MARANHAY (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
ANTOLOGIA: ‘MULHERES DE ATENAS’ MIGANVILLE – MARANHÃO EDIÇÃO 56 - MARÇO DE 2021
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presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
EDITORIAL
A “MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Este número, em especial – e a seguir outros - serão dedicado à dar visibilidade á ANTOLOGIA LUDOVICENSE que comecei a elaborar alguns anos passados, quando da fundação da Academia Ludovicense de Letras como uma roposta levada aos seus membros e aprovada sua construção. Nomeada a Comissão especial, esta não se reunia sempre com uma justifiucativa diferente, da presidente da mesma; decedi-me, então, a comaçá-la, reunindo as inforaçoes necessárias daqueles literatos que nasceram na Ateas brasileira... Em uma ds reuniões, de final de ano, fiz a cobrança, estando todos o membros da comissão presentes, e informando que já iniciara o levantamento e tinha mis de mil páginas já ‘escritas’, com o resgate de vários dos dignos representantes da poesia e prova da Ilha. Houve um pandemônio, afirmativas de que uma única pessoa não conseguiria faze-la, e que havia uma Comissão para tal... apresentei, então, os cinco volumes já prontos!!! À Comissão. Foi então ‘descartado’ como sendo a Antologia oficial da ALL, pois não era fruto de trbalho da comissão agora já em minúsculo – designada como tal. Que se desejasse, que a publicasse ccomo trabalho individual, sem o aval da ALL... é o que venho a fazer, agora. Alguém, dogrupo de poetas, Os Integrantes da Noite, sugriu uma antologia de poetisas ludovicenses/maranhenses e informei que um dos violumes da Atologia em que vinha trabalhando intitulava-se “Mulheres de Atenas”, pois as senhoras da ALL, naquela ocasião, decidiram que haveria um volume dedicado apenas às mulheres... Pediram, então, que colocasse visível o trabalho... começemo por elas, então... Lembrando, toda antologia é uma escolha pessoal; aqui, procurou-se identificar todas aquelas que consegui identificar como sendo ‘ludovicenses’... É uma obra aberta: aceitando contribuições e novas autoras!!! Lembrando: muitos dos textos têm autores colaboradores, e estão citados, bem como os locais pesquisados nas redes... o escriba aqui apenas coordenou/organizou, e escreveu algumas linhas...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
SUMÁRIO 2 3 4 5
Expediente Editorial Sumário INTRODUÇÃO
IMORTAIS ALL, AML, IHGM MARIA FIRMINA DOS REIS
LAURA ROSA DILU MELO LUCY DE JESUS TEIXEIRA MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD DAGMAR DESTÊRRO E SILVA DILERCY ARAGÃO ADLER CLORES HOLANDA SILVA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO CERES COSTA FERNANDES MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES ANA MARIA COSTA FÉLIX ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ MACHADO MARIANA LUZ, por JUCEY SANTANA LAURA AMÉLIA DAMOUS SONIA ALMEIDA, por ALBERICO CARNEIRO LENITA ESTRELA DE SÁ WANDA CRISTINA ASSOCIAÇÃO DOS POETAS DE “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS ALANNA VERDE RODIGUÊS ALINE FERNANDA MORAES DA SILVA CANTANHEDE AMANDA SUELY BRITO DE SOUSA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ARYANE RIBEIRO PEREIRA BIANCA MELO CARLA LUDIMILA OLIVEIRA ARAUJO DALCIENE SANTOS DUTRA DANIELLE ADLER NORMANDO ELANE CRISTINA P. DE ARAUJO KAYLLA KAITH LOPES GONÇALVES KEDMA KESSIA PINHEIRO BERNARDO KEILA MARIA VERAS SOARES SILVA KEULES DIENE ROCHA DA SILVA LÚCIA AMORIM CASTRO MARIA EDUARDA PIRES SOUSA MAYARA SOUSA GONÇALVES MICHELLE ADLER NORMANDO DE CARVALHO MIKAELLE CRISTINA DOS SANTOS CANTANHEDE MILENA ADLER NORMANDO DE SÁ MYLENE DOS SANTOS SIQUEIRA RAQUEL CAMPOS PEREIRA SIMONE PINHEIRO VITÓRIA MARIA GALVÃO COQUEIRO AS LITERATAS ANA ELISA MERCADANTE ANDRÉA LEITE COSTA ANGÉLICA MARIA SEREJO COSTA APOLÔNIA PINTO AURORA DA GRAÇA ALMEIDA CYNTHIA ESTEVES DE ANDRADE
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DANIELLE ADLER NORMANDO DINACY CORRÊA FEITOSA ELZA PAXECO MACHADO ENILDE COTRIM DE FIGUEIREDO GABRIELA LAGES VELOSO GEANE LIMA FIDDAN GORETH PEREIRA HENRIQUETA EVANGELINE JESUINA AUGUSTA SERRA KENIA REGINA OLIVEIRA MAIA LEONETE OLIVEIRA LIMA ROCHA LILA MAIA LILIAN LUCIA PORTO R. DA SILVA LINDA BARROS LU MENEZES LÚCIA SANTOS LUCIANA MARTINS MÁRCIA MARANHÃO DE CONTI MARIA CRISTINA AZEDO MATTOS MARIA VILMA MUNIZ VERAS MARÍLIA MUNIZ VERAS MICAELA TAVARES RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA ROSEMARY RÊGO VIRGINIA RAYOL BRAGA MALUF ZILÁ ANGELA PAES
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GALERIA DE LIVROS VENÚSIA NEIVA OLGA MOHANA LOURDINHA LAUANDE NÚMEROS PUBLICADOS – MARANHAY, Revista Lzeirenta & REVISTA DO LÉO
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INTRODUÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 Academia Poética Brasileira – Cadeira 92 Uma advertencia: “Escrevi para aprender”1. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção deste espaço intelectual e para a análise das estratégias de afirmação2, disputas e repertórios nele acionados, são importantes fontes as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Para obtenção de dados relativos aos agentes em questão buscaram-se, mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhemos informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sites particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem... A motivação para reunir o material aqui ora apresentado, foi o ingresso como membro fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, e que tem como finalidade: [...] o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º do Estatuto Social).
O presente volume é dedicado às MULHERES de ATENAS, às IMORTAIS 3 não só da Academia Ludovicense de Letras, mas sobretudo daquelas nascidas na cidade do Maranhão – São Luis. Muito embora muitas das atuais ocupantes de cadeiras das nossas instituições academicas não seja ludovicenses de nascença, tiveram sua vida e obra atreladas à cidade; dai estarem aqui elencadas, as Imortais; as demais têm como condição primeira ter nascido aqui, em São Luis do Maranhão. Para Silva (2009)4, ao longo dos cem anos de existência da Academia Maranhense de Letras, dos cento e quarenta e dois (142) membros, apenas oito (8) são mulheres. São elas: Laura Rosa, Mariana Luz, Dagmar Desterro, Conceição Aboud, Lucy Teixeira, Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sônia Almeida. Corrêa; e Pinto (2011) 5, ao lançarem olhar sobre a poesia maranhense contemporânea de autoria feminina a safra poética das últimas décadas do século XX, a partir dos anos 80 -, identificam: Laura Amélia MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 3 NERES, José. CERES, LAURA E SONIA: TRÊS MULHERES IMORTAIS. Disponível em http://joseneres.blogspot.com.br/2010/01/cereslaura-esonia.html 4 SILVA, RENATO KERLY MARQUES. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses. Dissertação de mestrado. Ufma, 2009. Disponivel em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_docman&task... 5 CORRÊA, Dinacy Mendonça; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE..Núcleo de Estudos Lingüísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema. 1
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Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline. Dinacy Corrêa6, ao lançarb “Um olhar sobre a poesia maranhense contemporânea” , de autoria feminina (especificamente a safra poética das últimas décadas do século 20 próximo passado, a partir dos anos 80, no trânsito para o século XXI), elenca: Arlete Nogueira da Cruz, Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Lenita Estrela de Sá, Lúcia Santos, Maria Martha, Wanda Cristina Cunha, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Goreth Pereira, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline A Academia Ludovicendse de Letras, dentre seus membros – Patronos e Fundadores – possui seis Patronas, das Cadeiras: 08: Maria Firmina dos Reis – também Patrona da Academia, por isso “Casa de Firmina dos Reis”; 25: Laura Rosa; 29: Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello); 34: Lucy de Jesus Teixeira; 37: Maria da Conceição Neves Aboud; e 38: Dagmar Destêrro e Silva. Dentre as Fundadoras: ocupam: Cadeira 8, Dilercy Adler; Cadeira 30, Clores Holanda Silva; e Cadeira 31, Ana Luiza Almeida Ferro. Em março, quando da eleição de novos membros das ALL, foram indicadas e aceitas: Ceres Costa Fernandes, cadeira 34 patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatam Melo; Maria Thereza de Azevedo Neves, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira, para a cadeira 13 patroneada por Artur Azevedo; Eva Maria Nunes Chatel, indicação de Ana Luiza Almeida Ferro, para ocupar a Cadeira 29, patroneada por Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello) – renunciou à indicação em abril de 2015. Mantive a redação e fiz alguns acréscimos de niovas autoras.
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IMORTAIS
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Pertencem à Academia Ludovicense de Letras: Maria Firmina dos Reis – também Patrona da Academia, por isso “Casa de Firmina dos Reis”; 25: Laura Rosa; 29: Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello); 34: Lucy de Jesus Teixeira; 37: Maria da Conceição Neves Aboud; e 38: Dagmar Destêrro e Silva. Dentre as Fundadoras: ocupam: Cadeira 8, Dilercy Adler; Cadeira 30, Clores Holanda Silva; Cadeira 31, Ana Luiza Almeida Ferro. E primeiras ocupantes, temos Ceres Costa Fernandes, cadeira 34 patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatam Melo; Maria Thereza de Azevedo Neves, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira, para a cadeira 13 patroneada por Artur Azevedo.
MARIA FIRMINA DOS REIS8
PATRONA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS PATRONA DA CADEIRA 8 DA ALL Nasceu em São Luiz do Maranhão, em 11 de Outubro de 18259, sendo registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Menina bastarda e mulata vivendo num contexto de extrema segregação racial e social, aos cinco anos teve que se mudar para a vila de São José de Guimarães, no município de Viana, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos. O acolhimento em casa de uma tia materna teria sido crucial para a sua formação. Consta ainda ter obtido ajuda do escritor e gramático Sotero dos Reis, primo por parte de mãe, “a quem deve sua cultura, como afirma em diversos poemas”.
Úrsula. Romance, 1859. Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude). Poemas em: Parnaso maranhense, 1861. A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense no. 3) Cantos à beira-mar. Poesias, 1871. Hino da libertação dos escravos. 1888. Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha (jornal); e Federalista. Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).
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DUARTE, Eduardo de Assis. MARIA FIRMINA DOS REIS E OS PRIMÓRDIOS DA FICÇÃO AFRO-BRASILEIRA. In ALL EM REVISTA, vol 0, n. 0, dezembro de 2013. http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Firmina_dos_Reis
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Escrito antes das novas descobertas de Dilrcy Adler, sobre sua biografia e vida; manteremos o texto original...
NAS PRAIAS DO CUMAN / SOLIDÃO10 Aqui na solidão minh'alma dorme; Que letargo profundo!... Se no leito, A horas mortas me revolvo em dores, Nem ela acorda, nem me alenta o peito. No matutino albor a nívea garça Lá vai tão branca doudejando errante; E o vento geme merencório - além Como chorosa, abandonada amante. E lá se arqueia em ondulação fagueira O brando leque do gentil palmar; E lá nas ribas pedregosas, ermas, De noite - a onda vem de dor chorar. Mas, eu não choro, lhe escutando o choro; Nem sinto a brisa, que na praia corre: Neste marasmo, neste lento sono, Não tenho pena; - mas, meu peito morre. Que displicência! não desperta um'hora! Já não tem sonhos, nem já sofre dor... Quem poderia despertá-lo agora? Somente um ai que revelasse - amor.
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CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 177-178, disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014
UMA TARDE NO CUMAN11 Aqui minh'alma expande-se, e de amor Eu sinto transportado o peito meu; Aqui murmura o vento apaixonado, Ali sobre uma rocha o mar gemeu. E sobre a branca areia - mansamente A onda enfraquecida exausta morre; Além, na linha azul dos horizontes, Ligeirinho baixel nas águas corre. Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas! Esta brisa, que afaga os meus cabelos, Semelha o acento dessas frases tuas. Aqui se ameigam de meu peito as dores, Menos ardente me goteja o pranto; Aqui, na lira maviosa e doce Minha alma trina melodioso canto. A mente vaga em solidões longínquas, Pulsa meu peito, e de paixão se exalta; Delírio vago, sedutor quebranto, Qual belo íris, meu desejo esmalta. Vem comigo gozar destas delícias, Deste amor, que me inspira poesia; Vem provar-me a ternura de tu'alma, Ao som desta poética harmonia. Sentirás ao ruído destas águas, Ao doce suspirar da viração, Quanto é grato o amor aqui jurado, Nas ribas deste mar, - na solidão. Vem comigo gozar um só momento, Tanta beleza a me inspirar poesia! Ah! vem provar-me teu singelo amor Ao som das vagas, no cair do dia.
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Cuman - praias de Guimarães; CANTOS À BEIRA MAR, São Luís http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014
do
Maranhão,
1871,
p.
25-26;
disponível
em
O MEU DESEJO12 A um jovem poeta guimaraense Na hora em que vibrou a mais sensível Corda de tu'alma - a da saudade, Deus mandou-te, poeta, um alaúde, E disse:Canta amor na soledade. Escuta a voz do céu, - eia, cantor, Desfere um canto de infinito amor. Canta os extremos duma mãe querida, Que te idolatra, que te adora tanto! Canta das meigas, das gentis irmãs, O ledo riso de celeste encanto; E ao velho pai, que tanto amor te deu, Grato oferece-lhe o alaúde teu. E a liberdade, - oh! poeta, - canta, Que fora o mundo a continuar nas trevas? Sem ela as letras não teriam vida, menos seriam que no chão as relvas: Toma por timbre liberdade, e glória, Teu nome um dia viverá na história. Canta, poeta, no alaúde teu, Ternos suspiros da chorosa amante; Canta teu berço de saudade infinda, Funda lembrança de quem está distante: Afina as cordas de gentis primores, Dá-nos teus cantos trescalando odores. Canta do exílio com melífluo acento, Como Davi a recordar saudade; Embora ao riso se misture o pranto; Embora gemas em cruel soidade... Canta, poeta, - teu cantar assim, Há de ser belo enlevador enfim. Nos teus harpejos juvenil poeta, Canta as grandezas que se encerram em Deus, Do sol o disco, - a merencória lua, Mimosos astros a fulgir nos céus; Canta o Cordeiro, que gemeu na Cruz, Raio infinito de esplendente luz. Canta, poeta, teu cantar singelo, meigo, sereno com um riso d'anjos; Canta a natura, a primavera, as flores, Canta a mulher a semelhar arcanjos. Que Deus envia à desolada terra, Bálsamo santo, que em seu seio encerra. Canta, poeta, a liberdade, - canta. Que fora o mundo sem fanal tão grato... Anjo baixado da celeste altura, Que espanca as trevas deste mundo ingrato. Oh! sim, poeta, liberdade, e glória Toma por timbre, e viverás na história. ----------------
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CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 33-35; disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014
Eu não te ordeno, te peço, Não é querer, é desejo; São estes meus votos - sim. Nem outra cousa eu almejo. E que mais posso eu querer? Ver-te Camões, Dante ou Milton, Ver-te poeta - e morrer.
LAURA ROSA
Patrona da Cadeira 25 da ALL Por Wybson Carvalho13 Laura Rosa, nascida em São Luis do Maranhão, no dia 1º de outubro de 1884. Por amor à língua portuguesa e às letras, formou-se em Normalista do Magistério, e, como professora, veio para o sertão, ainda, na segunda década do século passado com a finalidade de lecionar na antiga Escola Normal de Caxias. Em sua terra natal, durante sua escolaridade escreveu inúmeros poemas e participava, ativamente, da vida literária estudantil ludovicense, vindo a ser cognominada de "violeta do Campo"; pseudônimo com o qual assinava seus poemas. Na princesa do Sertão Maranhense, a poetisa, Laura Rosa, foi hóspede durante muitas décadas da valorosa professora caxiense, Filomena Machado Teixeira, e com a qual foi das primeiras incentivadoras da criação da Academia Caxiense de Letras, e, na qual, é patrona da Cadeira de Adailton Mediros. Laura Rosa se encantou, em Caxias, na data de 14 de novembro de 1976, aos 82 anos de vida dedicados ao magistério e às letras. Laura Rosa, foi a primeira mulher maranhense a ter acento a uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras. Eis, alguns trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa, realizado no dia 17.04.1943, no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo. No discurso14, destaco um ponto que parece comum na posse de membros homens e/ou mulheres, a referência a algum amigo mais próximo, o qual parece ser responsável pela indicação do membro para concorrer à vaga da Academia. "Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me, porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos, para merecimento de tão honrosas credenciais". A humildade com que a escritora se apresenta frente aos seus atuais confrades prolonga-se por algumas frases reforçando a valorização dos membros mais antigos e ao mesmo tempo, sutilmente reconhecendo o valor de suas poesias.
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CARVALHO, Wybson. http://www.noca.com.br/coluna.asp?cntcod=17&colcod=1727 http://books.google.com.br/books?id=hn8f_VsmZAC&pg=PA325&lpg=PA325&dq=LAURA+ROSA++%2B+textos+%2B+academia+maranhense+de+letras&source=bl&ots=tQxpUsiSTa&sig =3j3PgrjXPsmGZFwk4wOukJlNuRI&hl=pt-BR&sa=X&ei=738wUvMJJLQkQeu84D4BA&ved=0CDQQ6AEwAQ#v=onepage&q=LAURA%20ROSA%20%20%2B%20textos%20%2B%20academia%20maranhen se%20de%20letras&f=false http://www.guesaerrante.com.br/2009/2/17/Pagina1108.htm 14 Trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa (realizado no dia 17.04.1943), no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo.
"Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardas fiéis de nossas tradições literárias". ESQUELETO DE FOLHA15 Vêde, senhor, apodreceu na lama. Eu a vi muito tempo entre a folhagem, Antes do vento lhe agitar a rama E, do regato, sacudi-la à margem. De virente e de verde, tinha fama, De folha mais formosa da ramagem, Desceu nas águas e resta, da viagem, O labirinto capilar do trama. Ninguém pode fazer igual rendado, Nem filigrana mais perfeita e lnida, Nem presente melhorpode ser dado. Guardai, senhor, guardai este esqueleto. Todo o cuidado! É uma folha, ainda, Onde escrevi, de leve, este soneto.
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MEIRELES, FERREIRA, E VIEIRA FILHO, 1958, obra ciatda, p. 185-185. (in Ver. Da Acad. Mar. De Letras, vol.IX, 1954).
DILU MELO16
Patrona da Cadeira 29 da ALL Maria de Lourdes Argollo Oliver, mais conhecida pelo nome artístico Dilu Melo, nasceu em Viana, a 25 de setembro de 1913 ou 191117, e faleceu no Rio de Janeiro em 24 de abril de 2000. Foi uma cantora, compositora, instrumentista e folclorista brasileira. Precoce, começou a estudar música e violino aos cinco anos de idade, , ainda na cidade natal, com o maestro Miguel Dias. Aos nove anos, iniciou seu aprendizado de violão com sua mãe D. Nenê e de piano com a professora Elizéne D'Ambrósio. Aos 10 anos, compôs sua primeira obra, uma valsinha intitulada "Heloísa", em homenagem à sua irmã mais nova. Em 1922 mudou-se com a família para o Rio Grande do Sul e já no ano seguinte, aos doze anos, fez um concerto no famoso Teatro Colon de Buenos Aires, acompanhada pelo pianista também precoce, Angelito Martinez. Como prêmio do governo argentino, os dois receberam patrocínio para uma série de apresentações por diversas cidades daquele país. Três anos depois, em 1925, concluiu o curso de violino no Conservatório de Porto Alegre, conquistando uma medalha de ouro pela impressionante técnica adquirida. Casou-se em 1930 com o Engenheiro Carlos Rodrigues de Melo, união que durou pouco mais de dois anos. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1936, aos 25 anos, onde se formou em canto lírico. No Teatro Municipal, participou das montagens das óperas La Bohème, Um Ballo in Maschera e Vida de Jesus, mas, cativada pelas canções dos tropeiros gaúchos, decidiu abandonar sua formação clássica para dedicar-se inteiramente às músicas regionais. Em 1938, estreou na Rádio Cruzeiro do Sul e, no ano seguinte, compunha, em parceria com Ovídio Chaves, a toada Fiz a Cama na Varanda, por ela gravada em 1941, na Continental, com enorme sucesso. Essa música foi relançada mais tarde por Inezita Barroso, Dóris Monteiro, Nara Leão, Cantores de Ébano, diversos conjuntos de rock e regravada na França, em versão. Abraçando a música popular, com o nome artístico de Dilú Mello, não demorou a chamar a atenção do Maestro Martinez Grau - que a levou para a Rádio Cruzeiro do Sul -, surgindo daí o convite para cantar em São Paulo e gravar o primeiro disco com duas músicas de sua autoria: “Engenho D’água” e “Coco Babaçu.” Influenciada por Antenógenes Silva, comprou um acordeom e passou a apresentar-se na então famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conquistando fama em todo o país. Sempre acompanhada do acordeom, Dilú percorreu o Brasil de ponta a ponta. Países como o Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Peru também se renderam aos seus talentos. Na década de 1950, apresentou-se pelo continente europeu, recebendo veemente elogios da imprensa italiana e portuguesa. Em 1944, registrou em disco a valsinha brejeira Lá na Serra, de Capiba, que se tornou sucesso nacional. Em 1958, gravou de Altamiro Carrilho e Armando Nunes, o xote "Nos velhos tempos". 16
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dilu_Melo DILU MELO, A SANFONEIRA MARANHENSE, disponível em http://www.luizberto.com/a-coluna-de-raimundo-floriano/dilu-melo-a-sanfoneiramaranhense http://www.dicionariompb.com.br/dilu-melo/biografia AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Edição do autor. Rio de Janeiro, 1965. MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
17 por Luiz Alexandre Raposo in http://www.letras.com.br/#!biografia/dilu-melo
Autora de mais de cem músicas. Entre seus intérpretes estão Ademilde Fonseca, Amália Rodrigues, Carmen Costa, Nara Leão, Fagner, Clara Nunes, Marlene e Dóris Monteiro. Multi-instrumentista, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita, harpa paraguaia, violão e viola caipira. Autora de 104 canções, teve suas músicas gravadas por grandes intérpretes, como Ademilde Fonseca, Carmem Costa, Carlos Galhardo, Cantores de Ébano, Dóris Monteiro, Marlene, Nara Leão, Clara Nunes, Marinês e sua gente, Zé Ramalho e tantos outros. Entre suas composições mais famosas destacam-se: Fiz a cama na varanda, Saudades do Maranhão, Meu Cariri, Qual o valor da sanfona, Redinha de algodão, Conceição da praia, Meu barraco, Telegrama, Maravia, Candelabro, As coisas erradas do mundo, Meia-canha, entre outras. Apaixonada pelas crianças, Dilú dedicou parte de seus talentos artísticos à infância brasileira, gravando discos com fábulas e historinhas ou escrevendo peças de teatro voltadas exclusivamente para o público infantil. Entre tais peças, encenadas por diversas temporadas nos teatros cariocas, figuram: O baile das tartaruguinhas, O bigurrilho e a princesinha de ouro, Cada criança é uma canção, Uma festa no céu, Festival de palhaços, O sapo dourado (opereta infantil) etc. Pesquisadora do folclore brasileiro, além de pianista, violonista e harpista, viajou por todo o Brasil, divulgando seu repertório. Afastou-se da vida artística depois de 25 anos de carreira, mas ainda gravou um LP na Odeon e outro na Som. Dilú Mello faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, no dia 26 de abril de 2000. Seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério do Catumbi. Discografia: Engenho d'água/Coco babaçu (1938); Fiz a cama na varanda/Sapo cururu (1944); Cesário/Planta milho (1945); Menino dos olhos tristes/Coisas do Rio Grande (1945); Lá na serra/Qual o valor da sanfona (1949); Recordando os pagos/As coisas erradas do mundo (1950); Maravia/Tudo é verdade (1952); Redinha de algodão/Meia canha (1952); Carta a Papai Noel/Tempinho bom (1952); Sans souci/Os 10 mandamentos do sanfoneiro (1954). FIZ A CAMA NA VARANDA18 Dilu Mello e Ovídio Chaves Fiz a cama na varanda, me esqueci do cobertor. Deu um vento na roseira (ai, meus cuidados) Me cobriu todo de flor. Menina, minha menina, ai, Não faça assim como eu Que vivo morto de pena, Porque ninguém me escolheu. Fiz a cama na varanda, Me deitei pensando em ti, Deu um vento na roseira (ai, meus cuidados) E eu, de sono, me esqueci.
18
http://letras.mus.br/dilu-mello-ovidio-chaves/760592/ http://www.letras.com.br/#!dilu-melo
LUCY DE JESUS TEIXEIRA
Patrona da Cadeira 34 da ALL Academia Maranhense de Letras, Cadeira 7 Por CERES COSTA FERNANDES19 Lucy Teixeira (11.7.22 – 7.7.2007), foi a quinta mulher a transpor os umbrais da Casa de Antonio Lobo, embora nela encontrasse apenas duas confreiras: a romancista Conceição Aboud e a poeta e prosadora Dagmar Desterro, que tomara posse em 1974, as duas primeiras acadêmicas já eram falecidas, tal o espaço de tempo entre a admissão de cada uma delas. Lucy ocupou a Cadeira nº 7, tendo como patrono Gentil Braga, sendo recebida por José Sarney, em 28.7.79. O ALUMBRAMENTO QUE EU TIVE A primeira vez em que encontrei Lucy Teixeira foi no dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras, em 1979 – tempo em que eu nem sonhava em pertencer à AML. Conheci-a, apenas, de longe, sem que ninguém ma apresentasse. Achei imediatamente que ela só poderia chamar-se Lucy, o nome, curto, leve, estrangeirado, me pareceu perfeitamente apropriado àquela mulher miúda e vivaz. Nessa ocasião, a admiração e o respeito impediram-me de aproximar-me para cumprimentá-la, e perdi assim uns 15 anos. Por longo tempo não mais encontrei Lucy. Mulher cosmopolita, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e os países Bélgica, Espanha e Itália eram sua morada. Em São Luís, tinha apartamento cativo no Panorama Palace Hotel e, por fim, no hotel Pestana São Luís, para suas longas temporadas de retorno às origens. Finalmente, em outro evento da Academia, fomos finalmente apresentadas e aí descobrimos uma série de coincidências a nos ligar. De conversa em conversa descobrimos que ambas moramos durante muitos anos na ladeira da Montanha Russa, em épocas distintas, e que ela conheceu e conviveu com duas pessoas marcantes na minha vida, meu pai e minha sogra. UMA MULHER À FRENTE DE SEU TEMPO Na ocasião de sua posse, não conhecia sua obra, apenas soubera de sua trajetória e já era sua fã. Ouvi falar de seu espírito rebelde na siciliana São Luís dos anos 40. Diziam que se vestia como bem entendia (costume que conservou até na velhice), andava com rapazes metidos a intelectuais e que usava tênis(!) em reuniões sociais.Um escândalo, convenhamos. Ouvindo-a discursar, relembrei a sua permanência em Minas Gerais, quando ela, em 1948, bacharelou-se em Direito, em Belo Horizonte. Lá, freqüentava o grupo composto de ninguém menos que Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Murilo Rubião, numa intensa troca literária. Escrevia para o Jornal do Brasil e Correio da Manhã e recebeu prêmios conquistados em concursos literários de âmbito nacional. De volta a São Luís, na segunda metade dos anos 40, para assumir um cargo no Tribunal de Justiça do Maranhão, vem de posse de imensa bagagem literária e intelectual. E, naturalmente, engaja-se no movimento pela renovação da literatura maranhense. O PAPEL DE LUCY NA RENOVAÇÃO DA LITERATURA MARANHENSE A literatura maranhense, na segunda metade dos anos 40 - pelo que se vê publicado nos jornais e pelos livros editados –, incensava o Parnasianismo e ignorava as novas tendências que agitavam o Sul do país. 19
FERNANDES, Ceres Costa. A ACADÊMICA LUCY TEIXEIRA. Correspondencia pessoal, recebida em 24/03/2014: “Caro Leopoldo, Encaminho, conforme seu pedido, o meu artigo sobre Lucy Teixeira e Conceição Aboud, publicado no livro comemorativo do Centenário da AML. Espero que ajude em alguma coisa. Um abraço, Ceres.”
.Atribui-se a Bandeira Tribuzi, recém chegado da Europa, a tarefa de iniciar os maranhenses na nova estética, apresentada na profissão de fé do seu livro Alguma existência (1948). É nessa ocasião que Lucy, como já foi dito, mulher cosmopolita, informada, advinda da convivência com a nata da literatura mineira, em dia com as mais modernas tendências, retorna a São Luís. Participa do grupo da Movelaria Guanabara, ao lado de Ferreira Gullar – que confessa ter sido ela a primeira leitora da Luta Corporal (1949) -, Bandeira Tribuzi, José Sarney e Odylo Costa, filho. Sempre inovadora, escreveu poesia, contos e fez critica literária em O Imparcial Assinava uma coluna de crônicas sob o pseudônimo de Maria Karla. Como uma pequena amostra do pensamento moderno, de Lucy transcrevo parte de uma análise da poesia de Marcos Konder Reis, feita por ela, em 1949, em O Imparcial: “Mas é necessário perguntar: qual o sentido do místico na obra do jovem poeta? Observemos, em primeiro lugar que a misticidade fornece a Marcos Konder Reis uma ‘tristeza mansa’, evanescente, meio vaga como que oriunda de zona intermediária, apaziguadora dos conflitos entre o anjo e o demônio. Daí notar-se não a raiva de não ser divino( o que seria próprio de um místico sem Deus) mas certo desânimo, assim visível no soneto etc... .
Esse tipo de crítica não se assemelha a nenhuma das críticas feitas pelos escritores da terrinha.Vejam só, isso em 1949!. Talvez a pouca demora de Lucy nas plagas maranhenses, sempre partindo para novos vôos, seja a causa do desconhecimento do seu papel e importância na mudança dos rumos da literatura maranhense nos anos 40..O doutorado, em 1958, veio, por meio de uma bolsa de estudos do governo italiano. E lá se foi Lucy para a Itália. A tese resultante desse doutorado foi L´estetica Crociana e l´Arte Contemporanea . NO TEMPO DOS ALAMARES... Quando Lucy lançou, em 1999, o livro de contos “No tempo dos alamares e outros sortilégios” no espaço familiar da Academia Maranhense de Letras, fui, ansiosa por conhecer o que ela escrevera e participar da festa literária. Mal cheguei de volta a casa, me lanço à leitura do pequeno volume. Reproduzo o que disse na ocasião, vale a pena relembrar: “Sou tomada de sentimentos vários: estranhamento, prazer estético e um certo desconcerto. Se o jeito de menina travessa, com um certo ar moleque combina perfeitamente com o nome ligeiro, um tanto coquete, o texto que se me apresenta, representação do eu poético de Lucy, discorda de ambos. É um texto maduro e denso como uma estrela anã. Embora os significantes, fluindo em ondas como notas de uma pauta musical, nos passem, por vezes, uma sensação de leveza, até de superficialidade, vê-se que isso é apenas um artifício enganoso engendrado por Lucy para atrair-nos, tal qual o flautista de Hamelin, no seguimento do seu texto. Apanhados por seu sortilégio, já sem desejo de volta, somos tomados pelo redemoinho do significado que nos suga a uma profundidade da qual não podemos/ queremos fugir. Que difícil é analisar Lucy! Seu texto é rebelde a classificações. Sobre esses contos nos diz Ferreira Gullar: “Lucy trilha o caminho aberto por Virgínia Woolf e seguido por Clarice Lispector, mas sem com elas se confundir”. Continuo com a minha análise: sobre o texto de Lucy, dizem-no da linha intimista de Clarice, mas há muito mais a dizer. E sensato seria apenas deixar-nos embalar por ele e fruir do seu prazer como nos aconselha Roland Barthes. Mas como, se ele nos desafia, instiga? Começaremos por dizer que ele não é uno (e esse é mais um ingrediente de sua fascinação). Ora se mostra em contos engendrados com um leve fio narrativo não-linear, mas que sempre nos contam histórias, como “Companheiros no Exílio”, “Com Água Tofana” ou “Nusch”. Ora o fio, por vezes fragmentado (como convém ao fluir do inconsciente), empenha-se em rebordar os alamares, indo e voltando - agulha de máquina desenhando labirintos na fazenda – construindo “Recordações de Amelinda” e “Meu Lindo Amor”. Ora faz poesia pura, como em “O Convalescente Amoroso”, Cântico dos Cânticos pós-moderno – a fala do Esposo transparecendo em palimpsesto: “A manhã é alta demais para a minha desenvoltura, mas ninguém ousaria afirmar que não caberias em meus braços, oh! beleza! és tu, íntima da grama do jardim onde tua cabeça, rolando, assusta as margaridas. Desejo ficar louco varrido para sair caçando borboletas para você”...
Seu perfil navalhou de beleza o vestíbulo. Ou pequenos jasmins se abrem na minha garganta. Com frases como estas, Lucy inventa e desinventa o código lingüístico, brindando-nos com o inesperado. Suas imagens e metáforas estalam de novas. Quentinhas, parecem ter sido apanhadas, agora mesmo, da massa estelar à disposição dos poetas e modeladas ao jeito de Lucy”.
O TESOURO OCULTO DE LUCY Em outro instante de prosa, há o Romance Um destino provisório, exemplo de domínio técnico da estrutura romanesca, prosa enxuta e escorreita, por vezes pura poesia, jóia de delicadeza e vigor. Na poesia temos o Primeiro Palimpsesto, São Luís SIOGE, 1978, e a sua Elegia fundamental, Rio de Janeiro, Atelier das Arte, 1962 Poema da dor filial transfigurada em beleza, é reconhecidamente dos melhores da literatura brasileira. São obras de características diversas, ricas, multifacetadas. Difícil rotulá-las. Mas há uma pista, um indício que, se seguido, nos faz chegar sempre a Lucy: a recusa ao aprisionamento do pensamento, com opção pela felicidade e pela subversão seja ela de ordem política ou individual. Essa opção, porém, não se dá de forma tranqüila. A aprendizagem do parecer ao ser é dolorosa e, por vezes, voluntariamente, não se dá por conclusa. A obra de Lucy é como um baú enorme, pejado de riquezas de conteúdo pouco conhecido, nele há escritos consagrados e inéditos, há romances, poesias, contos, artigos escritos em jornais maranhenses e de todo o Brasil, peças teatrais, critica literária e de pintura ( que ela também é pintora).. Em qualquer lugar que se enfie a mão, traremos um punhado de jóias rutilantes. É ter disposição para a garimpagem. As surpresas que virão à luz darão a Lucy o lugar que é seu na literatura maranhense e brasileira. ELEGIA FUNDAMENTAL20 Metamorfose, os fundamentos da tua lógica São cimentados de lâminas vivas, Voraz, Vastíssima, cujos pés não vejo, as tuas normas em que ventre ou motor se organizaram?, pura dilaceração continuada. Obsessão cantando o seu nome initerrupto, nunca verei a tua face, negra e fulgurante, vagarosa e veloz, impiedosa coisa inabalável que me namora a coisa mais esplêndida; ainda não, prestidigitadora, a divertir-se já com o que me foi suave raiz cujo perfume queimo neste campo onde se luta uma lembrança. Começa o teu sigilado festim, enquanto as correias do ar, sustentam o pavilhão onde ficamos cada vez menos acariciados e gradualmente aturdidos. Começa o teu discurso, dragão, e cresta, e cresta onde em nós é que dói. _______________________________ Pela manhã ergue-se o ervatário indo colher no campo 20
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lucy_teixeira.html
Miranda
e
publicada
em
setembro
de
2008.
vagas ervas medicinais. Colhe a luz do teu sorriso, plantador cujas mãos, cobertas de anéis de areia agora possuem a Terra. (Elegia Fundamental / 1962)
PRIMEIRO PALIMPSESTO21 (para a cidade de São Luís e Ferreira Gullar) ...no adro da noite jovem e velhíssima abraçaram-se nossas ruínas azuis Corpos de terracota brasileira fragmentados aqui e ali calafetados de lichino ...mechas de fios que se embebia nas feridas profundas para as drenar nas saudades corroídas Teu nome é meu irmão no meio da noite do adro que flutua tuas mãos de repente acenaram renovado o sinal da louca cintilação quando sorríamos e as estrelas sussurravam São Luís Agora tua voz ceifa no campo devastado erguendo estátuas de som em nossas bocas enganosas enganadas na escuma da vida atravessei sem querer encontrando-me cheio de escuro com alucinados relâmpagos que atravessavam o teu rosto no meu rosto Teu soluço era seco Meu mar de palhas secas mas sólido de ausência São Luís a madrugar pelas esquinas esbatidas da memória Mas em abril ventos lendários desenhavam a Praça Gonçalves Dias das sete colinas de Roma .................................. "vamos morrer" não sabíamos que havia aino.a mel em nossos lábios me perdi me perdi numa etrúria enorme condenada a sobrecéus portáteis ao cair resvalando sem ser Rolando em Roncesvales Minha São Luís cristais pelo meu sangue me feri eis o cadáver para o qual contribuímos com fidelíssima obsessão quis levanta-lo uma duas vezes era de sombra era de 21
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lucy_teixeira.html
Miranda
e
publicada
em
setembro
de
2008.
eis-nos aqui quase miticamente em casa de Ana Letycia que não vai nem vem pela sala falando de Miquel Ângelo Ana Letycia com seu rosto de subterrâneas ternuras Passa como um veludo entre nós dois ..................................... (Primeiro Palimpsesto / 1978)
MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD
Patrona da cadeira 37 da ALL Academia Maranhense de Letras, Cadeira 20 Por Ceres Costa Fernandes
22
Conceição Neves Aboud (10.7.1925 – 2006), ingressou na AML em 8 de dezembro de 1955, recebida por Jerônimo Viveiros, ocupando a Cadeira de nº 20, patroneada por Trajano Galvão. Nasceu em São Luís, onde permaneceu até a morte de seu pai, quando a mãe e os irmãos se transferiram para o Rio de Janeiro. Lá estudou no Colégio Sion, estabelecimento de ensino freqüentado pelas moças da mais alta sociedade carioca. Tempos depois regressa a São Luís, dominando o francês e o inglês, rompe com preconceito comum na década de 40 de que trabalho fora do lar não era para as “moças de família”. Havia, quando muito, a opção do magistério. Conceição começa a trabalhar no estabelecimento bancário de Francisco Aguiar, onde conheceu o seu futuro marido, o industrial Alexandre Aboud, de importante família árabe local. A partir do casamento, fixa residência no Rio de Janeiro. Os seus contemporâneos, entrevistados para este artigo, louvam-lhe a extrema beleza e simpatia: morena, elegante, de longos cabelos negros, estatura mediana e corpo bem feito, encantava a todos. O FAZER LITERÁRIO DE CONCEIÇÃO Não há registro de produções suas nos jornais da terra, antes de 1952, ano do lançamento de Grades e azulejos, embora Ciranda da vida já estourasse nos capítulos da revista O Cruzeiro desde 1951. Nenhuma manifestação anterior, nenhum artigo foi encontrado na imprensa de São Luís. Vamos entender o porquê disso, por meio das palavras da própria Conceição, no seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras, quando revela o seu fazer literário: seus romances, mesmo sem os escrever, ela os trazia na mente desde a infância: “Bendita a minha inerente tendência para imaginar! Quando eu era criança, ela me conduzia a um mundo irreal, fazendo que as horas, no colégio, corressem rápidas, porque ao meu lado conversavam príncipes e princesas, lutavam feias feiticeiras e gigantes cruéis. Essa imaginação desassossegada e irrequieta tem me proporcionado infinitas sensações: o prazer de escrever, a ansiedade de ler as críticas, sobre o que escrevo, e mesmo, a emoção da maternidade que a natureza, até agora, me roubou e que veio através dos meus livros, pois me sinto mãe de todos os meus personagens, mãe privilegiada porque os crio como quero, sem expectativas e desilusões”... (Conceição não teve filhos carnais e, mais tarde, adotou uma menina Maria Júlia, que lhe deu dois queridos netos).
Corroborando a supremacia da imaginação na sua obra, Conceição revela, em entrevista ao jornal O Imparcial, 27.1. 1952, a sua elaboração romanesca: “Empolgando-me por uma idéia vou até o fim sem dificuldade. Escrevo despreocupadamente. Divirtome, escrevendo. Ao iniciar o primeiro capítulo dos meus livros, tenho apenas dois ou três personagens, 22
FERNANDES, Ceres Costa. A ACADÊMICA LUCY TEIXEIRA. Correspondencia pessoal, recebida em 24/03/2014: “Caro Leopoldo, Encaminho, conforme seu pedido, o meu artigo sobre Lucy Teixeira e Conceição Aboud, publicado no livro comemorativo do Centenário da AML. Espero que ajude em alguma coisa. Um abraço, Ceres.” http://books.google.com.br/books?id=hn8f_VsmZAC&pg=PA420&lpg=PA420&dq=MARIA+DA+CONCEI%C3%87%C3%83O+NEVES+ABOUD&source=bl&ots=tQxpXpfV_a&sig=wavGuhijKJgt9HkEr0eqlacVpQ&hl=pt-BR&sa=X&ei=WZQ0U9_wBmc0gG_zYD4DQ&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q=MARIA%20DA%20CONCEI%C3%87%C3%83O%20NEVES%20ABOUD&f=false SILVA, Renato Kerly Marques. LITERATURA, GÊNERO E ESCRITORAS EM SÃO LUÍS, MARANHÃO. Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder, DISPONÍVEL EM http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST66/Renato_Kerly_Marques_Silva_66.pdf
com seus respectivos tipos físicos e morais, o ambiente em que se desenrolará a história e a maneira dos personagens se encontrarem e reunirem pela primeira vez. Não determino previamente enredo para que eu mesma me anime de interesse e curiosidade. Naturalmente, do meio para o fim, começo a concatenar fatos para fechar o livro.”
A OBRA ROMANESCA DE CONCEIÇÃO ABOUD Quando de sua posse na Academia Maranhense de Letras, em 1955, Conceição Aboud não residia mais em São Luís e já era um nome conhecido nacionalmente, graças à publicação do romance Ciranda da vida, em capítulos, na revista O Cruzeiro, na época a revista de maior circulação nacional, lida obrigatoriamente em todos os lares. Além desse romance, havia publicado Grades e azulejos, Rio de Janeiro, Pongetti, 1951. Como o nome indica, a temática desse livro é inteiramente maranhense, ou melhor, são-luisense. Outro romance de Conceição Aboud, ganhador do Prêmio Graciliano Ramos, da União Brasileira de Escritores, inteiramente vivido em sua terra natal, abordando os anos da 2ª Guerra Mundial, é Teias do tempo, São Luís, Sioge, 1993. Estas duas obras mostram que, embora residindo no Rio de Janeiro, a escritora continuava com as suas raízes fortemente fincadas no Maranhão.Ambos são um documento sobre a São Luís dos anos 40.. Outros romances: Os galhos do cedro, publicado em capítulos, na Revista da Semana e Rio Vivo, Rio de Janeiro, Ed. O Cruzeiro,1956. Deixou inéditos O preço (ganhador do prêmio da Prefeitura de São Luís, mas não editado por falta de recursos); Cinza e rosa e Um amor de psiquiatra.
UMA BREVE ANÁLISE DE SUA OBRA Embora os romances tenham características realistas no assunto e composição dos personagens, o linguajar os aproxima da escrita moderna. O texto romanesco de Conceição é vivo e bem elaborado. Tem a estrutura predominantemente novelesca: amarra muito bem cada capítulo, diria mais, cada cena, de modo a prender o leitor para o que há de vir deixando-o sempre interessado no texto. A linguagem é coloquial, sem ser vulgar, despretensiosa, destituída de preciosismos ou eufemismos, muito comuns nos escritores maranhenses das décadas de 40 e 50 do século passado. A vivência cosmopolita lhe concede ver São Luís com um olhar avaliativo, de fora para dentro, sem que esse olhar, no entanto, se constitua em olhar estrangeiro, dada a emoção inserida nas situações vividas no seu ambiente de infância e juventude. Confere-lhe o necessário distanciamento para não se deixar levar pelo provincianismo míope. Espanta a coragem como Conceição assume, nas décadas de 40 e 50, a defesa do homossexualismo (Teias do tempo). Surpreende também o desassombro com que trata questões como a perda da virgindade ou descreve cenas picantes de sexo, com um linguajar muito livre para a época (Grades e azulejos). Imagino como deve ter sido “tesourada” pelo provincianismo ludovicense dos anos 50, não muito distante do narrado por Aluísio Azevedo, em O mulato. Podemos até arriscar que a sua prosa tem o vigor de uma prosa masculina, sem os pudores a que as mulheres escritoras enfrentavam, obrigadas pela censura a eufemizar seus escritos.
CONCEIÇÃO ABOUD COMO AGITADORA CULTURAL As ousadias de Conceição não param por aí. Revela-se também uma agitadora cultural. Nas visitas anuais que fazia a São Luís, resolve mexer com o marasmo da cidade e torna-se produtora de espetáculos teatrais de variedades. Escreve, produz e dirige, ajudada por Yedo Saldanha, com elementos da sociedade local atuando como atores, a série de espetáculos denominada Retalhos Daqui e Dali. Chegaram a três apresentações, todas no Teatro Artur Azevedo. Não conheci Conceição Aboud. A última vez que ela esteve em São Luís, em 1993, para o lançamento de seu livro Teias do tempo, infelizmente, eu não tomei conhecimento de sua presença. Depois que ingressei na AML, sempre a soube adoentada, morando fora daqui. Perdi a oportunidade de conhecer, além da escritora – essa pode se nos revelar através dos textos –, uma forte personalidade e uma grande figura humana.
DAGMAR DESTÊRRO E SILVA 23,24
Patrona da Cadeira 38 da ALL Academia Maranhense de Letras GALERIA DE LIVROS Poeta, Dagmar Desterro e Silva (1926? - 2004) nasceu em São Luís, em uma família que, por muitos anos, esteve relacionada a diversas atividades políticas. Estudou no Colégio Santa Teresa, foi professora da Educação infantil, graduou-se em Pedagogia e Direito, ocupou diversos cargos públicos, tendo chegado à vicereitoria da Universidade Federal do Maranhão. Publicou obras em formato de romances, poesias e peças de teatro. Ocupou a cadeira número 24, da Academia Maranhense de Letras, eleita em 15 de abril de 1974, tomando posse em 8 de junho de 1974. Autora de Segredos Dispersos (1957). ÊXTASE25 Amor, bem sabes tu como te quis... No afeto que minha alma te ofertou, dei-te tudo... Ilusão... Dei-te carinho... uma alma vibrante, - essa taça de vinho que sorveste feliz, o vinho delirante que tua vida embriagou. Amor, bem sabes tu como te quis. Na volúpia de querer a tua vida, Tua alma na minha alma confundida, retratei-me toda inteira nos meus versos... Meus segredos dispersos! Amor, bem sabes tu quanto te quis. No momento supremo, iluminado, que ainda agora o coração bendiz, nos encontramos, e nos amamos o meu olhar no teu continuado. Meu ser estremeceu, vibrou minha alma, num lampejo. Senti, na terra, o céu. Tive em mim a volúpia de um desejo. 23
SILVA, Renato Kerly Marques. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – UFMA 2009 24 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/dagmar_desterro.html http://jornalpequeno.com.br/edicao/2004/08/08/escritora-dagmar-desterro-morre-de-cancer-aos-78-anos/ http://www.jornaldepoesia.jor.br/dag01.html 25 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/dagmar_desterro.html
Tudo, agora, porém, é solidão. Já não voltas, não podes mais voltar. A minha alma lamenta em triste pranto, nunca mais te encontrar. Lamenta este meu coração não haver gozado, não haver te dado, carinhos que me deste e eu não aceitei, os beijos que pediste e não te dei... (Segredos Dispersos,1957)
SÃO LUÍS26 pequena sala de objetos antigos do nosso imenso e querido Brasil. São Luís dos sobradões de azulejos, do lendário Ribeirão, do cuxá com peixe frito e do gostoso camarão. São Luís da canção dolente que mexe com o coração da gente na voz doce de um Romeu. São Luís é antiga e tão cheia de ladeiras! Nestas, as casas inclinadas parecem moças cansadas, recurvadas, fatigadas, depois de um baile infernal. São Luís é tão linda! É minha terra natal! São Luís de Ana Jansen, Pai-Avô e o pobre Maia, que pela rua, cantando, deixava a gente pensando, dava trabalho à memória: qual será sua história? São Luís é saudade! Dantes havia, bem me lembro, casinhas pobres, na porta, uma luz vermelha, morta, era a trombeta silenciosa anunciando·a existência da tainha frita, gostosa. Isso foi quando eu era 26
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/dagmar_desterro.html
bem criança. Essa luz vermelha, morta, guardei sempre na lembrança. São Luís é sala antiga é o retrato da saudade; desafio da esperança transformado em realidade. Vibrante, alegre, altaneira, romântica e cultural. São Luís é terra linda. É minha terra-natal! (Parábola do Sonho Quase Vida,1973)
CORRIDA27 O avanço do tempo corre a vida, mas nesse tempo há pedras espalhadas, pedras agudas, carnes esfarrapadas, sangue jorrando de cada ferida. o tempo açoita a vida noite e dia e ele chora, tropeça, levanta e continua. Só e esperança anima a travessia; e a alma corre, descabelada e nua. E a vida não tem tempo, ao tempo, em meio, de ver o belo existente no caminho; não perder na corrida é o seu anseio; sua atenção conserva em desalinho. No embrião da vida, no tempo, avanço. Subidas e descidas - tantas conheço: e na vertigem do correr me canso. Procuro, em vão, meu horizonte do começo. (Pedra-vida,1979)
O QUE É A VERDADE28 Lancei a minha semente na terra que conquistei. Com cuidado e água crescente aquele meu chão reguei. Esperei com esperança esse dia que chegou. Fiz sorriso de criança quando a plantinha vingou. Retirei pedras pequenas, pedras feitas de maldade; com agudas pontas-penas, arestas de falsidade.
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Adubei com meu amor o meu pedaço de terra; pedaço pequeno, sei, grande, porém, no que encerra. Arranquei ervas daninhas, afastei gestos diversos. De manhã cantei modinhas. A noite, disse meus versos. Meu próprio sangue eu usei para dar à planta alento. Em muitas noite fiquei vigilante e ao relento. No meu chão está plantada. Lutou, cresceu, prometeu. Por muitos foi sufocada, mas reagiu e venceu. Minha vida é aquele chão, pedaço da humanidade. E a semente, simples grão, é minha própria verdade. (Canto ao Entardecer, 1985)
DILERCY ARAGÃO ADLER
Fundadora da Cadeira 8 da ALL Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Sociedade de Cultura Latina – Maranhão Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Maranhão Por Dinacy Corrêa29 Nasceu em São Vicente de Férrer, em 07 de julho de 1950). Graduada, em Psicologia. Professora universitária (Ceuma e UFMA – pela qual é aposentada). Mestre em Educação e Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP-Cuba) é, atualmente, professora de Graduação e PósGraduação da Faculdade Cândido Mendes do Maranhão (FACAM). Naturalmente voltada para a arte poética, ei-la que diz em uma entrevista: Em uma Antologia “A figueira” (1994), do nosso querido e grande poeta da Sociedade de Cultura Latina de Santa Catarina, Abel B. Pereira, ele solicitava aos integrantes (da antologia) que discorressem sobre a questão “porque escrevo poesia” e eu respondi [...]:“A poesia sempre se impôs à minha vida. Até a adolescência eu organizava cadernos cheios delas. Depois da Faculdade, deixei-a um “pouco de lado”. Mesmo assim ela se fazia presente. Mas, os escritos dessa época ficavam dispersos, sem lugar específico. Passados alguns anos, acho que não resisti ao seu poder de sedução e me rendi. “Crônicas & Poemas Róseos Gris” significa [...] “reconciliação” com a poesia que, aliás, sempre foi um dos grandes amores da minha vida (http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/dilercy-adler-entrevista/15.05.2009).
Agraciada com vários títulos e medalhas culturais, nacionais e internacionais, a professora/escritora é membro de entidades literárias, como: Comissione di lettura Internacionale da Edizioni Universum Trento-Itália; Academia Irajaense de letras e Artes – AILA (cadeira nº. 13), Academia de Letras Flor do ValeIpassu/São Paulo; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); Fundadora e integrante da Academia Ludovicence de Letras (ALL) entre outras. Dilercy Adler tem-se destacado no cenário literário atual, não somente por sua produção, como pelo incentivo que vem dando à cultura literária local, através de edições de antologias. Dentre as atividades desse nível, foi editora do livro Circuito de Poesia Maranhense (1996) e organizadora da exposição fotográfica sob o mesmo nome (1995). Também organizou e participou da I Coletânea poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão – Latinidade. Organizou e promoveu a edição da obra Mil Poemas para Gonçalves Dias (2012-comemorativa do centenário do poeta). Hoje, é presidente da Sociedade Cultural Latina do Maranhão (SCL/MA). Além de partícipe de muitas antologias poéticas, a maranhense tem publicados: Crônicas & Poemas Róseos Gris (1981), Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário (1997), Arte Despida (1999), Genesis – IV Livro (2000) e, recentemente, Desabafos... Flores de Plástico... Libido e Licores... Liquidificadores. Sua poesia, em geral, é de cunho lírico/amoroso, na abordagem de temas como a natureza e os sentimentos mais arrebatados, as agruras da paixão, a solidão, a saudade, o desejo, numa subjetividade e
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CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
sentimentalismo exacerbados, em confidências amorosas do eu lírico, em laivos de fantasia e imaginação, no recriar de uma nova realidade. Vejamos: NECESSIDADE DE TI – Eu te preciso tanto/ que me dói/ a tua ausência/ eu te preciso tanto/ que te queria sempre junto/ e a possibilidade/ de não ter-te/ me entristece/ me deprime/ me enlouquece!/ eu te preciso tanto/ e no entanto sinto/ que preciso/ não precisar assim de ti/ preciso sim/ - urgentemente para/ manter-me/ intacta e livre/ desvincular-me de ti! (ADLER, 2000, p. 41). Embora a liberdade formal seja um marco característico em Dilercy Adler, na sua poesia fazem-se recorrentes certas palavras que colaboram na construção das imagens de saudade, solidão e morte, num eulírico como a suspirar, sofrer, chorar, pela ausência do amor, cuja impossibilidade traz sensações pungentes e dolorosas ao coração. Motivada pela convivência no exterior, em especial em países de língua espanhola, frases ou expressões da língua de Cervantes são frequentes nas suas composições, a partir dos títulos ou, às vezes, em poemas inteiros como em Siempre a tus pies, Solo para verte, Desvane(ando), A mi Tristán, La vida es solo un suspiro ahogado, Mulher de pedra de ChichenItza. Ei-la em: SIEMPRE A TUS PIES – “Siempre a tus pies”/ vou despir a minh’alma/ acercar-me com a calma/ de irrefreável desejo!/ “Siempre a tus pies”/ vou cobrir-te de estrelas/ aspirar teus suspiros/ um a um/ com meus beijos!/ “Siempre a tus pies”/ abraçar-me-ás inteira/ como a onda na areia/ numa dança sem igual!“Siempre a tus pies”/ derramarei sem pesar/ os meus dias/ os meus versos/ toda a minha saudade/ e o meu desejo de amar! (ADLER, 2000, p.52) Outro tema constante, na obra de Dilercy Adler, é o arrebatamento do amor carnal, da voluptuosidade, da libido, permanente na mulher apaixonada, como o demonstra o poema a seguir, em que se observa, também, a utilização de versos irregulares e livres, irregularmente dispostos no espaço poético. DESEJOS ESPÚRIOS – Estranha loucura/ nas ruas e becos/ entranhas e luas/ expostos nas vias/ esdrúxula mania/ de corpos e corpos/ que rolam/ copulam/ e calam/ angústia/ desejos/ instintos/ em buscas espúrias! (ADLER, 2000, p. 32) Informa Assis Brasil (1994)30 que, embora escrevendo poemas desde os bancos escolares – Escola Benedito Leite e Escola Estadual - Dilercy só participará, mais efetivamente, da vida literária, quando volta ao Maranhão, década de 90. Participou da Oficina Caderno de Poesia (1993/1994), Poematizando o Cotidiano, e Agenda 94. Sua estreia em livro é feita logo no começo de 1991, com Crônicas & Poemas Róseo-Gris: “Este é um livro sobre ELA/mas para ELE ler também!/ Aquí se fala/ do feminino, / O feminino em todos os seus modos/ de ser mulher!”. Continua, afirmando que, “Ao contrário do que se possa imaginar, os poemas de Dilercy não são amenos ou superficialmente sentimentais, mas trazem uma carga de vivência sensorial que ela transmuta em linguagem poética, a partir do objeto-corpo da mulher aos seus devaneios, delírios e sonhos eróticos. […]” (p. 295)
INCONTIDO PRAZER Escalas monte relva macia dia a dia! penetras a terra sal da vida e morte entre as pernas do tempo que leva ao vento vela vinho 30
BRASIL, Assis, 1994; p. 295-299).
luz prazer de toda sorte!! dádiva divina dilúvio dúvida desatino desaguando água no meu seio ... seio de sereia ... semente de mulher! elementos do universo que versam o meu corpo e te dão penoso prazer pelo esforço incontido que fazes para o ter!
PESCARIA E POESIA Nem só de poesia vive o poeta também de peixe pescado pescaria sabor de mar sal cheiro verde ou de verdade maré alta e maresia!
ISSO É TUDO...
Tu me encantas quando acalenta o meu sonho no brilho dos teus olhos - eutal qual lua desnuda que se veste na aurora do dia e se despe inteira atendendo ao apelo imperioso do poderoso sol de abril...
abril que se abre feliz e se fecha e não se diz... aí o encanto se desfaz em tons anis! lágrimas de luz seduz e diz de mim o que nem eu mesma sei só sei que tu me encantas quando acalentas o meu sonho no brilho dos teus olhos! e isso é tudo!....
A MORTE E O MORRER a morte ronda espreita enquanto o sonho descansa às vezes se sente eleita às vezes tudo a consome... a morte me leva amores me deixa dor desespero mas sei que ela é certeza o encontro com ela a encanta e para o mim é tristeza deixar a vida que amo e não ver crescer sementes de verde vermelho e vidas que amo e amarei sempre sempre! antes e depois dela nada se apagará e viverá -acreditoaqui ali acolá! para sempre
eternamente no meu peito a navegar!
EU - NAMORADA Namorada ada ando nadando nas águas revoltas do amor me afogo... me salvas ferrando afagos com fogo em brasa gosto salobro de amor vencido validade ultrapassada... mendigo o teu amor mesmo assim! soçobro nas águas turbulentas do amor não te acho... me encontras no nada que é meu tudo - eu do amor enamorada - eu eterna namorada... sem teu amor - te juro não sou nada!
CLORES HOLANDA SILVA
Fundadora da Cadeira 30 da ALL Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Clores Holanda Silva, nasceu na Cidade de Presidente Dutra, no Estado do Maranhão, no dia 11 de março de 1960. É filha de Geraldo Holanda Cavalcante (in memoriam) e Maria Nazaré Gomes Cavalcante, conhecida por Zazá Holanda (in memoriam). Seu estado civil é Divorciada. De uma irmandade de nove irmãos, sendo a antepenúltima. O irmão caçula faleceu em 1996. Do fruto de seu casamento com Ricardo Luís Costa Mendes nasceu Marcella Holanda Mendes. Cursou o Jardim de Infância e o primário na Cidade de Presidente Dutra. Em 1971 passou a residir com seus pais e irmãos na cidade maranhense de Santa Inês. Nela, submeteu-se ao antigo Exame de Admissão para ingressar no Ginásio, obtendo aprovação, permanecendo lá durante dois anos. Em 1972 retornou com sua família à terra natal, Presidente Dutra. Em 1973, a convite de sua irmã e madrinha, Nazi Holanda de Alencar foi morar em Aracajú, Capital do Estado de Sergipe. Em 1975, com a mudança de seus pais para São Luís, resolve deixar Aracaju e fixa residência na Capital do Maranhão, submetendo-se a seleção e sendo aprovada para estudar no Colégio Santa Tereza, tendo concluído o Ginásio e iniciado o 1º. Ano do antigo Científico. Em 1976 pediu transferência do Colégio Santa Tereza para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem – ITA, de São Luís, cursando o 2º. Ano de Estudo Profissionalizante em Técnicas de Laboratório, concluindo o 2º. Grau – Formação Geral em 1978. Graduou-se em História Licenciatura em 1996, pela Universidade Federal do Maranhão. Neste ano foi selecionada pela UFMA – Projeto “Prata da Casa” para cursar o Mestrado em História e Cultura Social, pela UNESP – Universidade Estadual de São Paulo, em Franca – SP. Por motivos familiares, cursou apenas 01 (um) semestre, retornando a São Luís. No ano de 2003 iniciou a pós-graduação no Curso de Especialização em Gestão de Arquivo, pelo Departamento de Biblioteconomia, da UFMA, concluindo em 2004. Iniciou sua vida profissional na Universidade Federal do Maranhão, no dia 30 de novembro de 1979, na função de Arquivista, no Arquivo do Centro de Ciências Sociais. Aposentou-se em 30 de janeiro de 2014, na função de Administradora do Palácio Cristo Rei e Coordenadora do Memorial Cristo Rei, museu da UFMA, perfazendo um total de 34 anos trabalhados na Instituição. Na sua gestão o Memorial Cristo Rei se consolidou como um espaço de memória e integração da sociedade, obtendo o reconhecimento, através das publicações do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM: Revista da Semana Nacional de Museus, Revista Museália e Guia dos Museus Brasileiros; e na Revista da Biblioteca Nacional. Desde o ano de 2010, Coordena o Projeto de Pesquisa “Os Reitores da UFMA”, de sua iniciativa, cujos resultados das pesquisas foi a publicação livretos das gestões dos reitores: Pedro Neiva de Santana, Cônego José de Ribamar Carvalho, Josué Montello, Manoel Soares Estrela e José Maria Ramos Martins; assim como os livretos sobre “O uso das vestes talares na UFMA”, a Bandeira da UFMA e “Histórico do Palácio Cristo Rei”. Fundou a Biblioteca “Mísula do Saber”, do Memorial Cristo Rei, inaugurada em 13 de maio de 2013, cujo acervo foi adquirido por doação, através da parceria firmada com o Instituto Brasileiro de Museus, Instituto do Patrimônio Artístico Nacional – IPHAN e o Museu Imperial, do Rio de Janeiro. O acervo contempla publicações nas áreas de Museologia, História da UFMA, Artes e Cidade de São Luís.
Atualmente, permanece como Administradora do Palácio Cristo Rei com a missão de coordenar as ações culturais do Memorial Cristo Rei. Toda a sua carreira profissional esteve e está vinculada a Universidade Federal do Maranhão, objeto de suas pesquisas. Eleita, no ano de 2012, Sócia-Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupando a Cadeira nº. 18, Patroneada por João Francisco Lisboa; ocupou cargo de Diretoria, 1ª. Secretária. É sócia da Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão e Sócia Fundadora da Academia Ludovicense de Letras, ocupante da Cadeira nº. 30, Patroneada por Odylo Costa, filho, eleita a 2ª. Tesoreira. Honrarias recebidas: Comenda “Palmas Universitárias”, conferida em reconhecimento àqueles que se distinguiram no exercício de suas atividades profissionais, conferida pelo Reitor da UFMA, Dr. Natalino Salgado Filho, no Centro de Convenções Governador Pedro Neiva de Santana, no dia 6 de outubro de 2009. Por unanimidade foi escolhida para fazer o discurso em nome dos Técnicos-Administrativos; Comenda Coral Madrigal Santa Cecília, em 2010, concedida pela Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão, no Teatro Artur Azevedo; Comenda Guará da Amizade, concedida pela Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão, em 14 de março de 2011; Comenda “Mulheres de Expressão”, recebida da Jornalista Rosenira Alves, do Jornal Pequeno, em 9 de abril de 2011 em homenagem ao Dia Internacional da Mulher por o seu nome e o seu perfil se enquadrarem e honrarem a classe, razão pela qual foi indicada para receber a homenagem, que no ano chegou a sua 11ª. edição. A solenidade ocorreu no Brisamar Hotel, às 21h30, em São Luís – Maranhão. Indicada pelo Vereador Ivaldo Rodrigues para receber a outorga Medalha “Mãe Andresa”, a mais alta honraria do Poder Público Municipal às personalidades em prol da Cultura de nossa Cidade, em 20 de setembro de 2012; Medalha e bênção de São Francisco, em reconhecimento por sua colaboração nos últimos anos, que contribuiu para o sucesso de estudo, partilha e devoção à missão Capuchinha de evangelizar, concedida pelo Museu da Igreja do Carmo e da Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo, por ocasião dos 400 anos da presença dos Missionários Capuchinhos no Brasil – 1612-2012, em São Luís – Maranhão; Comenda Gonçalves Dias, considerando a participação e o empenho na consecução do Projeto Gonçalves Dias, realizado no período de 10 a 13 de agosto de 2013 pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em São Luís – Maranhão; “Tupi de Caxias”, por ocasião das comemorações alusivas aos 190 anos de Antonio Gonçalves Dias, concedido pela Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (ASLEAMA), o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e a Academia Caxiense de Letras (ACL) – Sabiás da Cultura Gonçalvina, na Cidade de Caixas – Maranhão, no dia 11 de agosto de 2013; Comenda Memorial Cristo Rei 20 Anos, em reconhecimento de seu trabalho em prol da memória da Instituição, concedido pela Comissão Organizadora da Comemoração dos 20 anos do Memorial Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão. Em março de 2011 foi homenageada pelo Jornal “O Estado do Maranhão”, no Caderno DOM, Coluna Perfil, através de uma reportagem do Jornalista Jack Jeam que a entrevistou. A notícia foi veiculada no dia 27 de março de 2011 Trabalhos apresentados e publicados: “Nascendo das Cinzas”: O papel do Memorial Cristo Rei na preservação da memória da UFMA nos 15 anos de existência”, durante o VIII Encontro Humanístico, do Centro de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Maranhão, realizado no período de 17 a 21 de novembro de 2008; Memorial Cristo Rei: um instrumento de preservação, registro, difusão e reflexão sobre a história da Universidade Federal do Maranhão, na primeira fase do 1º. Ciclo de Estudos/Debates dos 400 anos de São Luís, intitulado: Das primeiras tentativas de ocupação até a consolidação da conquista da terra, realizado no Palácio Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão, no dia 28 de julho de 2011, na modalidade comunicação oral; Palácio Cristo Rei “guardião das memórias da UFMA": Patrimônio histórico arquitetônico do Estado do Maranhão, por ocasião do XV Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD N/NE, na modalidade oral, realizado pelo curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri, ocorrido nos dias 15 a 20 de janeiro de 2012, em Juazeiro do Norte – Ceará; Palácio Cristo Rei “Guardião das Memórias da UFMA”: Patrimônio Histórico Arquitetônico do Estado do Maranhão, no V Encontro Maranhense de História da Educação, que teve como tema Patrimônio cultural em rituais, gestos e objetos escolares na História da Educação, promovido pelo Núcleo de Estudos e Documentação em História da Educação e Práticas Leitoras – NEDHEL, realizado no período de 15 a 18 de maio de 2012, em São Luís – MA; Memorial Cristo Rei: Do resgate a integração, por ocasião do XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina e do I Congresso Maranhense de História da Medicina, na qualidade de Expositora, realizado no Hotel Praiamar, no período de 7 a 10 de novembro de 2012, em São Luís – Maranhão.
Participação em eventos nacionais: 4º. Fórum Nacional de Museus Brasília 2010, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus, nos dias 12 a 17 de julho de 2010, em Brasília – DF; Semana Nacional de Museus durante 7 anos seguidos (2007 a 2014); Primavera de Museus durante 6 anos seguidos (2007 a 2013). Participação em eventos internacionais: VI Encontro de Museus de Países e Comunidades de Língua Portuguesa, realizado em Lisboa – Portugal, nos dias 26 e 27 de setembro de 2011, promovido pelo Conselho Internacional de Museus, com o trabalho intitulado: A contribuição do Memorial Cristo Rei na formação do profissional do museu e na preservação, resgate e divulgação da história da Universidade Federal do Maranhão, em forma de artigo e apresentação de pôster, tendo sido publicado nas Actas 2012, do Museu do Oriente, de Lisboa – Portugal; Iniciação na vida literária: Ciclo de Palestras sobre História e Universo Luso-Brasileiro, ministrado pelo doutor Milton Torres, no período de 4 a 7 e 14 de maio de 2004, na Academia Maranhense de Letras. Participou da comissão de trabalho do Projeto Gonçalves. Fala na Solenidade de Abertura do Projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias”, em 10 de agosto de 2013, na condição de Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em exercício, proferida no Auditório dos Colegiados Superiores, do Palácio Cristo Rei com a presença de poetas de São Luís, Argentina, Peru, Assis – SP, Belo Horizonte – MG, Cabo Frio – RJ, Caxias – MA; Esperantinópolis – MA, Fortaleza – CE, Goiânia – GO, Imperatriz – MA, Inhapim – MG, ItapecuruMirim – MA, Itaituba – PA, Lago da Pedra – MA, Rio de Janeiro – RJ, Salvador – BA, Sambaíba – MA, São José dos Campos – SP, São Paulo – SP, Taguatinga – DF, e Vinhedo – SP. Nos dias 11 e 12 também participou do evento nas cidades de Caxias e Guimarães, do Estado do Maranhão. Nesta solenidade a Academia Ludovicense de Letras foi fundada. Liceo Poético de Benidorm São Luís do Maranhão – Brasil – Leitura Poética Global “Pela materialização da justiça social”, participou no dia 28 de setembro de 2013 (Galeria Trapiche), dia 13 de novembro de 2013 (Casa de Espanha) e em 2014 (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), declamando as poesias de sua autoria: Injustiça Social (poesia elogiada pelo Confrade Wilson Pires Ferro onde disse que a autora já era uma poeta), Poema Branco e Ilha do Terror, e de outros autores. Vale ressaltar que neste evento é que teve a coragem de tornar públicas as suas poesias; embora, desde a sua adolescência gostasse de escrever poemas, acrósticos e crônicas. Pretende lançar um livro com esses escritos. ANDANÇAS NUMA TARDE CHUVOSA DE MARÇO Andando pelas ruas do Centro Comercial de São Luís segui sem companhia. Trilhei caminhos no compasso dos anos vividos numa caminhada de nostalgia. Nessa passagem vivi momentos de desilusão. Caminhando, olhando e parando observei tudo ao meu redor. Encontrei calçadas quebradas onde o esgoto escorreria provocando um forte odor. Cruzei asfalto esburacado em tarde chuvosa na Ilha do Amor. A cidade desfigurada e maltratada pede socorro por não suportar tanta dor. Lixo acumulado em frente às lojas e prédios sem preservação por descaso do seu gestor. Ocupação irregular por vendedores informais por ausência de fiscalização. Ruas maltratadas, casas desgastadas, e muitas lojas de portas trancadas. Muitas promoções em cada estabelecimento comercial sendo poucos os que compravam. Lojas esvaziando na tentativa de vender suas últimas peças, amareladas com cheiro de mofo. O povo sumiu. Cadê o freguês? Quem vai comprar? E quem pode comprar? Em cada passo dado, o impacto dos meus pés nos paralelepípedos incompletos da Rua Grande. Atravesso ruas e sigo meu caminhar numa tarde chuvosa de março. Comigo guardo lembranças do meu olhar por esta cidade quando aqui cheguei em 1975. O centro comercial de São Luís foi palco de desfiles de moda, encontros e desencontros. Hoje busco passear em shopping para alimentar a minha vaidade, aguardando por um momento de calma aparente.
BANDEIRA BRANCA A bandeira branca está pichada de tanto lamento de um povo a se calar. Fica cada vez mais difícil hastear nas ruas quando vou caminhar. Em cada calçada, rua ou avenida a falta de tranquilidade vive a reinar. Peço a Deus libertar o ser humano perturbado das algemas da impunidade. E que o Governo garanta a paz, o amor e a compreensão entre irmãos. Vamos buscar a serenidade almejada na consciência de cada um. Dando atenção ao irmão carente de comida, roupa, saúde, moradia, amor e compreensão. Nesta Capital chamada São Luís, do Estado do Maranhão. A bandeira que eu quero levantar Nas terras do meu Maranhão deve ser hasteada sem nenhuma mancha. Significando paz e tranquilidade pública, entre irmãos. Cada um enfrentando os problemas com dignidade e muita ação. Limpando as pichações de cada coração. Quem sabe um dia os libertará dessa coisa chamada corrupção. Que há anos vem manchando a honra dos cidadãos. Enquanto outros trabalham com dignidade em prol de nossa nação.
Outubro de feiras numa Sexta-Feira de alloween Feira de livro, feira de alimentos, feira de artesanato. O povo se encontrando livremente. Cada qual querendo comprar. Quem sabe uma abóbora do Halloween. Para afastar os maus espíritos duma sexta-feira que não é 13. O saber dos escritos nutre a mente, vestindo a alma dum povo sofrido. Uns plantam; outros colhem; e, outros vendem. Até chegar o tempo da colheita dos frutos do conhecimento. Sinto o sabor dos saberes da arte de um povo. Há Sexta-feira inusitada! Sentindo emoções que vinham de gestos ardentes. Estava envolvida em pedaços de memória da vida familiar. Tentando remendar aquilo que sobrou do tempo que passou. Nesta sexta-feira de bruxas com suas vassouras voadoras. Peço a proteção de Nosso Senhor.
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO31
Fundadora da Cadeira 31 da ALL Academia Maranhense de Letras Jurídicas Academia Caxiense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu na cidade de São Luís-MA no dia 23 de maio de 1966. Promotora de Justiça, jurista, professora universitária, mestra e doutora em Ciências Penais, historiadora, conferencista e palestrante nacional, escritora e poeta, é filha única de Wilson Pires Ferro, já falecido, professor da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, bancário, contabilista, historiador, contista e poeta, e Eunice Graça Marcilia Almeida Ferro, também contabilista, que sempre lhe devotaram amor incondicional e a estimularam ao aprofundamento nos estudos. Seus avós paternos eram João Meireles Ferro, ferroviário da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, e Izabel Pires Chaves Ferro, ambos nascidos em Caxias, onde viveram boa parte de suas vidas. Seus avós maternos eram Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, célebre radialista e locutor na capital maranhense, por duas vezes consecutivas eleito “Rei do Rádio” (1953-1954), e Ducilia Ferreira de Almeida. Seus dedicados padrinhos eram o avô paraense Marcos Vinicius e a avó caxiense Izabel, conhecida como “Bela”. O prenome composto foi uma sugestão da mãe, Dona Eunice, em homenagem às bisavós Ana de Abreu Ferreira e Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, esta nascida no Ceará, professora normalista, jornalista, pianista, violonista e declamadora de poesias, esposa de Raimundo Tomás de Almeida, proprietário da Casa Ribamar, fundada em 1926, em São Luís, na época considerada como o maior empório musical do norte do país. Introduzida pelos pais no fascinante mundo dos livros, cedo se entregou à leitura dos clássicos e dos romances de aventuras, especialmente os das literaturas inglesa e francesa, entre outros. No Colégio Santa Teresa, na capital maranhense, recebeu os mesmos estímulos da família. Aluna exemplar, destacou-se em todas as matérias, porém sempre preferiu os domínios de História, Português e Literatura, Geografia, Educação Artística, Psicologia e Biologia. Como lhe aprazia e seu sonho inicial era a carreira diplomática, que não chegou a ser perseguida posteriormente, dedicou-se, paralelamente, ao estudo de línguas estrangeiras, primeiro a inglesa, depois a francesa e, já na idade adulta, a alemã, a espanhola e a italiana. Na escola, praticou futebol, voleibol e tênis de mesa, esporte pelo qual se tornaria, mais tarde, campeã universitária maranhense e campeã maranhense. Sua vocação para o Ministério Público parece haver se revelado precocemente, ainda nas trincheiras da Literatura, quando foi escolhida para ser a voz da acusação em Tribunal do Júri escolar, no qual foi julgada – e condenada por adultério, registre-se – a personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ana Luiza estudou o primário e a maior parte do secundário no Colégio Santa Teresa, em São Luís, de 1972 a 1982, e concluiu o secundário no Colégio Itamarati, Instituto Guanabara, no Rio de Janeiro-RJ, em 1983, ano em que a família residiu na capital fluminense, onde seu pai Wilson Ferro cursou pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento na Escola Superior de Guerra – ESG. De volta a São Luís, ela ingressou no Curso de Letras (Licenciatura) da UFMA em 1984, formando-se em 1988, com habilitação em Língua Inglesa. No mesmo ano, iniciou Direito, pela mesma instituição de ensino superior, e fez o Curso La Enseñanza de La Traducción, promovido pela San Diego State University, da Califórnia, Estados Unidos, realizado no âmbito da UFMA. Na condição de bolsista do Rotary, realizou estudos de pré-mestrado, na área de Inglês, com foco em Literatura, sobretudo a inglesa, na University of Oregon, em Eugene, Estado 31
http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=54
do Oregon, Estados Unidos, no ano de 1991, quando trancou a matrícula na UFMA, em relação ao Curso de Direito, pelo qual viria a se graduar em 1993. Na University of Oregon, cursou as seguintes disciplinas: English Drama (Jacobean Drama), Edmund Spenser, Advanced Shakespeare, The Renaissance Hero, Seminar: Post-Colonial Strategies in the Novel, Film and Folklore, Modern Drama, Seminar: Feminist Constructions of Voice — A Craft Course, English Drama (Medieval and Tudor Drama), Top: 18th Century Literature (Sex & Gender in the Restoration) e Introduction to Graduate Studies. Estudou inglês no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos – ICBEU (1978-1985), francês na Aliança Cultural Franco-Brasileira, conhecida como Aliança Francesa (1984-1995), alemão (1986-1988) e espanhol (1988-1989) no Núcleo de Cultura Linguística do Departamento de Letras da UFMA, sempre em São Luís, e italiano (2000-2002) e alemão (2002-2003) na Escola Luziana Lanna Idiomas, em Belo Horizonte-MG, onde morou, juntamente com os pais, de 2000 a 2003. Em consequência, é portadora do First Certificate in English e do Certificate of Proficiency in English, concedidos pela University of Cambridge, Inglaterra, e do Certificat pratique de langue française (1er degré), do Diplôme d’études françaises (2e degré) edo Diplôme supérieur d’études françaises (3e degré), pela Université de Nancy II, França. Foi aprovada na Seleção de Inglês para professores pró-labore, em setembro de 1988, pelo Departamento de Letras da UFMA, e em Concurso Público para ingresso na carreira do Magistério Superior, na Classe de Professor Auxiliar, na área de Língua Inglesa, Departamento de Letras da UFMA, realizado em 1994, obtendo o segundo lugar, assim como no Processo Seletivo Simplificado para Contratação de Professor Substituto, área de Direito Público, realizado pelo Departamento de Direito, do Centro de Ciências Sociais da UFMA, em 1999, obtendo o primeiro lugar. Ana Luiza foi bolsista do Programa Interinstitucional de Iniciação Científica CNPq/UFMA, desenvolvendo o Projeto de Pesquisa “Programa Permanente de Análise e Indexação de Jurisprudência: Questão Agrária 1981/1989”, sob a orientação do Professor João Batista Ericeira, do Departamento de Direito da UFMA, no período de abril a dezembro de 1990, em São Luís. No magistério, sua experiência se divide, em especial, entre o ensino da língua inglesa e o das Ciências Criminais. Foi Professora de Inglês no ICBEU (1982) e no Yes – Instituto de Idiomas (1989-1990). Já na universidade, foi professora dos cursos de extensão de Língua Inglesa I, II, III e IV, promovidos pelo Núcleo de Cultura Linguística do Departamento de Letras da UFMA, nos anos de 1992 e 1993. Foi Professora de Criminologia da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, ministrando em cursos de pós-graduação em Ciências Penais, de 2001 a 2003, em Belo Horizonte. Ministrou a disciplina Criminologia no Curso de Especialização em Ciências Criminais do então Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, hoje Universidade Ceuma, no ano de 2008. Pela Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, ministrou os cursos sobre “Crime organizado” e “Criminologia: o criminoso de colarinho branco sob a perspectiva criminológica”, ambos em 2011, como etapas de vitaliciamento do Curso de Ingresso na Carreira do Ministério Público do Maranhão, além da disciplina Criminologia no VIII Módulo do Curso de Pós-Graduação em Ciências Criminais em 2012. Igualmente ministrou aula sobre o tema “Tutela repressiva às organizações criminosas” no Curso de Especialização em Ciências Criminais, da Faculdade de Direito de Vitória, no Espírito Santo, em 2013. Compôs várias bancas examinadoras. Desempenhou a função de Membro da Equipe de Correção de Redação na Comissão Permanente de Vestibular – COPEVE, quando da realização do Concurso Vestibular de 1993, da UFMA. Foi e é orientadora de trabalhos acadêmicos. Ainda em 1993, mesmo ano da conclusão do Curso de Direito, quando exercia o cargo de Técnico Judiciário, Área Meio, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Seção Judiciária do Maranhão, foi aprovada no Concurso Público para Ingresso na Carreira Inicial do Ministério Público do Maranhão, tendo tomado posse em 3 de janeiro de 1994, na administração da Procuradora-Geral de Justiça da época, Dra. Elimar Figueiredo de Almeida Silva. Exerceu o cargo de Promotora de Justiça nas Comarcas de Icatu, Olho D’Água das Cunhas e São Mateus, como substituta; e nas Comarcas de Carutapera, São Mateus, Viana e Caxias, como titular, mediante, nos dois últimos casos, promoção por merecimento. Respondeu, em caráter cumulativo, pelas atribuições da Promotoria de Justiça da Comarca de Vitória do Mearim. Foi Promotora
Eleitoral de diversas zonas. Respondeu, cumulativamente, pela 2ª, 3ª e 5ª (Juizado) Promotorias de Justiça da Comarca de Caxias. Foi Diretora das Promotorias de Justiça de Caxias em várias oportunidades. De 2000 a 2003, Ana Luiza esteve afastada das funções ministeriais para cursar mestrado e doutorado em Ciências Penais na tradicional Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG em Belo Horizonte. Concluiu o mestrado com a defesa da dissertação intitulada “O crime de falso testemunho ou falsa perícia no Direito Penal brasileiro e comparado: o sujeito ativo e outras questões”, em 25 de abril de 2002, sob orientação do Prof. Dr. Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva, obtendo conceito A. Também conquistou o título de Doutora com a defesa da tese intitulada: “O crime organizado e as organizações criminosas: conceito, características, aspectos criminológicos e sugestões político-criminais”, em 8 de março de 2006, coincidentemente o Dia Internacional da Mulher, sob orientação do mesmo professor, obtendo novamente média equivalente ao conceito A. Regressando a São Luís, exerceu a função de Coordenadora de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Direito da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão – ESMP, de 2006 a 2009, e o cargo em comissão de Assessor de Procurador-Geral de Justiça de 30 de novembro de 2009 a 16 de junho de 2010. Hodiernamente, é Promotora de Justiça titular da 14ª (antiga 24ª) Promotoria de Justiça Criminal da Comarca de São Luís, de entrância final, para onde foi promovida em 2009, além de Professora de Direito da Universidade Ceuma e Professora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, na capital maranhense. Integra a Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do Ministério Público do Estado do Maranhão. É membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ, da qual foi Presidente no biênio 2011-2013, a primeira mulher a exercer tal posto. Ocupa a Cadeira nº 5, patroneada pelo Ministro Augusto Olympio Viveiros de Castro, desde 3 de dezembro de 2004, data de sua posse no auditório da Academia Maranhense de Letras, em São Luís-MA, ocasião em que foi saudada pela Acadêmica Elimar Figueiredo de Almeida Silva. É membro efetivo da Academia Caxiense de Letras – ACL, ocupando a Cadeira nº 9, patroneada pela Professora Filomena Machado Teixeira, na qual tomou posse em 26 de abril de 2008, em solenidade em Caxias-MA, tendo sido saudada pelo Desembargador Jamil de Miranda Gedeon Neto. É sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, ocupando a Cadeira nº 36, cujo patrono é Astolfo Henrique de Barros Serra, desde 26 de agosto de 2011, data de sua posse em São Luís, oportunidade na qual foi saudada pelo colega Promotor de Justiça Washington Luiz Maciel Cantanhêde. Finalmente, é um dos 25 fundadores da Academia Ludovicense de Letras – ALL, entidade nascida em 10 de agosto de 2013, onde ocupa, como membro efetivo, a Cadeira nº 31, patroneada pelo renomado historiador Mário Martins Meireles, aliás, seu parente, por parte de pai. É autora do projeto do brasão da ALL, assim como o seu patrono Mário Meireles já idealizara o brasão da Academia Maranhense de Letras no passado. É Membro da Comissão Editorial da Revista Eletrônica de Ciências Jurídicas, da AMPEM, desde o segundo semestre de 2004, em São Luís. No âmbito nacional, é Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica – SBPJ, com agraciamento em 21 de agosto de 2008, em cerimônia realizada em Porto Alegre-RS. Proferiu numerosas palestras e conferências em eventos realizados em diversas cidades brasileiras, tais como as intituladas “Instrumentos legais de defesa da mulher contra a violência”, no II Encontro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, em São Luís, no ano de 1998, e no I Seminário sobre os Direitos da Mulher, na cidade de Caxias-MA, em 1999; “O Ministério Público e os Municípios: a questão da improbidade administrativa”, no Encontro de Prefeitos do Maranhão, na capital maranhense, em 1998; “O Tribunal de Nuremberg”, na Fundação Escola Superior do Ministério Público/MG, em Belo Horizonte, no ano de 2003; “O idoso na sociedade”, no I Fórum Municipal do Idoso, na cidade de Caxias, em 2006; “Para entender o Ministério Público”, no I Seminário para Jornalistas, em São Luís, no ano de 2007; “Crime de colarinho branco: perspectiva criminológica”, em cerimônia da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, na capital gaúcha, em 2008, e no 1º Seminário de Criminologia e Segurança Pública, no Rio de Janeiro, em 2009; “O Ministério Público no combate às organizações criminosas”, em painel no I Congresso Estadual do Ministério Público do Maranhão, em São Luís, no ano de 2008; “Crime organizado e organizações criminosas”, no 7º Congresso Brasileiro de Direito Internacional, na Universidade de São Paulo – USP, e na XVI Jornada Jurídica do Curso de Direito – UNICEUMA, em 2009; “Organizações criminosas”, no Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, na cidade
de Florianópolis, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais: apontamentos”, no I Seminário Nacional de Direito Penal e Processual Penal na Região Serrana, na Universidade Estácio de Sá – Unidade Nova Friburgo, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas”, no Rotary Club de São Luís, em 2010, na I Jornada de Direito Penal, da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região – ESMAF, em Manaus-AM, em 2012, na I Semana Acadêmica do Curso de Direito, na UFMA, em São Luís, no ano de 2013, e na I Conferência Estadual de Políticas Penitenciárias, promovida pela Escola de Gestão Penitenciária do Maranhão, da Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária, em São Luís, em 2014; “Delinquência organizada e organizações criminosas mundiais”, no seminário O Ministério Público e a repressão ao crime organizado, em Goiânia-GO, em 2011; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais”, no Seminário: Combate ao crime organizado, em Boa Vista-RR, em 2011; “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, no Seminário 6: São Luís foi fundada por quem? Conclusões possíveis, do Ciclo de Estudos/Debates A cidade do Maranhão – uma história de 400 anos 2011/2012, promovido pelo IHGM, em São Luís, em 2012; “O crime do colarinho branco sob a ótica criminológica”, na Jornada Jurídica: Hermenêutica constitucional e jurisdição penal, em Imperatriz-MA, no ano de 2012, entre outras. Foi oradora das turmas de licenciandos em Educação Artística, Estudos Sociais, Filosofia, História e Letras em 1988 e da turma de bacharelandos do Curso de Direito em 1993, por ocasião das respectivas colações de grau da UFMA, assim como dos Promotores de Justiça do Maranhão, na cerimônia de entrega das vestes talares, em 1994. Obteve o primeiro lugar no Concurso Epistolar Internacional para jovens, promovido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Delegacia Regional do Maranhão, realizado em 1982. Foi premiada no Concurso Jovem Embaixador 1983, promovido por O Globo, pelo Instituto Guanabara e pelo Colégio Princesa Isabel, no Rio de Janeiro-RJ. Também recebeu Prêmio de Publicação no V Concurso Raimundo Correa de Poesia, tendo sido selecionada para participar do livro Poetas brasileiros de hoje 1986.Seus poemas foram igualmente incluídos na obra Poetas brasileiros de hoje 1987 e na prestigiada Revista Poesia Sempre: Polônia, da Fundação Biblioteca Nacional (2008). Alcançou a primeira colocação com a poesia “Quando” no I Concurso Literário de Contos e Poesias em 2012 e o segundo lugar com a poesia “A dama quatrocentona” no II Concurso Literário nos Gêneros de Poesias e/ou Crônicas “São Luís, minha cidade”, no ano seguinte, ambos promovidos pela Associação dos Amigos da Universidade Federal do Maranhão – AAUFMA. Recebeu a Medalha “Souzândrade” do Mérito Universitário, concedida pela Universidade Federal do Maranhão, por haver obtido o maior coeficiente de rendimento escolar da universidade, durante o curso de graduação, até o primeiro semestre letivo de 1987. Foi agraciada com o “Prêmio AMPEM”, em três edições (1997-1999), e, em sequência, com o “Prêmio Márcia Sandes”, em suas edições 2001, 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008, concedidos pela Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão – AMPEM aos autores dos trabalhos jurídicos mais destacados. Recebeu, ainda, a Comenda Arcelina Mochel, outorgada pela AMPEM, pela passagem de quinze anos de serviços prestados ao Ministério Público, em 2009, e a Comenda Gonçalves Dias, conferida pelo IHGM, pela participação e empenho na materialização do Projeto Gonçalves Dias, em 2013. É autora de vários livros e possui numerosos artigos jurídicos e históricos e peças processuais publicadas em livros e revistas especializadas, entre as quais a Revista dos Tribunais, a De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera e a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (edição eletrônica), além de artigos e crônicas veiculadas nos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial e poesias, incluídas em publicações variadas. Sua obra Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009), baseada na tese de Doutorado na UFMG, levou-a a ser entrevistada pelo apresentador Jô Soares em seu Programa do Jô, da Rede Globo, exibido em 26 de março de 2010, e pela revista História em curso (São Paulo, Minuano, v. 2, n. 8, p. 10-17, 2012), entre outras entrevistas concedidas em publicações nacionais desde 2009. É um dos seis autores que colaboraram na obra França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizada por Antonio Noberto (São Luís, 2012). No campo jurídico, teve dois artigos – “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas” e “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas” – incluídos no livro Direito
penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa, no ano de 2011, uma republicação, em edição especial, dos melhores artigos doutrinários já publicados pela prestigiada Editora Revista dos Tribunais ao longo de 100 anos. Seus autores prediletos são o poeta e dramaturgo William Shakespeare e a romancista Jane Austen, cujas principais obras já leu no original, entre as quais Pride and prejudice, tema de sua monografia de conclusão do Curso de Letras na UFMA, além do poeta Gonçalves Dias, sua referência maior na poesia brasileira, e do romancista cearense José de Alencar, com quem teria laços distantes de parentesco, segundo informações de seu avô materno Marcos Vinicius, já falecido, filho da professora, jornalista e pianista Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, nascida no Ceará. Advanced Shakespeare foi, não por acaso, uma das disciplinas cursadas na University of Oregon, nos Estados Unidos. Participa das atividades promovidas pelo Liceo Poético de Benidorm, Espanha, em São Luís. Esta é a sua bibliografia: a) livros jurídicos e afins: O Tribunal de Nuremberg: dos precedentes à confirmação de seus princípios. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 (baseado na monografia de conclusão do Curso de Direito); Escusas absolutórias no Direito Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2003; Robert Merton e o funcionalismo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004; O crime de falso testemunho ou falsa perícia: atualizado conforme a Lei n. 10.268, de 28 de agosto de 2001. Belo Horizonte: Del Rey, 2004 (baseado na dissertação de Mestrado); Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely. Belo Horizonte: Decálogo, 2008; Crime organizado e organizações criminosas mundiais. Curitiba: Juruá, 2009 (baseado na tese de Doutorado); e Criminalidade organizada: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013. Curitiba: Juruá, 2014 (em coautoria com Flávio Cardoso Pereira e Gustavo dos Reis Gazzola); b) livros de poesias: Versos e anversos. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 (em coautoria com o pai Wilson Pires Ferro e o tio José Ribamar Pires Ferro); Quando: poesias. São Paulo: Scortecci, 2008; A odisséia ministerial timbira: poema. São Luís: AMPEM, 2008; e O náufrago e a linha do horizonte: poesias. São Paulo: Scortecci, 2012; c) artigos (em livros e revistas especializadas): “A mão da sociedade”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (1998); “Algumas considerações sobre o testemunho infantil”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2000) e na APMP Revista (2001); “Quem deu a ti, Carrasco, esse poder sobre mim?”, na Revista AMPEM (2001) e em O Sino do Samuel, Jornal da Faculdade de Direito da UFMG (2002); “O problema da Justiça em Kelsen”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2001 e na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2002); “O sujeito ativo do crime de falso testemunho: a questão do não-compromissado e do não-advertido”, na Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2002); “O contador como sujeito ativo do crime de falsa perícia”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2002/2003; “Algumas considerações sobre o imputado, o réu e a autodefesa no Direito penal brasileiro e comparado”, em Justiça e Direito – Revista da Pós-Graduação em Ciências Jurídicas do UNICEUMA (2004); “Os novos conquistadores: as organizações criminosas”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2006 e em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2007); “O crime organizado e as organizações criminosas: uma proposta legislativa”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2006), no site Direito Penal Virtual (2006) e na Revista Âmbito Jurídico, Revista Jurídica Eletrônica (2007); “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas”, na Revista dos Tribunais (2007) e no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa (2011); “Algumas considerações sobre os fenômenos do terrorismo e do crime organizado”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2007, em formato CD-ROM, na Seção “Doutrina”, como parte integrante da Revista Juris Plenum (2008), e na Revista do Ministério Público de Alagoas (2007); “O crime organizado e o crime de colarinho branco”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2007) e em formato CD-ROM, na Seção “Doutrina”, como parte integrante da Revista Juris Plenum (2008); “O crime à luz da teoria da anomia”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2008; “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas”, na Revista dos Tribunais (2008) e no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa (2011); “Sutherland, a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2008); “Sutherland – a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2008); “Da (in)constitucionalidade do art. 23, §§ 2º e 3º, da Lei Complementar nº 013/1991 e da Resolução nº 02/2009-
CPMP-MA”, no CD Prêmio Márcia Sandes 2010; “A teoria procedimentalista de interpretação constitucional de J. H. Ely”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2010) e na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2010); “John Hart Ely e sua teoria procedimentalista de interpretação constitucional”, no livro Direitos fundamentais, democracia e cidadania: estudos em homenagem a Elimar Figueiredo de Almeida Silva (2010); “Uma proposta legislativa no campo da criminalidade organizada”, no CD Prêmio Márcia Sandes 2011; “Uma proposta legislativa para o enfrentamento da criminalidade organizada”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2012); “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “A Era dos Descobrimentos e a partição do Mar-Oceano”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “Crime organizado: caracterização, exemplos de organizações criminosas e proposta de tipificação legal”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão Juris Itinera (2012); “As primeiras tentativas portuguesas de povoamento e colonização do Brasil e do Maranhão e a origem do nome ‘Maranhão’”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “A presença dos franceses no Novo Mundo, no Brasil e no Maranhão do século XVI ao início do século XVIII”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “O caso O. J. Simpson na concepção de John Hart Ely”, na Revista da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (2013); “A situação político-religiosa e a política exterior da França no fim do século XVI e começo do século XVII”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2013); “Crime organizado e organizações criminosas: caracterização e proposta de tipificação legal”, na obra I Jornada de Direito Penal, da ESMAF (2013); e “Edwin Sutherland: o crime de colarinho branco e o crime organizado”, na Revista Juris (2014); d) artigos e crônicas (em jornais): “Mário Meireles, o eterno”, no jornal O Estado do Maranhão, 22 jun. 2003; “Errar é humano, punir também”, no jornal O Estado do Maranhão, 22 fev. 2006; “Um certo Josué”, em homenagem ao escritor Josué Montello, no jornal O Estado do Maranhão, 15 abr. 2006; “Saint Louis”, no jornal O Estado do Maranhão, 7 set. 2008; “Sede bem-vindos!”, no jornal O Estado do Maranhão, 13 jun. 2010, Alternativo; “O Rei do Rádio”, em homenagem ao radialista Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, no jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2010; “Réquiem para a Biblioteca Pública”, no jornal O Estado do Maranhão, 12 set. 2010; “Essas mulheres extraordinárias...”, no jornal O Estado do Maranhão, 19 mar. 2011; “Convite ao passado de São Luís”, no jornal O Estado do Maranhão, 18 ago. 2012; “São Luís, herdeira da França Equinocial”, no jornal O Imparcial, 8 set. 2012 (em parceria com Wilson Pires Ferro); “O fundador esquecido”, no jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2012; e ); e “O fundador esquecido II”, no jornal O Estado do Maranhão, 8 set. 2012; e) poesias avulsas: “O Porteiro”, no livro Poetas brasileiros de hoje 1986 (Rio de Janeiro: Shogun Arte, 1986), no Informativo AAUFMA (1997), no Informativo, da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Maranhão (1997), e na APMP Revista (1997); “O Rei-Menino”, no livro Poetas brasileiros de hoje 1987 (Rio de Janeiro: Shogun Arte, 1987); “A Odisséia Ministerial Timbira”, na APMP Revista (1997); “O Tiro”, na Revista da AMPEM (2005); “Quando”, na Revista da AMPEM (2006); “Em ti, São Luís”, no Jornal O Estado do Maranhão, 8 set. 2007, Caderno Especial São Luís 395 anos: 10 anos de Patrimônio Cultural da Humanidade; “Quero”, na Revista da AMPEM (2007); “O náufrago”, “O náufrago II” e “O náufrago III”, na Revista Poesia Sempre: Polônia, Fundação Biblioteca Nacional, ano 15, n. 30, 2008; f) prefácios: do livro Direito penal e processual penal garantista: das ideias à concretização, de autoria de Justino da Silva Guimarães, São Luís: AMPEM, 2009; do livro No reinado das nuvens, de autoria de Paulo Oliveira, São Luís: AMPEM, 2009; do livro Pedras em Izkor, de autoria de Maruschka de Mello e Silva, São Paulo: Scortecci, 2010; do livro Direito criminal contemporâneo, organizado por André Gonzalez Cruz, Brasília: Kiron, 2012; e do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizado por Antonio Noberto, São Luís, 2012 (em coautoria com Wilson Pires Ferro); g) apresentação: do livro Sombras da noite: contos para a juventude, de autoria de Wilson Pires Ferro, São Luís: Lithograf, 2010; e da Revista da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, na qualidade de sua Presidente, São Luís: Edições AMLJ, 2013. RESUMO DOS LIVROS: 1) Versos e anversos (2002): São três livros em um só, porque escrito por três autores, e nele podem ser encontradas poesias de estilos variados. Há as de estilo antigo e as de feição mais contemporânea. Dedicado ao homem do
campo, há o “Poema Caboclo” e, com inspiração em “Os Lusíadas”, há uma tentativa de narrar os principais eventos da História do Brasil, em homenagem aos 500 anos do Descobrimento. Temas distintos, como a natureza, a violência, o amor, a fugacidade da vida, o sonho, o culto à tradição, a criança abandonada, entre muitos outros, testemunham as andanças e vivências dos autores e compõem uma sinfonia inacabada, cujas notas afloram d’alma. 2) O Tribunal de Nuremberg (2002): Versa sobre o chamado Tribunal de Nuremberg (1945-1946), que julgou grandes criminosos de guerra nazistas, percorrendo a fascinante e polêmica via pavimentada com os seus precedentes, as características de seu Estatuto e julgamento, a jurisdição e o caráter internacional do Tribunal, os principais aspectos de seu procedimento e os princípios de Direito Internacional reconhecidos pelo Estatuto e pelo julgamento do Tribunal, com destaque para a afirmação do Direito Internacional, a questão dos fatos justificativos, a garantia de um processo equitativo, os três crimes internacionais e o tema da participação criminosa, em busca do amanhã de Nuremberg. Questões como a do princípio da legalidade em matéria penal internacional e a da obediência hierárquica, dentre outras, presentes em Nuremberg, afiguram-se hoje fundamentais em qualquer discussão sobre Justiça Penal Internacional. 3) Escusas absolutórias no Direito Penal (2003): Tem como tema as escusas absolutórias, no Direito penal brasileiro e comparado, tendo como parâmetros, além da legislação, doutrina e jurisprudência pátria, os direitos francês, italiano, alemão, português, norueguês, espanhol, chileno, argentino e cubano. Os principais pontos abordados são os antecedentes históricos, a terminologia, o conceito, a natureza jurídica e as características, o confronto entre as escusas absolutórias e as condições objetivas de punibilidade, a comparação entre o instituto referido e o erro, o perdão judicial e outras causas extintivas da punibilidade, a questão da ratio e as isenções penais previstas nos artigos 181 e 348, § 2º, do Código Penal brasileiro. 4) Robert Merton e o funcionalismo (2004): Cuida da teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade, desenvolvida, à luz das ideias de Émile Durkheim, pelo sociólogo Robert Merton, enfocando os seus aspectos gerais, a tipologia dos modos de adaptação individual (conformidade, inovação, ritualismo, evasão e rebelião), o papel da família, a anomia e seus diferentes graus, as suas contribuições e a avaliação crítica do pensamento mertoniano e do Funcionalismo, sem dúvida uma das mais importantes correntes criminológicas. 5) O crime de falso testemunho ou falsa perícia (2004): Trata do crime de falso testemunho ou falsa perícia, incluindo visão histórica, com ênfase na questão do sujeito ativo e temas correlatos, no Direito penal brasileiro e comparado, tendo como parâmetros, além da legislação, doutrina e jurisprudência pátria, os direitos inglês, americano, alemão, norueguês, francês, italiano, português, espanhol, argentino, chileno e cubano. Inicialmente, são enfocadas as provas testemunhal e pericial. Na parte nuclear, sob o prisma dos artigos 342 e 343 do Código Penal brasileiro, com a redação da Lei nº 10.268/2001, é enfrentado o tema do sujeito ativo, examinando-se as situações do imputado, do réu e da autodefesa, do ofendido, do não-compromissado e do não-advertido, do depoimento pessoal em processo civil, do perito e do assistente técnico, do contador, bem como a possibilidade de coautoria e participação. 6) Quando: poesias (2008): Neste livro de poesias, a autora não se associa a um modelo único de escola ou forma, oferecendo, sempre com o domínio adequado da linguagem, poemas rimados, sonetos, poemas de versos brancos e até experimentos com a linguagem, em alguns casos, evocando o concretismo, noutros cortejando as aliterações de inspiração simbolista. Sua navegação pelos mares da poesia é sóbria e fascinante, orientada por temas como a fugacidade da vida, a solidão, o amor, a saudade, a violência, a busca do novo, a inexorabilidade do tempo, a consciência da morte, dentre outros, compondo um mosaico de sentimentos humanos confrontados com a realidade, em permanente estado de tensão e inquietação
existencial, de que são testemunhos pungentes, por exemplo, os poemas “Quando”, “Quero”, “A criação”, “Escrevi teu nome”, “Procurei-te”, “Pesadelo” e “O tempo como o vento”. 7) Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely (2008): Tem como tema a teoria de interpretação constitucional de John Hart Ely, cujos principais trabalhos são: Democracy and Distrust: A Theory of Judicial Review (pelo qual foi agraciado com o prêmio Order of the Coif Triennial Book Award, como melhor livro sobre direito publicado em 1980-82), War and Responsibility (1993) e On Constitutional Ground (1996). Apesar de relativamente pouco conhecido no Brasil, é o quarto jurista americano mais freqüentemente citado de todos os tempos, segundo estudos publicados em janeiro de 2000, divulgados pelo Journal of Legal Studies, da Universidade de Chicago. Democracy and Distrust constitui o livro jurídico mais citado desde 1978, tendo sido referido 1460 vezes. O autor, de tendência formalista, defende uma forma de controle de constitucionalidade, justificada na própria natureza da Constituição dos Estados Unidos e no sistema americano de democracia representativa, orientada para questões de participação e não para os méritos substantivos da escolha política sob ataque. Para ele, as cortes devem proteger os direitos identificados com alguma especificidade na Carta Constitucional como habilitados à proteção, particularmente direitos de acesso político e direitos de igualdade. Sua teoria, de tom procedimentalista, invoca sempre a autoridade do texto e do contexto da Constituição, buscando a afirmação, pelas cortes em geral e especialmente pela Suprema Corte americana, dos direitos encontrados no próprio texto constitucional, dos que são prérequisitos para a participação política e dos que estão incluídos entre aqueles que a maioria controladora assegurou para si. Embora concebida visando à realidade americana, a teoria, pela sua abordagem formal e procedimentalista, pode oferecer importantes contribuições em outros universos jurídicos, como o brasileiro. Além da apresentação da teoria geral de Ely, este livro enfoca a sua aplicação, mediante considerações sobre a separação de poderes, a discriminação racial, o caso O. J. Simpson e o “devido processo substantivo”, entre outras questões. 8) A odisséia ministerial timbira: poema (2008): Trata-se de poema épico com vinte cantos e sessenta estrofes, em homenagem ao Ministério Público do Maranhão, contendo referências implícitas ou explícitas a todas as Promotorias de Justiça do Maranhão e à grande maioria das comarcas maranhenses. 9) Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009): Estudo sistemático sobre o crime organizado e as organizações criminosas, enfocando os antecedentes históricos, as principais organizações criminosas estrangeiras e brasileiras, as teorias e concepções criminológicas mais pertinentes à compreensão do fenômeno, como a teoria da associação diferencial e a noção do crime de colarinho branco, o mito da Máfia, os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas, a questão do conceito e caracterização do fenômeno e de seu confronto com outras modalidades delituosas, a exemplo do terrorismo, o tratamento do tema no Direito penal comparado e no Direito pátrio, via análise do art. 288 do Código Penal, da Lei nº 9.034/95, de outros estatutos legais e de alguns projetos e anteprojetos legislativos, em construção de um conceito o mais abrangente possível de crime organizado, em que as conexões de suas organizações com o Poder Público, sobretudo pela corrupção, e com o mundo empresarial, pela natureza de seus negócios, são elementos essenciais, incluindo sugestões político-criminais e propostas legislativas. 10) O náufrago e a linha do horizonte: poesias (2012): Trata-se de livro de poesias, cujos versos revelam o toque de sonho da mulher, o timbre firme da jurista e o tálamo polinizado de uma alma cheia de paixões. A poesia da autora, caracterizada pela intelectualidade da linguagem e pela seleção minuciosa de temas – egoicos, sociais, ambientais, filosóficos –, parece buscar, nas sutilezas da forma, a sua genealogia: música e feminilidade. A autora explora as possibilidades poéticas da figura emblemática do náufrago diante da linha do horizonte, em meio às vagas do oceano. 11) Criminalidade organizada (2014): Análise, artigo a artigo, da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, nova lei de controle do crime organizado, com ênfase nos antecedentes históricos do crime organizado, nas características doutrinárias da
organização criminosa, na evolução de seu conceito no Direito brasileiro, no crime de organização criminosa, com suas causas de aumento de pena e circunstância agravante, no crime de obstrução à persecução penal, na medida cautelar aplicável ao funcionário público, no efeito da sentença condenatória, na investigação criminal e nos meios de obtenção da prova, em especial no tocante à colaboração premiada, à ação controlada, à infiltração de agentes e ao acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações, nos crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova, no procedimento relativo aos delitos tipificados na Lei nº 12.850/2013, nas questões da duração da instrução criminal no caso de réu preso e da possibilidade de decretação do sigilo da investigação diante do princípio constitucional da ampla defesa, nas alterações infligidas aos artigos 288 e 342 do Código Penal, na revogação da Lei nº 9.034/1995 e no confronto da novel lei com a Lei nº 12.694/2012, quanto ao conceito de organização criminosa. O PORTEIRO32 Sob tênue e dúbia luz, entre prédios, paus e pedras, papéis apressados e triste ladrar, caminha solitário o porteiro – porteiro da noite. Passo inquieto, eterno esperar, olhar fugidio e instinto treinado, aperta a cruz e segue calado sob cortante e ébrio açoite, prossegue acuado o porteiro – porteiro do frio. O silêncio errante perde o fascínio: vozes e vultos emergem distantes, tenso supor de perigo latente a espalhar trêmulo torpor; horror da espera, conflito iminente, cedo aguarda, quieto o porteiro – porteiro do medo. O cerco se faz na rua desnuda, desce a violência insana e vã: irmã da droga, prima do álcool; golpes e socos, animais em luta, gritando e gemendo em surda agonia; morte espreitando no canto da vida: cede o vento, a violência, o porteiro – porteiro da morte. Amanhece. Na polícia, a ocorrência; no jornal, a notícia; e para a rua marcada um novo porteiro: herdeiro da noite do frio do medo da morte.
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(Publicada no livro Versos e anversos, 2002)
QUANDO33 Quando a última luz se apagar a noite eterna será meu sol as estrelas piscarão no atol e eu lá, pequena, a cismar. Quando a última voz se calar ouvirei o silêncio dos ressentidos soltarei o grito engasgado dos contidos em meio à solidão do mar. Quando o último perfume se esvair buscarei a fragrância das flores com o cheiro de mil amores e me porei, surpresa, a sorrir. Quando o último sabor se perder encontrarei o gosto da vida no doce aceno da partida e degustarei as delícias do ser. Quando o último toque se findar sentirei a chama que me consome apalparei a frágua da minha fome e descobrirei o verdadeiro lar. Quando a última porta se fechar daquele parapeito da janela do tempo verei a vida passar em contratempo e me olvidarei nas asas do sonhar.
MEDO34 Sou o beco escuro em noite sem luar Sou o revólver empunhado pronto a disparar Sou a voz sufocada que não consegue falar Sou o barco condenado que afunda em alto-mar Sou a água invasiva que não para de inundar Sou o mar portentoso prestes a encrespar Sou a pena que não escreve para não errar Sou o dedo que aponta para não se culpar Sou a mão que conquista para não se curvar Sou o passado atormentado que não quer acabar Sou o presente ocupado que teima em faltar Sou o futuro incerto que ameaça chegar Sou a morte que não se esquece de matar Sou a vida que não se lembra de viver. Eu sou e jamais deixarei de ser pois temer ou me ter é próprio do ser humano que se diz sano em um mundo de vez em quando cada vez mais por vezes demais insano.
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(Publicada no livro Quando, 2008)
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(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
POESIA NETUNIANA35 É a gota liberta da taça cheia que transborda incerta para o lago da mente. É o vinho inebriante das vinhas da boa ira que flui pulsante pela corrente do espírito. É a cachoeira do alto da montanha inerte que toma de salto as torrentes do coração. É o rio turbulento sem margem de erro que desemboca sedento no oceano d’alma. É o mar incontinente empurrado pela onda que invade inclemente a praia do eu. A poesia é a gota liberta é o vinho inebriante é a cachoeira do alto é o rio turbulento é o mar incontinente. A poesia é água benta que irriga que inunda que encharca perpetuamente os campos da palavra.
O NÁUFRAGO VIII36 Navego pelas ondas do teu corpo sem saber que rochedos evitar sou a vaga do teu anticorpo a explorar as profundezas do mar à espera do iceberg que me afundará se eu perder o controle do timão ou da mão que me oferecerá pequenas tábuas de salvação quando a tormenta se avizinha busco o porto seguro do teu peito e a bujarrona não é mais minha até o próximo coração desfeito 35 36
(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012) (Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
tuas veias bebem meu sangue e eu naufrago na tua ilharga venho à tona e repouso langue e ponho em teus braços a carga me refugio sob teus ombros e deixo os sonhos submersos me junto aos muitos escombros que a maré desfez em versos.
SEDE BEM-VINDOS!37 Senhores visitantes e turistas, neste mês de tantas celebrações, gostaria de vos dizer que São Luís vos recebe de maré cheia, sob a toada do bumba-meu-boi, na Praça da Alegria ou no Largo dos Amores. Sobre a cidade, não espereis de mim o esforço da imparcialidade dos julgadores, mas a prosa apaixonada dos que não se cansam de lhe fazer a corte. Principio vos lembrando de que “minha terra tem palmeiras”, tomando de empréstimo as palavras de certo poeta que ganhou o Brasil e o mundo. Porém, isso já sabíeis, não é surpresa, sobretudo se já percorrestes as suas vias mais próximas do aconchego do mar, na companhia, talvez, dos holandeses, ou se já pisastes na ponta d’areia, no calhau ou no olho d’água de nossas belas praias. Não vos garantirei, no entanto, que nessas famosas palmeiras ainda cante algum sabiá. Mais fácil encontrardes um bem-te-vi. Mas vos asseguro, e não me tomo de pejo em fazê-lo, seguindo a constatação inspirada do mesmo vate, que “minha terra tem primores” e, ainda mais induvidoso, que: Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores (Canção do Exílio). De fato, esta é a “Ilha dos Amores”. Primeiro vieram os franceses, que são conhecidos nessa arte, e a fizeram sua. Talvez já tenhais vos deparado com o seu fundador, Daniel de La Touche, descansando no Palácio La Ravardière, sede do Poder Executivo Municipal, ou transitando em larga avenida. E São Luís se tornou a única capital brasileira que nasceu gaulesa no longínquo ano de 1612. Em seguida, vieram os portugueses, que a cobriram de mimos, enfeitando os seus imponentes sobradões com azulejos. E São Luís, do alto de seus mirantes – que só posteriormente seriam sinônimo de prestigiada rede de TV –, ao som do vira, virou a “Cidade dos Azulejos”, um pedaço de Lisboa no Brasil, bem representado pela Rua Portugal. Depois, vieram os intelectuais, os escritores e os poetas, que não eram gregos, mas a transformaram, com justiça, na “Atenas Brasileira”. E São Luís nunca mais deixou de ser, na observação de Astolfo Serra, “terra onde se amam os versos, os recitativos, a oratória, as tertúlias literárias e onde existe verdadeiro culto pela arte de dizer e de escrever” (Guia histórico e sentimental de São Luís do Maranhão, p. 17). Basta atentardes para o apreço que temos pelo “tu”, preferência, aliás, que compartilhamos, por exemplo, com os irmãos gaúchos. E quando visitardes a Praia Grande e a Rua da Estrela, coração do Centro Histórico e do casario colonial da urbe, apurai a vista, pois podeis vos encontrar com o Mulato de Aluísio Azevedo. Se desejais um encontro com o Poeta, procurai o Largo dos Amores, donde Gonçalves Dias, altaneiro, descortina o Rio Anil e aproveita para cortejar a Maria Aragão. E, como não sabemos o porvir, recomendo-vos uma visita à Igreja dos Remédios, com sua majestade gótica. Todavia, se sentirdes falta de um sermão, segui para a Igreja de Santo Antônio, onde podereis, quiçá, ouvir, extasiados, as preleções do Padre Antônio Vieira. Ou entrai no Convento das Mercês, construído em 1863, ou na Catedral Metropolitana, de cujo acrotério vigia Nossa Senhora da Vitória, a qual, conforme a lenda, em forma de radiosa Virgem, possibilitou o triunfo dos lusitanos sobre os franceses na Batalha de Guaxenduba, ao transformar a areia em pólvora para os soldados. Ou adentrai o prédio ao lado, o Palácio Arquiepiscopal, antigo Colégio dos Jesuítas. Em ambos os casos, estareis em frente ao sítio de fundação da cidade, guardados pelos leões do poder, postados na entrada do Palácio que se estende sobre os alicerces do outrora Forte de São Luís, que deu nome à capital maranhense, em honra ao rei francês. Ainda nessa área, podereis ver caminhar Graça Aranha, a pensar na sua Canaã.
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Publicada no jornal O Estado do Maranhão, 13 jun. 2010, e no livro França Equinocial, organizado por Antonio Noberto, 2012
Se o que quereis é mistério, dai uma espiadela para o interior da Fonte do Ribeirão, edificada em 1796, e imaginai para que serviam as suas famosas galerias subterrâneas no Maranhão Colonial, se para o contrabando de escravos ou se para o trânsito dos jesuítas da Igreja do Carmo até a Igreja de São Pantaleão. Ou, se tendes coragem, esperai a passagem da carruagem de Dona Ana Jansen, senhora de grande fortuna e marcante personalidade, duas vezes viúva, de grande influência na vida socioeconômica e política da cidade no séc. XIX, nas noites escuras de sexta-feira, deixando o cemitério em direção às ruas de São Luís. Atentai para os cavalos e o cocheiro escravo decapitados, mas não esperai para receber da alma penada de Donana uma vela acesa, que certamente se transmutará em osso de defunto no dia seguinte. Preferi a lagoa da mesma senhora, onde, nesta época, no arraial, como em muitos outros espalhados pela cidade, é possível dançar, em homenagem aos santos juninos, com Pai Francisco e Mãe Catirina ao redor do boi, que não é meu, porém da Companhia Barrica, de Morros, Nina Rodrigues, Axixá, Icatu, Cururupu, Maioba, Maracanã, Pindoba, Guimarães, Alcântara, Ribamar, Fé em Deus, São Simão... Mas quando fordes ao mirante da lagoa, procurai a serpente que, segundo contam, envolve a cidade e continua a crescer até que sua cauda alcance a cabeça, momento em que não desejareis estar aqui, porque será o tempo em que São Luís desaparecerá em meio às águas do Oceano Atlântico... Ou talvez isto ocorra antes, quando o Rei Touro, El-Rei D. Sebastião, se desencantar e voltar à forma humana... Não vos preocupeis, todavia; lembrai-vos de que a Virgem está vigilante, do alto da fachada da Catedral. Por fim, quando vos fatigardes com a perambulação pelas ruas e becos estreitos do centro da cidade, como, por exemplo, a Rua Direita, que é tortuosa; a Rua do Norte, que fica ao sul; a Rua dos Remédios, onde não há farmácias; a Rua do Sol, onde há somente sombra por causa dos casarões; a Rua do Passeio, que termina no Cemitério do Gavião; e o Beco do Quebra-costas, que, ao contrário, realiza o que promete; ou ainda for cedo para a brincadeira dos arraiais, fazei uma pausa para provar do sapoti, do bacuri e do cajá. Não vos olvideis que graviola é jacama, açaí é juçara e fruta-do-conde é ata. E preparaivos para um delicioso almoço ou jantar à base de camarão, pescada ou carne-de-sol, com arroz de cuxá, cuxá e macaxeira, à beira do mar de águas prateadas. São Luís vos saúda com a hospitalidade que caracteriza a alma ludovicense, carregada de sonho e poesia. Pois, afinal, como disse o Poeta, nossa vida, sem dúvida, tem mais amores. Sede bem-vindos!
CERES COSTA FERNANDES
PRIMEIRA OCUPANTE DA CADEIRA 34 DA ALL ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS Por Álvaro Urubatan Melo 38 Não fosse convencional o cumprimento das normas estatutárias e regimentais, praxes que sublimam e ilustram os atos acadêmicos e similares, fácil seria para eu desempenhar esta honrosa e agradável tarefa, de maneira bastante simples e gloriosa, porém lacônica, sem, contudo, apequenar a magnitude desta solenidade. Bastaria que, com gesto respeitoso e eloquente dissesse: Professora Doutora Ceres Costa Fernandes adentre neste sodalício, assuma esta cadeira, ela é sua. Cumpriria o restante da liturgia e, com uma calorosa ovação a insigne confreira passaria, com o brilho de seu talento, não do asteroide CERES, mas a prefulgência e uma estrela maior, adamantina, tornar-se-ia dela a legítima fundadora, como ocorre. Sim, sabem por que estaria consumado a assunção desta cadeira? Porque se imagina, até por obrigação que todos os conviventes da comunidade literária, por admiração ou prática; os militantes do magistério: educandos e educadores temos o dever de conhecer a cronista, ensaísta, educadora, poetisa Ceres Costa Fernandes, uma das mais notáveis personagens que enriquecem, passado e presente, os universos em que mourejou e inapagáveis estão às marcas benéficas de sua passagem. Confreira Ceres. Começo a explorar o querido amigo Joaquim Itapary, seu recipiente na Academia Maranhense de Letras quando alertou: esta é uma casa de ritos e solenidades. A Academia Ludovicence também o é. Portanto, convidados e cultores da palavra erudita estamos aqui, atentos e sem pressa, ansiosos para ouvir, escutar e aplaudir Vossa Senhoria. Ilustre Confreira, naquela indelével noite de 24 de maio de 2001, com alusão à sua pergunta por que estavas ali, se muitos e muitas com os mesmos predicados, e outros possuidores de maior valor estavam fora. Itapary, seu recipiente, em sua alocução também se interrogou a respeito, e encarregou-se de justificar, e assim o fez: pela sua reconhecida inteligência e invulgar cultura a iluminar e adornar a tua bela figura de mulher. Se nesta noite essa pergunta voltar a lhe ser tormento, desta vez sou eu quem, com satisfação perene, apresso-me a respondê-la: Professora Ceres - cógnita seus irrefutáveis méritos, louváveis sua faina na consolidação do Café Literário, no êxito das Mostras Literárias, no substancial apoio à FALMA e a neófita ALL, urge e imprescindível é sua presença em nosso quadro que se beneficiará do seu dinamismo e entusiasmo, e, esta barca em demanda de exequíveis portos, terá na tripulação sua experiência de uma resoluta timoneira, fanal capaz de evitar procelas, desviar pélagos e arrecifes, e velejar em mares de almirante. Navegar é preciso. Estimada Professora Ceres. Muitos podem ser os motivos que me fizeram seu admirador. Um deles advém da primeira vez que li uma sua crônica. Gostei do estilo, e os temas quando reminiscências passaram a fascinar-me, sobretudo alusivos aos anos de sua jovial mocidade, a “bel êpóque”. Por serem escritas em linguagem escorreita, amena me conduziam a São Luís da minha infância, tempo da compra nas mercearias com caderneta, dos passeios em bondes, das tertúlias, dos cines, do festival de melancias, da carrocinha de gelo, do vendedor de carvão de varinha, de camarão fresco, do comprador de garrafas, com aqueles palavreados tão próprios. Assuntos esses que eu, por ser mais anoso, vivenciei-os da planície.
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MELO, Álvaro Urubatan. APRESENTAÇÃO DE CERES COSTA FERNANDES EM SUA POSSE NA CADEIRA 34, DA ALL, proferido em 03 de fevereiro de 2015.
Senhores espero vosso beneplácito para desviar esta saudação do ritual acadêmico, e enveredar-me no sentimentalismo, liame da amizade nutrida à empossada, hoje estendida ao seu cônjuge, o amigo Dr. Antônio Carlos. Outra crônica que muito me tocou e nos aproximou, aludia-se sua viagem marítima à baixada, e em São Bento a dificuldade em encontrar a residência do casal Zé de Nana, desconhecido com esse nome, mas vulgarizado e popular Zé de Lázaro e Nana de Chocolate. Tive a petulância de comentá-la, em artigo publicado no Estado do Maranhão. Já apresentados, quando de sua posse na AML, manifestei-me, com a liberdade de parabenizá-la pelo evento e por ser saudada pelo erudito acadêmico Joaquim Itapary, que após ter lido a aplaudida oração, presenteou-me. Ei-la. Senhores Confrades, Arquimedes, Lourival, Franco, Edna Pinheiro e Marita Gonçalves, em segundo artigo a ela dedicado, ostentei meu orgulho pela substancial e permanente presença de são-bentuenses, nossos conterrâneos, nesta Casa de Antônio Lobo, participes construtores da respeitabilidade desta Catedral das Letras, e o fizerem com inteligência, obras e dedicação de cada um. Sete os efetivos: Domingos Barbosa entre os fundadores, dois a presidiram Luso Torres e Joaquim Itapary, Clarindo Santiago, Luís Lobato Viana, Emilio Azevedo e Evandro Sarney. Filhos de são-bentuenses José Sarney, Odilon Soares (crescidos e lá alfabetizados), Fernando Viana, Jomar Moraes, Américo Azevedo Neto, Ivan Sarney, agora eleito Turíbio Santos. Netos: Luiz Alfredo e Waldemiro Bacelar Viana, Ney Barros Bello Filho. Sim, nessa galeria de intelectuais abrilhantam-na, também, por pulsar nas veias da nossa nova empossada e do seu irmão Ronaldo Costa Fernandes, o sangue materno da são-bentuense, sua genitora dona Maria Isabel Soares Fernandes, membro da família Soares, uma das primeiras do município, patriarcada por José Alexandre Soares, proprietário de terras. Mais distante, seu bisavô Raimundo José Soares, o avô Januário Soares (Zozoca), pai de primeiras núpcias de sua tia Rosa Clara França Soares, com sua mãe foram professoras municipais. O estimadíssimo tio e protetor Zoquinha, uma das mais simpáticas, queridas e educadas criaturas que muito o mimou contando causos da nossa terra, dos apelidos e de Zuleide Castanhoba com suas duas bolsas. Em segundas núpcias, seu avô casou-se com dona Aldenora Brenha, minha prima legítima de 2° grau. Desse consórcio a mui bonita Vanda, Wanderley e Maria de Jesus. Com respeito à ascendência paterna, ressalta-se à tradicional família Costa Fernandes, sobressaindo-se as insignes figuras de seu pai, o Desembargador Francisco Costa Fernandes, emérito professor da Faculdade de Direito, antes promotor público da comarca de São Bento, quando lá conheceu e encantou-se com a beleza da jovem Maria Isabel e a desposou. Seu avô Henrique da Costa Fernandes, famoso jurista, historiador e jornalista, realizador de seus desejos. Essa herança intelectiva continua tão bem preservada e enaltecida pela nossa brilhante confreira. Senhores, se conspícuas a ascendência da nossa confreira, mui preclara sua descendência. Como na mitologia, Ceres a deusa romana, Deméter a grega, a nossa Ceres também cultiva a terra, o amor matriarcal e se orgulha da sua notabilíssima prole. Filhos: Márcio Costa Fernandes Vaz dos Santos, biólogo e professor da UFMA. Tatiana Vaz dos Santos Oliveira, engenheira civil, Carla Vaz dos Santos Ribeiro, professora da UFMA, Glauco Costa Fernandes Vaz dos Santos, advogado e navegador. Donos de sua liberdade os netos: Helena, Eduarda. Lucas, David, Tales, Paula, Júlia, Fernando, Pedro e Marilia. Senhores, Ceres Fernandes, essa apaixonada maranhense de alma e de raízes, cantora dos encantos desta São Luís lírica e apaixonante, e paladina do resgate da Praia Grande, nasceu em Salvador, Soterópolis, portanto é soteropolitana. Dois berços – um de nascença, conterrânea de Castro Alves; outro de opção, Gonçalves Dias. Dois dos maiores poetas brasileiros- Segue deles a esteira, tanto que, aos oito anos de idade, explode sua verve poética e surpreende o mundo literário com as peças: - A Noite. A noite se debruça – meu coração soluça – esperando por ti. (Estava flechada por Cupido), Em seguida vem: - OS DADOS. Jogam os dados - na mesa larga e – comprida; os jogadores- reclamam por falta de torcida. (Que poder de observação da neófita poetisa). Prossegue: – O SINO – Cintilam os pingos – de chuva o sino – toca na igreja esperando amor – que traz flores de cereja. Simplesmente magnífico. (Devia acompanhar-se de véu e grinalda). Essas estrofes bastaram para consagrá-la respeitada emérita arquiteta da palavra sentimental. Quem o fez? A opinião abalizada e douta do jornalista Lago Burnet, em publicação no jornal Imparcial.
Se sua poética inicial, pueril, é tão harmoniosa, expressa poesia pura, entendidos à primeira leitura, imaginemos as jorradas na juventude e na maturidade. Certamente, verdadeiras obras-primas. Precisamos conhecê-las. Sua vocação para literatura e afins é atestada pela sua permanente e exigida presença nos grandes movimentos do Estado, pendores extraordinários que justificam seu festejado ingresso na cadeira 39, desta AML. De muitos vitoriosos episódios de sua vida particular, um é exemplar. Ao construir bem cedo seu lar, suspendeu curso ginasial, e para recuperar o tempo, a jovem mãe confiou em sua inteligência, e para alcançar o deslumbrante futuro glorioso que o acenava glórias, fez por correspondência o curso Madureza, concluiu o colegial, bacharelou-se em Letras e doravante com predicados pessoal conquistou seu mundo. Senhores, pela grandeza de seu currículo, permitam-me abreviá-lo. - Licenciada em Letras – Inglês e Português – UFMA - Mestra em Letras – pela Pontifícia Universidade Católica – PUC –RJ - Cursos de Especialização: Especialização em Metodologia do Ensino Superior, Semiologia Aplicada à Literatura e Ensino à Distância. - Magistério: professora da TV Educativa do Maranhão. - Professora aposentada do Curso de Letras da UFMA, onde ministrou Inglês, História da Literatura, Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. Cargos e funções: Digno de elogios merece a eficiente educadora, tanto na UFMA quanto à Secretaria de Educação, sobretudo, peregrina do livro didático, em desconfortáveis viagens pelo interior maranhense, melhorada quando passageira do “Pé na Cova”, pilotado pelo meu saudoso amigo e parente, competente e maluco comandante José Peperiguassu Brito Rayol. Que o Deus tenha em lugar alegre como viveu. (Relevem-me por essa menção). Chefe da Divisão de Estágio Curricular – UFMA; Pró-Reitora de Graduação UFMA; Assessora de Relações Internacionais UFMA; Assessora Especial de Educação da Gerência Regional de São Luís equivalente à época a uma Secretaria, com as 192 escolas estaduais existentes nos quatro municípios da Ilha de São Luís sob sua responsabilidade; Governo do Estado do Maranhão: Gestora de Programas Especiais do Governo do Estado, abril de 2003 a dezembro de 2006 desenvolvendo o Projeto Saúde na Escola, um programa educativo de melhoria de qualidade de vida dos alunos do ensino fundamental das escolas estaduais e municipais, atingindo 130 municípios. Alcançou a meta de três milhões de atendimentos. Diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho da Secretaria de Estado da Cultura. (2009 a 2014) Membro do Conselho Estadual de Cultura MEDALHAS E OUTRAS HONRARIAS: - Medalha do Mérito Timbira Governo do Estado do Maranhão - Medalha Laura Rosa (concedida às mulheres educadoras que se destacaram em outros ramos do saber) - Medalha Odorico Mendes da Academia Maranhense de Letras. - Palmas Universitárias (distinção honorifica). - Medalha Mérito Timbira Grau de Comendador do IV Centenário de São Luís. - Medalha do 4º Centenário de São Luís, relevantes e inestimáveis serviços prestados à cidade de São Luís, no século XX e no atual. BIBLIOGRAFIA:
- Surrealismo & loucura e outros ensaios. São Luís: Editora Uema, 2008. - O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Edufma,1990. - O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Lithograf, 2003, 2 ed. Todos sabemos ser a autora declarada admiradora e estudiosa desse escritor. - Apontamentos de literatura medieval – literatura e religião. - O último pecado capital & outras histórias. São Luís: Edições AML, 2000. - Seleta. São Luís: Edigraf, 2001. Obra em que Josué Montelo reconhece a autora como completa romancista. - Seleta maranhense de contos e crônicas/ Ceres Costa Fernandes e José Chagas. org., e notas de Jomar Moraes. São Luís: - Participação em Contos e crônicas – livro de leitura recomendada para o vestibular de junho de 2002 da FAMA – Faculdade Atenas Maranhense – org., introdução. e notas de Jomar Moraes. São Luís: Edições AML, 2002. Senhores confrades, comigo a satisfação de haver indicado para o quadro de fundadores desta confraria, ínclitos nomes que o valorizam. Alegra-me e envaide-me a prerrogativa da formulação do convite à recém-eleita, e haver convencido a aceitá-lo. Confreira Ceres, na qualidade de signatário da proposta, e dela um dos relatores, demos primazia do julgamento, escolhendo para patronear a cadeira 34, a imortal e sua amiga Lucy de Jesus Teixeira, por sinal, nome por muitos desejados. Em apreço aos seus atributos, inclusive os aqui não mencionados, mais sua contundente franqueza de expor seus sentimentos, soem as trombetas, estendam o tapete, soltem a girândola de foguetes de taboca de São Bento e vinde receber o amplexo de seus pares porque nossa Academia nesta noite se debruça – seu coração soluça – esperando por ti.
MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES
PRIMEIRA OCUPANTE DA CADEIRA ALL Por SANATIEL DE JESUS PEREIRA O destino, o senhor do tempo, de forma irrecusável, escolheu-me, novamente, para saudar e acompanhar a transpor os portões imaginários do grande edifício onde funciona a Academia Ludovicense de Letras uma das mulheres mais notáveis do Maranhão. A minha satisfação é imensa por compartilhar com ela este momento mágico. Confesso, entretanto, que ambos estamos fazendo parte de um caminhar novo, que ninguém sabe aonde vai chegar, porque assim é o mundo das letras e da imaginação. Este talvez seja o buraco na árvore onde o coelho nos mostra o caminho a trilhar. Ela traz a essência daqueles vinhos raros produzidos com uvas de colheitas tardias no melhor terroir encontrado na Terra: o Maranhão. Ela ficou todos esses anos em seu parreiral intelectual e meditativo, enchendo-se de inspiração e prenhe de motivação para escrever na hora oportuna o que quisesse, pois a sua casta é uma das mais nobres do Novo Mundo: Azevedo. Portanto, temos que festejar com muita alegria a chegada da nova confreira, que veio com a sua presença somar e agregar valor a esta infante confraria. D. Maria Thereza de Azevedo nasceu às quatorze horas do dia 12 de novembro de 1932, em um daqueles casarões da antiga Rua da Paz, em São Luís, quando a Lua se fazia Nova, e os ventos, trazidos do mar, sopravam sobre os telhados de cerâmicas francesas, vindos de Marselha, em pleno século XIX, para refrescar os espíritos iluminados dos ludovicenses criadores daquela época. Provavelmente, os ruídos dos velhos bondes sacolejando sobre os trilhos de aço, que passavam por aquela importante via, foram os primeiros sons externos a lhe assegurar que havia chegado à ilha de Upaon-Açu e iniciado uma nova viagem neste planeta maravilhoso que os gregos chamavam de Gaia e os povos ameríndios, de Pacha Mama. Como primeira filha, não teve olhos de irmãos para espiar-lhe o choro, o sono e os primeiros sorrisos, mas os olhos e os braços de uma mãe dedicada e amorosa que haveria de lhe dar outros irmãos em pouco tempo: Maria Ruth e Américo Azevedo Neto, membro da Academia Maranhense de Letras. Filha de Emílio Lobato de Azevedo e Maria José Costa Leite Azevedo, já trouxe de berço o estigma das letras e a herança atávica dos grandes escritores que construíram a memória artística e cultural da Idade Contemporânea. Ela sustenta, como uma representante das letras, a honra e o peso da responsabilidade de ser uma descendente direta do dramaturgo e jornalista Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, seu tio-avô, irmão de Américo Azevedo, seu avô, e pai de Emílio Azevedo, seu progenitor. Ela nunca será medida pelos belos traços fisionômicos da sua juventude ou pelas suas medidas antropométricas, mas pelo seu legado cultural e artístico. Nem mesmo por esposa companheira e amiga ou mãe devotada pela família, mas pelos versos e anversos que ficarão para sempre guardados na memória daqueles que leram as suas obras, ou que com ela conviveram em seus grandes saraus. Confrades e Confreiras, eu tenho certeza de que a descendência ancestral daqueles que desapareceram se manifesta neste momento e neste local para participar desta faustosa cerimônia de recebimento de uma representante autêntica e à altura dos Azevedo na Academia Ludovicense de Letras. Enfileirar-se-á toda a geração para ver um ramo da mais viçosa vinha que se deixou açucarar para produzir, no outono da sua existência, os mais saborosos sonetos em cantos, rimas e expressões que já não se fazem nesta ilha encantada. O destino, entretanto, reservou-lhe grandes surpresas na vida, as quais se configuraram como atos de uma grande ópera de Verdi em que ora desempenhava o papel principal de cantora, ora um papel de
coadjuvante da peça como componente do coro. Mas ela estava lá, no palco, cantando, sorrindo, dançando e, muitas vezes, orando. D. Maria Thereza adentrou os caminhos das letras como interna do colégio Santa Teresa, onde viveu dos oito aos dezoito anos e de onde saiu somente para prestar exames ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Ceará, em Fortaleza. Foram anos difíceis, mas necessários para desenvolver a sua capacidade de caminhar resoluta na busca da sua própria felicidade. Ela já sabia o que queria, por isso deixou o curso de Medicina pelo de Ciências Biológicas, agora na Faculdade de Filosofia do Recife, onde se formou em 1960. Confrades e Confreiras, D. Maria Thereza nem sabia onde o destino iria a colocar, pois, quando menos pensava, estava casada com o Deputado José Bento Nogueira Neves, um dos mais notáveis políticos do Maranhão. Ainda chegam aos meus ouvidos os seus discursos inflamados apontando novos caminhos para este Estado ainda em construção. Eu pensava comigo mesmo: atrás de um homem poderoso e cheio de sonhos, deve existir uma grande mulher. Desta relação que durou 50 anos, ficaram como prova viva desse tempo e desse amor as filhas, Rafaela, Eugênia e Virgínia; e o filho, Rodrigo Azevedo Neves; e, muito mais tarde, as netas, Maria Paula e Tarsila, e o neto, David. Ainda não havia chegado o tempo de escrever e publicar, somente o de sonhar através das letras dos que já se fizeram famosos e encantavam o mundo através da Biblioteca das Moças, como os romances de M. Delly. Foram-se os dias de Toutinegra do moinho, de Émile de Richebourg; Por quem os sinos dobram, de Hemingway; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brönte. Só mais tarde vieram A casa dos Espíritos, de Izabel Alende; A guerra do fim do mundo, de Vargas Llosa; e a extensa lista das obras de Saramago. Sem que ela percebesse, o senhor do tempo a estava preparando para a escrita pretérita, condensada, como o orvalho na noite, sob a forma de crônicas, contos e romances. Sem duvidar do destino, bons mestres ele lhe deu: os melhores autores; as fases pregressas da sua vida, como filha amada e feliz; jovem alegre a festejar sempre a vida; irmã presente e fraterna; esposa amiga, companheira, parceira – a dama de ouros –, apaixonada; mãe gratificada e realizada. Amiga sincera e leal. Mulher feliz! Todos os ingredientes estavam e estão às suas mãos – por que não dizer, precisamente, aos seus dedos? –, para viver este momento maravilhoso que presenciamos agora. D. Maria Thereza tem o seu début literário em 2005, quando publica o livro de contos Atalhos e o de literatura infantil Historinhas, ambos na Lithograf. Após esse ano, em 2006, publicou o livro de memória Minha Árvore. Em 2008, 107 – Memórias. Em 2012, Pena Vadia: Cantando & Contando, outro livro de contos; e, em 2013, Café ou Chocolate?, também de contos. Apresentar Maria Thereza de Azevedo Neves à sociedade maranhense como membro da Academia Ludovicense de Letras não é somente uma satisfação incomensurável, mas um privilégio diante da sua descendência direta de dois grandes vultos da literatura brasileira, Artur e Aluísio Azevedo, como também do seu próprio e incontestável talento como intelectual das letras. Hoje, a Academia Ludovicense de Letras se torna mais rica e digna, tanto por abrigar a memória daqueles que construíram o substrato intelectual das letras maranhenses, quanto pelas representações atuais dos seus membros. D. Maria Thereza, de forma oportuna e, quiçá, necessária, representa o elo de ouro entre os vultos notáveis da literatura maranhense do início do século XX e o que de melhor se pode encontrar no início deste século XXI. Quem sabe ela seja o vaso de cristal que traz o vinho tardio para as festas literárias deste século, que, somente agora, começa a mostrar a sua cara. Confreiras e Confrades, Senhor Presidente, abramos os braços cheios de alegria para recebê-la em nosso seio e desejar-lhe boa sorte na missão mágica e divina do ato de escrever. Confreira, que sejas bem-vinda e que tragas a Paz, o Amor e a União em teu coração. Muito obrigado!
ANA MARIA COSTA FÉLIX39 ANA MARIA FELIX GARJAN
Membro Correspondente (Fortaleza) da ALL
POEMAS DE AMOR A SÃO LUÍS 402, EM 8 DE SETEMBRO DE 2014 SÃO LUÍS DA HUMANIDADE Habitantes das cidades: Vejam os ritos desta terra, ouçam a voz dos pandeirões, os sons e ritmos das matracas, sintam o vibrar das calçadas, dancem os ritos enfeitados de fitas, e toquem nas cores de São Luís! Habitantes de outras terras: Escutem os sons mágicos desta cidade, façam reverência pras caixeiras do Divino, rezem para o espírito das águas, dancem com os brincantes de bumba – bois e das festas encantadas de sons africanos! Habitantes de todas as terras do mundo: venham mirar os mirantes azuis existentes, corajosos e testemunhas do tempo de São Luís, que teimosos observam os caminhantes das ruas E pedem socorro aos filhos da cidade! Habitantes de São Luís: esta cidade patrimônio da humanidade é mistério, ilha encantada, pedaço de terra solto no mar do leste, é farol que ilumina e une sonhos do lado latino e da Europa ocidental. São Luís, berço sagrado: Tua cidade será palco iluminado de justiça e paz na primavera dos teus 402 tempos, dias e noites, segue teu tempo, sonho, transporta espaços, tu és poesia, rito e paixão para quem te ama, Escuta São Luís, meu amor: acordei no dia da noite encantada, fui à casa dos sonhos, acendi faróis nas tuas águas, escrevi pauta de sinfonia, fotografei tua alma, energia, toquei uma canção, cantei uma poesia, pintei teu coração.
SINERGIA DO TEMPO EM TI São Luís de 402 anos: Um longo tempo passou muita história e lenda contaram. São Luís: sentimento encantado, ilha misteriosa, vestida de azulejos, sonhos e castelos de areia no m(ar)... Quero ler nas tuas ruas e avenidas meus versos azuis azulejantes, sutis. e a poesia, filha das encantadoras fontes embalou sonhos de teus filhos e amantes. Quero ler a linguagem de tuas águas agora, as vozes dos sete mares que te rodeiam anseiam por ti e abrem tuas janelas cobertas de azulejos, vindos de longe. Quero compreender os mistérios de tua alma profunda, de teu mar oceânico, dos versos e prosas dos teus anjos-guias. E em todos nós reluz pura e doce magia. São Luís: que meu olhar audaz nas esquinas compreenda tuas lutas, batalhas e glórias, mistérios do teu passado de 402 anos, reverenciados no tempo do nosso mundo. Que sonhem mais, os poetas, artistas e escritores, sonhem mais teus cantores que dançam na noite, sonhem mais eles e todos, com justiça e tua paz, temos fé nos versos dos teus anjos protetores. Que as almas eternas de teus poetas enviem luz, façam mágicas de energias, digam versos doces aos artistas aprendizes das brisas da tua primavera Que te abraçam todos os dias e te beijam nessa primavera
ALMA DA CIDADE EM MANTRA POÉTICO São Luís e sua história Quatro séculos; São Luís, sua poesia Poetas e cantores; São Luís, sua arte, Pensadores e artistas; São Luís, sua gente, Emoções tantas... Tantos amores! São Luís, musa lírica eterna dos poetas, escritores, cantores E tuas águas inspiram arte. São Luís das esquinas antigas Becos, ruas e mirantes, Dos palácios, palacetes, Solares e pátios coloniais, Janelas e portais, gradis, mirantes, casarios e pontes, Lampiões, praças, gente, paixões. São Luís do outro lado da ponte... Prédios, condomínios, avenidas... Carros, pistas e corridas... Península, espigão,
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/ana_maria_costa_felix.html FÉLIX, Ana Maria Costa. Na clave de sol: movimentos poéticos. São Luis: SECMA/SIOGE, 1987. 85 P. Ilus. fot. p&b. Capa: Sá Barros. Col. A.M.
por de sol, Luz lunar de sonhos, ou não... És inédita por tuas águas Dos mares do Atlântico. Seja justa e feliz, São Luís!
SÃO LUÍS – ILHA ATEMPORAL Tempo da cor de primavera Cor de azulejo, cores de anil. Azul de azulejo Cidade – ilha – mulher Dança do futuro Tempo – além Concreta paixão Da vida, do amor, opção. Escolhi amar teu horizonte Entre a Terra, céu e razão, Cor solar, sem fim, nem ponto final OS OLHOS E A SIDERAL EMOÇÃO40 Mágica visão deslumbrante descoberta que perscrutam meus olhos vigias dos telhados das ruí nas e becos e daquele mirante aéreo sideral emoção que parece existir em vão... Mas não!
HISTÔRIAS41 Histórias de chão de homens e pão terra, ração sonho, ilusão Nascerem canto de sala comer em chão de senzala sonhar com casas seguras e claras Viver de luar porque portas não há nas casas, nas ruas varandas de lá Síntese de horizontes espadas e pontes destinos, escolhas múltiplas fontes
VISÃO SIMPLES E PURA E foi assim que a marca do tempo foi vista: Pequena para tantos enganos Média para alguns encantos Grande i para poucos sonhos Pouca 40 41
FÉLIX, Ana Maria Costa. Na clave de sol: movimentos poéticos. São Luis: SECMA/SIOGE, 1987. 85 P. Ilus. fot. p&b. Capa: Sá Barros. Col. A.M. FÉLIX, Ana Maria Costa. Na clave de sol: movimentos poéticos. São Luis: SECMA/SIOGE, 1987. 85 P. Ilus. fot. p&b. Capa: Sá Barros. Col. A.M.
para tantos seres Muita para poucos amanheceres Perto para muitos quereres Longe para tantos credos e dizeres
LUZ INTERIOR Conhecer a luz interior é conhecer caminhos dourados de sol; é tocar em segredos, mistérios sutis, conhecer a hora inesperada da partida, da viagem, viagem de volta ao começo... É saber chegar, antes do passo dado, em águas límpidas, claras dos oceânicos mares; é tocar de leve em noites azuis, magias e vislumbres das pedras e raios de fogo, sutis, da aura violeta do ser!
POÉTICA POESIA EM HOMENAGEM AOS POETAS ETERNOS
Poesia qual, que beijou o sol que a nuvem beijou de chuva e gotas de orvalho, o acordar das madrugadas largas de amanhecer, ? ansiosas para vislumbrar o prenúncio azul-lusco-fusco de inverno que faz dançar a aurora dos dias-violetas-sutis, do futuro dos tempos, elos-castelos dos espíritos...fascinantes das galáxias e estrelas que ainda nascerão? Poesia qual, que beijou o coração do poeta, deu-lhe força, alegria, fez-lhe companhia, afastou tristezas da alma, da solidão, trans-formou sentimentos em flor, fez o poeta dizer sua palavra mais doce e forte, ditou-lhe revoluções, amores e paixões??? Caminho e estrada da poesia no coração do poeta são feitos de pedras, nuvens, estrelas, brisa e ventania, passos, emoção, trilhas e rotas de mar ,
luzes cadentes, réstias de sol-findo, sonhos e atos sonhantes, mágicas alegrias nas noites, madrugadas largas, longos dias... Poesia, caminhos, razão, sentimento, arte, vida e morte fazem a sinergia da alma, do amor, do ato de viver, na existência do homem, da mulher, da criança e nos projetos de humanidade, Sonhos, esperanças e liberdade!!!
ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ MACHADO
Por Dinacy Corrêa42 GALERIA DOS LIVROS Nasceu em Cantanhede-Ma, em 1936. Esposa do poeta Nauro Machado, mãe do cineasta Frederico Machado. Licenciada (UFMA) e Mestre (PUC-RJ) em Filosofia. Poetisa, ensaísta e romancista, é autora de: A Parede (1966) e Compasso Binário (1970) – romances; Cartas da Paixão (1969) – ensaio filosófico; Canção das horas úmidas (1975) e Litania da Velha (1995) – poesia; Trabalho Manual (1998) – prosa reunida; Contos Inocentes (2000) – infantil; Nomes e Nuvens (2003) e Sol e Sal (2006) memória literária maranhense; O rio (2006) – espécie de fábula poética. Como se nos foi dado observar acima, na geração Luís Augusto Cassas – a mais nova representação da poesia contemporânea do Maranhão, adepta das tendências modernistas – situa-se Arlete Nogueira, cujos quarenta anos de labor artístico/literário comemorou-se em 2002, num “momento especial da literatura maranhense” (Carneiro Filho, 2002, p. 2). E a escritora prossegue, já perfazendo mais de meio século, em sua aventura com a palavra. Com o seu poema narrativo Litania da Velha, timbrado em signos neodecadentistas, a maranhense impõese como uma das mais (senão a mais) altissonantes vozes da lírica maranhense considerada pós-moderna, na expressividade de uma poesia que, na sua peculiar empatia, consegue rastrear e captar as pulsações da São Luís colonial, resgatando-lhe e traduzindo os ecos de um cotidiano retumbante nas suas marcas de tempo. Percorrer, pois, essa litania é perfazer um périplo poético pelo centro da cidade, em sua transcendência espaciotemporal, ouvindo-lhe, nas entrelinhas de ruas e ladeiras, a “cantaria” do abandono. Projetando na voz que a protagoniza: as aspirações, a dor, a história de um povo, no anonimato do seu devir coletivo, Arlete Nogueira personifica a cidade em ruínas, apontando para a indiferença com que é tratada por seus habitantes. Litania da Velha é, pois, mensagem edificante, a merecer destaque no meio acadêmico e sociocultural, à medida que, vibrando, ecoando nas consciências o dever de reconstrução do caos urbano, decorrente do descaso e da inexorabilidade do tempo, faz despertar para a valorização e revitalização de um patrimônio histórico que testemunha o passado no presente, perpetuando a memória histórica e cultural da nossa cidade. Composto em 1995, em pleno ocaso do século XX, no trânsito para o século XXI, o poema, como já o sugere o próprio nome, condensa, em sua paisagem lírica, marcos característicos de um contexto finissecular/finimilenar: perda de referenciais, quebra de paradigmas, dúvidas, ruína, decadência de valores... Enfim, todas as incertezas e indefinições humanas que evocam o decadentismo dos Oitocentos. Tendo, já, transitado da linguagem verbal para a linguagem cinematográfica, num cruzamento de signos (ressalte-se que o roteiro cinematográfico é um texto híbrido, surgido, a propósito, no final do século XIX, no apogeu da estética decadentista), Litania da Velha vem se tornando um hipo/hipertexto que, ancorado no código literário, vai passando por um processo de miscigenação e metamorfose, numa intersemiose de 42
CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
códigos, remetendo a uma nova compreensão e ressignificação artístico-metatextual – o que vem enriquecer, mais ainda, a produção original, abrindo caminho para novas investigações linguísticas e literárias. Estruturado em 110 versos, o poema, na sua primeira edição, apresenta-se em três segmentos:
um primeiro, em 24 versos, dispostos em 12 pares de dísticos, mais um verso; um segundo, em 82 versos, dispostos em 41 pares de dísticos, mais um verso; um terceiro, num par de dísticos final.
Iniciando-se a leitura pelo título da obra, pode-se perceber que, uma simbiótica fusão concreto/abstrato – nome (litania) e complemento nominal (da velha) – fazem esse conjunto morfossintático, semanticamente evocativo e transcendente. Identidade, procedência, referencialidade são, a priori, sentidos que se desprendem desse conteúdo titular, por si só, sugestivo da cantilena muda (mas paradoxalmente eloquente e comovente). E o etmo da palavra que, na sua transitividade, demanda locução adjetiva complementar, clarifica a origem histórico-linguística do termo litania – do latim litanie, “termo erudito para ladainha” (Larousse, 1980, p. 496). Ladainha, por sua vez, é dicionarizada, no mesmo Larousse (p. 514), como “cantos ou preces em série, com que na igreja se louva a Deus, à Virgem e aos santos: litania, enumeração longa e fastidiosa”. A litania aqui em apreciação inspira-se, pois, na tradicional ladainha lauretana – oração coletiva, ao mesmo tempo laudatória e suplicante, compondo-se de uma laude vocativa e uma súplica responsorial, de estrutura fixa, invariável, como exemplificado abaixo:
Mãe admirável! (vocativo laudatório); Rogai por nós! (súplica responsorial em coro de vozes).
Vocativa, apostrófica, laudatória, imperativa, a ladainha religiosa eleva-se, verticalmente, de um plano terreno (inferior) para um plano celeste, espiritual (superior), num coloquialismo participativo, articulado na primeira pessoa de um discurso plural (nós). A litania poético/arletiana, por sua vez, faz a diferença, conforme já circunscrito na própria estrutura do sintagma-título (N + CN), expressando-se na terceira pessoa de um discurso singular (a pessoa de quem se fala, o referente apontado, relatado, pela pessoa que fala), dirigindo-se, poético/denotativamente, do individual para o coletivo, num plano meramente horizontal. Na Litania da Velha, o sujeito/objeto poético não se presentifica dotado de autonomia de voz, tratando-se, pura e simplesmente, de alguém que passa, no anonimato de sua trajetória no tempo, no viés da história de uma cidade com a qual envelhece simultaneamente. É a velha, transeunte anônima, passiva, incorporando a cidade que também passa, estatizando-se no tempo. E a poesia ali... de “olho-vivo”, sentinela fiel, captando, eternizando o flagrante. E aqui uma breve analogia entre esta digamos, epopeia arletiana e a Odisseia do velho bardo grego – obras que, temporal e espacialmente distantes uma da outra mantêm, entre si, na nossa contemporaneidade, pontos de convergência, em especial no que respeita aos fatores: itinerância e mendicidade (recorrentes nas duas narrativas) circunscrevendo-se, estes, respectivamente, nos dois personagem: Ulisses e a velha mendiga – aquele, circunstancialmente maltrapilho e andrajoso, sob as aparências de velho mendigo e cego, a quando de volta para a ilha de Ítaca, a itinerar/deambular pelas ruas, “à imagem e semelhança da sociedade de sua cidade-ilha, corrompida e devassa, em completa ruína” (CARNEIRO FILHO, 2002, p. 02); esta, autêntica mendiga, a perambular por um centro histórico arruinado, da também cidade-ilha de São Luís. A litania poética de Arlete Nogueira não é oração, mas mostragem de uma realidade que se quer desvelar e revelar ante os olhos anuviados do mundo: é a velha mendiga a refletir, no seu caminhar solitário e esquecido (da sociedade), o coração carcomido, da cidade em ruínas. A propósito... Arlete Nogueira da Cruz plasma e representa, alegoricamente, a ilha de São Luís, numa Velha, para poder penetrar em sua vida mais subterrânea, nos recessos labirínticos da alma do ser maranhense coletivo, enquanto protagonista silenciosamente embutido na resignação da velha andarilha e pedinte, fazendo emergir da soturnidade, do silêncio da obscuridade, da miséria, da insônia sem termo, produto das injustiças sociais [...]” (CARNEIRO FILHO, 2002, p.02).
E aqui, poeta e poesia cumprem sua inerente, sublime missão: visibilizar realidades proscritas, reatualizar o passado, postular existência ao já esquecido, enfim iluminar o obscuro. Daí, a litania arletiana – que com a
litania lauretana só tem em comum o caráter repetitivo do discurso poético – cuja reiteração sintática dos versos vai conferindo, na monotonia do ritmo, o tom solene e grave ao poema. Na “enumeração longa e fastidiosa”, uma das designações de ladainha, segundo Larousse (1980, p. 496), os elos analógicos observáveis entre a ladainha poético-literária de Arlete Nogueira e a ladainha-prece coletiva da igreja católica, visto que, é seguindo um processo enumerativo de produção textual, no âmbito de sua criação poética, que a poetisa maranhense entretece a sua litania, ou seja, enumerando, em extensa lista, os detalhes, as ocorrências, enfocadas pelo seu olhar poético-fotográfico. Optando por um título de conotação religiosa, para o seu poema, a autora como que pretende conciliar o profano e o sagrado. E aqui se nos parece pertinente a citação: Escolhendo a litania (termo erudito de ladainha) como forma poética, a poeta revela de imediato sua intencionalidade maior: elevar o profano à dimensão do sagrado, desvendar a grandeza ou sacralidade ocultas de seres e coisas que, depois de terem suas vidas e energias sugadas, foram atiradas fora como bagaço (COELHO, 1996, p. 05).
Ainda da estrutura e da linguagem da obra em leitura, pode-se acrescentar que, Valendo-se da técnica de paralelismos, a narrativa é costurada a partir de uma consciência de que o tom litânico tem tudo a ver com a melodia monótono-monocórdica das ladainhas cantadas durante as procissões que emprestam ao texto a atmosfera propícia para o exercício da linguagem cinematográfica em lances de instantaneismos e simultaneismos que beiram os limites do absurdo, da voragem e vertigem de um ser que oscila entre a insônia e a inconsciência sobre o que acontece em torno. Neste nível de incoerência da protagonista, a escritora dá prioridade a trabalhar com o material ideal para textos dessa natureza, isto é, primeiro o que tem a ver com as percepções sensoriais, e que elege as sinestesias e, em seguida, privilegia para sua escritura os paradoxos, as antíteses, as aliterações. Assim, a ambiguidade permeia e perpassa todo o poema-romance, nesse lance de pós-modernidade, quando a releitura permite um olhar irônico e contraditório em relação ao passado, a tradição problematizada, mas sem nunca ser negada” (CARNEIRO FILHO, op.
cit., p. 02). Nessa ambiguidade (aludida no intertexto acima), cuja expressão maior configura-se num espelhismo/dualismo de uma cidade que se reflete (na) e se confunde (com) a protagonista do poema e vice-versa, é possível ainda vislumbrar aspectos neobarrocos na Litania da Velha. Numa breve especulação lexico-gramatical, podemos observar que o núcleo de interesses, a problemática central do poema, sintetiza-se no primeiro verso, condensando-se no substantivo abstrato tempo: O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça (p. 17).
Observemos que se trata de um verso longo, exaustivo, cuja dicção se vai abrandando, regressivamente, ao ser verbalizado (como algo que, consumindo-se, desgastando-se, num carpe diem dolorosamente às avessas: o tempo passou; não é mais possível aproveitá-lo, mas apenas lamentar o seu efeito irreversível, inexorável – ou talvez resgatar-lhe alguns valores). Inferimos, pois, que o fator tempo antepara o núcleo temático do poema enumerativo: a dor existencial. Expressando-se em frases poéticas de estrutura sintática simples, o substantivo (apontando para o substancial, ou a substância) é a classe gramatical predominante no contexto morfolexical dos versos. São precisamente 109 substantivos referenciais a evidenciar o aspecto da realidade esquecida e proscrita, que a poesia quer iluminar: a cidade projetada na anciã, como reflexo desta, uma espelhando a outra, numa mútua ressonância, num espaço-contextual único. Entre concretos e abstratos, ressaltemos, os substantivos que iniciam os 109 versos estão todos determinados (pelo artigo definido o/a/os/as) – postulando, analógica e dedutivamente, que a autora, determinada e objetivamente, quer chamar a atenção para um dado substancial (concreto) da realidade. São 97 substantivos concretos, predominando os designativos de espaço (aberto, cultural, socializado): campo, rua, mato, ladeira, esquina, sobradões, aterro, manguezais... sendo, dentre estes, recorrente, o adjetivo substantivado velha, por quatro vezes. Entre os abstratos, contam-se 18, sendo estes, em sua maioria, signos temporais, como: os anos, o dia, a hora, o tempo (que se repete por três vezes, no périplo poético), dentre outros, nominativos de gestos e expressões ou condições humanas, como: o andar, o passo, a precisão, a atenção, a insônia, a piedade, a arrogância, os cuidados... Na predominância constatada dos substantivos concretos, vê-se confirmado o inferido anteriormente: a poetisa quer apontar, com os seus versos litânicos, para dados e fatores concretos de uma realidade perpassada pelo fio do tempo, que a vai entremeando, do começo ao fim.
A dor existencial, rastejada no percurso do tempo, que tudo consome e transforma, tem nesse signo (tempo) o alfa/ômega que abre e fecha a litania, como a sugerir uma circularidade de eterno retorno (uróboro), a remeter à lenda da serpente que, evoluindo, poderá envolver a Ilha de São Luís num abraço fatal. O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça (primeiro verso).. O tempo sacrifica essa doce herança e vomita seu fel: gosto/amargo que azinhava e mascara as palavras que morrem (último verso). O signo tempo, pois, confere o timbre negativo ao poema. Destacável, ainda, na estrutura morfossintática da obra, é o seu sistema de adjetivação. Numa coesa e coerente seleção/combinação de palavras mutuamente relacionadas (substantivos/adjetivos), a escritora imprime, no seu texto, uma surpreendente expressividade e uma profunda ressonância semântica, de conotação trágica, apocalíptica, um tanto quanto deprimente. Incerteza, dúvida, inconsistência, insegurança, desolação, desesperança, vaguidade... sensação de falência, falta de... são efeitos impressivos, percebidos/captados na leitura, a denotarem os traços neobarrocos, neodecadentistas, pós-modernos, que estilizam a composição poética. São 77 adjetivos coerentemente relacionados a outros 77 substantivos por eles caracterizados. Vejamos alguns desses pares: feroz injustiça; ferida aberta; manhã sufocada; rua precária; passos vacilantes; asco imprudente; ambições traiçoeiras; vícios funestos; chinelos falidos; desejos frustrados; andar trôpego; sorrateiro interesse; inútil valia; folhas paradas; frios convite; falsos trapézios; infância negada; ausência sentida; respostas mofadas; dentes perdidos; unhas lascadas; boca desdentada; expectativa cruel; gosto amargo: palavras que morrem.
Os adjetivos, cobrindo, aproximadamente, 30% do contexto lexical do poema (que dá prioridade aos substantivos, predominância que, conforme já sugerido, aponta para a objetividade, os aspectos substanciais, materiais, de uma realidade proscrita, a que a poesia quer dar visibilidade), caracterizam os pares substantivais, intensificando a significação da mensagem, expressa no conjunto sintagmático (nome + adjunto adnominal), dando a medida exata do estado (precário) em que se encontra a cidade: parada no tempo, à mercê do tempo, a consumir-se sob a ação implacável de Chronus. A antiga cidade é uma ilha que se desfaz em salitre (p. 31).
Os verbos, ancorando a estrutura frásica dos versos, vêm confirmar a força expressiva da mensagem poética, cujo efeito negativo, pessimista, corrosivo, estático, do passar do tempo, se faz reiterar e intensificar como servem de exemplo: consome; espalham; cochila; mastiga; ruminam; espreitam; ignoram: dói; nega .
Ainda quanto à área dos verbos, pode-se dizer, a litania dá ênfase à predicação por relação (não por processo), com verbos de ligação, ou seja, de estado (não de ação): ser/estar. O que vem como instaurar, ou mesmo reforçar, o clima de monotonia, passividade, melancolia, que se patenteia no texto. Os verbos de ação, por sua vez em menor número, vêm acentuar a ideia de estagnação, a atmosfera trágica, o caos apocalíptico, já sugerido pelos pares substantivo/adjetivo. Vejamos: descem; queima; explode; (não)expande; (não)resistem; catam (do lixo); vergam; recolhem; desaba; morde; denuncia; destila; mudam; explode; projeta; corrompe; esgotam; arrastam; ausentam; arriscam; doem; atordoam; acinzenta; carrega; espanca; engole; escapole; sacrifica; vomita; congela; perfura; suga; azinhava; marca sibila; dardeja... entre outros.
Ressalte-se, ainda, que o tempo verbal em que a autora projeta a realidade que quer destacar é o presente, com o predomínio do modo indicativo. É, portanto, o momento atual, evocativo do passado, num contexto palpável, possível de ser contestado e até revertido, que ela quer apresentar, expor ao leitor. Ao longo do poema, todavia, a forma nominal do gerúndio (sugerindo ação continuada), vem a confirmar, mais ainda, a ideia de cristalização do tempo, de congelamento das imagens, a estatidez da situação enfocada. Vejamos: suplicando; catando (do lixo); ardendo (em febre); espumando; babando; carregando; cambaleando; murmurando; escalando; atropelando-lhe...
Podemos dizer que a admirável engenharia poética da Litania da Velha explica-se nessa seleção/combinação lexical, a estabelecer uma perfeita relação de sentido entre as palavras, num discurso poético de timbre realista/impressionista. A tessitura poética, como se pode constatar, não apresenta qualquer traço de subjetividade ou intersubjetividade. A referencialidade ao ser (elemento humano) recai sobre a anciã que, conforme evidenciado no texto, não possui autonomia subjetivo/pessoal ou relação intersubjetiva, tampouco força de expressão em voz ativa, como sujeito de sua história – focalizada que é, no poema, como objeto passivo e paciente de um processo histórico que vai rastreando, no transcurso do tempo, o destino inexorável do objeto cultural (a cidade) personalizado e humanizado, por analogia – recurso através do qual ganha status de protagonista de uma epopeia sem herói. Personagem estereótipo, a velha metaforiza (metonimicamente) a cidade, simbolizando-a como espaço geográfico e representando-a na coletividade dos seus habitantes. Nessa perspectiva, fica confirmada a relação simbiótica já aludida, a partir da qual se processa, paralelamente, a humanização do objeto cultural e a coisificação do sujeito, o ser existencial, respectivamente a cidade e a velha. Através da figura humana da anciã, a autora personifica e humaniza a cidade, ao mesmo tempo em que descortina o inverso do processo, ou seja, a despersonalização do ser humano, que se vai apassivando, perdendo a voz e a vez. A propósito, ...este poema humaniza, ou melhor, personaliza, magistralmente, a cidade, em sua decrepitude, pois que, de fato, esse envelhecimento está ligado ao destino dos que a habitam, como uma fatal força aniquiladora, até de nossas esperanças. A rigor, envelhecemos e morremos com ela, enterrando-nos desgraçadamente em seus próprios escombros (CHAGAS, apud NOGUEIRA, 1995, p. 01).
E ainda: A velha, no caso, desprezada pelas gerações que se sucedem e que dela descendem, parece reagir como esses avoengos injustiçados, que se vingam deserdando os filhos e fazendo com que os próprios netos e bisnetos fiquem sem memória, conduzidos à pior das mortes (id, ibid).
Tragicamente belos, são versos a seguir: O sobrado desaba sob a complacência de quem lhe espreita a queda A ruína é conquista que explode exata contra o pálido espanto. A velha afinal se ampara na edificação do seu medo e cai. Os chinelos falidos arrastam desejos frustrados deixados no chão. Os dedos são ímãs catando do lixo a pompa dos dias.
Angústia humana, desolação, decadência, caos apocalíptico, o poema, em toda a sua extensão, conota, dolorosamente, como ferida aberta ou como: “Uma ladainha profana que, em lugar de louvar a Deus e aos Santos, segue, passo a passo (como os passos da cruz na Via Crucies), a velha mendiga em sua peregrinação diária pela cidade corroída pelo tempo e pelo desgaste dos homens” (COELHO apud NOGUEIRA, 1995, p. 02). Apreciemos: A pobre mulher sai maltrapilha, sem pressa, carregando brio e saudade. As casas, à sua passagem, são cáries de dentes chorando seu flúor. O café dado à velha devolve a ilusão das coisas estáveis. A rua, de novo, é caminho que leva para a passagem das horas. Ao lado do que se constitui em “terrificante denúncia de uma agonia mortal” (TEIXEIRA, 1996, p. 04), expressa no sentencioso verso que abre a Litania, há também espaço para uma declaração de amor à cidade:
“Este poema é uma declaração de amor à São Luís do Maranhão” – palavras da autora que, esteirada no Amor pela sua cidade (no que esta encerra de mais caro, o seu tradicional Centro Histórico, impagável tesouro arquitetônico, hoje Patrimônio Cultural da Humanidade) induz o leitor a reconhecer, no espelho de suas palavras que “só o amor constrói obras tão belas”. Encerrando, circunstancialmente, estas breves considerações (projeto sempre aberto de leitura), podemos concluir que Litania da Velha é testemunho, é resgate de amor, da cidade de São Luís. Vimos como, a poesia, na sua sublimidade, é capaz de tornar visível realidades proscritas, de revitalizar o passado já esquecido, realizando o milagre da renovação da vida. E assim é que, a mendiga, anciã itinerante e a velha cidade em ruínas, ressurgem, como presenças marcantes e vivas, na consciência coletiva do seus habitantes.
MARIANA LUZ
Por Jucey Santana43 Academia Maranhense de Letras Patrona da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes. Não vou aqui traçar nenhum perfil filosófico, crítico literário ou científico da professora Mariana Luz, sim, anotar informações, muitas vezes até folclóricas, de pessoas que a conheceram, avaliar o que encontrei nos seus escritos, e principalmente resgatar o quanto de humana e generosa existia na figura da poetisa, que, mesmo não a tendo conhecido, sempre tive o maior respeito pela sua pessoa, que ajudou o meu pai, a escrever as primeiras palavras. Foi uma das figuras mais expressivas na literatura itapecuruense, com uma produção literária de primeira grandeza. O diferencial de Mariana Luz para outros grandes expoentes da nossa terra, é o fato da poetisa sempre ter vivido em Itapecuru, auxiliando na educação de várias gerações de conterrâneos, tendo produzido toda sua obra literária na sua cidade natal, muitas vezes falando do cotidiano das pessoas amigas, vizinhos, alunos, autoridades, figuras ilustres, da exponenciais da cultura... Professora Mariana Luz, filha de João Francisco da Luz, comerciante português e Fortunata da Luz, afrodescendente. Era chamada carinhosamente de “Dona Sianica” (Sinhá Nica) nasceu no dia 10 de dezembro de 1870, em Itapecuru-Mirim, faleceu em 14 de setembro de 1960. Foi Educadora, Poeta, Teatróloga, Oradora e Escritora Teve uma infância muito simples, sem recursos financeiros para subsidiar os estudos, porém trazia o gosto pelo saber intrínseco no seu cerne. Ao longo da sua vida buscava com avidez o conhecimento, com curiosidade, em tudo que estivesse ao seu alcance. Autodidata, abraçou o magistério muito cedo, “desde onze anos já ensinava” gostava de lembrar a professora. Do seu compulsivo hábito de leitura, foi um passo para a poesia. Mariana Luz escreveu sobre vários temas, poesia, peças teatrais, monólogos, porém suas obras tiveram grandes influencia na espiritualidade, por ser católica praticante, sendo da Irmandade “Filhas de Maria” muito atuante na igreja. A obra de Mariana Luz, ficou muito tempo na obscuridade, por falta de condições financeiras da autora, para sua publicação. Recorreu aos conterrâneos, e até a Adhemar de Barros, então governador de São Paulo, em 1951, ajuda para publicação de seus livros, sem êxito. Na década de 40, com o apoio do Centro Acadêmico Clodomir Cardoso da Faculdade de Direito do Maranhão em conjunto com Orbis Clube de São Luis, foi publicado o seu livro “Murmúrios” com pequena tiragem. Livro que a celebrizou, com o qual teve seu mérito reconhecido pela Academia Maranhense de Letras como a segunda mulher a ter um assento na Instituição, eleita como Fundadora da cadeira 32 patrocinada pelo poeta Vespasiano Ramos, em 24 de julho de 1948. 43 Itapecuruenses notáveis ( PROFESSORA MARIANA LUZ). http://alvoradanoticias.blogspot.com.br/2011/12/itapecuruenses-notaveisprofessora.html http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2015/03/08/interna_impar,168144/livro-marianna-luz-vida-e-obra-e-coisas-de-itapecurumirim-retrata-a-poeta.shtml http://www.aicla.com.br/mariana-luz/ http://joseneres.blogspot.com.br/2015/01/novas-luzes-sobre-vida-e-obra-de.html
“Murmúrios é bem uma coletânea de versos de vários períodos da minha existência. Nele está bem clara a história da minha vida literária, se é que eu a tive realmente. E este prêmio, que os altos valores da intelectualidade maranhense me concederam eu agradeço de todo coração” “Muito me sensibilizou a minha eleição para o mais ilustre sodalício ateniense” em entrevista ao Imparcial em 10 de maio de 1949. Tomou posse em 10 de maio de 1949 recebida pelo professor e historiador Mário Meireles, quando proferido pelo acadêmico Ribamar Pereira, o seu famoso discurso “Assim, é que vindo para o convívio desta casa, não vos possa prometer o fulgor de produções literárias dignas deste Areópago e dos meus Pares”. Na época, recebeu subsídio da Administração Municipal para a viagem, com uma comitiva de itapecuruenses, entre autoridades, intelectuais e amigos, que a acompanharam, para testemunhar tão grande honraria. Também foi convidada pelo então governador, Sebastião Archer para ser hóspede oficial do governo, o que foi declinado, com sensibilizado agradecimento. “Prefiro por motivos especiais, hospedagem em casa de parentes diletos, nem por isso deixo de ser grata a bondade cativante do Senhor Governador, que eu sei, um Mecenas moderno acolhendo e amparando os que dedicam as letras e artes” Infelizmente veio a falecer com a frustração de não ter realizado o seu sonho o de ter seus escritos divulgados. Em 1990 o seu ex aluno, o ilustre escritor e historiador Benedito Buzar reeditou “Murmúrios” através das oficinas do SIOGE “Ao tomar a decisão de reeditar Murmúrios, fi-lo com o propósito duplo. Primeiro, resgatar Mariana Luz do esquecimento a que estava submetida, e para que novas gerações possam saber que ela, além de ser uma poetisa da melhor qualidade intelectual, contribuiu de modo acentuado para o aprimoramento da cultura maranhense” confirma Benedito Buzar. Apesar de a crítica ter sido sempre voltada para o foco da tristeza, sofrimento e morte, sendo taxada como a “Poetisa dos Versos Tristes”, ao me aprofundar mais na leitura, do que consegui ainda encontrar, verifiquei outros aspectos temáticos de sua obra, bastante ecléticos, ora versando sobre: Amor, Mocidade, Crianças, Risos, Jovens, Amanhecer, Cenas da Vida, Esperança, ou sobre, Religiosidade, Morte, Sofrimento, Dor, etc - Sofrimento, solidão e tristeza - são os temas muito explorados pela autora. “Uma tristeza vaga, indefinida”, “Esta vida falaz e amargurada”.”A angústia, o mal a que ninguém se exime”. Em entrevista a poetisa confirma: “Prefiro Escola Antiga, porque me parece agradar mais ao coração. Está mais condizente com a minha alma sofredora” - Amor impossível – Um amor tão puro, que talvez por falta de condições, preferiu sucumbir. “As doces ilusões, que tanto amei”... “Morrer!... E vou morrer sem ter vivido”! “Tu não podes viver sem meu amparo. Eu não posso viver sem teu carinho” “É que em meu peito, precioso e caro. Doce tesouro oculto, como o avaro. Um nome, um nome que jamais direi”. - Religiosidade – A espiritualidade, o catolicismo, e a fé, estavam presentes em toda sua obra, “Minhas culpas, meu Pai, meus pecados, Senhor. Levaram-te sem dó ao Calvário da dor”! “Eu creio em ti, meu Deus, no teu poder infinito” - Beleza, natureza; - retratada através das paisagens, jardins, crepúsculo, flores, por do sol, tarde, pássaros, folhas, sorrisos... - Dor e Morte – temas bastante explorados em seus escritos, com mensagens cheias de reflexões sobre vida, morte, cadáveres e dor, como exemplo temos: Suprema Dor, Morte de Almira, Morta, Entre o Berço e o Túmulo, Gracinha Junto ao Féretro da Mãe, “Este caixão teu derradeiro leito” “Eu sinto qual cadáver regelado” - Escravidão – representada em lindo texto escrito em comemoração ao Jubileu de Prata da libertação dos escravos em 1927, com o título “Salve 13 de Maio” “...agora irradiam novos horizontes na sacrossanta asa da liberdade”, - Homenagens – Escreveu belíssimas homenagens a conterrâneos ilustres, visitantes e amigos: À Gomes de Sousa, Gonçalves Dias, Luis Bandeira, Coelho Neto, Padre Possidonio, João Rodrigues, Américo César, Francisco Félix de Sousa e muitos outros. A sua poesia era geralmente cheia de mágoa, mas também escreveu contos, dramas e comédias. Em sua casa montou um Grupo Teatral. Ela atuava como autora e também encenava, participando do elenco. As
peças eram bastante procuradas, em uma entretenimento na cidade.
época que não tinha cinema, constituíam o maior
Em entrevista ao jornal Imparcial, ela confirma “escrevi muitas peças teatrais e 8 comédias que são representadas por senhoritas e rapazes de Itapecuru, no teatrinho de lá” Na época o jornalista folheou as seguintes: “Em casa de Procópio” “Por causa do Ouro” “Noivado de Rosa” e “Um Samba no Cocal” .Chegando até nós, uma, ambientada em Itapecuru talvez da década de 20/30 onde ela se identifica com a “Justina” personagem de rígido padrão moral. “Doninha ainda criança de peito, com a morte de sua mãe passou a ser criada e amamentada por sua tia Anacleta. Certo tempo depois Anacleta também faleceu e Doninha, novamente órfã passa a ser criada por seu padrinho, Félix Rodrigues, em Itapecuru-Mirim, onde estudou com Mariana Luz. E fez parte do seu grupo teatral, responsável pela encenação de muitas comédias à época”. Livro Cantanhede Memória, de João Carlos Cantanhede Escreveu também um Livro de Orações e Cantos Litúrgicos A educadora Mariana Luz não teve filhos biológicos, o seu filho adotivo Francisco Félix de Sousa, Chiquinho, Enfermeiro do Exército, do Rio de Janeiro, foi o guardião dos seus escritos até a sua morte quando passou a seu irmão Absai Siqueira Sousa, que sempre dizia; “Os documentos da poetisa Mariana Luz, não me pertencem, pertencem à comunidade itapecuruense” Infelizmente grande parte do acervo literário da poetisa, foi perdido, todo trabalho de uma vida dedicada a poesia. A poetisa mantinha correspondência geralmente feita em sonetos com vários amigos, era muito solicitada para escrever homenagens para aniversariantes que eram lidas na “Voz Paroquial”. “ela escrevia com muita espontaneidade, escreveu duas mensagens para minha mãe, baixava a cabeça e fazia rápido um soneto” disse Lósa Felix Com poetisa Laura Rosa, primeira mulher a ter assento na Academia Maranhense de Letras, (fundadora da cadeira 26) cognominada “Violeta do Campo” manteve estreita correspondência em verso e prosa: A Uma Amiga, Resposta, Três Flores e outras... “...Depois de saborear, Com calma, esses teus cantares, Eu vi que tinha razão O teu amigo Tavares”,
Também o poeta Leslie Tavares da “Renascença Literária” grupo dissidente da “Oficina dos Novos” no começo do Século XX, amigo em comum com Laura Rosa, manteve troca de correspondência, tentando negar o escopo da sua poesia, voltada à tristeza. Em Resposta: “Julgaste descobrir na minha pobre rima / Um sofrimento atroz que me alanceia a alma” e em Replicando: “Persistes em supor que minha vida” “ Para mim tudo é belo e sorridente” Tomando por base apenas os sonetos de Murmúrios, Clóvis Ramos, afirma, “é uma poetisa de feição simbolista” Já José de Jesus Moraes Rego, afirma:” Existe um quê, em busca da arte pura, nos seus poemas – aquela poética alicerçada pelo individualismo responsáveis pelos valores eternos da literatura” Na administração de Bernardo Tiago de Matos, (1942 a 1945), foi construída pela Prefeitura Municipal, e doada à professora, uma casa à Rua Caiana (atual Av. Brasil) Fez jus a casa, pela importancia que exercia a professora, na sociedade itapecuruense, como Patrimônio da nossa cultura. A casa supra citada foi deixada, por determinação da poetisa, à Nossa Senhora das Dores depois da sua morte. O imóvel foi vendido, pela paróquia, em 1999 ao Senhor José Ribamar Mubarack onde é hoje a Farmácia Leticia. Somente em 1941, na administração de Felício Cassas, já com mais de 70 anos de idade, que a educadora Mariana Luz conseguiu uma nomeação pelo município de Itapecuru mirim, com lotação da Escola Getúlio Vargas. Depois de antigas reivindicaçoes de Felício Cassas, ao governo, finalmente, através do Decreto Lei nº 1517 de 23 de junho de 1947 tendo como governador Sebastião Archer, passa a ter direito a um subsídio estatal mensal, por merecimento, pelo muito que contribuiu para cultura do nosso povo. A poetisa Mariana Luz, terá finalmente o seu mérito resgatado, sendo Patronesse Geral da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes.
LAURA AMÉLIA DAMOUS44, 45
Academia Maranhense de Letras Movimento Antroponáutica Por Dinacy Corrêa46 Turiaçu/10.04.1945). Autora de uma obra poética que se insere no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estreia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguemse: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010). Presença literária sempre marcante nos eventos socioculturais maranhenses, Laura Amélia tem assumido cargos nos órgãos culturais do Estado, como Assessora Cultural da SECMA (Secretária de Cultura do Estado, 1987-89) – gestão em que, a propósito, funda o anexo da Biblioteca Pública Benedito Leite, para jovens, e o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho e mantém a Colunarte (jornalismo literário). Considerada por muitos dos nossos intelectuais, leitores e avaliadores de sua obra, a nossa Emily Dickinson e comparada a Cecília Meireles, a poetisa cunha os seus poemas numa singularidade muito própria de quem, no uso de poucas palavras, mas em “expressão plenamente poética” e num “ritmo espontâneo do verso”, consegue revelar um mundo... “pelo espraiamento do verso afetivo da linguagem” que, “em muitos momentos se inclina para o sugestivo, sobretudo por esse jeito de começar o poema como quem conclui, reduzindo-o à ideia final” (LYRA, apud ALEX BRASIL,1994, p.267). A autora busca referências em grandes representantes da arte literária. Sua poesia dialoga com obras de outros autores, como Federico Garcia Lorca, Cecília Meireles, Rainer Maria Rilker, Emily Dickinson... Para o poeta Nauro Machado (2001, p. XIX), “seus versos pressupõem um conhecimento a priori da temporalidade a que se reduz a coisificação presentificável do que hoje somos, pois o passado nos convoca o ser para as prerrogativas antecipadoras do que foi”. E ei-lo que acrescenta (id. ibid.), na sua autoridade de poeta maior: “O caminho por onde o texto conduz Laura Amélia Damous é este e, daí pra frente, é ele que cria o poeta em suas várias vertentes de conversa e diálogos com outros textos, leitores, estudiosos, ensaístas e críticos [...]”. Daí, poeta algum ter significado isoladamente, em si mesmo e em seu tempo – eis que todo poeta, na verdadeira acepção da palavra, resume-se no somatório daqueles que leu e absorveu, numa dinâmica trans/intertextual, através de leituras, releituras... recriações.
44
CORREA, Dinacy; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE..Núcleo de Estudos Lingüísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro 45 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/ 46 CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
Adepta dos poemas curtos, dos versos livres, expressos, estes, num perfeito raciocínio, rigor e controle na concisão, Laura Amélia não faz restrição de palavras, como bem o diz o escritor e acadêmico (Dr. Honoris Causa-Uema), Jomar Moraes, uma vez que “ao poeta não se prescreve a avareza verbal”. A propósito, ainda Nauro Machado (id. ibid), a categorizar os poemas lauramelianos como “conhecimento intuído”, “desvelamento da realidade”, e “autocontemplada expectação verbal” – na expressão de um lirismo que não se restringe a “um simples sistema sígnico característico de uma pseudo-modernidade, prenhe de velharias descartáveis”, como o demonstram os exemplares que se seguem, colhidos de Cimitarra: OFÍCIO – A palavra/ floresce e/ sangra/ o fruto/ das/ mãos (2001, p.43). INSPIRAÇÃO – A branca luz do papel/ destila suor feito ímã/ o poema se impõe/ e gruda/ na pele do poeta (2001, p.48). POEMA DE ÚLTIMA VIAGEM – Outra vez mais te trago/ à superfície/ da imprecisa/ linha/ onde se alinha/ a sina/ a sorte/ Outra vez/ não mais/ a alma viaja/ e náufraga (2001, p.50). Nos três poemas em leitura, vemos que a metalinguagem (expressa nos jogos de palavra, metáforas e outras figuras, que anteparam as reflexões sobre o fazer poético) é ponto e contraponto no processo de criação literária, na montagem dessas pequeninas joias lírico/verbais. E algo de muito especial, na obra desta poetisa, é a intertextualidade, manifesta em plano semântico, sobretudo nos títulos dos poemas – títulos estes, fundamentais na compreensão e interpretação do texto, pela transtextualidade, as conexões com obras da literatura universal ou referências a personalidades de importância para a sociedade humana, as personagens de clássicos literários, entre outros. Como exemplo, As 2555 noites de Turiaçu; Xerazade; Hamlet; À Humana Comédia; Galileu; Fim de Tarde com Van Gogh; Julieta; A cigarra e a formiga... Títulos que condensam a ideia do poema, em si, prenunciando o que será trabalhado no texto, como observa Nauro Machado. Apreciemo-la em sua verve poética: .JOÃO E MARIA – Ainda que eu pudesse fazer/ de cada estrela/ uma pedra guia/ ainda assim/ não encontraria o caminho/ que me levaria de volta (DAMOUS, 2001, p.117). JULIETA – Agora, que só te posso ver quando/ adormeço/ penso, às vezes, te despedes de mim/ até nos sonhos/ Ansiosa desse encontro busco o sono/ leve carícia na minha alma insone./ Adormeço, de vez, eu te prometo/ se me asseguras um eterno encontro (Ibid., p.134). Como se vê, a autora faz, com maestria, essas releituras em seus poemas e numa linguagem simples e leve, recriando, na modernidade, histórias que remetem a outros tempos. Em João e Maria, por exemplo, remonta ao tradicional conto infantil. Evidentemente, em uma outra, nova abordagem, mas sem perder a linha de quem está em busca do caminho de volta. Em Julieta, a remetência às personagens do clássico shakesperiano, na atmosfera noturna do poema, o “adormecer de vez”, mais que uma promessa (condicionada a uma outra promessa) é proposta de compromisso mútuo de amor eterno, para além da transitoriedade desta vida. Continuemos com a poetisa: HERANÇA – Minha avó Amélia que/ tinha as orelhas rasgadas/ pelo peso do ouro/ me deixou um tesouro:/ não carregue mais/ do que a frágil carne suporta (2001, p.62). OFERENDA – Venho te oferecer meu coração/ como o cansaço se oferece aos/ amantes/ o suor aos corpos exaustos/ depois de definitivo abraço/ Venho te oferecer meu coração/ como a lua se oferece à noite/ e o vento à tempestade/ Venho te oferecer meu coração/ como o peixe se oferece à captura/ no engano do anzol (Ibid., p.107) O lirismo delicado que caracteriza a poesia desta maranhense entra em sintonia com a natureza (noite, lua, dia, sol, estrela, mar, vento, etc.), o infinito, em imagens que vão compondo uma atmosfera de sonho e fuga. Recorrendo a formas poéticas simples, sem métrica regular estabelecida, desenvolvem-se temas como: o amor, a transitoriedade das coisas, da vida... a fugacidade do tempo... Em Herança, como se pode inferir, o eu lírico deixa claro os ensinamentos do velho “Crhonus”, na recordação da avó experiente, provida de ensinamentos e aprendizagens, sabedorias, a advertir para a
irrelevância do material, do supérfluo... Em Oferenda, é pela comparação que aflora um lirismo que se derrama na oferenda de um coração inteiramente disponível e entregue ao Amor. A obra poética de Laura Amélia Damous (Turiaçu/10.04.1945) insere-se no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estréia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguem-se: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010). OFERENDA Venho te oferecer meu coração Como o cansaço se oferece aos amantes o suor aos corpos exaustos depois de definitivo abraço Venho te oferecer meu coração como a lua se oferece à noite e o vento à tempestade Venho te oferecer meu coração como o peixe se oferecer à captura no engano do anzol
SONIA ALMEIDA47
Movimento Antoponáutica Academia Maranhene de Letras
Nasceu em São Luís a 29 de março de 1956. Filha de Josely Pires Pereira e Carmelinda Corrêa Pereira. Foi aluna do Colégio Santa Teresa, nas irmãs Dorotéias, onde fez os antigos primário e ginásio. É graduada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, especialista em Semiologia Aplicada ao Ensino de Língua e Literatura, pela UFMA/Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ), mestra em Educação pela UFMA e doutora pela Universidade de São Paulo – USP. Na Faculdade de Educação da USP, pesquisadora do programa de Pós-Graduação, na área de Linguagem e Educação. Sua área de interesse é o texto escrito. Em 1989, deu início a reflexões sistemáticas sobre a necessidade do ler/co-produzir. Daí nasceu o Núcleo de Leitura e Produção Textual, da UFMA. A partir de 1992, começou a desenvolver um trabalho, principalmente com alunos do Ensino Médio, nesse âmbito. Tem construído uma história na formação de professores de língua portuguesa no Maranhão, ministrando disciplinas pelo PROEB em Itapecuru, Arari, Vitória do Mearim, Santa Luzia, do Tide, Buriticupu, Vargem Grande, Alto Alegre do Pindaré, Pinheiro e São Bento. De Seus trabalhos de leitura nasceu a obra: Tribuzi, Bandeira poética de São Luís (1996) e Aula de redação: uma perspectiva transdisciplinar (2003). Exercendo sua profissão de professora, Sonia Almeida se tornou leitora e, seguindo a indicação de obras para o exame vestibular, leu para seus alunos uma centena de obras nos últimos 15 anos, tendo, com isso, a oportunidade de refletir sobre a vida sob a ótica de muitos autores da literatura maranhense, brasileira e portuguesa: João Francisco Lisboa, Antônio Vieira, Sousândrade, Aluísio Azevedo, Artur Azevedo, Ferreira Gullar, Josué Montello, José Chagas, Nauro Machado, José Sarney, Conceição Aboud, Machado de Assis, Cruz e Souza, Marina Colasanti, Lygia Bojunga Nunes, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, José Saramago, Eça de Queirós, entre outros. Lendo, acabou produzindo a sua obra poética onde deixa bem claro que escrever é inscrever atos de leitura. Basta ver o poema (R) Deferência que inicia o poema metalinguagem em sua obra Penumbra, publicada em 1998. Obras Alegorias (1992); Tribuzi, Bandeira poética de São Luís (1996); Penumbra (1998); Palavra cadente (2001); Há fogo no jogo (2003); Aula de redação: uma perspectiva transdisciplinar (2003); Escrita no ensino superior: a singularidade em monografias, dissertações e teses (2011); 47
PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro
O Poema da Diferença (2012);[2] A língua e a árvore: uma herança com chão e tempo (2017); Palavras herdadas: sobre o Português como língua de herança (2017) com Andréa Menescal[3]
VIAGEM Coloco a palavra na asa do poema e faço o que mais quero: vou na asa da palavra vôo na alma do verso e, sempre que preciso, flutuo nas (a)venturas do signo. Penumbra, 2003.
LENITA ESTRELA DE SÁ 48
MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA Nasceu em São Luís do Maranhão a 15 de dezembro de 1961 É graduada em Letras e Direito, com pós-graduação em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas Materna e Estrangeira. Publicou as seguintes obras literárias: Ana do Maranhão (Prêmio Arthur Azevedo, concedido pela Universidade Federal do Maranhão,1980, e Prêmio Brasília de Teatro,concedido pela Fundação Cultural do DF, Governo do DF, Secretaria de educação e Cultura do DF e INL – Instituto Nacional do Livro – por unanimidade, 1981); A Filha de Pai Francisco, teatro infantil, publicado em 1995,com prefácio de Ferreira Gullar (Prêmio Apolônia Pinto,concedido pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, em 1988; e Prêmio Alice Silva Lima,concedido pela União Brasileira de Escritores – UBE – em 1997, em virtude da publicação do texto,o que, por sua vez, ensejou Moção de Aplausos da Câmara Municipal de São Luís, em 13.05.97); Reflexo, poesia – prefacio de Josué Montello,1979; No Palco a Paixão — Cecílio Sá, 50 Anos de Teatro (pesquisa, 1988); A Lagartinha Crisencrise ( história infantil, 2005) e Cinderela de Berlim e Outras Histórias (contos, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura/SECMA, 2009). Participa das seguintes antologias: Antologia Guarnicê, Edições Guarnicê, 1984; Novos Poetas Do Maranhão. São Luís, UFMA,1988; As Aves que Aqui Gorjeiam – Vozes Femininas na Poesia Maranhense, organizada por Clóvis Ramos, São Luís, SIOGE, 1993; Circuito de Poesia Maranhense, CEUMA, 1995; Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, organizado por Nelly Novaes Coelho, São Paulo: Escritura Editora, 2002. Livros inéditos: Catharina Mina (Prêmio Viriato Corrêa,concedido pela Universidade Federal do Maranhão,1979, teatro); O Menino ciumento (teatro infantil), Baraço (teatro), O alferes de Vila Rica (teatro); Além do cabo das Maresias (teatro infantil ); os roteiros de cinema Caso do Vestido, Ana do Maranhão, A Infeliz Perpetinha e Os Tambores de São Luís; a história infantil A Estrelinha Aparecida; ePincelada de Dali e outros poemas, Prêmio Sousândrade 2010 da Fundação Cultural do Município com apresentação de Ferreira Gullar. As peças teatrais A Filha de Pai Francisco e Ana do Maranhão têm sido objeto de monografias de graduação, respectivamente, nos cursos de Letras da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) e da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), tendo sido o primeiro texto também objeto da dissertação de Mestrado da Profª. Lucimar Ribeiro Soares, Professora Assistente de Prática de Ensino de Letras, da Universidade Estadual do Maranhão, com o título A Filha de Pai Francisco – uma leitura sob enfoque proppiano.
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CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo). http://www.estreladesa.com.br/?page_id=724 COÊLHO,Nely Novaes.Dicionário de Escritoras Brasileiras. São Paulo: Escrituras Editora, 2002. CUNHA,Carlos. As Lâmpadas do Sol. São Luís: Editora Fon-Fon, 1980,p.110-111. DANTAS, José Maria de Souza. Didática da Literatura. Rio de Janeiro: Editora Forense-Universitária, 1982.p.152-153. LEITE, Aldo. Memória do Teatro Maranhense. São Luís, Edfunc, 2007. MARQUES, Oswaldino. Prefácio Fulminado. In: Acoplagem no Espaço. São Paulo: Ed.Perspectiva; ]Brasília-DF]: INL,1989. – (Coleção Estudos;v.110). REIS,José de Ribamar. Perfil do Maranhão. São Luís: Editora Prelo comunicação,1980.p.256.
WANDA CRISTINA49
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Wanda Cristina da Cunha e Silva nasceu em São Luis do Maranhão. Jornalista, escritora, poetisa, professora. Estréia na literatura aos dezoitos anos. Pertence ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e à UBE. Cinco livros publicados: UMA CÉDULA DE AMOR NO MEU SALÁRIO (poesias), ENGRAXAM-SE SORRISOS (crônicas), REDE DE ARAME (poesias) GEOFAGIA RUMINANTE NO SÓTÃO DA PREAMAR (poesia) e FLOR DE MARIAS NO BUQUÊ DE COSTELAS (antologia poética). Em fase de publicação, estão os seus livros: O PAÍS ESTÁ NU (crônicas); CACHOEIRA DA SAUDADE (crônicas), MENINAS-DOS-OLHOS DE DEUS (contos); CARLOS CUNHA: planos jornalístico e literário (monografia) e CONFISSÕES DA ILHA (reportagens). Formada em Comunicação Social (Jornalismo), pela Universidade Federal do Maranhão e Letras, pela Universidade Estadual do Maranhão, com pós-graduação em Língua Portuguesa, pela Salgado de Oliveira e Comunicação e Reportagem, pela UEMA. Ganhou prêmio promovido pela Academia sobre a Vida e a Obra de Coelho Neto e ficou entre as 20 melhores colocadas no III Concurso Escribas de Contos de Piracicaba, com o conto PAREDE TEM OUVIDO. Dirigiu e coordenou várias páginas literárias de jornais maranhenses, dentre os quais a do Atos e Fatos e do Jornal o Debate. Colaborou no "Ponto de Prosa", caderno de o Jornal O IMPARCIAL e tantos outros. Professora de Língua Portuguesa e Literatura.
MENSAGEM Asfaltando minha cabeça, Meus cabelos brancos buscam suas raízes dentro de um cérebro que levou ao meu coração a mensagem de te amar nesta poesia.
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Fonte da biografia: www.varaldaliteratura.ale.nom.br Página organizada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/wanda_cristina.html
e
publicada
em
out.
2008
POEMA PARA A MORTE Não adianta, Morte, encheres a varanda de vazios, desarrumares o cheiro de terra molhada que vem dos sonhos das Cristinas. Não adianta, mesmo mudares os meus versos, soprando ventos frios no meu peito. Eu sei que os 18 anos que Tereza deixou esperaram os meus que já não são. Mas, mesmo assim, não adianta encheres de procura tudo que encontramos, na busca de Tereza. Não adianta, Morte, labirintares a nossa espera, porque amanhã, quando Tereza voltar, rindo o seu riso, os nossos risos, tu serás, apenas, uma lembrança da brincadeira de Tereza.
POEMA DO SER ASSIM Você precisa conhecer a solidão. Ela é baixinha como eu, e é magra, e é triste e fuma todas as melancolias que, um dia, alguém fumou. E faz poesia em espírito gonçalvino, e adentra o Modernismo sem saber inglês... Já foi boêmia como Baudelaire, e bebeu a multidão de um gole, embriagando-se do perdido pra nunca mais deixar de ser a bêbada predileta dos bares de todos os homens. Você precisa conhecer a solidão. .......................................... Ela é a consciência, o abrigo, a chave de todas as portas que guardam o segredo do SER ASSIM... Ela nunca morreu em alguém, antes desse alguém ter morrido. ............................................ (Uma Cédula de Amor no Meu Salário,1981)
OLHAR DESCALÇO Calcei os olhos com o olhar de sempre e sai a rua para olhar o sol... E voltei com o silêncio pegado a minha língua, e chorei com o olhar pegado às minhas lágrimas... Invadi um jardim de um cão sem dono e o meu olhar descalço pisou nas rosas.
BABUGEM DE ESPERANÇA Este soneto que sai a boca, salgado e amargo, exalando dor, é a babugem da esperança louca, que desbotou em lágrimas de amor. Inúteis foram as noites acordadas, poemas tristes, olhos que choraram: inúteis foram as dores suicidadas nos meus carinhos que te desculparam. Estou sozinha com a minha mão. E estes meus dedos que te compreenderam puseram a culpa no meu coração. E as saudades que me envelheceram, presas em jaulas de ingratidão, insistem em viver, mas já morreram.
-----------------------------------------------------------------------TERMOLOGIA DE TEREZA Tenho tecido Tereza todo tempo, teimando ter tido todo tempo tudo. Tecendo Tereza, tenho todo tempo Tentativa de ter todo tempo tudo. Turbulenta, traduzo o termo "ter tudo". Ter tudo é ter tido o tempo de Tereza, Torrrente de travessa num tempo tronchudo, transformo a tristeza em Tereza-tardeza. Tereza tricota o termo ternura, traduz a tristeza com tanta ternura, Tangente, tão gente, trajando Tereza. Tracejo um terceto trilhando a tristeza: tropeço, trafego... e a tarde tintura O meu termo todo do termo: Tereza!
POEMA-QUERO Eu quero um poema da cor da minha cor. Um poema-pálido que banhe na chuva. Um poema-pobre que more nos mangues. Um poema-irmão que tenha meu sangue. Um poema-pão que tenha minha fome.
Um poema-esmola no chapéu do povo. Um poema-rasgado de vestir meu sujo. Um poema-insensato pra falar sentindo. Um poema-tema de televisão. Um poema-jornal para o imprevisto... Um poema-planeta para eu habitar, quando não mais existir condição para controlar a natalidade do absurdo.
ALITERAÇÃO Eu quero dançar contigo dentro do poesia, como dança o povo dentro do Estado. Eu quero rebolar contigo em cada rima, como rebola o povo dentro do salário. Eu escolho uma aliteração para a nossa vida: filhos, felicidade, família, feijão, farinha... como o povo, em fé, faz folia, forra a fome com futebol e fantasia. (Rede de Arame,1986)
ASSOCIAÇÃO DOS POETAS DE “MIL POEMAS PARA 50 51 GONÇALVES DIAS” ,
50 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b_-_parte_2; CARNEIRO, Alberico. Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia. in ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1; ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” diário de VIAGEM. São Luis, 2024, no prelo 51
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO - Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013... Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’. Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.”
ALANNA VERDE RODIGUÊS São Luis – MA - 26/09/2001. Pelo prazer de viajar no mundo mágico das poesias e o mundo conhecer! Cursando: 5º Ano Turma: C -EPFA Profª Shirle Maklene
FUTURO DE MAGIA O amanhã ia além de dormir e acordar! Era um futuro de magias. Que ele expressava em cada poesia. Retratava seus ideais seus Encantos, seu amor por sua Terra os olhos verdes da amada Em versos e melodia. Em terra de grande batalha Caxias saía vitoriosa, mas A maior de suas conquistas nascera Ainda ia! Um simples homem se tornaria Mas o acaso da vida! Em águas reluzentes sua vida sumiria.
ALINE FERNANDA MORAES DA SILVA CANTANHEDE São Luís – MA - 13/11/2000. Motivo da participação: Eu gostaria de participar da antologia para prestar uma homenagem a Gonçalves Dias que é poeta do Maranhão que tem riquezas e belezas impressionantes.
GONÇALVES DIAS Gonçalves Dias ele era poeta É assim que se liberta. Gonçalves Dias é o nosso interesse É a nossa saudade é uma paisagem. Gonçalves somos nós E você lutando para o Maranhão crescer. Gonçalves era um escritor Trabalhava com paz e amor. Gonçalves é orgulho É a nossa paixão, Ta no coração E no Maranhão
AMANDA SUELY BRITO DE SOUSA São Luís – 6/09/2001 - É o amor por criar poesias e expressar o que sinto. Cursando: 5º Ano Profª Shirle Maklene
Turma: C
O POETA E SUA HUMILDADE Um simples poeta nasceu com o coração cheio de sentimento, era humilde, mas tinha força e muita garra, estudou para um dia varias poesias criar e em nosso coração pudesse ficar. Poeta de verdade para sempre ser lembrado, como homem, cidadão caxiense e amante da vida e da sua terra!Sua vontade de criar, poesias para demonstrar belezas, amores, futuro e o modo certo de amar! Morreu! Mas muitas saudades ficaram um grande poeta foi e poesia deixou. Poesia verdadeira para serem lidas com carinho em nossa mente ficou!
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO São Luís – MA - 23.05.1966. É Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), licenciada em Letras (UFMA), Promotora de Justiça, Professora do UNICEUMA, Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, Membro da Academia Caxiense de Letras, Sócia do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica. É autora de vários livros, entre os quais Quando: poesias (2008) e Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009).
Ó MARANHÃO Naquela taba perdida no tempo Numa terra de muitas palmeiras Ainda vive um velho timbira Em meio às sombras rasteiras. Naquela taba sagrada de sangue O timbira conservou a memória Da coragem do guerreiro tupi, Que do pranto se cobriu de glória. Naquela taba encantada de morte Encontro a vida que não vejo cá, E o timbira reconta a narrativa Dos feitos olvidados por lá. Naquela taba envolta em poesia Não sei se ainda luta o moço, Não sei se ainda canta o sabiá, Mas lá não se abriu o fosso. Ó Maranhão, Tu não viste no horizonte o dejeto Nas tuas praias inclemente aportar? Tu não ouviste nas ruas o desvalido Por um pouco de pão reclamar? Ó Maranhão, Por que dormes, terra tupi, Por francos e lusos adotada, Quando o sonho cabia em ti? Não sabes o que leva o vento, O que procura o mar encobrir, O que se transforma em tormento? Ó Maranhão, Ó gigante de pedra e areia, Que jazes no bosque a dormir Como a presa inerte na teia, Desperta de teu sonho distante, Desce do mirante para a ceia. Ó Maranhão, Escuta o velho timbira na taba Teu passado aos meninos lembrar; Revive os dias de Gonçalves, Teu poeta maior, sem par; Sê brioso Como o moço guerreiro; Sê laborioso Como o luso sobranceiro;
Sê garboso Como o gaulês altaneiro, Que um dia te quis Possuir por inteiro. Ó Maranhão, Ó gigante de pedra e areia, Desperta para o combate! Conquista teu maior galardão! Ouve o velho timbira A inspirar o moço vate Naquela taba de viva paixão. O GIGANTE DO LARGO DOS AMORES O que contemplas, ó vate divino? o que procuras em cada sol poente? nosso céu mais uma estrela ganhou nossa vida, mais beleza, nossa prosa, mais poesia o coreto mais cobiçado ficou a baía já se rende a teus pés mas a tarde não traz refrigério a noite sua mudez revelou os sinos ainda dobram por ti a marabá mais sozinha está e o mar penitente se agitou ao naufrágio de certo navio nos baixios dos Atins. O que divisas, ó mestre divino? o que persegues em meio às alturas? não viste as nuvens pesadas o rosto do astro ocultar? acaso não ouves o canto do guerreiro os sons da trompa, as vozes em toadas o canto do índio, a canção do tamoio? acaso olvidaste o canto do Piaga o rugir das tempestades carregadas? não guardaste a lembrança do moço tupi na taba timbira? não sofreste cruas ânsias fundadas? não ensinaste que a vida é combate que os fortes apenas pode elevar? O que cismas, ó artífice divino? o que inspira a tua mão? as visões do valente Tabira? os maracás e os manitôs? és agora o gigante de pedra arrebatado de contida ira quem há que te iguale? quem há que te exceda? quem há que te fira? descansas em eterna vigília não podes dizer derradeiro adeus mil arcos se retesam em mira mil setas se cruzam em tributo mil poemas se doam em memória. O que especulas, ó arauto divino?
o que buscas no incerto horizonte? és mais alto que as altivas palmeiras onde cantava o magistral sabiá mais alto que a bela mangueira onde se aconchegam as frutas useiras mais alto que o Morro do Alecrim onde muito bravo pereceu estás bem diante das beiras no centro da praça encantada a cortejar Maria Aragão tão longe das capoeiras tão dentro do Olimpo tão perto de Tupã. O que eleges, ó favorito da Musa? o que esperas da brisa inconstante? afasta a tentação da mãe d’água liberta-te do cruel Anhangá desce do alto da palmeira deixa para trás tua frágua e vem cá desfrutar os primores que não encontraste por lá volta à era do corpete, da anágua quando se morria de amor vem desposar Ana Amélia há cura para toda mágoa no Largo dos Remédios no Largo dos Amores. Ó Gigante do Largo dos Amores de pés imponentes sobre o mar ouve meu canto, meu lamento retoma a pena, fecunda o papel põe a máscara, dedilha a lira volve teus olhos sem tento e desce para tornar a encher com teus últimos cantos meio paz, meio tormento no leito de folhas verdes nossa vida de mais beleza ao sabor de cada momento nossa prosa de mais poesia nossos dias de mais Gonçalves.
ARYANE RIBEIRO PEREIRA São Luís – MA - 10/07/2001; Motivo da participação: Eu gostaria de participar da antologia para ser reconhecida pela poesia que fiz. CANÇÃO DO EXÍLIO Minha Terra tem riqueza, sabiá Nós não temos mais bosques, poluição, tenho fé em São José e São João. Em cismar sozinho à noite, eu vou à praia Pois minha Terra tem riqueza, o sabiá.
Onde encantou o Lá eu conheço todo lugar. Pela Mas eu
Pois à noite Apreciar a Beira-Mar, Onde encantou
BIANCA MELO São Luís – MA - 04/06/2002 - Motivo da Participação: Em mostrar minha poesia a todos, além de homenagear o nosso Poeta. GONÇALVES DIAS Homem dos nossos dias Com pureza e amor Que encanta a natureza Onde beija o beija-flor No cantar dos pássaros No raiar da esperança Vem contar em seus contos Que o sabiá cantou Gonçalves Dias poeta Valente, carente e contente Que incendeia seus versos Com contos estrelados Que busca no rosto cansado A alegria dos enamorados Gonçalves Dias nasceu em Caxias Na sua terra querida Se formou na universidade Para mostrar sua qualidade Com amor no coração Onde busca a paixão Na terra onde tem palmeiras Vem dizendo bela natureza Com alegria e pureza Escreveu poesia Falando da beleza do Maranhão Com orgulho no coração.
CARLA LUDIMILA OLIVEIRA ARAUJO São Luis – MA - 30/08/2001; Eu gosto muito das poesias de Gonçalves Dias. E adoro poesias e gostaria de lançar a minha. O MEU RIO POLUÍDO O meu rio poluído agora, ta muito Mais se parássemos de poluir, nunca mais. As árvores tão caindo, esbarrando pelo chão, se cuidarmos dela Teremos boa alimentação. Minha vida é poluída, O chão é muito mais, fazer pra cuidar dos animais.
Não poluía Se
Como vou
DALCIENE SANTOS DUTRA São Luís – MA -12/03/ 2002. Motivo da Participação: Reconhecer a importância da poesia na vida dos seres humanos como ferramenta de divulgação dos sentimentos e comportamento da sociedade onde está inserido GONÇALVES DIAS Filho de Português com cafuzo Nasceu de uma união não oficializada Por isso sua mãe foi abandonada por seu pai que foi morar Com outra amada. Gonçalves Dias Tinha alegria tinha amor o dom que Deus criou Escreveu poesias Com muitas sabedorias Para nossa alegria. Poeta do Maranhão Despertava muita emoção Para o povo desta nação com sua dedicação. Tenha orgulho de nascer Na terra de Gonçalves Poeta do povo maranhense Levou os encontros da gente Para o mundo conhecer. Viva Gonçalves Dias! Eterno poeta do amor Na Academia de letras Eternizado com descido valor.
DANIELLE ADLER NORMANDO São Luis – MA – 10 de março de 1974. Reside em São Carlos/São Paulo desde 2001. É graduada em Pedagogia (1996). Autora de várias poesias inéditas e tem participação nas Antologias: Oficina Cadernos de Poesia (21), Rio de Janeiro-RJ, 1993 e I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão- LATINIDADE, São Luís-MA, 1998 POR UM GRANDE AMOR Suspiraste não por um nome apenas A chama de um grande amor em ti -se fez viva eternamente-... Não pudeste encontrá-lo na vida terrena -é certoMas na tua alma e no tempo perduraram e perduram para sempre... Como esperaste esse amor por toda a tua vida!... Como esperaste com toda calma e desespero que nele cabiam Como esperaste em todas as entrelinhas das tuas dores e alegrias... Ah como o esperaste!... Esperaste até no teu suspiro último de amor Nas águas doces do abraço de Ana Amélia Na última valsa amorosa do impiedoso mar que te tragou Mas amorosamente-quanta ironiapara a imortalidade te levou!
ELANE CRISTINA P. DE ARAUJO São Luís – MA – 04/07/2001. Escola Paroquial Frei Alberto. Motivo da participação: Eu quis participar dessa homenagem porque Gonçalves Dias é Maranhense como eu. Ele falou todos os seus sentimentos nas suas poesias e morreu deixando tudo isso para nós por isso quero homenageá-lo MINHA TERRA Minha terra precisa de preservação O homem tem destruído Sem nenhuma compaixão. As aves que ainda restam aqui Voam sem descansar Com pavor do caçador A sua vida tirar. Nossa vida falta paz Nossos céus quantas estrelas! Nossos jarros faltam flores! Para os homens faltam amores. Gonçalves Dias Poeta inteligente Pena que morreu Antes de ver sua gente Mais deixou suas poesias Para nos ver feliz e contentes.
ELISABETH ROSA SOARES. São Luís – MA – 10.06.1950. Licenciada em Letras pela UFMA. Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. ITINERÁRIO Deus, natureza, índio, amor, temas recorrentes do vate imortalizado exalta um Deus “que vai do abismo aos céus” em versos de louvor à criação: tarde, brisa, tempestade, céu aurora cor-de-rosa, raios, estrelas. Cadê Timbiras? Tamoios? I-Juca-Pirama? falam os deuses nos cantos do Piaga, troam guerreiros da tribo Tupi E morrendo de amor em cada esquina ergue versos de amor a sua amada, à mimosa e bela Ana Amélia, de belos olhos negros, “meigos infantes”, amor definhado em mar de preconceitos. Saudosismo no cruel exílio, duras penas, lembrança das “palmeiras onde canta o Sabiá”. Tentativa frustrada de voltar à pátria: morre o homem; renasce o poeta. Arte densa que os séculos atravessa e hoje alcança os quatrocentos anos da capital da Terra das Palmeiras que ele tanto exaltara nos seus versos.
FRANCIANE CRISTYNE São Luís – MA - 09/ 11/2001. Motivo da Participação: Divulgar a importância das obras de Gonçalves Dias como meio de divulgação e valorização da cultura brasileira GONÇALVES DIAS Vamos lá minha gente Vamos todos escutar As poesias deste homem que Eu vou apresentar Gonçalves Dias é um poeta Era também muito legal Quando ele pegava a caneta Escrevia a poesia genial. Estudou em Portugal Passou por necessidade Mas nunca desistiu Por seu grande ideal. Voltou para o Brasil Trabalhou em um jornal Escreveu cantos e teatros De forma nunca igual. Denunciava as injustiças Na poesia falava Do navio negreiro Quando a gente chorava. Falava do amor Da sua terra natal Onde canta o sabiá E as pessoas sabem amar. Grande Gonçalves Dias Poeta do meu lugar Maranhense berço de ouro Onde canta o sabiá.
KAYLLA KAITH LOPES GONÇALVES São Luís – MA – 02\08\2000. Motivo da participação: Eu gostei muito do trabalho desenvolvido sobre as poesias de Gonçalves Dias, me deixou muito motivada para ler e escrever poesias. Por isso gostaria que a minha poesia sobre o nosso grande poeta Gonçalves Dias fosse publicada. MINHA TERRA Minha terra não tem palmeiras, Não cantam mais os sabiás. No céu tem poucas estrelas, Mas prazer eu encontro lá. Minha terra não tem muitos primores, Que quase não encontro por cá. Não permita mãe de Deu, Que a tristeza vá me machucar.
KEDMA KESSIA PINHEIRO BERNARDO São Luís – MA – 27/07/2001. Motivo da participação: Ele foi um grande poeta que escreveu sobre seu povo sua cidade e amava seu país. Por isso quero fazer parte da sua homenagem O REI DA POESIA I Antonio Gonçalves Dias O rei da poesia Amava a natureza Dia e noite, noite e dia II Antonio Gonçalves Dias O rei da fantasia Se chegasse aqui agora Nada disso encontraria III Nem matas das Palmeiras Nem o sabiá a cantar E os rios pra que falar? IV O homem constrói e destrói Só pensando em ganhar Destruiu as palmeiras Onde catava o sabiá V O sabiá e seus amigos Muitos estão sem abrigo Por causa do bicho homem Que os deixou em perigo
KEILA MARIA VERAS SOARES SILVA São Luis – MA – 09.05.1976. Graduou-se em Pedagogia e especializou-se em Psicopedagogia e Educação Infantil. É membro da Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar – OMEP/MA, Articuladora do Projeto Creche para todas as Crianças da Fundação Abrinq. Supervisora Escolar do Estado do Maranhão. Professora e coordenadora do Curso de Pedagogia da Faculdade do Maranhão – FACAM. LEGADO De um português Uma mestiça concebeu E no Sítio de Boa Vista Em Caxias do Maranhão Gonçalves Dias nasceu Na Europa foi morar Em Portugal estudou E em Direito se formou Gazeta Literária O Trovador Dos grupos medievistas Em Coimbra participou Seu orgulho Ter no sangue A mistura do índio, do branco e do negro Tornou-se seu grande tormento Essa condição Transformou seu sonho em ilusão Sua inspiração Musa sem abnegação Ana Amélia Ferreira Vale Com sua amada nunca se casou Sua família o pedido refutou Colégio Pedro II Trabalhou Secretaria dos Negócios Estrangeiros Oficial se tornou Educação Nacional Pesquisas na Europa quatro anos realizou Comissão Científica de Exploração No Brasil participou Poeta se consagrou Seu legado deixou Para a humanidade Sua criação É inspiração
KEULES DIENE ROCHA DA SILVA São Luis – MA – 02 de março de 1983. Trabalho como enfermeira técnica no HUMI. Vi esse endereço no mural dessa instituição e estou mandando esse material para vocẽs avaliarem. Espero receber noticias sobre esse trabalho. LEMBRA DO MARANHÃO. Vai a todas as nações sua beleza anunciar, Faz lembrar. Quando se fala de grandes poetas. Quando na história do Brasil é gravado, O Maranhão pelo grande poeta narrado. O grande poeta que a memória nunca falhará, Que ao citar, traduz o Maranhão. Que ao visitá-lo no mapa não dá para separar, A poesia do seu poeta, o poeta do seu Maranhão. Registrando um estado rico. Riqueza essa encontrada nos poemas e poesias, Que ficaram gravados nos anos e nos dias, Gonçalves Dias. MINHA TERRA TEM GONÇALVES DIAS Minha Terra tem riquezas Minha terra tem beleza Minha terra tem gente interessante Ouro, prata, diamante. Minha terra tem João E também tem Maria, Minha terra tem poeta Minha terra tem poesia. Minha terra tem Gonçalves Dias. POETA, POESIA Salve Maranhão; Salve os grandes poetas. Gonçalves a poesia; Gonçalves Gonçalves Dias. Minha terra tem mais poetas. Minha terra tem mais poesia. Descrito no céu e no chão; Na monotonia do dia a dia. Na lágrima e no sorriso, No suor, na labuta da vida, Em verso e canção traduzida. À luz dum olhar de um poeta, Como um olhar de uma águia. A perfeita sincronia: Poeta, papel, tinta e poesia. A MAIS BELA POESIA Se tem terra, Tem palmeiras. Se tem palmeiras, Tem sabiá. Se tem Sabiá se ouve o canto, O que será que vem de lá?
Que de lá vem poesia, Que ninguém soube expressar Tão bem como ele, O canto do sabiá. Que terra melhor não se achou, Para várzeas as flores brotar. Que ninguém saudosamente soube passar, A saudade do seu lar. Que terra assim não existiu, Em nenhum lugar. Como aquela em que um dia ouviram, Rasgou- se o grito, o pulmão se encheu de ar, Os olhinhos se abriram. Inspirando um menino em Caxias, Nascendo a poesia, A mais bela poesia, Vindo a terra Gonçalves Dias. Que amou e encheu de versos, Trazendo graça e beleza, Misturando arte a terra preta. Que o mundo veio conferir Que terra como essa, Só existe por aqui. Surge a dúvida então sobre Gonçalves Dias, Se a poesia nascera no coração do poeta, Ou o poeta no coração da poesia?
LÚCIA AMORIM CASTRO SÃO LUIS – MA - 07/03/2002 - Cursando: 5º Ano Turma: C Profª Shirle Maklene - Aprecio os poemas assim como as poesias e homenagear um poeta do meu estado é gratificante. EPFA HOMEM DE HUMILDE Gonçalves Dias foi um homem que nasceu em uma família humilde, mas que enfrentou a vida. Gonçalves Dias foi um grande poeta que aonde fosse criava uma poesia e depois foi se tornando artista da própria vida! Ele foi um homem de vida, de alegria e deixou o mundo com sabedoria no ar. Cheios de cores! Cheios de poesias! Cheias de amores!
MARIA EDUARDA PIRES SOUSA São Luis – MA - 03/07/2002. Pelo prazer em escrever e também; Por gostar de ler e ouvir poesias. Cursando: 5º Ano Turma: C Profª Shirle Maklene POETA DE ONTEM, HOJE E SEMPRE Este poeta que nasceu com a poesia na alma, alegrou muitas pessoas no passado, que hoje com suas poesias ainda deixa muitos corações emocionados. Com o exemplo desse grande poeta devemos nos deixar envolvidos por este sentimento tão puro de afeto e amizade, sendo sempre gentil com os que estão ao nosso lado. Gonçalves Dias nasceu com a poesia na cabeça, no espírito e no peito. Sem nunca imaginar que um dia iria se tornar um poeta de grande valor. Morreu, mas até hoje é lembrado em suas poesias que falam de amor!
MAYARA SOUSA GONÇALVES São Luís – MA - 11/08/2001. Motivo da participação: Eu sempre sonhei em ser poeta para escrever para minha família eu quero ser reconhecida igualmente a Gonçalves Dias. CANÇÃO DO MARANHÃO Minha Terra tem sujeira onde cantava o sabiá, As aves que aqui gorjeavam como lá. Minha vida, mas amores cantavam por cá e só as aves gorjeia como cá. Essa vida de brasileiro, em cantar, aves que gorjeiam As crianças só pensam em chorar, E não de brincar. lágrimas caem, respeitar.
Não gorjeiam
Onde Que gorjeiam não
Só pensa Por isso que as Não gorjeiam como lá.
Por isso que as Por que não pensa em
MICHELLE ADLER NORMANDO DE CARVALHO São Luis – MA - 14 de novembro de 1979. É Psicóloga. Especialização em Psicologia Hospitalar pela FAMA (2005), Especialização em Psicopedagogia pela UNDB (2008) e mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão (2010). É Professora universitária da Faculdade Pitágoras - São Luís e da Faculdade do Maranhão- - FACAM. Faz parte do Banco de dados de avaliadores de cursos de graduação do INEP/MEC. O HOMEM GONÇALVES DIAS Indianista humanista tuas palavras traduzem lutas traduzem amor traduzem vida Gonçalves Dias!!! No romantismo estás também... encontraste o amor que tanto querias e te encurralaram num beco sem saída entre o amor de Ana Amélia e a amizade da sua família abdicaste a ela ficando com a tua alma marcada em fogo eternamente ferida... No mar encontraste paz entraste para a eternidade por fim a gloria... por fim guarida!!!
MIKAELLE CRISTINA DOS SANTOS CANTANHEDE Sao Luis – MA – 18/09/2000 – EPFA Cursando: 5º Ano
Turma: C
Profª Shirle Maklene
TEU ORGULHO NASCEU! Caxias do Maranhão canta teu canto que teu orgulho nasceu! Orgulho que nasceu, cresceu em busca de conhecimento, de novos saberes de questionamentos inexplicáveis. Gonçalves Dias foi você que muitos querem entender, aprender com teus versos e contos como escrevestes com verdade! O que não sabíamos é que um dia a água te encobriria, E a nós resta até hoje lembranças tuas e da linda cidade de Caxias!
MILENA ADLER NORMANDO DE SÁ São Luís – MA –01/1976. É formada em Contabilidade. É mãe de João Marcelo e Lara. O AMOR DE GONÇALVES DIAS Ele Amou o seu olhar... A amou à primeira vista Grande alegria!... Porque Ana Amélia o correspondia!!! Por ser mulato não a pode amar ... Seu grande amor se perdeu... não o pode realizar!... Amor eterno, Amor pleno, Amor verdadeiro, ANA AMÉLIA, Esse era o amor do eterno poeta altaneiro!!!
MYLENE DOS SANTOS SIQUEIRA São Luis-MA - 03\01\2001. Motivo da Participaçao: Eu gostaria de participa da Antologia poética por que será uma grande ortunidade para mim, ter minha poesia sendo lembrada por todos e ser lembrada por este poeta maravilhoso. MINHA TERRA Minha terra tem história, Que acabaram de chega. No Centro Histórico É um lugar de se encontrar Nosso céu não tem quase estrela, Mas eu ainda gosto deste lugar. Minha terra tem praias, Para gente se encontrar. Hotel de frente pro o mar, Minha cidade tem curiosidades. Que você vai gostar, Mas só vai saber se vir olhar.
RAQUEL CAMPOS PEREIRA São Luís – MA - 01/08/2001. Escola Paroquial Frei Alberto. Motivo da participação: Eu achei muito importante as poesias de Gonçalves Dias. Por isso quero também fazer parte dessa homenagem a ele porque suas poesias fazem sucesso até hoje. GONÇALVES DIAS É IMORTAL Gonçalves Dias, Homem de grande valor Professor e escritor Um homem Que com amor, batalhou Até conseguir o que sonhou Ser um escritor de grande valor Morreu num naufrágio Na costa do Maranhão Querendo voltar Para ver seu torrão Que pena! Gonçalves Dias Não pode ver o dia Da volta com alegria, Mas deixou sua poesia É imortal, Antonio Gonçalves Dias
SIMONE PINHEIRO São Luís – MA – Graduanda no 6º período em Letras/Portuguesa na Faculdade Atenas MaranhenseFAMA. Pós graduanda no 1º período em Libras na Faculdade Santa Fe. Surda. QUERIDO POETA Meu Poeta Maranhense, guardo ti em meu peito amado com muito zelo, seus versos gloriosos. É um forte guerreiro como um sabiá a cantar em nossa terra maranhense, um sonhador que escreve poesias a tocar os corações do nosso povo maranhense. Poeta!Sonhador!Sol fulgurante nos nossos corações. Poeta!Seus versos jamais serão esquecidos! Seus versos serão sempre lembrados em cada boca saído pelos poetas e povos maranhenses. Ao recitar suas maravilhosas poesias enriquecido pela nossa Literatura Maranhense, e lembrando o quão poeta foi no passado ainda hoje e ainda hoje você é um poeta guerreiro.
CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem poesias, Onde recita os mais lindos Versos do nosso poeta Maranhense! As poesias, aqui recitadas Não são esquecidas. Nossos versos tem mais emoções Nossas palavras tem mais encantos Nossas recitações tem mais alegrias Nossas poesias mais valores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro nas suas poesias Minha terra tem poesias, Onde recita os mais lindos Versos do nosso poeta Maranhense! Minha terra tem poetas, Que recitam suas poesias, Oh Gonçalves Dias!; Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro nas suas poesias Minha terra tem poesias, Onde recita os mais lindos Versos do nosso poeta Maranhense! Não permita Deus que eu esqueça, Jamais do meu poeta amado; Sem que desfrute os versos desse guerreiro amado Que tanto amo; Quero sempre encantar com os versos e levar ao povo maranhense A sua poesia recitada.
POETA GUERREIRO Nasceste no lugar humilde Filho de um português e de uma mestiça Onde viveram na nossa terra maranhense. Gonçalves, lutador pela sua pátria amada És um poeta amado, um poeta brasileiro E um poeta maranhense. Tu cantas seus versos dos mais vivazes de coração e alma Onde encantam as almas maranhenses Sentindo o sabor das suas palavras encantadas. Poeta, poeta, meu amado poeta Tu jamais serás esquecido com os seus versos em nossos corações Viva Gonçalves Dias!
POETA DAS MARAVILHAS Um guerreiro do Sol, maranhense, forte, inabalável, assim é o nosso Gonçalves Dias um homem de forte inspiração. Um poeta de grande destaque, um celebre ao povo maranhense e ao povo brasileiro Veja meu povo! Quão grande é ele quão grande foi um sonhador... Vamos meu povo inspirar as suas poesias... Suas poesias inabaláveis em nossos corações no qual seus versos eram seus sonhos e que nos fez sonhar também!
SONHADOR INSPIRADOR DE POESIAS Um sonhador que subia no mais alto sonho Um sonhador arrebatador de corpo e alma Um sonhador que encanta qualquer um com Com suas belas poesias recitadas. Assim é o Poeta! O nosso Gonçalves Dias! O poeta do povo maranhense! Um sonhador que inspira sentimentos sublimes Ao escrever em cada folha de papel, As suas palavras voam ao ar, Voam aos sentimentos, Voam aos corações de quem as suas belas poesias. Assim é o Poeta! O nosso Gonçalves Dias! O poeta do povo maranhense! Gonçalves Dias, meu grande, real e inspirador poeta Você me conquista com suas pequenas poesias suaves Um poeta inspirador em palavras poetizadas. Viva !Viva Gonçalves Dias!
TAYSA LEITE LIMA São Luis – ma. Escola Paroquial Frei Alberto
GRANDE POETA Gonçalves Dias tinha alegria E muita harmonia Vivia em paz e união, Seu dever era com a poesia Ele escrevia noite e dia. Ele tinha amor por sua cidade Nela tinha sua felicidade Pois Deus lhe chamou e Deixou só saudades. Mas suas poesias Continuam a viver. Para a todos lembrar E nunca esquecer.
VITÓRIA MARIA GALVÃO COQUEIRO São Luis – MA – 06/04/2002 - EPFA - Motivo da Participação: Foi a vontade de contribuir nesta homenagem a um poeta maranhense especialmente da cidade de Caxias. Cursando: 5º Ano Turma: C Profª Shirle Maklene
O PEQUENO MENINO POETA Quem imaginava que nasceria um poeta menino. Menino que na infância brincou. Homem que na alma poeta se formou. Na arte de viver conseguiu vencer. Venceu desafios e aprendeu línguas. Homem que a Deus pedia, Que não o deixasse sem ir a cidade de Caxias!
YASMIM VICTORIA DOS SANTOS CANTANHEDE São Luis – MA – 09/03/2002. Motivo da Participação: A competição comigo mesma de viajar pelo mundo encantado da poesia. Cursando: 5º Ano - Turma: C Profª Shirle Maklene EPFA
OH! SAUDOSO Gonçalves Dias deu a vida ao imaginário. Encantando quem sua poesia ler. Um grande poeta foi. Oh! Saudoso. Hoje teus versos são fáceis compreender. Privilégios das águas! Que banham com sua sabedoria. Cada onda, cada espuma. Oh! Saudoso Gonçalves Dias.
AS LITERATAS
ANA ELISA MERCADANTE52
Ana Elisa Viana Mercadante nasceu em São Luis do Maranhão em 1926. Poeta, diplomada em Letras (1945), diplomada em Medicina (1953), médica psicanalista. Autora de "Os ritos da noite". PERFEIÇÕES53 No ubíquo mar da minha inveja nadam e surfam jovens seminus Na pele espelho, o sol imprime ouros. Montando águas, potros luzidios empinam ondas. Sobem na tensão turbando arcos verdes de cristal. Se lançam: setas ávidas de vida rasgando espumas. Ícaros do mar se escondem. Pumas se embrenhando em ventres vão grafitando nomes de água e sal. Ressurgem lassos de êxtases de espasmos mas já buscando a volta, o renovar. No horizonte vagas perfeições formam volumes, planos e apelos. No leito seda, as curvas destruídas, em letargia, afagam pés que fogem. São deuses. Deuses alheios ao meu mau olhar.
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ttp://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/ana_elisa_mercadante.html Extraídos da revista POESIA SEMPRE, ano 9, número 14, agosto de 2001. Edição da Fundação Biblioteca Nacional.
GINÁSTICAS54 Tirana de seus eixos e seus fulcros, asseia em óleos íntimas roldanas. Não óleos bentos, certamente lúbricos, óleo de peças amoldando atritos. Em tácito controle de seus músculos apura sempre as modernas juntas, aptas à luta pelas endorfinas, a exalar suor e feromonas nessa rotina de correr pelas ruas e de repente disparar de susto. Aptas à guerra santa ou pulcra dessa rotina de correr sempre por camas e competir por nota em Kama-sutra.
NOITES55 I Em mim as noites rimam seu cansaço. As dúvidas. A trágica certeza Envolta no mistério desse abraço. Lembranças. Vozes frescas de surpresa amarelinhas pulam verdes passos. Em prometida cena de beleza sementes plantam corpos no embaraço. Escorrem dores da úmida represa. Em mil e um dos contos já contados Restam assuntos nunca divididos. De malas prontas, amarrados cintos, sonham viagens barcos ancorados. Aguardam rotas. Rumo decidido. Ilhas insones de vulcões extintos.
O DOCE PÁSSARO 56 Em raros, cada vez mais raros, momentos, certos movimentos, às vezes bruscos, outros lentos, tão ágeis modos de energia, passos ou estender de braços em graça e planos de harmonia, em curvas firmes de amplitude, me instalo em breve mocidade.
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Extraídos da revista POESIA SEMPRE, ano 9, número 14, agosto de 2001. Edição da Fundação Biblioteca Nacional. De Os Ritos da Noite (Rio de Janeiro: Sel Editora, 1999 56 De Os Ritos da Noite (Rio de Janeiro: Sel Editora, 1999 55
Indiferente ao tempo rude. tendo por dote o infinito e por presente a eternidade.
MIRAGENS 57 Os versos tristes surgem dos meus prantos, Banhados pelas ondas, pelos sais, Dos frios, insistentes mares, tantos Que me anunciam eras glaciais. Se há restos de ternura pelos cantos, Há tênues sóis que não me aquecem mais. Vestiu-me a idade em castigados mantos Precários nas arenas invernais. Porém se a noite volta-me ao passado Retorno em alegrias, esperanças, Antigas cores, jovem ao teu lado, Oásis vivo à seiva de lembranças. Rebelde ao tempo, o sonho, em seus ardis Sempre floresce em quem já foi feliz.
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Poema publicado em “Poetâneas 5” em Portugal, com a coordenação de Julião Bernardes, em 2006.
ANDRÉA LEITE COSTA58, 59
Por entre as nossas poetisas contemporâneas, pudemos contemplar, também, aquelas que ainda estão transpondo o umbral da arte maior, como Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline (na sequência) ... aquela, recém-graduada em Letras (Uema-2009), vencedora de alguns concursos literários locais e já com poemas publicados em Antologias do gênero, aqui também selecionada para representar as autoras iniciantes na Partícipe de concursos literários, a poetisa, que já tem o seu poema Dor, publicado na Antologia de Poemas do 1º. Concurso Cânon Ltda, lançado na Bienal de Literatura de São Paulo, em 2008, é premiada (2008) pelo Concurso anual da Univima (Universidade Virtual do Maranhão), nas categorias poesia e conto, com o poema Ele não tem nome, mas não diz e o conto O silêncio dela – em que reflete sobre as investidas do ser humano em sua própria vida, como num mergulhar no íntimo para ir além do aparente. ELE TEM NOME, MAS NÃO DIZ Me tragam um poema de carne que é pra eu comer, um poema com sangue pingando, que me empape os cabelos, um poema ainda gritando de dor. Retirado da costela da mulher transformando o homem em letra e pó. Ah, um poema berrando feito porco quando vai morrer... Aquele berro de desespero que se grava na memória e não se vai e não se esvai. Um poema que fique, que não morra por qualquer motivo vão! Tirem daqui estes poemas com cheiro de papel A4, estas gírias trabalhadas não comovem nem um traço nem os trocadilhos que troca com o asco mesmo que eu me contradiga (não o diga!) Ele tem nome, mas não quer dizer! Mas, vejam só, ele existe. E está entre vocês. O poema que não sofre rejeição que não anda por aí de fèche-clair aberto, que não corta o cabelo aqui perto, e samba toda sexta no seu domingo, não me é poema. Quero ver é quem esquece o choro do porco quando vai morrer! Isso sim daria o mais sofrido dos poema e conteúdo para toda a poesia!
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CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/
HOMENS DE PAPEL (a Thiago de Mello e Affonso Romano de Sant'anna)
Os poetas são tão jovens, De uma velhice tão terna, De uma velhice que não envelhece... Os poetas são tão castos, Tão moços, tão vastos, Tão pornôs, tão machos. Esses homens são tão brandos, Fios de seda, cabelo branco, São tão lindos em suas caras limpas, Em suas faces magras. Esses caras têm um caminhar festivo, Um jeito de quem sempre tem algo a dizer, E aquele ar de verdade absoluta... Eu os sigo, os poetas, Os sigo, pra perceber para onde se vão, Que caminham que tomam, qual é seu percurso, E eu os chamo, vacilo, Eles se viram, eu me calo... E fujo.
DOR De lagarta parva e feia, torno-me borboleta Trago minhas asas no alvedrio dos céus Entardece, e a penumbra me aprisiona Transformo-me, pois, em vaga-lume, E arrebatado, esbanjo minha luz, Ao sombrio que antes me reteve. Conforme o sol nasce, não há mais luz, nem brilho nenhum abatida, rastejo feito cobra, Mas meu corpo não é pro mar, Sou peixe, agora, mas até certo ponto, O mar é pequeno demais pra minha solidão, A tristeza torno fúria e viro fera. O gosto de sangue e o cheiro de dor, Me acalenta a tristeza, se não posso amar, Restam-me as presas e as garras. A minha violência não me parece bastar, Torno-me homem, pra não precisar ser.
ANGÉLICA MARIA SEREJO COSTA Escritora e poetisa maranhense. Residente em Belo Horizonte - MG há mais de trinta anos. É membro do ArtForum Intemacioanl Brasil.
LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
BARRANCO DO OLHO D'ÁGUA Barranco do Olho d'água onde sentei tantas vezes olhando subir o mar... Barreira caindo na cheia quando a lua, lá no céu, fica piscando pro mar... Grande maré de minha terra, maré alta, cheia, longa, maré cheia, longa areia tão boa de caminhar... Praia grande, tão deserta, por vezes deserta de mar... mar das grandes marés cheias, grandes baixadas de mar... Olhando este céu imenso, olhando este imenso mar que meu olhar não alcança em que mais posso pensar?!... Isto vale toda a vida que me deram pra valer... O mar cheio, barulhento, imensa areia de mar céu imenso, lua cheia, e que, sentada na areia, cismando o nada cismar...
APOLÔNIA PINTO60
A ARTISTA ATENIENSE Um acontecimento denominado pela imprensa escrita de “a consagração pública de Apolonia Pinto” (HOJE ..., 1947)61 é ilustrativo para apreendermos uma série de significados do mito da Atenas Brasileira no período em análise. Tratar-se-ia “da mais justa homenagem” que “O Maranhão através de suas classes intelectuais e do seu próprio povo” teria prestado “àquela que em vida soube ser fiel ás nossas tradições de cultura, enriquecendo com o seu extraordinário talento e a sua cultura dramática, o nosso patrimônio mental” (ESTÃO ..., 1947, grifo nosso)62. Apolônia Pinto nasceu a 21 de junho de 1854 num dos camarins do teatro Artur Azevedo. Em 1896, quando foi a Portugal a bordo navio francês “Chili” em busca de um especialista em doenças auriculares, que impedisse a sua surdez – o que não aconteceu, já possuía uma respeitável empresa teatral no Brasil. Era filha de atores portugueses, Rosa Adelaide Marchety e Feliciano da Silva Pinto e casou-se com o ator Germano Alves da Silva. Foi uma das maiores atrizes de sua época, tendo participado do movimento Trianon63. Passou os últimos dias de sua vida no Retiro dos Artistas, Rio de Janeiro, onde faleceu a 24 de novembro de 1937. Apolonia Pinto é lida, vista e dita como um sinal vivo da Atenas. Ela também poetizou e propagou o Maranhão, como um espaço singular, uma “terra de genios poéticos”, “o coração do Brasil”:
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BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). IN Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br , ISSN 1808-8031, volume 03, p.156-181. O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. 61 HOJE, a consagração pública da grande artista Apolônia Pinto. O Globo, São Luís, 19 de dez. de 1947. Citado por BARROS... 62 ESTÃO em São Luiz os despojos da grande artista que tanto engrandeceu a Atenas Brasileira. O Globo, São Luís, 17 dez. 1947. Citado por BARROS... 63 O Trianon, do qual participou Apolônia Pinto, refere-se ao movimento de eclosão do teatro nacional “moderno”, em contraposição a um outro “velho e decadente” nas primeiras décadas do século XX, no contexto do modernismo teatral. Ver FERREIRA, Adriano de Assis. Teatro Trianon: forças da ordem X forças da desordem. São Paulo: USP, 2004. Disponível em www.usp.br/teses/disponiveis/ 8/8151/tde_03012005221042/publico/trianon.pdf2004. Citado por BARROS... Para Barros (s.d.), “De antemão, é importante notarmos que Apolônia Pinto, em comparação a Gonçalves Dias ou a outros ícones do Pantheon maranhense, é uma figura extremamente artificial. E é exatamente por isso que ela se torna uma imagem paradigmática que serve para ilustrar bem processos de reinvenção da maranhensidade sob os signos da mitologia ateniense. Pelo mito da Atenas Brasileira é possível dar significados, a partir de interesses variados, a determinadas situações e/ou pessoas independentemente da relação destes com os sentidos que pretendem expressar. Os sentidos e símbolos da Atenas Brasileira são manipulados, inventados e reinventados por atores e interesses sociais os mais diversos, em diferentes momentos da construção do Maranhão e do maranhense.Ver BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). IN Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br , ISSN 1808-8031, volume 03, p.156-181.
O CORAÇÃO DO BRASIL Maranhão, terra serena, / Terra de luz e de amôr, na qual se esmerará um dia / a sciencia do Creador. Terra dos genios poeticos, / onde num palco fulgi, Naquelle mesmo theatro / onde a luz primeira eu vi. [...] Maranhão, terra dos sonhos, / “onde canta o sabiá”, Minhalma sempre saudosa / de ti se recorderá. [...] Maranhão, meu solo amado, / que regam aguas do Anil, Serás, em todos os seculos, / –– o Coração do Brasil ! (DUAS ..., 1940)64
A ACTRIZ E A SAUDADE Andei por mares remotos, / andei por longinquas terras, /fitando de longe as serras / do meu sagrado Brasil. [...] E sempre a Saudade, e sempre / no meu peio a magua infinda / de haver guardado a mais linda, / das crenças de uma illusão, [...] Saudade, Saudade eterna, / apenas brilha e se enflora / quando em lagrimas devora / a Dôr que Dôr contradiz. / Saudade, Saudade funda, / profundissima Saudade, / só buscas eternidade / no Coração de uma Actriz. [...] Mas quiz o Destino immenso / que um dia rompendo os mares, / deixando os verdes palmares / da minha terra natal, / contemplasse as lindas ondas / que um dia, aos beijos, sorrindo, / mostraram-me o aspecto lindo, / das terras de Portugal ! [...] Se porventura quizerem / os genios da nossa idade / saber se dóe a Saudade, / se ella fala e o que ella diz, / se porventura quizerem / traduzir-lhe os vãos gemidos / venham juntar seus ouvidos / ao Coração de uma Actriz ! (DUAS ..., 1940) 65
Que dor! Que saudade sinto desses montes sem rival, ouvindo o canto indistinto que me fala em Portugal! Ó berço de amores santos, ó berço de estranha luz, enxuga-me, agora, os prantos que verto aos pés de Jesus! E sonho, se vejo as montanhas onde a nave estende o véu, sorrindo as gotas estranhas do orvalho que vem do céu. Maranhão, meu solo amado, que regam águas do Anil, serás em todos os séculos — o coração do Brasil. Se louros tivesse um dia por estes papéis que fiz,
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DUAS poesias de Appolonia Pinto. Revista Athenas, São Luís, 01 dez. 1940. DUAS poesias de Appolonia Pinto. Revista Athenas, São Luís, 01 dez. 1940
manda-los-ei com meus beijos ao povo de São Luis. Palmeira, verde palmeira, que tanta beleza encerra, parece dizer-me ao longe quanto é doce minha terra.
AURORA DA GRAÇA ALMEIDA66
Já no batismo lhe deram a sina de poeta: Aurora da Graça Almeida (pois é, meus caros, ninguém se chama Aurora da Graça de graça, convenhamos). Trata-se de uma poeta nascida no Maranhão, apenas nascida – ela, em verdade, é do mundo. Difere da grande maioria dos poetas brasileiros, sempre ávidos por aplausos e holofotes. Ela é silenciosa como a poesia que produz. Uma poesia à meia-luz. Há alguns meses – sim, estou sendo inconfidente – iniciamos um diálogo epistolar, a literatura no centro. Na segunda-feira, 28, deu-me um presente soberbo: livros. Charmosamente entregues pelos Correios. Num dos livros descobri um marcador de livro, no marcador um poema de Aurora da Graça Almeida. Gostei muito. Escrevi-lhe imediatamente pedindo autorização para publicá-lo aqui. Educada, aceitou. Bom, leiam o poema de Aurorada Graça Almeida. Tenham um bom fim de semana. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/aurora_da_graça.html
CACO DE ESPELHO67 hexágono pontas de luz. E por dentro um eu de lata forja o salto para ver-se mover-se entre o que é e o que sonha. Eu contido aço ferrugem lata prisão nas pontas cegas ofuscadas de tanta luz.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/aurora_da_graça.html GRAÇA, Aurora. O tempo guardado das pequenas felicidades: uma poesia relida e reunida – Memória da Paixão, Nó do brilho, Cavalo dourado. São Luis: 2009. HTTP://WWW.ANTONIOMIRANDA.COM.BR/POESIA_BRASIS/MARANHAO/AURORA_DA_GRAÇA.HTML HTTP://WWW.ROBERTOKENARD.COM/POLITICA/2013/11/02/UM-POEMA-DE-AURORA-DA-GRACA-ALMEIDA/ 67 GRAÇA, Aurora. O tempo guardado das pequenas felicidades: uma poesia relida e reunida – Memória da Paixão, Nó do brilho, Cavalo dourado. São Luis: 2009.
CORPOREIDADE Voz e palavra signos perfeitos para desvendar e entender o ser contido na argamassa do corpo ao mostrar-se parece inteiro aparência não ousa denunciar o que lhe corta os fios duros dos ossos as veias cavas rios inavegáveis moldam a travessia qualquer porto arremata a viagem.
2 O avesso é o que não se pode ver ou é a melhor visão? é o contrário? é o corpo por dentro? é o que dói? é a dobra dos segredos ou é a melhor costura? é a invenção do sonho ou o melhor enredo? é a simplicidade ou a cumplicidade? — ou é o que não se quer ver nem sentir?
JANELAS INVENTADAS Qualquer sopro te abriu os olhos . antes que o sol invadisse as frestas das janelas invisíveis que a noite arquitetou ao teu redor a inquietação da noite infringiu teu sono infantil e leve te arrancou dos lençóis e te postou cara a cara com o mundo letra por letra.
TECELÃ De tanto esperar o dia (posseiro da claridade) costurei as nesgas da noite e fiz cama para o sonho teci nas gotas de orvalho de cada folha caída a bússola imaginada para o sol se orientar e de tanto olhar o escuro enxerguei o brilho exato que o ser mostra ao acaso quando se vê sem a máscara temporária da servidão.
FULGURAÇÃO A rosa emerge solitária da sombra vem coberta —véu de giz sua máscara inventada é caule e corpo do que afaga e contradiz alguma luz de rastro exige permanência adia o escuro.
A MULHER DO POVO A mulher simples no bar do porto seduz a chuva com seu olhar inconcluído o seu caminho refaz no porto o seu andar a mulher simples no bar do porto deseja encalma a soluçar sua vida longe do que é mar
TELHA VÃ No ventre da noite o som do mar está perto dos ouvidos colado no coração o som do mar e o som da noite no peito o som do mar contínuo noturno vem com as marés cala na lama seca o som do mar entontece meu sono escorado nas telhas antigas da noite.
PARTILHA INÚTIL Compartilho a noite a sombra a muda escuridão compartilho a noite a cama cálido vazio compartilho a noite o medo e o silêncio do vento vadio.
TRÉGUA Um olho calmo espreita o dia buscando um salmo para esta agonia descubro em tempo meu corpo em brasa minh´alma solta criando asa.
SÃO LUIS Tantas escadas e ladeira pra subir tanto calor escondido nos telhados tanta febre abrasando no meu peito.
VERTIGEM Meus dias voam como balas meus olhos secos como talas meus ossos fracos como varas meus versos loucos como taras.
CYNTHIA ESTEVES DE ANDRADE Nasceu em 18.12.1979. Desde menina mostrou-se inclinada às artes: dança, canto, desenho e prosas poéticas, muitas, ornamentadas com beleza ímpar. Cursa Letras e Comunicação Social no CEUMA. Em maio de 1998 ganhou Menção Honrosa com a poesia "Eu Queria" no 1º. +Concurso e Recital de Poesias do CEUMA.
PSICODÉLICA Estou eternamente grávida de mim J á pari mais de milhões de eus Não sei quem sou Sou? Nem isso sei Morrer... Não é o bastante Desaparecer... sumir Dentro de mim Longe daqui Ausência sem dor Sofro por ser quem não ser quem sou Sofro por sofrer... Minhas lágrimas secaram Não deixaram de existir Estão secas, só Ásperas Descem queimando meu rosto Aniquilando, esmagando Sangro Não sei por onde, de onde... Ás vezes em forma de flor Sangro, sangro mais... Vazio...silêncio... Não ouço mais as ondas do meu mar vermelho Me afoguei em mim Se sou... LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
DANIELLE ADLER NORMANDO
Danielle Adler Normando. Nasceu em 10-03-1974, em São Luís/MA. É pedagoga e poeta. Tem participação em Oficina Caderno de Poesia - RJ
LÁ (GRIMA)
Tua lágrima cai dentro da saudade. Fica... Ilumina o momento efêmero indescritivelmente terno puro singular! Tua lágrima cai dentro de mim. Marca a doce saudade do momento. Eterniza-se em nós. LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
DINACY CORRÊA FEITOSA
DINACY CORRÊA FEITOSA nasceu em Vitória do Mearim, no Maranhão, a 14 de novembro de 1947. Ensaísta, pesquisadora de cultura popular, mantém constante colaboração na imprensa de São Luís. Detentora de diversos prêmios literários, foi bolsista do Programa Bolsa Trabalho/Arte. E concludente do curso de Letras da UFMA. Publicou 0 Teatro na obra de Ferreira Gullar; dois en-foques (São Luís, UFMA, 1980) livro que, de parceria com Euclides Barbosa Moreira Neto, reúne os dois trabalhos vencedores do III Concurso Literário da UFMA, em que à biografada coube o 1º. lugar. Em 1981 lançou Um cordel para São Benedito, e recebeu, por seu ensaio "Odylfada", o premio instituído pela Academia Maranhense de Letras para o melhor trabalho sobre a vida e a obra de Odylo Costa, filho. Com "São Luís: naturíssima trindade", conquistou o 4º. lugar no II Festival Universitário de Poesia Falada. No ano anterior participou" desse certame com o poema "Legendas emblemáticas". (Texto de 1981, extraído de:)
NOVOS POETAS DO MARANHÃO. São Luís: Edições UFMA, 1981. 79 p ilus 15 x 22 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
SÃO LUIS: IMATURÍSSIMA TRINDADE (trioleto poético) Dinacy Corrêa Feitosa I IN VÍDEO (ENTRE PALAFITAS E AZULEJOS) A Aqui da telejanela Ondula em tom flutuante Minha voz palafitada.
Canto abraços de horizonte Nesta manhã fulgurante No vídeo vede a novela: Enfeitado de lacinhos cabelos do mar - sorrindo ao sol/namorado. Lindo!! Idílios de Mar e Sol Cantigas de Sol e Mar No coral da Natureza Minha Ilha tem belezas Vozes d'água a marulhar Em conluios sobre a areia Onde as ondas vão quedar (Ah! minha doce Ilha Canto e Poesia Céu e Mar e Sol Sol Mar e Luar Ilha à Beira Mar)
B Aqui da telejanela Flutua deste mirante Minha voz azulejada. Canto abraços constelados Nesta noite de brilhantes No vídeo vede a novela: Da noite, luar e estrelas o colo em colar enfeitam e o mar em noturno seio fulge imagens liquefeitas! Idílios de Noite/Mar Sonata em coro estelar No coral da Natureza Um violão que plangeia Vozes d'amor ao luar "A glorious night and day" Mar e. Ceu a orquestrar
(Ah!' minha trilogia Doce maresia Céu e Mar e Sol Sol Mar e Luar Ilha à Beira Mar)
II IN AUDIO (VOZES DA CIDADE) Maranheia! Maranheia! Maranheia! Maranheia! Que o mundo vibra lá fora E a noite ja abriu suas flores 0 tempo rebenta em luzes A cidade ergue suas vozes... No Ribeirão a Fonte é jorro De música em sinfonia Enquanto Zezé flauteia Nas pedras de cantaria... E o coração sertanejo Se transplanta no azulejo No vozear de Josias... Ubiratan divineia E Alcântara se alteia No "beco da escadaria"... Chico Maranhão pastoreia E o toc/toc incendeia 0 coração desta Ilha Mãe de ostras e siris camarões e sururus e caranguejos do mangue palmeiras e juçareiras praia, mar, ponta d'areia... Mara, Maranhei... eia! Maranheia! Maranheia! ... e a Naturíssima Trindade destilada em poesia canta em voz de palafita e azulejo faz apelo:
OOOõôõ "Rabo de Vaca"! Eia!]... "Levanta a Poeira"!! Vamos, "Pega pra Capar" !!! QUE E HORA DE GRITAR que esta Ilha e nossa que este Ceu e nosso e que é nosso este Mar Eia! Maranhei... ah! Maranheia! Maranheia! Maranheia! Maranhei ... ei .
III IN SENTIO (CARNA(VÁL)VULA DO POVO) É carnaval... - Carnaválvula de escape (de sufoco, opressão e desespero) Sai, meu povo... 0 frenesi te chama A explosão dos anseios e desejos reprimidos Em trezentos e sessenta e cinco dias/noite Mal vivi(dormi)dos... Sai, rasga o manto da agonia E traveste a melancolia Em mascaras e fantasia... Maravilha! Vai cantando, vai gritando Vai sambando e transmutando Tua dor em alegria Na alquimia da folia Entre aljôfares de euforia Da cachaça em maresia... Abre o peito e ergue tua voz Deixa escorrer o teu rio Suor/sangue dos teus sonhos Consumidos Entre bolhas de ilusões Perdidas. Cai no ritmo, no delírio No gingado dos teus passos Ritmados, tresloucados... Vai cantando, vai dançando, te alegrando Que a Escola vai passando E agitando... Sacodindo, eletrizando Os átomos desta Cidade... Fecundada Com o sémen da Liberdade... Orgasmado No útero da Poesia... Ejaculada No coração desta Ilha...
Derramado na Avenida No batuque que anuncia Nova Luz... Muita alegria à terra de Gonçalves Dias Carnaval... VIVA A FOLIA!!
LEGENDAS EMBLEMÁTICAS Dinacy Corrêa Feitosa Quem entenderá... a legenda desta síntese o segredo destes óculos escuros o emblema desta roupa nova? Ah.' meu escudo meu protesto Vi meu amor... Mirava-se em espelho azul encantado de outros céus. Fazia que nem me via! Filhas de Jerusalém... se o virem por aí, o meu amado, gritai: "Enquanto riem, o poeta e a nova musa, - dois copos de coca-cola, em cada mão um misto quenteOS FILHOS DE ISABEL PASSAM FOME!"
ELZA PAXECO MACHADO
Elza Fernandes Paxeco (São Luís, 6 de Janeiro de 1912 — Lisboa, 28 de Dezembro de 1989) Foi professora, filóloga e escritora68.
Vamos seguir, aqui, a apresentação que sua neta, Dra. Rosa Machado, fez69: Nasceu em São Luís do Maranhão, a 06 de Janeiro de 1912 na Rua da Palma, nº 38 – na casa de seu avô materno Luís Manuel Fernandes, sócio da Firma “Luis Manuel Fernandes & Irmãos, importadores e exportadores”. Aí passou sua infância com seus pais, ele Manuel Fran Paxeco (1874-1952) 70 português de Setúbal - jornalista e diplomata, ela maranhense de São Luís que lhe propiciaram um ambiente requintado, culto, de padrão bastante elevado. Para além do ensino normal, aprendeu a tocar piano, a dizer poesia, a desenhar etc., com professores das especialidades71. 68
https://pt.wikipedia.org/wiki/Elza_Paxeco Fontes
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, s.v. «Elza Paxeco». vol. 20, pgs. 696-967. Lello Universal: Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro. Porto: Lello & Irmão, 1980, 2 vols., s.v. «Elza Paxeco», II vol. pg. 487. OLIVEIRA, A. Lopes de; VIANA, Mário Gonçalves. Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis, s.v. «Elza Paxeco». Porto: Lello & Irmão, 1967, pg. 1038. PORBASE Base nacional de dados bibliográficos. A Universidade de Lisboa Séculos XIX e XX, Vol.II / Coord. Sérgio Campos Matos, Jorge Ramos do Ó [ et al.] Lisboa, Tinta da China, 2013. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Elza_Fernandes_Paxeco_Machado.jpg https://www.facebook.com/418088872283919/posts/426860654740074/ https://aviagemdosargonautas.net/2012/01/06/homenagem-a-professora-elza-paxeco/ https://pt.linkfang.org/wiki/Elza_Paxeco#cite_ref-2 https://pt.linkfang.org/wiki/Elza_Paxeco#cite_ref-2 https://www.myheritage.com.br/names/elza_machado 69 MACHADO, Rosa Paxeco. In correspondência particular, via correio eletrônico, enviada em 1º de setembro de 2020, a pedido dom autor 70 https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco http://www.academiamaranhense.org.br/manuel-francisco-pacheco/ https://www.wikiwand.com/pt/Manuel_Fran_Paxeco https://www.youtube.com/watch?v=YW0qjkslz_8 https://www.youtube.com/watch?v=ABZnuy10cIw https://www.youtube.com/watch?v=-qTepbtKZ-4 https://www.youtube.com/watch?v=-qTepbtKZ-4 http://cev.org.br/biblioteca/fran-paxeco-e-educacao-fisica-maranhao/ http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe7/pdf/05%20HISTORIA%20DA%20PROFISSAO%20DOCENTE/FRAN%20PAXECO%20LENTHE%20DA%20REVITAL IZACAO.pdf https://www.diretodoplanalto.com.br/2019/07/juiz-sem-juizo-o-caso-fran-paxeco-por.html 71 Informa Rosa Machado: Ainda não consegui saber onde ela terá estudado em criança, embora tenha andado a bater a várias portas; Colégio Santa Teresa, Secretaria da Educação, Inspecção Escolar, mas os arquivos não estão muito disponíveis.
Isabel Eugénia Cardoso de Almeida Fernandes (1879-1956) natural de São Luís, também era filha de um português, mas de Lamares, Vila Real e de uma maranhense de São Luís: Rosa Cândida Cardoso de Almeida Fernandes (1845-1912) que por sua vez também era filha de outro português (de Cascais) e de outra maranhense, mas de Santa Maria de Icatú. Ele, Máximo Cardoso de Almeida (1816-1876) foi dono de engenho de açúcar, capitão de longo curso, dono do barco “Rosabella” e ela, Ana Joaquina Jansen da Silva (1827-1872) era, segundo constam, sobrinha de “Donanna” Jansen. Quando sua família partiu definitivamente do Brasil para a Europa (em 1925), foi carregada de recordações poéticas, musicais, etnográficas; de estórias, cheiros e cores, sabores e sons... De que falará com saudade, desgosto, ciente que nunca mais voltaria a São Luís. Citava Gonçalves Dias mal chegava a Primavera... Inteligente, imaginativa, sonhadora, boa aluna, estudou com sucesso num convento católico jesuíta no Reino Unido, o Upton Hall School a Nordeste72, até entrar para a Universidade de Gales73, onde se formou em Filologia Românica e Filologia Germânica com altas classificações – Honours Summa cum Laudes.
Mais tarde, durante dois anos para a Universidade de Londres74 para fazer outro curso, de especialização, Master of Arts. Tudo para grande contentamento de seu Pai, que muito admirava e venerava; e de sua Mãe que lhe marcou muito a vida pelos objetivos demasiado ambiciosos que lhe traçou e que lhe marcaram toda a vida.
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https://en.wikipedia.org/wiki/Upton_Hall_School_FCJ https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_do_Pa%C3%ADs_de_Gales 74 https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_de_Londres 73
Quando foi para Portugal, frequentou durante dois anos a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa75, a fim de tirar as cadeiras de equivalência que lhe faltavam, as de Literatura e Filologia Portuguesas, História de Portugal e Descobrimentos. É nesta fase da sua nova vida académica que conhece outro aluno, que alguns anos mais tarde se tornaria seu marido: José Pedro Machado76, que frequentava o mesmo curso de Filologia Românica. Foi a primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Outubro de 1938), tendo obtido aprovação por unanimidade. Era, nessa altura, o mais novo dos doutores, com apenas vinte e seis anos. Fez um estágio de dois anos no Liceu Pedro Nunes77 e foi chamada para a Faculdade de Letras da mesma Universidade, onde ensinou como leitora de Francês entre Fevereiro de 1940 e Outubro de 1948, quando foi exonerada a seu pedido; igualmente regera as cadeiras de Literatura Francesa e de Língua e Literatura Inglesa, tendo ainda feito parte de júris de admissão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros78. Casou em 04 de Setembro de 1940 com José Pedro Machado, tendo dessa união nascido três filhos: Maria Helena (1941), João Manuel (1943), Maria Rosa (1946). Por indicação de Alfredo de Assis79, representou em Portugal a Associação das Academias Brasileiras de Letras80. Foi eleita sócia correspondente da Academia Maranhense de Letras 81, exatamente para a cadeira Número 5. No ano letivo de 1960-1961 ensinou Francês na Escola Industrial Afonso Domingues82, escola onde o seu marido era professor efetivo e nesta altura tinha o cargo de Diretor. 75
https://www.ulisboa.pt/unidade-organica/faculdade-de-letras https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Pedro_Machado 77 https://pt.wikipedia.org/wiki/Liceu_Pedro_Nunes 78 https://www.portaldiplomatico.mne.gov.pt/ 79 http://www.academiamaranhense.org.br/alfredo-de-assis-castro/ 80 https://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Brasileira_de_Letras 81 http://www.academiamaranhense.org.br/ 82 https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Secund%C3%A1ria_Afonso_Domingues. A Escola foi fundada no dia 24 de Novembro de 1884, funcionando numa casa alugada a João Cristiano Keil na Calçada do Grilo, nº 3-1º, que abriu com 53 alunos. Na altura a escola denominava-se Escola de Desenho Industrial Afonso Domingues, onde eram ministrados os cursos diurnos de Desenho Elementar e os cursos nocturnos de Desenho Industrial e, 76
Nunca deixou de ter contato com São Luís, nomeadamente com a família do Dr. Aníbal de Pádua, com quem sempre se correspondeu, através de quem ia tendo notícias da sua terra natal. Com a família Guedes de Azerêdo que também estava em Portugal, compartilhava laços de São Luís e também laços de família, pois Alfredo (filho) foi o padrinho de baptismo de Maria Helena, uma de suas filhas. Doou a esta cidade, mais propriamente à Associação Comercial do Maranhão, dois quadros pintados a óleo que lhe eram muito queridos, um representando o seu Avô, Luis Manuel Fernandes, da autoria de Franco de Sá, e o outro seu pai, Fran Paxeco, da autoria de Paula Barros, em duas grandes caixas ao Sr. José Tércio de Oliveira Borges que os trouxe para São Luís, isto em 1957. Era sócia da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade de Língua Portuguesa. Faleceu na madrugada de 28 de Dezembro de 1989 na sua casa em Lisboa, na Rua Leite de Vasconcelos, vítima de uma úlcera no duodeno.
GATO PRETO EM TELHADO DE ALFAMA Gato preto de Alfama no telhado Lá em baixo, ao longe. No terraço nu de ladrilho vermelho Cá em cima, ao lado Uns tufos pendentes verde-brancos hoje Folhas e flores no invernal e velho da Cerca Moura troço desencantado. Sorriso curvo de Reims, o do Anjo (Ou o da Gioconda, porém meio tortelho), Olhar longo de amêndoa voltado. Vê a trocista o vulto e lisonja: “Biche-biche” e já surge um espelho Verde radiante pró norte alçado Na cabeça virada tão séria do monge. Chispa o Raio verde do Sol sobranceiro Aos antigos Paços do Limoeiro. Visto 26-XII-61 - Escrito 1-I-62 Filóloga e ilustre investigadora luso-brasileira, em Portugal, nem no Brasil parece ser recordada. E havia bons motivos para que o fosse; escreveu: - Alguns aspectos da poesia de Bocage (1937). - Acerca da tragicomédia de Dom Duardos (1937). - Essai sur l'oeuvre de Samain (1938) [1] - Graça de Júlio Dinis (1939). - O mito do Brasil-Menino, Coimbra: Coimbra Editora, (1942). - Camões e Elisabeth Barrett (1942). - Nótula sobre negações duplas em português. Lisboa: Separata da Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, Nº10. (1944). - Um dos últimos trabalhos de Hércules (1944) - Estudos em Três Línguas. Lisboa: Pro Domo, (1945). - Aucassin e Nicolette. Lisboa: Minerva, 1946.[2] - Arte de trovar portuguesa. Lisboa: Separata da Revista da Faculdade de Letras,Nº 13,1947. - Da Glottica em Portugal (1948).
posteriormente, cursos profissionais. Como Director foi nomeado o professor e escultor João Vaz. A Escola foi oficialmente extinta a 23 de Março de 2010, por despacho de Secretário de Estado da Educação, tendo na altura da sua extinção uma história com 126 anos.
- Cancioneiro da Biblioteca Nacional: antigo Colocci-Brancuti. (Leitura, comentários, notas e glossário), em colaboração com seu marido, José Pedro Machado. [3] (1949-1964). https://sites.google.com/site/terresymteperfie1/3501351-36abinGEterven97 http://libris.kb.se/hitlist?d=libris&f=simp&spell=true&hist=true&p=1&m=50&q=faut%3A227 277 - Galicismos Arcaicos. Tese (concurso para professor extraordinário de Filologia Românica da Faculdade de Letras) Univ. de Lisboa (1949). - À Margem do Dicionário Manual Etimológico. À Memória de Francisco Adolfo Coelho (1949). - A propósito do antigo nome arábico de Lisboa, com transcrições e traduções do árabe por José Pedro Machado. Lisboa: Separata da "Revista de Portugal", Série A, Língua portuguesa, vol.33, (1968). - Os Paladinos da Linguagem. Separata Língua e Cultura, (1971).
ENILDE COTRIM DE FIGUEIREDO83 Nasceu no dia 25-12-1935, em São Luís/MA. Formada em Educação Artística. Tem um livro publicado em parceria com duas irmãs "Jardim Musical". SE EXISTISSES...
Pai, se existisses... Escutarias os meus lamentos, Ouvirias os meus queixumes, Chorarias com o meu pranto, Enxugarias as minhas lágrimas. Pai, se existisses... Sorririas com as minhas alegrias, Vibrarias com as minhas conquistas, Cantarias as minha vitórias, Encorajarias o meu dia-a-dia. Pai, se existisses... Aplanarias o meu caminhar, Desvendarias os meus segredos, Desfarias os meus medos, Acalantarias o meu sonhar. Pai, se existisses... Perdoarias os meu erros, Desejarias tudo de bom, enfim. Agradecerias os meus desvelos, Selarias teu grande amor por mim.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/enilde_cotrim_de_figueiredo.html
GABRIELA LAGES VELOSO Publicado em fevereiro 6, 2021 por Carvalho Junior
Gabriela Lages Veloso [São Luís/MA]. Autora de contos, crônicas e poemas. Graduanda do curso de Letras –Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), pesquisadora do Grupo de pesquisa TECER – Estudos de Tradução, Discurso e Ensino (UEMA), participa como ouvinte do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura – NIELM (CNPq/UFRJ) e é bolsista de iniciação científica da FAPEMA. Em dezembro de 2020, publicou o conto O Relicário na Revista Intransitiva da UFRJ. A ilha de pedra Certa vez foi dito que Precisamos sair da Ilha para vê-la, Em sua plenitude. Daqui observo os telhados, O traçado das ruas, O ir e vir de pessoas Carros e motocicletas. Daqui enxergo tudo claramente, O verde quase inexistente, O ar cinzento, Os lugares invisíveis. Daqui vejo a ilha de pedra Edificada sobre os restos de vida, Onde todos correm sem destino E os dias são sempre os mesmos.
Vida Sou intensamente breve, Como um sonho. Feita de retalhos de instantes. E, nessa minha brevidade, De segundos contados, Devo ser tratada sabiamente. Nas tormentas,
Os pesos devem ser arremessados No mar do esquecimento. Nas bonanças, As lembranças devem ser recolhidas, Ternamente, no abrigo da memória. Em mim, tudo é essencial Chuva e aridez. Resisto ao tempo e às intempéries. Não tenho caminhos fixos, Sou caleidoscópica. Por isso, não se engane, Não existe um único propósito para mim. Sou um enigma a ser descoberto. A estação Ouço melodias que me transportam A tempos de frio Cálice Transbordando em vinho De amargas uvas. Mergulho nas Águas de Março E saio Sozinho. Mas, Apesar de você Eu vou. O Relicário Após uma longa noite de sonhos intranquilos 1 , Moira desperta sobressaltada, levanta-se e põe-se em frente a uma antiga penteadeira – uma relíquia pertencente à sua família por gerações. Por um instante, ela contempla o espelho e vê uma mulher de oitenta anos, com seus cabelos grisalhos em completo desalinho, rugas ao redor dos olhos e da boca, bem como olhos azuis, que outrora cintilavam, mas agora se encontram opacos. “Em qual espelho ficou perdida a minha face?” 2 , suspirou, angustiada. Moira é uma juíza renomada, aposentada há alguns anos, que mora em uma suntuosa mansão. Mas, apesar de toda a sua riqueza, não tem herdeiros. Logo após a aposentadoria, ela entrou em crise, pois encontrou-se frente a frente com a pergunta que a inquietou por toda a sua vida: quando será o meu tempo? Ao sair de seu quarto, Moira caminha até uma grande janela, no final do corredor, e põe-se a observar a chuva. À medida que cada pequeno cristal d’água cai sobre a grama, traz à tona, com toda a vivacidade, as antigas memórias da aurora de sua vida 3 . A pequena Moira adorava dias de chuva, pois, nesses dias, sua mãe tinha o hábito de contar histórias, sentada em uma cadeira de balanço, para ela e suas duas irmãs, que faleceram em um trágico acidente quando Moira tinha apenas cinco anos de idade. Por isso, a menina cresceu sufocada pela superproteção materna e pelas altas expectativas do pai. Agora, em frente à grande janela, Moira estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu o avançar das horas. Permaneceu nesse transe até as sete horas, quando a governanta veio chamála para tomar seu desjejum. Alguns instantes depois, Moira estava perante a mesa posta com fartura, mas estava sem apetite, e quis tomar apenas uma xícara de chá. “De fato, do fundo do poço só se pode tirar memórias ou mesmices…” 4 , refletiu Moira. Que contraste Moira enxergou entre a fartura desse café da manhã, para uma única pessoa, e todas as refeições de sua família – ou até mesmo a ausência delas – em seus dias de infância. Essa percepção transportou-a para o dia em que sua mãe recebeu um misterioso presente de uma
falecida senhora: uma penteadeira de mogno, com miligramas de ouro incrustado em desenhos floreados, e um espelho embutido no majestoso móvel. Moira aprendeu a ler e escrever bem cedo. Seus dias eram milimetricamente administrados pelo pai, que tinha um único objetivo na vida: fazer com que a filha jamais enfrentasse as mesmas privações pelas quais ele passou. Por isso, a menina tinha de estudar, dia e noite, para que, no futuro, tivesse uma profissão de prestígio e retorno financeiro a curto prazo. Após o seu desjejum, Moira caminha por vários corredores e decide ir até o seu oásis particular: uma biblioteca de grandes dimensões, com prateleiras até o teto, todas preenchidas com edições de luxo de centenas de livros, desde os clássicos até os contemporâneos da literatura universal, em vários idiomas. Um leve lampejo acende uma fagulha em seus olhos azuis. Ela está no único lugar em que realmente se sente realizada. Moira pensou como teria sido sua infância em uma biblioteca como aquela, como teria se divertido inventando suas próprias histórias, ou até mesmo imaginando ser a protagonista de seus romances favoritos. Quando menina, seus passatempos favoritos, nas folgas de sua pesada rotina de estudos imposta pelo pai, eram ler contos de fadas e romances que a transportavam para outros momentos e mundos, e brincar em frente à majestosa penteadeira de sua mãe. Ao contemplar o espelho, ela não via a pequena garota de belos cachos castanhos e olhos azuis cintilantes, e sim a protagonista da história que estava lendo ou escrevendo. O maior sonho de Moira era se tornar uma grande escritora no futuro. Por isso, ela tinha um diário, no qual criava um mundo todo seu, cuja única lei era a liberdade. Bem, esse era o seu sonho, porém ele não estava nos planos de seu pai, que queria, a todo custo, que ela fosse rica. Por essa razão, ela escondia seu diário na última gaveta do imponente móvel de mogno, assim também como sua força para escolher o próprio destino. Ainda na biblioteca, uma pequena lágrima cai dos tristes olhos azuis de Moira, ao lembrar de seu antigo diário infantil e perceber o quanto a sua existência foi vazia… Vazia de significado, e, principalmente, de felicidade. “Cada instante do nosso passado nos faz ser quem nós somos”, disse consigo mesma. Nesse instante, a governanta entra na biblioteca e encontra Moira em prantos. — A senhora está se sentindo bem? – perguntou a governanta. — Não se preocupe comigo, só estou um pouco emotiva – disse Moira, enxugando as lágrimas. — Desculpe interrompê-la, mas o Contador está lhe aguardando na sala de visitas. Devo pedir-lhe que retorne em outro momento? – disse a governanta, com um olhar compreensivo. — Não. Diga que irei descer em alguns minutos – disse Moira, resignada. — Certo, Você realmente está se sentindo bem? – insistiu a governanta. — Obrigada pela preocupação, mas o meu problema não pode ser resolvido agora – disse Moira, enigmática. – Não deixe o Contador esperando, diga que irei em instantes. A compaixão de sua funcionária a fez viajar mais uma vez em suas memórias. Moira viu-se perante o seu único e melhor amigo, que era também seu vizinho. Os dois costumavam brincar juntos no quintal de suas casas. Ele costumava ouvir pacientemente as queixas de Moira sobre a super-proteção dos pais e como se sentia sufocada por isso. O garoto sempre a alegrava e distraía com suas histórias, pois ele também era dono de uma imaginação fértil. Porém, estava fadado a um destino no qual sua criatividade de nada valia. Ele era extremamente pobre, vivia em uma miséria maior do que a família de Moira jamais experimentaria. Por isso, quando completou apenas dez anos de idade, teve de começar a trabalhar em uma fábrica de tijolos, para que a família não definhasse de fome. Temendo que a filha se apaixonasse pelo garoto quando eles chegassem à juventude e, assim, tivesse um destino diferente do que ele planejara, o pai de Moira proibiu a amizade das duas crianças, o que as condenou a um caminho no qual não havia tempo nem espaço para amizades ou sentimentos, somente para a monotonia diária e a solidão. O temor do pai de Moira tinha uma explicação. No passado, ele é que fora o melhor amigo pobre de sua esposa. A avó, que Moira jamais conhecera, era uma mulher muito rica, que tinha apenas duas filhas, dentre as quais a primogênita um dia viria a ser a mãe de Moira. Contudo, a rica senhora não aprovava o relacionamento entre sua distinta filha e um rapaz tão humilde, pois acreditava não passar de um mero interesse financeiro. Por isso, deserdou sua primogênita no dia
em que recebeu a notícia do casamento, e se ausentou, assim, para sempre da vida de sua filha. Somente em seu leito de morte arrependeu-se pela dura decisão e suplicou a sua segunda filha, a única herdeira de toda a sua fortuna, que entregasse a penteadeira à sua irmã, pois era uma relíquia que atravessava gerações de primogênitos dos seus antepassados. Agora, em seu escritório, Moira discute acaloradamente com o seu Contador, pois descobre um desfalque em suas finanças. E toda essa agitação causa-lhe uma enorme dor no peito, e ela cai desmaiada. Quando Moira recobra seus sentidos, ela encontra-se deitada em sua cama e percebe o olhar cansado de sua governanta, que ficara em vigília a noite inteira, cuidando de sua estimada senhora. Um turbilhão de pensamentos invade a mente de Moira. Ela enxerga sua vida como um delicado castelo de areia que está sendo soprado pelo impetuoso vento da morte. Restam, agora, poucos grãos… Ela percebe que sua existência foi preenchida unicamente pelas ausências de seu passado. Em seu peito, aquela mesma dor se acentua; ela enxerga uma luz muito forte e imagina como teria sido a sua vida se ela tivesse, de fato, tomado as rédeas de seu próprio destino. Pois, em seu último suspiro, ela compreendeu que o futuro é um quebra-cabeça, com inúmeras lacunas, que podem ser preenchidas por várias peças disponíveis. Inquieta, com a respiração ofegante, Moira desperta no dia de seu décimo oitavo aniversário. Tudo não passou de um sonho…
GEANE LIMA FIDDAN84,85
Geane Lima Fiddan (MA). Poeta, professora e pesquisadora brasileira. Foi coordenadora do Projeto Rede de Escritores na Universidade Virtual do Maranhão. Licenciada em Letras, especialista em Linguística e Literatura Brasileira. Mestre em Língua, Literatura e Cultura Pela Universidade Nova de Lisboa. Membro do IEMO-Instituto de Estudos Modernistas e faz doutorado em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Tem publicado os livros Argos da Matéria e O Norte. APESAR DE TUDO QUE AINDA ASSOLA Na flor do Delta cascatas são enaltecidas enquanto rios desembocam na intimidade de outros. Ali eu era apenas uma gotícula com lembranças da mãe Gaia e enfrentando as turbulências e perpassando as penínsulas e as rampas do planeta. Eu não quero saber de barro seco, amarras de vendedores de balas. A guerra não quer conversa comigo e eu em tempos atômicos quero é aprender com as argilas doces.
CONCOXA Tangidos os genocídios, propagam nos seios das massas seres presos em raios in visíveis, cisnes no embolar de um papel imã. Não importam as cores dos cárceres enferrujados ou não parecem melanomas, espinhas de peixe na garganta. Esta folha já foi peça umbrática e tornou-se página branca. Não adormeço eclipse no âmago Para ver a matéria solta.
(………………………..) Antes de partir abrindo um sorriso no extremo norte caminho sequiosa de impulsos significativos. Um ser sensitivo entre as pedreiras 84 85
PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/
mexe com os pés de uma instância adormecida. No seio das partículas de ferro muitos bailarinos se tornam estátuas. Toque na frieza dos icebergs. É tão fácil ser um náutico e tão difícil quando mesmo as pontes não entendem os passageiros.
(………………………..) Ontem, tarde da noite, andei pela cidade como um poeta lírico nas andanças. Repentinamente, vi um velhinho sobre uma ponte falando sozinho. Então, parei e me aproximei do homem que tinha os cabelos de neve. Percebi que ele falava para o mar e dizia alto: – Susana! Susana! Onde está você? Subitamente, o sujeito ficou calado e eu perguntei a ele. Quem é Susana? Ele olhou para o mar e disse. – É aquela onda que parte todos os dias lá pra Alcântara! ARES DE PEREGRINA Saturada de pencas e brocas de Upaon-açu parto para as andanças cachos das manifestações no toco desse pendulo de bacaba a calma cheia do trágico que fecunda a alma desabrocha no agente de argila sai de fininho sem tino embarca na busca do inédito desembarcando nas panturrilhas de Rodin aparentemente só aparente mente são fúrias de um vulcão vagalume nordestino circunvagando na cidade luz não se surpreende quando uma certeza pinta um pára-brisa arrasando anda passageiros desandam
GORETH PEREIRA
MARIA GORETH CANTANHEDE PEREIRA 4 de setembro de 1974 Por Dinacy Corrêa86 Moradora da Vila Palmeiras, filha de Raimundo Araújo (pedreiro) e de Terezinha Cantanhede Pereira (empregada doméstica e artesã), mãe de três filhos… Ensino Médio completo (antigo Cema), curso profissionalizante (Técnico de Encadernação – Cintra)… De gari a poetisa, passando por outros ofícios (recepcionista, produtora de papel reciclado…), Maria Goreth Cantanhede Pereira, no exercício do trabalho digno e na fidelidade ao culto da poesia, vem construindo a sua história/trajetória gloriosa, marcada por lutas e superações. Hoje, graduada em Letras (Fama) e com livros publicados – Confissões: diálogos em poesias; Garimpando poesias; Desejos poéticos – além de outros trabalhos inéditos, vem comprovando que é, mesmo, de direito e de fato, uma mulher de atitude… Leitora devota de escritores maranhenses, inspirando-se, sempre, em poetas da terra, como Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, sua conexão com a Poesia, estabelece-se muito cedo. Aos dez anos de idade, com a ajuda e orientação de suas professoras – que a ensinaram “como escrever uma poesia” – conquista o primeiro lugar num concurso do gênero, na escola. A partir daí, desponta, em sua alma, o desejo ardente, o sonho dourado de ser autora. O que vem a se concretizar em 2004, aos 29 anos, por obra e graça do seu então chefe, o mecenas Luiz Jandir Amim Castro (diretor-presidente da Coliseu – Companhia de Limpeza e Serviços Urbanos), contando, ainda, com o apoio de amigos e políticos sensíveis à sua aspiração. De modo que, é ainda na condição de gari, varrendo, limpando, embelezando as ruas da sua amada cidade-ilha, que tem o seu primeiro livro editado, numa tiragem de 300 exemplares. O segundo, vem à luz em 2009, lançado na 3ª. Feira do Livro de São Luís. Em 2010, uma segunda tiragem de Garimpando Poesias, sob o patrocínio da Secretaria de Desportos e Lazer (Semdel), onde ela trabalha atualmente (cedida pela Coliseu). Nesse mesmo ano, participa de outros eventos culturais e literários, fora do Maranhão, como a 9ª. Bienal Internacional do Livro do Estado Ceará e a 21ª. Bienal Internacional do Livro do Estado de São Paulo. Em março de 2011, quando das comemorações do Dia Internacional da Mulher, no sudeste do País, por indicação de poetas brasileiros, reconhecedores e admiradores, não só do seu trabalho, como da sua luta “de mulher nordestina de baixa renda, mas que acredita e corre atrás dos seus sonhos”, arrebata o Prêmio Mulher de Atitude, cujo significado, lhe é, ainda, muito caminho a percorrer: Eu sei que tenho muitos obstáculos ainda pela estrada, mas reconhecimentos como esse me levam a ir em frente. Acredito que os sonhos só acabam quando você desiste. Agradeço muito às pessoas que acreditam e me ajudam. Essas pessoas sonham junto comigo – expressa. A inspiração pela capital maranhense e o amor a seu mestre Gonçalves Dias fazem dessa autora um canhão que dispara incessantemente em direção à realização do seu sonho [...] Goreth Pereira [...] deixa para o leitor a marca de que o seu estilo é declaradamente romântico, não deixando de conter em seus versos: a crítica, o lírico, o afeto, a dúvida, o desespero, a incerteza, a amizade, a alegria e a denúncia, enfim [...] por ser a nossa primeira gari a escrever poesia e a publicar um livro dessa natureza… torna-se um exemplo de que a educação ainda pode ser a resposta para os problemas do cotidiano. [...] Os versos de Goreth são uma declaração de amor á vida, aos seus familiares e, principalmente, a sua cidade: São Luís. (Mauro Ciro Falcão Gomes)
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http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2013/03/poetisas-maranhenses-goreth-pereira/ PEREIRA, Goreth. Confissões: diálogos em poesias. São Luís: pequeno.com.br/2oo7/211pg.50709.htm(25.08.2011)
Lithograf,
2oo4.
http//www.jornal
O GARI O gari é a mais pura e preciosa pérola Porque do sol do meio-dia de um trabalho árduo Surge um tão belo ser singelo como uma suave brisa do mar Trabalhador lutador em busca de uma Realização profissional mais um guerreiro do dia a dia A sua espada é a vassoura Meu escudo minha dignidade Sou como dom Quixote levando meu carrinho de mão Tirando a sujeira do chão meu senhor minha senhora Trabalho com lixo mas não sou lixo não Trate-me com carinho e me dê sua atenção Sou negra, bela negra, veja o meu rosto é só alegria Chega aí irmão não tenha medo não sou gari por profissão e poetisa por devoção Sou do povo e para o povo vou declarar que um gari conseguiu chegar lá Mas eu tenho que falar minha cidade é tão limpa que dá para se espelhar
ILHA DOS ENCANTOS Ilha de muitos encantos É grande o teu esplendor Abençoada por todos os santos Ilha do meu amor Te quero com muito carinho Por ti tenho afeição Em ti construí o meu ninho Meus filhos em ti viverão
QUEM VIVE AQUI É FELIZ Quem sai daqui no entanto Lá fora para os outros diz: Minha ilha tem nome de santo Vamos comigo ser feliz Nessa ilha de mil encantos Minha bela São Luís.
MINHA COMPANHIA Você me fez sua detenta O seu amor me alimenta É ele que me sustenta Só você me orienta És um pedaço de mim Só penso em teus carinhos Teus braços minha doce alegria Te quero por toda a vida Te acompanhar me dá prazer Uma parte está em mim A outra em você Teu amor me dá força Para caminharmos e juntos construirmos Sempre o que é de mais belo Nossa união.
SEMPRE TE AMAREI Sempre te amarei Na alegria, na dor e na tristeza Sempre te amarei Mesmo que passe as dificuldades Pois você me escolheu Para ser seu grande amor de verdade Sempre te amarei Mesmo que precisasse ir para bem longe Porque na realidade um grande amor fica para Sempre no coração Em qualquer circunstância Seja qual for a situação Não importa a distância Deus nos uniu e abençoou Do nosso amor agora hoje e sempre te amarei Meu amor
HENRIQUETA EVANGELINE 87,88
Ludovicense, nascida “[...] na alvorada de um domingo de sol e muita festa (09.08.1998, dia de São Benedito, dia do Papai)”, desde cedo, começou a falar os seus poemas, no deslumbramento dos seus primeiros contatos com a palavra, com um mundo em incessantes descobertas... a família, a vizinhança, a rua, os passeios, a escola, as professoras... começando pelo Colméia (quando ainda no Monte Castelo), passando pelo Dom Bosco (Renascença)... quando morava no Residencial Girassol. Hoje, domiciliada no Centro Histórico de São Luís, ela estuda no Santa Tereza (Rua do Egito). Dela, diz o professor/escritor Alberico Carneiro Filho (Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, Ano IV, ed. 117), “[....], ser poeta aos 6 anos de idade é um fato raro ou, no mínimo, uma exceção à regra; porém, às vezes aflora, na mente de uma criança, o precoce dom da poesia. Henriqueta Evangeline é um desses casos singulares, ao estrear, em 2004, com a publicação de Castelo da Poesia, uma coletânea de micropoemas surrealistas e em linguagem nonsense que ela tão belamente emoldura com suas próprias ilustrações, demonstrando um outro lado da sua veia artística, em termos de criação, também como poeta, de uma das formas das artes plásticas, a pintura”. Todavia, haveremos de admitir, com velho dito popular, “é de criança que se aprende o ofício”... Aos 13 anos de idade, a quase menina-moça tem publicado Castelo da Poesia, já em três edições, seguidamente ampliadas: a primeira (capa amarela, 17 poemas), comemorativa da sua formatura no Alfabetização (pré-escolar), aos seis anos de idade (2004), por iniciativa da família, em querer celebrar esse momento de encantamento “acústico/imagético” da poetisa-mirim com a Palavra, um mundo em contínuo desvelar-se e revelar-se, ante o seu “olhar-menino”... valorizando esse processo criativo, acolhendo essas suas primeiras intencionalidades poéticas; a segunda (capa verde, 20 poemas), ambas ilustradas com os desenhos infantis da própria autora; a terceira, pela Editora Paulinas (2008), em outro formato, 22 poemas e ilustrações de Ellen Pestile. É importante ressaltar que o livro contém muito de poesia falada, considerando-se que, à época, a pequena não detinha o poder da escrita. Os textos, pois, iam sendo registrados pelos seus familiares, da maneira como eram proferidos, pela poetisa (a partir dos seus quatro anos de idade, por aí assim),“em suas estranhezas morfossintáticas e semânticas”, o mesmo ocorrendo com a pontuação. Para o professor e escritor Alberico Carneiro Filho (id., ibid.) o que há de especial nos pequenos poemas de Henriqueta Evangeline é a técnica com que ela costura sua emotividade, utilizando-se daquele pretexto que dá às palavras sentido poético, a sutileza, com o que ela surpreende e enternece o leitor, valendo-se do deslance inesperado e inusitado. Já senhora de um considerável currículo de participação ativa em eventos culturais (Festivais de cultura e literatura, como o de Poesia Falada-UFMA, Encontro de Letras, Feiras de Livro, Palestras, Lançamento de livros), Henriqueta vive a arte com muita intensidade, incursionando pela Música (aluna da Escola de Música do Ma.), pela dança (Ballet Clássico, Capoeira d’Angola), pelas Artes Plásticas... E continua, nas entrelinhas da vida, a produzir suas pequenas jóias poéticas (estas já exalando aromas preadolescênticos), que permanecem inéditas, como à espera de um momento propício ou de uma motivação para virem a público. “Talvez quando eu concluir o Ensino Fundamental”... ela diz, evasiva. Bom, aguardemos, visto que a menina ainda vai cursar (2011) o 8º. Ano. Enquanto isso, apreciemos algumas dessas (ine)dicções... como esta:
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CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/
As palavras têm acento As palavras têm sentido As palavras Pegam fogo Incenndeiam-se nos parágrafos... Fim de linha.
POESIA FALADA Você quer rimar comigo? Rimar com palavras, Todos os dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo...(RABELO, 2005, p. 4)
PRAIA GRANDE O mar que não se seca O mar que não se enche A vela que não pára de navegar... E o amor? Não sei por que eu não fui com o mar (RABELO, 2005, p. 5) Coração O amor se abre O castelo não se abre O desenho é uma história E a flor não se abre A rosa que se espinha E o nunca do amor (RABELO, 2005, p. 7) A imagem do satélite mostra Nuvens carregadas no Sul e no Nordeste Sol em Campinas Mas, à tarde, nuvens isoladas E à noite mais nuvens isoladas (RABELO, 2005, p. 18) A sereia encanta O velho marujo E depois canta Bela rainha do mar (RABELO, 2005, p. 21)
INSATISFAÇÃO Rogamos, rezamos, choramos por chuva... E ela veio, enfim, causando inundações E aí... rogamos, rezamos, choramos por sol... E ele veio de novo e ficamos ainda a reclamar...
a quase morrer de calor. Aff! Ninguém se satisfaz... nem com chuva nem com sol...
COTIDIANO SEM SENTIDO Escuto a Filosofia do meu professor numa sintonia esquisita, quase insana escrevendo as palavras no papel... Os olhos que me fazem ver são os mesmos que lágrimas fazem escorrer... que podem até me cegar para nunca mais ver você Sonho que um dia, com a minha voz num tom floral, Eu possa gritar verdades pelos lugares... Ninguém entenderá a razão; só eu e o meu coração Um poema esquisito, sem sentido Uma tarde de domingo, indo para a casa da avó Uns guarás sobrevoando o rio Anil Umas palavras para aliviar a minha dor... E andarei, enfim, sobre um chão firme.
DESENCANTO Hoje em dia quem diria que os pássaros perderiam o encanto de seus cantos matinais?... Qual profeta previria que as flores morreriam e com elas levariam o espírito dos amores que iriam nascer?... Quem acabou com aquela macieira e destruiu o habitat?... Confessemos: todos nós somos culpados; avisados tantas vezes não soubemos escutar... Soframos as conseqüências!
JESUINA AUGUSTA SERRA Nome completo: Jesuína Augusta Serra - Autora participante do Parnaso Maranhense, de 1861. No Parnaso Maranhense: Dona J. A. Serra SONETO. De estatura ordinária e corpo cheio, A tez pouco morena e descorada, Testa nada redonda, antes quadrada, Nariz muilo commum, porem não feio; Os olhos a volver, mas com receio, A bocca regular, mas engraçada, A voz, se bem que meiga, já cansada De supplicar cm vão o amor alheio; Dos homens, em geral, pouco gostando E capaz por um só de dar a vida, Contente os guilhõe seus, louca beijando: Eis Josiua, que a sorle femeníida, N´ste mundo cruel, feio e nefando, Cansou, para querer, sem ser querida ! Segundo Constância Lima Duarte, Virginia Woolf, ao visitar bibliotecas à procura de obras escritas por mulheres, constatou o número quase insignificante desta produção, atribuiu à profunda misoginia, que não cansava de afirmar a inferioridade mental, moral e física do gênero feminino, as poucas chances que então eram dadas às mulheres. No clássico estudo “Um teto todo seu”, de 1929, resumiu assim as condições necessárias para que o talento criativo pudesse surgir: era preciso ter um quarto próprio e serem minimamente independentes e instruídas. A exclusão cultural estava associada irremediavelmente à submissão e à dependência econômica. Se o talento criador não era exclusivo dos homens, os meios para desenvolvê-los, com certeza eram: É certo que Virginia Woolf fala de outro lugar e de outro tempo, quando as universidades inglesas não aceitavam mulheres circulando em suas dependências, e muito menos o mercado de trabalho. Mas também entre nós já foi assim. Nas últimas décadas do século XIX, e mesmo nas primeiras do século XX, causava comoção uma mulher manifestar o desejo de fazer um curso superior. E a publicação de uma obra costumava ser recebida com desconfiança, descaso ou, na melhor das hipóteses, com condescendência. Afinal, era só uma mulher escrevendo. (DUARTE, obra citada). Para Sílvio Romero, na História da Literatura Brasileira, de 1882: Nessa espécie de catedral barroca de nossa literatura onde, ao lado dos in santos, se assim se pode dizer, das figuras de primeira plana, de valor incontestado, tiveram entrada carrancas e bonifrates, gente miúda, gente mais – ou menos – que secundária, só foram incluídas sete mulheres: Ângela do Amaral Rangel, Beatriz Francisca de Assis Brandão, sobrinha de Maria Joaquina Dorotéia de Seixas, a doce Marilia das liras de Gonzaga, Delfina da Cunha, Nísia Floresta (...), Narcisa Amália, Maria Firmina Reis e Jesuína Serra. (...) (PEREIRA: 1954, 18).
Na Hemeroteca da Biblioteca Nacional não encontramos qualquer referencia à essa autora. FONTES UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin Digital. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/. https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=18854
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=107145, p. 193 Arquivos de mulheres e mulheres anarquivadas: histórias de uma história mal contada Constância Lima Duarte (UFMG), disponível em http://www.uesc.br/seminariomulher/anais/PDF/Mesas/CONST%C3%82NCIA%20LIMA%20DUARTE.pdf WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. PEREIRA, Lúcia Miguel. “As mulheres na literatura brasileira”. Revista Anhembi, n. 49, ano V, vol. XVII. São Paulo, dezembro, 1954.
http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5Drosa_5225059333.DocLstX&pesq=%2 2Jesuina%20Serra%22
KENIA REGINA OLIVEIRA MAIA
nasceu em São Luís, no dia 12 de julho de 1959. Era aluna do 4º. ano de Medicina da Universidade Federal do Maranhão quando participou do concurso de poesia.. Fazia parte do Coral da UFMA. Obteve, em 1980, no I Festival de Poesia Falada, o 4º. lugar, com o poema "Lampiões esquecidos". Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (1984) e mestrado em Biologia Parasitária pela Universidade Ceuma (2012). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Clínica Médica e Pediatria.
LAMPIÕES ESQUECIDOS Eu te sinto, cidadezinha dos velhos lampiões de gás. És a alma de uma vida que não pode voltar atrás. Ah! que vontade incessante de te tomar em meus braços, de te defender dos algozes, de te livrar dos farsantes que tanto dizem te amar. A brisa suave me leva à Praia da Ponta d'Areia. Meus pés descalços procuram a água, a onda, o mar... Não, eu não posso calar, diante dessa imensidão. Eu não posso esquecer de teu povo que sofre, de teus prédios que caem, de teu passado esquecido em cada beco... Minha cidadezinha, meu pedacinho de chão... A Fonte das Pedras chora por tua libertação.
Escuta. Os tambores ecoam o hino da solidão. E o canto oculto dos que não podem querer... Ah! ladeiras de minha terra, Acostumadas a passos incertos de quem já não tem esperança! Não, eu não posso calar. Não posso viver na omissão quando o sino da Igreja do Carmo badala mais um fim de dia, e os mendigos que ali transitam recolhem-se ainda mais ao seu destino. Deus meu, o que fizeram ã minha ilha dos velhos lampiões de gás dos azulejos bordados, dos mirantes, dos sobrados, das carrancas de pedra-lioz? A minha cidadezinha, tão linda!, da Fonte do Ribeirão, das ruas de escadarias, do Solar Gomes de Souza, do Largo de São João...
LEONETE OLIVEIRA LIMA ROCHA
Publiquei, recentemente, artigo sobre uma poetisa maranhense que, na opinião de Antonio Lopes, seria a primeira: LEONETE OLIVEIRA Lima Rocha89 nascida em São Luís, Maranhão, em 17 de julho de 1888, filha de Gentil Homem de Oliveira e Luiza Fernandes de Oliveira. Foi Professora e Bibliotecária. Ingressou na Academia Maranhense de Letras. Residia no Rio de Janeiro, aonde veio a falecer. Publicou "Flocos", "Folhas de Outono" e muitos outros. Leonete Oliveira virou nome de rua em São Luís, no bairro Cohab Anil II. Hoje, sabe-se – e se aceita – como a primeira mulher a escrever poesias, contos, crônicas, e publicar livros, foi Maria Firmina dos Reis, patrona da Academia Ludovicense de Letras. Antônio Lopes, em artigo publicado no “Diário do Maranhão” edição de 05 de junho de 1909, referia-se sobre a inexistência de poetas mulheres no Maranhão e, então traz-nos alguns nomes, pseudônimos, e identificando quem escreveu algumas belas poesias que apareciam, então. É a seguinte a nota:
89
http://falandodetrova.com.br/leonete https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=2941 https://www.literaturamaranhense.ufsc.br/documentos/?action=midias&id=222031&locale=en
Título: Leonete OliveiraAutor/ Colaborador:Garnier, M.J. Data:[189-?] Descrição:bico de pena Assuntos:Authors, Brazilian - Portraits Oliveira, Leonete de - Portraits B869.8 Oliveira, Leonete de, n.1888 - RetratosEscritores brasileiros - RetratosT ipo: Desenho Idioma: Português
Leonete utilizava o pseudônimo de Angela Grassi, que foi uma escritora romântica espanhola, do século XIX90. A Pacotilha, de 11 de junho de 1908 publica um seu poema:
Em A Pacotilha de 14 de agosto de 1908 é publicado um poema dedicado à Angela Grassi, assinado por “H”:
90
Angela Grassi (Cromá, 2 de agosto de 1823 - Madrid, 17 de septiembre de 1883) fue una romántica española del siglo XIXhttps://es.wikipedia.org/wiki/%C3%81ngela_Grassi
escritora
E a 25 de agosto, Correa de Araujo lhe dedica outro poema:
Em 1908, no Diário do Maranhão de 09 de outubro sai a seguinte nota:
A Pacotilha de 30 de outubro de 1908 traz a seguinte carta aberta destinada à Vieira da Silva:
Também tece crítica ao livro de Astolfo Marques, recém publicado (A Pacotilha, 03 de dezembro de 1908):
Conforme notas publicadas nos diversos jornais de São Luis, no ano de 1909 Leonete de Oliveira participava de eventos acontecidos, cívicos e religiosos, tanto em São Luis como no interior, como uma festa em Cajapió em honra ao Menino Jesus. Nova critica literária publicada, em A Pacotilha, desta vez sobre a obra de Maranhão Sovrinho (1º julho de 1909)
A 25 de agosto, em A pacotilha, é publicada um poema
Chegou a dar conferencias na Universidade Popular Maranhense, abordando o tema “A Mulher”: A 1º de novembro de 1909:
Nesse mesmo ano foi aceita como sócia correspondente da Academia Maranhense de Letras:
Como a publicar seus poemas
A Pacotilha de 18 de janeiro de 1910 informa que o livro de Leonete Oliveira entrara na gráfica, e traz mais um poema inédito:
O Correio da Tarde, edição de 22 de julho de 1910 traz sua nomeação para a Biblioteca Pública, como auxiliar do Diretor, Ribeiro do Amaral. 91 A Pacotilha de 6 de abril de 1914 traz a sua exoneração do cargo de auxiliar da diretoria da Biblioteca Pública. Na edição de 10 de julho, pede o comparecimento dos rementes de jornais à repartição postal, para verificarem as remessas, dentre elas, a de Leonete Oliveira, para São Paulo. A Gazeta de Noticias, do Rio de Janeiro, em sua edição de 14 de novembro de 1914, noticia que estava fixando residência no Rio de Janeiro a poetisa maranhense Leonete Oliveira, procedente de São Paulo:
M. Nogueira da Silva publica na Gazeta de Noticias, edição de 29 de novembro de 1914 meia página dedicada à poetisa Leonete Oliveira, recém se estabelecida no Rio de janeiro:
91
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=388459&pesq=LEONETE%20OLIVEIRA
O Jornal, de 2 de julho de 1917, anuncia o aparecimento
Antonio Lopes, em A Pacotilha, edição de 2 de agosto de 1917, ao comentar os livros lançados recentemente, além de comentar o do Barão de Studart sobre O Movimento de 17 no Ceará, dedica um espaço para um segundo, de autoria de nossa poeta:
Lima Barreto, na Revista Contemporânea (31/08/1918)92, sob o título “Um poeta e uma poetisa” – Hermes Fontes e Leonete Oliveira =- e tece as seguintes considerações:
92
http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=351130&pagfis=415&url=http://memoria.bn.br/docr eader#
Nogueira da Silva, no Jornal das Moças (1917) traz-nos a seguinte crítica:93 Leonete Oliveira O nome, que encima estas linhas, não é desconhecido das gentis leitoras do Jornal das Moças. No numero 107 sahiu, acompanhado de seu retrato, um lindo e bem feito soneto, intitulado Vaidosa, um magmüco inédito aue,-por feliz acaso, nos vem as mãos. No numero seguinte, logo tivemos também oportunidade de dar um outro soneto, como o primeiro marcado de excellente e então arrancado das fulgurantes paginas do seu primeiro livro de versos— Flocos.. , .
93
http://memoria.bn.br/pdf/111031/per111031_1917_00110.pdf
Leonete Oliveira é a maior e a mais d rilhante poetisa maranhense, que ao lado de Gilka Machado, Julia Lopes da bilva, Laura da Fonseca e Silva, Julia Cortines, Rosalia Sandoval, Ibrantina Cardone, Julieta e Revocata de Mello, Leonor Posada, Violeta Odette e outras, forma na vanguarda das letras femininas no Brasil. O seu livro Flocos deu-lhe immediatamente um logar de proeminencia na literatura, destacando-se, com brilho, dentre a pleiade de poetas e homens de letras do Maranhão. Agora Leonete Oliveira, tendo melhor afinado a sua lyra divina e melhor acentuado os seus dotes poéticos, brinda-nos com um segundo livro. Veiu de Lisboa para Fortaleza, onde se encontra actualmente residindo a distincta poetisa maranhense. Intitula-se Cambiantes e contem as ultimas produções da festejada escriptora patricia. O novo livro de Leonete Oliveira vem confirmar inteiramente os conceitos externados do seu valor e de suas virtudes literarias, quando foi do aparecimento do seu primeiro volume de versos. Inteligente, culta, sabendo rimar com propriedade e metrificar com elegância, os versos da formosa poetisa maranhense merecem todos os nossos encomios. O espaço não nos per- mitte especificar e citar, mas sempre apontamos as seguintes peças: Cambiayites, Creio, Nunca mais, Sol-pôr, Beijos, Os nossos arrufos, Vitima carta, Vaidosa, A uma arvore seca, A um coração, Cantar es e Um ramalhete, alem de outras, que» serão sempre lidas com uma grande, uma sentida, uma funda emoção. Versos de amor, de saudade, de ventura e de tristeza, elles fazem rir e chorar, elles fazem soffrer e pensar. Nisso, parece-nos, reside todo o elogio que se possa fazer desse interessante e encantador volume que nos enviou a distincta poetisa maranhense. E quanto a citações, faremos apenas duas. Esta linda e profunda quadra: Segredos ha no coração, Que a gente cala e nunca diz... De um lado o amor, doutro a razão, Quem pôde assim viver feliz ? que separamos da poesia Cantares e que vale por uma philosophia, vibrando como um jóia delicada, uma minúscula obra-prima do pensamento. E agora este magniüco soneto, “Beijo”; que lembra a musa sensual e impecável de Raymundo Correia, perieito, sentido, encantador : Beijo de amor que abraza o sangue e acende Um fogo ardente e liquido nas veias, Beijo que á tua a minha bocca prende, Por que eu anceio e por que tu anceias • Essa loucura que ninguém comprehende, De que sentimos as nossas almas cheias, Esse calor divino que se estende Por sobre nós como doiradas teias: São desses beijos que nós dois trocamos, E que á força de serem repetidos, Vão comnosco a cantar por onde andamos , . . Inexgotavel fonte de desejos, — Que os nossos lábios vivam sempre unidos, E sempre vivam permutando beijos !
E não precisamos dizer mais do valor e dos méritos excepcionaes da poetisa Leonete Oliveira. Os seus versos dizem mais e mais alto e mais eloqüente, que os nossos pobres conceitos. Organisando o seu novo livro, a grande poetisa maranhense juntou aos novos versos, algumas poesias e sonetos do volume intitulado Flocos, que são estes: Mãe, A louca, Só, Suprema dor, A meu violão, A caza do vaqueiro, Gotas de pranto, Noite, Venus e Volúvel. Isso deu, de algum modo, certo realce as Cambiantes, pois a formosa poetisa escolheu precizamente as melhores peças do seu primeiro livro. Mas, que o não fizesse. Não era precizo. O seu segundo livro é, sob todos os pontos de vista, melhor que o primeiro e vem confirmar brilhantemente o posto que nas letras brasileiras, a applaudida poetisa maranhense conquistou, muito justamente,com a publicação dos seus primeiros versos. M. Nogueira da Silva liihliogrupliia A mulher: conferência. Maranhão, Imprensa Oficial, 1909, in-é° de 23 pp. Flocos: poesias.'Maranhão, Ti/p. Teixeira, 1910, in-8o de 108 pp. Cambiantes: poesias. Lisboa, Casa Vem tura Abrantes, 1917, in-8° de 126 pp. Inéditos Miragens: versos. Liyro azul : contos. Colaboração Na Pacotilha, S. Luiz; Gazeta de Noticias, Rio ; Cruzada, Rio : etc , etc, N. O soneto publicado no Jornal das Moças:
Logo a seguir, nessa mesma revista, aparece uma nota em que consta como sendo pianista, residindo em Fortaleza, assinando uma composição, que enviara à publicação, como Leonete Oliveira Rocha O Jornal, edição de 26 de julho de 1918 publica o seguinte poema:
A Pacotilha de 11 de fevereiro de 1919 traz outro poema de Leonete, mas desta vez, acrescentando Rocha ao seu sobrenome: Leonete Oliveira Rocha:
Na edição seguinte, outro poema:
E mais outro:
O Jornal de 14 de abril de 1919 fala sobre concurso promovido pela Revista Maranhense, destacando, entre seus colaboradores, a poetisa Leonete Oliveira. Outro soneto, publicado em O Jornal, de 26 de abril de 1921
Logo a seguir, 14 de junho, essa nota:
Na edição de 29 de março de 1919 é publicado soneto sobre a seca
Sobre os ultimos versos da poetisa Leonete Oliveira é o titulo de crítica assinada por N. Nogiueira da Silva, transcrito do Boletim Mundial:
A 11 de abril de 1924, A Pacotilha traz a seguyinte denúncia de plágio:
No Diário de Notícias, do Rio de janeiro, edição de 5 de novembro de 1959, sai a seguinte nota:
Em artigo de Diomar das Graças Mota94 - Mulheres professoras maranhenses: memória de um silêncio, publicado em 200895 - consta a seguinte biografia: Leonete Oliveira (1888–1969), professora normalista, lecionava Português em casa, principalmente para mulheres, e foi a precursora do ensino de Estenografia, em São Luís. Acreditava ser esta uma das alternativas para o acesso, principalmente da mulher, ao mercado de trabalho. Poetisa, publicando em 1910 sua primeira obra, intitulada Flocos, em seguida publicou em Portugal Folhas de outono, posteriormente Cambiantes, em Fortaleza, onde integrou a ala feminina da Casa de Juvenal Galeno, instituição literária idealizada e fundada em 1942.
A 25 de novembro de 1908, nesse mesmo jornal, sai o seguinte:
94
Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense – UFF, docente do Departamento de Educação II e dos Programas de Pós-Graduação: Mestrado em Educação e Mestrado Materno-Infantil da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: diomar@elo.com.br. 95 EDUCAÇÃO & L INGUAGEM • ANO 11 • N. 18 • 123-135, JUL.-DEZ. 2008
LILA MAIA96
A maranhense Lila Maia é graduada em Pedagogia e tem três livros publicados: A Idade da águas, Céu despido, vencedor do II Prêmio Literário Livraria Asabeça 2003 e As Maçãs de antes, livro vencedor do Prêmio Paraná de Literatura 2012 na categoria poesia e semifinalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2013.
Vidência Já me curvei o suficiente para entender a vida. Nem quero o velho ofício que passa de pai pra filho. Gosto das frutas que amadurecem secretamente conheço o que dentro de mim se fecha e é esculpido diariamente. Desde que nasci tenho um verbo presente: morrer e tantas vezes me sinto montada na fera, outras apenas arrastada como a cômoda de peroba que não cabe no quarto. Acreditar naquela pequena luz de uma estrela anã é dizer sem pressa uma reza mansa.
Inesgotável Já fui tão antiga querendo ser feliz. Mas ele chega louco demais para o meu corpo. Me arrasta, porque sabe que serei magma Neste doce deslumbramento das marés altas. E feito um guerreiro suas mãos tocam Onde só existe falta. Esse homem me habita com fúrias e pássaros.
Uma vigília 96
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lila_maia.html
Quarenta anos depois o silêncio da chaleira que ferve. Na infância, sempre acendi uma vela na outra. As surras que levei não se enraizaram. Cada dia soletrei um tempo do verbo partir. Vivi com a indiferença e a saudade presas ao calendário. Quarenta anos depois não sei me despedir da saudade: continuo ouvindo o arrastar daquele chinelo número trinta e três pela casa.
Canto intermitente Celebro uma ferocidade plena. Furo com os dedos teu peito nu. Parto que nem vento e saio da boca do leão para a do lobo. Janeiro me trai feito sol. Tudo que podia brotar não é flor.
Desejo A árvore que persigo é alta e mordo seus frutos como quem mata. Mas meu peito selvagem quer a outra metade.
Fala-me Aprendo agora a palavra engolida, o alvo certo que os loucos têm se atiram pedras. O momento exato de refletir sobre teu silêncio com a fala
LILIAN LUCIA PORTO R. DA SILVA Lilian Lucia Porto Ribeiro da Silva: Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Radialista Profissional. Especialista em Didática Universitária pela Faculdade Atenas Maranhense - FAMA. Atualmente é Superintendente Executiva de Planejamento e Coordenação da Secretaria Municipal da Fazenda e Professora concursada em Língua Portuguesa da Secretaria de Estado de Educação (MA). Experiência nas áreas de Educação , Comunicação e Planejamento. Fonte da biografia: escavador
PÁGINAS AMARELAS Indagaram-me sobre as página em branco que deixei de minutar. .Porque não anunciei o pranto aos que apeteciam decifrar. Da dor insana ao boquirroto, em breve instante, o riso atravancou o pranto. Ora, não sou a senhora da razão, mas, se são meus prantos poderei dizer que não. Eu os levarei comigo. Já são vísceras cardadas, demudadas em fios, imersas em amianto. Deleitar-me-ei sobre o cálice, esperando o decesso nessa imensa desordem de páginas amarelas. VOZES DE AÇO. XXI Antologia Poética de Diversos Autores. Homenagem ao Acadêmico Antonio Carlos Secchin. Organização, Montagem e Editoria Jean Carlos Gomes. Volta Redonda, RJ: PoeArt Editora, 2019. 102 p. ilus. fotos. p&b e col. 15x 21 cm. ISBN 978-65-5031-008-0 Inclui textos e fotos de poetas brasileiros contemporáneos de varias parte do Brasil. Ex. bibl. Antonio Miranda
LINDA BARROS Publicado em junho 6, 2020 por Carvalho Junior
https://www.facebook.com/lindalva.barros.94Linda Barros, nome literário da professora e atriz Lindalva Maria Barros Neres, que é graduada em Letras (Português e Espanhol) pela Universidade Federal do Maranhão, especialista em Língua Portuguesa pela Faculdade Atenas Maranhense e em Dança Educacional pelo Censupeg. Nascida em Pastos Bons (MA), é autora do livro de poemas Palavras ao Vento e, atualmente, trabalha na rede pública e a particular de educação. NASCE O DIA Nasce o dia E com ele A razão, o esplendor A saudade vazia Nasce o sol E com ele O manto desvelado A sensação de estar só Vai-se o dia Vai-se o sol Mas não apaga Angústia vazia
O PARTO Palavras são arrancadas do meu ventre dadas ao vento com emoção e desalento!
VELOCIDADE Pensamentos que voam na velocidade do vento e alcançam a curva do Tempo
INSÔNIA O tempo vai passando len ta men te a Vida se vai len ta men te e de repente… a solidão.
LU MENEZES97
(São Luis do Maranhão, 1948) Estudió Sociología. Publicó, entre otros: O amor é tão esguio (1980) e Abre-te, Rosebud (1996). De Heloisa Buarque de Hollanda Otra línea de fuego - Quince poetas brasileñas ultracontemporáneas. Traducción de Teresa Arijón. Edición bilingüe. Málaga: Maremoto; Servicio de Publicaciones, Centro de Edciones de la Diputación de Málaga, 2009. 291 p ISBN 978-84-7785-8 Estirpe Índios americanos sempre souberam: da assimétrica junção de uma mulher e um cão —certainly de caça ao deleite, que a cada ereção dos seus descendentes dentes em riste persiste e promete apócrifo céu suculento— o primeiro homem nasceu Respingos dele — respingos me irrigam — Não sei por que com tão vasta sede deserto tamanho cultivo «Não sei por que gosto tanto de areia», ele disse com voz onde água escondida Não sei por que gosto tanto de qualquer coisa que ele diga Estirpe Los indios americanos siempre lo supieron: de la asimétrica conjunción de mujer y perro — certainly de caza al deleite, que a cada erección de sus descendientes dientes en ristre persiste y promete apócrifo suculento cielo—
97
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lu_menezes.html
nació el primer hombre Respingos de él — respingos me irrigan — No sé por qué con tan vasta sed tamaño desierto cultivo «No sé por qué me gusta tanto la arena», dice con voz de agua escondida No sé por qué me gusta tanto cualquier cosa que él diga ------------------------------------------------------------------------------Corpos simultâneos de cisne Branco ideal e branco real o mesmo cisne no espaço de um saco de sal ocupam mas eis transmigrante lei que em mantimentos transfez obsoleta ampulheta: um cisne de sal segue o curso do tempo e míngua até ser somente de plástico transparente
Cuerpos simultâneos de cisne Blanco ideal y blanco real un mismo cisne en el espacio de un saco de sal ocupan pero he aquí transmigrante ley que en mantenimientos torna obsoleta ampolleta: un cisne de sal
sigue el curso dei tíempo y mengua hasta ser solamente de plástico transparente
LÚCIA SANTOS98
ANTROPONÁUTICA Lúcia Santos |Arari/MA, 18 de novembro de 1964). Poeta/escritora, atriz e letrista brasileira. É a autora de Quase Azul Quanto Blue (1992), Batom Vermelho (1997), Uma Gueixa Para Bashô (2006) e Nu Frontal com Tarja (2016). http://nufrontalcomtarja.blogspot.com/
NO UMBIGO DA NOITE INSANA Enquanto eles dormem eu me aqueço lavando peças de roupas na pia do banheiro enfeitado por calcinhas penduradas. Enquanto eles dormem eu alinhavo e costuro a bainha do vestido comprado no brechó a preço de banana. Enquanto eles dormem eu espano o pó das prateleiras organizo estantes gavetas cheias de cadernos rabiscados. Enquanto eles dormem eu abro um livro autografado que nunca terminei de ler porque a distração me atrai ainda mais insone. Enquanto eles dormem eu ouço aquela música que atravessa o peito e me deixa em transe de boniteza como um poema de Maiakóvski. Enquanto eles dormem eu escrevo eu escrevo eu escrevo. De manhã nenhuma escravidão me fará acordar com o despertador enchendo o saco lembrando que o mundo gira depressa lá fora enquanto meu cordão umbilical cicatriza.
PUNK fuck it a vida não é fake book comercial de margarina pose e look mesmo fina a dita dura da felicidade só entra com vaselina
VEDETE é só no começo que o amor não tem preço é só no comércio 98
PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro
que o amor é bom negócio é só no início que o amor me enternece é só pelo avesso que o amor é o máximo é só no cinema que o amor é vedete é só na internet que o amor não tem endereço é só na incerteza que o amor é gostoso é só pelo gozo que o amor me convence é só pelo vício que rezo em teu terço é só pelo verso que amo tão fácil
FIO TERRA você diz que poesia não dá ibope pois meta seu dedo sem tato na tomada da palavra pra ver se ela não dá choque Share this: Twitter Facebook
LUCIANA MARTINS 99
Luciana Martins é poeta, escritora e professora maranhense, mestre em Literatura pela UnB e doutora pela USP, autora dos livros Lapidação da Aurora e Espetáculo das sensações alheias. "Todos os seus poemas trazem essa graça misteriosa. A ternura disfarçada. "lado oposto / único lado / exposto / de mim." Me faz bem a sua poesia. Está bem madura, sem as muletas dos adjetivos. "Um rouxinol sem sol". Os poetas são anjos. E têm o dom de encantar. Fiquei um tanto encantado com os seus poemas tão disfarces. Seus poemas são luminosas gotas. Muito obrigado pelo presente. Seu amigo, com carinho MANUEL DE BARROS"
FALA DO CORO E viver não seria apenas tangenciar a morte até sua impossibilidade? Sacode as grades invisíveis do corpo, procurando debalde sair de si para entrar, por exemplo, na mulher “sem metafísica” que está do outro lado da rua e que se deixa ver pela janela do quarto onde nossa poeta escreve. Tentar contar o acontecido também é uma maneira de fazer nascer um novo caos. Mas cumpria enfrentar a linguagem, aproveitando a noite em que a metalinguagem tomou um sonífero diluído no copo de leite que a poeta, sua fâmula, lhe entregara. Era o que faltava para o começo.
O QUE É QUE É? filha amarela no meio das verdes fio desfeito na trama das redes palavra deserta no poço da frases silêncio de cigarra na travessia laboriosa das formigas água contaminada do oásis
CÂNTICO CÁUSTICO Deus não existe mas incomoda bastante
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/luciana_martins.html. Página publicada em outubro de 2008; ampliada e republicada em fevereiro de 2011. LAPIDAÇÃO DA AURORA. São Paulo: Editora Giordano, 1996. 52 p.
PASSEIO NA FLORESTA no bar, eu brinco como a solidão (lugar-comum que me faz mais um) no vinho, eu vejo o caminho da noite, que vem a ser manhã, temporã encontro, nessa ida, iguais que se esfaqueiam por trás e desfazem sua lida tecida na fraternidade dos canibais
FIM DE ANO um resumo do dia: flannerie por vitrines e encontro com seis papais-noéis de porta de loja — passo em revista a vida e ela não é mais do que um monte de produtos à venda para o natal do qual só posso comprar uma pequena alegria com cheque pré-datado para daqui a 120 dias
DESOPÇÃO (pensando em Emily Dickinson) as vias do olhar percorrendo o mar e também coisinhas miúdas, amenas: banheiro, cozinha, sala de jantar a casa ou o navio? o ir ou o ficar? a via de cá a via de lá: sala de jantar — mar
AMAR construir estradas para se perder
FIRMAMENTO vem luzindo a estrela cadente e luzente a estrela caindo quando teus olhos mirando findo
MÁRCIA MARANHÃO DE CONTI100
Marcia Maranhão De Conti, filha de Antonio do Rêgo Maranhão Neto e Zelair Mendes Maranhão (in memoriam), nasceu em São Luis (MA) em 27/04/1957 e mudou-se para Goiânia, onde reside, aos 7 anos. Morou por um período em São Paulo, época em que nasceram os filhos mais velhos. Estudou no Emmanuel, Liceu, Carlos Chagas, Instituto de Artes da UFG (piano) e Centro Cultural Brasil Estados Unidos. É formada em Nutrição pela UFG e em Direito pela UNIVERSO. Especializou-se em Nutrição Clínica na UFRJ e em Direito Processual na LFG. Trabalha no Ministério da Saúde e é membro da OAB-GO. Sua paixão é a poesia. Participou de antologias, de concursos regionais e nacionais, sendo várias vezes premiada, inclusive no 5° Prêmio Nacional de Poesia - Cidade Ipatinga com o 2° lugar (2007). Teve três poemas selecionados no concurso Poemas no Ônibus e no Trem, promovido pela prefeitura de Porto Alegre: "Flor" (2007), "Um Poema no Ônibus" (2009) e "Embalagem" (2011). "Flor" esta em camisetas de catadores de papel de Porto Alegre a pedido do professor universitário, canadense, Denis Beauchamp, que preside uma associação voltada para esses trabalhadores. Luar nos Porões (piano mudo) é seu livro de estreia. “Cada poeta inventa ou sonha o seu próprio caminho. E, através deste, atira ao papel o grito verbal de suas emoções. Márcia De Conti se enquadra, poetante, à pomífera dimensão desse princípio; porque sabe o canto que arranca da alma e atiça-o à garganta das palavras, como quem pega com a mão uma faísca de sol e a transforma em chamas de poesia: "Agora entrego ao sol o mofo da minha cama/e, devagar, estendo os lençóis/que acompanharam a minha insónia". O seu recado de poeta é a voz de outros recados: os de ânsia metafísica fervilhantes nos subterrâneos da 101 mente.” GABRIEL NASCENTE
PROGNÓSTICO Agora desenho em meu quarto uma varanda E, da janela semi-cerrada, Um raio de luz me alcança. Agora entrego ao sol o mofo da minha cama E devagar estendo os lençóis Que acompanharam minha insónia. Agora pressinto uma brisa No interior do meu cómodo E a inspiro lentamente Até arejar minhas entranhas. Agora decifro as letras Que se agarraram ao meu sangue, E solfejo pra elas uma melodia 100 101
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/marcia_maranhao_de_conti.html DE CONTI, Márcia Maranhão. Luar nos porões (piano mudo). Goiânia: Editora Kelps; Editora PUC Goiás, 2011. 94 p. (Coleção
Goiânia Em Prosa e Verso) Pintura estampada na capa, de Maria de Jesus Furtado
Com um resto de nó na garganta. Agora revejo a minha agonia Como num quadro de Picasse. Pareço-me surrealista Ao expressar meu ocaso. Agora tenho a fome dos dias Em que não quis comer nada. E contemplo o meu ser faminto A saciar-se do nada.
UM POEMA NO ÔNIBUS Parece que a cidade passeia, E o pensamento espia a palavra. Há um poema que vagueia, Versos virando paisagem. Parece que a janela me leva, E o poema levanta os olhos. Não sei se fico ou viajo. Vou nas palavras e volto. Parece que tudo é passagem. O poema beija meus olhos.
VESTÍGIOS Meus acasos não povoam Páginas de dicionários. São trilhas que transcendem A leveza dos passeios. As palavras são rastros Deixados no cimento fresco. Nem que eu falseie os passos, Minto comigo, nos versos. As palavras são pérolas De um colar que nunca tiro, Criadas nas conchas antigas Dos mares que habitam em mim.
PROCURA I Dentro da noite Um pensamento calado Vai sendo digerido. Tem na cor o tom de' um céu Que decide o poema. II A poetiza testa palavras Como se experimentasse vestidos.
MARIA CRISTINA AZEDO MATTOS Partimos “em busca das escritoras maranhenses” após publicar a biobibliografia de Leonete Oliveira e um excelente artigo de Antonio Aílton analisando sua produção. Até então, estava esquecida. Surgiram algumas polemicas, haja vista ter sido citada, em artigo publicado em 1909, como a primeira escritora maranhense. Dentre os que se manifestaram, Jucey Santana cita diversas escritoras maranhenses pouco conhecidas ou estudadas: Temos uma riqueza de poetisas ainda completamente esquecidas. A exemplo de Maria Cristina Azedo que encontramos poemas seus desde 1873. Em 1899 ela publicou “Amor e Desventura”, pela Tipografia Ramos de Almeida. O último livro dela foi “Flores Incultas”, em 1924. Zilá Paes fundou vários jornaizinhos como: Carriça, Vésper, Nossa Bandeira... Publicava seus poemas e dos alunos, Apolónia Pinto que nasceu em 1866, conhecida como dramaturga, foi uma renomada poetisa, e a famosa Papilon Bleu, pseudônimo Ana de Oliveira Santos, também conhecida por Anicota Santos. Publicou “Acordes” em 1899. Este livro já se encontra no Acervo Digital da BBL. Vamos às buscas, principiando por Maria Cristina Azedo. Em A Pacotilha de 06 dee agosto de 1896 publica um poema em homenagem ao filho
Em A Pacotilha de 03 de fevereiro de 1897, um poema a sua filha:
No Diário do Maranhão de 21 de abril de 1898 aparece um seu poema:
E em 08 de setembro de 1898,
No “Diário do Maranhão” de 05 de março de 1900, quando do lançamento de um relatório do Centro Caixeiral, encontramos uma primeira referencia à d. “Maria Azedo Matos”, identificada como poeta:
Informa A Pacotilha de 07 de março de 1900, o surgimento de uma nova poetisa:
No Diário do Maranhão de 16 de julho de 1900
Em A Campanha de 27 de junho de 1902:
Diário do Maranhão, de 08 de dezembro de 1902, instalação da Sociedade Literária Nova Atenas e eleição de sua diretoria:
Também em A Pacotilha, mas do dia 10 de dezembro de 1902, aparece a criação da sociedade literária e a composição de sua diretoria:
Novo poema, publicado em A Pacotilha de 02 de janeiro de 1904:
A 25 de outubro de 1905 – e nas edições seguintes - manda rezar missa em intenção de seu irmão:
A 12 de novembrn de 1908, outro poema:
A 14 de setembro de 1909, em A pacotilha:
Pacotilha de 11 de setembro de 1912
A Pacotilha 10 de fevereiro de 1927
MARIA VILMA MUNIZ VERAS (pseudônimo: MARIA SCOTT MUNIZ)
Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil. Escritora, pesquisadora e poeta. Publicou “Voo Inquieto” em 1982, em São Luís.
Poemas extraídos da II Antologia de poetas Lusófonos. Leiria, Portugal: Folheto Edições & Design, 2009:
BALADA PARA SÃO LUÍS Lá está a velha praça. Lá está a criança brincando, o mundo parece de paz. Cheia de graça, com a chuva vespertina nas pedras da Cantareira. E lá vem o bonde, dançando nos trilhos, uma miragem. Pisando paralelepípedos soam meus pés, dispostos a uma boa caminhada. O coração quer rever tudo, sentir o passado bem de perto, dos Afogados aos Remédios, do Passeio do Carmo, da Cruz à Alegria. A cidade definida, contorno do casario, moradas-inteiras, meias-moradas e uma fileira de portas-e-janelas abraçadas na rua do Sol, eiras faceiras, negras beiras, se retorcendo na ladeira. Telhados promíscuos cobrem o perfil, primoroso e arcaico, rosto azulejado d´além mar, adorno de cores tão nossas e de eternos valores. Real é o porte de São Luís na rotina secular.
Entre palmeiras reais e sabiás imaginários encontro a poesia. Estro perene, imortal Canção. Ali no centro da praça a imagem do maranhense ilustre. Mar revolto, ao longe, derradeiro Exílio. Lusa e sorridente tarde, minha avozinha encantada. Vem a noite, bem brasileira, com sons ludovicenses de Bumba-Meu-Boi e Tambores, e outros ruídos mais. É a capital do Maranhão, semi-despertando no tempo
MEU ESPÍRITO REPOUSEI Meu espírito repousei, o pensamento a buscar todos os cantares, Dócil me tornei, e em recolhimento. Desde então tenho como morada o mundo tumultuado, insólito e penitente; da ferocidade da espada que dilacera aos mistérios que nos fala da Luz, pois há um, tempo da procura da verdade, conquanto ela nos ultrapasse com sua sutileza, mas o pródigo da sabedoria daquele que se fez forasteiro não se encontra em parte alguma. E diz a prudência de agora que do passado foi a incúria e muita coisa há de ser destruída, outras restauradas, para que se construa algo de aproveitável, antes que seja tarde e retornemos ao nada de onde viemos, se assim acontecer, pois a promessa é de castigo ao incauto, ao ocioso, ao descontente, a todos que se puseram em desassossego.
MARÍLIA MUNIZ VERAS É psicóloga, professora, poeta, artista plástica. Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil, em 18 de abril de 1965. Vive em Brasília, Distrito Federal, onde mantém uma clínica de terapia gestáltica.
VAN GOGH É a expressão vibrante na profundidade do sentir, permanece a cor vibrante, ensandecida, diluindo-se na oculta face de tua loucura, natureza excluída que no auge da plenitude, desacreditada refaz conceitos, demagogia surda que desfaz crenças, transgride regras. Incompreendido vive da imagem que é pura atitude, do belo a aparência, autêntica transparência que a arte manifesta, o vir a ser em sutil metamorfose, única de sua latente viagem ao inimaginável. Fragmentos de cores essenciais, criação simbiótica de uma atitude em conflito, inspiração do querer, expressão inconfundível que transcende à desorganizada instabilidade, quando se evidencia em autorretrato, incerteza e lucidez humanas. É o momento que reconhece a coerente figura contida na lucidez das cores brilhantes de uma mente genial.
MICAELA TAVARES Publicado em fevereiro 12, 2021 por Carvalho Junior
Micaela Tavares [São Luís/MA]: Aquariana com ascendente em peixes, 20 anos, por isso escreve poemas. Estudante de Direito na UEMA nas horas restantes. Leitora apaixonada dos poetas marginais e contemporâneos. Talvez anarquista. Um pouco tanto simpatizante comunista. Sapatona. @micatavsamp TALVEZ ELA TENHA ME FISGADO ontem eu falava bem mais das meninas as quais não hei de negar que adoro quando tão desengonçadas armam planos criam fábulas para me ver hoje eu falo bem mais da menina a qual não hei de negar que adoro quando tão arrepiada sussurra baixo um segredo que me faz gaguejar e me render qual era o assunto?
I’M BAD FOR YOU BUT
I’m bad tentei te escrever canções perdi o trecho que dizia que me acompanharia no teu ukulele azul eu pensava em notícias para dar: o cinema em que íamos fechou e te vejo tímida ao beijar-me sob a areia talvez eles vejam
e não me importo que vejam porém, darling, tu te importas mas tudo bem! às vezes jogo pedras na água e faço-as quicar consegue ver? Talvez não viste pois atendia o celular darling, I’m bad for you but estou disposta a esperar as cinco horas de trânsito sem sinal me fazem enlouquecer sem você por isso escrevo poemas
TENHO REPARADO NOS IPÊS PELA CIDADE
o meu corpo restringe que tua alma me queira pouco me importa o corpo dos outros pouco me interessam fico de ver se vens quando vens vou abaixo a cabeça enrubesço mas volto o olhar ao teu – de vez em sempre procuro pelo melô que dançamos na mesma intensidade em que reparo os ipês floridos pela cidade: como se fosse a última coisa a se fazer antes de morrer.
A VOLTA DA BOSSA Baby de todas as canções que me deixaste reconhecer a sofrer
por ti agora entendo bem o que a Gal quis dizer ao interpretar o Gil Caetano Salomão Melodia & etc tente entender em que ano estamos Baby Honey, Baby eu preciso esquecer que tudo é Divino Maravilhoso e me lançar no Mel with Sugar que é viver sem você porque o Pai da Tropicália é a Bossa e a bossa diz Chega de Saudade.
RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA102, 103
Por Dinacy Corrêa104 Sanluisense nata, desde muito jovem, Rita de Cássia, professora universitária, graduada (Ufma), mestre, doutora e pós-doutora em Filosofia (PUC-SP), esteve ligada à militância de esquerda, na política estudantil, quando ainda estudante de Filosofia, na política partidária e ideológica, em todos os momentos de sua consciência. Tem participado de comunidades que buscam o bem-estar social, como Centro de Cultura Negra, Grupo de Mulheres da Ilha, Comissão de Justiça e Paz, entre outros. Muito ligada às causas da mulher e dos oprimidos, Rita de Cássia tem construído uma literatura engajada, numa certa dicção política, abordando temáticas variadas, cuidando de assuntos amorosos, sociais e, com muita determinação, dos temas relacionados à libertação feminina. Seu trabalho junto às comunidades, são relacionados com a educação e com as reivindicações da massa oprimida, o que se reflete em sua obra poética. Entre outras obras, a maranhense/sanluisense é autora de (RE)Nascer Mulher (1983) e Poiesis (2007), numa abordagem contundentemente feminina, a vislumbrar a mulher em seus anseios, suas relações com o repressivo mundo exterior, como servem de exemplo os dois poemas abaixo: RENASCER Quero despertar o bem-me-quer da História. E cada folha amarelecida e carcomida pela sífilis do machismo, jogar no abismo do tempo. E colocar não mais flores mas raízes fincadas por mãos calorosas e regadas não com as lágrimas mas com o suor de quem lutou por ser inteira. E, do segredo que o século me revestiu, quero ser berro cada vez mais forte, mais audaz, e sair rasgando todas as bocas amordaçadas pelo silêncio do bem-comportado. E não me degenerarei: serei pura. Não quero ser só bandeira: antes, serei atos na práxis de um vir-a-ser parido em convulsões de uma nova era. E ressurgirei inteiramente mulher! (OLIVEIRA, 1983, p.9)
PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011. 103 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/ 104 CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo). 102
CONCESSÃO ... Se me queres, se me queres... aceita-me mulher. Mulher semente, mulher espinho, negada pelo teu machismo, porém refeita pelo tanto de homem que és. ... Se me queres, sou começo, infinitude, chegada. Se me queres... vem, mas vem manso, morno, moreno... agasalhar-te sob as minhas asas de abelha-rainha. Se me queres... (Ibid., p.10) Atenta aos acontecimentos de seu tempo, ela consegue, na sua poesia, fazer ecoar o grito forte, que clama pela libertação da mulher, frente aos preconceitos e barreiras do mundo em que vive, em especial ao machismo, a que faz referência nos dois poemas em leitura. Em Renascer, poemas em versos livres, a autora retrata a mulher, ao longo da evolução da sociedade humana, no vértice da repressão sofrida, aliás, não só por esta (a mulher), mas por toda uma maioria desfavorecida da sociedade. Nos versos Quero o berro cada vez mais forte,/ mais audaz,/ e sair rasgando todas as bocas amordaçadas, a poetisa faz transbordar toda a sua indignação, considerando o tempo precioso em que a mulher se deixou calar frente aos problemas. Ela quer gritar, esbravejar, para todos os cantos do mundo, as suas reivindicações... como num grito de fêmea subjugada, mas sedenta de liberdade. Grito de mãe protetora de sua ninhada... De mulher a defender os seus direitos e que sabe dos seus deveres. Um grito de alerta a todos os que, até então, nunca fizeram nada em favor dos oprimidos. Uma convocação, portanto, a essa causa imediata. Em Concessão, a ideia de liberdade e de aceitação, por parte dessa mulher, vem como que atrelada ao sentimento, brotado e cultivado entre os gêneros diferentes. O poema bate na tecla da aquiescência da mulher em relação ao homem. Mulher renegada; aceita apenas pela metade: aquela que serve ao homem mas, se vê rejeitada na outra metade, a da companheira. Na poesia de Rita de Cássia, o homem é metáfora de um mundo que nega a mulher, em sua plenitude, e a reduz a um mero utensílio para sua sobrevivência, não passando esta (a mulher), então, de um simples meio de reprodução (para continuação da vida) e de promoção dos gozos masculinos. A autora reflete sobre essa submissão da mulher e sobre as convenções interpostas entre esta e o homem, reivindicando o direito de ser vista no mundo como sujeito e não como objeto. Em Poema quase-vermelho, ainda nos deparamos com uma poesia engajada, a partir da metaforizarão da esperança e dos sonhos, do desejo de ver o fim das dificuldades humanas, as mais cruciais... Vejamos: POEMA QUASE-VERMELHO Havia ainda uma diminuta esperança em vermelho a arder no meu peito todo prenhe de sonhos azuis. Chegaram: empunharam a metralhadora e o fuzil. – Mataram a flor. – Deceparam-me as mãos... E os gritos? E os gritos de protesto, de fome, de amor... dilacerados, agonizados a estrebucharem nos olhos de uma geração à mercê de chicletes e generais.
Abortaram todos os m e u sonhos. E o poema tornou-se enclausurado no verde. (Ibid., p.16)
Interessante é perceber, neste poema, a simbologia das cores, marcando o sentimento do eu-lírico ante os acontecimentos. A esperança, em vermelho, é mais tarde representada pela flor assassinada pela metralhadora e o fuzil, configurando o sofrimento humano, frente às mazelas sociais que aniquilam os sonhos de construção de uma sociedade justa e igualitária. O sonho azul, de alegria e paz, dá vez ao medo, aos protestos, à violência... Sonho que morre, mas deixa a esperança viva, no poema, ainda que enclausurada no verde... como porta-voz dos desejos (ainda frustrados) de comunhão social. Neste último poema selecionado, Rita de Cássia Oliveira, distanciando-se um pouco da tônica de sua poesia, faz vibrar a sua lira amorosa. ACONTECÊNCIA (2) E, em novo esperar de vir-a-ser, aconteceste no meu sentir: matéria harmoniosamente trabalhada a agasalhar-se entre minhas pernas em côncavo. E eu te teci mansamente: com a mesma delicadeza das mãos a trabalhar o linho em vestes. E eu te envolvi prazerosamente: com o mesmo frenesi do vento a beijar a longa cabeleira do milharal em flor. E eu te comprimi dolorosamente: com a mesma sofreguidão das barreiras traçando o percurso das águas em rio. E fomos: um homem, uma mulher em cio de existir, trabalhando pacientemente o amor. Fomos: uma mulher a tecer um homem; um homem a tecer uma mulher. (OLIVEIRA, 1983, p.31
Como vemos, a tônica do poema é a cumplicidade na relação amorosa homem/mulher. A poetisa manifesta sua sensibilidade no que toca à valorização do sentimento mútuo entre os gêneros. O amor é apresentado como poderoso elo geminal, comparado às ações da natureza, para mostrar, não só o quanto esse sentimento se faz presente em nossas vidas, como também a recíproca necessidade entre os gêneros (masculino/feminino). Ambos (homem e mulher), na sua respectiva incompletude, necessitam um do outro. Aqui, retomamos os valores já estabelecidos anteriormente, quanto à poesia de Rita de Cássia, que confirma o desejo de pôr fim a essa “mão única” de submissão da mulher ao homem. O EQUILÍBRIO 105 O equilíbrio foi gerado por Hércules e Minerva. Falou-me o sábio. A força e a sabedoria se enlaçaram na mais sublime relação, dando origem à geração do equilíbrio. Pouso da alma que não pende frente ao vendaval. Ponto no espaço que ancora o tempo na vastidão das existências e mortes registradas no livro de São Jerônimo. Do alto do Senado, o ancião julga as vidas e as mortes que se prolongam nas existências... Quem somos? Somos a soma e a divisão na eternidade. 105
PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro
Somos a multiplicação e a subtração no mundo temporal. A sombra que escurece parte da terra não detém a nossa figura, que se traça na passagem das portas da geração, da degeneração e da morte... Poíesis, 2007
ROSEMARY RÊGO106, 107
Maranhense de São Luís, graduada em Letras, pela Fama (Faculdade Athenas Maranhense), militante no campo do magistério, Rosemary Rego pertencente à já convencionada geração de 90 (séc. 20), da Poesia Maranhense. Precocemente dedicada à criação literária, produzindo, a princípio, peças teatrais, é na Poesia que vem a ser reconhecida e apreciada, ainda na referida década, no cenário das Letras ludovicenses onde, no seu grande poder de percepção, sua admirável sensibilidade para captar e traduzir, poeticamente, o mundo, atua como produtora e grande incentivadora da arte da palavra. Em 1998, por exemplo, apresenta, na Rádio Cidade, o programa Som da Ilha, voltado para a literatura, constando, este, de entrevistas e recitais de poesia. Participou, também, na TVE do Maranhão, de clips do Tempo de Poesias, declamando poemas de sua autoria. Entre essas e outras atividades do gênero, vale lembrar sua participação no grupo Poiesis (Universidade Federal do Maranhão), nos famosos recitais Canto & Verso, ao lado de outros poetas, como Geane Fiddan, Bioque Mesito, Antônio Ailton. Sem falar nos Festivais – como o Festival de Poesia Falada (Ufma), em cuja 11ª. edição, arrebatou o primeiríssimo lugar. Em 1997, vem a integrar a Antologia Poética Safra 90, período em que também integra o grupo Curare que, como o Poeisis, põe em discussão a produção literária maranhense da época. ABRIL Ontem flores germinavam sobre mim O onírico prazer de esculpir a vida me transformou no fruto do carbono. O duro ofício de lapidar o pão carrega nas pálpebras o abominável cansaço da alma. Amanhã que seja cedo ou tarde sorrisos repousarão sobre o meu cadáver. (REGO, 2004, p. 43)
SIGLO Um final de século flui no peito XX séculos, repousa à eterna idade O cair de folhas secas é charge de um horizonte azul.(REGO, 2004, p.36)
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CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/
APOLOGIA Ouvi baladas Dentro da noite veloz Estrelas da vida inteira. A poesia é canto geral Masmorra Didática Na her me ti ci da de da vida. Anjos malditos Beijam as flores do mal O ócio desperta os canhões do silêncio! (REGO, 2004, p. 10) Amargo silêncio o poema é a meta linguagem do acaso Faca decepando o sol de final de tarde a rua é ócio dor tudo é passional menos o poema essência de tudo de nada do tempo das cinzas. (REGO, 2004, p. 12) CANÇÃO ONTOLÓGICA PARA SÃO LUÍS
Sol de setembro o sorriso da cidade abre em feição ontológica a cidade impregnada nela mesma relíquia do tempo as horas o devir os dias existem neles a cidade se edifica pedra do tempo
PSICOLOGIA DO TEMPO
O acaso é a metalinguagem do tempo obra-prima de Deus o tempo não morre renasce Comemos pizza e brigadeiro como quem jamais envelhece O tempo plantou em nós o devir, transformação única de nossa história que um dia escrevemos no asfalto a giz de carvão. Ninguém Leu nossas palavras A flor que jogamos no tempo desabrochou!
REMINISCÊNCIA
Sente minha carne a dor da morte pela ida dos meus dias cobertos de vime Silenciaram os Anjos que sacudiram a minha alma diante do Leviatã.
VIRGINIA RAYOL BRAGA MALUF
Nasceu em 24.12.18. 1950, em São Luís do Maranhão. Graduada em Comunicação, pela Universidade Federal do Maranhão. Professora titular de Comunicação Social da UFMA. Poetisa, cronista (do jornal “O Estado do Maranhão”). Faleceu em 3.11. 2002?.
ETERNA CHAMES 1 Que prepara os meus rituais que discorda de meus ancestrais e me seduz com pequenos desaforos e duas horas depois com beijos 2 Chames, Chames nessa troca vivencial digitamos nosso computador nossa ideologia amorosa para o novo milênio 3 Ah, meu amor! Fiz-me em aposto para entender teu feed-back linhas conflituosas intermediadas por períodos de democracia um glossário de vocabulários criativos sob o impasse de chavôes da mídia e música dos Cds de Asa de Águia Chiclete com Banana e Banda Eva 4 No meu tempo de adolescente eu andava de bonde Deus ia no bonde Deus era o bonde 5 No hoje do teu tempo
Deus está no computador Deus é o computador 6 Chames, travessia, o caminho e suas trilhas daquilo que não vivi... contigo aprendo o reverso da história que jamais será contada... 7 Chames fogo que apascenta paz que assusta proposta...afago instinto telúrico de menina e mulher ser do meu ser sem ser de mim 8 Acima do bem e do mal és Chames acima de minhas mortes és eterna.
LIÇÃO DE APOSENTADA
1 Certo dia eu me aposentei sentei na escrivaninha e organizei um calendário de preguiça sob os fios da chuva de março 2 Durante a manhã não fiz nada sobre o poema do nada 3
À tarde ensaio o violão
4 Ensaio o violão relembrando lendárias aulas de piano Mozart, Beethoven a Valsinha Manhosa de Guarnieri O Desafio de Villa Lobos gritos histéricos da professora e uma forte dor de barriga
5 À tarde sou crítica implacável e apurada menina frágil e amedrontada à tarde sou aventureira anárquica de toda a mística feminina a tarde reivindico 6 À tarde sou aventureira clássica das questões de amor sou contestadora permanente de todas as dimensões de injustiça à tarde odeio a injustiça farisaica vestida de blaser celular no bolso sorrindo o tempo todo 7 À tarde fico ilesa e esotérica ardente e fulminante no duelo de forças opostas o poder e a miséria o chão e a fantasia o amor e as trevas 8 À tarde sou colo e poço asas tresloucadas corpo embevecido choro sobre a alma da tarde e a tarde se esvai no espanto e da alma cai a tarde levitando no seu pranto 9 À tarde sou poeta porque sou poeta o dia todo no todo da vida e na vida do todo 10 Sou poeta antes de ser antes de vir antes de me iludir antes de querer 11 Sou poeta antes de vislumbrar que uma possível felicidade possa me acenar a 100 Km de distância já sou poeta antes disso
12 À Tarde sou Madame Bovary E Madre Teresa de Calcutá Sonho com a Dama das Camélias e Santa Teresa D'Ávila 13 À tarde leio leituras por capítulos em montagens compiladas num esforço de mente e de dedos quero uma intertextualidade cósmica à minha prosa literariamente existencial 14 À noite sou um ideal que sumiu como um ponto final 15 Eu me aposentei e hoje a primeira noite que tento me perseguir por um novo ideal de um novo emprego.
LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
ZILÁ ANGELA PAES Recentemente, publiquei a biobibliografia de uma escritora maranhense, do princípio dos 1900, e que gerou muita polemica, quando da crítica literária apresentada pelo Antonio Aílton. Muitas outras escritoras, dessa mesma época, foram citadas nos comentários, em especial as informações prestadas por Jucey Santana, lá de Itapecuru-Mirim. Fui a busca dos nomes citados. De uma delas, apenas uma nota de falecimento, em 1924. De Zilá Paes achei mais recortes para sua memória em diversos jornais do Maranhão, existentes na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Interessante, que sobre essa intelectual, as referencias são apenas de sua atuação enquanto diretora da Escola isolada Sotero dos Reis, das palestras que fez, em datas cívicas com a participação de alunos da escola que dirigia, e nenhuma poesia ou conto publicado, nos jornais, como era de costume da época. No acervo da BPBL-Digital, não encontrei a Revista Renascença, e a Maranhense 108, consultei os números disponíveis e não encontrei o nome de Zilá Paes. Não vi todos os números de alguns jornais, os que apresentam mais referencias, mas as que vi, se referem apenas à diretora, e nenhum texto... Como explicitado, recorro à forma de resgate de memória buscando e publicando os ‘recortes’ dos jornais em que haja menção. É memória, não História. Deixo as análises para os especialistas. Apenas alimento as informações publicadas sobre determinado autor... A ordem é o do aparecimento da notícia, informando-se o jornal e a data da publicação e, claro, o recorte da nota. Simples assim. Copiar e colar... ZILÁ ANGELA PAES era professora normalista, nascida em 05 de maio, conforme nota social no Diário da Tarde, no ano de 1910:
1899 – Em A Pacotilha de 31 de outubro faz chamada para realização dos exames, constando da lista nossa biografada:
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http://casas.cultura.ma.gov.br/portal/sgc/modulos/sgc_bpbl/acervo_digital/arq_ad/20160106110201.pd f
- A 21 de novembro, estava sendo chamda para a realização dos exames de música; em 1901, estava aprovada plenamente nos exames de geometria; em 1902, a 19 de novembro, resultado dos exames, no 3º ano, em língua francesa. 1901 – Cursava a Escola de Música do Maranhão
1904 – 12 de julho, estava na relação das pesssoas que contribuíram para os festejos de São Sebastião, da Igreja de São João Batista. 1909 – A Pacotilha, de 16 de julho, traz as homenagens do Gremio Literário Arthur Azevedo, onde seria uma das palestrantes - No Diário do Maranhão, de 21 de fevereiro, Carlos Rubens publica uma carta aberta sobre o falecimento de Olimpio de Castro, e falando sobre o amor, cita Vieira da Silva; num trecho, refere-se à duas autoras maranhenses:
- A 19 de março, anunciada conferencia que seria proferida no Gremio Literario Maranhnse, do qual era associada:
08/05 – No Diário do Maranhão: Fundado o Gremio Literario Artur Azevedo:
06/06 – Diário do Maranhão –
1911 – Diário do Maranhão de 03 de janeiro anuncia a publicação da revista Renascença
A Pacotilha também anuncia o lançamento da revista, com a colaboração de Zilá paes 1917 – O Jornal exalta a festa promovida no Colegio Sotero dos Reis
1918 – Janeiro, 9, em O Jornal nomeação para a direção de uma escola isolada:
14/05, em O Jornal:
27/07 – O Jornal exaltava o trabalho da diretora da Escola Sotero dos Reis, por não deixar passar nenhuma data histórica, com a participação dos alunos:
Esse jornal, sempre destacando o nome de sua diretora, Zilá Paes, continua a publicar notas informando a participação dos seus alunos em todas as festividades cívicas e datas importantes da História do Maranhão; todo 5 de maio, o J0rnal lembrava o aniversário da professora normalista Zilá Paes, diretora do Sotero dos Reis 1920 – Pelo encerramento do ano letivo, a festa de diplomação contou com a presença do Presidente da Provincia, que elogiou o trabalho da diretora 1921 – No Diário de São Luis, a 25 de fevereiro:
Seguem-se várias notas, sobre o aniversário da Revista Renascença, nos dias seguintes, onde era ressaltada a participação de Zilá, dentre os oradores e colaboradores. No Diário de São Liuis de 11/04 consta estar participando do descerramento de placa da Rua issac Martins, quando proferiu discurso; na edição de 04/05, nas comemorações do 03 de maio, ainda dentro das atividades da Revista Maranhense; a 27 de junho, estava presente nas homenagens a Antonio Lobo, promovida pela Revista; em 31 de outubro, em solenidade promovida pela Revista Maranhense em homenagem ao dr. Almeida Oliveira e ap centenário da chegada da primeira tipografia. Os alunos de diversas escolas se fizeram presentes, apresentando peças, teatro e poesia e canto/hinos, destacando-se as alunas do Sotero dos Reis, dirigido por Zilda. Já em 26 de novembro, o encerramento das aulas do curso particular mantido pela professora Zilá Paes, com apresentações de seus alunos. 1922 – Segundo o Diário de São Luis, a 14 de agosto, nova reunião da Revista Maranhense, com a participação da profa. Zilá e suas alunas. 1923 – Aposentadoria de uma professora normalista suscita um longo artigo, em que muitas outras professoras são ressaltadas, dentre elas nossa biografada:
23/02, está presente nas comemorações do 24 de fevereiro, iniciativa da revista Maranhense; já a 15 de maio, nova comemoração, destavez do 13 de maio, com atividades em várias escolas, dentre as quais a Sotero dos Reis, dirigida por Zilá 1924 – Folha do Povo, de 19 de janeiro de 1924:
04/10 – solicita prazo para se vacinar contra a varíola, devido ao seu estado de saúde:
29/10 – Discursa em homenagem ao Secretário do Interior, falando em nome das professoras. A 18/11, encerramento das aulas do Sotero dos Reis, conforme nota do Diário de São Luis, que informou sobre o trabalho da sua diretora 1925 – Na Folha do Povo de 25 de dezembro, que haveria uma apresentação de uma Pastoral do Messias em sua residência:
1948 – O Diário de São Luis parabeniza a profa. Zilá pelo transcurso de seu aniversário, ocorrido a 05 de maio. Nessa mesma nota, também parabeniza outra poetisa, de Rosário:
1952, A Pacotilha de 29 de março informa que fora madrinha de um casamento. Na edição de 04 de setembro, que fora recebida pelo Governador do Estado; 1060 = na edição de 21 de outubro de 1960, era comunicado seu falecimento, após longa enfermidade, no dia 19 de outubro no Rio de Janeiro, onde seria sepultada no Cemitério São João Batista.
GALERIA DE LIVROS
VENÚSIA NEIVA Venúsia Cardoso Neiva nasceu em Grajaú, Maranhão, em 1938. GALERIA DOSW LIVROS
De CANÇÃO SOBR O ESPELHO Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1962 Canção sobre o Espelho, que minha jovem conterrânea me fez ler nos seus originais, reflete uma vocação genuína, que eu tenho a alegria de saudar no seu instante matinal. Venúsia Neiva nasceu para as letras e há de resguardar esse pendor, estou certo, numa vida consagrada à poesia. Josué Montello
lembrança 2 e, súbito, esta angústia de pássaro perdido, este incontrolável desejo de subir muito alto, de absorver novas paisagens. olho em torno e contemplo a grave sombra das montanhas. tudo é belo nesta branca manhã de primavera. este contraste me sombreia a alma. temo que as esperanças não sobrevivam ao naufrágio, no branco cemitério de desejos mortos. por que esta angústia me oprime se é tempo de flores e de vozes macias? quando a tarde chegar, sinto que terei sufocado a frágil recordação da alma que não encontrei.
meditação tarde úmida como uma lágrima. do fundo de minha angústia medito na morte. não basta, meu amor,
que tenhas lábios frescos como a água, que tuas mãos sejam mornas e boas. ó, amor meu, medito na morte, na nossa imensa fragilidade diante de tudo, na vida que é um sopro, que é todo uma sucessão de coisas inúteis.
elegia 2 a densa neblina é fria e fala dos mortos. não há pássaros, mas apenas um vento gelado. a solidão é imensa e amarga. meus olhos se alargam e se enterram, tragicamente, no silêncio da coisas. tristeza de mortos que não retornam e de mão boiando eretas como garras. a criança está dormindo como uma semente na terra. a que era fresca como as flores da manhã, dorme placidamente e não acordará nunca mais! ave que repousa no definitivo crepúsculo.
Flor azul era uma flor desmaiada e, ao vento, tinha gesto de pássaro que foge ao frio. era azul e nasceu nos primeiros véus da noite. ninguém a viu. ninguém sentiu o seu estranho perfume. só eu que amo as coisas misteriosas e fugaces. e ela se evaporou nas brumas do meu sonho. ó poesia! ó musa! ó inatingível!
o cemitério cruzes. guirlandas. flores. ciprestes. tudo se confunde num funéreo lamento de loucura. podridão de estátuas que já foram vivas, que sorriam, que choravam, que gritavam ao mundo a inutilidade das coisas mortas. eu sinto o vento a gemer na solidão e no tempo. eu vejo os anjos de mármore incendiarem-se no luar que povoa a cidade deserta.
madrugadas gélidas. dentro de noites gélidas. corujas piando sobre cruzes eretas. coroas de rosas desbotadas. vôos agoureiros de morcegos negros. tudo pede luz. tudo pede vida! alvas sombras entrechocam-se ao ritmo macabro das convulsões do pavor. a morte mora ali. ela vigia seus súditos acorrentados sob lápides marmóreas. nunca mais os deixará sair. para sempre escravizados. até à eternidade, até ao fim dos tempos! até que a ressurreição se processe em suas cinzas esquecidas. (Canção sobre o Espelho,1962)
Tempos de zona A gilete se aprofunda sobre um amontoado de sífilis as coxas um mapa de tantas cicatrizes. Em cada mesa uma constante mudança nunca ou quase nunca renovada que é infeliz a nostálgica canção brotando do disco como brota um fruto. A toalha que envolve o corpo é a miragem de tantas taras é a fumaça perdida no trago é a faca jogada no bueiro é o anel cravado nos dentes é o ouro entranhado no ventre é o líquido da virgindade vendida. Por dentro de uma garrafa toda uma vida aqui se torna calma. No espaço do gole para o soluço inauguramos os encontros passados com os amigos mais tristes bailando nesta rua 28 vinte e oito vezes apaixonados. (Constelação Marinha, 1993)
A casa de palha A coberta da casa tinha o verde das palhas. A colheita da lenha ao rebentar da madrugada. o macio lençol de linho ao calor dos raios solares.
A festa de um novo teto em um Domingo de Páscoa. Latas de leite Ninho vazias: raros tanques de guerra, fertilizavam as alegrias dos meus Natais passados. Nenhuma só moeda queimava as minhas pequeninas mãos. Até o presente era uma irmandade com o futuro sempre fertilizado. A chama do tempo de leve tudo foi consumindo tudo. Levou os meus carneiros e as verduras do quintal. o ara da noite se misturou com cinzas: é sufocante! Ó misteriosa e amada natureza, como monótona ficou a existência!
A vergonha Estou me procurando a cada sombra deste contraditório desencanto. Estas mornas lágrimas cintilam um afeto ruidosamente indeciso. Já não sei se hoje estou despido ou se neste vale encontrarei o Manto com que haverei nas tardes de cobrir a nudez da minha vergonha no Paraíso. (Ressonância do Barro, 1993)
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em out. 2008
OLGA MOHANA
Publicado em 18 jun 2013
Sua história começou, em Viana, no dia 19 de janeiro de 1933. Era véspera do dia consagrado a São Sebastião e, enquanto a cidade venerava um dos santos mais prestigiados do calendário católico vianense com novenas, missas e festa de largo, D. Anice sofria as dores do parto para dar à luz uma menina que receberia o nome de Olga. Quinta filha do casal Miguel Abraão Mohana e Anice Mohana, a menina faria parte de uma das primeiras gerações de estudantes que passariam pelos bancos do Grupo Escolar Estevam Carvalho (fundado um ano após seu nascimento), quando a escola ainda era dirigida pela primeira diretora, professa Faraíldes Campelo Silva. Aluna de outras famosas professoras da época como Edith Nair Silva e Raquima Gomes, a pequena Olga teve de deixar a pacata Viana para morar na maior metrópole da América do Sul, aos 11 anos de idade. Em junho de 1944, em pleno período da II Guerra Mundial, seus pais resolveram se mudar para São Paulo, levando todos os filhos pequenos (com exceção do mais velho, João, por esse tempo já cursando Medicina na Bahia). A viagem, num avião bi-motor de duas hélices, marcaria suas lembranças de infância: de São Luís à capital paulista foram cinco pernoites em cidades diferentes até alcançarem o destino final. Olga e seus irmãos mais novos foram matriculados no Ginásio Conselheiro Lafayete, enquanto durou a experiência dos Mohanas na friorenta São Paulo. O retorno ao Maranhão aconteceu menos de dois anos depois, em 1946, após o patriarca da família desistir dos negócios em terras paulistas e decidir fixar residência definitiva em São Luís. Dessa maneira, a jovem concluiu os estudos secundários no Colégio Santa Tereza, para muito depois ingressar na Faculdade de Serviço Social. Graduada em 1964, Olga exerceu por alguns anos a profissão, destacando-se nesta fase o trabalho de supervisão na preparação e transferência da população da cidade maranhense de Nova Iorque para a nova sede, por época da construção e inauguração da Hidrelétrica de Boa Esperança. A paixão pelo canto – Na década de 50, bem antes de tornar-se assistente social, motivada pelo amor à musica e contanto com o incentivo materno, a jovem vianense havia decidido estudar canto na Universidade Federal da Bahia. Ali, durante o curso, por intermédio de excelentes professores e maestros (entre eles alguns alemães, austríacos e franceses) teve oportunidade de aperfeiçoar sua formação vocal e musical. A praticidade de D. Anice, porém, sempre alertando a filha de que “canto erudito não dá futuro para ninguém no Maranhão”, a fez se decidir pelo Serviço Social. Assim, enquanto exercia a nova profissão, Olga Mohana encontrava tempo para dedicar-se à arte musical. Admitida para o quadro docente da UFMA, ocupou o cargo de chefe de Departamento de Serviço Social, enquanto dava aulas de canto na antiga Escola de Música do Estado do Maranhão (EMEM). Época áurea da EMEM – Durante o governo de João Castelo (1978-1982), quando a escritora Arlete Nogueira Machado assumiu a Secretaria de Estado da Cultura, Olga foi nomeada como diretora da EMEM, iniciando-se dessa forma uma de suas experiências mais ricas e profícuas em prol da música maranhense. Aos 45 anos, no auge de sua capacidade física e intelectual, a nova diretora esmerou-se na capacitação dos jovens músicos maranhenses. Sempre voltada para a qualidade do aprendizado e preocupada não apenas com as verbas, mas principalmente com os verbos, ou seja, os planos, as idéias e as boas estratégias, Olga Mohana soube conduzir a EMEM a um período áureo de sua existência, na opinião de muitos observadores. Professores da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná foram contratados para reforçar o quadro local, além da aquisição de novos e variados instrumentos musicais. E o resultado concreto de todo esse trabalho e empenho não demorou a aparecer: discos foram gravados e vários concertos de alunos e mestres aconteceram no Teatro Arthur Azevedo, despertando e revelando novos talentos musicais e cantores de alto nível no nosso Estado, a exemplo de Simão Amaral, Lindaura de Carvalho e Núbia Maranhão (entre outros). Foi durante sua gestão, à frente da Escola de Música, que o Governo do Estado adquiriu o histórico Solar da Baronesa de São Bento (à Rua de Santo Antônio) para sediar a instituição. Discos gravados – Nesse mesmo período, apoiada pelo irmão, padre João Mohana (responsável pela recuperação de 150 anos da música maranhense, através do garimpo sistemático de centenas de partituras), Olga
Mohana gravou um LP, registrando para a posterioridade sua bela voz de contralto. No disco, que também recebeu o apoio da Secretaria de Cultura, Olga interpreta quinze composições, todas com o acompanhamento da pianista cearense Mércia Pinto (uma das professoras da EMEM, na época). Outro importante registro musical da mesma época foi a gravação da “Missa de Antônio Rayol”, a partir das partituras resgatadas pelo padre Mohana. O disco, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo, mereceu veementes elogios dos amantes da boa música e até hoje continua surpreendendo aqueles que não conheciam a obra do renomado compositor. Aposentada há mais de dez anos, a professora Olga Mohana continua recebendo convites para concertos ou para tomar parte em júris musicais. Seu delicado estado de saúde atual, infelizmente, lhe impede de tais prazeres. Sua maior satisfação é saber que seu trabalho, como de tantos outros que a precederam, não foi em vão e que a EMEM (atual Lilah Lisboa, instalada num prédio mais amplo à Rua do Giz) continua cumprindo sua missão de ensinar e estimular as novas levas de jovens talentos desta terra. Por Luiz Alexandre Raposo
LOURDINHA LAUANDE FLÁVIO REIS*
Retrato: Edgar Rocha A professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix é a patrona e grande homenageada do ano na Feira do Livro de São Luís. Geralmente o lugar tem sido ocupado por nomes conhecidos da literatura e, por este lado, não deixa de ser surpreendente a escolha. Mas, por outro, trata-se de uma historiadora cujos trabalhos possuem forte identificação com a cidade, sua história e seus costumes. Graduada em Direito e História, Lourdinha aliou durante mais de 20 anos as atividades de funcionária da Previdência Social e professora da UFMA em regime parcial, onde se destacou principalmente no ensino de História Contemporânea, com grande ênfase na revolução industrial e na revolução francesa, durante muito tempo seu maior interesse de estudo. No início da década passada, já aposentada, integrou o quadro de docentes da UEMA, encarando um concurso para as áreas de História Antiga e Medieval, num momento em que o curso de história ainda lutava com grandes dificuldades para se fixar. Lá ficou quase por dez anos, só saindo na compulsória. A sala de aula foi seu espaço preferido, compromisso preparado com zelosa antecedência, onde consolidou o perfil de uma professora exigente, dinâmica e alegre, às vezes mesmo empolgante, sem nunca ter sido considerada propriamente intelectual brilhante. Com uma personalidade forte e muito prática, a consciência disto não lhe causou nenhum problema e ainda lhe seria de grande valia, quando resolveu escrever sem muitas preocupações acadêmicas.
A fundação francesa de São Luís e seus mitos. Capa. Reprodução
Apesar da publicação da dissertação de mestrado no início dos anos 1980, um estudo sobre a educação na baixada maranhense no período imperial, seu trabalho significativo de escrita é recente, com cinco livros publicados nos últimos 15 anos, um deles com três edições bem diferentes, que funcionou na verdade como detonador dessas possibilidades, o conhecido e polêmico A Fundação Francesa de São Luís e seus Mitos. Impresso no final de 2000, mas lançado apenas em julho de 2001, a primeira edição deste estudo era um livrinho quase inacreditável, com menos de 80 páginas, uma escrita leve e, em certas passagens, até ligeira, mas estruturado em três passos fundamentais que vale frisar. Primeiro, uma observação arguta: a fundação francesa de São Luís não consta nos relatos dos cronistas portugueses e historiadores regionais até o final do século XIX, mantendo-se uma distinção entre o forte e a cidade, acentuando a ascendência portuguesa. Segundo, uma pergunta incômoda: o que teria acontecido, então, com a memória histórica da cidade, com os franceses passando de “invasores” a inquestionáveis “fundadores”? Terceiro, uma hipótese provocativa: a entronização da fundação francesa seria fruto da ação de intelectuais a partir do final do século XIX e passou a constituir, junto com a imagem da Atenas Brasileira, a identidade da cidade no século XX. O livro foi recebido com certa estupefação e até incredulidade, sendo tratado por quase todo mundo como um mero engano entre fundação e urbanização ou entre fundação e colonização ou, até mesmo, desconhecimento de evidências históricas óbvias. A reação foi principalmente do que poderíamos chamar de establishment cultural, no arco que vai das academias e institutos tradicionais, passando pela mídia impressa, com intervenção de figuras diversas, conhecidas e desconhecidas, desaguando na aparente indiferença com que foi recebido em círculos universitários. Em contrapartida, trazia um prefácio ousado, escrito por Flávio Soares, um de seus melhores exalunos. A indagação dirigida à historiografia colocava as relações entre as nossas elites e o legado português no processo de constituição de sua identidade. Em uma palavra, a identificação buscada no final do período colonial e em parte do Império, transforma-se em um sentimento ativo de rejeição e, através de uma operação de sublimação já verificada na exaltação da Atenas Brasileira, volta-se para a idealização de suas origens, constituindo o mito fundador. Ele se permitiu ainda raciocinar para além do que sugeria o texto, mostrando como aquele ângulo propiciava toda uma gama de observações sobre algumas características nucleares não apenas da nossa historiografia, como, principalmente, de “camadas nervosas, aparentemente invisíveis da memória e, mais que isto, talvez da psiché da cidade”. A polêmica estava relançada e exigiria da professora atenção crescente durante quase toda a década. Logo em 2002, lançou a segunda edição, ampliada com outro ensaio, “A Criação do Mito”, trazendo um levantamento mais circunstanciado do problema, sobretudo com a localização de Ribeiro do Amaral e seu livro A Fundação do Maranhão, lançado no rol das comemorações de 1912. Ele seria o primeiro autor a entronizar o 8 de setembro como data da fundação da cidade, remetendo à missa de tomada de posse da região descrita no livro do capuchinho Claude d’Abbeville. Um enfoque que ficaria cristalizado no livro de Mário Meireles, A França Equinocial, de 1962. A terceira edição, que ela considera a definitiva, sairia apenas em 2008. Além de novas revisões e ajustes, traz quatro artigos selecionados entre cerca de 10 saídos na imprensa durante o período e um tratamento do belo painel tríptico A Fundação de São Luís, obra de Floriano Teixeira, encomendada pelo governo do estado e entregue em 1972, reproduzida no livro integralmente e em detalhes. Antes, porém, publicou dois outros trabalhos. Em 2004, o livro sobre a Campanha da Produção, iniciativa dos grandes comerciantes integrantes da Associação Comercial na década de 1950, com vistas aos gargalos que emperravam a produção agrícola e seu escoamento para a capital. Um capítulo final do predomínio do complexo da Praia Grande na economia regional, visto através da análise dos relatórios da diretoria.
Em 2006, lançou outro trabalho enfocando a questão da fundação, um ensaio sobre a figura de Jerônimo de Albuquerque, tornado Maranhão após a vitória de Guaxenduba. Novamente vemos a combinação entre um veio forte de concepção da história como encadeamento de fatos em relação causal, herança da influência de Mário Meireles em sua formação, e outro, da história como determinada forma de construção coletiva da memória e, portanto, em transformação vinculada a determinantes de época. Assim, depois de demarcar as especificidades da guerra colonial, híbrido de técnicas de guerra europeia e guerra indígena, terreno onde o mestiço Albuquerque estava à vontade, e acompanhar os fatos narrados por Diogo de Campos Moreno, traz novas observações interessantes de teor mais nitidamente historiográfico. São as considerações dos três últimos capítulos, versando sobre: os condicionantes do próprio relato do militar português; a forma como a batalha de Guaxenduba foi enfocada no decorrer dos séculos; por fim, a vinculação entre Jerônimo de Albuquerque e a fundação da cidade de São Luís na historiografia regional, reafirmando a existência de um arco que vai dos cronistas portugueses a historiadores maranhenses do século XIX e mesmo do início do século XX. Durante todos esses anos não descuidou do debate, sempre se ocupando nos artigos de responder com novos estudos às críticas que lhe dirigiam. Aos poucos, uma agressividade fora do tom, somada à incompreensão e à repetição dos argumentos, foi determinando seu afastamento da polêmica, que, no entanto, continuaria viva. Um exemplo recente e bem eloquente dos equívocos que sempre acompanharam este debate pode ser visto no livro de Ana Luiza Almeida Ferro, intitulado 1612: Os Papagaios Amarelos na Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís, publicado no final do ano passado, mais de 600 páginas, anunciado com estardalhaço e repleto de autoglorificações, ao estilo da Atenas Brasileira. Estamos exatamente diante de um resgate do tipo de história feito por Mário Meireles e outros próceres da AML. Após uma longa revisão das disputas entre as coroas em torno das terras do Novo Mundo e das primeiras tentativas de colonização do território, chegamos ao capítulo 7, intitulado emblematicamente “A Fundação da França Equinocial e da Cidade de São Luís”. Utilizando as descrições conhecidas do padre capuchinho, vai configurando a tentativa de implantação da França Equinocial, apoiada também no importante livro de Patrícia Seed sobre as cerimônias de posse levadas a efeito pelos europeus no continente americano. A autora segue as descrições e análises de seus significados, mas, a certa altura, entra o que não estava lá: “O dia 8 de setembro de 1612 marca a condução de uma cerimônia gaulesa de tomada de posse da Ilha do Maranhão, contudo serve igualmente de marco de fundação da cidade de São Luís” (p.380). Ora, serve para quem e por quê? Este passo de identificação foi dado por Ribeiro do Amaral e o grupo de intelectuais oriundo dos Novos Atenienses. Não é outra coisa o que a autora vai encontrar no levantamento a que procede. Vejamos. Se excluirmos a utilização equivocada do Pe. José de Moraes, que descreve a cidadela do forte como “cidade pequena”, observação já feita por Rafael Moreira, maranhense radicado há anos em Portugal e especialista reconhecido no estudo de fortes, o que a autora lista de novo são historiadores franceses do século XIX e do início do século XX, posteriores a Ferdinand Denis, nome principal e localizado nos trabalhos de Lourdinha, que, inclusive, frisou suas afirmações contraditórias sobre o tema, aqui silenciadas. São os historiadores Léon Guérin, para quem “a França lançou os fundamentos de dois dos mais importantes estabelecimentos dos europeus no Brasil… aquele de Saint-Louis de Maranhão e aquele da baía do Rio de Janeiro” e Charles de La Ronciére, que se referiu a “uma cidade toda de madeira, tal foi Saint-Louis, a capital da França Equinocial” (p.273). Entre os autores regionais, o primeiro a aparecer é justamente Ribeiro do Amaral, ao qual se segue uma lista que no decorrer do século XX, como é sabido, se tornou amplamente majoritária. Do outro lado, ela tem os autores que falam da fundação portuguesa da cidade, um arco que começa em Berredo (não lista Bettendorff), passa por Gaioso (não lista Prazeres e sua Poranduba
Maranhense), João Lisboa, Cesar Marques, Barbosa de Godois, estes dois últimos em obras de referência geral, o famoso Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão e um compêndio para alunos secundaristas, a História do Maranhão. Inclui ainda outros autores mais recentes indicados por Lourdinha, José Moreira e Correia Lima, que foram membros do IHGM. O que temos claramente, portanto, são duas linhagens interpretativas, uma que remonta aos cronistas coloniais, sendo predominante até o final do século XIX, e outra que surge aí, na esteira da revalorização da presença francesa na colonização das Américas, e se formaliza em 1912. Mesmo incluindo equivocadamente o Pe. José de Moraes, no séc. XVIII, ainda assim é visível que a associação entre os dois tópicos do seu capítulo só ocorre depois, quando a cerimônia de 8 de setembro é incorporada à narrativa como marco de fundação da cidade, tornando-se fato naturalizado, a forma como é, de resto, tratado em sua análise. Por que a autora não se apercebe do que está indicado nos próprios dados recolhidos? A resposta pode estar no tipo de concepção, de fundo verdadeiramente mítico, que determina desde o início a forma da investigação e pode ser observado num trecho como este: “Mesmo que admitamos a inexistência de qualquer menção literal de Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux à ideia de fundação de uma cidade, tal não significa que eles não tenham descrito, e com detalhes preciosos, a fundação de uma, no caso São Luís” (p. 602). Sim, aos olhos de quem lê e determina que a partir dali a cidade já estava fundada… É o que leva igualmente um conhecedor dos livros de história do Maranhão e intelectual importante da AML, Jomar Moraes, a escrever sobre a fundação francesa de São Luís utilizando recorrentemente citações de Berredo, quando este afirma justo o contrário. Isto porque ele costuma citar trechos do capítulo ou livro II, quando o autor trata da tentativa de implantação da França Equinocial, seguindo o relato de Claude d’Abbeville sobre as cerimônias e as providências tomadas, e não do capítulo seguinte, justamente quando se reporta à fundação da cidade como fruto de uma decisão da corte em Madri. Em suma, a introjeção da identificação entre a missa de tomada de posse das terras e a fundação da cidade já está fixada e bloqueia qualquer indagação como absurda. É por isto que a designação de mito, utilizada por Lourdinha de maneira puramente intuitiva, me pareceu sempre tão feliz. Segundo Roland Barthes, no Mitologias, os mitos modernos, como são estes criados na virada do século, constituem uma fala roubada e restituída, mas, “simplesmente, a fala que se restitui não é certamente a mesma que foi roubada. É esse breve roubo, esse momento fortuito de falsificação, que constitui o aspecto transido da fala mítica”. E mais: “O mito é simultaneamente imperfectível e indiscutível, o tempo e o saber nada lhe podem acrescentar ou subtrair”. No caso, a fala relida e mitificada é a narrativa de Claude d’Abbeville, utilizada para constatar o que ela efetivamente não afirma. Nem verdade, nem mentira, o mito opera nas brumas, mas precisa fixar a cena. Ainda segundo Barthes, “é uma fala definida pela sua intenção muito mais do que pela sua literalidade; e que, no entanto, a intenção está de algum modo petrificada, purificada, eternizada”. O tipo de comportamento reativo quando o livro apareceu foi efetivamente como se defendessem um mito. No afã de tornar natural ou evidente a fundação francesa, sequer admitia-se que esta noção tivesse uma historicidade. Tornou-se um fato naturalizado através do significado correlato atribuído à cerimônia de 8 de setembro. Neste aspecto, o trabalho de Ana Luiza Ferro apenas segue a crença, frise-se o termo, tornada comum: “Pouco importa se os portugueses agiram em conformidade com uma determinação expressa da Corte no sentido da fundação de uma cidade; eles não podiam fundar o que já fora fundado” (p. 602). A autora tenta ainda inverter os termos da equação proposta por Lourdinha e fala, no capítulo 14, em um “mito da fundação portuguesa”, ao qual se contrapôs a verdade histórica da fundação francesa, a partir da revalorização das influências gaulesas no litoral brasileiro no processo da colonização e o conhecimento de textos que foram interditados, como o livro do padre Yves d’Évreux. Em linhas gerais, são ideias já defendidas em artigos pelo jornalista Antonio Carlos
Lima, além de buscar algumas observações de Andréa Daher sobre as tentativas do português vencedor de impor a memória e “ocultar marcas”. A questão é que os documentos e textos revelados não alteraram a descrição básica já existente sobre o arraial dos franceses, o forte e adjacências, constante seja no relato de Claude d’Abbeville, seja na correspondência oficial enviada ao reino ou firmada entre os capitães. A nova interpretação se baseia na conhecida História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas e surge não como contestação crítica, e sim constatação de algo que já estava lá desde sempre. A noção da fundação francesa se incrustou na historiografia maranhense como um mito. Foi isto que efetivamente o trabalho de Lourdinha mostrou. Por outro lado, as observações sobre o forte como origem da cidade, tópico recorrente, são absolutamente pueris: “Incontáveis cidades mundiais, em distintas épocas de conquistas de território e guerras entre nações, nasceram de fortificações, a exemplo dos castelos. São Luís não foge a este padrão tão comum ao longo da história” (Idem, p. 264). Por aí não se vai longe. Novamente as indicações feitas por Lourdinha em artigo intitulado “As Cidades no Brasil Colonial” (Caderno Alternativo, 18.05.2008), parecem mais frutíferas, mostrando, com base em estudo do urbanista Paulo Santos, que longe de serem simplesmente “espontâneas”, existiram cidades coloniais com planta prévia, fundadas por determinação expressa do Reino, entre as quais destaca Salvador, o Rio de Janeiro e São Luís. As diretrizes para a fundação da primeira constavam do Regimento de Tomé de Souza e o mesmo se deu em São Luís, conforme o Regimento deixado por Alexandre de Moura a Jerônimo de Albuquerque. O plano de autoria do Engenheiro-Mor Francisco Frias de Mesquita seria o exemplo mais expressivo da adoção de traços de regularidade, talvez o primeiro realizado no Brasil, “mas sem a monótona repetição de quadrículos que se vê nas cidades de colonização hispânica”. Em seu núcleo regular rigorosamente projetado e preservado está a singularidade da cidade, muito mais que em sua mítica fundação francesa. Enquanto seus críticos continuaram relendo as descrições de Claude d’Abbeville e tecendo loas à França Equinocial, Lourdinha apareceu com outra grande surpresa em 2012, ano em que seriam comemorados os “400 anos” da fundação. Longe de continuar batendo na mesma tecla, publicou um alentado livro sobre a cidade, a expansão da sua malha urbana, a transformação dos costumes, enfocando traços do cotidiano, as festas religiosas e laicas, as manifestações artísticas. Aqui se distanciou ainda mais da escrita com traços formais e, sem qualquer quadro teórico, nos termos acadêmicos comuns, costurou uma mistura de pesquisa e ensaio memorialístico livre, vivo, cheio de cores, sabores e odores. O título, São Luís do Maranhão, Corpo e Alma, aparentemente pretensioso, traduz o que efetivamente vamos encontrar, uma narrativa forte e descentrada, desenhando vasto painel histórico da cidade, com fundo sentimental e ligeiramente nostálgico, mas sem a costumeira exaltação afetada. É um encontro quase literal com São Luís em suas ruas e becos, igrejas e praças, dividido em quatro partes, referentes aos quatro séculos: a cidade traçada; o início da expansão; a era do casario; crescimento e degradação. Não é uma história administrativa, tão ao gosto de Mário Meireles, por exemplo, nem um guia sentimental ou turístico, mas é um painel histórico que traz muito da sua longa vivência na cidade e do trânsito entre famílias antigas, expresso no conhecimento de episódios e figuras variadas da sociedade. Com uma edição ricamente ilustrada, mesclando fotografias antigas com outras recentes, muitas da lavra do fotógrafo Edgar Rocha, associadas a registros de pinturas, dispostas numa dimensão não muito usual em obras de história, foi, ironicamente, talvez a melhor saudação que a cidade recebeu naquele ano de comemorações. É livro escrito com sofreguidão, salto sem rede de proteção, que se lê de um fôlego. Quanto mais as memórias, suas e de outros, se entrelaçam com a pesquisa e são atravessadas pelas imagens, mais o texto ganha em intensidade. Trabalho significativo de reunião de informações de campos variados, mas também fruto da arte de quem tem o dom de prender a atenção em meio à narrativa mais simples.
Se hoje, passados 15 anos, é possível dizer que o pequeno livro sobre a fundação vai tornando-se clássico, pois reviu os termos do debate, concorde-se ou não com suas posições, este volume sobre a cidade parece simplesmente ter nascido clássico, e da maneira mais silenciosa possível, já disputado e guardado com o zelo do livro raro, apesar de lançado há apenas três anos.
História da Medicina em São Luís. Médicos, enfermidades e instituições. Capa. Reprodução Sua mais nova realização veio à luz recentemente, o livro História da Medicina em São Luís: médicos, enfermidades e instituições, em outra edição caprichada, lançado no Conselho Regional de Medicina, com relançamento previsto para o dia de abertura da Feira (2 de outubro). Um tema árido e para ela até então desconhecido foi tratado com leveza e novamente as artes da sua narrativa prendem o leitor. Desta vez, a cidade aparece nas malhas das nossas enfermidades, suas formas e locais de tratamento e, principalmente, na constituição da comunidade médica, em levantamento rico e humanizado, que traz imagens vívidas de figuras emblemáticas, num escopo que vai do tradicional médico de família, percorrendo residências, atendendo nos consultórios ou, mais comumente, nas farmácias, à formação das primeiras especialidades, desenvolvendo-se com o predomínio dos hospitais e clínicas. Sem dúvida, estes trabalhos escritos em fase avançada da vida por uma professora aposentada que influenciou gerações através da sala de aula, devem ser o motivo da homenagem, mas para todos que a conhecem, seus numerosos amigos, ex-alunos, antigos colegas de trabalho e admiradores, trata-se de algo maior e mais importante, a saudação a uma figura humana rara e sua vinculação à cidade onde sempre viveu. *Flávio Reis é professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA. Publicou Cenas marginais (2005, ed. do autor), Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão (2007, ed. do autor) e Guerrilhas (2012, Pitomba/ Vias de Fato).
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