desejo Pavoneando-se de lascívia, ao ver o negro antes do seu linchamento: Comovente macho africano, subjugado na raiva inflamada de um beijo Lambendo o corpo todo, contra a maciez dos seios nos olhos impuros Desta branca tão bela quanto o transatlântico voando pêlos espaços O peso de suas ancas para ferir anaconda enroscada acima dos muros De vegetais sanguíneos, defendidos por quatro serpentes: os braços, Mordendo-se desesperados na forragem dos cavalos, perto da vacaria, Agora em silêncio furioso rolando pela grama que logo se desprende No combate dos centauros de duas cabeças beijando o chão da agonia, Sem perceber o latido dos cães rastejadores atrás da honra perdida, Trazendo à frente o caçador de adúlteros num espanto que ofende: Olhando o negro agressivo espojado em bestialidade no animal da vida! JORGE NASCIMENTO – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO (antoniomiranda.com.br)
continuando com Arlete Nogueira (1936)98,
Fonte: http://users.elo.com.br ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ Arlete Nogueira da Cruz (Machado) nasceu na estação ferroviária de Cantanhede, no interior do Maranhão, em 1936. Iniciou seus estudos na cidade em que nasceu, Cantanhede, no interior do Maranhão. Aos 12 anos, sua família mudou-se para a cidade de São Luís, onde ela frequentou, entre outros, o Liceu Maranhense. Seu pai, Raimundo Nogueira da Cruz, foi agente da estrada de ferro, e sua mãe, Enoi Simão Nogueira da Cruz, autora de poemas e crônicas. Seu primeiro livro, A Parede, foi escrito quando tinha menos de vinte anos e obteve o 3o. Lugar no Prêmio Júlia Lopes de Almeida, da Academia Brasileira de Letras, em 1960, após ser inscrito naquele concurso pelo escritor Josué Montello[3]. Licenciada em filosofia pela Universidade Federal do Maranhão, cursou o mestrado em Filosofia Contemporânea na PUC/RJ, defendendo dissertação sobre Walter Benjamin. É professora aposentada da UFMA e exerceu também a docência na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde lecionou Filosofia Contemporânea. É a autora de uma relevante e numerosa bibliografia, incluindo o clássico Litania da Velha (poema, edições: 1995, 1997, 1999, 2002). Companheira do poeta Nauro Machado por uma vida inteira. Os poemas aqui compartilhados foram extraídos do livro O quintal e das páginas Jornal de Poesia e Poesia dos Brasis. Livros publicados: A parede (romance, edições: 1961, 1993, 1998), Cartas da paixão ensaios filosóficos, edições: 1969, 1998), Compasso binário (romance, edições: 1972, 1998), Canção das horas úmidas (poesia, 1975), Litania da Velha (poema, edições: 1995, 1997, 1999, 2002), Contos inocentes (edições: 2000, 2001) e Trabalho Manual (Imago Editora, Rio, 1998), através de um convênio entre a Biblioteca Nacional e a Universidade de Mogi das Cruzes.
LITANIA DA VELHA (fragmento) O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça. O campo se perde embebido em jenipapos para a manhã sufocada. Os bois da infância ruminam sua paciência e espreitam essa audácia. — O tempo dói na ferida aberta da recordação. 98
Arlete Nogueira da Cruz – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
A velha cata os pertences no quarto que exibe a sua miséria. A sacola esconde improvisos da vida e ganhos equivocados. A rua se reserva precária aos passos vacilantes, entre lembranças. A pobre mulher sai maltrapilha, sem pressa, carregando brio e saudade. Estes são os primeiros versos do livro-poema LITANIA DA VELHA, de Arlete Nogueira da Cruz (São Luis, 2008) já em sua quinta edição, agora como um volume de uma caixa contendo também o livro “Trindade Dantesca” do grande Nauro Machado e um DVD com dois curta-metragens. O curta “Litania da Velha”, de Frederico Machado (1977) ganhou prêmios nacionais e internacionais.
Eloy Coelho Neto (1924),
Nascido em 27 de novembro de 1924, na cidade de Balsas, Eloy Coelho Netto começou a escrever suas crônicas e poesias ainda na juventude, quando estudava Direito em Fortaleza, capital cearense. O escritor também se notabilizou por ser um dos principais autores de estudos e obras sobre o sul do Maranhão, produzidas ao longo de sua carreira. Teve oito filhos. Faleceu em 10 de agosto de 2002.
Cunha Santos Filho (1952)99, Poeta da geração Hora de Guarnicê, dos anos 1970. Aparece com os nomea de Jonaval Cunha Santos e Homaval Medeiros da Cunha Santos em diferentes fontes. Nascido em Codó, Maranhão, a 10 de novembro de de 1952, e seu texto de estréia é Meu calendário de pedaços (1978). Irreverente, audacioso, ousado, Cunha Santos costura sua própria dicção poética sob sarças de fogo e com muito fôlego. Com desassombro, investe contra os podres poderes responsáveis únicos pelas injustiças sociais.Antes de mais nada, o poeta reforça o conceito de que poesia é, acima de tudo, emoção e sensibilidade, a parte anímica do ser em seus desdobramentos e conjunções, com a força telúrica das percepções sensoriais. O poema, sim, é outra coisa, pois, como um filho, depois de ser gerado e gestado, pronto e parido, precisa ser criado. E é aí, nesse dado momento, que o poeta se vale do potencial de que dispõe para criar os melhores frascos e embalagens para guardar suas essências. Títulos principais: A Madrugada dos alcoólatras, Odisséia dos Pivetes, Paquito – o anjo doido e Pesadelo. In http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina329.htm Manoel dos Santos Neto100 traça sua trajetória: Boa parte do meu caminho, eu o tenho percorrido sob a inspiração deste companheiro exemplar: Jonaval Medeiros da Cunha Santos, que se assina como JM Cunha Santos. Por ele sempre tive a maior admiração. Afinal, desde cedo o reconheci como um poeta de rara sensibilidade, que põe seu ofício e sua arte a favor dos marginalizados, dos desvalidos, dos famintos de pão, de justiça e de solidariedade. É impossível ignorar que a literatura de Cunha Santos é marcada por uma flagrante indignação e protesto contra as injustiças sociais, os regimes autoritários, a censura, a violência, a tortura, a intolerância. Como em toda arte, também na poesia existem os fora-de-série. É o caso de Cunha Santos. Figura humana fora-de-série, ele é admirável como poeta, jornalista e escritor, personalidade ímpar, de qualidades inegáveis. Não é demais frisar que Cunha Santos ensinou uma geração inteira de maranhenses a enxergar o sofrimento como experiência poética. Muito ricas são a trajetória e a obra desse escritor genial, que escreve poemas que tratam do sentido da vida, da solidariedade, do amor e da amizade, das angústias, das grandezas e heroísmos da natureza humana. Às vésperas de completar 60 anos de idade, Cunha Santos – natural de Codó, cidade onde nasceu no dia 10 de novembro de 1952 – é hoje reconhecido como um dos mais importantes e expressivos autores contemporâneos do Maranhão. Escrevi certa vez, em um artigo publicado no Jornal Pequeno, que Cunha Santos – filho de Durval Cunha Santos e de Josefina Alvin de Medeiros – herdou de seus pais a sensibilidade para as lutas populares e abriu espaço nestas lutas para, numa atividade simultânea, dedicar-se à poesia, à música e à reflexão política. 99
CUNHA SANTOS FILHO – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br JM Cunha Santos: JM Cunha Santos e a fábula da condição humana*
100
O primeiro poema de sua autoria que fez sucesso em São Luís foi “Mamãe Máquina”, escrito num tempo em que não existiam clones nem bebês de proveta. Foi o início de uma carreira marcada pela obstinação. Autor de “Meu Calendário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Odisséia dos Pivetes” (1996) e “Vozes do Hospício” (2008), Cunha Santos acaba de escrever mais um livro: “A Comunidade rubra”. Este novo título, concebido como uma novela política baseada nos livros “Utopia”, de Thomas More e “O Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam, denuncia a corrupção nos nossos dias e, com certeza, irá associar-se, como realização indispensável, aos livros já consagrados de Cunha Santos. Vale frisar que Cunha Santos é um escritor veterano, tarimbado, um profissional de atuação exemplar. Como jornalista e escritor – já trabalhou como editorialista de diversos periódicos e, desde então, vem fazendo de seu trabalho na imprensa um instrumento a favor do ideal de cidadania e justiça e, em seus escritos, costuma ressaltar a teimosa insensatez dos homens, causadora de crises, guerras, conflitos e opressões. Como jornalista, profissão que abraçou aos 17 anos de idade e que jamais abandonou, tem sido um grande lutador. Em 1973, entrou no Jornal Pequeno (tinha então 21 anos) como redator-chefe, substituindo seu pai, o velho Durval Cunha Santos. Mesmo sendo um jornalista reconhecidamente lutador, Cunha Santos não esconde de ninguém que prefere a poesia ao jornalismo. Pode-se dizer, sem hesitar, que hoje ele é, essencialmente, um poeta, cronista e editorialista fenomenal. Já passou pela redação de vários jornais de São Luís, entre os quais “O Diário do Norte”, do ex-deputado federal José Teixeira, o “Diário do Povo”, editado por Nilton Ornellas, onde escreveu as melhores reportagens sociais de sua vida; “O Estado do Maranhão”, à época de Bandeira Tribuzi, Adalberto Areias e Vera Cruz Marques; a velha “Folha do Maranhão”, que era comandada pelo ex-deputado Cid Carvalho, “O Debate”, de Jacir Moraes, e “O Litoral”, de Mary Pereira. Na condição de editor de Política do “Diário do Povo”, Cunha Santos escreveu inúmeras matérias sobre lutas sindicais, causas populares e publicou uma série de reportagens sobre menor abandonado, intitulada “A geração perdida do Brasil”, denunciando o drama dos cheira-colas que começavam a se multiplicar pelas ruas de São Luís. Merecedor de todas as homenagens, Cunha Santos tem muito do que se orgulhar. Hoje ele é, sem dúvida, um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns de seus poemas estão entre os mais belos da literatura do país. Seu nome consta no livro “A Poesia Maranhense no Século XX”, antologia organizada por Assis Brasil. É elogiado no livro “A Intelectualidade Maranhense”, de Clóvis Ramos, e tem alguns de seus poemas na “Hora de Guarnicê”, de 1975. Manso e afável, embora coerente e firme na defesa dos princípios em que acredita, e movido pela paixão em tudo que faz, Cunha Santos teve ainda suas incursões pelo teatro, chegando a fundar um grupo teatral denominado Gpap – Grupo de Estudos e Pesquisa da Arte Popular. Apaixonado por música e poesia, Cunha Santos vive uma fase em que sua literatura parece essencialmente voltada a suas ilusões, seus sonhos e esperanças – a seus sentimentos sublimes e, também, a suas paixões mundanas. Com este novo título – “ A Comunidade rubra” -, Cunha Santos lança ao público um texto simples e belo, à altura das tradições literárias do Maranhão. E não cansa de demonstrar o seu amor pela poesia, onde busca forças até para suportar as dificuldades da vida. Ele mantém inalterado o notável talento como escritor, poeta, compositor e jornalista, e o gosto de cantar e de fazer poesias. Com este novo livro, confirma-se que Cunha Santos é uma das mais importantes figuras da poesia em língua portuguesa surgidas na segunda metade do século XX. E confirma-se também que grandes obras literárias serão sempre fonte de deleite, conhecimento e de vida.
João Alexandre Júnior (1948)101, (São Luís, Maranhão, Brasil) - Foi um dos editores da Página da Juventude, do Jornal Pequeno). SUPLEMENTO CULTURAL & LITERARIO JP Guesa Errante ANUÁRIO. São Luís (MA), n. 5 – p. 1-129, 2007. Ex. bibl. Antonio Miranda Endocrinopatia O lado de fora é branco, sem cor (exatamente branco pela falta) pálido, polido, gélido calculadamente ausente e branco. Faz medo o outro lado porque se interna assexuado, de prenhez letal, fatal, inexorável... Eu me tenho tido em minha pátria e soberano faço a mesa e disponho a casa. Os meus amigos todos eu os tenho Já à mira e me diverte o novo engenho que desde ontem lhes reservo (aliás ontem eu domino quando me contenho) Não tenho pois porque carecer de hoje: — se não sou, tanto faz, se fui e não será esse outro lado que fica do lado de fora que me vai tirar de mim (do meu lado de dentro onde tenho inventado a vida) Namoro nas paredes do espaço ameaças de externos internos e faz mal o meu hábito postiço habituado à palavra asfáltica (Faz medo o outro lado que fica do lado de fora) (Jornal Pequeno, A Letrinha, 13.03.1973, p. 03) “Aqui não há lugar para Ex poema” Por: John CutrimData de publicação: 22/06/2016 - 9:56 Blog do JM Cunha Santos Foi o poeta João Alexandre Júnior o autor da manchete, nos tempos em que jovens poetas, quase sempre sem livros publicados, cultivavam uma página literária no Jornal Pequeno, cerzindo versos disformes que desafiavam o conceito de poesia e as imagens lúdicas da época. Eram versos que sobremaneira irritavam o gosto acadêmico, o arcadismo, o sabor barroco da literatura descompromissada das questões sociais e selecionada pela ditadura militar. “Aqui não há lugar para Ex Poema” foi uma reação da juventude à virulência das críticas, entre gentes famosas que não resistiam ao perfeccionismo parnasiano de Olavo Bilac e Raimundo Correa, contra as coisas e a forma que a juventude queria dizer. 101
JOÃO ALEXANDRE JÚNIOR – Brasil - Poesia dos Brasis – Maranhão www.antoniomiranda.com.br
Mas “Aqui não há lugar para Ex Poema” era também uma reação à força bruta do latifúndio, representado pela exposição agropecuária nascente em São Luís, numa época em que o homem do campo era tangido a ferro e fogo do interior do Estado para viver em bolsões de miséria na capital – as chamadas invasões que deram origem a vários bairros em São Luís. Era a resposta de uma juventude inconformada com o apoio do sarneisismo, da ditadura e do Estado que a latifundiários, grileiros e empresas agropecuárias cedia a polícia na condição de guarda pretoriana para o cometimento dessa diáspora violenta e injusta que, sem nenhuma dúvida, contribuiu para o atraso do Maranhão. Os lavradores apanhavam lá e aqui quando chegavam para ocupar terrenos que também já tinham “donos”. Leia mais: https://jornalpequeno.blog.br/johncutrim/aqui-nao-ha-lugar-para-expoema/#ixzz6v9h3q14k
Chagas Val (1943)102,
CHAGAS VAL - Nasceu no Estreito, Buriti dos Lopes - Piauí, a 23 de julho de 1943. Até os vinte anos residiu no Piauí onde fez o curso primário no estreito e em Buriti dos Lopes no grupo escolar Leônidas Melo, o ginasial em Parnaíba no ginásio São Luís Gonzaga e até o 2° ano científico também em Parnaíba, no colégio Lima Rebelo, quando, então, se transferiu para São Luís, em 1963, terminando o científico no colégio de São Luís. Professor em vários colégios da Capital maranhense (Rosa Castro, Luís Viana, ginásio SENAC, escola Normal do Estado), somente em 1974 licenciou-se em Letras pela UFMA, quando já iniciara a sua carreira poética com a publicação, em 1973 de Chão e Pedra. E vieram depois, Chão Eterno e Mundo Menino (1979), Teoria do Naufrágio (1987), Floração das Águas (1992), Estado Provisório da Água (1993) e Anatomia do Escasso Cotidiano (1998). Fonte da biografia e da foto: www.redutoliterario.hpg.ig.com.br Poema 10 A vida reinventada na cidade onde achei o caminho do meu sonho, o carinho de seu povo, a face amiga das ruas me saudando e me levando a percorrê-las, fruí-las nesta suave harmonia, neste abraço inaugural do evento em que minha alma se debruça sobre o tempo e bebo a água das fontes e me banho neste mar, minha sede que sacio mergulhando o tempo fundo de um rio invisível cujas águas transparentes são o sangue dos escravos ou o leite das crianças, seios tépidos de mulheres, CHAGAS VAL – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br ; 4 poemas de Chagas Val – QUATETÊ (wordpress.com) 102
negras bocas a sugar e seus corpos, nus, esbeltos, delineiam-se no escuro, formas belas e serenas, curvas danças se desenham sobre o solo do passado, áureos brandos sons de sinos, silhuetas da memória na estória de quem canta a cidade que nasceu e cresceu verde-luares, suas claras mãos de moça neste abraço comovido. (Chão Eterno/1979)
o rio dentro do rio um rio que se define no próprio espaço da fala um rio dentro do rio no seu leito permanente jardins acesos nas margens o áureo arroz explodindo na manhã leitosa e branca o milho ergue as espigas na terra como um luar o arco-íris entreabre-se em cores azuis-suaves como aves que voassem no redondo silêncio alado. O rio muge entre pedras punhais e pontes mais claras a água canta entre luzes espelhos e alvas manhãs mugindo dentro da noite a foice de suas águas ferindo a face de um espelho e chove dentro da noite no aceso silêncio espesso no espaço aberto da fala o rio dentro do rio deságua no próprio curso no seu uso mais corrente as flores do rio cantam abrindo os olhos nas margens flutua alva a canoa no metal claro da água a lua leve no espaço
brota do rio e floresce por entre margens e margens à sombra azul do espelho um fino punhal de prata cravado no próprio peito no leito claro qual pássaro voando dentro do sonho e passa leve a canoa a lua acesa na mata. o ri dentro do rio no curso de suas águas floresce fundo no espelho no alado silêncio vário no seu caminho mais claro é o Longa que se abre à luz tenra da manhã por entre pedras e pásparos o rio a relva o riacho (Floração das Águas/1992)
Francisco Tribuzi (1953)103,
FRANCISCO TRIBUZI Francisco José Santos Pinheiro Gomes usa o apodo Francisco Tribuzi, a exemplo de seu pai Bandeira Tribuzi. Francisco Tribuzi (São Luís/MA, 24 de janeiro de 1953). Poeta brasileiro. Autor do livro Verbo Verde (1978), também dos inéditos: Azulejado (poesia), Tempoema (poesia) e Sob a ponte (contos). Possui publicações em jornais, revistas e antologias, como Hora de Guarnicê, Poetas da Ponte, A Poesia Maranhense no Século XX (org. Assis Brasil) e Atual Poesia do Maranhão (org. Arlete Nogueira Machado). A produção literária de F.T. foi destacada em As Lâmpadas do Sol (ensaio de Carlos Cunha) e Um degrau (revista literária da UFMA). Filho do poeta Bandeira Tribuzi. Prepara uma publicação que reúne seus trabalhos inéditos. Sina A gente grita, corre, sufoca e morre. A gente canta, encanta, explode e pára: A gente avança, recua, esbarra na rua. A gente ama, trai, reclama e caí. A gente come, some, chora a fome. A gente ganha, sonha, acorda, esvaí. A gente cala, fala, escala e crê. A gente reza, preza, é preso. E a fé? A gente é medo doente da própria gente. Momento-interno No ar o sentido do mistério Em mim essa dor sem remédio No vago um momento sério Na vida esse inconfundível tédio. Vanda Cunha Qual de mim já foi quem em outras era(s) Um navegar de azul me influiu quimera(s) Que em ser outra vida talvez dessa invertida Hoje a sinto perdida. Se sinto a impressão que já vi outro céu que não esse: Manchado, escurecido 103
FRANCISCO TRIBUZI – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br
4 poemas de Francisco Tribuzi – QUATETÊ (wordpress.com)
Que andei por ruas-rosas distâncias formosas me hei Esquecido? .. . Onde estão meus antigos pensares? Noutros céus? Noutros mares? Que hoje só guardo pesares A que distância de mim me encontro? ... (?) Sinto as canções do meu caminho Por que esa tristeza de eu ser outro Perdido no vácuo, sozinho Que madrugada guardou o meu perfume? Que a manhã sempre me esconde Existência gastando o que o ser assume No aí sem resposta, onde? (Verbo Verde,1978)
o museu e a ponte Lá dentro guardam-se histórias... Aqui fora a ponte guarda em segredo os vultos que adentraram as glórias e as memórias dos gestos sem medo. De cada ângulo vista como que a jorrar passado a ponte em si despista o conteúdo sonhado. E o que ela inspira: estética e formusura traduz o belo que delira em gesto e arquitetura. Poetando Eu faço versos como quem conserta sapatos não como quem comanda uma empresa. São tão simples os meus atos como simples é a natureza. Eu faço versos com pureza não vou além da surpresa que me inspiram os relatos mas vou além do que sinto eu faço versos não minto e fazer versos é amar. (Tempoema/inédito.)
Wanda Cunha (2010)104assim se refere a ele: Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”. É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís. A antologia virou movimento", afirma Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em Porto Alegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por Herberth de Jesus Santos e “Tempoema”, ambos de poesias. O terceiro, intitulado “Sob a ponte”, reúne contos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal. Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”.
104
CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR. In RECANTO DAS LETRAS. Enviado por Wanda Cunha em 23/07/2010 Código do texto: T2394790. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem) (recantodasletras.com.br)
Alex Brasil (1954)105,
Alex Brasil, nome literário de Alsenor Duailibe Garcia. Nasceu a 28 de dezembro de 1954 no povoado Saco, município de Codó. Fillho de Raimundo da Silva Garcia e Maria das Dores Duailibe Garcia. Ainda no interior, iniciou seus estudos em Lima Campos, passando depois por Bacabal e Rosário e transferindo-se finalmente para São Luís, onde terminou o primeiro grau, no Centro Educacional do Maranhão, e, o segundo, no Liceu Maranhense. Na década de 1970, iniciou os cursos de Engenharia Civil, de Agronomia e de Direito, sem se adaptar a nenhum deles, para, afinal, concluir o de Jornalismo e Radialismo, na área de Comunicação Social, na Universidade Federal do Maranhão. Após os estudos, insatisfeito com os empregos públicos no Banco do Brasil e no Banco do Nordeste, trabalhou em televisão, jornalismo e publicidade. Nesta última atividade encontrou, afinal, seu caminho profissional como diretor-proprietário da AB Propaganda. Poeta, contista, jornalista e publicitário, Alex Brasil participa da vida intelectual da cidade, colaborando com movimentos, homenageando artistas e fazendo-se presença constante em acontecimentos culturais. Foi distinguido com o título de Cidadão de São Luís, outorgado pela Câmara Municipal. a) poesia: Planeta vermelho. São Luís: Sioge, 1979; Idade do ouro negro. São Luís: Gráfica São Luís, 1980; O sonho deve continuar. São Luís: Sistema Difusora, 1981; Crepúsculo vinte. São Luís: Star Gráfica, 1982; Inferno verde. São Luís: Sioge, 1983; Brasil, não chores mais. São Luís: Sioge, 1985; Crianças do apocalipse. São Luís: Sioge, 1986; A solidão é cinza. São Luís: Grafica São Luís, 1986; Peregrino das emoções. São Luís: Sioge, 1987; Meninos de São Luís. São Luís: Gráfica Escolar, 1992; A voz do coração. São Luís: Gráfica Escolar, 1993; Ilha verde. São Luís: Gráfica Escolar, 1995; Pátria amarga, Brasil. São Luís: Unigraf, 1998; Razões do coração. São Luís: Unigraf, 2000; Todas as estações (antologia) São Luís. Unigraf, 2003; Amor.com. São Luís: 2013: Lithograf. b) prosa: Amores perdidos (contos). São Luís: Sioge, 1987; Lençóis proibidos (contos). São Luís. Minerva, 2007; Quatro discursos. São Luís. Minerva, 2007; Último sol nascente (contos). São Luís: 2012; Lithograf. POETA É POVO Se o povo geme, o poeta chora; se o poder ignora, o poeta sente. Se o miserável estende a mão Biografia – Alex Brasil PoetaALEX BRASIL – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br Alex Brasil: uma história de poesia e humanidade - ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS 4 poemas de Alex Brasil – QUATETÊ (wordpress.com) 105
e só ouve da sociedade o não, o poeta fere o poder vilão com o grito agudo da canção. Se os corpos de aço com almas de porcelana olham-se, e não se acham, a realidade é fria e desumana… Se a infância no lixeiro não toca os corações de pedra, cujo deus é o dinheiro, se a cidade concreta dorme nessa hipocrisia, é o poeta que a desperta com o punhal da poesia. TEMPERO DIVINO Um pouco de veneno, um pouco de mel, um pouco de inferno, um pouco de céu: assim Deus tempera a nossa sorte, enquanto nos espera na eternidade, além da morte.
DOIS PÁSSAROS Nós somos como dois pássaros singrando os céus, planando ao vento, amor livre de águias sobre os mares e selvas. Somos corações alados, almas amigas entrelaçadas que um dia se encontraram e não podem mais viver separadas. E se a morte, que nos espreita. partir as nossas asas, em nosso último voo, meu amor, unamos as nossas garras na queda inevitável: desçamos juntos na imensidão, mergulhando no azul e no verde onde, além da morte, nosso amor prossiga para sempre, singrando a eternidade. MARGENS DE SÃO LUÍS Em tuas margens
há uma flora que mais se multiplica quando uma criança chora pedindo outra palafita que a morte não demora para almas raquíticas com sarampo e catapora. Cresce em tua periferia uma cancerígena miséria antipoesia, anti-humana, por entre o mangue, por sobre a lama. Floresce em tuas margens homens desvalidos, infâncias sem pastagens, úteros poluídos… E mesmo assim, São Luís, o menino vadio, no olho da rua, teima em ser feliz diante da realidade crua, que o condena à própria sorte – esfomeado de vida só engole a morte nas tuas margens, São Luís, cemitério de crianças apodrecidas.
Adailton Medeiros (1938)106...
Nasceu em Caxias, Maranhão, em 1930 e estudou jornalismo em Niterói, Rio de Janeiro., e depois mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faleceu em outubro de 2000 Livros de poesia: O Sol Fala aos Sete Reis das Leis das Aves e Bandeira Vermelha.
AUTO-RETRATO Diante do espelho grande do tempo sinto asco tenho ódio descubro que não sou mais menino Aos 50 anos (hoje — 16 / 7 / 88 (câncer) sábado — e sempre com medo olhando para trás e para os lados) questiono-me (lagarto sem rabo): — como deve ser bom nascer crescer envelhecer e morrer Diante do espelho grande na porta (o nascido no jirau: meu nobre catre) choro-me: feto asno velhote pétreo ser incomunicável sem qualquer detalhe que eu goste (Um espermatozóide feio e raquítico) Como nas cartas do tarô onde me leio — eis-me aqui espelho grande quebrado ao meio
EXÍLIO DELE NAS URUBUGUÁIAS exilAdo nas urubuguáias boi serapião do buriti corre nos cerrAdos e grotões ADAILTON MEDEIROS – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br Adailton Medeiros - Poemas escolhidos (escritas.org) O Espelho de Narcisópolis na Era da Selfie. Adailton Medeiros. (ufrj.br) 106
tal marruá de tamAnca e reza andarilho sem odres de couro um patori desaplumbeAdo na travessia das grAndes estórias construindo em sete mil dias Dios um antropomOrfa como o veAdo do mistéRio de gelos e vinhos tintos ou o carCará castrAdo vindo dos salEs noturnos furnicAdo de marinhas Veja também o E-BOOK:https://issuu.com/antoniomiranda/docs/adailton_medeiros O CASMURRO Potro: um monte de músculos Chegou bem discreto fugindo das terras do Loreto Com rotundo porrete de ipê esmagara a cabeça da madrasta A malvada tinha assassinado a sua pequenina e querida irmã de cabelos longos e lisos O jovem Zé-Aleixo era casmurro: "homem calado e metido consigo" Burro: para o serviço pesado Carregou nos ombros tanta água lenha melancia ração Ao amanhecer — no fundo pilão socara muito milho e arroz Mana — a minha irmã Adailma — ele a chamava com saudade da sua pobre menina morta O velho Zé-Aleixo era casmurro: "homem calado e metido consigo"
Salvo algumas exceções, somente no começo da década de 1970, com o movimento Antroponáutica (Luís Augusto Cassas, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio e Raimundo Fontenele, entre outros), a poesia maranhense liberta-se da estética do soneto e se aproxima do lirismo, da ironia e do verso livre da escola modernista. Dinacy Corrêa (2010) diz ser integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento, incluindo Chagas Val..
Fonte:http://www.mallarmargens.com/
GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE (germinaliteratura.com.br)
Nasceu e mora em São Luis do Maranhão desde 2 de março de 1953. Publicou muitos livros de poesia, sempre bem recebidos pela crítica. Autor de 22 livros de poemas. A Poesia sou Eu, Poesia Reunida, 2 volumes encadernados, com aproximadamente 1400 páginas, reunindo 20 livros, Imago Editora, 2012, dentre os quais Em Nome do Filho (Advento de Aquário) e Ópera Barroca: Guia Erótico-Poético & Serpentário Lírico da Cidade de São Luís do Maranhão. Em 2017, dois novos livros de poemas, A Pequena Voz Interior & Outros Comícios do Vento e Maria, A Fortaleza Sutil que Vence toda Força, Editora Penalux. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato, ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo.
VIRIATO GASPAR (Viriato Santos Gaspar) – nasceu em São Luís (MA), em 7/3/1952. Radicado em Brasília desde agosto de 1978. Jornalista desde 1970. Funcionário de carreira do Superior Tribunal de Justiça. Participação em antologias poéticas no Maranhão e em Brasília. Vencedor de muitos prêmios literários, tanto em sua terra natal quanto no Distrito Federal. Bibliografia: Manhã Portátil, Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1984); Onipresença (versão incompleta), Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1986); A Lâmina do Grito, Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1988), e Sáfara Safra, São Luís-MA (1996). Está concluindo um livro de Salmos em linguagem moderna, e tem dois livros de poemas e um de contos, inéditos. Oswaldino Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.” "Só agora pude concluir a leitura do Tributo ao Poeta II. (...) Recordei e reli muita coisa conhecida, mas tive a deliciosa surpresa de descobrir o poeta Viriato Gaspar, cujos vigorosos versos me arrebataram preenchendo uma lacuna no meu elenco dos bons poetas contemporâneos." ASTRID CABRAL - Rio de Janeiro, maio de 2010 VIRIATO GASPAR – POESIA DOS BRASIS – DISTRITO FEDERAL - www.antoniomiranda.com.br Página realizada com a colaboração de Salomão Sousa, Angélica Torres e de outras fontes.
Raimundo Fontenelle (2020)107 assim se manifesta, ao falar de Viriato Gaspar, identificando-o como ANTROPONAUTA: Correndo o risco de tornar-me um blogueiro bissexto (bissexto porque tem sido um parto difícil parir uma postagem) fui à cata de alguma coisa essencialmente nova em termos de poesia e acabei chegando ao refúgio deste meu grande irmão e amigo Viriato Gaspar, o poeta tão essencial ao Movimento
107
FONTENELR, Raimundo. O ANTROPONAUTA VIRIATO GASPAR. In LITERATURA LIMITE, disponível em Literatura Limite: O ANTROPONAUTA VIRIATO GASPAR
Antroponáutico quanto os outros 4 que lhe fizeram companhia: Cassas, Chagas Val, Valdelino Cédio e este escriba menor. Escrevo isso porque tomei conhecimento de que alguém cujo nome me escapa referiu-se a nós como a geração de Luís Augusto Cassas. É um tremendo erro, engano ou..., deixa pra lá, o próprio Cassas, de quem conheço a humildade humana e a honestidade intelectual refutaria tal assertiva. A nossa geração é a GERAÇÃO ANTROPONÁUTICA da qual todos nos orgulhamos. Nós afundamos navios de cascos avariados, detonamos velhas pontes de madeira a quem o cupim destroçava, e os grandes nomes da literatura maranhense naquele momento, Nauro, Zé Chagas, Arlete, Jomar, Nascimento de Moraes, Bandeira Tribuzi, Carlos Cunha, Domingos Vieira Filho, Alberico Carneiro e outros nos reconheceram os méritos e nos fizeram as honrarias merecidas, publicando 2 antologias e estendo um imaginário tapete voador por onde desfilamos a nossa tola vaidade juvenil.
José Valdelino Cécio Soares Dias, (popularmente Valdelino Cécio)108, enquanto viveu no planeta terra exerceu as funções de poeta, escritor, advogado, folclorista, pesquisador e administrador cultural maranhense. BIBLIOGRAFIA 2004 – Poesia Reunida Participação em Antologias Poéticas - 1970 – Antologia do Movimento Poético Antroponáutico; 1980 – Esperando a Missa do Galo; 1980 – Hora de Guarnicê Publicações sobre Cultura Popular - 1977 – A Dança do Lelê; 1985 - Tambor de Criuola, Ritual e Espetáculo; 1990 – Memória de Velhos, contribuição à memória oral da Cultura Popular do Maranhão Publicações em Jornais e Períodicos - - Jornal Pequeno; - O Estado do Maranhão; - Ganzola; - A Ilha; Jornalzinho de Turismo Maranhense VER E SONHAR Onde sonha o verso o inverso é difícil de cantar onde canta o sonho impossível perceber o olhar por mais que seja o nada ainda existe alguma coisa bem maior que seus olhos seu instinto de cão a me procurar CINCO DA TARDE Deste mirante de mil sonhos perdidos e inexplicáveis miro-te no reflexo das telhas seculares testemunhas de luas e sóis que iluminaram paixões e desejos dos amantes desta cidade Não sei se é miragem se é mentira ou verdade te rever aqui ali acolá enquanto as janelas cinzentas me observam e me distribuem 108
averequete: Valdelino Cécio: biopoesia
como essas folhas ao vento na tentativa de te alcançar Mas a tarde se esvai entre os paredões de pedra e suor onde pessoas funcionários comerciários despedem-se do dia a dia sorrindo sem perceberem que meus olhos novamente te descobrem na memória e nos céus da cidade iluminando o poema a vida e o luar VELHO FOFÃO O poema debaixo da máscara de narigão a pular saltar no espaço da memória assustando gritando ô lá lá ô nesse sonho de fofão O poeta por cima da saudade a cantar chorar no escuro das ruas tropeçando fugundo ô lá lá ô nos olhos da multidão O homem dentro do povo a falar calar entre os dentes da canção reclamando perseguindo ô lá lá ô com a boca e o estômago na mão SENDA Não se quebra um galho seco Quando a sede é vontade de plantar Não se seca o suor dos olhos Quando está seca a vontade de olhar Nem se olha a secura das nuvens Quando a chuva tardia inundou o mar TRÊS PONTOS DE VISTA Vum’ borá rapaz teu tambor ronca como ronca tua barriga de fome teu boi morre como tua esperança
a cada ano mas tua matraca ataca alegria do povo e a gente se esquece o couro do teu boi é o saco do trigo americano e tua toada sai com a voz rouca da cachaça que já é pouca e dá prazer precisão que te arrasta Mas continua irmão que amanhã é domingo e vais poder acordar depois do sol pra assistir teu time perder e ficar lembrando tua última toada “minha sina eu posso afirmar É cantar na porta de mercado Mendigando pra poder te sustentar ê boi ê boi-bumbá” Convidado Especial: Wilson Martins, "Valdelino Cécio não Morreu" Convidado Especial: Wilson Martins, "Valdelino Cécio não Morreu" (facetubes.com.br)
Por: Mhario LincolnFonte: Wilson Martins
Valdelino Cécil Valdelino Cécio não morreu Texto de Wilson Martins (Facebook.com). Hoje, 29 de setembro, marca a passagem física de Valdelino Cécio para outra esfera. Conheci Valdelino no início da década de 1960, residentes que éramos no Centro Histórico de São Luís, entre Rua das Hortas e do Rancho. Entre as praças de Santo Antônio e Gonçalves Dias. Entre as ruas da Alegria e Afogados. Entre Madre Deus, Beira-mar e Praia Grande. Pesquisador, advogado, técnico em assuntos culturais, poeta, produtor, fomentador e ativista da cultura popular, Valdelino foi também brincante e festeiro. Foi devoto, mordomo e abatazeiro. Nos anos 70, liderou
o Movimento Antroponáutica, ao lado de Chagas Val, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Luís Augusto Cassas, que motivou Jomar Moraes a editar a antologia Hora de Guarnicê – poesia nova do Maranhão, (1975). No semanário Jornal do Maranhão, onde eu trabalhava, reencontrei Valdelino para as edições do Suplemento Literário JM, que publicava além de outros, a safra de poetas do Antroponáutica. Logo depois, estávamos reunidos com Tácito Borralho para criação do Laborarte e, seguimos juntos em alguns movimentos culturais até nos tornarmos colegas de trabalho por muitos anos. Não era raro vê-lo reunido semanalmente com músicos para a criação do Clube do Choro, ou incentivando alguns do Cine Clube de São Luís e outros do Salão de Artes Plásticas. Sincero, cordial e criativo, Valdelino Cécio, hoje, não é só nome de praça de sua cidade, mas patrimônio sentimental de nossa arte e cultura. Poema do morto na morte do dia o morto a morte o morto a poesia o morto a sorte o morto só ele sabia o morto memória eterna o morto morreu na folia o morto enfim novidade o morto artigo do dia ............................................. Valdelino Cécio não morreu
Praça Valdelino Cecio Onde fica: Centro Histórico de São Luís – Reviver - Homenagem ao advogado, escritor, pesquisador e poeta da cultura popular do Estado do Maranhão. Também é conhecida como Praça da Pacotilha, pois ocupou o lugar de antigo casarão onde funcionou o famoso jornal “A Pacotilha”, em meados do século XIX, anos 1800. Está situada na Rua do Giz, esquina com o Beco da Pacotiha e propicia aos frequentadores uma bela vista do bairro da Praia Grande. Espaço é utilizado para manifestações culturais, como rodas de capoeira, tambor de crioula e espetáculos de bonecos e de grupos folclóricos.
O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu109 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)110 segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)111.
Foto: Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio, Luís Augusto Cassas
Natan Castro (, 2016112; 2021)113, nos traz importantes revelações sobre a formação desse grupo e sua atuação naqueles anos de chumbo; para esse autor: No início dos anos 1970 cinco jovens poetas maranhenses resolveram propor uma ruptura com a tradição poético/literária do estado. Já vivíamos a segunda metade do século XX e por aqui ainda eram perceptíveis traços do simbolismo e parnasianismo nas obras de poesias que eram lançadas. Os cinco propunham uma renovação urgente no fazer poético no Maranhão. Eram eles Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luis Augusto Cassas, todos poetas genuínos que tinham como interesse maior renovar a poesia no Estado do Maranhão, rompendo com as antigas escolas literárias do Século XIX que tanto influenciaram as gerações passadas. Deles somente Raimundo Fontenele possuía um livro lançado. O nome do movimento é uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzzi, Antroponáutica é o nome de um poema de sua autoria. O poeta inclusive era junto do grande Nauro Machado e José Chagas, os únicos da geração anterior que os Antroponautas enalteciam e citavam como influência. 109
Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 110 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. 111 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 112 CASTRO, Natan. Literatura Limite: Movimento Antroponáutica - Atitude e Ousadia Poética No Maranhão em Meio ao Regime Militar. In LITERATURA NO LIMITE 113 CASTRO, Natan. In Movimento Antroponáutica - Atitude e Ousadia Poética No Maranhão em Meio ao Regime Militar (facetubes.com.br)
Prossegue Natan, em sua narrativa, que foi em 1971 que começaram os encontros num bar no Canto da Viração no centro de São Luís, regadas a cerveja e muita discussão em torno dos caminhos futuros da poesia maranhense: A princípio o primeiro passo era chamar a atenção da elite literária da capital, o que foi alcançado logo depois que nomes como João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira, Jomar Moraes e Nauro Machado perceberam a chegada dessa nova leva de jovens poetas que buscavam mudanças no meio literário do Maranhão. O reconhecimento devido foi buscado ferrenhamente pelos cinco, quase não havia espaço para publicação de seus artigos e poemas, como muita luta começaram as publicações no Jornal do Dia (jornal comprado pelo Sarney que veio a se tornar o Estado do Maranhão), o Jornal do Maranhão (da Arquidiocese), que tinha um crítico de cinema o José Frazão que também acolheu muito bem as novas ideias do pessoal.
Continua: Após tanto esforço, de fato o primeiro passo havia sido alcançado, os Antroponautas haviam sido reconhecidos como novos nomes da literatura maranhense. Logo em seguida saiu a famosa Antologia Poética do Movimento Antroponáutica e logo depois foram convidados a integrar um projeto da Fundação Cultural que publicou os cinco juntamente com outros novos poetas na Antologia Hora do Guarnicê. A seguir a narração detalhada do inusitado lançamento do livro "Às Mãos do Dia”, do Antroponauta Raimundo Fontelene, nas dependências da Biblioteca Pública Benedito Leite: R - Vocês sabem. A história é feita de fatos, episódios, circunstâncias, eventos, mil acontecimentos distantes um do outro, mas que por esta força grandiosa que é a marcha da vida e da história se conjugam tudo e todos num momento único para deflagrar a coisa, seja revolucionária ou evolucionária, de reforma ou de acomodação. E por essa época aconteceu o lançamento do meu segundo livro individual, o Às Mãos do Dia, que era para ser uma coisa puramente pessoal, mas acabou transcendendo o particular e inseriu-se nessa paisagem do instante que vivíamos: a ditadura militar em todo o seu reinado e esplendor. Querendo fugir daquelas noites de autógrafos costumeiras, que achávamos até enfadonhas, decidimos que o lançamento do meu livro seria diferente. Aí a gente juntaria artes plásticas e música, e lembro do César Teixeira, do Josias, do Sérgio Habibe, do Jesus Santos, do Ciro, Ambrósio Amorim, Lobato, Tácito Borralho, tanta gente. E o lançamento aconteceu na Biblioteca Pública Benedito Leite. Na noite anterior, após tomarmos algumas cervejas, eu, Viriato, Valdelino e outros ficamos na escadaria da Biblioteca Pública conversando e só, de sarro, planejando o lançamento, e cada um saía com a ideia mais louca. Tipo: no lugar de cadeiras para as autoridades íamos colocar vasos sanitários; colocaríamos uma árvore de natal com ratos pendurados, etc.; íamos convocar mendigos, loucos, os despossuídos para tomarem as escadarias da Biblioteca quando as autoridades e convidados fossem chegando. Ah, e no coquetel no lugar de bebida alcoólica serviríamos leite, mas não em taças e sim em penicos. Novos, claro. Naquele tempo a autoridade maior dos estados era sempre o militar mais graduado, no nosso caso o Comandante do 24 BC. Alguém nos ouviu falar aquelas bobagens e levou a sério. O certo é que o Governador foi acordado pelo Comandante do 24 BC que lhe ordenou visse do que se tratava pois algo de muito grave ia acontecer. Fui chamado às pressas no gabinete do Secretário de Educação (que havia permitido que eu fizesse lá na Biblioteca, órgão da SEC, o lançamento do livro), à época o saudoso Professor Luís Rêgo, um homem boníssimo. Quando entrei em seu gabinete levei um susto, pois ao seu lado estava um Major do Exército. Pálido e trêmulo, ali sentei e o professor Luís Rêgo passou a me interrogar a cerca do lançamento e do que estava programado. Neguei tudo. Disse que era mentira. Jamais faríamos uma coisa daquelas e tal. Despachou-me dali, mas me recomendando prudência, e cuidado com o que ia acontecer, pois estavam de olho. Pela cara do oficial do exército nem
precisava de me dizer mais nada. Pois, mais tarde enquanto estava na Biblioteca em companhia do poeta Viriato Gaspar, ultimando os preparativos do lançamento, eis que nos aparece um agente da Polícia Federal. E dirigindo-se a mim diz que estava a minha procura, e porque nada mandara o livro para a Censura, e cadê o livro e tal e coisa, e nos colocou em sua viatura fomos até onde eu residia, pegamos um livro, e enquanto eu lia, o motorista nos levou até a sede da Polícia Federal, naquela época ali na Rua Grande na altura do Ginásio Costa Rodrigues. Novo interrogatório pelo delegado de plantão. O Viriato saiu-se bem nas respostas. E quando o delegado quis saber dos mendigos (olha a subversão) que íamos levar, o Viriato disse que não tinha nada a ver, aquilo era uma peça de teatro que estávamos escrevendo e tão logo ficasse pronta levaríamos lá no Serviço de Censura. O certo é que à noite a Biblioteca lotou. Talvez até curiosos, além de meus convidados, muitas autoridades se fizeram presentes. Secretário de Educação, o Prefeito Haroldo Tavares, e lá atrás de uma daquelas colunas reconheci o agente da PF de nome Mateus, esperando que eu saísse da linha no meu discurso para me grampear. Mas o resultado prático da repressão, que é o cerne desta pergunta, é que nós, os jovens (falo dos jovens em geral e não especificamente do nosso grupo), tomamos rumos diferentes: uns foram para o comodismo da vida privada, outros foram para luta armada, e no meu caso, no primeiro momento, abandonei tudo e embarquei numa carona com os hippies e fiquei vagando pelo país uns três a quatro meses, metido no universo da Contracultura, cujo estímulos vinham da geração beat, e era uma época rica e enriquecedora, chegávamos ao desregramento de todos os sentidos, na vida e na arte, aquilo que o poeta Arthur Rimbaud profetizara um século antes. E a nossa geração foi importante porque abriu caminho pra todos vocês que vieram depois de nós. É o ciclo da vida, quer reconheçamos ou não. Ele existe. Ele é. O Maranhão desde Gonçalves Dias deu inicio a uma tradição literária que continua até os dias atuais, do Romantismo para cá apresentamos ao país e ao restante do mundo, uma quantidade satisfatória de grandes literatos, para não citar outros gêneros da arte. A geração da Antroponáutica que hoje nos parece quase esquecida pelos tais entes da cultura do Estado, possui um papel relevante, quando o assunto é a renovação dessa brilhante tradição. Os cinco jovens poetas buscaram espaço devido, sonharam com as mudanças e ao conseguir colocaram heroicamente seus nomes na história da arte e da cultura do Maranhão. Tudo isso num período onde a náusea artística era vista como algo peçonhento e altamente prejudicial ao poder estabelecido.
Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê”114 – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Para Mesito115 a antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas.
114
BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 115 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm
ROSSINI CORRÊA116 - Jose Rossini Campos do Couto Corrêa, poeta, ensaísta, pesquisador nascido no Maranhão em em São Luís do Maranhão, em 8 de setembro de 1955. É advogado, formado pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. Possui Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Direito, além de mais de 20 Doutoramentos Honorários. Foi Advogado da Secretária de Planejamento do Estado do Maranhão; Assessor Jurídico do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente no Distrito Federal – CDCA/DF; Chefe do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural – CNPJNC/MINC; Coordenador Nacional da Lei Sarney – MINC; Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário UniEURO; Assessor Especial do Governador de Pernambuco; Secretário da Educação e Cultura de Jaboatão dos Guararapes e Assessor do Centro Universitário de Goiás – Uni-Anhanguera. Também é membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB; do Instituto Ibero-Americano de Direito Público – IIADP; do Instituto dos Advogados do Distrito Federal – IADF e sócio correspondente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ e Professor da Faculdade de Direito do UniCEUB e do IESB, bem como titular do selo jurídico Editora Rossini Corrêa. Sócio-Diretor do Escritório de Advocacia Rossini Corrêa Advocacia & Associados, premiado com o Selo Referência Nacional 2016 – Rio de Janeiro, pela Agência Nacional de Cultura, Empreendedorismo e Comunicação, recebendo a premiação Referência Nacional e Qualidade Empresarial. Rossini Corrêa é Escritor, Jurista e Filósofo do Direito, com mais de 30 livros publicados, entre os quais se destacam: Saber Direito-Tratado de Filosofia Jurídica; Jusfilosofia de Deus; Crítica da Razão Legal; Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias e companheiro de Nabuco; Teoria da Justiça no Antigo Testamento; José Américo, o Jurista; Política Externa Independente: contribuição critica à história da diplomacia nacional; O Liberalismo no Brasil: José Américo em perspectiva; Brasil Essencial: para conhecer o país em cinco minutos; e O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade: bases para um contrato social universalista. Pertence à Academia Brasiliense de Letras (AbrL) e foi eleito por duas vezes membro titular do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, no qual foi membro titular da Comissão Nacional de Educação Jurídica. Seus livros mais conhecidos são Canto Urbano da Silva (1984), Almanaque dos Ventos (1991), Baladas do Polidor de Estrelas (1991), Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos (Thesaurus, 2001). Movimento da Terra, na Praça Gonçalves Dias, em São Luís do Maranhão O violino da consciência rememora a música dos pássaros vegetais, quando, no crepúsculo, o bolaço de fogo espacial, movimentava-se vagaroso, e naufragava, sem a mínima resistência, no oceano atlântico. Da estátua, Gonçalves Dias a tudo assistia, comovido...
116
Poesia dos Brasis Maranhão - ROSSINI CORRÊA - www.antoniomiranda.com.br
Como um namorado das estrelas, certamente conhecendo os mistérios, esperava, sob paciente convicção, o retorno, indescritível aurora: e o bolaço de fogo espacial, azul cintilava, aquecido no dormitório marítimo. O poeta, artesão do eterno, repetia: "onde canta o sabiá!"
Soneto da Arte Poética Como escrever um soneto antológico, se o sentimento não for meritório? Tem, o poema, seu universo biológico, sobre a fronteira deste território verbal, que arquiteta o vôo mágico do sonho, com plumas vestindo o azul. Mas, sem coração e sem cérebro, trágico será o soneto, este cruzeiro sem sul. — Se o poema é escrito com palavra, a boca há de sentir gosto de sangue e a mão há de pensar a sua lavra... Do trapézio do verbo quedará exangue, todo aquele que, à procura do infinito, no promontório, canto, viva em grito.
A palavra poética — Rossini — falaram-me — quando tu escreves (remando chuvas solando ventos roçando terras) dás às palavras (as falanges roçando de nada leves lavras. ígneos tempos domando) um sentido bíblico ... — Eu nisso ri, rosado e amarelo de espanto. E, rosnando neste sorriso, havia quanto de dramático espanto ... O mistério passeava
— guisa alado e belo — no telhado do hemisfério, acima e afora do reino da sombra, obscuro comando de escombros e de alicerces de abismos, trevas e ruínas. Sem travo e sem prece, ele sabia que, por sobre o muro, a boca (l) (r) (p) ouca gerava manhãs e tardes, como a oficina que anima a aurora. E nela, a translúcida luminosidade, toda liberta de tardas malsãs, escorria, como a caravela, a paisagem em viagem, ora escondendo, ora espelhando, na arcada dramática, a ponte épica e o dente lírico.
CORRÊA, Rossini. Sonetário do Quixote vencedor. Brasília, DF: Thesaurus, 2015. 48 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-409-0388-3 “ Rossini Corrêa “ Ex. bibl. Antonio Miranda
3 Pobre Quixote que perdeu o caminho, qual é o meu papel nesta tragédia? Imaginei de azul vento e moinho, mas tudo terminou só em comédia... Cruéis para comigo foram os fados: (tudo em mim foi dor ou desvario, olhos postos na luz, e já vazados) sempre morrer de calor dentro do frio. Tanta fatal esperança malograda, tanta rosa de Malherbe fenecida, revolto mar vagando para o nada. Completamente bêbado, e sem vinho, sem uma gota da verdadeira Vida — pobre Quixote que perdeu o caminho.
ELEGIA DOS VISIONÁRIOS Avança — Dom Quixote — avança: não tem fim a luz, fatal archote a reinventar o jardim azul do Éden: avança e, depois da Andaluzia, mesmo Sancho Pança, em sua febril fantasia, a ti convidará: 'vamos!, que a viagem infinita é o pão que amassamos, e a nuvem, na marmita, nos alimenta com sonho, nos reinventa, com vinho e nos liberta do tristonho e crepuscular caminho. E Quixote, todo ancho, colherá um verde lírio e responderá: 'bom Sancho, somos filhos do delírio, a nossa missão é agora e sempre. A cruz, a rosa e o pavilhão da aurora anunciam a uva licorosa.
Vamos... Vamos colhê-la ali, na rua de toda a terra, na esplendorosa estela que só o nunca descerra. Brasília, fevereiro 2015
IBÉRIA Avistei terras de Espanha, de Espanha e de Portugal. E foi uma miragem tamanha, que o azul emocionou a nau. Que o azul lacrimejou o ser, esperto bicho, só de alegria, mascarado, logo a renascer, pintando de colorido o dia. Colorido dia de Espanha, de Espanha e de Portugal: (este ouro que o azul apanha e transforma em mel e sal). Madrid, julho, 2007.
CAVALO ÁRABE Em Abu Dhabi (no verbo amar) galopo o mar dentro de ti. Estrelas desço sobre o ventre teu, gemente... Cego, alvoreço. Abu Dhabi, janeiro, 2010. Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014)117, assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo 117
CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014
menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Em outro contato, Corrêa118confirma: [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. [como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?] Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão. A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’. Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous.
Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neoromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994)119.
118 119
CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014 ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994
A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM PAULO MELO SOUSA
Paulo Melo Sousa é o nome artístico de Paulo Roberto Melo Sousa, nascido em São Luís do Maranhão a 6 de maio de 1960. Filho de José de Ribamar Bezerra de Sousa e de Élia Melo Sousa, tem duas irmãs e um irmão. Frequentou inicialmente o Jardim de Infância Pituchinha, indo estudar a partir dos 8 anos de idade no Colégio Maristas, onde permaneceu durante 10 anos e concluiu o chamado Científico em 1978. Formado em Design e em Comunicação Social pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, possui especialização em Jornalismo Cultural, Jornalismo Científico, Jornalismo Ambiental, e em Linguística Aplicada ao Ensino das Línguas Materna e Estrangeira. Possui Mestrado em Ciências Sociais pela UFMA, em 2013. Poeta, jornalista, professor, ambientalista, pesquisador de cultura popular, fundou a Sociedade de Astronomia do Maranhão SAMA, aos 16 anos. Foi um dos idealizadores do primeiro jornal ecológico do Maranhão, o “Folha de Gaia” (1991 / 1992). O poeta integra ainda a “Antologia da Poesia Maranhense do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Foi um dos fundadores do Grupo Poeme-se, de poesia (1985 / 1994), e criador do Grupo Graal (1997), de performance poética. Atua na área de cinema e vídeo, como ator e co-diretor. Escreve no Jornal Pequeno (JP Turismo), abordando temas de jornalismo científico, turístico, cultural e de patrimônio cultural. Também incursiono na área de cinema e vídeo, trabalhando como ator e co-diretor (integrei o elenco de “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”, filme de Carla Camurati (1995), e foi co-diretor do filme “Em Busca da Imagem Perdida” (IPHAN, 2008), dentre outros trabalhos. Mantive no suplemento JP Turismo – Jornal Pequeno, desde 2006, a coluna “Alça de Mira”, na qual publiquei poemas de autores maranhenses, semanalmente, atuando ainda na área cultural como conferencista. Fui Diretor da Galeria de Arte Trapiche Santo Ângelo (Fundação Municipal de Cultura – FUNC / Prefeitura de São Luís, de 2013 a 2015), Diretor do Convento das Mercês, de 2015 a 2020 e, atualmente, sou o Diretor do Museu Histórico de Alcântara, desde março de 2020. Paulo Melo Sousa é membro fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL, tendo recebido a Medalha do Mérito Timbira, Grau de Comendador do Quarto Centenário, a maior comenda do Estado do Maranhão, em 2012, devido aos serviços prestados à cultura do Maranhão.
Bibliografia “Rua Grande: Um Passeio no Tempo” - História (1992); “Oráculo de Lúcifer” (Poesia) - 1994 (1º lugar: Prêmio Literário do Plano Editorial Secma / Sioge); “Vi (s) agem” (Poesia) - 1º lugar: Prêmio Concurso Cultural e Artístico Cidade de São Luís (2001); “Arte das Mãos: Mestres Artesãos Maranhenses” - Texto (SEBRAE - 2007); “Nagon Abioton: Um estudo fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô” - Texto (Petrobras Cultural - 2009); “Banzeiro” (Poesia - 2010); Prêmio Concurso Cultural e Artístico Cidade de São Luís; “Vespeiro” (Poesia - 2010). Comecei a escrever na adolescência, mas sistematicamente a partir dos 18 anos de idade, quando escrevi meus primeiros poemas e publiquei meus primeiros artigos em jornais. Integrei a Fundação Bandeira Tribuzi, a partir de 1980, que era coordenada pelo animador cultural Bernardo Fontenele, que organizava semanas literárias e mantinha viva a memória do poeta Bandeira Tribuzi. Em seguida comecei a publicar no Suplemento Cultural Guarnicê (Coordenada pelos escritores Celso Borges, Joaquim Haickel e outros), que depois se tornou Revista, no início dos anos 80 do século passado. Participei, a partir de 1985, do Grupo da Akademia dos Párias, publicando poemas, traduções na Revista “Uns & Outros”, do referido grupo. Nesse mesmo ano, no dia 2 de agosto de 1985, criei, ao lado de Ribamar Filho, o Grupo
Poeme-se, que durou até 1994. Em seguida, criei o Grupo Graal, de performance poética, em 1997. A partir de dezembro de 2010, criei o Projeto Papoético, que continua em atividade até hoje. Em Alcântara, articulamos, ao lado de Sérgio Oliveira e de Léa Mamede, o Projeto “Conecta Cultura: São Luís / Alcântara”, no início de 2019. Em se falando de geração, pertenço à geração 80. Meus parceiros de poesia e de cultura, ao longo desses anos todos, são muitos: Nauro Machado, José Chagas, Arlete Nogueira da Cruz, Raimundo Fontenele, Alberico Carneiro Filho, Laura Amélia Damous, Valdelino Cécio, Lúcia Brandão, Lenita de Sá, Ribamar Filho, Cláudio Terças, Rezende, Guaracy Brito Júnior, Antônio João Nunes, Wagner Alhadef, Jorge Campos, Rosa Ewerton, Luiz Henrique Rezende, Wilson Martins, Célia Seguins, Fernando Abreu, Ronaldão, Antônio Carlos Alvim, Lúcia Santos, Celso Borges, Dyl Pires, Hellen Esse, Elício Pacífico, Rafael Oliveira, César Maranhão, Paulinho di Maré, Rosemary Rêgo, Dilercy Adler, Antônio Aílton, Ricardo Leão, Hagamenon de Jesus, Jorgeana Braga, Bioque Mesito, Raimunda Frazão, Wybson Carvalho, Renato Menezes, Silvana Menezes, Carvalho Júnior, Ronaldo Costa Fernandes, dentre tantos outros. a. Geração de 45 Incluído às vezes nessa geração, o poeta Nauro Machado muito me incentivou por acreditar na força da minha poesia. Ao logo de 38 anos mantivemos uma duradoura e profícua amizade, e aprendi muito sobre poesia em longas conversas sobre arte e cultura com o nobre poeta. d. Akademia dos Párias Fui integrante do grupo da Akademia dos Párias, publicando poemas na Revista Uns & Outros, que o grupo publicava. e. Os Cadernos Alternativos / Vagalume Publiquei textos e poemas, bem como fui entrevistado no Suplemento Vagalume. f. Poeme-se/Papoético Fui um dos fundadores do Grupo Poeme-se e, sozinho, em 2010, criei o Projeto Cultural Papoético. O Grupo Poeme-se foi crido por Ribamar Filho e por mim no dia 2 de agosto de 1985, quando foi lançado o primeiro cartaz de poesia do grupo, intitulado Poeme-se nº 1. O grupo se reunia semanalmente para realização de leituras de poesias, construção de recitais e de performnces poéticas, dentre as quais “Erótyka” e “O Inferno de Wall Street”, chegando a realizar ainda festivais de poesia, dentre outras produções culturais. O grupo Poeme-se durou até 1994. O Projeto Papoético foi idealizado pelo poeta, jornalista e pesquisador de cultura popular Paulo Melo Sousa, em dezembro de 2010. O evento acontece num espaço cultural ou num bar / restaurante / cafeteria. O Papoético acontece normalmente de acordo com a programação previamente estabelecida. Recitais de poesia, lançamentos de livros, canjas musicais, exibição de filmes, discussões filosóficas e exposição de ideias são algumas das muitas atividades que fazem desse projeto algo singular. Nos encontros, o público pode entrar em contato com o que é produzido na arte maranhense e brasileira e ainda poderá encontrar algumas pessoas que têm participação ativa na construção da cultura contemporânea. Visando ampliar a ação cultural do projeto, foi idealizada a realização do I Festival de Poesia do Papoético, sendo o primeiro realizado no dia 31 de maio de 2012. Nos últimos anos, em São Luís, os órgãos públicos ligados à cultura privilegiaram as manifestações culturais de cunho popular, que se destacam tanto no carnaval quanto no São João. Em decorrência disso, as artes em geral perderam apoio oficial, dentre elas a Literatura. Concursos literários foram extintos, e até o Festival de Poesia da Universidade Federal do Maranhão, anteriormente realizado pelo Departamento de Assuntos Culturais – DAC, foi desativado. h. Circuito de Poesia Maranhense/Latinidade
Participei do Circuito de Poesia Maranhense e fui um dos fundadores da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, ocupando inicialmente o cargo de Diretor Cultural. I. Safra 90 Participei, ao lado do escritor Wilson Martins, da seleção dos poetas que participaram da “Antologia Poética Safra 90”, em 1996 (Edições Secma), escrevendo o prefácio da referida antologia, com o texto “Risco na Trilha ou Novas Aparições”. j. Guesa Errante Publiquei vários textos e poemas no Suplemento Literário Guesa Errante.
A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM DILERCY ARAGÃO ADLER
BREVE BIOGRAFIA: NOME CIVIL/ARTÍSTICO: Dilercy Aragão Adler- Dilercy Adler FILIAÇÃO/FAMÍLIA: Filha de Francisco Dias Adler (Ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira-FEB) e Joana Aragão Adler, nasceu em 07 de julho de 1950, em São Vicente Férrer-Maranhão/Brasil. Do casamento tem três filhas: Danielle, Pedagoga; Milena, graduada em Ciências Contábeis e Michelle, Psicóloga. Tem sete netos Daniel Victor, João Marcelo, Caetano, Arthur, Lara, Diana e Gabriela. ESCOLAS QUE FREQUENTOU; FORMAÇÃO: Aos seis anos de idade já sabia ler e escrever (foi alfabetizada em casa). Fez o curso primário de 1957 a 1961. Fez exame de admissão conseguindo aprovação para ingressar no curso ginasial do “Ginásio Estadual do Instituto de Educação” e se graduou em Professora Normalista, em 1968, no mesmo InstitutoEscola Normal do Instituto de Educação. Ao final desse mesmo ano foi para Brasília (Distrito Federal) para prestar vestibular para Psicologia. Na ocasião também se submeteu ao Concurso para Professor da Fundação Educacional do Distrito Federal. Conseguiu aprovação nos dois exames, de modo que em 1969 iniciou os seus estudos em Psicologia, no Centro de Ensino Unificado de Brasília-CEUB, hoje UniCEUB e o seu trabalho como professora primária da Rede Pública de Brasília. Em 1972 graduou-se em Bacharel e Licenciada em Psicologia no UniCEUB e, em 1973, obteve o grau de Psicóloga. Em nível de Pós-Graduação obteve os seguintes títulos: Doutora - Instituto Central de Ciências Pedagógicas-ICCP -Havana/Cuba, 2005. Revalidação do título: Universidade de Brasília-UnB- Brasília-Distrito Federal, 2006. Especialista-Curso de Especialização em Metodologia da Pesquisa em Psicologia- Universidade Federal do MaranhãoUFMA, São Luís/MA,1981. Curso de Especialização em Sociologia- Universidade Federal do Maranhão-UFMA, São Luís/MA,1982-1984. Mestre-Curso de Mestrado em Educação-Universidade Federal do Maranhão-UFMA, São Luís-MA,1988-1990. Em nível de Aperfeiçoamento fez os seguintes cursos: Curso de Psicopatologia do Comportamento-Universidade Federal do Maranhão-UFMA (C.H.:180 hs), São LuísMA,1980. Curso Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa-Universidade- Federal do Maranhão-UFMA (C.H.:120 hs), São LuísMA,1997. Curso de Filosofia y Sociologia de la Educación (C.H.: 120 hs), Instituto Central de Ciencias Pedagogicas, Havana-Cuba (1999). Curso de Postgrado “Problemas Teoricos y Metodologicos de La Psicologia Pedagogica”, (C.H.: 60 hs), Havana-Cuba (1999). Curso de Postgrado “Metodologia de la Investigación Educativa”, (C.H.: 120 hs), Havana-Cuba (2000). Curso de Aperfeiçoamento e Treinamento para professores de Educação musical (587 horas, Brasília-DF. EXERCÍCIO PROFISSIONAL: Na Fundação Educacional do Distrito Federal iniciou em 1969, como professora alfabetizadora, nas periferias de Brasília, desenvolvendo seu trabalho pedagógico com as camadas pobres. A seguir fez uma seleção para fazer um curso de Aperfeiçoamento e Treinamento para professores de Educação musical (587 horas) o qual possibilitou otimizar na sala de aula as condições do trabalho pedagógico e propiciava melhores desempenhos dos escolares, através das artes e, nos últimos dois anos, trabalhou no Ensino Especial, com alunos com necessidades especiais.
Ainda em Brasília foi monitora da disciplina de Didática Geral, durante o primeiro e o segundo semestres letivos de 1973, no UniCEUB e fez Estágios na área de Psicologia no Colégio D. Bosco (1973-1974) e no Instituto de Psicologia, Seleção e Orientação (1973-1974), data em que retornou ao Maranhão. Em 1974 iniciou o trabalho clínico em consultório particular e, nesse mesmo ano, foi contratada para trabalhar na Fundação do Bem Estar Social do Estado do Maranhão, na função de psicóloga, onde ficou até 1976. Ainda em 1974 trabalhou no Departamento Estadual de Trânsito, como psicóloga credenciada, para fazer exames psicotécnicos para motorista (1974-1995). Em 1978 foi contratada para trabalhar na Companhia de Desenvolvimento de Distritos Industriais do Maranhão CDIMA, como Assessora Técnica, para prestar serviços no Sistema nacional de Emprego-SINE, onde ficou até 1980, época em que iniciou os seus trabalhos na Universidade Federal do Maranhão-UFMA. Desenvolveu de 1974 a 1980 alguns trabalhos como voluntária-convidada ou sem vínculos empregatícios, entre eles: atendimento psicológico aos alunos da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais-APAE; realizou exames psicotécnicos em militares do 24º Batalhão de Caçadores do IV Exército, 10ª Região Militar, a convite do Comandante do mesmo, por ser filha de Ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira-FEB, condecorado como “herói da Segunda Guerra Mundial”; fundou a Associação Profissional de Psicólogos do Estado do Maranhão, da qual foi a Presidente Fundadora (1986-1989). Foi representante do Conselho de Psicologia-2ª Região (1983-1992). Fez várias palestras e ministrou vários cursos em diversas empresas e instituições. Na Universidade Federal do Maranhão trabalhou durante dezesseis anos (1980-1996) data da sua aposentadoria. Durante esse período coordenou vários projetos, como: “Pré-Escolar Comunitário da Vila Palmeira”, “Práticas Educativas nas séries iniciais do 1º Grau”, “Integração Universidade/Ensino de 1º Grau”, “Programa de Alfabetização: Compromisso da UFMA com o resgate/Conquista da Cidadania”, “Programa de Psico & Pedagogia”, “Em Busca da Reconstrução da Escola Normal”, “Psiquiatria Comunitária”, exerceu atividades de Direção em Campus Universitários. Elaborou Cartilha de Alfabetização: “Lendo com Malu e Nilo na Vila Palmeira”. Integrou a Comissão de Extensão Universitária e Bancas examinadoras de Concursos para ingresso no Colégio Universitário-UFMA e de Apresentação de Monografias de alunos da Pós-Graduação da UFMA, como orientadora e como professora convidada. Ministrou vários cursos e palestras representando a Universidade em eventos diversos e em outras instituições. A grande maioria dos projetos desenvolvidos pela UFMA do qual participou era voltada para as camadas pobres de São Luís, ou do interior do Estado do Maranhão. Foi professora dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação e desenvolveu atividades de pesquisa na Graduação do Centro de Ensino Unificado do Maranhão-UniCEUMA. Integrou Bancas examinadoras de Seleção Docente e Apresentação de Monografias de alunos dos Cursos da Graduação e Pós-Graduação, como orientadora e, também, como professora convidada (1994 a 2002). Em outubro de 1995, por meio de intercâmbio profissional firmado entre com a UFMA e Centro de Psiquiatria Social de Tradate-CPS-Itália desenvolveu serviços clínicos no Centro de Psiquiatria Social e ainda representou o Brasil, na “Távola Retonda: La salute mentale: um discorso transculturale, esperiense a confronto di psichiatria sociale”. Recebeu homenagens pelas palestras proferidas em várias Instituições, assim como participou de outros eventos na área da saúde mental na Região de Milão. Em abril de 2001 faz conferência em Montevideo-Uruguai, no Encontro Internacional da aBrace, com o Tema: “A arte e a Poesia enquanto campo de conhecimento”. Vários Cursos e Palestras foram ministrados ao longo desses anos de trabalho nas áreas da psicologia, social e da educação. Dentre as disciplinas ministradas na Graduação e Pós-graduação, encontram-se:
Graduação: Psicologia Geral Psicologia do Desenvolvimento Psicologia da Aprendizagem Introdução à Psicologia Psicologia do Excepcional Sociologia Geral Sociologia da Educação Sociologia da Comunicação Sociologia aplicada ao Turismo Sociologia Jurídica Pós-Graduação: Estratégias de Aprendizagem Desenvolvimento Cognitivo Psicanálise e Educação Fundamentos da Psicologia analítica - A visão Junguiana do desenvolvimento afetivo Psicologia do Portador de Necessidades Especiais Projeto Político-Pedagógico: uma necessidade universitária Dimensão Afetiva do Desenvolvimento Afetividade na Educação Fundamentos da Língua: letramento e alfabetização As Etapas do Desenvolvimento Cognitivo: suporte para a compreensão dos temas literários e transversais, entre outras.
PARTICIPAÇÃO EM INSTITUIÇÕES CULTURAIS NACIONAIS E INERNACIONAIS É Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL (Biênio 2016-2017), ocupando a Cadeira de nº 8. Titular da Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Presidente fundador da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão_SCL-MA(1987), Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil e Senadora da Cultura do Congresso da SCL do Brasil, Membro da Diretoria do Capítulo Brasil da Academia Norteamericana de Literatura Moderna, Membro das Academias e instituições que seguem: Titular da cadeira nº 13, patronímica de Henrique Coelho Neto do Quadro II, Correspondentes da Academia Irajaense de Letras e Artes-AILA, Rio de Janeiro; Correspondente da Academia de Letras Flor do Vale Ipaussu/São Paulo; Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, da Comissione di lettura Internazionale da Edizioni Universum, Trento/Itália; da International Writers And Artists Association-OHIO/EUA; Correspondente da União de Escritores Brasileiros RJ-UBERJ; da Casa do Poeta do Rio de Janeiro; da Associação Profissional de Poetas e Escritores do Rio de Janeiro-APPERJ; da Associação dos Escritores do Amazonas-ASSEAM; Coordenadora Estadual no Maranhão do Proyecto Sur–Cuba; Representante da aBrace no Estado do Maranhão; Corresponsal Internacional da Sociedad Argentina de Letras, Artes y Ciencias - S.A.L.A.C. Representante no Brasil do Periódico Porta Dell Uomo- Itália. Socia y Miembro Correspondiente de la Unión de Escritores y Artistas de Tarija-Bolívia. Grado Honorífico de Embajadora Universal de la Cultura del Estado Plurinacional de Bolivia: Gobernacion del Departamento de Tarija; Honorable Concejo Municipal de Tarija, Univerdidad Autonoma “Juan M. Saracho”, Unión de Escritores y Artistas de Tarija (UEAT), Union Latinoamericana de Escritores (ULATE) en Reconocimiento a la Produción Literaria, Educativa y Artística. Membro e Laureada pela Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture. Delegada Cultural em Maranhão-Brasil do Liceo Poético de Benidorm (Espanha) e Embaixadora do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz. 2ª Diretora de Cultura da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil- AJEB – MA, Membro Correspondente fundador da Academia de Belas Artes do Rio Grande do SulABARS. Membro do Instituto Cultural D. Isabel I, , Sócia Titular do Pen Clube Brasil. Titular do Pen Clube Brasil. Membro Internacional do Institut Brésil Suisse Cultive. Elaborou as seguintes Monografias, Artigos e livros:
Cartilha de Alfabetização: “Lendo com Malu e Nilo na Vila Palmeira”, São Luís/Ma: Mimeo,1982. Monografia de Conclusão de Curso de Especialização em Sociologia, com o tema: “Hora e Vez da Criança Falar de Família”. São Luís-MA,1985. “A propósito da linguagem como comunicação”. São Luís-MA, 1989. “A Escola Comunitária: algumas considerações”. Artigo publicado nos ”Cadernos de Pesquisa” v. 7 n.º 1 da Pró-Reitoria e Pós-Graduação-UFMA,São Luís-MA, Jan/Jun/1991. “Alfabetização Integradora ou Desintegradora da Personalidade”. Artigo publicado em a “Extensão e Revista”, v. 1, n.º 1 da PREXAE-UFMA. São Luís-MA,1991. Dissertação de Mestrado com o tema: “Alfabetização e Pobreza: A Escola Paroquial Frei Alberto em São Luís (Maranhão) e a sua professora alfabetizadora da 1.ª série do turno diurno” - UFMA, São Luís-MA, 1995. “A Propósito da Contradição no Seio da Escola”. Artigo publicado em “CEUMA Perspectivas”, v.1 n.º 2 do CEUMA, São Luís-MA, julho/1997. “A Afetividade na relação pedagógica: algumas considerações. Artigo publicado nos “Cadernos Pedagogia do Movimento Político, n.º 02 do Centro de Estudos Político-Pedagógicos-CEPP, São Luís-MA, 1997. “Enfoques Teóricos em Sociologia da Educação: estudos de sala de aula (organizadora). Trabalho publicado no “Caderno de Educação”,v.I ,n.º1, do Departamento de Educação do CEUMA, São Luís-MA, 1988. “A identidade de classe do Professor do Ensino Tecnológico: algumas considerações”. Artigo publicado na revista” Nova Atenas” do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão-CEFET, v.1, n.º1, São Luís-MA, 1988. “O Caráter histórico-social da produção do conhecimento científico”. Artigo Publicado na revista “CEUMA Perspectivas: Brasil 500 anos” ISSN-1415-3060, Ano4, v. 4, São Luís-MA, 2000. “A dimensão político-pedagógica na prática docente no Ensino Fundamental, em São Luís-MA: investigação piloto” São Luís-MA, 2001. “O valor do diploma na moderna sociedade capitalista”, Jornal “O Estado do Maranhão, São Luís-MA, Janeiro de 2003. “O (Des)crédito no Sistema de Ensino Brasileiro”, Jornal “O Estado do Maranhão”, Julho de 2003. BIBLIOGRAFIA 2018 I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: Construindo Pontes (Org.) 2017 Cantos à beira-mar e Gupeva de Maria Firmina dos Reis (co - organizadora) 2017 Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor 2016 Pelos Caminhos da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial: condições e contradições de uma época (org.) 2015 Sobre Maria Firmina dos Reis (co - organizadora.) 2015 Cento e noventa poemas para Maria Firmina dos Reis (co - organizadora.) 2015 Doses Homeopáticas de Poesias: Lua e Poesia num ato libidinosamente sensual 2014 Círculo de Fuego – Org. Feliciano Mejía Revista do Movimento Amaro/Peru com poesias de Dilercy Adler 2014 De subido à Deriva 2014 Maria Firmina dos Reis: ontem, uma maranhense; hoje uma missão de amor! 2014 Mil poemas para Gonçalves Dias: diário de viagem (co - organizadora) 2013 Mil poemas para Gonçalves Dias (co - organizadora)) 2013 Sobre Gonçalves Dias (co - organizadora) 2012 TINKUY 2011 Poesia feminina: estranha arte de parir palavras 2011 Uma história de Céu e estrelas 2008 Desabafos... flores de plástico... libidos e licores liquidificados 2005 Joana Aragão Adler: uma história de amor e de fé... uma história sem fim
2005
2004 2003 2002 2002
2001 2000 2000 2000 1999 1998 1997 1996 1991
Tratamiento Pedagógico de los valores Morales: de la comprensión teórica a la práctica consciente (Tese de Doutorado) Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão LATINIDADE-IV (org) Carl Rogers no Maranhão: Ensaios Centrados (org) Alfabetização & Pobreza: A escola comunitária e suas implicações (Dissertação de mestrado) Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão LATINIDADE-III (org) Seme...ando dez anos Cinqüenta vezes Dois Mil human(as) idade(s) Genesis-IV Livro Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão LATINIDADE-II (org) Arte Despida Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão LATINIDADE-I (org) Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário Circuito de Poesia Maranhense (org) Crônicas & Poemas Róseos-Gris
Organização de Exposição: Em 1995 organizou a Exposição “Circuito de Poesia Maranhense” (poesia e fotografia-100 poemas-posters de 61 poetas maranhenses apresentada em vários Estados do Brasil e em países como: Itália, México, Cuba, Uruguai e Argentina) e publicou o Livro da exposição em 1996. Participação em Antologias Nacionais e Internacionais: 1993 Oficina Cadernos de Poesia do n º 19 Rio de Janeiro/Brasil. 1994 Oficina Cadernos de Poesia do n º 20 Rio de Janeiro/Brasil. 1994 A Poesia Maranhense no Século XX, do Sioge/Imago, São Luís/MA; Rio de Janeiro/Brasil. 1994 2.ª Antologia Poética de “A Figueira”, Santa Catarina/Brasil 1995 Oficina Cadernos de Poesia do n º 21 Rio de Janeiro. 1995 Agenda 94 e 95 da Oficina Letras e Artes, Rio de Janeiro. 1995 3.ª Antologia Poética de “A Figueira”, Santa Catarina/Brasil. 1995 Mulher, Rio de Janeiro/Brasil. 1995 Catálogo da Produção Poética dos anos 90, Blocos Editora: Rio de Janeiro. 1995 Antologia Poética Del’Secchi”, vol. II, Rio de Janeiro/Brasil. 1996 Oficina Cadernos de Poesia do n º 22 Rio de Janeiro/Brasil. 1996 O Beijo, Líteris Editora, Rio de Janeiro/Brasil. 1996 Grandes Talentos, Líteris Editora, Rio de Janeiro/Brasil. 1996 Antologia Poética Del’Secchi” Volume IV. Rio de Janeiro/Brasil. 1996 Antologia Internacional de Poesia, v.2, do Movimento Poético de São Paulo/Brasil. 1996 Athena, 1.ª edição, da Edizioni Universum, Trento/Itália. 1997 Oficina Cadernos de Poesia do n º 23 Rio de Janeiro.
1997 Eros e Psique. Blocos Editora: Rio de Janeiro/Brasil. 1997 2.º Catálogo da Produção Poética dos anos 90, da Sociedade dos Poetas Vivos. Blocos: Rio de Janeiro. 1997 Planetária Multilingual Anthology, da Edizioni Universum, Trento/Itália. 1997 International Poetry Yearbook, International Writers and Artistis Association-OHIO/EUA. 1997 Primeira Antologia de Poetas Brasileiros, Editora do Poeta: Rio de Janeiro. 1998 Athena, Antologia di Litteratura Contemporanea Multilingue da Edizioni Universum, Trento-Itália. 1998 Jalons, nº 62, Nantes-França. 1998 Antologia “Mulher”, Produções Culturais Ltda., Engenho Novo-RJ/Brasil. 1999 Antologia de Poesias, Contos e Crônicas SCORTECCI para o Salão Internacional de São Paulo, Scortecci, São PauloSP/Brasil. 1999 Poesia Viva, Biblioteca Rosa Castro-SESC, São Luís-MA/Brasil. 2000 Laços de Cultura, Brasil Quinhentos Anos, da Sociedade de Cultura Latina do Estado de Goiás, Goìânia/Goiás/Brasil. 2000 Poesía de Brasil Proyecto Cultural Sur- Brasil Bento GonçalvesRS/Brasil. 2000 Antologia di Letteratura Contemporanea Multilingue “Globus”, Edizioni Universum, Trento-Itália. 2000 Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal, Universitária Editora- Lisboa/Portugal. 2000 Letras Derramadas: seleción de poesía erótica y amatoria, 2002, Montevidéo/Uruguai. 2001 Terceiro Milênio: Antologia da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. ZMF Editora: Rio de Janeiro. 2002 Antologia “Terceiro Milênio” da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, São Paulo/Brasil. 2002 Anthology “The XXIInd World Congress of Poets”, Iasi/Romania. 2002 Una Poesia per la vita, Edizioni Universum, Trento/Itália. 2005 Poetando para um mundo de Paz: Renza Agnelli, Dilercy Aragão Adler e Victor Corcoba. Edizioni Universon. Itália. 2008.Brasileiros em Prosa &Verso. Edições Alba: Varginha/Minas Gerais. 2009 Receita Poética. Lithograf: São Luís/ Maranhão. 2009 10 anos de aBrace. Movimiento Cultural aBrace, Organizadores: Roberto Bianche e Nina Reis.Uruguai. 2009Voces em Plenilunio; Antologia Latinoamericana. Casa de la Cultura Ecuatoriana /Universidad de Loja. Ecuador. 2011 Antologia Literária Cidade: verso e Prosa. Belém:L&A Editores 2011 Perfil da Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro. APPERJ: Rio de Janeiro. 2011. Sobre o Amor. Sociedade Brasileira de Médicos Poetas- Maranhão. São Luís/Maranhão. 2011. Antologia da Associação Internacional Poetas Del Mundo. Life Editora/ Campo Grande/Mato Grosso do Sul. 2012 Oficina Agenda Literária Equinócio. Oficina Editores: Rio de Janeiro 2012 Poesía Cuentos y Vos 2012 Argentina. 2012 São Luís 4 Séculos de Beleza e Poesia. Sociedade Brasileira de Médicos Poetas- Maranhão. São Luís/Maranhão. 2015 Antologia Rio de Janeiro 450 anos de Verso e Prosa. Rio de Janeiro 2015 Terapia Poética. Sociedade Brasileira de Médicos Poetas- Maranhão. São Luís/Maranhão. 2015 RENOVARTE. Revista da União Brasileira de Escritores/RJ. 2015 Antologia da FALARJ. ZMF Editora: Rio de Janeiro. 2015 Varal Antológico 5. Designe Editora: Jaraguá do Sul/Santa Catarina. 2015 PERFIL: APPERJ 26 anos. Org. Sérgio Gerônimo. Rio de Janeiro. 2015. MESTURAS. Sacautos Cooperativa Gráfica. Espanha. 2016. AGENDA. Poetas del Mundo. Chile. 2016 HAY CURA PARA EL AMOR? Liceo Poético de Benidorm. Espanha. 2016 SIEMPRE EL AMOR-SEMPRE O AMOR.Org. Tunholo, Nazareth. Brasília 2016 Palavras 2016. Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil- AJEB. Evangraf: Porto Alegre. 2016 O Trem e o Imaginário IV: Verso e prosa. Academia Ferroviária de Letras. Rio de Janeiro. 2016 Coletânea Literária: a Arte de ser Mulher. Editora Sem Fronteira: Rio de Janeiro.
2016 Coletânea Literária: II Seminário Internacional Encontro das Américas: Literatura, Arte e Cultura em Terras Potiguares. Rio de Janeiro. 2016 Integração Cultural Interestadual: Coletânea Literária. Editora Sem Fronteira: Rio de Janeiro. 2018 aBrace Letras Poesia. Editora aBrace; Uruguai. 2018 100 Melhores Poetas Lusófonos Contemporâneos 2018. Literarte: Rio de Janeiro. 2018 Antologia Bilíngue Corazones Calientes/Corações Quentes. Revista Capital: Brasíla/DF 2018 Maria Firmina dos Reis: faces de uma precursora. Malê: Rio de Janeiro. 2019 Mulheres Extraordinárias. Coletânea Literária AJEB -Rio de Janeiro. 2020 Toda Forma de Ser Mulher. Antologia Literária AJEB - Coordenadoria do Maranhão-São Luís MA. 2020 – Antologia da Academia Capixaba de Letras e Artes de Poetas Trovadores. Espírito Santo. 2020 -Antologia -O Iguarense :175 anos de Vargem Grande. Academia Vargem-grandense de Letras e Artes. 2020 -Antologia Literária-FALARJ/2020- Rio de Janeiro. 2021- Antologia Crisálidas: Literatura Feminina Maranhense – São Paulo. 2021- Dicionário de Escritores de Brasília, 4ª Edição. Brasília. E-BOOKS 2020-Por que escrevemos: Coletânea Literária Organizada pela AJEB-MA. 2021- Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa-Ser MulherArte Selo Editorial/Alemanha.
Títulos Literários e Culturais: Prêmio de edição do “I Concurso Litteris de Cultura” com a poesia “O Beijo”, Litteris Editora, Rio de Janeiro/Brasil 1995. Colar do Mérito Cultural da Revista Brasília, Brasília/DF/Brasil, 1996. Medalha de Mérito pelos relevantes serviços prestados à Cultura e participação nas iniciativas do Grupo Brasília de Comunicação, Brasília/DF/Brasil, 1996. Diploma de “honour and excellence”, the International Writers and Artists Association and Bluffton College, Ohio/EUA, 1996. Prêmio de Publicação da Obra “Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário” do 1º Concurso Blocos de Poesia, Rio de Janeiro/RJ/Brasil, 1997. Título de melhor ativista Cultural do ano de 1997, pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Mogi das Cruzes/São Paulo/Brasil, 1998. Título de Honra ao Mérito pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Mogi das Cruzes/São Paulo/Brasil,1998. Menção Honrosa pela participação no livro “Mulher” no 3º salão de Artes Plásticas na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/RJ, 1998. Moção de Congratulação com louvor da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pelo reconhecimento de seus grandes méritos à Literatura Brasileira, Rio de Janeiro/RJ, 1999. Diploma de Destaque em Literatura do ano de 1998, pela Sociedade de Cultura latina do Brasil, Mogi das cruzes/São Paulo/Brasil, 1999. Prêmio a Latinidade I da Sociedade de cultura Latina do Estado do Maranhão, como uma das melhores coletâneas do ano de 1998, pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Mogi das Cruzes, /São Paulo/Brasil, 1999. Título “Autore dell’Anno”, da Edizioni Universum, Trento/Itália, 1999. Diploma de Participação no “I Encuentro Latinoamericano de Casas de Poetas y Congreso Brasileño de Poesía em Habana”, Habana/Cuba 1999. Diploma de participação no VII Encuentro Internacional en la Mixteca de Mujeres Poetas en el pais de las nubes, nas cidades de Huajuapan de León y Oaxaca/México, 1999.
Título de Personalidade do Século XX por sua participação na Coletânea “Laços de Cultura, Brasil Quinhentos anos” e sua brilhante produção poética e integração ao Movimento Alternativo Cultural Brasileiro, pela Sociedade de Cultura latina do Estado de Goiás, Goiânia/Goiás/Brasil, 2000. Título de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à Cultura Brasileira e a esta entidade, durante a gestão de Joaquim Duarte Baptista, Mogi das Cruzes/São Paulo/Brasil, 2001. Diploma de Participação no “III Encuentro Internaciol da aBrace” Montevideu/Urugua, 2001. Prêmio Internazionale II Convivio dell’ anno 2001, nella sezione “Poesia” com la lírica “Desabafo”, da Accademia Internazionale, II Convivio, Castiglione di Sicilia/ Itália, 2002. Diploma di Merito per l’opera “Desejos espúrios, e Prêmio Internazionale “Una Poesia Per la vita, Omaggio a Dennis Kann”, Edizione Universum, Trento/Itália, 2003. Título e Troféu “Personalidade Destaque SCLB-2003” na categoria escritora- Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Porto Alegre/Rio Grande do Sul/Brasil, 2003. Diploma di riconoscimento di mérito al Prêmio “Filoteo Omodei” nella sezione poesia in portughese, Pela Accademia Internazionale II Convívio, Castiglione di Sicília, 2004. Diploma de "The best of the year 2005 - Publications biography "Joana Aragão Adler''", International Writers and Artists Association-IWA, 2005. Prêmio Dia Internacional da Mulher "Categoria Psicologia", Atividade Eventos e Turismo, 2006. Mención de Honor – La Universidad Tecnica Luis Vargas Torres de Esmeraldas -Equador, 2008. Medalha do Mérito Cultural “Jorge Amado” Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais- InBraSCI, 2012. Título de Embaixadora Universal de la Cultura – Estado Plurinacional de Bolivia. Tarija, 2012. Homenagem da Faculdade Cândido Mendes – Placa de Reconhecimento e Agradecimento “por todos os anos de parceria”, 2013. Diploma de Honra ao Mérito- Espaço Cultural Gonçalves Dias, Caxias-Maranhão, 2013. Diploma de Honra ao Mérito- Fundação Cultural Gonçalves Dias, Caxias-Maranhão, 2013. Diploma de Legionário -24º Batalhão de Caçadores, 2013. Diploma de "The best of the year - Publications “Mil Poemas para Gonçalves Dias", International Writers and Artists Association-IWA, 2013. Diploma de Congratulação -Senador do Congresso da Sociedade de Cultura Latina – Laje Muriaé, Rio de Janeiro, 2014. Título de Embaixadora da Paz -Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix, Suisse / France, 2014. Diploma de “The Best Editor of Brazil”, the International Writers and Artists Association and Bluffton College, Ohio/EUA, 2016. Homenagem da 1ª FLAEMA pela valiosa colaboração à literatura maranhense, 2016 Troféu Cecília Meireles 18º evento mulheres notáveis- Itabira – Minas Gerais, 2016. Distinción “Botón Comunero”-Fundación Comuneros Arte e Cultura – Colombia, 2016. Mención de Honor – El Alcade de Municipio de Barichara- Santander/ Colombia, 2016. Moção de aplausos da câmara municipal de São Gonçalo, 2017. Troféu Mulher do século XX – Enlace Museu Pós-Moderno de Educação/Museu de Arte Contemporânea-Rio de Janeiro, 2017. Comenda AMIGOS DA EDUCAÇÃO- ONG- Amigos da Educação. Vitória /ES, 2017. Comenda Infanto-juvenil “Prof. Joadélio Codeço” - A.E.A.C., 2017. Reconhecimento Cultural - Museu de Arte Contemporânea-Rio de Janeiro, 2017. Menção honrosa da Prefeitura Municipal de São Gonçalo/Rio de Janeiro, 2017. Medalha do “Mérito Força Expedicionária Brasileira” – Campo Grande, 2017. Título de Excelência Literária - A.E.A.C. e Museu Pós- Moderno de Educação, Rio de Janeiro, 2017. Medalha Destaque: “Orgulho Cultural Língua Portuguesa no Mundo” - Museu Pós-Moderno de Educação, Rio de Janeiro, 2017. Diploma do Mérito Cultural -pela Sociedade de Cultura latina do Brasil-SCLB, 2018. Diploma do Mérito Cultural - da Academia Brasileira de Trova, Rio de Janeiro (RJ), 2018. Título de Amiga da ABT - da Academia Brasileira de Trova, Rio de Janeiro (RJ), 2018.
- Medalha do Município, e Cidade de Valpaços (Valpaços/ Portugal), 2019. - Medalha da Vila de Carrazedo de Montenegro (Carrazedo de Montenegro/Portugal), 2019. - Medalha Joaquim Duarte Baptista da SCLB, 2019. Diploma do “V Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho” da Academia de Letras de Teófilo Otoni -MG, (3º lugar Poesia) 2020. Diploma do “V Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho”, da Academia de Letras de Teófilo Otoni MG -Menção HonrosaCrônica, 2020. Entre os Encontros, Cursos e Congressos Internacionais podem ser citados: 1.ª Giornata di Studio “Aiutare ad Aiutarsi: Esperienze in Tema de Salute Mentale”, Milano-Itália, Outubro de 1995. 2.ª Giornata di Studio “Aiutare ad Aiutarsi: Esperienze in Tema de Salute Mentale”, Milano-Itália, (outubro/1995). VIII Encuentro Latinoamericano del Enfoque Centrado en la Persona, Aguascalientes-México, (Outubro/1996). Pedagogía 99-Encuentro por la unidad de los educadores latinoamericanos, Havana-Cuba (Fevereiro/1999). Curso de Filosofia y Sociologia de la Educación (C.H.: 120 hs), Instituto Central de Ciencias Pedagogicas, Havana-Cuba (1999). Curso de Postgrado “Problemas Teoricos y Metodologicos de La Psicologia Pedagogica”, (C.H.: 60 hs), Havana-Cuba (1999). Curso de Postgrado “Metodologia de la Investigación Educativa”, (C.H.: 120 hs), Havana-Cuba (2000). III Encuentro Internaciol da aBrace” Montevideu/Urugua, 2001. IX Foro Internacional del ECP, Mar Del Plata-Argentina, 2004). Pedagogia 2005- Encuentro por la unidad de los educadores e 1º Congreso Mundial de Alfabetización, Havana-Cuba, 2005. Encuentro Internacional Equador, 2008. XI Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa: A ACP em Tempos de Transição. Suzdal, Rússia, 2010. 49º Encuentro Internacional de Poetas “Oscar Guiñazú Álvarez”Villa. Dolores Argentina, 2010 V Encuentro Internacional de Escritores y Artistas. Tarija/Bolivia, 2012. I Congresso Internacional de Literatura Brasileira Nélida Piñon en la República de los Sueños, Salamanca/Espanha, 2018 X Encuentro Universal de Escritores (Brasil pais invitado de honor). Santander/ Colômbia, 2016. 20° Encuentro Internacional Literario aBrace, Uruguai. de 2018. III Encontro Internacional da Sociedade de Cultura Latina. Carrazedo de Montenegro/ Portugal (Organização). II Feira Literária Internacional do Xingu-FLIX: outras margens, Campus de Altamira-(UFPA) 2019. II Congresso Internacional de Literatura Brasileira. “Ana Maria Machado e o compromisso literário”. Salamanca/Espanha 2021 - (virtual). I Salon du livre et de la Culture de Genève – Cultive. Suisse, 2021- (virtual).
2. Quando e como começou a poetar/escrever sobre literatura? R- A escrever poemas desde a adolescência, a publicar em 1991. 3. Pertenceu a algum movimento? de que geração você é ou se enquadra? quem eram os companheiros? R- Tinha contatos frequentes com o “Poeme-se -Papoético” Geração que me enquadro: Geração 1990. Companheiros mais chegados: Paulo Melo Sousa, Gyl Pires, Ribamar (livraria) César Maranhão Rafael Oliveira
3. Qual a importância dos seguintes movimentos/grupos na sua formação como escritor/poeta: a. Geração de 45 b. Galeria dos Livros (década de 50/60) c. Antoponáutica/Guarnicê/LABORARTE d. Academia dos Párias e. Os Cadernos Alternativos/Vagalume f. Poeme-se/Papoético (X) g. Poiesis/Curare/Carranca h. Circuito de Poesia Maranhense/Latinidade (X) i. Safra 90 – Início a publicar em 90 (X) j. Guesa Errante- (X)
O GÊNIO FLORESTAL FERNANDO BRAGA Quem alcunhou Manuel Nunes Pereira, um dos maiores etnólogos brasileiros, de ‘gênio florestal’, foi um homem que tem a poesia na alma e um dodecassílabo no nome: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Manuel Nunes Pereira, infelizmente pouco conhecido pelos nossos conterrâneos e por seus pares da Academia Maranhense de Letras, foi uma das pessoas mais extraordinárias e generosas que tive a felicidade de conviver; nasceu na velha ‘Casa das Minas’, de origem daomeana, com traços da religião ou mitologia jêge-nagô, com culto Vodu, na Rua de São Pantaleão, em São Luís do Maranhão, em 26 de junho de 1893; era filho de Mãe Almerinda e afilhado da velha Nochê, Mãe Andreza Maria; e morreu no Rio de Janeiro, noventa e dois anos depois, em 27 de fevereiro de 1985. Foi muito cedo para Belém do Pará e depois para Niterói e Rio de janeiro, onde abandonou o curso de direito para estudar veterinária, biologia e botânica, especializando-se em etnografia e etnologia, cujas ciências dedicou sua vida inteira até aposentar-se pelo Ministério da Agricultura, possuindo nesse campo cientifico, um dos maiores acervos do país, em livros, documentos, anotações, fitas, filmes e registros das mais variadas espécies. Era um etnólogo do porte de Roger Bastide, de Arthur Ramos e de Levi Strauss, e “um homem de ciência agudamente provido de sensibilidade e visão humanística, eis o que é o caboclo maranhense Nunes Pereira”, na visão sensível, mas objetiva de Carlos Drummond de Andrade. Era membro da Academia Maranhense de Letras, para onde foi eleito duas vezes; a primeira ele não tomou posse no prazo regimental, tendo sido, por isso, passivo de uma nova eleição que o ratificou na cadeira nº 23, patroneada por Graça Aranha, e atualmente ocupada pelo engenheiro e mestre em Desenvolvimento Urbano, Luis Phelipe Andrès; Nunes Pereira é também um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras, onde conheceu e foi amigo de seu conterrâneo Maranhão Sobrinho, um dos maiores poetas simbolistas do Brasil. Como prova de sua grandeza em direção do bem, trago a este dedo de prosa o nosso escritor Jorge Amado que assim explana, em ‘Literatura Comentada’, edições Abril [1981-2]: “... Antes de decretarem o Estado Novo cheguei a Manaus e fui preso... Fui colocado numa cela com o Nunes Pereira, o etnólogo, um homem encantador. Eu e o Nunes Pereira passávamos o dia inteiro debaixo do chuveiro porque fazia um calor infernal, e os integralistas desfilavam na frente ameaçando a gente de morte ...” Estas são algumas das publicações de Nunes Pereira: A Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos ‘voduns’, do panteão Daomeano, no Estado do Maranhão, Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947 2ª.ed., Petrópolis, Vozes, Rio de Janeiro, 1979; Moronguetá - Um Decameron Indígena. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967 e 1976, 2 vols. [Coleção Retratos do Brasil, nº 50]; Panorama da alimentação indígena: comidas, bebidas e tóxicos na Amazônia Brasileira. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1974; Os índios Maués. Rio de Janeiro, Organização Simões, 1954;’Curt Nimuendaju’, [Síntese de uma vida e de uma obra], 1946; (Opúsculo) [A tartaruga verdadeira do Amazonas] de 17 páginas foi elaborado pelo veterinário Nunes Pereira e trata de uma obra bastante interessante e extremamente difícil de ser encontrada nas bibliotecas e acervos públicos. Dentre as muitas lembranças e saudades deixadas por Nunes Pereira, uma placa de bronze foi inaugurada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por ocasião de seu centenário de nascimento, cuja confecção foi providenciada pelo último secretário do cientista, o pesquisador ítalo-brasileiro Savério Roppa. Certa vez, no Rio de Janeiro, contou-me Nunes Pereira, procurou o escritor Coelho Neto, nosso conterrâneo ilustre para lhe pedir, dado seu prestígio, uma colocação em qualquer abrigo, desde que o remunerasse,
para que ele, o jovem maranhense, pudesse custear os estudos e pagar em dia a francesa dona da pensão, a qual fazia uma algaravia infernal quando recebia a mensalidade fora do prazo combinado. Numa noite qualquer, em casa de Coelho Neto, o jovem disse ao mestre o prazer que tinha em cumprimentálo e o motivo da visita. Depois de ouvi-lo, o ‘Príncipe da Prosa Brasileira’ levantou-se e se dirigiu à sua escrivaninha, e lá, de pé, como dizem que escrevia, o autor de ‘Rei Morto’ minutou num papel timbrado com seu nome, um bilhete endereçado a um tal Prestes, Diretor das Docas do Rio de Janeiro, que dizia textualmente isto, que me foi ditado pelo velho etnólogo: “Prestes amigo, O portador, Manuel Nunes Pereira é do Maranhão como eu; e em sendo de tal terra é natural que faça versos, pois é filho da ‘Oliveira e da Cigarra’. Ele está precisando de uma colocação aí nas docas do Rio de Janeiro, de cujo parasitário és defensor perpétuo e escarchas contrabandistas. Se deferires este meu requerimento, saberei cantar-te agradecido em rimas d’oiro. Um abraço. Do teu, Coelho Neto”. Essa empreitada infelizmente foi frustrada. O diretor das docas do Rio de Janeiro não atendeu ao pedido do ‘Príncipe da Prosa Brasileira’, resultando apenas desse ilustre pedido, a tomada do bilhete pelo próprio Nunes Pereira que o guardou como lembrança. Parnasianamente, “numa noite assim, de um céu assim...” Nunes Pereira desembarca em Brasília para receber o ‘Prêmio do Mérito Indigenista’ que seria outorgado pelo Ministério do Interior, pela publicação de sua obra em dois volumes ‘Moronguetá - Um Decameron Indígena’, a qual o contemplara com o prêmio ‘Roquete Pinto’, da Academia Brasileira de Letras; e como de costume, e para minha honra, levei-o para nosso apartamento como sempre o fazia. Quando de sua chegada, naquela mesma noite, bebemos uns goles de pinga que ele trouxera de Ji-Paraná, cidade de Rondônia, de onde era egresso naquela noite, e já onde se encontrava por algum tempo a pesquisar indígenas daquela região, tempo em que providenciávamos o preparo de um ‘tambaqui’ que também trouxera carinhosamente consigo. E varamos a madrugada como se estivéssemos à margem do Rio Madeira... No dia seguinte, pela manhã, fomos a uma livraria que distribuía os livros da ‘Civilização Brasileira’, para comprar os dois volumes de ‘Moronguetá, Um Decameron Indígena’, que o velho esquecera de trazer para presenteá-los ao Ministro do Interior; e à tarde foi o evento: justo quando Nunes Pereira autografava os volumes, o ministro, num gesto de gentileza, disse-lhe: “Já li alguns livros seus...” o que fez Nunes Pereira esboçar um sorriso de hiena e devolver-lhe o agradecimento em tom de blague: “Já se vê, ministro, que o senhor anda a ler alguma coisa!...” Chegado o dia de sua volta, fui levá-lo ao aeroporto e, num desses voos que aparecem não se sabe de onde, eis que surge o Fernando Lobo, jornalista, poeta, compositor e, orgulhosamente, como ele mesmo dizia, pai do Edu Lobo. Ao ver o velho Nunes dirigiu-se a ele com carinho e pilhérias bem à moda dos dois, sendo de logo a mim apresentado, tempo em que rumamos para o restaurante do aeroporto, onde nos amesendamos, entre aperitivos, reminiscências e piadas; lá pelas páginas tantas, depois de ter perdido uns três aviões da ponte-aérea, o velho Nunes perguntou-me se eu não queria ir com eles para o Rio de Janeiro, a tirar do bolso do paletó um ‘bilhete’ de passagem a sugerir que eu fosse ao balcão da companhia marcar uma ida, caso tivesse vaga... e sempre tinha...E assim foi! Já no Rio de Janeiro; despedimo-nos do Fernando Lobo, uma pessoa que jamais esqueci pela inteligência e simpatia irradiadas, e seguimos para a Avenida Almirante Alexandrino, em Santa Teresa, endereço que escondia o velho cientista, momentaneamente vazio, vez que seus familiares se encontravam de veraneio em Nova Friburgo, no Estado do Rio. No dia seguinte, o ‘bondinho de Santa Teresa’, cansado de carregar artistas e boêmios, nos deixou quase sem querer no ‘Amarelinho’, na Cinelândia, [donde nunca devera ter saído], e onde gastamos toda tarde daquele dia ao encontrarmos, por feliz coincidência, Nauro Machado, Franklin de Oliveira e Lago Burnett...à noite retornei a Brasília. Desandando o fio à meada, quis os desígnios de Deus que eu estivesse em Porto Velho, no Estado de Rondônia, antigo ‘Território do Guaporé’, a realizar um trabalho temporário que fui designado a fazê-lo;
lugar em que também, por períodos temporais, era núcleo natural de estudos antropológicos do velho Nunes Pereira, para aonde os ventos da vida nos uniria pela derradeira vez... Algum tempo depois, certa manhã chuvosa, para ser mais triste que de costume, ao atravessar uma praça da cidade onde ele era muito conhecido e querido, um jornaleiro passou a apregoar o ‘Alto Madeira’, o maior jornal da região, com uma voz de lamento: “Atenção! Morreu no Rio de Janeiro, o Doutor Nunes Pereira!” Atenção! Morreu, no Rio de Janeiro, o Doutor Nunes Pereira!”. Comprei um exemplar do jornal, encosteime a mureta da Praça e ali mesmo, antes de ler a notícia, “rezei como o salmista na caverna, e olhei para minha direita e vi; mas não havia quem me conhecesse; refúgio me faltou; ninguém cuidou de minha alma”; e ali mesmo chorei... chorei muito!...
LEONETE OLIVEIRA ou Ângela Grassi brasileira – UMA BRILHANTE E DESCONHECIDA POETA DO ENTRESSÉCULOS XIX – XX ANTONIO AÍLTON
A grande maioria dos que estudaram o Parnasianismo, desde a escola já ouviram falar, pelo menos, em uma mulher entre os austeros parnasianos, de poemas esculpidos e canção marmórea: a poeta paulista de “Musa Impassível”, Francisca Júlia. Porém, entre os grandes nomes maranhenses que brilham na poesia brasileira na passagem entre o século XIX e o século XX, bem poucos ouviram o nome de Leonete Oliveira (São Luís, 1888-Rio de Janeiro, 1969). Esta, segundo um dos importantes registros daquele momento, do escritor e crítico Antônio Lobo (Diário do Maranhão, 05/06/1898), foi, por sua vez, a primeira poeta maranhense, embora talvez tenha se referido à sua “estatura” poética, não à precedência temporal. Leonete Oliveira ou, conforme assinava em suas primeiras publicações nos jornais maranhenses, Ângela Grassi (escritora romântica espanhola), ganhou o título de “a maior e mais brilhante poetisa maranhense” (M. Nogueira da Silva, Jornal das Moças, 1917, p. 12¹). Leonete Oliveira era também professora e bibliotecária.
LEONETE FERNANDA DE OLIVEIRA Nascida no Maranhão a 14 de julho de 188S. Auxiliar do diretor da Biblioteca Publica do seu Estado. Autora de Flocos; Há realmente vários registros naqueles jornais finisseculares e de entresséculos. Mas quem resgata ultimamente esse nome tão importante, um tanto quanto apagado ou silenciado nas atuais matérias sobre a poesia daquele momento, é o incansável pesquisador Leopoldo Vaz, inconformado enquanto não alcança os últimos registros sobre o assunto que busca. Leopoldo publicou esse “apanhado” na sua Revista do Léo², onde pode ser pesquisado. É somente através das espessuras e cortinas do tempo que podemos ver essa mulher, vivendo num contexto de poetas grandiosos, mas também de uma sociedade que de um modo ou de outro reprimia a voz feminina
nos papeis intelectuais e culturais. O próprio Antônio Lobo levanta essa questão e relata que, infelizmente, e apesar de mesmo escassamente algumas vozes femininas ainda se sobressaírem nos grandes centros, na sociedade arcaica do Maranhão isso era muito mais difícil. A mulher, quando muito, dedicava (ou era lançada) aos conventos. Era a educação familiar e religiosa, e haveria muito mais beatas que poetisas – na linguagem da época. Mesmo através dessas cortinas do tempo, o que podemos encontrar nela é uma mulher forte, que penetrou aos poucos nos meios literários e intelectuais, participava de eventos cívicos e religiosos, viajou bastante (São Paulo, Lisboa, Fortaleza, Rio de Janeiro…), fez-se considerar pelos poetas e críticos até sua morte, inclusive poetas conhecidos no séculos XX que lhe submetiam os textos; deu palestras sobre a condição da mulher na Biblioteca Pública do Estado e na Universidade Popular, deu voz à mulher em seus poemas, e era membro correspondente da Academia Maranhense de Letras. Publicou, além de muitos poemas esparsos, pelo menos três livros de poesia: “Flocos” (1910), “Cambiantes” e “Folhas de outono” (1914-1917[?]). A intenção aqui, obviamente não é fazer um tratado sobre a autora, sua vida e as questões complexas que envolvem seu contexto e obscurecimento. Não é tampouco levantar disputas de se ela foi a primeira, a segunda, ou a terceira poeta maranhense etc, já que há também na pauta outros nomes importantes, como Maria Firmina dos Reis, que tem sido resgatada ultimamente. São coisas e questões que exigem uma pesquisa madura e aprofundada. Creio que ela deve ser valorizada pelo que ela é, pelo seu papel, pela sua figura de poeta do momento, inclusive dentro de um sistema da história da literatura brasileira, que relega tantos autores importantes à marginalidade. Podemos entender a poética de Leonete Oliveira fundamentalmente dentro do espírito do Parnaso, como assim compreendemos, por exemplo, Raimundo Corrêa. Porém, mais acentuadamente que este, a poeta pratica ainda uma experiência romântica patente e se estende até o simbolismo. Seus poemas de tom e teor simbolistas são, a meu ver, os melhores. Ela não deixa também de extravasar em alguns momentos forte erotismo ou de, noutro registro, ironizar a questão masculina. Enfim, uma poeta de alto domínio formal que foi colocando ali, nas chaves parnasianas o seu espírito e sua força. E a força de um poeta pode ser medida pela desejo que outros têm de imitá-lo(a) ou até plagiá-lo(la). Isto é, do impacto que sua poesia causa sobre outros. Foi o que aconteceu com um poema do Flocos, de 1910, de Leonete Oliveira, que foi descaradamente plagiada por Carlos Porto Carreiro em 1924 – talvez por um desses acasos que o autor publica e fica na obscuridade, enquanto outros se aproveitam. Mas a verdade apareceu. Abaixo, escolhi alguns de seus fortes e encantadores sonetos, entretanto há muito mais a ser visto: SÓ Sempre tiveste um coração vazio ermo de sonhos como um deserdado; nunca um raio de amor, mesmo tardio, pôde dar vida ao teu olhar gelado. Sempre viveste só, mudo e sombrio como quem traz no peito lacerado, em vez de um coração forte e sadio, um pedaço de mármore guardado. Mas um dia virá em, que, tristonho, cheio de dor e em lágrimas desfeito, hás de correr em busca de outro sonhos... Em vão! Que em cada coração, decerto, encontrarás o gelo do teu peito a aridez infinita de um deserto. (in: Flocos)
SUPLÍCIO DE TÂNTALO Nasci de asas cortadas, no infinito dos meus sonhos de glória e de ventura, tentei em vão subir, no impulso aflito de quase desespero ou de loucura… Olhando o espaço, o coração contrito, das belezas da vida ando à procura, e penso, e sinto, e sofro, e choro, e grito , no anseio de vencer esta tortura… Diante de mim os pomos de ouro avisto e querendo alcançá-los fico inerme, sem saber se estou morta ou ainda existo… E vendo em tudo um luminoso véu, eu continuo qual se fora um verme, rastejando na terra e olhando o céu! (in: Folhas de outono) E este jocoso soneto, a nos lembrar o simbolismo irônico: CASAR É BOM - “Casar é bom - diz o burguês pacato, Por entre um riso de expressão brejeira - é muito bom ter-se uma companheira Que nos faça a pastinha e escove o fato”. - “Casar é bom, não com mulher faceira que vive empoada e trescalando extrato; quem tiver senso, o homem que for sensato que procure uma boa cozinheira... Essa que tem de todos os sentidos somente o paladar, é o que chamamos o lindo ideal de todos os maridos; não vê, não ouve, indiferente e fria, não pergunta zangada porque vamos todas as noite à maçonaria...” (O Jornal, de 26 de abril de 1921)
NASCE O IMPERADOR DA LIRA AMERICANA, GONÇALVES DIAS. WYBSON CARVALHO.
O busto de Gonçalves Dias, observado pelo poeta Wybson Carvalho no Morro da Laranjeira – Mata do Jatobá. Há quase dois séculos, precisamente, nesta data de 10 de agosto de 1823, no morro da Laranjeira, num sítio denominado de Boa Vista, localizado na mata do Jatobá, distante acerca de 14 léguas da Vila de Caxias das Aldeias Altas, nascia o filho do comerciante português, João Manoel Gonçalves Dias, e da cafuza brasileira, Vicência Mendes Ferreira: Antônio Gonçalves Dias, o Imperador da Lira Americana e filho ilustre da terra de palmeiras onde canta o sabiá.
O porquê: A Vila de Caxias fora no século XVIII um vigoroso centro comercial, localizado às margens do rio Itapecuru, num período em que a navegação era o mais importante meio de circulação das riquezas e muito se beneficiou dessa circunstância. Porto de entrada para o Alto Itapecuru e para a então região dos Pastos Bons, além de destino ou passagem do intenso intercâmbio mercantil a partir da Bahia até os sertões maranhenses, a Vila de Caxias foi um florescente entreposto de compra e venda de gado e de produtos agrícolas, principalmente arroz e algodão, de acentuada participação na economia do Estado na época. A crescente prosperidade do lugar atraiu inúmeros comerciantes europeus para a Vila de Caxias, dentre os muitos: os portugueses e entre eles João Manoel Gonçalves Dias, que não figurava entre os principais negociantes, em Caxias, daquela época mas avultava influentes capitalistas. Era solidamente estabelecido com uma casa de comércio na Rua do Cisco, junto à qual residia num sobrado com Vicência Mendes Ferreira, uma cafuza separada do marido e a quem tomava por companheira. Precisamente, na segunda metade do ano de 1823, a forte reação contra a independência teve, na Vila de Caxias, ainda, um dos seus centros de maior ressonância. O cerco ao lugar e sua posterior capitulação custaram muito sangue derramado e revelaram, tanto da parte das tropas sob o comando do Major Fidié quanto entre os que lutavam pela causa nativista, muita bravura e determinação. É bastante compreensível que o português João Manoel Gonçalves Dias formasse, ao lado de outros compatriotas, adeptos da continuidade do Brasil como colônia de sua pátria, Portugal. Por tal motivo, logo
que se tornou vitoriosa a causa nacionalista brasileira, sobre quantos, por ação ou omissão, contribuíram para a impedir ou retardar a adesão do Maranhão à Independência, a Junta de Delegação Extraordinária do Ceará e Piauí, consumada a capitulação, lançou multas que variavam de oito contos de réis a quatro mil réis. Alguns pagaram a quantia estipulada, houve que conseguisse redução da pena, outros obtiveram a absolvição, ao passo que uns fugiram do ônus imposto, expediente ao qual recorreu João Manoel Gonçalves Dias, multado em um conto de réis.
Casa em sobrado, na cidade de Caxias, na qual residiu o poeta Gonçalves Dias, e, a de canto pegada a ela, era onde seu pai comercializava com a sua ajuda já aos oito anos de idade. Deixando Caxias com Vicência, que se encontrava em adiantado estado de gestação, o português João Manoel Gonçalves Dias refugiou-se num sítio que possuía no lugar boa Vista, pertencente à data Jatobá, distante cerca de 14 léguas de onde partira. Foi, então, no desconforto desse esconderijo que, em 10 de agosto de 1823, nasceu o menino batizado Antônio Gonçalves Dias, e a quem o destino reservara a glória de primeiro grande poeta brasileiro. “É, pois, para todos os brasileiros, mas cabe mais, particularmente, aos filhos desta terra pugnar pelas suas glórias. Caxias, que tão dignamente figura na República das Letras, deve dar o exemplo de como se estimar os bons engenhos, de como zelar a fama própria, de como se respeitam esses grandes vultos que são o Panteon da Posteridade...”. Dissera o poeta, Antônio Gonçalves Dias. Pois, hoje, aqui, neste jornal, traz estes cunhos: cívico e cultural no qual ratificamos Caxias em um bom engenho e, literalmente, berço de filhos com brilho próprio que a tornam um fiel Panteon cívico e histórico ao nosso povo. Fonte de Pesquisa: Vida e Obra de Gonçalves Dias- Jomar Moraes. * Wybson Carvalho, poeta e membro da Academia Caxiense de Letras.
Gonçalves Dias
Nome completo
Antônio Gonçalves Dias
Nascimento
10 de Caxias
Morte
3 de novembro Guimarães
Nacionalidade
agosto de
de
1823
1864 (41 anos)
Brasileiro
Ocupação
Poeta e teatrólogo
Escola/tradição
Romantismo
Antônio Gonçalves Dias (Caxias, 10 de agosto de 1823 — Guimarães, 3 de novembro de 1864) foi um poeta e teatrólogo brasileiro. Biografia Nascido em Caxias, era filho de uma união não oficializada entre um comerciante português com uma mestiça cafuza brasileira (o que muito o orgulhava de ter o sangue das três raças formadoras do povo brasileiro: branca, indígena e negra), e estudou inicialmente por um ano com o professor José Joaquim de Abreu, quando começou a trabalhar como caixeiro e a tratar da escrituração da loja de seu pai, que veio a falecer em 1837. Iniciou seus estudos de latim, francês e filosofia em 1835 quando foi matriculado em uma escola particular. Foi estudar na Europa, em Portugal em 1838 onde terminou os estudos secundários e ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1840), retornando em 1845, após bacharelar-se. Mas antes de retornar, ainda em Coimbra, participou dos grupos medievistas da Gazeta Literária e de O Trovador, compartilhando das ideias românticas de Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Antonio Feliciano de Castilho. Por se achar tanto tempo fora de sua pátria inspira-se para escrever a Canção do exílio e parte dos poemas de "Primeiros cantos" e "Segundos cantos"; o drama Patkull; e "Beatriz de Cenci", depois rejeitado por sua condição de texto "imoral" pelo Conservatório Dramático do Brasil. Foi ainda neste período que escreveu fragmentos do romance biográfico "Memórias de Agapito Goiaba", destruído depois pelo próprio poeta, por conter alusões a pessoas ainda vivas. No ano seguinte ao seu retorno conheceu aquela que seria sua grande musa inspiradora: Ana Amélia Ferreira Vale. Várias de suas peças românticas, inclusive “Ainda uma vez — Adeus” foram escritas para ela. Nesse mesmo ano ele viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, onde trabalhou como professor de história e latim do Colégio Pedro II, além de ter atuado como jornalista, contribuindo para diversos periódicos: Jornal do Commercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia, publicando crônicas, folhetins teatrais e crítica literária.
Litografia de Gonçalves Dias em rótulo de cigarro. Em 1849 fundou com Manuel de Araújo Porto-alegre e Joaquim Manuel de Macedo a revista Guanabara, que divulgava o movimento romântico da época. Em 1851 voltou a São Luís do Maranhão, a pedido do governo para estudar o problema da instrução pública naquele estado. Gonçalves Dias pediu Ana Amélia em casamento em 1852, mas a família dela, em virtude da ascendência mestiça do escritor, refutou veementemente o pedido. No mesmo ano retornou ao Rio de Janeiro, onde casou-se com Olímpia da Costa. Logo depois foi nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Passou os quatro anos seguintes na Europa realizando pesquisas em prol da educação nacional. Voltando ao Brasil foi convidado a participar da Comissão Científica de Exploração, pela qual viajou por quase todo o norte do país. Voltou à Europa em 1862 para um tratamento de saúde. Não obtendo resultados retornou ao Brasil em 1864 no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira; salvaram-se todos, exceto o poeta que foi esquecido agonizando em seu leito e se afogou. O acidente ocorreu nos baixios de Atins, perto da vila de Guimarães no Maranhão. Sua obra pode ser enquadrada no Romantismo. Procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. Ao lado de José de Alencar, desenvolveu o Indianismo.Por sua importância na história da literatura brasileira, podemos dizer que Gonçalves Dias incorporou uma ideia de Brasil à literatura nacional. O grande amor: Ana Amélia
Retrato de Gonçalves Dias. Por ocasião da elaboração da antologia poética da fase romântica, elaborada por Manuel Bandeira, Onestaldo de Pennafort gentilmente escreveu a nota que segue, retirada daquela obra e aqui transcrita: " A poesia "Ainda uma vez --adeus,--" bem como as poesias "Palinódia e "Retratação" -- foram inspiradas por Ana Amélia Ferreira do Vale, cunhada do Dr. Teófilo Leal, ex-condiscípulo do poeta em Portugal e seu grande amigo. " Gonçalves Dias viu-a pela primeira vez em 1846 no Maranhão. Era uma menina quase, e o poeta, fascinado pela sua beleza e graça juvenil, escreveu para ela as poesias "Seus olhos" e "Leviana". Vindo para o Rio, é
possível que essa primeira impressão tenha desaparecido do seu espírito. Mais tarde, porém, em 1851, voltando a S. Luís, viu-a de novo, e já então a menina e moça de 46 se fizera mulher, no pleno esplendor da sua beleza desabrochada. O encantamento de outrora se transformou em paixão ardente, e, correspondido com a mesma intensidade de sentimento, o poeta, vencendo a timidez, pediu-a em casamento à família. " A família da linda Don`Ana -- como lhe chamavam -- tinha o poeta em grande estima e admiração. Mais forte, porém, do que tudo era naquele tempo no Maranhão o preconceito de raça e casta. E foi em nome desse preconceito que a família recusou o seu consentimento. " Por seu lado o poeta, colocado diante das duas alternativas: renunciar ao amor ou à amizade, preferiu sacrificar aquela a esta, levado por um excessivo escrúpulo de honradez e lealdade, que revela nos mínimos atos de sua vida. Partiu para Portugal. Renúncia tanto mais dolorosa e difícil por que a moça que estava resolvida a abandonar a casa paterna para fugir com ele, o exprobrou em carta, dura e amargamente, por não ter tido a coragem de passar por cima de tudo e de romper com todos para desposá-la! " E foi em Portugal, tempos depois, que recebeu outro rude golpe: Don`Ana, por capricho e acinte à família, casara-se com um comerciante, homem também de cor como o poeta e nas mesmas condições inferiores de nascimento. A família se opusera tenazmente ao casamento, mas desta vez o pretendente, sem medir considerações para com os parentes da noiva, recorreu à justiça, que lhe deu ganho de causa, por ser maior a moça. Um mês depois falia, partindo com a esposa para Lisboa, onde o casal chegou a passar até privações. " Foi aí, em Lisboa, num jardim público, que certa vez se defrontaram o poeta e a sua amada, ambos abatidos pela dor e pela desilusão de suas vidas, ele cruelmente arrependido de não ter ousado tudo, de ter renunciado àquela que com uma só palavra sua se lhe entregaria para sempre. desvairado pelo encontro, que lhe reabrira as feridas e agora de modo irreparável, compôs de um jato as estrofes de "Ainda uma vez - adeus --" as quais, uma vez conhecidas da sua inspiradora, foram por esta copiadas com o seu próprio sangue." Julgamento crítico De Alexandre Herculano "Os primeiros cantos são um belo livro; são inspirações de um grande poeta. A terra de Santa Cruz, que já conta outros no seu seio, pode abençoar mais um ilustre filho. O autor, não o conhecemos; mas deve ser muito jovem. Tem os defeitos do escritos ainda pouco amestrado pela experiência: imperfeições de língua, de metrificação, de estilo. Que importa? O tempo apagará essas máculas, e ficarão as nobres inspirações estampadas nas páginas deste formoso livro. Abstenho-me de outras citações, que ocupariam demasiado espaço, não posso resistir à tentação de transcrever das Poesias Diversas uma das mais mimosas composições líricas que tenho lido na minha vida. (Aqui vinha transcrita a poesia Seus Olhos.) Se estas poucas linhas, escritas de abundância de coração, passarem, os mares, receba o autor dos Primeiros Cantos testemunho sincero de simpatia, que não costuma nem dirigir aos outros elogios encomendados nem pedi-los para si" ("Futuro Literário de Portugal e do Brasil" em Revista Universal Lisbonense, t.7,pág. 7 ano de 1847-1848) De José de Alencar "Gonçalves Dias é o poeta nacional por excelência: ninguém lhe disputa na opulência da imaginação, no fino lavor do verso, no conhecimento da natureza brasileira e dos seus costumes selvagens" (Iracema) De Machado de Assis "Depois de escrita a revista, chegou a notícia da morte de Gonçalves Dias, o grande poeta dos Cantos e dos Timbiras. A poesia nacional cobre-se, portanto, de luto. Era Gonçalves Dias o seu mais prezado filho, aquele que de mais louçania a cobriu. Morreu no mar-túmulo imenso para talento. Só me resta espaço para aplaudir a ideia que se vai realizar na capital do ilustre poeta. Não é um monumento para Maranhão, é um monumento para o Brasil. A nação inteira deve concorrer para ele. (Crônicas em Diário do Rio de Janeiro, de 9 de novembro de 1894.) Cronologia • 1823 - 10 de agosto: Nasce no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá, a 14 léguas da vila de Caxias, Antônio Gonçalves Dias. Filho do comerciante João Manuel Gonçalves Dias, natural de Trás-osMontes, e de Vicência Ferreira, maranhense. • 1830 - É matriculado na aula de primeiras letras do Prof. José Joaquim de Abreu. • 1833 - Começa a servir na loja do pai como caixeiro e encarregado da escrituração.
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
1835 - É retirado da casa comercial e matriculado no curso do Prof. Ricardo Leão Sabino, onde principia a estudar latim, francês e filosofia. 1838 - Parte para São Luís, onde embarcará para Portugal; chega em outubro a Coimbra e entra para o Colégio das Artes. 1840 - 31 de outubro: Matricula-se na Universidade. 1845 - Embarca no Porto para São Luís, aonde chega em março, partindo no dia 6 para Caxias. 1846 - Embarca para o Rio de Janeiro. 1847 - Aparecem os Primeiros Cantos, trazendo no frontispício a data de 1846. 1848 - Aparecem os Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão. 1849 - É nomeado professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. 1851 - Publicação dos Últimos Cantos. 1852 - É nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros 1854 - Parte para Europa. 1856 - Viagem à Alemanha. É nomeado chefe da seção de Etnografia da Comissão Científica de Exploração. 1857 - O livreiro-editor Brockhaus, de Dresda, edita os Cantos, os primeiros quatro cantos do poema Os Timbiras e o Dicionário da Língua Tupi. 1859 - 1861 - Trabalhos da Comissão no interior do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará e Amazonas, chegando até Mariná, no Peru. 1862 - Parte para o Maranhão, mas no Recife, depois de consultar médico, resolve embarcar para Europa. 1862 - 22 de agosto: É desligado da comissão Científica de Exploração. 1862 - 1863 - Estação de cura em Vicky. Marienbad, Dresda, Koenigstein, Teplitz e Carlsbad. Em Bruxelas sofre a operação de amputação da campainha. 1863 - 25 de outubro: Embarca em Bordéus para Lisboa, onde termina a tradução de A noiva de Messina, de Schiller. 1864 - Fins de Abril: Volta a Paris. Estações de cura em Aix-ls-Bains, Allevard e Ems (Maio, junho e julho). 1864 - 10 de setembro: Embarca o Poeta no Haver no navio Ville de Boulogne. Piora em viagem 1864 - 3 de novembro: Naufrágio nas costas do Maranhão e morte de Gonçalves Dias.
Obras • • • • • • • • • • • • •
1843: Canção do exílio 1843: Patkull 1846: Primeiros cantos 1846: Meditação 1846: O Brasil e Oceania 1848: Segundos Cantos 1848: Sextilhas de Frei Antão 1846: Seus Olhos 1857: Os timbiras 1851: I-Juca-Pirama 1858: Dicionário da Língua Tupi, chamada língua geral dos indígenas do Brasil 1859: Segura o Índio Louco 1997: Zica da Patagônia